Contribuições de M.J. Carneiro para o estudo da juventude rural

August 2, 2017 | Autor: Gabriela Laroca | Categoria: Juventude Rural
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GT 12 - Sociabilidades e reciprocidades intergeracionais: diálogo entre pesquisadores seniores e graduandos Contribuições de M.J. Carneiro para o estudo da juventude rural

Gabriela Laroca Araújo¹ Edila Arnaud Moura²

Resumo: Trata-se de um estudo sobre três trabalhos da antropóloga Maria José Carneiro que abordam questões teóricas e resultados de pesquisa sobre os processos de mudança em organizações camponesas com enfoque nas suas influências sobre a população jovem. Os textos selecionados compreendem um período de mais de 10 anos de estudos sobre essa temática e possibilitam acompanhar o processo de construção desse objeto de investigação. O estudo tem por objetivo contribuir para a construção de objeto de pesquisa sobre essa temática em populações rurais no estado do Pará. Palavras-chaves: Juventude rural; Campesinato; populações rurais.

¹Graduanda de Ciências Sociais/ Universidade Federal do Pará, e-mail: [email protected] ² Doutora em Desenvolvimento Socioambiental – NAEA/ Professora da Faculdade de Ciências Sociais /Universidade Federal do Pará, e-mail: [email protected]

Introdução O avanço tecnológico crescente das sociedades denominadas urbanas e os processos relacionados à globalização tem afetado as sociedades rurais de diversas formas, o que tem sido referenciado como processo de rurbanização. Dentro dessa nova realidade houve a mudança da organização social vigente até então, colocando as sociedades rurais frente a situações inéditas e absolutamente singulares que afetaram alguns dos pilares base da sua organização. Essas novas situações interferem com intensidades diferentes na organização do campesinato, pois as ações modernizadoras modificam também a reprodução social deste, que precisa agora buscar alternativas para permanecer na sua condição de camponês. Neste contexto uma categoria social é afetada drasticamente, a juventude rural, como comenta M.J. Carneiro: “No contexto de crise da agricultura familiar e dos processos econômicos recentes que transformam o rural em um espaço cada vez mais heterogêneo, diversificado e não exclusivamente agrícola, a juventude rural salta aos olhos como a faixa demográfica que é afetada de maneira mais dramática por essa dinâmica de diluição das fronteiras entre os espaços rurais e urbanos, combinada com o agravamento da situação de falta de perspectivas para os que vivem da agricultura.” (CARNEIRO, 1998).

Existe uma bibliografia limitada, porém diversa sobre o assunto. A dificuldade de estudar essa categoria social, a juventude rural, é pautada no fato desta ser “fluida, imprecisa, variável e extremamente heterogênea” (CARNEIRO, 2005) que se comporta de uma maneira variável para cada situação presente no seu meio social. Uma autora brasileira que se destaca no estudo desse tema –– é a socióloga Maria José Carneiro formada pela Universidade Federal Fluminense e doutora pela Ecole des Hautes Études en Sciences Sociales,Paris, concluída em 1993. Ela nos oferece uma gama de estudos e pesquisas acerca da população rural e de sua organização social, identificando, também, o papel do jovem dentro dessa sociedade. Propõe-se, então, neste trabalho, fazer uma discussão teórica tomando como referência obras da autora citada para se chegar à construção do estudo referente à juventude rural, no contexto das sociedades de organização camponesa já que faz referencia a continuação de existência e permanência desse tipo de organização social e cultural no mundo atual. A análise será feita a partir de três de suas obras. O primeiro livro intitula-se “Camponeses, Agricultores e Pluriatividade” publicado em 1998 e que é uma versão

resumida e modificada da tese de doutorado da autora, intitulada “Les Pyans de Sept Laux (L’Isére): la construction d’un nouvel ordre social”. O segundo é o artigo “O ideal rurbano: campo e cidade no imaginário de jovens rurais” publicado no livro “Mundo Rural e Política” no ano de 1998. E, o artigo “Juventude e novas mentalidades no cenário rural” publicado no livro “Juventude rural em perspectiva” em que Maria José Carneiro é organizadora juntamente com a antropóloga Elisa Guaraná de Castro. Esta coletânea “tem o objetivo de socializar para um público mais amplo alguns dos temas abordados e parte dos debates travados por ocasião do Seminário Juventude Rural em Perspectiva realizado no Rio de Janeiro em maio de 2006 (...)” de acordo com as próprias palavras da autora na apresentação do livro. O seminário aconteceu em 2006 e o livro foi publicado um ano depois, em 2007. É a partir da análise dessas obras e da comparação entre elas que se pretende iniciar a construção de um objeto de investigação sobre juventude rural, em contextos amazônicos, como ela se organiza hoje e qual é o papel dela dentro do campesinato, levando em consideração as mudanças de hábitos, pensamentos e modo de agir influenciados pela ação modernizadora nessa sociedade rural.

Metodologia Para produção deste trabalho foi realizada a revisão bibliográfica dos produtos mencionados acima, tendo como foco a constituição da juventude no meio rural, como as mudanças modernizadoras ocorridas no campo estão afetando a vida e perspectivas futuras desses jovens e como eles se comportam perante a dinâmica rurbana em que estão inseridos.

Camponeses, Agricultores e Pluriatividade. Livro resultado de sua tese de doutoramento, sob a orientação de Maurice Godelier, tem como alvo uma pequena aldeia localizada na cadeia de Belldonne nos Alpes franceses, chamada Theys, onde há a discussão sobre as novas posturas adotadas por famílias camponesas para assegurar sua reprodução social face às mudanças ocasionadas pelo avanço urbano. A autora conduziu o estudo voltado à observação do universo familiar, justificando sua escolha pela “importância como agente integrador

das relações sociais no interior das pequenas explorações agrícolas” (p.8) que a família possui. O trabalho de campo iniciou-se em maio de 1988 e a tese foi concluída em 1993. Neste livro, Carneiro defende o caráter pluriativo dos camponeses como uma forma de reação à crise da agricultura ocasionada pelo avanço tecnológico na ruralidade. A pluriatividade é a “múltipla inserção no mercado de trabalho”, ou seja, os camponeses estão buscando outras formas de complementar a renda familiar, ingressando em trabalhos não-agrícolas. Dessa maneira ele reajusta a sua renda e possibilita sua continuidade no campo, chamando atenção para o fato de que a pluriatividade é uma alternativa, mas nunca substitui o trabalho na terra. “A multiplicidade de estratégias individuais e familiares deriva das fracas condições de produção. Recorre-se a vários meios para manter a unidade de produção e garantir a sobrevivência dos membros da unidade doméstica, sem, entretanto, transformar a racionalidade produtiva.” (p.63) No sétimo capitulo Carneiro aponta que os principais fatores que provocam as mutações nas sociedades rurais são: A ação modernizadora provocada pelo Estado, com formulações de politicas publicas que incentivam o agricultor a integrar-se na economia de mercado; A valorização do estudo, como única solução para “melhorar de vida” e a expansão turística, que integra e facilita o contato entre esses mundos distintos, que se faz presente mais assiduamente na vida do jovem, já que este é a principal fonte de renda fora da agricultura dos jovens aldeões. O emprego nas estações de esqui, que é a atividade turística da região de Theys, se torna a principal fonte de emprego dos jovens. Neste mesmo capitulo a autora aborda o tema da “rurbanização” com as mesmas características tidas mais a frente, no artigo “O ideal rurbano”, ela aponta o movimento de “dupla direção” deste caráter, que simultaneamente a valores urbanos estarem sendo reinterpretados e incorporados aos habitantes da aldeia, a população urbana está absorvendo símbolos materiais e imateriais do mundo rural. Novas categorias sociais são criadas dentro do espaço rural, como uma forma de reação à crise da agricultura familiar ocasionada pela modernização crescente no campo. Dentro dessas novas categorias estão os pluriativos. Essa ação de busca por trabalhos não agrícolas, de acordo com Carneiro, está intimamente ligada ao vinculo familiar. Esta atividade só se torna possível quando outros membros da família se responsabilizam pela atividade agrícola. Carneiro não faz uma delimitação especifica e

profunda sobre juventude neste livro, mas em alguns fragmentos nos permite visualizar como essa nova conjuntura social tem afetado essa categoria. “Estes novos valores (urbanos) penetraram nas famílias surtindo efeito principalmente sobre os jovens, atraídos pelo aumento da capacidade de consumo que o salário fabril propiciava. Em consequência, decresceu o número de filhos de operários-camponeses que aceitavam suceder o pai na posição de chefe de unidade produtiva, ameaçando fortemente os projetos familiares pautados na identidade camponesa.” (p.5)

E, neste outro fragmento um pouco mais à frente: “O entendimento desse processo exige buscar no conjunto dos fatores econômicos e ideológicos os significados que a pluriatividade assume hoje em dia para os jovens agricultores, sobretudo aqueles de regiões onde a agricultura tem sido uma atividade de pouco peso na economia nacional e frequentemente preterida em relação a outras mais rentáveis, como as que estão associadas à exploração do turismo, por exemplo.” (p.7)

Esses valores urbanos que se “globalizam” chegam ao espaço rural e se chocam com os valores já estabelecidos ali; se chocam porque são diferentes um do outro. No campo há a exaltação da coletividade familiar em relação ao individuo e é esse valor que legitima muitas práticas que fazem referencia a toda organização social do campesinato. A perda desse valor provoca mudanças na lógica organizacional dessa sociedade. A lógica do sistema de herança diz respeito diretamente à existência do campesinato, já que sem herdeiros as famílias perdem o poder sobre a terra. A crise de sucessão, que é mais uma das inúmeras crises criadas pelo mesmo problema, nos faz referencia diretamente à mudança de valores que estão sendo passados aos jovens rurais. O jovem bem sucedido é aquele que consegue “melhorar de vida”, e isso implica na saída dele da agricultura. Carneiro identifica essa mudança latente dizendo que: “Os excluídos não são mais aqueles que deixaram a fazenda contra a sua vontade, encorajados por seus próprios pais, devido a falta de terras e às estratégias familiares de transmissão de patrimônio. Os excluídos ou os marginais são, na época atual, os que permaneceram na agricultura: são os excluídos da sociedade industrial devido à ‘incapacidade pessoal’ de se integrarem ao novo mercado de trabalho.” (p. 117)

O ideal rurbano: campo e cidade no imaginário de jovens rurais. Artigo publicado no livro “Mundo Rural e Político” sob a organização de Teixeira da Silva, F.C et al em 1998. Trata-se de um dos primeiros artigos que Carneio discutiu de uma maneira mais aprofundada a juventude no meio rural. De inicio ela faz uma “rápida delimitação” do que seria juventude rural, do que é ser um jovem rural, onde ela

diz que essa camada social “imprecisa, variável, construída socialmente” (p.1) vem se tornando mais frequentes nos estudos de acadêmicos sociais, pois é uma categoria primordialmente afetada por essa relação campo x cidade, que traz situações singulares às vidas desses jovens. E levando em consideração a realidade das duas localidades estudas – São Pedro da Serra, localizado no Rio de Janeiro; e no município de Nova Pádua, localizado no Rio Grande do Sul – ela identifica o jovem “como aquele indivíduo que se encontraria em uma fase caracterizada pela discrepância entre o projeto de vida vislumbrado e as atividades em realização” (p.2). Mas, é importante lembrar que é uma delimitação conceitual que se modifica de acordo com o local em questão, as formas como a modernização afetam o meio rural é diferente de localidade para localidade, assim como as reações contrárias a esta. Esse novo quadro social propicia a criação de uma nova identidade rural, que mescla valores urbanos e rurais, sem exclui-los mutuamente. Isso é possível graças ao forte papel que a família exerce na vida social desses jovens, a individualização urbana se choca com o alicerce da sociedade rural, que é a família. Sobre isso Carneiro fala “Os jovens oscilam entre o projeto de construírem vidas mais individualizadas, o que se expressa no desejo de ‘melhorarem o padrão de vida’, de ‘serem algo na vida’, e o compromisso com a família, que se confunde também com o sentimento de pertencimento à localidade de origem” (p.3). Esse compromisso perante a família se expressa no fato da sucessão da terra, muitos chegam a abrir mão dos seus projetos individuais em prol da manutenção familiar diante a propriedade, isso em caso de morte do pai, ou do filho sucessor. Temos assim “Os projetos individuais encontram-se, portanto, subordinados à dinâmica do campo de possibilidades, sempre delimitado por premissas e paradigmas culturais específicos e competitivos.” (p.16). É no meio dessa ambiguidade que floresce a construção da nova identidade. “Na formulação dos projetos individuais expressa-se a ambiguidade característica da situação de convivência com dois universos.” (p.8). Isso se explica justamente pela antiga exaltação da coletividade no meio rural, que vem sendo colocada em prova pelo pensamento urbano capitalista. Aqui o turismo estabelece uma ponte de ligação entre os jovens com valores urbanos e os jovens das localidades rurais. Uma semelhança com a pequena aldeia francesa Theys, que também possui o turismo como a maior fonte de ligação cultural

desses dois mundos. A ascensão do turismo em São Pedro da Serra possibilitou o crescimento das ofertas de empregos fora da agricultura, em atividades principalmente ligadas ao comercio e à construção. Isso aumentou o leque de sociabilidade dos jovens, elevando o seu meio social para fora do ciclo familiar e pôde integra-lo no mercado de trabalho. A agricultura passa, então, a ocupar um papel secundário, como produtora de renda complementar. É semelhante o papel que o trabalho turístico na plataforma de esqui ocupa na vida dos jovens franceses. O avanço tecnológico permite que esses jovens possam permanecer morando na casa dos pais, que fica no campo, e ao mesmo tempo exercerem atividades nas cidades. Isso propicia o caráter pluriatiavo dessa camada social. Carneiro observou também a mudança no padrão de escolaridade da juventude rural. Essa nova geração já possui um nível de escolaridade maior que o da geração antiga, ou seja, os filhos de agricultores já apresentam maior grau de escolaridade em relação aos seus pais. Isso revela a valorização da educação como forma de obter uma “vida melhor”, que são ideias inatas a sociedade urbana. Ressaltando o valor que a família possui na vida desses jovens, muitos chegam a abrir mãos dos seus projetos individuais em prol da manutenção familiar diante a propriedade, isso em caso de morte do pai, ou do filho sucessor. Temos assim “Os projetos individuais encontram-se, portanto, subordinados à dinâmica do campo de possibilidades, sempre delimitado por premissas e paradigmas culturais específicos e competitivos.” (p.16) É nesse contexto que Carneiro delimita o ideal rurbarno da juventude, que faz uma junção de valores distintos (urbano e rural) e cria uma categoria social singular dentro do meio rural. Sempre ressaltando o caráter de heterogeneidade dessa nova categoria.

Juventude e novas mentalidades no cenário rural Artigo integrado ao livro “Juventude rural em perspectiva” o qual Carneiro é organizadora, publicado em 2007, começa com várias indagações da autora a cerca da ruralidade. O artigo inicia com a seguinte colocação “Proponho para reflexão o tema pensar a juventude rural no contexto das novas mentalidades presentes no cenário rural

em decorrência da crescente mobilidade dos indivíduos, sobretudo dos jovens entre o campo e a cidade” (p.53). A problemática abordada é praticamente a mesma do artigo anterior, isso nos remete a importância que ela possui, que perdura até oito anos depois da publicação do primeiro. Carneiro argumenta que para entender essa “nova mentalidade no cenário rural” vivida pelos jovens, é preciso primeiro fazer uma revisão de conceitos que são muito utilizados acerca da ruralidade, como o que se entende por “cenário rural”. Esse conceito faz a amplitude de atores que são presentes no meio rural, isso inclui tanto os nativos desta sociedade, como os indivíduos de origem urbana que juntos fazem e modificam esse meio. E nos indaga “Será que nesse contexto de mudanças recentes a noção de rural associada ao agrícola e a esse conjunto de ideias que o opõem ao urbano, à modernidade, à ideia de dinâmica, de mudança, de ‘novo’ estaria dando conta da realidade rural? Caberia então falarmos de um ‘novo rural’ ou de uma ‘nova ruralidade’?” (p.54)

O rural não pode mais ser compreendido sem levar em consideração essas ações externas, a situação que envolve esse meio está intimamente ligada com as ações transmitidas por indivíduos urbanos. Então ela começa descrever o jovem em suas relações nessas novas dinâmicas sociais. As mudanças ocorrem, sobretudo, no que diz respeito ao trabalho. Trabalho que nem sempre está ligado ao setor produtivo, mais uma vez ressaltando o trabalho com o turismo dos jovens. E descontrói a ideia de que o jovem que volta a morar no meio rural é visto como fracassado nas suas atividades individuais, às vezes alguns voltam apenas pelo conforto que encontram perto da família, o conforto de lar que a localidade de origem o remete. É interessante ressaltar como essa realidade afeta diferentemente homes e mulheres. Observa-se que as mulheres migram em proporções maiores que os homens, isso ocorre devido a falta de perspectiva de trabalho para mulheres no campo, a única coisa que lhes resta é permanecer na casa exercendo atividades domesticas, por isso são estimuladas a buscar outros meios de sobrevivência fora do campo. Já os jovens não sucessores tendem a migrar para as cidades como fuga ao celibato, isso “sempre que as condições sociais e materiais das famílias permitem.” (p.61). São por essas razões que Carneiro identifica um novo fenômeno na ruralidade brasileira que é o da “masculinização e envelhecimento da população” (p.60). Carneiro, concordando com Eduardo Rosas (2006), mostra a saída do campo dos jovens como uma forma de permanecer nele “Combinando mobilidade e invisibilidade,

esses jovens do campo não se desvinculam de suas referencias originárias, ao contrário, a saída para a cidade é a condição para ficarem no campo.” (p.62). A cidade não é mais tomada como objeto de admiração dos jovens rurais. Houve a percepção que eles podem usufruir de objetos e tecnologias, que antes só se encontravam nas cidades, dentro do meio rural. Houve a revalorização do seu meio social de origem, é lá que eles querem morar, é lá que permanece o seu legitimo circulo social. A cidade perde, então, o seu valor perante essa categoria. Isso não significa que eles não absorvem alguns valores urbanos, essa absorção ainda existe, porem existe devido a uma outra lógica. Assim sendo Carneiro diz: A cidade não é mais o único caminho para se ter acesso a esses bens, o que, a meu ver, constitui uma das mudanças mais relevantes que identificamos no mundo rural. A cidade não exerce mais o mesmo fascínio sobre os jovens rurais de algum tempo atrás. Os motivos para isso são vários e complexos. (p.63)

Essa valorização está ocorrendo, segundo Carneiro, principalmente, pelo aumento da violência que toma conta dos meios ditos urbanos, pela concorrência a vagas de trabalhos e pela dificuldade desses jovens se estabelecerem nas cidades, longe da família e dos amigos. Uma colocação que Carneiro identifica no final do artigo é a diferença entre jovens dentro de um mesmo meio rural, então essa realidade nem sempre é a vivida por todos eles. Alguns não possuem outra opção se não sair do seu lugar de origem, são os filhos da categoria chamada “sem-terra”. Essas disparidades ocorrem, alguns possuem a liberdade de escolha entre continuar no campo ou ir para as cidades, outros são predestinados a ficar ou sair do campo devido a sua realidade social. No final do artigo, Carneiro nos fala: “É importante reconhecer que os jovens são atores dessa reconstrução cultural demandando espaços de representação de lazer, de trabalho para poderem exercer sua cidadania sem serem expropriados de seus valores, de seus bens, de suas redes de sociabilidade. É a partir de uma releitura dos valores urbanos trazidos pelos ‘de fora’ ou obtidos ‘fora’, mas realizados na localidade, que novos papeis sociais, novas identidades e novos projetos são definidos.” (p.64).

Conclusão Ressalto inicialmente as semelhanças que se podem constatar dentre essas obras. Primeiro, o turismo como fonte de trabalho para os jovens rurais, tanto na aldeia de Theys como nas duas regiões estudadas no segundo artigo, e como esta atividade resulta na via de ligação entre essa juventude rural com a urbana, facilitando o contado entre eles. O segundo é a família que não perde seu valor em relação às novas mentalidades

elaboradas no meio rural. Ela ainda exerce um papel de destaque na vida dos jovens rurais, possibilitando ou não a saída e permanência deles no meio rural. Ressalto também o caráter não homogêneo que o meio rural e a juventude rural apresentam. O avanço moderno transformou o campo em um meio muito difuso e diverso, ele se modifica rapidamente perante as situações adversas, consequentemente, todas as categorias sociais que habitam nele também se modificam. Dentro deste quadro categorias sociais são criadas e recriadas. Por isso, Carneiro fala em “Juventudes rurais” e “ruralidades”, pois a forma como cada meio é atingido pela a ação modernizadora e como ele reage é extremamente diferente, mudando de acordo com a realidade econômica, climática, social entre outros que possui. Mas, é possível perceber algumas situações semelhantes, como as que foram expostas no inicio do tópico. Sobre a evolução teórica sobre o tema discutido (juventude rural), que no primeiro livro recebeu alguns direcionamentos, mas não foi tratado em sua profundidade, no segundo artigo, publicado no mesmo ano, Carneiro discute amplamente a categoria, aumentando o leque de discussões sobre ela, que, no Brasil, ainda era muito insipiente. E no último artigo discutido ela mostra uma juventude diferente da de 1998, uma juventude ainda muito heterogênea, mas que já está mais decidida sobre o que deseja. Por fim, conclui-se que Maria José Carneiro contribuiu amplamente para a questão juventude e ruralidade no Brasil, ressaltando a sua importância para o campo da sociologia rural da atualidade. Seus artigos nos mostram com clareza as mudanças que estão acontecendo na vida desses jovens e como eles estão reagindo em relação às mesmas, mostrando-nos a criação de um novo rural formado tanto pelos agentes de “fora”, como os de “dentro”, que só se faz possível graças a interação crescente desses dois polos que são vistos como eixos antagônicos.

Bibliografia CARNEIRO, M. J. . Camponeses, Agricultores e Pluriatividade. Rio de Janeiro: Contra Capa, 1998. v. 1. 228p . CARNEIRO, M. J. Juventude e novas mentalidades no cenário rural. In: Carneiro, Maria José; Castro, Elisa G.. (Org.). Juventude Rural em Perspectiva. Rio de Janeiro: Mauad X, 2007, v. 1, p. 53-66. CARNEIRO, M. J. O ideal rurbano: campo e cidade no imaginário de jovens rurais. In: Francisco Carlos Teixeira da Silva; Raimundo Santos; Luiz Flávio de Carvalho Costa. (Org.). Mundo Rural e Política. Rio de Janeiro: Campus, 1998, v., p. 95-118

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