Contradições do detetive: a literatura policial como problema para a teoria literária em obras de Machado de Assis, Jorge Luis Borges e Roberto Bolaño

June 2, 2017 | Autor: Raquel Parrine | Categoria: Detective Fiction, Latin American literature, ROBERTO BOLAÑO, Brazilian Literature
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Este estudo parte de uma visão teórica da literatura policial para analisar obras de três escritores latino-americanos: Machado de Assis, Jorge Luis Borges e Roberto Bolaño. O objetivo é fornecer um novo subsídio teórico para a leitura destes autores e, por outro lado, aprofundar a visão sobre o gênero policial no Brasil, ampliando, a partir dele, as discussões relacionadas à teoria literária. A causa secreta é um conto contemporâneo ao marco do nascimento do gênero policial nos Estados Unidos, com Edgar Allan Poe. Neste momento em que a literatura policial ainda não está consolidada, Machado de Assis cria também um personagem apaixonado pela análise dos caracteres humanos, o médico Garcia. Desde o título, como nos livros policiais, o leitor está procurando um segredo, cuja solução depende de sua confiança na autoridade narrativa, mas, em última análise, nunca pode ser realmente liquidado, porque nele reside o enigma fundamental da literatura: a impossibilidade de apropriação do Outro. Em El jardín de senderos que se bifurcan, Jorge Luis Borges usa o gênero para travar uma discussão sobre o tempo na narrativa e revolve o relato sobre si mesmo, usando uma autoinserção temporal. Foi considerado, assim, uma subversão na medida em que, pretensamente, destrói as balizas de gênero. Entretanto, segundo Jacques Derrida, um gênero é formado não só de marcas que identificam uma obra com a outra, mas também por alterações dentro da forma, que aumentam os limites genéricos. Desta forma, Borges, do ponto de vista da literatura policial, ajuda a criar um novo subgênero, o policial metafísico. Desde a perspectiva de um novo policial que discute seu próprio estatuto, analisamos o romance do escritor chileno Roberto Bolaño, Los detectives salvajes, em que lemos a história da busca de uma pessoa que, na verdade, está morta e só sabemos de sua morte no final da narrativa. Isso opera uma diferença fundamental: esta obra narra pela lente do luto, enquanto no policial esta dimensão é suplantada pela necessidade da intriga. De outra forma, o percurso dos personagens também responde à sombra do enigma que é a voz do Outro. A literatura policial, assim, é um gênero caracterizado por uma busca incessante, motivada por um enigma que o detetive precisa solucionar. Tradicionalmente, esta demanda é bem sucedida. Entretanto, nunca vemos o personagem, satisfeito por mais um trabalho resolvido, voltar para casa, o que prova que, de alguma forma, nem ele mesmo está convencido da solução do enigma. O segredo, portanto, exige uma dedicação infinita. De alguma forma, o personagem modelar do detetive reflete o trabalho do crítico literário. A busca incessante, o solilóquio que esconde o enigma, a necessidade de autoridade narrativa são questões importantes do nosso trabalho. Qual seria a responsabilidade, portanto, do crítico? Estaria disposto a sacrificar sua autoridade pela verdade?
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