Contributo para o conhecimento das ocupações Tardo Antiga e Alto-Medieval do vale do Sabor. O caso de Cilhades (Felgar, Torre de Moncorvo), à luz do estudo da sua componente cerâmica

CONTRIBUTO PARA O CONHECIMENTO DAS OCUPAÇÕES TARDO-ANTIGA E ALTO-MEDIEVAL DO VALE DO SABOR. O CASO DE CILHADES (FELGAR, TORRE DE MONCORVO), A LUZ DO ESTUDO DA SUA COMPONENTE CERÂMICA MIQUEL ROSSELLO*

CONSTANCA SANTOS*

LILIANA CARVALHO*

FILIPE SANTOS*

1. INTRODUÇÃO

2. ENQUADRAMENTO ARQUEOLÓGICO 35

O lugar de Cilhades localiza-se na margem direita do Rio Sabor, em pleno vale. Em termos administrativos pertence à freguesia de Felgar, concelho de Torre de Moncorvo, e distrito de Bragança, na região portuguesa de Trás-os-Montes. Com este trabalho, divulga-se o estudo levado a cabo sobre o conjunto de materiais cerâmicos que testemunham a continuidade da ocupação deste lugar na Tardo Antiguidade e na Alta Idade Média, destacando-se deste acervo um conjunto assinalável de cerâmicas de feição islâmica. Enquadrado no Estudo Etno-Arqueológico de Cilhades, este trabalho assume-se, e assim deve ser entendido, como uma consequência direta das medidas de minimização sobre elementos patrimoniais na órbita de afetação do Aproveitamento Hidroeléctrico do Baixo Sabor1, medidas essas consignadas em documento próprio elaborado para o efeito e designado por Plano de Salvaguarda do Património2. A par de outros estudos contemplados, que atendem sobretudo a períodos cronológicos precisos e a distintas categorias patrimoniais, da Pré-história à contemporaneidade, o grande objectivo desta análise particular, de âmbito geográfico, seria o de dar conta da dilatada ocupação humana, nalguns casos apenas inferida, de uma área geográfica muito circunscrita da margem direita do Rio Sabor, correspondendo esta, grosso modo, à quase totalidade3 do lugar de Cilhades. É um apontamento muito particular dessa longa diacronia que aqui se apresenta. * Arqueólogos (AHBS-Baixo Sabor).

Com o desenvolvimento de um plano de escavações alargadas, que incidiram sobre o espaço previamente prospectado e posteriormente sondado dentro do lugar em apreço – que deve ser visto como uma vasta e única área arqueológica –, foram aqui intervencionados três pontos distintos, conhecidos na microtoponímia local como Castelinho, Cemitério dos Mouros e Laranjal. Para o primeiro, a intervenção arqueológica em área que ali se desenvolveu, acabou por dar conta de um excepcional sítio fortificado da II Idade do ferro, atestando-se nas que foram levadas a cabo fora do esporão onde este se estabeleceu, por áreas de menor expressão topográfica e de maior proximidade ao rio, na parte central do lugar de Cilhades, evidências mais dilatadas da longa diacronia4 deste lugar. Acresce referir ainda que, muito embora os vestígios arqueológicos desse tempo longo se possam inclusivamente recuar e fazer enquadrar na Pré-his-