Constituição histórica do poder na mídia no Brasil: o surgimento do quarto poder Historical Constitution of media power in Brazil: the emergence of the fourth power [A

June 6, 2017 | Autor: Carla Rizzotto | Categoria: Communication, Media History, Politics
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ISSN 1518-9775 Licenciado sob uma Licença Creative Commons

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Constituição histórica do poder na mídia no Brasil: o surgimento do quarto poder [I]

Historical Constitution of media power in Brazil: the emergence of the fourth power [A] Carla Candida Rizzotto Mestre em Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), Curitiba, PR - Brasil, e-mail: carla_rizzotto@ yahoo.com.br

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Resumo Este artigo faz parte de pesquisa de doutorado a respeito das relações comunicacionais, dos efeitos e dos contratos comunicacionais dos chamados “quarto poder”, representado pela mídia, e “quinto poder”, repre!"#$%&'(&)'!*(!)+,"-+$ '%!')! + #,"-+$'.'+"/0,"-+$'1+%+2#+-$3'4'50$)#&'(&%!)6'!1' 0$'&)+7!16' !')!8!)+$'$&' ($(!9'%$'1:%+$'-&1&'; -$9+&?!6'-&"#0%&6'! #!'(&%!)'! #2')!9$-+&"$%&'-&1'$' $)#+-09$@A&'%$'$7!"%$'%$' &-+!%$%!'!'$'+"/0,"-+$'(&9:#+-$6'!-&"B1+-$'!'-09#0)$9'!*!)-+%$3'C! #!'1&1!"#&'%$' pesquisa, é fundamental entender como se formou tal poder. Para isso, faz-se necessário revisar a história do surgimento e evolução da imprensa no Brasil, com base em Nelson Werneck Sodré (1999) e Marialva D$)E& $'FGHHIJ3'K&1'E$ !'"$')!L+ A&'>+ #M)+-&NE+E9+&7)2;-$6'! #!'$)#+7&'#!1'-&1&'&E?!#+L&'1& #)$)'50!' o modo como o jornalismo se constituiu no Brasil é um importante indicador da identidade política dos jornalistas, pois historicamente o jornalismo sempre esteve submetido ao poder político. [P] Palavras-chave: Quarto poder. História da imprensa. Concentração midiática. [B]

Abstract This work proposes – through the description of the tools used by Greenpeace – making notes about the means by !"#!$%&#"'($)&*+)+,-%$'.+$'//.&/."'-",0$#12+.%/'#+$-&$3+*+(&/$-!+".$'#-"*"-"+%4$5,$'33"-"&,$-&$-!'-6$7%",0$8'2+.)'%9$ )&3+($&: $#".#7('-"&,$&: $/&("-"#'($/& +.6$ +$%++;$-&$!"0!("0!-$!& $$'&'%+)!+#&'%!'-&%+;-$)'&'10"%&'!'$ ' relações sociais. Na década seguinte a televisão se populariza e passa a exercer também o papel de difusor de ideologia, tornando-se essencial para a ditadura instaurada em 1964 por transmitir a imagem de um país moderno “que só existe no discurso ideológico” (BARBOSA, 2007, p. 180). Para alcançar os objetivos visados pelo governo ditatorial, entretanto, era imprescindível que a televisão deixasse de lado o conteúdo político e priorizasse outros conteúdos em sua programação. A censura também voltou a existir no período ditatorial, porém, assim como durante o Estado Novo, a atuação da imprensa perante ela é bastante idealizada, pois apesar da construção de um discurso heróico de combate, sua própria sobrevivência no mercado está em jogo. O que faz com que os jornais adotem constantemente a prática da autocensura, ignorando a ação repressora do regime e destacando os feitos econômicos do governo. Para Barbosa (2007), a autocensura acontece devido às vantagens que a imprensa receberia ao se alinhar aos detentores do poder político, assim, o discurso de defensores da liberdade propagado por ela não se aplica na prática e somente contribui para a ampliação do público e do seu domínio simbólico sobre ele. K&1'&';1'%$'%+#$%0)$'1+9+#$)6'&'?&)"$9+ 1&' passou por diversas mudanças no Brasil, entre elas destacam-se a utilização das tecnologias de informática, o surgimento do jornalismo investigativo e a maior importância atribuída aos assuntos econômicos. Barbosa (2007) atribui o crescimento do jornalismo econômico à diminuição dos temas políticos devido ao regime militar, à adoção do paradigma do neoliberalismo e à consolidação do processo de globalização. Em especial essa última mudança marca o lugar dos meios de comunicação de massa como detentores %!'01'(&%!)' +1EM9+-&6'+"/0!"-+$%& '"A&' &1!"#!' pelo poder político, mas acima de tudo, pelo capital.

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A concentração excessiva dos meios de comunicação também encontra na história razões 50!'$'?0 #+;-$13'b&+'$'($)#+)'%$' !70"%$'1!#$%!'%&' século XX, com o desenvolvimento do rádio e da televisão, que as evidências começaram a aparecer. O principal exemplo são os Diários Associados, de Assis Chateaubriand, que teve o primeiro veículo, O Jornal, criado ainda em 1925. Apesar de poderosas, essas empresas são profundamente dependentes de empresas estrangeiras, indicando sua vulnerabilidade. c$9'L09"!)$E+9+%$%!' !'%!L!'.'7)$"%!'+"/0,"-+$'%$ ' agências de notícias estrangeiras atuantes no país, que moldam as informações noticiadas de acordo com suas inclinações; e das agências de publicidade, também estrangeiras, que funcionavam como representantes dos grandes anunciantes (SODRÉ, 1999). X'+"/0,"-+$'! #)$"7!+)$'!*!)-+%$'"$'+1()!" $' brasileira tem efeito também na discussão a respeito da liberdade de imprensa. Se, num primeiro momento, na fase de ascensão da burguesia, os esforços contra a censura eram direcionados exclusivamente à interferência governamental; na fase do capitalismo monopolista as empresas passam a se autocensurar, condicionadas pelo grau de dependência dos grandes anunciantes, conduzindo à transformação pela qual a imprensa passou, “de instrumento de esclarecimento, a imprensa capitalista se transformou em instrumento %!'$9+!"$@A&6'807+"%&'+"#!+)$1!"#!'$& ' !0 ';" '&)+ginários” (SODRÉ, 1999, p. 408). O !'()&-! &'P'01$'!*()! A&'%$'^)!/!*+L+dade institucional”, quer dizer, é o uso sistemático de informações transmitidas à população com o objetivo de reproduzir determinado sistema social. Consiste em fazer com que os países periféricos “obedeçam” às ordens dos centrais, fazendo com que a população passe a desejar uma virtualidade que lhes é mostrada, mas que não é real. Esse processo não é ocasional, ao contrário, é vital para garantir a dominação econômica e a hegemonia política norte-americana (BELTRÃN; CARDONA, 1982).

Considerações finais 4'9!L$"#$1!"#&'>+ #M)+-&'!'$ ')!/!*V! ' trazidas neste artigo mostram que um dos papéis exercidos pelos meios de comunicação desde a segunda metade do século XX é o de instrumento de legitimação da dominação capitalista. A imprensa

empresarial, que surgiu quando o mundo dos negócios percebeu que podia fazer da informação uma indústria, adicionou dois novos participantes nas relações da mídia: os anunciantes e os consumidores. Conforme a imprensa foi se desenvolvendo como empresa na sociedade capitalista, menos 9+L)!' !9$' ;-&03' `' 50$"%&' & ' $"0"-+$"#! ' ($ $1' a fazer parte dessa indústria que a credibilidade passa a ser não mais uma propriedade ética, mas sim uma propriedade comercial dos jornais. Com ela surge a demanda por produtos culturais e de entretenimento, e não somente por produtos de informação, formando-se as chamadas “cultura de massa” e “indústria cultural”. Com isso, os consumidores passam a ser vistos a partir de padrões de comportamento e de estilos de vida, passando (&)'-+1$'%!'E$))!+)$ '7!&7)2;-$ '!'8$L&)!-!"%&'$' “mundialização” da economia. Quer dizer, assim os sentimentos de pertencimento deixam de ser determinados pela cultura nacional e passam a ser determinados pelos centros dominantes, que gestam o consumo. É preciso tomar cuidado, entretanto, para não assumir como certa a fragilidade intelectual e 1&)$9' %&' (aE9+-&6' %!;"+"%&N&' -&1&' 01$' ! 8!)$' passiva, e, de outro lado, assumir a maldade deliberada dos proprietários das empresas de comunicação em manipular a opinião pública. Essa discussão serve como guia para a pesquisa que pretende dar continuidade a este artigo, por meio da análise de experiências que questionam o poder da mídia: o chamado media criticism.

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Recebido: 25/06/2012 Received: 06/25/2012 Aprovado: 05/09/2012 Approved: 09/05/2012

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