Conservação e Restauro - Comentários (Cesare Brandi)

June 1, 2017 | Autor: Nerize Portela | Categoria: Conservação e restauro, CONSERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO DE OBRAS DE ARTES
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Nerize Portela Madureira Leôncio Artes Visuais – 7º Semestre Conservação e Restauro em Meios Eletrônicos Ana Paula Pacheco

Comentário Texto 1 - Conservação versus Restauro

Fato que me chamou mais atenção no texto, e que vale comentar, é o dilema que se interpõe entre os dois lados da balança e que estão diretamente na contramão de interesses: O proprietário e o profssional de conservação ou restauro. Longe de parecer uma solução simplista, o trabalho de conservação e restauração é bastante complexo. De um lado temos os proprietários dos objetos, que, como exemplifcado no texto, em sua maioria buscam a total revitalização do objeto, até mesmo no sentido de disfarçar o restauro para que ele não fque visível, ou a preferência que os objetos pareçam "limpos". E de outro lado temos os profssionais, que possuem toda uma carga de conhecimento e ética, tanto no que diz respeito a restaurar “mantendo claras as alterações” com as técnicas apropriadas, como no que diz respeito ao próprio valor da obra de arte, no quesito estético e histórico. Para que o dilema se solucione, é necessário que o profssional, atento a todas essas questões faça um trabalho minucioso e também educativo, no sentido de mostrar os prós e os contras de um processo mais voltado à solução estética. Pois o que fca claro é que sempre um dos requisitos, estético ou histórico, ou metaforicamente, um dos lados da “balança” sempre irá pesar. Isso implica em chamar atenção para os detalhes, que inicialmente aos olhos do proprietário, podem ser vistos como degradados, (uma pintura descascada, uma rachadura) são, também, marcas de um determinado acontecimento, provas de uma história, parte da memória daquele objeto. Muitas vezes essa carga de valor, passa desapercebida quando se trata de embelezar ou tornar esteticamente mais atraente um objeto, quando na verdade, essas marcas tem mais a dizer que o simples disfarce.

Comentário texto 2 – Teoria da Restauração – Cezare Brandi A Teoria da restauração formulada por Cezare Brandi, é um tanto dialética, como afrma o próprio autor, assim como qualquer teoria diretamente vinculada à arte. Primeiro porque, nada que se relacione a arte, pode ser tratado de forma simples, segundo porque, trata-se de uma intervenção num objeto, cujo objetivo primordial é a apreciação estética, que já é contraditória em si. Já que por intervenção, entende-se qualquer alteração na natureza de um objeto original, com algum objetivo específco, de acordo com o objeto e sua fnalidade: industrial ou artística. A teoria formulada por Brandi, é bastante esclarecedora e parece indicar um caminho metodológico possível, na conservação e restauração de objetos de arte com vistas a sua transmissão para o futuro. O objetivo fnal é louvável, e acredito que até possível, mas algumas lacunas e certas formulações teóricas me incomodam como o 'juízo da artisticidade' de um objeto, que ao meu ver pareceram um pouco vagos, ou pelo menos não abarcam a multiplicidade das situações. Segundo o autor, em objetos industriais a restauração, terá por fnalidade primordial o restauro da funcionalidade, o que no restauro de objetos artísticos terá um valor secundário. No entanto, quando se trata de analisar objetos antigos, e que por isso merecem “atenção especial”, como resolver até que ponto o que vale é realmente a funcionalidade nos objetos industriais, se hoje, a própria noção de arte é fuida e relativa? Como não dizer que uma geladeira ou uma vitrola antigas não se constituem objetos de arte, devido a sua estética diferenciada e em muitos casos artesanal? Quando o autor se refere a própria noção de arte é que ao meu ver as coisas se complicam, como o “reconhecimento que a consciência faz dele como obra de arte”, ou “quando começa a fazer parte do mundo, do particular ser no mundo de cada indivíduo”, ou o nível de “artisticidade” dos objetos. Isso porque, como podemos dizer que objetos como estes, carregados de valor histórico no imaginário das pessoas, mesmo se tratando de objetos industriais, não sejam reconhecidos como arte, ou não sejam carregados de artisticidade, apenas porque possuíam uma funcionalidade em primeira mão? Pode ser que sim, no momento em que foram criados eram comuns, corriqueiros, aqueles designs extremamente coloridos e trabalhados das vitrolas antigas, dos gramofones, ou mesmo de um mobiliário antigo. Mesmo objetos industriais para aqueles colecionadores “fanáticos”, são considerados como tendo um valor enorme no mercado, muitos inclusive com preços equiparáveis ao dos objetos de arte, e que para muitos se constituem como tal...não apenas devido à sua funcionalidade, mas principalmente sua artisticidade, muitos sendo utilizados como objeto de apreciação estética apenas.

O que desejo ressaltar, é que muitas vezes certas qualifcações e categorizações próprios de uma teoria, por mais que seja um caminho metodológico a ser seguido, muitas vezes, fogem a realidade dialética das exceções e das particularidades de cada situação, principalmente no que diz respeito a arte. Mesmo porque o caminho pela arte percorrido, trouxe uma série de novas questões para dentro da arte contemporânea e que hoje é indissociável. Como os ready-mades de Duchamp, que eram justamente os objetos industrializados (que não possuíam um valor estético a princípio), trazidos para dentro da galeria de arte e que passaram a ser concebidos como tal, não por sua “artisticidade”, mas sim como um veículo de idéias, conceitos, e crítica dentro da própria arte. Mas mesmo assim, é necessário também reconhecer o valor da teoria formulada por Brandi, que se constitui um caminho metodológico a ser seguido, pela sua proposição fnal, que é a restauração não-destrutiva, consciente e que requer um verdadeiro estudo do objeto, dos materiais e da história a ele vinculados, e a sua conservação para o futuro. Mas sem cair no esquecimento de que sempre é necessária uma releitura e o despertar de uma consciência crítica para um caminho mais condizente com a alteridade de uma época e dos valores a ela submetidos.

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