Construção Social da Prática Odontológica

September 9, 2017 | Autor: Karina Cruz | Categoria: Saúde, Trabalho
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Revista da Fapese, v. 2, n. 1, p. 125-142, jan./jun. 2006

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Construção Social da Prática Odontológica*

Resumo

Karina Santana Cruz** Maria Helena Santana Cruz*** Adalúcia Conceição Correia**** Narjara Oliveira Bezerra***** Luciana Santos Bittencourt******

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estudo reflete sobre o tema do trabalho e formação profis

sional no marco do neoliberalismo, frente à dinâmica do mercado e de novas demandas de qualificação, focaliza a

construção de trajetórias profissionais de trabalhadores da saúde, atribuindo especial destaque ao campo da Odontologia; também descreve aspectos dessa realidade complexa, por meio das percepções relatadas pelos próprios profissionais (grupo específico de pessoas) quanto à sua realidade de trabalho. PALAVRAS-CHAVE: Formação Profissional; Trabalho; Saúde; Odontologia.

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Pesquisa desenvolvida com o apoio do CNPq/UFS em 2004-2005. Doutora e Mestra em Ortodontia-Ortopedia Facial (USP-Bauru). Profª de Ortodontia no Curso de Graduação em Odontologia da Universidade Federal de Sergipe e Profª do Curso de Especialização em OrtodontiaOrtopedia Facial da Associação Brasileira de Odontologia/SE. Departamento de Odontologia, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Endereço: Rua Professor Antônio Fagundes de Melo, 210. Praia 13 de Julho. Aracaju-SE – 49020-070; e-mail: [email protected] Doutora e Mestra em Educação pela Universidade Federal da Bahia, Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação e Sociologia da Universidade Federal de Sergipe, Coordenadora do NEPIMG – Núcleo de Estudos e Pesquisa Interdisciplinares Sobre a Mulher e Relações de Gênero. Endereço: Rua Prof. Antônio Fagundes de Melo, 210. Praia 13 de Julho. Aracaju-SE – 49020-070. e-mail: [email protected] Graduada em Odontologia – (DOD) e bolsista do Programa Institucional De Bolsas De Iniciação Científica (PIBIC) – CNPq/UFS. Aracaju (SE); e-mail: [email protected] Graduada em Odontologia (DOD) e bolsista do Programa Institucional De Bolsas De Iniciação Científica (PIBIC) – CNPq/UFS; Aracaju (SE); e-mail: [email protected] Graduanda em Serviço Social (DSS) e bolsista do Programa Institucional De Bolsas De Iniciação Científica (PIBIC) – CNPq/UFS. Aracaju (SE); e-mail: [email protected]

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Karina S. Cruz; Maria Helena S. Cruz; Adalúcia C. Correia; Narjara O. Bezerra; Luciana S. Bittencourt

Introdução

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realização desta pesquisa foi motivada pela ên fase dada às ações educativas relacionadas com o campo da saúde, com destaque para a formação profissional e as questões atuais do trabalho de dentista, trabalho interdisciplinar em equipe, temas recorrentes para os pesquisadores da área de educação em saúde. Deslindar a realidade do possível na formação de profissionais de nível superior supõe o desafio da experimentação, da avaliação, da pesquisa, de acompanhamento dos sucessos e dos limites de cada experiência. A formação no ensino superior é concebida como um lugar de memória, de resgate das identidades, da compreensão do presente incorporando as dificuldades, as lutas e as conquistas do passado, as representações na forma de imagens e de documentos, seus símbolos carregados de história e de significados. Foi desenvolvida uma pesquisa qualitativa (Minayo, 1993) com destaque para a história oral considerada relevante para o afloramento das “memórias subterrâneas” represadas pelas imposições da ordem social. Diferentes fontes informam os resultados deste estudo: bibliografias (literatura sobre os temas); fontes documentais (DAA/UFS; Conselho Regional de Odontologia (CRO); documentos fornecidos pelo Colegiado e Departamento de Odontologia (DOD), entrevistas (58) realizadas com professores, profissionais egressos do curso de Odontologia no período de 1993-2004 e dirigentes do CRO. As estatísticas descobrem a existência de 1.982 dentistas em Sergipe, entre os quais 443 egressos do curso da UFS, 134 (30,3%) homens e 309 (69,7%) mulheres indicando que a profissão mostra-se atraente para elas. A educação no campo da saúde tem sido alvo de debates e de propostas de reforma, visando adequála tanto às demandas sociais de cada momento histórico quanto aos avanços científicos e tecnológicos. Nas últimas décadas, análises das crises e as proRevista da Fapese, v. 2, n. 1, p. 125-142, jan./jun. 2006

postas de formação foram permeadas por distintos discursos pedagógicos, que desempenharam importante papel na construção de novas percepções e ações sobre a formação profissional, na orientação e construção de projetos pedagógicos e da revisão de pressupostos metodológicos no campo da Odontologia. Os cursos de Odontologia da UFS a exemplo dos demais cursos superiores iniciam uma série de questionamentos em torno da duração, estrutura curricular, inserção de novas disciplinas, definição de linhas de pesquisa. A pretensão é obter uma estrutura curricular mais definida, compatibilizandose as diretrizes curriculares, linhas de pesquisa, disciplinas ofertadas e um corpo docente qualificado academicamente (Veloso, 2002). Compreende-se que o discurso pedagógico constitui-se com base em fontes – paradigmas científicos e correntes filosóficas – variadas, tendo sempre em vista a obtenção de metas educacionais, definidas no interior de certas intenções políticas e concepções de sociedade, variáveis de uma época para outra. A perspectiva histórica vem orientando as reflexões sobre a formação nos vários campos do saber. A reflexão sobre a formação profissional voltada para recursos altamente qualificados no ensino superior deve ser pensada integrada com uma formação pluralista, interdisciplinar, com a troca de experiências de docência e serviços, com a teoria e a prática. O Conselho Federal de Educação determina o ensino das Ciências Sociais na graduação odontológica, por meio das disciplinas Psicologia, Sociologia e Antropologia. De acordo com a idéia manifestada quando de sua implantação, entendeu-se que a formação das Ciências Sociais em Odontologia cumpre o importante papel de fornecer aos alunos um instrumental crítico necessário ao desempenho de sua profissão e de problematizar o impacto negativo que a atual formação tecnicista vem acarretando à prática odontológica. O dentista, assim como os demais profissionais, inscreve-se na divisão social e técnica do trabalho e

Construção social da prática Odontológica como os demais profissionais também é submetido a novas formas de produção, gestão, consumo, controle de sua força de trabalho. Dele é exigido um perfil sócio-técnico “moderno”, contendo dimensões, procedimentos “racionais” e profissionais, que passam a orientar sua requalificação. No contexto sergipano, a oferta de emprego sólido que permita a esses profissionais dedicar-se a uma atividade determinada de tempo integral, contribui para uma prática fundada em atividades complementares, onde o dentista possa oferecer livremente seus serviços, fixando o tempo e o custo de seu trabalho desenvolvendo uma relação de autoridade que lhe permite organizar a natureza, porém, não as condições de demanda de seu trabalho. Esta relativa autonomia para iniciar e organizar a atividade desenvolvida lhe confere a denominação de prática liberal (Oropeza, 1996). O trabalho é compreendido como atividade ontológica, estruturante do ser social, como um valor intrínseco à vida humana e ao conhecimento que ele proporciona na relação com a natureza e com os demais; abrange não somente o aspecto de uma atividade vital do homem, na dimensão produtiva, mas inclui também a relação do homem com as outras espécies e consigo mesmo, a relação homem-natureza que se estabelece pela interação social conforme os pressupostos habermasianos (Habermas, 1984). Nesse aspecto, é o trabalho um princípio de cidadania, no sentido de participação legítima nos benefícios da riqueza social, que se distingue das formas históricas e alienantes, de exploração do trabalhador, presentes na produção capitalista (Albornoz, 1986). Na contemporaneidade, o profissional, de um modo geral, encontra-se diante de um novo espírito científico e de uma mudança substantiva no mundo, no capitalismo, na morfologia e na cultura com alterações do espaço/tempo global, engendrando uma nova comunicabilidade no trabalho. Na discussão dos novos modelos produtivos, é preciso levar em conta o problema do sujeito, da subjetividade e das relações intersubjetivas, que condicionam o sucesso da implantação dos novos paradigmas. Cresce a im-

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portância da comunicação horizontal entre os trabalhadores, introduzindo-se o paradigma comunicacional. A demanda por “novas competências” constitui o novo e coloca-se no âmbito da transição do antigo para o novo paradigma. Hirata (1994), Cruz (2005), Zarifian (1990, 1991) e Zarifian e Veltez (1993), ao tomarem como referência a relação entre trabalho e comunicação, concebem a qualificação como capacidade de lidar com o imprevisto, isto é, de agir e reagir a situações imprevistas, com o reconhecimento dessa capacidade pela comunidade de produtores, o que caracteriza a “dimensão social da qualificação”. A discussão desvela a multidimensionalidade da construção social da qualificação, em virtude da crescente diversificação dos âmbitos econômico, cultural, político e organizacional e revela que, em cada âmbito, se dão diversas formas de constituição de sujeitos (Cruz, 2005; 2002). Os princípios da flexibilidade condicionam a utilização de novas habilidades também para o cirurgião-dentista que, embora de modo diferente, é submetido a novas formas de consumo e controle da força de trabalho, porque ele também participa da divisão sócio-técnica do trabalho. Compreende-se que o conhecimento especializado, “know-how”, como qualquer outro recurso, de qualquer forma, esgotar-se-á um dia, ao contrário das competências e habilidades comportamentais. Emerge a importância das qualificações, em função da necessidade de se discutirem as qualificações formais (componentes organizados e explícitos) e as qualificações tácitas (componentes implícitos e subjetivos do trabalhador). O foco nas competências/habilidades sinaliza que elas podem ser usadas para qualquer fim. Disso decorrem algumas implicações também no campo da Odontologia: a reestruturação do perfil desse profissional, dotado de maior nível intelectual, visto que o trabalho nos serviços (ligados às áreas de saúde, serviços especiais, educação e informação) exige uma visão mais completa da sociedade, um conhecimento mais complexo das atividades desenvolvidas. Revista da Fapese, v. 2, n. 1, p. 125-142, jan./jun. 2006

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O binômio Formação/Qualificação profissional está fortemente inserido nesse contexto em virtude da integração, no setor de serviços, de tecnologia especializada, como, por exemplo, o uso de computadores. Paiva (1998) nos alerta que indo além do mundo industrial, existem consensos sociais sobre o caráter geral e intelectual da formação exigida no mundo competitivo e moderno que emergiu com o fim da era keynesiana. Habilidades e qualificações como: elevada capacidade de abstração, de concentração e de exatidão ao lado da capacidade de comunicação verbal, oral e visual, são cada vez mais valorizadas no mercado de trabalho. Para a autora, não é nada simples e cada vez se mostra mais desafiante saber de fato qual a qualificação exigida neste novo mundo pós-moderno, pois, ao mesmo tempo, que se exige uma qualificação real, ou seja, formação de base sólida e de qualidade, exige-se virtudes capazes de assegurar uma adaptabilidade constante como também um elevado patamar de resistência psíquica, que vai além dos muros do ensino institucional e formal. O setor de serviços caracteriza-se por grande permeabilidade ao ingresso de novos trabalhadores (Offe, 1989). Os trabalhadores do setor de serviços desempenham importantes funções na sociedade (profissionais liberais como advogados, engenheiros, enfermeiros, assistentes sociais, médicos e dentistas, entre outros), prestam serviços de maneira individual ou como empregados de instituições, vendem sua capacidade de trabalho pelo preço que acham justo ou então se submetem à contratação por uma empresa que lhes paga um valor previamente atribuído (Pires, 1998). A Odontologia se reproduz como um trabalho especializado para o atendimento às demandas, necessidades sociais e de consumo. O principal valor dos serviços odontológicos é a qualidade do trabalho profissional a ser desenvolvido, seja de forma individual ou em associação entre pequenos grupos de técnicos especializados (ex: escritórios e as clínicas) e também com a criação de serviços especializados para o atendimento pessoal e a domicílio.

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O cirurgião-dentista deve estar cotidianamente instrumentalizado com os conhecimentos necessários à sua intervenção, de modo que possa responder às questões e demandas emergentes na sociedade. Por exemplo, a interatividade do trabalho do odontólogo/professor e pesquisador, coloca-o frente a exigências de “novas qualificações tácitas, sociais ou informais” (Wood, 1984), novas linguagens, ferramentas e máquinas (Ropé e Tanguy, 1997). A produção do conhecimento no trabalho integrado em equipes técnicas, em grupos, redes de pesquisa, coloca novas demandas de qualificação. As novas competências do envolvimento, participação, cooperação, responsabilidade e motivação do trabalhado são consideradas dimensões subjetivas humanas que contribuem também para mudar os paradigmas no campo da saúde/Odontologia neste início do terceiro milênio. Verifica-se que ao dentista é exigido um tipo de preparação que vai além do mero manuseio de ferramentas, da visão da Odontologia como uma prática científica, ou ciência objetivada, ou cristalizada, ou mesmo, que utiliza instrumentos tecnológicos que “nada possuem em comum com as aptidões do corpo humano, que interfere nos fenômenos estudados, constrói o próprio objeto científico, destina-se a dominar e transformar o mundo e não apenas a facilitar a relação do homem com o mundo” (Chauí, 1999, p. 278). A forma de conhecimento decorrente do modelo tradicional de ciência implica na separação/fragmentação e especialização/instrumentação, significando o monopólio de um saber, que exclui a Odontologia (produção, organização e formas de trabalho) do que há nela de essencial, sua humanidade (o trabalho e as relações sociais) e sua historicidade. A formação acadêmica pelo modelo clássico de ciência não apresentaria recurso suficiente para construção e preparação do novo trabalhador orientado por uma nova ética. Isso porque, juntamente com as qualificações técnicas específicas da profissão exige-se também uma qualificação/formação geral. Com-

Construção social da prática Odontológica preende-se como técnica e tecnologia, os saberes e as práticas que tomaram como objeto os dentes e eventualmente a boca1. Assim, o objeto da Odontologia não se restringe à boca, ou, de forma mais simplificada, aos arcos dentários, mas integra o homem, seu produto e produtor. Diferentemente da produção material, em que o produtor e o consumidor não se encontram presentes no momento da produção, na produção odontológica a presença do consumidor é imprescindível, sem a qual não se efetiva. O ato odontológico em si não se modificou, mas sim as maneiras ou formas de fazê-lo e, inclusive, os conhecimentos e habilidades necessários do profissional, ou seja, desenvolveram-se suas forças produtivas, modificando o trabalho de artesanal para um trabalho mecanizado e transformando-se as relações sociais de produção, reproduzindo, portanto, as relações capitalistas dominantes. Todas essas alterações inserem, paulatinamente, as atividades odontológicas no circuito da acumulação e valorização do capital (Iyda, 1998, p. 133). Não se deve esquecer que a flexibilização da formação nos níveis de graduação e pós-graduação objetiva oferecer uma sólida formação já garantida nas bases atuais, para ampliar as oportunidades adicionais de estudo, para que os profissionais trabalhem em instituições diversificadas, aprofundem a capacidade investigativa, inclusive atribuam ao aprendizado em pesquisa, relevância semelhante à percebida por docentes no âmbito universitário.

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ravam aliviar sua dor em templos religiosos através de receitas inovadoras que eram passadas para a posteridade de boca em boca e por meio de registros rudimentares. A evolução da Ciência Odontológica se deu à medida que as civilizações se desenvolviam e ocorreu de maneira incerta e confusa. A Odontologia era praticada em diversas regiões do Oriente Médio e foi no Egito onde se encontrou, em 1873, o mais antigo documento médico-odontológico escrito, o “Papiro de Eberes”. Neste texto há citações sobre o emprego de incensos, “mandrágora e meimendro” como solução analgésica, acredita-se que nessa época existiam alavancas em forma de pé de cabra para extração de dentes. Outras civilizações também se destacaram na Arte Dentária como os mesopotâmios, etruscos, fenícios, chineses e hindus. Há no Renascimento uma separação entre os procedimentos “clínicos” próprios dos médicos, que pouco foram alteradas até o século XVIII, e os procedimentos “cirúrgicos” exercidos pelos cirurgiões e outros “práticos”, que apresentarão um desenvolvimento significativo neste período. A evolução da cirurgia renascentista e as instituições hospitalares conexas estiveram em íntima relação com os acontecimentos políticos e militares daquele período, as guerras e suas novas armas, agora também de fogo. O saber abstrato e contemplativo cedia lugar ao saber operatório, dando à técnica, a sua plenitude, buscando encerrar assim o antagonismo entre o método, à experiência e conhecimento, permitindo, desse modo, que a intervenção manual não mais estigmatizasse a cirurgia, pelo contrário, permitindo que ela se tornasse científica (Nogueira, 1977).

1. Breve Histórico da Odontologia Historicamente, as principais causas das doenças bucais eram atribuídas a influências divinas e a cura se fazia por meios místicos. As pessoas procu-

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Para os historiadores da Odontologia, esta se inicia como tal, no século XVIII, quando identificam Pierre Fauchard como seu fundador (Ring, 1985). Cirurgião militar especializou-se como “cirurgião

A tecnologia integra um conjunto de conhecimentos que se aplicam a determinado ramo de atividade (ex: tecnologia mecânica, tecnologia elétrica, eletrônica)m enquanto a técnica abrange a parte material ou o conjunto de processos de uma arte ou habilidade para executar ações (ex: técnicas odontológicas, médicas, cirúrgicas, jurídicas etc).

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dentista” (termo cunhado por ele), publicando seu livro “O cirurgião dentista”; ou um “Tratado Sobre os Dentes” em 1728, no qual aborda as diferentes técnicas para tratamento de cáries, implantes e extrações, bem como para a prevenção e tratamento da doença periodontal. Com o seu prestígio, conseguiu dar destaque à Odontologia como especialidade cirúrgica, bem como ampliar a distância entre essa prática e a dos “puxadores de dentes”. Contudo, apesar de um aumento no número de cirurgiões dentistas dedicados a esta especialidade e a uma melhor técnica cirúrgica, não houve uma modificação significativa no conhecimento sobre os fatores determinantes das doenças, nem parece ter havido diminuição no desconforto e na dor dos pacientes, ou melhoras estéticas importantes, mesmo para aqueles com recursos. Embora desejáveis dentes perfeitos e bom hálito se constituíam nas exceções que garantiam o costumeiro, conforme pode ser apreendido pela iconografia da época (Novaes, 1998). No Brasil, a Odontologia começou a ser praticada desde o século XVI, época de sua descoberta, por barbeiros ou sangradores desinformados que realizavam extrações dentárias sem higiene e nenhum tipo de anestesia. As técnicas de “tirar dentes” eram passadas para as outras gerações sem nenhum tipo de teoria. Para exercer a Odontologia na época colonial, era necessário que os barbeiros ou tira-dentes possuíssem uma licença especial conferida pelo “cirurgião-mor”. Quem não possuísse essa licença poderia ser preso ou multado. Ao passo que a Odontologia se desenvolvia mundialmente com o surgimento de novos instrumentais, de novas técnicas e de materiais, o Brasil se adaptava às novas mudanças e tornava cada vez mais rígida a vigilância aos barbeiros. Ao mesmo tempo, surgiam profissionais diplomados em Odontologia vindos de outros países para exercer a profissão no Brasil, entre os quais, muitos deles alcançaram elevado conceito profissional no atendimento à nobreza (Uniodonto 2004; Rosenthal, 2001; Valladares Neto, 2000). No século XVIII, foi criada a Real Junta de Protomedicato, extinguindo-se os cargos de FísicoRevista da Fapese, v. 2, n. 1, p. 125-142, jan./jun. 2006

Mor e Cirurgião-Mor. O Protomedicato era uma junta médica composta por sete deputados, médicos e cirurgiões aprovados e com mandatos de três anos que passou então a emitir as Licenças e Cartas para que se pudesse exercer a função de tira-dentes. Alguns negros com habilidade manual adquiriam o aprendizado inicial com um profissional mais experiente, conquistando o direito de “tirar dentes” por meio de uma concessão feita pelo governo para que estes pudessem atender a outros escravos e pessoas carentes (Rosenthal, 2001). No século XIX, houve a criação do “Plano de Exames da Real Junta do Protomedicato” que estabelecia que o candidato à profissão de Dentista deveria prestar um exame para avaliar seus conhecimentos de Anatomia, métodos operatórios e terapêuticos. A primeira carta de Dentista foi concedida ao francês Eugênio Frederico Guertin, diplomado pela Faculdade de Medicina de Paris, que atingiu elevado conceito no Brasil e mais tarde publicou “Avisos Tendentes à Conservação dos Dentes e sua Substituição”, considerada primeira obra de Odontologia escrita no Brasil. A partir daí, a vinda de Dentistas de outros países se tornou freqüente; eles traziam consigo as novidades que surgiam na Odontologia mundial, além de novas idéias que posteriormente seriam implantadas no Brasil (Paixão, 1998). Em 1854, foram criados Exames para Dentistas através do Decreto nº 1387, que seriam aplicados em todas as Faculdades de Medicina com o objetivo de melhorar o ensino e combater o charlatanismo. Esses exames compreendiam uma parte teórica simples que englobava: Anatomia, Fisiologia, Patologia, anomalias dentárias, gengivais e alveolares, higiene dos dentes, descrição e utilização de instrumentais e meios de confeccionar próteses; e uma parte prática que consistia em extrair um dente de um cadáver. Em 1879, o artigo 24 do Decreto nº 7247 determinava: “A cada uma das Faculdades de Medicina ficam anexos: uma Escola de Farmácia, um Curso de Obstetrícia e Ginecologia e um outro de Cirurgia Dentária”. A Odontologia ainda era considerada puramente artesanal. Nesse período, as mulheres con-

Construção social da prática Odontológica quistaram o direito de se matricular nas Faculdades brasileiras, direito este que, até então, só era permitido aos homens (Rosenthal, 2001). Através do Decreto nº 9311 de 25 de Outubro de 1884, o governo imperial instituiu oficialmente o Curso de Odontologia nas Faculdades de Medicina da Bahia e Rio de Janeiro. A aprovação desse Decreto se deveu à brilhante atuação do médico Vicente Cândido Figueira Sabóia no desenvolvimento da Odontologia no Brasil. A partir da criação do curso superior de Odontologia, iniciou-se uma época de grande desenvolvimento didático e de organização da Odontologia moderna, sendo denominada Reforma Sabóia. Logo após a sua criação, o curso de Odontologia no Brasil seria realizado em três anos, mas em 1891 e 1893 ocorreram duas reformas reduzindo o curso para dois anos. Em 1919, o presidente Epitácio Pessoa promulgou um Decreto que transformou o curso oferecido pela Faculdade de Medicina em Faculdade de Odontologia, com duração de quatro anos. A partir daí foram criadas outras Faculdades no Estado de São Paulo e depois em Minas Gerais e, concomitantemente, surgiram a ABO (Associação Brasileira de Odontologia) e a ABENO (Associação Brasileira de Ensino Odontológico). Em fevereiro de 1926, foi fundada a Faculdade de Odontologia de Sergipe autorizada a funcionar por força do artigo 31 da Lei 938, iniciando o processo acadêmico em abril do mesmo ano com vinte e dois alunos matriculados. Em novembro desse mesmo ano, por considerar a manutenção do curso dispendiosa para o Estado, o Presidente do Estado, Ciro Franklin de Azevedo, decretou o encerramento das atividades da Faculdade de Odontologia. Alguns anos se passaram e foram surgindo novos cursos superiores em Sergipe. Esse processo gerou em um grupo de cirurgiões-dentistas sergipanos a vontade de trazer de volta a Faculdade de Odontologia no Estado. Este grupo, então, sob a liderança do Presidente Dr. Arício de Guimarães Fortes, elaborou os Estatutos que foram aprovados e publicados no Diário Oficial da União no dia 18 de junho de 1957.

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Diante das dificuldades encontradas para conseguir a sede e os recursos financeiros necessários ao funcionamento da Faculdade, houve vários desentendimentos entre os componentes da comunidade odontológica e isso levou a uma pausa nos trabalhos com esse fim. Em 28 de dezembro de 1966, o Governador do Estado de Sergipe assinou a Lei nº 448, criando a Faculdade de Odontologia de Sergipe. Em 1968 houve a inclusão do Curso de Odontologia na Universidade Federal de Sergipe e dois anos mais tarde este curso ofereceu dez vagas para o ingresso de interessados. O Ministério da Educação e Cultura (MEC) e o Conselho Federal de Educação admitem oficialmente a criação do Curso de Odontologia no dia 10 de novembro de 1970, ano de início de seu funcionamento na Faculdade de Ciências Médicas da UFS (Paixão, 1998).

2. Processo Pedagógico do Curso de Odontologia da UFS Os profissionais do curso de graduação da área de saúde orientam-se para exercerem uma ação direta na sociedade. Por esse motivo, necessitam de uma maior reflexão sobre sua estrutura, seus objetivos, seu perfil profissional e seu compromisso com a sociedade. Grande parcela da população brasileira na atualidade, ainda apresenta condições precárias de saúde oral apesar da formação de muitos profissionais em todo o Brasil. Assim, deve haver uma reformulação no conceito de saúde e doença para que a ciência progrida no sentido de trazer benefícios à população visando o homem como um ser biopsico-cultural e político (DOD – Projeto do Curso de Odontologia – Guia Acadêmico). No momento da sua fundação, o Curso de Odontologia teve o seu currículo aprovado pela Resolução nº11/70 da UFS, apresentando duas fases: o ciclo básico, constituído pelas disciplinas Anatomia, Histologia, Embriologia, Processos Patológicos Gerais, Fisiologia, Farmacologia, Parasitologia, Microbiologia, Bioquímica, Biofísica e Genética e EducaRevista da Fapese, v. 2, n. 1, p. 125-142, jan./jun. 2006

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ção; e o ciclo profissionalizante constituído pelas disciplinas Dentística Operatória, Clínica Odontológica I, Clínica Odontológica II, Endodontia, Radiologia Dentária, Odontopediatria, Materiais Dentários, Prótese Dentária I, Prótese Dentária II, Ortodontia, Prótese Bucomaxilofacial, Cirurgia Bucomaxilofacial, Exodontia, Odontologia Preventiva e Social, Odontologia Legal e Deontologia Médica e Patologia Buco-Dentária. A partir desse momento, o curso passou por duas alterações curriculares, uma através da Resolução nº 22/79/CONEP, anexo 19 e outra pela Resolução nº 09/85/CONEP. A primeira alteração ocorreu pela necessidade de o curso se adequar à Lei das Diretrizes Bases (LDB) do Ministério da Educação e pela mudança que ocorreu na administração universitária com a criação dos Centros, dentre os quais o Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS), composto, na época, pelos cursos de Medicina, Odontologia, Enfermagem, Biologia e Educação Física. A outra alteração ocorreu em 1985, em adequação à resolução nº 04 de 03 de setembro de 1982, do Conselho Federal de Educação, que fixa o mínimo de conteúdo e duração dos Cursos de Odontologia, além da necessidade de adequação à realidade de ensino da UFS (Paixão, 1998). Com base no currículo mínimo definido na resolução nº04/82/CFE, a ABENO apresentou ao MEC um documento intitulado “Padrão Médio de um Curso de Odontologia”, a partir daí todos os Cursos de Odontologia do país, públicos ou particulares, passaram a ser incluídos no Exame Nacional de Cursos e passaram a receber visitas de membros da Comissão de Especialistas de Ensino em Odontologia, objetivando analisar os pedidos de autorização de funcionamento e reconhecimento de novos Cursos, além de avaliar os já existentes. Ficou decidido que todas as disciplinas deveriam apresentar seus fundamentos articulados e que o currículo pleno traduziria o perfil do profissional que se deseja graduar, através de seus objetivos, das ações a serem desenvolvidas a fim de atender as necessidades da comunidade e o mercado de trabalho. Revista da Fapese, v. 2, n. 1, p. 125-142, jan./jun. 2006

As diretrizes curriculares orientaram o trabalho de professores do curso na reformulação do currículo então vigente até chegar ao currículo atual. Nesse período, houve mudança no espaço físico do curso, inclusive, na transferência do mesmo das dependências do Hospital Cirurgia para instalações próprias construídas no complexo do “Campus da Saúde do Hospital Universitário” (Paixão, 1998). Atualmente, são ofertadas 40 vagas anuais para o Curso de Odontologia e este tem a duração mínima de dez períodos (cinco anos) e a duração máxima de dezoito períodos (nove anos) distribuídos em 258 créditos obrigatórios e 16 créditos optativos, totalizando 274 créditos, podendo o aluno cursar o máximo de 34 créditos por semestre (DAA; Resolução nº 57/02/CONEP). O Curso de Odontologia com seus trinta e cinco anos de existência colabora com as oferta de diversos serviços de atendimento odontológico à comunidade por meio de prevenção e solução dos problemas de seus assistidos. É dever do Curso formar profissionais com uma visão global capazes de aplicar princípios biológicos, científicos e éticos, na prevenção, recuperação e manutenção da saúde bucal da população, por meio de ações preventivas e curativas, atuando nos diferentes níveis individuais ou coletivos nos serviços públicos e privados, conscientes de suas responsabilidades como agentes transformadores da sociedade, garantindo-lhe a melhoria da qualidade de vida, a partir da promoção de saúde bucal (Paixão, 1998). O acadêmico deve praticar ações preventivas e curativas, multidisciplinares e multi-institucionais durante a graduação para que no futuro profissional conheça e perceba a realidade sócio-econômica, cultural e política da população, objetivando a melhoria da qualidade de vida e o aumento da expectativa de vida do indivíduo. O Curso de Odontologia tem como objetivos tornar os cirurgiões-dentistas capazes de exercer a clínica odontológica geral; capacitar o graduando a desenvolver uma filosofia preventiva; diagnosticar os problemas buco-maxilo-faciais prevalentes; elaborar e executar tratamentos compatíveis; desenvolver caráter ético, deontológico e le-

Construção social da prática Odontológica gal relacionados à sua prática profissional; desenvolver ações em equipes multidisciplinares, multiprofissionais e multi-institucionais, enfatizando a promoção de saúde; planejar e administrar serviços de saúde comunitários; desenvolver uma formação humanística valorizando o homem enquanto ser bio-psico-sócio-cultural-político no seu campo de ação; capacitar o aluno a atualizar-se nas ações especializadas da Odontologia (DOD – Projeto do Curso de Odontologia; Resolução nº 57/02/ CONEP).

3. Perfil do Profissional no Campo da Odontologia Ingressos na UFS A Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza uma relação ideal de cirurgiões-dentistas por habitante de 1/1500. A relação média de cirurgiõesdentistas por habitante é de 1/1000. Isso implica que, no Brasil há mais cirurgiões-dentistas do que o necessário havendo um inchaço no mercado de trabalho e uma desvalorização da mão de obra. O Estado mais problemático nesse sentido é o de São Paulo que possui uma relação de 1/670 dentista por habitante. Sergipe também se encontra numa situação preocupante, pois sua relação é de 1/982 (Rosenthal, 2001). O excesso de cirurgiões-dentistas é visto com preocupação para aqueles que não estimulariam seus filhos e as novas gerações a estudar Odontologia (Morgenstern, Feres e Petrelli, 2004). Numa perspectiva otimista, contudo, entende-se que a dinâmica

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da sociedade sempre abre possibilidades para os profissionais com elevada qualificação. A análise do perfil dos ingressos no curso de Odontologia da UFS entre 1990-2004, descobre a existência de 64,3% mulheres e 35,7% homens (respostas a questionário para a inscrição no exame vestibular no período de 1990-2004). Os egressos da UFS no período do estudo totalizam 443 dentistas, entre os quais, (69,7%) mulheres e (30,3%) homens. A participação em órgãos de categoria com freqüência é reduzida ao dever de inscrição, isso porque 66,7% dos dentistas não participa desses órgãos de representação e 5,7% participa pouco, enquanto 27,3% participa ativamente. Assim, a classe Odontológica parece pouco interessada em exercer seus direitos e exercitar sua cidadania. Em outras palavras, a capacidade de estabelecer relações entre a esfera do conhecimento e do social, importante para o exercício da cidadania, não parece ir além da relação individual entre dentista e paciente com enfoque principalmente na conduta profissional do dentista. Em Sergipe existem 1.982 dentistas entre eles, 1.629 cadastrados no CRO – Conselho Regional de Odontologia. Esse órgão não informa a universidade de origem dos inscritos, dos quais, 67% são mulheres e 33% são homens, aproximando-se dos resultados quando do ingresso no curso, o que sinaliza uma tendência à feminização (concentração de mulheres nessa profissão, conforme o Gráfico I ).

Profissionais Inscritos No CRO Fonte: CRO, em 20/12/2004

Gráfico 1 - Total de cirurgiões-dentistas por sexo

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O ano de 2004 curiosamente foi o que apresentou o mais elevado índice de inscritos no CRO (24,74%), seguindo-se os anos de 2001 (11,72%) e 1997 (11,53%). Os dentistas concentram-se nas faixas etárias de 31 a 40 anos, seguindo-se as faixas etárias de 20 a 30 anos e a de 41 a 50 anos, sinalizando a predominância de jovens profissionais, possivelmente decorrente da ampliação das oportunidades de ingresso de alunos de classe média para o curso de Odontologia na rede de ensino privada em Sergipe (UNIT). Um grande contingente de ingressos (91,22%) realizou o ensino médio totalmente em escola particular, comprovando o nível de renda e o status sócio-econômico de suas famílias. Apenas 3,5% deles realizou parte dos estudos em escolas privadas e públicas, enquanto 5,26% cursou parte dos estudos em escola particular. A escolaridade de nível superior dos pais (54,4%) e das mães (42,1%) dos alunos reflete, provavelmente, valores da classe social a qual pertencem. Segue-se um pequeno grupo que apenas concluiu o ensino médio (apenas dois pais de egressos nunca freqüentaram a escola). Durante a formação graduada, 89,5% dos ingressos não exercia atividade remunerada e provavelmente não sofria pressões imediatas para a inserção no mercado de trabalho e para ajudar no orçamento familiar. Assim, o horário de funcionamento do curso no período diurno, não pareceu afetar a rotina dos estudantes.

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Em cada semestre do ano, ingressam no curso de Odontologia vinte alunos, não havendo, contudo, entre 1990 a 2004 o mesmo número de concludentes. Assim, as estatísticas sobre a freqüência total de formandos no período estudado são bastante diversificadas, devido ao atraso na conclusão do curso originada por diversos motivos. Na idade em que prestaram o vestibular, provavelmente o conhecimento sobre o significado e os desafios da profissão era difuso. No momento do acesso ao curso, 94,7% eram solteiros, significando o adiamento de projetos de constituição de família para o final do processo de formação. A escolha do curso apóia-se em alguns motivos expressos como: domínio da habilidade manual (61,11%) considerada entre os candidatos e ingressos ao curso de Odontologia, como necessária para o exercício da prática profissional, expectativa de investimento e retorno financeiro na profissão (27,77%), influência de parentes (dentistas na família) e escolha por eliminação de interesses (11,12%). Assim, o processo de escolha da carreira e profissão ainda parece sofrer a influência de estereótipos de papéis adequados de acordo com o sex (Quadro 1).

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Quadro 1 - Escolha das Especialidades de Acordo com o Sexo. ESPECIALIDADE Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofaciais Dentística Restauradora Endodontia Odontologia Legal Odontologia em Saúde Coletiva Odontopediatria Ortodontia e Ortopedia Facial Patologia Bucal Periodontia Prótese Bucomaxilofaciais Prótese Dentária Radiologia Implantodontia Estomatologia Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial Odontologia do Trabalho Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais Odontogeriatria Ortopedia Funcional dos Maxilares TOTAL

MASC 16 2 11 1 0 1 12 1 8 0 12 6 0 0 3 2 1 0 1 77

FEM 0 31 29 1 2 29 8 2 12 1 14 6 1 2 1 0 2 1 17 159

TOTAL 16 33 40 2 2 30 20 3 20 1 26 12 1 2 4 2 3 1 18 236

Fonte: CRO/SE em 29/07/2004

Entre os egressos, observa-se uma tendência à divisão das especialidades de acordo com o sexo do profissional, sugerindo que os estereótipos de papéis construídos historicamente, continuam a definir as escolhas de carreiras e profissões. Na sociedade, as representações são construídas pelo imaginário social. As mulheres concentram-se em algumas especialidades: Dentística Restauradora, Endodontia, Odontopediatria e Periodontia (tais especialidades requerem destreza manual e minúcia na realização dos procedimentos, além de muita paciência (no caso de Odontopediatria), enquanto os homens escolhem outras especialidades como: Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, que requer atitudes rápidas e precisas além de uma força física considerável. Nesta última especialidade, curiosamente, não foi registrada a presença de mulheres em Sergipe. Os maiores centros urbanos absorvem com maior freqüência os cirurgiões-dentistas, isso porque a ampliação das demandas da população, a pressão

exercida sobre os governantes influencia no planejamento e na execução de políticas e serviços diversificados de saúde. A capital sergipana oferece as maiores chances de inserção de dentistas ao mercado de trabalho (91,78%). As cidades restantes (58) dividem no mercado de trabalho 8,22% dos cirurgiões-dentistas de Sergipe. Essa distribuição não é homogênea, isso porque cidades como Itabaiana, Lagarto, Estância, Propriá e Itabaianinha são responsáveis pela inserção de 4,63% dentistas no mercado de trabalho. Os cirurgiões-dentistas (3,59%) restantes estão distribuídos entre 31 cidades como: Arauá, Brejo Grande, Carira, Laranjeiras. Nos municípios de Pedrinhas, Ribeirópolis não se encontram cirurgiões-dentistas prestando serviços. A escassa presença de dentistas em vários municípios sergipanos indica possibilidade de ampliação desse mercado de trabalho para esses profissionais, sendo necessário que sejam implementadas políticas de saúde que possibilitem a inserção democrática via concursos.

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4. A Construção de Experiências A concepção de representação social de Jodelet (1989, p. 36) foi adotada por deter um amplo consenso, por incluir a dimensão ideológica e permitir identificar os elementos da cognição, os investimentos afetivos, os elementos axiológicos, ressaltandose os elementos históricos identificados: “A representação social é uma forma de conhecimento socialmente elaborada e partilhada, tendo uma visão prática e concorrendo para a construção de uma realidade comum a um conjunto social”. Assim, estruturam-se imagens de que as atividades que necessitam de precisão, agilidade manual e leveza, habilidades finas são próprias de mulheres, que adquirem as habilidades motoras pelo processo de socialização no âmbito doméstico da família via educação informal.

Embora exista concordância sobre a importância da tecnologia para a Odontologia, os dentistas reconhecem a necessidade de atualização permanente para acompanhar o surgimento de novidades no mercado e apontam o alto custo dos aparelhos modernos como um dificultador: “A tecnologia influencia muito na qualidade do trabalho do Dentista, o único problema é o preço dos materiais e instrumentos muitas vezes inacessíveis”. As mudanças no processo de formação foram atribuídas a alguns aspectos: inclusão e desmembramento de disciplinas, redução de créditos optativos e aumento na duração do curso.

Ao se estudar de forma empírica os procedimentos, as rotinas, as tarefas que compõem necessariamente o trabalho do dentista, não se pode deixar de questionar quais os meios de trabalho que compõem os processos próprios desse profissional, mostrando a fertilidade da apropriação dos instrumentos e a representação deles sobre sua formação.

Entre aqueles que vivenciaram mudanças curriculares na época da graduação, tais mudanças foram avaliadas positivamente, mesmo considerando que a formação recebida nesse nível ainda está longe de fazer do curso de Odontologia um curso perfeito: “(...) presenciei duas mudanças de currículo. O curso era de quatro anos, depois passou a ser de quatro anos e meio e agora é de cinco anos. Algumas disciplinas que eram únicas se dividiram, outras deixaram de existir; ocorreram mudanças para melhor mas o curso ainda está muito aquém do que deveria ser”.

O trabalho autônomo, para os respondentes, ocupa o maior espaço no mercado de trabalho, seguindo-se outras formas de prestação de serviços (planos odontológicos, postos de saúde e hospitais), detectando-se a problemática do declínio do status profissional. Sobre os impactos das mudanças tecnológicas no trabalho dos dentistas, as respostas foram unânimes em considerar que a tecnologia traz muitas vantagens, permitindo que o tratamento seja realizado com maior rapidez, tornando o pós-operatório mais confortável para o paciente, reduzindo o tempo do procedimento, favorecendo o aumento da produtividade e dos rendimentos do profissional, possibilitando, ainda, ampliar o atendimento a um maior número de pacientes e o nível de vida com qualidade. É importante reconhecer que as técnicas e tecnologias odontológicas não se confundem com a profissão do odontólogo.

Os conteúdos disciplinares mais utilizados na prática profissional são relacionados com as disciplinas: Dentística Restauradora, Periodontia e Exodontia, Odontopediatria, Endodontia e Radiologia, seguindo-se os conteúdos das disciplinas: Prótese, Diagnóstico, Patologia, Ortodontia, Odontologia Social e Preventiva, Farmacologia, Oclusão, Materiais Dentários, Anatomia, Escultura Dentária, Odontologia Legal e Psicologia. Existe o entendimento de que algumas melhorias poderiam ser introduzidas no curso de Odontologia por meio da inserção de novas disciplinas: Implantodonia, Odontogeriatria, Ortodontia e Cirurgia Urgência, Terapêutica, Administração, Marketing, Economia. Algumas respostas incidem sobre a ampliação dos alunos no acesso à pesquisa, iniciação científica, projetos de extensão, experiências de monitorias e estágios extra-curriculares: “É muito difícil a parti-

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Construção social da prática Odontológica cipação de alunos nessas experiências no curso de Odontologia. Elas são importantes para o crescimento profissional e oferecem noção do trabalho em equipe”. Existe o consenso de que a mobilidade social e melhoria do processo de formação ocorrem ao mesmo tempo em que o nível da educação superior brasileira não é, em geral, muito bom, e os ensinamentos obtidos nas escolas não são os mais adequados para as exigências do mercado de trabalho. A educação pública escasseia, e os estudantes precisam pagar relativamente caro para fazer seus cursos em instituições de ensino privadas e de reputação nem sempre alta. São vários os fatores que influenciam na adaptação do indivíduo ao seu meio ambiente: sentimentos, emoções, comportamentos, hábitos, família, emprego e outros fatores relacionados com seu modo de vida. Para alcançar uma abordagem mais complexa do processo de formação, inclusive, entende-se como necessário um redirecionamento da formação de profissionais de saúde, bem como dos sistemas de atenção básica de saúde, buscando caminhos para que esta possa contar com: A educação permanente por meio de diversos cursos é considerada indispensável, tanto para acompanhar as modificações tecnológicas, quanto para sobreviver no mercado de trabalho competitivo, não só no campo da Odontologia, como também em todos os campos profissionais. Esse aspecto, mostra o empenho do dentista em manter-se em sintonia com as novas demandas postas pela sociedade: “A qualificação profissional é importantíssima para se manter no mercado, até porque a concorrência é muito grande e só se estabelece quem estiver mais atualizado”. Nessa linha de reflexão, são identificados novos saberes e habilidades necessárias ao desempenho profissional: “(...) O dentista deve ter familiaridade com novas tecnologias, informática, conhecimentos de administração, contabilidade, economia, matemática, finanças, marketing, além de habilidades psicológicas e relações públicas”. Existe consenso de que o dentista tem que ter uma idéia de administra-

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ção, inicialmente para administrar o seu próprio consultório e saber lidar com o paciente: “Isso é muito falho no currículo. Na minha época, a formação acadêmica não oferecia noção de tudo isso”. Não se deve esquecer que a valorização de novos saberes sociais, da qualificação social, das novas competências sociais possibilita o resgate do sujeito, o fortalecimento da cidadania, extensiva a todo o conjunto de segmentos de trabalhadores, na sua heterogeneidade (Leite, 1994). A variante da educação informal considerada pelo estudo – as qualificações tácitas – investigada através das representações dos dentistas sobre algumas de suas experiências diárias, constitui-se como uma das mais valiosas fontes de aquisição da qualificação. Seja por meio da experiência de aprendizagem com os colegas; seja pela reflexão coletiva em diversos cursos, seja através da significação atribuída às experiências cotidianas, o fato é que reconhecem e valorizam a aquisição da qualificação como um processo contínuo no cotidiano de trabalho. A informática oferece uma nova cartografia, um novo mapa da realidade, um novo padrão de conhecimento científico. O acesso à informação científica e técnica, embasada em uma cultura geral ampla, difundida pela educação em seus diversos processos, fundamenta a formação de sujeitos críticos, capazes de interpretar as situações que vivenciam e de construir ações de co-responsabilidade em um projeto de desenvolvimento democrático voltado para a construção da cidadania. Atualmente, o uso crescente da digitalização direta de dados exige novos conhecimentos, informações e qualificações para as atividades desenvolvidas por pesquisadores que utilizam metodologias informatizadas: quantitativas e qualitativas. O trabalho integrado em equipes técnicas, em grupos e redes e as novas demandas de qualificação emergem para os dentistas, para além dos conhecimentos técnicos e exigem flexibilidade, capacidade e disponibilidade para esse trabalhador, de mobilizar os diferentes saberes na resolução de problemas e imprevistos com que se depara no trabalho e na Revista da Fapese, v. 2, n. 1, p. 125-142, jan./jun. 2006

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vida. Desse modo, essas alterações inserem, paulatinamente, as atividades odontológicas no circuito da acumulação e valorização do capital (Iyda, 1998, p. 133). Levando em conta a importância das atividades desenvolvidas pelos profissionais que compõem as equipes de saúde, considerou-se pertinente conhecer como têm ocorrido a formação dos profissionais e também a integração e a articulação entre equipes responsáveis pela interação entre a comunidade e o serviço de saúde. Para isso, procurou-se identificar as temáticas que promovem consenso e divergência entre os membros das equipes e a comunidade, além das formas de atuação e capacitação nesse contexto. As relações hierárquicas no trabalho integrado em equipes constituem-se como “uma relação saudável, pois alguém tem que liderar uma equipe de forma que haja uma interação entre as pessoas envolvidas e isso só traz benefícios desde que o superior na hierarquia tenha uma formação voltada para a saúde”. Nesse caso, o sucesso nas relações de trabalho é sempre atribuído à integração entre os membros da equipe. É importante reforçar que coexistem, atualmente, várias possibilidades de organização das práticas em saúde.

5. Projetos e Expectativas Pessoais e Profissionais A sociedade fomenta uma multiplicidade de motivações produzindo a necessidade de formulação de projetos, inclusive contraditórios ou conflitantes, fragmentando a memória e o sentido de identidade do indivíduo, que depende, em parte, da organização desses fragmentos. O projeto, expresso através de conceitos, palavras, categorias, seria um instrumento básico de organização de fragmentos e de negociação da realidade com outros atores sociais, individuais ou coletivos. Os custos financeiros e o afastamento da família, para os respondentes, constituem obstáculos para a concretização de projetos de carreira e requalificação:

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“Tenho planos de fazer especialização em cirurgia e trabalhar em hospital. Prefiro trabalhar em hospital a atuar em clínicas. Os custos dos cursos dificultam, porque os salários são baixos, os ganhos escassos, insuficientes para o pagamento. Os melhores cursos sempre são realizados fora do Estado, obrigando-nos a mudar de rotina e onerando ainda mais pela necessidade de se pagar a moradia”. A este respeito, Velho (1988) articula memória e projeto: a primeira dá uma visão retrospectiva, do passado; o segundo permite uma visão prospectiva, projetando o futuro, ambos contribuindo para situar o indivíduo, suas motivações e o significado de suas ações, dentro das conjunturas de vida, na sucessão das etapas de sua trajetória. O projeto é uma “conduta organizada para atingir finalidades específicas”, seja de um grupo social, um partido, ou outra categoria (Schutz, 1979). A possibilidade de condução de projetos depende da consciência e da valorização de uma individualidade singular, baseada em uma memória capaz de dar consistência à biografia. É a memória que permite uma visão retrospectiva mais ou menos organizada da trajetória, sendo o projeto a antecipação no futuro dessa trajetória ou biografia, na medida em que busca através do estabelecimento de objetivos, a organização dos meios através dos quais esses objetivos poderão ser atingidos. Em outros termos, significa que a emancipação humana se faz na totalidade das relações sociais onde a vida é produzida. A esse respeito, o historiador francês Pierre Nora (1984, p. 24) desenvolveu uma importante reflexão sobre “os lugares de memória” que são os arquivos, as bibliotecas, os dicionários, os museus, cemitérios e coleções, assim como as comemorações, as festas, os monumentos, santuários, associações, testemunhos de um outro tempo, “sinais de reconhecimento e de pertencimento a um grupo” em uma sociedade onde se tende a perder os rituais, a dessacralizar as

Construção social da prática Odontológica fidelidades particulares, onde se nivela por princípio e tende-se a reconhecer apenas indivíduos iguais e idênticos. Michel Pollack (1989) trata com propriedade o tema da memória e do esquecimento na construção da identidade dos grupos sociais. As “memórias subterrâneas” competem na consolidação de uma história, de uma versão, do papel de um determinado grupo social, na preservação ou no esquecimento de certos fatos e de seus significados. Pollack destaca o que ele chama de trabalho de “enquadramento” da memória, que reinterpreta continuamente o passado em função dos embates travados no presente, em função da identidade dos grupos detentores dessa memória. Em um segundo texto, Pollak (1992) trata, especialmente, dos processos e dos atores que intervêm na formalização e consolidação da memória. O projeto seria um meio de comunicação, expressão, articulação de interesses, objetivos, sentimentos e aspirações, elaborado permanentemente, reorganizando a memória do indivíduo, dando-lhe novos sentidos e significados, o que repercute em sua identidade. A idéia de que a memória é seletiva pode ser explicada pela dinâmica dos projetos e da construção de identidades, que mantêm o passado em permanente reconstrução. Com isso queremos dizer que a identidade que a universidade e seus professores, gestores, funcionários e dentistas egressos constrói, é um processo dinâmico, sujeito permanentemente à reformulação relativa às novas vivências, às relações que estabelecem. De outra parte, esse processo está fortemente enraizado na cultura do tempo e do lugar onde os sujeitos sociais se inserem e na história que se produziu a partir da realidade vivenciada, constituindo “um lugar de memória”.

6. Apreciações Conclusivas A sociedade experimenta uma fase em que as mudanças, tanto no plano político, ideológico e cultural, quanto no plano técnico e científico exigem que se avaliem as práticas tradicionais de aquisição de conhecimentos e suas interações cotidianas, bem como seus modelos de políticas educativas – seja na

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universidade, na escola, seja no trabalho, que dêem conta do enfrentamento posto na ordem do dia pelas atuais transformações do trabalho. Estamos assistindo o reordenamento social das profissões com profundas implicações salariais, de status social e profissional e de qualificação, tem embaralhado as cartas no que diz respeito ao possível espectro profissional futuro. E este é um processo que ocorre junto com a complexificação, ampliação e sofisticação da formação. Não ocorre apenas o desaparecimento de setores qualificados e o surgimento de novos, com novas demandas; mas uma clara desvalorização das profissões tradicionais em todos os níveis de qualificação. Trata-se de um processo amplo que, embora varie de acordo com condições diversas de mercado de trabalho, aspectos culturais de cada país, vem atravessando o mundo dito “pós- moderno” e globalizado e está redefinindo a compreensão do papel de cada profissão. A expansão do capitalismo global nas últimas décadas e seus desdobramentos nos campos da educação e saúde, particularmente no campo da Odontologia, constituem o principal foco deste estudo. O tema se faz presente nas investigações sobre os diferentes sentidos atribuídos à noção de ‘empregabilidade’ e sua relação com a divisão internacional do trabalho, sobre a mundialização da educação, com foco no Brasil e sobre as relações objetividade-subjetividade no sistema capitalista de produção global. A empregabilidade prega que o trabalhador tem que estar apto e aberto ao trabalho de forma plena e total, esta recomendação (exigência) vem imprimindo mudanças no processo de trabalho das mais variadas profissões como também no estilo de vida das pessoas. Nessa perspectiva, a proposta de competência para empregabilidade se sustenta à tese que a qualificação intelectual é a principal fonte de competência do mundo moderno. Pode-se hoje afirmar que um elevado patamar de educação e de conhecimento real, passível de utilização crescente, é condição para o funcionamento adequado das sociedades modernas contemporâneRevista da Fapese, v. 2, n. 1, p. 125-142, jan./jun. 2006

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as. Não se trata apenas de conhecimentos específicos, por mais que estes sejam importantes, principalmente em sociedades nas quais os serviços são especialmente caros, a exemplo dos serviços no campo da Odontologia, e devem ser realizados por profissionais com elevada competência. Com base nos dados, observa-se que as fronteiras entre trabalho manual e intelectual e entre espaço profissional e doméstico tendem a se reduzidas. Muitos autores vêm se perguntando se, não estaríamos frente, ao fim da tradicional divisão do trabalho na medida em que o trabalho intelectual acopla-se de forma cada vez mais visível com o trabalho manual. Contudo, os modelos familiares e os atributos de classe/gênero (sexo, estado civil, número e idade dos filhos), influenciam fortemente na construção diferenciada da identidade pessoal e profissional das dentistas e continuam a exercer forte poder de influência e imitação quanto a opções de carreira, profissão e requalificação. Para as dentistas, os atributos de gênero dificultam a construção de projetos de carreira, mas com força de vontade, planejamento e uso de estratégias, é possível integrar seus papéis privados/reprodutivos e públicos/produtivos, conciliar os projetos de carreira e profissão. È possível afirmar que os odontólogos formados na UFS são capazes de aplicar conhecimentos técnicos fundamen-

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tais para a abordagem dos problemas, com uma certa percepção ampliada da realidade, uma postura democrática de respeito aos saberes dos outros profissionais e oportunizadora de discussão. Entre outros aspectos, esse estudo permitiu apontar o problema do não estabelecimento, a contento, de um sistema de referência e contra-referência que atenda às novas exigências de formação no campo da Odontologia, assim como às demandas do campo da saúde. Melhor dizendo, as representações dos respondentes sobre a formação não se mostram homogêneas. Além disso, é preciso reconhecer que a complexidade das problemáticas do campo da saúde não está apenas relacionada com esse campo, mas tem interface com os campos político, econômico, cultural e social, com o sistema como todo. Isso indica a necessidade de se aprofundarem estudos para buscar alternativas para redirecionar a formação visando atender aos interesses dos dentistas e usuários dos serviços de saúde. Nesse contexto, os desafios devem ser enfrentados por todos que participam no processo educacional, incluindo professores, alunos, profissionais e membros das comunidades a partir de perspectivas distintas, e com resultados nem sempre satisfatórios relativamente às expectativas que existem sobre a educação e o currículo, em particular.

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