Consumo de álcool e sua influência no ambiente de trabalho da construção civil.

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CONSUMO DE ÁLCOOL E SUA INFLUÊNCIA NO AMBIENTE DE TRABALHO DA CONSTRUÇÃO CIVIL RESUMO Este artigo pretende explicar o que é o alcoolismo, como desencadeia o processo, quais os diagnósticos da doença e as suas implicações no âmbito da construção civil - a vulnerabilidade do alcoólico em relação aos riscos de acidentes, a qualidade da produção do seu serviço e a preservação do seu contrato de trabalho; considera o ambiente de trabalho, a saúde ocupacional e a segurança do trabalho na organização como fatores fundamentais na superação e prevenção da doença; mostra como as mazelas do alcoolismo comprometem o bem estar do indivíduo vitimado, o fortalecimento da empresa, e a saúde do corpo unificado da sociedade; despertar indivíduos trabalhadores e empresários dessa área para a consciência social e para compromissos com soluções efetivas de caráter curativo e preventivo; alerta para a situação do alcoolismo como uma questão de responsabilidade social que compromete a sustentabilidade. PALAVRAS-CHAVES: Alcoolismo; Saúde Ocupacional; Segurança do trabalho; Ambiente de Trabalho, Construção Civil; Responsabilidade Social.

Scire Salutis, Aquidabã, v.4, n.2,  Abr, Mai, Jun, Jul, Ago, Set 2014.    ISSN 2236‐9600    SECTION: Articles  TOPIC: Segurança do Trabalhador   

 

DOI: 10.6008/SPC2236‐9600.2014.002.0004 

      Maria de Fátima Fontes de Faria  Fernandes  Universidade Jaume I ‐ Castellón de La Plana, Espanha  http://lattes.cnpq.br/8720270172243588  [email protected]   

Fanildes Silva Moraes dos Santos 

ALCOHOL CONSUMPTION AND ITS INFLUENCE IN THE CONSTRUCTION WORKPLACE ABSTRACT This article aims to explain what alcoholism is, how does this process start, what are the disease's diagnoses and its implications in the field of Construction, the vulnerability of the alcoholic worker related to accidents risks, his work production and the preservation of his work contract, the importance of the work environment, occupational health and work safety in the organization as key factors to overcome and prevent the disease, explain how the alcoholism illness compromise the well being of the individual, the quality of the offered product and the strength of the company, how these effects reflect in other social segments, and allow workers and businessmen of the area to see and be aware of alcoholism as a social responsibility issue that requires effective curative and preventive solutions that promote sustainability, not only in this business area, but in the whole unified body of the society. KEYWORDS: Alcoholism; Occupational Health; Work safety; Desktop, Civil Construction; Social Responsability.

Universidade Tiradentes, Brasil  http://lattes.cnpq.br/8593637550409918  [email protected]   

Kleber Willer Coutinho de Santana  Universidade Tiradentes, Brasil  http://lattes.cnpq.br/3404607586786927  [email protected]   

Weber de Santana Teles  Universidade Tiradentes, Brasil  http://lattes.cnpq.br/4012206672241595  [email protected]   

Carlos Eduardo Silva  Universidade Federal de Sergipe, Brasil  http://lattes.cnpq.br/3700554054159220   [email protected]  

          Received: 01/05/2014  Approved: 15/09/2014  Reviewed anonymously in the process of blind peer. 

          Referencing this:    FERNANDES, M. F. F. F.; SANTOS, F. S. M.; SANTANA, K.  W. C.; TELES, W. S.; SILVA, C. E.. Consumo de álcool e  sua influência no ambiente de trabalho da construção  civil. Scire Salutis, Aquidabã, v.4, n.2, p.28‐46, 2014.  DOI: http://dx.doi.org/10.6008/SPC2236‐ 9600.2014.002.0004  

Scire Salutis (ISSN 2236‐9600)   © 2014 Sustenere Publishing Corporation. All rights reserved.  Rua Dr. José Rollemberg Leite, 120, CEP 49050‐050, Aquidabã, Sergipe, Brasil  WEB: www.sustenere.co/journals – Contact: [email protected]  

Consumo de álcool e sua influência no ambiente de trabalho da construção civil 

INTRODUÇÃO A escrita deste artigo tem como motivação inicial os sentimentos mais profundos de sensibilidade e compaixão por perceber a decadência física, psicológica, moral e material de indivíduos portadores da doença, no convívio social e de empresas onde atuamos como profissionais; o conhecimento adquirido através de estudos e pesquisas de leituras informais, na consciência construída, advinda dessas experiências laborais e voluntárias, a vivência e contato com Escritos religiosos divinamente revelados que dão a dimensão correta da dignidade e nobreza humanas; e do estudo acadêmico sobre responsabilidade social e sustentabilidade, especialmente nas temáticas que envolveram valores e questões éticas e morais com repercussões sociais. O artigo contêm informações históricas e conceituais, e dados ilustrativos, que permitem esclarecer sobre o que é o alcoolismo, o que a doença significa para indivíduos alcoólicos, o que tem provocado na vida laboral de trabalhadores, o reflexo da doença não apenas para a essa área empresarial, mas também para o corpo unificado da sociedade, com discussões teóricas pessoais e extraídas de indicadores oficiais que objetivam despertar e conscientizar os que fazem a construção civil para o grave e complexo problema do alcoolismo como uma questão de responsabilidade social que tem implicações profundas e determinantes para a sustentabilidade do negócio empresarial e da sociedade humana dos dias hodiernos. As análises e discussões do artigo, bem como as proposições de medidas para o enfrentamento do alcoolismo na construção civil apontam para a necessidade premente de que as empresas dessa área empresarial reavalie sua estrutura organizacional como todo, assegurando, com determinação de propósito, o elevado padrão do ambiente de trabalho e da qualidade dos serviços de saúde ocupacional e de segurança do trabalho, entre outros requisitos operacionais fundamentais que promovem ampla satisfação e determinam o bem estar dos empregados, com reflexos positivos na saúde das famílias e da convivência social cidadã. O conteúdo abordado representa, essencialmente, as reflexões e discussões pessoais da autora - sem excluir pequenas contribuições em dados, extraídas da literatura livre -, enriquecido e consolidado pela contribuição da literatura científica pesquisada em artigos, teses e livros fornecidos em indicadores oficiais, sobre o alcoolismo como doença e a sua influência no âmbito da construção civil, com consequências na vida pessoal e social, apresentando proposições claras para o enfrentamento do problema através de programas e projetos educacionais, de caráter curativo para reabilitação dos portadores da doença, e preventivo, direcionados a crianças, pré-jovens e jovens descendentes de alcoólicos ou não, trabalhadores dessas empresas, público que constitui a futura geração de homens e mulheres que estará na direção do destino das suas comunidades e nação.

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REVISÃO TEÓRICA Fernando Sergio e Ana Carolina (2010) registram que o termo alcoolismo “foi criado pelo médico sueco Magnus Huss, em 1849, e apresentado no artigo “Alcoholismus chronicus, eller chronisk alkoholsjukdom; ett bidrag till dyskrasiernas Kännedom, enligt egen och andras erfarenhet”, sendo a primeira vez em que o conceito de alcoolismo foi utilizado para designar o conjunto de lesões e fenômenos produzidos pelo largo consumo de bebidas alcoólicas.” No Brasil, até as primeiras décadas do século XX, o alcoolismo estava intimamente associado à manifestação da loucura nas discussões da psiquiatria, e a pergunta que se fazia era: “o álcool seria responsável pela produção dos sintomas de desordem mental ou a perturbação já existiria anteriormente, de forma latente? Seria o álcool o desencadeador de uma patologia já existente?” Os autores citam Lima Barreto que passou por duas internações no Hospício Nacional de Alienados devido ao alcoolismo: “Houve quem perguntasse: bebemos porque já somos loucos ou ficamos loucos porque bebemos?” Havia a teoria da degenerescência e hereditariedade apresentada por Auguste Morel em Tratado de hereditariedade, 1850 – “as degenerescências são desvios doentios..., transmitidos hereditariamente”, e uma vez instalada a doença “segue seu curso e se transmite aos descendentes até a extinção da linhagem”. Em meados do século XIX o alcoolismo foi associado a uma doença de ordem social e moral, e não apenas orgânica, afirmando que os efeitos nocivos do álcool atingiam também o comportamento do doente e a sua inserção na sociedade e no mundo do trabalho. O conceito de alcoolismo como doença social, segundo os autores, surgiu na Europa, e por volta de 1850, já estava largamente difundido. A psiquiatria passa a ver o alcoolismo como um “complexo de problemas sociais, morais e científicos que vêm preocupando as maiores inteligências humanas” (MEDEIROS, 1906). Surge a noção que de que o meio social poderia despertar o alcoolismo e exercer grande influência para o desenvolvimento do vício da bebida. A ideia do alcoolismo além do âmbito médico, unicamente, ganhava adeptos que propunha ampliar as discussões em toda a sociedade em encontrar maneiras eficientes de combatê-lo. O alcoolismo era, portanto, um problema social, uma ‘doença social’, mas o lugar de curar o “bêbado” era o hospício. O primeiro hospital psiquiátrico foi criado no Brasil durante a Monarquia em 1852, o Hospício Pedro II e no início da República, transformado no Hospício Nacional de Alienados. O modelo institucional e o tempo de internação dos alcoólatras tornaram-se questões também bastante discutidas entre os psiquiatras: “qual era o tempo realmente necessário para tratar (ou curar) o alcoolismo? Qual a necessidade de criação de instituições especiais, separadas dos hospícios, que abrigassem e tratassem os alcoólatras?” Lima Barreto, como dizem os autores, que viveu experiências de internação, questionava a submissão frente ao poder do médico outorgado pela sociedade moderna, sem o direito de decidir sobre suas vidas: “Faziam-me perguntas de confessor, e eu as respondia com toda a veracidade de catecúmeno obediente; mas, no meu íntimo,  

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eu tinha para mim que tudo aquilo era inútil...” (BARRETO, 1993). Ainda mais, as ideias negativas divulgadas em torno do alcoólatra contribuíam para que o fosse identificado como perigoso, associado a um mau na sociedade, sem nenhuma utilidade. Às questões relativas ao alcoolismo no contexto do trabalho, segundo Margarida e Bizarro (2007) datam da década de 40, e surge nos Estados Unidos, quando nascem os chamados Programas de Assistência aos Empregados. (Coutinho, Boletim I CRAN). Dizem que o serviço médico de empresa nasceu em 1828, quando um empregador inglês contratou um médico. Em 1833, pressionado pela opinião pública, o Parlamento Britânico institui uma lei de proteção aos trabalhadores: “Lei das Fábricas”. Só em 1980 a saúde do trabalhador é vista como um problema social neutro que interessa ao empregado e ao empregador, sem partido, cor ou política. No Brasil, surge após a Revolução de 30 e quando Getúlio Vargas estabelece pela primeira vez, através da Consolidação das Leis do Trabalho (CTL), uma regulamentação sobre exigências gerais para as condições de trabalho. Nos anos 50, várias empresas estatais e multinacionais, começam a investir nos serviços de assistência médica com secção médica no interior das empresas. Em 1972 fica determinada a obrigatoriedade do serviço Especializado de Segurança do Trabalho e com a promulgação da Constituição Federal de 1988, se estabelece direitos relativos à Segurança do Trabalho para os trabalhadores. A construção civil, que no Brasil remonta ao período colonial com a construção de fortificações e igrejas, convive, ao longo da sua história, com o problema social do alcoolismo e, só nas últimas décadas, com as exigências que as normas e leis trabalhistas estabelecem e com o desafio de reconhecer e enfrentar o alcoolismo como doença. O alcoolismo é definido como doença decorrente do consumo contínuo e excessivo de bebidas alcoólicas, que desencadeia, sutil e progressivamente, um conjunto de diagnósticos e distúrbios físicos e psicológicos que podem levar a morte e/ou a comportamentos que interferem, com consequências profundas, na vida pessoal, familiar social e profissional do usuário, necessitando de cuidados especiais e tratamentos especializados. Na conceituação da organização Mundial da Saúde (OMS) alcoólico é: “um bebedor excessivo, cuja dependência em relação ao álcool é acompanhada de perturbações mentais, da saúde física, da relação com os outros e do comportamento social e econômico”, conforme Heckmann e Silveira. Existem vários argumentos - de ordem genética, psicológica e social - que explicam as razões da busca pelo álcool. No começo, um fator psicológico é o suposto prazer que a bebida proporciona. Outra razão encontrada para o uso do álcool pode ser atribuída à necessidade do indivíduo em ficar sexualmente desinibido ou em evitar a vida sexual. Os transtornos de ansiedade, depressão, estresse e insônia podem também levar ao alcoolismo. Ocorre que depois de um período continuado de ingestão da bebida, quando a pessoa não alcança mais o prazer anteriormente obtido, não consegue mais parar porque, em cada tentativa, surgem os sintomas desconfortáveis da abstinência, e para evitar essas sensações desagradáveis o alcoólico recorre mais uma vez ao uso do álcool, mantendo esse ciclo repetitivo e continuado.   Scire Salutis    v.4 ‐ n.2    Abr, Mai, Jun, Jul, Ago, Set 2014 

 

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As pesquisas mostram que, quando nenhum tratamento é feito, quase a totalidade de alcoólicos volta a beber nos quatro anos seguintes a interrupção. Como o organismo incorpora literalmente o álcool ao seu metabolismo, a interrupção da ingestão de álcool faz com que o corpo se ressinta, e nos casos não tratados pode causar sérios problemas e até a morte. Esses problemas estão relacionados aos sintomas decorrentes do sistema nervoso, sistema gastrintestinal, sistema cardiovascular, ao câncer, hormônios antidiuréticos, hormônios sexuais, e os órgãos mais atingidos pelo alcoolismo são: o cérebro, trato digestivo, coração, músculo, sangue, glândulas hormonais. Os alcoólicos tornam-se mais susceptíveis a infecções. O número de suas células de defesas torna-se reduzido. O álcool interfere diretamente na função sexual masculina, provocando infertilidade por atrofia das células produtoras de testosterona e diminuição dos hormônios masculinos. O predomínio dos hormônios femininos nos alcoólicos do sexo masculino leva ao surgimento de características físicas femininas como o aumento da mama. O álcool pode afetar o desejo sexual e levar a impotência por danos causados nos nervos ligados a ereção. Nas mulheres o álcool pode afetar a produção hormonal feminina e provocar a diminuição da menstruação e a infertilidade. Os alcoólicos têm o cérebro menor, mais leve e encolhido do que o cérebro de pessoas sem história de alcoolismo. A parte do cérebro mais afetada costuma ser o córtex-frontal, a região responsável pelas funções intelectuais superiores como o raciocínio, a memória, a capacidade de abstração de conceitos e lógica, e a coordenação motora. No livro Trabalho e Reencontro de Interesses, Felora Daliri faz referência à pesquisa chefiada pelo Dr. Melvin H. Knisely, professor de anatomia da Escola de Medicina da Universidade da Carolina do Sul, em Charleston, citando as conclusões do professor: Cada vez que uma pessoa bebe um copo de bebida alcoólica está afetando suas células cerebrais, causando a morte prematura de muitas delas; depois das evidências encontradas no laboratório a respeito dos males do álcool no cérebro, sinto que não é racional que qualquer ser humano continue usando bebida alcoólica, mesmo com o objetivo de ser cordial numa festa; só há uma forma de se livrar dos perigos do álcool - ser completamente abstêmio. O álcool provoca também a diminuição do campo de visão da pessoa. Como resultado desses efeitos, sabe-se que o alcoolismo é mais custoso para os países do que todos os problemas de consumo de droga combinados. Como consequência dos estragos provocados pelo uso da bebida alcoólica, no trabalho o alcoólico pode apresentar um comportamento mais irritável e menos tolerante do que o habitual e ter na sua ficha funcional registros de atrasos, faltas, afastamentos e, a depender da evolução dessas ausências, ver encerrado o seu contrato de trabalho. Quando os primeiros indícios dessas situações surgem, é provável que o alcoólico já tenha perdido o controle da bebida, e pode estar travando uma luta solitária para diminuir o consumo do álcool, mas geralmente essas tentativas pessoais e isoladas não produzem resultados significativos, ao contrário, geram profundas frustrações.

 

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As reações físicas mais evidentes de desconforto para um alcoólico costumam iniciar com vômitos pela manhã, dores abdominais, diarreia, gastrites, aumento do tamanho do fígado e é comum também a observância mais frequente de pequenos acidentes que provocam contusões e outros tipos de ferimento, esquecimentos mais intensos do que os lapsos que ocorrem naturalmente com outros indivíduos não usuários, naquilo que envolve obrigações e deveres sociais e trabalhistas, até situações de proporções e repercussões maiores que comprometem o bem estar, a tranquilidade, a saúde e a vida de si próprio e dos demais em seu entorno e, em alguma medida, daqueles que esperam beneficiar-se do produto do seu trabalho. A saúde ocupacional é uma área da medicina preventiva, avaliativa e interventiva, presente nas organizações e imposta pelo Ministério do Trabalho, como obrigatoriedade, que cuida da saúde física, psicológica e social do trabalhador visando favorecer as relações saúde-trabalho-doença em toda sua complexidade, e atua de forma interdisciplinar, intersetorial e multiprofissional, com o propósito de promover e proteger a qualidade de vida e o bem estar do trabalhador, apoiada pela segurança do trabalho, através da área técnica e da engenharia, por equipe multidisciplinar e pela participação de representantes dos empregados, atuando com legislação própria e medidas médicas e educacionais que visam prevenir e minimizar acidentes de trabalho e doenças ocupacionais e possibilitam a integridade e capacidade do trabalhador no exercício da profissão. O ambiente de trabalho, conjunto de elementos físico e psicológico, organizacional e social que compõe o todo de uma organização e tem como ponto central o ser humano, constitui-se no espaço e no meio pelos quais as necessidades humanas são atendidas e através dos quais os resultados são alcançados, onde o indivíduo influencia e é influenciado. Esses elementos que compõem o ambiente de trabalho e influenciam os resultados, podem ser compreendidos como sendo: físico (equipamentos, instalações, móveis, decoração, e todos os demais recursos materiais, incluindo a limpeza, etc.), psicológico (inter-relações, auto realização, bem estar e segurança emocional, oportunidades de autoconhecimento, autoajuda, etc.), organizacional (capacitação, participação efetiva no planejamento, na realização das metas, no acesso aos resultados dos esforços empreendidos, flexibilidade, reconhecimento, premiação, ganhos salariais, participação em lucros, fluxo favorável de informações, etc.), social (celebrações, lazer, cumprimento dos deveres, acesso aos direitos, participação da família e cuidados e atenção às necessidades dos seus membros, investimento em saúde preventiva e curativa, etc.). Segurança do trabalho é definida como um conjunto de medidas técnicas, médicas e educacionais, adotadas para prevenir e minimizar acidentes de trabalho e as doenças ocupacionais, e proteger a integridade e a capacidade do trabalhador. É formada por uma equipe multidisciplinar, composta por Técnico de Segurança, Engenheiro de Segurança, Médico do Trabalho e Enfermeiro do Trabalho. Esses profissionais formam, no Brasil, o Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho – SESMT, e representação dos empregados constituem a CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes, que tem como objetivo a prevenção de acidentes   Scire Salutis    v.4 ‐ n.2    Abr, Mai, Jun, Jul, Ago, Set 2014 

 

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e de doenças decorrentes do trabalho, de modo a tornar compatível, permanentemente, o trabalho com qualidade e a promoção da saúde do trabalhador. É definida por normas e leis. No Brasil a Legislação de Segurança do Trabalho está na Portaria 3.214/78 e compõe-se de Normas Regulamentares e outras leis complementares, portarias, decretos, e convenções da Organização Internacional do Trabalho, ratificadas pelo Brasil. A construção civil é o campo da engenharia responsável pela execução de projetos previamente planejados, arquitetônicos e de outras áreas de edificação interligadas, e de interesse dos cidadãos. Conceitualmente é uma área que promove simetria, beleza e harmonia, preservando as condições ambientais, e um espaço no qual o trabalhador pode exercer suas capacidades de conhecimento, artística e técnica, e demonstrar a sua qualificação como profissional, o seu alto padrão de conduta como indivíduo, o seu reconhecimento pela qualidade do que produz e sua contribuição para o bem estar da vida coletiva da sociedade. É uma área empresarial que tem a responsabilidade social de zelar e proteger os seus empregados, criando o ambiente favorável ao pleno exercício laboral que resulte em elevado nível de satisfação para esses colaboradores, mas também para fornecedores e consumidores, como organização guardiã de uma sociedade atual e futura, justa, indivisível e sustentável. Rico (2004) apresenta o seguinte conceito de responsabilidade social empresarial: A forma de gestão que se define para relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e para o estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para gerações futuras, respeitando a diversidade e a redução das desigualdades sociais. Tendo como parâmetro os conceitos de saúde ocupacional, de segurança e ambiente de trabalho, pode-se indagar subjetivamente e, melhor seria verificar na prática através de pesquisa em campo, o que tem feito as empresas da construção civil - como parte social integrante e com o papel determinante na promoção da sustentabilidade - para aperfeiçoar e manter a capacidade de trabalho e resguardar a qualidade de vida dos seus empregados portadores da doença alcoolismo, e como estão estruturadas em relação aos serviços internos especializados? Quais medidas técnicas, médicas e educacionais têm adotado na prevenção e minimização de acidentes de trabalho decorrentes da doença? Como seguem as normas e leis que protegem a integridade e capacidade desse trabalhador? Que serviços têm organizado para assistir esses empregados no seu diagnóstico, na valorização da sua autoestima, e no despertar da consciência para si mesmo como ser nobre, digno, e superior nos reinos e plano da criação? Como estão estruturados e quais as condições físicas desses organismos sociais, e o que têm oferecido para a participação efetiva e reconhecimento dos trabalhadores alcoólicos em todos os processos da dinâmica organizacional? Quais são as iniciativas psicológicas e sociais oferecidas pelas empresas da construção civil para assegurar relações saudáveis que incluam os trabalhadores alcoólicos, para promover o autoconhecimento, a autoajuda, a segurança emocional, o bem estar pessoal e da família, considerando que o ser humano está no centro desse conjunto de elementos que constitui e  

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determina o ambiente de trabalho? E quais ações preventivas têm assegurado para evitar que essa doença corrosiva tenha início e comprometa a vida do trabalhador, da sua família, e da própria empresa e organização? Essas são perguntas cujas respostas são limitadas em apenas uma análise e discussão teórica. Uma pesquisa de campo seria o método que possibilitaria esse conhecimento em maior profundidade. A construção civil, além de promover às condições favoráveis de trabalho que determinam os resultados do bem produzido, tem também como responsabilidade social, promover o enfrentamento ao alcoolismo no seu âmbito empresarial, cujos resultados beneficiarão também o empregador empresário. É uma iniciativa empresarial louvável e grandiosa e, socialmente, uma ação definitivamente inevitável, que deve ser encarada com vontade, coragem e determinação. Contudo, é uma tarefa extremamente difícil, pois de um lado exige do alcoólico uma clareza sobre sua doença e a disposição em ajudar a superar as suas condições de doente, e de outro, a consciência e sensibilidade humana e social do empregador em investir desprendidamente e na medida necessária, criar alternativas humanas, educacionais e tecnológicas inovadoras, promover todos os meios físicos, psicológicos, médicos, e sociais, reunir todos os recursos organizacionais internos e buscar agregar parceiros externos, em uma concentração de esforços nunca antes realizada. Mas, se esse serviço meritório for realizado com sinceridade absoluta, a assistência invisível será assegurada e um mau com raízes profundas dará lugar ao bem almejado. No enfrentamento à doença do alcoolismo é preciso entender que o organismo incorpora gradativamente o álcool ao metabolismo e, na descrição de Bizarro(7), “a absorção processa-se por via digestiva, não sofrendo nenhuma transformação química no sistema digestivo, passando diretamente para o sangue e daí para todas as partes do corpo, sobretudo para o fígado, o pâncreas e o cérebro, do aparelho digestivo ao sistema nervoso, passando pela visão, e aparelho cardiovascular...”,

o

que

provoca

inúmeras

reações

físicas

de

desconforto,

sérios

comprometimentos desses órgãos, esquecimentos frequentes, sendo que a parte mais profundamente afetada, além da redução do campo de visão e do sistema nervoso central, é o cérebro nas suas funções de raciocínio, memória, lógica, e coordenação, e que as consequências dessas reações orgânicas e mesmo da interrupção da ingestão do álcool causam sérios problemas de saúde para o trabalhador, cujas sequelas desencadeiam situações laborais que vão desde atrasos, faltas, afastamentos, acidentes no trabalho que o vitimiza, recisão de contrato de trabalho, até a condição de óbito, além de comprometer a qualidade do serviço e, consequentemente, do produto oferecido. Está comprovado que esses efeitos repercutem em custos financeiros de grandes proporções para a empresa e o estado, tornando o alcoolismo mais custoso para os países do que todos os problemas de consumo de droga combinados, conforme registra matéria em publicações da literatura livre. “Em Portugal, como noutros países europeus, o sector da construção civil é o setor profissional que apresenta maiores índices de sinistralidade”, como afirma Margarida Bizarro   Scire Salutis    v.4 ‐ n.2    Abr, Mai, Jun, Jul, Ago, Set 2014 

 

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(2007). Então, fica evidente a dificuldade do que se pretende enfrentar, mas a inevitabilidade por parte dos que fazem a construção civil, em fazê-lo, a menos que se queria enganar, postergando a solução de um problema real que exige soluções imediatas, assertivas e eficazes, ou se eximir daquilo que representa a responsabilidade social empresarial. Uma experiência que se pode considerar bastante promissora e tomada como referência na linha de tratamento no enfrentamento ao alcoolismo é realizada pelo Centro de Dependência química (CEDEC) da Marinha do Brasil (MB), um ambulatório de tratamento aos dependentes químicos, pioneiro nas Forças Armadas Brasileiras, inaugurado em 1997, narrada por Elizabeth E. Halpern e Lígia M. C. Leite em Representações de adoecimento e cura de pacientes do Centro de Dependência Química do Hospital Central da Marinha. A experiência é considerada pelas autoras “um estudo inaugural” na área porque ainda não foi avaliado o “impacto dessas iniciativas no ambiente laboral”. Como parte do tratamento se faz a investigação e é examinado como os alcoólicos “constroem suas representações de adoecimento e cura”. No dizer das autoras a pesquisa se desenvolveu em dois grupos terapêuticos, em 2010, durante 24 sessões de grupo terapia com enfoque psicodinâmico de base psicanalítica e, após as sessões foram realizadas entrevistas individuais e semidirigidas para identificar o perfil demográfico e suas representações de adoecimento e cura, com 13 pacientes escolhidos aleatoriamente, dentre 22 militares em tratamento para superação da adicção, ‘doença inata` tida nos espaços médicos como incurável. Na investigação prevaleceram as percepções dos examinados sobre os seus “processos mórbidos”, apesar da visão atual ainda predominante da “dependência química como transtorno mental”. Ao contrário das “falas do discurso médico hegemônico”, as percepções dos entrevistados representam aspectos culturais, sociais, psicológicos, hereditários e espirituais, vinculados ao desencadeamento da doença, conforme mostram alguns dos inúmeros e substanciais relatos dos pacientes em tratamento: “O CEDEQ foi um local onde tive realmente contato com a minha doença e que me levou a ter mais conhecimento de mim mesmo, me aprofundar na pessoa que eu sou... abriu meus olhos, abriu minha mente. Até então achava que não era doente, que não tinha problema nenhum”; “Sou alcoolista! Não tenho controle perante a bebida. Dizem que todas as pessoas que não têm controle perante a bebida são alcoólatras”; “Tanto é que tá na Organização Mundial de Saúde como doença”. Antigamente, continuam os entrevistados, “era sem vergonhice... Pra mim é coisa espiritual”; “Essa coisa de psicologia eu achava meio boba, mas eu acho que é por ali mesmo,... tem cura... falar alivia as dores emocionais!”; “Se fosse pegar um grupo de autoajuda pra colocar o pessoal de dentro que tá precisando na Marinha, é capaz da Marinha toda tá dentro! Acho que tem gente que tá até pior que eu mesmo nessa situação”; “O sistema na Marinha, ou você bebe ou você é de alguma religião”; “Na Marinha todo mundo... bebe muito, as pessoas tão sempre bebendo”; “Toda a oficina tem sempre a bendita cachaça. Aí vem aquela pergunta: ‘Bota caipirinha ou corta a caipirinha?’ No dia que tem, nem almoçar eu posso!”; “Foi assim que aprendi na Marinha: quando  

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você começa a errar muito, quando você não sabe gerenciar e aí traz problemas administrativos. Quando você tá bebendo socialmente, tá tudo bem”. “Quando tem uma festa, era pra ter refrigerante! Os Comandantes, Almirantes mandam vir bebida. O mau exemplo vem de cima”; “Acho que é uma doença,do sistema nervoso, que vem da infância. Meu pai bebia muito!”; “Tem alguma coisa de genética, eu acho que tem. Meio genética, meio espiritual”; “Acho que é psicológica. Meu pai era alcoólatra, inclusive morreu de cirrose. Tem uma parte genética, outra por problema dentro de casa, sabe?! É uma série de fatores” ; “Dizem, que é genético, que vem dos pais, meu pai também era alcoólico. Eu sempre dizia que não queria ser que nem meu pai. Acabou que eu fiquei do mesmo jeito!”. Os autores consideraram que “o método de estudo de casos múltiplos foi uma estratégia de pesquisa particularmente útil por abarcar fenômenos sociais complexos”. Analisando essas percepções apresentadas pelos entrevistados portadores do alcoolismo da MB cabe perguntar-se: E que percepção tem o alcoólico trabalhador da construção civil sobre sua própria condição de usuário dependente da bebida? A que fatores ele atribui a origem da sua doença? Quais motivações ele relaciona ao ato de beber e tornar-se dependente da bebida? Em que medida enxerga a possibilidade de tratamento e cura? Se tomada como base a experiência da MB vê-se a forte implicação organizacional no processo da doença, e como o ambiente, as relações e as condições de trabalho, são determinantes para início e manutenção de um hábito que se transforma em doença: “aprendi a beber na Marinha”; “Embarquei num navio que, praticamente tudo o que acontecia tinha bebida! Tudo isso é um incentivo!; “Na Marinha se o cara bebe, a tendência dele é beber mais. Qual navio que não libera cachaça, direto? Todos eles!”; “Eu vou te apertar [exigir, diz o gerente], mas daqui a pouquinho vai ficar tudo tranquilo, entendeu? Vai beber seu choppinho, sua cerveja”; “É um jeito de desestressar também porque o sistema militar é um pouco maçante. O cara vive a bordo!”. Vê-se também no discurso dos entrevistados, a influência da relação trabalho-família no desencadeamento da doença: “A Marinha deixa você muito longe do convívio familiar, ela te dá o emprego e tira as coisas que você conquista: a família vive longe, aí você cai em depressão, você acha que as coisas tão perdidas”; eu passava uma semana em casa, um mês fora, a Marinha sugando a gente de todo o jeito. Toda a viagem nossa tinha uma cota de cachaça pra todo mundo ir bebendo, pra aguentar o psicológico totalmente abatido! A gente praticamente nem via as crianças em casa”. Lendo estes comoventes relatos, questiona-se: Será que a realidade da MB é diferente da realidade da construção civil, no que se refere à disponibilidade e o incentivo à bebida no ambiente de trabalho, a relação desrespeitosa e humilhante entre gerentes e subordinados, as exigências em sobrecarga de trabalho, o descaso com a convivência familiar dos empregados, etc.? Trazendo essas questões para a perspectiva da responsabilidade social e sustentabilidade, o que suscita aos que fazem a construção civil, essas sérias e graves descrições?

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Quando enxerga-se a sociedade como um organismo vivo, unificado, indivisível, interconectado, e percebe-se que estando uma dessas partes comprometidas em sua saudabilidade afeta a saúde do todo, entende-se a importância e o valor incalculável da construção civil em dar a sua contribuição, em promover o enfrentamento do alcoolismo naquela parte social que lhe cabe. Ademais, ao contrário de como o alcoolismo era encarado e tratado no passado associado aos distúrbios mentais com tratamentos em manicômios a base de choques elétricos, os procedimentos dos dias hodiernos são mais humanizados, menos traumáticos, a exemplo da experiência da MB. A ciência, embora mantenha a tese de que a doença possa estar relacionada às condições genéticas, admite fatores culturais, psicológicos e sociais desencadeando o processo da busca pelo álcool; a tecnologia, por sua vez, avançou significativamente, oferecendo recursos extraordinários para o tratamento. No âmbito dos avanços, é preciso reconhecer os esforços governamentais em promover meios para a superação dos problemas sociais que inclui o alcoolismo, registrando-se como um desses recursos notáveis e relevantes os equipamentos em rede institucionais disponíveis para assistir em apoio e ajuda efetiva ao alcoólico e a sua família. É inegável, contudo, a necessidade de aperfeiçoamento para fortalecimento dos processos já existentes, mas também, e especialmente, de um avanço criativo e qualitativo ainda maior por parte da ciência para novas descobertas nas explicações científicas da doença e dos meios de tratamento associados, mais eficazes. Por exemplo, foi dito que um fator psicológico atribuído ao uso da bebida é um suposto prazer que a bebida proporciona. Essa busca pelo “suposto” prazer – “busca do nirvana” - que a bebida proporciona, seguramente está associada ao anseio próprio e mais profundo do ser humano, por significado, significado de vida, significado do sentido da sua existência, ou seja, encontrar resposta para aquela pergunta interior, que vem da alma humana e que não cala: Qual o propósito da minha vida? Para que eu fui criado? Qual o sentido da minha existência no plano da criação? Há um anseio por significado em todo coração humano, um anelo natural pelo conhecimento das realidades exteriores e interiores da criação e um coração ansioso, uma alma buscadora, que não encontra respostas para os seus anseios, é destituído de vida. Ademais, o ser humano é originalmente, atraído à beleza, à harmonia, ao que é bom e condigno e quando não encontra os meios corretos para viver de acordo com a sua originalidade, a rebeldia e a desordem se instalam, até que a sua essência seja resgatada. Quando a ciência alcançar essa compreensão, oferecer o conhecimento em respostas a essas questões que afligem o ser humano, quando os que estão na posição de decisão e na prestação de serviços demonstrarem um amor genuíno, pureza de intenção, e sentimentos de profunda compaixão pelos que sofrem dessa inquietação e buscam como suposto alento e ganho secundário o uso álcool, o portador da doença encontrará dentro de si a força e determinação necessárias para fazer, de forma consciente e empoderada, as escolhas saudáveis compatíveis com a dignidade e nobreza humana, abandonando, definitivamente, o vício da bebida e colocando seu esforço, sua energia, suas

 

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capacidades e seus recursos para o bem estar da sociedade e o avanço do processo da civilização, o que lhe proporcionará o verdadeiro sentido de plenitude e felicidade. Além do desequilíbrio material do organismo e psiquismo do indivíduo, o alcoolismo rebaixa a condição moral do indivíduo como ser espiritual, muitas vezes com sequelas irreversíveis. Estar consciente do que o alcoolismo produz no indivíduo nos remete a uma reflexão profunda sobre o propósito das nossas vidas. Como parâmetro e motivação para esse estado de introspecção e meditação, está sendo compartilhada uma das Citações do Profeta Fundador da Fé Bahá`í, Bahá´u`lláh (2009), que diz: “Ó Filho do Homem! Velado em Meu Ser imemorial e na eternidade antiga de Minha Essência, conheci Meu amor por ti e assim te criei, gravando em ti Minha imagem e revelando-te Minha beleza”. O campo de atividade profissional que deveria ser o espaço de manifestação das capacidades do indivíduo – portanto, de auto realização e de reconhecimento afetivo e monetário pelos serviços prestados, de autonomia pessoal e auto afirmação como ser produtivo e, consequentemente, de empoderamento moral e espiritual, para um profissional alcoólico, inevitavelmente, como o seu processo se desenvolve em direção contrária, as conquistas na sua experiência como um ser produtivo e provedor, do mesmo modo vão também se encaminhando pela via dos riscos que promovem danos e, naturalmente, o enfraquecimento, na medida em que o seu organismo e psiquismo tornam-se comprometidos pela doença e as suas vivencias traduzem sensações cumulativas de impotência e frustração associadas que desintegram, gradativa e progressivamente, a sua estrutura interna material e espiritual como pessoa, e as suas referências positivas no seu papel laboral, familiar e de cidadão. A convivência social que deveria ser estabelecida e fortalecida por relações estáveis e saudáveis de altruísmo, confiança, bem estar, contentamento, radiância, e caracterizada por uma estrutura firme e pacífica, se encaminha velozmente por relações fragilizadas, permeadas pelo desânimo, pela desconfiança, pela rebeldia e pela desesperança, que promovem a violência, o medo, a insegurança e a infelicidade dos indivíduos, desafia os limites das instituições e esfacela o tecido social. Esse processo gêmeo de agregação e desintegração que ocorre paralelamente, começa com o indivíduo e dele depende, pois são expressões das suas crenças, das suas atitudes e das suas habilidades envolvidas nessas relações, considerando que esse indivíduo está presente e compõe, com outros, os grupos e as estruturas de todas as instâncias sociais que, potencialmente, como um espelho polido, pode refletir a luz. Relações sociais saudáveis, portanto, dependem de indivíduos saudáveis. Relatos mostram que, na quase absoluta maioria, os casos sociais de homicídios ou tentativas, acidentes no trânsito, violência doméstica, separações de casais, estupros, assédios, assaltos, roubos, etc., trazem o componente do uso do álcool e, portanto, praticados em estado alterado de consciência pelo efeito resultante da bebida. Cabe aqui, como ilustração, mencionar uma outra Citação de Bahá´u`lláh, onde Ele afirma, com a Autoridade de um Ser divino, sobre a   Scire Salutis    v.4 ‐ n.2    Abr, Mai, Jun, Jul, Ago, Set 2014 

 

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condição moral dos seres humanos: “Ó Filho do Espírito! Eu te criei rico, por que te empobreces? Nobre te fiz, por que te rebaixas? Eleva-te, pois, àquilo para que fosse criado! Da essência da sabedoria Eu te concedi a existência, por que buscas iluminação de outro, senão de Mim? Da argila do amor te moldei, como te ocupas com outro? Volta teus olhos a ti mesmo, a fim de que, dentro de ti, Me possas encontrar, forte, poderoso, O que subsiste por Si Próprio”. Mas, como pretender que indivíduos alcoólicos, possam enxergar dentro de si a perspectiva de uma vida relacional positiva, prospera, e elevar-se à condição para a qual fora criado, se ele mesmo, pela doença, está mergulhado e afundado em um processo de destruição? E como pretender que um alcoólico, movido pela doença, consiga, por si mesmo, superar suas condições fragilizadas como doente, e alcançar o patamar da bem aventurança onde se desfruta de relações sociais saudáveis e sustentáveis? Esse é o desafio gigante, grandioso, inevitável e intransferível que se apresenta diante da área da construção civil, na especificidade deste artigo científico, como uma responsabilidade que terá, cedo ou tarde, que prestar constas a uma sociedade atualmente desatenta que, em um futuro consciente gritará, na alma, por sustentabilidade. METODOLOGIA A escolha do tema deste artigo foi uma tarefa bastante fácil por tratar-se de uma questão que acompanha a autora como uma grande preocupação e inquietude de alma, pela consciência profunda, adquirida, sobre os males individuais e coletivos que o alcoolismo vem provocando à sociedade. Após escolhido o tema e definidos os itens que compunha a estruturação do artigo, foram identificados os indicadores oficiais de pesquisa teórica e neles os textos relacionados às palavras-chaves, onde se pesquisou informações complementares pertinentes ao conteúdo abordado, sem desprezar contribuições informais extraídas da literatura livre. A ideia inicial era proceder com pesquisa de campo em canteiro de obras e junto aos setores internos da construção civil que lidam com trabalhadores alcoólicos ou potenciais, para coleta de dados estatísticos e percepções dos envolvidos com a doença, ilustrando com informações extraídas dessa realidade. Como a pretensão tornou-se inviável no atual momento, o artigo desenvolveu-se na linha da discussão e revisão teórica, cujo conteúdo inicial foi a manifestação das percepções e informações da própria autora, sendo enriquecido e consolidado com o conhecimento de literatura científica encontrado em textos, artigos e teses dos indicadores oficiais pesquisados, e daquele adquirido na experiência das aulas do curso de especialização em responsabilidade social e sustentabilidade, em especial naquelas versadas em desenvolvimento humano e social que privilegiavam valores éticos e morais. RESULTADOS E DISCUSSÃO As questões do alcoolismo e o contexto de trabalho trazem consigo o conteúdo subjacente de uma relação estreita entre o trabalhador, portador da doença, e a estrutura organizacional  

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naquilo que se refere à saúde ocupacional e ao ambiente e segurança do trabalho, cujos conceitos e práticas suscitam uma maior compreensão para que seja estabelecida uma análise correta da relação entre o alcoólico empregado, com as anomalias da doença, e o que a empresa, na condição de empregador, tem a oferecer ou a se proteger nesse delicado vínculo de trabalho, que envolve valores humanos, éticos, direitos e deveres jurídicos e sociais, compromissos com a qualidade elevada das condições de vida dos indivíduos e dos negócios empresariais que remetem aos princípios fundamentais de sustentabilidade e responsabilidade social. A eficaz operacionalização do sistema de saúde ocupacional e de segurança do trabalho em empresas da construção civil reverterá em benefício ao trabalhador alcoólico, mas também ao empregador, considerando que melhorar as condições do ambiente e do exercício do trabalho para o empregado brasileiro é diminuir o custo social com os acidentes de trabalho, promover a autoestima e a autonomia pessoal, econômica e social, e proporcionar a melhoria continua da qualidade de vida dos trabalhadores, medidas que reduzem de igual modo, as despesas do empregador, assegura a qualidade do negócio e, socialmente, preserva a imagem da empresa. Esse ambiente deve oferecer as condições ideais para que o indivíduo trabalhador interaja e transforme esse ambiente e seja influenciado e transformado por ele, sentindo-se esse espaço como sendo a extensão da sua própria casa. O problema do alcoolismo, a condição do alcoólico e suas consequências, são, pois, uma questão de responsabilidade social e de sustentabilidade que envolve a todos indistinta e igualmente, e exige, indiscriminadamente, o compromisso e o empenho de todos os seguimentos da sociedade - indivíduos, famílias, empresas privadas, instituições, estado, grupos organizados, etc., no enfretamento, superação e eliminação desse mau social danoso que corrói as vísceras da sociedade hodierna, começando por eliminar todos os meios de produção, proibir a divulgação enganosa como benefício, impedir irrestritamente a disseminação comercial e abolir com determinação o consumo do produto, desde o primeiro gole. Ou encaramos essa realidade crucial e infrutífera, ou continuaremos amparados por um paradigma ilusório e fantasioso de uma vida empobrecida e sem sustentação. Enquanto não se chega ao patamar superior da vida humana, o alcoolismo pode ser enfrentado na construção civil com todos os recursos disponíveis na atualidade, podendo obter excelentes e imprevisíveis resultados. Mas, inigualável contribuição seria, por parte dos que fazem essa área empresarial e social, atuar preventivamente, ajudando na formação de novos seres humanos, na construção da nova geração dos descendentes dos seus empregados, oferecendo atividades educacionais que visem à aquisição de virtudes, sentimentos de amor ao seu Criador e aos seus semelhantes, zelo e proteção a si próprio, e ao meio em eu vive, como guardiões da Criação, e oportunidades de prestarem atos de serviços que promovam o bem estar e a tranquilidade daqueles em seu entorno. Muitas, porém inexpressivas quantitativamente diante da

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demanda, são as experiências nessa linha, desenvolvidas por segmentos da sociedade, envolvendo crianças, pré-jovens e jovens, com resultados exitosos. Esses já são experimentos espontâneos em desenvolvimento com resultados bastante significativos e que vêm responder aos anseios do coração humano e da alma dessa geração, enquanto se aguarda a comprovação científica da necessidade e valor desse conteúdo e forma de educação. As crianças são puras de coração e, como um espelho polido, refletem o que é bom e belo, possuem mente maleável, “é o maior tesouro que uma comunidade possui”; os pré-jovens (pré-adolescentes), em fase de formação da identidade, são altruístas, tem senso de justiça e prazer em ser útil e servir aos seus semelhantes e ao meio ambiente; os jovens são dotados de uma energia que supera a força de qualquer adulto, e da capacidade de dominar conhecimento e manejar com a tecnologia. Portanto, o que a nova geração atual precisa, é de um modelo de educação disponível e de pessoas com boa vontade, com propósitos puros, comprometidas em promover o desenvolvimento das suas potencialidades e em canalizar as suas capacidades para o exercício do bem comum. As empresas de construção civil poderiam, então, investigar essas experiências e fazer escolhas que estejam alinhadas com o propósito sugerido e aplicá-las, atuando nas duas frentes paralelas – preventiva e curativa - no enfrentamento ao alcoolismo. CONCLUSÕES O alcoolismo é uma doença decorrente do uso contínuo e excessivo da bebida alcoólica com diagnóstico que provoca distúrbios físicos, mentais e morais que podem levar a morte e desencadear comportamentos que comprometem as relações familiares, profissionais e sociais do usuário e fragiliza moralmente o cidadão às circunstâncias mais imprevisíveis. Essa doença com suas consequências afetam a saúde da coletividade e, portanto, deve ser enfrentada por todos os segmentos da sociedade como uma questão de responsabilidade social da qual depende a sustentabilidade do organismo social. Como proposta para essa contribuição social está sendo sugerido neste artigo analisar e discutir em bases teóricas, a influência do alcoolismo no ambiente da construção civil e como enfrentar a doença neste campo empresarial. Entende-se que uma organização fortemente estruturada na sua saúde ocupacional, segurança e ambiente de trabalho - com valores humanos, éticos e morais, direitos e deveres jurídicos e sociais assegurados, compromissos com a elevada qualidade de vida dos indivíduos e dos negócios firmados - é uma contribuição social na prevenção e cura do alcoolismo, como parte da sua responsabilidade social. Os serviços internos especializados devem oferecer assistência aos empregados alcoólicos no seu diagnóstico, na valorização da sua autoestima, e no despertar da consciência, na participação efetiva nos processos organizacionais, e reconhecimento dos trabalhadores alcoólicos em todos os processos da dinâmica organizacional, nas iniciativas psicológicas

e

sociais

oferecidas

para

assegurar

relações

saudáveis,

promover

o

autoconhecimento, a autoajuda, a segurança emocional, o bem estar pessoal e da família, nas  

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ações preventivas para evitar a doença. Propusemos que essa contribuição organizacional seja iniciada no âmbito da construção civil. Ao contrário de viver em elevado padrão enquanto pessoa humana, o rebaixamento que o uso do álcool causa ao indivíduo usuário na sua condição moral como ser criado para a dignidade e nobreza, o conduz a uma condição inferiorizada nos vínculos e estrutura familiar e ao desencanto em ver o seu espaço de trabalho - que seria para a manifestação das suas capacidades que o levariam ao reconhecimento como ser social produtivo, a auto realização por ver e apreciar o fruto do seu trabalho e por sentir-se útil aos demais, a sua autonomia pessoal e a autoafirmação como provedor da sua família, a uma consciência tranquila e uma vida de paz duradoura pelos deveres cumpridos e os direitos desfrutados – um espaço de frustração. O alcoólico se percebe e a sua vida transformada em um campo de batalha consigo mesmo, em um desafio constante para si e para outros, uma miragem que lhe ameaça e lhe escapa a cada descortinar do dia e ao aproximar do entardecer; a convivência social sólida, pacífica, que lhe fora destinada como propósito de existência, combalida por laços de desconfiança, desesperança, desrespeito, humilhação, rendição, medo, insegurança, injustiça, e de rebeldia que, muitas vezes lhe faz ver o que os seus olhos interiores e exteriores jamais gostariam de ter visto, como consequência da irracionalidade que só o alcoolismo poderia promover, da desumanidade que lhe foi companheira, da fraqueza que não lhe impedia de manter-se “em pé”, e da escuridão de quem não tinha forças para alcançar e se manter na luz. As duas forças sociais muito poderosas que atuam no mundo em paralelo, um processo gêmeo por muitos poucos percebidos, caminha de mãos dadas pelas ruas deste universo, distraidamente. Uma ordem social que agrega e desagrega, integra e desintegra aparentemente solta ao vento, embala toda a humanidade, e no centro desse movimento estão os indivíduos e as organizações, e as suas realizações, indistintamente. Esse movimento gira em torno de um organismo social que é unificado e indivisível em sua origem, mas que precisa ser cuidado, urgente e inadiavelmente, em nome de um todo sustentado. O alcoolismo está presente nessa configuração, pacientemente aguardando na espera da contra mão. Indivíduos, famílias, empresas privadas, instituições, estado, grupos organizados, etc., todos, são chamados a comprometer-se com esta questão de responsabilidade social que compromete na essência a sustentabilidade: eliminando os meios de produção, proibindo a divulgação enganosa da bebida associada à alegria e a saúde, impedindo irrestritamente a disseminação comercial e abolindo com determinação o consumo do produto, desde o primeiro gole. A proposição deste artigo é que esse esforço tenha início na construção civil. Os argumentos de ordem genética, psicológica e social, explicam a busca pelo álcool e os efeitos orgânicos, psicológicos, e sociais comprovados, pelo uso contínuo e excessivo da bebida, dos efeitos no organismo já que o álcool é incorporado ao metabolismo e afeta cérebro, trato digestivo, coração, músculo, sangue, glândulas hormonais – e das consequências para o ambiente   Scire Salutis    v.4 ‐ n.2    Abr, Mai, Jun, Jul, Ago, Set 2014 

 

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de trabalho - reações menos tolerantes, atrasos, afastamentos e faltas e até a recisão do contrato de trabalho. Nessa situação, o alcoólico pode estar travando uma luta solitária, sem sucesso e o indivíduo alcoólico, afundado no seu processo de destruição não tem como encontrar dentro de si ou por si mesmo a saída para o caminho da superação. A experiência desenvolvida pelo Centro de Dependência química (CEDEC) da Marinha do Brasil (MB) no tratamento aos seus funcionários alcoólicos é uma proposta inovadora a ser considerada, pois nelas os pacientes “constroem suas representações de adoecimento e cura”, com depoimento muito rico para estudo da doença e do tratamento, como mostram as falas dos entrevistados. Reconhecemos a necessidade de aperfeiçoamento para fortalecimento dos processos já existentes, mas mostramos a urgência de um avanço criativo e qualitativo por parte da ciência para novas descobertas nas explicações científicas da doença e dos meios de tratamento associados mais eficazes, com respostas para questões existenciais, subjetivas, associadas ao anseio mais profundo da alma humana na busca por significado, por sentido na sua existência. O ser humano é atraído à beleza, à harmonia, portanto, sabe apreciar o que é bom. Quando a ciência alcançar esse patamar os indivíduos serão alentados e se apaziguarão, reconhecerão quanto equivocados estavam, viverão com dignidade, farão escolhas sábias, resgatarão sua nobreza, e dedicar-se-ão com amor, vontade e determinação, ao progresso e prosperidade da sua comunidade. Fica claro que propósito da autora com o presente artigo é despertar indivíduos trabalhadores e empresários da construção civil para a consciência social do alcoolismo, e o apelo para o compromisso imediato na tomada de decisões resolutas e no investimento necessário que contribuam na solução efetiva do problema dentro do seu vasto campo de ação, viabilizando o surgimento de um novo referencial de paradigma e um real modelo de sustentabilidade. A proposta que está sendo apresentada como medidas preventivas para a formação da nova geração dos descendentes dos seus empregados é de proporções benéficas inimagináveis e tendo alcançado essa contribuição que poderá ser referência para outras instâncias da sociedade, ver-se-á, então, vislumbrado este mundo como outro mundo, esta terra como uma nova terra, esta raça de homens como uma nova raça, esta existência como um novo céu, o jardim da humanidade como um novo paraíso, essa aurora como um novo Dia. São essas flores nesse jardim que se deve cultivar, esses frutos deliciosos de um pomar abundante que se deve plantar. Pensarão os bem feitores, que estarão fazendo pelos seus subordinados, quando, de fato, estarão fazendo para si mesmo, não apenas na interpretação de São Francisco de que é dando que se recebe, mas, principalmente, na compreensão profunda da interatividade e correlação do todo unificado. Esse futuro que as empresas construirão será o quinhão mais abundante que herdarão não apenas os filhos dos seus empregados, mas os filhos dos seus filhos, empresários. Esses setores empresariais internos tornam-se revestidos de uma nova missão, preponderante na saúde ocupacional e na segurança do trabalho, como instrumentos de prevenção e capacitação do alcoólico no exercício do seu trabalho e na sua qualidade de vida, possibilitando,  

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em articulação com os demais órgãos da empresa, um ambiente de trabalho favorável ao bem estar e realização desse empregado. Nas empresas de construção civil o alcoolismo é uma realidade expressiva, conforme detectada através de revisão teórica embora mereça pesquisa de campo para estudo e comparação científica, necessitando, portanto, estarem muito bem equipadas para assistirem eficazmente aos seus empregados portadores da doença. Embora o alcoolismo seja uma questão de responsabilidade social de todos os indivíduos e seguimentos sociais para a própria sustentabilidade humana e ambiental, a proposição neste artigo é que a área da construção civil dê a sua parcela de contribuição social enfrentando o alcoolismo no seu campo de atuação, colocando, com determinação, todos os meios materiais, psicológicos, organizacionais, e sociais, e buscando parcerias, para um esforço concentrado em banir esse mal corrosivo que deteriora as vísceras da sociedade e é a droga mais custosa para a empresa e estado. Além dos meios curativos que podem ser disponibilizados está sendo apresentada uma proposta preventiva desafiadora, porém diferenciada qualitativamente, direcionada a formação das crianças, pré-jovens e jovens descendentes dos empregados, em valores éticos e morais e em atos de serviço à coletividade, como meio para o surgimento de uma nova geração de indivíduos e de uma nova sociedade. O ser humano foi criado nobre, é atraído à beleza, a harmonia e ao bem, tem anseio profundo por significado, por entender o propósito da sua existência, e por compreender como desenvolver e utilizar suas capacidades. A busca do álcool tem na alma e no coração humano uma espécie de resignação para a ausência das perguntas que a ciência ainda não ousou responder, limitando suas comprovações ao campo da hereditariedade e necessidades materiais da vida. A busca pelo álcool é a tentativa frustrada e debilitante de toda a alma anelante, em “matar a sede” daquilo que nenhuma adega oferecerá: Tudo o que tens em tua adega não satisfará a sede de meu amor – ó portador do cálice – traz-me do vinho do espírito, um cálice pleno como o mar!. O trabalho educacional preventivo, proposto neste artigo, para ser desenvolvido pelas empresas da área da construção civil com a geração mais nova dos descendentes dos seus empregados, alcoólicos e não alcoólicos, de alguma forma reverterá em resposta a essa busca mística, pois, além do conhecimento material incluído contempla também aquelas qualidades inatas dos seres humanos, próprias da dimensão moral e espiritual da vida. REFERÊNCIAS BAHÁ´U`LLÁH. Orações Bahá`is: uma seleção de orações reveladas por Bahá´u`lláh, o Báb, e ´Abdu`lBahá. Mogi Mirim: Bahá`í do Brasil, 2009. BAHÁ´U`LLÁH. As palavras ocultas de Bahá´u`lláh. Rio de Janeiro: Bahá`í, 1985. BIZARRO, M. M. C.. Caracterização do consumo de bebidas alcoólicas durante a realização de trabalha na construção civil: implicações para a segurança ocupacional. Dissertação (Mestrado em Engenharia Humana) - Universidade do Minho, 2007. HALPERN, E. E.; LEITE, L. M. C.. Representações de adoecimento e cura de pacientes do centro de   Scire Salutis    v.4 ‐ n.2    Abr, Mai, Jun, Jul, Ago, Set 2014 

 

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dependência química do Hospital Central da Marinha, 2011. HECKMANN, W.; SILVEIRA, C. M.. Dependência do álcool: aspectos clínicos e diagnósticos. In: ANDRADE, A. G.; ANTHONY, J. C.; SILVEIRA, C. M.. Álcool e suas consequências: uma abordagem multiconceitual. Barueri: Minha Editora, 2009. SANTOS, F. S. D.; VERANI, A. C.. Alcoolismo e medicina psiquiátrica no Brasil no início do século XX. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, 2010. SHERAFAT, D. F.. Trabalho e o Reencontro de Interesses. Rio de Janeiro: Ediouro Gráfica, 2006. RICO, E. M.. A Responsabilidade Social Empresarial e o Estado uma aliança para o desenvolvimento sustentável. São Paulo em Perspectiva, v.18, n.4, p.73-82, 2004.

 

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