Controle de qualidade da água de redes de distribuição: necessidade de mudança do procedimento de coleta de amostras

June 19, 2017 | Autor: L. Moraes | Categoria: Water, Water quality, Water Supply
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18o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

Controle de qualidade da água de redes de distribuição: necessidade de mudança do procedimento de coleta de amostras

Luiz Roberto Santos Moraes

Salvador, 17 a 21 de setembro de 1995

Controle de qualidade da água de redes de distribuição: necessidade de mudança do procedimento de coleta de amostras

Luiz Roberto Santos Moraes (*)

CURRÍCULO (*) Engenheiro Civil (Escola Politécnica da UFBA, 1970/1973), Engenheiro Sanitarista (Faculdade de Saúde Pública da USP, 1974), Mestre em Engenharia Sanitária (IHE/Delft University of Technology, Delft-Holanda, 1976/1977) e Doutorando em Saúde Ambiental (LSHTM/ University of London, Grã-Bretanha). Engenheiro e Superintendente de Operações da Região Metropolitana de Salvador (EMBASA, 1975/1980). Professor e Pesquisador do Departamento de Hidráulica e Saneamento da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (1979 até o presente). Endereço: DHS/UFBA Rua Aristides Novis, 2 - Federação CEP 40210-630 - Salvador - Bahia; Fax: (071) 247-3410

"Resumo" O trabalho tem como objetivo alertar os técnicos da área, autoridades e órgãos competentes para a necessidade de mudança análises

do

procedimento

de

bacteriológicas

coleta

de

água

de

amostras

enquanto

para houver

intermitência no abastecimento. Amostras de água da rede pública de distribuição e da água dos

recipientes

armazenadores

usada

para

beber

foram

coletadas mensalmente, durante 12 meses, em 54 residências de nove comunidades da periferia da cidade de Salvador. Dois procedimentos para a coleta de amostras de água da rede foram utilizados: um em que a coleta foi realizada após 3 minutos de escoamento da água pela torneira, e o outro, em que a amostra coletada foi a contribuição direta da água existente na tubulação sem nenhum descarte de água escoada. Os resultados mostraram que o procedimento de coleta de amostras

usualmente

adotado

pelas

empresas

e

órgãos

responsáveis pela operação dos sistemas de abastecimento de água, protegem mais o produtor e distribuidor da água que a população usuária, necessitando este procedimento de mudança urgente visando dar prioridade ao consumidor, bem como atender ao estabelecido na Lei n o 8078/90 (Código de Defesa do Consumidor).

"Palavras-chave":

qualidade

da

água,

procedimentos de coleta, defesa do consumidor

potabilidade,

1. Introdução

A maior parte dos órgãos e empresas responsáveis pelos serviços

de

abastecimento

de

água,

no

que

diz

respeito

ao

controle de qualidade da água distribuída, dispõe de normas e regulamentos próprios sobre o procedimento de coleta e análises de águas ou seguem aqueles já consagrados. Em relação à técnica de coleta de amostras de água da rede de

distribuição

bacteriológicas

é

visando

o

praxe

o

processamento obedecimento

de dos

análises seguintes

procedimentos: a coleta da amostra para exame bacteriológico deve ser sempre realizada em primeiro lugar, antes de qualquer outra

coleta;

diretamente, escoar

a

e

linha

verificar não de

em 3

se

o

caixas a

5

ponto

de

d'águas

minutos,

coleta

ou

recebe

cisternas;

abrindo

água

deixar

completamente

a

torneira; fechá-la e flambá-la; continuar a flambá-la, e abrila a meia seção, deixando a água escoar por mais 30 segundos; abrir rapidamente o frasco e enchê-lo com amostra até 4/5 do seu volume, sem lavá-lo com a própria amostra, tendo cuidados de remover a tampa e a cobertura conjuntamente, de não deixar que a tampa toque em qualquer superfície, e de não tocar no bocal do frasco; e fechar o frasco imediatamente após a coleta, fixando bem o material protetor ao redor do gargalo do frasco (SOUZA & DERISIO, 1977). Alguns destes procedimentos ficam prejudicados quando o abastecimento de água se dá de maneira intermitente e outras condições

como

a

falta

de

manutenção

na

rede,

com

trechos

obsoletos

necessitando

correção

de

de

vazamentos

substituição, e

esgotos

falta

escoando

de a

demora céu

na

aberto

comumente acontecem, pois devido à sub pressão na rede, poderá a mesma receber impurezas e vir a contaminar a água, que caso seja escoada de 3 a 5 minutos no momento da coleta, não estará considerando a carga de impurezas transportada pela mesma e que certamente

contribuirá

para

a

contaminação

do

reservatório

domiciliar ou qualquer outro recipiente armazenador de água no domicílio.

2. Objetivo

O presente trabalho tem como objetivo principal alertar os técnicos

da

área,

autoridades

e

órgãos

competentes

para

a

necessidade de mudança do procedimento de coleta de amostras para análises bacteriológicas visando controlar a qualidade da água da rede de distribuição e assegurar o direito do usuário consumidor,

principalmente

enquanto

houver

intermitência

no

abastecimento.

3. Metodologia

Estudo da qualidade bacteriológica da água da rede pública de distribuição e da água dos recipientes armazenadores usada para beber foi realizada durante 12 meses em nove comunidades da

periferia

verificar

a

da

cidade

qualidade

da

de

Salvador

água

da

(MORAES,

rede

quando

1991)

visando

coletada

por

diferentes

procedimentos,

bem

como

o

quanto

a

manipulação

doméstica da água contribui para sua contaminação. Amostras residências

de

de

água

cada

foram

coletadas

comunidade,

mensalmente

selecionadas

em

seis

aleatoriamente,

sendo tomadas em cada uma das casa, uma amostra da torneira da entrada, que escoa água diretamente da rede de distribuição, e uma amostra do recipiente utilizado na casa para armazenar a água usada para beber. Dois procedimentos para a coleta de amostras de água da rede foram utilizados: um em que a coleta foi realizada após 3 minutos de escoamento da água pela torneira, e o outro, em que a amostra coletada foi a contribuição direta da água existente na tubulação sem nenhum descarte de água escoada. No segundo procedimento,

o

morador

que

acordava

primeiro

em

casa,

identificado e devidamente instruído, realizava a coleta das amostra,

visando

obter

na

mesma

a

possível

contribuição

de

impurezas devido ao período de intermitência no abastecimento. As amostras foram acondicionadas em isopor com gelo e imediatamente

transportadas

para

o

Laboratório

de

Físico-

Química e Bacteriologia da Água do Departamento de Hidráulica e Saneamento

da

Universidade

Federal

da

Bahia

para

que

as

análises fossem processadas. O percurso entre as comunidades e o laboratório tem duração de 20 minutos. A

técnica

de

exame

bacteriológico

utilizada

foi

a

do

processo dos tubos múltiplos e os resultados expressos em NMP de coliformes/100 ml (APHA et al., 1985).

4. Resultados e discussão

Foram coletadas 630 amostras de água, sendo 239 através do primeiro procedimento, 289 através do segundo e 102 de água da rede armazenada nos "reservatórios" das casas (tanques, tóneis etc.) que nos dias das coletas não receberam água na rede. Os resultados obtidos das análises bacteriológicas mostraram que 37,2% e 22,6% das amostras com água da rede coletadas após escoamento de 3 minutos continham coliformes totais e fecais, respectivamente. Estes valores atingiram 57,4% e 35,6% quando as amostras foram coletadas considerando o primeiro jato de água

após

a

intermitência

do

abastecimento.

Em

relação

as

amostras coletadas dos "reservatórios" domiciliares, os valores encontrados de 66,7% e 43,1%, foram os mais elevados como era de se esperar. Os valores obtidos para as amostras coletadas do recipiente acondicionador da água usada para beber, foram ainda mais

elevados,

chegando

a

75,5%

das

amostras

contendo

coliformes totais e 52,4% contendo coliformes fecais. Os resultados apresentam, elevado número de amostras da água da rede de distribuição contendo coliformes totais e fecais, independentemente

do

procedimento

de

coleta

adotado,

não

atendendo ao disposto na Portaria no 36 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1990) que estabelece as normas e o padrão de potabilidade da água

destinada

ao

consumo

humano,

o

qual

determina

que

em

nenhuma amostra de água potável deve conter coliformes fecais em

100

ml

e

que

95%

das

amostras

procedentes

da

rede

de

distribuição deverão apresentar ausência de coliformes totais

em

100

ml.

Porém,

quando

comparados

os

resultados

obtidos

levando-se em consideração cada procedimento de coleta, nota-se que o número de amostras de água contaminada da rede quando o procedimento

considerou

a

primeira

água

escoada

(após

intermitência no abastecimento) é muito maior que aquele de amostras

coletadas

(escoando

a

água

estatisticamente

de

acordo

por

3

com

os

minutos),

significante,

tanto

procedimentos

apresentando para

usuais

diferença

coliformes

fecais

(p
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