Conhecimento e objetividade: Diálogos entre a perspectiva weberiana e a interpretação foucaultiana de Nietzsche

May 18, 2017 | Autor: Vinicius de Melo | Categoria: Epistemología, Conhecimento, neutralidade axiológica
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Universidade Federal de Alfenas - M G Ciências Sociais Sociologia IV

Vinícius Oliveira de M elo

Conhecimento e objetividade: Diálogos entre a perspectiva weberiana e a interpretação foucaultiana de Nietzsche

Alfenas 20 de fevereiro de 2017 Vinícius Oliveira de M elo

Conhecimento e objetividade: Diálogos entre a perspectiva weberiana e a interpretação foucaultiana de Nietzsche Ensaio sobre as influências, qualidades e propriedades dos conceitos de conhecimento e objetividade numa relação entre Weber e Nietzsche, com finalidade de ser síntese final apresentada na disciplina de Sociologia IV, ministrada por Profº Carlos Eduardo Paiva do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de Alfenas.

Alfenas 2017

Resumo O presente trabalho tem por objetivo ser uma articulação das construções conceituais de conhecimento e objetividade na literatura de Weber com a leitura de Foucault sobre Nietzsche e a busca pelo conhecimento na modernidade desencantada, a necessidade de afastamento no trabalho científico e a importância do seu método. Palavras-chave: conhecimento, epistemologia, neutralidade axiológica, perspectiva

1. Introdução O artigo em questão busca realizar um a relação conceitual m ediante o conflito da verdade e do conhecim ento científico dentro das teorias de Weber e Nietzsche. Partindo da questão valorativa nas escolhas de objetos até os aspectos m ais am plos da influência do valor e das subjetividades no tratam ento do objeto e desenvolvim ento da pesquisa científica. Das aproxim ações na decepção com o m undo, a m orte de “Deus” e o desencantam ento do m undo, até as interpretações do “texto” e a com preensão científica na m ultiplicidade causal. Por entre as divergências dos lim ites do valor e do seu papel no conhecim ento do real. 2. Conhecimento e objetividade A ciência, incapaz de reproduzir o real, não pode ser, portanto, uma cópia ou imagem da realidade. Em outras palavras: conhecimento não é reprodução do mundo, é somente uma construção conceitual. (PINHEIRO, 2010, p.5)

Nos atendo ao conhecim ento enquanto representação do real im aginado com toda sua sim plificação e nuances decorrentes da escolha valorativa, podem os dizer que som ente por m eio de tal m ecanism o de seleção é possível haver contato com o real, m as com o vem os no trabalho de Weber, existe um lim ite da boa agencia do juízo de valor nas ciências da cultura. A preocupação de Weber com o aspecto valorativo se dá m ais em função de este ser em prim eiro m om ento um auxiliar na form a/m olde do objeto e em segundo m om ento enquanto instrum ento m etodológico que trabalha na relação e fricção entre valores e suas particularidades para estabelecim ento de um conhecim ento “universal” (no sentido de conhecim ento cientifico am plam ente aceito) e aceito enquanto verdade aos que “aceitam a ciência com o um m odo de atingi-la” (COHN, 2003). Enquanto isso, Nietzsche se atem m ais a natureza da verdade, essa, sem pre um a coleção de leituras, significações e interpretações (do “texto”) do que reprodução fiel do real, que perm anece inatingível e sem significado “em -si”, sendo tal significado atribuído pelas perspectivas. Nietzsche nos apresenta o conhecim ento enquanto algo fabricado “por anim ais inteligentes”, algo que, não houve um a origem , não foi sim plesm ente e naturalm ente

dado, m as enquanto um a invenção (Erfindung), essa um a ruptura, um pequeno com eço, descendente de um a relação de poderes (validações e valorações). Foucault utilizou-se do pensam ento nietzschiano para afirm ar que o conhecim ento não tem um a origem em si, intrínseco ao instinto do hom em e que foi inventado a partir de conflitos e relações de poder. E em decorrência dos em bates entre instintos, sendo assim um produto dos instintos m as não da m esm a natureza que estes. O conhecim ento é contranatural, ele se desenvolve em oposição ao real, em choque ao real, desnaturalizando a natureza, ordenando o desordenado. A form a com o Nietzsche através de Foucault lida com o conhecim ento, m esm o que não o conceituando enquanto conhecim ento científico, em função de seu contexto, dá pistas claras da relação com o conhecim ento e o próprio tipo ideal na literatura de Weber. A própria luta entre o conhecim ento e a natureza a se conhecer (natureza desordenada, desprovida de sentido, etc) se reflete um tanto a percepção da luta do conhecim ento científico com os valores e em am bos os casos a im possibilidade de trabalhar com um “real”, som ente o “perspectivism o” em Nietzsche e os “tipos ideais” e Weber. Para demonstrar que o conhecimento era um conhecimento fundado, em verdade, nas coisas do mundo, Descartes precisou afirmar a existência de Deus. Se não existe mais relação entre o conhecimento e as coisas a conhecer, se a relação entre o conhecimento e as coisas conhecidas é arbitrária, de poder e de violência, a existência de Deus não é mais indispensável no centro do sistema de conhecimento. (FOUCAULT, 2003, p19)

É necessário que, com a “ruptura da teoria do conhecim ento com a teologia”, que era essencial para a justificação da aproxim ação exata do conhecim ento com o real tam bém se deixe de lado toda a tentativa da universalidade, m onocausalidade e m eta-discurso, algo que nos leva às sim ilaridades de divergência de Foucault e Weber com Marx, ou o “m arxism o acadêm ico” com diz Foucault. Talvez a form a m ais eficaz de se debruçar sobre a utilização ou alicerçam ento da verdade e do conhecim ento entre as duas óticas seja, m ais ou m enos precisam ente, que na leitura foucaultiana de Nietzsche (e em partes do próprio filósofo) o foco esteja na invenção e no fim , enquanto em Weber esteja no m eio,

partindo da consideração que a verdade total não é atingível m as a verdade científica (parcial m as universal dentro de si) sim . A relação dos valores com a conduta do cientista enquanto trabalhador vocacionado nos leva a outras considerações. Prim eiro adm itam os que existem duas form as m otrizes do bom cientista: a paixão – ora, não seria a escolha do objeto, despojado de valores, puro irracionalism o - e o trab alho, e que essas andam juntas m as possuem lim ites, principalm ente a prim eira, para atuar dentro da ciência e posteriorm ente na sua divulgação (docência, etc). Na leitura foucaultiana de Nietzsche, a paixão enquanto instinto que nos atravessa m as não entra em luta com o objeto, nos assem elha, aproxim a e nos identifica com o objeto (com o em Spinoza), não pode ajudar-nos a conhecer o conhecim ento. Por outro lado, o distanciam ento (em Weber), na form a do rir, deplorar e detestar (talvez herança kantiana irônica de am bos os pensadores) entram em luta com o objeto, dir-se-ia até, que o conflito, ora pela orientação do espírito, ora pelo m étodo científico, nos faz lutar com as próprias paixões, resultando num conhecim ento m ais apurado do objeto ora am ado. Resta enfim o papel da objetividade quanto ao conhecim ento. Observam os que, a objetividade em Weber, não diz respeito à um a transposição exata da realidade para a teoria m as sim um tipo de ordenam ento que alcança um a certa universalidade no m eio científico, a objetividade não está no resultado causal (relação objetiva entre coisas) e sim no m étodo que, auxiliando na com preensão da realidade nos dem onstra o possível ser (invés do “dever ser”) trazendo um a conexão conceitual entre problem as com o diz Weber. A validade sociológica do conhecim ento vem a ser portanto um resultado de influências e convergências que som ente necessitam do artifício do “dever ser” dentro de si m esm a, com o a neutralidade axiológica (afastam ento), a utilização de “tipos ideais”, e assum ir a parcialidade do conhecimento trabalhado bem com o o recorte que se utiliza do valor. 3.Conclusão Não som ente hoje, m as tam bém em qualquer outro m om ento histórico a verdade está/esteve em disputa. Dentro do m eio judicial, o inquérito se estabeleceu com o um dos prim eiros m eios ordenados de se buscar a verdade orientada à um fim . Para além dos tribunais, a própria academ ia, enquanto catedral do conhecim ento

válido, é cobrada e se dispõe a dar sua explicação, e para isso precisa de suas ferram entas. A form a com o Foucault trabalha a ordem jurídica nos desperta a atenção para o fato de que, com a racionalização da sociedade, da própria academ ia é cobrada m uitas vezes consensos que auxiliem na resolução de conflitos interpessoais, o que m uitos conceituam com o “judicialização da vida”, o que nos aproxim a bastante da teorização de direitos hum anos. Por outro lado, desde m uito antes são dem andadas soluções para conflitos m ais am plos com o de classes, raça, etc, m uitos até m esm o instrum entalizando a ciência que carecia de um a ordenação precisa. Mas, de qualquer form a, ao que nos é exigido, tentam os responder. O desencantam ento do m undo, bem com o o niilism o, nos coloca perante situações-problem a com um outro olhar: existem m uitas causalidades, existem muitos discursos, nenhum significado im anente, m as, existem m uitas verdades? Com o operacionalizar isso num m undo que urge por sentenças de m aneira quase religiosas? A ciência não poderia criar m orais e visões de m undo, m as sim , através de sua ordenação m etodológica, nos oferecer tipos ideais que nos auxiliam a traçar relações causais, várias, e não som ente um a. Outrora a busca por leis gerais nos dificultou a com preensão, a aproxim ação (ou reconstrução conceitual) do problem as que buscávam os tão afetuosam ente solucionar. Num m undo cada vez m ais plural, faz-se necessário que as ciências sociais se atente a m ultiplicidade dos discursos, ao passo que se solidifique enquanto conhecim ento capaz de obter verdades a partir de um m étodo funcional.

Referências Bibliográficas COHN, Gabriel. A crítica dos valores, in Crítica e Resignação: Marx Weber e a teoria social. São Paulo, Martins Fontes, 2003 FOUCAULT, Michel. Conferência 1, in A verdade e as form as jurídicas. Rio de Janeiro, NAU Editora, 2003 WEBER, Max. A “objetividade” do conhecimento nas ciências sociais. São Paulo, Ática. 2006 NASCIMENTO, Gerson Gom es do; AIRES, Jussara Danielle Martins. O sentido da objetividade do conhecimento nas ciências sociais para Max Weber . Revista Eletrônica de Ciências Sociais, ano 7, ed. 15, jan./abr. 2013 Disponível em < https://csonline.ufjf.em nuvens.com .br/csonline/article/viewFile/2260/1607> PINHEIRO, Júlio César Ferrão. Ecos de Nietzsche na teoria da ciência de Max Weber. Revista

Argum entos, Ano

2, N°. 4



2010. Disponível

em : <

htpp://www.periodicos.ufc.br/index.php/argum entos/article/view/225> SANTOS, Leandro dos. Um mapeamento das aproximações entre Weber e Nietzsche. Plural (São Paulo. Online), São Paulo, v. 21, n. 1, p. 139-156', Junho 2014. Disponível em : . Acesso em : 20/02/17: doi:http://dx.doi.org/10.11606/issn.2176-8099.pcso.2014.83625.

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