Construindo a Relação Terapeuta-Paciente: Símbolos e Linguagens, Encontros e Possibilidades no Percurso da Terapia Ocupacional

July 27, 2017 | Autor: L. Valente | Categoria: Terapia Ocupacional, Relação Terapeuta-Paciente, Teoria do Vínculo
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Leonardo Valesi Valente

Construindo a Relação Terapeuta-Paciente: Símbolos e Linguagens, Encontros e Possibilidades no Percurso da Terapia Ocupacional

Belo Horizonte / MG, agosto de 2004

Leonardo Valesi Valente

Construindo a Relação Terapeuta-Paciente: Símbolos e Linguagens, Encontros e Possibilidades no Percurso da Terapia Ocupacional

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS - UFMG Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional Curso de Graduação em Terapia Ocupacional Professora Orientadora: Tânia Lúcia Hirochi Trabalho Monográfico de Conclusão de Curso Requisito Parcial para Obtenção do Título de Bacharelado em Terapia Ocupacional

1º Semestre Letivo / 2003

Lembro, neste momento da passagem, de duas companheiras que especialmente puderam me ajudar a continuar seguindo, especialmente por saberem fazer a diferença: Tânia, em sua generosidade de ideais e formas de cuidado pude sentir a força que faz motivar; Vanilza, por ter dado importância ao olhar conjunto antes de escolher como caminhar, com cada um daqueles que cuidamos...

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INTRODUÇÃO “Toda vida existe para iluminar o caminho de outras vidas que a gente encontrar” Milton Nascimento

Dizer sobre a relação terapeuta-paciente somente se faz primordial se temos razões para buscar, de acordo com Nise da Silveira, “a emoção de lidar” que possa existir a partir do encontro deste par de sujeitos na prática terapêutica. Aliás, tal assunto não se trata de somente indagar sobre os possíveis elementos subjetivos e psicossociais das práticas rotineiras nos ambientes clínicos em que exercemos a Terapia Ocupacional; é aqui, sobretudo, o reconhecimento de que os fragmentos nos olhares do terapeuta e do paciente sejam materiais de trabalho, da condução terapêutica propriamente dita. Fragmentos esses que primordialmente ainda devam ser os próprios sujeitos e suas naturezas, sendo que o quê olham aponta para o quê eles fazem entre si e reflete os sentidos para o trabalho por eles compartilhado. Tal a dinâmica que se constitui um material instigante de saberes, sobre as possibilidades dos cuidados e da própria relação de ajuda, elementos aos que tradicionalmente os terapeutas ocupacionais têm se disponibilizados a implementar com sua atuação. Considerar o binômio terapeuta-paciente é uma necessidade que merece também uma pré-definição dos loci de cada um, assim o que estamos a chamar de paciente vai sair de uma conotação de entrega, passividade, para ocupar-se como um indivíduo – ser da singularidade, repleto de necessidades, de buscas, que pode ser denominado “cliente”, “usuário dos serviços de Saúde”, seria também aqui denominado de “o ajudado”, no caso da tese deste trabalho monográfico. Indago-me sobre o motivo de tanto desejar estudar, aprofundar, discutir a relação terapeutapaciente... Por que estudar sobre um tema, dito tão complexo, como este da relação terapêutica? Por que dizer sobre algo que reside tão intimamente ao que denominamos ao nível do sentir, como é o caso do encontro que se dá entre terapeuta e paciente, convivência que ocorre na ocasião da relação de ajuda? Apesar de eu reconhecer que possam existir inúmeras respostas, satisfatórias às percepções de quem ousa respondê-las, tais questões me estimulam a valorizar ainda mais o tema deste presente estudo monográfico: o que há de infindável nos possibilita uma perspectiva intermitentemente de atualização. As respostas que possam ser construídas, a respeito do tema em todos os contextos relativos à sua construção, queiram ser soberbamente válidas; no entanto, o que me atenho aqui é ir compartilhar alguns sentidos que nos permitam ser cada vez mais motivadores – não por esgotar os aprendizados, mas por gerar uma (inter)locução constante de reflexões e de fazer perguntas. Uma atitude que alicerçada na necessidade de motivar-se ensina que é preciso sempre o buscar. Ainda que encontre uma resposta que faça toda a diferença para mim, sinto que isto não seja suficiente para o ser um terapeuta já pronto, feito, enfim um terapeuta completo; sendo que no caso da formação do terapeuta ocupacional quaisquer

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respostas demandam ainda uma construção que não deixa de ser processo (contínuo) e aprendizado mútuo para o par terapêutico, dentro da tríade terapeuta / contexto de atividade / paciente. A estratégia assemelhase a um inesgotável vir-a-ser diante àqueles com quem me deparei e estarei propenso a encontrar num inexorável vir-a-ajudar... E esta monografia representa tão somente um ensaio que mostra parte do que se há em se formar um terapeuta ocupacional. Tamanha a razão para estar aqui, isto seja apenas a pura vontade de renovar um conteúdo tão profundo e vai bem além dos pormenores que já estão nos livros. Escrever sobre e pesquisar a relação entre terapeuta e paciente constituir-se-á desafio inegável, o que de certa forma explica a relativa escassez com que o tema vem sendo considerado na literatura reconhecidamente científica, especificamente na área da Terapia Ocupacional. Desejo alcançar com o presente estudo um discreto relevar sobre o tema. Sei o quanto me deparo com a exigência de aprimoramento metodológico e de discussão pormenorizada com outros pensadores. Embora eu ouse apontar que não há satisfação numa prática que se restrinja a elaborações e aforismos ultrateóricos, dado que o alcance do que tenho para considerar é algo que deseja ser anunciado no cotidiano do vivo, marcado pelo encontro de existências e de humanidades – enfim, pelas trajetórias que vim conhecendo via Terapia Ocupacional e por todos aqueles com quem encontrei. Simplesmente encontro nesta dimensão uma maneira de contribuir. Finalmente, espero alcançar com minha expressão de ser terapeuta àqueles com quem cotidianamente desejam se transformar e mudar realidades. Espero também ser acessível aos outros que, por suas limitações, ainda se permitem saciar com o distanciamento e a apatia dos moldes acadêmicos, que ortodoxos e diplomáticos costumam inventar um suposto distanciamento afetivo entre terapeuta-paciente. Desejo conhecer e reconhecer enredos, pelos quais a minha função de ajudador permita-me sentir o quanto é impar poder amar cada paciente. E neste amor terapêutico vivenciar a-tua-ação que marque uma trajetória humana, significante de trans-formações. É na relação terapeuta-paciente onde ocorre a dinâmica do vir-aser de uma convivência que culmina na realização das existências de ambos. .............................................................

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DISCUSSÃO A relação terapêutica enuncia-se num contexto de encontro entre dois sujeitos, para que ao inter-agirem um deles possa ser diretamente beneficiado por uma relação de ajuda; sendo que os conteúdos e vivências por eles compartilhados passarão a constituir o saber que dá substancialidade à existência do par. Por ser particularmente humana, a relação terapêutica é tocante, irrestrita, profunda; por estar dentro das práticas de Saúde vai alcançar um significante próprio, ao qual tentaremos nos aproximar ao fazer o desenho deste presente trabalho monográfico. Faz-se preciso identificar um sentido que justifique conhecer, nas próximas linhas, formas de dizer e viver – pelo que poderei mostrar parte do que me fez escrevê-las. Quero apenas compartilhar a necessidade de desejar fazer a diferença; e que isto se dê pelos recursos que nós, terapeutas ocupacionais, dispomos com a nossa atuação profissional. Este sentimento, considero assim, pode ir além até onde consigamos auxiliar às pessoas, a quem cuidamos, a serem mais felizes e libertas de suas dores. Valorizo a pertinência de quaisquer práticas que venham se pautar nos crivos da cientificidade, absolutamente se estas façam correlatas inferências com a legitimidade do conhecimento científico reconhecido em nossa área, bem como se é consoante às concepções técnicas e deontológicas com as quais nos identificamos como terapeutas ocupacionais. Por isto, este introdutório estudo sobre a temática da relação entre terapeuta e paciente, por excelência, pode somar a tudo o que aprendi nestes quase seis anos de (inaugural) caminhada acadêmica, porém também é um construto que quer ir um pouco além já que foi sendo construído ao longo de saberes que foram emersos do lidar, das circunstâncias dos viventes. Renego, ultimamente, conceitos de cientificidade que não permitam um trabalho com o apropriar das complexidades das pessoas e de suas problemáticas; tampouco não terá espaço nesta monografia formas reducionistas de agir ou conceber a ação, que não se comprometam com demandas e globalidade das formas que sejam trazidas por todos aqueles a quem nos propomos cuidar em Terapia Ocupacional. Sinto-me motivado a investir em um estudo que seja essencialmente reflexivo e que se constitua a partir da análise de vivências, ditas terapêuticas, bem como além dessas buscar novas implicações para o cotidiano da minha formação profissional. Sou estudante do curso de graduação em Terapia Ocupacional e isto, por assim dizer, significa que me é legitimamente necessário aprender a valorizar uma ação (ou prática) na área da Saúde que procure tratar de pessoas que não possuam capacidades ditas “normais” para viverem seus próprios contextos de vidas, de maneira autônoma ou ainda independente. A Terapia Ocupacional, desde seu surgimento histórico, tradicionalmente relacionado aos períodos de pós I e II Guerras Mundiais e ao nascimento do Tratamento Moral de Phillip Pinel (na Psiquiatria

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francesa, em meados do século XIX), anseia por ser um instrumento social de promoção do ser humano – em suas potencialidades e singularidades frente às necessidades do fazer humano e do relacionar-se. O paradigma da Terapia Ocupacional consiste em oferecer uma possível construção da existência àquela clientela que socialmente é apontada como deficiente, desviante, limitada, no desempenho de papéis comuns, dos contextos ocupacionais, tais como o trabalho produtivo, as atividades de lazer, as atividades da vida diária (entendidas aqui como o cuidado com o próprio corpo, da manutenção, sobrevivência e da vida prática em sociedade). A ação do terapeuta ocupacional não ocorre isoladamente do contexto social e da vida, propriamente dita, daqueles indivíduos aos quais se propõe tratar (promover, prevenir, curar, reabilitar). Sobretudo, tal ação vai constituir-se pela fundamentação materialista histórica quando concebe filosófica e metodologicamente que a ação humana, práxica por excelência, seja transformadora, criativa, existencialista, desenvolvimental, dialética, socializante e simbólica. Assim, a Terapia Ocupacional busca propor intervenções para a Saúde que relevem eficientemente a relação do ser e suas necessidades ocupacionais. O alvo dos discursos, especificidade científica e tecnologia aponta em Terapia Ocupacional para a valorização de um indivíduo, que em processo intermitente de transformação, deve relacionar-se consigo e com o externo, além de fazer-se existir a partir de seus próprios desejos e peculiaridades. Dessa forma, a visão de individualidade legítima à profissão e também ao conceito de saúde (traduzido por um processo de qualidade de vida, conforme as prerrogativas da Organização Mundial de Saúde) é um ser transformador de suas vivências, histórico, que se realiza praxicamente e utiliza o trabalho como um veículo para a produção de sua própria consciência, sendo o seu processo de vida e do viver é, diante do binômio saúde-doença, um complexo dinamismo entre a busca de finalidades, desejos e se confronta com aquilo que lhe é sua inerente necessidade de sobrevivência, aprendizado, adaptação, reabilitação... Para promover a individualidade humana, tal profissão quer priorizar a ocupação cotidiana a ser sua ferramenta para a produção de saúde, como o elemento primordial de indagações e propostas de trabalho. Irá questionar e acolher, daí, em sua clínica social, o ser que adoecido demanda, assim, o aprendizado e o desenvolvimento daquilo que lhe permitirá tornar-se o melhor diante de si mesmo, repercutindo no sujeito uma performance ocupacional cada vez mais independente, funcional, engajada e autônoma (capaz de tomar iniciativas e solucionar problemas) para alcançar um bem-estar conquistado. Neste contexto de relações e complexidades, buscarei enfatizar a relação terapêutica dentro de um contexto social específico, o que se refere ao encontro entre terapeuta e paciente. Tal relação será assim denominada: - relação terapeuta-paciente, para explicitar por excelência a participação do par. Enfim, entende-se aqui que a relação terapeuta-paciente é o estabelecimento de um vínculo entre dois sujeitos através de uma relação de ajuda, que nasce de um contexto próprio de um serviço de Saúde, em que a afetividade é fortemente marcante para a construção de um plano de tratamento (com metas terapêuticas) e

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a intervenção para a Saúde propriamente dita. O fenômeno que coexistirá na vida deste par qualifica-se num encontro social e existencialista com a distinção de papéis, que pela relação terapêutica estes possam ser identificados assim: o ajudador e o ajudado; bem como numa interface dinâmica e social em que discursos, ações, necessidades, buscas são estabelecidos em um espaço comum passível de trocas, possibilidades e de saberes mútuos, portanto. A relação terapêutica é um fenômeno que, apesar de acontecer numa dimensão social, é delimitada aos contextos e especificidade dos serviços de Saúde e o seu complexo binômio é socializante e tem em seu bojo uma composição fenomenológica. Elementos como a cultura, a linguagem, a produção de símbolos, os conflitos entre as classes sociais, os adoecimentos de acordo com os fenômenos da nãoprodução da consciência, o alienamento, a (des)construção de estigmas sobre o corpo marcado e ou deficiente, e os liames da estrutura social, que são os elementos que irão, de alguma forma, se reproduzir no contexto de suas interlocuções. Por excelência, elementos como a constituição da consciência através da prática terapêutica para a reabilitação psicossocial e ou física também serão apropriados e emancipados. Significar ações, encontros que enunciam repletos de acontecimentos entre humanos, daí a suma importância em desenvolver uma tese monográfica com caráter para além do interdisciplinar, de forma promissora dentro das perspectivas do conhecimento que deve ser nos tempos do amanhã profissional, qualificado em suas interfaces transdisciplinares - uma vez que o benefício maior para a produção deste presente estudo deve ser algo que suscite valor e propriedade para a prática sempre questionadora e altruísta do terapeuta ocupacional. A partir desta contextualização sobre a relação terapeuta-paciente, como foco do presente estudo monográfico, há o interesse de analisá-la segundo três pilares essenciais: -

a dimensão social do encontro entre terapeuta e paciente;

-

a apropriação de linguagens, símbolos e formas próprias do contexto terapêutico em

que se estabelece tal relação; -

a constituição, a significação e o reconhecimento dos papéis que compõem o par

terapêutico. A Terapia Ocupacional, ao firmar-se na categoria profissional da Saúde, tradicionalmente reconhecida como profissão da área da Reabilitação, tem como produto legítimo uma clínica social, intrinsecamente transformadora para a inserção na comunidade, dos indivíduos alvos de sua intervenção. Como se dá a diferenciação de papéis na relação terapeuta-paciente? Eles podem ser iguais em um dado momento? Onde estão traçados os limites desta relação?

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Com qual justificativa é possível situar a compreensão da relação terapeuta-paciente como uma relação de ajuda? É preciso fazer uma análise sobre as diferentes formas de metodologias para a intervenção em Terapia Ocupacional e assim melhor explorar o desenvolvimento desta relação? Dentro do contexto clínico, questiona-se o seguinte. Como se dão os fatores simbólicos, sociais, individuais, teóricos, clínicos a respeito desta relação? Como se dá a influência da concepção materialista histórica nesta relação especificamente? Nesta relação há influência dos mitos e suposições culturais que dão sentidos implícitos no binômio real X ideal (prático X imaginário)? Existe uma representação própria desta relação para o contexto de vida dos pacientes que se beneficiam da intervenção terapêutica ocupacional? Como são explorados os produtos históricos destes sujeitos na relação de ajuda, são transitórios quando internos, reflexivos e concretos quando externos, materiais ? Os produtos, ações e trocas que se dão emergem de forças sociais produtivas específicas, possíveis somente a partir deste encontro? A relação terapêutica tem limites e construções que factualmente relevam em si mesmos as potencialidades dos sujeitos e suas singularidades quando se encontram e passam a interagir mutuamente? Como uma relação social e também por seu caráter socializante tal encontro terapêutico possui algo próprio em termos de afetividade, sensibilidade, existencialismo e idealização? O uso de atividades, próprio da Terapia Ocupacional em sua prática social e da Saúde, oferece e repercute quais instrumentos para a vivência no binômio Eu X Outro no contexto da promoção humana e da reabilitação? Como tal relação contribui para a não fragmentação do ser? Qual o espaço das subjetividades e do fazer metafórico nesta relação? Poder-se-ia em algum momento perceber pelo olhar o sociológico algo como um Universo Compartilhado no setting terapêutico? Esta relação pode ser neutra? E o discurso biomédico da saúde-doença é algo ainda presente na prática atual do terapeuta ocupacional em sua clínica e especificidade? Por sua fundamentação e concepção teórico-filosófica praxilogista, em sua prática clínica a Terapia Ocupacional busca oferecer à pessoa recursos e possibilidades para que sua vida cotidiana se torne singular no seu processo de bem-estar, de autonomia e maior independência. A ocupação terapêutica como uma forma de tratar serve de, em Terapia Ocupacional, um instrumento para a potencialização de conquistas e superações de limites, quando o paciente pode apropriar-se de si em processo constante de transformação, acima das limitações e disfunções de ordens psíquicas e ou físicas, sociais e/ou culturais inerentes aos processos de adoecimento, aos quais tradicionalmente a profissão se comprometeu a trabalhar. O ajudado, nesta concepção, é um sujeito histórico que pode mudar sua vivência naquilo em que

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se engaja, dentro de contextos significativos que lhe seja nas relações de trabalho, no lazer, nas atividades da vida diária e prática, enfim no processo de utilizar o tempo com intencionalidade e proposição de metas em que ele é o sujeito de seus desejos e necessidades, e deve transformar a si, suas relações com o outro e o mundo circundante. O estabelecimento do processo terapêutico tem na elaboração reflexiva o maior interesse deste estudo. De acordo com JORGE (1999, p.27), a empatia é a capacidade de se emergir no mundo subjetivo do outro e de participar de sua experiência (...), é também a capacidade de se colocar no lugar da outra pessoa, assim ver o mundo da forma como o outro o vê. Logo, a produção teórica e metodológica sobre a relação terapeuta-paciente merece se tornar uma questão inegável de interesse pré-profissional e acadêmico, a não ser somente objeto neste presente estudo, mas servir de ferramenta para a formação primordial antes à inserção no mercado profissional. E promover, assim, aproximação do terapeuta em formação daquilo que lhe permitirá manejar a empatia como ferramenta primordial em seu ofício clínicosocial. O tema se constitui no universo irrestrito das relações entre homens – a relação de ajuda possível no encontro terapeuta-paciente é um processo dialético e dicotômico: no eu e no outro (par de terapeuta e paciente) estão a reunião dos aspectos (inter)subjetivos, afetivos, simbólicos e sociais que aqui se interessam estudar. Indago-me: - é possível observar, investigar, refletir e criticar o estabelecimento do vínculo entre o terapeuta e o paciente na dimensão clínica e social deste encontro humano? Como podemos discutir sobre o binômio saúde-doença na relação entendida dentro da concepção dialética? Há a produção e a reprodução da relação terapêutica ocupacional, na prática clínica da Terapia Ocupacional, como um instrumento valioso para aquilo que se propõe: - a promoção da saúde humana? Como isto acontece? Portanto, necessário elaborar os conceitos: - a relação terapêutica ou a relação terapeuta-paciente; estabelecimento do vínculo terapêutico; - o existencialismo desta relação; - quem é o terapeuta; - quem é o paciente; - o que é um encontro terapêutico. A temática deste trabalho é algo superior e ulterior ao meu interesse pessoal no que tange a busca diante de uma fenomenologia das inter-relações humanas, possíveis na minha futura atuação profissional como terapeuta ocupacional. O presente trabalho quer buscar preencher alguns espaços que se dão na própria didática de ensino a respeito da dimensão da relação terapeuta-paciente e na motivação para outras reflexões que se dão pelo cotidiano da formação acadêmica (notadamente na transição do ciclo pré-profissionalizante para o profissionalizante da atual estrutura curricular do curso de graduação em Terapia Ocupacional da UFMG), porém a própria temática da relação terapeuta-paciente é algo de interesse para a maior compreensão do cotidiano clínico possível na profissão versus o perfil do profissional terapeuta ocupacional. Considerando como regra geral que as ações da terapêutica ocupacional se dão via relação terapêutica principalmente. Enfim, desenhar a relação terapêutica é um desafio para a constituição de um

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espelho de uso múltiplo e comum àqueles inseridos na lógica da Terapia Ocupacional e suas formas. Não pretendo aqui fazer um retrato plástico, decisório, estático, coorporativo e sim conhecer ou apenas identificar elementos interessante para que a imagem da relação terapeuta-paciente possa ser contemplada.

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CONCLUSÃO A relação terapeuta-paciente é um processo dinâmico, de interação humana, afetiva, simbólica e social que se estabelece por trocas efetivas entre um ser que precisa de ajuda e outro que faz disponível para a realização desta necessidade. A relação é marcada de um forte sentimento amoroso, de reflexões e de interlocuções intermitentes em que terapeuta e paciente se modificam e sofrem influências naquilo que se propõem a trabalhar no setting terapêutico ocupacional e especificamente dentro do estabelecimento desta relação. Se valorizarmos a relação terapêutica ao nível do humano, também podemos conceber sua dimensão essencialmente socializante, o que alcança as interfaces entre as necessidades dos sujeitos e o enfrentamento pra sua participação nos grupos sociais. Podemos daí criticar o distanciamento pretenso de algumas metodologias de intervenção que predizem aos profissionais desta área uma dita neutralidade clínica e profissional, entendida aqui como um possível não se influenciar pelo outro - no caso o terapeuta não se envolve simbolicamente com o paciente no contexto terapêutico, somente atuando com ditas técnicas de manejo clínico, pois os conhecimentos técnicos que deve possuir a partir de sua formação acadêmica lhe dão toda a garantia e sucesso para tanto. No entanto, o objetivo maior da terapêutica ocupacional é promover um alcance de fato transformador das existências. O desenho da relação terapeuta-paciente pode assumir diferentes contornos. Se considerarmos uma dimensão teórica é interessante conceber a relação terapeuta-paciente como um produto da relação de ajuda, sendo também a substancialidade do cerne dos serviços de Saúde; isto além de apontar para uma conceituação primitiva sobre o que seja a relação terapêutica vai alcançar um nível paradigmático em que a própria saúde tem em si a qualidade de uma relação de ajuda. Por outro lado, se buscarmos compreender a relação terapeuta-paciente dentro de seu alcance clínico, a partir de uma dimensão empírica propriamente dita, um conceito sobre convivência terapêutica se fará essencial para denominarmos o complexo de interfaces que acontecem a partir do encontro terapêutico entre o profissional de Saúde e o seu cliente. Um esboço mais profundamente elaborado sobre a relação terapeuta-paciente que possa alcançar uma tipologia ideal ainda tornar-se-á mais complexo, se considerarmos para uma qualificação mais ampliada em elementos tais como: * definição de papéis, quando na relação o par terapêutico vai ocupar em si uma distinção a partir de seus poderes (supostos saberes), o que justifica as posições de ajudador e de ajudado, bem como os movimentos que se dão sejam ascendentes ou descendentes durante a condução terapêutica – o que aproxima ou afasta o par terapêutico daquilo que foi por ele eleito como meta para e pró-intervenção; * desenvolvimento de linguagens, quando o par terapêutico constrói uma universalidade de processos semióticos, onde encontramos espaços para comunicações verbais, não-verbais, analíticas, discursivas, idiossincráticas que irão interferir, novamente, na condução terapêutica; * contextos clínicos, quando em Terapia Ocupacional podemos apontar ambientes e terapêuticas específicas (por exemplo, psicoterapia ocupacional, reabilitação psicossocial, reabilitação profissional, reabilitação física...) que essencialmente irão apropriar-se de estratégias e metodologias que,

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em seus aspectos determinados, qualificam seus próprios formatos de relação terapêutica. Outras características, como os aspectos de afetividade, processos de cognoscentes e de produção de consciência, a ambientação terapêutica, a presença de elementos híbridos (como co-terapeutas ou mesmo os estagiários de Terapia Ocupacional) e a temporalidade, são finalmente indispensáveis para a compreensão do fenômeno terapêutico e o seu alcance como relação de ajuda. A partir do depoimento de um paciente torna-se mais palpável o entendimento de sua abstração sobre a relação de ajuda, do seu papel como ajudado e da relevância na ação do terapeuta (transcrito de acordo com a linguagem coloquial original). Compreende-se a relação terapêutica em um alicerce psicoterapêutico, relacional, dinâmico, dado a uma dimensão simbólica pela qual afetiva e subjetivamente terapeuta e paciente se aproximam / são aproximados em prol da existência do processo de ajuda: “Meu nome é G.F.M., sou um alcoólatra e drogado em recuperação. Comecei a beber aos oito anos de idade. Aos doze conheci a maconha, parei de estudar, fui me drogando aos poucos, nos finais de semana, nas festas. Comecei a beber e a fumar maconha por curiosidade e também pela minha timidez. Com quatorze anos conheci as bolinhas, que misturadas ao álcool provocam estados de euforia. Daí, conheci os xaropes que quase me mataram, só consegui parar porque não encontrava mais – foram proibidos nas farmácias. Cheirei muita cola, gasolina, benzina, ló-ló. Aos dezessete, conheci a cocaína, me viciei e virei um traficante. Cheirava, bebia, fumava maconha e tomava bolinhas todos os dias. Aos dezenove fui preso, apanhei muito, tomava choques, saí da cadeia e fui para minha primeira internação psiquiátrica. Depois casei, separei, tenho um filho. Conheci o crack, passei a roubar, fui internado mais sete vezes em fazendas de recuperação. Me internaram 23 vezes em hospícios. Fui mendigo, abandonei todas as drogas, menos o álcool. Tomei álcool de carro, de farmácia. Não me cuidava, me abandonei. Não tomava banho, não cuidava da higiene pessoal. Procurei ajuda na macumba, no espiritismo, nas religiões. Dentro do hospital psiquiátrico, sobre o efeito de muitos remédios, eu ia para a Terapia Ocupacional. Ia sem vontade nenhuma, a minha maior vontade era a de fugir, ir embora de lá. No entanto, o carinho, a paciência que as terapeutas ocupacionais tiveram comigo me cativou. Lá, me incentivavam a fazer muitas coisas. Aprendi a fazer teatro, escrevi duas peças e saí muito bem. Com o tempo aprendi também a pintar, desenhar. Me davam trabalhos a fazer, passei a me sentir útil, digno. Tudo foi desaparecendo, a ansiedade, a depressão, o desespero e a solidão. Quando eu com elas conversava eu fazia um inventário sobre o meu passado, onde pude ver todos os meus erros, falhas e medos. Passei a me conhecer melhor, a me aceitar e entender a vida ao meu redor. Foram experiências muito boas, voltei a sorrir, comecei a me amar”. A compreensão da relação terapêutica é por si mesma o resultado direto do lidar como uma forma de comunicação e de inter-ação. Estabelece-se uma afetividade em que as vivências entre terapeuta e paciente se dão humana, afetiva, sócio-política, subjetivamente. Os dois sujeitos se articulam mutuamente para àquilo que foi identificado como necessidades de saúde do cliente; no caso da Terapia Ocupacional,

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algo que se interessa ao cotidiano, sua representatividade pessoal para o cliente e sua realização que este limitando a participação mais autônoma e independente em contextos como o trabalho, o lazer, o autocuidado. E a relação se anuncia para além de uma experiência subjetiva, pois a capacidade humana de fazer transforma e dá sentido ao repertório do cotidiano, relevante ao paciente e à condução terapêutica. Na relação terapêutica um universo de questões concernentes à ética vão se tornar substanciais, o que culmina na estética da relação terapeuta-paciente através do sentimento amoroso marcante na ajuda. O caráter da ajuda não-paternalista, beneficente, que priorize o respeito aos limites inerentes ao paciente e seu processo de saúde-adoecimento, que valorize o princípio de autonomia e de responsabilidade do paciente diante à condução terapêutica se fará amplamente compreensível quando consideramos o conceito de empatia. Sendo empático é possível ao terapeuta se fazer compreender frente ao paciente e compreendê-lo em sua singularidade. A empatia nos permite um processo dinâmico de exercitar o respeito, a disponibilidade, a sensibilidade, a integridade na relação terapêutica como também por ela é possível alcançar um nível sempre crescente de confiabilidade e conforto, que irão beneficiar mais diretamente o cliente – alvo das intervenções. Enfim, por uma máxima bioética temos, na relação terapêutica, o espaço seguro para que a expressão do paciente seja material de tratamento e também resultado deste. Goethe enuncia que “quem não conhece a história de sua arte não conhece sua história”. A arte de ser terapeuta, qual a dimensão de buscar aliviar a dor que o outro sente? Aliás, o que faz o terapeuta é somente aliviar ou ele pode, factualmente, estabelecer uma contigüidade que favoreça ao paciente a construção da realidade de cura tão almejada? Infindáveis questões que despontam do existencialismo da relação terapêutica vão se relacionar intimamente à esfera do humano, circunstância em que se autoconhecer, desejar, transformar-se e aprimorar são as leis de se fazer existir. Tais leis a que também está submetido o terapeuta. O terapeuta sente o medo de nada ter para oferecer quando se deparar com demandas do cliente que apesar de todo seu conhecimento e formação acadêmica ainda não pode dimensionar pela vivência que reuniu consigo até então. É possível o terapeuta cometer um equívoco se ele se propuser a cuidar da doença - por julgar ser isto o mais concreto a lidar e ter nisto um caráter científico, e não da pessoa em detrimento à esfera existencial que o ajudado traz na terapêutica. No entanto, o terapeuta, em intermitente formação, dispõe da sabedoria de que sua ação pode fazer de cada momento na relação de ajuda uma oportunidade de cura, em que o paciente pode libertar-se para além da escuta ir ocupar um processo de superação. A dor do paciente, mesmo que isto seja denominado essencialmente subjetividade, é o material para que o terapeuta possa exercer sua função e seja assim eficiente no que se propõe a ajudar. Alguns desafios serão encontrar definições para tratamento, terapia, ajuda, atender. Fazer um paralelo com a questão: - o que o paciente quer? O paciente ocupa um foco onde a relevância é a escuta de

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seus pormenores. No outro, o terapeuta se faz escutar tudo o que possa ser atribuído à integridade do paciente a partir dos elementos que este último traz. A relação binomial da ajuda vai compor-se como vínculo de sensibilidades, encontro de acessibilidade mútua entre os sujeitos do par e (re)construção de conteúdos, ou significantes, pelos quais o ajudado apropriar-se-á de um beneficiamento direto – são estes os seus próprios limites advindos pela condução terapêutica. Quando o terapeuta depara-se com a dor como o resultado de sua ação, uma intrigante descontinuidade da proposição de ajuda. Atendi H., criança de 02 anos, portador de rara síndrome metabólica, a de Lesh-Nyham, que altera o metabolismo das purinas, produzindo processos de anemia crônicos e alterações comportamentais graves, num ambulatório de intervenção sensório-motora durante 02 meses. Meu primeiro contato com esta criança foi anterior, durante uma internação (por infecção de vias áreas superiores) quando foi solicitado à Terapia Ocupacional realizar uma avaliação global do desenvolvimento e, possivelmente, acompanhá-la. H. era uma criança que somente fazia movimentação ativa das extremidades, notadamente às superiores, sem controle motor para movimentação do tronco ou mesmo da cabeça, permanecendo deitado no leito severamente irritadiço, ansioso, aversivo ao contato. H. mutilava-se inconscientemente, dado que este é uma produção sintomática da síndrome, mordendo seu lábio inferior (já em processo acentuado de fibrosamento em sua maior extensão), em certas ocasiões podia-se observar o relato da mãe de que “a criança comia sua boca”; em casa H. (por cerca de 06 meses anteriores à esta internação) começou automutilações mordendo os seus polegares – que estavam, então, em processo agudo de inflamação. Imediatamente pudemos proteger estes dedos com uma espécie de dedal de plástico, resistente, que a mãe trouxera de casa. H. reagia agressivamente à minha presença, impulsionava todo o seu corpo, como quem pulava deitado, utilizando a movimentação dos membros inferiores. Após a alta, iniciamos o acompanhamento mais estreito no ambulatório. H. permanecia gritando, chorando, assustado durante os primeiros dias deste novo trabalho: iniciamos ali um processo de estimulação sensório-motora global para o aprimoramento no que tange ao severo atraso do desenvolvimento neuro-psico-motor, associado a esta proposta

buscamos conduzir uma abordagem

cognitivo-comportamental em que H. era convidado a conduzir um autocontrole para cessar, inibir ou apenas frear o processo de mutilação que era desencadeado automaticamente quando retirávamos os tampões na sessões terapêuticas. A dor daquele menino era transposta para além de seus olhos, sempre lacrimejantes, seus lábios sangrando, seus movimentos angustiados de levar os polegares à boca – sua repulsa por mim ou sua exposição durante a terapêutica faziam-me questionar, a todo momento, o próprio ajudar, que somente viria posteriormente a superação de limites agudamente álgicos. Em Terapia Ocupacional, o profissional almeja auxiliar o seu cliente em estratégias de superação, a partir das dificuldades, deficiências, inabilidades ou mesmo incapacidades com as quais este paciente se depara para se autogerir, seja nas atividades laborais, de recreação, da vida prática cotidiana ou do autocuidado. Os resultados compatíveis a este propósito tornam-se significativos quando na condução

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algo relevante ao aprendizado / à inserção / recuperação vá ser erguido por um processo dinâmico de fazer. O paciente que busca, que apreende o que seja escolher, que aprende o que lhe seja valor, metas, necessidades de adaptação, depara-se na Terapia Ocupacional com um processo práxico de fazer-se individualidade, consciente, autônoma, independente, resoluta. Apesar do que tais primórdios possam ser inacessíveis a grande parte da clientela que tradicionalmente cuidamos, o que nos faz implicar em práticas sempre desafiadoras e atualizadas frente à singularidade da vivência clínica. O alívio da dor, a ampliação de um senso de competência, a “descoberta” de uma saída para que o cliente administre seus sintomas a ponto de permitir que isto o faça ser e estar mais confortável no dia-a-dia; muitas vezes são estas as circunstâncias que marcam o final da terapêutica, e o seu máximo de eficiência. Terapeutas ocupacionais conhecem vivências em suas práticas sociais e na Saúde que lhes favorecem uma crença na arte que se anuncia pela arte de viver, de poder viver bem, melhor. Perguntamos aos nossos clientes o que você gostaria de fazer por si mesmo? O que precisa fazer e não o faz agora? O que lhe falta para ser e mudar? Auxiliamo-nos a descobrir os porquês destes processos de abandono e com ele poderemos eleger prioridades, relevância, para conquistar novos caminhos, ir ainda mais longe além da queixa do não conseguir, do não fazer. Uma antiga anedota, da existência humana, a que diz: “ninguém no mundo sabe quanto pode durar um segundo de sofrimento” parece dar o tom da conversa quando qualquer cliente insere-se na lógica da Terapia Ocupacional. O contexto que irá ser implementado deve partir deste tipo de indagação para que o cliente identifique, e posteriormente aproprie-se de, o sentido da terapêutica via ocupação. A avaliação do terapeuta ocupacional constitui-se de um elenco de instrumentos que o faz tocar, acessar, conhecer o impacto daquele sofrimento na vida cotidiana. Sua ação nos diversos níveis de atenção à saúde e das práticas ditas sociais, busca trabalhar com o quê seja dificultador / limitante para o cliente na participação em contextos, papéis, demandas cotidianas e na manutenção dinâmica de bem-estar bio-psicossocial e espiritual para a execução de performances ocupacionais, sobretudo nas formas de desempenho em atividades da vida diária, autocuidado, lazer e do trabalho propriamente dito. Por este bojo de legitimar sua função o terapeuta ocupacional vem se inserindo em serviços multi e interdisciplinares, trazendo em si uma contribuição que articule as diferenças dos clientes e potencialize uma prática que venha a desconstruir culturalmente estigmas e preconceitos e trate de fazer algo contra o não ser. E se o terapeuta abandona seu cliente? E se o terapeuta precisa transferir seu paciente por se ver completamente despreparado para atendê-lo? E se os valores do paciente vão contrários aos rumos propostos pela terapêutica? E o meu lugar? Onde moro? O que sei que lá eu me acho: Nos olhos do outro que está me olhando.

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Ao considerarmos o encontro humano que dá quando terapeuta e paciente entram em contato a paisagem que se inaugura é o do descobrir a si mesmos, um diante do outro. Não são os mesmos, ocupam lugares distintos, pré-definidos, porém as ações de um repercutirão em reação no outro. A falta dentro de um será na expressa na busca que este fará no outro; no caso, é esta a direção na qual o terapeuta se dedica por manejar clinicamente as demandas com que o paciente se depara e se apresenta no curso terapêutico. O terapeuta ocupacional como um artesão constrói um saber de modo vivo, que advém do fazer do cliente. Tal o fazer no trabalho psicoterapêutico, com o constante interlocução pró-transformação, que almeja uma ação que forma, (re)forma, informa e, enfim, trans-forma. O saber o do cliente emerge em sei mesmo em atividade. E se na prática o terapeuta ocupacional se mantém paralisado com o receio de envolver com seus clientes, é por que em verdade ele momentaneamente se esqueceu que o saber é do outro; a substancialidade da relação afeta mais diretamente o paciente, dado que este se defronta com todo o material que somente ele poderá dedicar-se, haver-se, ainda que seja o terapeuta o instrumenta-dor desta ação. O medo do terapeuta, de envolver-se com cada paciente, neste momento, torna-se solúvel e não mais se justifica. Os produtos terapêuticos são feitos históricos, marcam a atuação do paciente num contexto específico, do setting e da relação, mas que não permanecem ali estéreis no objeto produzido; de fato, está indo constituir parte da história de vida deste cliente e ser, assim, por ele incorporado intrinsecamente. Dificuldades da prática: - quando a quantidade precisa superar a qualidade, quando o terapeuta se permite exercer protocolos rígidos, quando o profissional se fazer um técnico que se dá executar apenas saberes específicos, restritos a ultraconcepções teórico-metodológicas. Ser terapeuta é algo que se aprende a ser, que sempre demandará de que for sê-lo uma atualização sem fim de si mesmo diante dos outros, pois que a constituição de sua atitude está ao nível do dispor-se e isto representa, por excelência, um cuidado com a singularidade de cada paciente: pretensões de alcançar uma relação exclusiva, única a todo momento do contexto da relação de ajuda. Num conceito psicanalítico, o terapeuta é um ser em pura falta-aser, sua totalidade não é outra senão a de reconhecer que precisa alcançar o paciente de forma relacional, aprendendo com ele. A égide da relação terapêutica está em estar diante. O estilo de cada terapeuta o faz marcá-lo como um sujeito inigualável, que pode auxiliar o paciente de uma forma absolutamente própria, tal qual virtude, dom quase indizível, concernente a um universo particular do seu vir-a-ser cuidador, papel e disponibilidade para auxiliar pessoas nos contextos de Saúde onde atua. O acesso ao terapeuta é uma forma dinâmica de se fazer comunicar, dentro de um molde que configure partilha de significantes, significados, para estabelecer a ordem do comum, do par na ação terapêutica. Daí o paciente reconhecerá o sentido para confiar e valorizar o sentido de se permitir ser ajudado na convivência desta relação. Estabelecido o contato terapêutico, a relação enuncia-se para operar significantes inerentes à sua justificativa. Esquematicamente encontramos os presságios para sua formulação: * as demandas que o paciente traz ao terapeuta no serviço de ajuda; * a disponibilidade profissional terapeuta, que oferece ao social uma possibilidade de auxílio, escuta, cuidado; * a constituição de uma atmosfera de calor pró-contatos

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entre terapeuta e paciente, própria da alma dos serviços de Saúde; * o reconhecimento da necessidade e da existência de um ambiente protegido para o percurso terapêutico; * a construção da empatia e o processo de vinculação. Finalmente, temos nesta hierarquia a singularidade da intervenção terapêutica propriamente dita – dinâmica interacional do fazer e do lidar. Assim, no que se refere à Terapia Ocupacional a relação, em estudo, alcança sua totalidade por ser embasada em atividades e ocupações, que somente tenham função se relevadas às necessidades individuais trazidas pelo cliente. E ao cliente é permitida uma reinvenção a todos os momentos da condução no setting, pois ele se conhece, aperfeiçoa-se e almeja inovar suas conquistas. O terapeuta, por sua vez, trata de contribuir com esta prática inovadora, trazendo outros estímulos, desafios para além dos já imprevistos que inevitavelmente qualificam todos os encontros humanos. O final da terapêutica aponta para o momento no qual o paciente já ocupa um grau mais ampliado de autonomia, que represente a superação de uma demanda mais específica restritiva ao cotidiano ou geradora de desconforto mais acentuado. Neste etapa, a convivência terapêutica deixa de circunscrever aquilo que seja essencial para o paciente, dado que o processo intermediário da condução serviu para superar objetivos e habilitá-lo. É necessário ao terapeuta conduzir seu cliente diante ao estranhamento do “eu posso?”, “eu consigo sozinho?”, “então eu não vou mais precisar vir aqui, precisar de você...?” tal que para favorecer percepção mais ampliada: o acompanhamento terapêutico mostra novos horizontes, nos quais o cliente engajado poderá priorizar inovação de seus projetos de vida, circulação social, renovação de metas funcionais. O cerne da relação terapeuta-paciente ocupa um status binômico: provocar versus afetar. O provocar (pró-vocar; vocare: chamado) permite com que terapeuta invista num chamamento do seu cliente, uma sensibilizar-se ante ao processo que, supostamente, irão inaugurar juntos de mudanças. O afetar é um estado em que o paciente depara-se com um incômodo, que dentro do processo terapêutico manifesta-se contrário ao direcionamento da ajuda, por que só serve se gerar impasse e existe para gerar movimentos dentro da óptica da relação a caminho; o paciente encontra-se aí numa instância subjetiva, afetiva, propulsora para externalização de suas potencialidades. À medida que o terapeuta mais provoca o paciente, promovendo oportunidades para a resolução de demandas e ou conteúdos por eles identificados como significantes, mais afetado se tornara o paciente diante das suas próprias necessidades; a terapêutica acompanha o ritmo destes dois valentes, sendo que o terapeuta avalia constantemente o quanto sua intervenção já possibilitou recursos e aprendizados para que o paciente também inaugure, por si mesmo, movimentos de apropriação deste tipo de ferramenta não somente na ambientação terapêutica, como majoritariamente na vida cotidiana. Tendo a formação de sujeitos como produção inequívoca da relação terapeuta-paciente, não encontramos dentro do sentido da ajuda espaço para a produção de fenômenos massificadores. Sejam os

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elementos úteis ao par terapêutico especialmente objetivos que tendam a (re)inovação a efetividade, a pertinência de resultados apontam três parâmetros: * aprender algo de si – apreensão via vivência; * estabelecer processo de mudança – consciência do paciente sobre si e os outros, o mundo a ele circundantes; * reconhecer historicidade a partir de uma trajetória comum – convivência terapêutica que favoreça ao paciente desenhar (e criar linguagem) algo que lhe seja oportuno, relevante, transformador diante sua realidade existencial. Entendo que estes parâmetros em conjunto nos possibilitam o questionamento a respeito do que nós – terapeutas ocupacionais, temos formado, traçado contornos, apropriação com o que nos propomos contribuir com nossa clínica que utiliza a ocupação humana como um saber para e sobre a saúde. Além do mais a interseção entre terapeuta e paciente, cabível à aliança terapêutica, preenche acolhimento, comunicabilidade e problematização para o crescimento mútuo no encontro, o que faz dos impasses os desafios para terapeuta e paciente percorrerem em conjunto. O saber do terapeuta, inerente à sua constituição e atuação, é um saber que não se aceita esgotar. O alcance deste trabalho monográfico é só e tão discretamente ser ter pra si uma incompletude. Estes escritos servem apenas para identificar a necessidade de exercitamos uma atividade reflexiva sobre o que seja se dispor para caminhar numa relação terapeuta-paciente, oportunamente pelos percursos da Terapia Ocupacional. Ao concebermos que temos necessidade de estudar mais profundamente a relação terapêutica, inexoravelmente deparamos com um desconcerto de ter que mais conhecer o paciente: o que vai ser aproximar. O presente estudo busca valorizar o tema, que acolhido pela vastidão da clínica, almejar reunir-se a um campo ainda mais irrestrito, lugar onde a expansão toma frente para ser soberana de sentidos, significados e formas de alcançar. Um trabalho monográfico não pretende inventar articulações, apenas deve ser uma pequena contribuição ao pensamento científico em voga. Busquei traduzir para o legível algo que encontrei expressão nas vivências, e o que julgo ser passível de comunhão com outros terapeutas ocupacionais. O dizer é uma prática, que de acordo com sua acepção grega significa dispor, disponibilizar, tal qual o sentido da relação terapeuta-paciente. Ao dizer temos em nós também uma forma de saber mais e de escutar de si mesmo. Acredito que é dizendo que nos deparamos juntos com propostas sempre interessantes ao crescimento profissional. Diálogo para promover diversidade clínica, epistemológica, na legitimidade e na ética da Terapia Ocupacional. Para mim este trabalho resulta do ultrapassar a fronteira do que eu soube ser, o que deixo aqui registrado já é apenas parte, por que sei o quanto é necessário saber mais, fica de resto a sensação de um vir-a-ser (a posteriori). Porém, a lacuna que houvera foi traduzida como reafirmação da necessidade de conhecer mais e mais a riqueza da clínica e o que ela ensina em seu lugar de cuidado, ajuda, das humanidades... O paciente, para o estabelecimento de um vínculo interessante ao processo terapêutico em condução, tem na transferência um recurso simbólico no qual seu inconsciente autoriza ao terapeuta ocupar

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o papel de ajudador, como já referido neste trabalho. A transferência tem em si um caráter perturbador que na interface com o outro, o sujeito despoja-se de certezas fixas e passa a investir numa busca de conhecer, de aprender, deixando-se tocar pelo outro, no caso o terapeuta. As descobertas serão advindas da falta que o paciente sente em si, o movimento de busca o fará inscrever no mundo um dar de si, isto é sua marca pessoal de significar as relações. Na transferência ocorrerá uma identificação simbólica do sujeito para com o outro e que por um mecanismo psíquico lhe dá a sensação de que este outro poderá ajudá-lo em sua própria falta. O psiquismo em suas três dimensões - real, imaginário e simbólico, cria linguagens que manifestas aproximam o paciente do terapeuta, por identificações do primeiro e escuta e manejo do segundo. O paciente crê que o terapeuta possa auxiliá-lo, o processo subjetivo nascente nesta relação é fortalecido com estratégias de enfrentamento e de aprofundamento para que o ajudado efetivamente se conheça e, por isso, reconheça a si. Em Terapia Ocupacional, há ressonância desta conceituação quando valorizamos a natureza reflexiva do sujeito, para auxiliá-lo a implementar sua autobiografia, num compasso de trocas com os outros, aprimorando dinâmicas de interação com mundo através de performances ocupacionais. A contextualização de vida de uma pessoa, considerando a passagem por um processo terapêutico ocupacional, idealmente poderia ser compreendida desde a sua pré-história, repleta de demandas até elaborações significativas como: idealização do self, processo de individuação, reconhecimento de diferenças, subjetividades e também da sua própria finitude como ser individual diante a efemeridade do tempo; tais elaborações que possam conotar um sentido de viver intransferível para cada paciente submetido à nossa intervenção. A especificidade profissional da Terapia Ocupacional não tem para si uma função normalizadora, tampouco normativa a respeito do que seja o fazer dos seus pacientes ou o que seja apenas, como tradicionalmente fomos identificamos, de reabilitá-los. A pertinência da Terapia Ocupacional reside num método que inclui: * identificação de fatores limitantes / incapacitantes para que o paciente seja autônomo, independente, resoluto em seu cotidiano; * instrumentalização com o desenvolvimento de habilidades, competências, desempenhos que repercutam em recuperação ou conquista de papéis, funções ocupacionais do paciente em seus contextos relevantes; * manutenção de acessibilidade, quando a profissão faz um diálogo direto entre o sujeito e suas idiossincrasias e a sociedade e suas exigências; * implementação de habilitação, processamento de saberes e reconhecimento das diferenças para que o paciente tenha uma estrutura bio-psicossocial e espiritual que lhe permita viver com qualidade e dignidade. Este método faz uso daquilo que seja acessível ao humano, na condição de ajudado, que o configure como uma identidade em latente expansão; tem ainda um caráter psicoterapêutico e interacional, sócio-afetivo, pelo qual o terapeuta ocupacional interessa-se por estabelecer com seu cliente aprendizados (através) do fazer e que isto construa valores-vivência únicos para cada caso. Tais valores seriam para o paciente o conhecimento de seus limites, que se alargam durante a condução terapêutica, assim como o reconhecimento de suas próprias estratégias de habilitação e a apropriação de lugares possíveis, resultantes das mudanças implementadas com a terapêutica.

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O encontro terapêutico é regido por uma universalidade de sentimentos e emoções, que ora permitem a aproximação afetiva do par, ora geram conflitos passíveis de tensão na condução terapêutica. Os limites de um frente ao outro; os caminhos que vão tentar trilhar juntos, como metas terapêuticas a serem alcançadas; a comunicabilidade e as interfaces das linguagens entre terapeuta e paciente, e suas limitações pessoais; a temporalidade interna, intrínseca de cada um no encontro terapêutico; as dúvidas, incertezas, inseguranças e ocupação das posições distintas de ajudador e de ajudado; as necessidades de trocar, desejos, expectativas; os interesses frente às (in)compatibilidades e, por último, o direito inalienável de sempre escolher, sendo assim traçamos aqui parte do que desponta humanamente neste encontro. É o que irá atribuir expressão das diferenças e intersubjetividades que contribuem para o processo de libertação da consciência, de apropriação da individualidade, na relação de ajuda. A relação terapeuta-paciente é pautada pelo encontro humano que se dá em função da ajuda, como meta de seu existencialismo. Interagindo terapeuta e paciente vão associando suas peculiares formas de percepção, os caminhos que percorrem são produtos de suas complexidades em articulação. A relação terapêutica oferece produtos que refletem a capacidade dos indivíduos de apropriarem de si mesmos como individualidades, buscando daí aprimorar sua trajetória existencial; no caso do paciente, tal o sentido de buscar articular-se pelo apoio que venha do outro, do externo, isto representa ocupar uma qualificação identificadora – do papel de doente, deficiente, de menos valor, para o de entidade em construção, sujeito capaz de desenvolver-se e superar suas questões, aprender além dos seus limites. Os elementos culturais que cada pessoa carrega consigo permitem a significação de valores, numa conjuntura ampla e totalizante da constituição do ser. Isto também será reproduzido na orbe do encontro terapêutico, faz com que a realidade existencial de ser terapeuta e de ser paciente no serviço de Saúde / social encontre na experiência de ajuda, mutuamente compartilhada, a inovação de um ideal igualmente compartilhado que aponta para a necessidade de um projeto a ser construído. É possível denominar tal projeto como um conjunto de metas, humanamente úteis para o bem-estar do paciente, somando-se a isto criar uma instância que privilegiei o paciente em sua causalidade de ser. A transferência, como um recurso simbólico, apresenta uma eficácia no momento em que se torna possível um manejo de forças entre terapeuta e paciente, que especialmente faz com que o ajudado se volte ao ajudador identificando-se. O paciente vai buscar apoio no terapeuta, por acreditar que é possível encontrar neste algo que aliviei a sua dor. A postura do terapeuta representa proximidade, sendo que esta percepção é conseqüente à elaboração subjetiva do paciente a partir da condução terapêutica, e do processo de vinculação propriamente dito. Transferir passa a significar buscar subsídio no outro para preencher uma lacuna, seja de falta a partir de quaisquer objetos distantes, perdidos ou ainda de confiar a tal ponto no ajudador, quando se faz plenamente aceitável ao sujeito acreditar que o outro possa fazê-lo. O terapeuta ocupacional, mais uma vez, depara-se com o desafio maior de utilizar desta transferência para

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alcançar o sujeito propondo a esse um fazer (com)junto, uma experiência humana de mudar a vivência e que isto somente seja interessante em Terapia Ocupacional se for partilhada. Por isto, valorizamos o saber humano, fruto de sua própria evolução histórica desenvolvimental; buscamos enfim utilizar, em nossa clínica, instrumentos inerentes do fazer humano e do cotidiano para implementar a promoção de práticas de Saúde, mais comumente reconhecidas as de Reabilitação. A concepção de ser humano em Terapia Ocupacional caracteriza-se por compreendê-lo como múltiplo, sociável, práxico, idealizador, desenvolvimental, subjetivo, como também de sua natureza dita espiritual: desejante, cônscio de seus limites, potente de uma individualidade que o permite realizar-se. A linguagem em Terapia Ocupacional é construída essencialmente valorizando os recursos do não falar, da comunicação não-verbal intrínseca à esfera do fazer, do construir que tanto priorizamos em nossas intervenções; a linguagem do não falar, mas, sobretudo do dizer pela amostragem, pela formação do sujeito externalizada no objeto é advinda e implicitamente construída ao longo das transformações no setting terapêutico ocupacional. O método terapêutico ocupacional deve promover, assim, aprendizados ao paciente de forma a informá-lo de sua efetiva capacidade de fazer, refazer e apropriar-se de si mesmo conscientemente. Por último, a relação terapeuta-paciente permite, de acordo com o conceito chamoniano, saber (conhecimento sobre o si, o outro e mundo circundante), o dizer (expressão de formas como este saber é construído) e o pensar (elaboração reflexiva-práxica pela qual o sujeito vai libertando sua consciência, numa dimensão transformadora da própria existência e do ser como individualidade, self). A interação na relação terapêutica se dá via o processo de cura, a relação de ajuda é o seu instrumento. O paciente e o terapeuta compõem um conjunto, sendo que o desejo expresso por este par é conduzir o ajudado em seus caminhos de busca. As prioridades para a condução terapêutica são demandas a partir da temporalidade pessoal trazida pelo paciente, sua causalidade em engajar-se ou não em papéis ou contextos de desempenho que sejam relevantes ao seu cotidiano, valorização pessoal (para nomeação das metas, novamente relevância), estágios de consciência em locução com necessidades, pelo cliente identificadas, como de (auto)libertação. Os resultados tendem a substancialidade de saberes, nos quais o paciente sabe / aprende algo de si, do outro, do mundo e isto suficientemente o estimule a ir além do medo, da insegurança, da insuficiência relatada, ou ainda da angústia existencial, da deficiência intrínseca ao ser, sua incapacidades. Tais resultados são matérias-primas para que o terapeuta utilize sua sensibilidade em prol da fomentação de saberes, inovação e incorporação de processos de mudança para seu cliente. A relação terapêutica solicita, inerente a sua constituição, a criação de um espaço protegido, vivo em acolhimento, digno ao mostrar-se do paciente. Denominado de setting terapêutico, de acordo com o pensamento chamoniano, repleto de uma atmosfera de calor e que se justifica por: * fortalecer a esperança do paciente de que algo ali será melhorado; * encontrar alguém que de fato possa protegê-lo, oferecer cuidados naquele lugar; * visualizar um espaço concreto, onde se possa sentir a renovação; * promover o

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alcance às (inter)subjetividades, quando as sensibilidades ganham importância na interação da relação de ajuda. O terapeuta, neste locus, busca motivar o seu paciente a lutar contra a negação da dor e do si, a não aceitar a alienação frente às demandas da vida, a não acomodar-se e isolar-se com medo de ser e do fazer, a não abandonar sua ética pessoal, por que para o terapeuta há recursos e valores no paciente e isto gera expressividade, marco de uma existência digna, legítima. O terapeuta passa a identificar elementos que possam ser erguidos, (re)feitos no setting, como a auto-estima, a capacidade de inovar, as estratégias de enfrentamento (do termo em inglês coping) e o senso de pertencimento. O uso de atividades na prática da Terapia Ocupacional, como um recurso para o terapeuta ocupacional promover ações em Saúde, fornece recursos para elevar os pacientes (alvo da intervenção) a uma condição relacional - quando a atividade terapêutica utilizada na perspectiva de fim-meio assume um caráter expressivo e formativo (JORGE, 1995, p.07): ao sujeito é possibilitado a construção de sua singularidade dentro da relação terapêutica. As falas do paciente, em Terapia Ocupacional, tem para si um valor causional sendo assim meio, elemento que compõe a universalidade da relação terapêutica, mas o que de acordo com o pensamento chamoniano (JORGE, 1995, p.07) diretamente deve favorecer à atividade sua excelência como fim-meio. Isto repercute numa concepção de Terapia Ocupacional em que o intento terapêutico prioriza a ação do sujeito, sendo que o paciente ao ocupar esta possibilidade tem para si momentos desafiadores que o convidam a transformar a si mesmo e a lidar com o mundo ao redor, sendo estes trabalhos os objetivos a serem buscados na nossa profissão. Especificamente a condução da relação terapeuta-paciente, pelo cosmos da Terapia Ocupacional, repercute em produtos não-verbais, tais como expressões, linguagens, percepções do sujeito e sua forma de ser, estar, inter-agir, reflexões sobre o se fazer conhecer, necessidades de se mostrar ao terapeuta, atribuir formação em sua condição existencial e da consciência e gerar informação com atualização nos objetos produzidos de seu processo de saúde-doença, promoção de autoconhecimento sobre limites, necessidades, anseios, potencialidades a serem apropriadas pelo paciente. O terapeuta ocupacional assume uma perspectiva de substancializar tais produtos naquilo que seja interessante à dimensão relacional de seu paciente, buscando caminhar com o ajudado para aonde seja possível elevar o nível de autonomia, conquistar grau de independência que permita engajamento em atividades que cotidianamente sejam relevantes, ou demandadas, aos contextos de vida do seu paciente. Finalmente, Chamone compreende que “o trabalho do paciente é fim-meio para a construção de saber, quando a capacidade de conhecer e o conhecimento são vistos fora de qualquer escala hierarquizante” (JORGE, 1995, p.30). Ainda com referência na contribuição chamoniana - Rui Chamone Jorge em “O Objeto e a Especificidade da Terapia Ocupacional” (JORGE, 1990), a Terapia Ocupacional epistemologicamente é um método crítico-laborativo das relações humanas, que em sua dinâmica psicoterapêutica pode auxiliar as

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pessoas num processo de libertação da consciência frente às suas demandas de saúde, com a seguinte caracterização: - utilizar ocupações livres, criativas, expressivas; - tratar pessoas em todos os níveis de atenção à Saúde; - aproximar o terapeuta e o paciente num contexto de ajuda (relação e ajudador e ajudado para o alcance dos objetivos por ele traçados no encontro terapêutico). Assim, novamente, para Chamone a utilização das atividades humanas como um recurso terapêutico ocupacional vai estabelecer mediação do processo psicoterapêutico transformador do paciente em três dimensões, essenciais à sua cura, a do fazer / falar / saber. Chamone justifica que a importância da Terapia Ocupacional reside no fato de se oferecer ao paciente a oportunidade de intervir no mundo externo (sendo possível incluir neste lugar o processo de saúde-doença, contextos de performance ocupacional, rotinas, papéis e relevâncias pessoais) segundo na sua intencionalidade, vontade (também motivação) e com liberdade de formas (JORGE, 1995, p.52). A visão do paciente como individualidade é expandida em Terapia Ocupacional se o compreendemos em sua natureza espiritual. Chamone enuncia: “Tudo do espírito provém. Viver é existir na abertura do ser e na adequação do ser” (JORGE, 1995, p.33). Tal adequação do ser é a articulação do ser em lidar com aquilo que lhe seja relevante, necessário ou intrinsecamente desejante, como as atividades de autocuidado, da vida prática nos ambientes de casa ou da cidade, das atividades rotineiras da vida diária, do trabalho, do lazer, enfim demandas que se façam relevantes à constituição do sujeito como um ser interacional e capaz de se fazer existir, transformar, inserir, sua autogestão e sua realidade espiritual marcante nestes processos de viver. A Terapia Ocupacional ainda concebe o ser humano com uma natureza práxica: ser individual, reflexivo, sujeito idealizador de metas e potente em se transformar, de acordo com seus próprios desejos e superação de necessidades advindas naquilo que se permite haver consigo e diante do mundo. Produzir sentidos com seus pacientes, clientes, resgatar significados idiossincráticos, existenciais, espirituais através das atividades terapêuticas desenvolvidas, promover apropriação pessoal do ajudado em enfrentar o seu cotidiano de vida comum, construir com o cliente a sensibilidade que o permita engajar-se motivado em papéis e rotinas, outros finalidades por ele demandas, são os enfoques essenciais das ações do terapeuta ocupacional nos percursos da saúde práxica. A Terapia Ocupacional apresenta ao paciente outros interesses além de suas preocupações mórbidas, não sendo aqui entendidas como recreação puramente para preencher ócio, tempo livre, o nada a fazer, mas que ajudem o cliente a externalizar seus sentimentos de hostilidade, angústia e dificuldades para manter sua auto-estima, principalmente no que tange ao processo de adoecimento por ele vivido e os limites com que se depara para o fazer, o transformar. A intervenção visa proporcionar ao paciente, através do fazer como um método de alcance psicoterapêutico, recursos de acolhimento, de autoconhecimento, de enfrentamento de dificuldades conscientes ou expressas subjetivamente e (re)construção de uma postura sempre ativa, para ser inerente ao seu vir-a-ser existencial. A Terapia Ocupacional, traçando para si uma especificidade para atuar nas ações de Saúde, interessa-se por lidar com demandas pró-cotidiano e quer ampliar a rede de significantes do sujeito frente

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àquilo que o permita ser e manter-se autônomo, independente, potente; tal um processo que exorte o senso de competência da pessoa que se recupera, dando valor à sua (re)modelação de auto-estima e dos sentidos para viver. O presente estudo monográfico nasce de uma experiência de rito de passagem. O estudante de Terapia Ocupacional, inicialmente, com suas incertezas sobre o tema se fez disponível para conhecer e se questionar diante o objeto de estudo traçado (o da relação terapeuta-paciente). Depois quando o estudante se torna estagiário nos diferentes serviços, seja nas exigências da formação acadêmica em Terapia Ocupacional nos estágios curriculares ou nas práticas das disciplinas aplicadas à clínica, alcança um aprendizado ampliado sobre o estar diante do seu paciente e o defronta com todo o aprendizado teórico, até então acumulado. Para finalmente, como um terapeuta ocupacional ocupar o papel de ajudador e apropriarse em saber sê-lo, mesmo que isto se faça uma clínica do sempre aprender a fazer com cada cliente que for encontrar, um encontro que vá questionar as certezas e que, intrinsecamente, atribua autonomia em sua função terapêutica e de construir realidades com sua ação. Dois ditos encontros terapêuticos Atendi B., criança de 02 anos, em um ambulatório de Terapia Ocupacional para o desenvolvimento infantil, em um hospital da rede estadual. Encaminhada para programa de estimulação sensório-motora pela Neurologia, apresentava severo atraso do desenvolvimento neuro-psico-motor em decorrência de um traumatismo crânico-encefálico aos 02 meses de vida, quando sofreu grave queda (do colo da mãe em uma escada). B. mostrava-se absolutamente apática, pouco favorável ao contato no setting terapêutico, sem fixação do olhar, nem sorriso social durante os primeiros contatos. Permanecia deitada em decúbito dorsal, imóvel durante a maior parte do tempo, hipotônica (mais acentuadamente no eixo axial). Sua mãe, que acompanhava todas as sessões terapêuticas, trazia um depoimento de angústia: ora preocupada com as condições tão limitantes da filha, ora sensibilizada (relatando sentimentos de culpa, angústia, sofrimento moral) pelo quê aquela terrível história gerou em suas vidas. A abordagem terapêutica ocupacional, inicialmente apontaria para o programa de intervenção sensório-motora a ser desenvolvido com a criança. No entanto, a demanda da mãe implicava diretamente num descompasso frente ao seu papel de mãe e, sobretudo, da relação de cuidado com a filha. Os atendimentos daquele momento foram marcados por uma abordagem centrada no núcleo familiar, entendendo a extensão do “problema” como centrado na significação da vivência, do fazer relacional, entre mãe e filha e na perspectiva de superação para a construção do cotidiano relevante ao seu contexto de busca: uma ocupando um papel de cuidadora por excelência, outra se desenvolvendo para um bem-estar global em sua capacidade de ser. A partir de então, fui dialogar com L., mãe de B. (sua segunda filha) sobre aquelas dificuldades emocionais que trazia e como poderíamos abordar tal questão, juntos em prol da melhor condução terapêutica possível às condições de B. Ao final dos atendimentos com a criança, a mãe era convidada a avaliar suas expectativas, assim como as perspectivas em renovação sobre o ser mãe, em auto-organização, relevância pessoal e

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favorecendo seu próprio senso de competência e auto-estima. Apesar do registro inegável da dor, a mãe foi gradualmente implementando formas de agir que fossem superar o limite, advindo do acidente e que era explícito no desenvolvimento de B. L. passou a ocupar um papel eficiente de parceira na condução terapêutica, procedendo em casa com os manuseios terapêuticos discutidos, ensinados, demandados nas ações da terapêutica ocupacional – o que se tornou crescentemente viável, indispensável para alcançarmos um conforto para B. A criança respondia com melhora discreta, o que registrávamos no padrão de movimentação global. Após os 03 meses da condução terapêutica naquele ambulatório, B. alcançou razoável sustentação do corpo antigravitacional, dado que apesar do rebaixamento da cabeça, podia agora se manter um tempo maior na posição sentada. Porém quanto aos aspectos sócio-emocionais, em especial ao componente de interação com o ambiente, de comunicabilidade e de respostas voluntárias, tão valorizados nas ações ali conduzidas (compreendendo o papel de brincante, função ímpar para o desenvolvimento da criança), pudemos conhecer a singularidade de B. em ser e se fazer viver. Naturalmente, B. tornou-se uma criança “sorridente” – o orgulho e o alívio da mãe, reativa ao contato, capaz de alcançar interações precisas no setting, durante a movimentação voluntária e a comunicação. Tal mudança também observada pela mãe em casa: B. conseguia brincar com os outros membros da família e respondia satisfatoriamente aos estímulos no que tange os momentos do autocuidado – banho, vestir e alimentação. Especificamente pela avaliação contínua de Terapia Ocupacional, pude registrar que havia intencionalidade em B. para a auto-expressão, traduzindo com a face o processo básico de comunicação sim-e-não, desenvolvendo-se cognitivamente dentro do potencial esperado pela idade. Freqüentes, nesta época, tornaram-se os relatos do quanto B. passou a brincar no banho, no berço, sua melhora de sustentação do corpo, até mesmo para ser carregada e a mãe associava tamanha motivação de B. toda vez que a criança reconhecia minha voz, ou me via, antes do início de cada dia de acompanhamento: tudo pareceu favorecer o processo de construção relacional que nos dávamos a cuidar naquela ocasião. Maior sucesso, naquela relação terapêutica, era presenciar a satisfação de B. em tocar os objetos e brinquedos oferecidos, vê-la competente para ser lúdica, explorar o mundo com seu corpo limitado, mas modificando-o, conhecendo-o e a si mesma intermitentemente. Estrategicamente esta satisfação era inserida na lógica do programa de estimulação sensório-motor, o que classicamente já é desenvolvido por terapeuta ocupacionais que lidam com a clínica do desenvolvimento infantil, repercutindo em mais motivação a partir dos “sucessos” no “brincar”. Ao final da relação, L. avaliou que por maior que fosse o extensivo o déficit funcional de B. isto já não mais impediria aquela pequena vida de ser e fazer-se agente no mundo de infindáveis possibilidades a seguir. Conheci Z., em um serviço residencial terapêutico - SRT (uma casa mantida pela prefeitura municipal, que abriga e cuida de pessoas egressas de internação em instituições psiquiátricas), mulher de 55 anos, portadora de gravíssimo quadro demencial, tão comprometida funcionalmente que não fazia uso de recursos para a linguagem oral, mantendo-se afásica, agnósica e apráxica. Z. apresentava-se sempre favorável ao contato, abordava-a com a proposta de acompanhamento terapêutico, mostrava-se com um

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sorriso largo e comunicava-se com o olhar. Carinhosa, receptiva à aproximação ia tocando-me no antebraço espontaneamente. Muitas vezes quando eu chegava no SRT, Z. encontrava-se ansiosa e permanecia dando voltas inúmeras em torno da casa, não permanecia sentada à mesa ou no sofá na sala de televisão. Tornava-se possível identificar uma angústia, a que favorecia alterações tão ostensivas em seu comportamento, ininterruptamente. O cotidiano de Z., naquela ocasião, caracterizava-se por ir deitar em sua cama, mas que logo se decorria num levantar e ir até a sala, ou depois ir ao terreiro, sair na direção da cozinha, “procurar-me’ no escritório, de novo à sala, à mesa onde não suportava sentar-se, ao quarto, na cama... A equipe de enfermagem cuidava de mantê-la limpa, além da sialorréia intensa, Z. já não possui o controle dos esfíncteres. Os episódios de incontinência contribuíam significantemente para o quadro de ansiedade tão exacerbado, no entanto Z. era trocada, limpa, após um banho, sempre que precisava. Durante a juventude Z. trabalhou como auxiliar de serviços gerais e de limpeza, numa escola da cidade, morou sozinha, próxima à casa de sua mãe, tornou-se independente financeiramente e apreciava, então, cuidar da casa e dos seus animais de estimação. De acordo com o relato de M., mãe de Z. que a acompanhava no SRT, todo o histórico de sofrimento mental ocorreu subitamente quando Z. ainda era muito jovem, por volta de seus 28 anos. Tornou-se naquela época bastante agressiva, quebrava toda a casa, ora jogava a mobília fora no rio, ora se trancava e permanecia isolada ali durante dias seguidos. Sua mãe tão assustada não podia reconhecer a filha, num momento tão atroz buscou recursos em uma instituição psiquiátrica do estado e, dali em diante, Z. passou longos anos internadas em manicômios. Do estupor psicótico até o quadro de demenciação grave, Z. deixou de falar, não conseguiu mais executar comandos simples, confundiu-se quanto ao uso de objetos da vida prática, tornou-se completamente inadequada para conviver no grupo social. Contornos grotescos passaram a ilustrar o seu cotidiano de via: comia pedras, entulhos, suas próprias fezes, prostava-se sialórreica, emitia urros incontroláveis ou nos momentos de desagrado ainda gritava palavras chulas, soltas; adquiriu ao final deste processo de perder um aspecto pueril, sorrindo a todo tempo, associado àquela angústia que não cessava. Pude presenciar, muito esporadicamente, um esboço de reatividade quando Z., de alguma forma contrariada, produzia sons guturais como expressões orais semelhantes aos termos vulgares de outrora. Neste panorama de profundo não ser, Z. veio morar no SRT após amais recente internação (07 anos em um asilo). O projeto terapêutico para esta pessoa deveria valorizar uma reconstrução de cotidiano, possibilitando um pouco de conforto e assegurando dignidade ao envelhecer tão adoecido: seria interessante buscarmos juntos, um processo de mudança que repercutisse no que poderíamos identificar com qualidade de vida. O terapeuta ocupacional, a equipe de cuidadores e Z., todos juntos se fizeram inserir num contexto em prol do transformar. Especificamente, minha relação com Z. nasceu em meados do primeiro semestre de 2003, quando passei a conviver diariamente com ela na casa. Convidei Z. a me auxiliar com o cuidado com as flores, íamos regálas juntos. Promovia um contato maior com o ambiente, na medida em que Z. pudesse perceber algo do que estava ao seu redor e pudesse, então, interagir. Buscava resgatar um pouco do valor, de acordo com a coleta do histórico ocupacional de Z., do cuidado ou da estima pelos animais domésticos: íamos nos ambientando pela casa e aproximando dos gatos do lugar. Z. satisfazia-se com estes momentos, passando

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a demonstrar com um toque afável em minha mão que aquilo seria uma ponte estreita de aproximação entre nós. Sorria quando pegávamos ameixas no quintal, colhíamos outras frutas e as guardávamos na cozinha, tudo era finalizado em agradáveis piqueniques que nos dávamos corriqueiramente. Z. passou a me buscar, puxando-me pelo braço, indicando para aonde gostaria de ir. Os nossos horizontes se alargaram: fomos conhecendo a vizinhança, a calçada, muitas vezes ela ficava estática, quase que assustada (re)conhecendo o trânsito a nossa frente, até quando nossas fronteiras chegavam à Lagoa da Pampulha e ao supermercado local, e Z. voluntariamente mostrava-me pelo braço onde poderíamos chegar. Por excelência eu avaliava com bem-sucedida a intervenção terapêutica, notadamente como uma relação de ajuda que repercutia em produtos expressivos, pautados na linguagem não-verbal, no toque, na carícia, nos convites, tudo como forma de desafiar aquela pessoa à uma perspectiva do vir-a-ser e, assim, de mudar sua realidade existencial. Questionava-me a investir em cuidados com Z. de maneira a promover o “fazer com”, priorizando o “ir junto” como a ferramenta mais primorosa do nosso encontro terapêutico. O meu trabalho na casa, no SRT, qualificava-se primeiramente como uma intervenção de acompanhamento terapêutico, porém fui desenvolver dentro dos recursos da Terapia Ocupacional uma proposta de reabilitação cognitivocomportamental que pudesse ser adequada à lógica do contexto em que estava: ali era a casa de Z. e não uma clínica, ou um ambulatório. Para ajudar Z. eu não tinha a disponibilidade para transformar a casa num setting terapêutico ocupacional, mas a Terapia Ocupacional em sua ênfase no cotidiano de vida das pessoas seria a metodologia mais interessante para a implementação de um programa de cuidados, que repercutisse em um grau de bem-estar bio-psicossocial aliado à performance ocupacional do dia-a-dia. Iniciei, considerando a reflexão acima proposta, uma estimulação cognitiva com Z. em três ambientes distintos: o banheiro, a cozinha e a copa (enfaticamente a mesa de jantar). Começamos a executar com certa sistematização todas as atividades referentes às tarefas de banhar-se, arrumar-se em frente ao espelho, vestir-se, alimentar-se (excluindo aqui a preparação da refeição), limpar-se quando sentada à mesa e o deslocamento intencional dentre estes ambientes para a realização do nosso programa diário de treino funcional de atividades de vida diária. Rotineiramente, durante 03 meses fomos caminhando juntos até quando foi possível avaliar uma organização eficiente de Z. para identificar os ambientes (mais relevantes às áreas de contexto da performance ocupacional) e as propostas de atividades que deveria executar, mais autônoma e independente possível (P.S.: importante registrar que a equipe de enfermagem foi adequandose aos resultados e que, favoravelmente, mantia os ganhos funcionais quando cuidavam de Z. em outros momentos do cotidiano na casa). Assim, a participação de Z. no cotidiano da casa passou a ganhar um renovador contorno de interação, o que se denotava pelo fato da relação terapêutica valorizar também a construção de um papel ativo em estar e ser, mesmo isto não pudesse efetivamente ser traduzido como conquista da independência (impossível pelas limitações funcionais de Z. e seus componentes motores, cognitivos, perceptuais, práxicos requeridos nos diversos contextos das performances). A Terapia Ocupacional neste momento implicava na articulação entre terapeuta e paciente, ou melhor, moradora, visando dar forma aos elementos subjetivos, sociais e ocupacionais como bem-estar em viver, destes sujeitos em frente um do outro e em contato intermitente com o mundo circundante. A relação com Z.

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demandava-me olhá-la nos olhos a todo o momento quando (e como) ela me olhava, o que era a significação concreta da proximidade de nosso momento íntimo, afetivo, a qual somente a relação de ajuda poderia nos permitir alcançar. Ao concebermos o fenômeno da relação terapêutica dentro da óptica das relações entre os humanos é coerente considerar o amor como um dos elementos mais marcantes entre terapeuta e paciente. O amor dito assim, como um amor terapêutico será a manifestação calorosa que vai marcar o encontro entre os pares na relação de ajuda. A construção deste tipo de amor será possível a partir de uma diferenciação, quando na alma dos serviços de Saúde, o terapeuta vai facilitar um cuidado na direção da melhora, recuperação, ou cura do seu cliente, buscando enfim desenvolver junto ao ajudado o potencial motriz da sua transformação terapêutica, que por sua vez encontra no Amor um eixo norteador de sentidos. O Amor assume, na concepção deste trabalho monográfico, um caráter irrestrito de superação do ser diante de sua história existencial. O cliente que almeja crescer e se auto-superar vai ao encontro do terapeuta, que valoriza tal movimento de busca e se faz disponível para acompanhá-lo, oferecendo uma terapêutica que dê subsídios para amenizar conflitos, encontrar respostas, promover superações e, sobretudo, encontrar sentidos que justifiquem o viver mais significativo o possível para o ajudado. O terapeuta acredita que há potencialidades em cada cliente que justifiquem um trabalho conjunto para amar seu cliente além da dor que este venha expressar, sua história de lástima, perdas, dificuldades e incapacidades. O que há de singular no ajudado será para o terapeuta algo essencial na condução terapêutica para o exercício do amor terapêutico neste encontro. Ao amar seu cliente, o terapeuta cria condições que favoreçam escuta, não julgamento, empatia, acolhimento e estímulo; elementos tais que servem para a integração do ajudado diante daquilo que o par se propôs a buscar na condução terapêutica. Esta aliança terapêutica é marcada pela capacidade do terapeuta em amar fraternalmente, de forma universalizante, sendo que apesar de todo cliente ser, a princípio, um ser desconhecido, o terapeuta deseja ajudá-lo e assume que ao alcançar esta meta terá assim o maior sucesso de sua ação profissional. A atitude do terapeuta é de disponibilidade universal, no entanto, ao avaliar as demandas trazidas pelo seu cliente, ao identificar instrumentos dignos à intervenção que será feita, ao iniciar práticas no setting terapêutico dentro dos objetos traçados em comum acordo, já passa a abordar o ajudado como um ser inexoravelmente singular, único; o que irá, então, determinar um acontecimento sempre diferenciado para o estabelecimento de vínculo e relação de ajuda entre terapeuta e paciente. O amor terapêutico incondicional exigirá do terapeuta despojamento, entrega, presença, ao mesmo passo que demandará do cliente enfrentamento, interesse, motivação em assumir para si uma atitude inalienável de combate por si mesmo, de lutar para se autodescobrir como um ser potente, capaz, íntegro e daí se (re)fazer e a sua própria trajetória de saúde-doença. Os limites na relação terapêutica serão

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evidenciados naquilo que permeia quaisquer relações humanas que sejam dignas, respeitosas, éticas, devendo servir de alicerce para que a condução seja sempre marcada daquilo que o par se propôs a construir efetivamente: a ajuda, bem como no reconhecimento de que o paciente será sempre o beneficiado direto das ações no setting terapêutico e será a sua subjetividade o instrumento indispensável do trabalho a ser realizado ali. A manifestação deste amor alcança no cliente um estado de confiar em seu terapeuta, compreendo que o ajudador está alcançável e isto é uma das possibilidades das que o paciente dispõe para se curar. Cuidar é assim um exercício de acessibilidade que marca a legitimidade do terapeuta em exercer sua atitude profissional. A relação terapêutica por tal dimensão caracterizada não está isenta de ser marcado por elementos conflituosos como a raiva, o apego, a retração, o medo, a angústia, dado que os sujeitos que compõem o par estarão intermitentemente em processo de vivência e a integração é marcada com aquilo que cada um puder trazer à condução terapêutica. No entanto, por ser a relação de ajuda algo que é eleito como um contexto compartilhado, tanto terapeuta, quanto paciente, deverão lutar em prol da melhor superação de seus limites pessoais e da interação para juntos irem seguir no sentido de suas metas traçadas. Finalmente, tal assertiva alcança o status da relação como uma ferramenta a ser usada pelo par e a implicação de cada um diante disto. Para COMTE-SPONVILLE (1995), no amor não há escolha e também não há nenhum tipo de dever, o que caracteriza este sentimento como uma virtude (que se aproxima mais daquilo que chamamos de liberdade, do que da coerção propriamente dita). A ética, uma virtude como o amor, não pode, então, existir sem o próprio amor, que é sinônimo de desejo, de espontaneidade de ações que resultam no bem. Se a ética existir sem o amor, ela deixa de ser ética, passa a ser uma obrigação e deixa de ser uma virtude. Daí é possível compreender o amor como uma virtude ética, mais uma vez buscando fazer uma análise do que caracteriza o encontro do par terapêutico. Para o mesmo autor, as pessoas não nascem cheias de virtude, mas podem se tornar virtuosas através do exercício de amar “somente quem ama não precisa mais agir como se amasse.” COMTE-SPONVILLE (1995, p.244)

A moral existe quando não há o amor. Por coerção, por obrigação, as pessoas realizam atos comandados pelo amor, que objetivam amar como forma de bem-conviver. A busca é pelo momento em que o dever cede lugar àquilo que é feito sem exigências, pelo puro desejo de realizar apenas o que é natural, o que leva ao bem e partilhar um momento de aprazimento. O amor é algo além e anterior a toda lei social e moral eleita pelos humanos. O ato humano de amar manifesta-se num círculo que não permanece nunca como o mesmo amor onde começou, marca histórias de entregas, de partilhas, de correntes de solidariedade que se fazem infindáveis no cotidiano de vida de qualquer pessoa. Portanto, a vontade de partilhar de a ética, de uma moral sempre digna, só ocorre porque o amor alimentou o ser com a sede da liberdade, e este amor parece nascer como a própria semente do indivíduo em sua natureza ética.

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Liberdade é uma expressão do amor e do amar, como diria Cecília Meireles a “liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta. Não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”. O encontro terapêutico, assim, será marcado pelo exercício do Amor como uma virtude ética sendo isto a manifestação por excelência do exercício da liberdade humana. Para BOFF (2001), o cuidado é a atitude de amor que pode salvar o mundo e que por toda a existência da humanidade tem mantido a espécie humana viva, talvez sobrevivente de si mesma. O cuidado seria a atitude que impediria seres humanos de construírem formas de exterminar a si mesmos ou aos seus semelhantes; ou de destruírem sua existência lentamente pela extinção dos recursos inerentes à manutenção da vida física. O cuidado seria uma das formas de externalização do amor, que justifica todas as ações tomadas entre terapeuta e cliente em comunhão para a relação de ajuda. Neste sentido, torna-se interessante conceber o existencialismo da relação terapêutica diante um impasse: filantropia versus clínica social. Quando é abordado o amor dentro da relação terapêutica como eixo norteador e intrínseco que justifica os interesses por partes dos sujeitos que compõem sua esfera de ajuda - novamente, terapeuta e cliente, é possível vislumbrar um impasse: a filantropia, necessariamente entendida como um efeito genuíno de ajuda, inerente ao “fazer o bem” que é um dos valores da nossa cultura, versus a clínica social, como uma necessidade do profissional de efetivar uma intervenção na Saúde que se constitua numa clínica humana e interacional por excelência. No existencialismo da relação de ajuda o sentimento ocupa para si um fator de realização, passível de construção e aprendizado nas ações e intervenções do setting terapêutico. Conforme VISCOTT (1982, p. 17) temos que: “Os sentimentos são a maneira como nos percebemos. São nossa reação ao mundo que nos circunda. São a maneira pela qual percebemos que estamos vivos”. Assim, a apropriação do Amor na relação terapêutica irá ser consolidada em uma natureza perceptual e interativa para o terapeuta e para o cliente para expandirem a si mesmos quando rumam para aquilo que traçaram juntos. O amor, como um grande sentido da existência nesta relação, irá se compor a partir das necessidades humanas inatas de bem-estar e de conviver, lidar. Há uma busca pela compreensão e pela comunicação entre as pessoas, assim mesmo pode-se vislumbrar que além de uma necessidade, o exercício do amar e do permitir-se amar são antes formas de ser sociável, de aprender, de ser; sobretudo, o amor deve ser uma atitude repleta de arte, de ação humana. No existencialismo da relação terapêutica, o amor não almeja ser restrito ao que seja denominado de habilidade, dom ou faculdade de um ou outro terapeuta, de um ou outro paciente, mas em toda relação terapêutica o Amor necessita encontrar terreno fértil para se firmar dado que a ajuda é a própria alma em todo encontro entre os dois sujeitos. E amar para cada um deles ocupará uma significação e uma locução sempre únicas, porém intrinsecamente comprometidas com a viabilização das metas que se

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dispuseram buscar juntos. O amor se torna a virtude ética por excelência nesta dimensão do encontro terapeuta-paciente. O amor pode ser concebido dentro da relação terapêutica somente em sua esfera humana, pautada na prática do vir-a-ser dos indivíduos, que através dela irão se conhecer. Os afetos (sentimentos advindos da capacidade de se importar e tocar-se por algo, alguém ou circunstância) que as pessoas cultivam entre si são circunstâncias peculiares de suas individualidades, ainda são somadas aos fatores da cultura, da linguagem, da história do desenvolvimento e mesmo da simbologia pessoal – todos os elementos que marcam a unicidade de cada encontro terapêutico. Pela relação de ajuda, estabelecida na atenção à Saúde ou mesmo especificamente no processo terapêutico ocupacional, há apropriação de saberes / aprendizados / vivências entre terapeuta e paciente que os permitem superar lacunas como estigmas, perdas psicossociais, limitações físicas, deficiências e restrições aos quais os indivíduos interessados de suas intervenções estão submetidos e precisam ser beneficiados então, na tônica dos diferentes níveis da Saúde (promoção, prevenção, cura, reabilitação). Desponta a questão: o profissional da Saúde também realiza algum tipo de filantropia com sua ação? E se o faz com seu saber e instrumentais técnicos, portanto, ele pressupõe poder resolver o problema da existência humana e suas crises através desta intervenção de ajuda? Terapeuta e paciente desfrutam de um amor transcendental possível pela existência da ajuda no cerne dos serviços de Saúde? O profissional de saúde julga que sua ação é essencialmente profissional. Entende que seu saber, construído pela formação teórico-prática lhe serve para ser um técnico e exercer plenamente sua função como tal. Ao perceber que sua ação não irá, então, se compor como filantropia, pelo menos não a denomina desta forma, mas que até poderia ser confundida como algo de sua especialidade acadêmica e científica pela forma como o social o concebe, precisa questionar assim as suas próprias lacunas, saberes e técnicas para então fazer sua clínica social. O profissional vai valorizar seus paradigmas, no que tange a ação da Saúde e do Cuidado, e não simploriamente fazer um trabalho assistencial ou mesmo “caridade”. Aquilo que move os profissionais de Saúde na busca pelo bem-estar ou da relação de ajuda, no caso dos terapeutas, não pode ser restrita ao que seria identificado como filantropia, uma vez que toda sua intervenção e atuação clínica são consolidadas por posturas éticas, científicas e técnicas, de uma conjuntura de se fazer ser um profissional, que não existem só pelo sentimento de amor que eles podem trazer consigo intimamente. Porém, para que exista efetivamente uma relação entre terapeuta e paciente é indispensável priorizar uma dimensão afetiva entre as partes: - o amor que os une define o tom do caminho que irão seguir juntos. Este Amor merecerá ser o elemento transformador, porém não é o único estandarte que deverão levantar, dado que objetivamente os resultados da intervenção deverão ser palpáveis à superação do cliente e suas demandas existenciais.

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Por parte do terapeuta o amor é uma preocupação ativa pela vida e precisa do crescimento daquilo que ama FROMM (1960, p.49), no caso o paciente, pois quer oferecer recursos para o bem-estar e instrumentalizar possibilidades efetivas de mudanças para o ajudado. O terapeuta age no sentido de que sua ação alcance um processo de superação por parte do cliente. A clínica social é produzida, nesta perspectiva, para oferecer instrumentos de inserção social. O cliente beneficiado na relação precisa ir conquistar na sua vida, para fora do tratamento, do setting protegido, as suas maiores significações, conquistas, (re)construções; desta forma, a relação suscita alicerce e motivação para tanto. Os aprendizados, por parte do paciente, serão levados a novos contextos e a superação de suas crises e perdas o que possivelmente será traduzida na cidadania como a saúde: meta e caminho. Enfim, o altruísmo na relação é oferecer ao sujeito a liberdade de ir ao encontro de suas buscas e formas de amar. A relação terapêutica, por ser uma das relações humanas, é permeada por vários sentimentos, dentre eles o amor. O amor transforma uma mera obrigação profissional numa virtude ética. O amor pode ser entendido de forma particular, intuitiva como uma disponibilidade interna do profissional na relação de ajuda, e que é aprendido desde a infância com a família e com o círculo de amizades do indivíduo. São as habilidades desenvolvidas para estabelecer as relações significativas em sua vida. Mas para que a relação de ajuda seja profissional e terapêutica, é necessária a formalização destas habilidades (tanto as já adquiridas quanto as que estão em desenvolvimento) através de estudos, discussões e da prática clínica.

Ambivalências dos encontros terapêuticos A relação de ajuda, intrinsecamente interessada em gerar recursos à libertação do sujeito, deparase com um impasse na dimensão de apego por parte do cliente. “A ternura de uma escuta é permitir que o outro tenha a possibilidade não só de se exprimir, mas também de se escutar” SALOMÉ (1994, p.37) “Quando lhe peço para me escutar e você se apodera do que digo para tentar resolver o que julga ser meu problema, por mais estranho que isto possa parecer sinto ainda mais perdido” SALOMÉ (1994, p.42) “A ternura é a escuta da diferença ” SALOMÉ (1994, p.68) “A ternura é, simultaneamente, dom e acolhimento ” SALOMÉ (1994, p.82) “É preciso ser duro, sem esquecer a ternura jamais” Che Guevara

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Sensações no terapeuta a partir do encontro com os pacientes (sem elaboração, apenas empiria) “Terapeuta Ocupacional Tem um propósito além do Normal Doa amor, Que sensacional! Afugenta o Mal Suas relíquias são pacientes Dementes, frustrados, marginais que como boas sementes, contentes, plantados não sofrem mais” R., em 05/07/2003 Z. – linguagem não-verbal, toque, carícia, sorriso, estar de frente um ao outro, ir junto, fazer com... B. – sorriso, reatividade a minha presença, fisionomia de satisfação, motivação... Y. – motivação, aprendizado, disposição, interesse e estado de alerta E. – uma possibilidade, fazer a diferença na vida de alguém, sentidos para continuar lutando D. C.: processo de morrer, cuidados de bem-estar e familiaridade diante do terapeuta D. O. – superação de limites intrínsecos e extrínsecos, incorporação de novos valores biopsicossocias, tolerância, escuta pela paciência R. – olhar de amargura, dor manifesta no corpo, movimento de repulsa a presença de terapeuta, choro C. – uma vida além da queixa, caminhos a buscar quando não há vontade, e se o morrer se torna o caminho mais atraente, quando o amor da relação é o único sentimento que ocupe o cotidiano de um paciente. O. – reconstrução do valor de ser humano, da historicidade de vida, do lócus social e do alcance para a ressignificação na família M. d. C. – existe uma pessoa por trás da cronificação de um assujeitamento? Singularidade, capacidades remanescentes, um movimento em prol da renovação de uma existência M. – acompanhamento, circulação na polis, ir e buscar, desejar, poder reaprender a fazer, construir um repertório além do tédio e do ócio, encontrar demandas, ir contra o embotamento afetivo, o sinal para limpar a boca A. – violência, ira, invasão, crise, dor, amargura, grito, pedido de ajuda, socorro, toque, abraço, criança versus o monstro N. – o terapeuta como fonte de violência e de sofrimento por vislumbra algo melhor a frente, os erros da limitação do próprio terapeuta frente à dimensão singular de seu cliente S. aproxima do relato sobre a R., mas o focus do amor na relação terapêutica deve ser melhor diferenciado A., menina que conversou comigo a primeira vez no CGP, depois a J. Os pacientes do Hospital São Paulo, o pós TCE ou AVC, o desequilíbrio, a inadequação frente ao social A questão da memória do idoso e o descompasso com O. L. e sua implicância para chamar minha atenção no grupo D. e seus “abracinhos” O terapeuta diante do sujeito estranho, daquele que assusta mas apesar de repulsa é preciso atendêlo, as estereotipias do L., como não pude relacioná-las anteriormente ao autismo fazer comparação com o Y., quando a limitação está no próprio olhar do terapeuta Quando há uma violência doméstica, abuso em casa, o idoso que não recebe seu benefício, a criança que é espancada, como no caso de J. O processo da alta I., B., M. E.: desdobramentos da relação terapeuta-paciente para a vida e o retorno ao social A gratidão dos familiares: I. A eficácia da intervenção terapêutica : N.

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Sobre a ética do encontro terapêutico “A dimensão ética começa quando entra em cena o outro (...). Não conseguimos compreender quem somos sem o olhar e a resposta do outro” Umberto Eco “Tendes o humanismo no sangue: eis a vossa sorte. Desabrochais quando estais em boa companhia; quando vedes um dos vossos semelhantes, mesmo sem conhecê-lo, sentis empatia por ele” Jean-Paul Sartre, em Erostrato. Sobre a Terapia Ocupacional “Método do FAZER LIVRE e CRIATIVO, que propicia ao homem reencontrar e exercer sua capacidade de reflexão e crítica, buscando mudanças em seu posicionamento diante da vida e, conseqüentemente, devolve a saúde ao homem” ARAÚJO (1995, p.15). “O terapeuta ocupacional que dirige a construção do objeto, distancia-se de sua função e do que lhe é específico: estimula, no paciente, a agressividade para se colocar ativamente no mundo, oferecendo-lhe a oportunidade de criar com liberdade, propiciando assim, a concreção de sua história e a descoberta de novas perspectivas e nova compreensão para as suas ações futuras” ARAÚJO (1995, p.26) Direção clínica do encontro terapêutico: opinião é dóxa, paralelo com a vivência terapêutica e conhecimento é epistéme, paralelo com a relação terapeuta-paciente Conceito chamoniano de Terapia Ocupacional: atividade é mediadora da relação entre terapeuta ocupacional e seu cliente, dentro de uma dinâmica de ocupações livres e criativas, possui caráter formativo e expressivo dos conhecimentos que o paciente alcança a partir de sua apropriação na relação terapêutica e no processo de saúde-doença em transformação, de acordo com JORGE (1990). A locução terapêutica entre o terapeuta e o paciente se dá numa constante inter-ação, sendo que todo o processo contínuo do fazer e do vir-a-ser se formula tendo em suas subjetividades

a

substancialidade do encontro terapêutico. Sobre o conceito de intersubjetividade, inerente ao objeto de estudo neste trabalho monográfico, faz-se interessante considerar a seguinte enunciação: “Agora, enfim, compreendo o que quer dizer a enigmática proposição de Husserl: ‘A subjetividade transcendental é intersubjetividade’. Na medida em que aquilo que digo tem sentido enquanto falo, sou para mim mesmo um outro ‘outro’ e, na medida em que compreendo, já não sei mais quem fala e quem escuta... Ora, é no coração de meu presente que encontro o sentido daqueles que o procederam, que encontro com que compreender a presença de outrem ao mesmo mundo, e é no próximo exercício da palavra que aprendo a compreender” MERLEAU-PONTY (1984, p.140). Sobre o ser paciente: construto de si na (com)vivência terapêutica “Muitas vezes relembro aquele dia Em que fui despertada a vez primeira

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Do meu sono profundo. Sob as folhas E as flores, muitas vezes meditei: Quem eu era? Aonde ia? De onde vinha?” Eva, ao ver-se refletida na fonte. Poema de Milton, sobre os primórdios da criação Sobre a dinâmica da transferência: o amor no vínculo “Como haveria de querer a vida? O próprio sofrimento menos duro Era ao seu lado. O que era insuportável Junto dele eu teria tolerado” Antígona lamenta-se pela morte de seu pai, Édipo. Sófoles “Em sua frente se ergue o velho templo De longa, e de natura a voz potente Parece lhe dizer: ‘Muito fizeste, Frágil filho da argila! Teu humilde Poder, este impotente santuário Ao levantar, foi grande’ (...)” Senhor das Ilhas, Scott Sobre a dimensão do humano no encontro terapêutico: processo do vir-a-ser “O sentido é, pois, uma noção complexa: sempre há uma pluralidade de sentidos, uma constelação, um conjunto de sucessões, mas também de coexistências, que faz da interpretação uma arte” Gilles Deleuze A dialética na relação entre terapeuta e paciente: “O pensamento dialético está, aqui, à procura de uma essência, de algo uno, universal, que se manifeste através das particularidades. Não se satisfaz com uma definição enumerativa, particularizante” MARTINS (2002, p.26). “Escavação no outro em direção do outro em que o mesmo procura o seu veio e o ouro verdadeiro do seu fenômeno” Jacques Derridá MARTINS (2002, p.84) “A intencionalidade significa que o Sujeito não está voltado para si próprio, fechado em si. Estamos voltados para fora, visamos o mundo dos objetos, visamos o outro. Do ponto de vista da dialética, toda relação envolve uma modificação. Por isso, a intencionalidade é transfiguradora, Sujeito e Objeto, Eu e Outro são transfigurados enquanto visam ou são visados”

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O papel do terapeuta no contexto da Reabilitação e a construção da Clínica JORGE (1998, p.23) “(...) cabe aos profissionais de reabilitação reabilitar antes que o corpo, o desejo de combater em prol de si mesmo de cada estigmatizado” JORGE (1998, p.24) “O mundo não nos é dado, mas, sim, percebido por nós com significação. Isto implica em que tereis de trabalhar antes com significantes que com deformidades. Se mudardes esta ordem, caireis em risco de deformar vossa percepção de vida, e portanto, a que o paciente tem, ou possa vir a ter, de si mesmo” p.24 “Sois terapeutas ocupacionais e usareis como instrumentos de comunicação, prevenção, cura, avaliação e reabilitação as mãos e a capacidade, exclusivamente humana, de transformar a face da Terra para assim transformar a face interna de cada homem transformado” “Reabilitar e/ou ser reabilitado só é possível quando, não só enxergamos, mas antes de tudo, suportamos a diferença do outro. Ao contrário disso, seríamos condizentes com aquilo que determina um indivíduo como normal. Estaríamos estigmatizando as diferenças, não alcançaríamos nunca a possibilidade de reabilitar” MOREIRA (1998, p.92) MARTINS (2000, p.60) considera, a partir da concepção de Erving Goffman em “La Presentáciona de la Persona em la Vida Cotidiana”, que “(...) os significados que mediatizam os relacionamentos entre as pessoas estão sujeitos a um complexo mecanismo de deciframento. (...) a interação só é possível por meio de procedimentos interpretativos que fazem da relação social uma construção. (...) Não há apenas negociação e interpretação de significados, mas também critérios para seu uso”. MARTINS (2000, p.11) “Para todos nós sempre foi muito difícil compreender as ciladas da travessia, os desafios e a riqueza da nossa inautenticidade, do nosso hibridismo, da nossa lentidão e do nosso vir-aser que não se cumpre senão de modo sempre incompleto e sempre insuficiente. Temos medo de ser o que somos ou que temos de ser”. “Entre o sono e o sonho, Entre mim e o que em mim É o quem eu me suponho, Corre um rio sem fim” Fernando Pessoa, em Obra Poética A transição do estudante para o exercício de sua ação profissional é marcada por um conjunto de angústias que se referem, de acordo com MARTINS (1997), às dúvidas do estudante quanto a compreender os sentimentos do paciente; como ser receptivo; lidar com os seus próprios sentimentos diante o ajudado; preocupações quanto à possibilidade de causar ao paciente sentimentos penosos, o choro, a depressão;

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medo de ser invadido pelos problemas ali avaliados e ainda teme invadir a privacidade do paciente. No entanto, tal conjunto irá se somar para a condução mais satisfatória da relação entre terapeuta e paciente a medida que se interessar pela elaboração de uma aliança terapêutica, como forma de processamento de um vínculo e proximidade entre estes dois sujeitos, que por sua vez estarão se articulando numa dinâmica constante de interlocuções, aprendizados e vivências compartilhadas. BALINT (1988) apud MARTINS (1997) “deu ênfase à ‘aliança terapêutica’ que deve existir no vínculo profissional-paciente, como propulsora de um bom atendimento. Conforme o autor, a técnica por mais aprimorada que seja, tenderá a ser ou inócua ou alienante, se não for veiculada por uma boa relação profissional-paciente”. Finalmente, ainda sobre o estabelecimento do vínculo, temos em JEAMMET et al. (1989) apud MARTINS (1997) a conclusão de que “a relação profissional-paciente é uma relação de expectativas e esperanças mútuas; o doente espera alívio e, se possível, cura; o terapeuta espera reconhecimento de seu paciente, verificação de seu poder de reparação ou da adequação de seus pontos de vista. A expectativa pode ser de tal ordem, em cada um, que há risco de as relações de troca serem transformadas em relações de força”. Desfechos possíveis “Raskólnikov, sentado na outra extremidade, estava completamente vestido, tendo-se como dado ao trabalho de lavar a cara e de se pentear, operações que não praticava havia muito tempo (...) o médico teve a impressão de que cada palavra reabria uma ferida na alma do seu cliente; mas, ao mesmo tempo, surpreendia-se ao vê-lo relativamente senhor de si” Fiódor Dostoiéviski, em Crime e Castigo Em Terapia Ocupacional os recursos para a intervenção clínica são caracterizados por atividades, que de alguma forma são demandas para o cliente com uma ênfase de reaprendizagem ou habilitação, em que deverão ser valorizados os recursos intrínsecos da pessoa em se reconstruir; sendo assim, é a terapêutica ocupacional um espaço sistematizado, protegido, legítimo do sujeito em se fazer ouvir naquilo que poderá fazer ou faz, para demonstrar seus limites e ir a partir disto se identificar com uma possibilidade de ascensão, construção, apropriação de processos de mudança que diretamente se articulem com o seu cotidiano de vida. Este processo qualifica-se como um autodescobrimento do cliente e irá se articular com aquilo ele e o terapeuta traçaram como um projeto terapêutico, norte de toda a prática em condução. Incentivar ações sempre independentes, tendentes à autonomia do cliente, que exortem o senso de competência da pessoa em recuperação e favoreçam um espaço para a (re)modelação da auto-estima e dos sentidos para o viver bem, encontram em Terapia Ocupacional um coadjuvante indispensável quando a clínica é pró-cotidiano e se faz sobre a óptica dos contextos relevantes para o viver específico de cada paciente. A aproximação entre terapeuta e paciente propicia a construção da relação de ajuda, na qual os papéis de um e de outro irão se interferir mutuamente e contribuirão para o aprendizado, sempre único, do cuidar entre eles. Numa ocasião específica, quando eu fazia atendimentos de acompanhamento terapêutico

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em domicílio a uma idosa, de 86 anos, pude perceber a dimensão que se dá a partir da entrada de um terapeuta na vida de um cliente, bem como o quanto isto poderá representar efetivamente aproximação e cuidado tão significantes à relação de ajuda. Esta idosa, C., encontrava-se agudamente deprimida, portadora de graves seqüelas por complicações diabéticas, como a perda da visão (cegueira) desde os seus últimos 07 anos e a perda da capacidade de deambulação (fazia uso da cadeira de rodas). Sua família, bastante

cooperativa

e

esclarecida

sobre

as

necessidades

daquela

senhora,

demandava

o

acompanhamento terapêutico como uma forma de promover bem-estar cotidiano e favorecer um estado mais ativo de enfrentamento da depressão, que representava agravo profundo como fator de morbidade. C. Fazia hemodiálise todos os dias, havia um quarto separado na casa totalmente adaptado para a realização diária do procedimento no próprio domicílio. Seu marido havia falecido há quase 10 anos e, a partir de então, C. que sempre morou com ele na fazenda da família, no interior do estado, teve que se mudar para a casa de uma das filhas em Belo Horizonte. Daí sua trajetória de vida marcou-se por perdas que foram se tornando cada vez mais limitantes: deprimiu, deixou de caminhar voluntariamente, tornou-se cega, entregouse à inatividade por completo. Tudo o que qualificava a vida anterior repleta de afetos, flores, culinária, sonhos, dias de alegria no aconchego daquela vida no campo, ao lado do amado, foi gradativamente construindo aquela forma de viver, entregue e adoecida, onde somente o isolamento de si parecia ocupar o dia-a-dia deste tempo presente. Tamanho o abandono de si mesma e de sua causalidade em agir, inter-agir, quando C. já não mais visualizava sentidos para sair do leito, o que já se dava há uma longa permanência, e continuar a viver o novo, e não “o triste resto da sua vida” como ela sempre me dizia. A família, neste momento, fazia uma série de tentativas, que incluíam acompanhamentos com o clínico geral, o psiquiatra, o fisioterapeuta, o padre, e o mais recente, o terapeuta ocupacional. Minha entrada naquele contexto foi inicialmente se dando por visitas semanais, buscando uma ponte de aproximação que fosse adequada, dado que apesar das deficiências já descritas C. encontrava-se absolutamente lúcida e não se interessava por uma ajuda, apenas preferir ficar “sozinha, deitada na cama”. Lentamente aquelas visitas foram se tornando encontros marcados e para nos vermos era preciso um compromisso: ora era a preparação para as consultas com outros profissionais também envolvidos, ora algum momento familiar que criávamos juntos, eu, C. e sua filha. A minha ação foi assumindo uma conotação de aporte, sendo que para C. isto se dava como um espaço destinado ao prepara-se, ao se fazer ante o fazer que viria-a-ser. Era preciso eu estar para que algo fosse motivante, para que as situações que seriam vividas por ele fossem percebidas como significantes, relevantes à sua participação, ao seu envolvimento. Inúmeras foram as ocasiões em que C. desistia dos nossos planos, questionava-me os sentidos pelo qual havia concordado comigo de “ter que fazer isso ou aquilo”; imediatamente eu remetia às sensações de bem-estar e alegria que ela se remetia quando vivenciávamos algum delicioso lanche com os netos, da melhor forma de se apresentar aos visitantes na sala de estar, de recebê-los sentada juntamente à mesa. A nossa ligação foi se fortalecendo quando pudemos durante quatro meses construir um pequeno jardim, na varanda, lugar que para nós representava a possibilidade de contemplação do silêncio, dos olhares entre nós, das reminiscências sobre o passado para ela tão vivaz ainda e para a percepção do ciclo natural da vida: como as flores que

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regávamos juntos, tudo se assemelhava ao plantar, ao cultivar, ao podar quando necessário, ao ver crescer, ao se renovar com outras sementes, ao deixar de viver, ao renascer agora tão vivos naquele singelo jardim de C. O nosso sentimento afetivo foi se expandindo, ela compreendia o sentido ter ao seu lado um tal “terapeuta” como eu, agradecia-me o fato de que “muitas vezes esquecemos o quanto é maravilhoso existir, mas que há alguém perto de nós para nos lembrar”, seria eu esta pessoa na vida de C. naquele momento. Porém, apesar de muitas vezes vivenciarmos a realização de sair da cama e ir viver ao redor no lar, com os seus entes queridos e com um renovado gosto que ela dizia apreciar, havia uma história que precisava desfechar. Nosso encontro foi interrompido quando C. veio a falecer. Teve um processo de falência cardíaca e morreu enquanto dormia, sem demais sofrimentos. Percebi o quão importante para C. era ser útil agradando aos outros, por isto emanava dor naquilo que para ela seria “ser um problema” aos que amava, porém havia muitas oportunidades para ela levar carinho aos que estavam ao seu redor e isto representou, para nossa relação de ajuda, uma possibilidade efetiva de se preparar e viver melhor naqueles últimos meses com sua família. Outro aprendizado que percebo ser passível à experiência de ser terapeuta foi ao lado de outra paciente, em uma nova experiência de morrer. E. era uma criança de 11 anos, portadora de lúpus eritomatoso, em estado avançado da limitação da doença. Encontrava-se internada num hospital público com dificuldades para respirar, já sem a capacidade para falar fluentemente dado a extensão das lesões (contraturas) na musculatura facial (e o rosto já todo endurecido). A equipe solicitou a abordagem da Terapia Ocupacional para com aquela criança, pois ela não respondia satisfatoriamente às outras abordagens, apresentava-se com graves sintomas de depressão, seria interessante oferecê-lhe uma possibilidade de cuidado que resgatasse o lúdico ou mesmo amenizasse aquele sofrimento neste momento de internação. A Terapia Ocupacional classicamente interessou-se por auxiliar à pessoa em circunstâncias de que repercutam em interrupção, perda, limitação, dificuldades enfim para se viver bem o cotidiano de uma vida. E. encontrava-se especialmente neste tipo de situação, sobretudo por que aquele momento representava um risco eminente à sua própria vida. Numa internação de 15 dias, pudemos estar juntos numa tentativa de encontrar possibilidades, sentidos que pudessem fazer diferença para aquele atual estado de vida, que a nossa relação representasse ali uma diferença e gerasse sentidos para uma luta em prol do viver, buscando superar os agravos. Convidava E. para irmos à sala de atendimentos, antes ela se preparava trocando de roupa no leito, arrumando-se em frente ao espelho, transferindo-se da cama para a cadeira de rodas. No setting, entre livros inúmeros que líamos juntos, entre os desenhos que eu trazia para ela apreciar avidamente, fomos construindo nossos códigos de linguagem sim-e-não. Fui conhecendo E., fui percebendo seus movimentos existências, suas formas de expressar sentimentos como o medo, a angústia, o cansaço, a surpresa, a alegria, o ânimo... O nosso encontro marcou-se como preparação de um sujeito, que no caso E. encontrava por isto um espaço para estar mais tranqüila e amenizar tantos conflitos que marcavam sua trajetória existencial. Até que um dia, depois que nos preparamos para sair e ir até a sala de atendimentos, E. veio a falecer enquanto eu voltava para irmos juntos por mais um dia de atendimento.

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Lembro-me especialmente das nuances no seu olhar, como apesar do sofrimento havia significação quando fazíamos algo que ia ao encontro de seus desejos. Isto representou um sucesso terapêutico, não somente para nós, como para a equipe e também para sua família, que reconheceram como válida, digna e humanizadora aquela experiência anterior à sua morte. ............................................................

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Belo Horizonte / MG, agosto de 2004.

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