CONDILOMA PERIANAL PEDIÁTRICO: TRATAMENTO COM BLOQUEADOR H2.

July 17, 2017 | Autor: Lisieux de Jesus | Categoria: Pediatric Urology
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CONDILOMA PERIANAL PEDIÁTRICO: TRATAMENTO COM BLOQUEADOR H2. Lisieux Eyer de Jesus; Jessica Bastos, Pedro Camelier, Ivete M Gomes; Samuel Dekermacher INTRODUÇÃO Condiloma acuminado é comum em crianças, adquirida por transmissão mãe-neonato, abuso sexual, contaminação ambiental ou por inoculação pela própria criança a partir de verrugas vulgares. O tratamento pode ser feito de diversas formas. Mostramos aqui dois casos de condiloma tratado exclusivamente com ranitidina oral. MÉTODOS Uma menina com 8 anos de idade e um menino de 2 anos de idade foram encaminhados ao ambulatório de cirurgia e urologia pediátrica pelo serviço de dermatologia para eletrocoagulação de múltiplas lesões causadas por HPV (condiloma acuminado perianal) sob anestesia geral. As lesões observadas tinham mais de 2 meses de evolução. Foi excluída a possibilidade de abuso sexual subjacente em ambos os pacientes . A paciente do sexo feminino mostrava verrugas vulgares em indicador da mão esquerda e antebraço direito e várias lesões de condiloma, recobrindo toda a circunferência cutânea perianal. Havia uma única lesão condilomatosa periclitoriana. A genitália era feminina pré-puberal normal, com hímen íntegro. Não havia corrimentos vaginais, sinais de outras DSTs ou trauma genital. O paciente do sexo masculino apresentava genitália normal, exceto pela presença de condlimas acuminados múltplos em região penoescrotal, com áreas de prurido e sangramento. As famílias foram instruídas quanto às medidas de higiene cabíveis. Foi prescrita ranitidina oral, na dose 4 mg/kg/dia, dividida em duas tomadas, durante 3 meses. Após 3 meses de tratamento a paciente de 8 anos havia resolvido todas as lesões presentes anteriormente em genitália e região perianal (figura 1) e as verrugas vulgares nos membros superiores. O paciente do sexo masculino mostrava resolução das lesões após 6 semanas de tratamento, com desaparecimento do prurido e irritação locais. (figura 2) Nenhum deles teve efeitos colaterais do medicamento.

FIGURA 1

FIGURA 2

DISCUSSÃO Há várias alternativas para o tratamento do condiloma acuminado. Os tratamentos tópicos habituais (podofilina, antimitóticos, ceratolíticos, interferon injetado) são desconfortáveis, o que dificulta o uso e exige sedação repetitiva em crianças. O Imiquimod não conta com estas desvantagens, mas é de alto custo, exige uso em longo prazo, pode determinar irritação cutâneo-mucosa e desconforto para o paciente. Curetagem, eletrocoagulação, crioterapia ou laser exigem anestesia geral nesta faixa etária e podem cursar com sequelas cicatriciais. Um tratamento oral de baixa morbidade e baixo custo é uma excelente alternativa em pediatria O uso de bloqueadores H2 para a cura de verrugas vulgares, papilomatose ocular e de vias aéreas tem sido descrito por vários autores . O uso da cimetidina para a cura de condiloma genital e perianal foi descrito inicialmente por Franco e cols (30-40 mg/kg/d, dividido em 3 doses, durante 3 meses) como tratamento primário (2 casos) ou complementar (2 casos). Todos os pacientes responderam ao tratamento, com erradicação das lesões num seguimento de 24 meses. A proposta dos autores é que a droga funcionaria como modulador imunológico local. Vários autores têm comprovado a eficiência da cimetidina no tratamento de verrugas virais recalcitrantes, com uma resposta clinicamente satisfatória em aproximadamente 2/3 dos pacientes. A literatura sugere a involução espontânea de lesões virais por HPV em cerca de 1/3 dos casos, sugerindo que os bloqueadores H2 são mais eficazes que placebos. Nos pacientes responsivos foi verificado um aumento de interleucinas e interferon em biópsias das lesões. A ranitidina para o tratamento de lesões pelo HPV foi avaliada em apenas um estudo em adultos. Usamos esta droga a partir dos dados desta publicação, considerando a disponibilidade limitada da cimetidina no mercado brasileiro e a segurança da ranitidina em crianças, testada amplamente em casos de doença péptica. Embora uma metanálise recente dos estudos de evidência nível 1 e 2 a respeito do uso de bloqueadores H2 sugira que a eficácia dos bloqueadores H2 para tratar lesões por HPV seja questionável, a segurança e baixo custo do tratamento, os bons resultados do uso das drogas em estudos clínicos (48 a 71% de eficiência) e os problemas técnicos dos estudos analisados (doses inadequadas, análise de problemas clínicos quase sempre restritos a casos de verruga vulgar em adultos, amostragens pequenas) permitem julgar que o tratamento é útil clinicamente em crianças. Adicionalmente, foi sugerida uma maior eficácia do tratamento em pacientes mais jovens, em estudo de evidência nível 1 . Estudos prospectivos randomizados com amostragens adequadas são necessários para documentar num nível ideal de evidência este uso acessório dos bloqueadores H2.

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