Conhecimento e Gestão

May 29, 2017 | Autor: Siderly Almeida | Categoria: Management, Knowledge, Conhecimento, Administracion, Administração
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Siderly do Carmo Dahle de Almeida Camilla Barreto Rodrigues Cochia Caetano Fabricio Ricardo Lazilha Ludhiana Ethel Kendrick Matos Silva Marcelo Cristian Vieira (Organizadores)

Conhecimento e Gestão Volume 1

Maringá – PR 2016

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CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

3 UNICESUMAR – CENTRO UNIVERSITÁRIO CESUMAR PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO MODALIDADE EAD Siderly do Carmo Dahle de Almeida Camilla Barreto Rodrigues Cochia Caetano Fabricio Ricardo Lazilha Ludhiana Ethel Kendrick Matos Silva Marcelo Cristian Vieira (Organizadores)

Conhecimento e Gestão Volume 1

Maringá – PR 2016

4 EXPEDIENTE Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Educação a Distância Willian Victor Kendrick de Matos Silva Diretora de Pesquisa Ludhiana Ethel Kendrick de Matos Silva Diretor de Planejamento de Ensino Fabrício Ricardo Lazilha Diretora Operacional de Ensino Katia Solange Coelho Head de Projetos Educacionais e Inovação Camilla Barreto R. Cochia Caetano Gerente de pós-graduação - EAD Marcelo Cristian Vieira Coordenação de pós-graduação - EAD Siderly do Carmo Dahle de Almeida Professoras líderes de pós-graduação Andréia M. Zuliani Santos Sibele de Oliveira Pirasol Organizadores Siderly do Carmo Dahle de Almeida Camilla Barreto Rodrigues Cochia Caetano Fabricio Ricardo Lazilha Ludhiana Ethel Kendrick Matos Silva Marcelo Cristian Vieira Conselho Editorial Andréia dos Santos Gallo; Fabricia Souto Cruz; Milene Harumi Tomoike; Nayara Emi Shimada; Patricia Parra; Valdelice dos A. Rasimaviko Rejani; Soraia Alves Feitoza da Silva

Capa Alvaro Martins Fernandes Junior Autores Adriana Q. Palmieri Ferreira e Ana Carolina R. Prigol; Andréia M. Z. Santos; Josimara Kellen de Camargo e Emerson Roger Zuliani; Camila Chirnev Caobianco e Amanda Cordeiro; Camila Machado Raimundo e Henrique F. Araujo; Guilherme Cassarotti Ferigato e Jerônimo Antero Alves; Gustavo Feitoza da Silva e Maria Victoria Borghetti Barros; Islayla Paloma N. Simas e Beatriz Ribeiro; Jefferson Alencar da Silva e Anderson S. Pereira; Liana Gomes Netto e Josineia R.dos Santos; Marcio Pedro Cabral e Fernando F.dos Santos; Maria Regina Barion Colombari e Roberta Cristina Maini; Milene Harumi Tomoike e Patrícia Paula Ribeiro; Marivaldo da Silva Oliveira e Cristine Cançado V. Ribeiro; Nayara Emi Shimada e Lucia Maria F. Lacerda; Patrícia Parra e Márcia D. Ferreira Leandro; Paulo Henrique Franzão Silva e Rita T. Netzel; Thais Liliane dos Santos e Leandro Mitsuo Azuma; Yony Brugnolo Alves e Francisco Fernandes Júnior; Soraia Alves Feitoza da Silva e Priscila Aline de Melo Comissão Científica Prof. Dra. Leocilea A. Vieira – UNESPAR - PR Prof. Dra. Dinamara P. Machado – UNINTER - PR Prof. Dra. Andrea G. Marques – UNICESUMAR - PR Prof. Dra. Rejane Sartori – UEM – PR. Revisão textual Valdelice dos Anjos Rasimaviko Rejani

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação A447c ALMEIDA, Siderly do Carmo Dahle de Conhecimento e Gestão. ALMEIDA, Siderly do Carmo Dahle de; CAETANO, Camilla Barreto Rodrigues Cochia; LAZILHA, Fabricio Ricardo; SILVA, Ludhiana Ethel Kendrick Matos; VIEIRA, Marcelo C. (Orgs.) Maringá-Pr.: CESUMAR, 2016. 204 p. Contém Ilustrações e figuras Pós Graduação em Gestão na modalidade EAD ISBN 978-85-459-0400-7 1. 3.

Gestão do Conhecimento. 2. Gestão nas Organizações. Administração. I. Título. CESUMAR.

CDD 22ª. 658 NBR 12899 – AACR/2 João Vivaldo de Souza – Bibliotecário – CRB-9 – 1807 Biblioteca Central Cesumar Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e ou quaisquer meios ou arquivada em qualquer sistema sem permissão escrita da Unicesumar.

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SUMÁRIO AUDITORIA E GESTÃO: O USO DA AUDITORIA COMO FERRAMENTA NO PROCESSO DECISÓRIO NOS ANOS DE 2014 E 2015 Adriana Queiroz Palmieri Ferreira e Ana Carolina Rodrigues Prigol ................... 9 ANALISE DE VIABILIDADE E PLANEJAMENTO PARA IMPLANTAÇÃO NA PRODUÇÃO DE MORANGOS Josimara Kellen de Camargo; Emerson R. Zuliani; Andreia M. Zuliani Santos .. 20 ESTUDO DA IMPORTÂNCIA DA INOVAÇÃO E DA CRIATIVIDADE NAS ORGANIZAÇÕES Camila Chirnev Caobianco e Amanda Cordeiro .............................................. 32 CRM: O CLIENTE EM FOCO Camila Machado Raimundo e Henrique Figueiredo Araújo ............................... 43 ORÇAMENTO EMPRESARIAL Guilherme Cassarotti Ferigato e Jerônimo Antero Alves ................................... 53 PRIMEIRA INFÂNCIA NO ESTADO DO PARANÁ E SEUS DESAFIOS Gustavo Feitoza da Silva e Maria Victoria Borghetti Barros .............................. 64 PERCEPÇÃO AMBIENTAL DO CENTRO DE ESPORTES E LAZER MONTEIRO LOBATO, NO MUNICÍPIO DE PONTA GROSSA, PARANÁ Islayla Paloma Nunes Simas e Beatriz Ribeiro ................................................. 71 A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO PARA O GERENCIAMENTO DE TRÂNSITO NO BRASIL Jefferson Alencar da Silva e Anderson Souza Pereira ...................................... 81 O DESAFIO DA SUSTENTABILIDADE PARA AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS Liana Gomes Netto e Josineia Ribeiro dos Santos .......................................... 87 ANÁLISE DA OFERTA DE IMÓVEIS ADAPTADOS PARA IDOSOS COM LIMITAÇÕES Marcio Pedro Cabral e Fernando Ferreira dos Santos ...................................... 96

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A IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA NA IMPLEMENTAÇÃO DE ÁREAS PROTEGIDAS: EXPERIÊNCIAS DO CORREDOR ECOLÓGICO SOSSEGOCARATINGA, EM MINAS GERAIS Maria Regina Barion Colombari e Roberta Cristina Maini ............................ 102 A IMPORTÂNCIA DO CRÉDITO RURAL PARA O AGRONEGÓCIO BRASILEIRO Marivaldo da Silva Oliveira e Cristine Cançado Vasconcelos Ribeiro ........... 114 RECUPERAÇÃO E PROTEÇÃO DE NASCENTES EM ÁREA URBANA NO MUNICÍPIO DE PONTA GROSSA-PR Milene Harumi Tomoike e Patrícia Paula Ribeiro ....................................... 123 CULTURA E CLIMA ORGANIZACIONAL: UM LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO SOBRE SUAS INTERFERÊNCIAS NA MOTIVAÇÃO DO COLABORADOR DO SERVIÇO PÚBLICO Nayara Emi Shimada e Lucia Maria Ferreira Lacerda .................................. 132 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E ESCOLAS DE GOVERNO: LIMITES E POSSIBILIDADES Patrícia Parra e Márcia Donegá Ferreira Leandro ........................................ 143 LOGÍSTICA REVERSA DE ELETRÔNICOS PÓS-CONSUMO: COMPETITIVIDADE E SUSTENTABILIDADE Paulo Henrique Franzão Silva e Rita Torrecilia Netzel .................................. 154 ARBITRAGEM COMO ALTERNATIVA À MOROSIDADE DO JUDICIÁRIO Thais Liliane Dos Santos e Leandro Mitsuo Azuma .................................... 166 ESTUDO SOBRE O CONSUMO DA CARNE OVINA NA REGIÃO DE LONDRINA-PR Yony Brugnolo Alves e Francisco Fernandes Júnior.................................... 175 GESTÃO POR COMPETÊNCIAS: UM ENFOQUE SOBRE A ATITUDE NO COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Soraia Alves Feitoza da Silva e Priscila Aline de Melo ................................. 186 SOBRE OS ORGANIZADORES ................................................................... 199 SOBRE AS MADRINHAS ........................................................................... 201

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APRESENTAÇÃO “Conhecimento e Gestão” é uma obra coletiva que apresenta os melhores artigos produzidos pelos alunos dos cursos de pós-graduação em gestão na modalidade a distância do Centro Universitário Cesumar – Unicesumar, no primeiro ciclo de orientações de 2016. Esta obra representa o trabalho de alunos que buscaram traduzir em poucas páginas tudo aquilo que aprenderam no decorrer de seus cursos e o esforço de orientadores que visaram extrair de seus orientandos o seu melhor desempenho. Representa também a dedicação de uma equipe de “madrinhas” de cursos (professoras que compõe o conselho editorial desta obra) que foram incansáveis na busca por garantir a qualidade e o melhor atendimento aos professores e alunos envolvidos no processo de orientação. Para que esta obra se efetivasse, importante salientar a contribuição dos Polos de apoio presencial, assim como a ajuda dos professores formadores; professores mediadores e tutores dos cursos de pós-graduação em educação na modalidade a distância da Unicesumar e, ainda, a colaboração de uma comissão científica que avalizou todo o processo. Os temas eleitos por seus autores são atuais, de relevância e prioritários no contexto educacional e perpassam por todos os cursos de educação oferecidos pela Unicesumar: Administração Pública; Agronegócio; Auditoria e Controladoria; Empreendimentos e Negócios Imobiliários; Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável, Gestão com Pessoas; Gestão de Projetos; Gestão Comercial; Gestão Empresarial; Logística e Distribuição; Planejamento e Gestão de Trânsito. Os alunos autores destes textos pertencem aos polos de Ponta Grossa – PR, Campo Mourão – PR; União da Vitória – PR; Campo Grande - MS; Contagem MG; Ubá – MG; Belo Horizonte – MG; Salvador – BA; Brasília – DF; Patrocínio – MG; Presidente Prudente – SP; Curitiba – PR; Londrina – PR e Poços de Caldas MG. Boa leitura! Os organizadores CONHECIMENTO E GESTÃO

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AUDITORIA E GESTÃO: O USO DA AUDITORIA COMO FERRAMENTA NO PROCESSO DECISÓRIO NOS ANOS DE 2014 E 2015 ADRIANA QUEIROZ PALMIERI FERREIRA 1 ANA CAROLINA RODRIGUES PRIGOL 2

RESUMO Através do presente trabalho procurou-se conhecer como a auditoria é vista pelas empresas em que é realizada, ou seja, se estas a utiliza como ferramenta gerencial. Para tanto, foi feito um levantamento bibliográfico para se definir, classificar e apontar as finalidades de uma auditoria, depois fez uma pesquisa de campo, onde foram aplicados questionários a algumas empresas da cidade de Ponta Grossa - PR. Por meio desta pesquisa, constatou-se que, na maioria dos casos, a auditoria ainda é vista como uma tarefa obrigatória e quando não, é vista apenas como ferramenta de verificação e análise. Acredita-se, com isso, que cabe aos auditores conscientizarem os gestores de que a auditoria pode gerar informações úteis, pertinentes e tempestivas no processo decisório das empresas, o que levaria a mesma ao patamar de ferramenta gerencial. Palavras-chave: Auditoria. Gestão. Processo decisório. 1 INTRODUÇÃO A auditoria é uma ferramenta muito utilizada pelas empresas, seja ela realizada de forma interna ou externa. Acredita-se que muitas empresas, ao procurarem realizar auditoria, a faz somente para cumprir com as obrigações impostas com o Fisco, desconhecendo suas outras finalidades. Muito se fala em auditoria, mas apesar de ser um tema complexo existem poucos estudos que a tenham como ferramenta no processo de tomada de decisões. Desta maneira, buscou-se neste estudo conhecer a auditoria como ferramenta gerencial e, para tanto, foi definido o seguinte tema: "Auditoria e

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Bacharel em ciências contábeis pela Universidade Estadual de Maringá e pós-graduada em consultoria organizacional com ênfase em reestruturação de empresas pela Unifamma. 2 Bacharel em ciências contábeis pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, pós-graduanda em auditoria e controladoria pela Unicesumar

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gestão: O uso da auditoria como ferramenta no processo decisório nos anos de 2014 e 2015. Neste estudo foi definida a seguinte pergunta de pesquisa: Quais as principais causas de procura de auditoria pelas empresas nos anos de 2014 e 2015, e quais utilizam seus resultados para o processo decisório? Para atender ao problema de pesquisa foi definido o seguinte objetivo geral: identificar as principais causas que levam as empresas a realizarem auditoria, e destas, quais utilizam seus resultados para tomar decisões, durante o período de 2014 e 2015. Em consequência ao objetivo geral foram definidos os seguintes objetivos específicos: (a) efetuar uma pesquisa bibliográfica sobre o tema para apurar os principais objetivos de uma auditoria; (b) elaborar e aplicar questionários para identificar algumas empresas que realizaram auditoria interna e/ou externa nos anos de 2014 e 2015; e (c) verificar os motivos da realização de auditoria pelas empresas e como foram utilizados os resultados encontrados. A realização do presente trabalho se deve a grande relevância científica que o mesmo possui, pois a auditoria é uma ferramenta extremamente importante para as organizações, mas acredita-se que poucos a utilizem como ferramenta gerencial. Pretende-se, com este trabalho, conhecer na prática como a auditoria é vista pelas empresas e como seus resultados são utilizados. 2 AUDITORIA A auditoria é uma ferramenta de extrema importância para as organizações. Pode-se defini-la sucintamente como "o processo de confrontação entre uma situação encontrada e um determinado critério, ou, em outras palavras, é a comparação entre o fato efetivamente ocorrido e o que deveria ocorrer" (ARAÚJO; ARRUDA; BARRETO, 2008, p. 1). De forma mais abrangente, o Report of Commitee on Basic Auditing Concepts of the American Accouting Association, apud Boynton, Johnson e Kell (2002, p. 31) define auditoria como: [...] um processo sistemático de obtenção e avaliação objetivas de evidências sobre afirmações a respeito de ações e eventos econômicos, para aquilatação do grau de correspondência entre as afirmações e critérios estabelecidos, e de comunicação dos resultados a usuários interessados. CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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Embora descritos de forma diferente, ambas as definições tratam da Auditoria como uma ferramenta de verificação e análise de documentos, com vistas a detectar possíveis erros e/ou fraudes no objeto de estudo. Ainda neste contexto, pode-se dizer que a auditoria verifica se as normas, orçamentos, regras e objetivos estão compatíveis com as atividades desempenhadas por determinada organização (Organização Internacional de Entidades Fiscalizadoras Superiores, apud ARAÚJO; ARRUDA; BARRETO, 2008). São diversas as áreas em que pode ocorrer auditoria, principalmente no âmbito contábil. A esse respeito, Boynton, Johnson e Kell (2002, p. 31) afirmam que auditoria contábil "[...] envolve obtenção e avaliação de evidências a respeito das demonstrações contábeis de uma entidade, para emissão de parecer se sua apresentação está adequada, de acordo com Princípios Contábeis geralmente Aceitos". Entende-se por Princípios Contábeis Geralmente Aceitos, os princípios aprovados pelo Conselho Federal de Contabilidade, entre os quais: Princípio da Entidade; da Continuidade; da Oportunidade; do Registro pelo Valor Original; da Atualização Monetária; da Competência e da Prudência (ARAÚJO; ARRUDA; BARRETO, 2008). A auditoria contábil é a "técnica que visa, após aplicação de procedimentos específicos, com base em normas profissionais e de forma independente, à emissão de opinião sobre a adequação das demonstrações contábeis ou financeiras" (ARAÚJO; ARRUDA; BARRETO, 2008, p. 4). Além de atingir seus objetivos de verificação, a auditoria deve também servir como ferramenta de gestão para as organizações, proporcionando, às mesmas, relatos sobre as operações da empresa auditada, ou seja, a chamada auditoria operacional, que nada mais é do que O exame sistemático e independente, pautado em normas profissionais, de programas, projetos, atividades ou ações executadas por uma entidade, objetivando verificar se foram observados, de forma conjunta ou isolada, os critérios de economicidade, eficiência, eficácia e efetividade, contribuindo, assim, para melhorar o desempenho operacional e a accountability da entidade sob auditoria (ARAÚJO et al, 2008, p. 53).

Ainda neste sentido, pode-se dizer que a auditoria contábil é que comprovará se as demonstrações patrimoniais e financeiras representam, ou não, a situação real da empresa e se estão de acordo com os Princípios Contábeis. CONHECIMENTO E GESTÃO

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2.1 CLASSIFICAÇÃO DE AUDITORIA A auditoria pode ser classificada em dois tipos principais. São eles: Auditoria Interna e Auditoria Externa. Basicamente, pode-se dizer que a diferença entre as auditorias internas e externas depende do grau de envolvimento do auditor com a empresa auditada. No primeiro caso, trata-se de auditor com vínculo empregatício com a empresa, ou seja, um funcionário exerce a função de verificação e análise das contas, que geralmente engloba a empresa como um todo e tem periodicidade permanente. Araújo, Arruda e Barreto (2008, p. 29) afirmam que auditoria interna "é realizada por profissionais empregados da própria entidade auditada, portanto parcialmente independente, que, além das informações contábeis e financeiras, se preocupa também com os aspectos operacionais". De acordo com Santos e Bravosi (2013) o auditor interno atua como um consultor para a empresa que trabalha, sugerindo medidas de desempenho e aperfeiçoamento das rotinas organizacionais, não devendo ficar somente na verificação e análise dos documentos. Ao contrário, a auditoria externa é realizada por profissional externo a organização auditada. Em regra ocorre por profissionais contratados de empresas especializadas em auditoria e o trabalho é realizado em determinadas áreas da empresa e por um tempo pré-determinado. Assim sendo, a auditoria externa "é a auditoria sobre a área contábil e outras, realizada por profissionais independentes da entidade auditada" (ARAÚJO; ARRUDA; BARRETO, 2008, p. 31). Santos e Bravosi (2013) alegam que a auditoria externa, a qual é realizada por profissionais sem subordinação à empresa auditada, tem por objetivo principal emitir uma opinião independente sobre a situação patrimonial e financeira da entidade. 2.2 FINALIDADES DA AUDITORIA A auditoria, embora vista por muitos como apenas ferramenta de verificação de erros e/ou fraudes, serve, acima de tudo, para possibilitar aos gestores informações úteis acerca do desenvolvimento da organização. Além do aspecto legal, a auditoria pode ser utilizada como ferramenta de controle dos proprietários, como determinação dos credores para concessão de CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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empréstimos, ou como exigências da própria empresa (SANTOS; BRAVOSI, 2013). Entre as principais finalidades da auditoria interna estão as informações geradas sobre economicidade, eficácia e eficiência dos procedimentos de gestão adotados pelos gestores no desenvolvimento das atividades da empresa (ARAÚJO; ARRUDA; BARRETO, 2008), também possibilita "agregar valor ao resultado da organização, apresentando subsídios para o aperfeiçoamento dos processos, da gestão e dos controles internos, por meio da recomendação de soluções para as não-conformidades apontadas nos relatórios". (Resolução nº. 986/2003 do CFC, apud, ARAÚJO; ARRUDA; BARRETO, 2008, p. 30). Ainda neste contexto Araújo, Arruda e Barreto (2008, p. 33) concluem que a auditoria interna "objetiva atender às necessidades e aos interesses da administração. Logo, a extensão (escopo) dos seus trabalhos será sempre definida em função dos anseios da alta direção". Sobre o trabalho do auditor externo, Trevisan Auditores e Consultores (1996, p. 37) alegam que o mesmo: [...] acompanha a abertura de capital das empresas, examina a aplicação de recursos de fundos nacionais e internacionais e dá ao detentor do capital, por mais distante que ele esteja do seu negócio, as indicações de como caminham suas aplicações e se os balanços apresentados estão adequadamente demonstrados.

A auditoria externa tem por finalidade garantir aos seus interessados se as demonstrações contábeis representam adequadamente a posição patrimonial e financeira da companhia auditada e, consequentemente, sobre a situação do seu capital investido (ARAÚJO; ARRUDA; BARRETO, 2008). A auditoria, seja ela interna ou externa, gera alguns benefícios econômicos para a entidade auditada. De acordo com Boynton, Johnson e Kell (2002), estes benefícios são: (a) acesso ao mercado de capitais: qualquer empresa que deseje negociar seu capital em bolsa de valores deve, necessariamente, ter suas demonstrações contábeis auditadas; (b) menor custo de capital: a auditoria pode auxiliar pequenas empresas a passar uma boa imagem a credores, o que pode levar a menores taxas de juros em empréstimos; (c) desincentivo a ineficiência e a fraudes: quando os funcionários sabem que ocorrerá auditoria na empresa em que trabalham, executam com mais zelo a tarefa do dia a dia, o que acarreta menos erros e fraudes por parte dos mesmos; e (d) melhores controles e operações mais eficientes: o auditor externo pode dar CONHECIMENTO E GESTÃO

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sugestões de melhoria nos controles internos e aumentar a eficiência das operações na empresa auditada. Outro benefício causado pela auditoria é a veracidade que o mesmo impõe as demonstrações contábeis. Sabe-se que em um ambiente de gestão as informações contábeis tornam-se primordiais no processo de tomada de decisões, ou seja, são estas informações que irão pautar as escolhas dos gestores. Sobre isto, Trevisan (1996, p. 65) alega que "os executivos de uma entidade, tenha ela fins lucrativos ou não, precisam de informações oportunas e confiáveis para a tomada de decisões rotineiras e estratégicas. A contabilidade pode atender a essa demanda com qualidade [...]". A má interpretação das demonstrações contábeis ou das notas explicativas juntamente com o balanço e, principalmente, não considerar o parecer de uma auditoria, pode acarretar sérios problemas e prejuízos para os usuários das informações contábeis, o que se agrava ainda mais em uma economia em processo de estabilização (TREVISAN, 1996). Assim, pode-se dizer que a auditoria por si só não garantirá a resolução ou redução de problemas existentes no meio empresarial, mas será quem possibilitará informações mais pertinentes para que as decisões sejam tomadas. Desta maneira, Trevisan, et al (1996, p. 38) alegam que: Ao auditor cabe analisar criteriosamente suas operações, examinar as contas de acordo com os padrões estabelecidos pelos órgãos que regulam a profissão e emitir seu parecer. À administração da empresa compete adotar as recomendações feitas e fica a cargo dos acionistas e demais interessados ler esse relatório para decidir se modificam a empresa ou se mudam de empresa.

A auditoria, desde que realizada de forma idônea e real, trará inúmeros benefícios para diversos usuários, sejam eles a empresa auditada, acionistas, governo, funcionários, sociedade como um todo. Cabe a cada um retirar as informações que necessita do parecer do auditor e usá-la da melhor maneira. 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O presente trabalho classifica-se como pesquisa exploratória, pois é o tipo de pesquisa em que se busca maior familiaridade com o tema estudado, com objetivo de torná-lo mais explícito (GIL; 2002). CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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A pesquisa de campo ocorreu pela técnica de observação indireta, ou seja, por meio de aplicação de questionários, composto por seis questões fechadas, enviados por e-mail a 15 empresários da cidade de Ponta Grossa PR, de diversos setores da economia, escolhidos ao acaso dentro do rol de clientes de um escritório de serviços de auditoria da mesma cidade. Nestes termos, a pesquisa de campo assumiu a forma de pesquisa qualitativo-descritiva, pois segundo Gil (2002, p.133) adotou o "processo como uma sequência de atividades, que envolve a redução dos dados, a categorização desses dados, sua interpretação e a redação do relatório". 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS Nesta etapa serão apresentados os resultados obtidos com esta pesquisa. Dos questionários enviados às 15 empresas da cidade de Ponta Grossa - PR, somente 12 retornaram suas respostas. Apesar de ser selecionada uma pequena população para aplicação dos questionários, buscouse incorporar os diferentes setores da economia, conforme pode ser visualizado no Gráfico 1. Gráfico 1 - Ramo de atividade das empresas pesquisadas.

Fonte: Elaborado pela autora.

Questionou-se também sobre o porte das empresas, ou seja, sobre a faixa de faturamento bruto anual que estavam enquadradas atualmente. Para isso, foram delimitadas as seguintes definições, de acordo com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES, 2016): Microempresa, Pequena Empresa, Média empresa, Média-grande empresa e Grande empresa. Os resultados são mostrados na Tabela 1. CONHECIMENTO E GESTÃO

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Tabela 1 - Porte das empresas pesquisas, de acordo com o BNDES. Denominação Microempresa Pequena Empresa Média Empresa Média-Grande Empresa Grande Empresa

Faturamento bruto anual < ou = R$ 2,4 milhões > R$ 2,4 milhões e < ou = a R$ 16 milhões > R$ 16 milhões e < ou = a R$ 90 milhões > R$ 90 milhões e < ou = a R$ 300 milhões > R$ 300 milhões

Quantidade de empresas 0 1 10 1 0

Fonte: Elaborado pela autora, adaptado do BNDES (2016).

De todos os respondentes, 91,67% afirmaram ter realizado algum tipo de auditoria nos anos de 2014 e 2015, como pode ser visualizado no Gráfico 2. Gráfico 2 - Empresas que realizaram auditoria nos anos de 2014 e/ou 2015.

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Nesta amostragem pode-se constatar que, das auditorias realizadas, 63,64% foram auditorias externas, 27,27% de auditorias internas e apenas 9,09% das empresas pesquisadas realizaram auditoria interna e externa nos últimos dois anos (Gráfico 3). O elevado índice de auditorias externas se deve ao fato de a pesquisa ter sido realizada com alguns dos clientes de um escritório que presta tão exclusivamente serviços de auditoria externa.

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Gráfico 3 - Tipos de auditorias efetuadas pelas empresas em 2014 e/ou 2015.

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

No que tange aos objetivos de procura destas empresas para a realização das auditorias, aproximadamente 82% dos respondentes afirmaram que foi apenas para detectar erros e/ou falhas, e um número bem menor (cerca de 18%) alegou que foi apenas para cumprir com as obrigações Legais (Gráfico 4). Vale ressaltar que nenhum dos pesquisados respondeu ter feito auditoria com finalidade de conseguir um planejamento estratégico, nem mesmo para obter um feedback das operações desenvolvidas pelas suas empresas, ou até o para alguma outra finalidade com intuito gerencial. Gráfico 4 - Causas de procura de auditoria pelas empresas.

Fonte: Elaborado pela autora

Sobre os resultados das auditorias realizadas, 81,82% das empresas alegaram que corrigiram erros e/ou falhas apontadas pelos auditores, 9,09% alegaram que não usaram com nenhuma finalidade os resultados da auditoria, e também 9,09% afirmaram usar os resultados para outra finalidade, que justificaram ser para publicação nos meios de comunicação, conforme imposto pela Lei (Gráfico 5). Conforme assegurado anteriormente, constata-se que nenhum dos pesquisados utilizou a auditoria com fins gerenciais.

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GRÁFICO 5 - Como as empresas utilizaram os resultados da auditoria

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Constata-se, com estes dados, que nenhuma das empresas pesquisadas utilizou a auditoria para fins gerenciais, embora esta seja uma ferramenta de grande respaldo para isso. Utilizaram-na tão somente para detectar erros e falhas ou para cumprir com as obrigações Legais. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo geral deste estudo consistiu em identificar as principais causas que levam as empresas a realizarem auditoria, e destas quais utilizam seus resultados para tomar decisões, durante o período de 2014 e 2015, sendo que foram identificadas as principais causas de procura de auditoria pelas empresas, constatando-se que nenhuma delas utilizou-a com fins gerenciais. Em cumprimento ao objetivo específico "a", efetuar pesquisa bibliográfica sobre o tema para apurar os principais objetivos de uma auditoria, este foi realizado através de apontamento teórico realizado por meio de livros e sites específicos, identificando as principais finalidades de uma auditoria. Quanto ao objetivo específico "b", elaborar e aplicar questionários para identificar algumas empresas que realizaram auditoria interna e/ou externa nos anos de 2014 e 2015, foram aplicados questionários encaminhados via e-mail a diversas empresas da cidade, possibilitando também o cumprimento do objetivo específico "c", que era o de verificar os motivos da realização de auditoria pelas empresas e como foram utilizados os resultados encontrados. Por meio da tabulação das respostas dos questionários, pode-se chegar à resposta do problema de pesquisa, ou seja, identificar quais as principais causas de procura de auditoria pelas empresas nos anos de 2014 e 2015, e quais utilizam seus resultados para o processo decisório. Assim, verificou-se que as principais causas que levaram as empresas a realizar auditoria nos CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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últimos dois anos na cidade de Ponta Grossa - PR foram para detectar erros e/ou fraudes e também para cumprir com as obrigações legais, somente. Acredita-se que a nulidade das respostas em utilizar a auditoria como ferramenta gerencial se deve ao fato dos gestores das empresas ainda possuírem um pensamento retórico e obsoleto a respeito da auditoria, pois ainda a veem como opção para detectar erros e falhas em eventos já ocorridos. E é justamente neste ponto que a auditoria torna-se ainda mais eficaz, pois como analisa eventos ocorridos, pode trazer informações úteis sobre os processos e apontar em que etapas ocorreram os melhores resultados dando um feedback aos gestores. Cabe aos auditores orientarem seus clientes a criar uma visão mais abrangente acerca da realização de uma auditoria, retirando o pensamento de ferramenta que deve agir após operações, para um pensamento de ferramenta que pode trazer informações úteis no processo de tomada de decisões. REFERÊNCIAS ARAUJO, Inaldo da Paixão Santos; ARRUDA, Daniel Gomes; BARRETTO, Pedro Humberto Teixeira. Auditoria contábil: enfoque teórico, normativo e prático. São Paulo: Saraiva, 2008. BOYNTON, William C.; JOHNSON, Raymond N.; KELL, Walter G.. Auditoria. São Paulo: Atlas, 2002. Tradução José Evaristo dos Santos. BRASIL, BNDES. Porte de empresa. 2016. Disponível em: . Acesso em: 10 abr. 2016. GIL, A. Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002. SANTOS, Silvana; BRAVOSI, Jessica. Breves considerações acerca da auditoria interna e externa. 2013. Disponível em: . Acesso 05 maio 2016. TREVISAN AUDITORES E CONSULTORES. Auditoria: suas áreas de atuação. São Paulo: Atlas, 1996.

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ANALISE DE VIABILIDADE E PLANEJAMENTO PARA IMPLANTAÇÃO NA PRODUÇÃO DE MORANGOS EMERSON ROGER ZULIANI1 JOSIMARA KELLEN DE CAMARGO2 ANDREIA M. ZULIANI SANTOS3

RESUMO A aplicação de custos é fornecer ao planejamento e controle da produção os dados que serão utilizados para o planejamento econômico do processo, como por exemplo, custos unitários da produção, da compra, e os investimentos em estoque. Assim, a partir de um levantamento rigoroso dos custos envolvidos na produção, a empresa será capaz de maximizar lucros e minimizar seus custos. É fácil compreender a relação existente entre custos e produtividade; ambos necessitam de medidas reais para que se possa chegar a resultados próximos dos objetivos esperados. Não há como medir a capacidade produtiva de uma empresa sem antes conhecer os custos envolvidos no processo. Por isso deve se preparar administrativamente, compreender todos os custos, conhecer o seu fluxo de caixa e as suas despesas operacionais, e conhecer todas as variáveis envolvidas desde a produção até a venda. O planejamento se torna fundamental em um novo investimento, uma vez que o mesmo mensura a rentabilidade e os custos que a empresa e o empreendedor irá adquirir ao longo do tempo, fazendo com que se obtenha os lucros esperados sem uma inesperada surpresa futura. Palavras-chave: Custo, controle, planejamento. 1 INTRODUÇÃO Antes de abrir qualquer negócio, o planejamento inicial é fundamental. É fato que a maioria das empresas que encerram suas atividades de forma prematura, não fizeram um planejamento adequado. Todo empreendedor, deve antes de investir em uma nova empresa analisar o mercado, buscar mais 1

Graduado em Processamento de Dados, Especialista em Gestão de Projetos, Engenharia de Software e em Gerenciamento de Projetos. 2 Graduada em Ciências Econômicas. 3 Mestre em Gestão do Conhecimento nas Organizações pela UNICESUMAR, Especialista em Administração Industrial pela UEL, Especialista em Docência no Ensino Superior, Ead e Novas Tecnologias pela UNICESUMAR, Especialista em Administração Industrial pela UEL.

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informações sobre o ramo do negócio pretendido e preparar-se da melhor maneira possível para enfrentar cenários positivos e negativos. Antes de iniciar o novo negócio, todos os custos devem ser estimados e colocados no papel, para que seja possível se realizar uma análise da viabilidade financeira do novo empreendimento. O objetivo deste trabalho é analisar a viabilidade para a produção de morangos. Mas para isso é necessário estudar o investimento proposto e conhecer os métodos de avaliação de investimento como a TIR e o VPL, assim como o orçamento de capital que é o processo que envolve a seleção de projetos de investimento e a quantificação dos recursos a serem empregados e sua eficiência econômica que é a relação entre o valor de venda de um produto e seu custo de produção. Conhecendo essas variáveis será possível diminuir os riscos do investimento. 2 ESTUDO DE INVESTIMENTO No Brasil, a cultura do morango desempenha um importante papel sócio econômico. Além de estar presente em vários estados, geralmente é desenvolvida em pequenas propriedades, com a necessidade de grande quantidade de mão-de-obra em todo o seu ciclo (GOUVEA et al., 2009). A incorporação de novas tecnologias, visando à elevação da produtividade e qualidade da fruta, é uma preocupação permanente para os produtores, independentemente do sistema produtivo adotado. No entanto, além de se produzir morango com qualidade e em quantidade, é fundamental avaliar a eficiência econômica e a viabilidade financeira da exploração. No sistema de cultivo semi-hidropônico, em estufa plástica e com ferti-irrigação, o investimento inicial tende a ser elevado, as avaliações dessa natureza são extremamente relevantes. A obtenção de indicadores econômicos e financeiros, em condições determinísticas e de incertezas, fornece os elementos que permitem mensurar, por exemplo, a probabilidade de determinado investimento resultar em retornos positivos, subsidiando, assim, o processo de tomada de decisão por parte do agricultor. A partir dessas inferências e considerando que ainda é escassa a literatura brasileira a respeito de estudos econômico-financeiros do cultivo de morango, buscou-se avaliar, sob as referidas condições, os níveis de eficiência CONHECIMENTO E GESTÃO

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econômica e de viabilidade financeira da produção da fruta em sistema semihidropônico, para venda in natura. 2.1 ANÁLISE DE INVESTIMENTO Toda empresa tem necessidade de obter procedimentos para avaliar seus investimentos, principalmente aqueles de longo prazo. Com o decorrer dos anos as empresas são obrigadas a tomar decisões de investimentos sejam ela por causa de reformas, ou porque seus ativos estão desgastados, e o orçamento de capital avalia e escolhe os investimentos de longo prazo de acordo com os objetivos da organização (GITMAN, 2000) Etapas do orçamento de capital:  Gestão de propostas- a propostas são feitas por todos os segmentos da empresa.  Revisão e análise- nesta etapa é feita uma revisão da proposta e verifica sua viabilidade.  Tomada de decisão- consiste em dizer se o projeto vai ser feito ou não.  Implantação- em caso de aprovação, o projeto é implantado.  Acompanhamento- processo no qual se compara se o que está acontecendo foi aquilo proposto. Existem situações em que o gestor se depara com dois ou mais projetos, e tem que avaliar e verificar sua viabilidade, em algumas situações esses projetos possuem o mesmo objetivo, porém de maneiras diferentes, então em caso de escolha de um projeto o outro não vai ser implantado esses casos são chamados de projetos mutuamente exclusivos eles competem entre si, e possuem também os projetos independentes, ou seja, mesmo que um dos projetos seja implantado o outro não vai ser eliminado necessariamente. (ARAUJO, 2010). Por isso tente-se a necessidade de conhecer as etapas do orçamento, e escolher os melhores investimentos de acordo com as prioridades e capacidade da empresa. 2.2 EFICIÊNCIA ECONÔMICA Em relação à eficiência econômica de um empreendimento, inicialmente, deve-se destacar que ela pode ser dividida em dois componentes: técnico e alocativo. Enquanto a eficiência técnica refere-se à capacidade da CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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empresa de obter o máximo de produto, dada a quantidade disponível de fatores, a eficiência alocativa diz respeito à capacidade de se utilizar os fatores produtivos na proporção ótima, minimizando os custos de produção (FARRELL, 1957 e SHIROTA, 1995, citados por OHIRA; SHIROTA, 2005). Operacionalmente, a análise de eficiência econômica pode ser feita a partir do cálculo das receitas e dos custos de produção. Segundo Debertin (1986), no curto prazo, existem importantes agrupamentos de custos, entre os quais se destacam três: variáveis, fixos e totais. No primeiro agrupamento, estão os custos que variam em função do nível de produção da empresa. Considerando-se uma propriedade rural como exemplo, itens como mão-de-obra temporária e gastos associados com sementes, fertilizantes e defensivos fazem parte desses custos. Nos custos fixos, que são aqueles que independem do nível de produção, estão incluídas as despesas associadas com mão-de-obra permanente, seguros, depreciações de bens de capital e pagamento de aluguéis. Por fim, a soma dos custos fixos e variáveis resulta nos custos totais. 2.3 VIABILIDADE FINANCEIRA Estudos de viabilidade financeira, que envolvem horizontes de planejamento de longo prazo, estão relacionados a avaliações da viabilidade de se realizar determinados investimentos. Para isso, partindo-se de fluxos físicos (insumos e produtos) e preços de mercado, são calculadas as entradas e saídas de caixa. As entradas correspondem às receitas, que se dividem em diretas (vendas de produtos) e indiretas (soma do valor residual dos bens de capital). As saídas são constituídas pelas despesas fixas e variáveis e pelos investimentos de capital de longo prazo. A partir do cálculo dessas variáveis, são obtidos os fluxos anuais de caixa, que são a base para o desenvolvimento das referidas avaliações (LAZZAROTTO et al., 2010). Com esses fluxos e utilizando-se a noção da taxa mínima de atratividade (TMA), que representa o retorno mínimo que a empresa deve obter em determinado projeto para que seu valor de mercado permaneça inalterado, podem ser gerados indicadores financeiros importantes, como valor presente líquido (VPL), taxa interna de retorno (TIR), razão benefício/ custo (B/C) e período de payback descontado (PPD).

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2.4 MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE INVESTIMENTO Para que seja determinado o investimento que vai ser realizado é necessária uma demonstração, através de ferramentas financeiras, que comprovem o que o administrador está dizendo, não basta somente afirmar que o investimento é viável ou não, tem que mostrar através da matemática. Os instrumentos que vão ser abordados são o VPL, a TIR e o payback, todos os instrumentos possuem suas vantagens e suas desvantagens que são demonstradas, casos em que não podem ser utilizados e casos em que a utilização de um é mais recomendada do que a do outro. Mas antes de abordálos é preciso conhecer, além dos conceitos falados anteriormente, a TMA (taxa de atratividade mínima). 2.5 VALOR PRESENTE LIQUIDO Método de análise que consiste em calcular o valor presente de uma série de pagamentos, iguais ou diferentes, a uma taxa conhecida (VERAS, 1999; GITMAN, 2004). Três são os resultados possíveis: a) VPL maior do que zero, que indica que o projeto é financeiramente viável; b) VPL igual a zero, indicando que é indiferente entre investir no projeto ou na melhor alternativa considerada, pois os retornos serão iguais; c) VPL menor do que zero, que significa que o projeto é inviável financeiramente. 2.6 TAXA INTERNA DE RETORNO Outro critério muito utilizado, se não o mais utilizado para se determinar a viabilidade econômica de um projeto é a TIR, que possui cálculos mais sofisticados. A taxa interna de retorno consiste na taxa de desconto que faz com que o VPL seja zero, essa taxa faz com que as entradas futuras de caixa se igualem ao desembolso inicial do projeto. Utilizando a TIR como critério de se determinar a escolha do projeto, vai ser viável quando a taxa interna do projeto for maior do que TMA (taxa mínima de atratividade), se a TIR for menor do que a TMA o projeto não é viável, não deve ser realizado. Isso assegura à empresa que o retorno do investimento tem que ser igual ou maior do que o retorno mínimo exigido por ela, considerando, por CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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exemplo, a uma taxa mínima de atratividade como sendo o custo do capital de uma determinada empresa. Na prática, devido ao fato de os resultados econômicos e financeiros da maioria das empresas tenderem a não ocorrer de forma determinística, a maior parte das decisões deve ser tomada com considerável grau de incerteza. Diante disso, para conseguir maior confiabilidade nos resultados, tornase fundamental o uso de abordagens que consideram os riscos nas avaliações de eficiência econômica e de viabilidade financeira. Entre essas abordagens, destacam-se a análise de sensibilidade e a simulação. Na análise de sensibilidade, usa-se um número de valores possíveis para uma dada variável visando avaliar o seu impacto sobre os resultados da empresa (GITMAN, 2004). Apesar da grande utilidade, a análise de sensibilidade não incorpora a probabilidade de ocorrência de um valor dentro de determinados intervalos possíveis (ODA et al., 2007). Para a solução desse problema, podem ser utilizados métodos relacionados com simulação, em que as formas de investigação estão baseadas na percepção do risco a partir do emprego de distribuições de probabilidades predeterminadas e números aleatórios, que possibilitam projetar, ao longo do tempo, o comportamento de certos indicadores (GITMAN, 2004). Com o emprego da simulação, podem ser obtidos importantes parâmetros, como o lucro total e o valor presente líquido esperado e os seus respectivos desvios padrão. 2.7 PAYBACK É um dos mais utilizados critérios para se avaliar um investimento. O período de payback é o tempo necessário para se obter o dinheiro investido de volta, ou seja, o tempo em que o investimento feito inicialmente, vai ser recuperado. Nas palavras de Antonio Zoratto(1990, p.44): Sendo talvez o método mais simples de avaliação, o período de “payback" é definido como sendo aquele número de anos ou meses, dependendo da escala utilizada, necessária para que o desembolso correspondente ao investimento inicial seja recuperado, ou ainda, igualado e superado pelas entradas líquidas acumuladas. Quando um investidor está preocupado em saber quando vai ter o seu capital investido de volta, o melhor critério é payback, pois apesar de ser um critério muito simples e CONHECIMENTO E GESTÃO

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que apresenta alguns pontos “fracos”, acaba atraindo o administrador devido sua facilidade no cálculo e a segurança que oferece ao informar o período em que o dinheiro aplicado no investimento vai ser devolvido. Ao utilizar o payback, para aceitar ou não o projeto observa-se o seguinte: se o payback do projeto for inferior ao payback máximo aceitável o projeto é realizado, agora se o projeto apresentar um payback superior ao máximo aceitável, o projeto não deve ser realizado. Utilizando corretamente as ferramentas de analise citadas acima é possível identificar se é vantajoso ou não abrir um novo empreendimento, e qual o tempo necessário para que esse empreendimento possa gerar receitas positivas. 3 METODOLOGIA O presente trabalho constitui um estudo de caso resultante de experimento de pesquisa com morango em sistema semi-hidropônico. Para a produção do morango, adotou-se o sistema de irrigação/ferti-irrigação por gotejamento. A adubação (ferti-irrigação) foi feita a partir de ajustes nas recomendações de Melo e Bortolozzo (2006), utilizando-se as soluções nutritivas recomendadas para as fases vegetativa e reprodutiva. Para esse estudo foram realizados analises de viabilidade econômica e financeira como a VPL e PAYBACK para verificar a viabilidade para a iniciação do projeto e a sua rentabilidade. Esse sistema de produção permite a produzir as frutas com maior qualidade e menor perda podendo triplicar o aproveitamento do uso da terra, o sistema protege as plantas do efeito da chuva e promove a circulação de ar, provocando condições que impedem o estabelecimento de doenças, gerando receitas maiores em um período de tempo menor. 4 ANÁLISE DOS DADOS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS O sistema semi-hidropônico é bastante utilizado na Europa, onde é preferido por possibilitar a melhor utilização do espaço na pequena propriedade. No Brasil, porém, é necessário definir alguns componentes tecnológicos para otimizar o retorno ao produtor e à sociedade. Entretanto, já apresenta vantagens claras frente ao sistema convencional, tais como: CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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O produtor não necessita fazer rotação das áreas de produção, prática necessária para reduzir a podridão de raízes no sistema convencional de túneis baixos.  O sistema protege as plantas do efeito da chuva e facilita a ventilação, condições que impedem o estabelecimento de doenças;  O período da colheita pode ser estendido em, pelo menos, dois meses;  O sistema facilita a adoção de princípios de segurança dos alimentos, possibilitando a maior aceitação dos morangos pelo consumidor. No entanto, não se pode pensar somente em como estará à fruta depois de produzida, mas também, na lucratividade em que essa produção trará ao produtor futuramente. E, para que se possa analisar os lucros, despesas e retorno deste investimento será preciso que se faça uma analise do projeto para que assim o produtor obtenha uma visão a longo prazo de seu empreendimento. A adoção de um sistema de produção de morangos semi-hidropônico requer a realização de investimentos de capital em produtos duráveis. Na tabela 1, são listados os produtos necessários para o sistema estudado, agregados em quatro itens de investimento. Nota-se que, para produzir morangos em uma estufa de 384 m², o montante de capital investido foi de R$ 18.622,50. As inversões de capital mais expressivas foram associadas a instalação do sistema de ferti-irrigação e a estufa que representam 32,6% e 30,4% do total. A construção de uma adição para uso geral, e a compra de maquinas e equipamentos corresponderam a 18,8% e 18,1%. Tabela 1. Investimentos de capital produtivo para se produzir morango semihidropônico.

Fonte: estudo de produção de morangos 2014.

A tabela 2, são apresentados os fluxos de caixa anuais da produção do morango semi-hidroponico em uma estufa de 384m². Estes fluxos, são a base para as analises de viabilidade financeira, são importantes para o produtor avaliar o volume dos recursos financeiros próprios ou de terceiros que deve dispor em CONHECIMENTO E GESTÃO

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determinados anos de maneira a não comprometer o funcionamento do empreendimento. Tabela 2. Fluxos de caixa para a produção de morango semi-hidropônico (estufa de 384m².

Fonte: estudo de produção de morangos 2014.

Analisando as receitas e despesas operacionais é possível observar que a partir do segundo ano, já se recupera o valor inicial investido pela relação benefício/custo e que as operações manuais tem pouca variância no decorrer dos anos. As implicações desta tabela mostram que, ao serem descartadas as depreciações em todos os anos da produção, os fluxos de caixa esperados se tornam positivos. Na tabela 3 pode-se observar que o sistema apresenta bons resultados em relação ao seus níveis de eficiência econômica e de viabilidade financeira. Isso porque enquanto no curto prazo a lucro total produtivo foi de 12,6%, no longo prazo, a taxa interna de retorno foi de 20,3%, o que é muito acima da taxa mínima de atratividade, definida como 6,0% a.a. CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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Tabela 3-Indicadores de eficiência econômica e viabilidade financeira sob condições determinísticas.

Fonte: estudo de produção de morangos 2014.

Sobre as análises de curto prazo, é necessário observar o lucro médio devido aos fatores de produção no primeiro ano é negativo, por isso um ciclo produtivo de dois anos é fundamental, pois, gera condições mais favoráveis para otimizar o seu uso. Já a margem de contribuição média é positiva na análise de curto prazo o que é importantíssimo já que esta variável é utilizada para verificar e garantir o pagamento das obrigações efetivas de curto prazo. Já em relação aos indicadores financeiros em relação ao longo prazo. O resultado do VPL indica que o investimento financeiramente é viável. Adicionalmente, demonstra também que, após o planejamento de dez anos, mantiveram-se constantes os preços e as produções esperadas, o montante total de recursos financeiros aplicados no sistema produtivo em avaliação, além de propiciar retornos que superam o custo de oportunidade do capital, representado pela taxa mínima de atratividade de 6,0% a.a., seria ampliado em CONHECIMENTO E GESTÃO

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R$18.412,3, ou seja, o investimento feito na produção de morangos superaria as expectativas de seus produtores e, teria um retorno esperado previsto. Assim, quanto ao indicador de benefício/custo, ele evidencia que, para cada unidade de custo, é obtida 1,13 unidade de benefício. Por sua vez, o indicador de período de payback descontado mostra que, em termos determinísticos, o tempo necessário para recuperar o capital inicial investido na atividade agrícola em questão é de 5 anos. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O cultivo de morango assim como qualquer outro empreendimento deve ser estudado e avaliado, buscando sempre compreender quais os custos e quais serão as dificuldades que irão ser encontradas, além disso, é imprescindível conhecer os custos iniciais e os custos de manutenção do empreendimento e ter um controle sobre o fluxo de caixa além de conhecer as perspectivas de mercado. Para ter o controle administrativo da empresa, o empreendedor neste o caso o produtor deve estar ciente de quanto vai investir inicialmente e em quanto tempo vai recuperar este investimento, por isso ferramentas como VPL, TIR, PAYBACK se tornam fundamentais para o início do projeto. Essas ferramentas auxiliam na busca por um projeto mais rentável ao produtor, e ao mesmo tempo um investimento solido. Pode-se notar que, ao decorrer deste trabalho, analisouse as questões financeiras quanto naturais do investimento em questão. Observa-se que, o retorno deste investimento foi previsto em 60 meses, o que não faz com que as expectativas possam ser superadas ao decorrer deste tempo, levando em consideração o alto nível de alimentos e frutos que estão sendo introduzidos no mercado atualmente. De forma geral, pode-se concluir que o sistema de produção de morango semi-hidropônico avaliado neste trabalho apresentou níveis de eficiência econômica e de viabilidade financeira aceitáveis, o que significa que a sua produção é viável.

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REFERENCIAS GOUVEA, A.; KUHN, O. J.; MAZARO, S. M; MIO, L. L. M.; DESCHAMPS, C.; BIASI, L. A.; FONSECA, V. C. Controle de doenças foliares e de flores e qualidade pós-colheita do morangueiro tratado com Saccharomyces cerevisiae. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 27, n. 4, p. 527-533, 2009. LAZZAROTTO, J.J.; SANTOS, M.L. dos; LIMA, J.E. de. Viabilidade financeira e riscos associados à integração lavoura-pecuária no Estado do Paraná. Organizações Rurais & Agroindustriais, Lavras, v. 12, n. 1, p.113-130. Jan./Abr. 2010. ODA, A.L.; GRAÇA, C.T.; LEME, M.F.P. Análise de riscos de projetos agropecuários: um exemplo de como fundamentar a escolha entre projetos alternativos e excludentes. Disponível em: http://www.fearp.usp.br/egna/resumos/Oda&Graca.pdf. Acesso em: 13 de maio de 2016 OHIRA, T.H.; SHIROTA, R. Eficiência econômica: uma aplicação do modelo de fronteira estocástica em empresas de saneamento. In: ENCONTRO NACIONAL DE ECONOMIA,33., 2005, Natal. Anais..., Natal: ANPEC, 2005. Disponível em:http://www.anpec.org.br/encontro2005/artigos/A05A142.pdf. Acesso em: 28 de agosto de 2016. VERAS, L.L. Matemática financeira. 3.ed. São Paulo: Atlas, 1999. 259p GITMAN, L.J. Princípios de administração financeira. 10.ed. São Paulo: Pearson Addison Wesley, 2004. 745p.

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ESTUDO DA IMPORTÂNCIA DA INOVAÇÃO E DA CRIATIVIDADE NAS ORGANIZAÇÕES CAMILA CHIRNEV CAOBIANCO 1 AMANDA CORDEIRO2

RESUMO Sabe-se que os clientes são a chave da existência das organizações e que o sucesso de uma empresa dependente de como ela gerencia as suas atividades através da utilização de ferramentas administrativas. Contudo, além dessas ferramentas, a organização também pode buscar desenvolver a inovação e a criatividade com o intuito de cada vez mais criar meios que visem satisfazer o cliente, atendendo as suas necessidades e desejos. Desta forma, o presente trabalho tem como objetivo evidenciar a importância do gerenciamento de novas ideias e mostrar como isso pode contribuir para o sucesso das organizações. Para tanto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, pautada em materiais já elaborados por outros autores. Os resultados revelam que inovação e criatividade são fatores primordiais para o sucesso das empresas, sendo que ambas necessitam de etapas e processos para serem desenvolvidas, ao mesmo tempo em que permeiam fatores que podem influenciar e estimular o comportamento dos seus colaboradores, evidenciando-se assim que partirá do conhecimento da organização e de sua cultura criar condições que favoreçam um ambiente de trabalho mais criativo e inovador. Palavras-chave: Gerenciamento de ideais. Criatividade. Inovação. 1 INTRODUÇÃO Torna-se cada vez mais perceptível a importância da geração de novas ideias que possam trazer grandes benefícios a toda sociedade. Em um cenário onde as pessoas vivem a era da Gestão do Conhecimento e da Inovação é possível compreender o impacto que isso pode trazer às organizações, por isso, devem estar mais atentas à criação de novas tendências que possam diferenciálas no mercado competitivo. 1

Mestranda em Gestão do Conhecimento nas Organizações (CESUMAR), Graduada em Administração com ênfase em Comércio Exterior (CESUMAR 2004), Especialista em Gestão da Produção e em EAD e as Tecnologias Educacionais. 2 Graduada em Administração (UNIGUAÇU). Atualmente realizando Pós- Graduação em MBA Gestão Empresarial (CESUMAR).

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No mundo contemporâneo algumas ideias podem demorar certo tempo para serem amadurecidas nas organizações e isso se deve ao fato, muitas vezes, de haver resistência por parte dos colaboradores, ou até mesmo da cultura empresarial, em relação à clareza do entendimento do benefício e necessidade de execução desta mudança, entre outros fatores. Tendo em vista que até as ideias mais importantes da sociedade demoraram a ter seu efeito desejado, nem toda ideia será revolucionária no momento em que nascer, então, é preciso que as organizações saibam lidar com os obstáculos encontrados, havendo necessidade de focar em processos que possam alimentar ainda mais a motivação para a criatividade. Diante dessas dificuldades surgem alguns pontos que devem ser levados em conta ao elaborar o desenvolvimento de novas ideias, e um desses pontos é saber por onde começar e, em seguida, saber como manter e até mesmo aprimorar estas mesmas atividades em busca da inovação. Sendo assim, como as organizações podem inovar na hora de gerir novas ideias e como devem lidar com os obstáculos encontrados durante o amadurecimento destas mesmas ideias? Em resposta a esta problemática será possível evidenciar a importância da inovação e da criatividade e mostrar como pode contribuir para o sucesso da organização, buscando ao mesmo tempo entender como funciona o processo de inovação, além de identificar os principais fatores que influenciam a criatividade na organização. Este estudo foi realizado tendo por metodologia a pesquisa bibliográfica. Desta maneira, este artigo está dividido em duas seções. Num primeiro momento foram abordados os conceitos e definições extraídos de livros e artigos, além da utilização de material disponível na internet, em relação aos temas ligados à inovação e à criatividade. O texto encerra-se com as considerações finais, onde espera levar ao entendimento do estudo proposto, além de somar conhecimento àqueles existentes e contribuir para o aprofundamento de estudos posteriores. 2 INOVAÇÃO A inovação está presente em tudo e faz parte de um todo, ela inicia-se com a criatividade e imaginação do ser humano. Atualmente, a inovação é vista CONHECIMENTO E GESTÃO

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como um importante fator de sucesso dentro das organizações e para entender melhor este tema foram abordados alguns conceitos a seguir. Segundo Sbragia, Marcovitch e Vasconcellos (1996 apud REIS, 2003), a inovação está relacionada às mudanças do mundo atual, sendo o resultado obtido por meio da eficiência e da eficácia com que os conhecimentos técnicocientíficos são produzidos, transferidos, difundidos e incorporados aos produtos e serviços. Ou seja, depende exclusivamente de como a organização dá ênfase ao seu processo de produção e engloba em cada etapa sua demasiada importância. Assim, conforme a empresa evolui surge a necessidade de um aperfeiçoamento de processos tecnológicos que acelerem descobertas cada vez mais inovadoras. Uma inovação é a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho, ou nas relações externas (OCDE, 1997, p.55).

Julien (2010, p. 242) conceitua inovação como “resultado do trabalho de controle e reorganização que a organização efetua sobre os saberes e competências para explorar uma oportunidade de mercado ou abrir um novo domínio de atividade”. Sendo assim, é preciso que sejam aliados ao conhecimento habilidades para que se possa aproveitar uma oportunidade como ponto de partida para a inovação. Por meio dos conceitos dos autores é possível entender que a inovação é um resultado de um processo já realizado dentro da organização e para que a inovação seja reforçada é necessário aperfeiçoar seu ambiente de trabalho. Sobre a gestão da inovação, Roberts (1984, p. 53) comenta: [...] é a organização e a direção dos recursos, tanto humanos como econômicos, com a finalidade de aumentar a criação de novos conhecimentos; a geração de ideias técnicas que permitam obter novos produtos, processos e serviços, e melhorar os já existentes; o desenvolvimento de ideias e protótipos de trabalho; e a transferência destas mesmas ideias para as fases de fabricação, distribuição e uso.

O mesmo autor ainda desenvolveu um modelo para o processo de inovação que envolve informações vindas do ambiente interno ou externo da organização. A unificação dessas informações é que de fato irá gerar resultados, CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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tratando de informações que se enquadram com as estratégias tecnológicas e as principais necessidades dos clientes. O autor divide o processo de inovação em seis etapas, sendo que cada uma delas busca respostas para diferentes situações que surgem durante o processo. São elas: 1. Pré-Projeto; 2. Possibilidades do Projeto; 3. Início do Projeto; 4. Execução do Projeto; 5. Avaliação dos Resultados; 6. Transferência do Projeto. Olea (2001, p.13) afirma que apesar de existirem vários modelos para o processo de inovação, não existe um padrão a ser seguido por se tratar de um processo complexo dentro da organização. Durante os últimos trinta anos há se tentado desenhar um modelo que explicasse satisfatoriamente a função da inovação tecnológica, de maneira a incorporar os diferentes fatores ou variáveis que intervêm. Todavia hoje, independente de numerosos modelos existentes, não se dispõe de um modelo geral que se possa aceitar como razoavelmente explicativo, coisa que seguramente confirma a complexidade do processo de inovação (OLEA, 2001, p.13).

Giget (1997) argumenta que o processo inovativo não segue fórmula pronta, e sim, é construído pelos membros envolvidos ou interessados na geração da inovação, portanto, deve ser entendido como uma série de interações que forma a rede de inovação. Desta forma, de acordo com os autores, para obter a concretização da inovação dentro da organização é necessário que haja a gerenciamento para integrar a inovação como atividade e, assim, unir a organização com recursos tanto humanos como financeiros para cada etapa do processo de inovação, definindo a melhor forma de elaborar o processo de inovação e adaptando cada etapa sempre que necessário. 2.1 TIPOS DE INOVAÇÃO A inovação pode acontecer sob a influência de vários aspectos que podem estar ou não ligados diretamente a sua concepção. Naturalmente, para CONHECIMENTO E GESTÃO

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entender melhor seu desenvolvimento alguns autores classificam a inovação em processos distintos, mencionados a seguir. De acordo com o Manual de Oslo (OCDE, 1997), existem quatro tipos de inovação: de produto, de processo, de marketing e organizacional.  Inovação de produto: é aquela que condiz com a introdução de um bem ou serviço novo ou melhorado. Inclui melhoramentos significativos em especificações técnicas, componentes e materiais, softwares incorporados, facilidade de uso ou outras características funcionais.  Inovação de processo: condiz com a introdução de um método de produção novo ou melhorado. Inclui mudanças significativas técnicas, em equipamentos área produtiva etc.  Inovação de marketing: refere-se à introdução de um novo método de marketing com mudanças significativas na concepção do produto, embalagem, posicionamento do produto, promoção ou fixação de preços.  Inovação organizacional: tem relação com a implantação de um novo método organizacional nas práticas de negócios da empresa, na organização do seu local de trabalho ou em suas relações externas. Ainda sobre os diferentes tipos de inovação, Schumpeter (1968) caracteriza a inovação de produto, inovação de processo e inovação nos equipamentos, além de acrescentar a inovação em marketing, distribuição de produtos no mercado e inovação organizacional, que afeta a alocação da equipe. 3 CRIATIVIDADE NAS ORGANIZAÇÕES A criatividade é um processo importantíssimo no desenvolvimento de toda e qualquer empresa. Duailibi e Simonsen (1971, p. 14) consideram que Toda empresa é a solução criativa para uma angustia gerada por um problema. Um homem de negócios identifica uma oportunidade e vê nela, através da produção e distribuição de bens e serviços, a possibilidade de satisfazer uma necessidade qualquer.

Para entender toda sua dimensão, Duailibi e Simonsen (1971) afirmam que a criatividade não está concentrada em um pequeno grupo de pessoas, mas, sim, em sua disseminação em forma de reação em cadeia. Isso quer dizer que CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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qualquer ato criativo implantando na empresa pode modificar toda uma estrutura de atividades, influenciando diretamente nos resultados da organização. No dicionário de Psicologia, criatividade é a capacidade para criação, para auto realização, existente em todas as pessoas, mas que depende de condições ambientais para se desenvolver. Criatividade também pode ser explicada como a habilidade de encontrar novas soluções para um problema ou novos modos de expressão artística, ou melhor, de trazer a existência um produto novo para o indivíduo, mesmo que apenas para ele (DORIN, 1978, apud ANGELONI, 2002, p, 123).

Nonaka e Takeuchi (1997, p. 27 apud ANGELONI, 2002) ressaltam que a “única fonte de vantagem competitiva duradoura é o conhecimento”. Assim a criação do conhecimento não é só uma questão de processar informações, mas também de aproveitar as percepções, intuições e deduções das pessoas que movem a organização. Para os autores, antes de tudo é preciso buscar compreender o significado da criatividade para então abordar a dimensão do conhecimento, uma vez que a criatividade acompanha a trajetória do homem na história, sendo, portanto, tão antiga quanto se imagina. Na antiguidade, duas teorias de criatividade se destacaram: a criatividade como origem divina e a criatividade como loucura. Os antigos acreditavam que a criatividade era concedida somente a alguns seres humanos “escolhidos por Deus”, principalmente ao que trabalhavam com artes. [...] Os antigos gregos acreditavam que a pessoa criativa era caracteriza por alguns traços especiais de personalidade e que tais traços eram vistos como loucura (EYSENCK, 1999 apud ANGELONI, 2002, p. 121).

Angeloni (2002) argumenta que várias teorias foram levantadas por diversos autores até que se chegasse ao conceito mais conhecido atualmente de criatividade, que pode ser vista como um processo em que as ideias são geradas, desenvolvidas e logo transformadas em valor útil para as empresas, permitindo que elas possam desenvolver produtos e serviços, processos e práticas novos como fontes importantíssimas para sua estratégia empresarial. Por lógica, percebe-se que a criatividade está inserida no processo de inovação, não havendo, segundo a autora, qualquer separação ou distinção entre os dois termos. CONHECIMENTO E GESTÃO

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3.1 PROCESSO CRIATIVO E BLOQUEADORES DA CRIATIVIDADE Sabe-se que a criatividade é um processo individual que acontece na sua maior parte ao se tentar encontrar soluções ou de trazer em mente a ideia de algo novo. Para tanto, é preciso que haja preparação e organização para colocar as ideias no papel, pois do contrário, sua concepção não passará para o processo de concretização e obtenção de resultados. Para melhor entendimento do tema serão abordados dois tópicos, um referente ao processo criativo e outro sobre os fatores que influenciam a criatividade. 3.1.1 Processo Criativo O indivíduo criativo geralmente não acompanha a conformidade e o padrão estabelecido na sociedade, possui ideias divergentes e mente flexível. Amabile (1989) afirma que a criatividade se manifesta apenas em produções artísticas. Porém, Alencar e Fleith (2003) complementam dizendo que em contraposição a isso, diversos estudos têm investigado o processo criativo nas mais diversas áreas do conhecimento. Nesta linha, Torrance (1965 apud ALENCAR; FLEITH, 2003, p. 14) define criatividade como [...] um processo de se tornar sensível a problemas, deficiências e lacunas no conhecimento; identificar a dificuldade; buscar soluções, formulando hipóteses acerca das deficiências; testar e retestar essas hipóteses; e, finalmente, comunicar os resultados.

Já para Brown (1989) a criatividade é composta por quatro componentes, sendo eles: produto, processo, pessoa ou entidade e situação, no qual o produto criativo é o componente principal e sem ele a criatividade não faz sentido. A criatividade precisa de um motivo para acontecer e é com o produto que o indivíduo estará se preocupando inicialmente. No que diz a respeito à pessoa ou entidade, Kneller (1978) afirma que a inteligência é a força maior da criatividade, pois ela norteia a originalidade, capacidade de elaborar e concretizar ideias com a flexibilidade de pensamento, onde há o senso de humor, a persistência e a autoconfiança como características que fazem parte da personalidade criativa. Robbins (1995) complementa afirmando que a personalidade criativa aceita a si mesma, sem ter CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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medo do próprio medo, cultiva a mentalidade de aprendiz, a habilidade como observador perspicaz, cultiva também o bom humor, assuntos diferentes e evita os padrões estabelecidos e maneiras inflexíveis de agir. Já Jackson e Messick (1965 apud DACEY, 1989) destacam quatro características básicas na personalidade criativa: 1. Tolerância para incongruências, tendência por fazer coisas não-usuais; 2. Capacidade de análise objetiva e subjetiva (intuitiva) na geração de ideias funcionais e criativas; 3. Capacidade de manter a mente livre de preconceitos e aberta a novas experiências e informações; 4. Combinação de pensamento reflexivo e intuição “espontânea” na produção de soluções complexas de uma forma simples. Dacey (1989) ainda complementa dizendo que outras características como liberdade para não seguir regras, capacidade de utilizar objetos em situações que não convencionais, aceitação de riscos, entre outros, também fazem parte da personalidade criativa. Contudo, para que haja o desenvolvimento correto da criatividade, Duailibi e Simonsen (1971, p. 38) citam em sua obra que dentre as várias etapas dos processos criativos já abordados por tantos outros autores, Don Fabun os dividiu de maneira semelhante da seguinte forma: Desejo - A pessoa deve, por qualquer razão, querer criar algo original. Isso é o que ele chama de atitude de trabalho. Preparação - Ou acumulação de dados, visa “tornar o familiar o estranho”. Manipulação - É uma tentativa de síntese, de juntar conceitos aparentemente não relacionados ou tornar “estranho o familiar”. Incubação - O componente inconsciente do processo criativo; acontece na mente, no plano inconsciente, onde começa a trabalhar praticamente sozinha. Antecipação - Há um sentimento de premonição, algo nos diz que o problema está prestes a ser resolvido. Iluminação - A solução esperada. Verificação - A confirmação da viabilidade da solução.

Desta forma, aliando as definições dos autores, pode-se concluir que a criatividade não segue nenhum padrão para existir, pois ser criativo envolve habilidades contrárias à conformidade, regras e padrões já estabelecidos na sociedade, e a inteligência é a força maior para dar propulsão à originalidade. CONHECIMENTO E GESTÃO

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3.1.2 Fatores que influenciam a Criatividade Em termos gerais, existem várias técnicas que ajudam a estimular a criatividade, mas não existe um modelo padrão a ser seguido, uma vez que a criatividade faz parte de um processo comportamental, e isso significa dizer que é diferente de pessoa para pessoa. No entanto, Mañas (1993) relata que as pessoas deixam de usar o seu lado criativo e acabam se adaptando à rotina, muitas vezes por obterem um retorno positivo pela empresa nas atividades que desempenham além de desconhecerem os principais objetivos da organização. Mota (1995) complementa que é imprescindível a existência de estímulos à criatividade, uma vez que a própria complexidade e dimensão da organização fazem com que os seus colaboradores fiquem na conformidade e proteção das condições já existentes ao invés de buscarem novas fontes criativas para o trabalho. Berg (2014) aponta oito principais fatores que influenciam a criatividade, são eles:  Raciocínio lógico/objetividade;  Acomodação/passividade;  Medo de crítica;  Ameaça à segurança e ao status;  Falta de autodisciplina e perseverança;  Apego a normas e padrões;  Paradigmas e pressupostos rígidos;  Presunção ou falta de humildade. Já Mañas (1993) destaca os seguintes bloqueadores da criatividade individual: excesso de vigilância, avaliações e recompensas, além da competição, controle excessivo, restrição de escolhas e a pressão dada pelas expectativas de sucesso e alto desempenho. Ainda nesse contexto, Novaes (1980) acrescenta como bloqueadores da criatividade individual o condicionamento social e educacional, a falta de conhecimento e de informações, os hábitos pessoais negativos e a atitude de pessimismo e conformismo. Desta forma, a criatividade requer uma organização disposta a investir no seu ambiente organizacional ao ponto que também busca quebrar os bloqueios criativos existentes, ao mesmo tempo em que promove a valorização e reconhecimento dos seus colaboradores, abrindo assim portas a novas oportunidades com uma estrutura administrativa mais inovadora e criativa. CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Com o presente artigo conclui-se que a inovação é a chave para o sucesso das organizações. Independentemente do seu ramo de atividade, a inovação é necessária uma vez que as organizações necessitam dela para serem competitivas no mercado. Porém, atrelada à inovação há a criatividade que envolve o indivíduo como peça fundamental, visto que seu comportamento pode ser influenciado através de estímulos motivacionais perpetuados pela própria organização. Por outro lado, apenas tomar a motivação como instrumento da criatividade é inviável uma vez que a criatividade é um processo individual e envolve diversos fatores comportamentais que se distinguem de pessoa para pessoa. As organizações, portanto, precisam conhecer estes fatores que influenciam a criatividade para então proporcionarem condições que favoreçam um ambiente de trabalho criativo para o seu desenvolvimento. Assim, ao conhecer estes fatores também, será possível evitar obstáculos, e mesmo na presença deles, durante o amadurecimento das ideias, ainda é possível buscar ferramentas auxiliares, que uma vez implantadas, caberá à empresa adaptá-las conforme suas necessidades. Vale ressaltar ainda que, já que a criatividade se manifesta de diversas maneiras, não se pode considerar que exista uma compreensão total e ampla do processo criativo, motivo pelo qual, ainda hoje, existem controvérsias. Além disso, seria relevante estudar com mais profundidade a utilização de ferramentas específicas de gestão da inovação para averiguar seus verdadeiros benefícios e se elas apresentam obstáculos que impedem seu desenvolvimento no ambiente empresarial. REFERÊNCIAS ALENCAR, E. S. e FLEITH, D. S. Criatividade: múltiplas perspectivas. 3 ª ed. Brasília : Editora Universidade de Brasília, 2003. AMABILE, T. A. Growing up creative. Buffalo, NY: The Creative Education Foundation Press. 1989 ANGELONI, M. T. Coord. Organizações do Conhecimento. Infraestrutura, Pessoas e Tecnologias. São Paulo: Saraiva, 2002.

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BERG, E. Os 8 maiores bloqueadores da criatividade. Ago, 2014. Disponível em: Acesso em: 21 de maio de 2016. BROWN, R. T. Creativity: What to measure? Em: J. A. Glover, R. R. Ronning & C. R. Reynolds (Eds.), Handbook of Creativity. New York: Plenum Press, 1989. DACEY, J. S. Fundamentals of Creative Thinking. Lexington, MA: Lexington Books, 1989. DUAILIBI, R. e SIMONSEN, H. Jr. Criatividade: a Formulação de Alternativas em Marketing. São Paulo: Editora Abril e McGraw Hill do Brasil, 1971. GIGET, M. Technology, Innovation and Strategy. International Journal of Technology Managament. Vol. 14, nº 6-7-8, 1997. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2002. JULIEN, Pierre-André. Empreendedorismo regional e a economia do conhecimento. São Paulo: Saraiva, 2010. KNELLER, G. F. Arte e ciência da criatividade. Tradução V. Reis. São Paulo: Ibrasa, 1978. MAÑAS, A. Vico. Gestão de tecnologia e inovação. São Paulo: Érica, 1993. OLEA, Pelayo Munhoz. Aproximación conceptual al proceso de la innovación tecnológica. Tese de doutorado. 2001. REIS, D. R. Gestão da Inovação Tecnológica: As relações Universidade-Empresa. São Paulo: Manole, 2003. ROBERTS, E. B. Gestión de la innovación tecnológica. Madrid: Fundación Cotec para La Innovación Tecnológica, 1984. ROBBINS, L. B. O despertar na era da criatividade: passos e desenvolvimento do potencial criativo para a realização profissional e pessoal. São Paulo: Gente, 1995. SCHUMPETER, J. Can capitalism survive. New York: Harper & Row, 1968.

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CRM: O CLIENTE EM FOCO CAMILA MACHADO RAIMUNDO 1 HENRIQUE FIGUEIREDO ARAÚJO2

RESUMO Este projeto propõe através de uma pesquisa de campo, apresentar as vantagens que a ferramenta de Gestão do Relacionamento com clientes (CRM) tem gerado em uma rede de concessionárias automotiva, a Ribeiro Veículos S/A, filial, em Dourados-MS. Foi realizado um trabalho de levantamento de informações disponibilizadas pela Ribeiro Veículos. As informações obtidas demonstraram as boas práticas e as estratégias utilizadas pela organização que tem o intuito de elevar a fidelização de seus clientes e a prospecção de novos negócios com base nas informações obtidas pelo seu sistema de CRM. Este projeto tem como objetivo, apresentar quais são os fatores importantes para que o CRM possa contribuir na prospecção de novos negócios e quais práticas que são essenciais para fidelização dos clientes dentro da Ribeiro Veículos S/A. Palavras-chave: CRM; fidelização de clientes; prospecção de novos negócios; cliente em foco. 1 INTRODUÇÃO Com base nas tendências atuais e um mercado cada vez mais competitivo, tem surgido um aspecto cada vez mais presente dentro das organizações, o cliente em foco, ou seja, o cliente como o centro de todos os negócios da empresa. Para isso, as empresas têm se reinventado e buscado diversas alternativas como meio de conseguir uma vantagem competitiva. Dentro dessa busca, surge o CRM, criado não apenas para auxiliar no simples contato com o cliente, mais sim, contribuir na criação de um relacionamento duradouro e que de fato agregue algum valor a empresa e ao sucesso e satisfação dos clientes. O CRM dentro de uma organização tem como foco principal, diminuir a distância entre a empresa e o cliente. Um bom relacionamento entre empresa e cliente é vista como uma maneira de facilitar a identificação das necessidades do 1

Graduação em Administração pela UEL, Pós-graduação em Administração de Marketing e Propaganda pela Universidade Estadual de Londrina, Pós-graduação em Ensino a Distancia e as Tecnologias Educacionais pela UniCesumar, 2 Bacharel em Administração de Empresas.

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mesmo e consequentemente obter mais sucesso em supri-las, já que o CRM contribui no levantamento de informações e fornece detalhes baseado no perfil do cliente. A importância desse tema se dá justamente pela dificuldade que as empresas têm enfrentado para manter um cliente fiel e também em como conquistar novos parceiros para um relacionamento comercial. O foco das ações comerciais voltadas ao cliente tem sido uma tarefa primordial para o sucesso das organizações. Esse artigo tem como objetivo, apresentar quais são os fatores importantes para que o CRM possa contribuir na prospecção de novos negócios e quais práticas que são essenciais para fidelização dos clientes dentro da Ribeiro Veículos, os resultados obtidos nesse estudo, levam a comprovação de que ter o foco dos negócios voltado ao cliente, tem sido de fato uma vantagem diante de todas as dificuldades presentes no mercado. Este artigo está assim subdividido: no primeiro capítulo será abordado o histórico de tal coisa, no segundo capítulo será apresentada (inserir o nome do tópico que será abordado), posteriormente a metodologia será evidenciada apresentando os principais autores escolhidos para fundamentar o trabalho, encerrando com as considerações finais. 2 CRM CRIANDO LAÇOS Por se entender mais sobre o conceito de CRM, Araújo define que: CRM é uma expressão que pode ser traduzida para a língua portuguesa como Gestão de Relação com o Cliente. O conceito de CRM define toda uma classe de instrumentos que facilitam o contato com o cliente, sendo que serve de elo entre a empresa e o cliente. A adoção do CRM implica na mudança de atitude da empresa, uma vez que pretende aprimorar o relacionamento com os seus clientes, facilitando e inter-relacionando de forma perspicaz e o desenvolvimento de informações sobre suas ações e interações com a empresa. (ARAUJO, 2009)

O CRM é uma ferramenta de suma importância para todas as organizações que desejam encontrar informações diferenciadas de seus clientes, pois através dela são possíveis inúmeras possibilidades de extrair particularidades, como análise de perfil de compra. Utilizando essa ferramenta como instrumento que vise a melhora da gestão de relacionamento com os CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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clientes, o CRM será mais eficaz gerando muitos benefícios para a organização (SOHRAB, 2010). Entender o grau de importância em dar o devido enfoque ao cliente, é necessário fazer uma verdadeira gestão que mantenha um relacionamento direto com eles, fazendo campanhas personalizadas que superem as expectativas dos clientes, que todo produto e serviço ofertado sejam ricos em qualidade, logo, ações como essas contribuirão para que a empresa consiga manter o cliente fiel, satisfeito e é claro rentável (ARAÚJO, 2009; SOHRABI, 2010). Segundo Kotler e Fox (1998): Conquistar clientes novos custa entre 5 a 7 vezes mais caro do que manter os mesmos clientes que já possui. Por isso, utilizar ferramentas como o CRM, que permitam a fidelização de um cliente, são estratégias corporativas a definir e implementar.

Tendo em mente esses conceitos e fazer com que o CRM torne uma ferramenta de uso dentro da organização, os planos de ações voltados a prospecção de novos negócios terão mais eficácia, pois a partir do levantamento dos dados de cada cliente será possível realizar um trabalho personalizado para cada situação e isso poderá trazer uma vantagem competitiva perante a concorrência, pois a chance de ofertar com assertividade os produtos ou serviços que o cliente realmente precisa serão bem maiores, pois, a oferta será baseada no perfil, característica e necessidades apontadas de cada cliente (KOTLER; FOX, 1998; OLIVEIRA, 2000). Comercializar um produto ou serviço que seja realmente o que o cliente necessita, é uma das poucas formas de manter a satisfação de um cliente elevada, ter sucesso e garantir a fidelização é um trabalho constante que não finaliza no momento da venda, mas sim nas atitudes e relacionamento que empresa conseguirá manter com seus clientes ao longo dos anos (OLIVEIRA, 2000; MEDEIROS, 2002). 2.1 AS VANTAGENS DO CRM É possível apresentar algumas vantagens que o sistema CRM pode trazer para a organização, e uma das principais vantagens é a interação existente entre empresa e cliente. Como já citado anteriormente manter um cliente custa bem menos do que buscar novas parcerias, para manter um cliente fiel é necessário conhecê-lo a fundo e compreender as suas necessidades e CONHECIMENTO E GESTÃO

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consequentemente atender suas expectativas e é exatamente isso que a ferramenta CRM pode contribuir nesse relacionamento, pois um sistema de CRM abastecido com informações, perfil e qualquer outra informação extra, contribuem para uma venda ou formação de parcerias com mais assertividade gerando uma melhor satisfação nas negociações (NOVELLO, 2013). Com a grande concorrência existente no mercado e diversas opções é preciso que as organizações busquem meios de dar um atendimento personalizado em cada novo negocio, pois, cada cliente e cada organização possuem diferentes características e peculiaridades, portanto entender as reais necessidades dos clientes e registrar cada hábito e novas informações obtidas através de um bom atendimento irá contribuir em uma parceria bem sucedida, provando que a gestão de relacionamento com o cliente é muito além do que pensar simplesmente na venda de um produto ou serviço (NOVELLO, 2013). O CRM é visto dentro das organizações como uma solução completa de negócio, pois é possível poupar tempo e dinheiro aumentando as possibilidades de novas oportunidades, pois o CRM não é apenas um sistema que guarda informações de clientes, mas também é uma estratégia de negócio (FERNANDES, et al. 2015). Sobre sistema CRM e estratégia de negócios andarem juntas Bretzke (1998) completa: Todas as ações de uma empresa são suportadas por um banco de dados de marketing. Por meio desses dados foi possível: armazenar as informações necessárias para um relacionamento produtivo com os clientes; maior pertinência nas ações, uma vez que auxiliou na identificação das oportunidades, buscando informações na base de clientes, tais como: os clientes com maior potencial para determinadas ações, que tinham um comportamento de compra interessante para aquele tipo de produto etc; sistematizar as ações, controlando o fluxo de respostas, pedidos, agendamentos.

Com sistema de CRM implantado, os clientes podem ser tratados de forma personalizada e estarão divididos por segmentação, isso trará rapidez e enfoque para cada atendimento. Dessa forma, os gestores responsáveis pela negociação tomarão decisões em um menor tempo, com menores custos, aumentando a rentabilidade da organização e entregando apenas as quantidades suficientes no tempo certo. Essa atitude consequentemente trará uma CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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visibilidade e uma imagem fortificada perante o mercado e seus concorrentes (FERNANDES, et al. 2015). 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A pesquisa realizada foi de natureza qualitativa, com delineamento descritivo, através de um estudo de caso preservando as características e acontecimentos nos processos comerciais da organização. Através do estudo de caso foi levantado os dados para a apresentação dos resultados obtidos. As técnicas de coletas de dados foram realizadas de forma observacional, documentais cedidas pela organização e entrevista com gestor de relacionamento onde foram observadas as técnicas utilizadas para a prospecção de novos negócios e práticas essenciais para fidelização dos clientes dentro da organização em questão. 3.1 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA Em 1947 iniciou a trajetória da Ribeiro Veículos S.A. na cidade de Maringá-PR, inspirada na visão de seu fundador Francisco Feio Ribeiro, o progresso rápido e planejado, aliado às oportunidades trazidas pelos investidores que acreditavam na região de Maringá, proporcionaram os fundamentos necessários que contribuiriam no desenvolvimento de uma grande cidade e uma grande e sólida empresa comercial. Maringá e a Ribeiro Veículos S.A. possuem suas raízes no árduo trabalho de agricultores e empreendedores europeus, asiáticos e brasileiros vindos de todas as regiões do país que fundaram aqui uma próspera comunidade. Graças à consolidação de suas iniciativas e um sucesso em administração, em 1981, a família Ribeiro recebeu o convite da Volvo, que havia acabado de chegar ao Brasil, para representá-la. A partir desse convite, surgiu assim, a primeira concessionária de caminhões e ônibus Volvo em Maringá – PR. Dez anos depois, em 1991, acreditando na prosperidade da região do Mato Grosso do Sul, devido ao crescimento na agricultura e a necessidade que o Estado possuía em se desenvolver na área de transporte, surgiu então a Ribeiro Veículos em Dourados-MS, inscrita no CNPJ: 75.642.256/0004-44, na Rua Marginal Leste, nº 915 – Chácara Castelo I, onde está instalada até hoje. Iniciou CONHECIMENTO E GESTÃO

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suas atividades no ramo de comércio de veículos automotores, peças para veículos automotores assistência e reparo para os mesmos e segue na mesma atividade nos dias atuais. No início de suas atividades a empresa contava com um quadro de 11 colaboradores e ao longo dos anos conquistou um constante crescimento, hoje o quadro da filial é de 48 colaboradores. Seus objetivos vão de encontro com sua missão e visão respectivamente, que são, comercializar produtos e serviços de qualidade superior, proporcionando pleno retorno e satisfação a clientes, parceiros, colaboradores e acionistas. Ser reconhecida como parceira preferencial por seus clientes, fornecedores, colaboradores, e ser líder comercial da região. Através do seu foco em encontrar soluções para o transporte de acordo com a necessidade de cada cliente, a Ribeiro Veículos tem o papel de representar a marca sueca Volvo e tem obtido grande sucesso e evolução, conquistando vários parceiros como, transportadoras de cargas, agricultores, e fornecedores de peças e materiais que confiaram sempre em seu negócio, criando várias alianças comerciais. Os resultados obtidos desde a sua fundação e hoje já é considerada uma organização modelo na região e líder comercial no segmento de caminhões pesados. Em 2015 a Ribeiro Veículos em Dourados-MS, passou por um processo de ampliação estrutural para atender e demanda de produtos e serviços que a região tem exigido, a prosperidade e transparência nos negócios continuam sendo seu principal diferencial no mercado e até hoje a empresa continua com a ideologia de seu fundador Francisco Ribeiro “É preciso acreditar”. Há mais de trinta anos representando a marca Volvo, hoje a Ribeiro Veículos é uma das mais sólidas concessionárias Volvo do País, com cinco filiais – três no Paraná (Maringá, Londrina e Cruzeiro do Oeste) e duas no Mato Grosso do Sul (Campo Grande e Dourados), além de um posto de atendimento avançado localizado na cidade de Angélica - MS – a Ribeiro Veículos S.A. segue primando por honestidade, competência, responsabilidade e transparência perante seus clientes, colaboradores e fornecedores. 3.2 TÉCNICA A SER UTILIZADA Além do levantamento de dados com embasamento documental e observacional, foi realizada uma entrevista com duração de uma hora e 30 minutos no dia 20/04/2016 com o Gestor comercial da Ribeiro Veículos, que CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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respondeu cinco perguntas abertas onde foram questionados e discutidos os objetivos desta pesquisa, que serão apresentadas de forma transcrita na análise dos dados. 3.3 ANÁLISE DOS DADOS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS Para o atingimento dos seus objetivos através da Gestão do relacionamento com clientes, a Ribeiro Veículos S/A estrutura suas ações em alguns pilares na prospecção de novos negócios e algumas práticas essenciais na contribuição da satisfação e fidelização dos seus clientes. Esses pilares estão divididos em duas fases, que são a fase da venda e do pós-venda. A fase de venda, que é a fase de prospecção de novos negócios, é subdividida em quatro etapas, que são respectivamente a etapa de Prospecção, visitas e ofertas, eventos e negociação. Na primeira etapa de venda que é a prospecção, existem quatro pontos essenciais para o sucesso de todas as outras etapas, que são as atividades, a identificação das necessidades, a interpretação do perfil do cliente e a identificação do produto ou serviço que será ofertado conforme a seguir:  Atividades: Levantamento de dados existentes no sistema CRM, onde o gestor irá definir as ações iniciais para atendimento.  Necessidades: Identificar a necessidade dos clientes baseado em compras anteriores, ramo de atividade no qual o cliente está inserido, entrevista realizada com o mesmo e etc.  Perfil do cliente: Análise da sua situação financeira, poder de compra e pagamento, crédito e dados de compras anteriores.  Configurações: Identificar o produto ou serviço a ser ofertado de acordo com todos os levantamentos de dados apurados nos pontos anteriores. Na segunda etapa, é a etapa em que o gestor define as visitas e ofertas, ou seja, a maneira, momento e a forma que elas serão estruturadas e realizadas. Todas as visitas são planejadas de acordo com cada particularidade do cliente, levando em consideração todos os dados e características apontadas na primeira etapa, pois com informações detalhadas sobre o cliente, a chance de assertividade no primeiro contato com o cliente são maiores. Assim como as visitas, as ofertas serão determinadas de acordo com o perfil do cliente, dessa maneira os riscos de ofertar um produto ou serviço que o cliente não precisa CONHECIMENTO E GESTÃO

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são bem menores do que em casos em que existe apenas uma oferta a ser realizada. Na terceira etapa, a partir do sucesso e interesse despertado pelo cliente, é dado início na etapa chamada de eventos, onde todo o trabalho é voltado para o encantamento e identificação do cliente com a marca e com a empresa é a etapa onde são realizados os pontos a seguir:  Feiras: O primeiro contato do cliente com o que está sendo ofertado, onde é dada as primeiras explicações da funcionalidade e aplicação do produto ou serviço. Onde é dada a oportunidade ao cliente expor todas as outras necessidades ainda não apontadas e o que ele espera. Após a identificação do interesse despertado pelo cliente é startado o convite de visita a fábrica.  Fábrica: O cliente é levado a montadora da marca situada na cidade de Curitiba-PR onde terá a oportunidade de experimentar o que está sendo ofertado. No caso do produto principal da marca que é o caminhão, será o momento em que ele fará testes e acompanhará todo o processo de produção do veículo. Nessa fase é definido exatamente qual o segmento do cliente e a definição exata do produto, ou seja, de acordo com sua necessidade, perfil e principalmente o chamado produto ideal dentro de sua atividade de negócio. Na quarta e última etapa de venda, é onde se encerra o processo de negociação, nessa etapa todas as necessidades e dúvidas dos clientes já foram esclarecidas, então é o momento em que são definidos os seguintes pontos:  Preço: o valor do produto ou serviço em negociação.  Crédito: a forma de pagamento, necessidades de financiamento e solicitações de créditos as instituições financeiras.  Encomenda: definido os itens acima, por fim é realizada a encomenda do produto ou serviço em questão e realizado o faturamento. Na segunda fase da gestão do relacionamento com o cliente, é onde se inicia a fase do Pós-venda, que tem papel fundamental no processo de satisfação e fidelização dos clientes. O papel do pós-venda também é estruturado em algumas etapas definidas pela organização, nessas etapas envolvem os pontos a seguir: 

Planejamento da entrega: é o ponto em que será definido o dia, local e pessoa que receberá a aquisição do bem negociado. CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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 

Evento da entrega: depois de realizado o planejamento, é organizado um evento de entrega do produto, onde serão dadas novas explicações e treinamentos. Além disso, fotos e brindes são entregues. Apresentação: o pós-venda apresenta as garantias, planos de manutenção e acompanhamento em relação a conservação do produto.

Após esse contato inicial realizado pelo pós-venda, várias ações são traçadas pelo departamento, pois a Ribeiro Veículos S/A acredita que todos esses processos são essenciais para atingir seu objetivo quanto a satisfação e fidelização de seus clientes. Além do contato inicial o pós-venda realiza pesquisas de satisfação após a entrega do bem e entrega uma carta de agradecimento da compra acompanhada de brindes. Após esse processo de entrega e agradecimento, o Pós-venda fica responsável em manter uma rotina de visitas de acompanhamento a cada 90 dias, essas visitas tem o intuito de resolver algum tipo de reclamação ou esclarecer dúvidas que o cliente possui quanto ao produto ou atendimento. Para medir suas ações de todo o processo que envolve vendas e pósvenda, a organização possui um programa de qualidade chamado 100% Volvo, e é auditada anualmente em vários pontos como: sustentabilidade, processos de vendas, serviços, estoque de peças, 5s, satisfação de clientes e satisfação dos funcionários. No ano de 2013 a Ribeiro Veículos S/A conquistou pela primeira vez a certificação OURO do programa 100% Volvo de qualidade, no qual é certificada até hoje. Em 2015 foi eleita através da pesquisa CSS realizada pela Volvo do Brasil como top 3 de melhores concessionárias do Brasil no que tange a satisfação de seus clientes, a neste mesmo ano, através de uma pesquisa realizada pela Gazeta do Povo (Paraná) a Ribeiro recebeu o prêmio Great Place To Work e foi qualificada entre as 10 melhores empresas para se trabalhar no Estado, provando ainda seu sucesso e evolução no mercado e mais, foi também eleita top 5 pela Revista IstoÉ Dinheiro no quesito objetivo financeiro realizado. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS As análises de dados obtidos nesse estudo, através de todo o processo de planejamento de vendas e pós-venda da Ribeiro Veículos S/A, teve como foco principal observar as boas práticas e métodos utilizados pela organização em como ela prospecta novos negócios e trabalha para atingir um nível de CONHECIMENTO E GESTÃO

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satisfação de seus clientes, que levem a fidelização dos mesmos. Os resultados do estudo mostram que ter o cliente como foco das ações comerciais e ter um planejamento de atendimento bem definido desde o primeiro contato, tornando um processo contínuo, têm sido de fato uma grande vantagem diante de todas as dificuldades presentes no mercado. Fazer um bom uso da ferramenta CRM, e utiliza lá como base para levantamento de dados e análises de perfil de cada cliente, ajuda em uma maior assertividade das negociações e contribui para um relacionamento duradouro. As conquistas e premiações que a Ribeiro Veículo tem alcançado em indicadores que medem à satisfação de seus clientes e o sucesso que tem sido em resultados, levam a comprovação de que suas práticas tem a tornado um modelo de sucesso e gestão. REFERÊNCIAS ARAÚJO, H. C. de. Sinergia no Atendimento. Cliente nossa razão de ser. BELO HORIZONTE. Editora: Clube dos autores, 2009. BRETZKE, Miriam. Marketing de Relacionamento: oportunidade para desenvolvimento e crescimento continuo no setor financeiro. Balas Conference the University of Texas, 1998. FERNANDES, G.R. et al. CRM – Uma ferramenta fundamental para a captação e manutenção de clientes. Revista Pensar Tecnologia, v.4, n.2, jul. 2015. KOTLER, P.; FOX, K. "Marketing Estratégico para Instituições Educacionais". Atlas, 1ª edição 1998. MEDEIROS, S.T. CRM – Estratégia Para Aproveitamento de Conhecimento. Developers Magazine, ano VI 2002. NOVELLO, A.P.; Os Benefícios Proporcionados pelo CRM Projeto de Graduação Esamc. Piraciaba, 2013. OLIVEIRA, W. J. de. CRM & E-BUSINESS. Florianópolis: Visual Books, 2000. SOHRABI, B.; HAGHIGHI, M.; KHANLARI, A. Customer relationship management maturity model A model for stepwise implementation. International Journal of Human Sciences, Volume 7. 2010.

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ORÇAMENTO EMPRESARIAL GUILHERME CASSAROTTI FERIGATO1 JERÔNIMO ANTERO ALVES2

RESUMO O presente artigo teve como objetivo analisar a utilização do orçamento empresarial como ferramenta para o planejamento e o controle de uma empresa. Tendo como base o favorecimento da eficiência operacional diante da concorrência e das exigências do mercado, uma vez que a empresa que não elabora um orçamento com todas as suas previsões de lucros e quedas de produção corre o risco de estar fadada ao encerramento de suas atividades. No intuito de esclarecer os pontos principais do orçamento empresarial, esta pesquisa classifica-se como qualitativa e bibliográfica, sendo que esta foi realizada tendo por base autores que tratam dessa temática, apresentando-se os principais conceitos sobre planejamento, controle e orçamento empresarial. A coleta de dados se deu por meio de entrevista realizada em uma empresa familiar que produz componentes plásticos para peças automotivas e eletrodomésticas. Os resultados mostram a relevância do orçamento empresarial para o bom desempenho da empresa. Palavras-chave: Orçamento empresarial. Planejamentos. Controle. Tomada de decisões. 1 INTRODUÇÃO Orçamento Empresarial refere-se a um dos instrumentos utilizados pelos gestores de uma empresa. Apresenta fundamental importância para alicerçar o planejamento e o controle da mesma. Geralmente é utilizado como uma ferramenta de controle, onde propõe os limites orçamentários para os gastos empresariais, o que favorece a eficiência operacional uma vez que a empresa, ao fazer uso dessa ferramenta em todos os seus setores, pode prever as despesas e as receitas e assim auxiliar na sua sobrevivência. 1

Mestrando em Gestão do Conhecimento nas Organizações, Especialista em Auditoria e Controladoria, em EAD e Tecnologias Educacionais, Bacharel em Administração de Empresas formação realizada no Centro Universitário de Maringá Unicesumar. 2 Tecnólogo em Processos Gerenciais pelo Centro Universitário de Maringá e pós-graduando do Curso de Especialização de MBA em Gestão Empresarial.

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Nos dias atuais exige-se que a empresa faça um planejamento orçamentário, tendo em vista que a concorrência está cada vez mais acirrada diante das exigências do mercado. O orçamento é considerado de tal importância que deve ser usado para as tomadas de decisões, evitando-se transtornos para a empresa, principalmente os de ordem financeira. Diante deste contexto, todo orçamento empresarial deve ser elaborado de acordo com alguns critérios, obedecendo a certo rigor e, ao mesmo tempo, deve estar aberto as novas ideias e soluções para problemas que eventualmente surjam durante a sua aplicação. Desta forma, o objetivo geral desta pesquisa foi estudar e apresentar o uso do orçamento empresarial como ferramenta contábil para o planejamento e o controle de uma empresa familiar que produz componentes plásticos para peças automotivas e eletrodomésticas. Para tanto, os procedimentos metodológicos compreendem a pesquisa bibliográfica, contemplando conceitos sobre planejamento, planejamento estratégico, planejamento tático e operacional, controle, orçamento empresarial, seus objetivos e características, efetuada a partir de consulta a livros de vários autores que tratam desse tema. A coleta de dados se deu por meio de entrevista realizada com o proprietário de uma empresa e com o responsável pela elaboração do orçamento empresarial. Com os resultados deste estudo espera-se contribuir para a compreensão do tema proposto, haja vista tratar-se de uma importante ferramenta contábil para o desenvolvimento financeiro das empresas e se tratar de um grande aliado de gestores para a tomada de decisões. 2 PLANEJAMENTO O planejamento deve ser elaborado pelas empresas, assim como todo o processo orçamentário deve estar devidamente estruturado. Durante a elaboração dos mesmos serão estabelecidas as diretrizes e as metas que serão determinadas pelo orçamento. Desta forma, o orçamento coloca o planejamento dentro de uma empresa em destaque, isto é, para todo administrador é uma ação que deve vir em primeiro plano. Afirma-se isto porque os gestores e/ou administradores, quando atingem suas metas orçamentárias estão praticamente cumprindo aquilo que foi planejado, já que o orçamento é uma das maneiras mais objetivas de CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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executar o planejamento. Como se observa, o orçamento deve sempre interagir com o planejamento para se obtenha sucesso na administração de uma empresa, fazendo com que a mesma se mantenha no mercado de maneira saudável, isto é, com lucros significativos e perdas mínimas. Portanto, o planejamento é uma ferramenta da administração que estipula as metas a serem seguidas e os objetivos que devem ser atingidos. De acordo com Ishizaki (apud ROBBINS 2001, p. 116), planejamento é: A definição das metas de uma organização, o estabelecimento de uma estratégia global para alcançar essas metas e o desenvolvimento de uma hierarquia de planos abrangente para integrar e coordenar atividades empresariais.

Uma vez definidas as metas, as empresas almejam permanecer no mercado através das estratégias que foram traçadas no presente, objetivando ainda verificar quais são os pontos positivos e quais os pontos negativos do planejamento. 2.1 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO O planejamento estratégico tem como característica ser realizado a longo prazo, pois é de responsabilidade da administração principal da empresa. Neste planejamento serão estipuladas as metas e as estratégias a serem seguidas e como deverão ser colocadas em prática, o que poderá modificar o perfil ou redirecionar o futuro do empreendimento. O planejamento estratégico é um planejamento de longo prazo, de responsabilidade dos níveis mais altos da Administração, que procuram se antecipar a fatores exógenos e internos à empresa, geralmente relacionados com as linhas de produtos ou mercados. Implica tomada de decisões complexas, pois envolve grande volume de recursos. As decisões estratégicas tomadas são de difícil reversibilidade e geralmente apresentam nível de risco expressivo (ISHIZAKI apud HOJI, 2003, p. 361).

Como se observa este tipo de planejamento deve ser realizado com cuidado e atenção ao mercado financeiro, à política, ao câmbio, aos métodos tecnológicos, de conformidade com os fornecedores, os fatores externos, que de modo geral podem afetar a empresa, tendo como objetivo específico o de prevenir e evitar maiores prejuízos. CONHECIMENTO E GESTÃO

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2.2 PLANEJAMENTO TÁTICO O planejamento tático deve ser executado pela administração intermediária da empresa, que obrigatoriamente seguirá as metas que foram estabelecidas pelo Planejamento Estratégico. Portanto, é desenvolvido para ser aplicado somente em alguns setores da empresa. O planejamento tático tem por objetivo otimizar determinada área de resultado e não a empresa como um todo. Portanto, trabalha com decomposições dos objetivos, estratégias e políticas estabelecidos no planejamento tático. [...] O planejamento tático é desenvolvido a níveis organizacionais inferiores, tendo como principal finalidade a utilização eficiente dos recursos disponíveis para a consecução dos objetivos previamente fixados, segundo uma estratégia prédeterminada bem como as políticas orientativas para o processo decisório da empresa (CABRAL; TONCOVITCH, 2006, p. 48).

Pode-se observar que o planejamento tático tem como foco determinada parte da empresa, avaliando e analisando uma área específica de resultado. Portanto, se encarrega de analisar os objetivos, as estratégias que estão sendo aplicadas na empresa, além das políticas que foram por ele estabelecidas. 2.3 PLANEJAMENTO OPERACIONAL O planejamento operacional deve ser realizado a curto prazo e deve definir as atividades e os serviços a serem realizados dentro da empresa. Segundo Hong (2006, p.162), o plano operacional é “a pormenorização dos objetivos e das estratégias do planejamento tático em cada área da organização, visando especificar as metas traçadas”. Assim, nota-se que existe certa dificuldade para que o planejamento seja cumprido pela empresa, pois pode-se correr o risco de que o mesmo não chegue com clareza em todos os setores, isto é, as suas informações podem não terem sido repassadas de maneira a serem entendidas por aqueles que irão executá-lo. Se estas informações não forem encaminhadas corretamente a todos os setores empresariais é provável que em algum deles algumas de suas metas deixem de ser cumpridas. Por esta razão é que o planejamento deve ser elaborado na forma hierarquizada, de acordo com o acima mencionado.

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3 CONTROLE Parte-se do princípio que toda empresa deve ter um setor de controle. Esta atividade, dentro de uma organização, tem o objetivo de identificar se os planos que foram traçados estão sendo devidamente cumpridos e se os mesmos são atingidos por todos os seus setores. Sua característica primordial é fazer com que os resultados daquilo que foi planejado e direcionado estejam de acordo com os objetivos que foram previamente estabelecidos. Pode-se entender que o Controle é um processo que ocorre após o planejamento. Para Frezatti (1999, p. 40), “[...] deve ser um instrumento que permita à organização entender o quão próximos estão seus resultados em relação ao que planejou para dado período”. O Controle, seja muito ou pouco formalizado, é fundamental para assegurar que as atividades de uma empresa se realizem de forma desejada pelos membros da organização e contribuam para a manutenção e melhoria da posição competitiva e a consecução das estratégias, planos, programas e operações, consentâneos com as necessidades identificadas pelos clientes (GOMES, 2001, p. 22).

Em suma, a base do controle da empresa reside nas informações que devem ser rotineiramente averiguadas dentro da empresa, em todos os setores, e de acordo com as informações obtidas a administração deverá avaliar se há ou não a necessidade de modificar ou manter as suas atividades organizacionais. Portanto, o controle tem como objetivo garantir que os resultados daquilo que foi previamente planejado, organizado e dirigido estejam de acordo o mais próximo possível dos objetivos que foram definidos inicialmente para cada setor da empresa. A controladoria pode ser entendida como um processo de averiguação dos Planos Orçamentários que foram estipulados e se estão sendo realizados observando-se a margem de acerto orçamentária prevista pelos administradores. Quando se fala em resultados desejados, pressupõe-se que eles sejam conhecidos e previstos. Isso significa que o conceito de controle não pode existir sem o conceito de planejamento. Aliás, os controles requerem planos. Assim, o controle é a função administrativa que monitora e avalia as atividades e resultados alcançados para assegurar que o planejamento, a organização e a direção sejam bem-sucedidos (CHIAVENATO; SAPIRO, 2009, p. 277). CONHECIMENTO E GESTÃO

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Deste modo, o controle orçamentário permite verificar a oscilação dos recursos que foram previstos para serem gastos em certo período e identificar se houve gasto excessivo ou aquém do que foi anteriormente planejado. O controle possui algumas finalidades importantes sendo suas características, tais como: - Identificar problemas e erros que se transformam em desvios do planejado, com a finalidade de corrigilos e de evitar sua reincidência; - Fazer com que os resultados obtidos com a realização das operações se aproximem o máximo possível dos resultados esperados, possibilitando alcançar as metas e os objetivos traçados; - Verificar se as estratégias e políticas estão proporcionando os resultados esperados dentro das situações existentes e previstas; - Proporcionar informações gerenciais periódicas, possibilitando rápida intervenção do desempenho do processo (SANVICENTE; SANTOS, 2000, p. 207-219).

O controle é uma ferramenta importante, sendo que sua finalidade consiste em verificar se os objetivos propostos foram cumpridos de acordo com o planejamento e dentro do orçamento previsto. [...] o controle orçamentário pode ser efetuado numa empresa, na sua missão específica de permitir, mediante a comparação entre o desempenho efetivamente atingido e o que tiver sido planejado, a verificação da maneira pela qual os objetivos e as metas da empresa e de suas unidades estão sendo alcançados ou deixando de ser cumpridos. Na medida do possível, esse controle deverá [...] fornecer indicações oportunas e rápidas para a tomada das medidas corretivas cabíveis, e aponte os indivíduos e setores responsáveis pelo desempenho alcançado, seja ele bom ou mau (SANVICENTE; SANTOS, 2000, p. 207).

Assim, o Controle consiste em verificar se as normas e os parâmetros que foram estabelecidos e utilizados encontram-se de acordo com o que foi planejado e o que está sendo executado, pretendendo-se sempre obter o sucesso da empresa dentro do orçamento empresarial previsto. 4 ORÇAMENTO EMPRESARIAL Orçamento Empresarial é o instrumento contábil pelo qual o administrador da empresa se baseia para as suas tomadas de decisões. Sua principal característica é estabelecer as metas operacionais de investimentos, ou seja, avaliar as despesas e as receitas que a empresa fez uso durante determinado período. CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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O gestor utiliza-se do orçamento empresarial não somente para mensurar os gastos que a empresa teve durante determinado período, mas, também, para orientá-lo no controle desses gastos nos setores da empresa para que possa atingir corretamente os objetivos e as metas que foram traçadas anteriormente. Um orçamento bem elaborado e executado de maneira adequada viabiliza a verificação, pelos administradores, de quais serão as estratégias necessárias para a produção e escoamento de seus produtos ou serviços diretamente onde a demanda dos mesmos seja necessária e de acordo com as exigências do mercado. Um orçamento é uma expressão quantitativa formal de planos da administração. O orçamento geral resume os objetivos de todas as subunidades de uma organização – vendas, produção, distribuição e finanças. Quantifica metas para vendas, produção, lucro líquido e posição de caixa e para qualquer outro objetivo especificado pela administração (HORNGREN, 1981, p. 117).

O orçamento deve sempre interagir com o planejamento para que se obtenha sucesso em toda administração, fazendo com que a empresa se mantenha no mercado de maneira saudável, isto é, com lucros máximos e perdas mínimas. Toda administração tem como base principal o levantamento de suas provisões financeiras que venham a exigir que, em determinadas situações, o administrador seja orientado a se adaptar ou inovar as programações que foram feitas no decorrer da existência da empresa, devendo ser realizado anualmente com a finalidade de adequar o orçamento. Nestas programações ou planejamentos encontram-se incluídos os recursos financeiros e os recursos humanos especializados. Deste modo, a administração precisa estar atenta e sempre procurar por novas alternativas que possam melhorar o desempenho da empresa em todos os seus setores, tais como novas atividades, métodos mais adequados, mas, sobretudo, outras fontes de recursos, além de avaliar os rendimentos dos diversos setores. Planejamento e Controle, assim como o Orçamento Empresarial, são elementos que compõem toda a administração. Existe uma relação direta entre estes elementos. O estudo e a avaliação dos mesmos são importantes. O orçamento engloba todos os setores da atividade da empresa, sendo uma tarefa que deve ser desempenhada com cuidado e objetividade, pois é a base da CONHECIMENTO E GESTÃO

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administração. Os objetivos do orçamento são as políticas, os programas e os métodos que devem ser desenvolvidos, e não menos importantes são as maneiras pelas quais serão realizados e aplicados em cada setor empresarial. O mais importante dos requisitos do orçamento é que o seu elaborador tenha o exato conhecimento da realidade administrativa. Portanto, é imprescindível diagnosticar o problema, buscar por alternativas eficientes, avaliando-se cada uma delas para somente após realizar a tomada de decisão. Devem ser lembrados alguns aspectos no planejamento no que se refere à elaboração do orçamento empresarial. É preciso avaliar os benefícios e dificuldades provenientes da divisão do trabalho, assim como deve ser feito o mesmo com os principais serviços que a instituição ou empresa presta a terceiros. Deve ainda verificar se a empresa apresenta condições financeiras para realizá-la, avaliando também o estabelecimento dos cronogramas para a execução das tarefas. Outro fator importante é o estabelecimento dos objetivos e sub objetivos determinados hierarquicamente com a finalidade de proporcionar mais eficiência nas ações a serem desempenhadas por todos os funcionários e pelos setores da empresa. Torna-se necessário realizar um levantamento dos recursos e da previsão do tempo que será gasto para a execução de cada uma destas tarefas, devendo, para tanto, ser elaborado um cronograma orçamentário específico. O orçamento, de acordo com Padoveze (2007, p.189), Nada mais é do que colocar na frente aquilo que está acontecendo hoje. Orçar significa processar todos os dados constantes do sistema de informação contábil de hoje, introduzindo os dados previstos para o próximo exercício, considerando as alterações já definidas para o próximo exercício.

Já segundo o dicionário Michaelis (2009, p. 624), “orçamento é a ação ou efeito de orçar; cálculo dos gastos com a realização de qualquer obra; cálculo prévio da quantia que se tem e do quanto se vai gastar”. O sistema orçamentário global corresponde à projeção e à operacionalização das ações descritas nas etapas de planejamento financeiro, [...]. A proposta orçamentária deve contemplar as estimativas de receitas, custos, despesas e investimentos necessários para a consecução das atividades econômicas projetadas, a partir da definição dos objetivos, das metas e das estratégias da empresa (ZDANOWICZ, 2003, p. 135). CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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Observa-se que o orçamento é uma ferramenta que faz parte do processo de planejamento e controle operacionais da empresa, seja ela pequena ou grande e independente do trabalho que desempenha no ramo econômico. De modo geral, as empresas tendem a planejar e controlar as suas atividades por intermédio de técnicas orçamentárias. O orçamento está fundamentado na confecção de um plano geral de ação de toda empresa, de acordo com os objetivos, as suas metas e as políticas de ação a curto e longo prazos. O sistema orçamentário fornece a direção às instruções para a execução dos planos, enquanto a avaliação e o controle permitem a comparação dos valores realizados pela empresa, aos projetados para um determinado período (ZDANOWICZ, 2003, p. 198).

O orçamento empresarial é parte integrante do planejamento geral da empresa e deve atender aos objetivos do mesmo de forma que venha a possibilitar a concretização de suas metas e políticas de ação que foram previamente estabelecidas. É com base neste orçamento que serão tomadas as decisões para a execução do planejamento que foi elaborado. 5 ANÁLISE DOS DADOS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS A empresa objeto de estudo é de médio porte, situada na cidade de Pitangui, em Minas Gerais, e está há mais de vinte anos no mercado, atuando em atividades voltadas para a produção de peças de polietileno, tais como tampa para máquinas de lavar roupas, máquinas de lavar pratos e, copos, botões para fogão e retrovisores automotivos, dentre outros. Está assegurada a privacidade da empresa, a pedido do proprietário, utilizando-se o nome Plástil Ltda. O seu principal fornecedor de materiais é uma grande empresa de Belo Horizonte. A empresa preocupa-se com a prevenção diária contra acidentes do trabalho, sendo observadas todas as determinações legais no que se refere à sustentabilidade, medicina e segurança do trabalho, com a presença de técnicos especializados nestas áreas, comprometidos com a segurança dos funcionários, evitando-se a ocorrência de acidentes. Quanto à visão, a empresa é referência na oferta dos seus produtos dentro dos padrões exigidos na cidade de Belo Horizonte. Em entrevista realizada com o proprietário da empresa, este relatou que sua preocupação pauta-se em questões relacionadas ao Orçamento Empresarial, CONHECIMENTO E GESTÃO

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Planejamento e Controle dos gastos da empresa, com vistas a estabelecer suas metas de produção e qualidade dos produtos repassados para empresas situadas em Belo Horizonte. Na Plástil Ltda. existe um setor específico responsável por elaborar o orçamento, o planejamento e o controle das atividades da empresa. Desta forma, as entrevistas realizadas com os responsáveis pela elaboração do orçamento relataram que há a mesma preocupação do proprietário da empresa em relação ao orçamento empresarial, bem como informaram que o orçamento é constantemente revisto por ambos para prevenir gastos excessivos e desperdício de material. Quando indagados acerca da confecção dos relatórios gerenciais, que são preparados para sustentar a tomada de decisões orçamentárias, o proprietário e o responsável pela elaboração do Orçamento Empresarial responderam que se utilizam desses relatórios para efetuar a base do Orçamento, e que se trata de importante documento para a tomada de decisões da empresa. O proprietário é pessoa com experiência no seu empreendimento, tem 60 anos de idade e se declarou satisfeito com o responsável pela elaboração do Orçamento Empresarial e com o Planejamento da Empresa. A empresa segue corretamente os relatórios gerenciais e as práticas da elaboração do orçamento, do planejamento e do controle. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS O orçamento empresarial fornece instrumentos que facilitam a aplicação do planejamento e do controle da empresa, assegurando a correlação entre custos e gastos administrativos. O orçamento empresarial, o controle e o planejamento da empresa é o resultado da prática, o que favorece a quantificação dos recursos empenhados durante um período, permite identificar os motivos que levaram à ocorrência de alguma defasagem nos setores da empresa, podendo apurar as responsabilidades e evitá-las no futuro. O orçamento é eficaz quanto à identificação de problemas quando se desviam do planejado, a fim de corrigi-los, evitando-se assim a reincidência e aprimorando a sua execução. Outra vantagem do orçamento é fazer com que os resultados obtidos durante a realização das operações se apresentem muito CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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próximos dos esperados, já que o mesmo serve de parâmetro para o planejamento. Vê-se, então, que o processo orçamentário da empresa deve fornecer informações gerenciais que serão o suporte para a tomada das decisões, sendo clara a sua importância dentro da administração. Assim, o orçamento empresarial somente poderá ser executado se for objetivo e claro e obtiver o resultado que se espera diante do empenho de todos os colaboradores da organização. Portanto, o administrador deve estar atento a todos os segmentos da empresa, ao orçamento empresarial, ao planejamento e ao controle para obter o sucesso desejado com a confecção de seus produtos e seu direcionamento ao mercado. REFERÊNCIAS CHIAVENATO, Idalberto; SAPIRO, Arão. Fundamento Estratégico: fundamentos e aplicações. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. FREZATTI, Fábio. Orçamento Empresarial: planejamento e controle gerencial. São Paulo: Atlas, 1999. GOMES, Josir Simeone e SALAS, Joan M. Amat.. Controle de Gestão: uma abordagem contextual e organizacional. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2001. HONG, Iuh Ching. Contabilidade Gerencial. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006. ISHIZAKI, Nirio. A utilização do orçamento empresarial: um estudo em empresas do Vale do Paraíba-SP. Taubaté, São Paulo: 2003. PADOVEZE, Clóvis Luis. Controladoria Estratégica e Operacional: conceitos, estrutura, aplicação. São Paulo: Thomson Learning, 2007. SANVICENTE, Antônio Zoratto; SANTOS, Celso da Costa. Orçamento na Administração das Empresas – planejamento e controle. São Paulo: Atlas, 2000. WELSCH, Glenn A. Orçamento Empresarial. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009. ZDANOWICZ, José Eduardo. Criando Valor Através do Orçamento: um modelo de proposta orçamentária global como requisito para o sucesso na administração das empresas coureiro-calçadistas do Rio Grande do Sul. 1. ed. Porto Alegre: Novak, 2003. CONHECIMENTO E GESTÃO

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PRIMEIRA INFÂNCIA NO ESTADO DO PARANÁ E SEUS DESAFIOS GUSTAVO FEITOZA DA SILVA1 MARIA VICTORIA BORGHETTI BARROS2

RESUMO O presente artigo apresenta o tema Primeira Infância, sua atual situação no Brasil e, principalmente, no Estado do Paraná. É importante ressaltar que o país precisa avançar com maior velocidade já que se trata das crianças e do futuro do Brasil. A metodologia utilizada baseou-se em pesquisas realizadas em artigos científicos referentes ao assunto. Foi possível concluir que as políticas públicas relacionadas à Primeira Infância devem envolver todos os setores e estruturas do Estado, como Saúde, Educação, Esporte, Lazer, Assistência Social, Nutrição, Artes, devendo ainda o tema ser discutido amplamente com a sociedade e os atores nela inseridos. Constatou-se que a resistência à mudança por parte dos educadores e os entraves burocráticos dos poderes legislativos e executivos são os principais desafios a serem enfrentados quando se trata deste importante tema. Palavras-chave: Primeira Infância. Políticas Públicas. Sociedade. Desafios na educação. 1 INTRODUÇÃO No presente artigo foram apresentados estudos sobre as políticas públicas e programas relacionados ao desenvolvimento da Primeira Infância, bem como os desafios de implementação no Estado do Paraná. A importância reside no fato de diversas pesquisas internacionais revelarem o potencial do retorno dos investimentos realizados na Primeira Infância e que contribuem para a construção de sociedades mais humanas e desenvolvidas. Espera-se, que ao concluir este trabalho, algumas ações já estejam em andamento junto ao Governo do Estado do Paraná e, assim, a construção do conhecimento possa ser enriquecida. Este artigo, baseado em pesquisa bibliográfica realizada em artigos científicos, está estruturado da seguinte forma: além desta introdução, o 1

Bacharel em Ciências Econômicas e Mestre em Teoria Econômica pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). 2 Formada em Hotelaria e Gestão de Eventos pela Swiss Hotel Management School na Suíça, Eleita Deputada Estadual pelo Estado do Paraná em 2014.

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segundo item apresenta um breve histórico sobre a Primeira Infância e seu significado de maneira ampla. Por fim, no quinto item são relatadas as considerações finais, seguida das referências. 2 PRIMEIRA INFÂNCIA O Estado do Paraná, assim como em todas as regiões do país, precisa estar atento a uma questão muito importante e que afeta a vida e o futuro das próximas gerações: a Primeira Infância e os direitos das crianças como dever do Estado. O que significa Primeira Infância? Muitos estudiosos apresentaram ideias com diferentes perspectivas sobre o conceito de Infância. De acordo com o Ariès (1981), até o século XII ou XIII inexistia na Europa o conceito de Infância tal como veio a ser mais tarde, especialmente a partir do Iluminismo. Criança não era sinônimo de fragilidade da forma como se conhece hoje, sendo uma invenção da modernidade concebida através de uma evolução cultural e histórica. A partir do século XVII foi admitido que a criança não era preparada por si própria para enfrentar a vida adulta e deveria receber um tratamento diferenciado. Jean Jacques Rousseau (1768) defendeu a noção de que a criança não podia ser entendida como um adulto em miniatura, afirmando que elas tinham características próprias e individualidade. Acreditou que era preciso educar as crianças de acordo com sua natureza, desenvolvendo progressivamente seus sentidos e a razão com vistas à liberdade e à capacidade de julgar, sempre destacando a mãe como a educadora natural da criança. Segundo a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal (2016), este é o “período que vai desde a concepção do bebê até o momento em que a criança ingressa na educação formal”. Considera-se que, no Brasil, a Primeira infância se encerra aos seis anos completos da criança. É nesta fase que as atividades cerebrais da criança se desenvolvem, e conforme diversos estudos científicos, é nela que se pode atuar para ter melhores cidadãos no futuro. Segundo Heckman (2014), que realizou diversos estudos do impacto de investimentos em primeira infância, não há ação de maior retorno em educação do que a voltada para as crianças e também não existe melhor estratégia para diminuir a desigualdade de origem socioeconômica no desempenho escolar. Em países em desenvolvimento como o Brasil se faz necessário o investimento em CONHECIMENTO E GESTÃO

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Primeira Infância não só pelo fator econômico, mas também por ser um direito da criança. Os investimentos em educação na primeira infância reforçam o desenvolvimento cerebral e são extremamente importantes para a melhoria da saúde e do bem-estar das próximas gerações. Assim, indivíduos com maior escolaridade atingem melhores níveis socioeconômicos e de qualidade de vida, reduzindo os índices de violência e criminalidade (SANTOS; KASSOUF, 2008). Este período que compreende a fase de 0 a 6 anos é crucial para a criança, é nele que ocorre o desenvolvimento de estruturas e circuitos cerebrais, bem como a aquisição de capacidades fundamentais que permitirão o aprimoramento de habilidades futuras mais complexas. E mais, crianças com desenvolvimento integral saudável durante os primeiros anos de vida têm maior facilidade de se adaptarem aos diferentes ambientes e de construírem novos conhecimentos, contribuindo para que posteriormente obtenham um bom desempenho escolar e alcancem realização pessoal, vocacional e econômica e se tornem cidadãos responsáveis e preparados para encarar os desafios da vida (FUNDAÇÃO MARIA CECÍLIA SOUTO VIDIGAL, 2016). É possível destacar também que a aprendizagem das crianças inicia-se desde o começo de sua vida, muito antes de entrar na escola, do pré-natal à fase final da gestação e durante todo o período até os três anos e se desenvolve em todos os domínios: físico, cognitivo e socioemocional. Sabe-se hoje que, além da contribuição da herança genética, ela aprende nos contextos de seus relacionamentos afetivos e, principalmente, é na primeira infância que a aprendizagem é fortemente influenciada por todos os locais interagidos pelas crianças (BOYD; BEE, 2011). No Brasil, a Primeira Declaração dos Direitos da Criança – “Declaração de Genebra de 1923” - serviu de base para a criação da “Convenção dos Direitos da Criança de 1989”, criado logo após a Constituição da República Federativa do Brasil, em 1988. O Congresso Nacional aprovou e promoveu avanços com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em 1990 e no mesmo ano ratificou a Convenção da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre os direitos da criança (BRASIL,1990). Já em 2009 foi promulgada a Emenda Constitucional que tornou obrigatória, para as crianças de 4 e 5 anos de idade, a frequência à pré-escola. Em 2010, foi publicado o Plano Nacional pela Primeira Infância, realizado a partir de ampla participação da sociedade civil organizada e instituições e que tem CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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como propostas ações de articulação, promoção e realização de políticas públicas a partir dos direitos das crianças de 0 a 6 anos e válido até 2022 (CONAE, 2010). Diante do exposto, é preciso destacar que o país tem avançado no tema, conforme aprovação na câmara federal após longo período de discussões do Marco Legal da Primeira Infância, Lei 13.257/2016, cujo objetivo é criar políticas públicas voltadas para o desenvolvimento de crianças da faixa etária de 0 a 6 anos (BRASIL, 2016). Disponível no Portal da Saúde do Estado de São Paulo, o Programa Primeiríssima Infância, criado pelo Governo Estadual de São Paulo em conjunto com a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal e também com parcerias de diversos municípios paulistas e ONG´s e é um exemplo da promoção e incentivo ao desenvolvimento infantil. Entre os objetivos estão melhorias no atendimento de qualidade às gestantes do Estado de São Paulo, promoção de trabalhos integrados e envolvimento com os mais variados setores, mobilização e conscientização da sociedade para esta importante fase da vida. Atualmente, o Programa atende 41 municípios e a próxima fase de expansão pretende atingir mais 60 municípios paulistas. Amparado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (2016), o programa voltado para o público da Primeira Infância é o Brasil Carinhoso, de caráter federal e que atinge diversas vertentes, entre elas a expansão de matrículas de crianças de 0 e 4 anos em creches públicas ou conveniadas de famílias em situações de vulnerabilidade e beneficiárias do Programa Bolsa Família a partir de repasses financeiros aos municípios cadastrados para custear despesas com manutenção e desenvolvimento da educação infantil, ações de cuidado integral, segurança alimentar e nutricional e, principalmente, a garantia de acesso e permanência da criança na educação infantil. Existem algumas iniciativas em curso no Estado do Paraná, disponível no Portal da Saúde do Estado do Paraná, como o Programa Mãe Paranaense, que propõe a organização da atenção materno-infantil nas ações do pré-natal, puerpério e o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento das crianças, em especial no seu primeiro ano de vida. É um conjunto de ações que envolve a captação precoce da gestante, o seu acompanhamento no pré-natal, com no mínimo 7 consultas, a realização de 17 exames, a classificação de risco das gestantes e das crianças, a garantia de ambulatório especializado para as CONHECIMENTO E GESTÃO

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gestantes e crianças de risco, a garantia do parto por meio de um sistema de vinculação ao hospital conforme o risco gestacional. O público alvo são as mulheres em idade fértil e crianças menores de 1 ano de idade. Além deste, existe também o Programa Família Paranaense, estabelecido pela Lei Estadual nº.17.734/2013, que tem por objetivo principal ações intersetoriais para superação da extrema pobreza e demais vulnerabilidades vivenciadas pelas famílias em todo Estado. Assim, pode observar que o Programa Mãe Paranaense tem como foco principal a saúde e o Programa Família Paranaense o desenvolvimento social. Desta forma, se faz necessário o atendimento à Educação como ferramenta para construção do conhecimento e do desenvolvimento da primeira infância, possibilitando resultados futuros concretos para a vida e o bem-estar das crianças e de suas famílias por meio de atividades educativas e ações com a comunidade em sua volta. No Estado do Paraná foi proposta pela Deputada Estadual Maria Victoria a emenda parlamentar ao Plano Plurianual, exercício 2016, cujo objeto é apoiar a implantação do CIC Família – Centro Integrado de Atenção à Criança e à Família. O CIC Família é um Programa idealizado pela Vice-Governadora do Estado do Paraná e tem como objetivo principal o desenvolvimento das crianças de 0 a 6 anos em um centro integrado completo, que atenda todas as áreas que envolvam saúde, educação, desenvolvimento social, trabalho, esporte, lazer, nutrição, artes e música em benefício das crianças, bem como de toda a comunidade em seu entorno. Estes centros serão construídos ou adaptados nas creches já existentes em todos os municípios do Paraná que atenderem determinados requisitos para oferecer completa infraestrutura de atendimento às pequenas crianças do Paraná, bem como formatar parceria com universidades estaduais e federais para contribuição em capacitação, serviços e monitoramento. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A resistência à mudança por parte dos educadores e os entraves burocráticos dos poderes legislativos e executivos são os principais desafios a serem enfrentados quando se trata o assunto Primeira Infância, bem como o respeito aos direitos e deveres das Constituições, o Marco Legal da Primeira Infância e o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), a partir da nova Lei de Diretrizes e Bases. CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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As creches são etapa fundamental na educação das crianças, porém, é de conhecimento público que faltam milhões de vagas em creches e pré-escolas públicas para alunos até os 5 anos de idade, e o pior, muitos pais deixam de trabalhar porque não tem onde deixar seus filhos. É comum os governantes entenderem que o investimento em Primeira Infância não dá retorno no curto prazo, já que os reflexos dos investimentos só poderão ser sentidos após 10 ou 15 anos e estes não estarão mais à frente do governo. É importante que o Poder Legislativo, em conjunto com o Poder Executivo, crie e regulamente leis que tornem obrigatório o investimento em Primeira Infância. De acordo com Hofstede (2011), o Brasil é categorizado como um país culturalmente imediatista, quando comparado a países desenvolvidos. Portanto, pode-se observar que os mesmos pensam e agem a longo prazo quando planejam o desenvolvimento de suas nações. São enormes os desafios que o Brasil e seus estados têm pela frente, mas as crianças não podem esperar. Para chegar a qualquer lugar é necessário dar o primeiro passo e o primeiro passo é investir na Primeira Infância. REFERÊNCIAS ARIÈS, P. L’enfant et la vie familiale sous l’Ancien Régime. Paris: Plon, Point Seuil, 1960. ARIÈS, P. A história social da criança e da família. Rio de Janeiro: LTC, 1981. BOYD, D.; BEE, H. A criança em crescimento. 12.ed. Porto Alegre: Artmed, 2011. BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei no. 8069/1990. Brasília, DF: 1990. BRASIL. Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB. Lei no. 9.394/1996. Brasília, DF: 1996. BRASIL. Princípios e diretrizes para a formulação e a implementação de políticas públicas para a primeira infância. Lei no. 13257/2016. Brasília, DF: 2016. CONFERÊNCIA NACIONAL DE EDUCAÇÃO (CONAE). Construindo o Sistema Nacional Articulado de Educação: o Plano Nacional de Educação, diretrizes e estratégias; Documento Final. Brasília, DF: MEC, 2010. CONHECIMENTO E GESTÃO

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FUNDAÇÃO MARIA CECILIA SOUTO VIDIGAL. Primeira Infância. Disponível em: < http://www.fmcsv.org.br/pt-br/Paginas/primeira-infancia.aspx>. Acesso em: 25 mai. 2016. FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO. Brasil Carinhoso. Disponível em: http://www.fnde.gov.br/programas/brasil-carinhoso. Acesso em: 19 mai. 2016. HECKMANN, J. O Bom de Educar desde cedo. Revista VEJA. Rio de Janeiro, Abril, 2014. HOFSTEDE, G. Cultures and organizations: software of the mind. McGraw-Hill. New York, 1991. PARANÁ. Programa Família Paranaense. Lei no. 17.734/2013. Curitiba, PR, 2013. PORTAL DA SAÚDE DO GOVERNO ESTADUAL DO PARANÁ. Rede Mãe Paranaense. Disponível em: http://www.saude.pr.gov.br/modules/conteudo /conteudo.php ?conteudo=2892. Acesso em: 28 abr. 2016. PORTAL DA SAÚDE DO GOVERNO ESTADUAL DE SÃO PAULO. Primeiríssima Infância. Disponível em: http://portal.saude.sp.gov.br/ses/perfil/profissional-dasaude/areas-tecnicas-da-sessp/saude-da-crianca/sao-paulo-pela-primeirissimainfancia. Acesso em: 19 mai. 2016. SANTOS, M. J., KASSOUF, A. L. (2008), Estudos econômicos das causas da criminalidade no Brasil: Evidências e controvérsias, Technical report, ANPEC.

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PERCEPÇÃO AMBIENTAL DO CENTRO DE ESPORTES E LAZER MONTEIRO LOBATO, NO MUNICÍPIO DE PONTA GROSSA, PARANÁ ISLAYLA PALOMA NUNES SIMAS1 BEATRIZ RIBEIRO2

RESUMO Este artigo discutiu a importância dos espaços verdes em áreas urbanas e a percepção que os frequentadores desses locais têm sobre os mesmos. A expansão das cidades faz com que cada vez haja menos espaços livres e verdes. Por isso, pesquisar qual é o perfil e quais são as percepções dos visitantes do Centro de Esportes e Lazer Monteiro Lobato, um parque localizado em área residencial na cidade de Ponta Grossa, Paraná, é importante para saber quais são as carências desses locais e qual é a relação que os frequentadores têm com o mesmo. Foi aplicado um questionário a 65 pessoas, 50 delas frequentadoras do parque, com questões abertas e fechadas. Homens e mulheres visitam o parque em proporção semelhante, destacando-se as faixas etárias de 14 a 34 anos. A maioria dos visitantes possui terceiro grau completo. Moradores do bairro onde fica o parque representam a maioria dos entrevistados, que o frequentam principalmente semanalmente ou diariamente, tendo preferência pelos finais de semana. Os frequentadores estão cientes da importância de um parque na área urbana, citando a melhoria na qualidade de vida, prática de esportes, fuga do stress da cidade e democratização do lazer, já que é um espaço gratuito. Foram sugeridas inúmeras melhorias no parque, demonstrando que os visitantes prestam atenção ao local que utilizam, sentindose responsáveis pelos mesmos, mas acreditando que a maior responsável é a Prefeitura Municipal. Palavras-chave: Parques urbanos. Percepção ambiental. Espaços livres. 1 INTRODUÇÃO Os espaços livres urbanos tornam-se cada vez mais escassos com o crescimento das cidades, já que muitas vezes áreas verdes são devastadas para que haja a expansão de áreas residenciais ou industriais. A presença de parques e praças no meio urbano possibilita uma fuga do barulho e correria das cidades, possibilitando aos seus frequentadores não somente a oportunidade de lazer, 1

Graduada em Ciências Biológicas pela Uningá. Mestre em Biotecnologia Ambiental pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). 2 Bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).

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mas também uma melhoria na sua qualidade de vida pela prática de esportes ou por simples contemplação da natureza. A criação de parques e praças deve levar em consideração a opinião pública, também importante para sua manutenção e melhorias. Diferentes pessoas possuem diferentes personalidades e histórias de vida, os que influenciam na sua percepção dos locais que as rodeiam. O Centro de Esportes e Lazer Monteiro Lobato está localizado em área residencial, tendo assim impacto sobre a vida dos moradores da região. Saber qual é o perfil dos usuários e quais suas ideias em relação ao parque pode contribuir enormemente para a melhoria do mesmo, já que os dados coletados podem ser utilizados como referência para futuras benfeitorias no parque, tornando este um lugar mais atrativo para a população. Assim sendo, os principais objetivos deste estudo são: a) Descobrir qual é o perfil dos frequentadores do parque; b) Conhecer as diferentes percepções de diferentes pessoas sobre o parque; c) Levantar quais são as possíveis melhorias que podem ser feitas nos Centros de Esportes e Lazer da cidade de acordo com a opinião pública. Foi apresentada, inicialmente, nesse artigo a fundamentação teórica para o estudo, trazendo tópicos sobre os parques urbanos e a percepção ambiental. Posteriormente foi exposto como a pesquisa de campo foi desenvolvida e, na sequência, mostrados e discutidos os resultados, finalizando com as considerações finais. 2 ÁREAS VERDES E A PERCEPÇÃO AMBIENTAL Na literatura é possível encontrar diversas definições para área livre ou espaço livre no meio urbano. Para Cavalheiro, et al. (1999), a zona urbana é composta por três sistemas: sistemas de espaços com construções, ou seja, espaços onde houve a intervenção humana na construção de edifícios, como casas, indústrias, comércios; sistemas de espaços livres de construção, sendo estes espaços ao ar livre, como lagos, parques, praças; e sistema de espaços de integração urbana, como rodovias e ferrovias. Segundo Souza (2010), Milano (1993) definem área livre como uma área com características predominantemente naturais, independente do porte da CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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vegetação. Hardt (2000, p. 14) classificou as áreas verdes urbanas em duas categorias: a) públicas, sujeitas a enfoque mais técnico da administração municipal, comportando tanto os espaços verdes com funções relacionadas ao lazer e à recreação (e.g.: parques, praças), à conservação ambiental (e.g.: áreas de preservação permanente, unidades de conservação) ou especiais (e.g.: cemitérios-parque), quanto a arborização de ruas; b) privadas, subordinadas a enfoque mais político e legal (devido à inacessibilidade pública e à facilidade de supressão da cobertura vegetal), enquadrando espaços verdes voltados ao lazer (e.g.: jardins, quintais), à conservação ambiental (e.g.: áreas de preservação permanente, unidades de conservação) ou a funções especiais (e.g.: cemitérios-parque).

Essas áreas desempenham papéis importantes nas cidades, sendo que Guzzo (1999, apud GELINSKI; SANTOS, 2014) destaca três deles: papel ecológico, estético e social. Como função ecológica podemos citar a purificação do ar, abrigo da fauna, manutenção da permeabilidade do solo e aumento da umidade do ar. As áreas verdes também trazem benefício estético, já que destoam dos prédios cinzas e do asfalto, trazendo beleza para os centros urbanos. Socialmente, os parques e praças servem como ponto de encontro e lazer para os cidadãos, suavizando o stress do dia a dia e trazendo bem estar para seus frequentadores. Para Richter (2008), o ato de perceber consiste em uma troca do indivíduo com o meio exterior. “O estudo dos processos mentais relativos à percepção ambiental é fundamental para compreendermos melhor as interrelações entre o homem e o meio ambiente, suas expectativas, julgamentos e condutas” (DEL RIO, et al., 1996). Fruto de instrumentos perceptuais de identidade particular para cada observador, a percepção torna diferenciada a interpretação de uma única paisagem, de modo que várias pessoas podem contemplá-la ao mesmo tempo, mas cada um a percebe de formas diferentes (HARDT, 2004). Segundo Canteras Jordana (1992, apud HARDT, 2000, p. 41), a percepção da paisagem é condicionada por duas tipologias de filtros: a) Biofísico, determinado pelas condições de visibilidade do observador (intrínsecas: acuidade visual e outras condições sensitivas; extrínsecas: limitações espaciais - posição do observador, condições atmosféricas, iluminação e barreiras visuais; CONHECIMENTO E GESTÃO

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limitações fisiográficas - distância do observador, compartimento visual); o filtro biofísico estimula a percepção visual da paisagem; b) Condutual, relativo às reações sensitivas, cognitivas (culturais, sociais e econômicas) e psicológicas (emocionais e afetivas), além de outros fatores abstratos; o filtro condutual determina a percepção psíquica da paisagem.

Guimarães e Dacanal (2006, p. 27) afirmam que: Os processos de cognição, percepção, interpretação e a representação do meio ambiente são elaborados a partir de múltiplas variáveis, levando-se em conta as características individuais [gênero, faixa etária, etc], herança cultural e classe socioeconômica de cada ser humano, de maneira que o fenômeno observado se diferencia e é qualificado de acordo com um certo olhar em um dado momento.

Tuan (1980, apud RICHTER, 1998) afirma que cada imagem e ideia sobre o mundo é composta de experiência pessoal, aprendizado, imaginação e memória. Segundo Richter (1998), uma das dificuldades para a proteção de ambientes naturais está na existência de diferenças nas percepções dos valores e da sua importância entre os indivíduos de culturas diferentes ou de grupos socioeconômicos que desempenham funções distintas, no plano social, nesses ambientes. Isso acontece porque cada indivíduo está inserido em um contexto diferente, tendo suas características específicas e vivências diferenciadas com relação ao meio. 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Foi escolhido como local para realização da pesquisa de campo o Centro de Esportes e Lazer Monteiro Lobato. O centro foi inaugurado pela Prefeitura Municipal, em 2012, e está localizado na quadra entre a Avenida Ernani Batista Rosas e a Rua João Schaia, em frente ao Conjunto Habitacional Monteiro Lobato, no Bairro Jardim Carvalho, em Ponta Grossa, Paraná. Possui uma área de aproximadamente 47.600 m². O parque conta com pista de caminhada, parque infantil, Academia da Terceira Idade, uma quadra poliesportiva com piso de concreto, quatro quadras de areia, sendo duas delas grandes e duas pequenas, uma quadra de tênis e uma quadra de bocha. Os frequentadores do parque também podem usufruir de churrasqueiras e mesas à sombra. Ao longo do parque há ainda bancos para descanso, postes de CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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iluminação e banheiro público (um masculino e um feminino). Todo o parque é entremeado por áreas gramadas e árvores, principalmente eucaliptos. Para alcançar os objetivos propostos nesta pesquisa foi elaborado um questionário para ser respondido pelos frequentadores do parque e moradores do entorno. O questionário aplicado é composto por questões abertas e fechadas. A pesquisa é composta por perguntas referentes aos dois tópicos principais: a) Perfil dos usuários: questões referentes ao sexo, faixa etária, endereço e nível de escolaridade; b) Percepção do parque: questões referentes à frequência de uso do parque, hábitos de utilização do espaço, importância dos parques urbanos, responsabilidade pela manutenção e melhorias necessárias no parque. Além desses tópicos, há também uma pergunta destinada aos moradores do entorno que não frequentam o parque. O objetivo dessa questão é descobrir quais são os motivos que os levam a isso. A aplicação do questionário foi realizada tanto com a presença da pesquisadora no local quanto através da internet. A aplicação in loco foi realizada em diferentes dias da semana. O questionário também foi disponibilizado online em grupos de redes sociais a fim de divulgar o mesmo e alcançar um maior número de respostas. Tanto a aplicação dos questionários no parque quanto a disponibilização do mesmo na internet foi feita no mês de maio de 2016. 3.1 ANÁLISE DOS DADOS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS Durante a pesquisa foi entrevistado um total de 65 pessoas. Dessas 65, 15 não frequentam o parque. Sendo assim, os dados discutidos se referem aos 50 frequentadores do parque que responderam ao questionário, posteriormente, sendo discutido sobre os não frequentadores. 3.1.1 Perfil dos usuários do Centro de Esporte e Lazer Monteiro Lobato Analisando os dados obtidos através da aplicação de questionário, podeobservar que 52% dos entrevistados são do sexo masculino e 48% do sexo feminino. A diferença entre os dois sexos foi pequena, mostrando um equilíbrio de gênero entre os frequentadores. Quanto à faixa etária, o maior número de CONHECIMENTO E GESTÃO

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entrevistados pertence à faixa dos 21 aos 27 anos (24%), seguido pela faixa etária de 14 aos 20 anos (20%) e depois pela de 28 aos 34 anos (16%). Tem a mesma porcentagem (14%) para as faixas de 35 aos 41 e 49 aos 60 anos, e para as faixas de 42 aos 48 e acima de 60 anos, com 6% cada. Além da idade, também foi questionado o grau de escolaridade. A maioria dos entrevistados possui curso de pós-graduação completo, representando 28%, seguido pelos indivíduos que estão com a graduação em curso (26%). Os entrevistados que possuem nível superior completo representam 14%, seguidos por 10% que possuem Ensino Médio completo. A porcentagem de pessoas que possuem nível fundamental incompleto e de pessoas que possuem pós-graduação incompleta é a mesma, ambos com o percentual de 8%. As outras faixas são menos representativas, apresentando apenas um indivíduo (2%) com nível fundamental completo e dois indivíduos (4%) com Ensino Médio incompleto. Isso indica um alto nível de instrução dos entrevistados, 50% deles tendo concluído o nível superior. A maioria dos entrevistados (52%) reside no mesmo bairro em que fica localizado o Centro de Esportes e Lazer Monteiro Lobato, o Jardim Carvalho. Os residentes dos bairros de Uvaranas (26%) e Órfãs (10%) vêm a seguir, o que pode ser justificado pelo fato de que ambos fazem limite com o bairro Jardim Carvalho. Com apenas dois indivíduos (4%), temos o Centro, seguido com o mesmo percentual (2%), com apenas um representante cada, os bairros Neves, Nossa Senhora das Graças, Ronda e Vila Liane. 3.1.2 Hábitos e percepção dos usuários Os hábitos dos frequentadores foram analisados quanto à frequência de visitas, quais dias da semana em que frequentam e o que costumam fazer no parque. Há uma frequência maior de visitas semanalmente (30%), seguida por 26% que frequentam diariamente. Essa alta taxa de visitação provavelmente está relacionada ao fato de que a maioria dos frequentadores mora no mesmo bairro em que fica o parque, facilitando assim seu acesso. Mensalmente, 24% dos entrevistados visitam o parque, seguido pelos que frequentam quinzenalmente e anualmente, com 10% cada. Os finais de semana são os dias mais frequentados do parque, os sábados tendo 20,9% e os domingos 19%, sendo estes os dias em que a maioria dos usuários costuma possuir um tempo livre maior. Os outros dias da semana possuem número de visitas parecido, tendo as segundas-feiras CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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um percentual de 13,1%, terças-feiras 12,4%, quartas e quintas-feiras com 11,8% cada e a sexta-feira com 11%. A atividade mais realizada pelos frequentadores do parque é a prática de caminhada ou corrida, sendo esta realizada por 45% dos usuários. A prática de esportes como futebol, basquete, vôlei e tênis exibe um percentual de 14%, sendo seguida pela realização de piqueniques, com uma porcentagem de 12%. Dos entrevistados, 7% vão ao parque para levar crianças para brincar, 6% levam animal de estimação para passear e com a mesma porcentagem, os entrevistados utilizam o parque para andar de bicicleta ou de patins. A Academia da Terceira Idade é utilizada por 5% dos entrevistados, e 4% costuma ir ao parque para passear com amigos. Apenas um dos entrevistados citou a utilização das churrasqueiras para realização de almoço. A percepção dos frequentadores sobre o parque foi analisada através de três questões: 1) A presença de parques em meio urbano é importante? Por quê? 2) Você melhoraria algo no parque? O que? 3) De quem você acredita que seja a responsabilidade de cuidar de parques e praças? Todos os entrevistados afirmaram que a presença de parques em meios urbanos é importante. Foram citados principalmente motivos como a promoção da melhoria da qualidade de vida, contato com a natureza e fuga do concreto das cidades, o local como incentivo à prática esportiva e a democratização do lazer, já que estes espaços são públicos e gratuitos, acessíveis para toda a população. Muitos comentaram sobre a falta de opções de áreas verdes de lazer na cidade. Além de citarem todos esses benefícios que os parques urbanos nos trazem, os entrevistados também demonstraram um apego afetivo ao parque. Citando um dos entrevistados, “(o parque) faz parte da minha história, há toda uma identificação, uma noção de pertencimento. Aquele parque é meu”. Isso mostra um vínculo entre os frequentadores e o parque, que reagem ao mesmo de forma positiva. Quanto às melhorias no parque, 36% dos entrevistados acreditam que o parque está bom e não realizariam nenhuma melhoria no local. Os outros 64% afirmaram que realizariam melhorias no parque, principalmente quanto à manutenção do mesmo. A iluminação é considerada boa, mas muitos acreditam que o local é pouco seguro à noite, sendo necessária uma melhoria na segurança. A falta de bebedouros parece ser um grande incômodo para os CONHECIMENTO E GESTÃO

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frequentadores, além da manutenção e limpeza dos banheiros. Muitos melhorariam a estrutura dos parquinhos infantis e da Academia da Terceira Idade, além de acharem necessária a melhoria das quadras de esportes já existentes e a criação de novas. Alguns citam a falta de lixeiras adequadas com separação para reciclados e afirmam ser necessário o plantio de mais árvores e flores, para embelezar o parque. Foi sugerida também a construção de uma pista de skate, além de área coberta onde seja possível praticar esportes em dias chuvosos. Os entrevistados acreditam ser necessária a realização de atividades culturais no local, além de outras que promovam a prática de esportes e a interação da comunidade. Muitos questionaram a localização das churrasqueiras, que ficam em área descoberta e muito próximas umas das outras, ficando longe das mesas que existem no parque, o que justifica o fato de apenas um entrevistado ter respondido que utiliza as churrasqueiras. Quando perguntados sobre quem era o responsável por cuidar de parques e praças, a maioria (62%) disse que a responsabilidade é da Prefeitura Municipal de Ponta Grossa e também dos frequentadores do parque. Um percentual de 24% respondeu que acredita que a responsabilidade é apenas da Prefeitura, 14% afirmaram que a responsabilidade é somente daqueles que frequentam o parque. Tendo o questionário sido disponibilizado para que fosse respondido também através da internet, o mesmo alcançou pessoas que não frequentam o parque. Isso é importante para levantar quais são os motivos principais para que alguém não o frequente. Foram citados como motivos a falta de interesse por parques e também a falta de tempo livre. A falta de segurança no local afasta algumas pessoas do parque, mas muitos entrevistados dizem que não o frequentam principalmente porque fica longe de suas residências. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS É inegável a importância dos espaços livres e verdes no meio urbano. O parque cumpre seu dever ao proporcionar um espaço livre para a prática de esportes, apreciação da natureza e fuga do stress da cidade, sendo também local de encontro para amigos e famílias. Os frequentadores do Centro de Esportes e Lazer Monteiro Lobato que foram entrevistados demonstraram estarem cientes da importância dos parques em áreas urbanas em seus diferentes níveis como ecológico, estético e social. CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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Demonstraram preocupação com a manutenção do mesmo, dando várias sugestões de melhorias que podem ser utilizadas pelo poder público para que o parque se torne melhor e mais atrativo. Isso mostra a importância de levar em conta a opinião dos frequentadores na hora de realizar benfeitorias nos locais públicos. Além disso, alguns entrevistados demonstraram apego emocional ao local, tendo o sentimento de pertencimento ao mesmo. A maioria dos visitantes se sente responsável por manter o parque, mas acredita que a responsabilidade maior cabe à Prefeitura Municipal. Com isso, pode verificar que apesar das diferenças no perfil dos usuários, como idade, escolaridade e história de vida, a preocupação e cuidado com o parque está presente em todos, demonstrando seu apreço pelas áreas verdes públicas. REFERÊNCIAS CANTERAS JORDANA, Juan Carlos. Curso de introducción al paisaje: metodologias de valoración, 1992. In: HARDT, Letícia Peret Antunes. Subsídios à gestão da qualidade da paisagem urbana: aplicação a Curitiba – Paraná. 2000. 323f. Tese (Doutorado em Engenharia Florestal) – Setor de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Paraná – UFPR, 2000. CAVALHEIRO, Felisberto. O planejamento de espaços livres: o caso de São Paulo. Silvicultura em São Paulo, São Paulo, v. 16, p. 1819-30, 1982. DEL RIO, Vicente; OLIVEIRA, Lívia de (Org). Percepção ambiental: a experiência brasileira. 2.ed. São Paulo; São Carlos: Studio Nobel, Editora da Universidade Federal de São Carlos – UFSCAR, 265 p., 1999. GIFFORD, Robert. Environmental Psychology – Principles and practice,1997. In: ATENA, Andrea. Percepção ambiental do parque urbano Moinhos de Vento, Porto Alegre-RS, Brasil. 109 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Florestal) Instituto Superior de Agronomia, Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa, Portugal, 2009. GUIMARÃES, Solange T. de Lima; DACANAL, Cristiane. Arquitetar para viver, educar para conservar: faces da qualidade ambiental e da qualidade de vida na conservação do meio ambiente. Climatologia e Estudos da Paisagem, Rio Claro, v. 1, p 20-38, 2006. GUZZO, Perci. Estudos dos espaços livres de uso público e da cobertura vegetal em área urbana da cidade de Ribeirão Preto‐SP. 1999. In: GELINSKI, Adriana; CONHECIMENTO E GESTÃO

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HARDT, Letícia Peret Antunes. Subsídios à gestão da qualidade da paisagem urbana: aplicação a Curitiba – Paraná. 2000. 323f. Tese (Doutorado em Engenharia Florestal) – Setor de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Paraná – UFPR, 2000. HARDT, Letícia Peret Antunes. Ecologia da paisagem: fundamentos à gestão do espaço urbano, 2004. In: SOUZA, Paulo Cezar Alves de. Funções sociais e ambientais de parque urbano instituído como unidade de conservação: percepção dos usuários do Parque Natural Municipal Barigui em Curitiba, Paraná. 146 f. Dissertação (Mestrado em Gestão Urbana) - Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia, Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2010. LLARDENT, Luis Rodríguez-Avial. Zonas verdes y espaços livres en la ciudad, 1982. In: GELINSKI, Adriana; SANTOS, Edvanderson Ramalho dos. Áreas verdes e conceito de lugar: Parque Bela Vista no município de Ponta Grossa (PR). OKARA: Geografia em debate, João Pessoa, v. 8, n. 2, p. 213-223, 2014. MILANO, Miguel S. Unidades de conservação: conceitos básicos e princípios gerais de planejamento, manejo e administração, 1993. In: SOUZA, Paulo Cezar Alves de. Funções sociais e ambientais de parque urbano instituído como unidade de conservação: percepção dos usuários do Parque Natural Municipal Barigui em Curitiba, Paraná. 146 f. Dissertação (Mestrado em Gestão Urbana) Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia, Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2010. RICHTER, Elenir Maria. Percepção ambiental do parque urbano integrado Elso Pilau, município de Giruá-RS. 174 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2008. SANTOS, Edvanderson Ramalho dos. Áreas verdes e conceito de lugar: Parque Bela Vista no município de Ponta Grossa (PR). OKARA: Geografia em debate, João Pessoa, v. 8, n. 2, p. 213-223, 2014. TUAN, Yi-Fu. Espaço e Lugar: a perspectiva da experiência, 1980. In: RICHTER, Elenir Maria. Percepção ambiental do parque urbano integrado Elso Pilau, município de Giruá-RS. 174 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2008.

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A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO PARA O GERENCIAMENTO DE TRÂNSITO NO BRASIL JEFFERSON ALENCAR DA SILVA1 ANDERSON SOUZA PEREIRA 2

RESUMO As inúmeras demandas geradas pelo crescimento da frota de veículos dos diversos portes fez emergir novas estratégias para a gestão do trânsito brasileiro. Os indivíduos residentes em cidades de médio e grande porte, e em especial, os que moram grandes centros urbanos gastam horas em seu deslocamento de casa para o trabalho, ou para outros compromissos. Tal situação vem exigindo uma série de procedimentos especiais, fundamentados em aplicação técnica e organização de recursos disponíveis. Assim, os gestores de trânsito devem possuir competências relacionadas ao planejamento urbano que se desdobra em três subfatores: planejamento dos transportes urbanos, infraestrutura viária e circulação urbana. Esse artigo teve como objetivo apresentar algumas das principais questões que devem ser consideradas no planejamento do trânsito nacional. Planejar o trânsito é buscar melhorias para eventos futuros que podem não estar desejáveis para o uso da sociedade, sendo relevante para os diversos setores da sociedade por promover melhor uso da malha viária, harmonia entre os diversos meios utilizados para transporte e para segurança dos cidadãos. Palavras-chave: Gestão do trânsito. Planejamento do trânsito. Gestão urbana. 1 INTRODUÇÃO Com o crescimento dos centros urbanos, em especial nos países em desenvolvimento, percebe-se um aumento da frota de veículos, o que resulta em problemas diários como congestionamento, acidentes no trânsito entre diferentes tipos e portes de automóveis. Transformações sociais, econômicas e políticas, aliadas à recorrência de críticas incisivas e de ineficiência crônica na gestão pública, acentuaram as pressões para maior eficácia ou natureza diferente do setor público. Frente a 1

Pós-Graduado em Voleibol e em Treinamento Esportivo. Graduado em Processos Gerenciais pela Faculdade de Tecnologia Internacional. Graduando licenciatura em Educação Física pela UNOPAR. 2º Sargento da policia Militar do Paraná - Secretaria Segurança Pública Paraná. 2 Pós-Graduando em Planejamento e Gestão de Trânsito. Graduado em Produção Industrial. Professor da Controladoria de Transito na cidade de Sabará.

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isso, observa-se a necessidade de um bom planejamento do solo, ou seja, da ocupação territorial somada a um sistema de transporte eficiente. Planejar um transporte eficiente e sustentável é uma obrigação do poder público e direito de todos os cidadãos. O gestor público tem sob sua responsabilidade, questões de relevância pelo fato de ser o responsável por oferecer com eficiência, eficácia e pontualidade aos cidadãos a disponibilidade dos serviços básicos constitucionais e, ao mesmo tempo, a necessidade de garantir eficiência no uso de seus recursos públicos. As políticas públicas têm grande significância para o planejamento de propostas eficientes que promovam melhor qualidade de vida aos cidadãos, maior segurança, principalmente quando se abordam questões relacionadas ao trânsito. A tendência da urbanização e a utilização crescente do automóvel constituem um dinamismo em demandas de planejamento e gestão do trânsito. Atualmente, os indivíduos residentes em cidades de médio e grande porte, e em especial, os que moram em grandes centros urbanos, gastam horas em seu deslocamento de casa para o trabalho, ou para outros compromissos. Logo, compreender os principais pontos relevantes ao planejamento do trânsito trará uma reflexão e discussão aprofundada sobre questões relevantes e atuais para o planejamento do trânsito e para a formação de gestores do trânsito. Neste sentido este artigo apresentou algumas das principais questões que devem ser consideradas no planejamento do trânsito nacional e assim contribuir para a formação dos gestores de trânsito em suas rotinas de trabalho e para a literatura de planejamento de trânsito, auxiliando na formação de cursos de planejamento voltados para o trânsito e suas particularidades. Esse estudo tem natureza qualitativa por analisar e interpretar aspectos profundos, descrevendo a complexidade do fenômeno pesquisado e por realizar uma análise detalhada sobre as investigações, hábitos, atitudes, tendências do objeto de estudo (LAKATOS; MARCONI, 2010). Assim, as investigações pautamse na análise qualitativa de situações complexas ou particulares, permitindo interpretar dados, fatos ou hipóteses (RICHARDSON, 1999; SOARES, 2003). Para realizar este artigo foi utilizado o método de pesquisa bibliográfica, o qual busca, a partir do exame da bibliografia existente, fazer o levantamento e análise do que já foi produzido sobre o assunto que se pretende estudar. Tal método foi realizado em duas fases: a coleta de fontes bibliográficas, na qual foi feito o levantamento da bibliografia existente e, em seguida, a coleta de CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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informações, na qual foi realizado o levantamento dos dados, fatos e informações contidas na bibliografia escolhida. Foi realizada uma leitura minuciosa e elaborado o presente artigo, a partir dos objetivos propostos. Em relação aos objetivos, a pesquisa caracteriza-se como descritiva por buscar conhecer e interpretar o fenômeno sem interferir ou modificar o objeto estudado (CHURCHILL, 1987). Permite explicar as relações e feitos dos contextos sociais (OLIVEIRA, 2002). 2 O SERVIÇO PÚBLICO E A GESTÃO DO TRÂNSITO Frente as constantes mudanças políticas, sociais e econômicas emerge a necessidade sobre a reflexão das necessidades da construção de uma administração pública inovadora e de excelência para atender às demandas da sociedade na prestação de serviços que exigem elevado desempenho (SIMIONE, 2014). O serviço público promove a qualidade de vida, o bem estar e a ordem na sociedade. A partir das leis, normas e regimentos originados nas diversas esferas do serviço público é possível determinar os direitos e deveres para os cidadãos, o que acarreta uma grande responsabilidade aos gestores públicos. Desta forma, Silva (2010) aponta que o administrador público deve ser um profissional capacitado a gerenciar os bens públicos sob sua responsabilidade, baseando-se em suas competências para alcançar os resultados positivos. Em relação à gestão do trânsito pode-se afirmar que é uma atividade complexa que exige diversas habilidades gerenciais. Desta forma, Bavoso (2014) coloca que a gestão de trânsito deve proporcionar a possibilidade de satisfazer as necessidades de circulação de forma rápida, segura, econômica e eficiente. A gestão do trânsito nas cidades vem exigindo a adoção de uma série de procedimentos especiais, fundamentados em aplicação técnica e organização de recursos disponíveis (PORTES, 1998). Para tanto, a gestão do trânsito é entendida como a intervenção do poder público que visa promover mobilidade, segurança, fluidez, qualidade de vida e a satisfação dos interesses de toda a sociedade no sentido de planejar, executar, operar, controlar, regulamentar, educar e fiscalizar o trânsito (BAVOSO, 2014). Os especialistas em trânsito, em seus diversos estudos, afirmam que não basta regulamentar o estacionamento, implantar uma sinalização adequada, ou definir o sentido de circulação das vias, deixando o trânsito fluir por si só, pois ele passa a não andar (PORTES; 1998). O autor coloca que há a CONHECIMENTO E GESTÃO

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necessidade de intervenções distintas no trânsito, em especial a partir de atividades organizadas, buscando alcançar os níveis desejados de conforto, segurança e fluidez, ou seja, atuar efetivamente no trânsito. Cabe aos órgãos públicos desenvolver uma gestão de trânsito baseada em conhecimentos gerenciais e operacionais, nos órgãos de trânsito da administração pública, direta e indireta. O gestor tem a função de atender a demanda definida pela linha de ação, cuja proposta foi referendada e do qual partirá um novo programa a ser implementado (CAETANO, 2009). 3 A GESTÃO DO TRÂNSITO E O PLANEJAMENTO A gestão do trânsito compõe-se da coleta de dados, planejamento, o projeto, a operação, o controle, a fiscalização, arrecadação de tarifas e informações aos cidadãos (MEIRRELES, 1999). Os responsáveis pela gestão urbana têm que estar preparados frente a esta demanda com propostas que tragam melhorias aos deslocamentos de todos os cidadãos (SIMÕES; PETEROSSI; SIMÕES, 2014). Frente a estas necessidades urge planejar o trânsito e as ações que serão implantadas neste. O planejamento é um conjunto de procedimentos e técnicas que permite avaliar as implicações futuras de decisões presentes sobre uma determinada situação de transporte baseado em objetivos, custos, qualidade e prazos determinados para tornar a tomada de decisão assertiva, aumentando a eficiência e a eficácia (NTU, 2000). O planejamento busca promover modificações nas pessoas, em ações comportamentais e educacionais. Relacionado ao trânsito, o planejamento define uma infraestrutura necessária para assegurar a circulação de pessoas, mercadorias, e organiza os sistemas de transporte que estão sujeitos à regulamentação pública (MANTOVANI, 2007). Para Simões, Peterossi e Simões (2014), os gestores de trânsito devem possuir competências relacionadas ao planejamento urbano que se desdobra em três subfatores: planejamento dos transportes urbanos, infraestrutura viária e circulação urbana. O planejamento dos transportes urbanos deve abranger os modos de atender as necessidades dos diversos tipos de transporte: motorizados e não motorizados. Deve promover maior mobilidade e acessibilidade a partir de um plano de mobilidade urbana, estudos de demandas, integração entre os modos CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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de transporte público, privados e não motorizados, transporte coletivo, serviços de táxi, transporte urbano de carga, assim como aos terminais de transportes urbanos, polos geradores, instrumentos de financiamento de transportes. E ainda, monitorar o processo de planejamento e execução das atividades de transportes e desenvolver uma avaliação e atualização sistemática do plano de mobilidade urbana (SIMÕES; PETEROSSI e SIMÕES, 2014). O planejamento do trânsito abrange diversas áreas essenciais para melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, para otimização do transporte de bens e para prestação de serviços. Planejar o trânsito é buscar melhorias para eventos futuros que podem não estar desejáveis para o uso da sociedade. Assim, o planejamento do trânsito é relevante para os diversos setores da sociedade por promover melhor uso da malha viária, harmonia entre os diversos meios utilizados para transporte e para segurança dos cidadãos. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS As inúmeras demandas geradas pelo crescimento da frota de veículos dos diversos portes fez emergir novas estratégias para gestão do trânsito brasileiro. Existem muitas ações relacionadas à regulamentação do estacionamento, sinalização e definição de sentido de circulação nas vias públicas. No entanto, estas não conseguem solucionar os inúmeros problemas apresentados diariamente nos trânsito. Cabe à gestão pública promover ações efetivas que proporcione aos cidadãos segurança, fluidez ao deslocar-se pelas vias urbanas. A gestão de trânsito deve buscar conhecimento gerencial e operacional para desenvolver ações de planejamento, controle, educação, dentre outras, a fim de atender os interesses da sociedade como um todo. Para tanto, o gestor de trânsito deve buscar desenvolver um planejamento estratégico que atenda as necessidades dos diversos tipos de transporte, motorizados e não motorizados, promovendo assim maior mobilidade e acessibilidade a partir de um plano de mobilidade urbana, estudos de demandas, integração entre os modos de transporte público, privados e não motorizados, transporte coletivo, serviços de táxi, transporte urbano de carga, dentre outros. Assim, o planejamento do trânsito abarca mais que ações corretivas a curto prazo, ele compreende ações preventivas, corretivas a curto e longo prazo, CONHECIMENTO E GESTÃO

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que necessitam de avaliações e adaptações sistemáticas para cumprir efetivamente seu papel de planejar, executar, operar, controlar, regulamentar, educar e fiscalizar o trânsito. REFERÊNCIAS BAVOSO, Natália Couto. O sistema nacional de trânsito e os municípios de pequeno porte, Universidade Federal de Minas Gerais, 1998. CAETANO, M. de. B., GESTOR PÚBLICO: uma análise das principais competências requeridas nos dias atuais. Fundação Getúlio Vargas, 2009. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Mariana de Andrade. Metodologia Científica. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2010. MANTOVANI, Vivian Ramirez. Proposta de Um Sistema Integrado de Gestão em Segurança de Tráfego–SIG SET. 2004. Tese de Doutorado. Dissertação (mestrado em Engenharia Urbana)–Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana. Universidade Federal de São Carlos, São Paulo. OLIVEIRA, Silvio Luiz de. Tratamento de Metodologia Científica. Projetos de Pesquisas, TGI, TCC, Monografia, Dissertações e Teses. 2 ed. São Paulo: Pioneira Thomson, 2002. RICHARDSON, Roberto Jarry – Pesquisa Social: métodos e técnicas. São Paulo. Atlas, 1999 SIMIONE, Albino Alves. A modernização da gestão e a governança no setor público em Moçambique. Revista de Administração Pública, v. 48, n. 3, p. 551570, 2014. SIMÕES, Fernanda Antonio; PETEROSSI, Helena Gemignani; SIMÕES, Eliane Antonio. Gestão sustentável do trânsito em cidades pequenas e médias: Uma abordagem para cursos MBA/EAD. # Tear: Revista de Educação, Ciência e Tecnologia, v. 3, n. 1, 2014. SOARES, Edvaldo, Metodologia Científica: lógica, epistemologia e normas. São Paulo: Atlas, 2003.

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O DESAFIO DA SUSTENTABILIDADE PARA AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS LIANA GOMES NETTO1 JOSINEIA RIBEIRO DOS SANTOS2

RESUMO Ao longo da história, o ser humano tem demonstrado uma preocupação crescente com fatores econômicos ligados ao desenvolvimento. Porém, só recentemente os fatores socioambientais se tornaram alvos de estudos. Essa pesquisa apresentou um estudo teórico acerca da responsabilidade socioambiental para as micro e pequenas empresas (MPEs) e a gestão responsável. Assim, como outras empresas de maior porte, as MPEs são instituições sociais que atuam no desenvolvimento de demandas sociais importantes. Essa pesquisa foi desenvolvida através de estudos exploratórios descritivos e qualitativos com base em jornais, revistas, artigos científicos, livros e cyber espaços. Perceber que o papel das MPEs vai muito além da prestação de serviços ou do fornecimento de bens de consumo foi um dos resultados dessa pesquisa. Destaca-se, ainda, o crescente interesse em medidas voltadas para a sustentabilidade, bem como a deficiência de material e estudos voltados para as práticas ambientalmente corretas nas MPEs, razão pela qual percebemos a necessidade de um estudo mais aprofundado, com o intuito de trazer à luz algumas ações de sucesso nessa área tão pouco explorada. Palavras-chave: Micro e pequenas empresas. Sustentabilidade. Responsabilidade socioambiental. Sistemas de Gestão Ambiental. 1 INTRODUÇÃO Ao longo do século XX, com os avanços na produção do sistema capitalista, a sociedade – iniciando-se nos Estados Unidos e se espalhando pelo mundo – experimentou um apelo ao consumo, gerando mais lucros para as grandes empresas e impulsionando, até certo ponto, a economia mundial. Nesse momento, questões relativas ao meio ambiente e desenvolvimento sustentável ficaram em segundo plano. 1

Graduada em Tecnologia Ambiental (UTFPR); Especialização em Gestão, planejamento e educação ambiental (UNESPAR); MBA em Gestão empresarial (UNICESUMAR); Mestrado em Geografia com ênfase em análise ambiental e regional (UEM). 2 Bacharel em Turismo – Faculdade Helio Rocha.

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A globalização e o processo econômico, as transformações políticas e sociais mundiais, inovações tecnológicas e científicas e os crescentes impactos das mudanças climáticas, testemunham a necessidade de revisão dos padrões atuais (que se mostraram insustentáveis) de produção e consumo e também dos modelos econômicos adotados nos países desenvolvidos e em desenvolvimento, como é o caso do Brasil. O movimento da responsabilidade socioambiental é um movimento mundial. Trata-se de um processo contínuo e progressivo do desenvolvimento de competências cidadãs, com a assunção de responsabilidades sobre questões sociais e ambientais relacionadas a todos os públicos em interação na sociedade: trabalhadores, consumidores, governo, empresas, investidores e acionistas, organizações da sociedade civil, mercado e concorrentes, comunidade e o próprio meio ambiente, conforme a Agenda Ambiental na Administração Pública - A3P (BRASIL, 2009). Investir em práticas de responsabilidade socioambiental eleva os níveis de desenvolvimento social, protege o meio ambiente e promove o respeito aos direitos humanos. Isso se evidencia numa gestão responsável. A empresa responsável, em sua base de valores, potencializa uma cultura de cooperação interna e externa e consegue conciliar os interesses dos variados agentes num enfoque global de viabilidade e qualidade. De forma geral, uma empresa sustentável tem uma visão sistêmica da sua atuação, analisando as necessidades do cliente interno e externo, atentando-se aos efeitos gerados no curto, médio e longo prazo, baseados em suas ações, produtos e processos. Ações de responsabilidade socioambiental são, ainda, consideradas iniciativas relativamente complexas, mesmo para as médias e grandes empresas (MPEs). Esse fator pode ser facilmente identificado na sociedade civil e não apenas no mundo dos negócios. A atuação das MPEs é bem efetiva junto à comunidade, mesmo não possuindo muitos recursos e estrutura para tal. Isso faz com que elas se tornem agentes importantes para a solução de problemas sociais e ambientais. Essa pesquisa apresentou um estudo teórico sobre responsabilidade socioambiental nas MPEs. Alguns autores podem usar termos diferentes para se referir a esse tema nas diversas fontes bibliográficas, mas neste estudo será utilizado o termo “responsabilidade socioambiental”, respeitando, obviamente, as especificidades estabelecidas por alguns autores. CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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O caráter desse estudo é exploratório, procurando abordar as teorias a respeito da prática de responsabilidade socioambiental nas MPEs, sendo fundamentado em dados de fontes secundárias e trabalhos científicos. Este trabalho foi elaborado com base em pesquisa bibliográfica efetuada junto a artigos científicos publicados em anais de eventos, revistas, jornais, livros e cyber espaços. Foi utilizada, ainda nessa pesquisa, a base de dados Scopus, por ser uma das maiores bases de literatura científica. A base de dados Scopus permite ter uma visão multidisciplinar da ciência e integra fontes relevantes para a pesquisa básica e aplicada. Por meio da pesquisa nas fontes consultadas foram identificadas lacunas de conhecimentos e foi possível apontar estudos que poderão ser desenvolvidos no futuro. Essa pesquisa se caracteriza ainda como descritiva e qualitativa. Descritiva porque tem como o objetivo principal descrever as características de determinado fenômeno ou estabelecimento de relações entre as variáveis (GIL, 1999). É qualitativa pois considera o ambiente como fonte direta dos dados e o pesquisador como instrumento chave, e tem maior preocupação na interpretação do objeto do estudo e a análise dos dados deve ser realizada de forma intuitiva pelo pesquisador (GODOY, 1995). 2 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL APLICADO ÀS EMPRESAS Segundo Brown (2003, p.6), “criamos uma economia que não pode sustentar o progresso econômico, uma economia que não pode nos conduzir ao destino desejado”. A evolução das teorias e práticas sustentáveis precisa incluir a participação de todos os atores sociais e, fundamentalmente, das empresas. É urgente a necessidade de reflexão do empresariado sobre qual o seu papel no desenvolvimento social e qual seu impacto ambiental. Por isso, também é preciso de uma mudança de paradigma, onde a sustentabilidade ganhe uma nova dinâmica, nascida da interação e cooperação entre governos, empresas e sociedade civil, todos voltados para a construção de uma sociedade mais justa e sustentável. Ao longo dos séculos e tendo como base a revolução industrial, alguns setores da economia passaram a ser vistos como essencialmente negativos, que visam tão somente o lucro, sem se importar com as consequências do consumo e produção desenfreados e dos impactos que isso poderia e pode causar no CONHECIMENTO E GESTÃO

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meio ambiente, o que tem feito com que as empresas adotem novas formas de pensar e agir. Almeida (2002, p.53) apresenta essa situação da seguinte forma: Acostumado a dividir o universo em compartimentos estanques para poder entendê-lo – fruto de uma visão cartesiana, mecanicista, reducionista, forjada em trezentos anos de Revolução Científica e Industrial –, nos últimos anos do século XX o homem viu-se às voltas com a constatação de que a natureza não se deixa apreender completamente pelas ferramentas tradicionais de análise [...]. Para ser compreendida, pede um novo: orgânico, holístico, integrador.

É cada vez mais necessário buscar novas formas que contribuam não somente para os negócios, mas também para a construção de uma sociedade sustentável. Assim, investir em sustentabilidade empresarial, além de contribuir para o crescimento dos negócios devido ao impacto positivo que isso causará na comunidade na qual a empresa está inserida, constitui-se num comportamento ético e altruísta, beneficiando a sociedade e a própria empresa. Uma sociedade é responsável “ao atender, simultaneamente, aos critérios de relevância social, prudência ecológica e viabilidade econômica, os três pilares do desenvolvimento sustentável” (SACHS, 2002, p.35). Para que isso de fato aconteça é necessário que as empresas adotem políticas e práticas sustentáveis no âmbito empresarial, buscando, a partir de então, incorporar estrategicamente aos negócios o tripé do desenvolvimento sustentável. A partir da década de 90 a importância da sustentabilidade empresarial ganhou força. Com a criação do WBCSD – World Business Council for Sustainable Development, em 1992, e em 1997 a fundação do CEBDS – Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável e ainda, em 1998, a fundação do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, esse movimento definitivamente marca o surgimento de um novo pensamento empresarial e coletivo. Um pensamento onde é possível se desenvolver de forma sustentável, com lucratividade. Tendo em vista o conceito atual, é perceptível que a adoção de práticas empresariais sustentáveis é uma realidade possível, ao alcance de todos, inclusive para as MPEs. Hoje, ser uma empresa sustentável está intimamente relacionado a questões culturais, experiências acumuladas ao longo dos anos, às práticas das vivências da empresa e da sua atuação no meio ao qual está inserido. Incorporar o desenvolvimento sustentável no coração das organizações é um processo lento e ainda em formação, visto que a construção do termo de CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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sustentabilidade empresarial ainda é um movimento recente, pouco difundido e pouco debatido. Assim, para fins desta pesquisa, foi analisado o conceito e a prática da sustentabilidade empresarial, tomando duas áreas fundamentais e substancialmente reconhecidas pela sociedade como novos comportamentos éticos do setor empresarial: a responsabilidade social e a ecoeficiência. 2.1 A RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL Impulsionadas pelo novo contexto mundial, as empresas procuraram adotar modelos de gestão mais sustentáveis. Partindo desse ponto, a responsabilidade social empresarial surge como alternativa de se colocar em prática a sustentabilidade empresarial. Ser socialmente responsável significa, entre outras coisas, que o crescimento econômico é uma contribuição pequena, diante daquilo que as empresas devem oferecer à nossa sociedade. A responsabilidade social empresarial é a atuação social da empresa, passando por todos os níveis organizacionais. Essa atuação responsável procura dar à empresa um caráter mais humano, mostrando interesses maiores que simplesmente o lucro. Ao adotar essa nova forma de pensar e agir, a organização busca deixar sua contribuição para a sociedade como um todo (ALESSIO, 2008). Ser uma empresa que prima pela responsabilidade social empresarial exige da organização um posicionamento estratégico, que considere em todo o seu negócio os interesses e as necessidades de todos os públicos envolvidos e que serão afetados, direta ou indiretamente, pelas atividades da empresa. Adotar uma postura voltada para uma gestão sustentável constitui como um diferencial e fator que impulsiona o crescimento, visto que a sociedade civil mundial tem cobrado uma postura voltada para a preservação ambiental e qualidade de vida dos indivíduos. 2.2 ECOEFICIÊNCIA Outra forma atual e que demonstra responsabilidade social empresarial é através da ecoeficiência. Ser ecoeficiente é oferecer bens e serviços que satisfaçam as necessidades dos clientes, gerando impactos ambientais menores e que possam ser absorvidos pela natureza. Segundo o WBCSD (apud, DIAS, 2000, p.130): CONHECIMENTO E GESTÃO

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A ecoeficiência atinge-se através da oferta de bens e serviços a preços competitivos, que, por um lado, satisfaçam as necessidades humanas e contribuam para a qualidade de vida e, por outro, reduzam progressivamente o impacto ecológico e a intensidade de utilização de recursos ao longo do ciclo de vida, até atingirem um nível, que, pelo menos, respeite a capacidade de sustentação estimada para o planeta Terra.

Claro que empresas ecoeficientes não surgirão do nada. Essa postura voltada para a conservação dos ecossistemas requer muito empenho, requer inovação e mudança. Independente do porte ou da área de atuação, nesse ponto, a empresa precisa sair da sua zona de conforto, rever parceiros e modelos de produção, buscando outras maneiras de constituir e de fazer negócios. Há quem diga que este novo cenário de ecoeficiência seja, num futuro próximo, fundamental para que as empresas sobrevivam em um mercado que, além de competitivo, seja altamente sustentável. Isso só acontecerá quando novas estratégias empresariais forem adotadas, conciliando crescimento econômico com desenvolvimento social e preservação do meio ambiente. Podese arriscar dizer que a ecoeficiência será uma grande vitrine para o desenvolvimento dos mercados nas próximas décadas. 2.3 SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL – SGA Os Sistemas de Gestão Ambiental (SGA) são formados pelas políticas, pelos programas, metas e práticas que visam à preservação do meio ambiente (de acordo com a legislação aplicável, tecnologias limpas, ajuste dos processos internos, com o uso racional dos recursos naturais, por exemplo) e constante monitoramento dos impactos ambientais nos processos da organização. Porém, para que o SGA seja realmente eficiente, ele precisa promover a melhoria do desempenho ambiental na organização e não somente seu monitoramento. O SGA permite que a empresa aja em prol não apenas do seu desempenho ambiental, mas também auxilia no desenvolvimento financeiro, isto porque é possível obter redução de custos e, ainda, atingir outra fatia do mercado com ações provenientes do SGA. Isso fica evidenciado quando o cliente percebe a preocupação da empresa em gerar menos resíduos, o que ajuda a promover uma consciência ambiental coletiva e fidelização dos clientes. Os SGA são desenvolvidos a partir de diferentes metodologias, mas as principais estão relacionadas à ISO 14001 (de abrangência internacional) e aos CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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EMAS (que diz respeito à União Europeia e à economia da Europa). Ambos os processos são instrumentos de autorregulação para a proteção do meio ambiente e sua semelhança se dá na medida em que dizem respeito aos sistemas de gestão ambiental, mas diferem no conteúdo e também no efeito. As normas ISO 14000 descrevem os requisitos básicos internacionais para um Sistema de Gestão Ambiental e encontram-se divididas em duas partes: processos e produtos. No que se refere ao Sistema de Gestão Ambiental temos a ISO 14001, que estabelece os requisitos fundamentais para o desenvolvimento de um Sistema de Gestão Ambiental, e a ISO 14004, que serve como diretriz para a implementação ou aprimoramento do SGA. A proposta de SGA para MPEs é baseada na metodologia da ISO 14001. É uma simplificação dos requisitos exigidos pela ISO 14001, tornando-a mais acessível para as MPEs. Há outro modelo, proposto por Seiffert (2008), que faz referência a uma nova forma de adoção do SGA, defendendo uma cooperação entre MPEs semelhantes, o que é bem atrativo para as empresas franqueadas. Segundo Seiffert (2008), um SGA - 14001 tem entre seus elementos integrantes: Uma política ambiental, o estabelecimento de objetivos e metas, o monitoramento e medição de sua eficácia, a correção de problemas associados à implantação do sistema, além de sua análise e revisão como forma de aperfeiçoá-lo, melhorando dessa forma o desempenho ambiental geral. (SEIFFERT, 2008)

Assim, o sistema de gestão ambiental “apresenta-se como um processo estruturado que possibilita a melhoria contínua, num ritmo estabelecido pela organização de acordo com suas circunstâncias, inclusive econômicos” (SEIFFERT, 2008) 2.4 PDCA O PDCA (Plan, Do, Check e Act – Planejar, Executar, Checar e Agir) foi concebido por Walter A. Shewhart e é uma ferramenta de controle de processos. O PDCA é geralmente utilizado para as atividades de análise e solução de problemas. Tornou-se conhecida e ganhou reconhecimento por meio dos trabalhos executados por William Edward Deming, discípulo de Shewhart. Deming também foi responsável pelo aperfeiçoamento do PDCA. CONHECIMENTO E GESTÃO

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O ciclo PDCA é definido por Werkema (1995) como “um método gerencial de tomada de decisões para garantir o alcance das metas necessárias à sobrevivência de uma organização”. Werkema afirma ainda que o PDCA representa o caminho a ser seguido para que as metas estabelecidas possam ser atingidas, e há duas metas a serem atingidas: metas para manter e metas para serem melhoradas. Para que isso aconteça as atividades de planejar, executar, controlar e agir precisam acontecer sistematicamente para que as mudanças realmente aconteçam e culminem nas melhorias dos processos organizacionais. O PDCA não é um ciclo estático, precisa estar sempre evoluindo, tendo seus efeitos medidos e observados, sabendo que o final de um ciclo significa o início de outro processo, que visa uma melhoria paulatina no sistema e uma evolução para a empresa. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Debater sobre o desenvolvimento sustentável do planeta cada vez mais faz parte do quotidiano da população, e com o intuito de provocar uma reflexão sobre o tema, especialmente sobre o modelo de desenvolvimento adotado pela sociedade ao longo dos séculos é que foi realizada essa pesquisa. Promover a sustentabilidade exige ação conjunta e coordenada. É necessário um envolvimento dos cidadãos, das empresas e do governo a fim de lançar luz sobre a atuação das MPEs e da sua responsabilidade socioambiental é que essa pesquisa nasceu. Buscou avaliar a influência da inovação na proposição e execução de ações empresarias mais sustentáveis, mostrando que os investimentos em sustentabilidade também podem trazer vantagens econômicas para as empresas, além de melhorar dessas perante a sociedade na qual está inserida. Ainda está muito presente a ideia de que ações de responsabilidade socioambiental são iniciativas complexas no mundo dos negócios. As MPEs, mesmo com poucos recursos e estrutura, conseguem atuar em uma relação estreita com a comunidade onde estão inseridas. Algumas ações praticadas pelas MPEs são descontínuas e não sistemáticas, assemelhando-se mais a uma ação de filantropia do que de responsabilidade social. É comum que o microempresário, por exemplo, não faça distinção entre as duas coisas. Não há como passar despercebida a importância da responsabilidade social para as organizações empresariais na atualidade, sejam de grande ou CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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pequeno porte. Visto que as MPEs gozam de uma maior proximidade com a população, é fundamental a capacitação e conscientização do empreendedor a respeito da relevância de ações de responsabilidade socioambiental. Como evidenciamos, todas as empresas, independente do porte, podem adotar medidas socioambientais corretas. Partindo desse ponto é necessário que as MPEs planejem e executem ações na busca da satisfação de seus colaboradores, sem deixar de lado os interesses da comunidade e ainda a preservação do meio ambiente. Por sua vez, as instituições que apoiam as MPEs e a pesquisa acadêmica precisam intensificar as investigações científicas, com o intuito de oferecer incentivos e subsídios para que essas organizações sejam mais competitivas por meio de ações de responsabilidade socioambiental. REFERÊNCIAS ALESSIO, Rosemeri. Responsabilidade social das empresas no Brasil: reprodução de postura ou novos rumos? Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008. ALMEIDA, Fernando. O bom negócio da sustentabilidade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Agenda Ambiental na Administração Pública (A3P). Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2009. Disponível em: . Acesso em: 24 abr. 2016. BROWN, Lester R. Eco-economia: construindo uma economia para a terra. Salvador: UMA, 2003. DIAS, Reinaldo. Gestão ambiental: responsabilidade social e sustentabilidade. São Paulo: Atlas, 2006. SEIFFERT, Mari Elizabete Bernardini. Environmental impact evaluation using a cooperative model for implementing SEM (ISO14001) in small and medium-sized enterprises. Journal of Cleaner Production, n. 16, 2008, p.1447-1461 Disponível em: http://www.sciencedirect.com. Acesso em: 22/05/2016. WERKEMA, M. C. C. Ferramentas estatísticas básicas para o gerenciamento de processos. Belo Horizonte: Fundação Christiano Ottoni, 1995. ANÁLISE DA OFERTA DE IMÓVEIS ADAPTADOS CONHECIMENTO E GESTÃO

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PARA IDOSOS COM LIMITAÇÕES MARCIO PEDRO CABRAL1 FERNANDO FERREIRA DOS SANTOS2

RESUMO O objetivo do presente trabalho foi analisar, de forma concisa, a oferta de imóveis adaptados para idosos com limitações temporárias ou permanentes no Distrito federal. Para esta análise empreendeu uma pesquisa de revisão bibliográfica e análise do conceito de longevidade, bem como levantamento do contexto histórico e social dos mais longevos, efetuado em artigos científicos, livros, legislações pertinentes, documentos e sites oficiais. Seu foco principal é a questão imobiliária, envolvendo a oferta de imóveis adaptados para idosos com limitações diante do quadro de aumento da longevidade populacional e suas implicações nos diferentes setores da vida, primando pela qualidade de vida e autonomia dos mesmos. Os resultados revelaram que há uma necessidade latente de adequar os imóveis desta região para uma sociedade que está envelhecendo, a fim de prepará-la para uma vida mais longa, com autonomia e melhor qualidade de vida, proporcionando assim aos mais longevos uma melhor forma de lidar com os desafios que envolvem a vida moderna. O aspecto singular deste trabalho reside no fato do resgate do conceito de pessoa idosa produtiva e autônoma com maior longevidade. Palavras-chave: Oferta imobiliária. Idosos. Longevidade. Lei do idoso. 1 INTRODUÇÃO A longevidade da população mundial é uma realidade cada vez mais avassaladora e palpável. Realidade essa possível por diversos motivos, pelas facilidades que a vida moderna trouxe para todos, diminuindo, assim, a carga de trabalho, ou pelo poder aquisitivo adquirido ao longo da vida, tornando possíveis melhores condições de atendimento médico hospitalar, maior acesso a medicamentos e tratamentos. 1

Mestrando em Gestão do Conhecimento nas Organizações - Unicesumar. Graduação em Filosofia - PUCPR; Especialização em Psicopedagogia Institucional, Clínica e Hospitalar pela Faculdade Dom Bosco; Especialização em Docência no Ensino Superior pela PUCPR. 2 Graduação em Negócios e Empreendimentos Imobiliários pela Unicesumar – Centro Universitário de Maringá. Pós Graduação Latu-sensu em MBA em Negócios e Empreendimentos imobiliários. (em curso).

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Tem, então, o seguinte cenário, uma população cada vez mais longeva, com necessidades ou incapacidades a serem supridas de acordo com suas especificidades. Nesse sentido, como gestores imobiliários não é possível desprezar esta realidade, e urge pensar em como atender essa população. Surgem então alguns questionamentos ligados ao tema, sendo que particularmente, na região do Distrito Federal, é tratado com relevância. Os empreendimentos estão sendo preparados para esta população? Pessoas idosas e idosas com limitações estão sendo atendidas em suas necessidades quanto aos imóveis ofertados? Que tipos de empreendimentos podem ser ofertados a estes idosos com maior longevidade e com limitações temporárias ou não? Desta forma, a pergunta que este trabalho tentará responder é: A oferta de imóveis no Distrito Federal atende aos idosos em suas necessidades, proporcionando maior autonomia, conforto e segurança, contribuindo para sua melhor qualidade vida? Este estudo foi realizado por meio de uma pesquisa bibliográfica. Segundo Vergara (2000), a pesquisa bibliográfica é realizada a partir de material já organizado, composto, sobretudo, de livros e artigos científicos, e é importante para o levantamento de elementos fundamentais sobre os aspectos direta e indiretamente relacionados ao tema de estudo. 2 ENVELHECIMENTO POPULACIONAL Segundo Ferreira (1988) em seu conceito mais simples, longevidade significa “qualidade do longevo, ou seja, qualidade daquele que tem muita idade”. Conforme a Organização Mundial da Saúde (1988), alguns aspectos devem ser considerados fatores para analisar a longevidade: hereditariedade, climáticos, ambientais, alimentares, comportamentais e medicinais. No Fifty Facts from The World Heath Report, 1998 (Cinquenta Fatos do Relatório Mundial de Saúde 1998), divulgado pela Organização Mundial de Saúde, consta um item relativo à população no mundo, caracterizando a proporção entre a quantidade de pessoas idosas e a quantidade de pessoas jovens. Esse relatório faz referência a dois grupos distintos: idosos acima de 65 anos e jovens com idade abaixo de 20 anos. A proporção é calculada na razão de velhos divididos pelo número de jovens. É a partir desta fórmula que os institutos de pesquisa fazem análises populacionais e estabelecem políticas mundiais em prol da população idosa e jovem. CONHECIMENTO E GESTÃO

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Apesar dos dois processos serem responsáveis pelo aumento da longevidade e terem sido resultado de políticas e incentivos promovidos pela sociedade, pelo Estado e pelo progresso tecnológico, as suas consequências têm sido vistas, em geral, com preocupação, por acarretarem pressões para transferência de recursos na sociedade, colocando desafios para o Estado, setores produtivos e famílias. Em 1994, um documento do Banco Mundial afirmava que o aumento da expectativa de vida ao nascer e o declínio da fecundidade nos países em desenvolvimento estão provocando a “crise da velhice”. Segundo Simões (1997, p. 169), “[...] esta crise é traduzida por uma pressão nos sistemas de previdência social a ponto de pôr em risco não somente a segurança econômica dos idosos, mas também o próprio crescimento econômico”. O desenvolvimento socioeconômico vivido pela sociedade brasileira, a partir da década de 40, proporcionou aumento na expectativa de vida dos brasileiros. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, no site da instituição (IBGE, 2013), a partir dos resultados obtidos no Censo Demográfico de 2010, que a tábua de mortalidade projetada para o ano de 2012 resultou em uma expectativa de vida de 74,6 anos para ambos os sexos, um acréscimo de 5 meses e 12 dias em relação ao valor estimado para o ano de 2011 (SILVA, et al.,2016). Diante desta realidade, com uma população mais longeva e a queda da fecundidade, o Brasil será um país de idosos em pouco tempo. Isso acarreta uma série de consequências sociais, culturais, econômicas, necessidade de implementação de políticas públicas específicas nas áreas de saúde e previdência social, a fim de fazer frente às demandas por mobilidade urbana, dentre outras. Segundo Schussel (2012), o Plano Internacional de Ação sobre o Envelhecimento, adotado nas assembleias sobre envelhecimento populacional da Organização das Nações Unidas, de Viena, em 1982, e de Madrid, em 2002, estabeleceu três objetivos no que se refere à moradia e condições de vida: Objetivo 1: Promover o envelhecimento na comunidade em que se viveu, levando devidamente em conta as preferências pessoais e as possibilidades no tocante à moradia acessível para idosos. Objetivo 2: Melhoria do projeto ambiental e da moradia para promover a independência de idosos considerando suas necessidades, particularmente dos que apresentam incapacidades. CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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Objetivo 3: Melhorar a disponibilidade de transporte acessível e economicamente exequível, para os idosos (ONU, 2003). Ainda de acordo com Silva, et al. (2016), do ponto de vista da legislação, o Estatuto do Idoso, em seus artigos 37 e 38, estabelecem que: Art. 37. O idoso tem direito à moradia digna junto à sua família de origem, ou só, quando desejar, ou ainda em entidade pública ou privada. Art. 38. Nos programas habitacionais, públicos ou subsidiados com recursos públicos, o idoso goza de prioridade na aquisição de imóvel para moradia própria observada o seguinte: I – reserva de 3% (três por cento) das unidades residenciais para atendimento aos idosos; II – implantação de equipamentos urbanos comunitários voltados ao idoso; III – eliminação de barreiras arquitetônicas e urbanísticas, para garantia de acessibilidade ao idoso; IV – critérios de financiamento compatíveis com os rendimentos de aposentadoria e pensão.

No entanto, apesar da legislação estabelecer esses critérios e verificar ações do Governo na tentativa de reduzir o déficit habitacional do país, ainda são escassos os programas nesse sentido. O distanciamento entre a lei e a realidade dos idosos no Brasil ainda é enorme. [...] para que esta situação se modifique, é preciso que ela continue a ser debatida e reivindicada em todos os espaços possíveis, pois somente a mobilização permanente da sociedade é capaz de configurar um novo olhar sobre o processo de envelhecimento dos cidadãos brasileiros (ESTATUTO DO IDOSO, 2003)..

Com o processo de envelhecimento a pessoa idosa torna-se mais vulnerável à incapacidade funcional, e esse processo pode levar às incapacidades temporárias ou permanentes, podendo ainda apresentar dificuldades em manter sua autonomia e independência, necessitando de dispositivos que lhe garantam acessibilidade. Segundo a NBR 9050 da ABNT, a acessibilidade é a possibilidade e a condição de alcance, percepção e entendimento para a utilização com segurança e autonomia, de edificações, espaço, mobiliário, equipamentos urbanos e elementos. Quanto à acessibilidade em imóveis para pessoas com deficiências ou incapacidades, algumas legislações vigentes amparam e disciplinam esta CONHECIMENTO E GESTÃO

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questão: A Constituição Federal de 2008, no capítulo que faz referência à família, criança, adolescente e idoso, estabelece: Artigo 227 - § 2º A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e dos edifícios de uso público e de fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência. Artigo 224 – A lei disporá sobre adaptação dos logradouros, dos edifícios de uso públicos e dos veículos de transporte coletivos atualmente existentes, a fim de garantir aceso adequado às pessoas portadoras de deficiência, conforme o disposto no artigo 227, § 2º.

Temos ainda algumas legislações mais específicas a respeito de acessibilidade em imóveis, que tanto regem as construções quanto as adaptações, contudo, o mais abrangente, em se tratando de imóveis, é o decreto n. 5.296/2004, que em seu artigo 8º., inciso I, define acessibilidade como: A condição para utilização, com segurança e autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de comunicação e informação, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida.

No tocante ao imóvel acessível, este não deve conter barreiras que possam constituir limitação ou obstáculos que impeçam o acesso, a liberdade de movimento ou a circulação a e segurança da pessoa com deficiência. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Observou-se que existe uma grande necessidade de adequação dos imóveis para a sociedade que está envelhecendo, proporcionando uma vida mais longa, com autonomia e melhora na qualidade de vida. Na bibliografia pesquisada não foi evidenciado nenhum empreendimento voltado exclusivamente para idosos, com foco em moradia individual e permanente. Observa-se que este tipo de oferta se prende basicamente a convivência parcial ou ao lazer de seus frequentadores, não possuindo a natureza de moradia, assim, não caracterizando um empreendimento imobiliário de cunho particular. Cabe ressaltar que estes empreendimentos oferecidos têm algumas adaptações que se enquadram nas leis de amparo aos portadores de necessidades especiais e contemplam também os idosos. No entanto, apesar de CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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existir legislação que ampara esta população ainda há de se avançar muito nesta questão, no tocante ao atendimento as necessidades específicas de moradia para os mais longevos. Verificou-se, ainda, que apesar dos idosos do Distrito Federal possuírem uma das maiores rendas per capita do país, não foi evidenciada qualquer preocupação com a oferta de empreendimentos imobiliários voltados exclusivamente para pessoas idosas. Assim, acredita-se que este trabalho possa ser uma pequena luz de alerta para esta questão, servindo como primeiro passo para o desenvolvimento de um trabalho voltado para esta área, que se mostra muito promissora e em crescimento. Por fim, deve-se ressaltar que um aspecto singular deste trabalho residiu no resgate do conceito de pessoa idosa como alguém que ainda seja produtiva e autônoma e que tem uma maior longevidade. Outro aspecto enfatizado neste estudo é a função social do gestor imobiliário na condição de provedor de imóveis mais eficientes e eficazes, visando atingir um nicho de mercado, como visto que está em crescente aumento. REFERÊNCIAS CARVALHO, J. A. M. de. Declínio da fecundidade no Brasil, ritmo de crescimento demográfico e distribuição etária da população. Revista da ANPEC, economia. Rio de Janeiro, v. 7, n. 8, p. 30-36, nov. 1984. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio básico da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988. P.687. SCHUSSEL, Z. das G. L. Os idosos e a habitação. Revista Kairós Gerontologia,15 (8), pp.53-66, dez,2012. São Paulo (SP), Brasil: FACHS/NEPE/PEPGG/PUC-SP. SILVA, Janaina et all. Eu sei, o bom mesmo é ter uma vida para viver: um olhar autoperceptivo sobre a idade adulta avançada, Revista psicologias, Vol. 2, 2016. SIMÕES, J. A. Solidariedade intergeracional e reforma da previdência. Dossiê Gênero e Velhice, p. 169-181, 1997. VERGARA, Sylvia C. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. 3.ed. Rio de Janeiro: Atlas, 2000.

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A IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA NA IMPLEMENTAÇÃO DE ÁREAS PROTEGIDAS: EXPERIÊNCIAS DO CORREDOR ECOLÓGICO SOSSEGO-CARATINGA, EM MINAS GERAIS MARIA REGINA BARION COLOMBARI 1 ROBERTA CRISTINA MAINI 2

RESUMO Este artigo touxe uma discussão sobre a importância da participação das comunidades nos processos de formação de áreas protegidas, à luz de experiências atuais de implementação do Corredor Ecológico Sossego-Caratinga (CESC), localizado na região leste de Minas Gerais. Apresentou um breve levantamento bibliográfico sobre conflitos gerados por processos de implantação de Unidades de Conservação (UCs) nas regiões do Brasil, que não interagiram com as comunidades locais, ou o fizeram de forma insuficiente, como fundamentação teórica para corroborar a questão da importância da utilização de metodologias participativas durante estes processos. Os projetos socioambientais de conservação da biodiversidade, desenvolvidos pela Fundação Biodiversitas na região do Corredor Ecológico Sossego-Caratinga, apresentados nesta pesquisa, são trazidos em sequência cronológica conforme a época de execução, traçando uma linha de análise sobre a participação comunitária em cada projeto. Tais ações são exemplos práticos da busca por um processo que valorize a interatividade e o envolvimento das comunidades rurais localizadas neste território, onde a participação se evidencia como a força motriz da implementação desta área protegida. Palavras-chave: Corredor ecológico. Participação comunitária. Áreas protegidas. Biodiversidade. Gestão de território. 1 INTRODUÇÃO A Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Mata do Sossego, localizada no município de Simonésia, na região leste do Estado de Minas Gerais foi instituída no ano 1998 pela Fundação Biodiversitas, importante organização 1

Graduação em Ciências Biológicas pela UEM. Especialização em Biologia: Bases Morfológicas e Histológicas da Integração do Organismo com o Meio Ambiente pela UEM. 2 Bacharel licenciada em Geografia pela PUC Minas em 2012, concluindo Pós Graduação MBA em Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável pela Unicesumar. Atua como Analista Ambiental, Assistente em Sistemas de Informação Geográfica e Coordenadora de Projetos na Fundação Biodiversitas, desde 2013.

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não governamental conservacionista brasileira. Nesta região, esta ONG trabalha para a proteção de uma das populações mais ameaçadas do macaco muriquido-norte, que vive nos 271 hectares de Mata Atlântica da RPPN, cujo entorno se caracteriza por fragmentação significativa da paisagem. Segundo esta instituição, o Corredor Ecológico Sossego-Caratinga (CESC) é uma área que pretende ser constituída pela conectividade dos remanescentes florestais de Mata Atlântica entre a RPPN Mata do Sossego e sua vizinha RPPN Feliciano Miguel Abdala, localizada em Caratinga – que abriga outra população de muriqui-do-norte. Este trabalho representa uma iniciativa pioneira em Minas Gerais, no contexto dos esforços que visam reduzir o cenário de devastação da Mata Atlântica na região, visando à ampliação da cobertura vegetal e, consequentemente, melhorias no habitat do muriqui-do-norte, condição considerada imprescindível para a sobrevivência desta espécie. O histórico de ações da Fundação Biodiversitas na região subsidiaram a promulgação do Decreto Estadual NE Nº 397/2014, criando oficialmente o Corredor Ecológico Sossego-Caratinga – o primeiro reconhecido pelo Estado – com o objetivo de colocar em prática a conservação da biodiversidade local, por meio de fomento do desenvolvimento sustentável das comunidades rurais – tipo de ocupação predominante no território do CESC e nas suas imediações utilizando como principal instrumento a construção da gestão participativa. Para alcançar esses objetivos, a Fundação Biodiversitas ao longo dos anos busca criar condições para promover ambientes que levem a relações de confiança com os produtores rurais, com as escolas e com os moradores de forma geral, por meio do incentivo de suas participações nas ações. Assim, o objetivo principal deste trabalho foi compreender, de forma geral, a importância da participação das comunidades que vivem nas imediações das Unidades de Conservação (UCs) formadoras do CESC, no processo de implantação desta área protegida, bem como trazer relatos de experiências recentes obtidas durante a execução do Projeto Conexão: Implementando o Corredor Ecológico SossegoCaratinga. Avaliar as parcerias firmadas ou fortalecidas com as comunidades rurais no Projeto Conexão, portanto, é fundamental para o aprimoramento de próximas ações na região. Nesse contexto, a motivação e o desenvolvimento desta pesquisa são consequências da experiência direta da autora deste artigo na coordenação do referido Projeto Conexão. Desta forma, para se compreender a importância da participação popular nesse processo, este breve estudo foi construído através de CONHECIMENTO E GESTÃO

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diálogos – formais e informais, ora como técnica ora, como pesquisadora – com os atores sociais que vivenciaram as experiências dos Projetos Doces Matas, Corredor Ecológico Sossego-Caratinga (primeira fase) e do atual Projeto Conexão: Implementando o Corredor Ecológico Sossego-Caratinga (segunda fase). O artigo se constrói em uma sequência, buscando refletir sobre o histórico de implementação de áreas protegidas no Brasil e resgata, de forma geral e breve, os resultados dos projetos já desenvolvidos pela Fundação Biodiversitas, traçando uma linha evolutiva do perfil da participação comunitária no CESC. Finalmente, há a análise dos resultados obtidos com esses diálogos no Projeto Conexão, contribuindo assim para o debate da gestão ambiental participativa e para as possibilidades do desenvolvimento de sociedades sustentáveis. 2 A FORMAÇÃO DE ÁREAS PROTEGIDAS E O DESAFIO DOS PROCESSOS PATICIPATIVOS DAS COMUNIDADES LOCAIS A participação das comunidades localizadas no interior e nos arredores de UCs nos processos de formação de áreas protegidas ainda é um desafio para à conservação da biodiversidade no Brasil. A lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) tem assegurada em suas diretrizes a “participação efetiva das populações locais na criação, implantação e gestão das unidades de conservação” (SNUC, 2000). No entanto, a participação comunitária no processo de criação de UCs e de gerenciamento de suas áreas de influência direta constitui um dos mais polêmicos aspectos dos trabalhos voltados para a conservação da biodiversidade, não apenas no Brasil, mas também em todo o mundo. A implantação dessas áreas possui grande importância diante do uso predatório dos recursos naturais que a humanidade vem protagonizando (BENSUSAN, 2006). Várias experiências em todas as regiões do Brasil podem ser aqui mencionadas, tanto para evidenciar o problema da falta de participação comunitária na gestão de áreas protegidas quanto para apontar iniciativas que trazem novas perspectivas de envolvimento da sociedade. Essas experiências são importantes para elevar o patamar do diálogo entre órgãos de governo, empresas e sociedade civil, com o objetivo de transformar o desafio de implementar e gerir as UCs e seus entornos por meio da conscientização da responsabilidade compartilhada por toda a sociedade. A própria Constituição Federal de 1988, em seu artigo 225, assegura a todos o direito ao meio ambiente CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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ecologicamente equilibrado, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lotanto para esta quanto às futuras gerações (BRASIL, 1988). Além disso, neste marco político, buscou-se “legitimar as formas coletivas de decisão das políticas públicas, preconizando a cooperação das associações representativas nos planejamentos locais de interesse da população, através dos conselhos gestores” (WSTANE, 2013, p.85). Nas regiões norte e centro-oeste do Brasil, por exemplo, pode ser citado o Seminário de Gestão Participativa de Unidades de Conservação no Sul do Amazonas, Nordeste de Rondônia e Norte de Mato Grosso (IEB, 2013). No nordeste, há o exemplo da Reserva Biológica Santa Isabel, em Sergipe, uma região de restinga, cujos conflitos gerados permeiam uma série de impactos socioambientais, acarretando perda dos recursos biológicos e culturais (ANDRADE, et. al., 2013). Na região sul, o caso da Praia de Naufragados, no Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, no estado de Santa Catarina, a exclusão da comunidade nativa promoveu grave conflito socioambiental (REIS, 2002). Na região sudeste, as experiências do Comitê do rio das Velhas e seus Subcomitês, juntamente com o Projeto Manuelzão e seus Núcleos, desenvolvem um movimento social muito importante na luta pela qualidade ambiental dos rios em ambientes urbanos, para o fortalecimento das questões ecológicas e participativas na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais (WSTANE, 2013). É perceptível, portanto, certo amadurecimento dos processos participativos em todo o Brasil, onde se acumulam histórias que vão tecendo as tendências regionais, na construção das realidades socioambientais. 2.1 A PARTICIPAÇÃO DAS COMUNIDADES LOCAIS NOS PROCESSOS DE GESTÃO DE PROJETOS AMBIENTAIS NO HISTÓRICO DE IMPLANTAÇÃO DO CESC No caso do CESC, as dificuldades não se dão propriamente na implantação das referidas UCs formadoras do território - mesmo porque se tratam de áreas particulares (RPPNs) - mas sim, no envolvimento das comunidades rurais do entorno. A área do CESC se caracteriza por uma região que apresenta uma vegetação natural do Bioma Mata Atlântica, altamente fragmentada sob uma matriz de uso antrópica, formada principalmente por pastagens e agriculturas onde se destacam as lavouras de café. Nesse contexto, tais comunidades apresentam alta produtividade agrícola, na maioria das vezes, CONHECIMENTO E GESTÃO

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consolidada por práticas de uso da terra e dos recursos naturais prejudiciais à sua conservação, mas que garantem suas rendas mensais e o sustento da família. Cerca de 20 anos após o início dos trabalhos ainda são perceptíveis alguns sinais de resistências dos produtores rurais. Detectadas recentemente, por meio de relatos dos técnicos da Biodiversitas, estas resistências aparecem nas formas como são recebidas as visitas que eles realizam para apresentar as ações de reflorestamento e manejo da terra. O desafio se configura, portanto, na construção de formas de uso da terra que desenvolvam uma nova consciência produtiva, superando a cultura de utilização da natureza com fins estritamente lucrativos, e sem que isso implique em prejuízos econômicos para as comunidades. O projeto Conservação e Manejo dos Recursos Naturais na Mata Atlântica de Minas Gerais, mais conhecido como Projeto Doces Matas, finalizado em 2005, marcou o início das ações da Biodiversitas na região do entorno da Mata do Sossego, que desde sempre investiu em ações com objetivos ligados à experimentação participativa e de práticas agroambientais sustentáveis. Um dos resultados deste projeto foi obtido por meio de estudos socioeconômicos chamados de Diagnósticos Rurais Participativos (DRPs), e revelou que os agricultores identificam a qualidade ambiental dos cursos d’água como uma das vantagens em se ter uma UC na vizinhança. A qualidade das águas é a principal referência da Mata do Sossego, abrigo de importantes nascentes de rios e córregos que compõem a rede de drenagem do entorno, garantindo o suprimento de água nas casas dos agricultores (BIODIVERSITAS, 2001). Segundo Moisés Raposo (atualmente vereador do município de Simonésia, em entrevista para esta pesquisa, em maio de 2016), que na época era colaborador do projeto, a participação dos produtores rurais e das comunidades era significativa, pois havia grandes grupos que desenvolviam reuniões, oficinas e experimentos, além de uma rede de parcerias forte e consolidada. Esta rede era formada principalmente pelas Comunidades Sossego, Eliotas, Teixeiras, São Sebastião e Santa Efigênia (todas localizadas no entorno da RPPN Mata do Sossego); pela Ampromatas (organização não governamental local) e pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Simonésia. Tão logo tomamos conhecimento de desmatamentos ocorridos nas imediações da Mata do Sossego, fizemos uma grande mobilização envolvendo as escolas, e também algumas comunidades do CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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entorno. Na época, éramos apenas voluntários dispersos, mas com esta situação, tornou-se necessária a mobilização de forma mais organizada. Daí, um grupo de pessoas aderiu a uma proposta que eu fiz, de criação de uma associação para dar mais peso nas lutas que viriam. Foi aí que surgiu a AMPROMATAS – Associação de Amigos Protetores das Matas Simonesienses, que teve o seu fortalecimento com o apoio do Projeto Doces Matas, tanto em capacitação como também nas diversas ações que aconteceram a partir de então (INFORMAÇÃO VERBAL).

É importante ressaltar que em vários roteiros de conversas emergiram reflexões sobre a continuidade das ações, uma vez que o próximo projeto levou muito tempo até ser iniciado: a primeira fase do Projeto Corredor Ecológico Sossego-Caratinga, vigente entre os anos de 2011 e 2013. Este projeto foi concebido com intuito de iniciar as ações efetivas de reflorestamento, marcando o início do trabalho de conectividade dos fragmentos florestais entre as RPPNs Mata do Sossego e Feliciano Miguel Abdala. Dessa forma, nesta primeira etapa resgatou-se a estratégia de utilizar as Áreas de Preservação Permanente (APPs) no entorno de nascentes iniciadas no Projeto Doces Matas como foco para a recuperação florestal. Para tanto, retomou-se a aproximação com os proprietários rurais e os cadastros dos interessados em participar do projeto foram iniciados. Atividades de Educação Ambiental e difusão de técnicas agroecológicas entre os produtores rurais complementaram as ações de envolvimento e, dentre os resultados, destacam-se as 90 nascentes restauradas em mais de 60 propriedades rurais, havendo participação significativa dos produtores rurais nas oficinas de agroecologia e das crianças nas ações de Educação Ambiental. É importante lembrar que, nesta etapa, a execução do reflorestamento foi totalmente realizada pela equipe do projeto, sem o envolvimento direto dos proprietários rurais. Após a finalização deste projeto, houve o reconhecimento oficial do Corredor Ecológico Sossego-Caratinga por parte do Governo do Estado de Minas Gerais, entendido como a conquista mais expressiva do trabalho, fato que promoveu fôlego também para a aprovação da segunda etapa do projeto. Entra em cena então, em 2014, o Projeto Conexão, com vigência até 2016, trabalhando com um diferencial na estratégia de execução do reflorestamento: propor aos proprietários rurais a sua participação direta nos trabalhos naquelas áreas disponibilizadas para a recuperação florestal. Dessa forma, foi firmada uma parceria com 17 produtores rurais interessados em executar os trabalhos CONHECIMENTO E GESTÃO

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nas suas APPs - e este envolvimento foi o principal enfoque ao avaliar a evolução da participação social na formação do CESC durante o Projeto Conexão, cujos resultados estão apresentados adiante. Além disso, outro objetivo do Projeto Conexão foi instituir um Comitê Gestor, composto por entidades da sociedade civil organizada e por órgãos públicos da região, no intuito de apoiar a conservação do meio ambiente consonância com o desenvolvimento econômico e social dos sete municípios abrangidos pelo corredor ecológico. 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O trabalho parte desta realidade local onde algumas propriedades rurais ainda praticam técnicas degradantes de uso do solo, apesar do histórico de execução de projetos ambientais na região. Este fato explica o caráter de longo prazo para os resultados dos trabalhos iniciados em Simonésia, mas que nos últimos tempos tem alcançado os outros municípios que compõem o corredor ecológico. O envolvimento com as comunidades locais tem o objetivo de incentivar gradativamente o abandono das práticas produtivas tradicionais, baseadas no desmatamento e utilização descontrolada de agrotóxicos. A Fundação Biodiversitas adota metodologias participativas, que envolvem parcerias para o fortalecimento da conscientização da responsabilidade compartilhada sobre o meio ambiente, com o fito de capacitar as comunidades locais a absorverem os propósitos da formação do corredor ecológico e, ainda, assumirem a sua gestão ao despertar o envolvimento sobre a causa. Este estudo de caso foi realizado por meio de pesquisa de campo utilizando a execução do Projeto Conexão como instrumento norteador. A principal fonte do estudo foi o contato direto com 17 produtores rurais, que firmaram parceria com a Biodiversitas por meio do referido projeto, disponibilizando áreas em suas propriedades rurais para a recuperação florestal e executando os trabalhos. O contato foi construído por meio de visitas a estas propriedades rurais, realizadas periodicamente em cada etapa prevista no projeto: cadastramento, confirmação da parceria e das áreas disponibilizadas, entrega de documentações elaboradas sobre as técnicas de reflorestamentos definidas para cada área, entrega de materiais, mudas nativas e insumos, fornecimento de suporte técnico para o plantio, acompanhamento geral e monitoramento pós-aplicação das técnicas. Desta forma, a cada encontro foi CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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possível estreitar os laços com os proprietários e criar condições para que roteiros de conversas fossem estruturados, ocorrendo como uma consequência natural do trabalho e da relação de confiança que foi sendo conquistada. 3.1 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA O CESC abrange parte dos territórios de sete municípios localizados na região leste de Minas Gerais: Simonésia, Caratinga – que abrigam as reservas florestais formadoras do referido corredor ecológico - Santa Bárbara do Leste, Manhuaçu, Piedade de Caratinga, Santa Rita de Minas e Ipanema. Os proprietários rurais que firmaram a parceria com o Projeto Conexão estão distribuídos nestes municípios, exceto em Ipanema e Manhuaçu. Outras personalidades importantes de Simonésia, envolvidos nos primeiros projetos, tanto na execução quanto na participação das ações – agricultores das comunidades, membros de associações e políticos - foram inseridas da pesquisa, principalmente por apresentarem relatos que enriqueceram a apresentação do histórico de trabalhos socioambientais no CESC. Fazer este entrelaçamento de ações passadas com ações atuais traz uma capacidade de avaliação importante para futuras tomadas de decisões. 3.2 TÉCNICA UTILIZADA As técnicas utilizadas neste estudo têm característica exploratória, em que as atividades em campo tiveram como principal ferramenta a observação direta, seguida de roteiros de conversas, viabilizando acessos a algumas histórias pessoais dos parceiros, contribuindo para a riqueza dos resultados. Com o objetivo de obter um instrumento para promover a compreensão sobre as técnicas de conscientização ambiental adotadas durante o Projeto Conexão, a avaliação da participação dos proprietários rurais e/ou comunidades foi baseada por questões construídas durante o contato com estes, em que a maioria das perguntas é inserida num diálogo aberto, estimulando a “livre expressão da pessoa com quem se conversa, tratada como perita na sua própria cultura” (POSEY, 1986). No decorrer desses diálogos durante as visitas técnicas, cada qual foi sendo constituído de acordo com o momento propício e disponibilidade do produtor em se expressar. Citações diretas ou mesmo transcrições de partes dos diálogos representam bem os resultados. Investigações acerca do conhecimento dos parceiros sobre a Biodiversitas ou CONHECIMENTO E GESTÃO

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sobre o CESC antes da participação no Projeto Conexão; explicação sobre os motivos incentivaram pactuar a parceria com a instituição para o reflorestamento de suas áreas; relatos sobre o que significa viver em uma área de proteção ambiental como o CESC; grau de interesse em adequar as formas de produção agrícola/agropecuária com a adoção de técnicas sustentáveis e o interesse em participar de outros projetos ambientais que forem futuramente oferecidos na sua região são temas que inspiraram tais conversas. Seguindo a mesma metodologia utilizada na época do Projeto Doces Matas, detectada por meio do levantamento bibliográfico realizado, o roteiro de diálogo teve por objetivo obter informações descritivas gerais que promoveram a abertura para uma conversa e, a partir de então, trouxeram depoimentos sobre o desenvolvimento das experiências e possíveis resultados, além de uma avaliação pessoal de cada participante, bem com suas expectativas sobre a possível continuidade do trabalho (FRANCO, 2001). 3.3 ANÁLISE DOS DADOS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS As conversas realizadas com os proprietários rurais parceiros do Projeto Conexão promoveram condições de caracterizar as motivações, as expectativas e o grau de envolvimento e entendimento acerca das questões ambientais. A maioria deles ao responder sobre os motivos que incentivaram a participação no projeto, buscou no trabalho que executou no passado a principal fonte de embasamento para explicar o interesse nas ações de reflorestamento. Eles relatam ter um passado de árduos trabalhos na agricultura e pecuária, em épocas difíceis, quando ainda a força física era condição imprescindível para as atividades do campo. Todos os entrevistados demonstraram entendimento de que “este dia chegou” e que, quando vem a percepção de que as técnicas adotadas por tanto tempo estavam causando enfraquecimento ambiental – sinalizado principalmente pela diminuição da disponibilidade hídrica na propriedade rural – vem também o discernimento de que alguma atitude precisa ser tomada para que as próximas gerações possam usufruir de qualidade ambiental semelhante a que foi usufruída por eles. Durante as conversas a maioria dos produtores rurais parceiros ressaltou uma preocupação sincera com relação à natureza da região, à recuperação de suas nascentes e cursos d’água e às suas áreas de remanescentes florestais de Mata Atlântica, independente do tamanho que CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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represente no contexto regional. Segundo “Seu Zequinha”, morador da Comunidade Córrego dos Eliotas, em Simonésia, a consciência foi se tornando cada vez mais clara, à medida que precisou colaborar com a logística do trabalho, com a mão de obra e, posteriormente ao plantio, com o monitoramento. O “Seu Zequinha” também aprendeu mais sobre a forma correta de promover a dessedentação de suas criações de gado nos cursos d’água, demonstrando muita satisfação com a forma amigável que as orientações foram repassadas e com o apoio prestado para a conclusão do trabalho. Da mesma forma, relatos parecidos foram registrados nas entrevistas do Sr. Carlos Antônio da Silva e do Sr. Geraldo Simplício, moradores das comunidades Córrego do Laje, em Santa Bárbara do Leste, e São Simão do Rio Preto, em Simonésia, respectivamente. Além de participarem do Projeto Conexão, executando o trabalho com elevado zelo, ambos os produtores relataram acima de tudo o desejo de conservar a natureza que ainda existe nas suas propriedades rurais. Eles contribuíram fazendo a divulgação das ações, e ainda sensibilizaram seus vizinhos para participarem também com a disponibilização de áreas para a recuperação ecológica. Hoje em dia, muita gente já vê e fica falando que eu sou um exemplo para os outros, porque se muita gente fizesse o que eu estou fazendo, de plantar nas nascentes, ao invés de cortar as árvores, seria melhor. Acho que todo mundo tinha que fazer igual ao beija-flor, que faz tudo aos poucos, mas faz. E assim, se todo mundo fizesse sua parte, cuidasse do seu canto, teriam a ideia de que estão cuidando de um grande patrimônio (INFORMAÇÃO VERBAL).

Na maioria das áreas disponibilizadas pelos produtores rurais, durante as visitas de monitoramento, detectou-se uma execução cuidadosa dos plantios e demais técnicas. Nestes momentos foram reiteradas as questões acerca da satisfação em participar do Projeto Conexão e, também, sobre a localização da propriedade rural dentro do CESC ou em suas imediações. Os relatos foram sempre positivos com relação a essas questões, o que traz um resultado muito favorável para o crescimento da conscientização ambiental da população na região.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao final de uma pesquisa como esta, a principal constatação é de que o trabalho para conservação de uma espécie em extinção torna-se muito maior do que se imagina durante a concepção das ideias. Aquilo que a princípio é um trabalho de caráter biológico, apenas embasado no estudo de uma espécie, visando o entendimento de suas necessidades que traçam as estratégias de conservação, para ser de fato funcional requer a adoção de variadas ações complementares de envolvimento das realidades socioculturais. Cresce cada vez mais o reconhecimento de que áreas protegidas não apresentam eficácia de conservação ao se manterem como ilhas, em meio a uma paisagem de interferências variadas. As experiências com a formação de corredores ecológicos reafirmam os benefícios que podem ser alcançados para toda uma população. As pluralidades socioculturais são elementos indispensáveis para nortear as ações que visam à conservação da biodiversidade de uma região e, num primeiro momento, a interação com as comunidades pode ser um dos maiores obstáculos. Porém, os investimentos nas parcerias com as mesmas trazem resultados significativos para a implantação de áreas protegidas, no que se refere aos processos de gestão participativa. É fundamental também, para que não sejam enfraquecidos os resultados, que as instituições mantenham a continuidade dos trabalhos esforçando-se para que as pausas entre o fim de um projeto e o início do próximo constituam curtos espaços de tempo. Esta questão é frequentemente apontada pelas comunidades, que atribuem às ausências de atividades, a explicação para fatos como a dispersão de grupos, dissolução de associações e perda de motivação. Muitas vezes é preciso reiterar e manter as comunidades a par de como funciona o processo de aprovação de um projeto dessas proporções, esclarecendo que, quando há uma pausa entre os projetos, não se trata de abandono ou esquecimento por parte da instituição executora, e sim, trata-se do tempo necessário para a busca de mais financiamento de recursos para a continuidade. A participação das comunidades é, sem dúvida, a força motriz que leva adiante a superação de uma região em termos de potencialidade de desenvolvimento sustentável, e isso é o que torna o processo de formação de áreas protegidas legítimo, verdadeiro e eficaz. CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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REFERÊNCIAS ANDRADE, Ana Bárbara de; MELO, Edilaine Andrade; SANTANA, Marlucia Cruz de. Proteção dos Recursos Naturais da Reserva Biológica Santa Isabel: o Papel das Populações Locais. Revista do Grupo de Pesquisa Processos Identitários e Poder - GEPPIP.V. 01, n. 1, jan-jun/2013. Disponível em http://seer.ufs.br/index.php/Ambivalencias/article/view/1303/1153. Acesso em: 12 mar. 2016. BENSUSAN, Nurit. Conservação da biodiversidade em áreas protegidas – reimpressão – Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006, 176p. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: 1988. 292 p. BRASIL. Lei nº 9.985, de 18 de Julho de 2000. Regulamenta o artigo 225, § 1º, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências. Ministério do Meio Ambiente, Brasília. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9985.htm. Acesso em: 12 mar. 2016. FRANCO, Fernando Silveira. Avaliação Participativa de Técnicas Ambientais Sustentáveis na Comunidade do Sossego – Simonésia – MG. Projeto Doces Matas, 2001, 30p PROJETO Doces Matas. O trabalho com comunidades rurais no entorno de unidades de conservação. Belo Horizonte: Fundação Biodiversitas, 2001. 64p. Disponível em:http://www.ief.mg.gov.br/index.php?Itemid=12&id=79&option=com_conte nt&task=vie. Acesso em 19 abr. de 2016. REIS, Georgia Maria Puluceno dos. De Náufragos a Excluídos: (des)caminhos da preservação ambiental na Praia de Naufragados. Florianópolis: Programa de Pósgraduação em Educação do Centro de Ciências da Educação da Universidade Federal de Santa Catarina. Dissertação de Mestrado, 2011. Disponível em https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/103350/303442.pdf?seq uence=1. Acesso em 19 abr. de 2016 SEMINÁRIO GESTÃO PARTICIPATIVA DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NO SUL DO AMAZONAS, NORDESTE DE RONDÔNIA E MATO GROSSO, 9 a 11 de outubro de 2012. – Brasília : IEB, 2013. 78 p. : il ; 27 cm. WSTANE, Carla. Gestão de áreas urbanas: mobilização social em torno de rios invisíveis. Belo Horizonte: Programa de Pós-graduação em Geografia, Universidade Federal de Minas Gerais. Dissertação de Mestrado, 2013. CONHECIMENTO E GESTÃO

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A IMPORTÂNCIA DO CRÉDITO RURAL PARA O AGRONEGÓCIO BRASILEIRO MARIVALDO DA SILVA OLIVEIRA 1 CRISTINE CANÇADO VASCONCELOS RIBEIRO 2

RESUMO O agronegócio é considerado o setor mais importante da economia nacional. O setor tem sofrido drasticamente diante das incertezas políticas e econômicas que assolam o Brasil, aliado à falta de planejamento e à escassez de recursos para custear a produção. Com o objetivo de fazer uma abordagem geral sobre o tema, este artigo discorreu sobre a importância do crédito rural para o desenvolvimento da economia brasileira, a origem e aplicação dos recursos, beneficiários e fontes de financiamento, concluindo-se ao final pela necessidade imediata de um planejamento adequado, melhoria na infraestrutura e melhor distribuição do crédito rural. Palavras-chave: Agronegócio. Crédito Rural. Plano de Safra. 1 INTRODUÇÃO O Agronegócio é uma das principais competências nacionais. Desempenha papel estratégico na economia, responde por um quarto do PIB brasileiro e tem expressiva participação na balança comercial. Sua evolução nos últimos anos fez com que se transformasse em segmento com alto grau de profissionalização e competitividade, tanto no mercado interno quanto no mundial. No início do segundo semestre civil de cada ano os governos preparam as estratégias para a produção agropecuária, materializando-as nos chamados “Planos de Safra”. Basicamente, os planos de safra contemplam as medidas de incentivo à produção de determinados produtos e o volume de recursos destinados à agropecuária, inclusive o montante de crédito a juros favorecidos a 1

Graduado em Medicina Veterinária pelo UniCesumar de Maringá; Especialista em Clínica e Cirurgia de Grandes Animais pela UniCesumar; pós-graduado em Docência no Ensino Superior UniCesumar; mestrando em Gestão do Conhecimento nas Organizações pela UniCesumar. 2 Graduada em Administração de Empresas pela Faculdade de Patos de Minas- UNIPAM e Graduada em Direito pela Universidade do Distrito Federal -UDF.

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ser disponibilizado no ano-safra (período compreendido de julho do ano corrente a junho do ano seguinte). Esse montante depende da disponibilidade orçamentária do Tesouro Nacional. Um dos principais pilares da política agrícola nacional é o crédito rural, institucionalizado em 1965 pela Lei. 4.829. No entanto, em função do cenário econômico atual, os bancos estão cada vez mais exigentes na concessão do crédito. A liberação do recurso está passando por uma seleção bem mais apurada e rigorosa, principalmente em função das dívidas geradas na última safra, onde a alta do dólar fez com que insumos e maquinários encarecessem fazendo com que muitos agricultores não conseguissem honrar seus compromissos, tornando assim, a inadimplência a grande vilã do crédito rural. Este cenário tem provocado atraso na liberação do crédito, levando produtores a negociarem seus financiamentos da safra com empresas privadas, a taxas de juros muito acima daquela admissível para o crédito rural, comprometendo a safra futura e atrasando o plantio. O resultado é a queda de produtividade com quebra de safra chegando muitas vezes ao patamar de 15%. Este artigo abordou o tema de forma a apresentar o crédito rural, suas finalidades e beneficiários. Em seguida discorreu sobre a importância do crédito rural para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro, apresentando alternativas para a sua utilização em épocas adequadas com vistas a evitar quebra de safra e evitar inadimplência do crédito. O artigo foi desenvolvido baseado em pesquisa bibliográfica com o objetivo de conhecer as diferentes contribuições científicas disponíveis sobre o tema. Foram feitas ainda pesquisas em sites da Internet, revistas, leis, decretos e vídeos sobre o tema. 2 O CRÉDITO RURAL O crédito rural é definido como “o suprimento de recursos financeiros a produtores rurais, ou as suas cooperativas para aplicação exclusiva em atividades que se enquadrem nos objetivos indicados no referido regulamento ” (Decreto nº 58.380, de 10 de maio de 1966). Como objetivos do crédito rural pode-se destacar o estímulo ao incremento ordenado dos investimentos rurais, inclusive para o armazenamento, beneficiamento e industrialização dos produtos agropecuários; favorecimento do CONHECIMENTO E GESTÃO

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custeio oportuno e adequado da produção e a comercialização dos produtos agropecuários; fortalecimento do setor rural; incentivo a introdução de métodos racionais de produção, visando o aumento de produtividade, melhoria do padrão de vida das populações rurais e a adequada defesa do solo. Por outro lado, não constitui função do crédito rural – financiar atividades deficitárias ou antieconômicas; financiar o pagamento de dívidas; possibilitar a recuperação do capital investido; favorecer a retenção especulativa de bens; antecipar a realização de lucros presumíveis; amparar atividades sem caráter produtivo ou aplicações desnecessárias ou de mero lazer. Assim, o Governo Federal divide sua política de atuação junto ao setor rural em duas vertentes. Uma voltada para a agricultura familiar, sob o comando do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e outra de responsabilidade do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), voltada para a chamada agricultura patronal ou de mercado. Na vertente agricultura Familiar, a política de crédito visa prestar atendimento diferenciado aos mini e pequenos produtores rurais que desenvolvem suas atividades mediante emprego direto da sua força de trabalho e de sua família, a exemplo do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), criado pelo Governo visando condições mais favorecidas, principalmente em termos de taxa de juros e prazo de pagamento. Na vertente agricultura de Mercado, o Governo tem procurado intervir o mínimo possível sendo sua principal política de apoio ao setor, a de regulamentar e oferecer mecanismos por meio dos quais o sistema bancário possa conceder recursos com taxas prefixadas e favorecidas em relação ao mercado financeiro. Nesse sentido, o segmento tem acesso a linhas de crédito de custeio, comercialização e investimento, com taxas e prazos compatíveis com as atividades agropecuárias. Para a execução do crédito rural foi criado o Sistema Nacional de Crédito Rural – SNCR. Cabe a ele conduzir os financiamentos, sob as diretrizes da política creditícia formulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), em consonância com a política de desenvolvimento agropecuário. O SNCR é constituído de órgãos básicos, tais como, o Banco Central do Brasil, o Banco do Brasil S.A., o Banco da Amazônia S.A. e o Banco do Nordeste do Brasil S.A e ainda por órgãos vinculados como o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), agências de fomento, bancos estaduais, inclusive de desenvolvimento, bancos privados, Caixa Econômica CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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Federal (CEF), cooperativas autorizadas a operar em crédito rural e sociedades de crédito, financiamento e investimento. 2.1 FINALIDADE DO CRÉDITO RURAL O crédito rural é destinado ao financiamento das atividades de custeio das despesas normais de cada ciclo produtivo, à comercialização da produção ou, ainda, ao investimento de bens ou serviços cujo aproveitamento se estenda por vários ciclos produtivos. O crédito de custeio é destinado a cobrir as despesas da exploração das atividades agrícolas e pecuárias em um ciclo produtivo e deve ser integralmente pago com o resultado obtido na atividade financiada, sendo: - custeio agrícola destinado ao financiamento de despesas normais do ciclo produtivo, com prazo de financiamento de acordo com o ciclo da lavoura financiada, podendo chegar ao máximo de dois anos. - Custeio pecuário, destinado a financiar despesas com insumos e serviços das atividades pecuárias, como medicamentos, alimentação, mão- de-obra e manejo dos animais, com prazo de financiamento de até um ano. O crédito de comercialização é destinado à aplicação de recursos no setor agropecuário para permitir que a comercialização da produção rural ocorra com normalidade e proporcione a justa remuneração aos produtores rurais. “[...] Assegura ao produtor rural e a suas cooperativas os recursos necessários à adoção de mecanismos que garantam o abastecimento e levem o armazenamento da colheita nos períodos de queda de preço” (MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, 2016). Por fim, o crédito de investimento agropecuário é um financiamento destinado à aquisição de bens ou realização de serviços destinados à produção agropecuária, cujo retorno financeiro ocorre em vários ciclos produtivos, devendo o financiamento ser pago com o resultado dos diversos ciclos. Em alguns casos há necessidade de carência para início de amortização, de acordo com o tempo necessário para a realização das obras ou efetuadas as aquisições programadas até o início da geração de resultados financeiros compatíveis com os pagamentos previstos. Os investimentos podem destinar-se a atividades agrícolas (investimento agrícola) ou pecuárias (investimento pecuário).

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2.2 ORIGENS DOS RECURSOS Como forma de assegurar atendimento ao setor rural, a legislação define os recursos que devem ser obrigatoriamente direcionados por todos os bancos ao crédito rural. São as chamadas exigibilidades bancárias de aplicação no crédito rural, definidas pelo Conselho Monetário Nacional e normatizadas pelo Manual de Crédito Rural, formadas por - percentual da captação de depósito à vista, normatizado no capítulo 6, seção 2 do Manual de Crédito Rural (MCR 6-2); percentual da captação da caderneta de poupança, normatizado no capítulo 6, seção 4 do Manual de Crédito Rural (MCR 6-4). Além desses, existem ainda outros recursos que podem se destinar ao financiamento de atividades rurais tais como: Programas BNDES/FINAME; Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT); Orçamento da União – Operações Oficiais de Crédito (OOC); Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO); Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (FUNCAFÉ); recursos livres dos bancos (captação de diversas origens). 2.3 O CREDITO RURAL E A ECONOMIA BRASILEIRA Responsável por um terço dos empregos e um quarto do PIB, o agronegócio é alicerce e motor da economia brasileira. Sem ele, a balança comercial brasileira seria negativa. O Brasil tem papel de destaque no suprimento de alimentos para o mundo, pois conta com clima e solo adequado para atividades agropecuárias e dispõe de imensas áreas ainda disponíveis para uso agropecuário em especial na região do bioma cerrado. A produção de grãos no país passou de 68,4 milhões de toneladas na safra 91/92 para 207,7 milhões de toneladas na safra 14/15. Mesmo com previsão de redução de 2,5% em relação à safra 14/15, a produção da safra 15/16 ainda será superior à safra 13/14 devendo atingir 202,39 toneladas. (CONAB, 2016). De acordo com a Organização das nações Unidas a população mundial que atualmente é de 7,2 bilhões projeta crescimento de cerca de 1 bilhão nos próximos 12 anos devendo alcançar 9,6 bilhões em 2050 (ONU, 2013). Para suportar a crescente demanda mundial por alimento tem-se a expectativa de que o Brasil deva contribuir com uma produção de 320 milhões de toneladas. Isso representa um incremento aproximado de 54,6% sobre a CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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produção observada na safra 14/15. No entanto, o setor de agronegócios é extremamente dependente de financiamentos, seja ele para custeio, investimento ou até mesmo comercialização, e para que o Brasil permaneça em posição de destaque no mercado mundial, o crédito rural se torna um dos principais pilares da política agrícola nacional. Por meio do plano safra o governo federal prepara estratégias para a produção agropecuária, contemplando medidas de incentivo à produção de determinadas produtos e o volume de recursos destinados à agropecuária. Isso inclui montante de crédito a juros favorecidos a ser disponibilizado no ano-safra (de julho do ano corrente a junho do ano seguinte), sendo que o mesmo depende da disponibilidade orçamentária do tesouro nacional. Um país com clima, solo, produtores competentes e tecnologia desenvolvida, tem tudo para ser a melhor agricultura do mundo. O Brasil já é pioneiro em culturas como açúcar, café, suco de laranja, segundo em carne bovina, soja, carne de frango, terceiro em milho e quarto em carne suína. E mesmo, tendo fechado o ano de 2015 com PIB negativo, o agronegócio manteve o seu PIB positivo em aproximadamente 2%, o que demonstra que o setor puxa a economia, ou seja, o agronegócio é o instrumento de desenvolvimento do país. 2.4 INFRAESTRUTURA NO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO Em entrevista realizada junto aos Vice-presidentes de Agronegócios e Infraestrutura do Banco do Brasil, Srs. Osmar Dias e César Borges, disponível no site (www.unibb.com.br), Omar Dias destacou que não é possível promover ainda mais o desenvolvimento do agronegócio sem o desenvolvimento da infraestrutura. Para Cesar Borges, a infraestrutura deficiente traz um custo adicional para o agronegócio, que em seu entendimento vai muito bem na chamada “porteira para dentro”, mas vai muito mal da “porteira para fora”. Isto porque o custo para se levar o produto do agricultor brasileiro até os portos e chegar aos mercados consumidores ainda é muito elevado, diante da deficiência de infraestrutura apresentada atualmente no Brasil. Na chamada “porteira para fora”, o Brasil possui novas regiões produtoras e precisa escoar rapidamente para um porto próximo, visto que o país escoa principalmente por rodovias quando deveria escoar por ferrovias e no caso de portos, concentra escoar para portos como Santos e Paranaguá, CONHECIMENTO E GESTÃO

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mesmo quando a produção se dá, por exemplo, no Centro Oeste, cuja produção deveria ser conduzida para o Rio Amazonas e rapidamente com custo menor chegar aos mercados Europeus e Costa Leste americana. Para Osmar Dias, a infraestrutura pode trazer redução de custo para o produtor brasileiro em torno de 30%, é o que se chama “custo Brasil” que onera as exportações brasileiras tirando recursos que poderiam ficar no bolso no produtor rural e melhorar cada vez mais o agronegócio no Brasil. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS A economia brasileira está enfrentando uma de suas piores crises, em consequência disso, o agronegócio tem sido cada vez mais atingido. As instituições financeiras temendo o aumento da inadimplência dificultam ainda mais este cenário, com processos de crédito mais rigorosos, exigência de garantias mais robustas, sejam elas penhor de safra, hipotecas, seguro agrícola além de maiores exigências cadastrais. Para analistas de mercado, o momento é de se criar um ambiente de negócios mais seguro e estruturado no setor, com sólidos investimentos em políticas agrícolas, infraestrutura, logística e, principalmente, tecnologia, uma das grandes responsáveis pelo aumento da produtividade brasileira. Precisa-se, urgentemente, investir em políticas públicas voltadas ao agronegócio. Gargalos como o crédito agrícola e a falta de uma infraestrutura logística que atenda com maior eficiência o escoamento da produção interna e externa precisam ser priorizados. Para Roberto Simões, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais, a palavra-chave é planejamento. As grandes potências fazem planejamentos, a exemplo dos Estados Unidos que possuem a Farm Bill (nome popular da legislação agrícola norte-americana), na qual os agricultores e o governo americanos sabem, com clareza, os papéis que têm de desempenhar na produção agropecuária do país, fazendo com que façam investimentos seguros nas lavouras e aumentem a produção com adoção de inovações técnicas. Também na Europa a política adotada privilegia os princípios da unicidade de preços, solidariedade financeira e preferência comunitária, com a finalidade de assegurar preços razoáveis aos consumidores e remuneração estimulante aos agricultores, garantindo assim a autossuficiência alimentar da Comunidade Europeia. CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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Muito embora o agronegócio brasileiro já tenha demonstrado que consegue acompanhar a evolução das grandes potências, seja em gestão, produção e até mesmo em inovação, a Agricultura brasileira ainda é muito carente de um planejamento adequado, com inserção de uma política agrícola de médio e longo prazo. O planejamento de longo prazo precisa imediatamente ser iniciado com ações que viabilizem e assegurem estabilidade ao setor agropecuário. O Brasil precisa de uma infraestrutura adequada, redução de cargas tributárias, política de preços, programas eficientes, seguros agrícolas eficientes, créditos compatíveis com a atividade, enfim, precisa de um programa nacional voltado para o desenvolvimento agrário do país. Tem a terra, tem a mão de obra, o homem do campo que conhece a terra, mas o agronegócio não tem o apoio e planejamento necessário para seu desenvolvimento e sustentabilidade e o sucesso do agronegócio é vital para o crescimento e prosperidade do país. REFERÊNCIAS BANCO CENTRAL DO BRASIL. Manual de Crédito Rural. Disponível em: < http://www3.bcb.gov.br/mcr > Acesso em: abril. 2016. BRASIL. Decreto nº 58.380, de 10 de maio de 1966. Aprova o regulamento da Lei n º 4829, que institucionaliza o Crédito Rural. Disponível em: . Acesso em: maio 2016. BRASIL. Lei nº 4.829, de 05 de novembro de 1965. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 5 nov. 1965b. Conab - Companhia Nacional de Abastecimento. Observatório Agrícola – Acompanhamento da Safra Brasileira – Grãos V.3 – Safra 2015/16 – N.8 – Oitavo levantamento/maio 2016. Disponível em: . Acesso em: maio. 2016. DIAS, Osmar; BORGES, César. Estratégias e Gestão. Reforço de Competências Históricas. Direcionamentos BB para o Agronegócio – Agronegócios e Infraestrutura. Desenvolvido pela Universidade Corporativa Banco do Brasil. Disponível em: www.unibb.com.br. Acesso em: maio 2016.

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Ministério da Agricultura. Crédito Rural. . maio.2016.

Disponível Acesso

em: em:

ONUBR Nações Unidas no Brasil. Disponível em . Acesso em: maio.2016. SIMÕES, Roberto. Hora do Planejamento. Disponível . Acesso em: maio.2016.

em:

SIMÕES, Roberto - Presidente do SISTEMA FAEMG (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais). Hora do Planejamento. Artigo publicado no Jornal: O Estado de Minas. Disponível em: . Acesso em: maio.2016.

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RECUPERAÇÃO E PROTEÇÃO DE NASCENTES EM ÁREA URBANA NO MUNICÍPIO DE PONTA GROSSA-PR MILENE HARUMI TOMOIKE 1 PATRÍCIA PAULA RIBEIRO 2

RESUMO A necessidade de preservação das nascentes frente a um desenvolvimento urbano que confronta a legislação ambiental desafia a busca por soluções. No município de Ponta Grossa, no Paraná, as diversas nascentes localizadas em perímetro urbano prejudicam a infraestrutura de bairros e loteamentos, além de estarem sujeitas à contaminação e ao assoreamento. No presente trabalho foram mapeadas cinco nascentes que são alvo constante de reclamação pelos moradores e estão localizadas no Jardim Esperança e Jardim Manacás, em Ponta Grossa. Como solução e forma de proteção dessas nascentes deverão ser construídas caixas de solo-cimento. Já no bairro Ronda mapeou-se outra nascente com parte da Área de Preservação Permanente conservada e sem edificações em seu entorno, o que permitiu a elaboração de um plano de arborização através do plantio de espécies nativas no local. A complexidade da adoção de soluções para esse tipo de problema exige esforços para manter o equilíbrio entre as esferas econômica, social e ambiental. Palavras-chave: Nascentes. Legislação Ambiental. Mapeamento. Preservação. 1 INTRODUÇÃO A relevância da preservação do meio ambiente e o estabelecimento de legislação pertinente são recentes em relação ao desenvolvimento tecnológico e crescimento urbano da sociedade. As consequências dessa realidade comprometem a qualidade da água, visto que o desrespeito generalizado às Áreas de Preservação Permanente se reflete na destruição da mata ciliar em favorecimento da expansão urbana. A situação se agrava quando se refere às nascentes, devido a sua caracterização como elemento primordial da bacia hidrográfica e sendo, portanto, foco de diversos estudos para sua proteção. 1

Graduada em Psicologia pela Unicesumar, Pós-Graduada em Gestão Estratégica de Empresas (Instituto Paranaense de Ensino), e Mestranda em Tecnologias Limpas (Unicesumar). 2 Graduada em Agronomia pela Universidade Estadual de Ponta Grossa.

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No município de Ponta Grossa, no Paraná, em que há cerca de 170 km de arroios e 12 bacias hidrográficas no perímetro urbano, há um grande número de nascentes encontradas em áreas públicas. Essa situação desencadeia reclamações de cidadãos que residem próximos às nascentes, visto que água escoa e provoca voçorocas, comprometendo a circulação de carros e pessoas. Além disso, o risco de assoreamento e contaminação das nascentes é também uma preocupação. Sendo assim, esse mapeou as nascentes localizadas em áreas públicas urbanas na cidade de Ponta Grossa e estabelecer as medidas de recuperação e proteção viáveis a serem aplicadas em cada uma delas. 2 AS NASCENTES E SUA IMPORTÂNCIA A água é um recurso finito no planeta e se movimenta através de um ciclo hidrológico em que, uma vez evaporada, precipita e escorre até retornar às águas superficiais ou infiltra e abastece o lençol freático, acumulando-se sobre uma camada impermeável (PARANÁ, 2010). Então, quando ocorre afloramento do nível freático na superfície do solo, tem-se uma nascente (PEREIRA et al., 2011). Segundo Calheiros, et al (2004), as nascentes podem ser classificadas em dois tipos quanto à sua formação: aquelas que não apresentam acumulo d’água inicial por aflorarem em terreno declivoso e aquelas que acumulam água pelo fato de a camada impermeável estar paralela a parte mais baixa do terreno. Podem ainda ser classificadas em perene se o fluxo for contínuo, temporárias se o fluxo depender da estação chuvosa e efêmera, se surgirem durante a chuva e permanecerem por alguns dias ou horas. Independentemente de sua classificação, as nascentes são responsáveis pela manutenção dos sistemas fluviais e, se forem perenes, conseguem desempenhar essa função mesmo em períodos secos. Sabendo-se que as águas superficiais são de fácil acesso e, portanto, fontes principais de abastecimento de água da população, as nascentes revelam-se de fundamental importância para toda a sociedade (FELIPPE E MAGALHÃES-JUNIOR, 2009). A Lei Federal 12.651/2012, que dispõe sobre a proteção da vegetação nativa, define a área em torno das nascentes como de proteção permanente da seguinte forma: CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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Art. 4º Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou urbanas, para os efeitos desta Lei: IV - as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer que seja sua situação topográfica, no raio mínimo de 50 (cinquenta) metros (BRASIL, 2012).

Ainda que prevista em lei, a proteção das nascentes está longe de receber a devida importância e ser alvo de maiores estudos para sua compreensão. Não obstante, há um desrespeito generalizado à legislação no que se refere ao raio mínimo definido como Área de Preservação Permanente. Nas áreas urbanas, a questão é ainda pior devido aos interesses especulativos e imobiliários naquele espaço, o que resulta em drenagem e destruição das nascentes em favorecimento da construção civil (FELIPPE E MAGALHÃESJUNIOR, 2009). 2.1 PROTEÇÃO E RECUPERAÇÃO DE NASCENTES URBANAS Apesar de sua importância existem poucos estudos a respeito das nascentes, o que dificulta a elaboração de diagnósticos ambientais e planos de ação que visem a proteção e recuperação das mesmas (LEAL E BAPTISTA, 2010). Em contrapartida, a alteração de vazão das nascentes que sofrem intervenções urbanas pode refletir gravemente na sua dinâmica, causando até mesmo seu desaparecimento e exigindo cada vez mais o desenvolvimento de ações que revertam esse quadro (FELIPPE E MAGALHÃES-JUNIOR, 2009). Em Belo Horizonte, MG, através do Projeto Hidroambiental: Valorização das Nascentes Urbanas, o Comitê da Bacia do Rio das Velhas e Subcomitês de Bacias Hidrográficas dos Ribeirões Arrudas e Onça realizaram um trabalho de proteção das nascentes existentes nos bairros ao longo dos dois ribeirões e seus afluentes, sensibilizando e mobilização a comunidade, e nomeando alguns voluntários como “cuidadores de nascentes”. A retirada do lixo, a instalação de rede de esgoto e a recomposição da vegetação de entorno são algumas das ações realizadas nessas nascentes (CBH RIO DAS VELHAS, 2012). Em São José dos Campos, SP, foi desenvolvido o Programa de Revitalização das Nascentes Urbanas com o objetivo de preservar as nascentes nessas áreas através de práticas conservacionistas. Em 2012, atingiu-se um total de 230.000 m2 de APPs reflorestadas através do plantio de mais de 45.000 CONHECIMENTO E GESTÃO

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mudas de árvores nativas, revitalizando 33 nascentes e envolvendo escolas e comunidades (PMSJC/SEMEA, 2012, p. 10-15, apud PENIDO, 2013). Além da proteção das áreas ciliares às nascentes e da cobertura vegetal, da diminuição da contaminação por esgoto e demais poluentes e da conscientização da população, a recuperação de nascentes é realizada também através da construção de estruturas de proteção. A Cartilha “Nascentes Protegidas” desenvolvida pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Paraná, descreve a técnica para a construção de uma estrutura de conservação da fonte, um tipo de ação protetora que evita o assoreamento e a contaminação da nascente, sendo uma boa alternativa para os meios urbanos em que nem sempre é possível reconstituir a mata ciliar e a cobertura vegetal. 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O presente trabalho foi realizado em parceria com a Agência Reguladora de Águas e Saneamento de Ponta Grossa (ARAS) e através da coleta de dados em campo. 3.1 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA O município de Ponta Grossa se localiza no Segundo Planalto Paranaense, na região dos Campos Gerais, e possui cerca de 340.000 habitantes, segundo estimativas do IBGE (2010). Sendo banhada pelas bacias hidrográficas dos rios Ribeira e Tibagi, a cidade possui 170 km de arroios no perímetro urbano decorrentes das cabeceiras de drenagem de 12 bacias hidrográficas que divergem da região central em direção aos bairros e vilas. O crescimento urbano desordenado fez com que a população menos favorecida ocupasse ilegalmente as Áreas de Preservação Permanente, até mesmo no entorno de nascentes. Essa realidade não gera apenas problemas socioeconômicos, mas também ambientais. Para a realização deste trabalho e com o objetivo de proteger e recuperar as nascentes localizadas em áreas públicas do espaço urbano de Ponta Grossa, foram priorizadas aquelas que são alvos frequentes de CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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reclamações pelos moradores. As localizações das nascentes foram fornecidas por diversos setores da Prefeitura Municipal de Ponta Grossa que possuem contato com os moradores. 3.2 TÉCNICA UTILIZADA O mapeamento das nascentes foi realizado através de um aparelho GPS modelo Garmin 62 SX e a interface dos dados através do software de geoprocessamento GPS Trackmaker® (GTM). Para o georreferenciamento, utilizou-se o software Autocad 2013 e imagens obtidas pelo Google Earth. O procedimento adotado para a proteção das nascentes foi baseado na proposta da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMA) do Paraná, através da Cartilha Nascentes Protegidas e Recuperadas, publicada em 2010. 3.3 ANÁLISE DOS DADOS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS 3.3.1 Nascente jardim esperança A primeira nascente mapeada se localiza no Jardim Esperança, a sudeste do perímetro urbano de Ponta Grossa. A água proveniente dessa nascente já invadiu a rua e está prejudicando a circulação dos moradores do entorno. Além disso, as chuvas intensas potencializam o escoamento da água também para os terrenos vizinhos. Em relação à questão ambiental, a nascente está exposta ao lançamento de lixo e efluentes pela própria população, situação comum em bairros precários como este, o que compromete a qualidade da água. 3.3.2 Nascentes jardim manacás No Jardim Manacás, ao noroeste do município foram mapeadas quatro nascentes. A reclamação dos moradores é constante em relação a essas nascentes, pois a água que escoa pelas ruas causa voçorocas e compromete a CONHECIMENTO E GESTÃO

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circulação de carros e pessoas. Há casos em que as nascentes apareceram em terrenos particulares, estando sujeitas à contaminação. 3.3.3 Nascente ronda No bairro da Ronda, região sudoeste do município, foi mapeada uma nascente que, mesmo em perímetro urbano, ainda possui parte da Área de Preservação Permanente conservada. 3.3.4 Projeto de recuperação Para a recuperação das nascentes, um raio de cinquenta metros em torno delas teria que ser desapropriado para reconstituição da Área de Preservação Permanente, conforme determina a Lei Federal 12.651/2012. Porém, devido a questões políticas e sociais, essa solução se torna inviável. Nesse caso, a construção de estruturas protetoras é alternativa mais apropriada para as nascentes que sofrem maior interferência urbana, ou seja, aquelas localizadas no Jardim Esperança e Jardim Manacás. Sendo assim, baseado na Cartilha Nascentes Protegidas, realizar-se-á a limpeza da nascente, tanto da água como de seu entorno para que seja construída uma pequena barragem. O material utilizado para esse trabalho será uma mistura solo-cimento de baixo custo e que permite a realização do trabalho dentro da água. Na barragem serão instalados canos de PVC para a limpeza da água, coleta e escoamento do excesso de modo a evitar o rompimento. Após o término da barragem, a caixa coletora será preenchida com pedras e o cano de tratamento será instalado para que haja a desinfecção da nascente de tempos em tempos. A água poderá ser redirecionada ao córrego ou coletada para uso conforme a legislação e as características da nascente (PARANÁ, 2010). Já para o caso da nascente localizada no Bairro Ronda, em que não há edificações no entorno, uma área de 8296 m2 deverá ser restaurada, conforme

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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Quadro 1: Relação da quantidade de mudas por espécie a serem plantadas na área de entorno da nascente localizada no Bairro Ronda, em Ponta Grossa-PR. Nome Vulgar

Nome Científico

Quantidades mudas

de Característica

1

Araça

Psidium myrtoides

185

Pioneira

2

Araucária

Araucária angustifolia

230

Secundária

4

Aroeira

Schinus terebinthifolia

185

Pioneira

5

Bracatinga

Mimosa scabrella

185

Pioneira

6

Branquinho

Sebastiana commersoniana

185

Pioneira

7

Pitangueira

Lithraea brasiliensis

185

Pioneira

8

Canela-imbuia

Ocotea porosa

230

Secundária

Fonte: A autora, 2016.

O plantio será realizado manualmente, sendo que a cada três espécies pioneiras será plantada uma espécie secundária, totalizando 925 e 460 mudas, respectivamente. Considerando o ataque de formigas cortadeiras será realizado o combate a formigas colocando iscas para formiga (blitz) a cada 10 m² no local do plantio durante. Será realizado um coroamento em cada muda no momento do plantio para minimizar a competição com espécies invasoras. Para adubação, será utilizado, apenas no local da cova, 150g a base de fósforo (P). Ainda deverá ser estabelecido o cronograma para o desenvolvimento do projeto de acordo com a disponibilidade de recursos financeiros e mão-de-obra, visto que o trabalho será realizado em parceria com a Agência Reguladora de Águas e Saneamento, uma autarquia da Prefeitura Municipal de Ponta Grossa. 3

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A falta de controle e planejamento no desenvolvimento urbano do município de Ponta Grossa e a preocupação tardia com a legislação ambiental trouxe à realidade a existência de diversas nascentes em áreas públicas, que interferem na infraestrutura dos bairros e ficam sujeitas ao assoreamento e a contaminação. CONHECIMENTO E GESTÃO

130

Para cumprir os objetivos deste trabalho foram mapeadas seis nascentes localizadas no perímetro urbano do município de Ponta Grossa, das quais cinco são alvo de reclamação pelos moradores e uma ainda conserva parte da Área de Preservação Permanente em seu entorno. Para as nascentes localizadas no Jardim Esperança e Jardim Manacás, deverão ser construídas caixas de proteção, de forma que a água seja redirecionada e a nascente protegida. Já para a nascente localizada no bairro Ronda foi desenvolvido um plano de arborização de seu entorno, com o plantio de espécies nativas para recompor a Área de Preservação Permanente. A complexidade da adoção de soluções para esse tipo de problema exige esforços do Poder Público e Privado, dos estudiosos e Instituições, e de toda a sociedade para manter o equilíbrio entre as esferas econômica, social e ambiental. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12651.htm. Acesso em 28 de março de 2016. CALHEIROS, R. de Oliveira; TABAI, F. C. V.; BOSQUILIA, S. V.; CALAMARI, M. Preservação e Recuperação das Nascentes: de água e de vida. Comitê das Bacias Hidrográficas dos Rios PCJ. Piracicaba - SP: CTRN, 2004. Disponível em: http://www.jorgeamaro.com.br/nascentes.pdf. Acesso em 28 de março de 2016. CBH Rio das Velhas. Projeto de Valorização das Nascentes Urbanas, proposto pelo CBH Rio das Velhas, SCBH Arrudas e SCBH Onça. 2012. Disponível em: http://www.agbpeixevivo.org.br/nascentesurbanas/images/projeto/publicacoes/c atalogo.pdf. Acesso em 01 de abril de 2016. FELIPPE, M. F.; MAGALHÃES-JUNIOR, A. P. Consequências da Ocupação Urbana Na Dinâmica das Nascentes em Belo Horizonte-MG. Eixo Temático 03: Mobilidade territorial, espaço e ambiente: urbanização, metropolização e interiorização - características e impactos ambientais. Belo Horizonte-MG, 2009. pp. 1-19. Disponível em: http://www.abep.nepo.unicamp.br/docs/anais/outros/6EncNacSobreMigracoes/S T5/FelippeMagalhaes.pdf. Acesso em: 02 de abril de 2016. CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo 2010. Disponível em: http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=411990&search=p arana|ponta-grossa|infograficos:-informacoes-completas. Acesso em: 04 de maio de 2016. LEAL, J.P.S; BAPTISTA, E.M.C. Diagnóstico do estado de conservação das nascentes urbanas e rurais de Timon / MA: estudo preliminar. In: IX Simpósio de Iniciação Científica, 2010, Teresina-PI. Ciências Humanas, UESPI. Disponível em: http://www.uespi.br/prop/siteantigo/XSIMPOSIO/TRABALHOS/INICIACAO/Ciencia s%20Humanas%20e%20Letras/DIAGNOSTICO%20DO%20ESTADO%20DE%20C ONSERVACAO%20DAS%20NASCENTES%20URBANAS%20E%20RURAIS%20DE %20TIMON-MA%20-%20ESTUDO%20PRELIMINAR.pdf. Acesso em 02 de abril de 2016. PARANÁ. Nascentes Protegidas e Recuperadas. Curitiba: SEMA, 2010. Disponível em: http://www.meioambiente.pr.gov.br/arquivos/File/corh/Cartilha_nascentesprotegi das.pdf. Acesso em 28 de março de 2016. PENIDO, A. S. Programa de revitalização de nascentes em ambiente urbano: estudo de caso do processo de criação e consolidação de uma política pública em São José dos Campos, SP. São Paulo: 2013. Tese (Doutorado em Ciência). Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental, Universidade de São PauloUSP. Disponível em: www.teses.usp.br/teses/disponiveis/.../PENIDOtesePROCAMUSP2013.pdf. Acesso em: 01 de abil de 2016. PEREIRA, P. H. V., PEREIRA, S. Y., YOSHINAGA, A., PEREIRA, P. R. B. Nascentes: análise e discussão dos conceitos existentes. Periódico Eletrônico Forúm Ambiental da Alta Paulista, São Paulo, v. 07, n. 02, 2011. Disponível em: http://amigosdanatureza.org.br/publicacoes/index.php/forum_ambiental/article/vi ewFile/109/111. Acesso em 02 de abril de 2016.

CONHECIMENTO E GESTÃO

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CULTURA E CLIMA ORGANIZACIONAL: UM LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO SOBRE SUAS INTERFERÊNCIAS NA MOTIVAÇÃO DO COLABORADOR DO SERVIÇO PÚBLICO NAYARA EMI SHIMADA 1 LUCIA MARIA FERREIRA LACERDA 2

RESUMO O presente estudo teve como objetivo identificar como se a relação do clima e da cultura organizacional interfere na motivação do colaborador do serviço público. O serviço público no Brasil exerce papel determinante em diferentes setores centrais da vida coletiva. Entretanto, o serviço público é associado à imagem de pouca efetividade e de colaboradores com baixa motivação no trabalho. Entendese que a cultura organizacional, enquanto conjunto de valores e pressupostos construídos e compartilhados pelo grupo, interfere no clima organizacional. Por conseguinte, o clima organizacional é fator determinante na motivação dos colaboradores e, portanto, interfere nas atitudes adotadas pelos colaboradores em relação à organização. Portanto, sugerem-se mudanças a fim de que se altere a cultura organizacional e, por consequência, sejam alterados o clima organizacional e a motivação do colaborador para o exercício de sua função. Tais alterações são a nível: a) de gestão: reconhecimento do capital humano, propiciar ambientes livres, remuneração justa, condições ergonômicas, adequação dos interesses do colaborador à instituição e incentivar a capacitação constante; b) chefia: conhecimento dos objetivos da organização, promoção de relações assertivas, responsabilidade com o serviço e a equipe, reconhecer o trabalho desenvolvido, aproveitar os talentos; e c) dos membros do grupo: adotar práticas de ajuda mútua, comprometimento com a equipe, confiança entre os membros do grupo, resolução de conflitos, comunicação assertiva e voltada a um objetivo em comum. Tais alterações possibilitariam a obtenção de um serviço público de qualidade e efetivo. Palavras-chave: Cultura organizacional. Clima organizacional. Motivação. Serviço Público.

1

Mestre em Administração pela Universidade Estadual de Maringá (2015). Graduada em Gestão de Recursos Humanos - Tecnólogo, pela UniCesumar (2015). Graduando no curso MBA em Gestão com Pessoas, pela UniCesumar. 2

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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1 INTRODUÇÃO O serviço público no Brasil exerce papel determinante em diferentes setores centrais da vida coletiva, como saúde, educação, cultura, serviços sociais, dentre outros. Entretanto, apesar de sua importância no funcionamento da vida coletiva, muitas vezes, o serviço público é associado à imagem de pouca efetividade e de colaboradores com baixa motivação no trabalho. Esta pouca efetividade e a baixa motivação dos colaboradores afetam diretamente a população que depende do serviço público, pois suas demandas são solucionadas de maneira lenta e, muitas vezes, de maneira ineficaz. Além disso, afeta também os próprios colaboradores, que veem pouca eficácia de seus esforços e, como uma defesa psicológica, acaba por esforçar-se cada vez menos no trabalho, ocasionando um ciclo: colaborador menos motivado, menor será a efetividade do seu serviço, serviço menos efetivo desmotiva o colaborador. Diante desta problemática questiona-se como seria possível conduzir os colaboradores de forma a influenciar positivamente na motivação, engajamento e envolvimento com a organização, considerando-se que a motivação é de ordem intrínseca, contudo sofre influências de elementos externos que compõem o clima e a cultura organizacional. Portanto, o presente estudo teve como objetivo identificar, por meio de um levantamento bibliográfico, como a relação do clima e da cultura organizacional interfere na motivação do colaborador do serviço público. Para isso foi conduzida uma pesquisa bibliográfica a fim de identificar os aspectos do clima e da cultura organizacional que interferem na motivação do colaborador inserido no serviço público já apontado pela literatura, cujo levantamento foi brevemente explanado. Em seguida, foram expostos os desafios encontrados no serviço público e, por fim, foram apresentadas possíveis alternativas para a melhoria do clima e da cultura organizacional, e como isso pode impactar na motivação e engajamento do colaborador no serviço público. 2 CULTURA ORGANIZACIONAL, CLIMA ORGANIZACIONAL E MOTIVAÇÃO Neste tópico são abordados, brevemente, os conceitos de cultura organizacional, clima organizacional e motivação, observando a interligação entre estes conceitos e sua interferência no ambiente de trabalho. CONHECIMENTO E GESTÃO

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2.1 CULTURA ORGANIZACIONAL Enquanto ser social, o homem necessita estar em grupo para o desenvolvimento de determinadas tarefas. Uma vez que o grupo se inicia, iniciase, também, a construção de sua cultura, considerando-se que esta não é inata, mas sim, é construída por seus membros (PIRES; MACÊDO, 2006). A cultura pode ser entendida como o conjunto de valores e pressupostos básicos compartilhados pelos membros de um determinado grupo e expressa por meio de símbolos, como por exemplo: ações, mitos, rituais, histórias, lendas, linguagem especializada, pensamento e tomada de decisão (CHIAVENATO, 1999; PIRES; MACÊDO, 2006; SOUZA, 2014). Este conjunto de valores e pressupostos básicos foi inventado, descoberto ou desenvolvido ao longo do tempo pelo grupo, portanto, reflete o que o grupo aprendeu no decorrer de sua história, através da resolução de problemas particulares. Além disso, é considerado bom o suficiente para ser válido e transmitido aos novos membros do grupo e ganham estabilidade, uma vez que fornecem significado, estrutura e previsibilidade aos membros do grupo (CHIAVENATO, 1999; PIRES; MACÊDO, 2006). Nas organizações também ocorre a formação de uma cultura própria, sendo esta a base da organização. As crenças comuns aos colaboradores são refletidas nas tradições, hábitos, histórias, símbolos, ambiente e produtos, genericamente aceitos por todos (CHIAVENATO, 1999; PIRES; MACÊDO, 2006). A cultura organizacional é dividida em três diferentes níveis: artefatos visíveis, valores que governam o comportamento das pessoas e pressupostos básicos. Os artefatos visíveis se referem às coisas concretas da organização visivelmente observadas, como por exemplo, móveis, uniformes, linguagem utilizada (ARRUDA, 2006; PIRES; MACÊDO, 2006; SOUZA, 2014). Os valores que governam o comportamento dos membros do grupo se referem aos ideais e expectativas que as pessoas assumem como essenciais na organização. Tais valores justificam as ações e são aceitos pelos membros do grupo (ARRUDA, 2006; PIRES; MACÊDO, 2006; SOUZA, 2014). Os pressupostos básicos são ensinados aos novos membros como sendo a forma correta de perceber, pensar e sentir e não necessariamente encontram-se documentados (CHIAVENATO, 1999; SOUZA, 2014). Cada um desses níveis tem a sua particularidade e complexidade, porém é no nível dos pressupostos básicos que está a maior dificuldade em administrar CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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a cultura organizacional, uma vez que reflete as crenças inconscientes, os valores, as percepções, os sentimentos, que se estabelecem no nível mais profundo, que não sofrem mudanças ou transformam-se lentamente, contudo direcionam o comportamento das pessoas dentro da organização (ARRUDA, 2006; PIRES; MACÊDO, 2006; SOUZA, 2014). Por direcionar os comportamentos de cada indivíduo na organização, faz-se necessário uma análise da cultura organizacional, observando como foram construídos e como são mantidos os artefatos visíveis, os valores que governam o comportamento das pessoas e, principalmente, os pressupostos básicos. Apenas a partir do momento que se faz uma análise minuciosa da história da cultura de determinada organização e dos mantenedores atuais desta cultura que é possível uma intervenção efetiva. 2.2 CLIMA ORGANIZACIONAL Segundo Brunelli (2008) e Souza (2014), o clima organizacional pode ser compreendido como a atmosfera psicológica que envolve a organização. Assim, diz respeito às percepções que o colaborador tem em relação ao seu ambiente de trabalho. Tais percepções influenciam o bem-estar e satisfação do colaborador e, consequentemente, influenciam seu comportamento. Estas percepções são dinâmicas e resultantes da cultura organizacional: dos aspectos positivos e negativos da organização, dos relacionamentos entre pessoas ou grupos e de fatores externos (como, por exemplo, política, fatores sociais, fatores econômicos), sendo que este último tem impacto menos durador se comparado com os três primeiros (BRUNELLI, 2008). Brunelli (2008) ainda destaca que há uma relação de causalidade entre cultura e clima organizacional. Assim, as percepções dos colaboradores em relação à organização serão favoráveis quando a cultura desta organização atende às suas satisfações pessoais e desfavoráveis quando as frustram. Uma vez que é de grande importância que os colaboradores sejam comprometidos com as organizações nas quais atuam, faz-se necessária a análise do clima organizacional, pois tal análise pode mensurar o grau de colaboração e satisfação dos colaboradores (BRUNELLI, 2008). Para se analisar o clima organizacional faz-se necessário observar aspectos que demonstram o que os colaboradores sentem inconscientemente em relação à organização e que direciona seus comportamentos (SOUZA, 2014). CONHECIMENTO E GESTÃO

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Dentre esses aspectos indicadores do clima organizacional pode-se elencar: o turnover (ou rotatividade), o absenteísmo, as críticas anônimas nos ambientes da organização, as greves, o desperdício de materiais, os conflitos interpessoais e interdepartamentais, conteúdo das sugestões e queixas no serviço médico (SOUZA, 2014). Souza (2014) complementa afirmando que uma cultura organizacional que favorece um bom clima organizacional e, consequentemente, seja favorável ao pleno desenvolvimento humano seria aquela na qual os colaboradores são direcionados a manter relacionamentos assertivos e as decisões organizacionais são baseadas em critérios éticos e saudáveis. Em última instância, um clima organizacional favorável que é mantido por uma cultura organizacional assertiva e ética produzirá a satisfação dos colaboradores e, consequentemente, os manterá motivados para o trabalho e saudáveis emocionalmente. 2.3 MOTIVAÇÃO A motivação pode ser considerada como a força interior que coloca um indivíduo em movimento com o propósito de alcançar um determinado objetivo, sendo essencialmente de ordem interna e varia conforme a percepção, o anseio e a necessidade de cada pessoa (SOUZA, 2014). Assim, na organização, a motivação é parte integrante no processo de trabalho e pode ser considerada como fundamental e indispensável para o alcance dos objetivos organizacionais (BRUNELLI, 2008). Cabe ressaltar que a motivação não é sinônimo de felicidade constante, mas sim é definida como uma inclinação para a ação, sendo que tal inclinação tem sua origem em um motivo (ou necessidade). Por outro lado, atender à necessidade produz satisfação. Apesar de ser de ordem interna, o ambiente influencia no grau de motivação das pessoas. Segundo Souza (2014, p. 82), “o extrínseco (ambiente de trabalho, por exemplo) por si só não é motivador, porém, contribui sobremaneira para a manutenção de condições saudáveis no ambiente de trabalho”. Desta forma, a função do gestor não é criar a motivação, já que este é um fator de ordem interna, mas sim observar arranjos organizacionais que criem CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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condições e ambiente favoráveis para que essa força interior possa se desenvolver (BRUNELLI, 2008; SOUZA, 2014). Neste sentido, é necessário que o gestor de pessoas, na busca em manter a sua equipe motivada, tenha uma postura prática de: a) reconhecer os colaboradores como indivíduos com desejos e necessidades diferentes; b) valorizar os talentos de cada colaborador; c) auxiliar nas áreas onde apresentam dificuldades; d) oferecer condições físicas, estruturais e psicológicas adequadas; e) alinhar os objetivos da organização com os objetivos individuais; f) investir para que a comunicação na organização seja um ponto forte e aconteça não somente entre gestores e colaboradores, mas também entre os próprios colaboradores; g) minimizar desgastes com conflitos (PEREIRA, 2012). 3 O SERVIÇO PÚBLICO E SUAS DIFICULDADES O objetivo das organizações públicas é de prestar serviços para a sociedade, sendo que tal objetivo deve ser alcançado visando uma maior eficiência da máquina pública e um melhor atendimento à sociedade. As diferentes organizações públicas são consideradas como sistemas dinâmicos, complexos, interdependentes e interrelacionados, envolvendo informações e seus fluxos, estruturas organizacionais, pessoas e tecnologias (PIRES e MACEDO, 2006). São encontradas nesse tipo de organização algumas dificuldades específicas. Por exemplo, segundo Pires e Macedo (2006), uma das características do trabalho nas organizações públicas no Brasil é que, de forma geral, os colaboradores precisam possuir habilidades diplomáticas para lidar com possíveis tensões políticas, pois, em muitos casos, a administração é instituída não por sua competência, mas sim devido a relações de estima e jogos de influência. Neste sentido, outra dificuldade observada é que nas organizações públicas uma maior dependência do ambiente sociopolítico, uma vez que, apesar de ser possível haver autonomia na direção da organização, seu mandato e objetivos são regulados externamente (PIRES; MACEDO, 2006). Pires e Macedo (2006) ressaltam que as principais diferenças entre a organização pública e as demais organizações são o apego às regras e rotinas, supervalorização da hierarquia, paternalismo nas relações, apego ao poder. Tais características acabam por interferir na definição dos processos internos, na CONHECIMENTO E GESTÃO

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relação com inovações e mudança, na formação dos valores e crenças organizacionais e políticas de recursos humanos. Com relação aos recursos humanos, Gomes e Quelhas (2003, p. 2) salientam que: Parece continuar pautada nos princípios burocráticos da impessoalidade, do tecnicismo e do mecanicismo e orientada por uma ótica que importa em considerar os funcionários como indivíduos incompletos, isto é, indivíduos que, em sua personalidade, não possuem o componente emocional e cuja capacidade mental não extrapola o estritamente requerido para o exercício da sua atividade.

Os autores complementam, ainda, que provavelmente esta forma de administrar é a principal causa da ineficiência e ineficácia no atendimento à população dos serviços públicos, pois acaba por refletir na motivação do colaborador. Portanto, é necessário observar com mais profundidade a questão da cultura organizacional, clima organizacional e motivação no serviço público, a fim de buscar alternativas para a produção de um clima organizacional saudável, motivador, que mantém práticas culturais assertivas e éticas e que, como resultado, o serviço oferecido seja eficiente e eficaz. 4 RELAÇÃO ENTRE CULTURA ORGANIZACIONAL, CLIMA ORGANIZACIONAL E MOTIVAÇÃO NO SERVIÇO PÚBLICO Diante das dificuldades enfrentadas no serviço público, apontadas no capítulo anterior, faz-se necessário verificar quais as alternativas para que se construa um serviço público efetivo e eficaz. Neste sentido, Lopes e Regis Filho (2004, p. 62) afirmam que é necessário: Adotar uma prática gerencial apropriada capaz de alterar esse quadro mórbido e preocupante, consequência da história do desenvolvimento sócio-político-econômico do país, possibilitando, assim, melhor desempenho com maiores produtividade e qualidade.

Para que se conseguir melhores resultados faz-se necessário atentar para os seres humanos envolvidos no processo produtivo, pois são estes que assumem papel fundamental no processo, sofrem o impacto do clima CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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organizacional e mantém ou podem modificar a cultura organizacional (LOPES; REGIS FILHO, 2004). Diante disso, segundo Souza (2014), uma vez que há uma relação de causalidade entre cultura e clima organizacional, faz-se necessário verificar como foram estabelecidas e como são mantidas as regras e valores da organização, bem como observar qual tem sido o impacto de tais práticas culturais no clima organizacional e na motivação do colaborador. Lopes e Regis Filho (2004) realizaram um estudo no qual verificaram os fatores que interfeririam na motivação no trabalho em serviços de saúde pública. Os resultados indicaram que os principais fatores que produziam a desmotivação dos colaboradores foram: o não cumprimento de promessas, os salários injustos, o não reconhecimento pelo trabalho realizado, o não incentivo à especialização, a ausência de segurança física e a ausência de informações. Por outro lado, os principais fatores que produziam a motivação dos colaboradores foram: exercer uma tarefa gratificante, ter boas relações interpessoais, realizar um trabalho útil para a sociedade, à colaboração entre colegas, a confiança entre colegas, o bom relacionamento com a chefia, a confiança na chefia, a disponibilidade da chefia, a competência da chefia e as orientações da chefia (LOPES; REGIS FILHO, 2004). A partir desse estudo é possível dividir as ações administrativas capazes de resgatar os fatores de motivação e satisfação no trabalho em três níveis: a nível de gestão, a nível de chefia e a nível de grupo. A nível de gestão pública, um primeiro aspecto a ser observado é em relação ao reconhecimento do capital humano enquanto central no processo produtivo. Ao se reconhecer tal importância, o gestor poderá buscar práticas que valorizem este aspecto e consiga, por consequência, um serviço ágil, de qualidade e que atenda às demandas populacionais. Dentre as práticas administrativas que valorizam o capital humano é de suma importância adotar práticas que propiciem um ambiente livre de pressões políticas (LOPES; REGIS FILHO, 2004). Outro aspecto importante diz respeito à remuneração, esta deve ser justa e compatível ao que é praticado pelo mercado para cada função. Além disso, faz-se necessário manter ambientes e condições de trabalho ergonômicos para que o colaborador tenha o conforto necessário ao desempenho de sua função e para que se previna a ocorrência de acidentes, bem como o aparecimento de patologias específicas para determinado tipo de trabalho. CONHECIMENTO E GESTÃO

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Faz-se necessária, também, a tentativa de conciliar os interesses e capacitações do colaborador às necessidades dos serviços, a fim de obter serviços com maior competência técnica. Então, por exemplo, é mais recomendado que um Assistente Social, com formação direcionada ao setor de saúde, seja alocado em serviços de saúde do que em serviços de prevenção à violência. Por fim, também com o objetivo de obter maior competência técnica nos serviços públicos, é importante que a gestão elabore procedimentos que incentivem o colaborador a buscar capacitação constante (como, por exemplo, incentivo salarial e mudança na carga horária para a capacitação). O segundo nível de ações administrativas capazes de resgatar os fatores de motivação e satisfação é o de chefia. Como observado no estudo de Lopes e Regis Filho (2004), o estilo de chefia assumiu papel fundamental na motivação dos colaboradores. Um dos aspectos fundamentais que a chefia deve estar atenta é na promoção de relações assertivas com e entre os colaboradores, nas quais consiga transmitir suas expectativas e posicionamentos de maneira objetiva, clara, direta, honesta e apropriada ao contexto, de modo a não violar o direito das outras pessoas, como também dar ouvidos as propostas dos colaboradores. Para isso, faz-se necessário que a chefia tenha um profundo conhecimento dos objetivos e diretrizes da organização, a fim de conduzir os colaboradores de tal forma que os objetivos da organização sejam mantidos e alcançados. Tal conhecimento somado à uma postura assertiva e à responsabilidade com o serviço e com a equipe, produz a confiança dos colaboradores, o que gera uma motivação em relação ao trabalho, uma vez que estes têm a confiança de qual caminho é esperado que se trilhe. Outro aspecto importante e que interfere na motivação do servidor público é o feedback positivo, no qual se reconhece o serviço desempenhado pelo colaborador. Neste sentido, faz-se necessário estar atento para reconhecer quando o colaborador, por exemplo, supera as barreiras ou reinventa a forma de executar o serviço com o intuito de dar agilidade e efetividade ao serviço público. Certamente quando há reconhecimento do seu trabalho, o colaborador se sente gratificado e com o espírito aberto para investir ainda mais no seu trabalho, tendo mais disposição em planejar, elaborar novas formas, mesmo sabendo que isso demanda mais do seu tempo. CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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Tal atenção, além de propiciar a possibilidade do reconhecimento, faz com que a chefia conheça os membros de seu grupo, podendo, assim, aproveitar melhor as qualidades de cada colaborador. O terceiro nível de ações administrativas capazes de resgatar os fatores de motivação e satisfação é o nível das relações entre os membros do grupo. Segundo Souza (2014), para que o colaborador se sinta impulsionado a desempenhar com primazia sua função faz-se necessário que se mantenha um ambiente de trabalho saudável e satisfatório na perspectiva das relações humanas. Portanto, faz-se necessária a construção de uma cultura na qual se adote a prática de ajuda mútua, comprometimento com a equipe, confiança entre os membros do grupo, resolução de conflitos, comunicação assertiva e voltada a um objetivo em comum. Outro aspecto importante é quanto a necessidade de romper com a visão do senso comum de inefetividade do serviço público, perpetuada pela baixa qualidade dos serviços ofertados. Ao se romper com essa visão e ao ver os resultados de uma atuação efetiva, que realiza um trabalho útil para a sociedade, o colaborador sente-se motivado e com expectativas maiores do que pode ser oferecido. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo teve como objetivo identificar como a relação do clima e da cultura organizacional interfere na motivação do colaborador do serviço público. A cultura organizacional compreende o conjunto de valores e pressupostos construídos e compartilhados pelo grupo. Enquanto construção, esta não é estática, podendo ser alterada à medida que novas práticas são incorporadas e outras práticas deixam de existir. Ao se alterar as práticas adotadas pelo grupo pode-se, consequentemente, alterar o clima organizacional, entendido como atmosfera psicológica que envolve a organização. O clima organizacional é fator determinante na motivação dos colaboradores e, portanto, interfere nas atitudes adotadas pelos colaboradores em relação à organização. Considerando-se o serviço público, em muitos casos estabeleceu-se um ciclo vicioso de insatisfação e frustração entre gestores, colaboradores e usuários, uma vez que a baixa qualidade dos serviços públicos gera e perpetua uma baixa expectativa CONHECIMENTO E GESTÃO

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em relação ao que pode ser oferecido, tanto por usuários quanto por prestadores de serviços. Nesse sentido, faz-se necessário romper com tal ciclo a fim de que se tenham serviços públicos que de fato atendam às demandas da população. Para tal, o presente estudo sugere mudanças a nível de gestão, chefia e dos membros das organizações públicas, a fim de que se altere a cultura organizacional e, por consequência, sejam alterados o clima organizacional e a motivação do colaborador para o exercício de sua função. Assim, quando o colaborador obtém satisfação em seu trabalho e observa os impactos de sua atividade na sociedade, isto contribuirá para que ele desenvolva uma vida social e interpessoal efetiva, fazendo com que o indivíduo se ajuste ao seu meio, assumindo responsabilidades em relação ao grupo social e familiar, adotando atitudes produtivas em relação à vida e com o domínio de suas emoções. REFERÊNCIAS ARRUDA, M F. Cultura Organizacional e Inovação: estudo de caso em um hospital privado com características de inovação no município de São Paulo. 2006. Dissertação (Mestrado em Administração de Empresas) – Escola de Administração de Empresas de São Paulo, São Paulo, 2006. BRUNELLI, M G M. Motivação no serviço público. 2008. 90 fls. Trabalho de Conclusão de Curso (MBA em Gestão Pública) - IBGEN, Porto Alegre, 2008. CHIAVENATO, I. Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. Rio de Janeiro: Campus, 1999. GOMES, A A P; QUELHAS, O L G. Motivação dos recursos humanos no serviço público: um estudo de caso sob dois ângulos teóricos. Revista Eletrônica de Administração, v. 9, n. 5, p. 1-18, 2003. LOPES, M C; REGIS FILHO, G I. A motivação humana no trabalho: o desafio da gestão em serviços de saúde pública. Revista de Administração, São Paulo, v. 39, n. 1, p. 62-75, 2004. PEREIRA, Luciano Santana. Motivação de indivíduos e grupos de trabalho. Maringá, PR: Centro Universitário de Maringá, 2012. PIRES, J C S; MACÊDO, K B. Cultura organizacional nas organizações públicas. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 40, n. 1, p. 81-105, 2006. CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E ESCOLAS DE GOVERNO: LIMITES E POSSIBILIDADES PATRÍCIA PARRA 1 MÁRCIA DONEGÁ FERREIRA LEANDRO 2

RESUMO O presente artigo, a partir de uma revisão da literatura, aponta possibilidades e desafios ao se utilizar a educação a distância como estratégia de capacitação e desenvolvimento de competências nas escolas de governo, cuja criação é resultado de uma ampla reforma do aparelho de estado empreendida na década de 1990, resposta à crise mundial provocada pela globalização dos mercados internacionais. Ao final, delineiam-se breves alternativas para os desafios mais restringentes. Palavras-chave: Administração pública gerencial. Educação continuada. Educação a distância. Limites e possibilidades. 1 INTRODUÇÃO As recentes mudanças sociais, políticas e econômicas mundiais, provocadas pelas novas tecnologias de informação e comunicação, bem como pela reorganização dos processos laborais e, consequentemente das relações sociais, levaram muitos países a redefinir não somente os limites e alcances de seus aparelhos estatais, mas a redefinir o próprio conceito de Estado e de desenvolvimento. Esse movimento, no que concerne à reforma do aparelho estatal, ficou conhecido como Nova Administração Pública (New Public Management), e foi liderado especialmente pelo Reino Unido, na década de 1980. Reforma semelhante foi empreendida no Brasil, principalmente na década de 1990, culminando na criação das escolas de governo: tornou-se imperativo capacitar pessoas ligadas ao serviço público a fim de consolidar no país uma 1

Mestre em Ciências Jurídicas pelo UNICESUMAR. Pós-graduada em Ciências Penais pela Universidade Anhanguera-Uniderp. Pós-Graduanda em Gestão e Planejamento de Trânsito pelo UNICESUMAR. Graduada em Direito pela Universidade Paranaense. 2 Graduada em Matemática pela Unesp – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Graduada em Letras pela Unoeste – Universidade do Oeste Paulista. Pós-graduanda em Administração Pública pelo Unicesumar, Oficiala de Justiça do Tribunal de Justiça de São Paulo.

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administração pública flexível, gerencial e mais compatível com as demandas sociais desse novo e dinâmico tecido social emergente. Nesse contexto, o que se quer saber é: pode a educação a distância (EaD), no que tange à capacitação de pessoas e desenvolvimento de competências, contribuir para a consolidação de uma administração pública gerencial, mais adequada às atuais demandas sociais? Em caso afirmativo, que possibilidades e que desafios os profissionais ligados ao desenvolvimento de pessoas devem se preparar para enfrentar? Em vista disso, o presente artigo forneceu elementos, por meio de uma revisão da literatura, que ajudem outros estudiosos a refletir sobre o assunto e a criar soluções pertinentes ao tema. A justificativa do estudo é incontroversa: a eficiência é preceito constitucional estabelecido caput do art. 37; e a previsão legal de manter de escolas de governo encontra-se no art. 39, § 2º, ambos da Constituição Federal de 1988. Para alcançar o objetivo proposto, o artigo estrutura-se em três partes: na primeira delas faz uma contextualização do tema, explicando as razões históricas da Reforma de 1995 e da criação das escolas de governo. Na segunda parte, discute-se a adoção da EaD como estratégia de desenvolvimento de pessoas em geral, e no setor público em especial, delineando as suas potencialidades e apontando os principais desafios a serem enfrentados. Finalmente, faz-se uma análise no sentido de abstrair os estudos realizados pelo artigo e propõe algumas alternativas e reflexões aos desafios mais limitadores. 2 ESCOLAS DE GOVERNO: CONTEXTUALIZANDO A QUESTÃO O que são escolas de governo e por que foram criadas? Antes de dar uma resposta a essa questão é necessário retomar a história recente do país e seu contexto mundial para detalhar significativas mudanças ocorridas no âmbito econômico, político e social, e que antecederam à criação das escolas de governo. 2.1 CRISE DO ESTADO E A REFORMA DO APARELHO ESTATAL DE 1995: DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BUROCRÁTICA À ADMINISTRAÇÃO GERENCIAL Dentre outros fatores, a Reforma do Estado de 1995 teve como condição histórica anterior à sua implantação a crise que foi, ao mesmo tempo, CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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política, econômica e administrativa, e que perdurou de 1979 até 1994, quando finalmente houve no Brasil a estabilização da moeda e de preços através do Plano Real. A crise política, segundo Bresser-Pereira (1996), deu-se em três momentos: uma crise de legitimidade com o regime militar, uma crise de adaptação do regime democrático e uma crise moral que levou ao impeachment de Fernando Collor de Melo. A crise econômica, também conforme BresserPereira (1990), teve como pano de fundo as sucessivas crises do petróleo, que elevaram os preços no mercado internacional; a estagnação da renda per capta; a redução na taxa de investimentos; os altíssimos índices inflacionários, a crise fiscal cujo principal componente era a dívida externa pública e cuja origem estava na política de crescimento com endividamento, adotada na década de 1970. Por sua vez, a crise da administração pública teve início no regime militar, pois embora, ainda na década de 1930, tivesse havido a iniciativa de implantar a reforma burocrática com a introdução de um serviço público profissional para combater o patrimonialismo, essa reforma não logrou êxito, agravando-se após 1988, com a promulgação da Constituição Federal. No Brasil, a primeira tentativa de flexibilização da administração pública foi a promulgação do Decreto-Lei 200 de 1967, que dispõe sobre a organização da Administração Federal. De acordo com Bresser-Pereira (1996), ele cria a administração indireta e transfere as atividades de produção de bens e serviços para as autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista, além de instituir o planejamento e o orçamento, a descentralização e o controle de resultados e permitir a contratação de empregados celetistas. Com a Nova República, apesar do avanço da globalização e da evidente perda da capacidade que os Estados tinham de proteger suas economias, não houve qualquer iniciativa de reforma do aparelho do Estado, pelo contrário, havia “no plano administrativo uma volta aos ideais burocráticos dos anos 30, e no plano político, uma tentativa de volta ao populismo dos anos 50” (BRESSERPEREIRA, 1996, p. 8). Também o ajuste fiscal não logrou êxito e o Plano Cruzado fracassou, jogando o país em uma grave crise econômica. Assim, o capítulo que trata da administração pública na Constituição de 1988, reagindo ao populismo e ao fisiologismo que cresceram sob o regime democrático recém implantado, consolidou uma administração pública rígida, centralizada e hierárquica, ignorando as reformas públicas nos demais países e os avanços propostos pelo Decreto-Lei 200/67. CONHECIMENTO E GESTÃO

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No entanto, a construção de um novo modelo de estado passou a ser preponderante na década de 1990, momento em que os países, e em especial o Brasil, viveram o “desafio histórico de criar um novo perfil para seus estados, articulando um novo modelo de desenvolvimento, novas relações do público com o privado e a necessidade de voltarem-se, cada vez mais, para o atendimento das demandas sociais.” (SOUZA, 2002, p. 80). É nesse contexto, e após tentativas sem êxito, que em 1995, foi criado o Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado (MARE) para dar início à reforma da gestão pública no Brasil, com o intuito de transformá-la de uma cultura burocrática para uma cultura gerencial, visando ao fortalecimento e à eficiência do aparelho de Estado. Segundo Bresser-Pereira (2000), essa Reforma compreende três dimensões. A dimensão institucional com foco na descentralização administrativa e que resultou na criação das agências executivas, regulatórias e organizações sociais. A dimensão de gestão, cujo alvo era a adoção de práticas de administração, novas formas de responsabilização dos gestores (tal como a administração por resultados), a competição administrada por excelência e o controle social, maior autonomia, bem como serviços de qualidade, eficiência e custos menores. Já a dimensão cultural visou a uma mudança de mentalidade, buscando superar o clientelismo, o patrimonialismo e o fisiologismo tão característico no aparelho estatal. De acordo com o Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, documento que definiu as instituições e estabeleceu as diretrizes para a implantação de uma administração gerencial no país, trata-se de uma a reforma do Estado [...] que não se limita a propor descentralização para os estados e municípios e desconcentração ou delegação de autoridade para os dirigentes das agências estatais federais, estaduais ou municipais. Em adição, propõe [...] uma nova classificação das atividades do Estado e estabelece quais os tipos de propriedade e de administração correspondentes. (BRESSER-PEREIRA, 2000, p.19, grifos nossos).

Juntamente com a elaboração do Plano Diretor foi elaborada a emenda constitucional da reforma administrativa que foi promulgada em 04 de junho de 1998, a EC 19/98, em que as principais mudanças pretendidas pelo governo foram transformadas em lei conforme fora proposto. Sucintamente, as mudanças tinham como propósito tornar mais ágil, mais flexível e menos hierarquizado o aparelho de estado, enfocando a “descentralização e o CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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redesenho das estruturas, a flexibilização organizacional, a criação de uma rede de relações mais democráticas entre o Estado e a sociedade, a implantação de um modelo contratual e competitivo de ação estatal [...] e a profissionalização” (SOUZA, 2002, p. 81). Desafiado a mudar e se adequar à economia globalizada, à abertura dos mercados e às crescentes demandas sociais, o país deu início à reforma administrativa em 1995 e vive esse processo ainda hoje, buscando a afirmação da cidadania, a correta utilização da coisa pública e o fortalecimento da democracia. Por não ser a reforma um fim em si mesmo, mas um processo, é que as escolas de governo têm relevante papel, não apenas na formação do núcleo estratégico de governo, mas na mudança de uma cultura burocrática para a gerencial. 2.2 ESCOLAS DE GOVERNO E FORMAÇÃO POR COMPETÊNCIAS A formação e o aperfeiçoamento de servidores públicos no Brasil são anteriores à reforma do estado de 1995, tendo surgindo na década de 1940, em especial com a criação da FGV - Fundação Getúlio Vargas em 1944, cujo objetivo era qualificar pessoas do setor público e privado. Também a formação de servidores da fazenda, consoante a Souza (2002), datam de 1945, com a criação de cursos com o objetivo de habilitar pessoas para trabalhar junto ao fisco que, nos anos 1970, transformou-se na ESAF – Escola Superior de Administração Fazendária; também é dessa época o Instituto Rio Branco, criado em 1945, para selecionar, formar e aperfeiçoar o corpo da diplomacia brasileira. Na Nova República, segundo a autora, o governo Sarney cria a ENAP – Escola Nacional de Administração Pública com o objetivo de formar altos funcionários públicos, inspirada na École National d’Administration francesa e subsidiariamente à alemã Bundesakademie fuer Öffentliche Verwaltung, que sofreu descontinuidade em relação ao seu projeto inicial no início dos anos 1990, reduzindo-se a um centro de capacitação e treinamento para o setor público. Mais recentemente o tema ganhou novos contornos; isso porque a profissionalização da burocracia, em especial do núcleo estratégico, é pressuposto da administração gerencial, sobretudo no que concerne às políticas públicas, seja na sua formulação, supervisão ou regulamentação. O que se almeja é a concepção de “um corpo de funcionários tecnicamente preparados e CONHECIMENTO E GESTÃO

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motivados, com competência para negociação e com responsabilidade junto ao sistema político, diferenciando-os dos tecnocratas do antigo modelo burocrático” (SOUZA, 2002, p. 82). Após a reforma de 1995 foram instituídas as carreiras estratégicas do Estado, dentre elas a de especialista em políticas públicas e governamental, cujos servidores são atualmente capacitados pela ENAP, que por sua vez foi reformulada no governo de Fernando Henrique Cardoso, cabendo a ela o papel de coordenar o concurso e a formação de administradores dos mais altos níveis da administração federal. Segundo Guimarães (2000), na perspectiva da administração gerencial, o setor público tem como principal desafio transformar estruturas burocráticas, hierarquizadas e isoladas em organizações flexíveis e empreendedoras, com foco na eficiência e na qualidade dos serviços públicos para o cidadão: trata-se de uma nova cultura de gestão. O que está “por trás dessa racionalização é uma mudança paradigmática na qual o modelo de gestão, baseado na hierarquia, cede lugar a um novo modelo fundamentado na flexibilidade, da qual a abordagem por competência é um dos componentes” (GUIMARÃES, 2000, p. 130). O desenvolvimento de competências, por sua vez, tem sido utilizado tanto por organizações públicas, privadas, bem como em escolas; tanto que, no Brasil, “o Ministério da Educação vem conduzindo um projeto de mudanças do ensino profissional, tomando como base o conceito de competência” (GUIMARÃES, 2000, p. 134). Ainda, segundo ele, é possível identificar pelo menos três correntes que tratam dessa abordagem: a da administração estratégica, a da gestão de recursos humanos e a da sociologia da educação e do trabalho, que não serão detalhadas uma a uma, por estar além do escopo deste trabalho. Para Abbad (2007), a qualificação atualmente exigida de grande parte dos trabalhadores é abrangente: ele necessita saber trabalhar em equipe de forma presencial ou à distância, interligado por redes de informação e comunicação, dominar outras línguas e novas linguagens de comunicação e interação, ser capaz de pesquisar e selecionar informações úteis e relevantes, ter habilidade em administrar o tempo, conciliar responsabilidades relativas às diferentes instâncias da vida, precisa ser criativo e solucionar problemas que mudam de complexidade continuamente. “O perfil profissional do futuro caracteriza-se por um conjunto de habilidades estratégicas metacognitivas, bastante complexas” (Abbad, 2007, p. 361, grifo nosso) e ele terá que conduzir seu desenvolvimento tendo como alvo quatro grandes conjuntos de CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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competências: o aprender a conhecer, o aprender fazer, o aprender a viver junto e o aprender a ser. 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA COMO ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DE PESSOAS A educação a distância (EaD), entendida como estratégia de educação onde professores e alunos não se encontram em um mesmo lugar e/ou tempo, não é nova, tanto que alguns autores, de acordo com Alves (2011), citam as cartas de São Paulo Apóstolo aos cristãos como origem histórica dessa modalidade. Portanto, são inúmeras as iniciativas registradas ao longo da história mundial, bem como no Brasil, com destaque para o surgimento, em 1941, do Instituto Universal Brasileiro que oferecia na época cursos profissionalizantes por correspondência, o Telecurso 2º Grau, criado pela FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo em parceria com a Fundação Roberto Marinho, em 1978, e veiculado por programas de televisão e a criação da Universidade Aberta de Brasília, em 1992. Recentemente ela ganhou mais relevância e novos contornos: houve, nos últimos anos, um significativo aumento da oferta de cursos na modalidade à distância dada às mudanças nas relações sociais e de trabalho que os avanços tecnológicos provocaram e, ao mesmo tempo, facilitada pelo desenvolvimento de novas ferramentas de informação e comunicação entre pessoas. Isso porque, consoante a Abbad (2007), as recorrentes inovações tecnológicas e as rápidas transformações na organização laboral exigem que a aprendizagem seja célere, eficaz, constantemente atualizada, a fim de evitar a redução gradativa da competência profissional. Nessa perspectiva, as instituições, sejam elas públicas ou privadas, têm empreendido esforços para criar oportunidades de aprendizagem contínua. “Isso também é uma realidade no serviço público. Enquanto se enfrentam os desafios da inclusão digital, mesmo dentro do serviço público, busca-se oferecer um serviço de qualidade, eficiente, mais barato e mais rápido para o cidadão” (Abbad, 2007, p. 357). Segundo a autora, essa modalidade educacional tem como alvo principal a aprendizagem de adultos e são seus pressupostos a aprendizagem aberta, a aprendizagem ao longo da vida e a educação continuada. Assim, favorecida pelas tecnologias de informação e comunicação, a EaD tem tornado possível às pessoas o “acesso a um grande número de informações, permitindo a interação e a colaboração entre pessoas CONHECIMENTO E GESTÃO

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distantes geograficamente ou inseridas em contextos diferenciados” (Alves, 2011, p. 84). E embora existam críticas de que se trata de uma forma massificada de ensinar e aprender, é inegável sua relevância social na medida em que permite a muitos excluídos (ou não) o acesso à educação, seja ela formal ou para aprimoramento profissional. 3.1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E ESCOLAS DE GOVERNO De modo geral, a EaD encontra-se em fase de expansão e é recente em muitas organizações, está em fase de consolidação e ainda é pouco difundida em órgãos públicos. Nesse contexto, a Enap tem envidado esforços para conscientizar os profissionais de educação e gestão de pessoas sobre o importante papel da EaD na promoção de oportunidades de aprendizagem contínua aos servidores públicos e na ampliação do acesso ao estudo a qualquer hora e em qualquer lugar (ABBAD, 2007, p. 355).

Ela tem promovido debates e desenvolvido cursos a distância para destacar o importante papel da modalidade a distância na educação continuada de servidores públicos: “engajada nesse processo de ampliação do acesso à educação continuada e à aprendizagem ao longo da vida, oferece atualmente aos servidores púbicos brasileiros mais de 20 cursos à distância através da sua Escola Virtual” (ABBAD, 2007, p. 352). Consoante a Abbad (2007), há poucas pesquisas sobre EaD no setor público, porém, em 2006, a ENAP promoveu uma mesa-redonda de pesquisaação para descrever as tendências dessa modalidade em algumas organizações, dos quais destacam-se o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, a ESAF, o Exército Brasileiro, o INSS - Instituto Nacional do Seguro Social, o Instituto Sezerdello Correa, a FGV, a Petrobras, a Universidade do Banco Central do Brasil, dentre outras. De modo sucinto, as tendências observadas nesse estudo é que o público-alvo dessas instituições se encontra disperso geograficamente, tem ampla faixa etária que varia entre 18 e 60 anos e possui diferentes níveis de escolaridade. Nessas organizações, as práticas de EaD ainda não estão institucionalizadas (exceto no Exército Brasileiro e na ESAF), são adotadas para treinar e formar servidores, bem como apoiar as mudanças tecnológicas no processo laboral. CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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3.2 EDUCAÇÃOA DISTÂNCIA: LIMITES E POSSIBILIDADES Como qualquer outra modalidade de desenvolvimento de pessoas, a EaD oferece, aos que optam por ela, muitas possibilidades, ao mesmo tempo que impõe limites e desafios. No que concerne às possibilidades, de acordo com Abbad (2007), Garcia (1994) e Ikeda e Constantino (2005), a EaD viabiliza o ensino permanente visto que é acessível a qualquer pessoa, a qualquer hora e em qualquer lugar. Ela amplia e democratiza o acesso de pessoas ao estudo, criando condições que favorecem a aprendizagem contínua. E mais, favorece também, não somente a capacitação de servidores públicos, mas de prestadores de serviços e de cidadãos, já que permite a oferta de uma grande variedade de cursos para diferentes perfis de interesses. Essa modalidade também estimula a formação de comunidades de prática e de aprendizagem à medida que as pessoas se familiarizam com as facilidades e potencialidades das ferramentas de comunicação e das redes de interação. Outro grande potencial dessa modalidade é que atinge diversos servidores dispersos geograficamente, ajuda a desenvolver a proatividade nos estudos e a assumir certo grau de autodidatismo, além respeitar um pouco mais os diferentes ritmos de aprendizagem. Quando ampliado o número de alunos, os cursos à distância são escaláveis e repetíveis e apresentam custos relativamente menores do que os presenciais, sem perda significativa de qualidade. Além disso, existem facilidades no armazenamento e recuperação das informações e o nível de adesão e satisfação de servidores nesses cursos é considerado satisfatório. Os limites dessa modalidade, para Abbad (2007), Garcia (1994) e Ikeda e Constantino (2005), são desafiadores, tendo em vista que se trata de um campo relativamente novo para os especialistas em educação, sobretudo no que diz respeito às novas tecnologias de informação e comunicação. Isso porque existe certa dificuldade em identificar e encontrar profissionais com preparo para criar ambientes educacionais interativos, com dose adequada de encontros faceto-face, em confeccionar materiais interativos capazes de explorar com eficiência as tecnologias disponíveis. Também os modelos de avaliação deixam dúvidas quanto à sua efetividade e nem sempre são compatíveis com os diferentes graus de complexidade das competências almejadas. Esses autores destacam também outros aspectos, tais como a limitação dessa modalidade quanto ao desenvolvimento de habilidades sociais de convivência, afeto, empatia, etc; bem CONHECIMENTO E GESTÃO

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como a dificuldade em fortalecer, em adultos, atitudes favoráveis à aceitação da diversidade humana, além da dificuldade em criar condições mais adequadas a diferentes pessoas com cultura, motivação, formação e repertório de vida, singulares e distintos. Da mesma forma, esses autores ressaltam alguns desafios no que concerne à falta de familiaridade e de preparo de alunos, professores e tutores nessa modalidade, ainda certo descrédito dessa forma de ensino pela sociedade, altos índices de evasão ainda pouco estudados e solucionados pelas equipes pedagógicas, e também rigidez e obrigatoriedade em excesso em alguns cursos. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A crescente demanda por competências profissionais mais complexas impõe à sociedade em geral, e de modo especial para o setor público, a busca por soluções mais condizentes com tais exigências no que tange ao desenvolvimento de pessoas. É inegável, diante do estudo realizado, que a EaD pode e já tem dado sua contribuição para o desenvolvimento de pessoas, especialmente em um país com dimensões continentais como o Brasil, já que ela alcança muitas pessoas em lugares longínquos e distantes dos habituais centros de poder e de decisão. O que se depreende neste estudo é que os limites mais restringentes relacionam-se com os aspectos didáticos-metodológicos da EaD. Primeiro, será necessário estudar e relacionar que competências profissionais se desenvolvem junto aos diferentes órgãos públicos, separando aquelas específicas de uma determinada “carreira” daquelas que são transversais e perpassam o trabalho de qualquer servidor, tal como o trabalho em equipes multidisciplinares, a utilização eficiente da língua e das linguagens próprias das novas tecnologias, o comportamento ético, o discernimento e a probidade com a coisa pública, etc. Uma vez conhecidas tais competências, seria razoável pensar em trajetórias de desenvolvimento. Quanto ao ensino-aprendizagem, é imperativo a utilização de metodologias ativas, de resolução de problemas, de conexão e integração de conhecimentos (que na educação tradicional estão fragmentados), através da utilização de mapas mentais e outras ferramentas semelhantes. Em relação aos ambientes de aprendizagem, os especialistas em desenvolvimento de pessoas terão que empreender esforços a fim de trabalhar juntamente com profissionais das áreas de comunicação, linguagem, computação, conteudistas, verdadeiras CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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equipes multidisciplinares capazes de abstrair todo o potencial educativo das mídias para construir novos paradigmas de educação. Por fim, o principal desafio aponta para o desenvolvimento de profissionais com perfis muito distintos dos que atuam na educação presencial: trata-se de uma revolução não somente no seio da administração pública que almeja flexibilidade e eficiência, mas uma mudança nos paradigmas de educação. REFERÊNCIAS ABBAD, Gardênia da Silva. Educação a distância: o estado da arte e o futuro necessário. Revista do Serviço Público, Brasília, v. 58, n. 3, p. 351-373, jul./set. 2007. ALVES, Lucineia. Educação a distância: conceitos e história no Brasil e no mundo. Revista Brasileira de Aprendizagem Aberta e a Distância. São Paulo, v. 10, p.83-92, 2011. BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. A reforma gerencial do Estado de 1995. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 34, n. 4, p. 7-26, jul./ago., 2000. BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Da administração pública burocrática à gerencial. Revista do Serviço Público, Brasília, v. 47, n. 1, p. 1-28, jan./abr., 1996. BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Da crise fiscal à redução da dívida. In: VELLOSO, J. C. dos R. Dívida Externa e Desenvolvimento. Rio de Janeiro, RJ: José Olympio, 1990, p.16-46. GUIMARÃES, Tomás de Aquino. A nova administração pública e a abordagem da competência. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 34, n. 3, p. 125-140, mai./jun., 2000. IKEDA, Ana Akemi; CAVALHEIRO, Constantino. Reflexões sobre as contribuições do ensino à distância. eGesta – Revista Eletrônica de Gestão de Negócios, Santos, v.1, n. 3, p. 55-75, out./dez., 2005. SOUZA, Eda Castro Lucas de. A capacitação administrativa e a formação de gestores governamentais. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 36, n. 1, p. 73-88, jan./fev., 2002.

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LOGÍSTICA REVERSA DE ELETRÔNICOS PÓS-CONSUMO: COMPETITIVIDADE E SUSTENTABILIDADE PAULO HENRIQUE FRANZÃO SILVA 1 RITA TORRECILIA NETZEL 2

RESUMO O presente artigo discorre sobre a logística reversa de lixo eletrônico, utilizando a revisão bibliográfica e enfocando dois aspectos da sustentabilidade: o meio ambiente e a lucratividade. A problemática deste trabalho foi evidenciar a possibilidade de implementar, de maneira economicamente viável, a logística reversa de lixo eletrônico no Brasil, visando a preservação do meio ambiente e dos recursos naturais. Para contextualizar o tema, descrevem-se os conceitos teóricos de logística e logística reversa, seguidos de uma apresentação da legislação que regulamenta a logística reversa no Brasil. Também, destacam-se os principais pontos abordados na Lei 12305/2010, que normatiza a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Diante desse cenário, vislumbra-se a contribuição da logística reversa de lixo eletrônico para a preservação do meio ambiente, com a redução da extração de recursos naturais, e discorre-se sobre possibilidades de aproveitamento dos eletrônicos pós-consumo. No que diz respeito à lucratividade, demonstra-se o valor econômico gerado a partir da logística reversa de lixo eletrônico. Palavras-chave: Logística reversa. Lixo eletrônico. Sustentabilidade. Resíduos sólidos. Lucratividade. 1 INTRODUÇÃO Com a aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), as empresas precisam repensar e replanejar suas formas de distribuição, os materiais de que são feitas suas embalagens e a forma de transporte de seus produtos até o consumidor. Mais que isso, é preciso pensar na logística reversa pós-venda e pós-consumo, já que a destinação do resíduo produzido também é responsabilidade do fabricante.

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Graduado em Tecnologia em Agronegócio pela Unicesumar, Especialista em EAD e as Tecnologias Educacionais e MBA em Agronegócio pela Unicesumar. Atua como tutor de cursos de pós-graduação na Unicesumar modalidade a distância e pesquisador na área do agronegócio. 2 Bacharel em Administração pela UNOPAR – Universidade Norte do Paraná (2011).

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Por ser um tema de discussão recente no Brasil, pesquisar sobre a logística reversa pós-consumo proporcionará o enriquecimento do material disponível sobre o tema, incentivando novas e boas práticas a serem adotadas pelas empresas. Esse debate sobre a destinação correta dos resíduos eletrônicos, gerados no pós-consumo, beneficiará a sociedade na medida em que intenta apresentar soluções viáveis para que o consumo ocorra de maneira sustentável sob os pontos de vista econômico, ambiental e social. Neste trabalho, foi realizada uma revisão bibliográfica com a seleção de textos relevantes sobre o assunto publicados por autores estudiosos da logística e da logística reversa, bem como a Lei 12.305/2010, que aborda a Política Nacional de Resíduos Sólidos brasileira. 2 LOGÍSTICA E LOGÍSTICA REVERSA Ao analisar as condições que tornam uma empresa competitiva, deve-se considerar a logística como aspecto fundamental e componente do planejamento estratégico da organização. Corrobora essa importância da logística empresarial, Ballou (2011), ao afirmar que: A logística empresarial estuda como a administração pode prover melhor nível de rentabilidade nos serviços de distribuição aos clientes e consumidores, através de planejamento, organização e controle efetivos para as atividades de movimentação e armazenagem que visam facilitar o fluxo de produtos (BALLOU, 2011, p. 17).

Conforme apresenta Pereira (2012), as organizações podem desempenhar atividades nocivas ao ambiente, devendo, portanto, preocupar-se com os impactos ambientais e sociais, além das questões econômicas, decorrentes de seu modelo de negócio. Assim, a logística reversa deve estar presente em todos os ciclos produtivos, visando minimizar os maus efeitos ambientais, sociais e econômicos produzidos pelas empresas no desempenho de suas atividades. No inciso XII, artigo 3º, da Lei 12.305/2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, a logística reversa é definida como: CONHECIMENTO E GESTÃO

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[...] instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada (BRASIL, 2010b).

O intuito da logística reversa é cuidar do fluxo de retorno dos materiais ao longo da cadeia de abastecimento. Uma significação de logística reversa nos é dada por Leite (2009) que a entende como [...] a área da logística empresarial que planeja, opera e controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes, do retorno dos bens de pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, por meio dos canais de distribuição reversos, agregando-lhes valor de diversas naturezas: econômico, ecológico, legal, logístico, de imagem corporativa, dentre outros (LEITE, 2009, p. 17).

A logística reversa se configura como fator de competitividade e sustentabilidade para qualquer organização. Pereira (2012), completa dizendo que o conceito de logística reversa engloba o conceito tradicional dado à logística, já que agrega um conjunto de operações e ações interligadas, proporcionando diversos benefícios, “[...] desde a redução de matérias-primas primárias até a destinação final correta de produtos, materiais e embalagens com o seu consecutivo reuso, reciclagem e/ou produção de energia” (PEREIRA, 2012, p. 14). Ainda segundo Miguez (2012), enquanto a logística direta é um processo divergente, já que o produto sai de um produtor para vários clientes, a logística reversa pode ser entendida como um processo convergente, no qual os produtos são direcionados de diversos clientes para uma ou poucas empresas. 2.1 LOGÍSTICA REVERSA E LEGISLAÇÃO A instituição da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) no Brasil aconteceu em 2 de agosto de 2010, com a publicação da Lei 12.305. Entre os onze princípios dessa política listados no Artigo 6º, destacam-se a visão sistêmica na gestão dos resíduos sólidos, que considere as variáveis: ambiental, social, cultural, econômica, tecnológica e de saúde pública; o desenvolvimento CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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sustentável; a cooperação entre as diferentes esferas do poder público, do setor empresarial e demais segmentos da sociedade; a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos; e o reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania. O incentivo à reciclagem e à sustentabilidade é objetivo desta lei, que no inciso II do artigo 7º, fortalece a necessidade de “não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos, bem como disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos” (BRASIL, 2010b). Os principais pontos da Política Nacional de Resíduos Sólidos são os fechamentos de lixões, que era previsto até o ano de 2014, o encaminhamento apenas de rejeitos aos aterros sanitários, e a elaboração de planos de resíduos sólidos nos municípios. A Lei 12.305/2010 já está em vigor e, no inciso XVII do artigo 3º, estabelece a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos: XVII - responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos: conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida dos produtos, nos termos desta Lei (BRASIL, 2010b).

Isso incentiva as empresas à fabricação de produtos que deixem menos resíduos e que sejam mais recicláveis, já que alguns produtos terão que ser recolhidos após o consumo, para reciclagem. No artigo 33 da referida lei, está disposto o seguinte: Art. 33. São obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de: [...] VI - produtos eletroeletrônicos e seus componentes (BRASIL, 2010b).

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Diante disso, a logística reversa é o principal instrumento para as empresas que necessitam adequar-se a esta legislação, já que são responsáveis pelos produtos que produzem ou revendem, compostos de materiais que podem ser reciclados após o consumo. A responsabilidade pela reciclagem dos produtos descartados utilizados e de suas respectivas embalagens é dos fabricantes, que devem criar um sistema de reciclagem. Sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos, A PNRS dá destaque à logística reversa, afirmando que ela tem por objetivo promover ações para garantir que o fluxo de resíduos sólidos seja direcionado para a sua própria cadeia produtiva ou para outras cadeias produtivas (de outros geradores). Além disso, a logística reversa deve reduzir a poluição e desperdício de materiais, incentivar a utilização de insumos que não degradem o meio ambiente e desenvolver estratégias de sustentabilidade, que unam os interesses econômicos, ambientais, sociais, culturais e políticos. (MIGUEZ, 2012, p. 33).

Não obstante a importância e as vantagens geradas pelo exercício da logística reversa de eletroeletrônicos, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) não estabelece prazo para a implantação de seus sistemas. Em virtude disso, há grande quantidade de resíduos sólidos no Brasil que não são destinados corretamente. Uma possível causa seria a insuficiência de canais de distribuição reversa devidamente estruturado. De acordo com as ideias expressas por Leite (2009): O aumento da velocidade de descarte dos produtos de utilidade após seu primeiro uso, motivado pelo nítido aumento da descartabilidade dos produtos em geral, ao não encontrar canais de distribuição reversos de pós-consumo devidamente estruturados e organizados, provoca desequilíbrio entre as quantidades descartadas e as reaproveitadas, gerando um enorme crescimento de produtos de pós-consumo. Um dos mais graves problemas ambientais urbanos da atualidade é a dificuldade de disposição do lixo urbano. (...) As quantidades de produtos que se transformam rapidamente em ‘lixo’ (nomenclatura usada de maneira imprópria) é crescente na atualidade. Embalagens descartáveis e produtos de informática geram preocupação em vista das quantidades e dos custos envolvidos em sua logística reversa (LEITE, 2009, p. 21).

Diante dessa realidade e considerando o disposto na Lei nº 12.305/2010, torna-se emergente a discussão e implantação da logística reversa CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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para destinação correta dos resíduos sólidos de pós-consumo, a fim de garantir a sustentabilidade das empresas e da própria sociedade. Conforme relata Pereira (2012), [...] quando se fala em sustentabilidade e resíduos, os descartes interferem em todas as perspectivas sustentáveis. Resíduos são matérias-primas não aproveitadas, sendo um problema econômico. Quando mal administrados, podem se converter em um problema social ao causar danos à saúde coletiva. Do ponto de vista ecológico, os resíduos podem ser fonte de poluição e contaminação do meio ambiente (PEREIRA, 2012, p. 159).

2.2 A CONTRIBUIÇÃO DA LOGÍSTICA REVERSA DE ELETRÔNICOS PARA A SUSTENTABILIDADE Segundo Leite (2009), a velocidade de descarte dos produtos pósconsumo cresce rapidamente, aumentando a quantidade de produtos que não são reaproveitados em parte ou na sua totalidade. Entretanto, o crescimento da preocupação da sociedade com as questões ambientais influencia governos e empresas a agirem de modo a causar menores impactos danosos ao meio ambiente, de modo que seja possível beneficiar a sociedade e a própria empresa. Os resíduos eletroeletrônicos representam riscos ao meio ambiente ao serem descartados de forma incorreta, pois contém elementos tóxicos como metais pesados em sua composição. Com a consolidação do marketing orientado para o consumidor, a percepção dos clientes para produtos defeituosos tornou-se mais aguçada e, com isso, surgiu a necessidade de estabelecer procedimentos para atender a essa nova demanda de retorno dos produtos ao fabricante. Ballou (2011) cita a sanção das Normas de Segurança de Produtos de Consumo, pelo congresso americano, em 1972. Essas normas fixam padrões obrigatórios de segurança dos produtos e, segundo o autor, tanto consumidores quanto indústrias estão conscientizados sobre a necessidade desses padrões de qualidade, já que o descumprimento das regras pode gerar penalidades civis ou até mesmo prisão. A preocupação com o meio ambiente passa a crescer junto com a população e a industrialização. Uma das principais questões é a da reciclagem de resíduos sólidos. CONHECIMENTO E GESTÃO

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O mundo industrializado criou sofisticados canais e distribuição para matérias-primas e produtos acabados, porém deu-se pouca atenção para a reutilização desses materiais de produção. Com exceção, temos a reciclagem das latas de alumínio e de sucata de aço dos automóveis. O grande crescimento no emprego de embalagens e produtos descartáveis evidencia a pouca preocupação com a reciclagem. É geralmente mais barato usar matéria-prima virgem do que material reciclado, em parte pelo pouco desenvolvimento de canais de retorno, que ainda são menos eficientes do que os canais de distribuição de produtos. Isso deve mudar, pois (1) o público em geral está ficando mais consciente do desperdício, (2) a quantidade de resíduo sólido tem aumentado e (3) a matéria-prima original está ficando mais cara e menos abundante (BALLOU, 2011, p. 384).

Também segundo Ballou (2011), os resíduos sólidos como fontes de matéria-prima ainda são bastante desprezados nessa época. Isso se nota pela menor atenção dada aos canais de distribuição reversos. Há, em primeiro lugar, uma estrutura de intermediários no canal reverso que ainda não é especialmente bem desenvolvida e eficiente. Centros de reciclagem, depósitos para resíduos e rejeitos, especialistas em coleta de lixo e centrais de reaproveitamento da manufatura são apenas alguns dos pontos de entrada para o canal de retromovimentação e que ainda devem ser desenvolvidos. Além disso, deve existir uma estrutura de fretes mais favorável. É comum que os fretes de matéria-prima virgem sejam menores do que para materiais reciclados. Como esses fretes dependem de fatores como volume movimentado, competição, facilidade de manuseio do produto e poder de barganha de usuários e transportadores, os custos de transporte deverão cair à medida que os canais de reciclagem forem sendo mais utilizados (BALLOU, 2011, p. 385).

O aperfeiçoamento constante da tecnologia e a redução de custos de produção, apoiada pelas modernas técnicas de gestão, permitiram a disponibilização cada vez mais rápida de novos produtos e a maior acessibilidade a estes, o que promove a descartabilidade dos bens. Leite (2009) confirma esta ideia ao afirmar que: Principalmente após a Segunda Guerra Mundial, o acelerado desenvolvimento tecnológico experimentado pela humanidade permitiu a introdução constante, e com velocidade crescente, de novas tecnologias e de novos materiais que contribuem para a melhoria do desempenho técnico, para a redução de preços e dos CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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ciclos de vida útil de grande parcela dos bens de consumo duráveis e semiduráveis. Esses materiais, essas tecnologias e a obsolescência mercadológica planejada permitem a satisfação dos conceitos de diferenciação entre as empresas no mercado. O acelerado ímpeto de lançamento de inovações no mercado cria um alto nível de obsolescência desses produtos e reduz seus ciclos de vida, com clara tendência à descartabilidade (LEITE, 2009, p. 39).

O alto índice de obsolescência tratado acima ocasiona grande aumento de descarte de produtos eletrônicos no meio ambiente. Miguez (2012) relata que no mundo todo, a taxa de geração de lixo eletrônico é crescente. Dessa forma, o autor defende que: Prover vida extra aos produtos significa que, para qualquer período de tempo, haverá menos produção, menos resíduos e, quando os resíduos de pós-consumo forem perigosos, como é o caso de produtos eletrônicos, haverá menos substâncias perigosas geradas. Para o planeta, reuso significa que menos matérias-primas serão usadas, menos energia consumida e menos poluição haverá nas três fases do ciclo de vida, que são: extração de matérias-primas, fabricação e descarte/reciclagem, na maioria dos casos (MIGUEZ, 2012, p. 24)

Em outro momento, Miguez (2012) acrescenta que a logística reversa impacta diretamente na melhoria do ambiente, reduzindo a quantidade de materiais perigosos em aterros, lixões e até córregos a céu aberto. Além disso, destaca-se o efeito positivo da logística reversa para o meio ambiente ao proporcionar o recolhimento e reaproveitamento de produtos, reduzindo o uso de matéria-prima virgem. Isto reduz a extração de recursos minerais e energéticos. 2.3 A RIQUEZA ESCONDIDA NO LIXO Miguez (2012) expõe que as empresas desenvolvem a logística reversa, pautadas em diversos fatores como a conscientização dos consumidores, a pressão do governo, a legislação, a responsabilidade ambiental e a geração de lucro. Na maioria dos casos, a geração de lucro é um dos fatores que motivam as empresas. O artigo 42 da Lei 12.305/2010 trata dos instrumentos econômicos e apresenta a possibilidade para o poder público de instituir medidas indutoras e linhas de financiamento, para atender de modo prioritário, entre outras, iniciativas de: CONHECIMENTO E GESTÃO

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[...] I - prevenção e redução da geração de resíduos sólidos no processo produtivo; II - desenvolvimento de produtos com menores impactos à saúde humana e à qualidade ambiental em seu ciclo de vida; [...] V - estruturação de sistemas de coleta seletiva e de logística reversa; [...] VII - desenvolvimento de pesquisas voltadas para tecnologias limpas aplicáveis aos resíduos sólidos; VIII - desenvolvimento de sistemas de gestão ambiental e empresarial voltados para a melhoria dos processos produtivos e ao reaproveitamento dos resíduos (BRASIL, 2010b).

Com a finalidade de fomentar essas iniciativas, o Decreto 7.404/2010, que regulamenta a Lei 12.305/2010, apresenta as medidas a serem adotadas: Art. 80. As iniciativas previstas no art. 42 da Lei nº 12.305, de 2010, serão fomentadas por meio das seguintes medidas indutoras: I - incentivos fiscais, financeiros e creditícios; II - cessão de terrenos públicos; III - destinação dos resíduos recicláveis descartados pelos órgãos e entidades da administração pública federal às associações e cooperativas dos catadores de materiais recicláveis, nos termos do Decreto no 5.940, de 25 de outubro de 2006; IV - subvenções econômicas; V - fixação de critérios, metas, e outros dispositivos complementares de sustentabilidade ambiental para as aquisições e contratações públicas; VI - pagamento por serviços ambientais, nos termos definidos na legislação; e VII - apoio à elaboração de projetos no âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo - MDL ou quaisquer outros mecanismos decorrentes da Convenção Quadro de Mudança do Clima das Nações Unidas. Parágrafo único. O Poder Público poderá estabelecer outras medidas indutoras além das previstas no caput. Art. 81. As instituições financeiras federais poderão também criar linhas especiais de financiamento para: I - cooperativas ou outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis, com o objetivo de aquisição de máquinas e equipamentos utilizados na gestão de resíduos sólidos; II - atividades destinadas à reciclagem e ao reaproveitamento de resíduos sólidos, bem como atividades de inovação e desenvolvimento relativas ao gerenciamento de resíduos sólidos; e III - atendimento a projetos de investimentos em gerenciamento de resíduos sólidos (BRASIL, 2010a). CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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Outra forma de reduzir custos da produção é apresentada por Miguez (2012). Segundo o autor, um produto pode ser canibalizado, ou seja, ter “suas peças e componentes inseridos no estoque de produção, servindo como matéria-prima para novos produtos.” (MIGUEZ, 2012, p.20). Também é reforçada pelo autor a importância de considerar no planejamento e controle da produção a disponibilidade dessas peças e componentes. “Devemos fazer com que os responsáveis pela ordem de produção contem com os produtos retornados na hora de se calcular o material necessário para a fabricação de determinado produto” (MIGUEZ, 2012, p.21). A reutilização é vantajosa sob o ponto de vista financeiro, pois é um processo de aproveitamento dos resíduos sólidos sem sua transformação biológica, física ou físico-química, dispendendo custo baixo, porquanto se investe apenas na desmontagem do produto, para retirada das partes que serão incluídas novamente no processo produtivo. Leite (2009) comenta sobre o valor econômico em alguns canais reversos de reciclagem. Para o autor [...] tem-se a substituição de matérias-primas primárias por secundárias em cadeias reversas de reciclagem, nas quais é possível avaliar a parcela representada pelas matérias-primas secundárias nas vendas totais do setor. Contrariamente à ideia de valorizar esses retornos pelo valor dos bens de pós-consumo, em geral muito baixos, nossa valorização é feita por meio do percentual de utilização de matérias-primas secundárias no total da economia do setor, avaliando, dessa maneira, o valor efetivo da economia da cadeia produtiva direta (LEITE, 2009, p. 29).

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Com o intento de subsidiar o leitor para análise e conclusões sobre a importância da logística reversa de resíduos sólidos, sobretudo os eletroeletrônicos, na produção desse artigo foi utilizado o tipo de pesquisa bibliográfica, consistente no exame da bibliografia, para o levantamento e análise do material que já foi produzido sobre o tema. O objetivo de uma pesquisa bibliográfica, segundo Köche (2006, p. 122) é “conhecer e analisar as principais contribuições teóricas existentes sobre um determinado tema ou problema, tornando-se instrumento indispensável a qualquer tipo de pesquisa”. CONHECIMENTO E GESTÃO

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É possível afirmar que há o levantamento bibliográfico, que será a primeira etapa de qualquer pesquisa, e que se constitui na “base para as demais pesquisas e pode-se dizer que é uma constante na vida de quem se propõe a estudar.” (FACHIN, 2001, p. 125). Por outro lado, há a pesquisa bibliográfica, que é uma pesquisa propriamente dita, a qual pode ser utilizada com diversas finalidades. Köche (2006) apresenta algumas finalidades da pesquisa bibliográfica: a) Para ampliar o grau de conhecimentos em uma determinada área, capacitando o investigador a compreender ou delimitar melhor um problema de pesquisa; b) para dominar o conhecimento disponível e utilizá-lo como base ou fundamentação na construção de um modelo teórico explicativo de um problema, isto é, como instrumento auxiliar para construção e fundamentação das hipóteses; c) para descrever ou sistematizar o estado da arte, daquele momento, pertinente a um determinado tema ou problema” (KÖCHE, 2006, p. 122).

O presente artigo se propõe a conhecer e analisar o material teórico já disponível sobre o tema, buscando contribuir e ampliar a discussão sobre logística reversa de lixo eletrônico no Brasil. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A logística reversa discorre sobre o processo logístico que trata do gerenciamento inteligente do recolhimento de produtos, com a finalidade de descarte, recuperação ou reciclagem. É uma alternativa para as empresas recobrarem os materiais e produtos descartados, sendo uma ferramenta fundamental para as organizações que desejam atender seus clientes de maneira sustentável, satisfazer os consumidores e manter um negócio econômica e ambientalmente viável. Além disso, é uma necessidade prevista na legislação nacional. Do mesmo modo é importante considerar que o processo reverso logístico também atenua o problema de escassez de matéria-prima, barateando o processo produtivo. Assim, os elos entre desempenho ambiental, competitividade e resultados financeiros finais estão crescendo a cada dia. Empresas fazem do desempenho ambiental superior, demonstrando práticas denotativas de sua preocupação com a preservação do meio ambiente, uma arma competitiva. Com o aumento da consciência ecológica, a sociedade espera das empresas a redução dos impactos negativos de sua atividade ao CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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meio ambiente, o que está induzindo o desenvolvimento de produtos ecologicamente corretos e uma nova postura das empresas em relação aos resíduos produzidos no seu negócio. REFERÊNCIAS BALLOU, Ronald H. Logística Empresarial: transportes, administração de materiais, distribuição física. 25. reimp. São Paulo: Atlas, 2011. BRASIL. Decreto nº 7.404/2010, de 23 de dezembro de 2010. Regulamenta a Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, cria o Comitê Interministerial da Política Nacional de Resíduos Sólidos e o Comitê Orientador para a Implantação dos Sistemas de Logística Reversa, e dá outras providências. Disponível em: . Acesso em: 22 mai. 2016. BRASIL. Lei nº 12.305/2010, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Disponível em: . Acesso em: 01 mai. 2016. FACHIN, Odília. Fundamentos de metodologia. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2001. KÖCHE, José Carlos. Fundamentos de metodologia científica: teoria da ciência e prática da pesquisa. 23.ed. Petrópolis: Vozes, 2006. LAKATOS, Maria Eva. MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia do trabalho cientifico. 4 ed. São Paulo. Revista e Ampliada. Atlas, 1992. LEITE, Paulo Roberto. Logística Reversa: meio ambiente e competitividade. 2. Ed. São Paulo: Pearson, 2009. MIGUEZ, Eduardo Correia. Logística reversa como solução para o problema do lixo eletrônico: benefícios ambientais e financeiros. Rio de Janeiro: Qualitymark Editora, 2012. PEREIRA, André Luiz. et. al. Logística reversa e sustentabilidade. São Paulo: Cengage Learning, 2012.

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ARBITRAGEM COMO ALTERNATIVA À MOROSIDADE DO JUDICIÁRIO THAIS LILIANE DOS SANTOS1 LEANDRO MITSUO AZUMA2 RESUMO O presente artigo conceituou o instituto da arbitragem, demonstrando os benefícios de sua aplicabilidade na solução de conflitos, bem como sua legalidade. Trata-se de instituto que tem crescido no Brasil, na medida em que o Poder Judiciário encontra-se cada vez mais obstruído e abarrotado. Apesar das constantes mudanças na legislação brasileira, o instituto da arbitragem permanece regulamentado em lei, garantindo segurança para as partes envolvidas em conflitos. Para a produção deste trabalho foi utilizada a pesquisa bibliográfica, tendo como pretensão de resultado explorar brevemente o instituto sem a intenção de esgotar o tema. Chegou-se à conclusão que a arbitragem apresenta-se como alternativa viável e vantajosa em busca de solução de litígios. Palavras-chave: Judiciário. Arbitragem. Conflito. Solução. 1 INTRODUÇÃO No convívio social, naturalmente ocorrem conflitos de interesses, que muitas vezes são resolvidos pelos próprios conflitantes. No entanto, quando não é possível fazê-lo, comumente se recorre ao judiciário, compondo o que se chama de litígio ou lide. Ocorre que o Poder Judiciário passa por uma profunda crise estrutural. Um exemplo da deficiência do sistema jurídico brasileiro é o quadro de juízes, reduzido e insuficiente, ante o grande número de processos que são protocolizados diariamente. Existe ainda, a possibilidade de interposição de inúmeros recursos, que faz com que os processos judiciais se arrastem ao longo de tempo. Sendo assim, o litigante, ao procurar a “justiça”, já sabe que seu 1

Graduação em Ciências Contábeis pela Universidade Estadual de Maringá; Pós-Graduação em Auditoria e Controladoria pela Unifamma. 2 Graduação em Ciências Contábeis pela Universidade Federal do Paraná; Graduação em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná.

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problema não será resolvido com rapidez, frustrando sua expectativa de resolução de conflitos. O presente artigo vem justamente apresentar uma modalidade alternativa de solução de conflitos que auxilia o sistema judiciário, que é a arbitragem. Esse método extrajudicial tem como principais características a agilidade, economia e eficácia na solução das controvérsias. Para tanto, abordou neste referencial teórico a relação entre litígios e o poder judiciário, o conceito de arbitragem, noções gerais da Lei nº 9.307/96, que trata deste instituto, as vantagens da utilização da Arbitragem como método de resolução de conflitos, a metodologia utilizada para criação deste artigo que será uma pesquisa bibliográfica e, por fim, considerações finais sobre o tema. 2 ARBITRAGEM 2.1 LITÍGIO E O PODER JUDICIÁRIO O litígio ocorre naturalmente devido a divergências de opiniões e interesses. Havendo a discordâncias entre as partes envolvidas, historicamente, o Estado toma para si a titularidade da solução de conflitos, por meio da via judicial. Nesse sentido, segundo Bacellar (2012, p. 20): No desiderato de assegurar acesso à justiça, quando houver descumprimento da lei, abuso, desrespeito a convenções e quebra de princípios, terá o Poder Judiciário de promover o ajuste de interesses com a resolução da lide sempre descrita como – um conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida ou insatisfeita.

Ocorre que, hodiernamente, a prestação jurisdicional tem se mostrado ineficiente ante a velocidade das demandas da sociedade. Conforme Bacellar (2012, p. 30), “aumentam-se a população e o número de casos ajuizados (e por consequência a morosidade) sem que os tribunais consigam atenuar ou resolver o que se costumou denominar crise da justiça ou crise do Poder Judiciário”. A estrutura judiciária já não comporta tantos processos, o que a tornou sobrecarregada e morosa. Somem-se a isso normas ineficazes à realidade e um excessivo leque de recursos e o resultado é um estrangulamento do sistema. No entanto, algumas medidas podem ajudar a “desafogar” o judiciário. Especialistas no assunto - Scavone, Bacellar e Carmona, por exemplo CONHECIMENTO E GESTÃO

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denominam tais medidas como métodos alternativos de solução de conflitos. Há vários benefícios com a adoção dessas medidas, e focou em apresentar uma delas, qual seja, a arbitragem. 2.2. CONCEITO DE ARBITRAGEM O Instituto da arbitragem surgiu há muito tempo, antes mesmo de existir um sistema jurídico como conhecemos hoje. Com o passar dos anos, esse instituto foi sendo modificado, atualizado, para se adaptar as novas realidades e necessidades da sociedade. Foi em 1939 que o instituto da arbitragem, através de sua previsão no Código de Processo Civil (arts. 1031 à 1046 do CPC de 1939), foi trazido para dentro do ordenamento jurídico brasileiro com um conceito mais parecido com o atual. Alguns importantes doutrinadores, em tempos mais modernos, estudaram o tema e o conceituaram de forma mais completa. Para Scavone Jr (2014, p.15) “a arbitragem é um dos mais antigos meios de composição de conflitos pela heterocomposição, ou seja, a solução do conflito por um terceiro imparcial”. Diferentemente da autocomposição – que também é conceituada pelo referido autor - em que as próprias partes põem fim às suas pendências, a arbitragem necessita de uma terceira parte para que o litígio seja resolvido. Scavone Jr. ainda traz um conceito mais completo, definindo a arbitragem como: O meio privado e alternativo de solução de conflitos decorrentes de direitos patrimoniais e disponíveis por meio do árbitro, normalmente um especialista na matéria controvertida, que apresentará uma sentença arbitral que constitui título executivo judicial (SCAVONE, 2014, p. 16).

No mesmo sentido Bacellar (2012, p. 121) assim ensina sobre o instituto da arbitragem: A arbitragem pode ainda ser definida (nossa posição) como a convenção que defere a um terceiro, não integrante dos quadros da magistratura oficial do Estado, a decisão a respeito de questão conflituosa envolvendo duas ou mais pessoas. Para que se instaure a arbitragem, é essencial o consentimento das partes: enquanto o CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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juiz retira seu poder da vontade da lei, o árbitro só o conquista pela submissão da vontade das partes.

Ambos os conceitos acima expostos, quando interpretados de forma conjunta, ensinam que a arbitragem é uma opção das partes, que buscam a solução de um conflito em um árbitro, um terceiro não envolvido no problema, mas com conhecimento notável da matéria e que, tendo em vista a vontade expressa das partes, decidirá sobre o assunto em uma sentença arbitral, que nada mais é que um título executável judicialmente. Portanto, é um mecanismo privado em que um terceiro profere uma decisão acerca de um conflito. Tal decisão é destinada “a assumir a mesma eficácia da sentença judicial” (CARMONA, 1993, p. 19), ou seja, não é uma sentença proferida por um juiz, mas possui força de tal, e se não for cumprida, poderá ser executada judicialmente pelas partes. O instituto da arbitragem deve ter seu conceito atualizado e aprimorado de acordo com as normas e termos do Novo Código de Processo Civil. Agora, a arbitragem passa a ter mais força como um instituto jurisdicional reconhecido e constitucionalmente aceito. 2.3. LEI 9.307/96 A lei 9.307/96, também conhecida como Lei da Arbitragem, surge em face da indispensabilidade de regulamentação legal do instituto. Com sua popularização, surgiu a necessidade de normatizar o instituto, para que houvesse uma garantia maior de justiça na sua utilização. Assim, o instituto da arbitragem passou a compor o ordenamento jurídico brasileiro de forma integral, sem necessidade de outras normas complementares para sua aplicação. Observando o panorama jurídico brasileiro e tendo em vista a problemática do nosso sistema judiciário, a arbitragem surge como uma opção célere e econômica na resolução de conflitos, conforme ensina Helena Patrícia Freitas. De acordo com Guilherme (2012, p. 66): A lei de arbitragem é um diploma dinâmico, enxuto e atual, e surge como ponto de partida para a prática da arbitragem no Brasil. Ademais, a prática de arbitragem traz bons exemplos de justiça, sigilo, celeridade e economia para as partes. CONHECIMENTO E GESTÃO

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Tal lei trouxe importantes mudanças ao instituto. Antes havia “dois grandes empecilhos que atrasavam o desenvolvimento da arbitragem: a) obrigatoriedade da homologação judicial das decisões arbitrais; b) falta de obrigatoriedade e executividade da cláusula compromissória.” (BACELLAR, 2012, p. 122 -123). Atualmente não é mais necessária a atuação do juiz togado, consolidando a competência do árbitro. Segundo Scavone Jr (2014, p. 85), “se as partes convencionarem a arbitragem, em razão da manifestação volitiva, livre e consciente, pelo princípio da autonomia da vontade, o que foi estabelecido entre elas se torna obrigatório:

pacta sunt servanda”.

Além do mais, o legislador brasileiro apresentou três conceitos interessantes na Lei nº 9.307/96 para o entendimento da arbitragem, Art. 3º As partes interessadas podem submeter a solução de seus litígios ao juízo arbitral mediante convenção de arbitragem, assim entendida a cláusula compromissória e o compromisso arbitral. Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato. [...] Art. 9º O compromisso arbitral é a convenção através da qual as partes submetem um litígio à arbitragem de uma ou mais pessoas, podendo ser judicial ou extrajudicial.

Pois bem, a convenção de arbitragem vem a ser uma modalidade pela qual as partes convencionam solucionar seus litígios em substituição à justiça comum. Scavone Jr (2014, p. 89) ensina que “convenção de arbitragem é gênero do qual são espécies a cláusula arbitral (ou cláusula compromissória) e o compromisso arbitral”. Guilherme (2012) diferencia superficialmente essas duas espécies alegando que “a cláusula diz respeito a litígio futuro e incerto e o compromisso, a litígio atual e específico”. A Lei de arbitragem prevê, ainda, um procedimento arbitral independente, mas com um rito muito parecido com o do processo judicial. As partes são apresentadas a arbitragem e optam por ela. Embora caiba as partes escolherem quem irá presidir o rito, o escolhido deverá se basear em princípios constitucionais, como do contraditório, igualdade, imparcialidade, entre outros. Tentativas de conciliação deverão ocorrer, sob pena de nulidade, e a representação das partes por meio de advogados não é obrigatória, mas, tendo CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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uma parte decidido por assim fazer, à outra deverá ser dado a mesma oportunidade. As partes podem, como no rito judicial, fazer arguições de incompetência, suspeição, impedimento em relação ao próprio arbitro e de questões prejudiciais, em relação a direitos indisponíveis. O árbitro pode determinar a produção de provas, que poderão ser depoimento de testemunhas, interrogatório das partes, confissão, documentais, ou outras que lhe pareçam indispensáveis. Finalmente, podem ainda ser analisados pedidos contrapostos, medidas de urgências, revelia e intervenção de terceiros, tudo devidamente fundamentado na Lei de Arbitragem, no Código de Processo Civil e na Constituição Federal. A sentença arbitral deverá ser emitida no prazo de 6 meses, salvo se as partes convencionarem de forma diferente, conforme dita o artigo 23 da Lei 9.307/96. Quanto às sentenças que forem proferidas, estas não estão sujeitas a recursos ou a homologação pelo judiciário, a menos que a discussão se refira a aspectos formais. É importante frisar o enorme privilégio que a lei da arbitragem trouxe para o sistema jurídico brasileiro e para o dia a dia das pessoas que se beneficiam dela. A regulamentação do instituto trouxe segurança para os envolvidos e apesar de existirem alterações no Novo Código de Processo Civil, a lei ainda permanecerá como um marco e um norte para conduzir os comprometidos com a justiça no Brasil. 2.4 VANTAGENS DA UTILIZAÇÃO DA ARBITRAGEM Para apurar as vantagens da utilização da arbitragem é necessário compará-la ao sistema judiciário. Segundo Lima (2008, p. 20), podem ser citados os seguintes benefícios: eficiência, conveniência, custo e celeridade. O poder judiciário encontra-se abarrotado de processos, e não há boa expectativa de melhora em um curto prazo. De acordo com Lima (2008, p. 21) o grande volume de trabalho “não permite um grau adequado de especialização de parte do magistrado”. O mesmo autor, um pouco mais adiante, complementa que: Na arbitragem, as partes estão autorizadas a indicar árbitros detentores de conhecimento técnico na matéria objeto do processo arbitral, fazendo com que as perspectivas de decisões tecnicamente CONHECIMENTO E GESTÃO

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acertadas sejam muito superiores àquelas das sentenças proferidas pelo Judiciário (LIMA, 2008, p. 21).

No que diz respeito à conveniência, a vantagem da arbitragem para as partes se dá pelo sigilo, pois não há a obrigatoriedade da publicidade. Bacellar (2012, p. 134) ensina que, “enquanto a legislação processual é impositiva no sistema judiciário, na arbitragem as partes decidem sobre as regras de procedimento e critérios de julgamento, desde que não contrariem normas de ordem pública e os bons costumes”. O custo do procedimento arbitral possui relação com o tempo despendido, já que é mais célere e menos burocrático, tendendo a ser mais barato que outros meios de resolução de conflitos. O artigo 23 da Lei de Arbitragem estipula que: “A sentença arbitral será proferida no prazo estipulado pelas partes. Nada tendo sido convencionado, o prazo para a apresentação da sentença é de seis meses, contado da instituição da arbitragem ou da substituição do árbitro.” Sobre o tempo despendido: A tendência, portanto, é que o processo arbitral seja mais célere, principalmente se considerarmos que a sentença arbitral é, pelo menos em princípio, final, mas uma sentença do Poder Judiciário [geralmente] pode ser objeto de recurso e de outro recurso para os tribunais superiores e muito tempo pode passar até que a palavra final seja dita (LIMA, 2008, p. 23).

Visto isso, observa-se que a utilização da arbitragem é benéfica em várias situações conflituosas, tendendo a ser uma solução pacífica, com fins de preservação de relações contratuais. 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Através de bibliografia atualizada e especializada, artigos e pesquisas feitos por meio de internet, atingiu-se o grau de profundidade necessário para a produção deste trabalho, cujo objetivo era um estudo geral sobre o instituto da arbitragem e algumas principais considerações sobre o tema. Segundo Lakatos e Marconi (2003, p. 183): A pesquisa bibliográfica, ou de fontes secundárias, abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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monografias, teses, material cartográfico etc., até meios de comunicação orais: rádio, gravações em fita magnética e audiovisuais: filmes e televisão. Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto, inclusive conferencias seguidas de debates que tenham sido transcritos por alguma forma, quer publicadas, quer gravadas.

O tema é bastante discutido nas esferas jurídicas e com o advento do novo CPC, trazendo novas considerações a serem somadas as preexistentes, muito material bibliográfico de qualidade está sendo produzido pela comunidade legal brasileira. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do exposto, resta clara a crise em que o judiciário se encontra, principalmente quando analisamos o tamanho da demanda de litígios que a ele é imposto diariamente. Conforme se aprendeu ao produzir este trabalho, a arbitragem é uma opção válida, eficaz e menos custosa para a solução de conflitos. Estando as partes de acordo e manifestando sua vontade de utilizar esse método, ele deve ser aplicado sem ressalvas. Sua utilização está toda regulamentada em lei, o que traz segurança para as partes que dele fazem uso e, com o advento do Novo Código de Processo Civil e as mudanças que ele trouxe em relação ao tema, a prática da arbitragem continua sendo um ótimo e seguro meio de convenção extrajudicial. Assim, quando as partes não conseguem chegar a um consenso sobre determinada pendência, e existe a possibilidade de resolução extrajudicial do problema, deve-se incentivar a utilização da arbitragem para que a lide seja solucionada de forma mais célere e eficaz. REFERÊNCIAS BACELLAR, Roberto Portugal. Mediação e arbitragem. São Paulo: Saraiva, 2012. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 5 out. 1988. CONHECIMENTO E GESTÃO

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BRASIL. Decreto-Lei nº 1.608, de 18 de setembro de 1939. Código de Processo Civil. Diário Oficial da União. Rio de Janeiro, RJ, 18 set. 1939. BRASIL. Lei nº 9.307, de 23 de setembro de 1996. Dispõe sobre a arbitragem. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 23 set. 1996. BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 16 mar. 2015. CARMONA, Carlos Alberto. A Arbitragem no Processo Civil Brasileiro, São Paulo: Malheiros, 1993. FREITAS, Helena Patrícia. A Arbitragem como método adequado e vantajoso para solução de litígios. Disponível em: www.conteudojuridico.com.br/pdf/cj054990.pdf GUILHERME, Luiz Fernando do Vale de Almeida. Manual de arbitragem. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003. LIMA, Sérgio Mourão Corrêa. Arbitragem: aspectos fundamentais. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008. SCAVONE JUNIOR, Luiz Antônio. Manual de arbitragem. 5. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2014.

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ESTUDO SOBRE O CONSUMO DA CARNE OVINA NA REGIÃO DE LONDRINA-PR YONY BRUGNOLO ALVES1 FRANCISCO FERNANDES JÚNIOR2 RESUMO Durante muitos anos a comercialização da carne ovina foi desorganizada, com abate de animais de baixa qualidade. Isto criou uma imagem desfavorável ao produto. À medida que este cenário muda, a carne ovina recebe mais destaque, principalmente a carne de cordeiros que atende a nichos de mercado nos grandes centros urbanos. Objetivou-se com este trabalho mensurar o consumo e aceitabilidade da carne ovina na região de Londrina - PR, de acordo com o gênero, idade, nível de escolaridade e renda familiar das pessoas entrevistadas, assim como avaliar os parâmetros sensoriais da carne ovina segundo consumidores sem a informação da espécie animal, visando indicar ações norteadoras para a cadeia produtiva de ovinos de corte. Foram entrevistadas um total de 951 habitantes e realizado um estudo de consumidores com 134 habitantes, ambos de Londrina e região, durante a Exposição Agropecuária e Industrial de Londrina, no ano de 2014. Os principais motivos de não consumir a carne é a falta de costume 44,1% seguido do fato de não gostar 39,8%. O motivo pelo qual não gostam da carne é o cheiro forte do animal 44,8% seguido pelo sabor adocicado 20,2%. Quanto à aceitabilidade da amostra, 47,01% dos consumidores marcaram a carne como gosto muito, seguido por 26,87% que marcaram como gosto extremamente, apenas 2,25% dos consumidores marcaram a carne como desagradável. Observa-se que a grande barreira para aumentar o consumo da carne ovina é a falta de costume e experiências ruins que levam ao não consumo. Palavras-chave: Abate. Cordeiro. Comércio. Qualidade. 1 INTRODUÇÃO O mercado consumidor busca a cada dia por diferentes alternativas de fonte de proteína animal, e os ovinos são ruminantes com alta capacidade para 1

Mestre em Desenvolvimento Regional e Agronegócio pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE. Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Maringá – UEM. 2 Zootecnista, Mestre em Ciência Animal, Doutorando em Ciência Animal pela Universidade Estadual de Londrina - UEL.

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se alimentarem exclusivamente de pastagem e produzirem proteína de alto valor biológico (PACHECO; QUIRINO, 2008). Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, 2015), a estimativa do rebanho ovino brasileiro no ano de 2013 era de cerca de 17,3 milhões de cabeças de ovinos, o que correspondia a aproximadamente 1,5% do rebanho mundial. No ano de 2013 o Paraná possuía 737.392 cabeças de ovinos, que representava 4,3% do rebanho nacional (IBGE, 2013), em que o interesse principal era a criação de cordeiros para produção de carne. De acordo com o Ministério da Agricultura Pecuária e abastecimento (MAPA, 2015), estima-se que o consumo de carne ovina é de 0,7 kg/habitante/ano, muito abaixo do consumo de carne bovina, suína e de aves. O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE, 2005), registra que o baixo consumo de carne ovina no Brasil se deve a falta de hábito do consumidor, as irregularidades das ofertas, a qualidade inadequada do produto colocado à venda e à má apresentação do produto oferecido no mercado interno. É possível que as estatísticas relativas ao consumo de carne ovina sejam subestimadas, devido a grande maioria dos abates ainda acontecerem de forma clandestina, sem qualquer tipo de inspeção, esse fato não permite que se possa fazer estimativas confiáveis sobre o tamanho real do mercado brasileiro para carne ovina. Durante muitos anos a comercialização da carne ovina foi desorganizada, com abate realizado de forma incorreta e abate de animais velhos, levando a comercialização de carne com baixa qualidade, criando uma imagem desfavorável ao produto. À medida que este cenário muda, a carne ovina recebe mais destaque, principalmente a carne de cordeiros. O conhecimento do comportamento das pessoas em relação à carne ovina é um ponto crucial para o desenvolvimento dos sistemas produtivos, a fim de fornecer informações aos produtores, cooperativas e associações, de quais indivíduos são os potenciais consumidores desta carne, determinando os nichos de mercado para distribuição dos produtos e orientando a ações de marketing. Objetivou-se com este trabalho mensurar o consumo e aceitabilidade da carne ovina na região de Londrina - PR, de acordo com o gênero, idade, nível de escolaridade e renda familiar das pessoas entrevistadas, assim como avaliar os parâmetros sensoriais da carne ovina segundo consumidores sem a informação CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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da espécie animal, visando indicar ações norteadoras para a cadeia produtiva de ovinos de corte. 2 COMERCIALIZAÇÃO DA CARNE OVINA Os índices de informalidade na comercialização da carne ovina são superiores ao abate oficializado, sendo estimulada por uma fiscalização insuficiente. A informalidade no varejo traduz na aquisição de produtos sem inspeção sanitária. Na indústria, implica na falta de comunicação da movimentação de animais aos órgãos de defesa sanitária, aquisição de animais doentes, ausência de inspeção durante o abate, transporte inadequado quanto aos padrões de embalagem e de refrigeração de produto (SORIO; RASI, 2010). Além do que, entregam ao mercado consumidor produtos despadronizados e sem garantia de qualidade. O produtor de ovinos geralmente trabalha com a criação em ciclo completo, ou seja, faz cria, recria e engorda. Os acordos com as cooperativas são de entrega de cordeiros, animais que vão para o abate com três a cinco meses de idade, com carcaças bem acabadas. Garantindo desta forma carcaças homogêneas e de qualidade garantida. Entretanto, quando se trabalha com ciclo completo a cada estação de nascimento são separados algumas borregas e borregos para reposição de ovelhas e carneiros. Após a seleção dos melhores animais, ele acaba com algumas borregas ou machos inteiros com dois anos. Outro ponto importante são os animais de descarte, geralmente uma taxa de descarte de 15 a 20% ao ano (CAVALCANTE; LÔBO, 2005). São matrizes no fim da sua vida produtiva. Estas três classes geralmente não são aceitas pelas cooperativas, e o produtor acaba por não ter escolha a não ser vender para um atravessador – a preços muito baixos - que provavelmente irá realizar um abate clandestino e distribuir nos centros de varejo a preço mais baixo do que a carne inspecionada. Esta carne acaba prejudicando a imagem da carne ovina, influenciando negativamente no aumento do consumo pela população e na competitividade desta proteína em frente a outras proteínas de origem animal (BRESSAN, et al., 2001). Quando se avalia a carcaça de animais mais velhos, como ovelhas de descarte, têm-se então vários problemas de qualidade. As carcaças apresentam CONHECIMENTO E GESTÃO

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excesso de gordura, a cor da carne é mais escura, carne mais firme, e apresentam um sabor e aroma mais acentuados (BESERRA, 1999). O primeiro ponto negativo destas carcaças é o excesso de gordura acumulada, que significa desperdício no toalet da carcaça e preparo dos cortes para venda e consumo (FRANÇOIS, 2009). Outro ponto negativo é a tonalidade da carne, que se apresenta mais escura do que a carne de cordeiro. Como solução para agregar valor a esta carne e vendê-la como produto de qualidade, pode-se ao invés de trabalhar com os cortes tradicionais, fazer cortes diferenciados e temperados em porções menores para facilitar o preparo desta carne pelo consumidor. Como, por exemplo, com os pernis e paletas podem ser feitos discos temperados para grelha. O carré pode ser maturado, as costelas também podem ser vendidas temperadas e cortadas em porções menores e do pescoço pode fazer salames, linguiças, hambúrgueres, enfim todas as formas de embutidos e defumados. Na produção de ovinos não é prioritário a castração dos machos, já que estes são abatidos antes do início da maturidade sexual. Entretanto deve-se ter em mente que quando se trabalha com animais precoces como Texel, Dorper, entre outros; a maturidade sexual pode ter início aos quatro ou cinco meses de idade. E muitas vezes o confinamento pode não dar o ganho de peso esperado, fazendo com que aumente o período de terminação destes animais, podendo, desta forma, chegarem ao início da maturidade sexual. Outro ponto importante e que pode ser confundido com o “odor de macho” é a questão da suarda. A suarda é uma substância gordurosa semifluída que é produzida pelas glândulas sebáceas e sudoríparas e fica aderida no pelo ou lã dos ovinos. Na retirada da pele do animal no frigorífico a parte externa da pele não deve entrar em contato com a carne dos animais; no caso do funcionário que realiza a esfola, a mão que puxa a pele não deve ser encostada na carcaça. Quando isto ocorre, a carcaça e carne deste animal acabam com um odor que não sai no cozimento da carne e que novamente prejudica o paladar. No frigorífico a esfola pode ser feita manual ou mecanicamente; na maioria dos frigoríficos que abatem ovinos, por ser uma carcaça pequena e de fácil manuseio a esfola é manual utilizando-se de facas tradicionais. Este tipo de faca exige uma destreza muito grande do funcionário, para que a gordura não seja retirada e os músculos não sejam danificados. Uma forma de facilitar o trabalho, preservando a qualidade da carcaça e reduzindo a probabilidade de contaminar a carcaça com a suarda é a utilização de facas elétricas ou CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO CONHECIMENTOE EGESTÃO GESTÃO

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pneumáticas. Lembrando que o DIPOA/DAS exige que entre cada animal as facas sejam esterilizadas a 85°C, o que também retira qualquer sujidade das facas (GOMIDE; RAMOS; FONTES, 2006). 3 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA 3.1 TÉCNICA UTILIZADA Foram entrevistadas 952 pessoas, que foram questionadas a respeito do gênero, idade, renda familiar, nível de escolaridade (Tabela 1) e questões relativas ao consumo de carne ovina. Com relação ao consumo da carne ovina, a questão principal foi se o entrevistado consome ou não essa carne. No caso de resposta positiva foi questionado o local onde adquire esse tipo carne. E no caso de resposta negativa foi questionado o porquê não consome esse tipo carne. Foi questionado se caso o entrevistado encontrasse a carne desta espécie no mercado em cortes que facilitam o preparo e com preço acessível, ele compraria ou não. E foi questionado também, sobre o termo pelo qual os entrevistados conhecem a carne ovina, sendo esta uma questão de caráter educativo. Tabela 1: Porcentagem de pessoas entrevistadas quanto ao gênero, idade, nível de escolaridade e renda familiar. Categoria

Número de pessoas

Porcentagem

Gênero Masculino

471

49,5

Feminino

480

50,5

Menos que 19 anos

73

7,7

20 a 39 anos

478

50,3

40 a 59 anos

300

31,5

Maior que 60 anos

100

10,5

Sem instrução

8

0,8

Fundamental incompleto

92

9,7

Fundamental completo

107

11,3

Idade

Grau de escolaridade

CONHECIMENTO E GESTÃO

180 Ensino médio incompleto

52

5,5

Ensino médio completo

327

34,4

Ensino superior incompleto

103

10,8

Ensino superior completo

189

19,9

Pós-graduação

73

7,7

Até 1 salário mínimo

58

6,6

De 1 a 3 salários mínimos

332

37,7

De 3 a 6 salários mínimos

260

29,5

De 6 a 9 salários mínimos

121

13,7

Mais do que 9 salários mínimos

110

12,5

Renda familiar

Fonte: Dados da pesquisa (2014).

Foi realizado um estudo com 134 consumidores da região Norte do Paraná, nos dias seis e oito de abril de 2014, durante a Exposição Agropecuária e Industrial de Londrina. Cada consumidor recebeu uma porção (3 cm) de carré ovino grelhado sem tempero. A carne foi proveniente de cordeiros confinados Santa Inês abatidos com 35kg de peso vivo. Os provadores foram informados que iriam provar carne (sem informação de que era carne ovina). A carne sem tempero passou pelo processo de cocção em grill elétrico com temperatura controlada, quando alcançaram 70°C as amostras foram retiradas e enviadas para os provadores juntamente com um copo de água e uma bolacha de água e sal para rinsagem da boca. Após provarem a carne, eles respondiam um questionário avaliando a carne quanto à qualidade da textura, qualidade do sabor e aceitabilidade global da amostra. Os três atributos foram pontuados em uma escala de oito pontos que variava entre: gosto extremamente e me desagrada extremamente. Nas análises estatísticas foi utilizado um modelo de regressão logística, sendo calculadas as razões de chance (odds ratio - OR). A variável dependente foi consumo da carne ovina ('sim' ou 'não'), e as variáveis respostas foram gênero ('feminino' ou 'masculino'), renda familiar ('menor que um salário mínimo (
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