conhecimento, literatura e escritas na e da Madeira. séculos XV e XXI

August 30, 2017 | Autor: Alberto Vieira | Categoria: Literatura, History of Madeira Islands, Ciências Sociais, Ciencias Sociales, Madeira, Historia Da Madeira
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Conhecimento, literatura e Escritas na e da Madeira.

Séculos XV- XXI

Alberto Vieira CEHA-Madeira

APRESENTAÇÃO. Ao contrário do que muitas vezes é dito, a Madeira foi e é um espaço de conhecimento e de permanente intervenção das diversas formas de escrita, trazendo para a produção científica e literária das ilhas e de Portugal um acervo significativo publicado em livro ou em suporte digital. Muito desse espólio literário ficou votado ao esquecimento. A incúria dos madeirenses fez com que muita desta produção literária não merecesse o devido reconhecimento na ilha, não obstante alguns autores terem singrado fora dela. Daí certamente o facto de, ao estabelecermos comparações com outras regiões, como os Açores, minorasse o papel da literatura madeirense, porque produzida na ilha, mas infelizmente ignorada por muitos madeirenses. A imprensa escrita teve um papel fundamental na valorização e afirmação do legado literário madeirense, a partir de 1821, seguindo-se-lhe uma forma de divulgação através dos almanaques, entre o último quartel do século XIX e as primeiras décadas do seguinte. Esta cultura e literatura dos almanaques continuam ainda ignoradas e no esquecimento. Esta contabilização da produção literária da ilha e a comparação, se é possível e correto fazê-lo, pode atribuir-nos, por vezes, um estatuto de menoridade, mas apenas por ignorância. O que pretendemos reunir a seguir é uma abertura de vias para o conhecimento deste vasto espólio, suscetível de uma nova interpretação. Por outro lado, pressente-se nos madeirenses, enquanto ilhéus atlânticos, uma postura universal que se alheia de pretensos bairrismos doentios e que, por consequência, hipervaloriza o lugar, egocentricamente. Desde o princípio que o madeirense encarna esta sua vocação universal, fazendo da ilha um espaço permanentemente aberto ao mundo. O facto de ter sido o primeiro espaço de ocupação europeia atlântica, que se projeta no novo mundo construído pelos europeus, a partir do século XV, foi favorável e determinou esta vocação. A importância do arquipélago, como antecâmara do Novo Mundo, servindo, quase até a atualidade como porto de escala da expansão europeia, deu o resto e reforçou tal protagonismo. Nos últimos cinco séculos, a produção literária e científica realizada por madeirenses logrou

reconhecimento para além da fronteira da ilha e permitiu uma afirmação ímpar na Literatura e na História da Ciência e da Técnica, daí que não se possa definir o madeirense quase como iletrado. Há uma produção literária e um conhecimento científico significativos gizados na ilha por madeirenses e que tem sido injustamente esquecido. É necessário, pois, trazê-los à luz do dia e, se preciso, rotulado de forma clara de “madeirense” , para que todos se apercebam da sua importância. Não se torna fácil elencar esta produção literária e científica, em breve tempo e espaço, tão vasto é o espólio de que dispomos e, a maioria, de inestimável valor, suplantando o espaço da ilha e tornando-se universal. A lista que apresentamos no final tem o intuito de elucidar essa situação e, acima de tudo, de realçar o mérito dessa produção, reconhecida por universitários nacionais e estrangeiros. Atente-se aos estudos, até ao presente, realizados sobre Herberto Hélder, José Agostinho Baptista Ana Teresa Pereira ou Tolentino Mendonça, a título de exemplo. Fomos exímios na escrita, como no gerar de conhecimentos tecnológicos ou em assentar descobrimentos tecnológicos que mudaram o nosso quotidiano e fizeram o muito que foi a nossa riqueza. Desta forma, entendemos a necessidade de alargar esta apreciação aos aspetos mais marcantes do conhecimento tecnológico. Queremos apenas ver e entender a sua presença em todo o mundo como técnicos, escritores, poetas e advogados. Um deles prende-se com o processo de expansão europeia e a afirmação da economia-mundo, que implicou múltiplas transformações nos hábitos e técnicas que atuam no sector produtivo para fazer vingar as culturas produtivas e geradoras de riqueza, como aconteceu, por exemplo, com o açúcar, que dá o primeiro passo na ilha e que, por força disso, projetoua em todo o mundo açucareiro do espaço atlântico. Isto quer dizer que a açucarocracia começou na Madeira e chegou depois a todo o lado, nas suas múltiplas expressões. Também é por força desta açcucarocracia que os madeirenses tiveram condições para singrar nas artes e letras, cursando em universidades de renome, em Portugal e na Europa. Aqui merece uma breve reflexão sobre questões relacionadas com a preguiça e o ócio, partindo do princípio de que estas atividades criativas pertencem a este domínio e só acontecem na Sociedade, quando estão satisfeitas as necessidades fundamentais de sobrevivência. De acordo com Joffre Dumazedier (1976), “o lazer é um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se, ou ainda, para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais.” Importa refletir um pouco sobre as ideias de ócio e de lazer, no decurso da História, para chegarmos à época que nos interessa. No Mundo Antigo, os atenienses tinham, no ócio, uma condição essencial para a sabedoria, materializando-a, no quotidiano, entre os ginásios, as termas e os fora. Daí resulta que ‘ócio’, em grego, significa escola. Entretanto, na Idade Média, o cristianismo impôs o trabalho como um

castigo e uma forma de purificação dos pecados, fazendo restringir os momentos de lazer às festividades religiosas. Com Lutero, surge uma diferente interpretação dos textos bíblicos, a valorização do trabalho e a condenação do ócio - por força do capitalismo emergente que tem, no protestantismo, um dos principais pilares - tornam-se necessárias. Assim, o trabalho deixa de ser um castigo para se transformar em algo que vai ao encontro de Deus e que enobrece o Homem. A Revolução Industrial propiciou, ao Homem, a descoberta de novas técnicas que melhoraram as condições do processo produtivo, mas não as do trabalhador. A moral burguesa é adversa ao lazer, sendo o tempo livre a oposição ao trabalho. A redução das horas de trabalho, ou as férias, são apenas entendidas como uma forma de recuperação das energias necessárias para voltar a trabalhar. Mesmo assim, o século XIX representa o princípio para a democratização do ócio. A Revolução trouxe importantes transformações, na sociedade e abriu portas para que o lazer fosse um direito de todos os cidadãos. As condições de trabalho propiciadas aos operários ingleses, despertaram as consciências de alguns para muitas condições infra-humanas que se verificavam no mundo laboral. Desta forma, enquanto, em 1848, K. Marx e F. Engels publicavam o “Manifesto comunista”, em 1880, Paul Lafargue, genro de Karl Marx, aparecia, em França, com o “Direito à Preguiça” e, em 1899, Thorstein Veblen publicava, nos Estados Unidos, Leisure Theory Class. Mas, a consagração definitiva, pela Humanidade, desta democratização do lazer acontecerá apenas em 1924, com a Declaração Universal dos Direitos Humanos que, no seu Artº 24, proclama aquilo que poderá ser conhecido como a revolução do ócio: “Toda a pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e férias periódicas remuneradas.” Recorde-se que, nesse mesmo ano, a Assembleia Geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT) dedicou um Encontro ao tema do lazer. Finalmente, em 1932, Bertrand Russell publicava o seu “Elogio da Preguiça”, muito claro quanto aos direitos e importância do lazer. Mas, quanto tempo será preciso para que ele se institucionalize e a sociedade mundial aceite a jornada de trabalho reduzida para oito horas, a sociedade e os políticos aceitem que todos tenham direito às férias, ao lazer, à diversão e, porque não, ao ócio? O reconhecimento desta realidade fará com que a sociedade se estruture de forma diversa e tenha padrões distintos de valorização do conhecimento e da produção científica ou literária. Em termos da produção literária e da sua integração e assimilação pelo todo dos cidadãos, este é um momento importante. O reconhecimento do direito ao ócio facilita a fruição dessas leituras. Por outro lado, todos devem dominar a escrita e leitura, pelo que criação literária e o seu incremento deverá estar em ligação direta com a ideia de vulgarização do ensino e do facto da Sociedade dispor de meios de riqueza suficientes para institucionalizar o ócio. Desta forma, houve momentos em que enquanto a sociedade madeirense esteve mais empenhada em valorizar os aspetos práticos do quotidiano e a sua solução imediata dos seus problemas, não dando

grande importância às coisas da cultura e da literatura. Já no século XVI convivemos com uma riqueza desusada que gera excedentes e que permite o luxo de produtos importados, assim como a possibilidade de alguns aprenderem a ler e escrever e poderem exercitar-se dentro e fora da ilha em escolas e universidades, não apenas nacionais, mas europeias. Para nós, entre o último quartel do século XV e meados do século XVI foi um momento de prosperidade anunciada pelo açúcar que fará gerar inusitada riqueza e, consequentemente, outras necessidades e exigências da sociedade madeirense. O mesmo se poderá dizer quanto ao período que medeia entre a segunda metade do século XVIII e XIX, onde se anunciam novos excedentes, por força da disponibilidade de uma nova riqueza gerada pelo vinho. Agora basta introduzir estes elementos na História Literária Madeirense para sermos se realmente existe sintonia. A ausência da estrutura universitária na ilha não foi um drama para o panorama cultural madeirense, tão pouco sinónimo da não prossecução dos estudos universitários para muitos madeirenses, ou da falta de espírito científico, que se pautou, ontem como hoje, pela realização de tertúlias culturais e científicas. Aliás, muitos madeirenses singraram na vida universitária do país e estrangeiro e deixaram obra científica renomeada. As condições de prosperidade de muitas famílias madeirenses nos séculos XVI e XVII fizeram com que jovens seguissem a carreira universitária, formando-se em Cânones, Leis, Medicina e Teologia. Por isso, podemos dizer que a universidade esteve ausente da ilha mas o espírito universitário foi muito forte no apelo às novas gerações para a continuação dos estudos no reino ou fora dele. Para o período de 1573 a 1730, a Universidade de Coimbra recebeu 274 madeirenses para o curso de Cânones (68%), Teologia (12%), Leis (9%), Medicina (4%). Antes de 1573, outros estudantes haviam frequentado as universidades de Paris, Salamanca, Itália. A elevada frequência universitária madeirense e o mérito evidenciado por alguns relevam a importância que assumia na ilha o ensino, através de escolas paroquiais ou episcopais. Situação, aliás, corroborada pelo número de indivíduos que, no decurso do século dezasseis, receberam ordens sacras. A criação da Diocese do Funchal (1514), por um lado, e o concílio de Trento, por outro, propiciaram o avanço do ensino. No período de 1538 a 1558, foram 1040 os madeirenses que receberam ordens sacras. E o facto mais notório é de que estes se distribuem por quase todas as freguesias do arquipélago, não obstante a supremacia evidente do Funchal com 485 ordinandos. Parece-nos ser um valor significativo, se tivermos em consideração que, só na segunda metade do século XVI, foram instituídas as estruturas adequadas: a criação do Seminário Diocesano, a 20 de setembro de 1566 e a abertura do colégio S. João Evangelista, a 6 de maio de 1570. Alguns dos madeirenses que se evidenciaram no panorama nacional e estrangeiro são anteriores ao lançamento destas estruturas. Os descendentes dos capitães do Funchal merecem especial atenção: Leão Henriques cursou em Paris e foi reitor da Universidade de Évora, inaugurada a 1 de novembro de

1559; Luís Gonçalves da Câmara foi reitor do Colégio dos Jesuítas em Coimbra e Roma; Martim Gonçalves da Câmara, doutor em Teologia, provido em 21 de junho de 1563 no cargo de reitor da Universidade de Coimbra. Antes, porém, havia sucedido um processo de ocupação e povoamento, com a mobilidade de homens, culturas, conhecimentos e técnicas. E o facto de ter sucedido pela primeira vez no espaço atlântico na Madeira, projetou a ilha e os madeirenses para todo esse Novo Mundo e a ilha é uma referência relevante nesse projeto. Os Madeirenses estão no projeto colombino de descoberta europeia da América, na afirmação do Brasil, na divulgação da cultura e técnica de produção açucareira. Parafraseando os sermões do Padre António Vieira, podemos a afirmar que Deus deu aos madeirenses um berço estreito para nascer e o mundo inteiro para viver. Nesta explanação da realidade madeirense, achamos por bem diferenciar a escrita e literatura, do conhecimento e técnica. Daremos conta da produção literária, fundamentalmente visível em poesia e prosa, cobrindo os cinco séculos passados, enquanto ao segundo queremos pôr o ênfase no contributo madeirense, para a construção da nova sociedade atlântica, para a definição das formas e técnicas que geraram a riqueza que fez o tesouro deste espaço amplo do Atlântico, com expressão nas culturas, na adaptação das técnicas agrícolas e industriais, assim como na definição de modelos sociais e institucionais adequados para esta nova realidade que foi a sociedade atlântica, a partir do século XV. O madeirense foi o novo atlante que agarrou o desafio do desconhecido e criou as condições para a sua apropriação e valorização económica. A nossa gratidão por tudo isto só se torna possível quando o valorizamos e tornamos conhecido de todos, evitando assim apropriação indevida deste protagonismo. 1.-ESCRITA E LITERATURA. Torna-se fácil rastrear e testemunhar este protagonismo na produção literária, não apenas pelo volume e valor desta produção, mas acima de tudo pelo reconhecimento e valorização em todo o mundo, como aconteceu, por exemplo, com o trabalho do latinista Manuel Álvares, nascido na Ribeira Brava, que escreveu uma Gramática Latina que foi publicada e usada em todo o mundo durante vários séculos. Nos séculos XV e XVI, perante a necessidade de adaptar o novo espaço ao processo de humanização em curso seria de esperar que os primeiros povoadores fossem mais dados à força do que à gentileza das letras e que a literatura, na sua expressão mais nobre da poesia, não tivesse lugar. Não foi assim, pois tivemos um grupo de poetas da ilha representados no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, ao lado de outros autores continentais. Alguns destes estão ligados aos primeiros promotores do processo de povoamento: Tristão Teixeira (? – 1506), filho de Tristão Vaz, que ficou conhecido na ilha como Tristão das Damas e, reino, por Tristão da Ilha, João Gonçalves da Câmara (1414-1501), filho de João Gonçalves Zarco, João Gomes (?-1495), escudeiro do infante D. Henrique, Pedro Correia (?-?), um dos mais importantes poetas da Madeira, genro de Bartolomeu Perestrelo, Duarte de Brito (?-1514), casado com uma das netas de Zarco, Manuel de Noronha (?-1535), neto de João Gonçalves Zarco, Ruy Dias de Sousa (?-?), casado com uma neta de Zarco, João Gomes de Abreu (?-?), casado com uma neta de

Tristão Vaz e Rui Gomes da Grã. A par disso, tivemos Baltazar Dias, conhecido como o poeta cego da ilha que escreveu e divulgou: Auto de Santo Aleixo, Auto de El-Rei Salomão, Auto da Paixão de Cristo, Auto da Feira da Ladra, Auto de Santa Catarina, Virgem Mártir, Auto do Nascimento de Cristo, Conselhos para Bem Casar, e Tragédia do Marquez de Mantua. No século XVII, foram publicadas e divulgadas as obras seguintes: Auto da Malícia das Mulheres, História da Imperatriz Porcina, mulher do Imperador Lodonio, de Roma, e Trovas sobre a Morte de D. João de Castro. A sua obra universalizou-se e chegou até São Tomé, através do tchiloli. Também passou a fronteira até ao Brasil. A chegada à ilha dos jesuítas, na segunda metade do século XVI, foi um fator muito favorável para afirmação do ensino e da produção literária. O Colégio teve um papel destacado no ensino, para os madeirenses, e muitos professaram na Companhia de Jesus, adquirindo um papel relevante, dentro e fora dela. Outras ordens religiosas e outros mais madeirenses seguiram o mesmo caminho, como Frei Damião das Chagas, Frei Afonso Costa ou Afonso da Ilha, Frei Gregório Baptista, Frei João Pinto da Victoria, Frei Francisco de Santa Teresa, Frei António da Visitação (1546-1606). Dentro do clero secular, tivemos ainda Manuel Constantino, Francisco de Castro, António Veloso de Lira, Francisco de Valhadolid (1640-1700), considerado um dos maiores latinistas da sua época e um orador de excelência, sendo os seus sermões muito afamados. Foi na área das Humanidades que tivemos um dos mais notáveis Madeirense/ribeirabravenses cujo nome chegou a todo o mundo. É ele Manuel Álvares, nascido em 1526. Aos vinte anos, entrou para a Companhia de Jesus onde se afirmou como um notável professor de Humanidades. Foi Reitor do Colégio das Artes em Coimbra (1561-66), depois, da Universidade de Évora (1573) e do Colégio de Santo Antão (1574-75). A sua fama não resultou do exercício destas funções, mas sim da sua obra, em especial a "Gramática Latina", publicada em 1572, que veio revolucionar o ensino do latim em todo o mundo. Esta, pelas mãos dos jesuítas, espalhou-se por todo o mundo, tendo 530 edições até ao séc. XIX. Em Portugal, só foi destronada pelo ódio do Marquês de Pombal à Companhia de Jesus, que levou à sua proibição por alvará de 20 de junho de 1759. Depois, em 1568, o jovem rei D. Sebastião assume o trono, com apenas 14 anos, escolhendo para e escrivão de puridade, em lugar de Pedro de Alcáçova Carneiro por Martim Gonçalves da Câmara, irmão de Rui Gonçalves da Câmara que era confessor do monarca. O P. Leão Henriques, madeirense, esteve também, à frente da Companhia de Jesus e o P. Sebastião foi nomeado provincial em Portugal, em 1577. Foi um das épocas de ouro da literatura e cultura madeirenses. Outro momento fulgurante da literatura madeirense aconteceu no século XVIII, com Francisco Paula Medina de Vasconcellos (1768-1826) que nos legou os poemas heroicos, Zargueida, Descobrimento da Madeira (1819) e Georgeida (1819), e Francisco Álvares de Nóbrega (1772-1806), de Machico, conhecido como o “Camões Pequeno”, perseguido pela Inquisição. Com a expulsão dos jesuítas em 1759, a ilha perdeu-se esta infraestrutura de apoio ao ensino e

valorização cultura da ilha e o Estado não foi célere em encontrar formas de substituição dos jesuítas. Aliás, só com a revolução liberal, a partir de 1820, o Estado propiciou uma nova aposta no ensino público, que deveria ser garantido a todos os cidadãos, pelo facto de ser uma forma de regeneração da sociedade. A reorganização do ensino conduziu ao aparecimento do ensino liceal em 17 de novembro de 1836 e das escolas de ensino agrícola e industrial, a partir de 1852. No Funchal, o Liceu foi instalado a 12 de setembro de 1837, ano em que também surgiu a Escola Médico Cirúrgica para a formação de médicos e parteiras. Esta foi a primeira estrutura de ensino superior na região que perdurou até 1910, sendo encerrada pela República. Esta aposta na criação de novas escolas e as constantes reformas do ensino foram insuficientes e incapazes de banir o espectro do analfabetismo que se manteve sempre elevado, no arquipélago, até finais do século XX. Assim, entre finais do século XIX e princípios do século XX, o grupo de madeirenses que não sabia ler nem escrever representava mais de oitenta por cento da população e só a partir dos anos sessenta foi inferior aos cinquenta por cento. De entre as reformas do ensino, merece destaque a de 1895, de iniciativa do madeirense, Jaime Moniz (1837-1917). O seu combate em favor do ensino, as propostas reformadoras do mesmo conduziu a que o liceu do Funchal merecesse o seu nome a partir de 1919. Todavia, a dignificação desta instituição de ensino só foi possível a partir de 1933, com o projeto de um novo liceu, inaugurado em 1946. O mesmo sucederá com a Escola Industrial, criada em 1889, mas que só teve instalações próprias em 1958. O ensino não se resumiu às escolas oficiais e tão pouco estas se limitaram à concorrência das católicas. Em 1819, Joseph Phelps criou a escola Lancasteriana, onde se pôs em prática o sistema de ensino de Lancaster. Esta escola caracterizava-se pela ausência da palmatória e, por consequência, de uma forma branda de ensino. Manteve-se através de fundos de uma associação criada em 1821. Mary Wilson também teve consciência desta realidade e criou, nos fins do século XIX e princípios do século XX, várias escolas em toda a ilha (Santa do Porto Moniz, Arco de São Jorge, Santana, Santo da Serra, Machico e Câmara de Lobos. Outra iniciativa particular, mais polémica, sucedeu a partir de 1838 com o médico e pastor protestante Robert Kalley, que montou uma escola para ensino das crianças. A ação de propaganda prosélita conduziu à sua expulsão em 1846, com muitos dos seus adeptos, tornando-se um fator de afirmação dos madeirenses no mundo americano. As escolas oficiais não eram suficientes, muitos pais socorriam-se das particulares, quando as havia. Aliás, estas foram pioneiras no alargamento do ensino secundário, a partir da década de sessenta do século XX, aos concelhos rurais, como foi o caso dos colégios de S. Vicente e Machico. A igreja continuou a ter um papel de destaque no ensino, através do seminário do Funchal, reformado, em 1877, por iniciativa do bispo D. Manuel Agostinho Barreto, que o entregou à Congregação dos Padres Lazaristas. A direção do Padre Ernesto Schmitz conduziu à sua valorização, fazendo dele um importante espaço científico com um museu de Ciências Naturais.

A partir do século XIX, as coletâneas literárias e a imprensa serão um meio poderoso de divulgação da produção poética madeirenses. Assim, em 1871, tivemos a primeira coletânea romântica, Flores da Madeira, por iniciativa do Dr. José Leite Monteiro e do Cónego Alfredo César d’Oliveira. Em 1874, o poeta, Francisco Vieira publica outra coletânea, Álbum Madeirense. Em 1883, surge o Álbum Poético e Charadístico. Também em finais do século XIX teve muita divulgação na ilha a literatura de cordel, forma de afirmação e divulgação da criação literária popular. Estes poetas populares são quase sempre analfabetos, ou com pouca formação literária e são conhecidos como feiticeiros. O mais conhecido é Manuel Gonçalves, que nasceu na freguesia do Arco de São Jorge, em 1858, onde veio a falecer em 1927. Tivemos outros feiticeiros em S. Vicente e na Calheta. A reforma do ensino na década de setenta permitiu uma maior abertura à frequência dos diversos graus de ensino a todos os estratos sociais, mas o golpe contra o analfabetismo só foi uma realidade com a revolução de 25 de Abril e o processo autonómico. A política autonómica a partir de 1976 permitiu que o ensino secundário fosse alargado a todos os concelhos da região, ao mesmo tempo que se estabeleceram as escolas a tempo inteiro. Ainda neste quadro, temos a criação da Universidade da Madeira, em 1988. Perante o espectro reinante do analfabetismo a circulação do livro e da imprensa periódica, que fez a sua aparição com a revolução liberal, circunscrevia-se a um grupo muito reduzido da sociedade madeirense com forte incidência na cidade. Raros eram os leitores do meio rural e poucos também os jornais aí publicados. Apenas se conhece a imprensa nas vilas da Ponta de Sol e Santa Cruz. Mesmo assim, ela foi um meio importante de divulgação cultural e acima de tudo de combate político. A Igreja Católica fez uso da imprensa para a sua afirmação e expressão doutrinal. O facto mais evidente é a presença de elementos do clero na criação de alguns dos mais importantes periódicos da ilha: o padre João Crisóstomo Espíndola de Macedo fundou o Pregador Imparcial da Verdade, da Justiça e da Lei (1823-24); em 1876, o cónego Alfredo César de Oliveira surge com o primeiro diário, o Diário de Notícias; O Jornal, fundado em 1906 pelo cónego António Manuel Pereira Ribeiro, foi retomado por Luís Vieira de Castro em 1923, e desde 1932, com o nome de Jornal da Madeira, passou a propriedade da Diocese. O panorama literário da ilha no século XX foi rico, surgindo vultos que se destacaram no panorama nacional: Os Cinco Vagabundos” - João Cabral do Nascimento, Luís Figueira de Castro, Álvaro Manso de Sousa, Rodolfo Ferreira – o Visconde do Porto da Cruz, Ernesto Gonçalves e António da Cunha de Eça. Na poesia, merecem referência, Cabral do Nascimento, Edmundo Bettencourt, Herberto Hélder e José Agostinho Baptista. Já na prosa, o mérito vai para Ernesto Gonçalves, Horácio Bento de Gouveia, Ernesto Leal e Ana Teresa Pereira. A historiografia madeirense dá os seus primeiros passos com os trabalhos de Álvaro Rodrigues de Azevedo, mas foi em pleno século XX que se deram os avanços mais significativos. As comemorações do quinto centenário do descobrimento da Madeira, que decorreram entre 1922 e 1923, deram o mote

para esta aposta. Um dos principais resultados foi o projeto do Elucidário Madeirense, uma obra de cariz enciclopédico, da responsabilidade do Padre Fernando Augusto da Silva e Carlos Azevedo de Menezes. Desta geração, ficaram os nomes do Pe. Fernando Augusto da Silva, Pe. Eduardo Pereira e Alberto Artur Sarmento. Na sua senda, tivemos o Pe. Juvenal Pita Ferreira, Joel Serrão, Fernando Jasmins Pereira, Dr. Antonino Pestana, o Dr. Manuel Pestana Reis, o Pe. Eduardo Pereira, o Cónego Fernando de Menezes Vaz e o Dr. Juvenal de Araújo. A obra de Cabral do Nascimento (1897-1978) destaca-se na primeira metade do século XX: As Três Princesas Mortas num Palácio em Ruinas (1916), Além-mar (1917), Descaminho (1926), Arrabalde (1928), Litoral (1932), Ilha (1940), Relance (1942), Auto da Lenda (1943), Confidência (1945), Digressão (1953), Na década de cinquenta, foi relevante o papel de João Brito Câmara (1909-1967) através das páginas do Semanário “Eco do Funchal”, o “Eco Literário” onde aparecem as escritas de Edmundo Bettencourt, Herberto Hélder, Florival de Passos, Rogério Correia, Horácio Bento de Gouveia, Octávio de Marialva, Luís Marino e Baptista Santos. Edmundo de Bettencourt (1899-1973), madeirense, foi um dos fundadores do movimento literário Presença, com José Régio, Gaspar Simões e Branquinho da Fonseca. Foi um dos grandes poetas da época cuja obra aparece em 1930: O Momento e a Legenda, e em 1963, Poemas de Edmundo. Na ilha, ganha expressão, em 1952, o jornal “Eco do Funchal”, que divulga através do suplemento literário Arquipélago, poetas como António Aragão, Carlos Cristóvão, Florival de Passos, Jorge Freitas, Rebelo Quintal, Rogério Correia, Silvério Pereira e Herberto Hélder. A isto, se associam os suplementos literários dos jornais Jornal da Madeira, Diário de Noticias e Notícias da Madeira. O poeta José António Gonçalves (1954-2006) foi um importante divulgador dos poetas da ilha através das antologias de poesia: Ilha (1975), Ilha 2 (1979), Ilha 3 (1991), Ilha 4 (1994) e as coleções, “Cadernos Ilha” e “Livros de Cordel”. Da sua criação poética temos, entre outros: Os Pássaros Breves (1995), Pedra Revolta (2000), Esquivas são as Aves (2001), Memórias da Casa de Pedra (2002) e As Sombras no Arvoredo (2004). A partir da década de sessenta, revela-se uma geração de poetas madeirenses, que sem perderem as suas raízes e influências madeirenses se universalizam. Herberto Helder (1930) o poeta universal/madeirense do século XX, de que destacamos na sua obra: Poemacto (1961), Retrato em Movimento (1967), O Bebedor Nocturno (1968), Cobra (1977). O Corpo o Luxo a Obra (1978), Photomaton & Vox (1979), A Cabeça entre as Mãos (1982), As Magias (1987), Última Ciência (1988), Do Mundo (1994) e Poesia Toda (1973 e 1996). Irene Lucília Andrade (1938) com: O Pé dentro d’Água (1980), Ilha que é Gente (1986), A Mão que amansa os Frutos (1991), Estrada de um dia só (1995), Protesto e Canto de Atena (2002), Água de Mel e Manacá (2002). José Agostinho Baptista (1948), que da vasta obra publicada destaca: Deste Lado Onde (1976), O Último Romântico (1981), Morrer no Sul (1893), Autoretrato (1986), Paixão e Cinzas (!992), Canções da Terra Distante (1994), Agora e na Hora da nossa Morte (1998), Biografia (2000), Anjos Caídos (2003) Esta Voz é quase o Vento

(2004), Quatro Luas (2006) e Além-Mar (2007). José Tolentino Mendonça (1965) é, sem dúvida, um dos mais destacados poetas da geração atual, destacando-se na sua vasta obra literária: Os Dias contados (1990), Longe Não Sabia (1997), A Que Distância Deixaste o Coração (1998), Baldios (1999), De Igual Para Igual (2001), A Estrada Branca (2005), A Noite Abre Meus Olhos (2006), O Viajante Sem Sono (2009), A Papoila e o Monge (2013). Na atualidade, o panorama historiográfico ganhou grande animação, com a realização de colóquios, debates e um numeroso rol de publicações, fruto principalmente da intervenção do Centro e Estudos de História do Atlântico, criado em 1985. Durante os últimos cinco séculos foi evidente a criação literária dos madeirenses e a sua valorização está no facto de ultrapassar as fronteiras da ilha e ter ganho um lugar de destaque em termos nacionais como internacionais. Desta forma relegar para segundo plano a produção literária madeirense é apenas fruto da ignorância desta realidade. Aliás, na ilha o principal problema com a sua criação literária prende-se com a ignorância dos próprios madeirenses dos seus valores e da falta de divulgação e menosprezo que dotamos a tão importante património literário.

2. – Conhecimento e técnica da Ilha para o Mundo

Nascer pequeno e morrer grande, é chegar a ser homem. Por isso nos deu Deus tão pouca terra para o nascimen to, e tantas para a sepultura. Para nascer, pouca terra; para morrer toda a terra: para nascer, Portugal: para morrer o mundo. Padre António Vieira, Sermão de Santo António, Roma, na Igreja de Santo António dos Portugueses,1670, § IV

Fazendo nossas as palavras do padre António Vieira, poderemos afirmar que Deus deu aos madeirenses um berço estreito para nascer e o mundo inteiro para morrer. Tudo isto porque a Madeira e os Madeirenses chegaram aos quatro cantos do mundo e tiveram uma intervenção, desde os primórdios do processo de mundialização iniciado no século XV, com os chamados Descobrimentos de que hoje somos plenos fruido res, e que merece ser, aqui e agora, destacado. Partindo desta constatação, seguimos à descoberta dos madeirenses no mundo e dos múltiplos papéis que protagonizaram, porque afinal a ilha foi um cais de permanentes chegadas e partidas. Não queremos fazer da ilha o centro do mundo mas apenas chamar a atenção de todos para o facto de que em quase todos os recantos do mundo há um pedaço da ilha, que se afirma pela presença atual ou no passado de madeirenses. Daí esta ideia de um mundo inteiro para morrer, que a pequenez do espaço obriga e o protagonismo em diversos momentos e situações da História define. O tema parece-nos atual, num quadro de dificuldades que vivemos, uma vez que poderá ser o necessário incentivo ou alento, vindos do passado, para o enfrentar de novos desafios e batalhas que nos con duzam à concretização dos nossos sonhos. Recordo que a diáspora dos madeirenses, como de todos os povos e regiões, foi um desafio e a busca incessante de um lugar aprazível para viver. A História está quase só voltada para os protagonistas europeus e para os grandes centros, portos e ci dades europeias, ignorando-se as ilhas ou apenas considerando-as apenas como episódios. Muitas vezes, são mesmo consideradas a periferia da Europa, ignorando que alguns centros que se geraram no espaço atlântico tiveram, por epicentro os espaços insulares. Por tradição, somos encarados apenas como um episódio da expansão europeia que começou nos séculos XIV e XV, esquecendo-se o nosso protagonismo como interventores diretos no processo de descobrimento e de abertura de novas rotas e mercados, assim como na assunção de diversos papeis na divulgação de produtos, conhecimentos e técnicas que colhemos nos dois sentidos do movimento que a expansão europeia gerou. Em qualquer das circuns -

tâncias, na maioria dos estudos e dos manuais, as ilhas são a periferia, o espaço de fronteira entre a Europa e o novo espaço atlântico. Pouco mais. De acordo com os chineses, o império português assentou em ilhas. De acordo com um provérbio chi nês, os espaços insulares são um dos pilares da expansão, porque os portugueses são como peixes, que morrem quando se lhes tira a água. A Madeira, de forma especial, assumiu um protagonismo inusitado, afirmado pela História, uma importância que importa resgatar e divulgar. Fomos e continuamos a ser obreiros do mundo que nos rodeia, um lugar que, a partir do século XV, ajudamos a conhecer e a unir. Cabe a nós, insulares, chamar a atenção para essa verdade e exaltar os papéis que a História nos atribuiu e valoriza, de forma clara, caso queiramos conhecê-los e divulgá-los. Por outro lado, há que mudar a forma de fazer a História da Madeira, pois esta é quase sempre feita a partir daquilo que acontece apenas dentro do seu perímetro reduzido, ignorando as suas extensões por todo o mundo, através das comunidades madeirenses. Ela não pode continuar a ser apenas a História dos que ficaram, sem se entender a presença e a posição dos que partiram. Parte significativa da nossa História fica, assim, esquecida. Na verdade, a História da Madeira aconteceu dentro e fora do arquipélago. É esta História feita com os de dentro e de fora da ilha que queremos fazer. Neste contexto, a Nissologia, nova ciência das Ilhas, que insiste na ideia de uma Histó ria global vista de dentro para fora, sem descurar as suas interconexões e mobilidades, é um caminho seguro, no sentido do aparecimento da Nova História da Madeira. Atente-se que esta injustiça para com os que partiram e não deixaram memória registada, mais se torna evidente no caso dos madeirenses que, partindo, raras vezes cortaram os vínculos umbilicais que os ligam à ilha5. A atitude da partida nunca foi fácil, porque afinal muitas incógnitas acompanhavam o percurso e algumas vezes o destino ficava-se por uma miragem6. Mesmo assim saiam, por múltiplas razões, mas sempre na mira do ambicionado momento de glória do retorno. E a ilha está sempre de braços abertos para os receber, como aconteceu no processo de descolonização das ex-colónias africanas em 1974-75 e, depois, com as situações especiais da Venezuela e África do Sul. Na verdade, o madeirense, aquele que mantem orgulho em sê-lo, nunca renega as suas origens e está sempre disponível para o retorno, quando as condições o permitem. A imagem da ilha e do seu quotidi ano mantem-se presente e atuante em todos os destinos de acolhimento, sejam na Jamaica, Demerara, Hawaii ou Moçâmedes. As presenças do culto à Nossa Senhora do Monte, as tradições culinárias da carne de vinho e alhos, o milho frito e as maçarocas são uma evidência que marcam e denunciam a pre sença do madeirense no mundo. É claro que ao orgulho, à exaltação dos valores que corporizam a nossa madeirensidade, deveremos contrapor o preconceito, a pequenez daqueles que fizeram do seu nascimento na ilha, um mero episódio muitas vezes negativo. São aqueles que renegam e escondem a sua origem debaixo de um pretenso universalismo, esquecendo-se que ser madeirense é ser universal, porque a ilha se abriu ao mundo a par tir da Europa e a todos deu oportunidade de abertura de caminhos para novas realidades. O Madeirense

é universal, quer pela sua abertura ao novo e ao avançado, quer pela sua disponibilidade e adaptação e outros mundos. É por isso que tem mundo inteiro para morrer. Há uma ideia e algumas evidências da tradição cultural mediterrânea cristã que aponta para a ilha uma relação com o mundo primordial, com o paraíso: A ilha da Madeira, (...) por ser tal e parecer nele um único horto terreal tão deleitoso, em tão bom clima situada ou criada, disse um estrangeiro que parecia que, quando Deus desce ra do Céu, a primeira terra em que pusera seus santos pés fora ela. Esta foi uma ilha abençoada que espalhou sorte e fortuna a todos e que parece ter aberto as portas a outros tesouros terrenos ao mundo europeu. A nossa história e a dos outros insulares, fala de momentos de glória, de plena afirmação e protagonis mo em diversos momentos, uma página ainda não devidamente revelada e afirmada, mas também de situações de dificuldades, pautadas pela violência dos assaltos de corsários e da guerra, do abandono e es quecimento de senhores, monarcas e políticos, de miséria, fome e espoliação da riqueza. Em todos os casos, porém, temos sabido responder de forma pertinaz, encontrar forças e meios para nos levantar mos e seguir em frente na construção da ilha e do mundo madeirense, um pouco por todo o planeta. Ir ao encontro desta História e protagonismo é uma forma de homenagear aqueles que nos antecederam no usufruto desta ilha, mas também o ponto de partida para a descoberta de novas fontes de energia, para outros combates de afirmação e continuidade da madeirensidade. A luz da esperança num futuro próximo melhor, assim como a força para os atuais e futuros desafios está presente no discurso da História e tem que ser afirmada e extremada, através do nosso orgulho de ser madeirenses. Pegando no texto de Eduardo Nunes, Porque me orgulho de ser Madeirense, partimos à procura daquilo que nos ufana e afirma, no mundo de hoje e na História, continuando a prosseguir novos protagonismos e plena afirmação no presente e futuro. Porque queremos insistir e afirmar esta epopeia humana e insular9 e dar-lhe continuidade, aqui estamos a sinalizar e relevar o protagonismo da ilha e dos madeirenses, trazendo um pouco do nosso orgulho em ter nascido, ser e continuar a ser madeirenses. Que isto seja apenas o alento para uma partida rumo a novos desafios, uma forma de nos volta mos a irmanar com os espaços envolventes dos madeirenses no mundo. Ter e sentir orgulho em ser madeirense é saber posicionar, no lugar correto em relação aos outros, a nossa adequada afirmação. Com os navegadores quatrocentistas e quinhentistas, partimos à descoberta deste mundo novo, que equaciona as ilhas e a Madeira de uma forma distinta, que olha e reflete sobre as ilhas de dentro e não de fora. Se insistirmos nesta postura, vamos constatar que o processo de mundialização10 que partiu da Europa no século XV tem um suporte relevante nas ilhas, primeiro as do Atlântico e, depois, as demais. E não devemos esquecer que o século atual é o das ilhas, aquele em que estas se vão afirmar cada vez mais, pela sua posição estratégica e pelo seu espaço de mar. E o primeiro cais de ancoragem foi a Madeira. É certo que, desde o século XIV, são insistentes as expedições e disputas pela posse das Canárias, assim como da realização das primeiras expedições de ocupa ção, nos alvores da centúria seguinte, mas tardou muito até que se conseguisse pacificar (?) a população aborígene e consolidar a ocupação efetiva do arquipélago. A Madeira estava próxima e tinha múltiplas

vantagens: era a abundância de arvoredo e de água; era o facto de não estar, naquele momento, ocupada por qualquer população. As portas do paraíso abriram-se e permitiram que o arquipélago fosse o primeiro passo efetivo na concretização do plano europeu de conquista do mundo, o primeiro passo con ducente aos desafios da globalização, afirmados na sua plenitude, séculos depois. Desta forma, a Madeira é tanto o primeiro exemplo de uma realização de sucesso como a referência e o modelo para posteriores iniciativas. Daí podermos afirmar, com alguma propriedade, que a Madeira foi o começo do pro cesso dos descobrimentos europeus, quanto da mundialização que eles trouxeram. A condição da ilha da Madeira como espaço de sucesso dos europeus fora da Europa foi muito importante, em termos de afirmação da Madeira, nos séculos XV e XVI, assim como da sua projeção aos novos espaços, entretanto revelados aos europeus e alvo de ocupação e exploração económica. Servimos de modelo de sociedade, das novas estruturas institucionais geradas com as capitanias, das formas de organização e aproveitamento do espaço produtivo e, ainda, das formas de sociabilidade, como a escravatura e formas da sua expressão institucional e espacial, que serviram de base a uma economia de exploração intensiva, assente em produtos de exportação de grande rentabilidade económica como o açúcar. A afirmação da economia açucareira no mundo começou na Madeira e foi o arquipélago, o princípio das mudanças necessárias para que esta cultura e produto assumissem a dimensão que tiveram, a partir da segunda metade do século XV. Entre meados do século XV e princípios da centúria seguinte, apareceram inventos significativos, por mãos hábeis de madeirenses, que permitiram que a cultura da cana sacarina se afirmasse e o consumo do açúcar começasse a vulgarizar-se. Há uma revolução tecnológica e alimentar que dá os primeiros passos na Madeira e que vai permitir essa hegemonia do açúcar no espa ço atlântico e no mercado europeu. Apenas sinalizamos o efeito multiplicador neste processo do aparecimento do engenho de cilindros para a moenda da cana e do sistema acoplado de caldeiras, conhecido como trem jamaicano, para o fa brico do açúcar, como os mais relevantes avanços que acontecem na Madeira, por mãos de madeirenses e que estão na origem desta revolução tecnológica. Criaram-se condições para uma agricultura em larga escala e de produção intensiva. Descobriu-se um outro ouro que animou as trocas europeias e que financiou as descobertas e encontros de novos tesouros e do verdadeiro ouro. Esta situação particular da Madeira, associada à sua posição destacada no processo de afirmação dos impérios europeus, nos séculos seguintes, transformou a Madeira numa placa giratória fundamental para outras aventuras. A variedade de plantas encontradas foi marcando presença no quotidiano, na economia e na alimentação e inserindo outras mudanças. Há uma alteração significativa na dieta alimen tar que tem a Madeira como uma ponte de comunicação/adaptação aos novos espaços. O cardápio não só foi enriquecido com novos sabores como se universalizou. A Madeira parece ter sido, assim, um dos principais viveiros desta revolução ecológica mundial.

Aqui, a História assinala os madeirenses como agentes de múltiplas funções, que se afirmam tanto como descobridores ou guerreiros, na senda da descoberta ou reconhecimento do Novo Mundo, como da defesa das possessões africanas ou das conquistas orientais. Também os encontramos como exímios agricultores, capazes de adaptar o solo a uma exploração agrícola, de adaptar e transformar técnicas e processos produtivos, dirigindo os seus conhecimentos e sabedoria à para a construção das levadas que trouxeram profundas transformações no processo de moenda da cana-de-açúcar e do processo de fabrico do açúcar. Será que este protagonismo, que ao longo dos últimos anos vimos afirmando, tem a merecida relevância na nossa memória e nos anais da História madeirense? Pretendemos, desta forma, redescobrir os madeirenses na ilha e fora dela como interventores presentes e ativos em diversos momentos e espaços da História. Propomo-nos, então, desenvolver os seguintes aspetos: Ilhas de descobridores, de escalas e rotas; Da Madeira para o Mundo: homens, instituições e técnicas; O mundo do Madeirense. O sangue da ilha derramado pelo mundo; Da ação e riqueza dos Madeirenses; do Mundo e o mar das ilhas a partir da Madeira. A partir da década de sessenta do século XX, foi manifestada maior atenção às ilhas no quadro da His tória e Cultura europeias. Primeiro, valorizou-se o papel das ilhas no contexto da expansão europeia, como espaços de apoio à navegação oceânica, campos de ensaio de novas culturas ou técnicas, usadas em pleno nas amplas terras que depois se descobriram. A partir daqui, estava dado o mote para o protagonismo do mundo insular na História do Ocidente, a partir do século XV. Aos aspetos históricos, juntaram-se os resultados das investigações da História das Técnicas e das Ciências, acabando por concluirse por idêntico protagonismo. Os europeus lançaram as culturas de grande demanda, como a cana-deaçúcar, mas foram os insulares que buscaram do seu engenho e arte, para conseguir produzir, em condições apropriadas, os produtos demandados pelas praças europeias. Aqui se adaptaram as técnicas de ar roteamento das terras à orografia dos novos espaços, através de algumas soluções engenhosas. Surgiu, então, a nova tecnologia que permitiu a produção do açúcar em maiores quantidades e com melhor qualidade. No âmbito da História da Ciência, é certo e evidente o papel das ilhas, o que levou alguém a chamá-las “escalas científicas” do Atlântico. Para o caso, porém, podemos definir com propriedade que as mesmas foram, sim, laboratórios da ciência, nomeadamente para os séculos XIX e XX. Laboratórios onde se ensaiaram as técnicas de recolha, análise e estudo do mundo animal e vegetal, que depois foram usadas nos locais de destino. Mais uma vez as ilhas, nomeadamente a Madeira e as Canárias, serviram de ponte entre o Velho e o Novo Mundo, fazendo com que os laboratórios da Ciência europeia se transferissem das instituições para o campo aberto das ilhas e depois das colónias. Descobrir como incorporar tamanho protagonismo, arrojo e determinação na nossa memória e escrita da História torna-se importante, sobretudo neste momento em que as esperanças começam a esfriar, quanto às possibilidades de um futuro melhor e das novas capacidades para continuar a mudar e vencer as circunstâncias adversas que sempre pautaram a História deste espaço.

O passado junta os momentos de dor com os de glórias, de vitórias em batalhas e de afirmação por di versas vias, pelo que não nos podemos deixar vencer pelas dificuldades e situações do presente que nos querem arrastar para rumos distintos daqueles que têm sido aqueles que a nossa História sempre tri lhou. Vencemos a batalha da indiferença dos poderes aos múltiplos problemas, por vezes com o grito do silêncio da emigração, que projetou e ampliou a pequenez do nosso berço e habitação. Quisemos - e continuamos a querer - construir o nosso mundo sobre o abismo, alheios ao perigo, atentos aos inimigos, mas determinados a conseguir fazer da ilha, um Éden construído à medida da nossa felicidade, realização pessoal, profissional e espiritual. É por tudo isso que, herdeiros, ainda que virtuais, dos demais atlantes que nos precederam na construção deste paraíso atlântico, persistiremos na nossa luta e reivindicação do que temos direito e nos foi re servado com a criação deste cantinho do Mundo. A partir daqui, abre-se um mundo que queremos descobrir e partilhar com os madeirenses e os demais. Vamos ao encontro de uma ilha que se revela e anexa ao mundo europeu, a partir do século XV e que nos revela, entre muitos colonos apegados à terra ou deserdados dela, inúmeros descobridores que par tem em múltiplas direções ao serviço do rei, mas também à procura dos seus interesses. Revelamos, com o devir histórico, um espaço insular que ganha importância espaço atlântico, bem como da definição e construção dos impérios europeus. Daqui o apelo a portos e a permanentes escalas oceânicas. Ao mesmo tempo, descobrimos que, neste burburinho e movimento, os madeirenses não se revelam apenas como espetadores atentos, mas também como ativos intervenientes do processo. Daí a vida ribeirinha, as permanentes partidas e as raras chegadas, o levar ao mundo novo aquilo que inventa mos e testamos pela primeira vez, em termos de formas de organização institucional, de métodos e técnicas tecnológicas capazes gerar uma nova riqueza e de uma realidade económica capaz de mudar o mundo. Foi assim que se construiu o universo dos madeirenses, que a ilha aumentou a sua superfície de afirmação, com esta fórmula mágica de presença e domínio de outras ilhas e mesmo continentes. A partir de meados do século XV, o mundo da ilha entrelaça-se com outros mundos onde se projeta e afirma. O sangue, o suor e o sémen do madeirense derrama-se, por todo o lado, em momentos de glória e tristeza, em vitórias e fracassos. Mas, afinal, tudo isto faz parte da nossa alma e da nossa força de viver e vencer os desafios, tanto de ontem como de hoje. Para quem soube construir a sua morada à beira do abismo, foi capaz de vencer a floresta e as ravinas tão adversas, traçar os poios para repouso e descanso das searas, vinhedos e canaviais, venceu os desafios do mar alteroso, para reconstruir a sua ilha paradisíaca, plena de riqueza e flores, restará mais algum desafio? Não terá, então, o madeirense direito à fruição do Éden dos deuses da Antiguidade ou do paraíso que todos os caminhos espirituais procuram oferecer a todos os seus adeptos e crentes?

O próximo desafio mora, agora, no mar das ilhas, um segredo e riqueza ainda por revelar mas que, para o futuro que agora se constrói, será fundamental para encontrar aquilo que a terra, gasta por insistentes e intensivas explorações, cansada do saque, é, neste momento, incapaz de assegurar. Afinal, o facto de sermos ilhéu, potencial de riqueza e afirmação, face às grandes massas continentais que sempre quiseram vencer e devorar as ilhas. DESCOBRIMENTOS E DESCOBRIDORES. É evidente que as primeiras populações que se fixaram na Madeira não viraram as costas ao mar, viveram de frente para ele e com os olhos sempre apontados no limite da sua visão à linha do horizonte, no sonho de novas terras ou a na expetativa da aproximação de embarcações. Desta forma, os madeirenses estão ligados, não só ao processo de ocupação das praças africanas, como ao reconhecimento da costa de África e à descoberta de novas terras a Ocidente. Desta última situação resulta a ligação às viagens de Cristóvão Colombo, também ele vizinho da ilha por algum tempo e casado com uma filha do capitão do donatário do Porto Santo. A primeira e efetiva participação dos madeirenses na gesta atlântica é nas ilhas Canárias e a costa africa na, de forma especial com as praças marroquinas. O Funchal foi uma encruzilhada de opções e meios que iam ao encontro da Europa em expansão. A Madeira é considerada a primeira pedra do projeto que lançou Portugal para os anais da História do oceano que abraça o seu litoral abrupto. A fundamentação de tudo isto está patente no real protagonismo da ilha e das suas gentes. À função de porta-estandarte do Atlântico, a Madeira associou outras: ela é o “farol” Atlântico, o guia orientador e o apoio para as longas incursões oceânicas. Por isso, nos séculos que nos antecederam, ela foi um espaço privilegiado de comunicações, tendo a seu favor as vias traçadas no oceano que a circunda e as condições económicas internas, propiciadas pelas culturas da cana sacarina e da vinha. Estas duas condições contribuíram para que o isolamento definido pelo oceano fosse quebrado e se mantivesse um permanente contacto com o velho continente europeu e o Novo Mundo. Como corolário desta ambiência, a Madeira firmou uma posição de relevo nas navegações e descobrimentos no Atlântico. O rápido desenvolvimento da economia de mercado, em uníssono com o empenhamento dos principais povoadores em dar continuidade à gesta de reconhecimento do Atlântico, reforçaram a posição da Ilha e fizeram avolumar os serviços prestados pelos madeirenses. Aqui surgiu uma nova aristocracia dos descobrimentos, cumulada de títulos e benesses pelos serviços prestados no reconhecimento da costa africana, na defesa das praças marroquinas, ou nas campanhas brasileiras e Indicas. A proximidade da Madeira ao vizinho arquipélago das Canárias, em conjugação com o rápido surto do povoamento e valorização socioeconómica do solo, orientaram as atenções do madeirense para as ilhas. Assim, decorridos apenas vinte e seis anos sob a ocupação, os moradores da Madeira empenharam-se na disputa pela posse das Canárias, ao serviço do infante D. Henrique. Em 1446, João Gonçalves Zarco foi enviado a Lanzarote, como plenipotenciário, para afirmar o contrato de compra da ilha. Acompanham-no as caravelas de Tristão Vaz, capitão do donatário em Machico e de Garcia

Homem de Sousa, genro de Zarco. Mais tarde, em 1451, o infante enviou nova armada, constituída por gentes de Lagos, de Lisboa e da Madeira, sendo de salientar, no último caso, Rui Gonçalves, filho do capitão do donatário do Funchal. Para a aristocracia madeirense, o empenhamento nas ações marítimas e bélicas é, ao mesmo tempo, uma forma de homenagem ao senhor (monarca, donatário) e de aquisição de benesses e comendas. Zurara, na «Crónica da Guiné», confirma-o, referindo que a participação madeirense ia ao encontro dos princípios e tradições da cavalaria do reino. O que não invalida a sua presença com outros objetivos, como sucede a partir de meados do século XV. Os principais obreiros do reconhecimento e ocupação da Madeira, como criados da casa do infante D. Henrique, foram impelidos para a aventura africana, com participação ativa nas viagens henriquinas de 1445 e 1460 e nas aventuras bélicas nas praças africanas do norte, nos séculos XV e XVI. Esta presença de gentes da Madeira continuará, por todo o século XV, em três frentes: Marrocos, litoral africano além do Bojador e terras ocidentais. Na primeira e na última, a presença dos madeirenses foi fundamental. Desta intervenção ao serviço do infante D. Henrique e, depois, da coroa, os madeirenses partiram, por iniciativa própria, ao encontro de outras terras. O reconhecimento dos Açores terá sido concretizado, a partir dos finais da década de vinte do século XV. Todavia, as ilhas mais ocidentais (Flores e Corvo) só foram pisadas por marinheiros portugueses, em 1452. A sua entrada no domínio lusíada deu-se por mãos de Pedro Vasquez de la Frontera e Diogo de Teive, no regresso de uma das viagens para o Oci dente em 1452 à procura das ilhas míticas. Este arquipélago, por ser o mais ocidental sob domínio europeu até à viagem de Colombo, era o paradeiro ideal para os aventureiros interessados em embrenhar-se na gesta descobridora dos mares ocidentais. Desde meados do século XV, madeirenses e açorianos saem, com muita frequência, à em busca de novas terras, assegurando, antecipadamente e por carta régia, a posse do que descobrissem. O Ocidente exerceu sobre os ilhéus, madeirenses e açorianos, um fascínio especial, acalentado, ademais, pelas lendas recuperadas da tradição medieval. Por isso mesmo, desde meados do século XV, entusiasmaram-se com a revelação das ilhas ocidentais - Antília, S. Brandão, Brasil. No extenso rol de aventureiros anónimos que deram a vida por esta descoberta, permitam-nos que referencie os madeirenses Diogo de Teive, João Afonso do Estreito, Afonso e Fernão Domingues do Arco. A. Ballesteros identifica este último como o piloto anónimo que, em 1484, veio a Lisboa pedir ao rei uma caravela para, segundo Fernando Colombo,“ir a esta tierra que via.” A estas iniciativas isoladas acresce toda uma tradição literária e os dados materiais visíveis nas plagas insulares. A literatura fantástica, a cartografia mítica, o aparecimento de destroços de madeira e troncos de árvores nas costas das ilhas açorianas acalentavam a esperança da existência de terras a ocidente. Nas costas das ilhas açorianas do Faial e Graciosa, encalhavam alguns pinheiros, enquanto nas Flores davam à costa dois cadáveres com feições diferentes das dos cristãos e dos negros. Tudo isto levantava o fer -

vor dos aventureiros que, frequentemente, se viam perante ilhas que nunca existiram. A “décima ilha”, por exemplo, nunca passou de uma miragem. A curta permanência de Colombo no Porto Santo e, depois, na Madeira possibilitou-lhe um conhecimento das técnicas de navegação usadas pelos portugueses e abriu-lhe as portas dos segredos, guardados na memória dos marinheiros, sobre a existência de terra a Ocidente. Bartolomé de Las Casas e Fer nando Colombo falam que o mesmo teria recebido das mãos da sogra “escritos e cartas de marear”. Ambos os cronistas transformam o sogro num destacado navegador quatrocentista - uma criação para enfatizar a ligação das duas famílias. Na verdade, Bartolomeu Perestrelo, ao contrário de muitos genoveses ou dos seus descendentes, não é referenciado nas crónicas portuguesas como navegador. Ele apenas é referenciado como capitão do donatário da ilha do Porto Santo, por carta de doação de um de Novembro de 1446 e, na condição de povoador da ilha, terá acompanhado àquela ilha João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz, em 1419. Mesmo assim, em sua casa podia ser possível a presença de tais documentos. Mais importantes foram os elementos que lhe terão for necido o seu cunhado Pedro Correia, capitão da ilha Graciosa (Açores). Dava, então, conta de outras notícias das terras açorianas, sem esquecer os estranhos despojos que aportavam com assiduidade às praias da ilha do Porto Santo. Aí, na Madeira e Porto Santo, ouviu histórias e relatos dos aventureiros do mar, teve acesso a provas evidentes da existência de terras ocidentais legadas pelas correntes marítimas nas praias. Um destes ves tígios foi a castanha do mar, mais popularmente conhecida como “fava de Colombo”. Por tudo isto, é legítimo afirmar que o navegador saiu do arquipélago, em data que desconhecemos, com a firme certe za de que algo de novo poderia encontrar a Ocidente, capaz de justificar o seu empenho e o interesse da coroa. A ilha ficou-lhe no coração e nunca mais a esqueceu, no seu afã descobridor. Bastaram alguns anos de convívio com os marinheiros madeirenses, esporádicas viagens ao golfo da Guiné, para ganhar o alento, a sabedoria e os meios técnicos necessários para definir o plano de traçar o caminho de encontro às ter ras índicas pelo Ocidente: Cipango (=Japão) era o seu objetivo. Durante os cerca de dez anos que permaneceu em Portugal, Cristóvão Colombo acompanhou de perto as expedições portuguesas, ao longo da costa africana. O fascínio do navegador pelo mar, conquistado no Mediterrâneo como corsário ou comerciante, despertou-lhe o apetite para as navegações atlânticas portuguesas. No momento em que se fixou em Lisboa, toda a atenção e azáfama estava orientada para o desbravamento da extensa costa africana além do Bojador, conhecida como costa da Guiné. Nesta época, era já conhecida e navegável toda a área costeira até ao Cabo de Santa Catarina, alcançado em 1474, no período do contrato de Fernão Gomes. Não obstante este espaço ser vedado à navegação de embarcações que não fossem portuguesas, os estrangeiros poderiam fazê-lo a bordo e ao serviço de embarcações nacionais. Assim havia sucedido, na década de cinquenta, com Cadamosto e Usodimare. Tal como o fizera o seu patrício, Usodimare, Co-

lombo embarcou em caravelas portuguesas que demandavam as costas da Guiné. Facto normal para um experimentado marinheiro genovês que, na praia do Porto Santo ou na Madeira, acompanhava o vai e vem das nossas caravelas. É de salientar que, por muito tempo, a Madeira foi escala obrigatória das embarcações portuguesas que se dirigiam à costa africana. Tal facto derivou de o Funchal ser o único porto seguro, avançado no Atlântico, dispondo de excedentes de cereais e vinho, necessários à dieta de bordo dos marinheiros. A par disso, os madeirenses acalentavam, desde a década de quarenta, a aventura das navegações africanas, tendo-se empenhado nisso as principais famílias da ilha. Por estas razões, é inevitável associar a viagem de Colombo à sua curta estada nas ilhas da Madeira e Porto Santo, onde contactou com a realidade atlântica, adquiriu as necessárias técnicas para se embrenhar na aventura de busca das terras ocidentais. O retorno do navegador à ilha, em 1498, no decurso da terceira viagem, pode e deve ser entendido como o seu reconhecimento aos madeirenses. Aqui teve oportunidade de relatar, aos que com ele haviam acalentado a ideia da existência de terras a Ocidente, o que encontrara de novo. O convívio com as gentes do Porto Santo havia sido prolongado e cordial pois, em junho de 1498, aquando da terceira viagem, não resistiu à tentação de escalar a vila. A sua aproximação foi considerada um mau presságio, pois os porto-santenses pensavam estar perante mais uma armada de corsários. Des feito o equívoco, foi recebido pelos naturais da terra, seguindo depois para a Madeira. A 10 de junho de 1498, a chegada do navegador ao Funchal foi saudada apoteoticamente, como nos re fere frei Bartolomé de Las Casas, o que provoca,mais uma vez, a familiaridade com estas gentes e a es perança que elas depositavam em tal empresa. O cronista remata, da seguinte forma, o ambiente de fes ta que o envolveu: “le fué hecho mui buen recibimiento y mucha fiesta por ser alli muy conocido, que fué vecino de ella en algún tiempo”. Recorde-se ainda que Diogo Colombo, de acordo com o testemunho do irmão, Fernando, e de Frei Bartolomé de las Casas, nasceu no Porto Santo. Depois do casamento em Lisboa com Filipa de Moniz, filha do capitão donatário desta ilha, por volta de 1480, Colombo veio viver para o arquipélago, nascendo o seu primeiro filho, Diogo, na ilha do Porto Santo, em 1482. O testemunho de Bartolomé de las Casas sobre este feito é claro: “asi que fuese a vivir Cristobál Colón a la dicha isla de Puerto Santo, donde engendró al dicho su primogénito heredero, D. Diego Colón,..”. A Historiografia colombina assinala quase sempre esta passagem de Cristóvão Colombo pela Madeira e Porto Santo apenas como um episódio, não atribuindo o significado que merece, dentro da gesta colombina. Por outro lado, na Historiografia espanhola, a figura de Diogo Colombo (1479/80-1526), o 2º Vice-Rei, 2º Almirante e 3º Governador das Índias, o madeirense filho de Colombo e Filipa de Moniz, é quase sempre esquecido. As ilhas foram, no século XVIII, um centro chave das transformações sociopolíticas então operadas, de ambos os lados do oceano, fruto da forte presença da comunidade inglesa e o facto de esta a ter trans -

formado num importante centro para a sua afirmação colonial e marítima, a partir do século XVII. Esta vinculação da ilha ao império britânico é bastante evidente no quotidiano e devir histórico madeirenses dos séculos XVIII e XIX. No decurso do século XVIII, a Madeira firmou a sua vocação atlântica, contribuindo para isso o facto de os ingleses não dispensarem o porto do Funchal e o vinho madeirense na sua estratégia colonial. As diversas atas de navegação (1660, 1665), corroboradas pelos tratados de amizade, de que merece relevo especial o de Methuen (1703), foram os meios que abriram o caminho para que a Madeira entrasse na área de influência do mundo inglês. Aos poucos, esta comunidade ganhou uma posição de respeito na sociedade madeirense que, por vezes, se tornava incomodativa. A presença e importância da feitoria inglesa, no decurso do século XVIII, é uma realidade insofismável. A comunidade inglesa passou a usufruir na ilha de um estatuto diferenciado que lhe dava a possibilida de de possuir um cemitério próprio, desde 1761. Tiveram também direito a igreja própria, enfermaria, conservatória e juiz privativo. A opção, embora colhesse o de surpresa o Governador, parecia ser desejada, pois, em 1898, o governador de S. Miguel, depois de tomar conta do perigo dos franceses. A presença de armadas inglesas no Funchal era constante e o relacionamento com as autoridades locais amistoso, sendo recebidos pelo governador com toda a hospitalidade. Relevam-se as armadas de 1799 e 1805, compostas, respetivamente por 108 e 112 embarcações. Para além disto, era assídua a presença de uma esquadra inglesa a patrulhar o mar madeirense, sendo a de 1780 comandada por Jonhstone. A par tir de meados do século XIX, o Funchal especializa-se como porto de escala de navios de passageiros, com especial destaque para os ingleses. Para isso contribuiu a tradicional presença britânica e a afirma ção da ilha como estância turística. Daqui resulta que o porto funchalense não viu quebrado o protago nismo na navegação atlântica, antes pelo contrário, recobrou forças e novas funções, face aos novos desafios da navegação oceânica. Já a presente centúria atribui uma dimensão distinta às ilhas. Assim, o jogo de interesses entre o continente europeu e o americano fez com que algumas ilhas se transformassem em peças chave da hegemonia económica. Daqui resultou a evidente disputa entre Alemanha e Inglaterra para conseguir trazê-las à esfera de influência. Note-se que a política dos sanatórios foi o subterfúgio usado pelos alemães para iludir as pretensões expansionistas no Atlântico. Na base disto está o conflito gerado pela questão dos sanatórios na Madeira, que teve como instigador a Inglaterra. Aqui, mais uma vez, a Inglaterra usufruiu de uma posição favorável ao reivindicar a tradição histórica da aliança. A perceção da importância das ilhas, na afirmação da hegemonia marítima britânica, levou Thomas Ashe (1813) a reivindicar para os Açores a sua transformação num protetorado britânico. Nos anos vinte, os vapores começaram a ceder lugar às “máquinas voadoras” e, paulatinamente, a aviação civil foi conquistando o mercado de transporte de passageiros. Mesmo assim, as ilhas continuaram por muito tempo a manter o papel de apoio às rotas transatlânticas. Nos Açores, tivemos a ilha de Santa Maria, enquanto em Cabo Verde idêntico papel foi atribuído à ilha do Sal, a partir de 1939.

Até ao aparecimento e vulgarização da telegrafia sem fios, a estratégia de circulação da informação as sentava nas ilhas. A Madeira, a Horta e São Vicente foram, uma vez mais, motivo de disputa e de inte resses por ingleses e alemães. A ideia do cabo submarino havia sido sugerida em 1795 pelo catalão Salvat numa comunicação sobre o uso da corrente elétrica para transmissão à distância, apresentada à Academia de Ciências de Barcelona. Três anos mais tarde era lançado em Madrid o primeiro circuito com 44 km, mas só a partir da década de quarenta da centúria seguinte este meio ganhou novo incremento. Para isso terá contribuído o facto de o português José de Almeida ter trazido da Malásia para a Europa a gutta-percha, apresentada em 1843 na Royal Asiatic Society de Londres. Este produto passou a ser utili zado como isolador dos cabos submarinos a partir de 1845. O período que se sucede foi marcado por múltiplos lançamentos de cabos e pela criação de companhi as para a sua exploração. Em 1856 surge a Atlantic Telegraph Company e em 1783 a Brazilian Submari ne Telegraph Co. A última foi responsável pelo lançamento e exploração de um circuito entre Portugal e o Brasil com passagem pelo Funchal e S. Vicente (Cabo Verde). A imersão do cabo começou a 28 de Agosto de 1873, sendo executada pelo vapor inglês Seins. A 19 de Março de 1874 estava concluída a ligação com o Funchal, estabelecendo-se de imediato a prestação do serviço público. A ligação entre a Madeira e S. Vicente foi realizada pelo vapor Hibernia, ficando concluído em 11 de Março de 1874, al tura em que foram trocados telegramas entre a Câmara de S. Vicente e a congénere no Funchal. Em Janeiro de 1876 rebentou o cabo no percurso de Lisboa ao Funchal, o que levou a companhia a propor o lançamento de outro, concretizado em 1882, mas com o dobro dos circuitos. A partir de 1889 a companhia de exploração do cabo passou a chamar-se Westem Telegraph e foi ela a responsável pelo lançamento de outro em 1901 Entretanto em 1947 foi estabelecido um novo cabo en tre Gibraltar e o Funchal e, finalmente, em 1972 era inaugurada uma nova geração de cabos por iniciativa da Marconi. A companhia inglesa do cabo submarino havia encerrado oficialmente as instalações a 31 de Dezembro de 1970.

2. DA MADEIRA PARA O MUNDO. HOMENS, INSTITUIÇÕES E TÉCNICAS. “A irmã mais velha do Brasil é o que foi verdadeiramente a Madeira. E irmã que se estremou em termos de mãe para com a terra bárbara que as artes dos seus homens... Concorreram para transformar rápida e solidamente em nova Lusitânia” [Freire, Gilberto, Aventura e Rotina, 2ªed., pp 440-446, 448-449] Madeirenses foram os primeiros colonizadores, não só da terra vicentina como também das imensas regiões do sul do país, onde actualmente se localizam os territórios do Paraná, Santa Catarina. Rio Grande do Sul e do Nor deste brasileiro. Enzo Silveira, 1956, A Ilha da Madeira nos Destinos do Brasil e de Portugal, Funchal, p.7

A projeção na Madeira no novo Mundo, a partir de meados do século XV, apresenta-se de diversas for mas, dando conta de um inusitado protagonismo, raramente valorizado pela historiografia que insiste em considerá-la apenas um episódio deste processo. Aqui foram estabelecidas formas de organização da sociedade e instituições que depois chegaram aos demais espaços. Aqui se ensaiaram culturas e técnicas que acompanharam os madeirenses na diáspora atlântica. A MADEIRA COMO MODELO E REFERÊNCIA INSTITUCIONAL DO ESPAÇO ATLÂNTICO. A fronteira da ilha projeta-se além Atlântico, pois toda esta experiência institucional, social e económica foi, depois, utilizada, em larga escala, noutras ilhas e no litoral africano e americano. O arquipélago foi o centro de divergência dos sustentáculos da nova sociedade e economia do mundo atlântico: primeiro, os Açores, depois, os demais arquipélagos e regiões costeiras onde os portugueses aportaram. Idêntica função preencheu as Canárias, fronteira europeia do império espanhol, em relação ao mundo colonial rival. Em termos administrativos, tivemos os ensaios de novas práticas administrativas, não distantes daquelas que se estabelecem para as terras de reconquista na Península. Afinal, funcionamos como fonteira da Europa, como terra franca. O sistema institucional madeirense apresentava uma estrutura peculiar defi nida pelas capitanias, de amplas liberdades e isenções que funcionavam como atrativos para o povoamento, assim como para a sua afirmação. O sistema institucional madeirense apresentava uma estrutura definida pelas capitanias. Foi a 8 de maio de 1440 que o Infante D. Henrique lançou a base da nova estrutura, ao conceder a Tristão Vaz a carta de capitão de Machico. Ficou, então, definido o sistema institucional que deu corpo ao governo portu guês no Atlântico insular e brasileiro. O mais significativo desta estrutura institucional resulta do facto de a Madeira ter servido de modelo referencial para o delineamento do espaço atlântico. O monarca in-

sistia, nas cartas de doação de capitanias posteriores, na fidelidade ao sistema traçado para a Madeira. Assim o comprovam idênticas cartas concedidas aos novos capitães das ilhas dos Açores e Cabo Verde, o mesmo acontecendo com a demais estrutura institucional que chegou também a S. Tomé e Brasil. A primeira referência a esta situação surge em 2 de março de 1450, na carta de doação da capitania da ilha Terceira, a Jacome de Bruges. Nesta, o infante D. Henrique refere que quanto à jurisdição e direitos se faça ”assim como nas ditas ilhas da Madeira e Porto Santo (...)”. Em 1462, na carta de doação a João Vogado das ilhas Capraria e Lovo, D. Afonso V ordenava que os povoadores “tenham todos os privilégios, liberdades, franquias (...) concedidos e outorgados aos vizinhos e moradores da ilha da Madeira (...) fazendo certo dos privilégios da dita ilha da Madeira por publica escritura ”. Na carta de doação de 17 de fevereiro de 1474 a Antão Mar tins, a fundamentação era a mesma: “tenha a capitania e governo da dita ilha, como o tem por mim João Gonçalves Zargo na ilha da Madeira na parte do Funchal e Tristão na parte de Machico e Perestrelo no Porto Santo meus cavalei ros”. O modelo foi seguido para as demais ilhas, chegando, a 16 de fevereiro de 1504, à ilha que ficaria para a História como Fernão de Noronha. Depois, seguiram-se as chamadas capitanias hereditárias da faixa atlântica e interior. Em finais do século XV, o monarca, ao conceder o foral do almoxarifado da ilha Terceira, recomendava ao almoxarife, Fernão Vaz (1488-1499) o seguinte: “ Primeiramente levareis o foral da minha ilha da Madeira e por ele arrecadareis muito bem todos meus direitos na dita ilha, (...) porque a povoação de todas as minhas lhas foi depois de se começar a povoar a dita ilha da Madeira e aqueles mesmos privilégios hão-de ser em aquelas mesmas. ” Terá sido no seguimento destas recomendações da coroa que, em 30 de julho de 1526, o contador das ilhas dos Açores recebeu uma cópia do foral das alfândegas da Madeira de 4 de outubro de 1499 e, em 18 de agosto de 1558, o escrivão da fazenda de Ponta Delgada, Cristóvão Cordeiro, recebeu, a seu pedido, o foral novo da capitania do Funchal . Os castelhanos viram na ilha a resposta para as dificuldades da sua ação institucional nas pequenas ilhas do Atlântico, como se depreende do desejo manifestado em 1518, pelas autoridades das Antilhas, em resolver a difícil situação das ilhas de Curaçau, Aruba e La Margarita, com o recurso ao modelo madeirense de povoamento. Isto prova, mais uma vez, a presença da Madeira como modelo da expansão europeia e demonstra o interesse que ela assumiu para a Europa. A Madeira era, assim, a referência institucional e, em caso de dúvida e omissão, a resposta vinha célere a recomendar-se seguir o padrão madeirense. Assim, ao provedor da Fazenda na Baía, Pedro de Goes, D. João III determina o treslado dos regimentos da Madeira “da maneira que de dever ser feita e como ó é o provedor da minha fazenda na ilha da Madeira ”. João de Melo da Câmara, irmão do capitão da ilha de S. Miguel, resumia, em 1532, de uma forma perspicaz, o protagonismo madeirense, na abertura de novas fronteiras no espaço atlântico: “...porque a ilha da Madeira meu bisavô a povoou, e meu avô a de são Miguel, e meu tio a de são Tomé, e com muito trabalho, e todas do feito que vê...”... A família era portadora de uma longa e vasta experiência. Isso dava-lhe o alento necessário e abria-lhe perspetivas para a sua iniciativa no Brasil. Recla-

mava à coroa o protagonismo do ancestral Rui Gonçalves da Câmara que, desde 1474, fora responsável pelo arranque definitivo do povoamento da ilha de S. Miguel. Também se assinala a projeção do modelo sesmarial, como forma de apropriação da terra nestes espa ços de fronteira, prática comum à metrópole, ilhas e Brasil39. A forma da lei fernandina de 26 de julho de 1375 ganhou forma e adaptações à realidade insular, assim como à extensão do território brasileiro. As sesmarias foram uma forma de ordenamento territorial e de intervenção da coroa no sector econó mico, impondo obrigatoriedades para o cultivo de terras, assim como os produtos adequados ao seu aproveitamento. A par disso, não podemos esquecer o quão importante foi este instrumento, como mecanismo geopolítico de afirmação da soberania e de expansão das fronteiras do império. CANAVIAIS / ENGENHOS - ESTRUTURA SOCIAL E ECONÓMICA. As fronteiras do novo espaço atlântico vão redefinindo novas formas de organização da sociedade e o reajustamento das es truturas sociais aos mecanismos gerados por distintas culturas que assumiram, aí, um papel económico fundamental. A civilização atlântica do açúcar é construída a partir da disponibilidade da mão-de-obra africana, marcando, assim, uma fronteira entre a organização do processo produtivo em relação à Europa. Desta forma, a Madeira foi a fronteira da grande transformação social que conduziu à afirmação da escravatura no espaço atlântico. De acordo com S. Greenfield, a ilha foi o trampolim entre o “Mediterranean Sugar Production” e a “Plantation Slavery” americana. O autor não faz mais do que retomar os argumentos aduzidos por Charles Verlinden, desde a década de sessenta, que mereceram alguns reparos na formulação, mercê de novos estudos então realizados. Perante tudo isto, podemos afirmar que a Madeira, por ter sido o primeiro espaço atlântico a merecer uma ocupação efetiva europeia, com sucesso, foi fronteira do espaço atlântico e que se projetou para além de si própria, na construção de novas fronteiras do mundo ocidental, em termos sociais, económicos e políticos, que permitiram a plena afirmação da escravatura e do mercado açuca reiro. A tradição historiográfica anota que as primeiras socas de cana saíram de La Gomera para o novo mundo americano. Todavia, a cultura encontrava-se aí nesse momento, em expansão, enquanto na Madeira estava já consolidada. Note-se que ainda estão por descobrir as razões que conduziram Colombo, no decurso da Terceira viagem, a fazer um desvio na sua rota para escalar o Funchal. Na verdade, a Ma deira foi a primeira área do Atlântico onde se cultivou a cana-de-açúcar que, depois, partiu à conquista das ilhas (Açores, Canárias, Cabo Verde, S. Tomé e Antilhas) e do continente americano. Por isso mes mo, o conhecimento do caso madeirense assume primordial importância, no contexto da história e da geografia açucareira dos séculos XV a XVII. O açúcar da Madeira ganhou fama ao nível do mercado europeu. A sua qualidade diferenciava-o dos demais e fê-lo manter-se como o preferido de muitos consumidores europeus. Deste modo, o aparecimento de açúcar de outras ilhas ou do Novo Mundo veio a gerar uma concorrência desenfreada ganha por aquele que estivesse em condições de ser oferecido ao melhor preço. Francisco Pyrard de Laval tes-

temunha-o: “ Não se fale em França senão no açúcar da Madeira e da ilha de S. Tomé, mas este é uma bagatela em comparação do Brasil, porque na ilha da Madeira não há mais de sete ou oito engenhos a fazer açúcar e quatro ou cinco na de S. Tomé ”44. E refere que, no Brasil, laboravam 400 engenhos que rendiam mais de cem mil arrobas que, segundo o mesmo, eram vendidas como sendo da Madeira. O madeirense está indissociavelmente ligado ao novo mercado produtor de açúcar. Na verdade, a Ma deira foi o ponto de partida do açúcar para o Novo Mundo. O solo madeirense confirmou as possibili dades de rentabilização da cultura, através de uma exploração intensiva e de abertura de novo mercado para o açúcar. É a partir da Madeira que se produz açúcar em larga escala, o que veio a condicionar os preços de venda, de forma evidente nos finais do século XV. Também o íncola foi capaz de agarrar esta opção, tornando-se no obreiro da sua difusão no mundo Atlântico. De acordo, com a A tradição, terá sido a partir da Madeira que o açúcar chegou aos mais diversos recantos do espaço atlântico e os técnicos madeirenses terão sido responsáveis pela sua implantação. O primeiro exemplo está documentado com Rui Gonçalves da Câmara quando, em 1472, comprou a capitania da ilha de S. Miguel. Na expedição de tomada posse da capitania, fez-se acompanhar de socas de cana da Lombada que, entretanto, vendera a João Esmeraldo, e dos operários para a tornar produtiva. A estes seguiram-se outros que corporizaram diversas tentativas frustradas para fazer vingar a cana-de-açúcar nas ilhas de S. Miguel, Santa Maria e Terceira. Em sentido contrário, avançou o açúcar, em 1483, quando o Governador D. Pedro de Vera quis tornar produtiva a terra conquistada nas Canárias. De novo, é a Madeira que disponibiliza as socas de cana para que aí surjam os canaviais. Todavia, o mais significativo é a forte presença portugue sa, no processo de conquista e adequação do novo espaço à economia de mercado. Os portugueses, em especial o povo Madeirense, aparecem, com frequência nestas ilhas, ligando-se ao processo de arroteamento das terras, como colonos que as recebem na condição de trabalhadores especializados a soldada, ou de operários especializados que constroem os engenhos e os colocam em movimento. No caso de La Palma, refere-se um Leonel Rodrigues, mestre de engenho que ganhou esse estatuto em 12 anos de trabalho na Madeira46. É de referir também idêntico papel para as ilhas Canárias, na projeção da cultura às colónias castelhanas do novo mundo. Assim, em 1519, Carlos V recomendou ao Governador Lope de Sousa que facilitasse a ida de mestres e oficiais de engenho para as Índias. O avanço do açúcar para sul, ao encontro do habitat que veio gerar o boom da produção, deu-se nos anos imediatos ao descobrimento das ilhas de Cabo Verde e S. Tomé. Todavia, só na última, pela disponibilidade de água e madeiras, os canaviais encontraram condições para a sua expansão. Deste modo, em 1485, a coroa recomendava a João de Paiva que procedesse à plantação de cana do açúcar. Para o fa brico do açúcar, refere-se a presença de “muitos mestres da ilha da Madeira”48. É, aliás, aqui, que se pode definir o prelúdio da estrutura açucareira que terá expressão do outro lado do Atlântico. A partir do século XVI, a concorrência das Canárias e S. Tomé aperta o cerco do açúcar madeirense, o que provocou a natural reação dos agricultores madeirenses. Deste modo, sucedem-se as queixas junto da coroa, de que ficou testemunho em 1527. Em vereação, reuniram-se os lavradores de cana para re -

clamar, junto da coroa, contra o prejuízo que lhes causava o progressivo desenvolvimento desta cultura em S. Tomé. A resposta do rei, no ano seguinte, remete para uma análise dos interesses em jogo e só depois, no prazo de um ano, seria tomada uma decisão, que parece nunca ter vindo. A exploração faziase diretamente pela coroa e, só a partir de 1529, surgem os particulares interessados nisso. Enquanto isto se passava, do outro lado do Atlântico, davam-se os primeiros passos no arroteamento das terras brasileiras. E, mais uma vez, é notada a presença dos canaviais e dos madeirenses, como os seus obreiros. A coroa insistiu junto destes, no sentido de criarem as infraestruturas necessárias ao incremento da cultura. Aliás, o primeiro engenho aí erguido por iniciativa da coroa, contou com a participação dos madeirenses. Em 1515, a coroa solicitava os bons ofícios de alguém que pudesse erguer no Brasil o primeiro engenho, enquanto, em 1555 foi construído por João Velosa, apontado por muitos como madeirense, um engenho a expensas da fazenda real. Esta aposta da coroa na rentabilização do solo brasileiro através dos canaviais levou-a a condicionar a força de mão-de-obra especializada, que então se fazia na Madeira. Assim, em 1537, os carpinteiros de engenho da ilha estão proibidos de ir à terra dos mouros. Este movimento de migração de mão-de-obra especializada do engenho acentuou-se, na segunda metade do século XVI, por força das dificuldades da cultura em solo madeirense. O Brasil, nomeadamente Per nambuco, continuará a ser a terra de promissão para muitos. Em 1579 refere-se que Manuel Luís, mestre de açúcar, que exercera o ofício na ilha, estava agora em Pernambuco. Muitos destes - é caso de Francisco Álvares e João Roiz - mantêm contactos com a ilha, nomeadamente quanto ao comércio de açúcar. Acontece que este movimento de operários especializados era controlado pelas autoridades, no sentido de evitara concorrência de outras áreas como o Brasil. Sucede que, em 1647, Richarte Piquefor te vendera um escravo, “oficial de asucares”, a um mercador francês que o pretendia conduzir a S. Cris tóvão. A coroa entendia que a saída não deveria ser autorizada e que o escravo deveria ser adquirido e embarcado para o Rio de Janeiro, às ordens do Provedor da Fazenda, para aí ser vendido. Com tais con dicionantes e, colocados perante o paulatino decréscimo da produção açucareira na ilha, muitos madeirenses foram forçados a seguir ao encontro dos canaviais brasileiros. Deste modo, em Pernambuco e na Baia, entre os oficiais e proprietários de engenho, pressente-se a presença madeirense. É de salientar que alguns destes madeirenses se tornaram importantes proprietários de engenho, como foi o caso de Mem de Sá, João Fernandes Vieira, o libertador de Pernambuco. É a partir daqui que se estabelece um vínculo com a Madeira, continuado através do trato ilegal de açúcar para o Funchal ou então para o mercado europeu, com a designação da Madeira. Este movimento seguia as ancestrais ligações entre os que do outro lado do Atlântico viam florescer a cultura e aqueles que, na ilha, ficavam sem os seus benefícios. Veja-se, por exemplo, o caso de Cristóvão Roiz de Câmara de Lobos que, em 1599, declara ter crédito em três mestres de açúcar de Pernambuco em cerca de cem mil réis de uma companhia que tivera com Francisco Roiz e Francisco Gonçalves.

Os dados, embora avulsos, evidenciam a presença dos madeirenses em todas as capitanias aonde chegou o açúcar. São eles, purgadores, carpinteiros, mestres, mas também senhores de engenhos57. Muitos arrastaram consigo a família, de modo que algumas se notabilizaram. É o caso dos LEME, flamengos que fizeram da Madeira trampolim para a sua afirmação no Brasil58. Assim, vamos encontrar madeirenses como proprietários de engenho, mestres de açúcar e carpinteiros de engenho em Pernambuco, Paraíba do Sul, Baia, Paraíba, Itamaracá, S. Vicente (Baía de Santos). Perante esta situação do mercado açucareiro atlântico e a melhor capacidade concorrencial doutras áreas, o açúcar insular estava irremedi avelmente perdido. Os canaviais foram desaparecendo paulatinamente das terras, dando lugar aos vinhedos. Apenas a conjuntura da segunda metade do século dezanove permitiu o seu retorno. Mas fo ram efémeras as tentativas para a produção de açúcar e, mesmo assim, só possível mediante uma políti ca protecionista. Os canaviais perderam a sua função de produtores do açúcar, o ouro branco dos insulares mas, em contrapartida, favoreceram uma produção alternativa de mel e aguardente. Hoje, já não se fala do ouro branco das ilhas, mas sim do rum ou aguardente e mel, os herdeiros da cultura na Madeira e nas Canárias. O processo de expansão europeia não se ficou apenas pelo processo de descobrimento de novos mun dos, da abertura de novos mercados e do encontro de novas gentes e produtos. A história Tecnológica evidencia que a expansão europeia condicionou também a divulgação de técnicas e permitiu a invenção de outras que revolucionaram a economia mundial. Os homens que circulam no espaço atlântico e, de forma especial os colonos, são portadores de uma cultura tecnológica que divulgam nos quatro cantos e procuram adaptar às condições de cada espaço de povoamento agrícola. À agricultura prende-se um indispensável suporte tecnológico que auxilia o homem no processo. Assumem particular significado as culturas do vinho e da cana sacarina. Ambas acompanham o processo de expansão atlântica e impõemse no mercado europeu. A dominância e a sua incessante procura condicionaram, ao longo dos séculos, o progresso tecnológico, mais evidente quanto ao fabrico do açúcar. A moenda e o consequente processo de transformação da guarapa em açúcar, mel, álcool ou aguardente projetaram as áreas produtoras de canaviais para a linha da frente das inovações técnicas, no sentido de corresponderem às cada vez maiores exigências. A madeira e o metal foram a matéria-prima que deram forma à capacidade inventiva dos senhores de canaviais e engenhos. Na moenda da cana, utiliza ram-se vários meios técnicos comuns ao mundo mediterrânico. A disponibilidade de recursos hídricos conduziu à generalização do engenho de água. Na Madeira, o primeiro engenho particular de que temos conhecimento foi o de Diogo de Teive, em 1452. E terá sido o primeiro engenho a juntar-se ao lagar do infante. O infante, donatário da ilha, detinha o exclusivo destas infraestruturas e quem quisesse segui-lo deveria ter autorização sua. A estrutura resultou apenas nas áreas onde era possível dispor da força motriz da água; nos outros casos, fez-se uso da força animal ou humana. Os últimos eram conhecidos como trapiches ou almanjaras. O infante D. Fernando, em

1468, refere-se a estas estruturas, diferenciando os engenhos de água, alçapremas e trapiches de besta. Até à generalização dos engenhos de cilindros horizontais, no século XVII, a infraestrutura para espre mer as canas era composta do engenho ou trapiche e da alçaprema. Não conhecemos qualquer dado que permita esclarecer os aspetos técnicos de engenho. Apenas se sabe, segundo Giulio Landi, que, na década de trinta do século XVI, funcionava um com o sistema se melhante ao usado no fabrico de azeite: “Os lugares onde com enorme actividade e habilidade se fabrica o açúcar estão em grandes herdades, e o processo é o seguinte: primeiramente, depois que as canas cortadas foram levadas para os lugares acima referidos, põem-nos debaixo de uma mó movida a água, a qual triturando e esmagando a cana, extrair-lhes todo o suco”60. Na ilha de São Miguel, a cultura da cana está inegavelmente ligada aos madeirenses. A eles se deveu o transplante das socas e da tecnologia. Gaspar Frutuoso conta que, em Ponta Delgada, Bastião Pires contratou o madeirense Fernão Vaz, “o qual deu ordem como se fez um engenho de besta, como de pastel, mas o assento da mó diferente, porque era de uma pedra grande e mui cavada, a maneira de gamela e furada pelo fundo, por onde o sumo das canas, que dentro nela se moiam, ia por debaixo do chão, por uma calle ou bica, sair fora do andaimo da bes ta que moia, e assim fez fazer também um fuso e caixa para espremer o bagaço, e uma fornalha com uma caldeira em cima, a maior que então se achou, onde cozia aquela calda, e cozida a deitava em uma tacha e ao outro dia fazia o mes mo, até que fez cópia de melado para se poder fazer assuqre. (...) com sua pouca ciência e menos experiência, saiu aquele assuqre assim tão bom e tão fino.” AS LEVADAS. ENTRE O REGADIO, OS MOINHOS E ENGENHOS. A tradição de traçar levadas fez com que os madeirenses se tivessem transformado em exímios construtores, levando a tecnologia para todo o lado onde se fixaram. Primeiro, foi as Canárias81 e, depois, na América. A perícia e engenho do madeirense estão evidenciados na reclamação de Afonso de Albuquerque para que o rei lhe mandasse madeirenses “que cortavam as serras pera fazerem levadas, com que se regam as cannas de açúcar”, para desviar o curso do rio Nilo. Por outro lado, desde muito cedo, estes canais despertaram a atenção dos visitantes, que não se cansam em louvar o trabalho hercúleo do madeirense na construção. As levadas são ainda hoje uma constante na paisagem madeirense, transformando-se em locais aprazíveis para os passeios a pé. Ao longo da História da Madeira, as levadas assumiram um papel fundamental na vida das populações. Foi em torno do seu percurso por entre as montanhas e áreas de cultura que a ilha assentou o seu quo tidiano. As levadas são vias de condução da água, mas também caminhos de acesso a espaços agrícolas e habitação e, por consequência, vias privilegiadas de circulação dos produtos da terra. Tendo em conta a importância que a água assume para a cultura do açúcar, é necessário não esquecer a forma da distribuição e posse. Para regular, de forma eficaz, a distribuição surgiram os relógios, propriedade dos heréus, de que existe apenas um, em pleno funcionamento, na levada do Poiso nos Canhas. Ao longo dos séculos, foram traçadas milhares de levadas por toda a ilha, na sua maioria de iniciativa privada. Ao con -

trário do que é habitualmente referido, o sistema de regadio madeirense não tem origem nos árabes, que foram apenas os divulgadores do sistema por elevação. O que ficou definido na Madeira, foi o sis tema de condução da água por força da gravidade que já existia no Norte de Portugal, região que não mereceu a influência moura. Note-se que, ainda hoje, na Serra da Estrela, o sistema de distribuição de água faz-se por levadas, sendo as atividades e nomenclatura em tudo semelhante à madeirense. Desta forma, poderemos afirmar que a aportação das técnicas de regadio na Madeira surge por duas vias: através dos colonos do norte de Portugal que trouxeram parte significativa dessas técnicas e do Mediterrâneo, Sicília e Valência, donde vieram, conjuntamente com o açúcar, os sistemas de regadio dos canaviais e de utilização da força motriz da água. O contributo madeirense está no seu esforço hercúleo para tor nar acessível o uso da água e a sua disponibilidade para o regadio dos canaviais. A afirmação da cultura da cana sacarina, nos primórdios da ocupação da ilha, obrigou à definição de um sistema de canalização da água, no sentido da sua utilização para o regadio e aproveitamento da sua força motriz nos engenhos. Deste modo, o primeiro e mais importante investimento dos madeirenses foi na construção de levadas. A água assumiu, assim, um papel fundamental na economia e sociedade de então. Todas as terras de canaviais estavam servidas de levadas, dispondo de horas de água suficientes para o seu regadio. Nos contratos de arrendamento e de meias, a água está presente, sendo também propriedade inalienável do proprietário da terra. Em finais do século XVI, as terras dos Lomelino em Santa Cruz incluíam canaviais com 10 covados, dispondo de 30 horas de água. Ainda podemos afirmar que a água apresentava um valor elevado, na vertente sul. Ao homem, estava atribuída a dura tarefa de desviar a água do curso das ribeiras, fazendo com que mo vesse engenhos, moinhos e irrigasse os canaviais e demais culturas. Uma das tarefas que ocuparam os primeiros colonos foi a tiragem das levadas. Por isso, elas são os imemoriais testemunhos do labor do homem insular, que ficam na ilha, a exemplo dos imponentes aquedutos peninsulares. Para isso, traça ram km de canais para a condução, que ficaram conhecidos, na ilha, como levadas. O sistema permitiu um maior aproveitamento dos socalcos e o alívio ao homem de algumas tarefas, como sejam, o moer do grão e da cana, o serrar das madeiras. Moinhos, engenhos e serras convivem pacificamente, usufruindo da água que corre na mesma levada. A orografia da ilha, ao mesmo tempo que dificultava a condução da água, favorecia o aproveitamento, pela força motriz atribuída pelos declives acentuados. Foi um trabalho hercúleo, referido muitas vezes pelos visitantes e recordado, com apreço, pelos especialistas, como o Eng.º. Amaro da Costa: “... a levada, de limitadas proporções no início; mas já a denotar arrojo para mais largos voos indo sempre mais longe e mais acima até aos recônditos das serranias; furou as montanhas; riscou as muralhas rochosas talhadas a pique em centenas de metros de altura; debruçou-se nos abismos; venceu as cristas; saltou nos despenhadeiros; dobrou-se nos refegos das ravinas; amansou-se nas chãs; e, por fim, exausta, entregou-se a todos, atra vés de uma rede vascular tão densa, que torna maravilhosa a chegada ao termo. Mas a mingua no fim da caminhada é por vezes tamanha, que dolorosamente contrasta com tanta luta.”

As cartas régias de 7/8 de maio de 1493, que serviram de base a toda a fundamentação jurídica do regi me da água até 1867, determinam, de forma evidente a importância assumida pelas levadas, no sistema de distribuição de águas. As levadas podem ser públicas ou privadas. As últimas eram de iniciativa particular, precisando de uma autorização. Em 1495, foi dada licença a Pero Fernando para tirar água da Ribeira de Água d’Alto (Ponta Sol), ficando obrigado a fazê-lo no prazo de cinco anos. A contrapartida era a possibilidade de vender, arrematar ou trocar a mesma água. Esta era uma garantia assegurada a to dos os que tinham condições para fazer este investimento. Em 1496 parece que, ao menos no Funchal, estava delineado o sistema de regadio, pelo que na Ribeira de Santa Luzia não se permitiu mais a abertura de novas levadas ou a tiragem da água, acima das já existentes. Isto foi resultado da pretensão de alguns heréus em quererem tirar outras mais acima das já existentes, no sentido de aproveitar as terras acabadas de arrotear. A coroa insiste na proibição de abrir nova levada em cota superior, punindo os infratores com pesadas penas. Na verdade, segundo nos conta Gaspar Frutuoso96, a Ribeira de Santa Luzia servia várias levadas, sendo uma delas para os cinco moinhos do capitão e para um engenho. O Funchal ficou servido, ainda, por outras como a dos Pior nais, do Pico do Cardo e Castelejo. Outro problema, não menos importante, foi o da partição da água. O senhorio e a coroa não intervi nham na abertura de levadas, mas estavam presentes para sanear litígios derivados da distribuição da água. Desde o início que a coroa recomendara todo o cuidado nisso, ficando com tal encargo o almoxa rife, auxiliado por dois homens eleitos para este fim. A distribuição da água era feita para toda a sema na, exceto o domingo que ficava comum a todos pois, tal como refere a coroa em 1493, era “comtra comçiencia”. Atente-se a que o Provedor da Fazenda era o juiz das águas e levadas, competindo-lhe a função de confirmar os levadeiros escolhidos pelos heréus das levadas, e não o ouvidor do capitão, como pre tendia fazê-lo para a levada do Estreito de Câmara de Lobos. Multiplas questões chegaram até ao reino sobre a distribuição das águas das levadas e o abuso de alguns regantes. Em 1502, denuncia-se o abuso de escravos e homens de soldada que, em vez de regarem os canaviais dos seus senhores, as entregam a outros. A questão da divisão da água gerou, ao longo dos tempos, diversas disputas, obrigando, desde o início da ocupação da ilha, a que as autoridades tivessem de intervir como intermediários nesses conflitos ou de regular a forma da sua distribuição entre os he réus. São as autoridades que definem o uso a dar, de forma preferencial, às aguas, como quem intervém a determinar a forma da sua distribuição entre os heréus. Sabemos, que no início, a repartição era feita no mês de maio, sob a supervisão das autoridades, estando presentes os oficiais da câmara, o locotenente do capitão e o almoxarife. Cabia, ainda, à câmara fiscalizar a ação dos levadeiros na repartição das águas. Entretanto, os juízes da levada ou levadeiros eram colocados pelos governadores mas, depois de 1869, passam a ser eleitos entre os heréus da levada e apenas confirmados pelo governador. A partir desta segunda metade do século XIX, processa-se esta mudança na administração das levadas, ficando o delegado do Tesouro com a administração das do Estado, que são, nesta época, as do Rabaçal

(Calheta), Fajã dos Vinháticos (Santana), Juncal e furado (Santa Cruz e Machico). Nestas levadas, existia um diretor, dois levadeiros para cada uma, além dos olheiros. A manutenção das levadas foi outra preocupação do capitão, conforme ordem de D. Catarina de 1562. Mais se recomendava que aqueles que não tivessem necessidade das águas que dispunham não as podiam arrendar a ninguém, a não ser para se regar os canaviais. Apenas os que haviam tirado levadas próprias podiam dar ou vender as águas. A coroa apoiou a reparação das levadas da Ribeira dos Socorridos, dos Piornais e Castelejo, com o intuito de incrementar, de novo, a cultura dos canaviais, que tinham preferência na nova redistribuição das águas. Fora do Funchal, Gaspar Frutuoso refere a levada mandada construir por Rafael Catanho que servia Machico e Caniçal, na qual gastou cem mil cruzados. Também na Ribeira dos Socorridos temos outras levadas de iniciativa particular: a do engenho de Luís de Noronha, que lhe custou 20 000 cruzados e a de António Correia, para as terras da Torrinha109. Nos diversos contratos de meias, arrendamento e de colonia, em que os canaviais jogam um papel fundamental, a água está sempre presente. Nas referentes ao Convento de Santa Clara, a instituição assume o compromisso de atribuir água necessária. É, ainda, Gaspar Frutuoso quem nos descreve uma das levadas: “Perto da Fonte, onde nasce a agoa desta ribeira dos Acorridos, se tirou a levada della para moer o engenho de Luiz de Noronha; e dizem que do logar donde a co meçaram a tirar até donde se começão a regar os canaviaes ha bem quatro legoas por se tirar de tão grande fundura da ri beira em voltas que para chegar acima à superfície da terra e começar a caminhar atravessando lombos, fazendas e grandes rochedos por cima pela serra por onde vai esta levada, tem de alto mais de seicentas braças; da qual altura, que he muito íngreme, se tira a agoa em calle de páo em voltas até se pôr na terra feita, e sem falta custou chegar pola em tal logar passante de vinte mil cruzados, fora o muito mais que fez de custo levala dali quatro legoas, alem de muitas mortes de homens que trabalhavam nella em cestos amarrados com cordas penduradas pela rocha, como quem apanha urzela; por que he tão alcantilada e íngreme a rocha em muitas partes que não se faziam nem se podiam fazer d’outra maneira estancias para assentar as calles sem passar por estes perigos. Tem duzentos e oitenta lanços por onde vai esta agoa que pos tos enfiados hum diante do outro terão hum quarto de legoa de comprido; são de taboado de til, pella mayor parte tem cada taboa vinte palmos de comprido e dous de largo; e depois de assentadas estas calles na rocha, fazem o caminho por dentro dellas os levadeiros que continuamente tem cuidado de as remendar e concertar, alimpadas também da sugidade e pedras que acontece cahir nellas, e fazer outras cousas necessárias a levada, pelo que tem grossos soldos, por terem officio de tão grandetrabalho e tanto perigo. Nesta rocha está huma furna grande que serve de casa para os levadeiros, e para guardar nela munições necessárias de en chadas, alviões, barras, picões, marrões e outras ferramentas; e nella se metem cada anno dez e doze pipas de vinho para os que trabalhão na levada e outras pessoas que a vão ajudar a reformar, quando quebrão alguns lanços de calles;e he cousa monstruosa a quem vê isto com seus olhos a estranha e aventureira invenção que se teve para se tirar dali esta agua”. A dimensão económica ou a importância social de algumas destas famílias, devedoras da riqueza gerada na Ilha, é expressa, desta forma, através da exibição junto do papa, de oferecimentos para serviços de

defesa e proteção, de investimentos em infraestruturas tão importantes ao processo produtivo, como as levadas, por exemplo. As verbas em causa, nesta última situação, representam investimentos avultados, pois a receita da Ilha, entre 1588 a 1618, situava-se, maioritariamente, em metade deste valor investido por particulares em infraestruturas necessárias para gerar a riqueza que, depois, ficaria à mercê da Co roa. A pressão cada vez mais presente dos mercados mediterrânicos e da Europa do Norte fez com que se apostasse numa produção em larga escala. Isto acarretou múltiplas transformações no sistema produtivo que estão na origem das inovações ou adaptações da tecnologia a estas novas necessidades e que tem uma matriz de origem bastante diferenciada na Madeira. A grande e primeira revolução na economia açucareira aconteceu a partir da segunda metade do século XV, na Madeira e tem origem no engenho e arte dos madeirenses que depois a transmitiram a novos espaços, a aperfeiçoaram nas Canárias e a adaptaram ao Novo Mundo, desde La Hispaniola, Cuba e Brasil. Uma etapa fundamental da História do Açúcar no mundo europeu aconteceu a partir do século XV, na Madeira, gerando múltiplas transformações com marca dos madeirenses. O processo de afirmação do açúcar na economia consolida-se e provoca o maior fenómeno migratório que foi a escravatura de mi lhões de africanos, com repercussões evidentes na literatura, música e atividades lúdicas; a transforma ção tecnológica permanente pela pressão e concorrência dos mercados, foram conduzindo inexoravel mente a uma mudança da estrutura mercantil e dos hábitos de consumo que fazem com que o açúcar vá saindo das prateleiras da farmácia para as do supermercado. O selo e o motor de tudo isto são, sem dúvida, madeirenses. AS ROTAS DE MIGRAÇÃO DE HOMENS, PLANTAS E MERCADORIAS. A valorização do Atlântico, nos séculos XV e XVI, conduziu ao traçado de rotas de navegação e comércio que ligavam o Velho Continente ao litoral atlântico. A multiplicidade de rotas resultou das complementaridades económicas e formas de exploração adotadas. Se é certo que estes vetores geraram as referidas rotas, não é menos certo que as condições mesológicas do oceano, dominadas pelas correntes, ventos e tempesta des, delinearam-lhe o rumo. A Madeira surge, nos alvores do século XV, como a primeira experiência de ocupação em que se ensaia ram produtos, técnicas e estruturas institucionais. Tudo isto foi, depois, utilizado, em larga escala, nou tras ilhas e no litoral africano e americano. O arquipélago foi, assim, o centro de irradiação dos susten táculos da nova sociedade e economia do mundo atlântico: primeiro, os Açores, depois, os demais arquipélagos e regiões costeiras onde os portugueses aportaram. Daqui resultou para a Madeira o papel fundamental de difusão das culturas existentes na Europa e que tinham valor para assegurar a subsistência ou a exportação. Depois, com a revelação de novos espaços do Atlântico e Índico, tivemos o retorno de novas culturas e produtos que vieram enriquecer o cardápio europeu. E, uma vez mais, as ilhas da Madeira e Cabo Verde voltaram a assumir um papel disseminador.

A Europa contribuiu com os cereais (centeio, cevada e trigo), as videiras e as socas de cana, enquanto da América e da Índia aportaram ao velho continente o milho, a batata, o inhame, o arroz e uma variada gama de árvores de fruto. As ilhas atlânticas, pela posição charneira no relacionamento entre estes mun dos, oram viveiros da aclimatação dos produtos às novas condições endafoclimáticas que os acolhem. No século XV, a Madeira funcionou como viveiro experimental das culturas que a Europa pretendia implantar no Novo Mundo, isto é, os cereais, o pastel, a vinha e a cana-de-açúcar. As ilhas são espaços limitados e, por isso, condicionam e são influenciados, de forma evidente, pela presença humana. Quando o processo económico assume uma posição de sucesso, mercê da inserção no mercado mundial é responsável por uma exploração intensiva que acaba inevitavelmente por provocar desequilíbrios entre aquilo que possibilita o quadro natural e o que o Homem exige dele. A exploração económica fez-se de forma intensiva e de acordo com as solicitações do mercado exterior, agravando o afrontamento com o quadro natural e arrastando-o para uma situação de total degradação. O desenvolvimento da agricultura é considerado como um dos fatores fundamentais de intervenção do Homem na natureza. O processo de sedentarização humana e a consequente domesticação de animais e plantas são a expressão mais evidente da mudança ocorrida. A aclimatação das plantas com valor económico, medicinal ou ornamental adquiriu cada vez mais importância. Aliás, foi fundamentalmente o interesse medicinal que provocou, a partir do XVII, o enorme empenho no seu estudo. Assim, em 1757, o inglês Ricardo Carlos Smith fundou, no Funchal, um jardim onde reuniu várias espécies com valor comercial. Já em 1797, Domingos Vandelli (1735-1816) e João Francisco de Oliveira, no estudo sobre a flora, apresentaram, no ano imediato, um projeto para um viveiro de plantas, que foi criado no Monte e que se manteve até 1828. O naturalista francês, Jean Joseph d’Orquigny que, em 1789, se fixou no Funchal, foi o mentor da criação da Sociedade Patriótica, Económica, de Comércio, Agricultura Ciências e Artes. Também na ilha de Tenerife, em Puerto de La Cruz, Alonso de Nava y Grimón criou, em 1791, um jardim de Aclimatação de Plantas. Na Madeira, José Silvestre Ribeiro, governador civil, avançou, em 1850,com um plano de criação do Gabinete de História Natural, a partir da exposição inaugurada a 4 de abril no Palácio de S. Lourenço. Mas foi tudo em vão porque, à sua partida, em 1852, tudo se desfez. A 23 de setembro, surge a proposta de Frederico Welwistsch para a criação de um jardim de aclimatação no Funchal e em Luanda. A Madeira cumpriria o papel de ligação das colónias aos jardins de Lisboa, Coimbra e Porto. Este botânico alemão, que fez alguns estudos em Portugal, passou, em 1853, pelo Funchal, com destino a Angola. Já a presença de outro alemão, o Padre Ernesto João Schmitz, como professor do seminário diocesano, levou à criação, em 1882, de um Museu de História Natural, que hoje se encontra integrado no atual Jardim Botânico. Só passado um século, a temática voltou a merecer a atenção dos especialistas e várias vozes se ergueram em favor da criação de um jardim botânico na Madeira. Em 1936, refere-se uma tentativa frustrada de criação de um Jardim Zoológico e de Aclimatação, nas Quintas Bianchi, Pavão e Vigia, que contava com o

apoio do Zoo de Hamburgo117. A criação do Jardim Botânico, por deliberação da Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal, a 30 de abril de 1960, foi o corolário da defesa secular das condições da ilha para a criação e a demonstração da importância científica reveladas por destacados investigadores botâ nicos que procederam a estudos118. Em qualquer dos momentos assinalados, as ilhas cumpriram o papel de ponte e adaptação da flora co lonial. Os jardins de aclimatação foram a moda que, na Madeira e nos Açores, tiveram por palco as am plas e paradisíacas quintas. O Marquez de Jácome Correia119 identifica para a Madeira as quintas do Palheiro Ferreiro e Magnólia como jardins botânicos. Estas são viveiros de plantas, hospital para aco lher os doentes da tísica pulmonar e outros visitantes. O deslumbramento acompanhou o interesse ci entífico e os dois conviveram lado a lado nas inúmeras publicações que o testemunham no século XIX. No traçado das rotas oceânicas, situava-se o Mediterrâneo Atlântico com um papel primordial na manutenção e apoio à navegação atlântica. As ilhas da Madeira e Canárias surgem nos séculos XV e XVI como entrepostos do comércio no litoral africano, americano e asiático. Os portos principais da Madei ra, Gran Canaria, La Gomera, Hierro, Tenerife e Lanzarote animaram-se de forma diversa com o apoio à navegação e comércio nas rotas da ida, enquanto nos Açores, com as ilhas de Flores, Corvo, Terceira, e S. Miguel, foram a escala necessária e fundamental da rota de retorno. A disputa pela riqueza em movimento no oceano fazia-se na área definida por elas e atraiu piratas e corsários ingleses, franceses e holandeses, ávidos das riquezas em circulação. Uma das maiores preocupações das coroas peninsulares foi a defesa das embarcações das investidas dos corsários europeus. A área definida pela Península Ibérica, Canárias e Açores foi o principal foco de intervenção do corso europeu sobre os navios que transportavam açúcar ou pastel ao velho continente. O protagonismo das ilhas não se fica só pelos séculos XV e XVI, pois as navegações e explorações oceânicas nos séculos XVIII e XIX levaram-nas a assumir uma nova função para os europeus. De pri meiras terras descobertas, passaram a campos de experimentação e escalas retemperadoras da navega ção, na rota de ida e regresso. Finalmente, no século XVIII, desvendou-se uma nova vocação: as ilhas como campo de ensaio das técnicas de experimentação e observação direta da natureza. A afirmação da Ciência na Europa fez delas escala para as constantes expedições científicas dos europeus. O enciclopedismo e as classificações de Linneo (1735) tiveram, nos territórios insulares, um bom campo de experi mentação. Tenhase em conta as campanhas da Linnean Society e o facto de o próprio presidente da sociedade, Charles Lyall, se ter deslocado, de propósito, às Canárias, em 1838. O homem do século XVIII perdeu o medo ao meio circundante e passou a olhá-lo com maior curiosidade e, como dono da criação, estava-lhe atribuída a missão de perscrutar os segredos ocultos. É este impulso que justifica todo o afã científico que explode nesta centúria. A ciência é, então, baseada na observação direta e experimentação. As expedições científicas aliam-se e imbricam-se, de forma direta, no traçado das rotas coloniais. As missões científicas atribuem uma mais-valia ao conhecimento que, por sua vez, contribui para a afirmação colonial, para o progresso da navegação e para o comércio e prestí-

gio da própria coroa. A expedição do Cap. Cook conta com instruções expressas da coroa. Esta expedição pode ser considerada como um laboratório ambulante, dado o aparato científico que a envolveu. As instituições de França e Inglaterra são fruto de uma intervenção régia, como se pode verificar pelo seu nome. Neste contexto, poderá, ainda, considerar-se os arquipélagos da Madeira e Canárias, bem posici onados nas rotas que ligavam as instituições científicas europeias aos espaços de investigação, em África, no Índico e na América Central e do Sul, atuando como laboratórios de experimentação das técnicas de estudo e recolha. A insaciável procura e descoberta da natureza circundante cativou toda a Europa, mas foram os ingleses que marcaram presença mais assídua nas ilhas, sendo menor a de franceses e ale mães123. Aqui, são protagonistas as Canárias e a Madeira. Tudo isto é resultado da função de escala à navegação e comércio no Atlântico. Note-se que a Inglaterra apostava nas ilhas como pontos nevrálgicos da sua estratégia colonial, acabando por estabelecer, na Madeira, uma base para a guerra de corso no Atlântico. Se as embarcações de comércio, as expedições militares tinham cá escala obrigatória, mais razões assistiam às científicas para a paragem obrigatória. As ilhas, pelo endemismo que as caracteriza, assim como pela história geo-botânica, permitiram o primeiro ensaio das técnicas de pesquisa a seguir noutras longínquas paragens. Também elas foram um meio revelador da incessante busca do conhecimento da Geologia e Botânica. Instituições seculares, como o British Museum, Linean Society, e Kew Gardens, enviaram especialistas às ilhas para proceder à recolha das espécies, enriquecendo os seus herbários. Os estudos no domínio da Geo logia, botânica e flora são resultado da presença fortuita ou intencional dos cientistas europeus. Esta moda do século XVIII levou a que as instituições científicas europeias ficassem depositárias de algumas das coleções mais importantes de fauna e flora das ilhas: o Museu Britânico, Linnean Society, Kew Gardens, a Universidade de Kiel, Universidade de Cambridge, Museu de História Natural de Paris. Sabemos, ainda, que por cá passaram destacados especialistas da época, sendo de realçar John Byron, James Cook, Humbolt, John Forster. Darwin esteve nas Canárias e nos Açores (1836) e mandou um discípulo à Madeira. Mas no arquipélago açoriano, o cientista mais ilustre terá sido o Príncipe Alberto I do Mónaco que aí apor tou, em 1885. James Cook escalou a Madeira por duas vezes, em 1768 e 1772, numa réplica da viagem de circum-navegação, apenas com interesse científico. Os cientistas que o acompanharam embrenharam-se no interior da ilha, à busca das raridades botânicas para a classificação e, depois, revelação à comunidade científica. Em 1775, o navegador estava no Faial e, no ano seguinte, em Tenerife. Nas Canárias, a primeira e mais antiga referência sobre a presença de naturalistas ingleses é de 1697, ano em que James Cuningham esteve em La Palma. O século XVIII anuncia-se como de forte presença, nomeadamente dos franceses. Neste contexto, é de referir os estudos pioneiros do canariano José Vieira y Clavijo (1731-1781) e a publicação da Histoire Naturelle des Iles Canaries (1835-50) de P. Barker Webb e S. Berthelot. O contacto do cientista com o arquipélago açoriano fazia-se quase sempre na rota de regresso de África ou América. Foi isto que sucedeu com Andre Bure (1703), Adamson (1753), Cook (1775), Tarns (1841),

Darwin (1836) e J. C. Albers (1851). Para os americanos, as ilhas eram a primeira escala de descoberta do velho mundo. Foi isso que sucedeu a Sam C. Reid, Joseph e Henry Bullar (1838-39), J.W. Webster (1821), Alice Baker (1882). Por outro lado, os Açores despertaram a curiosidade das instituições e cientistas europeus. Os aspetos geológicos, nomeadamente os fenómenos vulcânicos, foram o principal alvo da sua atenção. Assim, o Kew Garden interessou-se, desde finais do século XVII, pelo estudo da Botânica do arquipélago, tendo enviado cientistas a proceder a recolhas: Geo Forster (1787) e W. Aiton (1789). Mesmo assim, o volume de estudos não atingiu a dimensão dos referentes à Madeira e Canárias, pelo que Maurício Senbert, em 1838, foi levado a afirmar que a “flora destas ilhas [fora] por tanto tempo despresada”, o que o levou a dedicar-se ao seu estudo124. O interesse dos naturais das ilhas pelo conhecimento do meio natural que os envolvia, influenciado ou não por esta assídua presença de cientistas europeus, desde o século XVIII, é notório na centúria oitocentista. As ilhas recriavam os mitos antigos e reservavam ao visitante um ambiente paradisíaco e calmo para o descanso, ou, como sucedeu no século dezoito, o laboratório ideal para os estudos científicos. O endemismo insular propiciava a última situação. As ilhas forram o principal alvo de atenção de botânicos, ictiólogos, geólogos. A situação é descrita por Alfredo Herrera Piqué, quando as considera “a escala científica do Atlântico”125. Os ingleses foram os primeiros a descobrir as qualidades do clima e da paisagem e a divulgá-las junto dos seus compatriotas. É esta quase esquecida dimensão enquanto motivo despertador da ciência e cultura europeia, desde o século XVIII, que importa realçar. Na Madeira, aquilo que mais emocionou os navegadores do século XV foi o arvoredo, já para os cien tistas, escritores e demais visitantes, a partir do século XVIII, aquilo que chama à atenção é, sem dúvi da, o aspeto exótico dos jardins e quintas que povoam a cidade. Nas Canárias, a atenção está virada para os milenares dragoeiros de Tenerife. O Funchal transformou-se num verdadeiro jardim botânico e segue uma tradição secular europeia. Começaram a surgir na Europa, desde o século XVI: em 1545, em Pádua, seguindo-se o de Oxford, em 1621. Em 1635, o de Paris preludia a arte de Versailles, em 1662. Em todos, é patente a intenção de fazer recuar ao paraíso. As ilhas não tinham necessidade disso. Elas já eram o paraíso. Diferente foi a atitude do homem do século XVIII. Aliás, desde a segunda metade do século XVII que o seu relacionamento com as plantas mudou. Em 1669, Robert Morison publicou Praeludia Botanica, considerada como o princípio do sistema de classificação das plantas, que tem em Carl Von Linné (Lin naeus) (1707- 1778), o protagonista. A partir daqui, a visão do mundo das plantas nunca mais foi a mesma. Contemporâneo dele é o Comte de Buffon que publicou, entre 1749 e 1804, a “Histoire Naturelle, Générale et Particuliére” em 44 volumes. Perante isto, os jardins botânicos do século XVIII deixaram de ser uma recriação do paraíso e passaram a desempenhar o papel de espaços de classificação botânica. O Kew

Gardens, em 1759, é a verdadeira expressão disso. Note-se que Hans Sloane (1660-1753), presidente do Royal College of Physicians, da Royal Society of London e fundador do British Museum, esteve na Madeira, no decurso das expedições que o levaram às Antilhas inglesas. Os jardins, através da harmonia arvoredo e das garridas cores das flores, tiveram, nos séculos XVII e XVIII, um avanço evidente e adquiriram a dimensão de paraíso bíblico e, como tal, de espaço espiritual e são a expressão do domínio humano sobre a Natureza128. A Inglaterra do século XIX popularizou os jardins e as flores. A ambiência chegou às ilhas, através dos mesmos súbditos de Sua Majestade. As ilhas exerceram um fascínio especial em todos os visitantes e parece que nunca perderam a imortal ca racterística de jardins à beira do oceano e de espaços exóticos, onde as espécies indígenas convivem com as europeias e as oriundas do Novo Mundo. Tenha-se ainda em conta idêntico papel das ilhas de Cabo Verde para as espécies de ambos os lados do Atlântico. Deste modo, poderemos afirmar que as ilhas foram jardins e que os jardins continuam a ser o encanto dos que as procuram, sejam turistas ou cientistas. As ilhas, e de forma especial a Madeira, voltaram a estar no centro de atenção dos europeus por outras razões e conduziram a transformações evidentes no quadro do conhecimento e da Ciência. Foram por tos de destino ou escala de muitas expedições científicas, permitindo ao mundo conhecer melhor o meio envolvente, através de estudos aprofundados sobre a flora e fauna. Mas este interesse pelo quadro natural, associado a outras necessidades da aristocracia europeia levaram a que na ilha da Madeira fossem dados os primeiros passos para a consolidação de um novo motivo de atenção e de valorização da saúde e do lazer, com o turismo, que ganha expressão, primeiro como terapêutico e só depois de lazer.

OS CAMINHOS DO TURISMO ATLÂNTICO E UNIVERSAL. Na segunda metade do século XVIII, a Madeira e as Canárias assumiram um novo papel. Alguém terá dito que os iniciais promotores do turismo insular foram os gregos, mas os primeiros turistas foram, sem dúvida, ingleses. Os gregos celebraram, na criação literária prolixa, as delícias das ilhas situadas além das colunas de Hércules. Os arquipélagos da Madeira e Canárias são mitologicamente considerados a mansão dos deuses, o jardim das delícias, lugares onde convivem os heróis da mitologia. Foram os ingleses, ainda que muito mais tarde, os primeiros a desfrutar da ambiência paradisíaca, reservada aos deuses e heróis. A Europa oferecia ao aristocrata britânico demasiados motivos para o “grand tour” cultural, mas as belezas e o clima ame no das ilhas pareciam suplantar isso. A verdadeira descoberta das ilhas foi obra de ingleses, alemães e franceses. O turismo caminhou, em ambos os arquipélagos, a par da busca de soluções para a cura da tísica pul monar e dos estudos e trabalhos de recolha das espécies vivas indígenas do quadro natural, de acordo com as exigências da Ciência e das Instituições europeias. Perante nós, está um campo de grande interesse para a História insular, ainda por desbravar. O avanço neste campo só será possível mediante uma

recolha sistemática de informação bibliográfica científica especializada e ao recurso às fontes literárias e iconográficas. A criação de uma base de dados com toda esta informação e a sua disponibilização ao público interessado via Internet é o objetivo desejável. Neste como noutros domínios, é necessário considerar a problemática numa perspetiva global das ilhas Atlânticas, pois foi assim que as mesmas funcionaram na época. Esquecer esta unidade e deixar-se comover pelos apelos bairristas é ludibriar as poten cialidades deste novo domínio. Se, ao longo dos últimos cinco séculos, estas foram teimosamente entendidas como um conjunto, por que razão agora os consideramos como mundos separados? As estâncias de cura surgiram, primeiro, na bacia mediterrânica europeia e, depois, expandiram-se no século XVIII até à Madeira e, só na centúria seguinte, chegaram às Canárias132. A interminável fila de aristocratas, escritores, cientistas que desembarcavam no calhau e iam encosta fora à procura do ar ben fazejo das ilhas foi um retrato comum da Madeira e Canárias do século XIX. Dos visitantes das ilhas merecem especial atenção três grupos distintos: invalids (=doentes), viajantes, turistas e cientistas. Enquanto os primeiros fugiam ao Inverno europeu e encontravam, na temperatura amena das ilhas, o alívio das maleitas, os demais vinham atraídos pelo gosto de aventura, de novas emoções, da procura do pitoresco e do conhecimento e descobrimento dos infindáveis segredos do mundo natural. O viajante diferencia-se do turista pelo aparato e intenções que o perseguem. Ele é um andari lho que percorre todos os recantos das ilhas, na ânsia de descobrir os seus aspetos mais pitorescos. Da bagagem, constava sempre um caderno de notas e um lápis. Através da escrita e do desenho, ele regista as impressões do que vê. Daqui resultou uma prolixa literatura de viagens, que se tornou numa fonte fundamental para o conhecimento da sociedade oitocentista das ilhas. Ao historiador, está atribuída a tarefa de interpretar estas impressões. Aqui são merecedoras de destaque duas mulheres: Isabella de França, para a Madeira e Olívia Stone, para as Canárias. O turista, ao invés, é pouco andarilho, preferindo a bonomia das quintas, e é mais egoísta, guardando para si todas as impressões da viagem. Deste modo, o testemunho da sua presença é documentado ape nas pelos registos de entrada dos vapores na alfândega, pelas notícias dos jornais diários e pelos “títulos de residência”, pois o mais transformou-se em pó. A presença de viajantes e “invalids” nas ilhas conduziu obrigatoriamente à criação de infraestruturas de apoio. Se, num primeiro momento, se socorriam da hospitalidade dos insulares, num segundo, a cada vez mais maior afluência de forasteiros obrigou à montagem de uma estrutura hoteleira de apoio. Aos primeiros, as portas eram franqueadas por carta de recomendação. A isto, juntou se a publicidade, atra vés da literatura de viagens e guias. Os guias forneciam as informações indispensáveis para a instalação no Funchal e para viagens no interior da ilha, acompanhados de breves apontamentos sobre a História, os costumes, a fauna e a flora. Para a Madeira, um dos mais antigos guias que se conhece é anónimo, seguindo-se os de Robert White, E. V. Harcourt, J. Y. Johnson e E. M. Taylor. O primeiro guia de conjun to dos arquipélagos é de William W. O mundo rural perdeu importância, em favor da área em torno do Funchal, que se transforma num hospital para a cura da tísica pulmonar ou de quarentena, na passagem

do calor tórrido das colónias para os dias frios e nebulosos da vetusta cidade de Londres. Esta função catapultou a ilha da Madeira para uma clara afirmação. O debate das potencialidades terapêuticas da cli matologia propiciou um grupo numeroso de estudos e gerou uma escala frequente de estudiosos Seixal, Santana e Santa Cruz. A ilha dispõe, ainda hoje, de uma unidade hoteleira de luxo que remonta a esta época. O Reid’s Hotel foi construído em 1891, pela família Reid e teve o nome de New Reid’s Hotel, para se diferenciar dos outros (The Royal Edimburgh Hotel, Hotel Santa Clara, Miles Hotel, Hotel Monte e German Hotel) que os donos já exploravam. William Reid fixou-se no Funchal, em 1844, dedicando-se, de parceria com W. Wil kinson, a montar um serviço de apoio aos inúmeros visitantes que chegavam à ilha para um período de repouso ou na busca desesperada das qualidades terapêuticas que o clima da cidade propiciava. Os seus filhos, William e Alfred, deram continuidade à obra. Tenha-se ainda em conta um conjunto de melhoramentos que tiveram lugar no Funchal, para usufruto dos forasteiros. Assim, desde 1848, com José Silvestre Ribeiro, temos o delinear de um moderno sistema viário, a que se juntaram novos meios de locomoção: em 1891, o Comboio do Monte, em 1896, o Carro Americano e, finalmente, o automóvel, em 1904. A partir de finais do século XIX, o turismo, tal como hoje o entendemos, dava os primeiros passos. E foi como corolário disso que se estabeleceram as primeiras infraestruturas hoteleiras e que esta passou a ser uma atividade organizada e com uma função relevante na economia. É neste quadro que deveremos entender a afirmação do turismo madeirense e o papel mais uma vez de relevo do nosso arquipélago para a afirmação de uma indústria que hoje assume um papel dominante na nossa sociedade. 3. O QUE FOMOS E O QUE DEMOS AO MUNDO. PAPEIS E FUNÇÕES DO MADEIRENSE NO MUNDO. A presença dos madeirenses faz-se, quase sempre notar pela dádiva que aportaram aos novos espaços onde chegaram, fruto da sua contribuição em termos de conhecimento e técnica para a construção de novas sociedades e economias. O pioneirismo da experiência madeirense de povo amento e ocupação e valorização efetiva do solo levaram a que, aos madeirenses, fossem atribuídos es tes papéis de carpinteiros e mestres de engenhos, de hábeis modeladores da paisagem às exigências de uma agricultura com a construção de poios e levadas. Das ilhas aos espaços continentais, alvos de uma colonização europeia a partir do século XV, a Madeira e os madeirenses estão quase sempre presentes, por obrigação imposta pela coroa ou mesmo por iniciativa própria, correspondendo ao apelo e às solicitações destes novos destinos. Por vezes, nesta sua missão divulgadora de técnicas e culturas, acabam por criar espaços concorrentes à sua ilha, acarretando algumas consequências desastrosas para a economia e sociedade. O processo de ocupação e definição das estruturas administrativas nas ilhas atlânticas, no decurso do século XV, não obstante a diversa subordinação a Portugal ou Castela, apresenta inúmeras semelhanças.

Os privilégios e isenções fiscais funcionam claramente como incentivos à fixação dos colonos. E, no caso da Madeira e das Canárias, tendo em conta a constante mobilidade populacional, o maior ou me nor peso da carga fiscal deverá ter sido um fator importante no incentivo à presença madeirense no ar quipélago vizinho. As Canárias são apontadas como uma das áreas concorrentes da Madeira, sendo o facto mais significativo o terem sido os próprios madeirenses a promovê-la, estando a afirmação inegavelmente ligada à sua presença. Os incentivos à produção de canaviais nas ilhas de Gran Canaria e Tenerife permitiram que muitos madeirenses abandonassem a Madeira e aqui se fixassem. Foi no momento de crise do açúcar na Madeira que mais se notou aí a presença de madeirenses, o que prova a emigração orientada dos técnicos ligados à cultura. As socas de cana chegaram às ilhas de Gran Canaria, Tenerife, La Palma e La Go mera, não alcançando as ilhas de Lanzarote, Fuerteventura e Hierro, devido à esterilidade e, fundamentalmente à falta de água. A Madeira apresenta-se apenas com 738 Km2 de superfície, enquanto as quatro das Canárias surgem com 4672 Km2. Assim, nas Canárias, a área disponível para a cultura subdivide-se em, pelo menos quatro ilhas, podendo jogar aqui a seu favor a lógica da complementaridade económica, que permite um avanço confortável da cultura, sem qualquer dificuldade de orientação de política económica de subsistência. Perante isto, a cultura terá maiores condições para se desenvolver. E se lhe juntarmos as isenções fiscais estabelecidas, teremos uma situação marcadamente desigual que penalizará a Madeira a partir do momento em que estas ilhas atingem a sua plenitude, isto é, no segundo decénio do século XVI. A pressão fiscal sobre produtos de alta rentabilidade poderá, muitas vezes, em situação de livre concor rência com outros mercados produtos, desencadear efeitos negativos. Foi o que aconteceu com a concorrência dos açúcares dos mercados da Madeira e Canárias, em princípios do século XVI, tendo-se re vertido, de forma desfavorável, para a Madeira. Uma análise sumária da carga fiscal madeirense, nos primeiros anos da ocupação, evidencia o excessivo peso sobre produtos como o açúcar. O açúcar madei rense era onerado na produção em 25% (quarto) ou 20% (quinto), a que se somavam mais 10%, refe rentes à dizima de exportação. Já no caso de Canárias, a situação é distinta, consoante estamos nas ilhas de senhorio ou sob administração da coroa. Assim, enquanto nas primeiras, o açúcar era sobrecarregado com o diezmo na produção e na exportação – o quinto, o que corresponde a 30% de encargos, nas de realengo, a diezmo juntava se o almojarifazgo, que correspondia a apenas 15%. Se tivermos em conta que a produção de açúcar incidiu nas ilhas de realengo (Gran Canária, Tenerife, La Palma), teremos uma posição vantajosa para proprietários e mercados, quanto ao açúcar, no mercado partilhado por ambos os ar quipélagos. Em Gran Canária, os impostos resumiam-se a 2,5% do diezmo, mais 3% ad valorem na alfândega, que foi subindo até se situar em 6% no ano de 1528. No caso das ilhas de La Palma e Tenerife, manteve-se o regime de isenção fiscal aduaneira até 1522. Esta diferença de 20% no lucro da produção açucareira foi o aliciante para que muitos madeirenses emigrassem para o arquipélago vizinho e se empenhassem na promoção dos canaviais com maior renta-

bilidade, situação que se repercutiu na quebra sentida na produção madeirense. Esta situação desigual em termos de direitos para dois territórios vizinhos e concorrentes no mercado atlântico, mantém-se, mesmo em relação aos demais produtos como os cereais e o vinho. Isto demonstra a voracidade do sistema tributário português que se reverte, de forma negativa, no usufruto e lucro por parte dos madeirenses para o seu trabalho e investimento e que os obriga, muitas vezes, a sair para Canárias e para ou tros espaços onde pudessem usufruir maior rendimento do seu trabalho. A desigual situação dos encargos fiscais e, subsequentemente dos lucros da exploração agrícola, refle tiu-se de igual modo, na evolução do sistema de exploração económico da cultura, colocando a Madeira numa posição desigual face da concorrência de mercado. A evolução da economia açucareira dos dois de ambos os arquipélagos, na primeira metade do século XVI, é devedora desta realidade. A partir dos anos trinta, a cultura açucareira na Madeira tem dificuldade em resistir à concorrência de novos espaços com rentabilidade mais elevada, provocando, para aí, uma deslocação da mão-de-obra especializada. Esta pressão fiscal é muitas vezes responsável pela emigração dos madeirenses e porto-santenses para outras paragens. Para o período da primeira metade do século XVII, Frédéric Mauro aponta o descon tentamento dos madeirenses relativamente aos elevados tributos a que estariam sujeitos, manifestado em reclamações junto da coroa e à silenciosa oposição, através da emigração para o Brasil e outras partes. Em 1610, assinala-se, mesmo, uma fuga maciça dos porto-santenses para o Brasil. Para muitos madeirenses, a forma de fugir a esta situação opressiva dos tributos que deixava pouca margem para a sua renda, era a emigração para estas ilhas das Canárias, ou então Cabo Verde, S. Tomé e Brasil, chegando mesmo até Cuba e Santo Domingo, onde foram capazes de fazer desenvolver a cultura e encontrar o rendimento adequado ao seu trabalho. A alternativa para os que teimavam em permanecer na ilha estava em contestar, de forma silenciosa, esta carga tributária, buscando meios de se subtrair ao pagamento de tão elevado tributo. Em distintos momentos, a coroa faz eco desta sonegação dos tributos, recomendando aos seus funcionários um mais apertado sistema de controlo e vigilância ou, en tão, determina regimentos que, por vezes, se tornam mais um entrave para a circulação dos produtos. É o caso do que sucedeu em 12 de junho de 1550, com nova provisão e regimento sobre a arrecadação dos direitos dos açucares. Para o justificar, o Rei aponta o facto de que “os lavradores e pessoas que fazem açucares na ilha da Madeira não pagam os direitos deles inteiramente como são obrigados e os sonegam e assim os purga dores que os purgam não respondem verdadeiramente ao povo com o rendimento que a cada um pertence das canas que faz no que encarregam suas consciências e isto por não ser provido como hão-de receber e entregar os ditos açucares.” Recorde-se que foi no Brasil, por iniciativa da coroa, que mais se fez sentir o impacto madeirense. Os primórdios da colonização do Brasil estão ligados à Madeira, tendo-se estabelecido uma ponte entre a ilha e as colónias do Brasil. Os primeiros engenhos açucareiros foram construídos por mestres madei renses. Em S. Vicente (Santos), foram feitas escavações no engenho do senhor governador, o primeiro que terá sido construído no Brasil por carpinteiros madeirenses. António e Pedro Leme terão sido os primeiros a chegar ali com as primeiras socas de cana. A cultura expandiu-se entretanto para norte. Na

Baia e Pernambuco e Paraíba, encontramos, uma vez mais, muitos madeirenses ligados à safra açucareira, como técnicos ou donos de engenho. Aos agricultores e técnicos de engenho seguiram-se os aventureiros, os perseguidos da religião (= os judeus) e alguns foragidos da justiça. Deste modo, a presença de madeirenses, ainda que mais evidente nas terras de canaviais de Pernambuco, espalhou-se a todo o espaço, com focos de maior influência em S. Vicente, Baía, Caraíbas e Ilhéus. A situação tem eco na Historiografia brasileira. Afrânio Peixoto afir mava, em 1936, que a Madeira foi entreposto, estância de passagem para o Brasil, enquanto Gilberto Freire, em 1952, define, de forma clara, esse relacionamento: A irmã mais velha do Brasil é o que foi verdadeiramente a Madeira. E irmã que se extremou em termos de mãe para com a terra bárbara queas artes dos seus homens... concorre ram para transformar rápida e solidamente com nova Lusitânia. A coroa insistiu junto dos madeirenses, no sentido de criarem as infraestruturas necessárias ao incremento da cultura. Aliás, o primeiro engenho aí erguido por iniciativa da coroa, contou com a participa ção dos madeirenses. Em 1515, a coroa solicitava os bons ofícios de alguém que pudesse erguer no Brasil o primeiro engenho. No entanto, em 1555, foi construído um por João Velosa, apontado por muitos como madeirense, um engenho a expensas da fazenda real. Esta aposta da coroa na rentabilização do solo brasileiro, através dos canaviais, levou-a a condicionar a força de mão-de-obra especializada que então se fazia na Madeira. Assim, em 1537, os carpinteiros de engenho da ilha estão proibidos de ir à terra dos mouros. Este movimento de migração de mão-de-obra especializada do engenho acentuou-se na segunda metade do século XVI, dadas as dificuldades da cultura em solo madeirense. O Brasil, no meadamente Pernambuco, continuará a ser a terra de promissão para muitos. O açúcar é o produto que estabelece maior número de vínculos com a Madeira e que nos fará regressar da ilha para reencontrar os engenhos de madeira, movidos a água ou a animais, que ainda persistem lá, um pouco por todo o lado, convivendo e desafiando a modernidade da tecnologia. São laços tecnológicos que amarram inolvidavelmente ambos os espaços. Das estruturas e ofícios que, na época quatrocentista, fizeram os engenhos e canaviais na ilha, não temos qualquer vestígio, mas o Brasil soube salva guardar e preservar estas marcas tecnológicas da madeirensidade, embora estas aportações tecnológicas sejam apresentadas com outra origem, sob a falsa expressão de açorianidade. Desde a Paraíba, passando por Recife, Baía, Rio de Janeiro, S. Paulo e terminando o périplo a Sul, em Santa Catarina, existem as marcas de uma primitiva tecnologia açucareira, transformada e melhorada na ilha, por força de um incremento dos canaviais; são evidentes os saberes tecnológicos levados pela me mória e construídos pelas mãos de carpinteiros da ilha. A tradição assim o refere. Mas a jornada desta descoberta do Brasil tecnológico com laços ao arquipélago estava reservado para os primeiros anos do século XXI quando, a partir de abril de 2000, partimos à descoberta sistemática deste Brasil tecnológico, no sentido de encontrar as marcas da ilha e o engenho e arte brasileiro, adap tando rapidamente estas tecnologias às condições do novo espaço, transmitindo-se e perpetuando-se

pela mão de portugueses e até mesmo italianos, alemães e outros emigrantes que se foram sucedendo no Brasil. Nos princípios do século XIX, a ida da coroa portuguesa para o Rio de Janeiro favoreceu novas correntes migratórias, mas foi, sem dúvida, no período conturbado da Revolução Liberal, que o Brasil se transformou no principal refúgio dos perseguidos da política. As alçadas de 1823 e 1828159 forçaram o exílio de muitos madeirenses empenhados na atividade política do momento. Muitos deles são figuras destacadas, com formação jurídica e o gosto pela escrita. Para ano de 1828, podemos referir o caso de Alexandre Luiz da Cunha (-/1852), António Gil Gomes (1803-1868), Rafael Coelho Machado (1814/-), Padre Caetano Alberto Soares (1790/1867), José Vicente Barbosa du Bocage (1823/19079), Padre João Manuel de Freitas Branco (1773/1821), Francisco João Moniz. Hoje, são ainda evidentes os vestígios da secular ligação dos ilhéus ao Brasil. Os Madeirenses mantêm a tradição do bordado, nomeadamente em S. Paulo. A Sul, no Estado de Santa Catarina (em Blumenau, Camboriú, Florianópolis...), é manifesta a influência das tradições culturais açorianas, com as festas do Espírito Santo. Por outro lado, as ilhas não ficaram imunes às influências brasileiras. Estas evidenciam-se tanto na arquitetura, com as chácaras, como nas artes decorativas, com o recurso às madeiras brasileiras (jacarandá, sicupiru) para a construção de mobiliário. A última situação encontra vestígios, nomeadamente nos Açores, mais recentes revelam a marca portuguesa e não apenas açoriana das festividades e é por demais evidente que os madeirenses, como outros colonos continentais, foram igualmente portadores do culto.

3. ROTEIRO DAS ESCRITAS. A lista que apresentamos prova a criação literária madeirense e a sua valorização pelo mundo académico. Daí o tentarmos realizar uma listagem exaustiva da mesma, no sentido de corroborar as nossas afirmações e de servir de orientação aos interessados. 3.1: BIBLIOGRAFIAS BRANCO, Alfredo António de Castro Teles de Menezes de Freitas (Visconde do Porto da Cruz), Notas & Comentários para a História Literária da Madeira, 3 vols, Funchal, 1949 e 1951. FREITAS, A. Aragão e VIEIRA, Gilda França, Madeira – Investigação bibliográfica, Vol. II, Centro de Apoio de Ciências Históricas, DRAC, Secretaria Regional de Turismo e Cultura, Funchal, 1884. SILVA, J. Donald An annotated bibliography and internet guide for the Madeira Islands. Lewiston, NY; Lampeter : Edwin Mellen Press, 2005. ISBN 0773461698. TEIXEIRA, Mónica, Tendências da Literatura na Ilha da Madeira nos séculos XIX e XX, Funchal, SRTC-CEHA, 2005. VIEIRA, Alberto, Guia para a História e Investigação das Ilhas Atlânticas, Funchal, CEHA, 1995. VISCONDE DO PORTO DA CRUZ, Notas & comentários para a História Literária da Madeira, volume I, Funchal, Câmara Municipal do Funchal, 1949. VISCONDE DO PORTO DA CRUZ, Notas & comentários para a História Literária da Madeira, volume II, Funchal, Câmara Municipal do Funchal, 1951. VISCONDE DO PORTO DA CRUZ, Notas & comentários para a História Literária da Madeira, volume III, Funchal, Câmara Municipal do Funchal, 1953.

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