Contra um novo lexicalismo através das raízes

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CONTRA UM NOVO LEXICALISMO ATRAVÉS DAS RAÍZES Vitor Augusto Nóbrega1 Universidade de São Paulo/CNPq [email protected] Objetivos: (i) Avaliar as consequências da caracterização da raiz como uma entidade sintática convencional em um modelo não-lexicalista de gramática, em particular, a Morfologia Distribuída (MD), como sugerido em Harley (2014); (ii) Avaliar a plausibilidade de VoiceP figurar como um domínio de interpretação – proposta sugerida como alternativa para a abordagem Marantz-Arad. Hipóteses principais: (i) Raízes (a) não contêm traços diacríticos ou operadores semânticos, (b) não tomam argumentos e (c) não são entidades autônomas capazes de projetar. (ii) VoiceP não pode ser considerado um domínio de interpretação. Evidências: saturação do argumento externo internamente a compostos exocêntricos deverbais, sintéticos e V-N, com conteúdo não-composicional. Mapa da apresentação: Seção 1: Propriedades sintáticas atribuídas às raízes Seção 2: Propriedades semânticas das raízes e domínios de interpretação Seção 3: VoiceP como um domínio de interpretação Seção 4: Domínios alternativos – NumP para o domínio nominal e TP para o domínio verbal Seção 5: Considerações finais 1. Decompondo as raízes: (i) propriedades sintáticas •

A raiz é definida como um primitivo destituído de traços gramaticais. Essa assunção permite que ela seja combinada a qualquer núcleo categorizador – n, v ou a –, e garante sua identidade enquanto um objeto sintático, diferenciando-a dos demais primitivos assumidos pelas abordagens não-lexicalistas.



Não há um consenso, entretanto, sobre o modo como as raízes interagem no componente sintático e sobre quais são suas informações intrínsecas, principalmente, no que concerne a informações fonológicas e semânticas.



Harley (2014): a raiz não pode ser identificada por traços fonológicos e semânticos, uma vez que, ao assumi-los como parte de sua natureza, seria impossível explicar casos de supleção de raízes, tais como aqueles atestados em hiaki (e.g., mea ~ sua ‘matar, quando o objeto é singular’ ~ matar, quando o objeto é plural’), e raízes com um conteúdo semântico altamente variável, como as raízes tri-consonantais do hebraico (cf. ARAD, 2003, 2005).

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Membro do Grupo de Estudos em Morfologia Distribuída da USP (GREMD – USP), sob orientação da Profa. Dra. Ana Paula Scher. Os resultados apresentados nesta comunicação são parte do meu projeto de Doutorado, financiado pelo CNPq (processo 160605/2014-8). Parte do conteúdo presente nesta comunicação foi publicado em: http://www.revel.inf.br/files/db313a130b5fc0b15437225ec5a2e979.pdf.

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Como alternativa, a autora sugere que as raízes são individualizadas apenas sintaticamente, e que essa individualização se dá através de índices abstratos independentes representados por caracteres alfanuméricos (e.g., √75), os quais são associados a raízes na computação sintática, e, pós-sintaticamente, estabelecem uma ligação entre um conjunto particular de instruções de Spell-Out em PF, e um conjunto particular de instruções interpretativas em LF, tais como aquelas representadas em (1), a partir da raiz throw: (1) Instruções de interface para interpretação de uma raiz (HARLEY, 2014, p. 244) Instruções em PF (Lista 2) √77 ßà /θrow/



Instruções em LF(Lista 3) √77 ßà “vomitar”/ [v [__]√ [up]P]]vP ßà “cobertor com luzes”/ [n [__]√] {outros significado em outros contextos} ßà “jogar” elsewhere

Ganhos: (i) cada componente opera exclusivamente com as informações que lhe cabem; (ii) endossa a hipótese das três listas defendidas pela MD.

Ø Problema (1) – Seleção de argumentos •

Harley confere à raiz sintática um poder particular, o A raiz deve ser considerada uma entidade sintática convencional, capaz de selecionar argumentos e de nuclear constituintes sintagmáticos (i.e., [√P √P DP]).



A ideia de que a raiz seleciona argumentos não é nova, e está presente em diversos trabalhos anteriores, como em Marantz (1997), Embick (2004) e Punske (2012), entre outros, carregando consigo alguns problemas empíricos e computacionais.



Consequências: (i) Essa assunção restringe o caráter acategorial da raiz, ao atribuir a ela características verbais (ACQUAVIVA, 2014), já que a seleção de argumentos implica a presença de um núcleo verbal à Evidências: Alexiadou e Grimshaw (2008) apontam que somente nomes relacionados a um determinado verbo podem conter uma estrutura argumental. Sendo assim, estruturas argumentais não são propriedades de nomes2.

Ø Problema (2) – Propriedades idiossincráticas como diacríticos na raiz •

Outro apontamento sobre sua natureza sintática inclui a codificação de propriedades idiossincráticas como diacríticos na raiz, tais como diacríticos de classe (ALCÂNTARA, 2003, 2010; EMBICK; HALLE, 2005) e operadores semânticos, como kind (CHIERCHIA, 2014).

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Minussi (2012) discute nomes deverbais como plantio, em que os argumentos selecionados pelo núcleo verbal do qual o nome é derivado não é realizado na nominalização, o que enfraquece a hipótese de que as raízes carregam seus argumentos internos.

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Consequências: (i) A raiz se torna um refúgio de idiossincrasias, visto que toda informação que deveria estar listada como particular à categoria sintática acaba sendo codificada na entidade, que, a priori, seria a mais isenta possível; (ii) Perde-se o caráter acategorial das raízes, pois ao admitirmos que uma raiz contém um traço que pressupõe uma categoria, então, ela já não pode ser considerada acategorial (ACQUAVIVA, 2009); (iii) A presença de um diacrítico ou operador semântico específico a uma categoria sintática impede que uma mesma raiz seja categorizada por outros núcleos categorizadores (e.g., kind).

Ø Problema (3) – Operacionalidade computacional •

Como é bem sabido, a MD assume que as mesmas operações sintáticas responsáveis por derivar sentenças (viz., Merge, Move, Agree) são também responsáveis por derivar a estrutura interna das palavras.



Quais são os traços que estão em jogo na operação Agree responsável por concatenar um núcleo categorizador a uma raiz, tendo em mente que a raiz não contém traços gramaticais?



Além disso, sendo a raiz ontologicamente destituída de traços gramaticais, como ela seleciona (e se concatena a) um complemento DP visto que ela não é capaz de entrar em relações de valoração de traços?



Nóbrega (2014): o traço de borda e a categorização da raiz (2) 3 iR: n, v, a uR:___



Consequência: (i) Se o único traço que a raiz possui é o traço de borda, então, ela não apresenta condições sintáticas necessárias para selecionar um complemento DP, já que o traço de borda entra em uma relação de Agree somente com outro traço capaz de valorá-lo.

Ø Problema (4) – A raiz como uma entidade autônoma capaz da projetar (RootP) •

Acquaviva (2009) salienta que, uma vez que as raízes não contêm informações sintáticas legíveis, elas não podem, por si só, projetar.



Assim sendo, não é possível admitir que exista um “RaizP”, bem como não é possível que um argumento seja inserido em uma posição de complemento ou especificador da raiz, pois apenas núcleos funcionais, partículas e small clauses têm a capacidade de introduzir argumentos (ALEXIADOU, 2014, p. 288).



Em resumo: As propriedades sintáticas das raízes é que sua caracterização como entidades sintáticas convencionais leva-nos a um novo lexicalismo, e isso deve ser evitado a todo custo por um modelo que pretende estabelecer uma relação transparente entre a sintaxe e a morfologia.

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Portanto, NÃO podemos admitir como propriedades sintáticas das raízes: (a) a presença de uma categoria sintática ou de informações gramaticais e semânticas restritas a uma determina categoria sintática; (b) a capacidade de selecionar argumentos; (c) a ideia de que elas são entidades sintáticas autônomas capazes de projetar.

2. Decompondo as raízes: (ii) propriedades semânticas •

Um segundo ponto a ser discutido é a presença de conteúdo semântico nas raízes.



De acordo com Panagiotidis (2014), está atrelada a modelos lexicalistas de gramática, em que o léxico contém uma lista de formas e interpretações pareadas pré-derivacionalmente, sem qualquer estruturação.



Acquaviva (2008, 2009, 2014), Acquaviva e Panagiotidis (2012), Panagiotidis (2011, 2012, 2014, 2015), Borer (2008, 2009a, 2009b, 2010, 2013a, 2013b, 2013c, 2014) e Harley (2012, 2014) questionam a individualização semântica da raiz, argumentando que sua interpretação é dada contextualmente.



Embora a proposta seja interessante, encontramos alguns problemas de implementação, principalmente, no modelo de Harley (2014).

Ø Problema (1’): As instruções em LF e a interpretação de expressões idiomáticas e compostos •

Nunberg, Sag e Wasow (1994): a. Expressões combinadas idiomaticamente (ICEs, do inglês idiomatically combining expressions): embora associadas a conteúdos não-convencionais, têm seu significado distribuído entre seus constituintes (e.g., engolir sapos); b. Sintagmas idiomáticos (IPs, do inglês idiomatic phrases): não têm seu significado distribuído por suas partes constituintes, mas sim um significado atômico (e.g., bater as botas).



ICEs: (✓) ü A raiz √98, realizada fonologicamente como engolir e com o conteúdo semântico ENGOLIR em contextos não-marcados, é, na verdade, combinada a outro conteúdo, ENFRENTAR, quando está no contexto da raiz √290. ü Essa última, por sua vez, está associada ao conteúdo SAPO em contextos nãomarcados, mas é combinada ao conteúdo PROBLEMA por estar no contexto da raiz √98, quando √98, anteriormente, tiver sido associada ao conteúdo ENFRENTAR.



IPs: (X) " Sintagma idiomático que contém um único conteúdo semântico, ‘morrer’, é listado separadamente, como parte da informação de suas duas raízes, bater e botas (BORER, 2014). " Tanto bater quando botas deverão estar associadas ao conteúdo MORRER, uma redundância desnecessária para o sistema.

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Compostos: (X) " mesmo raciocínio se aplica a palavras compostas como casca grossa ‘pessoa difícil’, sangue frio ‘desalmado’ e sangue bom ‘pessoa boa’.

Ø Problema (2’): Interpretação – Instruções em LF ou nós terminais sintáticos? •

A assunção paralela de instruções em LF e de um domínio de interpretação mediado por VoiceP são contraditórias, pois a não-composicionalidade está sendo determinada duplamente no sistema de Harley (2014), tanto em LF, quando no sistema computacional.



Qual a relação entre domínios de interpretação determinados por nós terminais e a interpretação fornecida pelas intruções em LF? A gramática precisa dos dois?

3. VoiceP como um domínio de interpretação? Os argumentos dos compostos •

Harley (1995) e Marantz (1997) admitiam que o núcleo introdutor de argumento externo, v, continha três funções: (i) categorizar uma raiz como um verbo, (ii) introduzir o argumento externo e (iii) estabelecer um domínio de interpretação.



Pylkkänen (2002) que uma argumentação em favor da dissociação de v (categorizador) e Voice (introdutor de argumento externo) ganha força, sendo evidenciada, posteriormente, nos trabalhos de Doron (2003), Cuervo (2003), Collins (2005), Alexiadou, Anagnostopoulou, and Schäfer (2006), Merchant (2008), Harley (2009), Marantz (2013) e Harley (2013).



Em consonância com a proposta de Marantz (1997), Anagnostopoulou e Samioti (2011, 2013, 2014), Marantz (2013), Harley (2014) e Anagnostopoulou (2014) propuseram que o domínio para interpretação é VoiceP.



VoiceP, como um introdutor de argumento externo, está inserido em domínios nãocomposicionais na formação de compostos deverbais do inglês e das línguas românicas, e nos compostos depreposicionais.

Ø Contra-argumento: compostos deverbais sintéticos e V-N •

A principal característica desses compostos deverbais está na relação argumental presente entre o verbo, majoritariamente, transitivo/causativo, e o nome interpretado como seu argumento interno. (3) a. cava-tappi lit. tira-tampas b. apri-porta abre-porta c. time-saver lit. tempo-salva-suf.agent. d. bike-riding bicicleta-anda-suf .



‘saca-rolhas’ (Italiano) ‘abridor, maçaneta’ ‘alg. que economiza tempo’ (Inglês) ‘andar de bicicleta’

Di Sciullo (1991, 1992): distribui os compostos deverbais em: (i) Grupo 1: Compostos deverbais realizados como nomes (resultado) concretos (a) Compostos deverbais sintéticos do ingles com sufixo agentivo –er (e.g., dooropener lit. porta-abre-suf.agent. ‘porteiro eletrônico’); (b) Compostos deverbais V-N das línguas românicas (e.g., [IT] apri-botiglie lit. abregarrafa ‘abridor de garrafas’);

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(ii)





Grupo 2: Compostos deverbais realizados como nomes eventivos (a) Compostos sintéticos sufixados por -ing do inglês (e.g., bike-riding lit. bicicletaandar-suf. ‘andar de bicicleta’); (b) Compostos [V-suf. N] do italiano (e.g, [IT] controlo-passaporti controlepassaporte ‘controle de passaporte’).

Compostos do Grupo 1: apresentam um conjunto de propriedades que os associam aos nomes que denotam eventos complexos, descritos em Grimshaw (1990). Por exemplo, permitem a saturação do argumento externo por um sintagma preposicionado e controle por uma oração explicativa: (4) a. The ball-throwing (by Mary) (to impress the audience). ‘O arremesso da bola pela Maria para impressionar o público’.

(Inglês)

(5) a. Il controlo-passaporti (da parte della polizia). ‘O controle-passaportes (pela polícia)’ b. Il controlo-passaporti (per identificare l’assassino). ‘O controle-passaportes (para identificar o assassino)’ c. Il distributore-Pepsi (da parte del ragazzo). ‘A distribuidor-Pepsi (pelo menino)’ d. Il distributore-Pepsi (*per calmare il ragazzo). ‘O distribuidor-Pepsi (*para acalmar o menino).

(Italiano)

Compostos do Grupo 2: não permitem a saturação do argumento externo por um sintagma preposicionado, nem orações de controle. (6) The ball-thrower (*by Mary) (*to impress the audience). ‘O arremesso da bola pela Maria para impressionar o público’.

(Inglês)

(7) a. Un mangia-pasta (*da parte da Gianni). ‘Um come-macarrão (*pelo Gianni)’ b. Un mangia-pasta (*per impressionare la folla). ‘Um come-macarrão’ (*para impressionar a multidão)’ c. O desmancha-prazer (*pelo João). d. O desmancha-prazer (*para acabar com a festa). e. O sossega-leão (*pela injeção). f. O sossega-leão (*para descansar à noite).

(Italiano)

(PB)



Di Sciullo (1991, 1992) argumenta que a agramaticalidade da presença de sintagmas preposicionados introduzindo o argumento externo e a impossibilidade de controle nos compostos realizados como nomes concretos, tal como em (6) e (7), indica que todos os argumentos do núcleo verbal foram saturados internamente ao composto.



Por outro lado, nos compostos eventivos, em (4) e (5), o único argumento saturado internamente ao composto é o argumento interno.



Evidências adicionais para demonstrar que o argumento externo não é realizado internamente aos compostos eventivos é encontrado na agramaticalidade de sua incorporação ao núcleo verbal.

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(8) a. Flower-arranging (by experts is preferable to do-it-yourself). (Inglês) ‘A organização das flores (por especialistas é preferível fazer-você-mesmo)’ b. *Expert-arranging (of flowers is nice to look at). ‘A organização do especialista (das flores é agradável ao olhar)’ •

A presença do argumento externo saturado internamente a compostos nominais concretos é atestada pela impossibilidade de se concatenar um sufixo agentivo a um composto VN, o qual é responsável por saturar o argumento externo do núcleo verbal (cf. DI SCIULLO; WILLIAMS, 1987; RAPPAPORT; LEVIN, 1988). (9) a. tagliatore ‘cortador’ b. *tagliatore-carte ‘cortador-carta’ c. *carte-tagliatore ‘carta-cortador’

(Italiano)



Evidências sintáticas para a assunção de um pro realizado internamente aos compostos VN está na presença de sujeitos nulos no italiano (cf. RIZZI, 1986).



Além disso, o contraste entre compostos nominais concretos e compostos eventivos evidencia que, enquanto compostos VN são complexos funcionais completos, contendo um pro em sua estrutura interna, os compostos eventivos não permitem a saturação do argumento externo por um pro, o que é evidenciado pela sua inserção através de sintagmas preposicionados. (10) a. Il controlo-passaporti (da parta dalla CIA) ‘O controle-(de)-passaportes (pela CIA)’ b. La racolta-rifiutti (da parte dei cittadini) ‘A recolha-(dos)-resíduos (pelos cidadãos)’ c. L’evacuazione-passeggeri (da parte del capitano) ‘A evacuação-(dos)-passageiros (pelo capitão)’



Bok-Bennema e Kampers-Manhe (2006) assumem, juntamente com Di Sciullo (1991, 1992), a hipótese de que pro é realizado internamente aos compostos deverbais VN e sintéticos.



A presença de um DP nulo na posição de argumento externo do núcleo verbal é necessária para explicar a leitura desses compostos: (a) sua leitura agentiva, como em salva-vidas (pessoa que salva vidas); (b) sua leitura instrumental, como em limpa-vidros (produto que limpa vidros).



Uma vez que esse papel agentivo/instrumental não faz referência a uma entidade específica no mundo, e nem é co-referencial a outro DP, ele deve ser formalizado como um pro e não como um PRO.



Para as autoras, pro é realizado no especificador de vP, e seu papel agentivo/instrumental é atribuído estruturalmente à essa posição. Esse pro assemelha-se aos DPs ilustrados em (15), retirados de Sleeman (1996):

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(11) a. los pro que están ahí. ‘aqueles pro que estão alí’ b. Je veux les pro rouge. ‘eu quero o pro vermelho’ c. il pro più atento dela classe. ‘o mais pro atento da classe’ (12) [NP pro [N’ Nº [vP pro [v’ limpa [VP limpa vidros]]]]] •

Há, portanto, evidências sintáticas e semânticas para admitir que o argumento externo do núcleo verbal é realizado internamente a esses compostos.



Sua ausência impossibilita uma explicação satisfatória dos compostos deverbais, bem como dos compostos de-preposicionais, tanto do ponto de vista sintático – visto na comparação entre compostos deverbais concretos e compostos deverbais eventivos – quanto do ponto de vista semântico – relativo à leitura desses compostos.



Se admitirmos com Pylkännen (2002), Marantz (2001), Doron (2003), Harley (2013, 2014) que v é o núcleo verbalizador de uma raiz, e Voice o núcleo responsável por introduzir o argumento externo, então, Voice está presente em um domínio não-composicional, visto que a estrutura sintática do composto compreende um núcleo categorizador concatenado acima de VoiceP.



Uma vez que nem VoiceP, nem os núcleos categorizadores, são capazes de determinar os domínios de localidade para interpretação, quais são os núcleo terminais responsáveis por delimitar esses domínios sintáticos?



Alternativa: o Domínios de interpretação são os núcleos funcionais flexionais, os quais, sendo produtivos e não-opcionais, podem desempenhar um papel na demarcação das fronteiras de interpretação da estrutura sintática.

4. Domínios de localidade para interpretação: núcleos funcionais flexionais? •

Como bem sabemos, terminais sintáticos determinam nossa compreensão da estrutura sintática.



No entanto, ainda não há uma resposta satisfatória sobre: (i) qual(is) nós terminal(is) são responsáveis por estabelecer domínios de interpretação, (ii) quais são suas propriedades, e (iii) como eles contribuem para nosso entendimento da composição sintática.

Ø Domínio de interpretação (1): NumP no domínio nominal •

A adição de marcas de número concatenam-se a um domínio já interpretado, e sua adição não afeta a interpretação das palavras as quais se afixam.

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(13) a. pirataria ‘ato ilegal/reprodução ilegal’ b. lotação ‘ônibus’ c. lavagem ‘dissimulação financeira’ d. calcinha ‘roupa íntima feminina’ e. mamado ‘bêbado’ f. estabelecimento ‘local de vendas’ •

à piratarias à lotações à lavagens à calcinhas à mamados à estabelecimentos

Problema (1): derivativos denominais formados a partir de nomes plurais do bretão Quadro 1: Derivativos denominais formados a partir de nomes plurais (STUMP, 1990a, 1990b)

Nome barr penn pilhenn

Singular ‘chuva’ ‘cabeça’ ‘trapo’

Plural barroù pennoù pilhou

preñv

‘larva’

preñved

Derivativo denominal Verbos com infinitivo em -i e -iñ barraouni ‘chover’ pennouiñ ‘reunir/juntar’ pilhaoui ‘recolher trapos, ir de porta em porta’ preñvedi ‘tornar-se carcomida’



Como podemos ver, a semântica que o sufixo adiciona é vaga e muitas vezes nãocomposicional, tal como em pennouiñ ‘reunir, juntar’ de penn ‘cabeça’, e pilhaoui ‘ir de porta em porta’, de pilhenn ‘trapo’.



Problema (2): plurais não-composicionais do inglês (ACQUAVIVA, 2008) (14) a. brains ‘inteligência’ b. dephts ‘abismo’ c. heights ‘lugares altos’



Domínio de interpretação (2): DP no domínio nominal



Problema (1): Compostos V-DP do francês (DI SCIULLO, 2013) (15) a. crève-la-faim morre-a-fome ‘miseráveis’ b. trompe-la-mort engana-a-morte ‘sobrevivente, pessoa que desafia a morte’ c. coupe-la-faim corta-a-fome ‘moderador de apetite’ d. coupe-la-soif corta-a-sede ‘bebida’



(Francês)

Domínio de interpretação (3): TP no domínio verbal? (Em desenvolvimento)

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5. Considerações finais v Deflagramos uma série de problemas que surgem da assunção de raízes como entidades sintáticas convencionais, sugerindo a emergência de um novo lexicalismo através das raízes – o qual deve ser evitado a todo custo por um modelo nãolexicalista. v Evidenciamos que VoiceP não se caracteriza como um domínio de localidade para interpretação, com base nas propriedades argumentais dos compostos deverbais exocênticos VN das línguas românicas, e compostos deverbais sintéticos do inglês. v Sugerimos que núcleos funcionais flexionais podem ser considerados domínios de interpretação. No entanto, dados do bretão e do inglês evidenciaram que NumP – o primeiro núcleo avaliado – não pode determinar domínios de interpretação, uma vez que está contido em formações não-composicionais. v Admitimos, por ora, que TP pode representar esse papel, embora uma investigação empírica mais abrangente seja necessária para corroborar tal assunção. 6. Referências bibliográficas ACQUAVIVA, P. Roots and Lexicality in Distributed Morphology. In: GALANI, A.; REDINGER, D.; YEO, N. (eds.) 6th Décembrettes Mophology in Bordeaux, 2009, p. 50-62. ______. Distributing roots: Listemes across components in Distributed Morphology. Theoretical Linguistics, v. 40, n.3/4, 2014, p. 277-286. ACQUAVIVA, P.; PANAGIOTIDIS, P. Lexical decomposition meets conceptual atomism. Lingue e Linguaggio, v. 11, n. 2, 2012, p. 165-180. ALEXIADOU, A. Roots don’t take complements. Theoretical Linguistics, v. 40, n.3/4, 2014, p. 287-297. ALEXIADOU, A.; GRIMSHAW, J. Verbs, nouns and affixation. SinSpec, v. 1, p. 1-16. ALEXIADOU, A., E. ANAGNOSTOPOULOU; SCHÄFER, F. The properties of anticausatives crosslinguistically. In: FRASCARELLI, M. (ed.), Phases of Interpretation. Berlim: Mouton, 2006, p. 187–211. ANAGNOSTOPOULOU, E. Roots and Domains. Theoretical Linguistics, v. 40, n.3/4, 2014, p. 299-310. ANAGNOSTOPOULOU, E.; SAMIOTI, Y. Idiomatic meaning and the structure of participle. Selected Papers from the 19th ISTAL, 2011. ______. Allosemy, idioms, and their Domains: Evidence from Adjectival Particles. In: FOLLI, R.; SEVDALI, C.; TRUSWELL, R. (eds.) Syntax and its Limits. Oxford: OUP, 2013. ARAD, M. Locality constraints on the interpretation of roots: The case of Hebrew denominal verbs. Natural Language & Linguistic Theory, v. 21, 2003, p. 737-778. ______. Roots and Patterns: Hebrew Morpho-syntax. Studies in Natural Language and Linguistic Theory. Amsterdam: Sprinter, 2005. BOK-BENNEMA, R.; KAMPERS-MANHE, B. Taking a closer look at Romance VN compounds. In: NISHIDA, C.; MONTREUIL, J-P. Y. (eds.) New Perspectives on Romance Linguistics – Vol. 1: Morphology, Syntax, Semantics and Pragmatics. Amsterdam: John Benjamins Publishing, 2006, p. 13-27. BORER, H. Exo-skeletal vs. endo-skeletal explanations: Syntactic projections and the lexicon. In: MOORE, J.; POLINSKY, M. (eds.) The Nature of Explanation in Linguistic Theory. Chicago: University of Chicago Press, 2003, p. 31-66. ______. In Name Only: Structuring Sense. Vol. 1. Oxford: Oxford University Press, 2005a. ______. The Normal Course of Events: Structuring Sense. Vol. 2. Oxford: Oxford University Press, 2005b.

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