CONHECER, VALORIZAR E PROTEGER O PATRIMÔNIO PRÉ- HISTÓRICO DO ALTO JEQUITINHONHA - OS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS DE CAMPO DAS FLORES.

September 26, 2017 | Autor: Valdinêy Leite | Categoria: Arte Rupestre, Arqueologia, Patrimônio Arqueológico, Identificación de sitios arqueológicos
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CONHECER, VALORIZAR E PROTEGER O PATRIMÔNIO PRÉHISTÓRICO

DO

ALTO

JEQUITINHONHA

-

OS

SÍTIOS

ARQUEOLÓGICOS DE CAMPO DAS FLORES.

Valdiney Amaral Leite1 [email protected]

Alcione R. Milagres¹ [email protected]

Fabrício A. Lopes¹ [email protected]

Eliane Ferreira¹ [email protected] Resumo: Essa comunicação visa valorizar o patrimônio pré-histórico do Alto Jequitinhonha tendo em vista os sítios Arqueológicos de área como um todo, mais propriamente na região de Senador Modestino Gonçalves. Essa região é agraciada pelos inúmeros sítios arqueológicos de figurações rupestres. Visamos reforçar a necessidade de divulgação do seu significado e seu potencial científico, com o intuito de auxiliar na preservação e utilização destes locais de forma correta, para que não ocorram depredações irreversíveis por parte da população que desconhece a importância histórico-cultural dos sítios arqueológicos da região e protejam o patrimônio Préhistórico de Diamantina. Palavras-chave: Arte Rupestre, Patrimônio pré-histórico, Sítio Arqueológico, Alto Jequitinhonha.

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Alunos de graduação do Bacharelado em Humanidades da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Alunos de Iniciação Científica do Laboratório de Arqueologia e Estudo da Paisagem da UFVJM.

INTRODUÇÃO Os sítios pré-históricos da região do Alto Vale do Jequitinhonha cujos estudos estão sendo promovidos pelo Laboratório de Arqueologia e Estudos da Paisagem da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri; apresentam uma grande possibilidade de correlacionar dados pré-históricos da região com estudos já realizados por diversos pesquisadores em outras regiões, ampliando nosso conhecimento sobre o cenário de ocupação pré-histórica do Brasil, em especial Minas Gerais. Ainda possibilitam conhecer e repassar de forma didática conhecimentos da pré-história regional a alunos das escolas, e possivelmente alcançar os objetivos hoje inseridos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN): Assim, estão sendo introduzidos temas transversais nos parâmetros educacionais brasileiros; ética, pluralidade cultural, meio ambiente, saúde, orientação sexual, trabalho, consumo e temas locais passam a ser trabalhados de forma contínua e integrada, independente da área de atuação do professor, a fim de proporcionar, de forma mais relevante a interdisciplinaridade e a valorização regional e local (MILAGRES et al, 2010).

Dada a importância do estudo dos sítios arqueológicos na região, definimos sítios arqueológicos como traços de atividades humanas do passado, podendo ser grafismos rupestres, vestígios de cultura material ou qualquer outra traço da presença humana no ambiente, encontrados tanto na superfície como em subsolo (fogueiras e seus blocos, ferramentas de pedra, cacos de vasilhames cerâmicos, manchas das antigas habitações e estilhas de lascamento) que nos possibilita contextualizar o modo de grupos pré-históricos de determinada região. Ainda, segundo a UNESCO sítios arqueológicos: (...) são todos os vestígios da existência humana e interessa todos os lugares onde há indícios de atividades humanas, não importando quais sejam elas; estruturas e vestígios abandonados de todo tipo, na superfície, no subsolo ou sob as águas, assim, como o material a eles associados (ICOMOS-ICAHM, 1990).

Os sítios arqueológicos no Brasil são considerados patrimônio da União, em outras palavras, são bens culturais protegidos tanto pela Constituição Federal quanto pela Lei Federal n° 3924/1961, sendo sua mutilação ou destruição considerada crime. Além das questões legais, a preservação de sítios arqueológicos, principalmente os de arte rupestre, é fundamental para a compreensão do passado do Alto Jequitinhonha como um todo. Quem foram os primeiros habitantes? Como viviam? Do que se alimentavam? Como era o modo de vida e cultura dos nossos antepassados? É válido destacar que esses sítios já eram citados em obras de cientistas estrangeiros que estiveram no Brasil desde o século XVI, um exemplo foi Auguste de Saint-Hilaire (botânico francês) que na primeira metade do século XIX (1817) em sua passagem pelas áreas do Arraial do Tijuco descrevia: Atravessamos então o vale que se estende ao pé de Tijuco e subimos a colina oposta. À beira do caminho o Sr. Da Câmara chamou minha atenção para um rochedo inclinado, de superfície muito lisa, onde havia traços grosseiros feitos com uma tinta vermelha. Esses traços representam desenhos de pássaros, uns isolados, outros agrupados de modo bizarro. Os mais antigos habitantes de Tijuco lembram-se de ter visto esses desenhos e todo mundo os atribui aos índios que ocupavam a região antes da chegada dos portugueses. Foram esses os únicos sinais das antiguidades americanas que vi durante o curso de minhas longas viagens.” (SAINT-HILAIRE p. 39, 2004)

Os sítios são conhecidos pelas comunidades do Alto Jequitinhonha. Em nossos trabalhos de campo as pessoas nos indicam suas localizações. Entretanto, como dito no trecho acima, são vistos como “coisa de índio”. Neste trabalho concentramos nossa atenção na pesquisa que tem sido desenvolvida pela equipe do Laboratório de Arqueologia e Estudo da Paisagem da UFVJM nos sítios arqueológicos localizados em Campos das Flores, distrito de Senador Modestino Gonçalves, cidade assentada na porção meridional da Serra do Espinhaço e a leste da então cidade Diamantina. Daremos especial atenção ao sítio Itanguá 02, primeiro sítio arqueológico escavado pela equipe da UFVJM. Assim sendo, o objetivo principal dessa comunicação é apresentar dados, mesmo que preliminares, que possam acrescentar conhecimentos e divulgar a riqueza e importância da pré-história do Alto Vale do Jequitinhonha.

Além disso, pretendemos divulgar as pesquisas que têm sido desenvolvidas na região de Senador Modestino Gonçalves, de forma que as pessoas possam conhecer, valorizar e proteger o patrimônio pré-histórico regional. Finalmente, buscamos propor atividades para alcançar tais metas, como palestras de educação patrimonial que possam ser oferecidas à população em geral, e em especial aos alunos do ensino fundamental, médio e superior.

OS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS DE CAMPO DAS FLORES Os sítios dessa área, um total de dezessete, são compostos por matacões de quartzito com a presença de grafismos rupestres característicos da conhecida Tradição Planalto de arte rupestre, muito comum em Minas Gerais. Em alguns poucos foi possível identificar figurações típicas da Tradição Nordeste. A Tradição Planalto foi definida a partir dos sítios de pinturas rupestres do planalto Cárstico de Lagoa Santa. Seus elementos definidores são os grafismos zoomorfos, sobretudo cervídeos e peixes, de composição monocrômica (pintados em vermelho na maioria), acompanhados de outros zoomorfos, sobretudo representações de quadrúpedes, geralmente menores que os cervídeos e de antropomorfos muito esquematizados (ISNARDIS, 2009). Os sítios de Campo das Flores não fogem à regra. Os cervídeos são muito bem representados, todos pintados em vermelho, mas há figurações de outros zoomorfos: pequenos mamíferos, peixes, aves; e, principalmente, as geométricas. Os sítios Itanguá 02 e 06 apresentam figurações antropomorfas relacionadas à Tradição Nordeste (MARTIN, 1999). O entorno imediato dos sítios é marcado pela presença de afloramentos de quartzito, com presença de vegetação típica de campo rupestre. Além vegetação típica de cerrado, pode-se observar grandes manchas de Mata Atlântica. A área é margeada pelo rio Itanguá, mas há presença de outros cursos d’água. A grande maioria está constituída por sítios com figurações isoladas, sem formar cenas, com exceção do sítio Itanguá 06, que apresenta um grande painel, com intensa sobreposição, inclusive com presença de figurações filiadas á Tradição Nordeste, estas sobrepostas por figurações filiadas à Tradição Planalto.

De modo geral, trata-se de uma área arqueológica de extrema importância no quadro regional e que tem contribuído sobremaneira para a compreensão do uso e ocupação do espaço no Alto Jequitinhonha.

METODOLOGIA Os procedimentos metodológicos foram: levantamento bibliográfico e trabalho de campo na região citada neste trabalho. Foram realizadas prospecções arqueológicas, que consistem em caminhamentos sistemáticos na região para identificação de sítios arqueológicos ou de áreas com propensão à existência de assentamentos humanos, metodologia que nos permitiu identificar uma quantidade significativa de sítios arqueológicos na área. A presença constante de grafismos rupestres facilitou tal identificação, porém a equipe tem apostado em dados ambientais para a compreensão das escolhas realizadas pelos grupos pré-históricos, sendo que os dados estão sendo processados. Como parte das atividades que estão sendo executadas em Campo das Flores, foi realizada uma campanha de escavação arqueológica sistemática no sítio Itanguá 2. O objetivo dessa campanha era averiguar a presença de cultura material em subsuperfície e, dessa forma, compreender melhor o sistema de assentamento regional, ou seja, como os grupos pré-históricos ocuparam a região, cooperando para a compreensão do modo de vida e cultura na pré-história do Vale do Jequitinhonha. As etapas metodológicas utilizadas pela equipe para a escavação foram (BICHO, 2006):  Limpeza do solo do sítio, onde foi retirado pequenos arbustos e gravetos;  Após a limpeza da área, delimitamos a área a ser escavada em quadrículas de 1 m², somando no total uma área de 48 m²;  Marcação do ponto zero onde foi anotado o ponto da Universal Transverse Mercator (UTM) para localização exata do sítio (as UTMs do ponto zero foram: 8.002.911/ 698.515);  Depois de feito todo esse processo iniciaram-se as escavações, nivelando toda a área ao nível zero a partir disso iniciamos a escavação em que se retirava as

camadas de sedimentos do solo, sempre de 2 em 2 cm até alcançar os substrato rochoso (geralmente este estava entre 20 e 25 cm).  Todo material lítico encontrado foi empacotado com etiquetas que continham informações referentes ao posicionamento e data de escavação de cada material (Coordenadas cartesianas representadas pelos eixos horizontais (X) e verticais (Y) demarcados pelo barbante usado para o quadriculamento). Outra informação relevante foi a profundidade (Z) de cada peça encontrada.  Após todo processo de coleta, todo material foi encaminhado para o laboratório, onde o mesmo está passando pela etapa de curadoria (limpeza e tombamento a ser encaminhado para o IPHAN/MinC) e análise.

RESULTADOS Após realizar todo processo de prospecção, constou-se a região apresentava dezessete sítios arqueológicos sob abrigos, cujos grafismos rupestres, na maioria, são característicos da Tradição Planalto. Percebemos que por ser uma região de difícil acesso (e com baixíssima propensão para desenvolvimento de atividades econômicas), os sítios se apresentam quase que intactos por ações antrópicas, entretanto, percebe-se o intenso desgaste provocado pela ação do tempo. Apesar da pouca interferência humana nos sítios referidos, enfatizamos a necessidade de preservá-los, pois apresentam uma grande possibilidade de re(construir) a pré-história regional e assim evitar que sejam depredados como ocorreu com outros sítios da região. Depois de feita a escavação arqueológica no sitio Itanguá 2, logo de início, pela quantidade de material lítico coletado, percebemos que o local era usado também para lascamento e retoques de ferramentas que eram usadas no dia-a-dia. Nesse ínterim, acreditamos, a priori, que se trata de uma área de produção de ferramentas de pedra, entretanto tal hipótese só será comprovada após:  Estudo minucioso da cultura material resgatada.  Resultado das datações por C14 da fogueira evidenciada na quadrícula B2.

 Análise físico-química de registros evidenciados na escavação.

CONCLUSÕES Após analisar e conhecer holisticamente os sítios arqueológicos do Alto Vale do Jequitinhonha, percebemos a necessidade de divulgação e criação de projetos que ajudarão a conscientizar a população local de forma que esta irá auxiliar na preservação e proteção de um patrimônio pré-histórico com grande potencial social e científico. O estudo dos conteúdos desses sítios tem contribuído para despertar o interesse por esse patrimônio pelas diferentes comunidades do Alto Jequitinhonha, despertando o sentimento de pertencimento nessas comunidades, uma vez que o conhecimento sobre esses sítios nos permite compreender e valorizar nossas heranças em busca do caminho da cidadania (pessoal, comunitária e nacional), permitindo a todos o acesso a história e cultura.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BICHO, Nuno Ferreira. Manual de Arqueologia pré-histórica. Lisboa: Edições 70, 2006. ISNARDIS, Andrei. Entre as Pedras as ocupações pré-históricas recentes e os grafismos rupestres da região de Diamantina, Minas Gerais. São Paulo: MAE/USP, 2009. MILAGRES, A. R. et al. A importância dos Viajantes e Naturalistas para Educação no Vale do Jequitinhonha. In: Anais do Seminário de Pesquisa e Prática Pedagógica da UFVJM, pág. 27-30, 2010. SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem pelo distrito dos diamantes e litoral do Brasil. [1830]. Tradução de Leonam de Azeredo Pena. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; Belo Horizonte: Itatiaia. 2004. ICOMOS/ICAHM. Carta de Lausanne: carta para proteção e a gestão do patrimônio arqueológico. Lausanne, 1990.

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