CONSTRUÇÃO COM SACOS DE TERRA - Aplicação a um caso de estudo

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UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA FACULDADE DE ARQUITECTURA E ARTES

CONSTRUÇÃO COM SACOS DE TERRA Aplicação a um caso de estudo

Autor: Ricardo Manuel Jerónimo Hortelão Orientador: Prof. Doutor Arqt. Joaquim Ferrão de Oliveira Braizinha Co-Orientador: Mestre Arqt. Filipe Alexandre Duarte González

Lisboa 2009

UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA FACULDADE DE ARQUITECTURA E ARTES

CONSTRUÇÃO COM SACOS DE TERRA Aplicação a um caso de estudo

Autor: Ricardo Manuel Jerónimo Hortelão Orientador: Prof. Doutor Arqt. Joaquim Ferrão de Oliveira Braizinha Co-Orientador: Mestre Arqt. Filipe Alexandre Duarte González

Lisboa 2009

Agradecimentos

A elaboração do presente trabalho, foi uma aventura árdua quer pela vertente prática como teórica que o envolveu, que só se tornou possível graças à colaboração de muitas pessoas, portanto, gostaria de fazer um agradecimento especial: Aos meus PAIS, sem eles simplesmente não seria possível, que sempre me apoiaram nas minhas aventuras e ideias. À minha irmã SÍLVIA e ao MIGUEL, sempre prontos a ajudar e colaborar com tudo o que sabem e podem. Ao PROFESSOR FILIPE GONZÁLEZ, por quem tenho uma grande estima, pela permanente disponibilidade, capacidade critica e orientação quer prática como teórica ao longo de todo o trabalho. Ao PROFESSOR JOAQUIM BRAIZINHA, que possibilitou e apoiou este trabalho, pela confiança depositada no sucesso de toda a investigação. À equipa do ATELIER DA VILA, pelo seu estimável apoio, flexibilidade de horário e compreensão nos momentos da minha ausência. Ao grupo de ALUNOS DE ARQUITECTURA da Universidade Lusíada de Lisboa, que aproveitaram a oportunidade da construção do caso de estudo e voluntariamente se disponibilizaram para colaborar na sua edificação. A todos os meus AMIGOS que de alguma forma, num ou outro momento, solicitei o seu apoio e sempre se disponibilizaram com toda a gentileza e prontidão.

A todos vós muito obrigado.

I

Índice

Índice..................................................................................................................... II Índice de Figuras.................................................................................................. V Resumo ................................................................................................................ XI Abstract............................................................................................................... XII Introdução.......................................................................................................... XIII

Capítulo I Arquitectura de Terra........................................................................................... 1 1.1 Origem da terra como material de construção ..............................................................1 1.2 Técnicas de construção em Terra Crua ........................................................................3 1.3 História da construção com sacos de terra ...................................................................6 1.3.1 Percurso histórico ...............................................................................................8 1.3.2 Aplicações ........................................................................................................18 1.4 Novas tecnologias para a construção com sacos de terra ..........................................23 1.5 Casos experimentais utilizando sacos de terra ...........................................................27 1.5.1 Contenção de águas pluviais............................................................................28 1.5.2 Contenção de terras .........................................................................................29 1.5.3 Dique ................................................................................................................30

II

Índice

Capítulo II Principais materiais utilizados e Tipologias .................................................... 32 2.1 Terra para a construção com sacos ............................................................................32 2.2 Sacos como molde para empilhamento ......................................................................38 2.3 Arame-farpado para fixação de consolas em sacos de terra ......................................39 2.4 Equipamentos para definição de curvatura .................................................................40 2.5 Métodos para constituição dos vãos ...........................................................................45 2.6 Tipologias ....................................................................................................................47

Capítulo III Projecto do Caso de Estudo.............................................................................. 57 3.1 Objectivos do caso de estudo......................................................................................57 3.2 Projectos de Referência ..............................................................................................58 3.3 Desenhos Abrigo .........................................................................................................63 3.4 Maqueta.......................................................................................................................66 3.5 Desenhos do equipamento de referência da curvatura da cúpula ..............................67 3.6 Desenhos dos equipamentos de referência dos vãos de porta e janela .....................69 3.7 Desenhos do aro para criação do óculo ......................................................................70 3.8 Análise geométrica da forma .......................................................................................71 3.8.1 Análise planimétrica..........................................................................................74 3.8.2 Análise tridimensional .......................................................................................76

III

Índice

Capítulo IV Construção do Caso de Estudo ........................................................................ 80 4.1 Materiais utilizados ......................................................................................................81 4.2 Localização e Implantação ..........................................................................................83 4.3 Enchimento e empilhamento de sacos de terra ..........................................................87 4.4 Tubos para ventilação .................................................................................................90 4.5 Execução dos vãos......................................................................................................92 4.5.1 Vão da Porta.....................................................................................................92 4.5.2 Vão da Janela...................................................................................................96 4.5.3 Óculo da Cúpula ...............................................................................................98 4.6 Definição da cúpula ...................................................................................................100

Capítulo V Sustentabilidade da técnica de sacos de terra.............................................. 105 5.1 Do projecto à obra .....................................................................................................106 5.2 Defeitos e virtudes da técnica....................................................................................107 5.3 Próximas experiências...............................................................................................108 5.4 Evolução da técnica...................................................................................................109 5.5 Consequência teórica do caso de estudo..................................................................109

Bibliografia........................................................................................................ 111

IV

Índice de Figuras

FIG. I. 1 – Localização geográfica de estruturas de terra....................................................2 FIG. I. 2 – Diferentes formas de estruturas de terra a serem utilizadas por diferentes regiões do mundo ................................................................................................................2 FIG. I. 3 – Quadro de correlação entre famílias de técnicas construtivas ...........................4 FIG. I. 4 – Quadro de classificação hierarquizada das técnicas construtivas em terra crua .............................................................................................................................................5 FIG. I. 5 – Esboço de uma trincheira tipo ............................................................................8 FIG. I. 6 – Kassel, Alemanha – investigação de técnica de enchimento de sacos ...........10 FIG. I. 7 – Nader Khalili . Primeiro livro e arquitecto durante a construção de protótipo...11 FIG. I. 8 – Paulina Wojcjechowska . Primeiro livro e fotografia durante construção com sacos de terra ....................................................................................................................12 FIG. I. 9 – Akio Inoue . Construções com sacos de terra na Universidade Tenri no Japão ...........................................................................................................................................12 FIG. I. 10 – Kaki Hunter e Doni Kiffmeyer . Primeiro livro e construção com sacos de terra ...........................................................................................................................................13 FIG. I. 11 – Kelly Hart . Livro e fotografia da construção da sua casa com sacos de terra ...........................................................................................................................................14 FIG. I. 12 - Construção com técnicas mistas com recurso a sacos de terra .....................15 FIG. I. 13 – Instituto Cal-Earth . Plano e Grupo para construção de base lunar ...............17 FIG. I. 14 – Trincheiras militares de sacos de terra na Primeira Grande Guerra .............18 FIG. I. 15 - Dique em sacos de terra .................................................................................19 FIG. I. 16 – Barreiras de sacos de terra para a contenção de enchentes .........................20 FIG . I. 17 – Contenção de águas em portas e janelas e encaminhamento de águas com sacos de terra ....................................................................................................................21 FIG. I. 18 - Muralha de Mercado Abastecedor Região de Lisboa .....................................22 FIG. I. 19 - Campo de Refugiados, Khuzistão . Irão .........................................................22 FIG. I. 20 – Equipamentos de enchimento de sacos - manual..........................................24

V

Índice de Figuras

FIG. I. 21 – Equipamentos de enchimento de sacos - mecânico móvel............................25 FIG. I. 22 – Equipamento de enchimento de sacos – mecânico fixo.................................26 FIG. I. 23 – Experiências pessoais com sacos de terra – Herdade Mesas da Ferranha . Coruche .............................................................................................................................27 FIG. I. 24 – Contenção de águas pluviais com sacos de terra ..........................................28 FIG. I. 25 – Contenção de terras com sacos de terra........................................................29 FIG. I. 26 – Protecção de sacos de contenção de terras ..................................................30 FIG. I. 27 – Dique com sacos de terra...............................................................................30

FIG. II. 1 - Teste do jarro ...................................................................................................33 FIG. II. 2 – Teste do jarro ao solo para caso de estudo ....................................................34 FIG. II. 3 – Diagrama de Classificação da Textura de Solos.............................................35 FIG. II. 4 - Retirar amostras do molde ...............................................................................36 FIG. II. 5 - Testar reacção das amostras à água ...............................................................36 FIG. II. 6 - Medida do saco utilizado ..................................................................................39 FIG. II. 7 - Sacos cheios e colocados na obra...................................................................39 FIG. II. 8 - Rolo de arame-farpado.....................................................................................40 FIG. II. 9 - Colocação do arame ........................................................................................40 FIG. II. 10 - Como utilizar compasso de corda na construção do abrigo...........................41 FIG. II. 11 - Tubo telescópico para definição da curvatura do abrigo................................42 FIG. II. 12 – Montagem e execução de abrigo com compasso vela..................................43 FIG. II. 13 - Projecto de dupla compasso vela...................................................................43 FIG. II. 14 – Montagem dos arcos .....................................................................................44 FIG. II. 15 - Montagem completa do equipamento ............................................................44 FIG. II. 16 - Pormenor de união .........................................................................................44 FIG. II. 17 - Pormenor de cruzamento dos arcos ..............................................................44 FIG. II. 18 - Cimbre para vãos - Instituto Cal-Earth ...........................................................45 FIG. II. 19 - Cimbre para vãos - Executado para caso de estudo .....................................45

VI

Índice de Figuras

FIG. II. 20 – Molde para vão realizado com sacos de terra...............................................46 FIG. II. 21 - Planta de protótipo Eco-vila............................................................................47 FIG. II. 22 - Roofless Dome - Planta..................................................................................48 FIG. II. 23 - Roofless Dome - Vista....................................................................................48 FIG. II. 24 - Roofless Dome - Pormenor construtivo..........................................................48 FIG. II. 25 - Roofless Dome - Aplicação de revestimento exterior.....................................48 FIG. II. 26 - Pouches – Planta ...........................................................................................49 FIG. II. 27 - Pouches - Vista durante o processo construtivo ............................................49 FIG. II. 28 - Pouches - Aplicação de revestimento exterior ...............................................49 FIG. II. 29 - Pottery Dome - Planta ....................................................................................50 FIG. II. 30 - Pottery Dome - Vista durante o processo construtivo ....................................50 FIG. II. 31 - Pottery Dome - Aplicação de revestimento exterior .......................................50 FIG. II. 32 - Pottery Dome - Vista protótipo finalizado .......................................................50 FIG. II. 33 - Koala Pouch - Planta......................................................................................51 FIG. II. 34 - Koala Pouch - Vista intersecção de paredes..................................................51 FIG. II. 35 - Koala Pouch - Vista finalizada o empilhamento de consolas .........................51 FIG. II. 36 - Koala Pouch - Aplicação de revestimento exterior.........................................51 FIG. II. 37 - Holey Dome - Planta ......................................................................................52 FIG. II. 38 - Holey Dome - Vista durante o processo construtivo ......................................52 FIG. II. 39 - Holey Dome - Aplicação revestimento exterior ..............................................52 FIG. II. 40 - Holey Dome - Vista protótipo finalizado .........................................................52 FIG. II. 41 - Sinapsopsis - Planta.......................................................................................53 FIG. II. 42 - Sinapsopsis - Vista durante o processo construtivo.......................................53 FIG. II. 43 - Sinopsopsis - Vista finalizada o empilhamento de consolas ..........................53 FIG. II. 44 - Sinopsopsis - Vista protótipo finalizado..........................................................53 FIG. II. 45 - Homeless Deluxe - Planta ..............................................................................54 FIG. II. 46 - Homeless Deluxe - Vista durante o processo construtivo ..............................54

VII

Índice de Figuras

FIG. II. 47 - Homeless Deluxe - Vista interior da cupula....................................................54 FIG. II. 48 - Homeless Deluxe - Vista protótipo finalizado .................................................54 FIG. II. 49 – Seashell Dome - Planta .................................................................................55 FIG. II. 50 - Seashell Dome - Vista moldes de vãos..........................................................55 FIG. II. 51 - Seashell Dome - Vista durante o processo construtivo..................................55 FIG. II. 52 - Seashell Dome - Vista protótipo finalizado.....................................................55

FIG. III. 1 - Esboço de cabana primitiva circular................................................................58 FIG. III. 2 - Desenho de habitação tipo na Cidade de Choirokoitia ...................................59 FIG. III. 3 - Campo de Refugiados de Baninajar - Abrigos com técnica de terra de enchimento ........................................................................................................................60 FIG. III. 4 - Instituto Cal-Earth - Protótipos para abrigos de emergência...........................61 FIG. III. 5 - Instituto Cal-Earth - Imagem panfletária de projecto lunar com técnica de superadobe........................................................................................................................62 FIG. III. 6 - Caso de Estudo - Planta..................................................................................63 FIG. III. 7 - Caso de Estudo - Planta cobertura .................................................................63 FIG. III. 8 - Caso de Estudo - Corte A................................................................................64 FIG. III. 9 - Caso de Estudo - Corte B................................................................................64 FIG. III. 10 - Caso de Estudo - Alçado Frontal...................................................................65 FIG. III. 11 - Caso de Estudo - Alçado Lateral Direito .......................................................65 FIG. III. 12 - Maqueta - Vistas durante o processo construtivo .........................................66 FIG. III. 13 - Equipamento de referência da curvatura da cúpula – Planta . ESCALA 1:50 ...........................................................................................................................................67 FIG. III. 14 - Equipamento de referência da curvatura da cúpula - Alçados . ESCALA 1:50 ...........................................................................................................................................67 FIG. III. 15 - Equipamento de referência dos vãos - Planta . ESCALA 1:50 .....................69 FIG. III. 16 - Equipamento de referência dos vãos - Alçados . ESCALA 1:50...................69 FIG. III. 17 - Aro para criação de óculo da cúpula - Planta e Alçado . ESCALA 1:20 .......70 FIG. III. 18 - Legenda de quadro síntese de sistemas construtivos de terra crua .............72

VIII

Índice de Figuras

FIG. III. 19 - Quadro síntese de sistemas de construção de terra crua.............................73 FIG. III. 20 - Proposta de Abóbada em sacos de terra - Planta cobertura ........................78 FIG. III. 21 - Proposta de Abóbada em sacos de terra - Vista...........................................78

FIG. IV. 1 – Alunos participantes na construção do abrigo da Universidade Lusíada de Lisboa ................................................................................................................................80 FIG. IV. 2 – Materiais para a construção do abrigo ..........................................................81 FIG. IV. 3 – Terra para enchimento dos sacos.................................................................82 FIG. IV. 4 – Imagem aérea de localização do abrigo .......................................................83 FIG. IV. 5 – Planta de implantação de Abrigo

ESCALA 1:1000 ...........................84

FIG. IV. 6 – Orientação do abrigo.....................................................................................85 FIG. IV. 7 – Local da obra.................................................................................................85 FIG. IV. 8 - Vista terreno por nivelar .................................................................................86 FIG. IV. 9 - Vista aproximada, estaca de nivelamento .....................................................86 FIG. IV. 10 – Equipamento de modelação........................................................................86 FIG. IV. 11 – Enchimento dos sacos com terra ................................................................87 FIG. IV. 12 – Correcta formação de fiadas de sacos........................................................88 FIG. IV. 13 – Compactação dos sacos .............................................................................88 FIG. IV. 14 – Colocação do arame farpado ......................................................................89 FIG. IV. 15 – Correcta colocação de um saco de terra ....................................................89 FIG. IV. 16 - Tubos para ventilação - Corte......................................................................90 FIG. IV. 17 - Tubos para ventilação - Alçado....................................................................90 FIG. IV. 18 – Ventilação do espaço interior ......................................................................91 FIG. IV. 19 – Tubo para ventilação...................................................................................91 FIG. IV. 20 – Marcação e inicio do vão de entrada ..........................................................92 FIG. IV. 21 – Deformação do vão da porta.......................................................................93 FIG. IV. 22 – Corte e alçado do abrigo com indicação de forças de deformação ............94 FIG. IV. 23 – Criação de reforços laterais ao vão de entrada ..........................................95

IX

Índice de Figuras

FIG. IV. 24 – Cotagem do vão da janela (as medidas estão em metros).........................96 FIG. IV. 25 – Criação de Janela .......................................................................................97 FIG. IV. 26 – Colocação do aro metálico..........................................................................98 FIG. IV. 27 – Vista interior da cúpula................................................................................99 FIG. IV. 28 – Definição da cúpula...................................................................................100 FIG. IV. 29 – Imagem tridimensional da cúpula..............................................................100 FIG. IV. 30 – Curvatura formada com fiadas de sacos de terra .....................................101 FIG. IV. 31 – Extensores para reforço estrutural durante a construção .........................102 FIG. IV. 32 – Nova curvatura da cúpula .........................................................................102 FIG. IV. 33 – Apoio mecânico para elevação de sacos de terra ....................................103 FIG. IV. 34 – Colocação das fiadas de sacos superiores...............................................103 FIG. IV. 35 – Aspecto quando finalizada a colocação dos sacos...................................104

X

Resumo Português

TITULO: CONSTRUÇÃO COM SACOS DE TERRA – Aplicação a um caso de estudo

A construção com sacos de terra pertence à família da construção em terra crua, trata-se de um processo de construção por empilhamento com recurso a molde de sacos de terra. Em finais do século XX iniciaram-se alguns estudos para o seu uso na constituição de abrigos temporários e desde ai é possível assistir ao seu crescente uso e desenvolvimento para fins habitacionais. A utilização desta técnica para a constituição de edificações está muitas vezes associada ao termo de arquitectura sustentável isto porque recorre a materiais naturais, nomeadamente a terra, é económica, o seu empilhamento não constitui grande dificuldade quando existem poucos recursos humanos especializados, é um método rápido, com mais valias térmicas, grandes potencialidades de reciclabilidade, e o seu processo construtivo pode ocorrer sem qualquer emissão de poluentes. Sendo que esta técnica construtiva tem aproximadamente um século de existência, o seu estudo apesar de documentado é ainda bastante disperso e com sempre novas evoluções quer ao nível do tipo e material utilizado para os sacos, como as geometrias aplicadas para a sua construção. Este trabalho pretende ser uma ferramenta aglutinadora do conhecimento existente sobre a construção com sacos de terra, enquanto técnica construtiva, analisando os problemas inerentes á sua aplicação, através de um caso de estudo e por último, compreender a sua relevância construtiva relativamente a preocupações económicas, ambientais e de eficiência energética, com grande relevância na actividade arquitectónica da actualidade. Em suma, trata-se de uma análise descritiva dos problemas detectados e soluções aplicadas durante o processo de construção de um abrigo em sacos de terra. Tendo em conta a evolução histórica que proporcionou o aparecimento desta técnica, novas metodologias existentes para a erguer, e quais os próximos passos possíveis na sua evolução.

XI

Abstract English

TITLE: SANDBAG CONSTRUCTION – Application to a case study

The construction with sandbags belongs to the family of the construction with earth, it is a process of building by stacking with a form of sandbags. Late in the twentieth century began some studies of using this technique for setting up temporary shelters, since then we can attend to its increasing use and development for housing. The use of sandbag in construction is often associated with sustainable architecture, this is because this technique use natural materials, particularly earth, it is economic, the stacking of sandbags is not difficult when there are few skilled human resources, it is a fart method, interesting thermal characteristics, it has a great potential for recyclability and its constructive process can occur without any pollutants emission. Taking into account that this technique has a century of existence, its study is documented but still very scattered and always with new developments, both concerning type and material used for bags, as well as geometries used for its construction. This work aims to be a unifying tool of existing knowledge about building with sandbags, as a constructive technique, analyzing the problems of its implementation through a case study and finally, to understand its relevance for constructive economic concerns, environmental and energy efficiency, with great relevance in today’s architectural business. This is a descriptive analysis of challenges faced and solutions applied during the building process of a shelter with sandbags. Given the historical development that provided this technique rise, new methods of building with it, and what are the possible next steps in its evolution.

XII

Introdução

O presente trabalho aborda a técnica construtiva de terra empilhada com recurso a molde, tendo por base a edificação de um abrigo construído com sacos de terra, como caso de estudo. A técnica de construção com sacos de terra, tem assistido a um crescente interesse na sua possibilidade de edificação de abrigos para situações de emergência. Nesse sentido, o conhecimento das suas características e possibilidades, revela-se cada vez mais importantes para os agentes responsáveis pela construção, nomeadamente para os arquitectos. Sendo que as preocupações energéticas e económicas são problemáticas chave no domínio da arquitectura a nível global esta técnica apresenta condições para que se possa tornar numa possibilidade construtiva a ter em conta.

Objectivos O presente trabalho tem por objectivo conhecer a técnica construtiva de terra empilhada com recurso a molde, através de uma análise teórica e prática das suas capacidades. Com base nas escassas informações disponíveis sobre o tema e nas verificações realizadas durante a construção do caso de estudo o trabalho foi organizado em cinco partes distintas. A primeira parte, pretende enquadrar historicamente o percurso que tornou possível a existência desta técnica construtiva, apresentando a construção com terra crua em geral e particularizando para a construção com sacos de terra, referindo as suas aplicações e algumas tecnologias desenvolvidas para a sua evolução, assim como, alguns exemplos de experiências pessoais realizadas com esta técnica anteriores à realização deste estudo. Seguidamente, o capítulo dois descreve os principais materiais utilizados na construção de terra por empilhamento com recurso a molde e apresenta algumas tipologias existentes que têm por base a edificação com esta técnica. O capítulo três apresenta o trabalho de projecto necessário para a edificação de uma construção deste tipo, referindo algumas obras que inspiraram a sua elaboração e objectivos específicos a alcançar com a sua edificação.

XIII

A análise das peças necessárias ao caso de estudo leva, no quarto capítulo, à descrição passo por passo da construção de um abrigo de emergência com recurso à técnica de sacos de terra. Neste sentido, são revelados alguns problemas que ocorreram durante a sua edificação e quais as soluções tomadas. O último capítulo trata-se de uma análise conclusiva dos vários factores de estudo verificados durante o trabalho, numa vertente de sustentabilidade energética e ambiental que deverá ser relevante na tomada de decisão dos materiais e técnicas a aplicar em obra.

Metodologia O trabalho tem como método de demonstração dos dados uma forte componente gráfica, dado que a análise de uma técnica construtiva e a sua demonstração e explicação prática e teórica é mais simplesmente compreendida com a sua visualização. Uma das principais limitações para a execução do estudo foi o acesso in loco a construções que utilizassem esta técnica, nesse sentido, muitos dos dados recolhidos têm origem em sítios na Internet, com elementos disponibilizados para divulgação por parte de algumas organizações e arquitectos como o Instituto Cal-Earth, a organização Ok Ok Ok Producions, ou o arquitecto Kelly Hart. Para a identificação das referências e citações bibliográficas optou-se por elaborar de acordo com a norma ISSO 690-I, de 15 de Agosto e a ISSO 690-II de 15 de Novembro de 1997.

XIV

Capítulo I Arquitectura de Terra

1.1 Origem da terra como material de construção

Determinar qual terá sido a primeira edificação executada com terra crua é difícil de comprovar, isto prende-se exactamente com a reciclabilidade deste tipo de construção. Uma construção em terra crua quando não mantida, degrada-se até ao seu desaparecimento total, daí a quase inexistência de construções que nos permitam conhecer a sua génese. No entanto, a utilização desse material construtivo deve provavelmente ter-se dado desde os primórdios do Homem. Como refere GONZÁLEZ, Filipe Duarte: “É do conhecimento geral, e do domínio comum a atribuição do termo “Homem das Cavernas”, sendo que nessa época a casa/habitat se centrava num processo simples de apropriação do espaço. O carácter nómada fazia com que um espaço (gruta/abrigo) fosse temporário, e provavelmente sazonal. A sedentarização dos povos, originado pela descoberta da agricultura, motivou a necessidade de criação da habitação, e esta terá sido criada com os materiais e técnicas existentes ao alcance do Homem. A terra terá surgido como material construtivo de duas formas: a escavação como processo simples de criação/ampliação da gruta, à semelhança das que haviam sido apropriadas; e a terra moldada à mão como material plástico, técnica que poderá ter sido supostamente dominada em paralelo com a agricultura.”1 EASTON, David indica que “Algumas das cidades mais antigas descobertas até hoje, foram construídas inteiramente em terra crua, tais como: Jericó do ano 8000 a.C.; Catal Hunyuk na Turquia; Harappa e Mohenjo-daro, no Paquistão; Akhlet-Aton no Egipto; Chan-Chan, no Peru; Babilónia no Iraque; Duheros em Espanha; Khirokitia no Chipre”.2

1

GONZÁLEZ, Filipe Duarte, GEOMETRIAS DA ARQUITECTURA DE TERRA – A SUSTENTABILIDADE GEOMÉTRICA DAS CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA. Lisboa: Universidade Lusíada Editora, 2006. p.82, §3 2

Traduzido de: EASTON, David, THE RAMMED EARTH HOUSE. Chelsea: Chelsea Green Pub Co, 1996. p3

1

Arquitectura de Terra

Segundo Houben & Guillaud3, trinta por cento da população mundial, ou quase 1.500.000.000 seres humanos, vivem numa casa de terra crua. Cerca de cinquenta por cento da população de países em vias de desenvolvimento, a maioria população rural, e pelo menos vinte por cento da população de zonas urbanas ou suburbanas, vivem em casas de terra. Este mesmo autor ilustra a localização geográfica onde estão estruturas de terra FIG.I.1 e na FIG.I.2 mostra a dispersão de diferentes tipos/formas de estruturas de terra utilizadas em diferentes regiões do mundo.

FIG. I. 1 – Localização geográfica de estruturas de terra

FIG. I. 2 – Diferentes formas de estruturas de terra a serem utilizadas por diferentes regiões do mundo4 3

Traduzido de: ZAMI, M. S., LEE, A., THE BUILT & HUMAN ENVIRONMENT REVIEW, Volume I, 2008 [referência de 20 Outubro de 2008] Disponível em internet em: . p. 41

4

Figuras I.1 e I.2 - Op. Cit. (3) Disponível em internet em:



2

Arquitectura de Terra

As figuras demonstram como a edificação com terra tem uma representação à escala mundial. No entanto quando analisadas, é questionável o nível de precisão que indicam. Serão apenas nas áreas assinaladas que podemos encontrar “estruturas de terra”? Ao pensar na resposta deve ter-se em conta que este material de construção, de certa forma, “nasce” com o Homem, ou seja, não só terá sido um dos primeiros materiais utilizado para a criação de abrigo, como ainda nos dias de hoje, podemos observar a naturalidade como uma criança começa a construir formas na areia da praia sem que ninguém a obrigue a tal. Pode considerar-se que é um conhecimento inato, é um material que existe em todo o mundo sem distinção, está aos pés de todos. Num período da história em que existe uma preocupação crescente com a capacidade de globalização que as técnicas construtivas conseguem apresentar. Pode identificar-se a construção com terra como verdadeiramente global e isto não acontece de agora pela maior expansão e divulgação do conhecimento, mas desde sempre. Como refere GUELBERTH, Cedar Rose e CHIRAS, Dan “ (…) na história de praticamente todos os humanos, os seus antepassados viveram em abrigos formados com os materiais locais disponíveis. Materiais em terra eram os mais populares. Mesmo hoje, aproximadamente metade da população mundial habita em abrigos produzidos com uma mistura de argila-rica, recolhida da crosta terrestre. Este tipo de abrigo não só protege dos elementos, como pode proporcionar um extremo conforto, mesmo em climas bastante agressivos. O material terra na construção cria também uma ligação próxima com a Terra com efeitos calmantes e saudáveis”.5

1.2 Técnicas de construção em Terra Crua

“Face à importância que a construção em terra crua tem na evolução do conhecimento humano, para a classificação das metodologias de aplicação do material, considerou-se como critério de seriação a sua exequibilidade desde processos simples até ao mais complexo. O elemento que se utilizou para definir a exequibilidade prende-se com a maior ou menor utilização de processos auxiliares à produção do referido material – desde a sua 5

Traduzido de: GUELBERTH, Cedar Rose, CHIRAS, Dan, THE NATURAL PASTER BOOK: EARTH, LIME, AND GYPSUM PLASTERS FOR NATURAL HOMES. Canada: New Society Publishers, 2003. p. 1, §1

3

Arquitectura de Terra

utilização como material à dimensão da mão, até à sua aplicação associando técnicas, materiais e equipamentos produtivos. Este critério apenas permite entender a adaptabilidade do processo construtivo em situações de utilização de maior ou menor possibilidade de recursos a tecnologias auxiliares à produção. Apesar de poder existir a necessidade de recorrer a processos construtivos de menor nível hierárquico e com menor recurso tecnológico, é evidente que a isso acrescerá um custo de tempo, recursos humanos e uma aparente menor qualidade final. Nesse sentido, e no quadro classificativo proposto, obter-se-á um painel de classificação do material em função de três variáveis: o estado físico do material; a família de sistema construtivo; e por último a exequibilidade.”6

FIG. I. 3 – Quadro de correlação entre famílias de técnicas construtivas7

6

Op. Cit. (1) - p.83

7

Op. Cit. (1) – p.84

4

Arquitectura de Terra

O quadro seguinte apresenta a segmentação referente às diversas formas e estruturas possíveis de obter com a construção em terra. Está organizado em seis grandes grupos, com os subgrupos a eles associados.

FIG. I. 4 – Quadro de classificação hierarquizada das técnicas construtivas em terra crua8

Como se pode verificar através da análise dos quadros, a técnica de construção de sacos de terra é, segundo o quadro 1, da família de sistema de construção com utilização da terra crua como enchimento de uma estrutura de suporte. É identificado o estado físico do material terra crua a ser utilizado com esta técnica como húmido, no entanto, é também possível a sua utilização em estado seco, mas nunca sólido, pois o material terra terá de se adaptar ao molde, de tubos ou sacos. Quanto ao nível hierárquico, está definido aqui como sendo de nível quatro o que poderemos concluir, se encontra num nível médio de exequibilidade quando comparado com as outras técnicas de construção em terra crua. 8

Op. Cit.(1) – p.85

5

Arquitectura de Terra

1.3 História da construção com sacos de terra

A construção com sacos de terra baseia-se num princípio básico, o empilhamento de sacos cheios com terra. Nesta prescritiva é provável que pouco após a invenção do saco, poderá ter ocorrido algum tipo de experiência de construção deste tipo, mas não existe qualquer registo que o comprove, compreende-se assim, que é hoje difícil determinar quando terá ocorrido a primeira obra realizada com o uso desta técnica. Através do estudo realizado compreende-se que a documentação sobre a utilização desta técnica para a construção de paredes terá sido iniciada no uso militar, para a criação de trincheiras militares, dado que, os sacos são de fácil transporte, económicos, a elevação de paredes é rápida e são eficazes na de protecção de balas. Para compreender o percurso do uso desta técnica será descrito brevemente quais os princípios pelos quais foi utilizada, para fins militares, principalmente durante a Primeira Grande Guerra, no entanto, interessa principalmente compreender o seu uso em termos arquitectónicos. Muitos têm sido os curiosos e estudiosos para o conhecimento e aplicação desta técnica, de todos os exemplos que hoje é possível encontrar espalhados pelo mundo, será destacado o caso do Instituto Cal-Earth, que com o seu fundador o arquitecto Nader Khalili tem consigo uma vasta divulgação do método, aplicando na construção de abrigos de emergência, estudando a sua resistência sísmica e inclusivamente já com algum reconhecimento internacional, em exposições e em 2004 com um prémio de arquitectura. Deverá portanto, ter uma atenção especial por parte dos técnicos responsáveis na área da construção para aprofundar o seu conhecimento, principalmente devido ao forte crescimento demonstrado pela sociedade no respeito pelo ambiente, energias e sustentabilidade.

Já em 2001 PINTO, A. Reais e INÁCIO, M. Marques definiam os pontos fundamentais para uma estratégia nacional de desenvolvimento da construção sustentável: “. Reduzir o consumo de água e de energia durante o ciclo de vida dos edifícios considerando desde a concepção até à demonstração. . Reduzir o volume de materiais inertes, tais como britas, areias e outros recursos naturais, privilegiando soluções de reutilização e reciclagem, e ainda o recurso à

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industrialização de materiais compósitos e componentes. Fazer um uso criterioso das matérias primas. . Reduzir o conjunto de resíduos resultantes da construção e desconstrução e de outros resíduos destas actividades, que habitualmente vão para aterros. . Limitar a expansão urbanística, numa política de ocupação e ordenamento do território, travando o crescimento desorganizado e especulativo. Respeitar o ambiente e a paisagem numa óptica de conservação da natureza e de bem estar dos utilizadores. . Reduzir os impactes ambientais de novas urbanizações, empreendimentos e edifícios, privilegiando a qualidade dos espaços e envolventes exteriores. . Aumentar a percentagem de reabilitação e da recuperação do património existente, recuperando para os centros das cidades as populações que foram levadas para a periferia por razões económicas e sociais. No país a percentagem de reabilitação ronda os 10%, enquanto nalguns países da EU este valor já ultrapassa os 50%. . Procurar uma nova mentalidade e atitudes através da educação, formação e sensibilização dos jovens e dos restantes actores. . Promover a Investigação e Desenvolvimento (I&D)”.9

Como se poderá verificar ao longo deste estudo alguns destes pontos poderão ser alcançados através de uma maior utilização da técnica de construção com sacos de terra. Nomeadamente no que diz respeito ao segundo ponto referente à redução do volume de materiais inertes e de privilegiar soluções de reutilização e reciclagem. Tendo em linha de conta que o recurso a esta técnica faz uso de mínimos ou inexistentes fontes poluentes o que em termos do seu impacte ambiental, durante a construção, utilização e desconstrução é extremamente diminuto.

9

PINTO, A. Reais, INÁCIO, M. Marques, A EVOLUÇÃO DA CONSTRUÇÃO NO SENTIDO DA SUSTENTABILIDADE. CONTRIBUIÇÃO PARA UMA ESTRATÉGIA NACIONAL, ENCONTRO NACIONAL DA CONSTRUÇÃO. Lisboa: Instituto Superior Técnico, 2001,Volume I. p.79, §5

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1.3.1 Percurso histórico A ideia de fazer paredes empilhando sacos de areia ou terra existe à aproximadamente um século. Originalmente sacos de areia eram utilizados para o controlo de inundações e trincheiras militares porque eram de fácil transporte, rápidos de montar, económicos, e eficazes na tarefa de proteger das águas e balas. Ainda hoje as entidades responsáveis pelo controlo de enchentes, como os bombeiros, têm formação, em muitos países, de como deveram proceder à protecção de habitações e criação de diques temporários com sacos de terra. A utilização de sacos de terra é ainda hoje associada pela generalidade das pessoas à sua utilização militar, que teve na primeira grande guerra uma forte utilização. A imagem seguinte indica como uma trincheira deveria ser executada, claro que sempre condicionada às condições do terreno.

FIG. I. 5 – Esboço de uma trincheira tipo10

“O topo, um metro, do parapeito e do parados (retaguarda da trincheira) consiste numa linha de sacos de terra para absorver as balas ou fragmentos de bomba. A tarefa de enchimento usualmente consiste num soldado com pá e dois agarrando e atando os sacos. Os homens que empilham os sacos cheios de terra trabalham aos pares e será expectável que movimentem sessenta sacos por hora. Pesquisas realizadas pela British Army sugerem que uma bala típica, utilizada durante a Primeira Guerra Mundial apenas penetraria 15 polegadas (38 centimetros) no saco de terra.”11

10

SIMKIN, John. SPARTACUS EDUCATIONAL: First World War. [referência de 12 de Janeiro de 2009]. Disponível na Internet em: < http://www.spartacus.schoolnet.co.uk/FWWsandbags.htm> 11 Op.Cit. (10)

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Os sacos começaram por ser produzidos em materiais naturais como juta ou ráfia, mais recentemente o tecido de polipropileno têm-se tornado no material preferido devido à sua superior resistência. A juta na realidade iria durar um pouco mais quando sujeita aos raios solares, mas eventualmente rompe se deixada húmida, ao contrário do polipropileno que não é afectado pela humidade. Na história militar e do controlo de inundações, o uso de sacos de terra foi associado à construção de barreiras ou estruturas temporárias. Por essa razão utilizar sacos de terra para construção de habitações ou estruturas permanentes é uma inovação relativamente recente. “Em 1976 o Laboratório de Pesquisa para Construção Experimental do Colégio Politécnico de Kassel, na Alemanha, começou a investigar a questão de como materiais naturais, como areia e saibro, poderiam ser utilizados para a construção de habitações sem a necessidade de aglomerantes.”12 Seria necessário a utilização de um molde, nesse sentido, o uso de um material produzido industrialmente foi considerado como tendo a melhor relação qualidade/preço. Durante as experiências, utilizaram para além de areia e saibro, pedra-pomes para enchimento dos sacos, dado que, é mais leve e tem melhores propriedades de isolamento que a areia ou saibro comum. A sua primeira experiência bem sucedida foi com coberturas em forma de cúpula (uma curva catenária invertida) sendo obtida com o auxílio de um modelo com rotação vertical montado no centro da estrutura.

12

HART, Kelly, GEIGER, Owen. EARTHBAGBUILDING.COM. Earthbag Building History [referência de 3 de Novembro de 2008]. Disponível na Internet em: < http://www.earthbagbuilding.com/history.htm>

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FIG. I. 6 – Kassel, Alemanha – investigação de técnica de 13 enchimento de sacos

Em 1978, um protótipo, com um tipo de construção à prova de sismos, utilizando sacos empilhados foi construído na Guatemala. Utilizaram sacos de algodão, embebidos em cal para proteger o material de romper e dos insectos. Quando cheios os sacos mediam aproximadamente 8x10cm. Foi colocado bambu, na vertical, de ambos os lados dos sacos e ligados com arame para dar estabilidade aos sacos empilhados. As varas de bambu foram fixadas à fundação e ao feixe horizontal no topo. Foi no Irão que nasceu o arquitecto de nome Nader Khalili que popularizou a noção de construir estruturas permanentes de sacos cheios de material argiloso. Na realidade o seu primeiro conceito foi encher sacos com pó lunar. Tendo em conta um simpósio para pensar formas de construir abrigos na lua, Khalili completou a ideia de encher sacos com a antiga cúpula em adobe e os métodos para a construção de arcos da sua terra natal no Médio Oriente. Apercebendo-se que os sacos com “terra” lunar poderiam ser empilhados em cúpulas ou abóbadas para fornecer abrigo. Khalili surgiu assim com um aperfeiçoamento deste conceito de edifício em Terra, com um carácter mais permanente e com estrutura resistente ao choque, colocando linhas de arame farpado entre as camadas de sacos, unificando assim o reservatório numa estrutura monolítica. Inicialmente enchia os sacos experimentais com areia do deserto, mas depois surgiu com a ideia do “superadobe” em que os sacos ou longos tubos em polipropileno seriam cheios com uma mistura de terra humedecida que secaria para formar grandes blocos de adobe.

13

Op. Cit. (12)

10

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Neste caso o saco original é meramente o molde inicial que não tem necessariamente de ser uma parte integral da eventual estrutura. Pouco tempo depois destas experiências, Khalili começou a publicitar o seu trabalho em artigos de jornais e revistas e a conduzir workshops e seminários sobre as técnicas que estava a aperfeiçoar. Muitas pessoas que leram sobre o seu trabalho, visitaram o seu complexo em Hesperia, Califórnia, ou estudaram lá com ele, decidiram continuar com as suas próprias experiências e ideias.

FIG. I. 7 – Nader Khalili . Primeiro livro e arquitecto durante a construção de protótipo14

Entre os seus “primeiros aprendizes” estavam Joe Kennedy, Paulina Wojziekowska, Kaki Hunter and Doni Kiffmeyer, Akio Inoue, and Kelly Hart. Terá sido Joe Kennedy que criou o termo mais geral “earthbag” para sugerir que o saco pode conter uma variedade de materiais argilosos. Paulina Wojcjechowska foi a primeira a escrever um livro inteiro com o tópico de construção com sacos de terra: “Building with Earth: A Guide to Flexible-Form Earthbag Construction” em 2001. Este incluiu algumas das suas primeiras experiências feitas com Khalili na Cal-Earth, juntamente com várias outras histórias de casos.

14

Esquerda: KHALILI, Nader. CERAMIC HOUSES & EARTH ARCHITECTURE – How to Build Your Own. Cal-

Earth Press. 1996. Disponível na Internet em: Direita: CALEARTH, Califórnia Institute of Earth Art and Architecture. Hesperia: Geltaftan Foundation, 2004. [data de referência de 5 de Outubro de 2008] Disponível na Internet em:

11

FIG. I. 8 – Paulina Wojcjechowska . Primeiro livro e fotografia durante construção com sacos de terra15

Akio Inoue, da Universidade Tenri no Japão, fez uma extensa experimentação com construção em sacos de terra, feitas no campus da Universidade, na Índia e em Africa onde muitos outros abrigos foram construídos para programas de assistência.

FIG. I. 9 – Akio Inoue . Construções com sacos de terra na Universidade Tenri no Japão16

15

Esquerda: WOJCJECHOWSKA, Paulina. BUILDING WITH EARTH – A Guide to Flexible Form Earthbag

Construction. Chelsea Green Pub. 2001. [referência de 22 de Novembro de 2008] Disponível na Internet em: Direita: EARTH HANDS AND HOUSES. Reino Unido. 1997. [referência de 12 de Fevereiro de 2009]. Disponível na Internet em: 16

HOME DESIGN ONLINE LLC. 2009. [referência de 14 de Fevereiro de 2009]. Disponível na Internet em:



12

Kaki Hunter e Doni Kiffmeyer (um casal) apaixonaram-se pela construção com sacos de terra depois de a estudarem com Khalili, e trabalharam numa variedade de projectos, quer para eles próprios como para clientes. Em 2004 escreveram e publicaram outro livro, “Earthbag Building: the Tools, Tricks and Techniques”, baseado na sua experiência particular.

FIG. I. 10 – Kaki Hunter e Doni Kiffmeyer . Primeiro livro e construção com sacos de terra17

Kelly Hart começou a experimentar a construção com sacos de terra em 1997, depois de ter tomado conhecimento do conceito enquanto produzia o seu programa, “A Sampler of Alternative Homes: Approaching Sustainable Architecture”. Mais tarde documentou a sua experiência de como construiu a sua própria casa, num outro programa de título “Building with Bags: How We Made Our Experimental Earth/Papercrete Home”.

17

HUNTER, Kaki, KIFFMEYER, Doni. Earthbag Building: the Tools, Tricks and Techniques.

Disponível na Internet em:

13

FIG. I. 11 – Kelly Hart . Livro e fotografia da construção da sua casa com sacos de terra18

Existe agora a possibilidade para qualquer um utilizar o conceito e evoluir com ele, e cada vez mais pessoas o estão a fazer em todo o mundo. Enquanto Khalili (e muitos dos seus estudantes) se focaram no seu uso primário de utilizar o sacos para formar grandes blocos de adobe, outros têm tentado enche-los com uma grande variedade de materiais, tais como, rocha vulcânica triturada, coral esmagado, solos não argilosos, cascalho, e casca de arroz. A construção com sacos de terra é única entre todas as outras técnicas de construção e poderá ser mais isolante ou ter maior massa térmica, dependendo de qual o material para enchimento dos sacos. Este é a grande distinção, porque estas características da parede influenciam o quanto será confortável, económico, e ecológico o sistema. A segurança é a principal preocupação com todas as técnicas de construção, e muitas experiências e testes têm sido feitos para estabelecer linhas mestras para muitas formas de edificar. Khalili estabeleceu uma relação com o Departamento de Construção de Hesperia, Califórnia onde a Cal-Earth está sedeada, uma área onde os terramotos são um grande perigo natural. Em 1993, foram realizados testes de cargas ao vivo, para simular sismos, neve e rajadas de vento sobre vários abrigos com estruturas de sacos de terra na Cal-Earth e estes excederam os códigos requeridos em 200%. 18

HART, Kelly. Building with Bags – How we made our experimental Earthbag/Papercrete House.

[referência de 10 de Outubro de 2008]. Disponível na Internet em:

14

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Em 1995 testes de dinâmica e estática foram realizados em vários protótipos para o Museu de Hesperia e o Centro Natural para serem construídos usando o conceito do “superadobe” de Khalili e ambos os testes excederam os requerimentos da cidade de Hesperia. “Em 2006, a pedido do Dr. Owen Geiber do Instituto de Pesquisas Geiber, para Construção Sustentável, o Departamento de Engenharia Civil e Mecânica da Academia Militar dos Estados Unidos, em West Point levou a cabo vários controles e monotorizações-computacionais a fim de determinar a capacidade dos sacos de polipropileno, cheios de areia, solo local, e seixos teriam para resistir a cargas verticais. Escreveram o relatório concluindo que “os sacos de terra são uma alternativa de edificação de baixo custo. Bastante barata e fácil de construir, mostra-se resistente sob cargas como nunca foi visto na construção de edifícios residenciais. Devem ser realizados mais testes para comprovar a fiabilidade e utilidade da técnica de sacos de terra”.19 Mesmo depois de efectuados estes teste com sucesso, o conceito de construção com sacos de terra, terá ainda de incorporar o Código de Construção Residencial. Obviamente é necessário ocorrer uma aceitação mais esclarecida da viabilidade demonstrada da construção com sacos de terra.

FIG. I. 12 - Construção com técnicas mistas com recurso a sacos de terra20

19

HART, Kelly, GEIGER, Owen. EARTHBAGBUILDING.COM. Earthbag Building History [referência de 3 de Novembro de 2008]. Disponível na Internet em: < http://www.earthbagbuilding.com/history.htm> 20

Op. Cit. (12) Disponível na Internet em:

15

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É difícil saber quantas residências ou outras estruturas com sacos de terra foram feitas até hoje, provavelmente centenas, se não milhares. Muitos têm promovido esta técnica, como uso para abrigos de emergência e certamente muitos os têm construído por esta razão. É fácil para essas pessoas aceitar este tipo de construção de abrigos temporários porque se encaixa no uso histórico dos sacos. Mas muitos têm também construído habitações complexas utilizando sacos de terra, os quais, durante o processo, se têm apercebido de como esta técnica é verdadeiramente versátil e sustentável. “Não ficaria surpreendido se muitas destas edificações com sacos de terra se mantiverem erguidas muito depois de outras suas homologas construídas na mesma altura se terem desintegrado.”21 É possível verificar que a tendência de evolução dos sacos de terra na construção, será a sua utilização na elevação de paredes, combinando-a com outras técnicas construtivas. De facto, e apesar da sua capacidade na construção de cúpulas, a técnica de construção com terra com recurso a molde de sacos de terra tem na elevação de paredes a sua maior vantagem, dado que, demonstra ser económica, rápida, simples e proporciona mais valias no que diz respeito a conforto térmico e acústico, isto claro variando consoante as características do material de enchimento. Como foi anteriormente uma das ideias iniciais do arquitecto Nader Khalili para a aplicação desta técnica foi a possibilidade de utilização como método de construção na Lua, nesse sentido, tem continuado a desenvolver pesquisas que a viabilizem. Actualmente (2009), existem planos para a criação de uma colónia lunar sustentável na região do pólo sul.

21

Op. Cit. (9)

16

FIG. I. 13 – Instituto Cal-Earth . Plano e Grupo para construção de base lunar22

“O planeamento para a estadia do Homem na Lua deve envolver considerações que são novas para os modelos baseados na construção com terra. Deverá ser tomada particular atenção para a exposição solar e o contacto visual directo com a Terra. Determinados locais elevados nas regiões polares da Lua oferecem um acesso quase continuo à luz solar (energia) e também uma linha directa de visualização do planeta Terra…”23 Pode verificar-se que o conhecimento desta técnica está ainda em evolução e com certeza os estudos para o aprofundamento das suas potencialidades continuarão. Como foi referido a sua maior utilização tem sido até hoje como recurso de emergência, o que torna ainda mais interessante o seu estudo. E como chama a atenção Kaki Hunter e Donald Kiffmeyer, “A construção com sacos de terra não pretende ser um substituto de outras formas de construção com terra, apenas expande as opções”.24

22

UNIVERSITY OF SOUTHERN CALIFORNIA. School of Architecture and School of Engineering. Elements for a sustainable lunar colony in the south polar region.. Los Angeles, 2001. [refereência de 10 de Dezembro de 2008]. Disponível na Internet em 23

Op. Cit. (22)

24

Traduzido de: HUNTER, Kaki, KIFFMEYER, Donald, EARTHBAG BUILDING: THE TOOLS, TRICKS AND TECHNIQUES. Canada: New Society Publishers, 2004. p. 8, col.2, §3

17

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1.3.2 Aplicações A construção com sacos de terra é uma técnica que tem cada vez mais recurso, nomeadamente em situações de emergência, onde a rapidez e solidez é o factor fundamental. O que faz com que o seu recurso se caracterize fundamentalmente por construções temporárias. As aplicações conhecidas são:

TRINCHEIRAS

FIG. I. 14 – Trincheiras militares de sacos de terra na Primeira Grande Guerra 25

Esta será talvez a maior referência que a população, nomeadamente europeia, tem quando se pensa em construir algo com sacos de terra. De facto, como muitas das evoluções tecnológicas dos nossos dias, é provável que a primeira utilização desta técnica tenha sido para fins militares. É durante a Primeira Guerra Mundial que se verifica a maior difusão da prática de sacos de terra para a construção de trincheiras, aliás apesar da utilização militar de trincheiras remontar à antiguidade, foi após o advento da metralhadora, que se praticou, pela primeira vez na história, uma guerra de trincheiras.

25

Esquerda: SOLDIER’S COMRADES WATCHING HIM AS HE SLEEPS. Thievpal, France. [referência de 21 de Março de 2009]. Disponível na Internet em: Direita: SMILIE, Donna. DIFFERENT WORLDS. Reino Unido. 1998. [referência de 21 de Março de 2009]. Disponível na Internet em:

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DIQUES / BARREIRAS . PERMANENTES

FIG. I. 15 - Dique em sacos de terra

Esta é uma construção destinada a represar águas correntes, comummente utilizada para o controle de enchentes. Em casos de emergência os sacos de terra são uma opção para este tipo de construção, nomeadamente para os reforçar. Um exemplo onde esta situação aconteceu foi na cidade de Winnipeg, no Canadá, que possui um sistema de controle de enchentes, através de diques, porém em 1997, grandes enchentes ameaçaram a região sudoeste da cidade. Os diques de controle foram reforçados, e a sua altura aumentada, através do uso de sacos de areia, e a ameaça de enchente foi minimizada.

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BARREIRAS DE CONTENÇÃO DE ENCHENTES . PROVISÓRIAS

FIG. I. 16 – Barreiras de sacos de terra para a contenção de enchentes26

A elevação de barreiras de contenção tem como principal objectivo a criação de um obstáculo que contenha a água no caso de uma inundação iminente. Assim sendo esta tem de ser erguida rapidamente, com meios simples e que sejam acessíveis a toda a população, para além disso estas barreiras têm naturalmente um carácter provisório, visto serem necessárias outras medidas preventivas de controlo de inundações. Por todos estes motivos, a construção com sacos de terra é até hoje a técnica que melhor tem servido estes propósitos. É naturalmente utilizada em todo o mundo em situações de catástrofe, que será para muitos a única utilização que reconhecem a esta técnica de construção.

26

Esquerda: NASA Educacion. Fox River Flooting. 5 de Abril de 2008. [referência de 13 de Novembro de 2008]. Disponível na Internet em: Direita: FOX NEWS. “More Heavy Rains Could Lead Swollen Iowa River to Spill in Spite of Sandbagged Levee”. de 11 de Junho de 2008. [referência de 15 de Novembro de 2008]. Disponível na Internet em:

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CONTENÇÃO E ENCAMINHAMENTO DE ÁGUAS

FIG . I. 17 – Contenção de águas em portas e janelas e encaminhamento de águas com sacos de terra

27

Bombeiros e privados fazem utilização dos sacos de terra como contenção da água, junto de portas e janelas que são muitas vezes a última barreira a que esta entre nas habitações. Este recurso é por vezes a única forma disponível quando uma cheia se aproxima de surpresa do imóvel ou quando todas as outras formas de retenção já falharam. Para o encaminhamento de águas pluviais a construção de canais poderá ser realizada através da técnica de sacos de terra. No entanto para uma construção permanente é sempre necessário ter em conta um revestimento para os sacos cheios com terra ou areia, visto não serem resistentes aos raios solares.

27 Esquerda: Flood Stoppers. [referência de 2 de Dezembro de 2008]. Disponível na Internet em:

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CONTENÇÃO DE TERRAS

FIG. I. 18 - Muralha de Mercado Abastecedor Região de Lisboa

Este tipo de construção é provavelmente em conjunto com as barreiras para contenção de enchentes, um dos mais praticados com a técnica de sacos de terra, os exemplos são vários e com vários tipos de sacos, desde os mais comuns, com cerca de 40x80cm até aos big bags com uma medida padrão de 90x90cm na base e de altura variável. Mas outras medidas poderão ser encontradas, dependendo de quem produz os sacos. Um exemplo conhecido em Portugal que utiliza estes big bags para construção de uma muralha para contenção de terras é o MARL, Mercado Abastecedor da Região de Lisboa, localizado em São Julião do Tojal.

ABRIGOS DE EMERGÊNCIA

FIG. I. 19 - Campo de Refugiados, Khuzistão . Irão 28

28

Op. Cit. (14) - Disponível na Internet em:

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A utilização de sacos de terra para a construção de abrigos é uma inovação que como já foi referido tem cerca de um século de experimentação e consiste no empilhamento de sacos cheios com terra, utilizando estereotomias, que respeitem as características do material, constituindo assim abrigos. Este tipo de construção tem sido utilizada com o fim de abrigar populações com baixos recursos, muitas vezes em países subdesenvolvidos, que por motivos de guerras ou catástrofes naturais se encontram sem habitação e desta forma podem ver a sua condição de vida melhorada.

1.4 Novas tecnologias para a construção com sacos de terra

A evolução desta técnica tem tido algum desenvolvimento no diz respeito aos métodos de enchimento dos sacos, tornando-a numa tarefa mais simples, ou mais rápida, ou que possa ser executada por apenas uma pessoa. Estas novas tecnologias para enchimento dos sacos têm sido desenvolvidas tendo por base a finalidade de criação de barreiras para contenção de cheias, caso em que o tempo de enchimento se torna um dado fundamental para a protecção das populações e seus bens. É aqui feita uma amostra de alguns meios desenvolvidos para o enchimento dos sacos, que são subdivididos em três tipos, enchimento manual, por meio mecânico móvel, e por meio mecânico fixo.

ENCHIMENTO MANUAL As imagens apresentadas de seguida mostram quatro exemplos de equipamentos desenvolvidos especificamente para o enchimento de sacos de terra de forma manual. Têm como objectivo facilitar o processo de enchimento e torna-lo possível de executar por apenas um indivíduo. A maioria deste tipo de equipamentos podem ser encontrados nos Estados Unidos da América, no entanto, um dos exemplos foi desenvolvido no Japão e é dado para demonstrar como a aplicação da técnica de sacos de terra abrange vários pontos do globo.

23

FIG. I. 20 – Equipamentos de enchimento de sacos - manual29

Os diferentes exemplos demonstram metodologias semelhantes de enchimento dos sacos, nos quais se cria uma pá na qual se insere o saco e ao mesmo tempo que a pessoa segura o saco o pode encher. A excepção é o equipamento desenvolvido no Japão (em baixo, à esquerda), para o qual é necessário o recurso a uma pá convencional, mas que torna possível a uma pessoa encher quatro sacos ao mesmo tempo.

29

Em cima à esquerda: PINER, Matthew. GO BAGGER. Sacramento, Califórnia. Disponível na Internet em: Em cima à direita: EZ BAGGER. Disponível na Internet em: http://ezbagger.tripod.com/

Em baixo à esquerda: BEE BEE WORKER 4 SLOT. Coreia. (frame de filme) Disponível na Internet em: Em baixo à direita: SACKMASTER 2000. Disponível na Internet em:

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ENCHIMENTO POR MEIO MECÂNICO MÓVEL

FIG. I. 21 – Equipamentos de enchimento de sacos - mecânico móvel30

Para um enchimento dos sacos com suporte de um meio mecânico são apresentados dois exemplos, um que já existe um protótipo e o segundo que só existe em projecto. Para o primeiro utiliza-se um mini tractor, mas a pá é especial, e permitindo não só recolher a terra como tem um orifício que debita a terra, mas é necessário um manobrador da máquina e outro para segurar o saco no local. O segundo exemplo (à direita), é um projecto para um camião transformado especificamente para esta finalidade que permite a recolha e enchimento dos sacos automaticamente, mas também neste caso é necessário um mínimo de duas pessoas, um manobrador e outro para recolher os sacos já cheios. A mais valia destes equipamentos relativamente aos manuais é a redução do esforço físico, mas a desvantagem de ser necessária mais que uma pessoa para a tarefa.

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Esquerda: Bucket Bagger Machine. (frame de filme) Disponível na Internet em: Direita: Tri-Nautilus Corporation. Disponível na Internet em:

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ENCHIMENTO COMBINADO MEIO MECÂNICO FIXO

FIG. I. 22 – Equipamento de enchimento de sacos – mecânico fixo31

O exemplo à direita é o equipamento mais antigo de todos os apresentados e trata-se de um depósito com orifício que permite o enchimento do saco, existem vários tamanhos e variantes deste modelo e a sua utilização não é especifica para o enchimento de sacos com terra, é também utilizado para cereais. O invento apresentado na imagem à esquerda trata-se do TRRIO, é de origem polaca e ganhou a medalha de ouro, na feira internacional de Bruxelas, Innova Energy. Trata-se de um equipamento composto por três pás, que pode ser facilmente transportado e montado no local. Para funcionar é necessário, saber montar o equipamento, três pessoas no mínimo, bem coordenadas e com alguma prática para que tudo funcione na perfeição. Dado todos estes factores e o facto de se tratar de um equipamento especialmente concebido para situações de emergência é questionável os prémios recebidos quando comparado com outras soluções aqui apresentadas.

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Esquerda: TRRIO. Polónia. Disponível na Internet em:

Direita: Sandbag Filler – 2 chute. Disponível na Internet em:

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1.5 Casos experimentais utilizando sacos de terra

Antes da realização deste trabalho foram executados alguns trabalhos com a utilização da técnica de terra de enchimento com recurso a molde de sacos de terra. Essas obras foram construídas antes mesmo do seu reconhecimento enquanto técnica construtiva e a sua adopção foi feita pela verificação de quais os materiais disponíveis para a sua execução, tendo presente o respeito pela natureza e a necessidade que sempre está presente de economia, quer dos materiais a utilizar como da mão de obra necessária. São aqui apresentados três obras executadas com esta técnica, de contenção e encaminhamento de águas pluviais, contenção de terras e criação de um dique.

FIG. I. 23 – Experiências pessoais com sacos de terra – Herdade Mesas da Ferranha . Coruche

A mão-de-obra disponível para a execução das mesmas foi sempre não especializada e o conhecimento adquirido das características específicas desta técnica foram sendo verificas a cada experiência e como foram reagindo à passagem do tempo. Através da construção destas experiências, fui tomando consciência das suas potencialidades, vantagens e desvantagens na sua execução e dessa forma a sua análise e estudo tornou-se inevitável. Surgindo assim este trabalho e o caso de estudo que o suporta, como uma progressão natural no sentido de reconhecer na prática quais as potencialidades que o uso dos sacos de terra teriam não só para a execução de obra de arranjo paisagístico como também na criação de espaço habitável. É certo que durante o estudo e pesquisa realizados para a execução do caso de estudo, alguns foram os conhecimentos que já retinha através da abordagem prática, no entanto

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muitas outras questões e curiosidades surgiram, e muitas delas puderam ser respondidas através do caso de estudo, outras espero que o serão através de futuras experiências. 1.5.1 Contenção de águas pluviais

FIG. I. 24 – Contenção de águas pluviais com sacos de terra

Esta obra teve como propósito o reforço de uma vala de encaminhamento de águas pluviais, sendo que, toda a vala delimita uma estrada de terra batida que devido ao desgaste provocado pelas águas da chuva se estava a tornar praticamente intransitável. Conforme identificado na figura anterior, foi decidido colocar duas fiadas de sacos empilhados com uma lona que permitisse a limpeza da vala. A estrada tem um declive pouco acentuado fazendo com que existam ao longo da vala socalcos que permitam o acompanhamento desse declive. Foi construído por quatro pessoas sendo que duas enchiam os sacos e as outras duas atavam e empilhavam os mesmos. Em suma, trata-se de uma construção de baixo custo e que serve o seu propósito de uma forma muito eficaz.

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1.5.2 Contenção de terras

FIG. I. 25 – Contenção de terras com sacos de terra

Esta obra foi a primeira experiência pessoal realizada, com utilização da técnica de empilhamento com recurso a molde de sacos de terra, que demonstrou a potencialidade que esta teria para arranjos exteriores. Verificou-se que através do enchimento de sacos de terra e seu empilhamento, a terra conseguia uma boa resposta mecânica à compressão e que com o passar do tempo a terra era comprimida por acção da gravidade, solidificando de uma forma natural, sem necessidade de qualquer tipo de compressão mecânica. O objectivo foi de elevação de terras, criando um plano mais elevado que o natural. A terra era o material que existia com maior abundância e os sacos demonstraram ser não só resistentes mas também económicos, deve ter-se em conta que este molde é perdido na construção não podendo ser reutilizado. Como podemos ver nas fotografias apresentadas, esta muralha tem no seu ponto mais elevado cerca de dois metros de altura e por isso, foi decidido executar uma parede com uma inclinação de 20º, o que faz aumentar a sua resistência à pressão exercida pela terra. Existem dois pontos importantes a ter em conta nesta técnica construtiva e que serão neste trabalho explicados, o primeiro está relacionado com o tipo de terra utilizada, o segundo com a protecção dos sacos de ráfia, já que, estes se irão deteriorar quando expostos a radiações solares. Nas imagens seguintes apresenta-se a solução encontrada para o problema da deterioração dos sacos, que foi o seu revestimento com uma rede que elimina o efeito da

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Arquitectura de Terra

erosão provocada pela queda de água e vento e promove uma barreira eficaz contra os raios solares. Existem vários materiais que podem ser utilizados para o revestimento dos sacos, ponderado os pós e contras de cada um, consoante a obra a que se destina.

FIG. I. 26 – Protecção de sacos de contenção de terras

1.5.3 Dique

FIG. I. 27 – Dique com sacos de terra

O objectivo foi a construção de um dique para conter as águas num pequeno lago e que permitisse a passagem das águas pluviais para esse mesmo lago, criando um dique no qual deveria ser possível a passagem de veículos. Um dos pontos fundamentais seria a não utilização de materiais danificassem a paisagem e o ambiente do local, o material predominante – terra, a técnica escolhida foi também aqui a de sacos de terra, pelas provas dadas parecia ser uma óptima escolha,

30

Arquitectura de Terra

mas aqui deve ser feita uma chamada de atenção para o facto de na altura desta decisão ainda não se tinha previsto a falta de resistência dos sacos ao sol e chuva. Nesta experiência adicionou-se um novo dado ao problema, para além de encaminhar águas pluviais como no primeiro e conter uma porção considerável de terra como no segundo, teriam de resistir á erosão provocada pela água e que iria desfazer este pequeno dique. Como se pode identificar nas imagens a obra foi bem sucedida criando uma protecção segura para o ponto mais frágil do dique que é no local para onde são encaminhadas as águas, encaminhando-as para o lago através de um tubo de escoamento (tubo ladrão). Com estas experiências tomei contacto com uma técnica que só reconhecia como sendo praticada na construção de trincheiras durante a Grande Guerra e que ao demonstrar tantas e variadas qualidades me encaminhou para um estudo mais aprofundado que demonstra estar em profunda evolução e crescimento.

31

Principais materiais utilizados e Tipologias

Capítulo II Principais materiais utilizados e Tipologias

Neste capítulo são descritos os vários materiais, ferramentas e equipamentos necessários para a execução de uma construção em sacos de terra. Assim como, uma apresentação breve de algumas tipologias existentes que foram desenvolvidas pelo Instituto Cal-Earth, com a técnica do superadobe, que é uma variante da construção com sacos de terra. Enquanto numa edificação em sacos de terra são utilizados sacos, como o próprio nome indica, a técnica do superadobe utiliza tubos, ou também designado de telas.

2.1 Terra para a construção com sacos

O solo é sem dúvida a matéria-prima fundamental da construção com terra crua, no entanto os cuidados a ter em conta na determinação do solo possível de ser empregue e o modo de aplicação do mesmo difere consoante a técnica específica de construção de terra. Uma das vantagens deste método de construção é a possibilidade de empregar solos de fraca qualidade para construir (solos muito pobres em argilas). Mas mesmo tendo em conta essa característica interessa verificar as propriedades específicas da matériaprima. Na construção de abrigos permanentes, e no caso de o solo ter fracas propriedades argilosas, poderá ser necessária a utilização de estabilizantes. No entanto para construções de pequena dimensão ou de utilização provisória não será importante a adição de qualquer tipo de estabilizante, o solo disponível é o suficiente. Para definir o tipo de terra (solo) que será utilizada é necessário realizar alguns testes de campo. O tipo de teste aqui apresentado é simples de executar e requer poucos conhecimentos, tempo ou custos. Mas para uma construção permanente deverá ter-se em conta a realização de testes de laboratório, que são mais precisos e detalhados. Este teste é conhecido como o teste do jarro, o objectivo é saber quais os componentes e suas percentagens presentes numa determinada amostra de solo, ter em conta que o resultado será aproximado. 32

Principais materiais utilizados e Tipologias

Para realizar este teste utiliza-se um jarro de vidro transparente, no qual se irá misturar a terra (solo) com água e depois dos elementos estabilizarem será obtido uma amostra dos componentes da terra por camadas. A figura seguinte apresenta as camadas tipo:

FIG. II. 1 - Teste do jarro32

Tendo em conta este método para verificar o solo, foi utilizado o mesmo processo com uma amostra do solo existente no local de implantação do caso prático e que será utilizado para a sua construção. O recipiente utilizado deverá ser de um material transparente, neste caso vidro, para que seja possível observar as diferentes camadas. Este recipiente tem a capacidade de 500ml, foram colocados 200cm3 da amostra de solo, misturados com 200ml de água. As diferentes camadas começam quase imediatamente a revelar-se, mas para uma observação mais evidente o resultado aqui apresentado foi conseguido após 3 horas de repouso. Existe sempre uma pequena percentagem da amostra que permanece na água, mas que poderá ser desprezada para esta análise. As imagens seguintes apresentam as várias fases do processo.

32

KHALILI, E. Nader, EMERGENCY SANDBAG SHELTER and Eco-Village. Hesperia. Cal-Earth Press. 2008. p.29

33

Principais materiais utilizados e Tipologias

FIG. II. 2 – Teste do jarro ao solo para caso de estudo

Analisando as camadas apresentadas na amostra testada verifica-se que o solo escolhido apresenta: . 14% de Argila; . 29% de Limo; . 57% de Areia. Após a realização deste teste e sucessiva aferição das camadas apresentadas será possível identificar o tipo de solo. Para tal serão comparados os resultados acima descritos com o diagrama de classificação da textura dos solos de seguida apresentado.

34

Principais materiais utilizados e Tipologias

FIG. II. 3 – Diagrama de Classificação da Textura de Solos33

O mesmo autor identifica, fazendo referência ao grupo Auroville que desenvolveu um quadro que associa o tipo de solo às técnicas construtivas com esse material, que o solo do tipo Franco-Arenoso é indicado para a técnica construtiva de Terra de Enchimento.

33

Op. Cit. (1) p.65

35

Principais materiais utilizados e Tipologias

Esta análise é importante ser realizada durante a fase de projecto para garantir que a matéria prima disponível é indicada quanto á técnica determinada para a sua execução. Com base na análise realizada, poderá ser determinado uma das seguintes opções: A. Utilizar a terra no seu estado natural. Caso tenha argila suficiente para que se una bem ou sendo o fim pretendido uma estrutura temporária. B. Estabilizar a terra com cimento, cal, emulsão de asfalto, ou outro estabilizante, para uma estrutura de carácter permanente e caso a argila presente no solo seja insuficiente para garantir a segurança do mesmo.

Se a opção a ser tomada for a B, será então importante realizar um segundo teste que tem como objectivo determinar qual a quantidade de estabilizante adequado em função do solo que será utilizado na construção. Como referência o Instituto Cal-Earth determinou segundo as suas experiências que para estruturas permanentes tais como abrigos de emergência, de aproximadamente 2,5 a 4 metros de diâmetro, a mistura de terra deverá resistir à erosão pela água e deverá ter uma resistência à força de compressão de pelo menos 300 psi (cerca de 21 Kgf/cm2), semelhante aos tijolos de adobe tradicionais. Deveram ser realizadas amostras para testar a força da mistura e a sua resistência à água.

FIG. II. 4 - Retirar amostras do molde34

34

FIG. II. 5 - Testar reacção das amostras à água

Figuras II.4 e II.5 – Op. Cit. (32) p28 e 29

36

Os passos seguintes determinam qual será a mistura de terra e estabilizante adequada: 1. Escolher o estabilizante. Para solo areoso, cimento ou cal será o melhor. Para solos argilosos, cal ou emulsão de asfalto serão mais adequados. 2. Fazer uma amostra da mistura. Por exemplo, misturar 10 copos de terra com 1 de cimento e adicionar água para humedecer, criando uma consistência lamacenta. 3. Acondicionar a mistura de terra, firmemente em três copos de plástico. 4. Deixar as amostras secar na forma. 5. Depois de vários dias, retirar os copos de plástico e colocar as amostras num balde com água. 6. Se depois de três dias as amostras não corroerem na água, então a mistura realizada será correcta para encher os sacos. 7. Se necessário, reduzir ou aumentar a percentagem de estabilizante na mistura. Repetindo o processo até obter um resultado satisfatório nos passos 5 e 6.

Após a realização destes testes é possível determinar a mistura exacta a utilizar. No caso de estudo, que será descrito no capítulo III, a terra foi utilizada sem qualquer estabilizante, visto tratar-se de uma construção provisória. Tendo sido realizado o teste do jarro como se demonstra nas imagens acima apresentadas, nas quais foi verificado que a terra continha as propriedades argilosas necessárias para uma construção deste tipo.

37

Principais materiais utilizados e Tipologias

2.2 Sacos como molde para empilhamento

Existe uma grande variedade de sacos possíveis de ser aplicados neste tipo de construção disponíveis no mercado, que são utilizados por diferentes indústrias para embalagem. Os sacos mais frequentemente utilizados que se podem encontrar são em tecido de polipropileno, juta ou ráfia. Na técnica do superadobe é utilizado uma variante aos sacos, que são mangueiras ou também conhecido por telas, disponíveis nos mesmos materiais que os sacos, já que estes rolos não são mais que os sacos antes de serem cortados e cozidos industrialmente no comprimento desejado. O saco deve ser resistente o suficiente para conter a terra e permitir que o arame-farpado se prenda, assim como permitir que a mistura de terra cure e seque. Quanto à resistência, os sacos mais comuns no mercado resistem a 300 UV (Ultra Violeta), isto significa que resistem cerca de 300 horas à luz solar, também existem sacos com maior resistência, naturalmente mais dispendiosos. Este factor é importante porque se não for colocado qualquer tipo de protecção solar como revestimento dos sacos, esta irá desintegrar-se naturalmente no final desse tempo, desaparecendo os sacos com o sol e perdendo a sua forma em terra com as chuvas. Outro ponto a salientar nesta técnica é facto de, como já foi referido anteriormente, esta ser de recurso a molde, o saco sendo o molde é um elemento que não apresenta um rigor absoluto, ou seja, não será viável a pretensão de obter uma construção milimétricamente exacta. Para além disso os sacos ao serem empilhados vão sendo comprimidos pelo peso dos seguintes, fazendo com que estes aumentem a largura e o comprimento. Por isso o processo de bater ou socar os sacos é importante, por que esse desfasamento entre a forma do saco quando é empilhado e a sua forma final seja o menor possível. No objecto de estudo foram utilizados sacos de ráfia com 50x80cm, tal como apresentado nas figuras FIG.II.10 e FIG.II.11.

38

Principais materiais utilizados e Tipologias

FIG. II. 6 - Medida do saco utilizado

FIG. II. 7 - Sacos cheios e colocados na obra

Outro factor a salientar para a escolha dos sacos é o facto de existirem no mercado este tipo de sacos reutilizados, ou seja, já terão sido utilizados por outras indústrias, como por exemplo a agrícola ou pecuária, sendo posteriormente lavados. Este tipo de saco serve os propósitos necessários à técnica de construção em causa e promovesse assim a preservação do ambiente.

2.3 Arame-farpado para fixação de consolas em sacos de terra

O arame-farpado pode ou não ser utilizado, no entanto a razão porque se recorre a tal é o aumento da resistência da construção, limitando o possível deslizamento das fiadas de sacos. Portanto o arame é aplicado entre as fiadas de sacos. É importante que a colocação do arame seja feita de forma cuidadosa, já que um rasgo longo demais nos sacos fará com que a terra no seu interior derrame e isso poderá colocar em causa a segurança da edificação. O arame-farpado que foi utilizado tem 1,7mm de espessura com 10cm de espaçamento, outras espessuras e espaçamentos são viáveis, tendo em consideração a sua função não convém que seja demasiado frágil e não é necessário a utilização de maiores espessuras porque isso também reduz a sua maneabilidade.

39

FIG. II. 8 - Rolo de arame-farpado

FIG. II. 9 - Colocação do arame

2.4 Equipamentos para definição de curvatura

O termo de equipamentos de modelação pretende designar os arcos utilizados para a criação quer da curva do abrigo, quer dos vãos. Nesta secção são apresentados vários métodos para definição dos vãos, inclusive os utilizados no caso de estudo. Desde um pedaço de corda a um laser sofisticado, vários tipos de compassos poderão ser utilizados para a construção de uma cúpula.

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Principais materiais utilizados e Tipologias

Métodos para definição do arco da cúpula que forma o abrigo:

1 – Correntes ou corda: Este é sem duvida o método mais simples e económico para definir a curvatura durante a construção, aqui é indicado como executar uma cúpula em sacos de terra com uma curvatura ogival. No entanto outras curvaturas são possíveis utilizando os mesmos princípios.

FIG. II. 10 - Como utilizar compasso de corda na construção do abrigo35

35

Op. Cit. (32) p.54

41

Principais materiais utilizados e Tipologias

2 – Tubo telescópico: Utilizando este método é necessário um maior cuidado com os preparativos, ou seja, depois do projecto verificar o diâmetro e altura da cúpula a fim de determinar qual será a extensão necessária para o tubo. O tubo poderá ser marcado previamente ou durante a execução medindo a cada fiada qual será o diâmetro da seguinte, segundo o projecto em execução. Como se poderá observar na figura seguinte, o tubo deverá aumentar de comprimento à medida que as fiadas de sacos se elevam em altura.

FIG. II. 11 - Tubo telescópico para definição da curvatura do 36 abrigo 36

Op. Cit. (32) p. 290

42

Principais materiais utilizados e Tipologias

3 – Compasso vela: Para construções de maiores dimensões o arco pretendido para a cúpula poderá ser executado em tubos de ferro ou bambu, desta forma é visível antes mesmo de começar a empilhar os sacos de terra qual será a dimensão final da obra. Este arco, ou vela, gira em torno do centro a 360º, assim é possível acompanhar cada fiada em toda a sua extensão.

FIG. II. 12 – Montagem e execução de abrigo com compasso vela37

Também é possível transformar esta vela num andaime, duplicando-o em dois arcos interligados, que através das suas uniões constituem suportes onde é possível a aplicação de uma base de trabalho firme, à medida que a cúpula cresce em altura. Tal como é demonstrado na figura seguinte.

FIG. II. 13 - Projecto de dupla compasso vela

37

Figuras II.12 e II.13 – Op. Cit. (32) p.292

43

Principais materiais utilizados e Tipologias

4 – Arco de madeira: Tendo a curvatura da cúpula previamente definida em projecto, é possível executar um molde que represente o arco pretendido durante a construção. A vantagem deste método é a visualização clara do objecto final pretendido e a não necessidade de qualquer medição durante a execução do mesmo. Estes arcos podem quando finalizada a obra ser retirados e reaproveitados para outras construções. Ter em atenção que não se trata de uma cofragem, não tem resistência para tal, nem seria necessário. As fiadas de sacos empilhados nunca encostam ao arco mas sim, têm uma distância constante do mesmo. Convém salientar que essa distância deverá ser de cerca 10 cm, porque os sacos depois de aplicados vão comprimir, e consecutivamente alargar, sendo que o objectivo é não existir contacto dos sacos com o arco de madeira, esta folga é importante.

FIG. II. 14 – Montagem dos arcos

FIG. II. 15 equipamento

-

Montagem

completa

do

FIG. II. 16 - Pormenor de união

FIG. II. 17 - Pormenor de cruzamento dos arcos

44

Principais materiais utilizados e Tipologias

2.5 Métodos para constituição dos vãos

Os métodos aqui apresentados são aplicados para a criação de vãos em arco. Para construir um arco em sacos de terra é necessário um molde, poderá ser executado em madeira, metal ou outro qualquer material disponível, mas deverá ter-se em conta que será necessário ergue-lo alguns metros do chão, por isso o peso final do molde é um factor importante. Quando nenhum destes materiais for possível de empregar, por exemplo se pensarmos em construção de emergência, no deserto, lua ou Marte, a solução é criar o molde com os sacos de terra.

1 – Cimbre de madeira:

FIG. II. 18 - Cimbre para vãos - Instituto CalEarth

FIG. II. 19 - Cimbre para vãos - Executado para caso de estudo

38

Como se pode verificar pelas imagens, o cimbre em madeira para os vãos pode ser construído de formas diversas, e com diferentes formas de arco, consoante a forma final pretendida, tendo em conta naturalmente as condicionantes de resistência mecânica que esta técnica apresenta. Cimbres iguais podem ser utilizados para a realização dos vãos de portas ou janelas, no entanto não se poderá utilizar o mesmo para dois vãos nivelados da mesma construção visto que como esta é executada por camadas, o cimbre não pode ser retirado antes da finalização do vão.

38

Op. Cit. (32) p.260

45

Principais materiais utilizados e Tipologias

Apesar de este ser um equipamento que necessita algum trabalho, tem a vantagem de uma vez realizado ser reutilizado para outras construções. Esta vantagem faz com que o seu material não seja desperdiçado o que lhe confere uma mais valia no que se refere à sustentabilidade construtiva.

2 – Molde de sacos de terra: Dado que nem sempre será possível a elaboração de um molde predefinido, é aqui apresentada uma segunda possibilidade, utilizando apenas os sacos e a terra. Conforme se pode ver na figura 7, os sacos centrais formam um arco no seu conjunto, possibilitando que ao empilhar devidamente os sacos de terra nos extremos e encostados a este, se forme um arco consolidado.

FIG. II. 20 – Molde para vão realizado com sacos de terra39

Para terminar basta que os sacos do centro sejam retirados de forma cuidadosa para não danificar o arco criado. Este método para a constituição de arcos tem grandes vantagens quando a dificuldade de acesso a materiais é elevada e desta forma os sacos bastaram para criar um abrigo, no entanto em termos práticos é mais fácil e simples de criar um arco com recurso a um molde como o de madeira acima descrito. Como se pode verificar existem várias formas e materiais para executar os arcos e vãos necessários à construção de um abrigo em sacos de terra, tantos como a imaginação humana pode alcançar. A simples experimentação de alguns destes métodos com sacos de terra levará a uma aprendizagem prática e dinâmica de como a força gravítica, fricção e dinâmica actuam sobre os objectos, qualquer pessoa individualmente e com poucos recursos pode executar esta experiência.

39

Op.Cit. (32) p.261

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Principais materiais utilizados e Tipologias

2.6 Tipologias

A apresentação de uma secção indicando tipologias não pretende ser de qualquer forma limitativo a qualquer ímpeto criativo no objectivo de construir uma construção em sacos de terra, mas sim a promoção do mesmo. Estes são apenas exemplos de possíveis tipologias numa construção feita inteiramente com sacos de terra, mas muitas outras são viáveis e, espero que, num futuro próximo existam outras obras provando isso mesmo. As construções que são apresentadas foram executadas no Instituto Cal-Earth e servem diferentes propósitos e objectivos, sendo que o seu conjunto constitui uma eco-vila. Estas diferentes tipologias aqui apresentadas são construídas com a técnica do superadobe mas servem como exemplo para demonstrar a versatilidade que a técnica de edificação em sacos de terra pode obter.

FIG. II. 21 - Planta de protótipo Eco-vila40

40

Figuras II.21 a II.52 (Tipologias de Eco-Vila do Instituto Cal-Earth) Op.Cit. (32) p.95 a 190

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Principais materiais utilizados e Tipologias

1 - Roofless Dome (cúpula sem cobertura)

FIG. II. 22 - Roofless Dome - Planta

FIG. II. 23 - Roofless Dome - Vista

FIG. II. 24 - Roofless Dome - Pormenor construtivo

FIG. II. 25 - Roofless Dome - Aplicação de revestimento exterior

Das tipologias apresentadas, esta será a mais simples, isto porque é roofless (sem cobertura). Trata-se de um cilindro realizado com a técnica de superadobe, molde de tubo com enchimento de terra, que não fecha em forma de cúpula. Em vez disso, no topo aberto para o exterior, é criada uma superfície de ensombreamento com canas e rede reciclada, tornando este espaço um pátio privado, aberto para o céu. Acoplado a este espaço existem duas “bolsas” que se destinam a zonas de dormir, com cerca de 2,40 metros de diâmetro na base, e que encerram em arco nas paredes do pátio interior. O objectivo deste projecto foi criar um protótipo para climas secos que fosse mais simples de construir que uma cúpula completa, por esse motivo os elementos a aplicar para cobertura deveriam ser igualmente simples e leves, utilizando materiais locais apropriados.

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Principais materiais utilizados e Tipologias

2 – Pouches (bolsas)

FIG. II. 26 - Pouches – Planta

FIG. II. 27 - Pouches - Vista durante o processo construtivo

FIG. II. 28 - Pouches revestimento exterior

-

Aplicação

de

Este projecto é desenvolvido, tendo como ideia duas bolsas que se desenvolvem a partir do muro que delimita o pátio da Eco-vila. Cada uma das “bolsas” tem cerca de 2,40 de diâmetro, sendo que, como se pode verificar pela planta apresentada, se trata de duas cúpulas seccionadas pelo ponto central que define a circunferência. Neste modelo a construção do vão de entrada é mais simples de realizar, comparando com o modelo em cúpula, já que, está se encontra numa parede sem curvatura vertical. A vantagem desta tipologia, está na maior facilidade de criar um vão na parede vertical e que poderá ser instalado em terrenos mais acidentados onde existem zonas planas mais reduzidas.

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Principais materiais utilizados e Tipologias

3 – Pottery Dome (cúpula cerâmica)

FIG. II. 29 - Pottery Dome - Planta

FIG. II. 30 - Pottery Dome - Vista durante o processo construtivo

FIG. II. 31 - Pottery Dome - Aplicação de revestimento exterior

FIG. II. 32 - Pottery Dome - Vista protótipo finalizado

Este protótipo é uma variante do modelo tipo para abrigo de emergência, com cerca de 2,70 metros de diâmetro interior, que tem acoplado um muro de limite do vão de entrada e um volume para espaço de dormir. Os vãos de janela são criados com recurso a tubos, a forma de os construir será explicado no capitulo IV para a criação de ventilação, este tipo de vãos são mais simples de construir que os vãos em arco. As alterações aplicadas nesta tipologia, demonstram a versatilidade e algumas possibilidades de adaptação do modelo tipo, tornado mais eficaz às necessidades individuais de cada utilizador.

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Principais materiais utilizados e Tipologias

4 – Koala Pouch (bolsa de coala)

FIG. II. 33 - Koala Pouch - Planta

FIG. II. 34 - Koala Pouch - Vista intersecção de paredes

FIG. II. 35 - Koala Pouch - Vista finalizada o empilhamento de consolas

FIG. II. 36 - Koala Pouch - Aplicação de revestimento exterior

“Koala Pouch”, bolsa de coala, é um pequeno abrigo para uma ou duas pessoas, sendo que a sua dimensão está pensada para uma pessoa adulta deitada. Geometricamente esta cúpula é formada pelo cruzamento de duas circunferências, com o objectivo de demonstrar que a criação de um abrigo com esta técnica não terá de ser circular. Um dos pontos fundamentais na criação deste protótipo, é a forma como são empilhadas sucessivas camadas, que se intersectam de forma intercalada para maior estabilidade do volume final. Este projecto tem a vantagem de reduzir o abrigo às suas dimensões mínimas, proporcionando um espaço de dormir protegido.

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Principais materiais utilizados e Tipologias

5 – Holey Dome (cúpula de buracos)

FIG. II. 38 - Holey Dome - Vista durante o processo construtivo

FIG. II. 37 - Holey Dome - Planta

FIG. II. 39 - Holey revestimento exterior

Dome

-

Aplicação

FIG. II. 40 - Holey Dome - Vista protótipo finalizado

Na construção de qualquer edifício deve ser previsto a sua ventilação continua, mesmo quando localizado em climas húmidos ou zonas litorais. Com vários vãos de tubos plásticos é possível criar um espaço com conforto, proporcionando assim luz e ventilação. Para a construção em zonas de guerra, a opção de criar vãos apenas com tubos poderá ser uma boa opção, já que, os tubos colocados com alguma inclinação conseguem evitar balas e estilhaços. Para uma máxima ventilação e iluminação no abrigo poderão ser utilizados vários tubos, já que, a deformação estrutural provocada por esses pequenos vãos tem um impacto mínimo.

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Principais materiais utilizados e Tipologias

6 – Sinapsoapsis – Caterpillar (lagarta “sinapsoapsis”)

FIG. II. 41 - Sinapsopsis - Planta

FIG. II. 42 - Sinapsopsis - Vista durante o processo construtivo

FIG. II. 43 - Sinopsopsis - Vista finalizada o empilhamento de consolas

FIG. II. 44 - Sinopsopsis - Vista protótipo finalizado

Este protótipo pode parecer semelhante ao apresentado anteriormente “Pouches”, mas devido a uma variação do ponto onde está localizado o centro que define a formação da cúpula, ou seja, o local onde é realizada a parede que secciona a planta circular. A sua construção deverá ter outros cuidados. Neste caso, pode verificar-se pelas imagens, a planta semicircular da primeira consola é “transformada” á medida que as consolas são empilhadas numa planta circular. A combinação de formas que é realizada neste modelo torna-o bastante interessante, porque apesar de necessitar de um especial cuidado na combinação entre a linha recta e a linha curva, consegue juntar a facilidade de criar um vão de entrada numa parede plana, com o fecho da cobertura em consolas circulares.

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Principais materiais utilizados e Tipologias

7 – Homeless Deluxe (luxo do “sem abrigo”)

FIG. II. 45 - Homeless Deluxe - Planta

FIG. II. 46 - Homeless Deluxe - Vista durante o processo construtivo

FIG. II. 47 - Homeless Deluxe - Vista interior da cupula

FIG. II. 48 - Homeless Deluxe - Vista protótipo finalizado

Este modelo é o que apresenta a forma mais complexa destes exemplos, no entanto, as suas dimensões são relativamente reduzidas e esse facto simplifica o processo. O seu objectivo é criar um abrigo para duas pessoas, com um espaço de dormir individual. Geometricamente pode dizer-se que se trata de dois abrigos semelhantes ao “Sinapsopsis”, unidos num extremo e o espaço remanescente entre eles, é coberto, proporcionando uma zona triangular comum onde se encontra uma lareira e o vão de entrada.

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Principais materiais utilizados e Tipologias

8 – Seashell Dome (cúpula em concha marítima)

FIG. II. 49 – Seashell Dome - Planta

FIG. II. 50 - Seashell Dome - Vista moldes de vãos

FIG. II. 51 - Seashell Dome - Vista durante o processo construtivo

FIG. II. 52 - Seashell Dome - Vista protótipo finalizado

O nome “Seashell” (forma de concha) que este protótipo recebe provém do conceito do qual teve origem o desenho da entrada e da criação de vãos através do molde de enchimento enrolado. A aparência final do abrigo pretende evidenciar as linhas onduladas de uma concha, assim como o seu exterior curvo. Neste projecto podemos verificar que é possível a criação do espaço de entrada através do empilhamento sucessivo de arcos.

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Principais materiais utilizados e Tipologias

As diferentes tipologias aqui apresentadas, demonstram a versatilidade deste método de construção e a simplicidade do sistema faz com que a sua experimentação seja fácil e económica, para além de proporcionar um abrigo seguro, ecológico, energeticamente eficiente e com poucos recursos materiais, humanos e tecnológicos. Este tipo de construção pode ser realizada por todo o tipo de pessoas, sendo necessário apenas alguns conhecimentos básicos de geometria e construção ou simplesmente copiando um dos modelos aqui apresentados. Mais à frente será descrito passo a passo como erguer um abrigo em sacos de terra, tornando essa aprendizagem num processo ainda mais simples. Considerar-se no entanto que formas planas também são possíveis, dentro dos limites estático-formais do material.

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Capitulo III Projecto do Caso de Estudo

3.1 Objectivos do caso de estudo

O caso de estudo realizado constitui-se pela edificação de um abrigo temporário construído com a técnica de terra empilhada com recurso a sacos de terra. A elaboração do projecto teve em conta os conhecimentos teóricos e práticos anteriormente descritos e o seu objectivo será a experimentação desta técnica na criação de cúpulas, e aberturas de vãos, formando no seu conjunto um espaço habitável. Sendo que se trata de uma experiência, e que a criação deste abrigo pressupõe a construção de um cúpula, a curvatura definida é realizada com o propósito de melhor compreender os limites construtivos que esta técnica oferece. Levando

a

um

conhecimento

cientifico

através

da

prática,

chegando

a

um

reconhecimento da técnica através da tentativa e erro.

“A ciência moderna não afirma que o que é novo esteja sempre certo. Pelo contrário,

está

baseada

filósofo

americano

teóricos

e

ciência

progride

posto

Charles em

no

princípio

Pierce,

prática

corrigindo-se

da

elaborado

pelos

próprios

continuamente

«falibilidade»

(enunciado

por

e

Popper

cientistas) a

si

muitos

segundo

própria,

o

pelo outros

qual

falsificando

a as

suas hipóteses por experiência e erro, admitindo os seus próprios erros - e considerando que uma experiência que não funciona não é um fracasso, pelo contrário, tem tanto valor como uma bem sucedida, porque prova que uma certa

linha

de

pesquisa

estava

enganada

direcção ou mesmo recomeçar do zero.”

e

que

é

necessário

mudar

de

41

41

ECO, Umberto. TENTATIVA E ERRO, Diário de Noticias, 22.8.2004. [referência de 20 de Fevereiro de 2009]. Disponível na Internet em:

57

Projecto do Caso de Estudo

3.2 Projectos de Referência

A quando da elaboração de um projecto muitas são as fontes das quais se busca as bases necessárias para a sua elaboração. Os projectos, esboços e protótipos que aqui se apresentam pretendem ser demonstrativos das referências históricas, técnicas, ecológicas e humanitárias que foram tidas em conta para a sua elaboração. Sendo este um caso de estudo com o objectivo de conhecer e explorar uma técnica construtiva recente, a sua origem teve não só em conta a materialidade, como também a geometria mais viável para a sua criação, assim como princípios de eficiência energética e de salubridade da construção. Os exemplos são tão latos no tempo como a existência do Homem, enquanto indivíduo social, e tão vastos no espaço como a capacidade que este teve até hoje para se expandir.

Cabana Primitiva de planta circular

FIG. III. 1 - Esboço de cabana primitiva circular42

42

City Wiki. CASA DEL HOMBRE PRIMITIVO. Disponível na Internet em:

58

Projecto do Caso de Estudo

Esta imagem é um esboço de qual poderá ter sido o primeiro abrigo construído pelo homem no período do paleolítico superior, quando se dá a saída das cavernas na procura de novas zonas de caça. Não está hoje comprovado se de facto terá sido esta a forma de abrigo do homem de CroManhon. No entanto só o facto de ser esta uma das hipóteses demonstra a simplicidade de conhecimentos que são necessários para se chegar a uma construção deste tipo e que mesmo com a escassez de materiais e técnicas para os trabalhar ela se pode tornar possível. A sua análise leva á geometria da planta circular e da aparente cúpula ogival que conseguiria formar com troncos e folhagem que existiria em abundância e a considerar que mesmo sem conhecimentos de física ou geometria essa é uma estrutura que se obtêm de forma empírica.

Cidade de Choirokoitia

FIG. III. 2 - Desenho de habitação tipo na Cidade de Choirokoitia43

O sítio neolítico de Choirokoitia localiza-se a 32 km de Larnaca, Chipre. Ocupado do sétimo milénio a.C. ao quarto milénio a.C., é um dos locais pré-históricos mais importantes do mediterrâneo oriental.

43

Cidade de Choirokoitia. Disponível na Internet em: < http://www.bufetetecnico.es/arquitectura/proyectos1/ciudad_khirokitia.html>

59

Projecto do Caso de Estudo

Nesta possível reconstituição das habitações, é apresentada a planta circular que se eleva em forma de cúpula, sendo construídas as primeiras camadas em pedra calcária e depois em lama seca ou tijolo cru. Este foi um dos primeiros povoados urbanos da história e devido aos escassos recursos materiais e tecnológicos existentes á 9000 anos os materiais utilizados para a construção seriam a pedra, madeira e a terra. A forma será uma derivação da cabana circular primitiva. Como se compreende a terra como material de construção começou a ser utilizado desde a formação dos primeiros povoados, quando o homem começa já ter conhecimentos de pecuária e agricultura. A planta circular continua a ser utilizada permitindo assim que as paredes tenham uma função autoportante, formando cúpulas de aparência catenária aumentando assim a resistência que os materiais utilizados proporcionam. Essa forma é obtida pela experiência no trabalho desses materiais e não por qualquer estudo científico.

Campo de Refugiados de Baninajar

FIG. III. 3 - Campo de Refugiados de Baninajar - Abrigos com técnica de terra de enchimento44

44

Op.Cit. (28)

60

Projecto do Caso de Estudo

Este campo de refugiados está localizado na província de Khuzistão no Irão e foi construído com o apoio do Instituto Cal-Earth. Através deste projecto foi possível desenvolver 15 abrigos temporários, edificados pelos próprios refugiados e proporcionando assim melhores condições para a população. Protótipos para abrigos de emergência

FIG. III. 4 - Instituto Cal-Earth - Protótipos para abrigos de emergência45

Os protótipos para abrigos de emergência, com o sistema de super adobe, desenvolvido pelo arquitecto Nader Khalili no Instituto Cal-Earth, em 2004 recebem o prémio Aga Khan Award for Architecture.

“A necessidade global de habitação inclui milhões de refugiados e pessoas desalojadas – vítimas de catástrofes naturais e guerras. O arquitecto iraniano Nader Khalili acredita que esta necessidade poderá ser suplantada apenas utilizando o potencial da construção com terra.”46

45

Op. Cit. (32)

46

Traduzido de: AGA KHAN. Award for architecture 2004 [referência de 10 de Janeiro de 2009]. Disponível na Internet em:

61

Projecto do Caso de Estudo

Projecto para construção Lunar

FIG. III. 5 - Instituto Cal-Earth - Imagem panfletária de projecto lunar com técnica de superadobe47

Alguns estudos realizados pelo Instituto Cal-Earth apontam para a possibilidade de construção na Lua com base na técnica de construção com sacos de terra mas utilizando pó lunar para o seu enchimento. Existem já planos e pesquisas realizadas nesse sentido e a próxima etapa em desenvolvimento será uma colónia lunar sustentável na região polar sul. É possível que a primeira edificação permanente interplanetária tenha por base a técnica de construção em sacos de terra.

47

Op. Cit. (22)

62

Projecto do Caso de Estudo

3.3 Desenhos Abrigo Para a construção do abrigo, caso de estudo a levar a cabo na Herdade Mesas da Ferrenha, foram elaborados os seguintes desenhos, plantas, cortes e alçados.

PLANTAS

FIG. III. 6 - Caso de Estudo - Planta

FIG. III. 7 - Caso de Estudo - Planta cobertura

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Projecto do Caso de Estudo

CORTES Como é possível verificar nos cortes apresentados, o abrigo de sacos de terra, terá como elemento de fecho um óculo, que permite melhor ventilação e iluminação natural.

FIG. III. 8 - Caso de Estudo - Corte A

FIG. III. 9 - Caso de Estudo - Corte B

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Projecto do Caso de Estudo

ALÇADOS

FIG. III. 10 - Caso de Estudo - Alçado Frontal

FIG. III. 11 - Caso de Estudo - Alçado Lateral Direito

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Projecto do Caso de Estudo

3.4 Maqueta

Foi possível através deste modelo uma primeira abordagem a qual seria a configuração do futuro abrigo e evidenciou a necessidade de utilização de uma estrutura auxiliar que definisse a curva pretendida, para simplificar a sua construção. A maqueta foi realizada segundo o projecto anteriormente apresentado, mas neste caso foram colocadas as camadas correspondentes aos sacos de terra como se fossem um tubo único, mas simplesmente para facilitar a sua execução.

FIG. III. 12 - Maqueta - Vistas durante o processo construtivo

66

Projecto do Caso de Estudo

3.5 Desenhos do equipamento de referência da curvatura da cúpula Este equipamento foi já referido no sub-capítulo 2.4, ponto 4, a respeito dos métodos para definição da cúpula que forma o abrigo.

PLANTA

FIG. III. 13 - Equipamento de referência da curvatura da cúpula – Planta . ESCALA 1:50

ALÇADOS

FIG. III. 14 - Equipamento de referência da curvatura da cúpula - Alçados . ESCALA 1:50

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Projecto do Caso de Estudo

O equipamento baseia-se no cruzamento de três peças iguais construídas em madeira com elementos de ligação metálicos que permitem ser desmontados para que seja possível retirá-los do interior do abrigo, quando finalizado. E podendo ser reaproveitados para a criação de novos abrigos. Este equipamento reactivamente a outros existentes, apresenta algumas mais valias, principalmente para quem pretende executar a sua primeira edificação em sacos de terra. Trata-se de uma estrutura fixa que permite aferir antes mesmo de se iniciar a construção a volumetria do abrigo, o que neste caso era importante visto o local escolhido sem rodeado por árvores. Utilizando este equipamento não é necessário uma verificação saco a saco, como é o caso quando se utiliza uma corda ou corrente como compasso, dado que a sua presença permite a colocação dos sacos verificando visualmente se a curvatura está a ser respeitada. O facto de ser um equipamento que poderá ser reutilizado na construção de abrigos com uma curvatura de cúpula igual, também lhe confere uma mais valia. Tem como desvantagens exigir alguma mão-de-obra para o executar e algum custo associado aos materiais utilizados e dever ter-se em conta que a sua montagem requer no mínimo duas pessoas.

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Projecto do Caso de Estudo

3.6 Desenhos dos equipamentos de referência dos vãos de porta e janela Este equipamento foi já referido no sub-capítulo 2.5, a respeito dos métodos para constituição dos vãos.

PLANTA E ALÇADOS

FIG. III. 15 - Equipamento de referência dos vãos - Planta . ESCALA 1:50

FIG. III. 16 - Equipamento de referência dos vãos - Alçados . ESCALA 1:50

Estes equipamentos servem para a criação de arcos de ogiva com centros de curvatura nos extremos da base. A sua utilização, tal como do equipamento para criação da cúpula, não pressupõe uma função de cofragem mas sim como elementos que permitem uma leitura em obra de qual a curvatura a ser seguida na composição das consolas de sacos de terra. Seria possível executar os mesmos vãos recorrendo a sacos de terra para definir a curvatura pretendida, no entanto, este foi o método escolhido visto permitir uma maior precisão e controlo durante a construção. A construção deste tipo de equipamento é bastante simples e poderá ser reutilizado para a construção de vãos com curvatura igual em próximos abrigos de sacos de terra.

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Projecto do Caso de Estudo

3.7 Desenhos do aro para criação do óculo

PLANTA E ALÇADO

FIG. III. 17 - Aro para criação de óculo da cúpula - Planta e Alçado . ESCALA 1:20

Como referido a quando da apresentação dos cortes do projecto do abrigo, caso de estudo, o fecho da cúpula será realizado com recurso a um óculo. Este equipamento substitui a peça de fecho da cúpula, que no caso da construção com sacos de terra, seria um saco de terra. A escolha deste equipamento prende-se com uma decisão de projecto para que seja possível criar melhor ventilação e iluminação natural no espaço interior e permite realizar a experiência verificando o comportamento da cúpula de sacos de terra com uma diferente “pedra de fecho”. O equipamento trata-se de um aro metálico com seis espigões, acoplados à forma circular que têm a função de fixar o aro aos sacos de terra. De destacar que este elemento deverá ser construído num material resistente à compressão que o conjunto dos sacos irá exercer sobre ela.

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Projecto do Caso de Estudo

3.8 Análise geométrica da forma

“… a terra crua como material construtivo pertence ao grupo dos materiais compressíveis e que a aplicação se orienta especialmente para “pilares” (elementos de suporte) e “arcos” (elementos de descarga) no caso de ser utilizada como solução autoportante, podendo ser também utilizada como revestimento, isolamento e/ou decoração, no caso de se tratar de terra como material de acabamento. A aplicação de processos de transformação geométrica aos dois elementos base da família estrutural tipo de compressão, permite originar os conceitos de parede, na evolução do pilar, e de abóbada e cúpula no caso do arco.”48 O arquitecto Filipe Gonzalez realiza o quadro síntese, de seguida apresentado, que organiza de forma aglutinadora as geometrias de suporte de cada subsistema de técnicas construtivas em terra crua. Este quadro será analisado, segundo o mesmo autor, para a técnica construtiva de terra empilhada com recurso a molde e sacos de terra, numa análise planimétrica, dos arcos, tridimensional das abóbadas e cúpulas. Sendo que será realizada uma crítica no sentido de expor de forma clara os conhecimentos que daqui se podem retirar e mesmo próximas experiências que a sua análise poderá suscitar.

48

Op. Cit. (1) – p. 131 e 132

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Projecto do Caso de Estudo

FIG. III. 18 - Legenda de quadro síntese de sistemas construtivos de terra crua

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Projecto do Caso de Estudo

FIG. III. 19 - Quadro síntese de sistemas de construção de terra crua

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Projecto do Caso de Estudo

3.8.1 Análise planimétrica “A análise planimétrica consiste essencialmente na configuração dada às construções no que concerne à sua planta. Entende-se por planta uma secção horizontal produzida nos objectos, de forma a ser possível analisar o interior dos mesmos, o exterior e a relação entre ambos (fronteira). Contudo, desta análise pretende-se essencialmente conhecer as consequências entre o material utilizado e a técnica construtiva no que respeita à construção de alvenarias (paredes), uma vez que estas são projectantes horizontais, e que se relacionam com o conceito de estrutura num processo de encaminhamento directo de forças para o solo (no sentido gravítico).”49 De seguida são apresentadas as descrições das classificações apresentadas, no quadro, para o caso da técnica de terra empilhada com recurso a molde de tubos e sacos de terra.

PLANTA CONDICIONADA “Neste grupo a construção de alvenarias apresenta-se condicionada a factores de ordem tecnológica, nomeadamente o processo construtivo ou o estado físico do material. Como condicionante externa está também a necessidade de a alvenaria suportar o vencimento de um vão. Neste sentido este grupo subdivide-se em: planta condicionada ao molde, planta circular, planta condicionada ao vencimento de vão e, por último, planta condicionada a uma estrutura.”50 PLANTA CIRCULAR “A forma circular é a mais utilizada sempre que se produzem construções que estão dependentes da cúpula como processo de vencimento do vão. Além disso a forma circular é a que se traduz numa maior estabilidade geométrica uma vez que em todos os pontos das secções horizontais produzidas na construção a geometria da distribuição de cargas é idêntica, ou seja a distribuição de forças exercidas na construção é constante em qualquer direcção. Um poço tem usualmente a forma circular (cilíndrica) e quando vazio resiste todo à compressão nas paredes, contendo a pressão do terreno. Um tanque circular (fora da

49 50

Op. Cit. (1) – p.133 Op. Cit (1) – p. 134

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Projecto do Caso de Estudo

terra) quando cheio as suas paredes funcionam como cinta, sendo a forma circular a que melhor responde à deformação provável que o material teria se tivesse outra forma.”51 PLANTA CONDICIONADA A UMA ESTRUTURA “A construção das alvenarias está condicionada a uma estrutura resistente préexistente.”52 PLANTA SEMILIVRE “A construção das alvenarias está condicionada à unidade básica de construção, e como consequência não está completamente sujeita a formas pré-definidas. É possível a construção do plano, da superfície de curvatura simples e da superfície da dupla curvatura de mesmo sentido.”53

O projecto para o caso de estudo foi desenvolvido com base na planta circular, no entanto, esta técnica está condicionada ao molde de saco de terra que produz na prática uma falsa circunferência, já que, esta existirá de forma segmentada, consoante a dimensão e porção de enchimento do molde utilizado. No caso de utilização de tubos ou mangas para molde de enchimento esta segmentação não se verifica e terá apenas um ponto de união das suas extremidades, criando uma planta circular através da modelação do tubo.

51

Op. Cit. (1) – p.135 Op. Cit (1) – p. 136 53 Op. Cit (1) – p. 136 52

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Projecto do Caso de Estudo

3.8.2 Análise tridimensional “A análise tridimensional consiste, essencialmente, na configuração dada às superfícies sempre que exista um processo de vencimento de um vão. Este processo divide-se assim em três grandes grupos: os arcos, as abóbadas e as cúpulas. Os grupos mencionados têm relação formal uns com os outros, e na sua génese comportam processos geométricos de geração que os identificam, pelo que a sua análise é evolutiva e simultaneamente interdependente.”54

ARCOS “O arco surge na sequência natural da evolução do trílito que corresponde à unidade básica de vencimento de um vão caracterizada por duas pedras na vertical com a função de apoios e uma na horizontal que vence o vão formado entre ambas, por exemplo os monumentos funerários pré-históricos. De certa forma o trílio resume-se a dois pilares e uma viga. No entanto, na viga existem esforços de tracção, surgindo assim o arco como evolução tecnológica na forma de construir uma ligação entre dois pontos afastados entre si, sem que existam esforços de tracção.”55 ARCO CATENÁRIO OU PARABÓLICO “Resulta da inversão da curvatura plana designada de catenária, a qual tem origem na posição de equilíbrio dada por um fio pesado, homogéneo, inextensível e suspenso pelas extremidades. ARCO EM CONSOLA OU POR CACHORRAMENTO Arco que resulta da sobreposição sucessiva de consolas até ao vencimento de um vão, também denominado por falso arco, uma vez que na sua estrutura existem peças que têm esforços de tracção. ARCO CONDICIONADO A CIMBRE OU ESTRUTURA PRÉ-EXISTENTE Arco que resulta do revestimento de uma estrutura.”56 A criação de arcos utilizando sacos de terra será sempre realizada em consola ou por cachorramento, ou através do recurso a cimbre ou estrutura pré-existente.

54

Op. Cit. (1) – p.136 Op. Cit. (1) – p.137 56 Op. Cit. (1) – p.139 55

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Projecto do Caso de Estudo

Quando aqui vemos contemplado o arco catenário, deve considerar-se que, ao ser construído em sacos de terra será formado em consola e é nesse sentido que o projecto para o caso de estudo avança na tentativa de criação do arco ogival. O arco ogival “resulta da intersecção de dois elementos curvos com centros de curvatura diferentes”, também este será um falso arco ogival no sentido em que é criado em consola, tal como se demonstra nos desenhos apresentados.

ABÓBADAS “…as abóbadas resultam, de uma forma geral, da translação do arco, e a forma do arco, não só designa o tipo de abóbada, como está contido nas suas secções transversais. Outra forma de entender a abóbada será admitir o arco como directriz de uma superfície, tendo uma recta como geratriz. Será de referir que existem abóbadas que originam superfícies de dupla curvatura com o mesmo sentido, basta que resultem da rotação do arco com centro exterior a ele, originando por exemplo troços de uma superfície toroidal, ou mesmo uma superfície helicoidal.”57 No caso da terra empilhada com recurso a molde de tubos ou sacos de terra, segundo o quadro síntese “não se verifica”. Mas para esta leitura é preciso salientar que neste quadro é apenas contemplado “o processo geral de geração de abóbadas orienta-se para o vencimento de vãos com superfícies de curvatura simples”, ou seja, não significa que não se verifique “abóbadas que originam superfícies de dupla curvatura com o mesmo sentido”. O modelo tridimensional seguinte, apresenta um futuro caso de estudo que deverá ser realizado para a verificação deste ponto, sendo que, da pesquisa realizada não foi possível comprovar se já terá sido executado, sem recurso a uma estrutura de suporte. Mantendo-se assim em aberto a questão da sua viabilidade.

57

Op. Cit. (1) – p.140

77

FIG. III. 20 - Proposta de Abóbada em sacos de terra - Planta cobertura

FIG. III. 21 - Proposta de Abóbada em sacos de terra - Vista

CÚPULAS “Na sequência do entendimento dos processos de transformação geométrica, as cúpulas têm como génese a rotação de um arco, sendo este à partida simétrico por reflexão. Apesar de o conceito da geração da cúpula ser a rotação de um arco, existem outras que têm como génese a intersecção de abóbadas, ou mesmo a sobreposição de uma ou mais cúpulas ou abóbadas. Assim, na configuração dada às coberturas, sempre que estas apresentem processos de dupla curvatura no mesmo sentido, resultantes da rotação do arco obtêm-se cúpulas derivadas dos arcos anteriormente analisados.”58

CÚPULA CATENÁRIA OU PARABÓLICA “Resulta da rotação do arco catenário. A rotação tem como eixo uma recta vertical ao centro do arco. CÚPULA HEMISFÉRICA Resulta da rotação do arco de volta perfeita (semicircular). A rotação tem como eixo uma recta vertical ao centro do arco.”59 A cúpula definida para o caso de estudo é ogival, que “resulta da rotação do arco em ogiva. A rotação tem como eixo uma recta vertical ao centro do arco.” Esta cúpula não se insere no quadro apresentado, por esse motivo será verificada a sua viabilidade. 58 59

Op. Cit. (1) – p.142 Op. Cit. (1) – p.143

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Projecto do Caso de Estudo

Qualquer destas cúpulas quando formadas por sacos de terra, são na prática uma cúpula em consola ou por cachorramento, que “resulta da rotação do arco em consola ou por cachorramento. A rotação tem como eixo uma recta vertical ao centro do arco. Trata-se de uma falsa cúpula.” A cúpula hemisférica para que seja possível construir com a técnica de sacos de terra seria necessário a utilização de cimbre ou estrutura pré-existente, e mesmo dessa forma é difícil que seja viável até porque neste processo construtivo, o vencimento de vãos é realizado por sobreposição de lintéis cuja resistência se cinge à compressão assim, e por cachorramento sucessivo dá-se o fecho da cúpula. “A geometria das cúpulas recorrentes a este processo construtivo tem geralmente uma acentuada verticalidade.”60

60

Op. Cit. (1) – p.166

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Capítulo IV Construção do Caso de Estudo

No seguimento do estudo apresentado nos anteriores capítulos, foi realizado o caso de estudo que teve como objectivo a verificação prática de quais as dificuldades e vantagens que esta técnica construtiva apresenta, na construção de um abrigo de emergência. É certo que a teoria apoia a execução da prática, mas também é verdade que através da prática melhor se compreende e entende a teoria. Esta técnica construtiva tem como grande vantagem a sua facilidade de execução e acesso aos materiais necessários para tal, no entanto, como se demonstrará de seguida através da descrição dos vários passos tomados durante o processo, existem alguns problemas que podem ocorrer e para os quais é necessário estar atento. A construção deste abrigo com sacos de terra, como caso de estudo para a tese aqui apresentada, ocorreu durante os meses de Outubro e Novembro de 2008, sendo que a sua edificação demorou no total, aproximadamente, nove dias. Durante grande parte do processo foi construído por uma equipa de três pessoas, no entanto no início da construção existiu a feliz contribuição de alguns estudantes de arquitectura da Universidade Lusíada que participaram e conheceram os princípios básicos do sistema enquanto ajudavam à realização desta ideia.

FIG. IV. 1 – Alunos participantes na construção do abrigo da Universidade Lusíada de Lisboa

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Construção do Caso de Estudo

Erguer um abrigo em nove dias que pode abrigar uma família de 4 pessoas parece positivo, no entanto este tempo poderá ser reduzido se tivermos em conta alguns aspectos, tais como o facto de para todos os intervenientes envolvidos neste projecto esta foi a primeira obra deste tipo, logo a falta de experiência, para além disso ocorreram alguns problemas em durante a sua edificação derivados da inexperiência que com os conhecimentos adquiridos poderão ser revistos e eliminados, o que levará com certeza a uma redução significativa deste tempo. Aliás, segundo o arquitecto Nader Khalili: “Uma cúpula com 2,5 a 3,5 metros de diâmetro interior, utilizando sacos com 36 a 40 cm de largura, pode ser construído de um a sete dias por uma equipa de três a sete pessoas, uma delas treinada no sistema.”61

4.1 Materiais utilizados

Durante a construção deste abrigo vários foram os materiais utilizados, alguns deles já foram anteriormente descritos com maior detalhe, outros serão dispensáveis, consoante a disponibilidade de meios existente, mas o objectivo será sem duvida reduzir ao máximo os meios envolvidos porque isso significa, redução de custos e logo maior acessibilidade.

FIG. IV. 2 – Materiais para a construção do abrigo

61

Op. Cit. (32) p.32

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Construção do Caso de Estudo

FIG. IV. 3 – Terra para enchimento dos sacos

Lista a seguir apresentada indica os materiais utilizados durante a construção do abrigo: 1. Sacos de ráfia, com 50x80 cm, necessários cerca de 700 unidades; 2. Arame farpado, de 1,7mm com 10cm de espaçamento, utilizado cerca de 600 metros; 3. Estacas para nivelamento do terreno, colocadas em quatro pontos; 4. Equipamento de medição para cúpula, verificar construção Capítulo II; 5. Equipamento de medição para vãos, verificar construção Capítulo II; 6. Corta-arame; 7. Pá, para encher os sacos de ráfia com a terra; 8. Barrote, para compactação dos sacos; 9. Tubo plástico, para fazer os respiradouros do abrigo, deverá ser cortado em pedaços com o mesmo comprimento da largura dos sacos, neste caso 50 cm, com 15 cm de diâmetro, comprimento total 2 metros; 10. Luvas de trabalho; 11. Andaimes.

Serve a presente lista para identificar apenas os materiais utilizados durante esta experiência. Para a finalização de um abrigo em sacos de terra é necessário considerar outros materiais que permitam o revestimento de protecção dos sacos, como identificado no Capítulo II, assim como materiais de acabamento tais como vidro para finalização do vão de janela ou madeira para o vão de entrada. Esses materiais não são aqui

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Construção do Caso de Estudo

identificados visto que se pretende descrever o processo de edificação do caso de estudo levado a cabo, que tem como objectivo verificar as dificuldades no processo de edificação de uma construção com sacos de terra.

4.2 Localização e Implantação

As coordenadas de localização do abrigo são: Latitude: 38º 53’ 31.16” N Longitude: 8º 28’ 23.10” W

FIG. IV. 4 – Imagem aérea de localização do abrigo62

Este projecto foi realizado numa propriedade privada, localizada na zona centro de Portugal Continental, Herdade Mesas da Ferrenha, na freguesia de Coruche, concelho de Coruche. Um dos objectivos do projecto será, em continuidade a este estudo, proceder a algumas medições a fim de registar o comportamento que este abrigo proporciona em termos de conforto térmico. 62

Imagem extraida de GOOGLE EARTH

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Construção do Caso de Estudo

FIG. IV. 5 – Planta de implantação de Abrigo

ESCALA 1:1000

Esta é uma zona que apesar de ter alguma amplitude térmica ao longo do ano, esta é amenizada pela proximidade com espelhos de água, como é o caso deste pequeno lago e pela farta florestação que produz o sombreamento necessário a um melhor desempenho térmico desta construção. Mesmo com paredes de terra que têm um bom comportamento térmico, é importante desenvolver o projecto tendo em conta a envolvente, de forma a proporcionar o melhor desempenho possível dos materiais.

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Construção do Caso de Estudo

Assim é expectável que mesmo uma construção com baixos recursos tecnológicos e económicos consiga proporcionar um espaço de qualidade e conforto. A planta apresentada no Capítulo III é um modelo que tem como objectivo ser simples e versátil de forma a tornar a sua aplicabilidade o mais abrangente possível. Mas deve ter em conta a sua orientação para decidir qual o seu posicionamento.

FIG. IV. 6 – Orientação do abrigo

Em Portugal Continental o vento é predominantemente de Norte, nesse sentido a orientação da entrada tem como objectivo a protecção do espaço em relação a ventos fortes. A simplicidade deste esquema de planta, tem a vantagem de permitir a rotação da janela em relação ao vão da porta a fim de adaptar da melhor forma o abrigo ao espaço a que se destina.

FIG. IV. 7 – Local da obra

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Construção do Caso de Estudo

Deverá ser escolhido um local preferencialmente plano e com bom escoamento de águas evitando assim que o abrigo seja realizado em terreno enlameado pois dessa forma estará em causa a sua resistência estrutural. A preparação passa por uma limpeza do terreno e de seguida o seu nivelamento, para isso foram colocadas quatro estacas, niveladas com régua e nível. As estacas servem como pontos de referência para retirar ou adicionar terra ás zonas desniveladas até que todo o espaço onde será construído o abrigo esteja á face com as estacas.

FIG. IV. 8 - Vista terreno por nivelar

FIG. IV. 9 - Vista aproximada, estaca de nivelamento

Depois desta preparação do terreno foi colocado o equipamento já descrito anteriormente que servirá de referência para a correcta colocação dos sacos de terra, facilitando a medição da curvatura do abrigo. A montagem deste equipamento foi realizada no local para facilitar o seu transporte e tem a vantagem de quando terminada a colocação dos sacos de terra, poderá ser desmontado e reutilizado para a realização de outros abrigos com a mesma dimensão de cúpula.

FIG. IV. 10 – Equipamento de modelação

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4.3 Enchimento e empilhamento de sacos de terra

Após a colocação e fixação deste equipamento é necessário iniciar o enchimento dos sacos. Para esta tarefa é importante o mínimo de duas pessoas, uma para segurar o saco e a outra para o encher com terra com o auxilio de uma pá, de seguida procedesse á fase de atar o saco, enquanto um segura a extremidade do saco, o outro ata com um fio, desta forma assegura que o saco seja transportado e colocado, sem que a terra saia.

FIG. IV. 11 – Enchimento dos sacos com terra

Á medida que o abrigo vai aumentando de altura compreende-se que a dificuldade de transporte dos sacos já cheios para o local da sua colocação vai aumentando devido ao peso. Os sacos, quando cheios com terra, têm aproximadamente 40 quilos. Devido a essa dificuldade o melhor método será, em vês de lutar contra a gravidade, evitar ou seja, encher os sacos no seu local definitivo e utilizar por exemplo pequenos baldes com terra, reduzindo assim o peso a elevar. É importante que seja determinado uma quantidade de terra a colocar nos sacos, para que todos fiquem com a mesma quantidade de material. Durante a construção alguns serão relativamente mais pequenos para ajuste das fiadas, já que entre fiadas é favorável que a colocação dos sacos seja desencontrada, conforme FIG. IV. 10. Este processo de colocação dos sacos segue o mesmo princípio de uma parede de alvenaria, no entanto por se tratar de uma parede curva e um molde flexível o grau de precisão é menor.

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Construção do Caso de Estudo

FIG. IV. 12 – Correcta formação de fiadas de sacos

A colocação dos sacos de terra é feito por fiadas, cada fiada deve ser depois de finalizada, compactada. Quanto mais compacta melhor, com o limite de resistência do saco de ráfia, visto que existe um controle maior da deformação do molde, logo de toda a estrutura e forma final. Esta compactação foi feita utilizando barrotes de madeira, pois era o equipamento mais acessível e que cumpre convenientemente a função, no entanto existem outros equipamentos que podem ser concebidos especificamente para essa função.

FIG. IV. 13 – Compactação dos sacos

Depois de cada fiada de sacos colocada segundo o equipamento de modelação e compactada deverá ser colocado o arame-farpado, este tem a função de prevenir o

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deslizamento de sacos entre cada fiada, neste caso foram colocados duas linhas de arame-farpado entre cada fiada.

FIG. IV. 14 – Colocação do arame farpado

Durante a colocação do arame as pessoas envolvidas no seu manuseamento deveram utilizar luvas próprias para evitar qualquer corte. A fixação do arame aos sacos deve ser firme e será relativamente simples visto tratar-se de sacos de ráfia. A colocação dos sacos deve ser sempre o mais preciso possível visto que ao serem aplicados no local se iram imediatamente prender ao arame-farpado e retira-lo poderá implicar o seu rompimento e consequentemente será necessário a sua substituição.

FIG. IV. 15 – Correcta colocação de um saco de terra

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Construção do Caso de Estudo

4.4 Tubos para ventilação

A utilização de tubos plásticos é uma forma simples e económica de criar ventilação no interior do abrigo. O método de execução utilizado na colocação destes tubos é aqui apresentado e durante a obra decorreu sem qualquer problema ou falha mesmo sem qualquer experiência para tal. A colocação dos tubos plásticos é feita entre sacos e pode ser escolhida qualquer das fiadas de sacos, desde que seguindo os princípios expostos na figura seguinte.

FIG. IV. 16 - Tubos para ventilação Corte

FIG. IV. 17 - Tubos para ventilação Alçado

O tubo deve ser colocado com uma pendente para o exterior, evitando assim a entrada de águas das chuvas no interior do abrigo. O diâmetro escolhido para os tubos de ventilação terá interferência na colocação dos sacos e na execução do projecto já que se existirem vários tubos numa mesma linha vertical o espaço previsto entre eles deve permitir que os sacos voltem a uma linha completamente nivelada antes da colocação do tubo seguinte. Mesmo quando colocado um tubo para ventilação é necessário manter uma correcta colocação dos sacos, como explicado anteriormente e como apresentado na FIG. IV. 15. Mantendo assim uma correcta distribuição dos esforços na parede para garantir a estabilidade da estrutura. Para o controle da ventilação poderão ser criadas tampas para os tubos, mas no caso de um abrigo de emergência a forma mais económica será a utilização de restos de pano que quando colocados no interior do tubo conseguem bloquear o fluxo de ar caso seja necessário.

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Construção do Caso de Estudo

O projecto foi desenhado de forma a proporcionar uma ventilação natural tal como indica a FIG. IV. 16 que identifica a corrente de ar criada através da colocação de tubos na zona inferior do abrigo e do aro na cumeeira, que por desenfumagem térmica permite que exista circulação de ar, que por desenfumagem térmica permite que exista circulação de ar.

FIG. IV. 18 – Ventilação do espaço interior

As imagens seguintes mostram a colocação dos tubos durante a obra e como foi referido existiu o cuidado de manter a colocação dos sacos desencontrada. Outro ponto a referir é a colocação do arame farpado, não existe necessidade de interromper a fiada de arame no local do tubo, bastando prolonga-lo por cima do tubo.

FIG. IV. 19 – Tubo para ventilação

Depois de finalizada a construção do abrigo poderá cortar a extremidade do tubo de modo a que fique à face com a parede do abrigo.

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Construção do Caso de Estudo

4.5 Execução dos vãos

No caso deste abrigo existem três vãos, excluindo os tubos de ventilação anteriormente identificados. São eles, a porta, a janela e o óculo da cúpula. Durante a execução dos mesmos foi possível verificar algumas reacções dos materiais que não estavam previstas e como consequência foi necessário proceder a alterações na obra que aqui serão explicadas.

4.5.1 Vão da Porta A abertura para o vão da porta é iniciada na segunda fiada de sacos, criando um intervalo com o espaço pretendido para a entrada e interrompendo assim a circunferência da planta. O fecho do vãos quando realizado sem recurso a outros materiais deverá ser realizado em arco, devido á resistência do material. O arco ogival foi o utilizado mas outros são também possíveis. Durante a obra, depois de finalizada a primeira fiada de sacos, foi marcado qual a localização do vão da porta, deixando esse espaço sem sacos de terra a partir da segunda fiada e prolongando a colocação de sacos para o exterior, criando uma zona de entrada, tal como se pode ver na FIG: IV. 19.

FIG. IV. 20 – Marcação e inicio do vão de entrada

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Quando as camadas de sacos atingiram cerca de 1,2 metro de altura foram colocados os moldes para criação dos vãos. Nesta altura foram verificados alguns problemas na criação do vão de entrada. Para analisar o problema em causa, é necessário ter em conta que o abrigo tem uma planta circular e que os sacos são um molde flexível, ou seja, após a sua aplicação quando os sacos cheios com terra são compactados, vão aumentar a sua largura e comprimento. Quando se trata de uma fiada de sacos que forme uma circunferência completa, este facto é favorável visto que irá aumentar a resistência da mesma, isto acontece na primeira e últimas fiadas, o que significa que todas as fiadas intermédias se tratam de circunferências abertas para criar os vãos. Na primeira fiada de sacos foi marcado 1 metro de largura correspondente à largura do molde para o seu fecho. A partir desse ponto não foi medido, seguindo o alinhamento dos sacos já colocados com o auxilio de um nível, até á colocação do molde que cria a curvatura superior.

FIG. IV. 21 – Deformação do vão da porta

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Devido a esse método que foi utilizado para nivelar as fiadas de sacos aconteceu que como este é o ponto mais frágil os sacos compactados foram sucessivamente ocupando o seu espaço. Tal como mostra a figura seguinte, as fiadas de sacos, vão progressivamente forçando o ponto mais frágil para ocupar o seu lugar.

FIG. IV. 22 – Corte e alçado do abrigo com indicação de forças de deformação

A quando da colocação dos moldes, ou seja a cerca de 1.2m de altura, verificou-se que, o espaço remanescente era de aproximadamente 85 centímetros ao invés de 1 metro. Esta situação levantou dois problemas, o facto de a porta de entrada ser agora mais estreita e sendo o molde construído com um metro de largura, os sacos de fecho da porta que iniciam o arco ogival não estariam seguros pois parte de estaria suspensa para o exterior, pondo em causa a segurança da estrutura. O primeiro problema foi considerado que poderia ficar uma porta com 85 centímetros seria larga o suficiente e a sua alteração implicaria refazer praticamente toda obra até ai realizada. A solução encontrada para assegurar o fecho do vão de entrada, foi criar reforços laterais, de ambos os lados, permitindo assim tornar possível empilhar as camadas de sacos de terra e desta forma criar também um reforço estrutural na cúpula que forma o abrigo.

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FIG. IV. 23 – Criação de reforços laterais ao vão de entrada

Como se pode ver pelas imagens estes reforços proporcionam o apoio necessário á correcta colocação dos sacos de fecho da porta não alterando substancialmente o desenho previsto para o abrigo. A sua construção segui exactamente os mesmos princípios utilizados na restante obra, ou seja, cada fiada de sacos é colocada, os sacos são compactados e é fixo o arame farpado. Deve concluir-se que a forma mais eficaz de construir o vão de entrada será colocando um molde do vão pretendido, com resistência para a pressão dos sacos, que poderá ser permanente e servir para aplicar uma porta ou provisório e nesse caso só deverá ser retirado após a conclusão da colocação dos sacos. Os reforços laterais, apesar de aqui utilizados como recurso, conclui-se que são uma boa opção de projecto visto proporcionarem um reforço extra ao vão que cria o espaço de entrada no abrigo e mesmo a toda a estrutura.

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Construção do Caso de Estudo

4.5.2 Vão da Janela O vão da janela foi iniciado na 12º fiada de sacos de terra, a uma altura de aproximadamente 1metro. Tem a dimensão de 1metro de largura e é criado por uma arco ogival.

FIG. IV. 24 – Cotagem do vão da janela (as medidas estão em metros)

Na

construção

deste

vão

existem

alguns

pressupostos

relacionados

com

o

comportamento do material e resistência dos sacos de terra, que se devem ter em conta para a elaboração do projecto. Nomeadamente a relação entre a dimensão do vão e da parede onde será executado e a sua altura reactivamente á curvatura da cúpula. Durante a sua construção um dos objectivos era que as estruturas de madeira, com a forma do vão não servissem de cofragem mas de apenas definição da dimensão do vão para a colocação dos sacos. No entanto verificou-se que na situação em causa a estrutura de madeira teve de servir como cofragem não só porque o vão tem uma dimensão exagerada para a cúpula onde se insere mas também que teria sido mais fácil de executar e mais seguro se esta fosse realizada algumas fiadas de sacos mais baixo. O vão deve ser realizado numa parede o mais vertical possível para um comportamento favorável dos matérias, no entanto visto tratar-se de uma cúpula a sua curvatura vai aumentando com a altura, por isso quanto mais baixo o vão, mais simples de executar.

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FIG. IV. 25 – Criação de Janela

Como se verifica na imagem FIG. IV. 24 quando o vão foi iniciado consegui manter-se o afastamento relativamente á estrutura de madeira, mas á medida que as fiadas de terra foram sendo colocadas esse afastamento perdeu-se porque os sacos acabaram por ceder devido a já estarem com uma curvatura mais acentuada e sem qualquer suporte. Conclui-se que para a criação do vão de janela deve ser utilizado molde de cofragem, que poderá ser como o apresentado ou mesmo realizado com sacos de terra que sejam posteriormente retirados. Também é de salientar a relação entre a dimensão do vão da janela e o diâmetro da cúpula, quanto menor a dimensão da janela mais fácil será a sua execução. Com cúpulas de grande dimensão vãos maiores serão possíveis. Outro ponto importante que deve ser pensado desde a execução do projecto diz respeito á altura a que a janela é pretendida em relação á dimensão da cúpula. É favorável que esta esteja colocada numa zona o mais vertical possível e por isso quanto mais baixo mais simples será em obra. A criação dos vãos quer de porta como janela são os pontos mais delicados da edificação do abrigo visto ser necessário conciliar todos estes factores e tendo em conta a dimensão dos sacos utilizados e vários métodos para a sua realização são possíveis, mas como qualquer outro material também este tem os seus limites, conhece-los requer alguma experiência mas a sua versatilidade é evidente.

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Construção do Caso de Estudo

4.5.3 Óculo da Cúpula A criação do óculo para o fecho da cúpula tem como objectivo não só a sua ventilação, como identificado na FIG. IV. 17 mas também proporcionar iluminação natural no espaço interior. Para o seu acabamento seria necessário criar um elemento de protecção do mesmo para evitar a entrada de águas das chuvas no interior do abrigo. A cúpula que forma o abrigo é formada por cachorramento, ou seja “resulta da sobreposição sucessiva de consolas até ao vencimento do vão. Também denominado por falso arco, uma vez que na sua estrutura existem peças que têm esforços de tracção.” Esse facto simplifica a criação desde óculo visto que os esforços a actuar sobre ele são reduzidos, sendo distribuídos por todo o elemento por esforços de tracção.

FIG. IV. 26 – Colocação do aro metálico

Durante a sua execução a maior dificuldade foi conjugar a forma dos sacos rectangular com a circunferência com 40 centímetros de diâmetro exterior e o facto deste aro conter espigões que teriam de estar firmemente inseridos nos sacos de terra.

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Construção do Caso de Estudo

Como podemos ver nas imagens o aro metálico contém seis espigões nos quais são inseridos os sacos já no local pretendido. Os sacos devem ficar o mais unidos possível e para finalizar são compactados, tal como nas camadas de sacos anteriores. Neste ponto da obra está finalizada a colocação de sacos e já é possível apreciar o efeito de luz que este óculo proporciona ao espaço.

FIG. IV. 27 – Vista interior da cúpula

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Construção do Caso de Estudo

4.6 Definição da cúpula

A cúpula do abrigo foi projectada segundo o arco ogival, mas ao ser edificado com esta técnica construtiva leva a tratar-se de uma “cúpula em consola ou por cachorramento. Resulta da rotação do arco em consola ou por cachorramento. A rotação tem como eixo uma recta vertical ao centro. Trata-se de uma falsa cúpula.”

FIG. IV. 28 – Definição da cúpula

FIG. IV. 29 – Imagem tridimensional da cúpula

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Construção do Caso de Estudo

Este arco projectado é demasiado ambicioso para este método construtivo e por esse motivo existiram alguns problemas durante a sua execução que levaram mesmo á sua alteração em obra, aliás para González, Filipe este arco não pertence ao quadro síntese aqui apresentado no sub-capítulo 3.8, mas sim o arco catenário.

FIG. IV. 30 – Curvatura formada com fiadas de sacos de terra

As consecutivas fiadas de sacos, sobrepostas segundo o equipamento de modelação, criam uma curvatura correspondente a uma cúpula ogival. Ter em conta que este equipamento não se trata de uma cofragem e não tem resistência para tal. Portanto a colocação dos sacos deve ser feita de forma constante e aproximadamente a 5 cm deste equipamento. Este espaço á necessário pois os sacos ao serem compactados vão aumentar de largura. Foi seguido este método durante a obra até á 17ª camada de sacos de terra (aproximadamente 2metros de altura), altura em que a parede de menor dimensão, entre a janela e a porta, apresentou alguma instabilidade. A razão para essa instabilidade foi uma conjugação de erros que poderiam por em causa a conclusão do abrigo, alguns desses erros já foram anteriormente enunciados, os vãos de porta e janela eram demasiado grandes para a cúpula projectada, a execução dos

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vãos deveria ser feita com cofragens e o arco que define a cúpula do abrigo deveria ter os centros de curvatura do arco mais afastados da recta central de rotação. Tendo em conta estes conhecimentos adquiridos, já durante o processo construtivo, a primeira medida tomada foi com o objectivo de garantir a segurança da obra, colocando no interior do abrigo extensores, que impedissem o eventual desabamento das fiadas superiores de sacos de terra.

FIG. IV. 31 – Extensores para reforço estrutural durante a construção

Para além da colocação destes extensores a outra forma encontrada para assegurar que o abrigo fosse concluído, foi a alteração da curvatura do arco, mantendo o eixo de rotação central para criar a cúpula e desenvolvendo a camadas de sacos de terra seguintes segundo um novo centro de curvatura.

FIG. IV. 32 – Nova curvatura da cúpula

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Construção do Caso de Estudo

Como podemos observar no desenho esta medida veio influenciar a forma final do abrigo, tornando o seu extremo mais elevado em relação ao previsto. Os acontecimentos durante a obra vieram demonstrar que o arco ogival tal como foi projectado não é viável para ser executado com a técnica de sacos de terra, sendo que será necessário que o arco de curvatura que define a cúpula tenha diâmetro superior ao diâmetro da circunferência da base. Para um abrigo com uma planta circular com o diâmetro de 3 metros, o arco de curvatura deve ter 3,5 metros de raio (no mínimo). Outra opção será projectar uma cúpula catenária ou parabólica, que resulta da rotação do arco catenário. Depois de definido como solucionar os problemas que aconteceram, as camadas finais do abrigo são sem dúvida as mais fáceis de construir do ponto de vista geométrico já que se tratam de circunferências, mas também as mais difíceis para a colocação dos sacos, visto que nesse ponto se está a uma altura de mais de 2 metros.

FIG. IV. 33 – Apoio mecânico para elevação de sacos de terra

FIG. IV. 34 – Colocação das fiadas de sacos superiores

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Para considerar o problema de elevar os sacos até ao local pretendido é necessário ter em conta que cada saco, depois de cheio com terra, pesa aproximadamente 40 quilos, por esse questão prática de luta contra a força da gravidade, existem á partida dois métodos eficazes, transportar a terra em pequenas quantidades enchendo os sacos no próprio local ou, existindo algum meio de elevação através de roldanas ou mecanicamente, estes poderão ser cheios ao nível do chão e depois elevados até ao local pretendido. No caso em estudo existiu a possibilidade de utilização de um meio mecânico, tornando o transporte dos sacos mais rápido e fácil. Tal como se pode observar nas imagens é preferível nesta fase da construção verificar a quantidade de terra necessária para o enchimento dos sacos no local, já que á medida que a circunferência reduz de diâmetro os ajustes necessários á quantidade de terra em cada saco também aumenta. Até ao momento em que o último saco é colocado.

FIG. IV. 35 – Aspecto quando finalizada a colocação dos sacos

Após a construção do abrigo em sacos de terra será necessário a sua protecção á prova de água e acabamentos. Essa fase da construção não foi realizada para o caso de estudo mas como já descrito anteriormente, existem vários tipos de revestimentos e soluções possíveis dependendo naturalmente dos materiais disponíveis e da composição pretendida.

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Capitulo V Aplicabilidade da técnica de sacos de terra

A construção do caso de estudo foi o método escolhido para melhor compreender as características da técnica de sacos de terra, tendo essa experiência consequências a nível do conhecimento adquirido, assim como uma perspectiva pessoal de qual a sua eficiência e quais os estudos que deverão ser concretizados para a evolução da mesma. A noção de qual a evolução prevista no uso e desenvolvimento desta técnica construtiva assenta nos conhecimentos existentes, daí que, dado o crescente interesse na sua pesquisa e experimentação a sua evolução poderá ter um crescimento exponencial, para o qual espero este trabalho seja uma contribuição eficaz. Como é referido por MOLLISON, Bill e SLAY, Reny Mia: “Existem muitas oportunidades para criar sistemas que funcionem com os elementos e tecnologias existentes. Talvez devêssemos passar o próximo século a somente aplicar o conhecimento existente. Nós já sabemos como construir, manter, e habitar sistemas sustentáveis”.63 De facto o conhecimento existente seja já bastante para ser possível criar “sistemas sustentáveis”, no entanto a mas a evolução tecnológica que permite a sua criação deverá estar em constante evolução, não só porque as necessidades humanas estão em constante transformação e portanto é fundamental adaptar a tecnologia. A sustentabilidade dos sistemas de construção e habitacional serão sempre possíveis de ser melhorados, e estarão sempre em transformação e adaptação quer ao ser humano como ao espaço onde se inserem. Não existindo portanto uma resposta única, para cada caso existe uma resposta favorável, tendo sempre em conta as condicionantes e desafios próprios inerentes a cada obra.

63

Tradudizo de: MOLLISON, Bill, SLAY, Reny Mia, PERMACULTURE: A DESIGNERS’ MANUAL. Canada: Tagari Publications, 1988. p.2, §2

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Aplicabilidade da técnica de sacos de terra

5.1 Do projecto à obra

Este trabalho desenvolveu-se com o objectivo de melhor conhecer a construção com sacos de terra, não só numa perspectiva teórica mas também do ponto de vista prático. Assim, foi elaborado um projecto baseado numa planta tipo que poderá servir para a construção de um abrigo temporário em caso de emergência, tendo como base uma planta circular que se eleva em forma de cúpula criando uma espaço habitável. No desenvolvimento do projecto existiam alguns pontos da construção que se sabia serem potencialmente difíceis de conseguir e que em obra demonstraram a sua ineficácia, no entanto, o facto de este ser um caso de estudo proporcionava uma possibilidade única de correr esses riscos sem comprometer a satisfação de qualquer cliente ou promotor e levando a um conhecimento mais apurado dos sacos de terra enquanto material de construção, nomeadamente na sua possibilidade de formar cúpulas. Se o caso de estudo tivesse sido uma mera repetição de outros projectos já existentes, teria a vantagem de não se correrem riscos ou falhas, mas seria apenas uma confirmação da possibilidade de edificação desses mesmos projectos, o que na minha opinião teria menor interesse numa experiência deste tipo. Se os interessados nesta matéria tiverem acesso não só a como fazer, mas também a como não fazer, julgo que o seu conhecimento será mais completo e a possibilidade de explorar novos projectos, mais viável. A minha contribuição com este estudo para o conhecimento da técnica de construção com sacos de terra passa por fazer uma compilação do que existe até ao momento para a sua execução e a explicação de alguns pontos dos erros a não fazer, assim como soluções possíveis para esses problemas. É com agrado que tenho verificado a receptividade que este trabalho tem suscitado durante o seu desenvolvimento e execução. Com o apoio do professor Filipe Gonzalez, tornou-se possível proporcionar a alguns alunos de arquitectura da Universidade Lusíada o conhecimento em obra desta técnica. Espero que outras iniciativas como estas se voltem a organizar e que muitos outros tenham um contacto directo com a construção com sacos de terra e com a construção em terra crua em geral.

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Aplicabilidade da técnica de sacos de terra

5.2 Defeitos e virtudes da técnica

Tendo como objectivo a caracterização de quais os principais defeitos e virtudes que esta técnica construtiva pode oferecer, parece-me importante colocar em evidência uma questão que podendo parecer apenas circunstancial é, sem dúvida, no meu ponto de vista, o principal motivo que pode reprimir a selecção deste material, a terra, numa determinada edificação, o contexto do material. Quando me refiro ao contexto do material refiro-me à facilidade de acesso que este material proporciona, que apesar de ser à partida a sua maior vantagem, quando comparado a qualquer outro material hoje utilizado na construção, é também o maior entrave à sua valorização. Deste modo, não sendo valorizado dificilmente será estudado, explorado e utilizado no processo construtivo. Para melhor compreender esta questão pensemos na seguinte iniciativa que foi realizada pelo jornal The Washington Post com o objectivo de lançar um debate sobre valor, contexto e arte. Numa manhã, um indivíduo ao descer na estação do metro, vestido de calças de ganga, t-shirt e boné, encosta-se próximo à entrada. Tira o violino da caixa e começa a tocar com entusiasmo para a multidão que passava na hora de ponta matinal. Durante os 45 minutos que tocou foi praticamente ignorado pelos transeuntes. Ninguém sabia, mas o músico era Joshua Bell, um dos maiores violinistas do mundo, que executava peças musicais consagradas num instrumento raríssimo, um Stradivarius de 1713, estimado em mais de 3 milhões de dólares. Alguns dias antes Joshua Bell tinha tocado no Symphony Hall de Boston, onde os melhores lugares custavam aproximadamente 1000 dólares. A conclusão desta iniciativa é de que estamos habituados a dar valor às coisas de acordo com o contexto em que se inserem, desprezando muitas vezes o seu valor real. A terra como material de construção tem esta característica, está disponível, é económica, é global e é um bem acessível a qualquer um. A capacidade de transmitir o valor que a terra como material de construção tem para responder com qualidade às problemáticas construtivas tem, sem dúvida, de partir dos profissionais responsáveis na área da construção, pondo à disposição uma variedade de técnicas que utilizem a terra como material de base.

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Aplicabilidade da técnica de sacos de terra

Considerando esta perspectiva julgo que os arquitectos são os principais responsáveis pelo futuro desta técnica, já que, se pensarmos na história da arquitectura, nenhum dos mais visitados e conhecidos edifícios do mundo dos dias de hoje se tornou fonte de imaginação e admiração pela generalidade da população, por ser edificado com um determinado material, mas sim pelo que foi possível edificar. Não é a matéria que eleva a arte mas a arte que eleva a matéria, por isso qualquer que seja o material pode ascender a obra-prima, dependendo das mãos do seu criador.

5.3 Próximas experiências

Para a realização deste trabalho foi construído um abrigo em sacos de terra, como caso de estudo, que teve como base outras edificações já desenvolvidas pelo Instituto CalEarth, para a construção de abrigos em casos de emergência. Esta experiência foi importante para um melhor conhecimento da técnica e do saco de terra enquanto material de construção. Julgo que o seu desenvolvimento deve ser analisado em três perspectivas diversas mas complementares no processo arquitectónico, em termos artísticos, técnicos e económicos. Do ponto de vista artístico parece-me viável o desenvolvimento de novos projectos que através do conhecimento deste material, das suas capacidades e limitações, explorem e criem novas dinâmicas na sua utilização levando ao limite as suas potencialidades e plasticidade. Tecnicamente existem algumas ideias, como a criação de novos moldes, sacos, que excluem a necessidade de utilização do arame farpado na construção ou a necessidade de um revestimento de protecção dos sacos. Outras possibilidades são a utilização de materiais mais naturais para revestimento dos sacos e o empreendimento de técnicas que permitam a reutilização ou reciclagem de todos os materiais utilizados na obra a quando do fim do seu “período de vida”. Economicamente penso que já sendo esta uma solução técnica que pode despertar sério interesse por parte dos responsáveis pela construção, se novos materiais e técnicas ou formas que venham a ser utilizadas conseguirem tornar ainda mais rápida e barata, proporcionando ao mesmo tempo um bom conforto térmico, acústico, de qualidade do ar e aproveitamento das energias naturais, então será sem dúvida um sucesso.

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5.4 Evolução da técnica

Mesmo tendo em conta todas as potencialidades já enunciadas, julgo que uma utilização efectiva desta técnica construtiva se dará não com construções como a do caso de estudo, que só utiliza esta técnica, mas sim com o desenvolvimento de técnicas mistas que podem naturalmente incluir a construção com sacos de terra, nomeadamente para a construção de paredes, visto ser este o seu ponto forte no que diz respeito à velocidade de construção, economia nos materiais utilizados, capacidade de reciclabilidade dos mesmos e possibilidade de utilização de mão-de-obra não especializada. Tem ainda a capacidade de se adaptar de forma simples a técnicas de construção préfabricadas, dada a possibilidade de estandardização do molde de saco, sendo uma resposta eficaz a qualquer tipo de planta. Para a construção de coberturas, mesmo tendo essa capacidade, tal como se apresenta no caso de estudo, o seu potencial é mais reduzido mesmo quando comparado com outras técnicas de construção em terra crua o que poderá levar a que seja menos explorado.

5.5 Consequência teórica do caso de estudo

Depois de finalizado este trabalho parece-me ser ainda importante desenvolver iniciativas que levem a um maior conhecimento da construção com sacos de terra aos responsáveis pelo processo de edificação, nomeadamente de arquitectura e os seus estudantes. Mas também, de uma forma mais generalizada, para o conhecimento das técnicas que utilizam a terra enquanto material de construção. No meu ponto de vista, vivemos num período de viragem, transformação e adaptação em vários aspectos da vida e as artes não são, nem nunca foram, alheias a esse facto. Nesta perspectiva penso que a arquitectura procura uma maior proximidade, respeito e capacidade de coexistência entre Homem e Natureza. A construção com sacos de terra é uma técnica que tem inevitavelmente uma forte relação com a sua envolvente pelo material base que utiliza, a terra. Se o seu conhecimento se tornar cada vez mais generalizado, novas formas, novas ideias, novas

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Aplicabilidade da técnica de sacos de terra

arquitecturas poderão surgir, com forte respeito pela natureza e “naturalmente” pelo Homem. Pessoalmente tomei contacto com a construção com sacos de terra de uma forma empírica e aos poucos tomei consciência da sua potencialidade num processo de pesquisa em que o objectivo é encontrar soluções para tornar a arquitectura mais acessível e próxima do utilizador, respeitando a natureza, o meio e melhorando padrões de habitabilidade. Das várias técnicas existentes de construção com terra, encontra-se a construção com sacos de terra, uma técnica relativamente recente que surge, numa perspectiva arquitectónica, como um possível método para a construção de futuras edificações em Marte ou na Lua e que cada vez com maior frequência se está a tornar numa resposta para proporcionar abrigos de emergência em casos de catástrofe natural, cenários devastados pela guerra ou de pobreza extrema. Por estes motivos, a minha curiosidade despertou para melhor conhecer este método de construção a fim de compreender na prática a simplicidade do método, descrita por aqueles que a conhecem e responsáveis pela sua actual divulgação como sendo acessível a todos, não distinguindo idade, sexo, meios ou localização. Na verdade, encontrei muito mais do que procurava, não que esta técnica construtiva seja a resposta para todas as problemáticas da construção, mas porque para além de ser uma boa solução técnica para muitos casos, também me permitiu dar um passo adiante em muitas outras questões da arquitectura, de uma forma pragmática, experimentando e verificando na obra conhecimentos relativos ao respeito pela natureza, ao cuidado na combinação de materiais e à reacção que cada um apresenta, à geometria, à física, ao modo como o conhecimento in loco influencia a capacidade de projectar e em última análise à forma como a luz define espaço e matéria. Temas com os quais vivemos uma constante e infindável aprendizagem e por isso, o sentimento de realização quando, mesmo que pouco, melhor os conhecemos.

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