\"Confrarias de Santa Catarina da Serra: séculos XVII-XVIII\", in «Luz da Serra», Santa Catarina da Serra, Ano XLII, n.° 507 (no original, 527), dezembro de 2016, p. 14.

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LUZ DA SERRA

DEZEMBRO

-- histórias da História --

14

2016

Confrarias de Santa Catarina da Serra: séculos XVIXVIII

As confrarias, que remontam ao Portugal da Idade Média, têm tido, ao longo dos séculos, um importante papel na sociedade, principalmente as dos defuntos e enfermos. Na região, desde pelo menos o século XVIII que escrivães e mordomos fazem parte das mesas das mesmas. A sua organização fazia-se através de compromissos, equiparáveis a estatutos, que definiam os objetivos das irmandades, a orgânica e, entre outros aspetos, as funções atribuídas a cada órgão.

Na paróquia de Santa Catarina da Serra, a primeira confraria, de São Guilherme, na aldeia de Pedrome, terá sido fundada na transição dos séculos XVI-XVII, mas em 1657 já estava em decadência, como referem as Memórias do Bispado de Leiria.

«De outras confrarias de defuntos. Outra no logar do Pedrome, freguezia de Santa Catharina da Serra, na parte que é termo de Leiria (porque pelo meio deste logar vai a devisão dos termos de Leiria e Ourem); tinha compromisso, e o juiz della jurisdicção para executar as penas até 50 reis; tinha renda, e ainda se conserva com as mais. As missas de sua obrigação se dizem na ermida de São Guilherme, que está no mesmo logar».

Pouco se sabe sobre esta confraria. Provavelmente a sua extinção terá precedido as que se lhe segui-

ram, designadamente a das Almas, mencionada já no ano de 1712, e a de Nossa Senhora do Rosário, em 1718. Em 1721, Brás Raposo da Fonseca refere as «irmandades de Nossa Senhora do Rosário, da Purificação, de Santo António, de Santa Catarina e das Almas». Ao longo das décadas de 30, 40 e 50 do século XVIII, o número de confrarias irá ser reduzido para três, provavelmente por não terem confrades suficientes, como era usual acontecer à época. Quando uma irmandade não tinha os elementos necessários para poder funcionar ou quando ocorriam irregularidades extinguia-se e as pessoas transitavam para outra ou outras. Neste âmbito, é de salientar a eventual transição de bens móveis e imóveis e obrigações da confraria de Pedrome, referem alguns autores, para a das Almas, nos finais do século XVII ou princípios do XVIII.

Estas confrarias estavam representadas, na igreja matriz, através de estátuas de santos, padroeiros. A imagem de Santa Catarina encontrava-se localizada no altar-mor, a de Nossa Senhora do Rosário no primeiro altar colateral do lado da Epístola, a terceira, de Nossa Senhora da Purificação, no primeiro altar do lado do Evangelho, a de Santo António, passara do segundo altar do lado do Evangelho para o primeiro do da Epístola. Por último, a das Almas era

representada por um painel, colocado, em 1758, no segundo altar do lado do Evangelho.

Nos meados de setecentos, as cinco confrarias tinham sido, como se mencionou, reduzidas a três, tendo sido extintas a de Santa Catarina, a de Nossa Senhora da Purificação e a de Santo António. Mantiveram-se a das Almas e a de Nossa Senhora do Rosário e erigiuse, na primeira metade do século XVIII, a do Santíssimo Sacramento, representada pelo sacrário, onde está a hóstia consagrada. Doravante, estas três irmandades irão ser as únicas na paróquia serrana. Por exemplo, no ano de 1751, Luís Cardoso, padre, na Noticia Historica de todas as cidades, villas, lugares, e aldeas, rios, ribeiras, e serras dos reynos de Portugal, refere que a paróquia «tem as irmandades das Almas, do Santissimo, e de Nossa Senhora do Rosário». Em 1758, o cura João Pedro ou, segundo outros investigadores, João Pereira, no âmbito do inquérito pombalino que foi enviado a todas as freguesias do então reino de Portugal, na sequência do terramoto de 1755, escreve que a freguesia «tem tres irmandades, huma he a irmandade do Santissimo Sacramento, e outra a da Senhora do Rozario, e mais outra irmandade das Santas Almas do Purgatorio». Cada uma destas confrarias tinha e tem, nas procissões, uma capa de cor diferente.

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No Arquivo Distrital de Leiria existe, datado de 1757, um dos compromissos da confraria das Almas. Trata-se de um texto já bastante posterior à fundação daquela, o que poderá corresponder a uma refundação ou ainda à perda do antigo documento, exigindo a atribuição de um novo. A dita irmandade não admitia mais de 33 confrades, porque tal número correspondia ao tempo que, segundo consta, Jesus Cristo viveu na Terra: «Os irmãos desta confraria não passarão de trinta e tres, em reverencia dos annos, que Christo Nosso Senhor viveo no mundo». O lema da confraria das Almas de Santa Catarina da Serra, em 1757, era: «Importa muito saber bem viver, e morrer, que é o remate da nossa salvação». A eleição dos membros da mesa era anual. Todos os anos se «faça eleição do juiz, escrivão, e quatro mordomos». Os restantes, 27, eram os confrades ou irmãos. Estes eram obrigados a conceder esmolas, especialmente «aos que padecem maiores necessidades». Além disso, qualquer confrade tinha o dever de aconselhar um irmão doente nos sacramentos, no testamento e de o ajudar nas enfermidades. Todos os irmãos tinham de rezar, por dia, 5 painossos e 5 ave-marias. As irmandades do Santíssimo, Almas e Nossa Senhora do Rosário não eram apanágio exclusivo de Santa Catarina da

Serra. Na realidade, em meados de setecentos as três confrarias eram as mais comuns nas paróquias dos termos de Leiria, Ourém, Porto de Mós, Batalha e Torres Novas, entre outros. Bibliografia sumária:

- CARDOSO, Luís, Dicionário Geográfico, vol. 34, n.º 143, pp. 1055-1065. - CARDOSO, Luís, Noticia historica de todas as cidades, villas, lugares, e aldeas, rios, ribeiras, e serras dos reynos de Portugal, e Algarve, com todas as cousas raras, que nelle se encontrão, assim antigas, como modernas, Lisboa, Regia Officina Sylviana, e da Academia Real, MDCCLI, tomo II, pp. 532-533. - Compromisso da Confraria das Almas da freguesia de Santa Catarina da Serra (1757), ADL, piso V III-74-B-8, documentos avulsos. - FONSECA, Brás Raposo da, Noticias remetidas à Academia Real debaixo da real proteção do muito alto, e muito poderoso rei nosso senhor D. João o 5.º, fotocópia do livro exis-

Vasco Jorge Rosa da Silva Paleógrafo e Epigrafista Leiria - Ourém tente no Arquivo da Universidade de Coimbra (cota: ADL, Dep. II, 117C-12, fls. 50-50v) - GOMES, Saul António, Notícias e Memórias Paroquiais Setecentistas (8. Leiria), Coimbra, Centro de História da Sociedade e da Cultura e Palimage, maio de 2009, p. 98. - O Couseiro ou Memórias do Bispado de Leiria, Braga, Typographia Lusitana, 1868, parte I, cap. 88. - "Pedrome", in Luz da Serra, Janeiro de 1984, Ano XI, n.º 121, p. 3. - SILVA, Vasco Jorge Rosa da, e VICENTE, Joaquim das Neves, Santa Catarina da Serra: Estudo Histórico e Documental, Santa Catarina da Serra, Junta de Freguesia, 2013, pp. 72-75.

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