Construção da Universidade Empreendedora Atuante no Desenvolvimento Econômico, Tecnológico e Social Regional - A Experiência do Médio Vale do Paraíba Fluminense

July 4, 2017 | Autor: Marcelo Amaral | Categoria: Inovação, Desenvolvimento Regional, Interação Universidade-Empresa
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“Construção da Universidade Empreendedora Atuante no Desenvolvimento Econômico, Tecnológico e Social Regional - A Experiência do Médio Vale do Paraíba Fluminense”

Marcelo Amaral, André Ferreira e Pítias Teodoro UFF/PUVR/ECHS/Depto de Administração

Resumo Este artigo apresenta um estudo de caso sobre o Pólo Universitário de Volta Redonda (PUVR), novo campus da Universidade Federal Fluminense, localizado na Região Médio Vale do Paraíba (RMVP), sul do Estado do Rio de Janeiro. São apresentados os resultados de uma pesquisa qualitativa conduzida junto a lideranças empresariais, secretários municipais de desenvolvimento econômico da RMVP e com gestores e pesquisadores da UFF e do PUVR-UFF, com objetivo de identificar o potencial de contribuição de uma universidade pública para a inovação e o desenvolvimento regional. O referencial teórico é baseado na literatura de desenvolvimento regional e na abordagem da Hélice Tríplice. Os principais resultados indicam que ainda são incipientes os incentivos das entidades empresariais e secretarias municipais de desenvolvimento econômico empreendidos para estimular atividades inovativas nas empresas da RMVP. Os integrantes do PUVR, de uma forma geral, entendem que apesar de ainda não terem uma grande influência na dinâmica econômica e social do RMVP, acreditam que o PUVR venha, a médio e longo prazo, ocupar um lugar de relevância no contexto regional. Para que possa influenciar de forma mais ativa o desenvolvimento regional, as principais barreiras do PUVR estão relacionadas à necessidade de: melhoria dos processos burocráticos da universidade, que atrapalham esta interação; ampliar a divulgação da universidade e seus trabalhos junto a sociedade; estabelecer mecanismos que estimulem a transformação da pesquisa básica em tecnologia e inovação. Palavras-Chave: Desenvolvimento Regional- Inovação- Interação Universidade-Empresa

1 - Introdução A questão que se coloca hoje para a universidade é definir qual é o seu papel em uma nova sociedade baseada no conhecimento. Se na era industrial a universidade desempenhou um papel secundário, fornecendo pessoal qualificado e pesquisa básica (Etzkowitz e Zhou, 2008), hoje a universidade deve se tornar mais engajada no suporte à inovação e na liderança de políticas locais em direção a uma abordagem mais empreendedora (Cooke, 2007). Ao mesmo tempo, a universidade precisa também preservar a sua

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orientação aberta e de longo prazo na pesquisa acadêmica (Oliveira, 2008). Para Etzkowitz e Leydersdorf (2000, pp. 110): “A „„second academic revolution‟‟ seems under way since World War II, but more visibly since the end of the Cold War,... this transition has led to a reevaluation of the mission and role of the university in society. Similar controversies have taken place in Latin America, Asia, and elsewhere in Europe”. A situação de transição vivenciada nos dias de hoje, assemelha-se à ocorrida na primeira revolução acadêmica na Alemanha, em meados do século XIX, na Universidade de Humboldt, onde foi concebido que uma das missões da universidade era a pesquisa. Antes de Humboldt, o papel da universidade era o de sistematizar o conhecimento existente (TEIXEIRA, 1988). No Brasil, a segunda revolução acadêmica trata-se de um novo contrato social entre a universidade e a sociedade, onde o apoio estatal se mantém na medida em que a pesquisa desempenhe um papel importante no desenvolvimento econômico (BRISOLA, 1998). Neste contexto, destaca-se o papel das instituições locais no desenvolvimento econômico, como: universidades, centros de pesquisa, prefeituras, agências de fomento à pesquisa, associações comerciais e industriais, entre outros. Estas instituições locais atuam em função do conhecimento que têm dos problemas e de suas respectivas soluções, sendo seu papel estimular as inovações, que possam reduzir os custos de produção e estimular sua ação nos mercados (SOUZA, 2009). Este artigo, que está inserido em um projeto de pesquisa mais amplo, tem por objetivo analisar os limites e as possibilidades de contribuição de uma universidade pública de pesquisa localizada fora das grandes metrópoles brasileiras para a inovação e o desenvolvimento de sua região de influência. O caso estudado é o Pólo Universitário de Volta Redonda (PUVR), vinculado à Universidade Federal Fluminense (UFF). A área de influência do PUVR é a Região do Médio Vale do Paraíba Fluminense (RMVP), que é estratégica em termos geográficos, visto que está localizada entre os principais centros econômicos do Brasil, Rio de Janeiro e São Paulo, comportando indústrias de grande porte como MAN (Caminhões), Peugeot-Citroën (Automotivo), Saint-Gobain (Metalurgia), Companhia Siderúrgica Nacional (Siderurgia), Votorantim (Siderurgia), Galvasud (Metalurgia), Guardian (Vidros), DuPont (Química), P&G (Higiene), Ambev (Bebidas), entre outras. Além de um amplo parque de pequenas e médias empresas com vocação metalmecânica e, recentemente, serviços. A região, constituída de 13 municípios, possui 890.082 habitantes (IBGE, 2010).

2 – Revisão Bibliográfica

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2.1 – Interação Universidade-Sociedade: A segunda revolução acadêmica As universidades estão em um processo de transformação cultural, passando a desempenhar um papel importante na emergente sociedade do conhecimento. Esse processo de transição, a chamada "segunda revolução acadêmica”, que é a adição da função de desenvolvimento econômico e social na missão da Universidade, está ocorrendo em muitos países (Etzkowitz, 1994, 2001). No Brasil, tem um componente adicional: as Universidades Públicas Brasileiras de Pesquisa (UPBPs) são um dos principais canais para difundir o conhecimento, pesquisa e desenvolvimento econômico para o interior do país (Amaral e Silva, 2008). A tese da Hélice Tríplice (Etzkowitz & Zhou, 2007) argumenta que a universidade após a segunda revolução acadêmica pode e deve ser uma universidade empreendedora e também a base do desenvolvimento regional: “a research base with commercial potential, a tradition of generating start-ups, an entrepreneurial ethos on campus, policies for defining ownership of intellectual property, sharing profits and regulating conflicts of interest and participation in regional innovation strategy. …………… Knowledge spillover from universities promotes regional development, through commercialization of research and provision of new firms, human resources and new ideas.” (Etzkowitz & Zhou, 2007, p. 2). No Brasil, as universidades públicas criadas entre 1920 e 1960 tinham como missão principal o ensino. Em 1960 elas começaram a incorporar atividades de pesquisa com programas de pós-graduação. Desde a década de 1990, o modelo de desenvolvimento econômico tem enfatizado a eficiência de gestão e inovação para melhorar a competitividade das empresas. Um conjunto de atividades de interação foram estabelecidos, como os serviços tecnológicos (testes, medições, consultorias, serviços de informação), serviços de educação, os projetos de pesquisa conjuntos com as empresas, os projetos realizados por empresas incubadas e projetos articulados com as empresas 'junior' - empresas de consultoria organizado pelos alunos com coaching do corpo docente (Maculan & Mello, 2009). Como consequência, as incubadoras de base tecnológica, os parques tecnológicos e os escritórios de transferência de tecnologia foram criados nas UPBPs (Etzkowitz et al, 2005). Uma universidade empreendedora engloba ensino, pesquisa e serviço para a sociedade, não em um processo linear, mas em uma constante retro-alimentação de cooperações trilaterais. Acadêmicos desempenham o papel de agregar valor as empresas e este processo de aprendizagem melhora a qualidade

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da educação e o foco da pesquisa. É um processo contínuo e fundamental de aquisição, codificação, divulgação e criação de conhecimento (Etzkowitz et al, 2005).

2.2 - Inovações em Setores Tradicionais da Economia Existe uma ampla literatura sobre interação universidade-empresa, inovação e desenvolvimento local/ regional, com destaque para Piore & Sabel (1984), Saxenian (1996, 2007), Storper (1997), Chesbrough (2003), Etzkowitz, (2000) e Cooke (2006, 2007). No Brasil, destacam-se estudos realizados por Schwartzman (2008) Diniz (2006) Lastres (2003) e Cassiolato (2009). Com base na literatura três pontos relevantes foram identificados:  A economia do conhecimento não pode ser confinada somente aos setores de alta tecnologia, como microeletrônica, comunicações, farmacêutica e software, pois em setores de média e baixa tecnologia como alimentos, metalurgia ou têxtil, a aprendizagem e a inovação também podem ser significativas, sendo que suas fontes de conhecimento se encontram normalmente ao longo da cadeia de valor (Cooke, 2007).  Nesta mesma linha, as universidades além de transformar pesquisa em desenvolvimento econômico, também devem prestar assistência na modernização de firmas de média e baixa tecnologia (Etzkowitz, (2000).  O contexto local tem uma importância fundamental como sendo o lugar onde a identidade coletiva é produzida e reproduzida, a confiança mútua é reforçada e uma efetiva e flexível rede de relações econômicas e cognitivas suporta a criação do conhecimento e a sua difusão (Cooke, 2007). Nos setores de baixa tecnologia, as interações são menos freqüentes e, em geral, orientadas para resolver problemas atuais e desenvolver novos produtos (Cooke, 2007). Empresas brasileiras em setores de baixa tecnologia não têm grande demanda para tecnologias de ponta, mas principalmente acesso a soluções práticas para problemas de qualidade, custo e padronização (Tigre, 2007). O Ministério da Ciência e Tecnologia reconhece que o Brasil não pode subestimar os efeitos para a competitividade nacional de inovações incrementais (MCT, 2002). Muitas vezes, nos países em desenvolvimento, a ciência e as capacidades da tecnologia são usados para identificar e selecionar oportunidades geradas no exterior. O papel de um sistema nacional de inovação na periferia é seguir os fluxos tecnológicos internacionais (Rapini, 2009). Um aumento na complexidade dos níveis de infra-estrutura organizacional está ocorrendo concomitantemente com a desconcentração do poder do nível nacional e a criação de novas instituições regionais. Essa transformação inclui esforços para incentivar os agentes da interação universidade-

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empresa e para empreender projetos de inovação conjunta e para aumentar os clusters, incentivando um amplo conjunto de Arranjos Produtivos Locais. “Encouraging a meta-innovation process, activating areas of society that had been distant from innovation, allows the triple helix model to be realized in developing countries where it had been a normative rather than an analytic concept. The process is more complex than simple organization and technology transfer. The same organizational mechanism can play a completely different role in innovation, depending upon the actor(s) that promote its introduction and the context into which it is introduced. The incubator was adapted to Brazilian circumstances as new actors entered onto the incubator scene and adapted the mechanism to realize their objectives” (Etzkowitz et al, 2005, 422). 2.3 – O Desenvolvimento do PUVR A estrutura original do PUVR-UFF foi a Escola de Engenharia Industrial e Metalúrgica de Volta Redonda (EEIMVR), criada em 1961 como uma faculdade independente, com o nome de Universidade do Trabalho, que ofereceu um elevado nível de educação e de laboratórios de serviços para a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Esta faculdade foi integrada à UFF em 1968 e durante mais de 30 anos foi uma importante faculdade regional para formar mão de obra especializada para a indústria local, mas desligada da estratégia geral da UFF. Em 2003, o Ministério da Educação (MEC) criou um programa para expandir as universidades públicas de pesquisa desconcentrando-as das grandes metrópoles do país em direção as cidades com liderança nas economias regionais. A EEIMVR aproveitou a oportunidade e propôs um projeto orçado em R$ 3,5 milhões para a criação de novos cursos de graduação (Administração e Engenharia de Agronegócios) e o desenvolvimento de pesquisa tecnológica inserindo-se de forma mais incisiva como um ator no desenvolvimento regional. Este aporte de capital por parte do Governo Federal compensou, em parte, a perda de uma importante fonte de financiamento para a infra-estrutura de pesquisa da EEIMVR, antes de ser privatizada a CSN fazia investimentos regulares na UFF que totalizaram, apenas na década de 1990, cerca de R$ 3 milhões com o propósito de implementar novos laboratórios. Em 2004, após aprovação do MEC, o primeiro movimento foi a criação de um novo departamento (Administração e Agronegócio) dentro da EEIMVR para o desenvolvimento de novos cursos. O curso de Administração de Empresas teve seu início em 2005 por meio de uma parceria com a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), localizada em Seropédica, a 60 km de Volta Redonda.

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A institucionalização da expansão das atividades da UFF teve dois importantes marcos: no ano de 2006 foram criados formalmente o PUVR e a Escola de Ciências Humanas e Sociais (ECHS). Em 2010, foi criado o Instituto de Ciências Exatas (ICEX). Neste período, iniciou-se a construção de novos espaços, e também um processo de aproximação com o poder político local, como Prefeituras e representantes no Congresso Nacional. Nos últimos três anos, muitas pesquisas e projetos de infra-estrutura foram elaborados e aprovados pelas agências de fomento trazendo montante adicional de recursos e responsabilidades. Dois grupos de pesquisas foram criados na ECHS. O primeiro, o Grupo de Pesquisa em Gestão e Desenvolvimento Econômico e Social (GPADES), promove projetos de infra-estrutura, como laboratórios temáticos, pesquisas e incentivo para o desenvolvimento de projetos orientados para a interação universidadeempresa-governo a partir da compreensão do estágio do desenvolvimento econômico, social e tecnológico da RMVP com destaque para um projeto de diagnóstico da economia regional e a ideia de criar um observatório para monitorar o desenvolvimento econômico, social e tecnológico que está em fase de implantação. O segundo grupo de pesquisa é o Triple Helix Research Group - THERG-Brazil, uma representação do movimento internacional de Triple Helix (Hélice Tríplice). No termo da interação Universidade-Empresa, a primeira parceria de longo prazo foi assinada com a Peugeot Citroën em 2008. As atividades iniciais são de capacitação de pessoal especializado. No período 2009-2011 mais seis grupos de pesquisa foram estruturados na ECHS e cerca de R$ 500 mil reais captados em editais de agências de fomento. Ainda neste período os cursos de Administração Pública, Ciências Contábeis, Direito e Psicologia foram criados. Atualmente, o PUVR possui mais de 2.500 alunos e 180 professores em dedicação exclusiva, sendo 60% com Doutorado, com previsão de atingir 6.000 alunos no início de 2014. O PUVR possui 13 cursos de graduação nas áreas de Engenharia, Ciências Sociais Aplicadas e Ciências Exatas, além de três cursos de Mestrado (Engenharia Metalúrgica; Modelagem Computacional; Engenharia Mecânica) e um de Doutorado (Engenharia Metalúrgica).

3 - Metodologia A metodologia utilizada foi o estudo de caso, indicado quando o objeto investigado pode ser considerado como um fenômeno contemporâneo, em que o pesquisador tem pouco controle sobre os eventos e há a necessidade de usar múltiplas fontes de informação, buscando linhas convergentes de investigação (Yin, 2005). Este método também possibilita a penetração na realidade social através de um mergulho profundo e exaustivo em um objeto delimitado (Goldenberg, 2001).

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Nesta fase da pesquisa, buscou-se investigar as percepções das lideranças políticas e empresarias da RMVP e representantes de diversos níveis organizacionais da UFF sobre o papel do PUVR na inovação e no desenvolvimento regional. As entrevistas ocorreram, na sua maior parte, no período de outubro de 2010 a maio de 2011, e contaram com a participação de 25 atores estratégicos da RMVP e da UFF/PUVR (lista das entrevistas no fim do trabalho), totalizando mais de 40 horas de gravação. No contexto da universidade, a escolha dos entrevistados buscou seguir um critério de representatividade da estrutura universitária. Assim, foram entrevistados o Vice-Reitor, o Decano de Pesquisa, Pósgraduação e Inovação, a Diretora da Agência da Inovação (AGIR) e o Diretor da Incubadora de Empresas (Initia). Estes entrevistados estão localizados na estrutura central da Universidade, localizada na cidade de Niterói. No Pólo Universitário de Volta Redonda (PUVR) participaram da entrevista os três Diretores de Unidade, dois Coordenadores da Pós-Graduação stricto-sensu, sete professores adjuntos com relevantes trabalhos de pesquisa e/ ou extensão e dois chefes de laboratório. No contexto da sociedade, o objetivo foi entrevistar os líderes de instituições que possuem participação ativa no processo de desenvolvimento regional. Assim, participaram da pesquisa os Secretários Municipais de Desenvolvimento Econômico das cidades de Barra Mansa, Itatiaia, Resende e Volta Redonda. A população destas cidades representa 66% da população total da RMVP; o Presidente da Agência de Desenvolvimento Regional (ADEMP), que é também Presidente da Associação Comercial, Industrial e Agropastoril de Volta Redonda (ACIAP); o Diretor da Representação Regional da FIRJAN; o Presidente do Sindicato das Empresas Metalmecânicas da Região Sul Fluminense. O roteiro de entrevista foi elaborado especificamente para cada perfil das posições ocupadas pelos entrevistados, buscando abordar os seguintes tópicos: perfil sócio-econômico da RMVP, apoio às atividades inovativas, barreiras à inovação no ambiente acadêmico e empresarial, estratégias de desenvolvimento local/ regional e a contribuição da universidade para inovação e desenvolvimento regional. É importante ressaltar que todos os líderes, gestores e professores que foram contatados para realização da entrevista aceitaram participar da pesquisa e que os formulários aplicados foram revisados por pelo menos dois especialistas antes da aplicação.

4 – Resultados da Pesquisa 4.1 – A percepção das lideranças políticas da RMVP sobre inovação, desenvolvimento regional e interação com a universidade

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A partir das entrevistas realizadas com os Secretários de Desenvolvimento (SDE) de Barra Mansa, Itatiaia, Resende e Volta Redonda, algumas conclusões relevantes podem ser destacadas. A primeira é que as cidades de Barra Mansa e Itatiaia não possuem políticas públicas estabelecidas, no âmbito de suas Secretarias de Desenvolvimento Econômico, para estimular o processo de inovação nas empresas existentes e nem para atrair empresas de base tecnológica para seus respectivos municípios. As ações destas secretarias estão focadas principalmente em atração de empresas tradicionais para região, sendo que a área de logística é o alvo principal das ações, devido à localização privilegiada da RMVP que facilita a atração deste tipo de empreendimento. O município de Resende possui uma estratégia um pouco diferenciada, com ações, ainda tímidas, visando estimular a criação e a atração de empresas de base tecnológica. Uma destas ações é o apoio à Incubadora de Base Tecnológica da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ, localizada no município. Além de ceder funcionários públicos para a incubadora, ela destina verbas anuais pra apoiar o seu funcionamento. Outra ação foi a modificação na lei municipal visando reduzir o imposto sobre serviços para empreendimentos na área de tecnologia da informação, tendo como objetivo criar um pólo de teleinformática. De acordo com o Secretário de Desenvolvimento Econômico de Resende, Edgar Moreira Gomes, “na estratégia para o desenvolvimento do município, o pólo de teleinformática é uma das prioridades, ao lado do desenvolvimento do pólo de logística. O objetivo é trazer mais empresas desse segmento para criar um pólo de Tecnologia da Informação”. Estes incentivos contribuíram para que uma multinacional francesa instalasse uma unidade de distribuição na cidade, com perspectiva de implantar uma linha de produção de produtos de telecomunicações. Na Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Volta Redonda, que é a maior cidade da RMVP, algumas ações começaram a serem empreendidas com o objetivo de trazer o tema inovação para o centro do debate, com destaque para a criação do prêmio Inova VR, criado no ano de 2010 com o objetivo de estimular estudantes de ensino médio, graduação e pós-graduação da cidade a apresentarem projetos que analisem os problemas do município e apresentem soluções criativas e inovadoras para sua solução. Na primeira edição do evento, 27 trabalhos foram apresentados e oito premiados, sendo que alguns tiveram aplicação imediata, como foi o caso da proposição de orçamento participativo via internet, proposta por alunos do PUVR, que está sendo implementado pela Secretaria Municipal de Planejamento. Em Volta Redonda, também foi criado o Comitê Municipal de Inovação Tecnológica, composto por representantes de diversos setores da sociedade, como Governo Estadual, Empresas Privadas, Instituições de Ensino, Sindicatos e Integrantes do Governo municipal. O objetivo do Comitê é fomentar o desenvolvimento da pesquisa científica e tecnológica em Volta Redonda.

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Com referência às estratégias de desenvolvimento, a cidade de Volta Redonda foca na área de serviços (saúde, educação, comércio, e tecnologia da informação) além de buscar empresas do setor metalmecânico que possam transformar o aço fornecido pela CSN em produtos de maior valor agregado. A grande dificuldade da cidade é sua reduzida área geográfica que aliada a uma topografia acidentada torna difícil encontrar áreas disponíveis e viáveis para grandes empreendimentos, ao contrário dos municípios vizinhos como Resende, Itatiaia e Porto Real, que além de possuírem amplas áreas, possuem uma grande área ao lado da Rodovia Presidente Dutra, a principal do país. Como vantagens a cidade de Volta Redonda tem a qualidade dos serviços oferecidos e universidades em expansão, contado atualmente com três centros universitários privados (UNIFOA, UGB e UBM) uma faculdade isolada (FASF), um Pólo Estadual de Ensino Superior à Distância (CEDERJ) e dois Pólos Universitários Federais (UFF e IFET). Outra constatação, que foi unanimidade entre os quatro municípios pesquisados, são as ações visando melhorar a qualificação de mão de obra, com ênfase nos níveis operacional e médio. Isto ocorre pelo fato de que a maioria das empresas com intenção de investimento condicionam este investimento à existência e/ ou a formação de mão de obra qualificada para as vagas que irão oferecer. Nestes casos, são comuns as parceiras entre as prefeituras com unidades do Senai, sindicatos patronais e faculdades particulares. Outro tema recorrente na pauta destas Secretarias é a atração de investimentos públicos, sendo o mais atual a disputa entre as cidades para abrigar uma das estações do projeto de Trem de Alta Velocidade do Governo Federal, que interligará as duas maiores metrópoles do Brasil, Rio de Janeiro e São Paulo. Nos estudos preliminares, há a previsão de uma estação na RMVP, que ficaria localizada em Volta Redonda, Barra Mansa ou Resende. O lançamento do edital de licitação já foi adiado duas vezes e, até o momento, não há garantias concretas de realização da obra. Com referência às articulações para formação de consórcios intermunicipais, elas são também incipientes, com ações ainda isoladas em áreas específicas como a de saúde, onde 12 municípios da região se uniram por meio de consórcio e buscaram recursos para construção de um Hospital Regional, que está sendo construído na cidade de Volta Redonda. A Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Resende também está articulando um Consórcio, denominado Cercania, envolvendo 15 cidades limítrofes a Resende, com objetivo de ser consórcio guarda-chuva, englobando desde treinamento e qualificação de mão de obra, meio ambiente até ações na área de saúde. Como fato relevante, os municípios integrantes deste consórcio pertencem a três estados da federação: Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. No âmbito das Secretarias de Desenvolvimento Econômico, é baixa a interação das instituições de ensino com o poder público. Com referência aos centros universitários particulares, as ações são empreendidas principalmente para questões pontuais de qualificação de mão de obra. Novamente Volta Redonda, em função de sua rede de ensino mais ampla, está em um estágio mais avançado, com projetos sendo

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desenvolvidos em parceria principalmente com a UFF, com destaque para: a criação do Museu de Ciência & Tecnologia que teve seu projeto arquitetônico escolhido por meio de um concurso promovido pela Escola de Arquitetura da UFF; a criação da Coordenadoria de Agronegócios da Prefeitura, que tem como responsável um professor do Curso de Engenharia de Agronegócios do PUVR; a coordenação de atividades de fomento à economia solidária por meio de criação de cooperativas, visando criar perspectivas de geração de rendas para famílias carentes.

4.2 – A percepção das lideranças empresarias da RMVP sobre inovação, desenvolvimento regional e interação com a universidade Em relação às instituições empresariais, algumas características de destaque são que elas estão bastante disseminadas na região e são uma um canal efetivo de comunicação e representação de seus interesses junto ao poder público e a sociedade. Entre estas instituições destacam-se a Representação Regional da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN), o Sindicato das Empresas Metalmecânicas da RMVP (Metalsul), as Associações Comercial e Industrial de cada município (ACIAPs) e mais recentemente a Agência de Desenvolvimento Regional do Médio Paraíba (ADEMP), que apesar de ter ainda pouca representatividade, possui potencial para apoiar e fomentar o setor produtivo regional. Dentre estas instituições, o Metalsul é o que tem se destacado na tentativa de estimular junto às suas 126 empresas associadas a busca por ações que possam alavancar suas atividades inovativas. A principal ação, realizada em parceria com a FIRJAN, foi um evento que buscou qualificar as empresas associadas a participarem de editais de inovação junto à organismos públicos de fomento. Além da formação sobre o tema, foi disponibilizada uma ampla assessoria para que as empresas pudessem desenvolver os seus projetos de inovação. Apesar de toda mobilização, somente seis empresas apresentaram uma proposta aos órgãos de fomento. Na avaliação da Presidente do Metalsul, “a causa não deve estar ligada a falta de capacidade ou ideias inovativas das empresas, mas sim à falta de sensibilização do empresariado local para a importância da inovação para a sustentabilidade dos negócios”. Outra ação do Metalsul foi a organização do APL Metalmecânico do Sul Fluminense, que conta com a participação ativa de diversas instituições regionais. A FIRJAN atua de forma mais efetiva na conscientização do empresariado sobre a importância da inovação e para isto organiza o Programa “Caravana Tecnológica” que vai a diversas representações regionais explicando o modo funcionamento dos órgãos de fomento à inovação e estratégias de como participar de seus editais ou linhas de financiamento. As ACIAPs são entidades de classe municipal, com forte representação do comércio, e suas ações são voltadas principalmente na defesa dos interesses locais

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dos empresários e é sempre um forte interlocutor junto aos poderes públicos municipais. Como característica comum, as ACIAPs normalmente são as instituições empresarias mais antigas em suas respectivas cidades. Suas principais bandeiras estão relacionadas à questões fiscais, de infra-estrutura para o funcionamento das empresas locais e de integração entre seus associados, sendo quase inexistentes ações que estimulem atividades de inovação junto aos seus associados. Com referência a ADEMP, o seu principal projeto é mobilizar o poder público para a construção de uma rodovia ligando a RMVP a Região de Itaguaí, onde estão localizados importantes empreendimentos siderúrgicos, com a Cia Siderúrgica do Atlântico (CSA) e a Siderúrgica Gerdau, além do Porto de Itaguaí. O objetivo é integrar estes dois importantes pólos de siderurgia do país e, conseqüentemente, desenvolver a economia regional. Com relação à interação destas instituições empresariais com as universidades locais, constata-se que elas são quase inexistentes, e de forma semelhante a algumas secretarias de desenvolvimento econômico, estão resumidas a ações pontuais de qualificação e atividades recreativas. Nas entrevistas realizadas, a principal atividade de interação relatada foi a ação conjunta entre o Metalsul, a Firjan e o PUVR para submissão a um Edital FINEP, com o objetivo de criar um Núcleo de Apoio a Inovação na RMVP.

4.3 - Inovação e desenvolvimento regional: a percepção dos gestores e pesquisadores da UFF A UFF não possui uma política de inovação planejada, o que existe são práticas que foram consolidadas, e muitas delas foram institucionalizadas no decorrer do tempo. Para o Prof. Antonio Claudio Lucas Nóbrega, o Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação (PROPPI): “o processo de inovação é um fato absolutamente novo, e algumas atitudes são marcos para este processo, sendo a primeira a mudança do nome da Pró-Reitoria, que era Pesquisa e Pós-Graduação e passou a ser Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação. A princípio, o efeito inicial é meramente cosmético de nomenclatura, mas isto tem embutido um simbolismo e uma sinalização importante da institucionalização das atividades de inovação e a segunda ação foi a criação da AGIR que é a Agência de Inovação da UFF”. É justamente a AGIR, que de acordo com a sua Diretora, a Profa. Fabiana Rodrigues Leta: “nasceu de um projeto antigo de pessoas engajadas, que se interessavam pelo tema inovação e com espírito empreendedor e iam lá e tocavam porque acreditavam na ideia”, que tem hoje a missão de criar a política de inovação da UFF, a partir de um trabalho de identificação das próprias vocações da universidade.

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Além de construir a política de inovação, a AGIR tem também a missão de estimular as atividades de inovação de forma institucional, promovendo uma mudança de paradigma, levando o papel da universidade para além da formação de recursos humanos e da pesquisa básica. Assim, a AGIR tenta fazer a ponte para que a pesquisa aplicada seja absorvida pela comunidade externa, seja o setor produtivo, o setor público, o setor social ou comunidades. Para realizar as suas atividades, a AGIR tem uma estrutura enxuta e, de acordo com a Direção, “pela missão que ela está responsável, será necessário que seja ampliada”. Atualmente, sua estrutura é composta pela direção, um Assessor Especial, três Assistentes Administrativos e bolsistas, que são alunos da UFF. Hierarquicamente a incubadora de empresas (Initia) e o escritório de transferência de tecnologia (ETCO) respondem a AGIR. E por fim, o Fórum de Agentes de Inovação é a instância dentro da AGIR onde as políticas e as estratégias são definidas. Este fórum é composto por pessoas da universidade que tenham interesse no tema inovação, e sejam pesquisadores que atuem nesta área. Na estrutura da Agir, a incubadora de empresas Initia tem como filosofia, de acordo como seu ex-Diretor Prof. Sérgio José Mecena Silva Filho: “levar à sociedade o conhecimento desenvolvido dentro dos laboratórios de pesquisa da UFF, transformando o conhecimento da universidade em empreendimentos e/ ou produtos que fiquem internos a universidade em termos de apropriação”. Para desenvolver os incubados a Initia utiliza uma metodologia específica, que se chama Pipeline. Esta metodologia consiste em ir até os laboratórios e fazer um levantamento inicial de quais são as equipes, as linhas de pesquisa e os projetos que estão sendo desenvolvidos e quais podem gerar novos empreendimentos, ou seja, identifica os projetos de pesquisa que têm maiores probabilidades de serem transformados em empreendimentos. Este é o modelo protetor de gestão de suas incubadas. O objetivo é alinhar a natureza do negócio de cada incubada, auxiliando na construção de seus respectivos planos de negócio, na elaboração de suas estratégias de mercado e na competitividade das mesmas. Para isto a própria Incubadora busca novos negócios, sendo pró-ativa, oferece serviços completos, desde capacitação empresarial à infra-estrutura e institui o canal de comunicação entre empresa e mercado. O ETCO, também ligado è estrutura da AGIR, reponde pelo registro de patentes dos pesquisadores. Até a sua criação, em 2009, haviam 12 patentes registradas, em um ano de existência foram registradas mais oito patentes. Para o Pro-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação “muito provavelmente a maioria destas patentes surgiram pelo fato dos pesquisadores se sentirem respaldados pela instituição para utilizar o sistema institucional. Este é um indicador altamente concreto e objetivo de institucionalização da atividade de inovação na universidade”.

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4.4 - A estrutura de pesquisa do PUVR e o papel universidade na inovação e no desenvolvimento regional na percepção de atores estratégicos do PUVR Os Diretores das três unidades do PUVR convergem para o fato de que a UFF tem uma experiência recente na questão da inovação. Mesmo com as ações de criação da Fundação Euclides da Cunha (FEC), da incubadora de empresas, do escritório de transferência de tecnologia, e do acréscimo do termo inovação à Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação realizadas nos últimos quinze anos, estas ações ainda estão muito tímidas. A AGIR tem atuado de forma muito positiva, mas a questão da inovação ainda não permeou toda a universidade. A própria Agência de Inovação é algo bastante recente. De acordo com o ex-Diretor da Escola de Engenharia (EEIMVR) Prof. Sérgio Sodré Silva: “ainda não vejo a questão de a inovação descer até a base. Mas acho que é normal, é o início, e neste momento a universidade sinalizou a sua preocupação com a inovação, acho que é uma questão de tempo. É cedo para a gente fazer qualquer tipo de avaliação” Na concepção do Diretor da Escola de Ciências Humanas e Sociais (ECHS) e co-autor deste trabalho, prof. Marcelo Amaral, “a AGIR poderia ganhar um status maior, saindo da Pró-Reitoria e ficando ligada direto ao gabinete da Reitoria”. O Prof. José Huguenin, a frente do Instituto de Ciências Exatas (ICEX) destaca como ponto positivo o fato de que: “desde 1993 já existe a Pós-Graduação em Engenharia Metalúrgica, com Mestrado e Doutorado, sendo que nos anos de 2010 e 2011 foram implementados os Mestrados em Modelagem Computacional e Engenharia Mecânica, além de outros que estão em fase de avaliação pelo MEC. Estes cursos abrem perspectivas positivas para a pesquisa e para inovação no PUVR”. A estrutura laboratorial é um elemento importante para que o PUVR possa ter pesquisa científica de alto nível. No Brasil, de acordo com Diretor do ICEX, “são raras as universidades que financiam a pesquisa com os recursos próprios”. O que está ocorrendo no PUVR é o modelo padrão do Brasil, em que os pesquisadores submetem projetos de pesquisa para as agências financiadoras, como FINEP, Faperj, CNPq, entre outras, sendo que no PUVR os resultados têm sido bastante positivos. Ainda na percepção no Diretor do ICEX “isto está promovendo um grande salto de qualidade da pesquisa científica e tecnológica em Volta Redonda, que tem, por exemplo, na EEIMVR o Microscópio Eletrônico de Varredura, que é um equipamento que não se tem na UFF. O ICEX está

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em processo de aquisição de dois equipamentos de grande porte que também não tem na UFF, que são o Elipsômetro, utilizado para caracterização ótica de materiais e o ICPOS, que também é utilizado para fazer caracterização de materiais, mas especificamente metais. Na ECHS foi criado o Laboratório de Multiaplicação em Gestão com apoio da apoio da Faperj, que conta 35 computadores e diversos softwares aplicativos para a área de gestão”. A previsão do Coordenador da Pós-Graduação em Engenharia Metalúrgica, Prof. Jayme Pereira Gouvea é de que: “até final de 2011 tenhamos mais de 3000 metros quadrados de laboratórios, somente na EEIMVR. Acrescentando os laboratórios do ICEX e da ECHS, esta área chega a quase 4000 metros quadrados. Esta é uma estrutura, que se não é a ideal, é pelo menos satisfatória para a realização de pesquisa de nível no PUVR.” Em termos de aplicação das pesquisas básicas, transformando-as em produtos, serviços e processos, há um relativo consenso entre os pesquisadores entrevistados de que ela é não somente importante, como é uma tendência de atuação do PUVR. Esta interação com a as empresas e a sociedade também terá o papel de contribuir para a captação de recursos para o desenvolvimento de pesquisas. Existem alguns exemplos práticos da transformação de ciência em inovação. Um deles é a pesquisa está que sendo desenvolvida no ICEX sobre análise de materiais que tem amplas possibilidade de se tornar um dispositivo de controle de processo. A pesquisa consiste em um aparelho de análise de chapas, em tempo real, para controlar a qualidade e a rugosidade de chapas com técnicas de laser e processamento de imagem. Este dispositivo, além de eliminar os ensaios destrutivos, permite a correções de processo no exato momento que começa a ocorrer falhas no processo. No Departamento de Agronegócios está sendo desenvolvida uma pesquisa, em parceira com a Prefeitura de Volta Redonda, sobre o tratamento de lodo de esgoto de húmus para produção de árvores para reflorestamento. O material que hoje seria um poluente está sendo desenvolvido um trabalho visando torná-lo adubo para produção de espécies nativas para reflorestamento e ser utilizado em recuperação de matas. Na ECHS, um exemplo de inovação social é a estruturação de uma Cooperativa de Economia Solidária, na área de alimentação. Os membros são pessoas que recebem apoio dos programas sociais do governo federal (bolsa família). Uma das possibilidades que está sendo analisada é que esta Cooperativa possa assumir a cantina universitária do novo campus do PUVR. Outro projeto que visa estimular o surgimento de empresas inovadoras na RMVP, e que é apoiado pelas três unidades, é a criação de uma incubadora de base tecnológica, que na concepção do Diretor do ICEX “a incubadora é uma questão de tempo, e espero que um tempo curto”. O Diretor da ECHS considera que:

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“o PUVR tem um conjunto de pessoas que tem a expertise, sendo que três professores já atuaram em incubadoras de outras universidades federais, e pelos menos outros seis docentes tem contato com o tema e poderiam facilmente se envolver com a criação e a gestão de uma incubadora. Como o custo é alto, talvez fosse interessante ter uma incubadora, ou talvez um Parque Tecnológico, da região que seria um consórcio envolvendo diversos atores regionais envolvidos no tema”. Com relação às principais barreiras à interação da universidade em sua região de influência, destacam-se a estrutura burocrática da universidade pública e particularmente a estrutura da UFF, que foi considerada pelo Diretor da ECHS “como sendo um empecilho à participação mais efetiva do PUVR nas atividades de inovação na RMVP”. Outro ponto que foi citado por diversos entrevistados foi a ênfase que é dada à ciência básica na UFF e no próprio PUVR. Para o Diretor do ICEX, “mesmo na Engenharia, que normalmente é mais próxima do setor produtivo, institucionalmente não tem tanto esta proximidade, a ciência básica ainda é priorizada”. O Prof. Sidney Mello, Vice-Reitor da UFF, considera que “as universidades no Brasil estão muito vinculadas à pesquisa básica e poucas universidades conseguem se adequar ao modelo de desenvolver conhecimento aplicado na universidade”. Por fim, a visão dos entrevistados sobre a participação do PUVR no desenvolvimento regional, que para o Diretor da ECHS: “deve ser o foco de atuação do PUVR, pois isto está em nosso DNA, nós fomos criados dentro de um projeto de expansão e interiorização da universidade pública do MEC. Se a gente não discute a região, não interage não troca, não faz sentido a gente estar aqui. Hoje a nossa pesquisa ainda está em um estágio inicial, o que a gente tem feito é avançar esta pesquisa e dialogar com os atores regionais”. Um consenso entre os entrevistados é que o PUVR se coloca em uma atitude muito passiva, onde há a necessidade de estabelecer um plano de comunicação e quebrar a inércia, chegando mais próximo das empresas, do setor público e das comunidades. Na concepção do ex-Diretor da EEIMVR “nós ficamos focados na questão cotidiana e esquecemo-nos de ir lá na Peugeot Citroën, na MAN Caminhões, na Votorantim e na própria CSN. Há uma série de projetos dentro do PUVR que se apresentarmos para algumas empresas da região haveria grande possibilidade que sejam apoiados”.

4 – Análise dos Resultados

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Nas entrevistas realizadas junto aos líderes empresariais e os secretários municipais de desenvolvimento econômico observa-se que o grau de conhecimento sobre as possibilidades de contribuição das atividades inovativas para o desenvolvimento regional ainda são incipientes. De forma geral, o foco destas lideranças empresariais e políticas está na atração de novos empreendimentos que possam gerar renda e emprego para a região e na realização obras de infra-estrutura. Dentre as exceções pode se destacar a liderança do Sindicato Patronal das Indústrias Metalmecânicas (Metalsul) que congregando 126 empresas tem empreendido diversas ações com o objetivo de mobilizar as empresas a realizarem atividades inovativas. Ações relevantes também têm sido implantadas pela Secretaria de Desenvolvimento de Volta Redonda, que criou no ano de 2010 a Coordenadoria de Inovação e Tecnologia, o Conselho Municipal de Inovação, o Prêmio Inova VR, e o Projeto do Museu da Ciência e Tecnologia com inauguração prevista para o ano de 2011. Estas ações da Prefeitura Municipal tiveram a participação efetiva dos professores/pesquisadores do PUVR-UFF, o que demonstra uma inserção destes junto ao poder público local. Os resultados das entrevistas realizadas com professores/pesquisadores e gestores da UFF e do PUVR indicam que institucionalmente há um consenso sobre a importância de se levar para a sociedade as competências existentes na Universidade. Apesar de não haver uma política codificada de inovação na UFF, existem práticas estabelecidas, ainda que incipientes, que visam estimular a inovação na UFF, com destaque para a criação em 2009 da Agência de Inovação da UFF (AGIR), que tem como principal missão disseminar a cultura de inovação. Em sua estrutura encontra-se uma incubadora de empresas e um escritório de transferência de tecnologia. No âmbito do PUVR, ainda não existem mecanismos de gestão tecnológica estabelecidos. Há o desejo de estabelecer, no curto prazo, uma incubadora de empresas. Há um consenso entre os gestores que o principal entrave para uma participação mais ativa da UFF e do PUVR-UFF nas atividades empresariais e sociais é sua estrutura administrativa, principalmente nos assuntos referentes a assinatura convênios (cujo processo é lento), ao sistema de recompensas (o sistema de recompensas da serviço público faz pouca distinção entre os pesquisadores mais produtivos e aqueles que realizam apenas o mínimo necessário de suas funções) e a movimentação financeira (pois entraves burocráticos não permitem que a UFF e a sua fundação possam, por exemplo, ter participação acionária nas empresas incubadas, nem tão pouco receber participação nos lucros das empresas ali instaladas, sendo mesmo a execução de projetos de pesquisa dificultada). Foi relatada também como barreira o viés ainda predominante da pesquisa de básica entre os pesquisadores da UFF. Neste caso, a experiência da Incubadora de Empresas Initia é relevante, pois sua metodologia valoriza exatamente a pesquisa de base como instrumento importante para a geração de produtos, processos e serviços inovadores, cabendo à

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Universidade o papel de desenvolver instrumentos e metodologias que possam transformá-la em tecnologia e inovação.

5 – Conclusões Em uma região em que há o predomínio de atividades tradicionais na economia, é fundamental a articulação entre a universidade e o poder público local para que se possa efetivamente disseminar as atividades inovativas nas empresas da região.

Neste contexto cabe à universidade aportar o seu

conhecimento tecnológico e de gestão, e ao poder público cabe a função de ser um catalisador das demandas regionais e, simultaneamente, um líder no sentido de empreender ações de estimulo à realização de tais atividades inovativas, contribuindo também para o desenvolvimento regional. Os integrantes do PUVR de uma forma geral entendem que, apesar de ainda não terem uma grande influência na dinâmica econômica e social do RMVP, é razoável supor que o PUVR venha a médio e longo prazo ocupar um lugar de relevância no contexto regional. Na concepção dos entrevistados, uma região industrializada e um pólo universitário possuem vários pontos de sinergia, que deverão inexoravelmente aproximá-los no decorrer do tempo. O que poderá variar são a intensidade e o tempo que levará para ocorrer. O processo de inserção poderá ser mais rápido e ter maior influência se o PUVR conseguir agilizar os seus fluxos burocráticos, tomar ações pró-ativas para divulgar as suas atividades e investir mais intensamente em pesquisa básica e aplicada. No âmbito externo a manutenção do ambiente econômico-social favorável na economia brasileira, especialmente, das políticas públicas de incentivo à pesquisa, também é um fator de grande relevância.

Entrevistas Realizadas ABEGAO, Luiz Henrique. Professor Adjunto da UFF. Entrevista realizada em 09/02/2011. ALVAREZ, Gustavo Benitez. Coordenador da Pós-Graduação Modelagem Computacional do PUVRUFF. Professor Adjunto da UFF. Entrevista realizada em 07/02/2011. ALVES, Ronaldo. Secretário Executivo MetalSul; Entrevista realizada em 13/09/2010. AMARAL, Marcelo Gonçalves. Diretor da ECHSVR (2011 a 2014); Professor Adjunto da UFF; Membro do boarding do Movimento da Triple Helix; Gerente de Projetos da Incubadora da UFF (2007 a 2008). Entrevista realizada em 21/01/2011 . Volta Redonda-RJ.

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BATISTA, Geanete Dias Morais. Gerente da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de Itajubá. Entrevista realizada em 13/04/2011. BERNARDES, Marcos Eduardo Cordeiro. Coordenador da Incubadora Social da UNIFEI (Intecoop – UNIFEI); Diretor de Tecnologias Socias; Coordenador da Intecoop e Diretor de Tecnologias Sociais. Entrevista realizada em 13/04/2011. BRAGA, Francisco Pereira. Secretaria de Ciência, Tecnologia, Indústria e Comércio Itajubá. Professor Adjunto da UNIFEI. Entrevista realizada em 12/04/2011. CAMPOS, Fred Leite Siqueira. Diretor de Inovação do Núcleo de Inovação, Transferência de Tecnologia e Empreendedorismo da UNIFEI (NITTE); Professor Adjunto da UNIFEI. Entrevista realizada em 12/04/2011. CASTRO, José Adilson. Coordenador da Pós-Graduação em Engenharia Metalúrgica do PUVR-UFF. Professor Adjunto da UFF. Entrevista realizada em 26/01/2011. CORDEIRO Jr, Jessé de Holanda. Secretário Municipal de Desenvolvimento Econômico de Volta Redonda; ex-reitor do Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA). Entrevista realizada em 17/03/2011. FERIS, Luis Antônio Nogueira. Secretário Municipal de Desenvolvimento Econômico de Barra Mansa; Empresário na RVP Entrevista realizada em 31/03/2011 FERNANDES, Luis Manuel Rebelo. Ex-Presidente da FINEP (2004 a 2007); ex- Secretário Executivo do Ministério da Ciência & Tecnologia (2007 a 2011); Professor Adjunto UFRJ; Entrevista realizada em 29/03/2009. GOMES, Edgar Moreira. Secretário Municipal de Desenvolvimento Econômico de Resende; Empresário na RVP. Entrevista realizada em 16/02/2011 GOUVEA, Jayme Pereira. Coordenador da Pós-Graduação em Engenharia Mecânica do PUVR-UFF. Professor Adjunto da UFF. Entrevista realizada em 25/01/2011. HUGUENIN, José Augusto Oliveira. Diretor do ICEx (2010-2013). Professor Adjunto da UFF. Entrevista realizada em 31/01/2011.

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LEÃO, Ivaldo. Coordenador Técnico do Laboratório de Simulação Computacional; Professor Adjunto da UFF. Entrevista realizada em 09/02/2011. LETA, Fabiana Rodrigues. Diretora da Agência de Inovação da UFF – AGIR; Professor Adjunto da UFF. Entrevsta realizada em 02/02/2011 LINS, Jefferson Fabrício Cardoso Coordenador Técnico do Laboratório Multiusuário de Microscopia Eletrônica; Professor Adjunto da UFF. Entrevista realizada em 17/02/2011. LONGO, Valdmir Pirró, ex-Pró-Reitor de Pesquisa da UFF (1991 a 1994); Professor Titular da UFF (aposentado). Entrevista realizada em 21//03/2009. Niterói-RJ. MELLO, Sidney Luiz de Matos. Vice-Reitor da UFF (2009-2013); ex-Pró-Reitor de Graduação da UFF; ex-Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UFF; Professor Associado da UFF. Entrevista realizada em 24/02/2011. MEZA, Lidia Angulo. Professor Adjunto da UFF. Entrevista realizada em 09/02/2011. MOREIRA, Luciano Pessanha. Professor da UFF. Entrevista realizada em 24/01/2011 NÓBREGA, Antonio Claudio Lucas. Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação da UFF; Professor Titular da UFF. Entrevista Realizada em 18/01/2011. NORA, Henrique. Presidente da FIRJAN Sul Fluminense; Empresário da RVP. Entrevista realizada em 15/09/2010 PALMEIRA, Alexandre Alvarenga; Professor Assistente UERJ; Diretor do Campus Regional do Médio Paraíba da UERJ. Entrevista realizada em 09/11/2011. Volta Redonda-RJ PERES, Afonso Aurelio de Carvalho. Professor Adjunto da UFF. Entrevista realizada em 28/01/2011. RIOS, Paulo Rangel. Professor Adjunto da UFF. Entrevista realizada em 08/02/2011. SAMPAIO, Denilson. Secretário Municipal de Desenvolvimento Econômico de Itatiaia; Empresário na RVP. Entrevista realizada em 18/03/2011 SILVA FILHO, Sérgio José Mecena. Diretor da Incubadora da UFF; Professor Adjunto da UFF. Entrevista realizada em 12/01/1011.

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SILVA, Sérgio Sodré. Diretor da EEIMVR; Professor Adjunto da UFF. Entrevista realizada em 11/03//2011. SOUZA, Maurílio da Costa. VIDIGAL, Carmelita Elias. Fundadores do CRITT-UFJF - Professores Adjunto da UFJF (aposentados). Entrevista realizada em 29/03/2009. Juiz de Fora-MG. SOUZA, Osmar Fernandes. Presidente ADEMP; Presidente ACIAP-VR; Empresário da RVP. Entrevista realizada em 11/10//2010. TOMÁS, Dilza Cristina Martins. Gerente da Incubadora de Empresas Sul Fluminense – UERJ-Resende. Entrevista realizada em 18/03/2011 TONELLI, Luiz Carlos. Diretor do CRITT – UFJF. Professor Adjunto da UFJF. Entrevista realizada em 27/05/2011

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