CONFLITUALIDADES SOCIOTERRITORIAIS NAS RESERVAS EXTRATIVISTAS TAPAJÓS-ARAPIUNS E “VERDE PARA SEMPRE” NO ESTADO DO PARÁ

June 28, 2017 | Autor: Mario Arnaud | Categoria: Human Geography
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CONFLITUALIDADES SOCIOTERRITORIAIS NAS RESERVAS EXTRATIVISTAS TAPAJÓS-ARAPIUNS E “VERDE PARA SEMPRE” NO ESTADO DO PARÁ Mário Júnior de Carvalho Arnaud1

RESUMO Este trabalho compõe nossa pesquisa de doutoramento e parte do entendimento de que a região amazônica, no que tange as políticas ambientalistas, continua sendo estratégica para a ação do Estado brasileiro. Com a criação de UCs, o campo, as florestas, enfim, a ruralidade amazônica tem tido resultados nos levam a questionar como se territorializaram as confllitualidades entre o Estado e os movimentos socioambientais, em duas Reservas Extrativistas no Estado do Pará: a TapajósArapiuns e a “Verde para Sempre”, em Santarém e Porto de Moz, respectivamente. Com o objetivo de elucidar esse processo, agentes envolvidos e traçando os impactos para a região, trabalharemos com dados secundários e com o trabalho de campo nas comunidades/localidades a serem selecionadas, a fim de expor a concepção por trás da criação dessas RESEXs e os processos de reexistência camponesa. Palavras-Chave: Amazônia, Reserva Extrativista, territorialidade, espaço rural.

ABSTRACT This work makes up our doctoral research and part of the understanding that the Amazon region, in terms of environmental policies, remains strategic for the action of the Brazilian state. With the creation of protected areas, the countryside, the forests, finally, the Amazon rurality has had results lead us to question how territorializaram the confllitualidades between the State and the social and environmental movements in two extractive reserves in the State of Pará: the Tapajós-Arapiuns and the "Verde para Sempre”, in Santarém and Porto de Moz, respectively. In order to elucidate this process, stakeholders and mapping the impacts to the region, we will work with secondary data and field work in communities/locations to be selected in order to expose the concept behind the creation of these RESEXs and re -existence peasant processes. Key-words: Amazon, Extractive Reserve, territoriality, rural area.

1

Doutorando do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de Uberlândia. Docente da Universidade Federal do Pará/Campus de Cametá. E-mail de contato: [email protected].

1- INTRODUÇÃO Na Amazônia, especificamente no Estado do Pará, as ações do Estado brasileiro

têm

constituído

fenômenos diferenciados

sobre

o

espaço

rural

compreendendo dois processos: o primeiro corresponde às motivações que tem causado as transformações espaciais em curso e supostamente são decorrentes da grande importância do Pará e da Amazônia enquanto fontes de recursos, sendo este o foco principal e até mesmo geopolítico para a criação de uma reserva extrativista; o segundo se refere ao atendimento às reivindicações das populações e em suas lutas travadas pelos direitos concernentes a terra em que se reproduzem socioespacialmente à bastante tempo. No entanto, este segundo processo se caracteriza num complexo jogo de relações entre Estado e sujeitos amazônicos, onde o primeiro tem usado a criação de reservas extrativistas de forma estratégica no espaço amazônico, e, como interface/resultado da emergência da questão ambientalista na atualidade implicando diferentes territorializações na região. A ação do Estado ocorre junto à outra questão: os movimentos socioambientais têm convergido cada vez mais para a organização do espaço geográfico amazônico face à sua territorialização nos diversos sujeitos e nas diversas realidades existentes na Amazônia. Essa diversidade de atores na região enseja através dos movimentos sociais, na luta pela terra, reivindicações e busca pela reapropriação da natureza (CRUZ, 2011) ou um fenômeno importante já que dentro da esfera política e na sociedade para a serem ouvidos, protagonizam ações e movimentos em direção às afirmação de suas existências e r-existências (PORTO-GONÇALVES, 2001). Concordamos com Becker ao pensar numa fronteira tecno-ecológica, ou o padrão discursivo, teórico-prático que se apresenta no conhecido Desenvolvimento Sustentável em substituição à fronteira econômica (BECKER, 1996; 2004). É clara a posição do Brasil diante das influencias da Globalização na região Amazônica, ou do modelo que o Estado brasileiro e grande Capital colocou para a Amazônia pensando nas estratégias territoriais na América Latina. É nesse contexto que estudamos e s dará continuidade ao mesmo, analisando as conflitualidades pertinentes à criação das RESEXs. Assim, tivemos em 1998 a criação da Tapajós-Arapiuns, no Baixo Amazonas, compreendendo os

municípios de Santarém e Aveiro, e, em 2004 a “Verde para sempre” no município de Porto de Moz, todas no estado do Pará. Por isso, foi objetivo deste artigo foi o de entender o processo de territorialização das conflitualidades historicamente estabelecidas entre o Estado e Movimentos Sociais nessas RESEXs, trabalho este que já vem sendo desenvolvido em forma de Projeto de pesquisa pela Universidade Federal do Oeste do Pará desde 2011 (PIBIC) e hoje faz parte de nosso doutoramento. 2- Abordagem conceitual basilar territorialidades e as conflitualidades

sobre

as

Reservas

Extrativistas,

O ponto de partida conceitual para o entendimento das Reservas Extrativistas no Pará, em Santarém e Porto de Moz perpassou pela discussão em torno dos conceitos de território e conflitualidades, espacialidades e territorialidades e movimentos sociais voltados para a análise dos conflitos nas reservas extrativistas Tapajós-Arapiuns e “Verde para Sempre”, enquanto regime de regulação da sociabilidade nos territórios dos municípios de Santarém e Porto de Moz, no Pará. Em referência aos conflitos na RESEX e sua compreensão téorica, o conceito sobre os movimentos sociais na geografia é uma prerrogativa da dimensão espacial. É no espaço geográfico que a concepção dos movimentos sociais entra na geografia, no que Santos (2011) explica: Geografia da organização dos movimentos sociais, relacionado à organização dos movimentos e sua configuração espacial. Na Geografia das lutas sociais, temos as formas de materialização das lutas e dos conflitos sociais no espaço, enquanto expressão concreta das contradições sociais; em Geo-grafias dos movimentos sociais, onde: “o movimento social deixa de ser objeto e passa a ser, ele mesmo, um instrumento analítico para o desenvolvimento de nova espacialidade e territorialidade” (p. 28)”. O conceito do Socioambientalismo é pertinente para este trabalho. Santilli (2005) faz uma crítica ao ambientalismo originado na Europa e que não deu subsídios suficientes à compreensão das questões ambientais brasileiras. O Socioambientalismo é um movimento que nasce de uma articulação política entre movimentos sociais e ambientalistas e que ocorreram no contexto do processo de redemocratização do Brasil a partir da década de 1985 criando sua própria historia e definiu conceitos e paradigmas que lhe são próprios (SANTILLI, 2005).

Portanto, dentro dos movimentos reivindicatórios pelas reservas extrativistas na Amazônia e no Pará, temos na definição do socioambientalismo a melhor de forma de explicar os movimentos sociais relacionados à questão ambiental, no que tange as mobilizações pela exigência da criação das RESEXs. No histórico de formação das duas RESEXs, temos a participação popular como viés principal de mobilização. No entanto, observa-se que em Porto de Moz, na RESEX “Verde para sempre”, podemos apontar um diferencial, pois a participação do poder público foi junto ao da igreja e dos movimentos socioambientais que partiam mais da zona rural que da zona urbana. Mesmo essa participação do poder público pode ser relativizada, haja vista que desde 1970, a igreja vinha engajada no movimento e contribuiu para a levada de uma mobilização maior ante a população ribeirinha de Porto de Moz. Segundo, um líder religioso de Porto de Moz, a participação do poder público municipal foi importante, mas se deu numa época de amadurecimento do movimento, a partir da década de 1990 em diante. Em Santarém, com a RESEX Tapajós-Arapiuns, a mobilização foi totalmente popular e os conflitos foram mais concentrados no que podemos chamar processos reivindicatórios também iniciados em 1970, onde em 1998 a reserva é criada, como vai irá ser explicado mais adiante. Por fim, entendemos que o conceito de socioambientalismo contribui para entendermos as perspectivas pelas quais passaram a criação dessas Reservas Extrativistas. Como contribuição a esta pesquisa temos também a definição do território e territorialidade expressos por Haesbaert, enquanto ação e dinâmica e como processo de territorialização. Considerando a diferença ente apropriaçao e propriedade, Haesbaert (2007, p. 21) diz: O território é sempre múltiplo, diverso e complexo, ao contrario do território unifuncional, proposto e reproduzido pela lógica capitalista hegemônica, especialmente através da figura do Estado territorial moderno defensor de uma lógica territorial padrão que, ao contrario de outras formas de ordenação territorial (como espaço feudal típico) não admite multiplicidade/sobreposição de jurisdições e/ou territorialidades.

Território nasce com uma dupla conotação material e simbólica, tem a ver com dominação da terra, com apropriação, possessão. Pensamos não ser possível

conceber o território na perspectiva do Capital, somente, já que sendo eles funcionais, simbólicos, há de se pensar na configuração material e identitária, exatamente levando à idéia de territorialidade (Haesbaert, 2009, p. 106): [...] não se trata do território em seu sentido pleno, ou seja, onde a sua “materialização” se torna imprescindível. Embora todo território tenha uma territorialidade (tanto no sentido abstrato de “qualidade ou condição de ser território” quanto no de sua dimensão real-simbólica), nem toda territorialidade – ou, se quisermos, também, aqui, espacialidade – possui um território (no sentido de sua efetiva realização material). (HAESBAERT, 2009, p. 106).

Assim, a questão da territorialidade que é a condição daquilo que faz parte do território de um estado, além de incorporar uma dimensão estritamente política, diz respeito também às relações econômicas e culturais, pois está intimamente ligada ao modo como as pessoas utilizam a terra, como elas próprias se organizam no espaço e como elas dão significado ao lugar, ou no entendimento de Raffestin (1993), a territorialidade enquanto as relações criadas pelo homem, mas, como expressão da exterioridade e a alteridade auxiliado por mediadores e instrumentos. Outro conceito da pesquisa é o de Conflitualidade, e este também contribui para termos a compreensão do quanto é paradoxal a territorialização – desterritorialização – reterritorialização de diferentes relações sociais (FERNANDES, 2005) principalmente quando se remete a questão agrária. Sobre a concepção de Conflitualidades, Fernandes (2005) expõe que: O enfrentamento é um momento do conflito. Para compreendê-lo em seu movimento utilizamos o conceito de conflitualidade. A conflitualidade é um processo constante alimentado pelas contradições e desigualdades do capitalismo. O movimento da conflitualidade é paradoxal ao promover, concomitantemente, a territorialização – desterritorialização – reterritorialização de diferentes relações sociais. A realização desses processos geográficos gerados pelo conflito é mais bem compreendida quando analisada nas suas temporalidades e espacialidades. São processos de desenvolvimento territorial rural formadores de diferentes organizações sociais (FERNANDES, 2005, pag.2)

Concordamos com Fernandes, pois, de fato o enfretamento que ocorre e poderá se agravar em suas conseqüências futuras é parte de processo de organização

social,

somado

as ações

do

Estado,

isso

como

parte

do

desenvolvimento territorial em relação às ações que envolvem o antes, durante e o depois das reservas em Porto de Moz e Santarém. Entende-se que estas duas

áreas já apresentam um grande potencial de conflitualidades, principalmente a reserva Tapajós-Arapiuns em Santarém, por ser a mais antiga e por reunir vários atores como índios, quilombolas, colonos, madeireiros, sojeiros, a força do Estado, etc. Especificamente na Amazônia, as RESEXs têm um papel fundamental no que se entende por contra-reforma agrária na análise de Cleps Jr. (2010, 2011), baseando em Ariovaldo Umbelino. A partir de 2008, Cleps Jr. nos mostra que o Programa Terra Legal Amazônia que objetivou a regularização fundiária pelo INCRA, mais a discussão do Código Florestal e os recentes massacres de camponeses na Amazônia, na verdade conservam a estrutura fundiária existente, não trazendo nenhuma alteração no quadro da reforma agrária, pois: [...] quase um terço (26,6%) das famílias assentadas é, na verdade, constituído por famílias que já viviam e produziam na área rural, mas sem título de propriedade e que o trabalho do governo foi dar-lhes o título e incluí-las nos programas de apoio à agricultura familiar, foram adicionados também à coluna de novos assentamentos casos de famílias que ocuparam lotes abandonados em áreas de reformas já existentes (CLEPS JR, 2010, p. 61).

Dentro do território das duas reservas temos essas situações apontadas por Cleps Jr, onde há uma rarefeita titulação da terra, como na “Verde para Sempre”. Na RESEX Tapajós-Arapiuns, temos a sobreposição de território indígena com o da RESEX, com a clara intenção do Estado brasileiro em não reconhecer os direitos dos indígenas pela titularidade de sua terra por estarem em área de RESEX. Porto-Gonçalves, no artigo: Geografia da violência contra a pessoa no campo brasileiro: agronegócio, grilagem e devastação em 2005 demonstram as conflitualidades na luta pela terra. Mostra as distintas formas de conflito classificando-as quanto à ação do poder judiciário e do poder executivo e mais o poder privado. Estes, enquanto agentes de repressão. O artigo é anterior à Fernandes, no entanto, um complementa o outro. A análise de Porto-Gonçalves expõe o grau de conflitividade e de envolvimento das pessoas em conflitos, ou seja, o número de conflitos e de pessoas neles envolvidos, perpassando pelos poderes judiciário, executivo e privado, demonstrando

o

quanto

a

modernidade

ou

moderno-colonialidade

vem

caracterizando a formação social na forma da velha conhecida violência, abrindo caminho para o progresso (PORTO-GONÇALVES 2004; 2005).

A nosso ver, a abordagem de Porto Gonçalves cabe nas duas RESEXs, pois, tomamos como exemplo, os índios presentes na área tiveram seus direitos de reconhecimento retomados (ou eles estão brigando para resgatá-lo) exatamente no contexto da criação das Unidades de Conservação no Baixo Tapajós, pois, além do aparato legal no Brasil e também em legislações internacionais vemos a retomada desses conflitos pelo reconhecimento de “indígena” e, por conseguinte, a retomada das tradições dos grupos étnicos (PEIXOTO, et.all. 2012). Ou seja, alem do fator identitário, os direitos de posse efetiva da terra indígena, pode estar sendo negado em nome da dita modernidade que Porto Gonçalves nos fala. A conflitualidade que remete aos outros atores sociais como os colonos, madeireiros, produtos rurais é densa e grave, ao se considerar as ações do Estado brasileiro acirrando ainda mais os conflitos ali existentes. Índios são contra colonos, que são contra quilombolas e todos contra os sojeiros e madeireiros. A luta pela posse da terra, pelo direito de viver e explorá-la é o ingrediente desses conflitos, segundo lideranças locais da área da RESEX Tapajós-Arapiuns. Corrobora com isso, Porto Gonçalves (2001) afirmando que a reconfiguração das territorialidades e suas formas de construir significados para o mundo e para vida é que moldam a produção da vida humana na Amazônia. 3- As Reservas Extrativistas “Verde para sempre” e Tapajós-Arapiuns Partimos do entendimento das conflitualidades construídas nas duas Reservas Extrativistas: Tapajós-Arapiuns e “Verde para Sempre”, em Santarém e Porto de Moz, no Pará, respectivamente. Estas conflitualidades estão ligadas as construções complexas das relações sociais ali estabelecidas de formas diversas e contraditórias. Dizemos então que temos, a priori, conflitualidades heterogêneas produzidas no território das duas RESEXs até mesmo antes de criação e permanecem ali, se potencializando. Por exemplo, as mobilizações contra os agentes hegemônicos locais e ausência do Estado, de uma forma geral, tem sido muito freqüentes, como no caso das concessões florestais na RESEX Tapajós-Arapiuns e revelam o grau de complexidade nas relações sociais ali circunscritas, no que tange colonos, índios, madeireiros e o Estado, e recentemente com notável conflitualidade entre Estado e

indígenas, onde estes últimos estão em processo de demarcação de suas terras (legalmente estabelecido) dentro da RESEX, algo ainda a ser desvendado no que tange às conflitualidades a serem produzidas daqui para frente. Já na RESEX “Verde para Sempre”, a complexa relação dos ribeirinhos, pescadores, extrativistas com os madeireiros, órgão de fiscalização como IBAMA tem se tensionado, pois, a exploração madeireira não cessou e ocorre na clandestinidade como demonstram relatórios de ONGs, como o Greenpeace (este tem uma intensa atividade em termos de mobilização na área da RESEX), e também pelo que já presenciamos em visitas àquela área. Na Tapajós-Arapiuns segundo Filho (1999), ocorreu a partir de 1970 a desestruturação da economia familiar baseada no extrativismo de coleta e na agricultura provocada pela presença de madeireiras no Baixo Tapajós e Rio Arapiuns. Após isso, em 1980, as comunidades do Tapajós e Arapiuns começaram a se organizar para defender suas terras, culminando com a criação da RESEX Tapajós Arapiuns em 1998 em que as empresas madeireiras que se encontravam na área tiveram suas atividades “suspensas” (FILHO, 1999). No entanto, após a existência da RESEX pela continuidade da exploração madeireira e a atual presença da exploração da soja, expulsando o pequeno produtor de suas terras, evidentemente, pela não existência de uma fiscalização dos órgãos competentes e compra de terras na área da RESEX usando o próprio morador. A reserva extrativista “Verde para Sempre” em Porto de Moz, Pará, baixo Xingu, vem se constituindo no que muitos chamam de “barril de pólvora” pelos constantes

desmandos

ali

registrados

por

parte

da

fiscalização

federal,

principalmente pelo IBAMA; pelas ações do Estado brasileiro e pelas singularidades locais, com uma população numerosa e pobre que depende diretamente da terra e do rio Xingu para sua sobrevivência (ARNAUD, 2012). A “Verde para Sempre” surgiu a partir de reivindicações da população, movimentos incentivados pela Igreja Católica, poder público local, devido à insustentável situação em que se encontrava a exploração madeireira naquela região. Calcula-se em torno de 30 balsas por dia, segundo os moradores da cidade por onde estas passavam lotadas de madeira para Belém, sem ocorrer nenhuma espécie de controle.

Neste sentido, é necessário entender esse processo parece que cabe uma análise das conflitualidades que ali foram constituídas e partir disso, sob os elementos das territorialidades que aqueles sujeitos criaram termos idéia do confronto entre classes sociais, entre modelos de desenvolvimento, por territórios (MANÇANO, 2005). As conflitualidades nas duas RESEXs se mostram heterogênea e como processos não excluem também a compreensão do território e dos conflitos que demonstram um caminho alternativo à ordem capitalista e estatal préestabelecida (MANÇANO, 2005) ou da forma como Porto-Gonçalves (1999) caracteriza as mobilizações sociais e as territorialidades por elas produzidas como “uma nova ordem em potencial” refletindo a movimentação dos sujeitos contra uma ordem qualquer estabelecida. Desta forma, a organização do espaço local no diz muita coisa. No município de Porto de Moz, no Pará, por exemplo, local da reserva “Verde para sempre”, teve e tem na exploração da madeira toda a base de sua sustentação. Para o município são atraídos contingentes de todas as partes do estado do Pará e até de outros como Amapá e Amazonas pela grande riqueza madeireira existente em seu território. Em Santarém, o apelo aos recursos naturais também são visíveis e a terra se constitui como principal meio de reprodução socioeconômica da população local. Ainda conta com uma diversidade de sujeitos, principalmente na área da RESEX, com conflitualidades (re) criadas internamente pelos sujeitos ali presentes após a fundação da reserva, mas fundamentalmente pela externalidades como, o grande capital, madeireiros, o próprio Estado brasileiro. De fato, os resultados disso são: reprodução socioeconômica comprometida dos atores locais, geralmente de base extrativa dos produtos florestais e cultivos, contrastando com a presença de Madeireiros e Sojeiros na região. Salienta-se a grande extensão das duas RESEXs: a “Verde para Sempre com 1.288.717 ha, criada em 08 de novembro de 2004. A Tapajós-Arapiuns, com 647.610 ha de superfície, criada em 09 de setembro de 1998. Em Porto de Moz, a “Verde para Sempre” já apresenta problemas desde o início, pois, foi criada no ímpeto de tornar a Amazônia uma espécie de floresta intocada e por isso mesmo a própria ministra à época, Marina silva, esteve pessoalmente dialogando com as

comunidades num grande seminário (o primeiro após alguns meses de criação da RESEX) em Porto de Moz, na comunidade de Carmelino2. O que se resultou disso foi a diminuição da exploração predatória da madeira, mas não o desaparecimento em seu entorno e em algumas comunidades dentro da reserva e longínquas para a fiscalização e distantes da sede do município. Assim, o que se tem de fato, hoje, é o comprometimento

da

sobrevivência

dos

pequenos

agricultores,

criadores,

pescadores, acirramento dos conflitos sociais e dos problemas fundiários com a criação da Reserva, com a permanência dos moradores na RESEX ficando totalmente comprometida. Assim, as conflitualidades entre os diversos atores presentes nas duas reservas têm comprometido a sua viabilidade e existência e está contribuindo para a saída cada vez maior dos moradores das RESEXs para a sede dos municípios de Porto de Moz e Santarém. No entanto isto não significa a não existência de conflitos e conflitualidades historicamente ali estabelecidas que envolvem: o Estado brasileiro,

indígenas,

ribeirinhos,

produtores

rurais

e

pescadores.

Essas

conflitualidades e os conflitos mostram cada vez mais as falhas das políticas de desenvolvimento para a Amazônia, diante dos sérios problemas de implementação das políticas públicas na região e da forçosa entrada do capitalismo na Amazônia afetando os modos de reprodução, sejam à época das superintendências, do planejamento e desenvolvimento regional, até a nova geopolítica na região, correspondentes ao paradigma ecológico-sustentável com a consolidação do povoamento e expansão da fronteira amazônica. METODOLOGIA A metodologia deste trabalho esteve centrada na interpretação de dados secundários de trabalhos que resultaram de estudos, ainda que escassos, das duas RESEXs. O cerne principal foi e deverá ser (pois a pesquisa não está concluída) os trabalhos de campo com as visitas às comunidades e localidades das RESEXs, nos municípios de Porto de Moz, Aveiro e Santarém. Para isso, utilizaremos registro fotográfico servindo depois para a coleta de dados e interpretação das conflitualidades e territorialidades dos sujeitos inseridos na pesquisa. 2

Vide: http://www.mma.gov.br/informma/item/2372-marina-silva-debate-efetivacao-da-reserva-verde-parasempre-no-para.

Foram aplicadas desde 2011, entrevistas em instituições como igreja católica de Porto de Moz e algumas lideranças regiliosas de Santarém; pessoas ligadas a sindicatos e Colônias de pescadores dos dois municípios; órgãos públicos do governo Federal, Estadual e municipal, ONGs, e representantes comunitários, nas associações diversas presentes nas RESEXs. RESULTADOS/CONCLUSÕES É bom salientar que este estudo está em processo, mas podemos elencar algumas considerações diante de tudo que foi aqui exposto. A primeira conclusão ao contexto regional ao que o Estado do Pará está inserido. O Pará, bem como a Amazônia tem se incorporado cada vez mais como capital natural, acima de tudo. Não se tem um projeto de desenvolvimento local diferente em termos práticos daqueles postos em 1970 em diante. Pensamos que a criação das RESEXs tem uma íntima relação com esta premissa, quando se pensa na continuidade da federalização do território apontada por Rocha (2007). A segunda, partindo das RESEXs estudadas observamos que elas não vem cumprindo a priori seu papel principal: ser extrativista. Não se tem dado condições para que isso ocorra. As populações rurais, ribeirinhas encontram-se cada vez fora delas do que inseridas dentro de sua funcionalidade. Assim, Não é possível pensar as Reservas Extrativistas sem entender a ocupação da região, pelo Governo, através de suas políticas públicas e obras em conjunto com as ações do capital Sojeiro, madeireiro, mineralógico e obras de infraestrutura como a energética, uma verdadeira geopolítica escalar do local ao nacional com rebatimentos cada vez maiores sobre as questões fundiárias na região, com suas conflitualidades estando num grande ponto de ebulição. BIBLIOGRAFIA ARNAUD, M. J. C. O papel dos movimentos socioambientais e do Estado na Institucionalização da Resex “Verde para Sempre” no território de Porto de Moz, Pará. In: XXI Encontro Nacional de Geografia Agrária, 2012, Uberlândia, MG. Anais, 1-14. CLEPS JR, João. Territorialização do capital no campo: A atualização das lutas sociais e os impasses da reforma agrária no Brasil. Francisco Beltrão: UNIOESTE. Faz Ciência / Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus de Francisco Beltrão. Vol. 12, Nº 15 (2010).

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