Construindo a animação 3D \"Dias Velho e Os Corsários\"

June 1, 2017 | Autor: Victor Nassar | Categoria: Design, Animation, Character Design, Scenarios, Animação
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CONSTRUINDO A ANIMAÇÃO 3D “DIAS VELHO E OS CORSÁRIOS” BUILDING THE 3D ANIMATION “DIAS VELHO E OS CORSÁRIOS” Victor Nassar1, Milton Luiz Horn Vieira2, Thiago Caminha3 (1) MSc, Universidade Federal de Santa Catarina e-mail: [email protected] (2) Dr, Universidade Federal de Santa Catarina e-mail: [email protected] (3) Graduado, Universidade Federal de Santa Catarina e-mail: [email protected] Palavras-chave: Animação, Design de Cenário, Design de personagem.

Este artigo objetiva apresentar o desenvolvimento da construção gráfica da animação 3D “Dias Velho e os Corsários”, sobre a colonização de Florianópolis-SC. Inicia-se com uma abordagem da animação para representação de fatos históricos e na educação. Em seguida, incluem-se a pesquisa realizada e as criações do cenário e personagem principal.

Key-words: Animation, Design Scenario, Character Design.

This article presents the development of graphical construction of 3D animation "Dias Velho e os Corsários", about the colonization of Florianópolis-SC. It starts with an approach to the animation representation of historical facts and in the education. Then include the survey and the creations of the setting and main character.

1. Introdução O projeto “Dias Velho e os Corsários” visa adaptar o conteúdo didático do livro utilizado no suporte do ensino da história catarinense a uma animação 3D de média-metragem. Tal ação justifica-se no apelo que este tipo de produto tem para o público infantil contemporâneo. Assim, o objetivo do presente artigo é apresentar o desenvolvimento da construção gráfica da animação, em especial sobre a etapa de desenho da Ilha de Florianópolis, em Santa Catarina, e o personagem principal Francisco Dias Velho. O artigo inicia com uma fundamentação teórica sobre a utilização da animação para a representação de um fato histórico e aplicada à educação. Em seguida, aborda-se a história da publicação “Dias Velho e os Corsários”, utilizada como adaptação para a animação. A seguir, tem-se a etapa de pesquisa, com as ilustrações e referências que foram utilizadas na produção. Com isso, pode-se incluir o desenvolvimento da construção da animação, com o desenho do cenário, composto pela Ilha de Florianópolis (praia

e vegetação) e a caracterização do protagonista Dias Velho. Por fim, espera-se contribuir com o design de animação, destacando aspectos positivos, as etapas de maiores dificuldades no projeto e as soluções encontradas para a criação dos modelos em 3D.

2. A animação utilizada para a representação histórica auxiliando a educação Ao longo dos anos, tem-se utilizado a animação como um recurso estratégico para a representação de fatos históricos dos quais não se tem um registro preciso em imagens, vídeos ou mesmo documentos. Da mesma forma, a animação também funciona para representar situações que vão além dos elementos visíveis, criando uma relação com o lado subjetivo dos personagens e eventos. Assim, ao refletir momentos históricos, a animação também encontra abrigo no processo de ensinoaprendizagem, sendo utilizada em sala de aula com fins didáticos. Quando há o propósito claro de

animar determinado conteúdo histórico, encontram-se diferentes objetivos relacionados. Para Ainsworth (2008), o uso de animações na educação pode facilitar a aprendizagem, pois é capaz de representar ações que não podem ser vistas normalmente (ex.: correntes marítimas, funções biológicas), fenômenos abstratos (ex.: equações matemáticas) ou mesmo atuar como elemento de motivação (utilizando agentes pedagógicos e lúdicos). Em pesquisa de Alves, Battaiola e Spinillo (2012), os autores apontam as seguintes contribuições da animação utilizada como ferramenta na educação: 1) Facilitar a aprendizagem; 2) Capacitar a aprendizagem, tornando possível o entendimento do conteúdo; 3) Aproximar o aluno do conteúdo, tornando-o relevante; 4) Motivar o aluno; 5) Atrair a atenção e gerar interesse; 6) Melhor apresentação do conteúdo; 7) Permitir interação com o conteúdo; 8) Atender a diferentes formas de aprendizagem; 9) Para divertir, contar histórias, contextualizar e introduzir conteúdos. Com isso, observa-se que a utilização de animações para representar momentos históricos pode funcionar não apenas na concretização animada destes eventos, mas também no auxílio da educação. Ao retratar a história da publicação “Dias Velho e o Corsários”, pode-se criar suporte para as aulas de história e fomentar outras atividades escolares, além da valorização da história e cultura local.

3. Dias Velho e os Corsários “Dias Velho e os Corsários” é um livro infantil em formato de história em quadrinhos que trata de um episódio específico da história do estado de Santa Catarina – a colonização de Florianópolis-SC em 1975 –, voltado ao público em idade escolar da época de sua publicação.

Figura 1 – Livro Dias Velho e os Corsários Fonte: Conceição (1988).

A história traz como cenário a Ilha de Santa Catarina, lugar habitado por índios, negros, animais e alguns brancos, tendo como líder seu Capitão-Mor Francisco Dias velho, bandeirante paulista que tivera o encargo de desenvolver as terras do sul, um navio de corsários ancora na praia para arrumar estragos feitos em batalhas anteriores. Depois de ser informado por seu filho que um grupo de piratas ingleses fora visto por um índio aliado na praia ao Norte da Ilha, Dias velho decide surpreender e prender os larápios em uma emboscada. Depois de prendê-los e tomar sua prata, Dias velho encaminha os Corsários para serem julgados na cidade de Santos pelos seus crimes nas terras brasileiras. No entanto, eles são mandados de volta à Inglaterra depois se serem julgados e absolvidos. Tempos depois, os corsários voltam para vingar-se da prisão e do prejuízo causado pelo bandeirante (CONCEIÇÃO, 1988). Da mesma maneira que foram presos, os Corsários fazem uma emboscada no vilarejo onde habita Dias Velho fazendo da população, que não fugira com o ataque, refém. Obrigado a se render para salvar os habitantes, Dias Velho se entrega sem reação. Porém, um dos piratas tenta atacar uma de suas filhas, o que o faz insurgir. Três tiros são disparados. Dias Velho cai no chão mortalmente ferido. O filho do nobre bandeirante, que estava na mata, volta para salvar seu pai e o povo

aprisionado, mas os piratas os usam como escudo para chegar até o navio (CONCEIÇÃO, 1988). Depois de troca de tiros e flechas, o comandante dos Corsários morre e seus subordinados se vêem em condição de negociar os reféns em troca de mantimentos e da prata tomada por Dias velho outrora. João acaba por ceder à chantagem dos patifes em troca da soltura dos reféns. Após os Corsários irem embora da ilha, os habitantes enterram as vítimas do ataque e os mortos em combate. O Capitão-mor Francisco Dias Velho Monteiro, primeiro colonizador de Florianópolis, é enterrado em seguida com uma desalenta cerimônia. Vendo tudo o que seu pai fez, João decide continuar o trabalho árduo do bandeirante de povoar e prosperar nesta terra nova (CONCEIÇÃO, 1988).

Assim, é imprescindível um conhecimento sobre a arquitetura da época, criação de personagens e figurinos, estilos de vida, meios de subsistências, meios de transportes, entre outros. Todos estes elementos devem ser estruturados para que o aluno seja situado no período em que a história se passa e ainda entende-la além da narrativa, podendo assistir todos estes elementos em conjunto de uma maneira bastante dinâmica. Nas pesquisas, foram encontradas algumas pinturas antigas da ilha desde 1764 (figuras 2 e 3), além de ilustração com a caracterização de Dias Velho (figura 4), que serviram para inspiração e referências na construção da animação.

4. Desenvolvimento da animação Dias Velho e os Corsários Por se tratar de uma reconstituição de um evento histórico, é preciso criar a ambientação situada em tempo e espaço da época. Contudo, também não o compromisso de reproduzir de forma precisa e absolutamente verdadeira o relato dos fatos, abrindo caminho para a inclusão de novos elementos imaginados para a produção. Conforme destaca Sarlo (2007), tem-se assim uma linha estética que cria uma ruptura com o imediatismo das percepções e da experiência para que estas possam ser representadas. Ou seja, mesmo que se trate de momentos históricos, podese criar para a animação uma linguagem capaz de versar com os fatos e ainda obter determinada liberdade criativa.

Figura 2 - Cenário da ilha de Florianópolis. Fonte: Debret (1954)

Nesse contexto, o artigo apresenta a seguir o processo de desenvolvimento dos cenários e do personagem Dias Velho, iniciando com imagens pesquisadas e utilizadas para a base da concepção do design. 4.1 Pesquisa Todo projeto de animação necessita de um amplo processo de pesquisa, principalmente neste caso, por tratar-se de uma animação de cunho histórico.

Figura 3 – Cenário da ilha de Florianópolis. Fonte: Debret (1954).

Sobre Dias Velho, foram utilizadas na pesquisa as imagens do próprio livro “Dias Velho e os Corsários”, de Conceição (1988), que traz modelos conceituais tanto do vestuário como do rosto, conforme se pode observar nas figuras 4 e 5 abaixo.

Figura 6 – Ilustração de Dias Velho. Fonte: Gevaerd (2000)

4.2 Criação de cenário

Figura 4 – Criação original do personagem Dias Velho Fonte: Conceição (1988).

O cenário apresentado é um dos responsáveis pela impressão que o público tem de uma produção, pois auxilia a criar uma percepção da identidade do trabalho. A arquitetura, espaço, iluminação, escolha e manipulação dos objetos, além de outros recursos, são alguns dos elementos que vão propiciar o contato entre o público e a obra (SILVA, 2007). Para a montagem do cenário da animação, foram desenvolvidas diversas formas de pesquisas e recursos de programas gráficos, com o objetivo de retratar o cenário de maneira mais próxima da realidade, além de produzir a ilha de Santa Catarina da época de Dias Velho.

Figura 5 – Criação original do vestuário Fonte: Conceição (1988).

Além disso, buscou-se outras referências para a construção do personagem, como a ilustração de Gevaerd (figura 6), que traz Dias Velho como um bandeirante no povoado da ilha.

Para o desenvolvimento do cenário, foi utilizado como base o programa 3D Max. A construção iniciou com a aplicação do mapa da ilha de Florianópolis-SC em forma de material, para que se pudessem modelar os detalhes. Com o auxílio da foto real da ilha, foi-se criando a malha completa, até ganhar as formas de montanhas, terreno ondulado e outros aspectos do local da cena. A partir disso, foram utilizados outros programas, objetivando criar a vegetação, morros, praia, ondas, pedras e demais elementos que compõe o cenário. A seguir, tem-se a apresentação das seções específicas de criação.

a) Vegetação:

b) Ondas:

Para a criação do terreno, utilizou-se o Tool Software (Forest Pack), uma ferramenta que permite a construção de florestas, ilhas, fazendas, entre outros. Foi determinada a área específica na qual fosse feito o desenho do caminho das vegetações. Em seguida, configurou-se a quantidade, altura e espaçamento entre as árvores. Já para as gramas, foram delimitadas as áreas das montanhas, para transmitir a percepção da vegetação completa na ilha.

Para a construção do oceano, utilizou-se o plugin Weve Generator, que permite escolher determinados efeitos para ondas, como as formas de ondulações com espumas, com vento, altura e outros recursos. Após a determinação do tamanho pretendido para o oceano na animação, escolheu-se gerar pequenas ondas, para que se pudesse transmitir o efeito de água do mar salgado.

Para a seleção das plantas e árvores que seriam utilizadas no cenário, utilizou-se o programa Speed Tree Modeler que permite montar passo a passo a vegetação, com diversas formas de editar. Por exemplo, escolheu-se a palmeira para a área, iniciando com a construção da raiz, depois tronco, galhos e finalmente folhas, para enfim aplicar as texturas e exportar para o programa 3d Max. A seguir, pode-se observar na figura 7 a estruturação da montagem do cenário da ilha de Florianópolis, com a versão primária de morros, água e vegetação. Em seguida, na figura 8, tem-se a versão já renderizada.

Figura 7 - Cenário da ilha de Florianópolis.

Figura 8 – Imagem renderizada da ilha de Florianópolis.

Com o objetivo de simular o efeito das ondas colidindo com as pedras da praia, utilizou-se o software Realflow, que permite a criação de fluidos de água, além de fogos, fumaças, entre outros. A partir disso, pode-se criar uma cena de uma praia completa e mais real, animando os fluidos de uma onda, com a possibilidade de ventos e chuva, dependendo da necessidade da história da animação. A figura 9 demonstra uma aplicação das ondas com uma colisão leve nas pedras, ainda sem o efeito da espuma. Já na figura 10 é possível observar a onda com a simulação do efeito de espuma, que ocorre com a colisão nas pedras da praia.

Figura 9 – Onda sem espuma

Figura 10 – Onda com espuma

Na figura 11, pode-se observar a simulação das ondas com espuma, já com a aplicação da textura, para transmitir uma sensação de maior realidade.

Figura 11 – Onda texturizada com espuma

Após alguns testes, conseguiu-se atingir o efeito de uma onda com espuma e o chamado spray de espuma, que ocorre naturalmente em uma onda quando perde a força e começa a “quebrar”, conforme pode-se observar na figura 12.

Figura 13 – Desenvolvimento do personagem Fonte: Gondim (2013)

Figura 12 – Onda com espuma e spray de espuma

4.3 Criação do personagem A partir das ilustrações do livro e das referências obtidas nas pesquisas, como a de Gevaerd (2000), pode-se ter uma base para criar um modelo do personagem em 3D, com vestimenta e feições próprias. O objetivo era associar a caracterização a um explorador do século XVII. Observa-se a nas figuras 13 e 14 a criação inicial para o personagem Dias Velho, com o teste primário de roupa e característica física pretendida

Figura 14 – Desenvolvimento do personagem Fonte: Gondim (2013)

4.4 Próximas etapas Como parte inicial do projeto de animação “Dias Velho e os Corsários”, os primeiros desenvolvimentos do cenário e personagem principal oferecem suporte para a continuação de uma linha gráfica, na qual o restante da animação irá seguir.

Após a finalização da praia, definição e aplicação de detalhes ao personagem Dias Velho, os próximos passos são a construção dos demais personagens e outros cenários que irão compor a obra. Assim, pretende-se ainda o desenvolvimento dos barcos, casas, objetos e dos corsários e habitantes da região. Em seguida, com a finalização gráfica, serão iniciadas as outras etapas constituintes de uma animação, como o processo de captação e realização de movimento, inclusão de áudio, edição e finalização das cenas.

5. Conclusão O artigo possuía o objetivo principal de destacar etapas da construção gráfica da animação “Dias Velho e os Corsários”, que está sendo produzida no DesignLab da Universidade Federal de Santa Catarina. A breve fundamentação teórica foi relevante para contextualizar o ambiente no qual a animação em questão está situada. Assim, pode-se observar a importância da utilização da animação como representação histórica de eventos e ainda para auxiliar a educação. Em relação ao apresentado na seção sobre o desenvolvimento da animação, espera-se ter contribuído com o processo de construção de cenário e personagem. Pode-se incluir a criação de um ambiente complexo, cheio de relevos, tendo diversas árvores, movimento de ondas e demais influências de um cenário de natureza e praia. Pode-se destacar ainda a construção da personagem principal, com seu jeito de vestir e caracterização. Todo o desenho da animação precisa retratar um momento histórico, em tempo e espaço coerentes com os eventos ocorridos na época de Dias Velho. Tudo isso depende da forma com que a construção do cenário é feita e da elaboração do papel da personagem, ainda que esteja em um mundo de ficção. Por fim, com a conclusão deste projeto, será destacada a importância da animação criada, principalmente por contribuir com a educação através de momentos de aprendizagem de caráter lúdico, auxiliando no desenvolvimento de

competência dos alunos, além de resgatar a cultura de uma região.

6. Referências Bibliográficas ALVES, M.; BATTAIOLA, A.; SPINILLO, C. Design de animações educacionais: levantamento de situações e motivos. In: 10º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design - P&D Design, São Luís (MA). Anais do 10º P&D Design, 2012. AINSWORTH, S. How do animations influence learning? School of Psycology and Learning Sciences R. I., University of Nottingham, UK, 2008. CONCEIÇÃO, E. N. Dias Velho e os Corsários. Editora Vozes: 1988. DEBRET, J. B. Viagem Pitoresca e histórica ao Brasil. Paris: R. de Castro Maya, Prancha 70, 1954. GEVAERD, M. Ilustração Dias Velho. Arquivo pessoal. 2000 GONDIM, F. Criação do personagem Dias Velho. Arquivo do DesignLab da UFSC, 2013. SARLO, B. Tempo passado: cultura da memória e guinada subjetiva. Belo Horizonte, Editora UFMG, São Paulo, Companhia das Letras, 2007. SILVA, Eliana R. Encenação e cenografia para dança. Ensaio publicado na revista Diálogos Possíveis: Revista da Faculdade Social da Bahia. Ano 6, n. 1 (jan./jun. 2007). Salvador: FSBA, 2007.

Agradecimentos Agradecemos a equipe do DesignLab da UFSC, que está responsável pela produção como um todo da animação “Dias Velho e os Corsários”.

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