Construindo um futuro: uma oficina pedagógica como instrumento para a Educação Ambiental

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revista de ensino de biologia ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENSINO DE BIOLOGIA (SBEnBio)

ISSN: 1982-1867

Número 9 Políticas Públicas Educacionais - Impactos e Propostas ao Ensino de Biologia (VI Enebio e VIII Erebio Regional 3)

Ficha catalográfica elaborada sob orientação do DePT da Biblioteca Central do Gragoatá (BCG) - UFF

dezembro de 2016

Apresentação Este número especial marca o final da primeira fase da Revista de Ensino de Biologia - REnBio, reunindo os trabalhos apresentados no VI Enebio e VIII Erebio da Regional 3, realizados em Maringá em outubro de 2016 com o tema " Políticas Públicas Educacionais - Impactos e Propostas ao Ensino de Biologia". Até aqui, a REnBio alternava entre números em que publicava artigos de autores convidados pelas diretorias da SBEnBio e números em que publicava os trabalhos do evento nacional. A partir do próximo número, passaremos a funcionar em regime de fluxo contínuo de submissão de artigos, aberta à comunidade. Tivemos o prazer, neste Enebio, de visitar a Regional 3 e consolidar ainda mais o caráter nacional da SBEnBio, contando com expressiva participação da comunidade de professores e pesquisadores da área conforme se percebe a partir dos quase 700 trabalhos aqui reunidos. Os trabalhos, divididos em 15 eixos temáticos, mostram a forte preocupação com a formação de professores e com o desenvolvimento de estratégias didáticas, coerentemente com a história da SBEnBio, sempre voltada à escola e aos processos formativos e de ensino. É interessante notar a consolidação de eixos que até recentemente não agregavam tantos trabalhos, assim como a presença de trabalhos que se colocam em eixos voltados à interface do ensino de ciências e biologia com uma diversidade de contextos mais específicos.

Número de Trabalhos

Eixo Temático Formação de Professores de Ciências e Biologia

183

Desenvolvimento de Estratégias Didáticas para o ensino Ciências e de Biologia

154

Educação Ambiental, Educação em Saúde e Abordagens CTS e CTSA no ensino de Ciências e Biologia

92

Processos de Ensino-Aprendizagem em Biologia

73

Educação não-formal e Divulgação Científica e o ensino de Ciência e Biologia Ensino de Ciências na Educação Infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental

41

Relações entre Educação, Ciências e Culturas

26

História e Filosofia da Ciência e o ensino de Ciências e Biologia Políticas Públicas para a Educação em Ciências Avaliação e o Ensino de Ciências e Biologia Ensino de Ciências e Biologia e Educação especial Ensino de Ciências e Biologia e Educação no Campo Ensino de Biologia e Ciências na Educação Profissional Ensino de Ciências e Biologia e Educação indígena Ensino de Ciências e Biologia e relações étnico-raciais

24 18 17 12 11 5 2 2

39

Esperamos que esta coletânea seja de grande valia na divulgação da produção da área e desejamos uma boa leitura.

José Artur B. Fernandes Editor

Créditos REVISTA DE ENSINO DE BIOLOGIA - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENSINO DE BIOLOGIA (SBEnBio) - ISSN 19821867

Número 9 – Dezembro de 2016 Número Especial: Políticas Públicas Educacionais - Impactos e Propostas ao Ensino de Biologia (VI Enebio e VIII Erebio Regional 3)

EDITORA Diretoria Executiva Nacional da SBEnBio Presidente: Ana Cléa Braga Moreira Ayres (UERJ) Vice-presidente: Edinaldo Medeiros Carmo (UESB) Tesoureira: Alessandra Bizerra (USP) Secretária: Daniele Lima Tavares (UFRRJ) Editor: José Artur B. Fernandes (UFF) COMISSÂO EDITORIAL Ana Cléa Ayres (FFP/UERJ São Gonçalo) José Artur B. Fernandes (UFF) Rosana Louro Ferreira Silva (IB/USP) Maria Margarida Gomes (UFRJ) Maria Cristina de Araújo Pansera (UNIJUI/RS) Lúcia de Fatima Estevinho Guido (UFU) Marlécio Maknamara da Silva Cunha (UFRN) Sílvia Nogueira Chaves (IEMCI/UFPA) Organização deste número especial José Artur B. Fernandes Arte da Capa Marilisa Bialvo Hoffmann e Carlos Alberto Magalhães Junior

Divulgação Secretaria da Revista SBEnBio: www.sbenbio.org.br

VI Encontro Nacional de Ensino de Biologia VIII Encontro Regional de Ensino de Biologia – Regional 3

Políticas Públicas Educacionais - Impactos e Propostas ao Ensino de Biologia 03 a 06 de Outubro de 2014 Universidade Estadual de Maringá (UEM)

Comissão Organizadora Diretoria Executiva Nacional da SBEnBIO Presidente: Ana Cléa Braga Moreira Ayres (UERJ) Vice-presidente: Edinaldo Medeiros Carmo (UESB) Tesoureira: Alessandra Bizerra (USP) Secretária: Daniele Lima Tavares (UFRRJ)

Comissão Organizadora Local Ana Lúcia Olivo Rosas Moreira (UEM)- Coordenadora Carlos Alberto Magalhães Junior (UEM)– Coordenador Adjunto Marcelo Valério (UFPR/Jandaia do Sul) Laura de Souza Gomes (UEM) Daniel Henrique da Silva (UEM) Andressa Barbosa Santos (UEM) Marcos Paulo Alberto Pereira (UEM) Ana Paula Vidotti (UEM) Denise Godoi Ribeiro Sanches (FACIBRA) Vera Lúcia Bahl de Oliveira (UEL) Sara Lúcia Orlato Selem (SEED PR) Elio Jacob Hennrich Junior (UEM) Helio João Junior (UEM) Iolanda Almeida de Souza (UFSCar) Matheus Willian Almeida da Silva (UEM) Endrel Godoi (UEM) Cintia da Costa (UEM) Karen Matsuike Golçalves (UEM) Mariana Branco Ribeiro (UEM)

Diretoria da Regional 3 Néli Suzana Quadros Britto (UFSC/SC) - Diretora Maria Cristina de Araújo Pansera (UNIJUI/RS) - Vice-Diretora Leandro Duso (Editora Positivo/PR) - Secretário Marilisa Bialvo Hoffmann (UNIPAMPA/RS) - Tesoureira Adriana Mohr (UFSC/SC) - Conselho Deliberativo Luiz Caldeira Brant de Tolentino Neto (UFSM/RS) - Conselho Deliberativo Nadir Castilho Delizoicov (UNOCHAPECO/SC) - Conselho Deliberativo - Conselho Deliberativo

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“CONSTRUINDO UM FUTURO”: UMA OFICINA PEDAGÓGICA COMO INSTRUMENTO PARA A EDUCAÇÃO AMBIENTAL Everton Viesba-Garcia (Bolsista PROEC/UNIFESP) Letícia Moreira Viesba (UNIFESP) Patrícia Bamban (UNIFESP) Luiz Souza (UNIFESP) Henrique Petroni (UNIFESP) Natali Bamban (Faculdade Santa Lúcia - FSL) Marilena Rosalen (UNIFESP) Resumo Este artigo tem como objetivo fazer um relato de experiência e uma reflexão sobre o uso de oficinas pedagógicas como instrumento para a Educação Ambiental (EA). Descreve as metodologias e práticas adotadas em uma oficina, desenvolvida no âmbito do Projeto Escolas Sustentáveis para um evento acadêmico e cultural da Unifesp. A oficina foi desenvolvida na Escola Padre Anchieta e buscou instigar os participantes a observarem sua comunidade escolar, para, a partir da compreensão dos problemas e potencialidades socioambientais existentes, propor possíveis soluções e adaptações. A oficina possibilitou refletir sobre a ideia de uma comunidade ideal no viés da sustentabilidade, entender que tanto situações como espaços podem ser transformados e visualizar as condições necessárias à transformação. Palavras-chave: Oficina Pedagógica. Educação Ambiental. Escolas Sustentáveis. Introdução Nas últimas décadas tem se intensificado as discussões sobre educação, economia, saúde, mudanças do clima, direitos humanos e preservação do meio ambiente, infelizmente tais áreas dificilmente aparecem em uma mesma discussão, é notório que a sociedade reconhece suas importâncias e busca soluções para os problemas que envolvem essas áreas, no entanto, buscam-se soluções individuais para problemas que muitas vezes se interrelacionam. Grande parte dos problemas que envolvem saúde, mudança do clima, direitos humanos e economia são, direta ou indiretamente, relacionados à educação e/ou meio ambiente.

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A palavra meio ambiente carrega consigo um importante significado, embora seja comum relacioná-la principalmente às florestas, áreas verdes e animais silvestres, na verdade a expressão “meio ambiente” pode indicar qualquer interação entre os seres vivos e seus habitats, incluindo as interações que perturbam a ordem natural física, biológica e social, como as ações antrópicas. Dos diversos problemas socioambientais existentes atualmente, parte significativa tem como responsável a intervenção inadequada do ser humano no seu entorno, essas interações podem ser provindas do consumo desenfreado dos recursos naturais, do descarte inapropriado dos resíduos gerados pelas atividades antrópicas, e ainda da substituição de áreas produtoras, como as florestas por cidades. Durante a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Humano, que aconteceu em 1972 em Estocolmo, foi desenvolvida a Declaração de Estocolmo sobre o Ambiente Humano, 113 países assinaram a Declaração que em seu artigo 19 diz: É indispensável um trabalho de educação em questões ambientais, visando tanto as gerações jovens, como os adultos, dispensando a devida atenção aos setores menos privilegiados, para assentar as bases de uma opinião pública bem informada e de uma conduta responsável dos indivíduos, das empresas e das comunidades, inspirada no sentido de sua responsabilidade, relativamente à proteção e melhoramento do meio ambiente em toda a sua dimensão humana. (ESTOCOLMO, 1972).

Embora, em anos anteriores já tivesse sido percebido a importância da educação para o meio ambiente, foi a partir dessa conferência que se constatou a relevância das ações e processos educativos para as questões socioambientais. Com o crescimento exponencial da população mundial e os avanços da tecnologia, a sociedade incorporou uma falsa noção de abundância e inesgotabilidade dos recursos. Dada à situação da época, durante a Conferência Intergovernamental de Educação Ambiental de Tbilisi foram definidos os conceitos, objetivos e princípios da EA. Foi definido, também, que o ensino formal é um eixo fundamental para conseguir alcançá-los. No Brasil a Lei nº 9795/99, determina em seu art. 2º que: A Educação Ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal. (BRASIL, 1999).

No ano anterior, em 1998 a EA foi abordada dentro dos Parâmetros Curriculares Nacionais, de forma que favoreceu a constituição de espaços de troca de conhecimentos, experiências e construção da cidadania. A partir daí, os professores, respeitando suas formações, puderam readequar suas aulas de modo que o tema transversal Meio Ambiente fosse contemplado (BRASIL, 1998). 2932 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia

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Viesba et al., (2014) diz que as ações de EA desenvolvidas em uma escola ou comunidade favorecem a integração do indivíduo e a coletividade de forma que desenvolvam em conjunto, valores sociais, conhecimentos e habilidades voltadas para a conservação do meio ambiente e a sadia qualidade de vida. Tomazello (2001) considera que a inclusão da EA de forma interdisciplinar e como parte do processo educativo possibilita aos envolvidos (comunidade escolar, neste caso) situar-se de maneira crítica e reflexiva sobre os problemas socioambientais existentes. As escolas e as comunidades em seu entorno são importantes espaços para criação e desenvolvimento de projetos e ações de EA, considerando que se trata de um locus privilegiado para a construção da consciência crítica, do pensamento reflexivo e exercício da cidadania. Viesba et al., (2014, p. 451) define um dos diversos papeis da escola, como sendo: A escola como espaço de formação, em conjunto com a EA, deve sensibilizar seus estudantes a buscar conceitos e valores que possibilitem uma convivência harmônica com os seres vivos e meio ambiente, incentiválos a buscar novos meios de interação, novos métodos de uso dos recursos naturais e formas de redução de impacto.

A escola é um local extremamente favorável para o incentivo a práticas sustentáveis, a transformações individuais e coletivas, a busca pela sustentabilidade e a construção da consciência crítica socioambiental. Deste modo, a escola tem grande importância face à construção de uma sociedade de direitos, ecologicamente correta, economicamente viável e social e culturalmente justa. A Oficina Pedagógica Construindo um Futuro O Projeto Escolas Sustentáveis, cadastrado na Pró-reitoria de Extensão e Cultura da Unifesp, tem como objetivo implementar práticas sustentáveis em comunidades escolares, além de promover, contribuir e somar-se às ações de EA existentes, buscando fomentar a reflexão-participação-ação dos membros da comunidade escolar na construção de um espaço educador ecologicamente equilibrado, economicamente viável e social e culturalmente justo. Ao longo de 2015, foram desenvolvidas diversas ações pontuais e contínuas em escolas e comunidades do município de Diadema, entre as ações pontuais se encontra a Oficina Pedagógica (OP) “Construindo um Futuro”, objeto deste trabalho. Pode-se definir oficina como sendo uma importante forma de construir conhecimento, pautando-se principalmente, pela ação-reflexão. Vieira e Volquind (2002, p. 11) conceitua oficina como sendo “um tempo e um espaço para aprendizagem; um processo ativo de transformação recíproca entre sujeito e objeto; um caminho com alternativas, com 2933 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia

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equilibrações que nos aproximam progressivamente do objeto a conhecer”. Portanto, a ideia central de uma oficina é proporcionar vivências significativas baseando-se no tripé: sentirpensar-agir. Paviani e Fontana (2009) concordam que a metodologia da oficina possibilita uma importante mudança no viés tradicional da aprendizagem (cognição), justamente por incorporar a ação-reflexão. A OP foi desenvolvida como parte das atividades que compõem a Semana Científica e Cultural da Unifesp Diadema (SCCUD). A SCCUD é um evento organizado desde 2009, por estudantes da Universidade Federal de São Paulo, campus Diadema, com o apoio dos docentes dos diversos cursos de graduação e da área técnica e administrativa da instituição. O evento ocorre anualmente e tem o objetivo de promover atividades culturais, palestras, mesas redondas, visitas técnicas, mostras científicas e minicursos, com o intuito de levar o aprendizado para fora das salas de aulas, criar um aprendizado inter-relacionado, a integração entre estudantes, universidades e empresas e valorizar a produção científica e cultural da região (SCCUD, 2009). A integração entre a Unifesp e a comunidade de Diadema, facilitada pela SCCUD, proporcionou ao Projeto Escolas Sustentáveis realizar uma OP onde os universitários tiveram a oportunidade de interagir com estudantes do ensino secundário do município, bem como conhecer a realidade que está inserida. A OP “Construindo um Futuro” teve como objetivo instigar os participantes a observarem sua comunidade escolar, para, a partir da visualização e compreensão dos problemas e potencialidades socioambientais existentes, propor possíveis soluções e adaptações. Dias (2002), considera que a EA enquanto um conjunto de processos envolve o reconhecimento de valores e a construção de conceitos, buscando o desenvolvimento das habilidades e transformando as atitudes em relação ao meio ambiente, deste modo conforme a figura 1, a OP tem como objetivos específicos:

Figura 1. Esquema com objetivos específicos da OP. Fonte: Arquivo Escolas Sustentáveis 2934 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia

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A Escola Estadual Padre Anchieta, acolhe projetos de EA desde 2012 por meio do Programa de Iniciação a Docência (PIBID – Didática/Ciências), baseado em um dos eixos norteadores da A3P (Gestão) o Projeto Escolas Sustentáveis procura além de interagir com os estudantes da escola, propor medidas e participação também dos gestores. A escola conta com um número flutuante de 1600 estudantes, o qual parte significativa já tiveram contato direto com o Projeto, e outros foram impactados pelas atividades indiretas que o Projeto exerce no ambiente escolar. A importância da escolha dessa escola para o desenvolvimento de projetos de EA foi devido principalmente ao histórico da cidade em que fica localizada, Diadema. O município de Diadema possui 386.039 habitantes em uma área de 30,7 km², e como fruto destes números é a segunda maior densidade demográfica do país – 12.574 hab/km² (IBGE, 2010), comporta o maior reservatório artificial de água Região Metropolitana de São Paulo, a Represa Billings, que desde os anos 50 tem sofrido intensa pressão exercida pelo crescimento populacional da cidade. Desenvolvimento e metodologias Foi feito o levantamento na literatura de papers e também de planos de aula e atividades ambientais. Para pesquisa e revisão da literatura, foi utilizado o portal “Periódicos Capes”, realizando uma busca booleana com as palavras-chave: oficinas, oficinas pedagógicas, dinâmicas pedagógicas e dinâmicas em sala de aula, em seguida foi feito um recorte por papers que se relacionavam com EA e educação para a sustentabilidade. Para planos de aula e atividades o levantamento foi feito em sites com viés educacional, entre eles: “Portal do Professor”, “Currículo +”, “Escola Interativa” e “Nova Escola”. A metodologia utilizada foi a mesma já citada. Foram selecionadas duas experiências amplamente difundidas no meio acadêmico e pedagógico, conhecidas popularmente como “Árvore dos Sonhos” e “Muro das Lamentações”, após uma análise sobre as metodologias e práticas utilizadas, foi definido que seria feita uma adaptação sobre as experiências. Ao todo participaram da OP 40 participantes, foram 15 estudantes universitários da Unifesp, 15 estudantes da E.E. Padre Anchieta divididos entre 9º ano e 1º ano do ensino médio, 5 membros da equipe Escolas Sustentáveis e 5 convidados entre gestores da escola, palestrantes e professores convidados. Foram utilizados como recursos, a sala multimídia que conta com 40 carteiras escolares, aparelho projetor de slides, caixas de som subwoofer e lousa. Como recurso adicional foi utilizado também o corredor principal da escola, que é utilizado em fluxo contínuo por estudantes e professores, dá acesso aos banheiros dos

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estudantes, à coordenação, à sala de recursos, a uma sala de aula, à sala de informática, à sala multimídia e à sala de leitura. A OP foi desenvolvida e estruturada sob a perspectiva da relação teoria-prática fundamental na educação dialógica (FREIRE, 1996). Desta forma, a OP foi dividida em 7 momentos desenvolvidos no período da manhã, entre as 7 e 13 horas. Os momentos foram: Apresentações (Projeto, escola, comissão SCCUD e equipe), Palestra Meio Ambiente Urbano (por uma representante do setor de EA da Secretaria de Meio Ambiente de Diadema), Palestra Escolas e Sociedades Sustentáveis (pelo professor coordenador do Escolas Sustentáveis), Dinâmica Mar de Problemas, Dinâmica Árvore dos Sonhos, Dinâmica Trilha das Realizações e Discussões finais. Os participantes foram divididos em três grupos, cada grupo contendo 5 universitários e 5 estudantes do ensino básico e sendo responsável por uma temática que se relaciona direta ou indiretamente a problemas ou potencialidades socioambientais, os três temas foram: água, energia e lixo. No decorrer das dinâmicas, os participantes tinham que pensar nas ações reflexivas e atividades de acordo com o tema do seu grupo. A dinâmica Mar de Problemas consiste em uma adaptação ao Muro das Lamentações, sendo a segunda uma atividade antiquada que muitas vezes não oferece ao participante a possibilidade de abrir seus horizontes e enxergar os problemas socioambientais ao seu entorno. A dinâmica foi desenvolvida levando em consideração os problemas socioambientais em escala global. Entre os problemas atuais se encontra a poluição dos oceanos onde a origem do lixo marinho é, sobretudo, terrestre, cerca de 80%, sendo os restantes 20% de origem marítima (UNEP, 2005). Optou-se por criar um mural com fundo azul e desenhos da fauna marinha, conforme figura 2. O mural levou o nome da dinâmica, Mar de Problemas, assimilando os inúmeros problemas socioambientais à enorme poluição dos oceanos.

Figura 2. Mar de Problemas em analogia ao lixo marinho. Fonte: Arquivo Escolas Sustentáveis

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Os participantes investigaram e discutiram sobre os problemas socioambientais que envolvem a comunidade escolar, a partir da observação dos problemas locais e chegando à escala global, foram realizadas as descrições dos problemas em folhas no formato de desenhos representativos, conforme figura 3. Os desenhos foram preenchidos e expostos no mural.

Figura 3. Desenhos representativos com descrições sobre os problemas levantados. Fonte: Arquivo Escolas Sustentáveis.

Na segunda etapa, os participantes foram estimulados a refletir individual e coletivamente, a partir de questionamentos, entre eles: “Como deve ser uma escola e sociedade sustentável?”; “O que a escola poderia ter de diferente para ser um ambiente mais agradável?”; “Como tornar a comunidade e o bairro em bons espaços de convivência?”. Cada participante detalhou seus “sonhos” em uma folha, em seguida discutiu com seu grupo e verificaram o que era comum entre eles, figura 4.

Figura 4. Grupo descrevendo os “sonhos” em uma folha para a Árvore dos Sonhos. Fonte: Arquivo Escolas Sustentáveis.

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Os grupos selecionaram os “sonhos” mais adequados e de possível realização e deixaram separados os mais utópicos. Em seguida, descreveram seus sonhos em folhas no formato de “folhas de uma árvore”, e aos poucos foram acrescentando-as em uma árvore de galhos secos - a “Árvore dos Sonhos”, figura 5.

Figura 5. Estudante pendurando as folhas com os “sonhos” na Árvore dos Sonhos. Fonte: Arquivo Escolas Sustentáveis.

Para finalizar o ciclo de dinâmicas, foi desenvolvida a Trilha das Realizações. Após elencarem os problemas socioambientais no Mar de Problemas e refletirem sobre seus “sonhos” e expô-los na Árvore dos Sonhos, os participantes foram estimulados a refletir sobre quais as potencialidades socioambientais da comunidade escolar, analisando os problemas levantados e os desejos para uma comunidade escolar ideal, refletiram sobre quais os caminhos e quais as soluções para caminhar do Mar de Problemas à Árvore dos Sonhos. Observando a situação atual e objetivando-se à situação ideal. Após analisarem as dinâmicas anteriores, discutirem sobre as atividades realizadas e palestras assistidas, os participantes descreveram suas ideias e planos de como seria possível solucionar os problemas do “Mar de Problemas” e como alcançar os sonhos da Árvore dos Sonhos, as ideias foram escritas em folhas no formato de pegadas, em sequência, expostas na parede criando uma trilha entre o Mar de Problemas e a Árvore dos Sonhos, a “Trilha das Realizações”, figura 6.

Figura 6. Estudante fixando as pegadas na Trilha das Realizações. Fonte: Arquivo Escolas Sustentáveis. 2938 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia

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Para finalizar a OP, os membros da equipe Escolas Sustentáveis mediaram uma discussão englobando os três grupos de participantes. A discussão foi de extrema importância para sintetizar todo o conteúdo abordado e temas discutidos. Resultados A revisão da literatura e o levantamento de atividades e planos de aula possibilitou chegar à conclusão de que existe a disposição dos professores uma gama muito grande de materiais com importante fundamento científico e de acesso livre. Existem diversos contratempos que justificam o baixo uso desses materiais, mas a todo modo, os planos de aula, dinâmicas, oficinas e materiais didáticos podem facilmente ser encontrados. A OP possibilitou, por meio de diversas atividades práticas, a integração entre estudantes universitários e estudantes da educação básica, criando um ambiente propício para a troca de saberes e reflexões para a solução das atividades. De acordo com Freire (1996), o processo de aprendizagem necessita centralizar-se na interação entre os estudantes e o professor, sendo gradativo, contínuo, respeitando sua cultura, realidade e a comunidade em questão. Aos estudantes universitários a participação na OP possibilitou enxergar a cidade onde estudam a partir de uma nova perspectiva, conhecendo a fundo as comunidades as quais a universidade está inserida, o contexto histórico, social e ambiental e a importância da integração universidade-escola. Já para os estudantes da educação básica, a integração com universitários foi de grande importância, não apenas pela troca de saberes, experiências e reflexões, mas por possibilitar ao estudante se projetar no estudante universitário, entender que existe uma universidade pública de renome em sua cidade e que eles têm total condição para estudar nela. Despertar o interesse dos estudantes da educação básica para o ensino superior foi um resultado o qual não foi previsto na atividade e que também mostrou à equipe a importância do Projeto Escolas Sustentáveis no incentivo à integração universidade-escola. As três dinâmicas possibilitaram aos participantes conhecer e entender sobre os problemas e potencialidades socioambientais existentes nessa comunidade e município. Reigota (2001) concorda que este processo é importante por favorecer a discussão e avaliação crítica e política dos problemas da realidade individual e coletiva do estudante, bem como de proposições criativas de resoluções. Desta forma os participantes puderam conhecer os problemas socioambientais em sua escala global, mas reconheceram e trabalharam em cima das suas realidades locais, respeitando o contexto em que estão inseridos. A OP possibilitou aos participantes refletir sobre a ideia de uma comunidade ideal, nos moldes do desenvolvimento sustentável, entender que tanto situações como espaços 2939 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia

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podem ser transformados e visualizar as condições necessárias à transformação. Puderam compreender a importância e necessidade de criar metas, prazos e estratégias para atingir um “sonho” e para resolver problemas, reconhecendo a importância do agir individual e coletivo. Alguns estudantes propuseram intervenções no espaço escolar e em suas comunidades, questionaram a ausência de área verdes na comunidade, a instalação de lixeiras, o melhor aproveitamento do espaço escolar, desta forma interferindo na realidade local e gerando uma reflexão e discussão crítica que favorece benefícios para toda a comunidade. Considerações Finais As intervenções do Projeto Escolas Sustentáveis tem mostrado que a população do município compreende e reconhece os problemas socioambientais como sendo de origem antrópica, no entanto, muitos têm dificuldades em se colocar como parte do cenário atual e futuro, não tomando para si a responsabilidade compartilhada das causas e não sabendo quais as atitudes necessárias para transformação do quadro ambiental atual. A realização do Projeto tem levado ao reconhecimento da escola enquanto espaço de formação que assume o papel de contribuir na formação socioambiental de seus estudantes. Faggionato (2003) expressa que a EA “permite que os indivíduos se engajem no enfrentamento e na resolução das problemáticas ambientais (...)”, para possibilitar esse processo de transformação da escola em um espaço educador sustentável é necessário desenvolver processos educativos eficazes, onde os membros da comunidade escolar possam ser sensibilizados e instigados na busca de conhecimentos e transformação de atitudes que permitam a construção de uma sociedade de direitos. Desenvolver uma OP é uma tarefa complexa justamente porque os participantes são os atores e também os sujeitos que produzem os modos de interação que superam a aplicação acrítica de teorias. A organização de uma oficina gera experiências que permitem a integração teoria-prática e favorece o desenvolvimento da autonomia docente (FREIRE, 1996), além de ter uma contribuição fundamental para a geração do conhecimento a partir da cumplicidade e interação entre professores, estudantes e universitários (VIEIRA; VOLQUIND, 2002). Como prática pedagógica, a OP desempenha um excelente papel, proporcionando a construção de conhecimentos individuais e coletivos a partir de situações vivenciadas pelos participantes, possibilitando também, aprofundar a reflexão sobre a educação, o meio ambiente e a interação universidade-escola (ABÍLIO, 2005). Pode-se concluir que a SCCUD desenvolve um importante papel no município de Diadema, e por meio das ações do Projeto Escolas Sustentáveis proporcionou uma 2940 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia

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experiência marcante aos estudantes da E.E. Padre Anchieta e estudantes da Unifesp, favorecendo a comunidade e reduzindo os efeitos da vulnerabilidade social que é latente na região (STOCO e ALMEIDA, 2011). Embora os participantes não tenham um amplo contato com o meio ambiente, estes anseiam por um ambiente melhor, tanto no espaço escolar como em seu entorno na comunidade onde vivem e reconhecem os problemas existentes, mas encontram dificuldades em se colocar como parte do meio ambiente, daí a importância do Projeto Escolas Sustentáveis e do fomento e incentivo de atividades e oficinas como esta que facilitam o reconhecimento dos problemas existentes como sendo de responsabilidade compartilhada. Referências ABÍLIO, F. J. P. Modalidades e Recursos Didáticos no Ensino de Ciências Naturais. In: ABÍLIO, F. J. P. & GUERRA, R. A. T. (Org.). A Questão Ambiental no Ensino De Ciências e a Formação Continuada de Professores de Ensino Fundamental. João Pessoa: UFPB/FUNAPE/LEAL, 2005. pp. 79-90. BRASIL. Lei nº 9.795 de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a política nacional de educação ambiental e dá outras providências. Brasília, 1999. BRASIL; Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental - temas transversais. Brasília: Mec/Sef, 1998. 436 p. DIAS, G. F. Pegada Ecológica e Sustentabilidade Humana. São Paulo: Gaia, 2002. FAGGIONATO,

S.

2003.

Percepção

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Acesso em 12/06/2016. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Censo demográfico 2010. Disponível em: Acesso em: 09 jun. 2016. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração de Estocolmo sobre o Ambiente Humano (Declaração de Estocolmo), adotada de 5 a 16 de junho de 1972, Estocolmo, Suécia.

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PAVIANI, N. M. S.; FONTANA, N. M. Oficinas pedagógicas: relato de uma experiência. Conjectura: Filosofia e Educação, Caxias do Sul, v. 14, n. 2, p.77-88, 2009. Disponível em: . Acesso em: 09 jun. 2016. REIGOTA, M. Meio Ambiente e representação social. São Paulo: Cortez, 2001. SCCUD.

A

História

da

SCCUD:

Objetivos.

2009.

Disponível

em:

. Acesso em: 10 jun. 2016. STOCO, S.; ALMEIDA, L. C. Escolas municipais de Campinas e vulnerabilidade sociodemográfica: primeiras aproximações. Revista Brasileira de Educação, [s.l.], v. 16, n. 48, p.663-694, set-dez. 2011. TOMAZELLO, M. G. C. Educação Ambiental: abordagem pedagógica de trabalho por projeto. Revista Eletrônia do Mestrado em Educação Ambiental, FURG, vol. 05, jan/fev/mar/2001. UNEP . Marine Litter, an analytical overview. Nairobi (Quénia): UNEP, 2005 VIEIRA, E.; VOLQUIND, L. Oficinas de ensino? O quê? Porquê? Como? 4. ed. Porto Alegre: Edipucrs, 2002. VIESBA, E. et al., 2014. Environmental education: a tool for critical and social environmental formation of a certain public school of Diadema-SP. In: Proceedings of the 6th International Conference on Environmental Education and Sustainability “The Best of Both Worlds”, Bertioga-SP. Sesc 2014

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