Concorrência (artigo para jornal de Taboão)

September 23, 2017 | Autor: Rodrigo Contrera | Categoria: Politics
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Concorrência
Num mundo cada vez mais competitivo, a tendência majoritária faz com que cada um lute por si só e deixe os outros em segundo plano – principalmente os concorrentes, reais ou imaginários (muitas vezes, quem concorre em teoria não o faz na prática).
Isso faz com que as pessoas e empresas se isolem e se tratem com desconfiança – quando não real inimizade. Os dentes ficam à mostra e não se sabe quando a gente pode abaixar a guarda – nem se deve –, nem que seja pela própria sobrevivência. O mundo torna-se árido e sem graça, e os únicos momentos de paz a gente consegue em churrascos ou encontros sociais – quando muito.
Mas venho reparando nas vantagens auferidas ao se tratar o mundo de maneira diferente.
Já escrevi uns 4 artigos sobre condomínios aqui neste espaço, comentando algo que vivencio com meus colegas conselheiros e síndica no condomínio em que vivo. Nada mais natural que eu passasse a me colocar como pretensa autoridade no assunto, e que – quem sabe – começasse um negócio próprio (estudando muito, claro, que o assunto é imenso). É o que faço realmente, aos poucos.
Mas não posso deixar de notar que o mundo vem se mostrando pródigo em soluções que, venhamos e convenhamos, acabam deixando muitas vezes as iniciativas individuais no chinelo. No caso, eu, que me tornei responsável por cotar empresas para nosso condomínio, acabei chegando meio sem querer num site (www.habitissimo.com.br) em que qualquer um pode cadastrar uma obra e receber, em meros cliques, visitas de empresas interessadas em tocar essa obra. Entrei no site desconfiado, mas não é que o negócio funcionou (se bem que precisa melhorar)? Claro que nem por isso deixo de fazer as coisas à maneira antiga – pesquisando por conta própria e ligando para as empresas que podem nos ajudar. Mas agora existe uma nova alternativa – e tudo bem divulgá-la, por que não?
Mas este artigo não é para fazer propaganda. É para dizer que às vezes mais importante que defender o seu peixe é admitir que, em algum outro lugar, pode existir solução, para determinados problemas, à qual nós nem nos demos conta num primeiro instante.
Mas o fato é que vivemos numa sociedade concentracionista. O que quero dizer com isso? Quero dizer que, em nossa sociedade, quem possui um determinado status tende a trazer para si novas atribuições e com isso a concentrar o poder, seja de que forma ele aparecer.
É o que nós vemos, por exemplo, no jornalismo –outra praia minha. Um determinado repórter vira colunista, depois vira âncora, depois vira especialista, e com o tempo ele vira tudo, ultrapassando de longe suas atribuições e concentrando o poder de opinião. Claro, muitas vezes isso acontece por economia de recursos – compensa mais usar aquilo que já temos para outra atividade a contratarmos outro profissional. Tudo certo.
Outro sinal de concentracionismo, em minha opinião, vem à mostra reparando na idade de determinados diretores ou âncoras de tv. Eles, que já deveriam ter se aposentado – às vezes com louvor –, continuam segurando a tocha, sem deixar que outros, mais jovens e talvez mais promissores, ocupem seus lugares. Reparem na idade dos maiores âncoras da tv. Façam a prova. Claro, existe gente nova por aí, e muitos destes novos profissionais parecem realmente competentes – mas me pergunto: até quando?
Isso assim acontece apesar do surgimento de mais e mais jovens (às vezes nem tão jovens) profissionais que penam para achar um lugarzinho nas redações em que possam aprender e crescer. Claro, muitas empresas oferecem vagas para estágio em todas as cidades, grandes e pequenas, mas a demanda é sempre infinitamente maior que a oferta, ao menos nesse mercado.
Eu, de minha parte, que tenho muitas amigas e amigos, nado nesse sentido contra a corrente. Aqui mesmo, neste espaço, tomei a iniciativa de sugerir, a uma amiga, que escrevesse artigos sobre assuntos em que ela tem me esclarecido de forma determinante – e ao que lhe agradeço profundamente. O jornal topou (falta ela escrever). Já para um site do Marrocos, no qual sou colaborador (www.mbctimes.com), sugeri a uma outra amiga (que não vejo há meses) que escrevesse um artigo sobre a última manifestação anti-Dilma que ocorreu na avenida Paulista (ela estava lá, claro). Estou, neste exato momento, traduzindo o texto para o espanhol, e aprendendo bastante (como traduzir "conversa fiada"?, penso, e quebro a cabeça na tentativa).
Confesso que é um pouco arrogante tomar a si mesmo como exemplo. Mas o fato é que esse concentracionismo da imprensa sempre me incomodou – e eu, que nunca pude fazer nada contra ele, agora posso. Só divulgo a experiência e lhes digo o quanto há a lucrar com isso: variedade, incentivo, etc. Além do que é super legal ver algum amigo brilhar numa área que ele jamais imaginava trilhar.
Claro, vocês podem dizer: se a pessoa que você sugeriu for melhor que você, os seus dias podem estar contados. Pode até ser. Mas, venhamos ou convenhamos, o mundo é – ou deveria ser – dos vencedores – ou melhores –, não é?
Nada melhor, em minha modesta opinião, do que sermos conservadores. Mas realmente conservadores. Admitindo que as regras do jogo devem valer para todos, e quem ninguém deveria usar de subterfúgios ou poder para manter privilégios que acabam muitas vezes nivelando o mundo por baixo – ao invés de por cima.
Rodrigo Contrera é jornalista e conselheiro de condomínio em Taboão da Serra.

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