Construção de cisternas de baixo custo como estratégia ecossocioeconômica

July 24, 2017 | Autor: Marcio Juliano | Categoria: Sustainable Water Resources Management, Environmental Sustainability
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Construção de cisternas de baixo custo como estratégia ecossocioeconômica Professor Me Marcio de Cassio Juliano1 (Faculdade Zumbi dos Palmares) [email protected]

Resumo: A partir de uma atividade de extensão universitária, proporcionada pela participação de uma Instituição de Ensino Superior no “Projeto Rondon”, surgiu a oportunidade de executar um projeto que envolveu a construção de uma cisterna de baixo custo e, ao mesmo tempo, capacitar mão de obra local para multiplicar a metodologia de construção. Este trabalho objetiva descrever a construção dessa cisterna econômica em uma cidade no Estado do Maranhão embasado em uma perspectiva ecossocioeconômica. A construção da cisterna se apresentou como uma alternativa viável e exeqüível, levando em consideração a conjuntura sócia econômica da cidade. Este trabalho apresentará uma curta revisão bibliográfica sobre as temáticas: “sustentabilidade”, “ecossocioeconomia” e sobre o “‘Projeto Rondon”. Também, com base em um referencial teórico, se descreverá com detalhes a metodologia utilizada, envolvendo método e procedimentos empregados para a sua construção, quantificação e precificação dos materiais utilizados, e ainda fornecerá orientações para o seu dimensionamento e os cuidados periódicos para a sua manutenção. Constatou-se que a construção da cisterna de ferro cimento, como exposto nesse trabalho, além de contribuir para amenizar o problema da falta de água de um posto de saúde, capacitou a mão de obra local visando à replicação da metodologia e multiplicando o conhecimento sobre a tecnologia. Também se constatou que o processo de construção é simples, rápido e de baixo custo (aproximadamente R$2.300,00), utilizando materiais regionais facilmente encontrados na cidade. Palavras chave: Captação da água da chuva, armazenamento da água da chuva, cisternas de baixo custo, sustentabilidade.

Low cost construction of cisterns as ecosocioeconomic strategy Abstract: From a university extension activity, provided by the participation of a Higher Education Institution in the "Projeto Rondon", appeared the opportunity to execute a project which involved a low cost construction of cisterns, and the same time, enabled local workforce to multiply the construction methodology. This paper aims to describe the construction of this economical tank in a city in the State of Maranhão, grounded in an ecosocioeconomic perspective. The construction of the cistern is a viable and feasible alternative, taking into account the socioeconomic situation of the city. This paper will present a short biographic review on the issues: ‘sustainability’, ecosocioeconomy’, and about

‘Rondon Project’. Also, based on a theoretical framework, the methodology used will be described, involving methods and procedures used in the tank construction, Also, based on a theoretical framework, would describe in detail the methodology used, quantification and pricing of materials used, and also will provide guidelines for its design and care for its periodic maintenance. It was found that the construction of the iron cement cistern, as presented in this paper, besides contributing to reduce the water shortage problem in a health clinic, will train the local workforce in order to replicate the methodology and multiply knowledge concerning the technology. It was also found that the construction process is simple, fast and low cost (approximately R$ 2,300.00), using regional material found easily in the city. Keywords: Capture of rainwater, storage of rainwater, low cost cisterns, and sustainability.

1.

INTRODUÇÃO A região Nordeste do Brasil apresenta, historicamente, dificuldades para fornecer água

à sua população. Esse problema se agrava mais ainda no Sertão, onde são registrados extensos períodos de estiagem. A temática da falta constante de água é freqüentemente discutida em âmbitos políticos, sociais e econômicos. Mas não é só a condição climática que ocasiona a falta de água; o volume da água de superfície é pequeno e não transmite confiança, a alternativa de fornecimento com carros pipas tem um elevado custo financeiro, os recursos hídricos subterrâneos apresentam, em sua maior parte, alto índice de salobridade ou estão em tal profundidade que necessitam de elevados investimentos para se tornarem viáveis. A busca de alternativas sustentáveis pode ajudar a melhorar a situação do abastecimento, uso e reuso da água, com o envolvimento da comunidade, contribuindo para o seu bem estar. Uma alternativa plausível é a captação e armazenamento da água da chuva. Os reservatórios de águas pluviais são de extrema importância para captar e armazenar água que poderá abastecer o consumo familiar ou servir para a irrigação de lavouras e plantações. Porém, os altos custos envolvidos na sua construção e as demais condições geográficas remetem a um esforço para se encontrar soluções de tecnologias viáveis financeiramente e adequadas à realidade econômica local sem agredir o meio ambiente. A partir de uma atividade de extensão da Faculdade Zumbi dos Palmares, propiciada pelo Governo Federal e coordenada pelo Ministério da Defesa, chamada “Projeto Rondon”, surgiu a oportunidade de executar um projeto que previa a construção de uma cisterna de baixo custo, capacitando mão de obra local para multiplicar a metodologia de construção. Este trabalho objetiva descrever a construção de uma cisterna econômica com o apoio financeiro da prefeitura em uma cidade no Estado do Maranhão embasado em uma perspectiva ecossocioeconômica.

A região geográfica onde a cidade está localizada apresenta clima semi-árido com um período de precipitação pluvial bem definido, caracterizado por seis meses de elevado nível de precipitação e seis meses de períodos de baixa precipitação, com longos intervalos de ausência de chuva. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) o índice pluviométrico da região onde a cidade esta localizada é de 1.200 a 2.000 mm por ano. (CPTEC, 2010) Essa condição climática, freqüentemente, prejudica o processo de abastecimento na região, situação que se agrava pelo alto índice de salobridade da água por quase todo o espaço geográfico do Município. Vale ressaltar que as bombas que distribuem a água do reservatório para a cidade sofrem constantes avarias com as oscilações da energia elétrica e freqüentemente têm de passar por manutenção corretiva, o que ocasiona interrupção no fornecimento. Diante desse contexto, se fazia necessário buscar alternativas para manter o abastecimento de água constante e com condições mínimas para o consumo doméstico na cidade. A construção de cisternas de baixo custo se apresentou como uma alternativa viável e exeqüível, levando em consideração a conjuntura sócio econômica da cidade. Apesar de não poder garantir o fornecimento integral, essa tecnologia pode se transformar em uma excelente alternativa para evitar desabastecimento constante. A execução do projeto procurou contribuir com a melhoria do abastecimento de água na cidade, considerando a possibilidade de captação de água de chuva por meio da construção de cisternas de baixo custo e multiplicar essa tecnologia social capacitando mão de obra local. O trabalho apresentará uma breve revisão bibliográfica sobre as temáticas “sustentabilidade” e “ecossocioeconomia”, uma apresentação sucinta do ‘Projeto Rondon”, a descrição detalhada da metodologia utilizada, assim como o referencial teórico no qual ela foi embasada e finalmente os resultados obtidos e as considerações finais. 2.

SUSTENTABILIDADE Segundo o World Bank (1992) o conceito de desenvolvimento sustentável surgiu em

1987 na Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento indicando que todas as demandas dos seres humanos surgidas atualmente devem ser supridas, porém, com consciência de preservar essa condição para as gerações futuras. “A preocupação com o desenvolvimento sustentável representa a possibilidade de garantir mudanças sociopolíticas que não comprometam os sistemas ecológicos e sociais que sustentam as comunidades.” (JACOBI, 2003, p.192)

O conceito de sustentabilidade engloba o combate ao mau uso dos recursos disponíveis no nosso meio ambiente, criando mecanismos para evitar a depredação e degradação do planeta Terra e alternativas que levem em conta a preservação dos seus recursos naturais e dos seus habitantes. Porém, a sustentabilidade não se apresenta apenas na dimensão ambiental, ela apresenta mais três dimensões, a saber: Sustentabilidade econômica, sustentabilidade social e sustentabilidade cultural e educativa. Os aspectos da dimensão da sustentabilidade ambiental dizem respeito à preservação do meio ambiente e à utilização racional dos recursos naturais. Em relação à dimensão econômica, a sustentabilidade se refere à preservação dos recursos econômicos visando o controle dos gastos públicos e da inflação de modo a não deixar a conta para ser paga por gerações futuras. Já a dimensão social da sustentabilidade se refere aos aspectos dos direitos humanos, segurança, justiça, igualdade, inclusão e diversidade da população. Finalmente, a dimensão cultural e educativa se preocupa em criar condições para a formação das gerações futuras, garantindo estruturas admissíveis para a transmissão de valores e de conhecimento e preparando-as para atuarem frente às mudanças necessárias. (REDE NACIONAL DE CONSUMO RESPONSÁVEL) Para fomentar e garantir a sustentabilidade, Constanza (1991) aponta para a formação de auditores ecológicos com a função de fiscalizar as empresas públicas ou privadas com atividades que poderiam causar impactos ambientais e ainda recomenda que o Banco Mundial poderia ser um agente de incentivo a sustentabilidade, adotando políticas de concessão de crédito que exigissem certas contrapartidas ambientais nos projetos submetidos à sua apreciação, considerando critérios como a utilização de recursos renováveis, desperdícios de recursos naturais e geração de resíduos. Esse autor também recomenda que os governos adotem taxas para atividades que vão de encontro ao conceito de sustentabilidade e incentivos para aquelas que vão ao encontro desse conceito. 3.

ECOSSOCIOECONÔMIA Segundo Constanza (1991) a ecossocioeconomia é uma área de pesquisa

transdisciplinar que estuda a relação entre ecossistemas e sistemas econômicos e se preocupa com o desenvolvimento de estratégias de gestão, com ações participativas, comunitárias e regionais que levem em consideração a responsabilidade social e a preservação ambiental.

A ecossocioeconomia surge como uma alternativa ao modelo econômico vigente, excessivamente consumista, denominado de economia de materiais baseado em uma racionalidade instrumental ou utilitarista econômica. Uma boa síntese do modelo econômico vigente, assim como as suas danosas conseqüências, pode ser vista em um filme amplamente divulgado pela internet chamado de The Story of Stuff, a história das coisas em português. Esse filme nos remete a uma reflexão sobre como o consumo desenfreado é gerado e quais suas conseqüências sobre os seres humanos e o meio ambiente em que vivem, descrevendo uma cadeia linear de cinco etapas, descritas na figura um, que se inicia na obtenção de matérias-primas para a produção de bens de consumo e termina no desuso e descarte desses bens.

Figura 1: Etapas da economia de materiais

Sampaio (2010) indica que o modelo econômico vigente gera patologias sociais maléficas para os seres humanos e para o meio ambiente, gerando poderosos sistemas organizacionais com elevadíssima lucratividade e concentrada geração de renda e, como contrapartida, a socialização das conseqüências negativas com a população (como a degradação do meio ambiente, por exemplo). As patologias sociais podem ser sociopolíticas quando existe a manipulação dos poderes em favor de interesses organizacionais, socioeconômicas na forma de trabalho informal ou sob regime de semi-escravidão e exclusão social daqueles que não podem seguir o forte apelo para consumir e, finalmente, patologias socioculturais, que alteram significativamente o modo de vida das pessoas pela exigência de se atingir a eficiência produtiva. A ecossocioeconomia surge como uma alternativa ao modelo econômico atual e aponta para a descentralização do poder de decisão, dando mais força à população. O modelo

proposto exige racionalidade na gestão dos ecossistemas regionais e valoriza a criatividade da comunidade, buscando a sua autonomia e priorizando a satisfação das suas demandas e necessidades básicas sem se esquecer dos cuidados com a preservação do meio ambiente. (CONSTANZA, 1991; SAMPAIO, 2010) Alterar o paradigma econômico atual é um enorme desafio que requererá grande esforço, pois cada organização terá de ser convencida a abandonar a acumulação de capital e a exploração da mão de obra (mais valia) e então passar a se planejar para conviver com um nível de lucratividade suficiente para a sua sobrevivência e para o seu desenvolvimento sustentável, compartilhando parte dos resultados com a comunidade na forma de ações sociais e ambientais. 4.

PROJETO RONDON Em 1907, o Marechal Rondon, como é popularmente conhecido, recebeu a missão

estratégica de demarcar o território brasileiro e povoar nossas fronteiras. Ele chefiou pessoalmente a seção “C” da comissão Rondon que tratava do reconhecimento do sertão e dos estudos preparatórios para traçar a construção de uma linha tronco de telégrafo que culminou na instalação de 2.268 km de linhas telegráficas, 25 estações telegráficas e a construção de duas pontes e uma estrada de rodagem em território indígena e a incorporação de 30 mil índios e seus territórios ao Brasil. Tudo isso de modo pacífico. (BIGIO, 2000) Nessa época era latente a importância de se criar uma infra-estrutura em comunicações para fomentar o desenvolvimento da região centro-oeste do Brasil. Hoje podemos notar as conseqüências desses trabalhos á vista do desenvolvimento da região centro-oeste brasileira. O projeto Rondon é uma iniciativa do governo brasileiro que, a pedido da União Nacional dos Estudantes, foi reativado em 2004 com a criação de um grupo interministerial que o relançou em 2005 na cidade de Tabatinga AM na operação Amazônia. (BARRETO; 2008) Entre os objetivos do projeto esta a integração do estudante universitário ao processo de desenvolvimento nacional, por meio de ações participativas sobre a realidade do País, estimulando-o a produzir projetos coletivos locais em parceria com a comunidade. O projeto Rondon é coordenado pelo ministério da defesa e conta com a participação e colaboração de vários outros Ministérios.

Participar do projeto Rondon é uma oportunidade ímpar de colocar em prática o que se aprende na sala de aula, beneficiando um município do Brasil. Como o Marechal Rondon, os estudantes mapeiam as necessidades e então abrem um canal de comunicação que visa o desenvolvimento regional. Ao invés das linhas físicas, são os próprios estudantes que transmitem conhecimentos necessários para gerar o desenvolvimento local sustentável, a cidadania e o bem estar social. Tanto os professores como os alunos participantes do projeto Rondon, o fazem como voluntários, o que fomenta este tipo de trabalho no nosso País. Os custos de transporte até o Município onde as ações ocorrerão fica por conta do Ministério da Defesa, já as despesas com acomodação e alimentação, bem como transporte local visando a execução das ações propostas, é de responsabilidade do Município. A Universidade pode ajudar com doações de materiais para as capacitações, com o transporte da equipe até o local de embarque e o seu respectivo retorno, com a impressão dos certificados e mais o que a sua vocação voluntária e os seus recursos assim permitirem. Entre outras vantagens, participar do projeto Rondon possibilita ao professor e ao aluno a integração a uma realidade local dentro de um contexto global deste imenso Brasil. Permite também conhecer pessoas de todo o País, experimentando culturas díspares e trocando experiências, visto que, Universidades de todo território nacional participam das ações. 5.

METODOLOGIA A metodologia a seguir procura descrever o método empregado para a construção de

uma cisterna de baixo custo, fornecendo orientações de manutenção e cuidados periódicos para a cisterna, dimensionando e precificando os materiais necessários para a sua construção, assim como, prevendo sua capacidade de acordo com a necessidade do local onde ela será construída. 5.1.

REFERENCIAL TEÓRICO Uma cisterna é um reservatório de água, usualmente cilíndrico, que tem por finalidade

captar e armazenar água da chuva.

Gnadlinger (2001) apontou para seis diferentes modelos de cisternas, a saber: → Cisterna de placas de cimento; → Cisterna de tela-cimento; → Cisterna de tijolos; → Cisterna de ferro cimento; → Cisterna de cal; → Cisterna de plástico. Além de Gnadlinger (2001) descrever o modo de construção e as respectivas listas de materiais e custos para cada um dos modelos citados, também indicou as vantagens e desvantagens da construção de cada uma delas. Neste projeto, especificamente, será abordado e descrito o tipo de cisterna “ferro cimento” por ser mais adequado às condições geográficas e econômicas do município de Anajatuba. Segundo Schistek (2005) a tecnologia de construção de reservatórios cilíndricos tem se destacado por oferecer resistência e empregar materiais de baixo custo. Nesse princípio de construção substitui-se o aço por tela de arame, o que proporciona simplificação no processo de construção, reduzindo o tempo para a sua finalização, custo de materiais e mão de obra. A cisterna construída com tela de arame garante a resistência necessária para suportar a pressão da água e ainda oferece segurança contra vazamentos. Schistek (2005) indicou que o sucesso da construção de uma cisterna de ferro cimento depende essencialmente da combinação de três fatores: simplicidade da construção, alta resistência e baixo custo, o que vai ao encontro das vantagens descritas na tabela 1 por Gnadlinger (2001). Modo de construir semelhante ao de uma casa de taipa (muito conhecido pela população) Apropriado tanto para pequenos como para grandes projetos de construção de cisternas Baixo tempo de construção Emprego reduzido de materiais Ausência de trabalhos pesados de escavação, pois a cisterna fica acima da terra Apresentam pouca probabilidade de vazamentos Facilidade no conserto em caso de vazamentos Fonte: adaptado de Gnadlinger (2001) Tabela 1 – Vantagens da construção de cisternas de ferro cimento

Controlar a proporção entre cimento, água e areia conforme especificação Molhar periodicamente as paredes durante as obras e pelas duas semanas seguintes Fácil aquecimento da água devido ao calor do sol Complexidade para a retirada da água A obra não pode ser interrompida durante a construção, pois senão as subseqüentes camadas de reboco não aderem suficientemente entre si Fonte: adaptado de Gnadlinger (2001) Tabela 2 – Desvantagens da construção de cisternas de ferro cimento.

Já as desvantagens descritas na tabela 2 podem ser neutralizadas com a adoção de algumas precauções pontuais. Por exemplo, a questão do aquecimento pode ser amenizada com uma pintura externa em tinta branca para refletir os raios solares. A questão de manter a umidade por duas semanas, logo após a sua construção, pode ser resolvida com a indicação de um responsável para molhá-la todo dia e por fim, a dificuldade com a retirada da água pode ser evitada com a instalação de um registro / torneira ou bomba para o escoamento da água. De acordo com Thomas (2001) a análise do benefício que uma família receberá com a instalação de um sistema doméstico de captação de água de chuva deve ser realizada com base na interação entre o índice pluviométrico, a área de captação do telhado, o tamanho da cisterna e finalmente os hábitos de consumo de água dos usuários da cisterna. Dados levantados no Brasil indicam que a quantidade de água por pessoa por dia para fins domésticos é de 77 litros distribuídos conforme tabela 3. Já os valores sugeridos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo Banco Mundial, indicados na tabela 4, são menores. Para efeitos de cálculos, ilustração e exemplificação, tomaremos os valores da tabela 4. Já a tabela 5 indica o consumo de água por dia por espécies de animais. (NUCASE, 2009) Uso da água para fins domésticos

Consumo (litro/hab.dia)

Ingestão

2 litros

Alimento e cozinha

6 litros

Lavagem de utensílios

9 litros

Banho

30 litros

Lavagem de roupas

15 litros

Aparelhos sanitários

10 litros

Outros usos

5 litros

Total

77 litros diários

Fonte: NUCASE, 2009 Tabela 3 – quantidade de água consumida por pessoa

Uso da água para fins domésticos

Consumo (litro/hab.dia)

Ingestão

2,5 litros

Banho

15 litros

Alimento e cozinha

10 litros

Uso Sanitário e Limpeza

12,5 litros

Total

40 litros

Fonte: NUCASE, 2009 Tabela 4 – quantidade de água consumida por pessoa

Animal

Consumo (litro/dia)

Bode

8 litros

Boi/burro/cavalo

35 litros

Galinha

10 litros

Ovelha

8 litros

Peru

20 litros

Porco

15 litros

Vaca leiteira

90 litros

Total

186 litros diários

Fonte: NUCASE, 2009 Tabela 5 – quantidade de água consumida por animais

Adotar uma cisterna como meio alternativo de abastecimento de água exige a adoção de certos cuidados, tanto em relação aos hábitos de consumo como em relação às condições de higiene na captação e armazenamento. A captação da água da chuva se dá por meio do telhado e o transporte da água para a cisterna, geralmente, é por meio de um sistema de calhas. Para evitar contaminação e preservar a qualidade da água é de primordial importância limpar constantemente ambos: telhado e calhas. (GNADLINGER, 2001) A utilização da água da chuva para fins domésticos só poderá ser feita se a mesma passar por um processo de filtragem, o que aponta para a instalação de um filtro entre a saída da cisterna e os artefatos que darão vazão à água para essa finalidade de uso. O processo de filtragem e tratamento da água captada da chuva não será considerado neste trabalho. Portanto, sem tratamento a água da chuva só pode ser utilizada para reuso (irrigação, descargas, lavagem de pisos).

5.2.

MÉTODO O método utilizado considerou a construção de uma cisterna “piloto” do tipo ferro

cimento com algumas adaptações nas matérias primas empregadas, inclusive, tal cisterna será denominada daqui por diante de cisterna “tela de arame cimento”. O local para a construção da cisterna piloto foi definido pela Secretaria de Saúde da cidade que propôs a construção junto à Unidade Básica de Saúde (UBS) em um povoado da cidade, onde constata-se histórico crítico de abastecimento de água, apresentando potencial para a construção da cisterna. A água captada e armazenada por essa cisterna inicialmente servirá para abastecer a USB. Essa UBS apresentou uma área para captação (telhado) de aproximadamente 32 metros quadrados o que, considerando o menor índice pluviométrico histórico para a região (1.200 mm – INPE), proporcionará uma captação anual de 38.400 litros. Mesmo com a possibilidade de captar mais de 35.000 litros de água por ano, a cisterna foi dimensionada para 16.000 litros por se tratar de um piloto. Uma cisterna com essa capacidade pode abastecer uma família composta por quatro pessoas por 100 dias, considerando as recomendações da ONU e do Banco Mundial (tabela 4). Porém, vale repetir que o processo de verificação de viabilidade para a construção e dimensionamento de uma cisterna deve levar em consideração o índice pluviométrico da região, a área de captação do telhado, o tamanho da cisterna e finalmente a finalidade do consumo de água dos usuários da cisterna para se obter a melhor relação custo / benefício. Uma cisterna de 16.000 litros pode ser construída em uma semana por um pedreiro e dois ajudantes com um custo de R$ 2.294,50. Nas tabelas seis, sete e oito estão descritos os materiais, quantidades e preços locais utilizados na sua edificação e na figura dois as suas dimensões externas.

Material Cimento

Unid 50 kg

Anajatuba Qtde Fornecedor A 20 R$ 25,00

Anajatuba Fornecedor B R$ 24,00

Total A R$ 500,00

Total B R$ 480,00

Brita



2

R$ 150,00

R$ 145,00

R$ 300,00

R$ 290,00

Areia Média



3

R$ 75,00

R$ 45,00

R$ 225,00

R$ 135,00

Tela de Galinheiro (h=1,7m)

Ml

30

R$ 11,00

R$ 7,00

R$ 330,00

R$ 210,00

Fitilho

Rolo

1

R$ 7,00

R$ 7,00

R$ 7,00

R$ 7,00

Saco Cebola

Unidade

25

R$ 0,30

R$ 0,30

R$ 7,50

R$ 7,50

Cal

5 kg

4

R$ 4,00

R$ 3,50

R$ 16,00

R$ 14,00

Ferro 3/16

Barra 1,5 m 5

R$ 20,00

R$ 20,00

R$ 100,00

R$ 100,00

Treliças 3/16

Barra 2 m

3

R$ 20,00

R$ 20,00

R$ 60,00

R$ 60,00

Cano de PVC (40 mm)

M

0,5

R$ 10,00

R$ 10,00

R$ 5,00

R$ 5,00

Registro (40 mm)

Unidade

1

R$ 26,00

R$ 8,00

R$ 26,00

R$ 8,00

Arame recozido

Kg

1

R$ 12,00

R$ 8,00

R$ 12,00

R$ 8,00

R$ 1.588,50

R$ 1.324,50

Tabela 6 – Custos locais dos materiais

Descrição

Quantidade Preço

Filtro

1

R$ 250,00

Bomba Submersa Anauger Mod 900

1

R$ 250,00

Fio Elétrico

1

R$ 20,00

Total

R$ 520,00

Tabela 7 – Custos dos periféricos

Descrição

Valor unitário Quantidade

Total por dia

Dias

Custo total da M O

Pedreiro

R$ 40,00

1

R$ 40,00

5

R$ 200,00

Ajudante

R$ 25,00

2

R$ 50,00

5

R$ 250,00

Total

R$ 450,00

Tabela 8 – Custos da Mão de Obra

1,75 mts

3,5 mts

Figura 2 – Croqui das dimensões externas da Cisterna

5.3.

PROCEDIMENTO O procedimento para a construção da cisterna de tela de arame cimento com

capacidade para captar e armazenar 16.000 litros iniciou-se com a limpeza do terreno e a escavação de uma vala de três metros e meio de diâmetro e 40 centímetros de altura, então, se preencheu 20 centímetros do espaço da vala com pedra bruta e em seguida inseriu-se uma armação de ferro com a devida amarração das treliças que serviram de base para a fixação da tela de arame. Logo após, fixou-se a tela de arame, tomando o cuidado para que a base dela partisse do nível das pedras brutas e fosse enrolada nas treliças em duas camadas. Para iniciar a construção da laje, concretou-se uma sapata em cada uma das treliças, bem como, uma no centro para servir de referência do nível, daí então, o restante da vala foi preenchido com concreto ininterruptamente. Após a secagem da laje, a mesma foi umedecida e coberta com folhas de bananeira para evitar que a ação do sol a ressecasse e causasse rachaduras. No dia seguinte, foram fixadas duas barras de ferro 3/16, unindo as quatro treliças, sendo uma no topo e a outra no meio de maneira que todas as treliças ficassem unidas pelas barras. Na seqüência os sacos de cebolas foram costurados na tela de arame com fitilho plástico e fixados em uma única camada. A partir daí iniciou-se o trabalho de colocação da primeira camada de argamassa do lado externo da armação. Após 12 horas aplicou-se a primeira camada interna de argamassa e após o término ocorreu a aplicação da segunda camada externa de argamassa, nesse momento, também se iniciou a armação da cobertura. Após 24 horas da aplicação da primeira camada interna, aplicou-se a segunda camada interna de argamassa e finalmente construiu-se o teto, levando em consideração a sua parte móvel com dimensão suficiente para que uma pessoa passe por ele, visando a manutenção e limpeza interna da cisterna. Vale

lembrar que a sistemática da construção do teto foi a mesma da cisterna, empregando tela de arame, saco de cebola e concreto. Para o acabamento externo, aplicou-se duas mãos de tinta a base de cal cobrindo a cisterna de branco para a reflexão dos raios solares, contribuindo para evitar a evaporação da água. 6.

RESULTADO A construção da cisterna de ferro cimento como exposto nesse trabalho, além de

contribuir para amenizar o problema da falta de água do posto de saúde, capacitou a mão de obra local que participou ativamente de todas as etapas do processo, recebendo orientações dos rondonistas. Também se constatou que o processo de construção é simples, rápido e de baixo custo, utilizando materiais regionais facilmente encontrados na cidade. A cisterna foi construída em seis dias com três trabalhadores, um pedreiro e dois ajudantes. O projeto de construção da cisterna foi entregue para as autoridades locais que, aparentemente motivadas com a alternativa, demonstraram interesse em buscar fontes de financiamento para implantar uma política de construção de mais cisternas na cidade. 7.

CONSIDERAÇÕES FINAIS A adoção da estratégia de construção de cisternas de baixo custo para amenizar os

problemas com abastecimento de água se insere no contexto da ecossocioeconomia a partir do momento que gera renda para a mão de obra local que a constrói e para os comerciantes que vendem as matérias primas necessárias à sua execução sem concentrar a sua produção em grandes empreiteiras e sem agredir ao meio ambiente. Outra característica que associa essa metodologia às premissas da ecossocioeconomia é a participação popular na decisão dos locais que se beneficiarão com a construção da cisterna. É importante salientar que o interesse e a boa vontade política, assim como a coragem dos políticos para quebrar o status quo são fatores essenciais para executar um projeto baseado em um paradigma econômico diferente do atual, chamando a população para participar do processo decisório, definir os beneficiários, os construtores e os fornecedores de matéria prima. A gestão municipal também deve demonstrar motivação para encontrar fontes de financiamento para o projeto e/ou subsídios governamentais para a construção das cisternas. Este trabalho mostrou que é possível criar alternativas de tecnologias sociais sustentáveis de baixo custo e viáveis economicamente que possam suprir as demandas de uma

dada região sem agredir o meio ambiente, promovendo geração de renda e a participação da comunidade. Espera-se que esse trabalho possa contribuir com outros pesquisadores que se preocupem com a temática e que seja ponto de partida para o seu próprio melhoramento, assim como, para a busca de alternativas complementares de baixo custo como a etapa de filtragem e tratamento da água da chuva para uso doméstico. 8.

REFERÊNCIAS

BARRETO, Luiz H. M. Projeto Rondon: planejamento, opiniões e motivações. Editado pelo próprio autor. Salvador – BA. 2008 BIGIO, Elias dos S. Candido Rondon: A integração nacional. Petrobras. Rio de Janeiro – RJ – 2000 CONSTANZA, Robert. Ecological Economics: the Science and Management of Sustainability. New York: Columbia University Press, 1991 GNADLINGER, João. Apresentação Técnica de Diferentes Tipos de Cisternas, Construídas em Comunidades Rurais do Semi Árido Brasileiro. Palestra IRPAA. Juazeiro – BA. 2001. JACOBI, Pedro. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa USP nº 118. São Paulo – SP – 2003 NUCASE. Núcleo Sudeste de Capacitação e Extensão Tecnológica em Saneamento Ambiental. Transversal: saneamento básico integrado às comunidades rurais e populações tradicionais. Guia do profissional em treinamento nível 2. Brasília – DF. 2009 Ministério da Ciência e Tecnologia. Centro de previsão de tempo e estudos climáticos (CPTEC). Disponível em http://www.cptec.inp.br Acessado em 15 de julho de 2010. Rede Nacional de Consumo Responsável. http://www.consumoresponsavel.com/wpcontent/rncr_fichas/RNCR_Ficha_C.pdf. Acessado em 25 de setembro de 2010. SAMPAIO, Carlos A. C. Gestão que privilegia uma outra economia: Ecossocioeconomia das Organizações. Editora EDIFURB. Blumenau – SC – 2010 SCHISTEK, Harald. Uma Nova Tecnologia de Construção de Cisternas Usando como Estrutura Básica Tela Galvanizada De Alambrado. 5º Simpósio Brasileiro de captação e manejo de água de chuva. Petrolina – PE. 2005 The Story of Stuff. http://www.youtube.com/watch?v=gLBE5QAYXp8. Acessado em 01 de outubro de 2010. THOMAS, Terry. Escolha de Cisternas para Captação de Água de Chuva no Sertão. 3º Simpósio Brasileiro de captação de água de chuva. Petrolina –PE. 2001 WORLD BANK. World Development Report 1992: Development and Environment. Washington: Oxford University Press, 1992.

1

Graduado em Administração, especialista em Gestão Empresarial, Mestre em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento. Atualmente é coordenador de estágios e do curso de Administração da Faculdade Zumbi dos Palmares.

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