Considerações Introdutórias Acerca da Epistemologia

July 26, 2017 | Autor: Victor Aversa | Categoria: Epistemologia, Teoria do Conhecimento, Filosofia
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1. A Epistemologia e seu material de estudo.
A Teoria do Conhecimento debruça suas investigações sobre a pergunta: Qual a natureza de nosso conhecimento, e como ele é possível? No decorrer da história da Filosofia, muitos pensadores tiveram uma preocupação especial em desenvolver estudos sobre esse tema, porém, algumas das correntes Epistemológicas (Teoria do Conhecimento) nasceram ao acaso, recebendo posteriormente um título e uma definição formal.
A Teoria do Conhecimento propriamente dita, surge por uma carência que havia no estudo da essência do conhecimento. Pois, nem a Ontologia, nem a Psicologia e nem a Lógica, supriam a necessidade de um estudo mais aprofundado sobre o conhecimento, daí uma nova ciência, a Epistemologia.
Outro problema para com o estudo essencial do conhecimento era de ordem fenomenológica. Os fenomenólogos consideram que apenas por meio de uma descrição do fenômeno – função da Fenomenologia – era possível ter acesso ao conhecimento, mas claramente não é o bastante. Na realidade, com base nas descrições fenomenológicas é preciso que busque uma explicação e um fundamento filosófico para aquilo, e é exatamente aí que entra a Teoria do Conhecimento.
O principal foco da Epistemologia é analisar a relação entre Sujeito e Objeto, afinal, a partir dessa relação e da forma como podemos explicar-la é que surgem as diferentes teorias. Essa relação parte do abismo que existe entre nós, Sujeitos, e um determinado Objeto, que pode ser um fenômeno da física ou da química, uma crença religiosa, um acontecimento no campo político e social, enfim, tudo girando em torno do Conhecimento.
Partindo de um Conhecimento adquirido, nos deparamos com um importante aspecto para que seja comprovado o que fora apreendido do Objeto, a Verdade. A Verdade, talvez, seja o grande problema, não só da Epistemologia, como também de tantas outras áreas da ciência, em função do grande peso e valor que seu significado carrega.

2. O que é Conhecimento?
Como dito anteriormente, o estudo do Conhecimento está pautado na relação entre Sujeito e Objeto, aquele que tem uma predisposição em conhecer um objeto à ser conhecido ou – dependendo da ideologia - que se dá a conhecer. Mas o que é o Conhecimento na sua essência?
Existe uma infinidade de definições para o Conhecimento, entre elas está a de Platão, que diz ser o Conhecimento consistente de crença verdadeira e justificada. Há também quem diz ser o Conhecimento o ato de abstrair uma idéia ou uma noção de determinada coisa. Afastando-se do sentido popular do termo, o Conhecimento Científico busca a apuração e a constatação por meio de uma repetitiva análise empírica. Também podemos constatar o Conhecimento da visão teológica, no qual consiste numa revelação de um ser superior e externo a mim.
Não importa a definição do que é o Conhecimento, sempre haverá necessariamente uma ligação com a Verdade, como diz Johannes Hessen: "A essência do conhecimento está estreitamente ligada ao conceito de verdade. Só o conhecimento verdadeiro é conhecimento efetivo." (Teoria do Conhecimento, PP. 22-23).

3. Os Cinco Problemas Filosóficos Contidos no Conhecimento.
Na Teoria do Conhecimento, nos defrontamos com cinco principais problemas que permeiam o conhecimento. São eles: a possibilidade do conhecimento, a origem do conhecimento, a essência do conhecimento, os tipos de conhecimento e os critérios de verdade. Abordarei de forma superficial os itens que constituem cada problema.

a) Possibilidade do Conhecimento: Dogmatismo, Ceticismo, Subjetivismo, Relativismo, Pragmatismo e o Criticismo kantiano.
b) Origem do Conhecimento: Racionalismo, Empirismo, Intelectualismo e o Apriorismo kantiano.
c) Essência do Conhecimento: Dentro de uma Solução Pré-Metafísica temos o Subjetivismo e o Objetivismo, e já inseridos na Solução Metafísica temos o Realismo, o Idealismo e o Fenomenalismo.
d) Tipos de Conhecimento: Mediado e Imediato.
e) Critérios de Verdade: Correspondência, Concordância do Pensamento (ausência de contradições lógicas), Utilidade e Consenso.


4. Possibilidade do Conhecimento: Dogmatismo e Ceticismo.
As duas principais perguntas que nos vem à cabeça quando pensamos na possibilidade do conhecimento são: "É possível o contato do Sujeito com o Objeto? O Sujeito é capaz de apreender o Objeto?". No decorrer da história, surgiram e desapareceram inúmeras formas de pensamento, com muito ou pouco carrego ideológico, mas com certeza nenhuma outra corrente possui tanta força, ou pelo menos é mais comum, que o Dogmatismo e o Ceticismo.

a) Dogmatismo
No Dogmatismo, o contato entre Sujeito e Objeto não pode ser questionado, e não existe uma preocupação com o fundamento ou essência de determinado conhecimento. Na realidade, o dogmático acredita que o objeto nos é dado, colocando o sujeito em um papel secundário.
Em função de toda essa imposição, o Dogmatismo acaba de refletindo religiosamente. No campo religioso, é evidente a presença do Dogmatismo, por meio dos dogmas – doutrinas impostas – e muitas vezes a idéia de tornar-se absurdo um eventual questionamento das doutrinas ou costumes de determinada religião.
O dogmático não possui um senso crítico, não é feita uma investigação crítica focando determinado problema, já que a verdade foi imposta e assim deve permanecer. Em função dessa suspensão da investigação crítica, há quem diga que o dogmático acaba tornando-se um tipo de cético.

b) Ceticismo
Basicamente, o Ceticismo é a corrente filosófica que suspende qualquer tipo de juízo – Epoqué -, já que segundo os céticos, não é possível o conhecimento da verdade. O Ceticismo é exatamente o contrário do Dogmatismo. Para o dogmático, o contato entre o sujeito e o objeto é evidente, mas para o cético é diferente, ele contesta essa teoria, dizendo ser impossível a apreensão do objeto pelo sujeito. Segundo Johannes Hessen: "Enquanto o Dogmatismo de certo modo desconsidera o sujeito, o Ceticismo não enxerga o objeto." (Teoria do Conhecimento, p. 31).
O Ceticismo nasce na antiguidade com Pirro de Élis (360-270 a.C.). Seu ceticismo ficou conhecido como "Ceticismo Pirrônico", aquele que desconsidera totalmente o contato entre o sujeito e o objeto. Segundo essa corrente do ceticismo, não existe conhecimento verdadeiro, então Pirro propõe a suspensão total do juízo, a Epokhé.
Temos também o Ceticismo Acadêmico, que não é tão radical quanto o Pirrônico, mas também propõe uma mudança na hora de considerar um conhecimento. Apesar de considerarem o conhecimento impossível, os céticos acadêmicos concordam em dizer que se pode chegar à uma opinião verossímil, não dizendo que determinada coisa é verdadeira, mas sim que ela parece ser verdadeira. Dois nomes desse tipo de ceticismo são Arcesilau e Carnéades. Por fim, temos um ceticismo mais recente, como o de Enesidemo e Sexto Empirico, no qual se aproxima novamente do pirrônico.
O Ceticismo trás consigo um problema muito grande, um paradoxo, no qual ao se afirmar que "o conhecimento é impossível", este já é um conhecimento. Essa auto-contradição é destruidora para o pensamento cético, pois, ao negar a possibilidade de conhecimento, o próprio ato da negação já é um tipo de conhecimento que está sendo emitido.
Já na filosofia moderna podemos encontrar também o ceticismo, porém de forma mais focada e específica. Podemos encontrar um ceticismo ético como o de Montaigne, um ceticismo metafísico como o de Hume ou mesmo em Descartes, quando este, aplica o ceticismo de forma metódica em sua filosofia.
Dessa maneira, não importa qual o tipo ou grau do Ceticismo empregado, mas faz com que o filósofo mantenha sua sede pela busca da verdade, mesmo negando-a, mas mesmo assim auxiliando para que os dogmas e as verdades impostas não atrapalhem na jornada da Filosofia.


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