Considerações acerca de cerâmica de contexto funerário: os jarros das necrópoles de Cascais (Portugal)

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Congreso Internacional de Cerámicas Altomedievales en Hispania y su Entorno (s. V-VIII D.C.) Considerações acerca de cerâmica de contexto funerário: os jarros das necrópoles de Cascais (Portugal) Catarina Barradas Meira IEM – FCSH/NOVA

São conhecidas cinco necrópoles do concelho de Cascais (Lisboa): Alcoitão, Casais Velhos, Murches e Abuxarda, que estão balizadas entre finais do século V e as primeiras duas décadas do VIII d.C. Trata-se de necrópoles de inumação caracterizadas pela diversidade arquitetónica das sepulturas, pela proximidade espacial entre elas respeitando uma orientação canónica Este-Oeste, pela presença de espólios funerários que acompanhavam os defuntos e pelo intenso reaproveitamento de sepulturas para uma sucessão de enterramentos. Para além do estudo das sepulturas e da sua organização do espaço, este trabalho versou também o espólio identificado aquando da escavação destes sítios. Sepultura A de Alcoitão

Abuxarda (AB. 1)

Alcoitão (AL. 1)

Alcoitão (AL. 2)

Entre o espólio constavam seis recipientes cerâmicos que foram recentemente estudados no âmbito da minha tese de mestrado (MEIRA, 2015). Os jarros, montados a torno, apresentam pastas bem cuidadas com colorações castanhas, castanho-avermelhadas, alaranjadas e também bege, o que resulta da sua cozedura em ambientes oxidantes. São peças fechadas de média dimensão, tendo-se verificado decoração em duas delas através de motivos em ziguezague e linhas incisas. As peças apresentam bordos redondos (dois deles trilobados), corpos globulares ou piriformes, fundos planos ou em disco e todos têm uma asa. Estes recipientes teriam como função servir e/ou conter líquidos. A sua presença em contexto de necrópole indicia a sua utilização num ritual funerário que implicava o derramamento do conteúdo líquido sobre o cadáver.

Casais Velhos (CV. 1)

Sepulturas geminadas de Casais Velhos

Casais Velhos (CV. 2)

Murches (MU. 1)

As formas fechadas com uma asa e bicos trilobados derivam de produções a torno lento que datam entre a segunda metade do século VII e o século VIII d.C. (VIGIL-ESCALERA GUIRADO, 1999). A cronologia destas cerâmicas é dada pela sua associação a peças de adorno pessoal e de indumentária. Estes recipientes podem ter desempenhado um papel litúrgico no Batismo post-mortem, mas podem também refletir a prevalência de antigos hábitos pagãos no seio das comunidades rurais alto-medievais. Estes cemitérios rurais refletem a ideia de que aparentemente as populações do campo, apesar de cristianizadas, estavam ainda demasiado impregnadas pelas práticas ancestrais pagãs. Este tipo de resistência no comportamento religioso ilustra a dificuldade que houve na cristianização do espaço rural peninsular tal como aparenta estar refletido no sermão de S. Martinho de Dume, datado do século VI.

Bibliografia: LÓPEZ REQUENA, M. e BARROSO CABRERA, R. (1994) – La Necrópolis de la Dehesa de la Casa. Una aproximación al estudio de la época visigoda en la Provincia de Cuenca. Arqueología Conquense. N. º XII. Cuenca: Diputación Provincial de Cuenca. MEIRA, C. (2015) – As Necrópoles Alto-medievais do Concelho de Cascais (Séculos VI e VII). Dissertação de Mestrado em Arqueologia apresentada à FCSH/NOVA em Dezembro de 2015 [Policopiado]. VIGIL-ESCALERA GUIRADO, A. (1999) – Evolución de los morfotipos de cerámica común de un asentamiento rural visigodo de la Meseta (Gózquez de Arriba, San Martín de la Veja, Madrid). Arqueohispania. N.º 0. Disponível em ehu.academia.edu/VigilEscaleraGuiradoAlfonso [9/5/2016].

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