Considerações sobre o conceito de infância e educação infantil

June 14, 2017 | Autor: Gisele Leite | Categoria: Filosofia da Educação
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Considerações sobre o conceito de infância e a educação infantil.

A infância deve ser enfocada historicizando dentro da cultura ocidental desde da Antiguidade Clássica até os dias contemporâneos de hoje. Houve um tempo em que não se tinha a concepção da infância tal qual hoje a entendemos, ou seja, como um ser singular em fase de desenvolvimento e com a particularidade que a diferencia do adulto.

Segundo Philipe Ariès, em sua obra "História Social da Criança e da Família", quando elaborou um estudo na Europa, no período compreendido entre a Idade Média e o Século XX, para apontar como a definição de criança evoluiu no passar do tempo principalmente em razão dos parâmetros ideológicos e culturais.

Tais conclusões advieram a partir da análise de pinturas, escritos em diários, esculturas e vitrais produzidos na Europa no período anterior a Revolução Francesa, o que fez com que o autor forjasse a expressão "sentimento de infância" para designar a consciência da particularidade infantil, essa particularidade que distingue essencialmente a criança do adulto. E, tal sentimento veio apenas aparecer a partir do século XVIII.

Na Idade Média, a criança era enfocada como um pequeno adulto e, portanto, era desmerecedora de cuidados especiais. Mas, isto não implicava em serem desprezadas ou negligenciadas, mas sim, que não se tinha consciência das particularidades intelectuais, comportamentais e emocionais das crianças.

O autor destaca que os pintores ocidentais comumente reproduziam as crianças trajadas tal qual pequenos adultos, e que somente percebemos se tratar de uma criança com alguma independência, pois passava a integrar e participar da vida de adultos e também de seus trabalhos, jogos, danças e festas.

Deve-se essa indiferença às crianças como consequência do perfil demográfico da época. Sendo verdade que os pais não se apegavam muito aos seus filhos, até porque eram poucos que sobreviviam. E, portanto, a morte de uma criança não era tão sentida ou mesmo representasse uma perda irreparável.

Principalmente no campo, onde em geral eram sepultadas no quintal da casa, tal qual se enterra hoje um pequeno animal doméstico. Tal hábito fora conservado durante longo tempo no país basco, onde se pode identificar a manutenção de ritos muitos antigos, que acena claramente sobre tal indiferença em relação às crianças.

Na Idade Média, percebe-se que a criança se relacionava mais amiúde com a comunidade do que com os próprios pais.

A aprendizagem e a socialização não eram realizadas pela família ou pela escola, mas por toda comunidade. E, no que tange à sexualidade, até o século XVI, os adultos se divertiam com as brincadeiras que faziam com alusões aos assuntos sexuais na presença de crianças.

Tal comportamento era visto como totalmente natural devido a dois motivos, a saber: o primeiro porque acreditavam que a criança impúbere fosse alheia e indiferente à sexualidade e, em segundo, porque ainda não existia o sentimento de que as referências aos assuntos sexuais pudessem macular de algum modo a pureza infantil.

Portanto, o sentimento da infância não existia para o homem medieval, ou melhor, predominava que o autor denominava de paparicação, ou seja, um tratamento superficial que dedicavam à criança enquanto ela ainda era um bebê.

A partir da Renascença, ocorre a privatização do espaço doméstico, elaborando-se a diferenciação entre o espaço público e privado e, a família se estabelece como um grupo coeso. A criança, em sua particularidade, passa ser vista como o centro do grupo familiar e, a infância considerada como uma preparação para o futuro.

O apego à infância e à sua singularidade não se exprimia mais pela distração e pelas brincadeiras, mas, pelos interesses psicológicos e a preocupação moral.

A partir do século XVII até o XVIII, há o predomínio da concepção de inocência infantil que deveria ser preservada e, a educação tornou-se uma preocupação constante das famílias, dos homens da lei e dos educadores. Cabe ressaltar que este sentimento moderno em relação à infância estava começando.

A autora Elisabeth Badinter, em sua obra "Um amor conquistado" assinala que no século XVII, ainda se considerava a criança como um estorvo para os pais. Essa posição teve origem na filosofia de Santo Agostinho, para o qual a infância não tinha nenhum valor e, representa o indício da corrupção dos adultos. A infância é uma época em que predomina a maldade da criança, antes de qualquer adestramento educativo e moral.

Cabe aos pais adotarem uma atitude rigorosa com seus filhos. Esse pensamento predominou durante longo tempo da história da pedagogia e foi responsável por uma atmosfera de frieza na família e, os pais, instruídos pelos pedagogos passaram a adotar uma educação bem ortodoxa em relação aos filhos para livrá-los de suas malignidades naturais.

Não obstante essa imagem negativa da infância não prevalecer entre o povo, Badinter aponta que em França do século XVIII a criança ainda era considerada um encargo muito pesado e oneroso. Os cuidados, a atenção e a fadiga que o recém-nascido representava no lar desagradavam aos pais.

Generalizou-se, o hábito de contratar as amas-de-leite para amamentar os filhos. A escolha delas se realizava sem nenhum critério, sendo que nas famílias de melhores condições financeiras, a criança realmente sofria menores riscos de morte, pois as amas moravam na própria residência familiar e os assistiam com bastante atenção.

Aos poucos, esse sentimento é modificado a partir do século XVIII, com surgimento do Iluminismo que vai inspirar toda a educação até o século XX tanto na cidade como no campo e, por influência da burguesia;

Rousseau é um dos mais expressivos representantes desse momento. Colocando o sentimento no centro de sua visão do homem. Ao contrário de Santo Agostinho, ele acreditava na bondade natural do homem. Não reconhecia perversidade original no coração humano. Assim, para Rousseau, a criança nasce inocente, pura e, tem maneiras de pensar e sentir que são próprias à sua idade.

Postulava que a educação da criança visava o desenvolvimento de suas naturais potencialidades e seu afastamento dos males sociais.

A criança pode ser educada e não simplesmente instruída, já que a natureza humana é maleável e mutante.

Em Emílio, Rousseau traça um manual para educadores, onde coloca as linhas gerais que deveriam ser seguidas para que fossem formados bons adultos.

Assim como a criança nasce boa e pura, concluía-se que a sociedade que a corrompe. E, para impedir que isso acontecesse, os educadores deveriam seguir os princípios sugeridos por Rousseau.

Para o referido filósofo, o termo "criança" remete a essa etapa da vida na qual o infante é aquele que não fala, sendo desprovido de qualquer sexualidade e, foi essa ideia que se impôs no imaginário social. Seu pensamento, amplamente aceito entre os grandes pedagogos da Europa, que contribuiu para mudar a mentalidade da sociedade em relação às crianças.

É relevante ressaltar que, no século XVII, a Igreja já se preocupava em afastar as crianças de assuntos ligados ao sexo, indicando as inadequações que tais vivências traziam à formação moral dos indivíduos. Construíram escolas, onde, além da preocupação básica com o ensino de religião e da moral, o sentido da inocência infantil gerou dupla atitude moral: a de preservá-la da sordidez da vida e, especialmente da sexualidade tolerada, quando não aprovada entre os adultos; além de fortalecê-la desenvolvendo o caráter e a razão.

Com a ascensão do regime capitalista e o triunfo dos ideais burgueses, os valores individuais ganharam cada vez maior destaque. E, a criança se transforma em um investimento lucrativo para o Estado e, já sendo vista como força de produção que no futuro traria lucros. Passando a ser valorizada a partir de um modelo pedagógico que visa educá-la com o fito de assegurar o futuro da civilização. Preocupava-se em preparar a criança para a sociedade constituída de homens bons e produtivos.

É nesse momento em que surge a escola como meio de educação das crianças, substituindo a aprendizagem informal, a partir do movimento de moralização promovido pelos reformadores católicos e protestantes, surgem às leis e a preocupação do Estado em tutelar a educação.

Esse sentimento de responsabilidade pela formação infantil também passa a integrar a vida familiar.

A família começa aos poucos a se ocupar de tudo que se refira à vida de seus filhos, desde as mais ingênuas brincadeiras até à educação, incluindo um elemento inédito que é a preocupação com higiene e também com a saúde física.

A criança assume então um lugar central e de relevo dentro da família. Já no século XIX, e mesmo no século XX, observamos a preocupação mais ampla e sistemático com o estudo da criança e a maior necessidade de uma educação mais formal. Desta forma, a pedagogia, a pediatria e as especializações em torno da criança se desenvolveram mais rapidamente.

O discurso psicológico como aquele capaz de produzir um discurso científico sobre a infância no qual a pedagogia, cada vez mais, vai se basear para produzir práticas educativas e saneadoras. Esse caráter normatizador se torna imperativo, principalmente na infância, que é etapa da vida em que o desenvolvimento do caráter se encontra ainda na fase embrionária e, portanto, mais suscetível às influências externas.

Entendemos que o desenvolvimento das ciências acarretou um estudo mais profundo e amplo sobre a criança, e resultou na desqualificação da família como aquela que poderia gerir propriamente a educação dos filhos.

Os pais se tornaram cativos dos ditames da ciência, pois esta sim, seria capaz de instruí-los na forma correta de conduzir a educação infantil. Portanto, dentro de uma perspectiva histórica, saímos do total desconhecimento da criança e que, no passar dos séculos, o discurso ideológico sobre a infância ressaltou a representação da criança marcada por uma natureza a ser corrigida e adaptada pelo adulto, vista como ser assexuado, sem desejo próprio e imaturo.

E, foi essa ideia que prevaleceu por longo tempo e, pois somente fora a partir das teorizações de Freud que tal concepção se alterou.

O novo olhar sobre a criança surge mesmo com a psicanálise através de Freud. Embora tenha começado suas teorizações ainda quando vigoravam a noção de que a criança era dotada de uma natureza passível de ser moldada, seja pela educação ou pela psicologia, ele não se deixou capturar completamente por elas.

A partir da oitiva de pacientes histéricas, Freud desenvolveu inicialmente a teoria da sedução, apontando a etiologia das neuroses nos adultos em experiências sexuais traumáticas ocorridas na infância.

Mas, devido aso fracassos clínicos, fora forçado a abandonar tal teoria. Freud chega à conclusão de que os sistemas histéricos decorriam das fantasias impregnadas de desejos. Portanto, a realidade psíquica era determinante e, não a realidade factual. E esse fora um momento teórico relevante no desenvolvimento da teoria psicanalítica, no qual o importante não mais são os fatos da infância, mas sim, a realidade psíquica, constituída pelos desejos inconscientes e pelas fantasias relacionadas a ela. Tendo como contexto a sexualidade infantil.

Ocorre igualmente uma modificação do conceito de infância que deixa de ser vista a partir de registro genético e cronológico para ser abordada pela lógica do inconsciente.

O efeito traumático relacionado ao fato de a criança ser confrontada passivamente com a sexualidade do adulto. Através dos cuidados e do desejo materno, a criança será introduzida no campo da sexualidade, pois é pelo contato com a mãe, ou uma substituta (o), que o corpo do bebê será erogenizado.

O pensamento de Freud fora revolucionário, mas só fora apreendido, em sua plenitude, na obra "Três ensaios sobre a teoria da sexualidade", quando Freud pôs em xeque as concepções moralizantes sobre a atividade sexual das crianças, algo que já havia apontado na correspondência com Fliess, em termos de uma teoria do complexo de Édipo, que só seria desenvolvida mais tarde.

Sem dúvida, essa teoria é a elaboração freudiana de teses sobre a sexualidade infantil onde aponta que a criança é dotada de sexualidade perversa-polimorfa. E, traz Freud o conceito de pulsão para mostrar que o corpo da criança é um corpo de desejo.

Embora Freud tenha estabelecido as bases teóricas para a análise com crianças, faltava-lhe um elemento fundamental na clínica com crianças que era a descoberta do brinquedo como recurso que o psicanalista usa para ter acesso ao inconsciente infantil. Contudo, tal descoberta fora propiciada pelo próprio Freud, em 1908, quando escreveu o artigo "O poeta e o fantasiar", introduzindo a ideia de que a brincadeira para criança corresponde à fantasia no adulto.

É sabido que a psicanálise se refere ao sujeito pouco importante se for criança ou adulto, mas, não podemos nos esquecer que a psicanálise com crianças tem uma especificidade em relação à clínica com adultos. Pois afinal, a criança tem características comportamentais próprias, não podendo cumprir com a regra fundamentada análise, ou seja, a regra de associação livre.

Não podemos esperar que uma criança se deite no divã e fale sobre suas dificuldades e sentimentos durante trinta a quarenta minutos. Por outro lado, percebemos que ao deixarmos a criança livre, ela brinca com que encontrar à sua frente, sendo esse seu modo natural de se expressar.

Foi depois dessa constatação que, entre 1920 a 1940 ocorreu o nascimento autêntico da psicanálise com crianças a partir das pesquisas das primeiras analistas como Hermine von Hug-Helmuth, Anna Freud e Melanie Klein.

A importância da Educação Infantil

O conceito de infância é resultado de construção social, mas se percebe que sempre existiu a criança, porém nem sempre existira a infância. São diversos os tempos da infância, e se apresentam em realidades e representações variadas, porque a sociedade humana foi constituindo-se de forma gradativa e a criança passou a ganhar relevância e suas necessidades passaram a ser valorizadas, e enfocadas para seu melhor desenvolvimento, e para que tudo aconteça no seu verdadeiro tempo.

A infância precisa ser entendida como categoria social importante, arrogando-se a devida valorização e respeito o que nos traduz uma história diferenciada.

Na trajetória evolutiva da humanidade surgiram diferentes concepções de infância... a priori, a criança era vista como um adulto em miniatura, então seu trajar e comportamento era pautado no adultocentrismo, e seu cuidado e educação era realizado pela família e, especialmente pela mãe. Já existiam instituições alternativas que serviam para cuidar de crianças em situações desfavoráveis ou mesmo rejeitadas, em geral, órfãos ou portadores de necessidades especiais.

De fato, registra-se a descoberta da infância no século XIII e sua evolução pode ser notada através da história da arte e também na iconografia típica dos séculos XV e XVI. Mas, os principais sinais de seu desenvolvimento, particularmente intelectual só surgiram a partir do século XVI e durante o século XVII.

É certo que antigamente o sentimento de infância era inexistente. E até mais ou menos por volta do século XVI, não existia a particularidade da consciência sobre o universo infantil.

A concepção de infância era marcada pelo abandono, pobre, favor e caridade. E, desta forma era oferecido um precário atendimento da infância. Registrava-se grandes índices de mortalidade infantil, principalmente pelo alto risco de morte pós-natal e ainda devido às péssimas condições de saúde e higiene de modo geral, e das crianças em particular.

Neste contexto, uma criança morta era logo substituída por outros sucessivos nascimentos, pois ainda não havia, o sentimento de cuidado ou mesmo de "paparicação". Predominava a ideia de que a criança que morresse não faria falta e qualquer outra criança poderia ocupar-lhe o lugar.

A partir do século XIX e XX então a infância começa a tomar importância, sendo reconhecida como lugar fundamental para a família e também para a sociedade, e começamos a cogitar neste ser de parca idade, como alguém que necessita de lugar, tempo espaço e cuidados diferenciados. Delineando-se, o que mais tarde, veio a se traduzir ao que reconhecemos como infância.

Surgiram também nessa época as primeiras instituições devotadas ao atendimento específico para as crianças pequenas e destinados, inicialmente, para o cuidado e a assistência às órfãs, filhos da guerra ou rejeitados pelo abandono produzido pela pobreza, miséria e movimentos migratórios. As primeiras instituições de Educação infantil a primeira metade do século XIX em vários países da Europa, e no Brasil, a partir da década de 1870.

Já ao longo do século passado, a educação infantil passou a ser produzida sob a influência de diferentes formas, pedagogias e educadores, a começar com Froebel conhecido pela criação dos chamados jardins de infância. O referido pedagogo, criador dos kindergarten, enfatizou a relevância do jogo e do brinquedo no processo de desenvolvimento infantil, sendo por isso, reconhecido como o precursor da pedagogia diferenciada para a educação de crianças e dos mais velhos, agrupando-os em diferentes faixas etárias.

Em nosso país, a infância ganhou destaque em 1875, quando surgiram no Rio de Janeiro e São Paulo os primeiros jardins de infância inspirados na proposta de Froebel, os quais foram introduzidos no sistema educacional privado, visando atender as crianças oriundas da classe média industrial.

Já em 1930, o atendimento pré-escolar passou a contar com a participar direta do setor público, resultado de reformas educacionais. Porém, seu conteúdo visa tanto atender à crescente pressão por maiores direitos trabalhistas em decorrência das lutas sindicais da então emergente classe trabalhista brasileira, quanto atender à uma nova ordem legal da educação com feição pública, gratuita e, enfim, acessível a todos.

A conjuntura tecida por estes fatores ensejou movimento da sociedade civil e de órgãos governamentais no sentido de haver atendimento das crianças de zero a seis anos e que fosse amplamente reconhecido pela Constituição Cidadã, culminando no reconhecimento da educação infantil como um direito da criança e, não mais apenas da mãe ou do pai na qualidade de trabalhadores.

Assim, a Educação infantil em creches e pré-escolas passou a ser legal e constituir um dever do Estado, além de ser direito da criança. Com a LDB de 1996, a Educação infantil passou a ser legalmente concebida e reconhecida como importante etapa inicial da educação básica.

Assim as creches foram retiradas do contexto assistencialista em contraponto ao caráter educacional das pré-escolas, transformando-as em escolas infantis ou instituições para atendimento de crianças de zero aos seis anos, a diferença fundamental está na subdivisão por faixas etárias, pois a creche é destinada para criança de zero até três anos, enquanto que a pré-escolas atende às crianças de quatro até os seis anos.

A partir daí, passou-se a enxergar que tanto a creche como a pré-escola, devem cuidar e educar as crianças, dispensando-se atendimento específico para as necessidades de cada grupo etário, mas não havendo grande distinção entre o atendimento educacional em face do atendimento assistencial.

O que ficou cunhado de modo clássico pelo termo "lidando pobremente com a pobreza" realizado por Abrantes. E, tais mudanças atribuídas a esta lei permitiram a flexibilidade no funcionamento da creche e da pré-escola, permitindo, assim, a adoção de diferentes formas de organização e práticas pedagógicas ao atender a uma ampla gama de necessidades da criança.

Lembremos que a educação infantil como primeira etapa da educação básica, tem como fim o desenvolvimento integral da criança até os seis anos de idade, tanto em seu aspecto físico, como psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.

Portanto, o papel da escola é complementar a ação da família no desenvolvimento da criança em sua globalidade, potencializando o desenvolvimento integral da criança.

Desta forma, cabe à educação infantil um entendimento acerca das propostas pedagógicas consistentes no sentido de fomentar a transformação dos conhecimentos intuitivos em científicos, capazes de promover um trabalho para que as crianças desenvolvam atividades em caráter interativo e cognitivo; capaz também de produzir discussões sobre o seu desenvolvimento intelectual no sentido de ampliar sua experiência sensorial e reflexiva sobre o mundo físico e social, considerando suas origens culturais, bem como seus conhecimentos prévios, estabelecendo-se a partir daí, os processos de subjetivação, de constituição ativa de sujeitos desde a mais tenra idade.

Percebe-se que as propostas de educação infantil se dividem entre as que reproduzem as referências e os modelos da escola elementar, com ênfase na alfabetização da linguagem escrita e na matemática (antecipação em miniatura das práticas de escolarização do ensino fundamental) e, as que parte do princípio de que a infância é um tempo de constituição do ser a partir da ampliação das referências com e no mundo.

É a partir da integralidade do desenvolvimento das diferentes formas de ser e estar no mundo e também através da brincadeira como princípio de conhecimento sobre o mundo circundante e sobre si mesmo, sobre as coisas e seres.

Portanto, as escolas para crianças menores que se constituírem como espaços em imitação do mundo dos adultos, ou de desenvolvimento de diferentes experiências entre pessoas, a partir de diferentes linguagens, indo muito além da mera linguagem escrita.

É indispensável conhecer o desenvolvimento da criança, respeitando suas necessidades caracterizadas pelo desenvolvimento intelectual, físico e emocional para não incorremos em equívocos de propostas impróprias e desrespeitosas com a infância e à criança.

É importante a infância, devendo ser priorizada na educação infantil as interações com os demais sujeitos, gerando experiências, de diversas ordens na relação com os mundos físicos, sociais, emocionais que são produzidos em diversas realidades socioeducativas.

Concluímos que a infância e a criança foram conceitos que se construíram pelos homens a partir de suas necessidades sociais conforme cada momento histórico. Assim, a infância é uma construção cultural da sociedade e está sujeita às mudanças e dinâmicas que sempre ocorrem nas relevantes transformações sociais e políticas.

Assim deixando de ser meras categorias naturais a criança e a infância passam a ser enxergadas e resgatadas como categoriais históricas, culturais relacionadas ao contexto histórico-educacional onde se inserem e participando ativamente da construção cotidiana de uma nação e da humanidade.

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O estudo histórico de Philippe Ariès sobre A criança e a vida familiar no Antigo Regime mostra que a ideia de infância é uma construção social e histórica do Ocidente. Esta não existe desde sempre, e o que hoje entendemos por infância foi sendo elaborado ao longo do tempo na Europa, simultaneamente com mudanças na composição familiar, nas noções de maternidade e paternidade, e no cotidiano e na vida das crianças, inclusive por sua institucionalização pela educação escolar. O que Ariès nos mostra é a construção histórica do que denomina um sentimento da infância. Este não deve ser entendido, vale dizer, como uma sensibilidade maior à infância, como um sentimento que nasce onde era ausente, mas como uma formulação sobre a particularidade da infância em relação ao mundo dos adultos, como o estabelecimento de uma cisão entre essas duas experiências sociais.
A Revolução Industrial ocorrida entre os séculos XVIII e XIX, faz com que as famílias recebessem novos olhares. De um lado ficava a elite, dirigentes e aristocratas, e do outro lado estavam os trabalhadores proletariados, o que também, acontecia com a criança que tinha diferentes olhares de um lado para outro. A escola que por um momento passava a impressão de que iria mudar o futuro das crianças, buscava um único objetivo preparar a criança para a industrialização que se iniciava. Então a escola passa a ser principalmente instrumental.
Sem existir o estabelecimento de diferenças entre adultos e crianças, restava para estas o aprendizado de tarefas cotidianas e em geral domésticas. E, para tanto, eram criadas crianças por outras famílias, para que morassem, alimentassem e iniciassem suas vidas e, nesse novo ambiente, aprendesse um ofício. Dessa forma, a passagem da criança pela própria família era sutil e breve e as comunicações sociais e as trocas afetivas eram realizadas fora do círculo familiar que era composto de homens, mulheres, vizinhos, amos e criados, velhos e outras crianças.
Ariès refere-se a essa paparicação dedicada as crianças com um sentimento superficial. Contudo, um sentimento superficial da criança a que chamei de 'paparicação' era reservado à criancinha em seus primeiros anos de vida, enquanto ela ainda era uma coisinha engraçadinha. As pessoas se divertiam com as crianças pequenas como um animalzinho, um macaquinho impudico. Se ela morresse então, como muitas vezes acontecia, alguns podiam ficar desolados, mas a regra geral era não fazer muito caso, pois outra criança logo a substituiria. A criança não chegava a sair de uma espécie de anonimato.
Apesar da palavra brincadeira ser estreitamente ligada à infância e às crianças, vemos que a brincadeira sempre foi uma atividade significativa na vida dos homens em diferentes épocas e lugares. Brincar é uma atividade que, ao mesmo tempo, identifica e diversifica os seres humanos em diferentes tempos e espaços. É também uma forma de ação que contribui para a construção da vida social coletiva. Para as crianças, a brincadeira é uma forma privilegiada de interação com os outros sujeitos, adultos e crianças, e com os objetos e a natureza à sua volta. Brincando, elas se apropriam criativamente de formas de ação social tipicamente humanas e de práticas sociais específicas dos grupos aos quais pertencem, aprendendo sobre si mesmas e sobre o mundo em que vivem.

Kant, em sua obra "Sobre a Pedagogia", cogita da importância da ação educativa seguir a experiência. A educação não deve ser puramente mecânica e, nem se basear no raciocínio puro, porém deve apoiar-se em princípios e guiar-se pela experiência. A pedagogia kantiana vive de formar sujeitos das condições de heteronomia, e, no caso de guiar-se somente pela experiência, não haverá autonomia, pois para Kant, a autonomia se dá exatamente quando o homem segue a lei universal que sua própria razão proporciona.
Kant apregoa a imprescindibilidade da experiência como caminho para educação possui uma razão metafísica, a liberdade humana. Na condição de livre, o homem não pode ser objeto de ciência, de conhecimento, conforme pretendiam os iluministas.
Apenas os fenômenos possuem uma essência determinada pelas leis da natureza. As coisas por sua vez podem ser conhecidas porque possuem uma essência que o entendimento pode perceber a priori. Ao afirmar que um ser é livre, significa afirmar que ele não tem essência que determine a sua existência, ou ainda, não ter essência determinada é o que faz do homem livre. Por essa razão, não possuir existência de antemão determinada é um fator sem o qual não se pode cogitar em autonomia.
É autora francesa, historiadora e professora de Filosofia na École Polytechnique, em Paris.
Para Ghiraldelli a escola entra não só com o papel fundamental de simplesmente educá-las, mas libertá-las da ignorância e do caminho do mal. Esta ideia advinha do Iluminismo. Os adeptos dessa corrente de pensamento acreditavam que a razão humana deve dominar acima de tudo e de todos. Entretanto, as instituições educativas seriam responsáveis por desenvolver o potencial destes preparando-as para a vida e o trabalho.
Além do que, lançavam olhares sobre a criança como um animalzinho de estimação, um ser irracional, que vivia de acordo com os pensamentos e desejos dos outros. Não conseguiam perceber nelas a capacidade de pensar, querer e sentir.
Um dos principais conceitos da filosofia de Rousseau da educação e da pedagogia é a chamada
"Educação negativa". Esta é concebida como sendo aquela originária da própria natureza, em contato com os animais, plantas e fenômenos naturais e físicos que o homem urbano mantém distância, sem interferência da sociedade humana. Uma Educação em que a criança usufrui de total liberdade, ligada diretamente ao que é mais natural do ser humano. A Educação Negativa significa que a criança é educada na região rural, protegida pela ausência de contato com a família, a sociedade e os livros.
Ghiraldelli discute dois outros aspectos referentes à criança e à infância ligados à ideia de natureza infantil. Um desses aspectos está relacionado ao pensamento de Rousseau que vê a infância como uma época de pureza, inocência e acolhimento da verdade. O segundo aspecto é a concepção de Nabokov que, ao contrário de Rousseau, não vê bondade, nem menos pureza e inocência nesse período da vida, e sim maldade.
Um detalhe bastante paradoxal da biografia de Rousseau que não criou os cinco filhos que teve com Thérese, com a qual acabou por casar. Apesar de ter se instalado em Paris e com ela.
Mas foi acometido de nova crise de saúde, dessa vez um problema na bexiga. Em 1751 redige a Parábola e em 1753 Alegoria sobre a revelação. Rousseau se encontrava com a intelectualidade do Iluminismo francês na casa do Barão d'Holbach, um ateu muito rico, autor de o Sistema da natureza. Rousseau não simpatizava com ele. Era amigo também de Grimm e Condillac, que estava enfrentando problemas com o seu novo livro porque a metafísica estava fora de moda na época. Segundo Eby, depois de 1741, Rousseau que estava pobre, conheceu Thérèse Levasseur, (criada vulgar) que viveu como sua amante durante 23 anos; dessa união, nasceram cinco crianças, todas entregues a "roda dos enjeitados", e anos mais tarde, a despeito de todos os seus esforços, não conseguiu mais localizar nenhuma delas.
Rousseau considerava a criança como um ser superior ao adulto porque aquela possui uma inocência infantil e natural, e tem em si a condição original de existência humana. Segundo Brosse, Ele era contra as rotinas tradicionais da época, em prol da felicidade das crianças e das necessidades da vida; seu ideal pedagógico consistia em preservar a liberdade natural da criança e depois promover sua liberdade moral.
O século XIX foi marcado por grandes mudanças no que diz respeito à cultura, à economia, política e social. Foi caracterizado pela consolidação do capitalismo nos países centrais e impulsionando os países periféricos, como o Brasil. Nesse contexto, houve um grande avanço da força produtiva, ocasionando uma grande expansão do capitalismo, gerando a consolidação da burguesia no poder político. Nessa perspectiva, houve uma significativa mudança no que diz respeito à concepção da infância, "A criança passou a ser o centro das atenções, necessitando de cuidados e proteção da família".
A industrialização iniciada no Brasil no começo do século XX traz um crescente número de assalariados, os quais eram contratados e descontratados verbalmente, sem nenhuma preocupação com o trabalhador. Esses viviam sem qualquer conforto, com seus míseros salários. Suas crianças viviam soltas pelas ruas, cometendo pequenos delitos. Essa situação chama à atenção da elite que tem a visão de que a criança de classes populares não é provida de moral e são pré-dispostas a uma vida de crimes.
O ensino só foi levado às meninas a partir do século XVIII e neste mesmo século, criou-se um ensino para o povo e outro para as classes burguesas e aristocráticas, começando assim a discriminação social no sistema educacional.
O brinquedo também possui uma dimensão histórica e cultural cuja compreensão torna-se primordial entender que os conceitos de criança, infância e brinquedo são, em verdade, construções sociais. E no Ocidente tomaram sobre si diferentes representações. Já no século XI era possível registrar a presença de pequenas miniaturas de objetos utilizados pelos adultos e que serviam de enfeites em estantes ou eram depositados em túmulos dos entes falecidos como forma de amuleto. Os brinquedos eram objeto de culto doméstico ou funerário e não eram só as crianças que os utilizavam.
Brincar é uma experiência de cultura importante não apenas nos primeiros anos da infância, mas durante todo o percurso de vida de qualquer ser humano. As crianças brincam, isso é o que as caracteriza.
Nas famílias pobres havia uma preocupação desde cedo para a criança trabalhar nas lavouras ou serviços domésticos. "A primeira infância era época das aprendizagens", aquelas que pertenciam às famílias nobres aprendiam as artes de guerra ou os ofícios eclesiásticos. Essa realidade comprovava que não havia muito tempo por parte dos pais para dar carinho e dedicação a elas. A inquietação para ensiná-las um ofício e a atenção dos pais nos seus trabalhos, na guerra ou pedindo esmolas proporcionava tal situação.
As instituições de educação infantil surgiram no Brasil acompanhadas da crescente urbanização, durante a implantação do capitalismo que visa aumentar a força laboral e o capital. E, dá-se a inserção da mulher nas atividades de trabalho. Há registros dessas instituições em 1899 que inicialmente surgiram os chamados jardins de infância para atender os filhos da elite brasileira. Consta que foi no Rio de Janeiro onde fora fundado o primeiro jardim de infância privado do país, no colégio do médico educador Menezes de Vieira, seguido da escola americana de 1877 em São Paulo, ligado aos missionários norte-americanos.
O PNE traz em seus Objetivos a ampliação da oferta de Educação Infantil e tem como meta atender 50% das crianças de zero a três anos e 80% das crianças de quatro e cinco anos até 2010. (O que não fora cumprido).
Entre os objetivos também se incluem a elaboração de padrões mínimos de infraestrutura para o funcionamento adequado das instituições e o estabelecimento de um Programa Nacional de Formação dos Profissionais dessa atividade.
Infelizmente sob a maligna influência do neoliberalismo na formação de professores e, consequentemente, na formação da infância. Pois o professor da educação infantil, encontra-se numa situação de repressão, em face da frequente desvalorização, além de baixa remuneração salarial. E, tais fatores acarretam uma prática muitas vezes desprovida de maiores significados para a educação das crianças.
Deixemos de olhar a infância apenas com as lentes pedagogizantes, baseadas naquela tentação de ser dona do futuro e construtora do mundo, e que transformava alguns dos aspectos da infância em ferramentas utilizadas para dominar tecnicamente pelo saber e pelo poder, as crianças que encarnavam o futuro por vir e o mundo por fabricar.
Devemos olhar a infância como brincalhões, presente nas diversas caixas de brinquedos, imprevisíveis e enigmáticas, que ao serem abertos, não contêm algo pronto, estereotipado, mas sim, peças com formas divertidas e inusitadas, de algo novo, a ser construído e inventado e reinventado. Na dinâmica construção, certamente haverá a possibilidade de renovada educação.
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