Convento de São Bento de Cástris, Évora. O claustro: um espaço exterior interiorizado

May 30, 2017 | Autor: Inês Reis | Categoria: Arquitectura, História da Arquitectura, Évora, Convento de São Bento de Cástris
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CONVENTO DE SÃO BENTO DE CÁSTRIS

O CLAUSTRO: UM ESPAÇO EXTERIOR INTERIORIZADO Ana Rita Moreira | Bárbara Oliveira | Beatriz Teixeira | Inês Reis | Isabel Carneiro | Mª Inês Pinheiro Torres

CONVENTO DE SÃO BENTO DE CÁSTRIS

O CLAUSTRO: UM ESPAÇO EXTERIOR INTERIORIZADO

História da Arquitetura Portuguesa Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto Ano Letivo 2013-2014 Professora Doutora Marta Oliveira Arquiteta Maria Sofia Santos

Grupo MSS.03 24 de Março de 2014 Este trabalho encontra-se escrito segundo os termos do Acordo Ortográfico de 2011.

Ana Rita Moreira | Bárbara Oliveira | Beatriz Teixeira | Inês Reis | Isabel Carneiro | Mª Inês Pinheiro Torres

Convento de São Bento de Cástris





O Claustro: Um Espaço Exterior Interiorizado

Índice

Ana Rita Moreira | Bárbara Oliveira | Beatriz Teixeira | Inês Reis | Isabel Carneiro | Mª Inês Pinheiro Torres





INTRODUÇÃO Levantantamento Técnico Cronologia

03 05 09

CONTEXTUALIZAÇÃO Localização e Análise do Terreno Relação com o Aqueduto Relação com Outros Conventos

11 12 13 14

DISTRIBUIÇÃO GERAL DO CONVENTO Relação Anatómica

15 21

PROCURA DE UMA NARRATIVA NA RELAÇÃO DOS ESPAÇOS Percursos Elementos de Aparato “Labirinto Vertical” - Cantos A Fonte Central Análise dos Capitéis A Luz

22 26 27 28 30 34

SISTEMAS CONSTRUTIVOS

41

CONCLUSÃO

44

REFERÊNCIAS

45

ANEXOS

46



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Convento de São Bento de Cástris





O Claustro: Um Espaço Exterior Interiorizado

Introdução Na disciplina de História da Arquitectura Portuguesa foi proposta a realização de um trabalho de grupo sobre uma obra ou uma cidade portuguesa. Entre as hipóteses fornecidas, pensámos que seria interessante abordar o claustro do Convento de São Bento de Cástris, em Évora, pela sua misteriosa descrição de “labirinto vertical”. Depois de um cuidado estudo e da visita ao edifício, pudemos perceber a presença de diferentes períodos históricos, bem como a importância do claustro para a organização espacial do conjunto. Por esse motivo, pareceu-nos que o tema mais pertinente seria o tratamento do claustro como elemento central que, apesar de ser assumidamente um espaço exterior, pode ser lido como pertencente ao interior. Surge assim o título “Convento de São Bento de Cástris: o claustro, um espaço exterior interio­ rizado” O nosso objectivo é, então, a análise do claustro do Convento tendo sempre por base a sua relação com o restante edifício, uma vez que este é, naturalmente, muito importante para compreender e justificar todos os acontecimentos. Estruturámos este trabalho desde uma análise à escala urbana até uma análise mais profunda, ao nível do convento e do claustro, a partir dos quais desenvolvemos o estudo. Pensámos que seria a melhor opção, uma vez que considerámos essencial um conhecimento mais abrangente, para melhor compreensão do particular. Assim, o trabalho divide-se em dois pontos: o convento na sua relação com a envolvente, no qual descodificamos todas as ligações às infra-estruturas mais próximas e à cidade de Évora; o convento e a sua relação com o claustro, onde exploramos toda a cadeia de relações entre os diversos elementos. Tivemos sempre em consideração, além disso, as relações do convento e claustro à Ordem de Cister, que se mostrou estruturante de toda a composição. Uma vez que começámos este trabalho sem qualquer base de conhecimento do edifício, tivemos de proceder faseadamente. Num primeiro momento, procurámos conhecer um pouco da história do Convento, inclusivamente no que respeita a factos artísticos. Depois visitámos o local, com algumas idei­as do que iríamos encontrar, mas sem certezas, o que levou a uma certa surpresa na primeira

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Imagens 1 e 2 - Desenhos de levantamento impressivo.







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impressão, enfatizada ainda pelo confronto com o estado de conservação do edifício. Neste sentido, foram os levantamentos desenhado e fotográfico que nos permitiram descobrir, espontânea e livremente, os recantos do Convento. Iniciámos, depois, o levantamento técnico, a partir do seguinte método: todas as dimensões eram medidas de dentro para fora, ou seja, desde o interior do claustro para as alas e alçados interiores. As primeiras medidas levantadas foram as triangulações dos “limites” do claustro, obtidas a partir da medição da distância de um pilar de um dos lados até a todos os pilares da ala oposta, método repetido para os quatro lados. Note-se que em todos os casos a fita métrica foi colocada no encontro do fuste com a base do pilar, procurando garantir o maior rigor possível, com os instrumentos que tínhamos ao nosso alcance. Posteriormente, medimos tudo o que era referente às alas do claustro: a distância de cada pilar às paredes, que ajudava a definir as paredes exteriores do claustro; as medidas de todos os elementos que compunham os quatro alçados interiores; as medidas altimétricas, desde o chão até ao fecho dos arcos da cobertura; e, finalmente, todos os pormenores das colunas, pilares, portais e aberturas, que complementariam as dimensões gerais anteriormente tiradas. Foram tarefas árduas e muito demoradas, uma vez que os meios de que dispúnhamos para fazer este tipo de levantamento eram muito condicionados. Ainda assim, primámos por ser o mais rigorosas possível, admitindo, ainda assim, a existência de erros e dúvidas, problemas que tentámos colmatar na segunda ida ao terreno. Essa baseou-se, então, na confirmação e ajuste de algumas medidas, bem como na procura de novas relações entre os dife­ rentes elementos. Centrando agora o estudo nas alas sudeste e noroeste, tentámos aprofundar os dese­nhos anteriormente elaborados, recorrendo a novas medições: fixámos os di­ferentes elementos dos alçados interiores a partir de novas diagonais, bem como as cotas do pavimento interior das alas, que obtivemos a partir da definição de uma linha de nível, considerando-a como a cota zero (medindo depois dessa linha até ao chão, o que veio confirmar e definir a sua pendende); o desenho dos pilares e arcos das duas alas foi também refeito e complementado ainda com um estudo mais aprofundado dos capitéis da ala sudeste; finalmente, medimos as abóbadas das duas alas: no caso do lado sudeste, medimos a altura a que as nervuras encontram as paredes e a altura no centro, ponto obtido através da pla­ nificação do desenho da abóbada no chão. Depois, para determinar e desenhar o ângulo das nervuras, encontrámos pontos intermédios, a uma distânica constante a partir do centro; na ala noroeste, usámos os mesmos princípios de planificação e medição de alturas, complementados pelos arcos nos alçados interior e exterior, que já tínhamos medido. Por outro lado, procurámos uma narrativa lógica na relação dos diferentes ele­mentos: claustro, galerias, luz, fonte e pontos de água, acessos, colunas e capitéis. Para tal baseámo-nos no estudo dos capitéis acima descrito, que deu aso a diferentes especulações relativas aos seus motivos distintos e respetivas posições. Ao mesmo tempo, tentámos compreender o comportamento da luz no espaço do claustro e de algumas áreas adjacentes, uma vez que essa representa um elemento fundamental dos mosteiros cistercienses. Partimos da perceção do movimento do sol face ao claustro, identificando as diferentes zonas de luz e sombra, aprofundando depois, através de plantas com a marcação de sombras em diversas horas, bem como com fotografias em dois momentos do dia. Houve ainda a tentativa de compreender os percursos, através de um filme fotográfico que os mostra, desde a aproximação ao convento, até àqueles dentro do mesmo e no claustro. Esse estudo permitiu ainda a distinção entre espaços de circulação e de estagnação, ou híbridos. Finalmente, procurámos perceber a posição da fonte central do claustro, na sua relação com outros pontos de água, com as alas e os espaços do convento. Nesta última fase, com o intuito de evidenciar a poética do espaço, complementámos o estudo com uma comparação da estrutura arquitetónica à figura humana, bem como com o desenho dos cantos do convento, já que foram esses os primeiros impulsionadores da opção por São Bento de Cástris. Tivémos ainda oportunidade de fazer uns últimos ajustes a todos os elementos e estrutura geral do trabalho. Em conclusão, centrámo-nos essencialmente nos levantamentos efectuados no local, mantendo sempre o apoio de uma parte teórica, a partir dos quais procurámos perceber as relações entre os diversos elementos e as hipóteses de vivência no claustro.

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Levantamento Técnico

Imagens 9 a 12 - Desenhos de levantamento.

Imagens 3 a 8 - Desenhos de levantamento.

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Imagem 13 - Mapa de tetos. Desenho à escala 1/500.







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Imagem 14 - Triangulações e diagonais. Planta de processo à escala 1/200.

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Imagem 15 - Perimetrais e alinhamentos da fonte central. Planta de processo à escala 1/200.







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Imagem 16 - Levantamento de um dos arcos da ala sudeste. Desenho de processo à escala 1/200.





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Imagens 17 a 19 - Ala sudeste, alçado exterior e alçados interiores. Desenhos de processo à escala 1/200.

Imagens 20 a 43 - Desenhos de levantamento dos capiteis da ala sudeste.

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Imagens 44 a 46 - Ala nordeste, alçado exterior e alçados interiores. Desenhos de processo à escala 1/200.





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Imagem 47 - Levantamento de um dos arcos da ala nordeste. Desenho de processo à escala 1/200.

Imagens 48 a 60 - Desenhos de levantamento.

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Cronologia

1401-1450 construção do claustro: alas norte e este

1520-1521 construção do claustro: alas sul e oeste Estevão Lourenço 1501-1550 construção do corpo da enfermaria 1587 ampliação da sala das colunas 1589 construção da primitiva sala do capítulo

GÓTICO

TARDO-GÓTICO

1274 conversão de ­S.Bento­à Ordem de Císter

MANUELINO

BARROCO

1328 consagração da Igreja

1300

séc.XIV

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1400

1500

séc.XV



séc.XVI





1600

séc.XVII

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1726-1729 obras nos telhados do ­dormitório; conserto dos muros da cerca



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1937 obras de consolidação e restauro; demolição e construção das abóbadas do claustro e coberturas

1778 conserto da fonte do claustro e da caixa de água que ligava ao aqueduto

1950-1956 obras de reparação e conservação da igreja 1957 arranjo no claustro; acabamentos na igreja 1958 inauguração da capela do convento; restauros na torre e na igreja

1644 erigido o coro baixo

1980 reconstrução de telhados, rebocos, portas e caixilhos

1601-1650 construção dos dormitórios no segundo piso; intervenções ao nível da decoração, no refeitório

2000 reparação de tetos e coberturas na zona do claustro

MODERNO

PÓS-MODERNO

1890 extinção da mansão cistercience

2005 saída da Casa Pia, ficando o edifício devoluto

1957 instalação da Casa Pia 1941 o edifício passa a pertencer à Direção Geral de Edifícios e Monumentos 1940 instalação do Asilo Agrícola Distrital

1700

séc.XVIII

1800

1900

séc.XIX

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séc.XX







2000

séc.XXI

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Contextualização Segundo Ana Maria Tavares Ferreira Martins, “A cidade é possuidora de uma estrita relação com a sociedade que a habita, seja ela uma cidade no verdadeiro sentido do termo ou uma micro-cidade, como é o caso do mosteiro”1. O mosteiro procura “uma união do espírito com Deus”2, o que pressupõe uma fuga e uma necessidade de contemplação interior, apesar da vivência em comunidade. No caso dos cistercienses, esta procura da união com Deus era feita “através da ascese e do despojamento total, sem qualquer tipo de solicitações externas à alma (...). Fraternidade, pobreza, simplicidade, silêncio são as palavras-chave da espritualidade cisterciense”3, o que justifica o afastamento do Convento de São Bento de Cástris ao centro da cidade de Évora. Esta renúncia a tudo o que vinha do exterior manifestava-se não só no seu isolamento à sociedade como também aos prórpios bens materiais; nada possuíam e nada construíam fora dos muros do mosteiro: “O sustento dos monges da nossa Ordem deve provir do trabalho das suas mãos, do cultivo das terras, da criação de animais”4. O Convento de São Bento de Cástris “é uma das mais antigas fundações freiráticas no sul do país.”5. A sua origem remonta a uma pequena ermida de devoção a S.Bento, mandada erigir por D.Soeiro, primeiro bispo da diocese, que ali avistou e associou uma “luz de fluo­rescência sobrenatural”6 a algo divino. Isto aconteceu no dia 31 de Março de 1169, data de São Bento7. Em 1180, uma “nobre dama cristã”8, de nome Urraca Ximenes, obteve licença para construir um cenóbio, ou seja, uma habitação religiosa, onde se isolou com as suas irmãs. A elas se juntaram, posteriormente, outras “damas honestas”9 que renunciavam à vida terrena. Funcionava, assim, como uma ermida de cariz mais familiar. Mais tarde, D. Martinho, o abade de Alcobaça, achou conveniente orientar a fé das devotas e não as deixar ao abandono, colocando a hipótese de as integrar na Ordem de Cister “e alterar o estatuto da comunidade de simples recolhimento para mosteiro”10. Contudo, só no ano de 1274 é que o mosteiro passa a ser considerado cisterciense: segundo Frei António Brandão, as recolhidas “terão sido persuadidas por D.Soeiro e pelo próprio D.Martinho, de Alcobaça, a seguir as regras de Cister e a fazer uma vida comum, de comunidade religiosa, que assim o terão feito durante noventa e quatro anos [desde 1180] mas sem voto de clausura nem os votos essenciais da religião”11. Aqui terão sido jurados os votos de Pobreza, Castidade, Obediência e Clausura, bem como a própria profissão religiosa. A primeira igreja conventual foi consagrada em 1328, que foi totalmente transformada no reinado de D.Manuel. Ao longo dos séculos XV e XVI, o edifício passou por diversas intervenções e acrescentos: não foi “apenas a reforma espiritual como também a material do edifício”12. Com o Consílio de Trento, em 1564, foram feitas inúmeras alterações que tinham como objetivo “fortalecer a virgindade”13, controlando os acessos e reforçando a separação entre os visitantes e as freiras. Esta metáfora da clausura pode ser materializada, por exemplo, em portas e no próprio claustro, “evocando um espaço defendido, encerrado e selado”14. Esta mansão cisterciense extinguiu-se a 18 de Abril de 189015, com a morte da última freira. Depois disto, foi instalada na propriedade uma Estação Química Agrícola e, em 1940, o Estado entregou a construção ao Governo Civil para que nela se instalasse um Asilo Agrícola Distrital. E assim se deu o restauro do imóvel da Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, em 1942, com o objetivo de reconstruir o edifício e adaptá-lo à instalação da Casa Pia masculina. Esta mudou-se definitivamente para lá em 1957: “Um edifício de estrutura muito hierarquizada com uma comunidade fechada de monjas, conversas e noviças, passou a acolher uma comunidade fechada de meninos órfãos.”16. O facto de a Casa Pia ter deixado o edifício devoluto desde 2005 fez com que fosse alvo de vandalizações e pequenos assaltos: “em Março de 2011, foi alvo da pilhagem de um dos sinos, que ao ser apeado destruiu uma parte do te­lhado.”17. (1) MARTINS, Ana Maria Tavares Ferreira - Espaço monástico: da cidade de Deus à cidade do Homem, http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/4408.pdf. Consultado pela última vez em 05-11-2013 às 12h15. Página 86 (2) Idem. Página 86 (3) Idem. Página 87 (4) Idem. Página 87 (5) ACADEMIA NACIONAL DE BELAS ARTES - Inventário Artístico de Portugal: concelho de Évora (1º volume). Lisboa: 1966. Página 287 (6) Idem. Página 287 (7) São Bento era um “frade italiano nascido em 480 e fundador da ordem Beneditina”, tal como é descrito no blogue Sopas de Pedra, http://sopasdepedra.blogspot.pt/2013/03/segunda-feira-de-festa. html. Consultado pela última vez em 10-11-2013 às 15h42 (8) ACADEMIA NACIONAL DE BELAS ARTES. Op.Cit. Página 287 (9) Idem. Página 287 (10) CONDE, Maria Antónia Marques Fialho Costa - A afirmação do Mosteiro de São Bento de Cástris no contexto local e nacional. Instituto Português do Património Arquitectónico. Alcobaça: junho de 1998. Página 3 (11) Idem. Página 4 (12) Idem. Página 7 (13) URBANO, Luís - A arquitectura dos conventos femininos. Notas de um início de investigação. Provas de Aptidão Pedagógica e Capacidade Científica. Coimbra: setembro 2005. Página 41 (14) Idem. Página 41 (15) CONDE, Maria Antónia Marques Fialho Costa. Op.Cit. Página 4 (16) TERERO, Maria do Céu Simões; PEREIRA, Marízia M.D.; MONTEIRO, Maria Filomena - Mosteiro de São Bento de Cástris - que futuro para este património? Congresso Internacional de Mosteiros Cistercienses. Alcobaça: junho de 2012. Página 14 (17) Idem. Página 18

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Imagem 61 - Localização das casas da ordem religiosa de Císter (séc. XI-XIII)

Imagem 62 - Planta de satélite, com a localização do Convento de São Bento de Cástris (a vermelho) em relação à cidade de Évora.

Imagem 63 - O convento de São Bento de Cástris, 1947.







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Localização e Análise do Terreno Os monges cistercienses procuraram os lugares mais desertos e inóspitos para ciarem a sua própria “cidade de Deus”, uma vez que “o monge deverá viver em solidão”18. A localização deste “habitat cisterciense”19 devia obedecer a uma norma topográfica específica: eram construídos, normalmente, em vales florestados e férteis, longe dos povoados e de todo o ruído humano, destacando-se apenas, por ser o único recurso indispensável, o abastecimento hidráulico; daí a necessidade de proximidade aos cursos de água. São Bento de Cástris não é exceção, pois situa-se fora de muros do burgo, a dois quilómetros a ocidente da cidade de Évora, na estrada que vai em direção a Arraiolos, reclinado no sopé de um monte, o alto de S.Bento, local privilegiado para a localização de pontos defensivos. À época, este era um local livre de construções, contendo as características e­xi­gidas pela Ordem de Cister, de refúgio e afastamento da vida mundana, água em abundância e territórios férteis. São Bento de Cástris lembra na sua composição e implantação “um castelo”20 que se fecha sobre si mesmo, remetendo, pela sua prórpia arquitetura, para uma autoclausura. Esta formação religiosa desempenhou um papel fundamental “na malha urbana e periurbana da cidade de Évora”21, forte deCRIADO UM PRODUTO EDUCACIONAL AUTODESK marcação territorial através dePOR abertura de caminhos e azinhagas,DAmantendo, à sua volta, uma área dominada por caseiros e servos do mosteiro, com casas à volta do edifício principal. Em suma, o convento devia adequar-se a uma vida de total recolhimento, oração e contemplação, ligando “conceitos antagónicos como público e privado, religioso e secular, votos de pobreza e dotes ricos, regras de estrita clausura e relações urbanas”22.

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(18) MARTINS, Ana Maria Tavares Ferreira. Op.Cit. Página 88 (19) JORGE, Virgolino Ferreira - Organização espacial do mosteiro cisterciense. Évora: 2001. Página 3 (20) CONDE, Antónia Fialho - Císter a Sul do Tejo: O mosteiro de São Bento de Cástris e a Congregação Autónoma de Alcobaça: 1567-1776. Lisboa: Colibri, 2009. Página 19 (21) Idem. Página 23 (22) URBANO, Luís. Op.Cit. Página 30

Imagem 64 - Relação do Convento de São Bento de Cástris com o aqueduto e a cidade de Évora, 1947.

S. Bento de Cástris

Évora Muralha

35.4

30.8

Imagem 65 - Planta de coberturas, com topografia e linhas de água.

31.5

28.6

28.8

27.7

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1.8 Km (aprox.) Imagem 66 - Distância do Convento de São Bento de Cástris à cidade de Évora. Corte esquemático à escala 1/5000.

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27.7

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Relação com o Aqueduto O Convento localiza-se no início de um vale orientado a sul, em que as condições orográficas, nomeadamente as elevações a norte, a noroeste e a oeste servem para proteger o edifício dos ventos. Embora não exista um rio ou outro curso permanente de água perto do conjunto edificado, na cons­trução do edifício recorreu-se à captação de água dos vários poços circundantes servindo, deste modo, as suas necessidades tanto para as atividades rela­cionadas com a agricultura, como para uso direto pela comunidade. Neste sentido, existem duas redes de captação de recursos hídricos: uma a norte da cerca das monjas, mas circunscrita na cerca maior, com origem numa mina de água; a outra inicia-se a meio da encosta poente que através de vasos comunicantes e poços abastece duas fontes na cerca, tanques no pátio do mosteiro, lavatórios no claustro e fontes no primeiro piso do edifício. Existem ainda dois poços, um no jardim do claustro e outro a norte do edifício, e uma cisterna na cozinha. É interessante verificar a engenhosa distribuição de água, herança de sábia experiência cisterciense, perita em obras de hidráulica. Hoje em dia, ainda é possível ver restos de antigas caleiras, adossadas à cons­trução, que serviam para drenar águas superficiais e pontos de água, prote­gendo as fundações. Supõe-se que existiria um sistema de túneis para escoamento dos efluentes, bem como o uso da linha de água mais próxima do convento, situada a sul. Mais tarde, passou a receber água a partir de um anel do Aqueduto da Água da Prata que se estende desde a herdade de Rui Lopes Lobo, além da igreja de Nossa Senhora da Graça do Divor à cidade de Évora. O troço do aqueduto compreendido entre São Bento de Cástris e a muralha da cidade de Évora, num total de mil oitocentos e trinta metros, foi construído com arcadas devido à altimetria do terreno, nascentes e poços a abastecer. O abastecimento abarcava duas fontes públicas: a Fonte da Prata, ou S.Bento, “um tanque de 9 palmos de comprimento por 5 de largo”23 e a Fonte das Cinco Bicas, “essa com um tanque de 14 palmos de comprido por 6 de largo”24 construída no troço em arcaria do aqueduto, já então terminado e situado entre o Convento da Cartuxa e o Convento de Santo António da Piedade.

Imagem 68 - Relação do poço exterior com o Convento, 1947.

6

(23) CARREIRAS, José Albuquerque - Mosteiros Cistercienses: História, Arte, Espiritualidade e Património. Alcobaça: Jorlis, 2013. Página 234 (24) Idem. Página 234

5

4

3 2

1

Imagem 67 - Aqueduto de Água da Prata, s/d.

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Imagem 69 - Marcação dos principais pontos de água no Convento. Planta à escala 1/500.







Imagens 70 a 75 - Principais pontos de água no Convento (1 a 6, de

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Relação com Outros Conventos O Convento de São Bento de Cástris consta como a primeira comunidade monástica religiosa feminina a sul do Tejo, pelo que os conjuntos edificados ligados a outras propriedades religiosas, que hoje é possível encontrar, foram construídos posteriormente. Apesar de relativamente isolado do ponto de vista construtivo e populacional, São Bento de Cástris estabelece relações com outros mosteiros localizados nas imediações, nomeadamente o Convento da Cartuxa, situado na mesma estrada em direção a Arraiolos a, aproximadamente, um quilómetro de Évora, entre as colinas da cidade e São Bento de Cástris. A fundação do mosteiro data dos finais do século XVI25. O convento de Santo António da Piedade também se pode considerar próximo do convento em estudo, encontrando-se construído numa encosta de suave pendente, virado para a Ribeira de Valverde, na estrada que vai para Alcáçovas. Data do século XVI, embora já existem relatos da propriedade da Herdade da Mitra desde o século XV. Embora sendo ligeiramente mais afastado, a sua situação geo­ gráfica é importante para perceber o percurso do Aqueduto da Prata, através do qual se abastecia de água e, deste modo, compreender o abastecimento das outras propriedades monásticas26. São Bento de Cástris manteve desde a sua fundação relação com Alcobaça e não com Claraval. De facto, nos primórdios da existência da comunidade, D.Martinho, o abade de Alcobaça, considerou necessário “lançar o hábito de Cister a todas as recolhidas e alterar o estatuto da comunidade de simples recolhimento para mosteiro. Assim surgiu o mais antigo mosteiro feminino da Ordem de Cister em Portugal”27. No ano de 1274, a comunidade religiosa passou a integrar Alcobaça, altura em que o abade Estêvão Martins “(...) declarava a necessidade de que a igreja do mosteiro fosse dedicada à Mãe de Deus”28 e que os abades de Alcobaça passaram a presidir às eleições das abadessas. Mais tarde, após o Consílio de Trento, a Congregação de Alcobaça desempenhou um papel fundamental nas estruturas eclesiásticas sob o seu alçado. No caso de São Bento de Cástris, fixaram-se as regras para a eleição da abadessa, assim como se reafirmaram os votos de castidade, pobreza e humildade orientadores da Ordem de Cister. Imagem 76 - Relação do Convento de São Bento de Cástris com o aqueduto de Água da Prata.

acordo com a marcação na planta ao lado).

(25) 2013

Imagem 77 - Relação do Convento de São Bento de Cástris com o Convento da Cartuxa e a cidade de Évora.

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às

http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=6503. Consultado pela última 10h06 (26) Idem. (27) CONDE, Maria Antónia Marques Fialho Costa. Op.Cit. Página

vez em 4. (28) Idem.

23-11Página 4.

Imagem 78 - Esquema de relação dos diversos elementos: Convento da Cartuxa, Convento de São Bento de Cástris, Convento de Santo António da Piedade (da esquerda para a direita), a cidade de Évora e, a azul, o aqueduto de Água da Prata.



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O Claustro: Um Espaço Exterior Interiorizado

Distribuição Geral do Convento “(...) a arquitectura regulava o corpo das freiras, tornava algumas acções possíveis, outras impossíveis. Mais do que isso, a arquitectura representava o comportamento; esse comportamento podeia ser comprovado e determinado pela arquitectura”29, o que demonstra que toda a organização e distribuição das dependências do convento não era aleatória, e respondia a determinadas intenções e rituais. Os espaços conventuais eram, assim, “uma metáfora do corpo virginal feminino, e mesmo que os visitantes fossem mantidos do lado de fora, as ansiedades sobre um indesejado contacto físico permaneciam”30. O conjunto monástico de São Bento de Cástris organiza-se em torno do claustro central, de forma irregular e constituído por dois pisos, o que na altura não era muito comum. Contrariamente ao que regia a implantação do mosteiro cisterciense, no caso de São Bento de Cástris, o claustro não se loca­ liza a sul da igreja, mas antes a norte. Provavelmente, esta opção explica-se pela necessidade de criar espaços de estar frescos, junto da igreja, devido ao clima quente e seco do interior alentejano. A sua construção iniciou-se nos finais do século XV e foi concluído por Estêvão Lourenco em 1520. “A igreja constitui-se como o mais importante elemento na implantação do mosteiro cisterciense. No entanto, o claustro, a nível formal, era o epicentro do espaço monástico”31. Além disto, cada espaço correspondia a uma função específica: “spiritus” a norte, “anima” (sacristia, sala do capítulo, salas de trabalho intelectual) a este, “corpus” (cozinha, dormitório, refeitório, latrinas) a sul, e a oeste as dependências destinadas aos conversos (celeiro, dormitório, refeitório, latrinas). O claustro estava si­ tuado normalmente a sul da igreja, “para obter uma maior luz e insolação dos edifícios”32. Saliente-se ainda esta distinção entre os espaços destinados ao “spiritus” e os destinados ao “corpus”, sugerindo uma dicotomia “terra-céu e matéria-espírito”33. Contudo, esta distribuição não é monótona, uma vez que nem todos os conventos correspondem a esta premissa. Cada um se ajusta a esta “norma”, dando aso sempre a alguma singularidade. Em São Bento de Cástris, a ala sudeste contempla a igreja, o portal manuelino e a portaria (também considerada de parlatório). Este último espaço situa-se para o lado esquerdo de quem entra e é uma sala de amplas proporções, quase quadrangular, coberta por abóbadas de nervuras que assentam em elegantes colunas, sendo as paredes revestidas por um lambril de azulejos com motivos vegetalistas. Acede-se através de um alpendre, que assinala a entrada no conjunto edificado, a partir do chamado pátio da carruagem. De salientar a janela gradeada que permitia uma comunicação entre o mundo interior e o exterior, apesar da separação física a que eram sujeitos. Do lado interior do claustro, a importância do espaço da portaria, enquanto acesso principal do mundo exterior para o interior do convento é assinalada pela maior dimensão do vão da porta, com ombreiras mais largas e um degrau de acesso mais elevado. Os três vão seguintes fazem parte do parlatório, uma área utilizada tanto por monjas como por visitas, relacionando-se diretamente com as áreas dedicadas a pessoas externas ao convento. Neste sentido, a exis­tências das três janelas para o claustro cumprem a iluminação e ventilação, conferindo também algum distanciamento, ao impedir uma passagem direta. As duas portas situadas mais próximo da igreja são, na hierarquia de vãos, menos importantes, pelas suas dimensões mais reduzidas. A primeira corres­ponde a uma entrada para o claustro a partir da Igreja, à qual se acede por baixo do coro alto, situação que se observa, por exemplo, no Convento da Flor da Rosa, Crato, da Ordem de S.João do Hospital. A igreja apresenta uma nave única e planta em cruz latina. A porta principal de acesso está situada na fachada lateral, a nascente, como é usual nos mosteiros femininos34. A igreja foi construída sobre a antiga ermida, contudo, da cons­trução original já não se encontram vestígios. Sofreu remodelações no reinado de D.Manuel I e durante o século XVIII, nomeadamente no seu interior, com a construção do altar-mor em talha dourada, a inclusão de telas e painéis de azulejos. Estes representam cenas da vida de S.Bernardo e revestem as paredes laterais até meia altura. As espadanas foram renovadas no século XVIII. Das alterações levadas a cabo no período manuelino são exemplos o alpendre que antecede a entrada, onde podemos observar a delicadeza do trabalho do arco e das pilastras adossadas, com um tratamento torcido, lembrando uma corda. Ao mesmo tempo, são de destacar as nervuras das abóbadas e a pedra de fecho que não as interrompe, mas antes reúne-as, num movimento suave. As abóbadas do portal descarregam em mísulas, que por sua vez descarregam numas secções em (29) URBANO, Luís. Op.Cit. Página 47 (30) Idem. Página 47 (31) MARTINS, Ana Maria Tavares Ferreira. Op.Cit. Página 93 (32) JORGE, Virgolino Ferreira. Op.Cit. Página 4 (33) MARTINS, Ana Maria Tavares Ferreira. Página 93 (34) TERERO, Maria do Céu Simões; PEREIRA, Marizia; MONTEIRO, Maria Filomena. Op.Cit. Página 6

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"Spiritus" "Anima" "Corpus"

Imagem 80 - Divisão típica das funções (spiritus, anima e corpus)num Convento Cisterciense.

"Spiritus" "Spiritus" "Anima" "Anima" "Corpus" "Corpus"

Imagem 79 - Divisão das funções (spiritus, anima e corpus) no Convento de São Bento de Cástris. Planta à escala 1/500.







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Convento de São Bento de Cástris

Imagem 81 - Pátio da Carruagem.

Imagem 82 - Igreja.



O Claustro: Um Espaço Exterior Interiorizado

L que separam os tramos do alpendre. A abóbada da igreja é composta por três tramos, formando estrelas de quatro pontas que descarregam em mísulas. Segundo Mário Chicó, há, nesta altura, “uma tendência para o emprego generalizado de abóbadas achatadas assentes em arcos segmentares que repousam em mísulas e que quase sempre não dependem da composição dos alçados.”35 A igreja e os parlatórios eram os “pontos focais de ansiedade”36 entre os dois mundos, “já que aí homens e mulheres podiam estar cara a cara com as freiras enclausuradas”37. Na ala nordeste é possível identificar dois corpos distintos separados por um saguão, o que acentua a diversidade de épocas do edifício: a parede exterior da primeira construção correspndia à parede exterior primitiva do mosteiro. Este corpo abarca a Sala do Capítulo e a mais recente Sala do Capítulo, a partir da qual se tem acesso direto ao claustro e ao coro baixo. Esta dependência foi erigida entre 1644 e 1647, em substituição do primitivo coro. Apresenta planta retangular, cobertura em abóbada de nervuras, formando losangos. O pé-direito é muito baixo, conferindo ao espaço uma escala muito humana38. A ligação com a igreja é garantida através de um gradeamento em ferro forjado. A Sala do Capítulo ou sala das colunas data de 1587, e foi nesta altura que se abriu o vão de comunicação com a primitiva Sala do Capítulo, em 1589. Possui planta retangular com dez tramos, colunas toscanas e cobertas por abóbadas de aresta. No primeiro tramo há uma capela, mandada erigir por D.Ana de Souto Maior que nela se encontra sepultada. Na antiga Sala do Capítulo existe um portal do século XIII em arco ogival quebrado e ladeado por duas janelas góticas de colunelos duplos geminados. A cobertura deste espaço é constituida por abóbadas de nervuras do início do século XVI, rematadas com chaves que se encontram decoradas com elementos heráldicos. Mais tarde, em 1589, sofreu obras de melhoramento, por ordem da abadessa D.Maria Pacheco, como consta em tabela barroca localizada no arco de acesso ao coro baixo. No segundo piso desta ala situam-se os dormitórios das noviças e das professas. São pequenas celas individuais, de planta retangular e considerável pé-direito, que remontam ao século XVIII. O piso superior da galeria, uma espécie de varanda ladeada por bancos onde as monjas poderiam aproveitar o sol do final da tarde, data de 1825, intervenção da abadessa regente à data. Na ala noroeste faz-se o acesso do refeitório através de um pórtico renascentista, geminado e em mármore. No final do século XVI, foi construído o refeitório de planta retangular, com painéis de azulejos. O teto apresenta caixotões estucados e pintados com frescos de motivos sagrados, de São Bento, entre outros, profanos, elementos cósmicos ou as estações do ano. No subsolo conserva-se ainda a cisterna do mosteiro. No seguimento do refeitório, pelo lado esquerdo, encontra-se a cozinha e a copa que mantiveram a sua localização, enquanto a restante ala foi bastante intervencionada. Como se pode verificar, o Convento de São Bento de Cástris justifica a sua organização em torno do espaço central do claustro, tal como era “ditado” pela Ordem de Cister. Além disso, também se assiste a uma divisão clara entre as áreas relacionadas com o intelecto e as áreas lúdicas, o que também era uma premissa nesta época. Contudo, tal coerência não é tão evidente na distribuição interna das dependências, embora tenha sido admitido que essas “normas” não fossem rígidas, conferindo uma certa singuralidade entre os conventos da época. Para o arquiteto Luís Urbano39, o espaço conventual pode também ser interpretado como uma encenação, o que parece fazer sentido atendendo à distribuição dos espaços de acordo com os rituais monásticos e à colocação de determinados elementos em cena. Apesar das noções de “recolhimento, oração e contemplação” ideais, Luís ­Urbano assume que a inserção do convento no espaço e na sociedade res­ponde a “relações de osmose”, manifestando “um desejo óbvio e radical de separação, mas também um complexo processo de negociação”40 entre o interior e o exterior. Assume ainda que a clausura feminia implica não só uma separação física, como também uma limi­ tação do olhar, através de elementos ou diapositivos de mediação - grades ou mirantes, presentes na fachada principal do convento. Com eles, as freiras “não eram vistas mas podiam ver. (...) o poder de ver sem ser visto”41.

Imagem 83 - Sala do Capítulo

(35) CHICÓ, Mário Tavares - A Arquitectura Gótica em Portugal (3ªedição). Lisboa: Livros Horizonte, 1981. Página 224 (36) URBANO, Luís. Op.Cit. Página 48 (37) URBANO, Luís. Op.Cit. Página 48 (38) TERERO, Maria do Céu Simões; PEREIRA, Marizia; MONTEIRO, Maria Filomena. Op.Cit. Página 10 (39) “Luís Urbano, arquitecto, professor da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP). Licenciado pela Universidade de Coimbra e pós-graduado em “Arquitetura, Território e Memória” pela mesma instituição”. http://www.rupturasilenciosa.com/Equipa-Team. Consultado pela última vez em 15-03-2014 às 7h57 (40) URBANO, Luís. Op.Cit. Página 4 (41) Idem. Página 5

Imagem 84 - Claustro. Desenho de levantamento impressivo.

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Galerias

Área das Conversas

Claustro

Galerias

Acessos N

Claustro

Área das Conversas

Claustro Acessos N

Acessos N

Salas de Estudo

Galerias

Galerias

Aula de Instrução primária

Claustro

Galerias

Acessos N

Claustro

Planta Funciona do 2º Piso Sala de Música Escala 1,1000 Aula de Instrução primária Aula de Instrução primária

Salas de Estudo

Serviços

Galerias

Claustro

Salas de Estudo

Claustro

Acessos N

Claustro

Acessos

Acessos N

Sala de Música

Salas de Estudo

AN

Sala de Música Planta Funciona do 2º Piso Escala 1,1000

A

A A

A

Planta Funciona do 2º Piso Escala 1,1000

Convento de São Bento de Cástris Planta Funciona do 1º Piso Escala 1,1000

Planta Funciona do 1º Piso Escala 1,1000

Planta Funciona do 1º Piso Escala 1,1000

10 m A

A

Zona exterior

Acessos N

Planta interior/exterior 1º Piso Escala 1,1000

Música

Acessos N

Planta interior/exterior 2º Piso Escala 1,1000



Planta percorrer/estar 2º Piso Escala 1,1000

Planta percorrer/estar 2º Piso Escala 1,1000

O Claustro: Um Espaço Exterior Interiorizado

A

A

Zona estar e de circulação

Serviços

Zona exterior coberta

Zona exterior

Acessos N



Enfermaria

Zona interior

Zona exterior coberta

Zona exterior

A

ZonaAinterior

A

Zona interior

Planta Funciona do 3º Piso Escala 1,1000

Planta percorrer/estar 2º Piso Escala 1,1000

Planta Funciona do 3º Piso Escala 1,1000

Acessos N

Planta funcional

Planta funcional

Zona exterior coberta

Acessos N

Acessos N

10 m

10 m

Planta funcional

Zona interior

Claustro

Acessos N

Planta Funciona do 3º Piso A Escala 1,1000

Acessos N

Salas de Estudo

Zona de circulação Acessos N

Áreas de transição Refeitório

Planta interior/exterior 3º Piso Escala 1,1000

Planta percorrer/estar 1º Piso Escala 1,1000

Sala do Capítulo Igreja e anexos

Planta interior exterior

Planta funcional

A

Área de Entrada

A

A

Área das Conversas Galerias Claustro Acessos N

Zona estar e de circulação

Enfermaria

Zona de circulação

Serviços Salas de Estudo

Acessos N Zona interior

Zona interior

Claustro Acessos N

lanta Funciona do 3º Piso scala 1,1000

Zona interior

Zona exterior

Zona exterior coberta

Acessos N

Zona exterior

Planta interior/exterior 1º Piso Escala 1,1000

Sala de Música

trução primária

Zona exterior coberta

Sala de Música Aula de Instrução primária

Aula de Instrução primária

Acessos N

Planta interior/exterior 1º Piso Escala 1,1000 Sala de Música

Planta interior/exterior 1º Piso Escala 1,1000

Zona exterior coberta

Zona interior

Zona exterior

Zona exterior coberta

Acessos N

Zona exterior

Planta interior/exterior 2º Piso Escala 1,1000

Zona interior

A

Zona interior

Zona exterior coberta Planta percorrer/estar 2º Zona exterior Piso Escala 1,1000 Acessos N

Zona interior

Planta Funciona do 1º Piso Zona exterior coberta Zona exterior Escala 1,1000 Zona exterior Acessos Zona exterior coberta

Zona exterior Acessos N

N

A Planta interior/exterior 2º Piso Escala 1,1000

A

A A

A

Zona interior

Zona interior

Zona interior

Zona exterior coberta

Acessos N

Planta interior/exterior 2º Piso Escala 1,1000

A

A

Zona interior

Acessos N

Planta interior/exterior 3º Piso Escala 1,1000

A

Planta interior/exterior 3º Piso Escala 1,1000

Zona interior Zona exterior coberta Zona exterior

Zona estar e de circulação Zona de circulação

Zona estar e de circulação

Acessos N

Zona de circulação

Acessos N Planta percorrer/estar 1º Piso Escala 1,1000 Planta interior/exterior 3º Piso Escala 1,1000

Acessos N

Planta percorrer/estar 1º Piso Escala 1,1000

Zona estar e de circulação Zona de circulação Acessos N

Planta percorrer/estar 1º Piso Escala 1,1000

Imagens 85 a 87 - Plantas de interior/exterior à escala 1/1000. Planta funcional Planta funcional

Planta interior exterior

Planta funcional

Planta interior exterior

Planta interior exterior

A Zona estar e de circulação Zona de circulação Acessos N

Planta percorrer/estar 2º Piso Escala 1,1000

E

S

Á

R A

S

I

Á

Á

G

C A

Zona estar e de circulação

Enfermaria

Zona de circulação

Serviços Salas de Estudo

Acessos N

Claustro Acessos N A

A

Planta percorrer/estar 1º Piso Escala 1,1000

A

Zona estar e de circulação Zona de circulação Acessos N

Planta percorrer/estar 2º Piso Escala 1,1000

Planta F Escala 1

Planta Funciona do 3º Piso Escala 1,1000

Imagens 88 e 89 - Plantas de circulação/estagnação à escala 1/1000.

Imagem 90 - Planta funcional do piso 1 à escala 1/500.

Planta funcional

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A







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A Enfermaria

Serviços

Serviços

Áreas de transição

Salas de Estudo

Refeitório

Claustro

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Vista da fonte em escorço Vista frontal da fonte Acessos N

A

Acessos N

Dormitórios Sanitário Igreja e anexos

Salas de Estudo



Zona estar e de circulação

Enfermaria

Dormitório (pessoal)



A

A

Galerias

Planta de vista da fonte Escala 1,1000

Planta Funciona do 3º Piso Escala 1,1000

Claustro Acessos N

Planta funcional Planta Funciona do 2º Piso Escala 1,1000

Rouparia

Rouparia Rouparia A

Varanda

Enfermaria Serviços Áreas de transição Refeitório Dormitórios A Enfermaria

Igreja e anexos

Serviços

Salas de Estudo

Salas de Estudo

Galerias

Claustro

Claustro Acessos N Aula de Instrução primária

Sala de Música

Zona estar e de circulação

Acessos N A

A

Planta Funciona do 3º Piso Escala 1,1000

Planta Funciona do 2º Piso Escala 1,1000 10 m

Imagem 91 - Planta funcional do piso 2 à escala 1/500.

Imagem 92 - Planta funcional do piso 3 à escala 1/500. Planta funcional

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Imagens 93 a 95 - Alçados da ala nordeste (exterior e interiores). Desenhos de produto à escala 1/100.

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Convento de São Bento de Cástris





O Claustro: Um Espaço Exterior Interiorizado

Imagens 93 a 95 - Alçados da ala sudeste (exterior e interiores). Desenhos de produto à escala 1/100.

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CRIADO POR UM PRODUTO EDUCACIONAL DA AUTODESK

Convento de São Bento de Cástris





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Relação Anatómica

3.00 m

Nas visitas ao Convento e posterior estudo das fotografias 2.68 m e desenhos resultantes, foi possível estabelecer relações entre a métrica da arquitetura do claustro e as medidas do corpo humano. Assim, percebemos mais em detalhe a dimensão e espacialidade das alas do claustro, a partir de me2.23 m didas como a altura máxima do vão (três metros) ou a altura média dos capiteis (entre 1,75m e 2,23m), 1.75 m representadas no primeiro esquema, referente ao “modelo” das alas noroeste, sudoeste e sudeste. Também nessas alas, a altura do muro da galeria é de cerca de 75cm (sendo que sofre pequenas va­riações a toda a volta), podendo ser utilizado como banco. Esta característica, promove uma dua­ 2.68 lidade na utilização das alas: se por um lado estas seriam espaços maioritariamente de circulação e m _Cabeça m percurso, por outro lado a presença deste muro baixo permite criar1.75 momentos de paragem, de estar. O segundo esquema remete para o momento do 1.00 levantamento, em que nos apercebemos da relação m 2.23 m de semelhança entre os elementos arquitetónicos, neste caso os colunelos, com uma pessoa de pé em 0.75 m cima do muro. De facto, uma pessoa com cerca de 1,75m de altura, nessa posição, tocaria em todos os m 1.75 linha de referência pontos do arco com a mão, mas não o ultrapassaria. das cotas do pavimento Por fim, e agora observando a ala nordeste, _Corpodistinta das restantes, procurámos a mesma análise métrica. A figura humana terá cerca de metade da altura do ponto máximo do arco (3,36m). O muro pode adquirir a mesma função de banco que nas outras alas, ainda que seja ligeiramente mais baixo, com 66cm. Neste caso, não comparámos a estrutura arquitetónica com a forma anatómica, já que não 1.00 m reconhecemos relações entre as duas.

2.23 m 1.75 m

1.00 m 0.75 m

UCACIONAL UCACIONAL DA DA AUTODESK AUTODESK Imagem 99 - Esquema 1, ala sudeste. Relação do corpo humano com as alturas dos arcos, capiteis e muro.

66

alçado interior do claustro_Ala Sudeste 1/ 50

2.68 2.68 m m

1.75 1.75 m m

_Cabeça _Cabeça

2.23 2.23 m m 1.75 1.75 m m

0.75 0.75 m m

m

1.00 1.00 m m

_Pés _Pés

60.2

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alçado interior do claustro_Ala Sudeste 1/50

2.60 m 2.45 m 2.00 m 1.75 m

2.60 m 2.45 m linha de referência

1.75 m

interior 0.66 alçado m alçado interior do do claustro_Ala claustro_Ala Sudeste Sudeste 1/50 1/50

66

65

3.36 m

2.00 m

66 66

66

alçado interior do claustro_Ala Sudeste 1/ 50

linha de referência das das cotas cotas do do pavimento pavimento

Imagem 100 - Esquema 2, ala sudeste. Relação entre os elementos arquitetónicos e o corpo humano. 60.2 65 60.2 65

0.75 m

linha de referência das cotas do pavimento

CRIADO CRIADO POR POR UM UM PRODUTO PRODUTO EDUCAC EDUCA

3.36 _Corpo _Corpo

_Pés

0.75 m

0.66 m

0

Imagem 101 - Esquema 3, ala nordeste. Relação do corpo humano com as alturas dos arcos e muro. 86 cm 80 cm

0.75 m

0



alçado interior do claustro_Ala Noroeste 1/50



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TO EDUCACIONAL DA AUTODESK

2.68 m

CRIADO POR UM PRODUTO EDUCACIONAL DA AUTODESK

3.00 m

Convento de São Bento de Cástris





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Percursos

10 m

0 0

10 m

0

10 m

Piso 1

0

1

Piso 1 0

Piso 1

Imagens 102 a 203 - Percursos no Convento e Claustro. Plantas com a marcação dos mesmos à escala 1/500. Filme fotgráfico.

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Elementos de Aparato Considerámos como “elementos de aparato” aqueles não essencials na estrutura do convento, mas que conferem vida e qualidade ao espaço. Momentos excecionais no desenho e vivência do espaço, como terraços, alpendres, miradouros, bancos, escadas, ou mesmo alguns espaços exteriores co­ bertos, que não têm uma função específica, mas influenciam o movimento e definem, em certas si­ tuações, o espaço do olhar. Ao mesmo tempo, permitem a hie­rarquização dos espaços, funcionando como momentos de exceção, que se distinguem da “regra” organizacional do claustro. Assim, identificámos como elementos de aparato, por exemplo, a capela adjacente à ala sudeste, que se assume como um espaço distinto, mas em continuidade com essa; a galeria nordeste no piso superior, por se distinguir das restantes ao ser descoberta e contemplar bancos corridos em ambos os lados, transformando um espaço, à partida, de circulação num momento de paragem e contemplação; e ainda os “labirintos verticais” dos cantos, onde surgem diversas escadas que desaguam em varandas ou pequenos miradouros, maioritariamente para o interior do claustro, mas também para a cidade de Évora (como é o caso daquele situado no canto sul, por cima da Igreja).

Imagens 204 a 206 - Localização dos elementos de aparato. Plantas à escala 1/1000.

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Imagens 207 a 215 - Elementos de aparato.





A

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“Labirinto Vertical” - Cantos

Imagens 216 a 226 - Esquemas explicativos do desenvolvimento dos cantos este, norte, oeste e sul, respetivamente.

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Imagens 227 e 228 - Desenhos de levantamento.







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A Fonte Central A fonte adota uma posição central em relação às diagonais do claustro, estando as suas arestas ali­ nhadas pelos pontos cardeais. Assim, pode ser vista ora em verdadeira grandeza, ora em torção, consoante o ponto de vista.

N

D A

O

C

B

O- ponto OA- 19. OB- 21. OC- 21. OD- 23. 2

Imagem 229 - Desenho de levantamento impressivo.

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Imagens 230 e 231 - A fonte central.



Imagem 232 - Posição da fonte em relação aos limites do claustro Planta à escala 1/500. ponto central - O; OA=19,01 | OB=21,80 | OC=21,80 | OD=23,59





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Vista da fonte em escorço Vista frontal da fonte Acessos N

Planta de vista da fonte Escala 1,1000

de circulação

Vista da fonte em escorço Vista frontal da fonte Acessos N

Planta de vista da fonte Escala 1,1000

Imagem 233 - Perceção da fornte em torção ou verdadeira grandeza, a partir de diferentes do claustro. Planta à escala 1/500.

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Imagens 234 a 239 - Perspetivas da fonte central.







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Convento de São Bento de Cástris





O Claustro: Um Espaço Exterior Interiorizado

Análise dos Capitéis Através do levantamento técnico efetuado, pudemos constatar que a distância entre colunas é sempre desigual. Ainda assim, é constante um ligeiro aperto das dimensões junto aos cantos do quadrilátero, o que pode ser justificável pela vontade de acelerar a perspetiva nas zonas de mudança de direção. Cada tramo entre pilares (de carácter estrutural) é formado por três colunas: duas adossadas aos pilares e uma central; encimadas por arcos ultrapassados. Naquelas adossadas, a cal cobre o fuste, dei­ xando os capiteis e as bases em pedra; já nas centrais, é a pedra a eleita desde o capitel até à base. A existência de diversos motivos decorativos nos capiteis, levou a uma análise mais profunda, na tentativa de apreender uma narrativa no seu discurso. Apesar de muitos deles se encontrarem em mau estdo de conservação, pudemos concluir que não há prorpiamente uma lógica de narrativa quase como se tivessem sido colocados de forma aleatória. Há, no entanto, algumas relações interessantes entre eles, nomeadamente simetrias, colocação de motivos alternados entre tramos, repetições, entre outras. Identificámos alguma regularidade nos motivos, que alternavam entre animais, antropomórficos, florais, geométricos e vegetalistas. “As formas decorativas abraçam, com predilecção, os traçados geométricos e, menos exuberantemente, os motivos florais, embora tão estilizados que essas formas da natureza se transformam quase em motivos geométricos. Os motivos animais e humanos, embora também apareçam, são de uso muito escasso”42. De facto, os motivos mais presentes são os geométricos e os vegetalistas, sendo que os restantes são muito menos utilizados. Por exemplo, o motivo animal apenas é utilizado uma vez e, curiosamente, é colocado centrado na ala, muito próximo da entrada principal, o que ajuda a delinear um percurso. Os motivos antropomórficos aparecem, geralmente, a rematar as arestas do capitel, sendo os rostos colocados em posições estratégicas que olham tanto para dentro como para fora das galerias do claustro. Já os florais não obedecem a uma regra fixa, surgindo a rematar as arestas do capitel ou no seu centro. Finalmente, os geométricos são sempre marcados por movimentos de rotação (para dentro ou para fora das galerias do claustro) ou estagnação (tensão vertical ou horizontal), enquanto os vegetalistas se caracterizam por tensões verticais e, geralmente, é rematada a aresta do capitel. (42) SILVA, José Custódio Vieira de - O Tardo-Gótico em Portugal: a arquitectura no Alentejo. Lisboa: Livros Horizonte, 1989. Página 20.

Imagens 240 a 278 - Capiteis das alas norte e poente.

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B

C 1

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5

C 1

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6A 7

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10 11 12

B

10 11 12

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O Claustro: Um Espaço Exterior Interiorizado

B

C

22 2324

19 20 21

16 17 18

B

C

15 16 17 18 A 19 20 21 A 22 2324 14 13 ÇÃO EXCEP EXCEÇÃO ÇÃO EXCEP

A



A

ENTRADA

A ALA SUL ALA SUL

ENTRADA DA ENTRA

2.7 m

74 m 2.7cm 0

89

28.4 m

28,4 m Imagens 279 e 280 - Análise dos capitéis da ala sul. Escala 1/100. A cada cor corresponde um motivo decorativo: azul - geométrico; rosa - floral; amarelo - antropomórfico; verde - vegetalista; castanho - animal.

89

Ana Rita Moreira | Bárbara Oliveira | Beatriz Teixeira | Inês Reis | Isabel Carneiro | Mª Inês Pinheiro Torres

28.4 m







74 cm 0

linha de referência das cotas do pavimento

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linha de referência s do pavimento

Convento de São Bento de Cástris





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Imagens 281 a 328 - Capiteis da ala sul.

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A Luz

Imagens 329 a 356 - Estudo da incidência solar no claustro em diferentes perspetivas. Dia 21 de Março às 8h, 10h, 12h, 14h, 16h, 18h, 20h, respetivamente.

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Na observação do movimento da luz no claustro, constatámos que pela sua posição, há duas alas que se mantêm maioritariamente em sombra, enquanto que as outras recebem o sol direta e constantemente. Assim, se as primeiras se caracterizam por uma ambiência mais neutra ao longo do dia, as outras sofrem maiores variações na incidência da luz. Ao mesmo tempo, essas característas resultam em perceções visuais diversas nos diferentes pontos e possibilitam várias experiências e sensações. É possível encontrar um espaço para passeio ou simples contemplação, ora à sombra, num dia mais quente, ora ao sol, num dia mais frio.

Frequentemente Ocasionalmente Raramente Acessos N

Apesar de não haver dados concretos acerca do quotidiano das freiras, sabe-se que o seu tempo era dividido entre a oração e o trabalho, entendido como uma participação na obra criadora de Deus. Os seus horários eram muito rígidos e obrigatoriamente respeitados. Assim, podemos sugerir que grande parte da actividade das freiras em São Bento de Cástris se concentrava na ala nordeste. Nesta, a incidência solar é maior durante a tarde, ficando relativamente resguardada durante a manhã, permitindo que as freiras nunca circulassem no convento com o sol forte. Por outro lado, durante a tarde o sol aquece os quartos, protegendo-os das noites mais frias. O refeitório seria um local com alguma frequência em determinados horários e uma vez que se loca­ liza a noroeste, estaria quase sempre em luz, já que as suas aberturas se situam no interior do claustro. Os restantes espaços supõem-se de uso mais ocasional, uma vez que se destinam ao atendimento dos visitantes no convento.

Planta de utilização das alas 1.1000

A

Frequentemente Ocasionalmente Raramente A

Acessos N

Planta de utilização das alas 1.1000

Imagem 357 - Sugestão da frequência da utilização das alas do claustro, de acordo com os espaços que as envolvem. Plana à escala 1/1000. Zona interior Galeria fria Galeria quente Zona exterior Acessos N

A

A

Zona interior Galeria fria Galeria quente

Planta de exposição solar 2º Piso Escala 1,1000

Zona exterior Acessos N

A A

A

A

Planta de exposição solar 3º Piso Escala 1,1000

Piso 1

10 m

Planta percorrer estar

Planta interior exterior

A

A A

Zona interior Galeria fria Zona estar e de circulação

Galeria quente

Vista da fonte em escorço

Zona exterior

Vista frontal da fonte

Acessos N

Acessos N Zona estar e de circulação

Planta de vista da fonte Escala 1,1000

Zona estar e de circulação

Vista da fonte em escorço Vista frontal da fonte Acessos N

Planta de vista da fonte Escala 1,1000

Planta de exposição solar 1º Piso Escala 1,1000

Vista da fonte em escorço Vista frontal da fonte

Zona interior Galeria fria

Zona interior

Galeria quente

Galeria fria

Zona interior

Galeria quente

Galeria fria

Zona exterior

Galeria quente

Acessos N

Zona exterior

Galeria fria

Zona interior

Acessos N

Galeria quente

Galeria fria

Zona exterior

Galeria quente

Acessos N Planta de exposição solar 1º Piso Escala 1,1000 Planta de vista da fonte Escala 1,1000

Zona exterior A

Acessos N

Zona interior

Planta de exposição solar 2º Piso Escala 1,1000

Acessos N

Planta de exposição solar 1º Piso Escala 1,1000

Planta interior exterior

Planta funcional

Piso 1

Ana Rita Moreira | Bárbara Oliveira | Beatriz Teixeira | Inês Reis | Isabel Carneiro | Mª Inês Pinheiro Torres Planta funcional

Planta interior exterior

Planta interior exterior



Planta percorrer estar

Planta percorrer estar

Zona exterior Acessos N

A A

Planta de exposição sola 3º Piso Escala 1,1000

Planta de exposição solar 2º Piso Escala 1,1000

Planta interior exterior

Piso 1 Planta funcional

Galeria quente A

Acessos NA

10 m

Planta percorrer estar

Galeria fria

Zona exterior

Planta de exposição solar 2º Piso Escala 1,1000

Imagens 358 a 360 - Plantas de luz/sombra à escala 1/1000.

Zona interior

A

A A

10 m

Piso 1

10 m

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Planta interior exterior

A

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Imagens 361 a 362 - Pontos de vista das fotografias de comparação da luz de manhã e de tarde. Plantas à escala 1/500.

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Imagens 364 a 411 - Diferentes espaços do Convento e Claustro, manhã (à esquerda) e tarde (à direita).

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Sistemas Construtivos

Imagem 412 - Configuração do convento ao longo do tempo: vestígios góticos.

Imagem 413 - Configuração do convento ao longo do tempo: claustro no século XV.

Imagem 414 - Configuração do convento ao longo do tempo: forma gótica com intervenção estrutural do século XVI (sobretudo ao nível das coberturas).

Imagem 415 - Configuração do convento ao longo do tempo: zonas com intervenção estrutural do século XVI.

Imagem 416 - Configuração do convento ao longo do tempo: zonas com decoração nos séculos XVII e XVIII, com estrutura do século XVI.

Imagem 417 - Configuração do convento ao longo do tempo: intervenções do século XIX.

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Ala Sudeste O piso térreo da galeria caracteriza-se pelo teto abobadado nervurado em tijolo de burro revestido a cal. As colunas são em pedra à vista ou em tijolo e revestidas a cal. Os capitéis são sempre em pedra, assim como as bases das colunas. Os arcos são ultrapassados, construídos em tijolo revestido a cal. No piso superior, o teto é em abóbada de berço, de madeira revestida a gesso. As colunas são em tijolo e também revestidas a gesso.

Revestimento de Cal

Ala Nordeste O piso térreo tem características construtivas distintas das restantes alas. O teto é abóbadado, em tijolo revestido a cal, sem nervuras. Do mesmo modo, o muro, as colunas e os arcos constroem-se em tijolo e cal. No piso superior desta ala surge um terraço virado para o claustro, com bancos em pedra.

Tijolo de Burro

Revestimento de Cal

Revestimento de Cal

Padieira em Pedra

Tijolo de Burro

Pedra

Ala Noroeste A

À semelhança da ala sudeste, nesta galeria os tetos são em abóbadas nervuradas de tijolo e cal. Colunas divididas entre pedra à vista ou tijolo e cal, com bases e capiteis em pedra. Arcos ultrapassados em tijolo e cal. O piso superior caracteriza-se por teto em abóbada de berço de madeira e colunas em tijolo, tudo revestido a gesso.

B

C

Ala Sudoeste Os dois primeiros pisos desta ala repetem os sistemas construtivos das alas sudeste e noroeste, com pedra, tijolo e cal a dominarem a sua aparência. Com esta repetição, cria-se uma continuidade ao longo do claustro. Esta ala conta com um terceiro piso, onde surge um terraço coberto. Os muretes são de pedra, revestidos a cal e têm vestígios de um revestimento em azulejos azuis e amarelos. A cobertura é em telha, suportada por asnas de madeira.

Tijolo de Burro

Revestimento de Cal Muro em Pedra à Vista Muro em Tijolo com Revestimento de Cal

Pedra à Vista

Revestimento de Cal

G

H

Revestimento em Gesso

Revestimento de Cal

Ripas de Madeira

Tijolo de Burro

L

M

Revestimento de Cal

F

Tijolo de Burro Revestimento de Cal

Imagens 418 a 420 - Localização dos diversos pormenores construtivos fotografados. Plantas à escala 1/500.

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Imagens 421 a 435 - Pormenores construtivos do claustro.





K



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Materialidade Pedra à Vista

Pedra à Vista Pedra à Vista Revestimento de Cal

Revestimento de Cal

D

E CRIADO POR UM PRODUTO EDUCACIONAL DA AUTODESK

Revestimento de Cal

Sendo a galeria nordeste excecional no seu desenho, são os alçados das galerias sudeste, sudoeste e noroeste que criam o padrão no claustro. Pares de arcos ultrapassados caiados de branco apoiam-se em capitéis de pedra ornamentados com vários motivos. Estes conjuntos são intercalados por contrafortes, também caiados de branco. De facto, a continuidade do branco é apenas quebrada pelos capitéis e pelas bases das colunas em pedra, bem como pelo colunelo central que se distingue, toda em pedra. Ainda assim, no todo, essa coluna central acaba por “desaparecer” na leitura do alçado, resultando num vão de grande unidade, e não um vão dividido a meio. A distinção dos alçados não se esgota, porém, nesta descrição. O material branco ganha vários tons, planeados em cada quebra e chanfro nos arcos e no murete. Os capitéis e as bases em pedra das colunas têm desenhos variados, que criam ritmo e fortalecem a ideia de um “todo”, ainda que formado por diversas “partes”, mesmo quando uma das alas se afasta completamente desta descrição. Os vãos entre colunas têm uma cadência diferente em todas as alas, e mesmo no desenrolar de cada galeria, apertando à medida que se aproxima a mudança de direção. A altura das galerias mantêm-se semelhante no mesmo piso, mas diminui à medida que se sobe, o que acentua um caráter mais “intimista” dos dormitórios. Em termos de materialidade, no segundo piso, o branco domina paredes, muros, colunas e arcos, excetuando-se, mais uma vez, a ala noroeste que aqui surge na forma de terraço, pontuado com bancos de pedra. Em última análise, é a cal branca a unificadora da composição, assim como os tetos abobadados. As alturas, as linguagens e todas as variações do conjunto, talvez devido à sua grande dimensão ou à impossibilidade de reter tudo num ângulo de visão, são absorvidas com grande unidade.

Pedra à Vista Revestimento de Cal

CRIADO POR UM PRODUTO EDUCACIONAL DA AUTODESK

CRIADO POR UM PRODUTO EDUCACIONAL DA AUTODESK

J

I

Asnas de Madeira

Telha Azulejo Revestimento de Cal Revestimento de Cal Pedra

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O

Imagens 436 a 438 - Anaálise da materialidade na arcada da ala sudeste.







CRIADO POR UM PRODUTO EDUCACIONAL DA AUTODESK

N

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Conclusão Na fase final da elaboração do trabalho, consideramos essencial clarificar algumas noções que se vie­ ram desenvolvendo e estudando ao longo do ano. O convento de São Bento de Cástris, enquanto casa monástica pertencente à ordem de Cister caracteriza-se pela sua extrema funcionalidade e adequação ao terreno e aos recursos existentes. Ele reflete, não de um modo simplista, a vida dos seus habitantes, e consequentemente cada século da sua existência, visível no acrescento e emenda de vãos e divisões que melhor se adaptavam e conjugavam por forma a melhorar a vida no convento. Apesar de a sua construção ter sido faseada, ao longo dos séculos, há um grande sentido de organização. No final, resulta numa composição volumétrica diversa, é certo, mas de grande unidade. É, por isto, a prova viva da existência - e a co-existência - de diversas linguagens arquitetónicas. Para o estudo e melhor compreensão do objeto, escolhemos duas alas do convento, sudeste e nor­ deste. Com o levantamento destas pudemos explorar alguns temas cruciais no entendimento da vida funcional do convento, desde os percursos quotidianos dos seus habitantes e respetivas atividades, e o modo como são influenciadas por fatores externos como a luz e os cursos de água. Deste modo, foi possível pensar mais nas relações arquitetónicas e na poética do espaço, enquanto elementos resultantes e simultaneamente organizadores do mesmo. Esta riqueza espacial apenas se percebe quando vivida e experienciada por quem percorre este espaço, com todos os seus recantos, pormenores, surpresas e subtilidades que o tornam um momento de pura descoberta e com a conjugação de todos os elementos, mágico. Na verdade, todos os espaços são dotados de grande qualidade espacial, característicos e únicos no seu desenho, conferindo-lhes singularidade e uma vivência únicas desde as pequenas varandas, que permitem contemplar o espaço exterior, toda a extensão de planície que se estende até às muralhas da cidade de Évora, o aqueduto que surge paulatinamente da colina até ganhar altura e se afirmar antes de chegar à cidade; o modo como a implantação do convento se abre na encosta da pequena colina, sendo sobranceiro e amplo no seu domínio, espalhando os seus volumes em torno de um claustro recatado e tímido e simultaneamente inundado por influências da vida fora da cerca, como a luz, o ar e a vegetação. O espaço do claustro torna-se simultaneamente um percurso e um espaço de estar, conjugando diferentes funções e funcionado como distribuição da vida monástica. Estes percursos são marcados por diferentes momentos, que embora todos pertencentes ao mesmo espaço - o claustro - têm diferentes memórias. Para isto contribui a incidência solar, demarcando as alas em sombra e as que estão expostas ao sol, aquelas em que se está abrigado e as mais ventosas. A descoberta deste espaço pelo grupo foi intuitiva e despida de qualquer preconceito, revelando a simplicidade e naturalidade do mesmo. O ritmo é dado pelas arcadas, sendo a exceção a nordeste, mais recente, num pausar das aberturas, quando se proporciona olhar para a fonte que aparece ora de frente ora de escorço, entrecoberta pela vegetação, nem sempre tão frondosa, e mais acelerado quando se aproxima a mudança de direção da galeria, antecipando os últimos metros e ao mesmo tempo cortando a visibilidade. A vegetação, sem dúvida inerente ao próprio espaço, funde-se numa simbiose perfeita com o mesmo e os seus elementos. É interessante, ao entrar no claustro a partir da ala que vem da igreja, verificar a semelhança entre a largura das colunas e a dos troncos, quase como se as primeiras fossem uma extensão da natureza, transportando toda a sua pureza e proporção para a arquitetura. Aqui, tal como as árvores que nascem no espaço aberto do claustro, também as arcadas são uma espécie de natureza em que os pilares são os troncos e as abóbadas as ramificações que suportam a cobertura, um quadro de natureza petrificada. O convento de São Bento de Cástris é hoje uma ruina numa colina alentejana. O grande complexo está abandonado e desabitado, permanecendo incólume na paisagem.

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Referências ACADEMIA NACIONAL DE BELAS ARTES – Inventário Artístico de Portugal: concelho de Évora (1º vo­ lume). Lisboa: 1966. CONDE, Maria Antónia Marques Fialho Costa – O Sentido do Tempo num Espaço Conventual: São Bento de Cástris. Évora: 1996-1997. CONDE, Maria Antónia Marques Fialho Costa – A afirmação do Mosteiro de São Bento de Cástris no contexto local e nacional (Colóquio Internacional). Instituto Português do Património Arquitectónico, 1964. ESPANCA, Túlio – Évora: Arte e História. Évora: Túlio Espanca Editora - Câmara Municipal de Évora, 1980. Páginas 84-86. JORGE, Virgolino Ferreira – Organização Espacial do Mosteiro Cirsterciense. Évora: 2001. SARAMAGO, José; GAGEIRO, Eduardo – Évora – Património da Humanidade. Évora: Câmara Municipal de Évora, 1997. SILVA, José Custódio Vieira de – O Tardo-Gótico em Portugal: a arquitectura no Alentejo. Lisboa: Livros Horizonte, 1989. Páginas 9-63. TERERO, Maria do Céu Simões; PEREIRA, Marízia; MONTEIRO, Maria F­ ilomena­– Mosteiro de S. Bento de Cástris – que futuro para este património?. ­Alcobaça: Congresso Internacional sobre Mosteiros Cistercienses, 14 a 17 de junho de 2012. TÚLIO, Espanca – Évora (1ª edição). Lisboa: Editorial Presença, 1993. Revista Monumentos (n.º17). Lisboa: Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, setembro 2002. Páginas 29-35. URBANO, Luís - A arquitectura dos conventos femininos. Notas de um início de investigação. Provas de Aptidão Pedagógica e Capacidade Científica. ­Coimbra: setembro de 2005.

Monumentos: http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=6511 IGESPAR: http://www.igespar.pt/en/patrimonio/pesquisa/geral/patrimonioimovel/detail/69780/ Sopas de Pedra: http://sopasdepedra.blogspot.pt/2013/03/segunda-feira-de-festa.html MARTINS, Ana Maria Tavares Ferreira – Espaço monástico: da Cidade de Deus à Cidade do Homem: http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/4408.pdf

Imagens (61) SOUSA, Bernardo Vasconcelos e - Ordens religiosas em Portugal: das origens a Trento: guia histórico. Lisboa: 2006. Página 98. (62) https://www.google.pt/maps/place/Convento+São+Bento+de+Cástris/@38.5823878,-7.929478 9,1528m/. Consultado pela última vez em 18-05-2014 às 15h44. (63) www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/Images/SIPAImage.aspx?pid=160107. Consultado pela última vez em 24-11-2013 às 18h09. (64) www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/Images/SIPAImage.aspx?pid=196949. Consultado pela última vez em 23-03-2014 às 00h15. (67) CARREIRAS, José Albuquerque - Mosteiros Cistercienses: História, Arte, Espiritualidade e Património. Alcobaça: Jorlis, 2013. Página 237. (68) www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/Images/SIPAImage.aspx?pid=196948. Consultado pela última vez em 23-03-2014 às 00h23. (76) Editada pelo grupo a partir da carta militar fornecida. (77) Editada pelo grupo a partir da carta militar fornecida. (80) Editada pelo grupo a partir da imagem original em Arte Internacional. http://arteinternacional. blogspot.pt/2011_03_20_archive.html. Consultado pela última vez em 25-11-2013 às 04h53. *Todas as imagens não referenciadas acima foram produzidas pelo grupo.

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Anexos

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Manuel Branco (1993), Paula Amendoeira e Anouk Cosra (1998), João Matos (2001)

DESCRIÇÃO Planta composta, centralizada, constituída por vários edifícios que se interligam e se aglutinam em redor de um claustro central, formando uma massa articulada disposta horizontalmente e composta por diferentes volumes dados pelas diferentes altimetrias das dependências monásticas. Portão de acesso, em cantaria rusticada com frontão triangular rematado por pináculos e sustentado por cornija saliente apoiada em mísulas; ao centro as armas eclesiásticas de São Bernardo de Claraval, com a inscrição “FR.º 636 - ANOS”, ladeadas por dois nichos vazios; o portão comunica para um largo terreiro que permite a entrada para a fachada principal do convento: a Sul, para a portaria conventual e para o nártex da igreja; a Norte ficam as dependências correspondentes às casas do intendente e do confessor. Fachada principal com acesso através de dois portais; à esquerda portal em arco abatido, apoiado por aduela, em cantaria rusticada; à direita portal em arco de volta perfeita de cantaria; entre estes dois acessos, escada de um vão e patamar, com três entradas; a fachada apresenta dois registos e é rasgada por janelas rectangulares, com moldura recta em cantaria; à direita os corpos da Sacristia e Igreja são rasgados por janelas com moldura curva em cantaria saliente; duas sineiras, uma ao centro, de duplo o­lhal­rematado por frontão curvo, a outra à direita, com dois olhais sobrepostos, encimados por frontão triangular. Fachadas laterais sóbrias, ritmadas por janelas rectangulares gradeadas. Fachada Norte semelhante à principal, ritmada por contrafortes que sobem até ao beirado. IGREJA: de planta longitudinal, com portal axial a Este; nave única de elevado pé direito com capelas laterais e coro baixo; cobertura em abóbadas artesoadas, de quatro tramos, com fechos dourados e lavrados com os emblemas de D. Manuel I, brasões dos Almeidas e motivos vegeta­listas; apresenta pinturas murais representando serafins e estrelas; as paredes são revestidas de azulejos azuis e

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brancos, historiados, sobre a vida de São Bernardo, com cercadura polícroma. Capela-mor, sobreelevada em relação à nave, de dois tramos; cobertura em abóbada estucada com pinturas murais; retábulo-mor em talha dourada, com trono e baldaquino. O coro-baixo, com ligação através de um portal em ferro à capela-mor, é uma sala quadrangular, com teto abatido de caixotões. CLAUSTRO: de planta trapezoidal, compõe-se de dois pisos, o inferior de arcada em arcos de ferradura, o superior de arcadas abatidas; coberturas em abóbada artesoada; os alçados são ritmados por contrafortes definindo os vários panos, de duas arcadas cada; capitéis com motivos vegetalistas e figuras humanas; o canto Sul apresenta três pisos, acusando as diferentes intervenções que sofreu; o lado Oeste não tem segundo piso, mas terraço; duas fontes, uma na quadra de taça rectangular e obelisco lavrado, outra adossada à parede do ângulo Sul, em forma de concha com golfinho; contíguo ao refeitório, lavabo de volutas; o refeitório tem acesso por porta renascença com mainel central e capitéis coríntios. Sala do Capítulo de planta longitudinal, com cobertura em abóbada, com bocetes decorados por esferas armilares e brasões dos Almeidas; é suportada por uma fieira de colunas centrais, transformado posteriormente a acesso ao corpo Este, mais tardio. ENQUADRAMENTO Peri-urbano, numa pequena elevação do terreno, isolado e em destaque, próxi­mo da estrada para Arraiolos, perto do Convento da Cartuxa e do Aqueduto, em zona relativamente arborizada e visualmente desafogada. UTILIZAÇÃO INICIAL Religiosa: mosteiro feminino da Ordem de Cister (Cistercienses) UTILIZAÇÃO ACTUAL Turística / Administrativo: serviços vários da Segurança Social ÉPOCA CONSTRUÇÃO Séc. 12 / 13 / 16 / 19 ARQUITECTO / CONSTRUTOR / AUTOR MESTRE DE PEDRARIA: Estevão Lourenço (claustro), atr.. PINTOR: Diogo Contreiras CRONOLOGIA 1169 - primeira referência à existência duma ermida neste local, dedicada a São Bento e erguida por D. Soeiro, 1º Bispo de Évora; séc.12, último quartel - Dona Urraca Ximenes manda erigir um cenóbio; 1274 - a superiora deste cenóbio, Domingas Soeira, obtém do papa Gregório X autorização para integrar o pequeno mosteiro na regra e Ordem de Cister; 1328 - é consagrada a primeira igreja conventual; 1384 - é abadessa do convento Dona Joana P ­ eres Ferreirim; séc.15 - construção do claustro; séc.16, inícios - o edifício sofre importantes obras, de ampliação e modificação, sob protecção da casa dos Almeidas; 1520 - Alvará real de vedor das obras a Gonçalo Nunes; 1520, 9 Nov. - Despesa e recibos das importâncias despendidas com as obras, pagas a Estêvão Lourenço, mestre de pedraria; 1520, 4 Dez. - Confirmação do contrato feito com Estêvão Lourenço sobre a construção das duas quadras do claustro; séc. 16, meados - é criado um novo corpo paralelo ao corpo Este, acessível por uma passagem parcialmente a céu aberto, que constituiria a antiga enfermaria; 1890, 18 de Abril - por morte da última freira, o convento é extinto e secularizado; 1940 - adaptação de algumas depêndencias conventuais a Asilo Agrícola Industrial; 1941, Fevereiro - ciclone arruina os telhados; 1957 / 1958 - conclusão das obras de aproveitamento imediato do convento, com vista à instalação da Casa Pia Masculina, pelos Serviços do Monumentos Nacionais; 1958, 16 Fevereiro - inauguração da capela do convento; 2004 - 2005 - deixa de funcionar como colégio e orfanato da secção masculina da Casa Pia; 2006 - com a saída da casa Pia projecta-se a reafetação do imóvel; 2007, 20 dezembro - o imóvel é afeto à Direção Regional da Cultura do Alentejo, pela Portaria n.º 1130/2007, DR, 2.ª série, n.º 245; 2010, Abril - em curso estudos sobre o imóvel da responsabilidade da DRACLEN; 2011, 07 de Março - o imóvel é vandalizado e um dos sinos roubado. CARACTERÍSTICAS PARTICULARES As suas vastas proporções e a harmoniosa inserção na paisagem. O claustro apresenta semelhanças com o do Convento de São Bernardo em Portalegre (v. PT041214080008), também cisterciense. É o convento femenino com fundação mais antiga no sul do país. DADOS TÉCNICOS Estrutura mista MATERIAIS Alvenaria mista rebocada e caiada, abóbadas em tijolo maciço rebocadas e caiadas, mármore em elementos secundários e decorativos, cunhais, contrafortes pilastras, colunas, pavimentos e alisares em granito; talha dourada, estuques, madeira, azulejos, pinturas murais. INTERVENÇÃO REALIZADA DGEMN: 1937 - obras de consolidação e restauro: demolição e construção das abóbadas do claustro e coberturas; 1950 - 1956: obras de adaptação a secção masculina da Casa Pia: modificação da vacaria e anexos; reparação e conservação da igreja; canalização de esgotos, abastecimento de águas, construção das aulas do segundo piso; 1957 arranjo do depósito de água; construção das aulas do segundo piso; acabamentos na igreja e arranjo do claustro; 1958 - restauros na igreja e na torre; 1959 - continuação das obras de adaptação a instalações da Casa Pia, pelos Serviços dos Monumentos Nacionais; construção do posto de inseminação da ala agrícola; construção de um muro de suporte junto ao convento; 1966 - conservação de telhados nas oficinas; 1968 - reparação das instalações sanitárias e na casa do padre diretor; 1971 - obras de beneficiação de dormitórios; construção de tetos nos quartos e de instalações sanitárias nos quartos dos vigilantes ; 1980 - reconstrução de telhados, rebocos, portas e caixilhos; 1981 - reparação da instalação eléctrica; 1985 - reparação de telhados, portas, caixilhos e pavimentos; reconstrução de tetos; pinturas e caiações; 1986 - obras de recuperação; 1988 - substituição estrutura do telhado, reparo de fissuras, estuques e tetos em caixotões de madeira; 2000 - reparação de coberturas na zona do claustro, e dos tectos do piso superior das alas do claustro, reparação de rebocos e caiações; Segurança Social - Centro Distrital de Évora / Secção Masculina da Casa Pia: 2002 - 2004 - obras de melhoramento nomeadamente aquecimento.



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Convento de São Bento de Cástris

Convento de São Bento de Cástris

IGESPAR

NOTA HISTÓRICO-ARTÍSTICA Erigido sobre uma singela ermida dedicada a S. Bento, construída em 1169, o convento cisterciense de São Bento de Cástris, uma das mais antigas casas religiosas femininas em Portugal, remonta ao século XIV, tendo a igreja sido consagrada no ano de 1328. O atual templo acusa vestígios da herança românica, gótica, mudéjar, manuelina e barroca, tendo, no entanto, as principais intervenções ocorrido no reinado de D. Manuel, período em que este foi substancialmente alterado sob a égide dos nobres da Casa dos Almeidas. A construção articula-se em torno de um claustro central, fazendo-se a entrada para o complexo conventual através de um pórtico rematado por frontão triangular e delgados pináculos, tendo ao centro gravadas as armas eclesiásticas de S. Bernardo de Claraval ladeadas por dois nichos, actualmente vazios e originalmente destinados aos padroeiros da Ordem cisterciense, S. Bernardo e S. Bento. Esta passagem comunica com um amplo pátio que abre para a fachada principal do templo -a Sul- bem como para as duas restantes dependências - a Norte - , respectivamente Casa do Intendente e Casa do Confessor. A fachada principal do convento, estruturada em dois registos, é rasgada por janelas retangulares e dois pórticos : um, em arco de volta perfeita, de canta­ria e outro, de arco abatido suportado por aduelas em cantaria rusticada, onde, no lintel se encontra gravada a data de 1617, fazendo a comunicação com a zona do antigo pomar. Na zona exterior do templo e da sacristia, duas sineiras ornamentam o remate da fachada. O interior do templo, cuja feição estilística é marcadamente manuelina, possui uma entrada axial, localizada a nascente, que abre para um alpendre rasgado por pórtico de duas arquivoltas e colunas finamente torneadas, de bases entrançadas, de aspecto análogo ao pórtico da Igreja Real de S. Francisco. A igreja apresenta planta longitudinal, dividida em quatro tramos , coro alto, sendo coberta por abóbada polinervada, com bocetes ta­lhados, uns representando a esfera armilar, outros as armas da família Almeida. Esta tipologia de abóbada extravasa o espaço da igreja, podendo também ser encontrada numa galeria de acesso ao claustro. Ainda subsistem frescos nos panos da algumas abóbadas, sob a forma de delicadas representações polícromas de anjos.

A afirmação do Mosteiro de São Bento de Cástris no contexo local e nacional

Maria Antónia Marques Fialho Costa Conde

Localização do mosteiro: encosta do Alto de São Bento (263 metros de altitude) e cerca de 2km da cidade de Évora. Razão de interesse: Apontado como o mais antigo mosteiro cisterciense da Península, para além do seu inegável enigma construtivo, reflexo de diversas épocas e influências.Influências presentes: mediterrânicas, mudéjares, renascentistas e manuelinas (gótico e tardo-gótico português). Motivos encontrados: nos capitéis – figuras humanas, decoração vegetal, animalesca, geométrica e heráldica. Curiosidades: O Convento de São Bento de Cástris é dos poucos, na época, que tinha dois pisos. A maioria tinha apenas um piso. E ainda tem a particula­ridade de ter um piso suplementar, a sudoeste. Para a evolução deste património, foi muito importante a acção dos particulares – doações e dotes: “Os seus bens de raiz são emprazados desde muito cedo – o mais antigo emprazamento é de 1256 (lembremos a data da fundação!”. Para além de ter de obedecer aos princípios de Cister, a opulência do Convento pode muito bem ser explicada pela avultada renda que era necessário pagar. Cronologia: - Criação de um grupo (do qual Urraca Ximenes era a líder) que funda um retiro junto a uma ermida, destinada a São Bento, “frade italiano nascido em 480 e fundador da ordem Beneditina” : “grupo eremítico de devotas, inicialmente de cariz simplesmente familiar e que com o tempo viu aumentar o número de recolhidas”. - 1169: D. Martinho, o Abade de Alcobaça, achou conveniente orientar a fé das devotas e não deixá-la ao abandono, por isso era necessário “lançar o hábito de Cister a todas as recolhidas e alterar o estatuto da comunidade de simples recolhimento para mosteiro. Assim surge o mais antigo mosteiro feminino da Ordem de Cister em Portugal”. - 1274: São Bento de Cástris passa a ser mosteiro cisterciense: segundo Frei António Brandão, as recolhidas “terão sido persuadidas por D. Soeiro e pelo próprio D. Martinho, de Alcobaça , a seguir as regras de Cister e a fazer uma vida comum, de comunidade religiosa, que assim o terão feito durante noventa e quatro anos [desde 1180], mas sem voto de clausura nem os votos essenciais da religião” (só conseguidos em 1274). Aqui terão sido jurados os votos de Pobreza, Castidade, Obediência e Clausura, bem como a profissão religiosa. - 1328: consagração da igreja - 1520: intervenções de Estêvão Lourenço, a mando de D. Manuel. - século XV e inícios do século XVI: obras em várias zonas do convento (não foi apenas uma reforma espiritual, mas também material do edifício): enfermaria, - século XVII: acrescentos no edifício: dormitórios, - século XVIII: intervenções na igreja; obras no lanço oriental.

Ana Rita Moreira | Bárbara Oliveira | Beatriz Teixeira | Inês Reis | Isabel Carneiro | Mª Inês Pinheiro Torres

Inventário Artístico de Portugal: concelho de Évora





O Claustro: Um Espaço Exterior Interiorizado

Academia Nacional de Belas Artes

Aqueduto da Água da Prata (monumento nacional): 1537 Esta gloriosa obra começou depois de 1531, a mando de D. João III, e a sua inauguração foi feita a 28 de Março de 1537, através do primitivo chafariz da Praça do Geraldo. A sua reconstrução foi feita no período entre 1873-1879 pelo empreiteiro-cons­trutor José da Rosa e o capataz-pedreiro Manuel de Melo. O traçado do aqueduto parte em arcaria na lombada ocidental de São Bento de Cástris e adquire monumentalidade, da Torralva às Portas da Lagoa. Mosteiro de São Bento de Cástris (monumento nacional) A cerca de dois km da cidade, na banda ocidental. É uma das mais antigas fundações freiráticas do sul do país, como rezam as crónicas religiosas, em concordância com a literatura tradicional. Origem do convento: Iniciou-se com uma ermida de devoção a D. Soeiro, primeiro bispo da diocese, que associou uma luz de fluorescência sobrenatural a algo divino (isto aconteceu a 31 de Março de 1169, data do glorioso S. Bento, o que “originou a santa crismação). Anos depois, Urraca Ximenes, uma nobre dama cristã, obteve licença para cons­truir um cenóbio do tipo eremítico, onde se juntou com as suas irmãs; a elas se juntaram outras damas honestas que renunciavam à vida terrena. Era, portanto, uma ermida de cariz mais familiar. Em 1274 o abade de Alcobaça, D. Estêvão, foi autorizado a integrar esta comunidade na Ordem de Cister. A primeira igreja conventual foi consagrada em 1328. Esta foi totalmente transformada no reinado de D. Manuel: possuía uma só nave de planta rectangular, com quatro tramos. No reinado de D. Manuel o edifício sofreu importantes beneficiações sob proteção da Casa dos Almeidas. A mansão cisterciense extinguiu-se a 18 de Abril de 1890, com a morte da última freira. Depois disto, foi instalada na propriedade uma Estação Químico-Agrícola. Em 1940, o Estado entregou ao Governo Civil a construção para nela se instalar um Asilo Agrícola Distrital. E assim se deu o restauro do histórico imóvel da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. Em 1957 a Casa Pia masculina mudou-se para o local. A entrada principal faz-se para um amplo pátio – o da carruagem – em portal de frontão triangular rematado por pináculos barrocos muito alongados. A partir daqui, nasciam todas as comunicações freiráticas: ao pomar, com o seu portão de arco abatido, almofadado; à cerca, que era defendida antigamente por alto muro cortinado de ameias de andares; ao convento, à casa do capelão-feitor. A igreja tem uma entrada axial, a nascente, e apoia-se em três tramos assimétricos reforçados por arcos góticos. A antiga portaria monástica que se vira para o pátio teve um alpendre rústico, que foi destruído recentemente. O claustro data do século XV, sendo aumentado durante a reforma manuelina. De planta trapezoidal, compõe-se de arcadas abatidas, de ferradura e de meio ponto (as mais modernas), em abóbadas de artezões chanfrados, fustes atarracados de capitéis fito-antropomórficos e armorejados com os seis besantes e emblemas reais. O recanto sul, de três pisos, oferece especial encanto justamente por marcar a forma evolutiva dos estilos e épocas da sua traça. O lanço ocidental com varanda, muito recente, por ter desmoronado o antigo e ainda para permitir uma melhor iluminação do dormitório novo, foi levantado ao gosto do tempo em 1825. Há três fontes no recinto: a da quadra, com taça rectangular e obelisco lavrado do tipo clássico, em mármore branco de Estremoz; outra taça em forma de concha e opulento golfinho, contra a parede do ângulo sul, e finalmente o lavabo de volutas barrocas e pia de granito, contíguo ao refeitório. Havia uma sala capitular, primitiva, que não é a atual Sala do Capítulo. Esta possui restos importantes de arquitetura gótica – pórtico e espaço abobadado, com ligação direta ao claustro. A portada e as frestas, de duplos colunelos geminados, com capitéis de folhagem toscamente esculturados e arcos em lanceta, de granito, deve remontar ao século XIV; o teto, abatido, coberto de nervuras de perfis semicirculares e adornado de chaves com as esferas armilares e os armoriais de besantes dos padroeiros, é da época manuelina. Esta sala foi melhorada em 1589. Um sombrio e estreito saguão, que divide os dois grandes dormitórios do corpo superior, abre para a moderna Sala do Capítulo, antigo dormitório, uma dependência de duas naves e dez tramos de colunatas toscanas, de granito. O refeitório é uma dependência que data dos fins do século XVI, contrafortada para o exterior; volume atarracado, do renascimento tardio, com coluneis marmóreos, de planta retangular e coberta por caixotões estucados e adornada de medalhões pintados a fresco. Os novos dormitórios do mosteiro, da época seiscentista. Grades de ferro, de vários desenhos, defendiam as inúmeras aberturas. O edifício da enfermaria é contrafortado, de volumes, silhueta e alçados muito pitorescos. Havia também uma cerca, que agora está extinta (será aquela por cima do portão, que se vê nas fotografias antigas?). Esta existiu até 1739, muito arruinada. O ciclone de Fevereiro de 1941 deitou abaixo grande parte dos telhados dos dormitórios, já arruinados.







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Convento de São Bento de Cástris

Estudos Eborenses: Convento de São Bento de Cástris

Alto de S. Bento O forasteiro que vier a Évora tem que visitar o mosteiro de S.Bento e subir ao Monte próximo, ao alto dos moinhos. O alto de S.Bento tem 364 metros de altura sobre o nível do mar e 120 sobre os terrenos próximos. Do alto descobre-se um vastíssimo panorama moldurado pelas longínquas serranias azuladas da envolvente. Entre a paisagem ergue-se a casaria branca da cidade. Próximos da cidade os edifícios da Cartuxa e de Santo António; um pouco mais longe o mosteiro de Nossa Senhora do Espinheiro. Passando em frente, o aqueduto, que leva a água da Prata à cidade. Do começo da arcaria até à sua entrada na cidade há uma diferença de nível de 26 metros; junto a S.Bento está mais alto que o solo no passeio do templo romano, podendo formar repuxo neste local. Este aqueduto, construído no tempo de D.João III, tem cerca de 6km. Nos campos distinguem-se as terras dos cereais e das pastagens; e as grandes manchas escuras dos montados de azinho e sobro. Nas estradas mais nuas, eucaliptos marcam as estradas. O castelo de Évora-Monte avista-se bem; a ermida S.Gens marca-nos o ponto culminante da serra de Ossa. Na ampla colina em que assenta a cidade domina o xisto que se pode ver formando a base natural do templo romano onde a rocha está a descoberto.





O Claustro: Um Espaço Exterior Interiorizado

Gabriel Pereira

O nome “Cástris” indica ter havido fortificação; aquele monte isolado que domina o horizonte prestava-se às trincheiras que serviam os povos antigos. Há alguns vestígios no Alentejo desses arraiais. Os romanos aproveitaram a defesa que encontraram – “castrum”, arraial fortificado. O termo castro pode designar uma obra pré-romana, aproveitada depois pelos conquistadores. Do castro de S.Bento nada resta. A lenda da tomada da cidade aos mouros colocou no mais alto monte a torre de vigilância sarracena. Há quem veja vestígios da torre próximo de um moinho. Nada resta sobre a Torre do Alto de S.Bento; existindo apenas um documento relativo a uma propriedade próxima onde se alude uma torre no declive nordeste. O Mosteiro de S.Bento é o primeiro de freiras em Portugal, ou talvez na Península. O 1º Bispo de Évora - D.Soeiro - , depois da tomada da cidade aos mouros, passando pelo alto numa noite de 1169, viu uma luz brilhante, tomando-a como sobrenatural e aviso divino, resolvendo fundar ali uma casa religiosa. Urraca Ximenez o co-ajudou, e surgiu a ermida. Em 1274 faz-se o mosteiro, adotando-se a regra de Cister. A igreja foi consagrada a 1328. O edifício atual é vastíssimo; o exterior faz supor a quantidade de casas (quartos) e oficinas que formam uma verdadeira povoação. Há 70 anos viviam ali mais de 200 pessoas, chegando a ter 80 freiras. Hoje grande parte da casaria jaz em ruínas. Com a cerca do convento, a horta e as terras anexas, forma uma das primeiras propriedades rurais nos arredores de Évora. Tem sofrido grandes reparos e reconstruções; do primitivo templo nada resta, sendo o atual da transição entre os séculos XVXVI. No pórtico, as armas dos Melos e a esfera de D.Manuel nos fechos da abóbadas mostram que o rei e alguns dos Olivenças recorreram valiosamente para a construção da igreja. Mas na claustra (claustro) há colunas e capiteis de época anterior, não havendo outra tão ampla na cidade. Os dois pisos têm arcadas bem conservadas; num dos lados, no segundo piso, corre uma vasta varanda que D.Marianna Escolástica abbadessa mandou fazer em 1825. Outra grande reconstrução da claustra acontece em 1687. Num capitel vê-se a esfera de D.Manuel, noutro o brasão dos Melos. Vê-se também uma campa com letreiro gótico. Nada alusivo à abadessa Joana Peres, assassinada na Sé por ocasião dos tumultos na aclamação do mestre de Avis. Era sobre a porta de uma capela da claustra que estavam os azulejos representando a Anunciação, hoje guardados na colecção da Biblioteca Pública. O refeitório é uma casa enorme. De abóbada, feito ou renovado em 1605. Tem uns quadros em azulejos de 1654; o teto conserva a pintura da 1ª metade do século XVII. É a igreja do convento muito formosa. Os dois quadros próximos da grade do coro de cima merecem atenção pois não parecem completos, ou talvez sejam os lados de um grande tríptico. Nos azulejos há coisas raras, de grande audácia; o pintor fez caricaturas e inventou símbolos extraordinários; tinha provavelmente alguma espinha com as freiras e vingou-se no azulejo; tão raivoso que estava que foi pintar o Cúpido a sair do diabo, pôs uma ratoeira na cabeleira da dama e outras travessuras que na altura se toleravam. É muito notável o coro de baixo, separado da capela-mor por uma gradaria de ferro, de espaços largos; a abóbada em arcos cruzados formando xadrez. O coro de cima é vastíssimo; a primeira parte é a continuação da igreja recons­truída no século XVI; talvez por ter crescido o número de freiras, e em 1841 ali se fizeram obras importantes. Não há convento que não tenha uma vasta lista de milagres; hoje passaram de moda. Não havia convento que se prezasse que não apresentasse uma coleção de visões, musicas celestiais, estranhos acontecimentos; tendo o Santo Oficio de intervir. Em Évora floresceu a vocação do prodígio, tendo a Inquisição liquidado o caso castigando os carmelitanos. Em S. Bento houve dois milagres que se afastaram do estilo vulgar. No primeiro, apareceu uma menina muito linda no convento, mas com duas línguas, assustando a comunidade. O que levou as freiras a pegarem-se com S.Bento e dias depois a menina tinha só uma língua. No segundo, existia em Évora um feiticeiro muito temido e mau que um dia quis entrar no convento para envenenar a fonte onde as freiras bebiam. Por pouco não foram vitimas do feiticeiro, pois andavam na cerca, em passeio, os dois patriarcas S.Bernardo e S.Bento que costumavam ir espairecer à sombra das oliveiras e azinheiras. Quando o feiticeiro se preparava para o malefício aparecem os patriarcas e com os báculos zurziram-lhe as costas em solfa de fã bordão, a ponto que o feiticeiro teve que ser transportado até à cidade.

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Évora: Conventos extramuros

T. Espanha

Seis casas religiosas campeiam fora do amuramento medieval da cidade, distribuídas pelas suas ordens religiosas. O mais antigo Mosteiro – São Bento de Cástris – a 2km ocidente da cidade (no sopé da um antigo castro pré-histórico), integrado na Ordem de Cister em 1274, reafirmando a consagração da primeira igreja em 1328, de poucos vestígios e que deu sucessão à atual no reinado de D. Manuel I, com ajuda dos Melos e Magros de Almeida. Ao edifício está ligada a tragédia que vitimou D.Joana Peres, assassinada na revolução de Janeiro 1384. “A cidade alastra-se em ampla colina de declives brandos no planalto alentejano. Terrenos de xistos rotos por formações graníticas elevam-se a 150 metros sobre o nível do mar.” Gabriel Pereira Conservam-se algumas relíquias arquitetónicas, sobretudo na crasta (claustro), onde domina o manuelino-mudejar e o renascimento, em 3 andares com vários lanços de arcadas de ferradura, geminadas. As abóbadas e capiteis têm variados motivos decorativos, simbólicos e armoriados, da casa real e padroeiros, prolongando-se para a cobertura da Sala do Capítulo e pela nave do templo. Alto rodapé azulejar Josefino, de factura na Fábrica do Rato, recobre o lambril da nave e da capela-mor (decorada por um altar de talha dourada rococó, denunciando o acabamento tardio). O refeitório quinhentista, modificado no século XVII com as composições murais dos alçados e abóbada e o tríptico bíblico da cabeceira, são de grande valor artístico. O resto do conjunto é mais tardio, envolvido por medalhões de elementos cósmicos, estações e meses do ano.



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Convento de São Bento de Cástris

Mosteiro de São Bento de Cástris - que futuro para este património?

Congresso Internacional Mosteiros Cistercienses

Depois de uma análise procuram-se elementos que possam contribuir para a salvaguarda do mosteiro, se não for ocupado pelo Museu da Música. A seleção do local foi determinada por algumas linhas orientadoras, das quais se salientam a topografia e a hidrografia. O mosteiro é constituído por um conjunto edificado de grandes dimensões que teve um crescimento dinâmico ao longo do tempo, pelas necessidades que foram surgindo com a sua constante ocupação. A volumetria muito diversificada marca toda a ambiência envolvente Encontra-se enquadrado por uma cerca muito extensa e que ainda conserva grande parte da sua antiga estrutura. Evolução do conjunto arquitetónico O mosteiro apresenta algumas das diversas intervenções que recebeu ao longo do tempo. O edifício foi dotado de muitas beneficiações no reinado de D. Manuel I, período em que foi ampliado o claustro inicial, com a construção de duas novas alas, da autoria de Estevão Lourenço. O acesso ao mosteiro faz-se através do pátio de carruagem que se alcança através de um portão encimado pelas armas da Ordem de Cister. É por este pátio que se entra nos espaços mais significativos do conjunto. Acede-se à Portaria através de um alpendre, onde se encontra uma roda giratória. A igreja de nave única, e planta em cruz latina tem a porta principal na fachada lateral. A cobertura é feita através de abóbadas de arestas manuelinas. Sofreu grandes alterações no reinado de D. Manuel e durante o século XVIII foi renovado, com a construção do altar-mor, a inclusão de telas e painéis de azulejos. O claustro que apresenta forma trapezoidal e tem dois pisos. Teve início no final do séc. XV e concluído por Estêvão Lourenço em 1520. Encontram-se ordens distintas de arcos: Arcos abatidos, em ferradura e em meio ponto. Os capitéis das colunas que suportam os arcos são de motivos diversificados. Em 1687 a estrutura do claustro foi consolidada sendo completadas as duas alas em falta. A zona mais antiga do claustro tem uma galeria gótico-mudéjar com arcos geminados que se apoiam em colunas. No centro do claustro situa-se uma fonte de mármore e próximo da ala sul outra fonte com a forma de uma concha e um lavabo em granito contíguo ao refeitório. Na ala poente situam-se o refeitório, a copa e a cozinha. A Nordeste situa-se a antiga enfermaria/lavandaria.

Ana Rita Moreira | Bárbara Oliveira | Beatriz Teixeira | Inês Reis | Isabel Carneiro | Mª Inês Pinheiro Torres





O Claustro: Um Espaço Exterior Interiorizado

Parte da antiga enfermaria é do sec XVI e é uma sala ampla repartida em nove tramos sustentadas por colunas dóricas em granito onde se apoiam as abóbadas de nervuras Em 1697 foi ampliada. Da Ala Norte constam o refeitório, e algumas salas sem grande relevância. O acesso ao refeitório faz-se através de um pórtico do renascimento. No fim do século XVI foi construído o refeitório com painéis de azulejos, de grandes dimensões, de planta retangular, tem teto de caixotões estucados e pintados. No seu subsolo conserva-se a cisterna do mosteiro. Do seu lado esquerdo situa-se a cozinha. A ala nascente tenta separar os dois espaços de épocas distintas. A parede exterior da primeira construção corresponderia à parede exterior primitiva do mosteiro e contém a Sala do Capítulo, a antiga Sala do Capítulo e o Coro Baixo. O piso superior da ala nascente terá sido construído cerca de 1825. A nova Sala do Capítulo data de 1587. No primeiro tramo desta existem vestígios de uma antiga capela, mandada erigir por D.a Ana de Souto Maior, que nela se encontra sepultada. Os novos dormitórios do mosteiro que se situam por cima da Sala do Capítulo eram espaços de planta retangular que remontam à época seiscentista. Aqui localizavam-se celas individuais. O alçado da ala sul é ocupado na sua grande parte pela igreja, onde podemos observar o portal manuelino de acesso à igreja. Nela se podem ler diversos pisos, correspondentes a ocupações diferenciadas no tempo. As coberturas são de três ou quatro águas. A ala poente é ocupada pela copa, cozinha, refeitório, e escada de acesso ao piso superior onde se localizam salas de aulas. A abertura de vãos é muito regular. A sua reconstrução foi feita na altura em que o edifício recebeu as ins­talações da Casa Pia. Na ala norte podem discernir-se vários pisos. A volumetria é muito diversificada, sendo de assinalar os contrafortes que marcam o alçado, e as antigas moradias particulares. A ala nascente é ocupada pala Sala do Capítulo e pela cabeceira da igreja. Subsistem ainda neste alçado três óculos. Os vão do primeiro piso são retangulares e igualmente espaçados. A cerca do mosteiro tem grandes dimensões e nela se encontram oliveiras, sobreiros e videiras, havendo ainda zonas de pastoreio. O conjunto monástico passou por diversas vicissitudes. Extinguiu-se em 1890, por falecimento da última monja. Mais tarde foi instalada uma Estação Químico-Agrícola que deu lugar ao Campo Experimental da Circunscrição Agrícola do Sul. Foi prevista a utilização como Asilo Agrícola Distrital e a sua atribuição à Casa Pia. A tutela é da Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais que procede em 1937 à elaboração de um projeto para reconstruir o edifício, adaptando-o à instalação da Secção da Casa Pia masculina. As obras foram retomadas em 1942. Um edifício com uma comunidade fechada de monjas passou a acolher uma comunidade fechada de órfãos. A apropriação do espaço determinou intervenções que puderam manter muitas das utilizações dos espaços primitivos, com as naturais adaptações às necessidades de uma época diferente. As celas e dormitórios foram transformados no dormitório atual. Foi criado um novo refeitório para crianças que iriam ocupar as instalações. O programa previa albergar 200 crianças e 30 empregados. Assim foram criadas no rés-do-chão, portaria, átrio, oficinas, ginásio, secretaria, sala de visitas, rouparia, cozinha, copa e refeitório, bem como instalações sani­tárias. A igreja teve obras de conservação e consolidação. No primeiro piso foram consideradas salas de aula, dormitórios enfermaria, e seus anexos e instalações sanitárias. Os dormitórios ocupam o local dos dormitórios das monjas. A galeria do claustro sofreu grandes intervenções, porque apresentava estado ruinoso, sendo reparados os tetos em estuque. No segundo piso foi construído o telhado correspondente às salas de aula e no terceiro piso a reconstrução da sua cobertura em terraço. A zona envolvente e a cerca do Mosteiro apresenta um coberto vegetal muito alterado relativamente à vegetação natural primitiva Foi identificada uma provável nascente na Quinta do Caldeireiro. O coberto vegetal no interior da cerca está profundamente alterada. Predominam olivais nas cotas mais baixas e nas zonas mais altas e inclinadas, uma mata. O estrato arbustivo encontra-se dominado por grupos de pequenos arbustos . Conclusões Apesar das obras de conservação e restauro levadas a cabo nessa época, o mosteiro tem-se vindo a degradar. O facto de as instalações da Casa Pia terem deixado o edifício devoluto desde 2005, tornou-o alvo de vandalizações e pequenos roubos. Sofreu ações de vandalismo e fogo posto na sua cerca, em 2010. Em 2011, foi alvo da pilhagem de um dos sinos, que ao ser apeado destruiu uma parte do telhado Passou para a tutela do Ministério da Cultura, e foi necessário encontrar uma solução para este conjunto. Contava-se com a possível venda do imóvel para nele inserir um hotel de luxo, mas parece que a sorte o mosteiro foi decidida de outro modo, pela transferência do Museu Nacional da Música para estas instalações. Esta mudança prevê-se que será faseada e ocorrerá por um período de quatro anos, utilizando fundos comunitários, com a previsão de instalação do museu a partir de 2014. Outra proposta é a instalação de uma pequena comunidade religiosa e para essa finalidade, o mosteiro foi visitado por uma delegação de monges beneditinos brasileiros. Não será ainda este ano que a transferência do Museu será realizada devido à falta de verbas que se encontram bloqueadas. Podemos constatar que o futuro deste património não está definido, e apesar de as propostas serem interessantes e exequíveis as restrições orçamentais não vão permitir que haja ocupação do edifício a breve prazo. Estão a ser realizadas algumas obras de conservação que poderão contribuir para que este conjunto continue a fazer parte do legado das gerações que nos precederam e possa ser transmitido como um conjunto coeso de inegável valor em boas condições às gerações vindouras. A aposta na conservação do património pode trazer mais-valias do ponto de vista do incremento do turismo. Esta pode ser uma alternativa exequível e com aspetos muito positivos no ponto de vista economicista e no da conservação por maior espaço de tempo, do património.







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Convento de São Bento de Cástris





O Claustro: Um Espaço Exterior Interiorizado

O canal adutor foi construído com poucos cuidados, por escassez de tempo e extensão da obra, chegando nos troços sobre arcaria, a ter ficado apenas a céu aberto. Poucos anos após a sua construção foi coberto com “cascões”, pedras irregulares e toscamente talhadas, o que melhorou a qualidade da água. O revestimento do interior do canal, com peças pré-fabricadas em material cerâmico não vidrado, moldadas em estaleiros ao longo da obra, eram facilmente desgastadas pela corrente da água. O que obrigou a obras regulares de manutenção, e mesmo à reformulação de diversos troços pouco tempo após o seu funcionamento. O aqueduto era abastecido por várias nascentes. Para além das 28 nascentes e fontes iniciais, muitas foram adicionadas por diversos proprietários permitindo aos seus detentores a utilização de uma determinada quantidade de água, relacionada com a nova quantidade introduzida no cano. Para isso teriam de suportar as despesas inerentes à construção do ramal da nascente que possuíam e a respetiva caixa de água. Traçado do aqueduto (geral) O percurso do canal adutor desenvolveu-se de acordo com a topografia do terreno, sempre que foi possível adossado a este, evitando grandes obras em arcaria, ou a abertura e consolidação de galerias profundas. Tais soluções construtivas necessitariam de mais avultadas verbas, assim como de mais tempo para a sua execução, razões que não agradaria segura- mente à população da cidade, que custeava as despesas da construção do cano real, nem ao rei que necessitava dessa água com urgência por alegadas razões de “saúde pública”. Devido ao clima seco, Évora era local regular de estadia da corte, essencialmente quando a peste alastrava noutras cidades do reino, pois estando a população infetada a corte seria sequencialmente afetada devido à pro­ximidade diária inevitável. Tais limitações nos meios construtivos, assim como a pouca diferença de cotas altimétricas entre a nascente mais distante, situadas para além da igreja da Graça do Divor e a cidade de Évora fizeram com que o declive do canal adutor fosse diminuto e influenciaram grandemente todos os potenciais pontos a abastecer com água do Cano Real. Com uma velocidade de escoamento reduzida, devido à pouca percentagem de inclinação, a qualidade da água era afetada resultando daí diferentes problemas para a saúde pública.

O aquedurto de Água da Prata e o abastecimento de água ao Mosteiro de São Bento de Cástris

José Albuquerque Carreiras

Introdução A água assumiu, no Monte de S. Bento, importância para a comunidade religiosa feminina que aqui se fixou. A característica de local pouco abundante em águas superficiais foi ultrapassada com a busca e execução, de soluções que garantiram uma quantidade e qualidade adequada do tão precioso líquido. O terreno permitiu a prática de uma agricultura de subsistência a esta comunidade religiosa. A existência de água, terrenos férteis e isolamento, características inerentes às casas religiosas pertencentes à Ordem de Cister estavam asseguradas garantindo uma qualidade de vida espiritual e terrena adequada. Localização do antigo mosteiro e área envolvente O Mosteiro de S. Bento de Cástris foi fundado “meia légua” fora da cidade de Évora, para ocidente, num monte isolado, com bons terrenos e existência de água no subsolo. No local existiria apenas a ermida de S. Bento instituída em finais do século XII, em velhas construções de apoio a antiga atalaia militar aí situada. Próximo, D. Urraca Ximenes terá constituído recolhimento religioso feminino que, integrou a Ordem de Cister. Constituiu-se a primeira casa religiosa feminina, fundada em Portugal, a Sul do Rio Tejo. Ficou subordinada aos superiores do Mosteiro de Alcobaça pertencentes à mesma ordem religiosa. Évora já contava com casa religiosa mendicante masculina, localizada a Sul da cidade, fora da muralha. Embora sendo de clausura, o Mosteiro de S. Bento tornou-se amplo, rico e populoso, podendo sustentar uma comunidade com mais de cento e quarenta pessoas. Passados mais de dois séculos após a instalação das religiosas, a construção do Aqueduto da Água da Prata, e o fato do seu traçado em planta ter sido projetado a passar próximo do mosteiro, permitiu um abastecimento suplementar de água à comunidade religiosa. Aqueduto da Água da Prata (edificação) A descrição mais antiga do aqueduto e respetivo traçado consta no Regimento do Aqueduto da Água da Prata, datada de 1606. Nele relata-se que “...a primeira água que entra no Cano Real, é nas minas onde ele tem seu princípio, na herdade de Rui Lobo, além da igreja de nossa Senhora da Graça do Divor [...] tem três palmos de largura, e seis de alto, com suas paredes de pedra e cal, coberto por cima de grandes pedras bem lavradas [...] estes canos [...] a certos passos tem luminarias para dar claridade a quem os visitar por dentro...”.

Ana Rita Moreira | Bárbara Oliveira | Beatriz Teixeira | Inês Reis | Isabel Carneiro | Mª Inês Pinheiro Torres





Traçado do aqueduto (entre S. Bento e Évora) Devido à altimetria, o projeto do aqueduto foi desenvolvido em arcaria no troço compreendido entre S. Bento de Cástris e a muralha da cidade de Évora. Segundo o Regimento, o comprimento do canal adutor entre estes dois locais se- ria, em 1606, 1830 metros. Neste troço existiram duas fontes públicas abastecidas com água do cano real. A primeira a ser aberta foi a Fonte da Prata, ou a S. Bento, tendo “um tanque de 9 palmos de comprimento por 5 de largo”, junto ao Mosteiro de S. Bento. A população da cidade passou a utilizá-la. Mais tarde foi aberta a Fonte das Cinco Bicas “com um tanque de 14 palmos de comprido por seis de largo” cons­truída no troço em arcaria do aqueduto, situada entre o Mosteiro da Cartuxa e o Convento de Santo António da Piedade. Constata-se que, no espaço compreendido entre S. Bento e a cidade de Évora, o Aqueduto da Água da Prata abastecia duas fontes públicas, a de S. Bento e a das Cinco Bicas, e duas casas religiosas, o Mosteiro da Cartuxa e Convento de Santo António da Piedade. Entre estes quatro pontos de água, a de S. Bento era o segundo com maior quantidade de água. Imediatamente após S. Bento, o aqueduto desenvolve-se ainda hoje em arca­ria, antiga, aumentando progressivamente de porte em direção a Évora. Tal antiguidade é relativa considerando que devido à exposição aberta desta zona, a arcaria foi danificada em períodos bélicos, mas reconstruida, devido ao importante papel no abastecimento de água à cidade. Quanto ao troço anterior a S. Bento, verificou-se uma reformulação do traçado em planta, através do encurtamento do seu percurso. Recursos hídricos (S. Bento de Cástris, atual situação) O aqueduto, uma nascente situada no exterior da cerca monástica, uma fonte, diversos poços dispersos, os túneis de drenagem e uma cisterna garantiam um abastecimento de água adequado ao mosteiro. Aqueduto – para além do canal adutor existe a caixa de água, a mais próxima atualmente do portão de acesso ao pátio do antigo Mosteiro de S. Bento de Cástris. Faixa de servidão do aqueduto – essencial para a manutenção do aqueduto. Nascente subterrânea – a água proveniente desta nascente, situada fora do limite da cerca grande, encontra-se canalizada sendo visível algumas das suas caixas de visita no interior da cerca grande. Poços e cisterna – cinco, atualmente selados ou entulhados. Túneis de drenagem – no exterior da cerca pequena existem ainda hoje túneis que seviriam para o encaminhamento de águas podendo pontualmente te­rem assumido diferentes utilizações. Apresentam, devido à ausência de manutenção, em alguns troços, a cobertura abobadilhada abatida encontrando-se as caixas de visita, seladas. Conclusões Desde de 1274, data da sua origem, até ao ano de 2012, decorreram 738 anos de história, neste conjunto monástico. Os diversos recursos hídricos envolventes encontram-se desaproveitados: a água do aqueduto da Água da Prata deixou de entrar no abastecimento público; os poços nas cercas e horta do mosteiro encontram-se selados; os antigos túneis de drenagem têm troços a ameaçar derrocada, inoperacionais e seladas as entradas; a cisterna está esquecida e sem manutenção há anos; a nascente fora da cerca grande e a fonte estão a necessitar de limpeza. A proximidade de Évora, a ampla cerca, os recursos naturais existentes, a vasta área de construção, e a sua história, fazem deste conjunto algo difícil de preservar. Caberá a todos um olhar criterioso na procura de soluções que consigam preservar tão vasto local como um todo. Ter em conta as suas antigas funções e os recursos naturais, torna-se essencial sendo que a escolha de futuras novas funções deverá ter como ponto de partida o existente, adaptando-se a escolha a este. O conhecimento e conservação respeitosa do património são essenciais na sua preservação qualitativa.



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Convento de São Bento de Cástris





O Claustro: Um Espaço Exterior Interiorizado

No ano de 1155, encontrou-se Pedro Uzbertiz a efetuar compra de duas herdades em Beligato e em Linhares, junto a Arganil. O Reguengo de Monsalude Permanece todavia obscuro o facto de a herdade do Pedrógão que tinha sido doada, em 1135, a “Uzbert et Monioni Martiniz et Fernando Martiniz”, aparecer em 1200, como propriedade do rei, com a designação de Reguengo de Monsalude. “As invasões de almorávidas e almóadas, pesaram duramente na maneira de viver dos cristãos, a quem não respeitavam nem a fé nem os usos. Assolados pela guerra, muitos lugares devem ter vivido, na insegurança das pessoas e dos bens”. Em Dezembro de 1187, Pedro Alvarinho e sua mulher venderam ao Mosteiro de S. Pedro de Arganil, a herdade da Murta, no território de Coimbra. Surge, aqui, a primeira referência a Monsalude, antes da designação de Reguengo, permitindo localizar essa cumeeira junto à ribeira do Brás, na freguesia de ­Arega. Não é de excluir a possibilidade, do castelo de Monsalude ter-se localizado na Serra do Castelo, concelho de Figueiró dos Vinhos, onde se comprova a existência de um antigo castro. Comparativamente à antiga herdade do Pedrógão, Monsalude via, agora as suas dimensões territoriais mais reduzidas. D. Pedro Afonso, senhor do grande Reguengo de Monsalude, coincidente com a antiga “hereditate” do Pedrógão, (re)organizou o povoamento de todo este espaço, reservando para si um outro território: “hereditate de contra Pedrogano”. D. Pedro Afonso, benfeitor do Mosteiro de Alcobaça No ano de 1206, D. Pedro Afonso, filho do rei, doou a D. Fernando, Abade de Alcobaça, uma herdade que tinha “in termino de Tomar”. Esta herdade corres­ponde ao Mosteiro de Alcobaça. Situava-se, como vimos, na área meridional do atual concelho de Ferreira do Zêzere. A herdade doada, em 1206, ao Mosteiro de Alcobaça, por D. Pedro Afonso, integrando parte do antigo Reguengo de Monsalude, tinha o seu epicentro em Dornes. Todavia, pouco depois de 1220 e antes de 1225, segundo António Baião, Dornes era já comenda da Ordem do Templo. Isto pressupõe que aceitemos que a herdade de Alcobaça transitou, nessa altura, para a Ordem do Templo, que assim viu ampliados os seus interesses dominiais nos territórios a norte de Tomar e no eixo do rio Zêzere. No termo do primeiro quartel do século XIII, os Cistercienses de Alcobaça entregaram aos Templários estas terras que confinavam com os limites setentrionais do antigo castelo de Ceras. A doação de D. Pedro Afonso, de 1206, ao Mosteiro de Alcobaça, atesta o apreço que este filho natural de D. Afonso Henriques nutria pelos Cistercienses. D. Pedro Afonso, senhor de Monsalude D. Afonso Henriques teve um filho bastardo chamado D. Pedro Afonso, des­conhecendo-se, o nome da sua progenitora, D. Pedro Afonso, aparece documentado entre os anos de 1174 e 121041, tendo ocupado o cargo de alferes-mor. De acordo com José Mattoso: “Vários dos nobres que desempenharam tal função no século XII eram bastardos a que se queria uma certa posição: foi o caso dos filhos ilegítimos de Afonso Henriques, Fernando Afonso e Pedro Afonso”. D. Pedro Afonso, senhor de Monsalude, surge ainda, documentado em maio de 1179, a confirmar os forais de Santarém e Lisboa. No segundo testamento de D. Sancho I, redigido em Coimbra, em Outubro de 1210, reafirma-se a confiança do monarca nos seus executores testamentários, entre eles, uma vez mais, D. Pedro Afonso. É certo que a gratidão de D. Sancho I para com D. Pedro Afonso se traduzirá já com a doação hereditária do Reguengo de Monsalude com seu castelo, atendendo aos serviços prestados. D. Pedro Afonso, re(organizou) o povoamento de todo esse território e outorgou.

Introdução O Mosteiro de Alcobaça terá possuido, em inícios do século XIII, propriedades no antigo Reguengo de Monsalude. O Reguengo de Monsalude localizou-se em parte da antiga “herdade do Pedrógão”. D. Pedro Afonso, alferes-mor do Reino, terá tido a responsabilidade da transmissão do usufruto desse reguengo aos monges de Alcobaça. D. Pedro Afonso doou outras terras, em 1206, próximas de Dornes e Tomar, ao Mosteiro de Alcobaça, afirmando-s, como um dos benfeitores dos monges cistercienses.

D. Pedro Afonso e um seu homónimo Este benfeitor recolhe-se no Mosteiro de Alcobaça e nele veio a falecer. A memória relativa à sua sepultura no Mosteiro de Alcobaça, levanta certas dificuldades de interpretação com a documentação que atualmente se conhece. Temos dois indivíduos com o mesmo nome: aquele que corresponderia à data da inscrição da sua sepultura, 1175, que se encontra hoje perdida, e cujos ossos foram trasladados em 1293, segundo inscrição de 1678; e o D. Pedro Afonso, alferes-mor, senhor de Monsalude, que teria falecido após 1210. Seria D. Afonso de Portugal que se encontraria sepultado na Igreja de S. João de Alporão de Santarém e não D. Pedro Afonso. D. Pedro Afonso terá sido sepultado no Mosteiro de Alcobaça. Pouco se sabe sobre este problema. A insistente tradição da historiografia alcobacense insiste: D. Pedro Afonso ter-se-á recolhido ao Mosteiro e aqui viria a falecer por finais da primeira década do século XIII. São escassas as referências documentais a D. Pedro Afonso depois de 1210. Este terá falecido depois desse ano. De facto, D. Pedro Afonso aparece ainda citado entre legatários do testamento do rei D. Sancho I, de 29 de Dezembro de 1210. O seu decesso, assim, só terá ocorrido após essa data.

A Herdade de Pedrógão O primeiro documento referente à região ocupada, é um diploma régio, datado de 17 de Maio de 1135, em que Afonso Henriques, faz a doação de uma herdade, “Petrogonum”, no “territorio Colinbriensi”, a Monio Martins e a ­Fernando Martins, em recompensa pelos serviços prestados e a prestar. Os seus limites são bem definidos no diploma: pelo monte chamado Sinal de Salomão, pela cumeeira de Alvares, pelas cumeeiras de Soneis e daí pelos cumes de Amioso, pelas cimalhas dos Escalos, por cimalha de Sarzedas, pela cumeeira de Nadavis, daí ao mosteiro de Alge assim pelo sítio onde o Alge entronca no Zêzere e daí até onde se começou. A herdade do Pedrógão, “ia da Serra da Lousã até ao Zêzere, por cabeços de xisto pela maior parte incultos e desaproveitados”, esta herdade era uma extensa propriedade de terreno, que ia desde a serra da Lousã para o Zêzere, da Pampilhosa da Serra à ribeira do Alge, o que não pode corresponder inteiramente à verdade uma vez que esta herdade não abrangia o concelho da Pampilhosa da Serra mas sim o de Góis.

Conclusão 1. Na antiga “hereditas” de Pedrógão (1135) surgiu o vasto Reguengo de Monsalude, cujos termos se estendiam desde Góis a Pedrógão Grande, de Castanheira de Pera a Figueiró dos Vinhos. 2. Em 1200, esse território foi doado a D. Pedro Afonso que o (re)povou e senhoriou, nele estabelecendo concelhos, reservando terras para si e doando outras a instituições monásticas como sucedeu com Alcobaça. 3. O Mosteiro de Alcobaça, todavia, transferiu as suas terras no Reguengo de Monsalude para a Ordem do Templo, antes de 1225. 4. Os elementos expostos permitem-nos, deste modo, revisitar uma página pouco conhecida da presença de Cister, em Portugal, no seu primeiro século de história. 5. Há que reconhecer que os cistercienses tiveram, em D. Pedro Afonso, um dos seus benfeitores e, a estar certa a tradição cronística alcobacense sobre ele, também um dos seus “fratres” ou, mais provavelmente, familiares.

Indícios de Cister em terras de Monsalude (Figueiró dos Vinhos) séculos XII-XIII

José Albuquerque Carreiras

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Convento de São Bento de Cástris





O Claustro: Um Espaço Exterior Interiorizado

A Arquitectura Religiosa do Alto Alentejo na segunda metade do século XVI e nos séculos XVII e XVIII Humberto Reis e Mário Chicó

Convento de São Bento de Cástris recebe Museu Nacional da Música

Évora Mosaico

O tema é consagrado ao Convento de Cástris, que poderá salvar-se do estado de ruína se nele vier a instalar-se até 2014 o Museu Nacional da Música. O convento é o refúgio de freiras mais antigo do país e a fundação monástica mais antiga a sul do Tejo. Só perdeu o estatuto religioso em 1890, com a morte da última freira. Foi arrolado a favor do Estado, recebendo a classificação de Monumento Nacional em 1922. Durante alguns anos acolheu o Asilo Agrícola e Industrial, recebendo crianças e jovens abandonadas que ali faziam a escola. De 1960 a 2005 serviu a secção masculina da Casa Pia de Évora. Depois ficou devoluto, enquanto no Ministério da Cultura se procurava encontrar uma solução para o seu futuro. Chegou a ser dada como certa a sua venda para o transformar num hotel de luxo, quando o Secretário de Estado da Cultura revelou que o Museu Nacional da Música iria ser transferido de Lisboa para o Convento de S. Bento de Cástris, num processo de 4 anos por financiamento comunitário. Gabriela Canavilhas elucidou que em Évora iria ser criada «uma mega-estrutura para a música, um espaço de acolhimento para instituições musicais e da historiografia, tal como para o arquivo sonoro». O Convento de S. Bento de Cástris oferece as condições para a receber. Arquitectonicamente o Convento corresponde ao pretendido, sendo um espaço com grande potencial de crescimento que poderá acolher residências artísticas e ser sede de uma orquestra do Alentejo. Fundado em 1274 por D. Urraca Ximenes, da Ordem de Cister, só a partir do reinado de D. Manuel ga­nhou a feição que ostenta, mercê de obras de remodelação e alargamento do seu espaço físico. A entrada faz-se por um pórtico rematado por um frontão triangular com as armas e as imagens dos padroeiros da Ordem: S.Bernardo de Claraval e S. Bento de Cástris. Toda a construção se ergue em torno de um claustro central de dois e três andares, sendo o inferior com arcos de ferradura e os outros com arcos de volta abatida e onde se conjugam elementos góticos, manuelinos, mudejares e da renascença. Na igreja merecem realce a nave de abóbada nervurada de estilo manuelino, e os alçados de azulejos azuis e brancos com cenas da vida de S. Bernardo, da Real Fábrica do Rato, em estilo rococó. Outros corpos se impõem pela sua beleza, como as salas capitulares, separadas por colunas toscanas, e o refeitório, com cobertura pintada a fresco e rodapé de azulejos. O Convento está situado fora das muralhas, a 2km da cidade, no Alto de S. Bento, em zona arborizada e visualmente desafogada. É um «enquadramento geográfico deveras interessante». O acesso é fácil e nas imediações pode cons­truir-se um parque de estacionamento. É neste cenário que vai ficar, a partir de 2014, a colecção depositada na estação do Alto dos Moinhos do Metro de Lisboa. Aguarda-se o começo das obras.

Ana Rita Moreira | Bárbara Oliveira | Beatriz Teixeira | Inês Reis | Isabel Carneiro | Mª Inês Pinheiro Torres





A Região do Alto Alentejo tem sido olhada, sob o aspecto monumental, como um prolongamento do Norte do Pais. Quase desconhece a arte românica, aceitando tardiamente as formas góticas e renascentistas, mantendo-as até uma época muito avançada. A segunda metade do século XVI começa no final do reinado de D.João III. Nesta época são construídas várias igrejas de uma só nave muito larga, cujos alçados acusam a influência da arte no seu tempo e os sistemas de cobertura são constituídos por abóbadas nervuradas distintas das manuelinas. Só na capela-mor as cúpulas semiesféricas substituem pouco a pouco as abóbadas de ogivas. Nestas igrejas a massa envolvente é muito simples e a iluminação faz-se por frestas rectangulares. As fachadas são amparadas por contrafortes oblíquos, e os pórticos são cobertos de abóbadas estreladas que repousam em mísulas renascentistas. São exemplo a igreja dos Lóios de Arraiolos, a matriz do Alandroal e a do Vimeiro, S.Bartolomeu de Borba, S.Mamede de Évora e outras de menores dimensões. O tipo de monumento mais numeroso e importante é o das igrejas-salões. As proporções, disposição interior e massa envolvente destas, assemelham-se às igrejas de Arroches, Pavia e à igreja da Luz de Tavira. Este tipo de igrejas não têm transcepto e são, no geral, de grandes dimensões. O corpo é constituído por três naves cobertas de abóbadas assentes em ogivas de secção rectangular que partem de colunas interpenetradas livremente, e a cabeceira compõese de uma ou de três capelas cobertas de cúpulas semiesféricas ou de abóbadas de aresta. São variantes deste monumento os de planta rectangular com cobertura de madeira e os de planta quadrada. A introdução do Renascimento no Alto Alentejo dá-se em 1529 (Capela do Esporão da Catedral de Évora). Em algumas igrejas as abóbadas nervuradas persistem e noutras adopta-se o emprego de cúpulas de secção poligonal ou circular (Igreja das Domínicas de Elvas e Igreja do Bom Jesus de Valverde). A planta desta última igreja, edificada por Manuel Pires, é constituída por cinco capelas octogonais que são cobertas de cúpulas semiesféricas das quais a central assenta num tambor. No último terço do século XVI, Afonso Álvares edifica em Évora a igreja do Convento do Calvário – de nave única, coberta de abóbada de berço dividida por arcos torais que assentam em pilastras de pequeno balanço: um dos principais pontos de partida das construções religiosas mais representativas da arte alentejana do séc XVII. A igreja da Cartuxa e a do Colégio do Espírito Santo são casos especiais na evolução da arquitectura do Alto Alentejo. No inicio do século XVII a arquitectura religiosa tem no Alto Alentejo maior unidade do que a dos princípios da segunda metade do século anterior. As capelas e igrejas seiscentistas de Borba, Évora, Vila Viçosa, Estremoz e Castelo de Vide diferem em pormenores que não afectam a estrutura nem a noção de espaço. As mais representativas são as igrejas de nave alta, de proporções elegantes, paredes lisas ou divididas por pilastras, e revestidas de azulejos policromados, de tapete. A cobertura compõe-se de abóbadas de berço pintadas, e a capela-mor, pouco profunda, é coberta de abóbada de berço ou por uma cúpula. No coro é aplicado o mesmo sistema de cobertura ou uma abóbada de berço ligeira e quase plana, que repousa numa rede de nervuras de aresta viva que se interpenetram e estão dispostas obliquamente como as dos Claustros da Graça de Évora, dos Lóios de Arraiolos, da sacristia de S.Bento de Cástris, entre outros. No final do século XVII as fachadas principais são geralmente constituídas por um corpo largo e avançado que repousa num arco abatido, e no qual se abrem as janelas que iluminam o coro. Este corpo é, em geral, ladeado de torres estreitas. O século XVII é para a arquitectura do Alto Alentejo uma época de decadência. Apenas a capela-mor da Catedral de Évora e a igreja de São João Baptista de Campo Maior têm grande importância na evolução da arquitectura portuguesa. Em muitos monumentos medievais e renascentistas nesse século modificados, painéis de azulejo com cenas religiosas ou profanas mascaram as paredes das naves e das capelas. A cal reveste colunas e pilares de cantaria, e ornatos de massa, por vezes modelados grosseiramente mas com exuberância, coroam as fachadas das igrejas da segunda metade do século XVI que haviam ficado por terminar. Três correntes dominam a arquitectura religiosa da região. À primeira per­tencem as igrejas de nave única e de abobadas pintadas ou decoradas de caixotões pouco salientes; e paredes com poucas aberturas revestidas de azulejos; existem também grandes composições barrocas de talha dourada no altar e capela-mor. A segunda provoca maiores modificações na disposição dos altares e nos coroamentos dos alçados do que na estrutura; no inicio reflecte a influência do “estilo” de João Ludwig e, mais tarde, a das igrejas edificadas em Lisboa após o terramoto de 1755. Nesta corrente, os camarins dos tronos da capela-mor e das outras capelas têm em geral maiores dimensões; a talha é substituída por mármore policromado e estuque. O terceiro grupo é o mais importante e complexo nas fontes de ins­piração. Aqui pertencem as construções de José de Abreu, com alçados lisos – caiados e sem pilastras, e os sistemas de cobertura combinam abobadas de volta perfeita com pequenas penetrações destinadas a facilitar a iluminação, com abobadas de aresta e, às vezes, com cúpulas oitavadas ou circulares, bai­xas e sem tambor. Excepto a da igreja do Senhor da Proeza em Évora, as plantas são dife­rentes das do século XVII mas muito simples. Nalgumas das mais típicas a nave é pouco mais extensa do que a capela-mor e o cruzeiro só no exterior é verdadeiramente visível. São exemplo a igreja da Piedade de Elvas, cujas torres são dispostas obliquamente, e a do Convento Novo de Évora. Na composição da fachada principal as diferenças são maiores quanto às proporções e aberturas e quanto à decoração.



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Convento de São Bento de Cástris





O Claustro: Um Espaço Exterior Interiorizado

Arte e evolução do estilo Manuelino

A Arte Portuguesa do gótico final e o estilo manuelino

Mário Chicó

A Arte manuelina descende da arte portuguesa do século XV e do estilo ele­gante e requintado de Huget. “Manuelino” é uma designação recente. São considerados monumentos manuelinos: os monumentos do gótico final português em que a planta, a composição dos alçados, o espaço, a iluminação e as combinações de volumes ficam presos à arte tradicional e só a decoração e as proporções são diferentes; os que já denotam alguma influência decorativa e espacial do Renascimento, embora conservem a estrutura gótica e sejam revestidos por uma decoração exuberante; aqueles que são fiéis à arte luso-mourisca. Por tudo isto, o manuelino entrou na História da Arte como um estilo decorativo devido às composições esculturais das fachadas, os ornatos exuberantes dos arcos e dos pilares, a vegetação intensa das ombreiras e arquivoltas dos portais e das “grilhagens” que constituem os aspectos conside­rados mais característicos da arte manuelina, nos reinados de D. João III, D. Manuel e D. João II. No período compreendido entre o final do reinado de D. João II e D. Manuel, as plantas caracterizam-se por serem muito simples, de uma a três naves, corpo rectangular, cinco tramos, transepto suprimido e cabeceira quadrangular com um dois tramos de igual profundidade, ladeada de capelas, nas igrejas de maiores dimensões. Os pilares simplificam-se ou são substituídos por colunas de secção circular ou octogonal, os arcos divisórios das naves são quebrados ou de volta perfeita. Muitas vezes são utilizados, em pedras de fecho das abóbadas, por exemplo, elementos heráldicos e motivos eruditos. As igrejas das ordens mendicantes, pela semelhança que apresentam entre as alturas das naves centrais e laterais, assemelham-se aos modelos das “hallekirche”, em que as três naves têm aproximadamente a mesma altura, como é o caso da Igreja de Santa Maria de Belém. Os monumentos manuelinos apresentam quatro tipo de abóbadas: ogivas simples, estrelas de quatro pontas com ou sem ogivas, que podem apresentar algumas variantes; abóbadas assentes em rede de nervuras; abóbadas de berço, quebradas cujas arestas são mascaradas por nervuras como as da capela-mor da Batalha. Há três tipos de fachadas: com duas torres com poucas aberturas que avançam e comprimem o corpo central; uma torre apenas, mais robusta do que o resto da construção, dividida em andares por grossos calabres e em que no andar ao inferior se abre um pórtico ao fundo através do qual se acede à nave central e fachadas sem torres, que já aparecem na época românica.

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O capítulo em questão visa preencher uma das lacunas da história da arte portuguesa sobre a arte manuelina, elevada à hierarquia de um estilo. A informação existente era dispersa, sem unidade de composição e conceito. O manuelino não era um gótico degenerado e o seu estilo plástico era o oposto da decoração plateresca pelo sentido dos volumes e visão em profundidade. Pode-se destacar três correntes essenciais no período manuelino representado pelos arquitectos mais importantes Boitaca, Mateus Fernandes e os Arrudas. A arte de Boitaca, considerado o mestre das obras do Reino está representada pelas obras da Sé da Guarda, de Santa Cruz, Paços de Coimbra, o pavilhão da sala dos brazões de Sintra, entre outras. Os Arrudas são considerados os mestres das obras do Alentejo e são representados pelas igrejas de Moura e Viana. Como é evidente estes não foram os únicos arquitectos da arquitectura manuelina, mas foram os essenciais que depois influenciaram os outros arquitectos. O estilo manuelino teve uma curta duração, abrangendo, no entanto, o ciclo de uma geração do próprio reinado de D. Manuel. A sua influência foi considerável tanto pelo número de das construções manuelinas, como pelas ressonâncias regionais que em todo o País se traduzem pela sobrevivência de dezenas de portais, janelas, torres, naves claustros e fachadas. As descobertas marítimas e as suas consequências económicas e civilizadoras representam um acontecimento capital na história do Renascimento europeu. O renascimento manuelino surge da descoberta de mundos novos, sendo considerada uma arte atlântica. Por esse motivo, a arquitectura em Portugal não podia exprimir o seu espírito criador pelas formas faustas como acontecia com o gótico. Não é apenas a sua originalidade que confere uma legitima autonomia ao manuelino, é também o seu significado histórico dentro do renascimento europeu. O maior problema do manuelino é a identificação dos mestre das obras capitais e a caracterização do seu estilo. Contrariamente ao gótico que surge dum prolongamento de uma arte anterior e do Renascimento cujas formas são o inicio de uma futura revolução, do manuelino aparecem obras de estilo original que são consideradas manuelino autóctone. No inicio do século XVI emergiram um conjunto de monumentos com ca­racterísticas de hibridez, flamejante ou plateresca, que são introduzidas pelos mestres biscainhos e galegos na arte do Entre-Minho e Douro no reinado de D. Manuel (A Matriz de Caminha; a Matriz de Vila do Conde; a capela de Santana, entre outras). Todas os obras dos biscainhos constituem uma página de notável valor arquitectónico e decorativo na arte do reinado de D. Manuel, não podendo ser no entanto integrado no estilo manuelino cujos mestres foram todos portugueses. A originalidade da corrente manuelina é julgada dentro da heterogeneidade das obras do reinado e não da unidade do estilo autóctone. Esta sobreposição de estilos diversos- gótico terminal, manuelino original e plateresco- no mesmo reinado, é considerado um aspecto dum fenómeno geral da evolução artística. Esta é uma época de prosperidade e glória e cuja forte personalidade dos artistas manuelinos deu forma ao sopro de inspiração renovadora que dos novos mundos fluiu a arte portuguesa. Existem duas obras manuelinas que podem ser consideradas as primeiras com formas orgânicas e decorativas: a Igreja de Jesus de Setúbal (construída pela ama de D Manuel) e a Senhora do Pópulo nas Caldas da Rainha. Houve vários mestres manuelinos, no entanto pode-se destacar Boitaca, Mateus Fernandes, os Arrudas e Diogo Castilho. A primeira referência a Boitaca (mestre das obras do reino) é a sua intervenção no Convento de Jesus em Setúbal, mas a sua obra essencial deve ter sido o Mosteiro de Belém. Os seus temas habituais eram a decoração orgânica, as colunas torcidas, arcos redondos e os capitéis com meias esferas. A planta dos Jerónimos, a decoração das suas grandes frestas e, uma parte do portal sul, o transepto da igreja e outros elementos pertencem à arte de Boitaca. Apesar do seu grande legado de obras, muitas delas foram depois reformuladas por Diogo de Castilho. O mestre Mateus Fernandes foi o mestre principal do Mosteiro da Batalha, sendo que este foi posteriormente continuado por Boitaca. O que caracte­riza as obras do mestre Fernandes é o sentir-se na sua composição, na sua própria escolha dos temas e no espírito plástico com que são interpretados, a formação gótica do artista. O seu estilo contrapõe-se aos temas gordos e intumecidos da arte de Boitaca e as suas bases e perfis são essencialmente góticos. Onde é mais explicita a diferença entre estes dois mestres é nos temas preferidos, nos perfis das colunas e nas bases, sobretudo no espírito com que a pedra é cortada. É de Diogo Arruda, irmão mais velho de Francisco Arruda, o monumento mais expressivo do estilo manuelino mantendo-se um reflexo da missão histórica que simboliza. As janelas da nave de Tomar foram concebidas através da mais estranha imaginação que um arquitecto teve em Portugal. A sua decoração recorre a ondas e a cordas cujos nós se atam-se constantemente numa tentativa de conter o dinamismo desta criação impetuosa. Este carácter de composição está tão fora das características do gótico o que torna este estilo um fácil reconhecimento. Francisco Arruda ( Torre de Belém) é considerado o mestre manuelino que reflete na ornamentação a sua obsessão da terra alentejana e do mar, sendo considerado o artista mais naturalista do manuelino.







FAUP | História da Arquitetura Portuguesa | 2013-2014 | Página 00 53

Convento de São Bento de Cástris





O Claustro: Um Espaço Exterior Interiorizado

mundo interior, “de dentro”, e o mundo exterior, “de fora”. A arquitectura conventual é também uma arquitectura de representação, em que mais do que a funcionalidade estrita interessa a forma como é encenada, isto é, para além de responder a um determinado uso tinha uma função ideológica. A clausura feminina implica, não só a separação física, mas também a limitação do olhar. As freiras deviam estar fora do olhar do público, o que implicou a invenção de dispositivos de mediação do olhar, de que são exemplo as grades ou os mirantes. Mas a relação é desigual já que nestes sistemas as freiras não eram vistas mas podiam ver. (…) o poder de ver sem ser visto. A arquitectura serve aqui como uma metáfora do corpo e é analisada do ponto de vista da política do olhar ou de “óptica do poder”, já que as freiras cons­truíam mirantes que olhavam sobre a cidade circular. Os conventos femininos ligavam conceitos antagónicos com o público e privado, religioso e secular, votos de pobreza e dotes ricos, regras de estrita clausura e relações urbanas. A primeira abordagem tende a promover leituras da arquitectura conventual como sinal de obediência, conformidade e observância religiosa – os espaços mudos e simples, corredores brancos e celas despojadas. Um (…) conceito fundamental no que respeita ao monaquismo feminino é o de clausura. Clausura refere-se quer ao estado de permanecer encerrado, quer à estrutura material que encerra, quer à regra que requer que alguém seja enclausurado. (…) Clausura refere-se também à obrigação assumida pelas religiosas professas de permanecer no convento e evitar contactos desnecessários com os leigos, e que inclui a proibição de estes acederem a áreas do convento ocupadas pelas monjas. Concílio de Trento, 1564: - Reforçava a diferença entre mosteiros masculinos e femininos; - Ninguém podia viver nestes mosteiros, a não ser as religiosas; - As religiosas não podiam ir a casa dos seus pais ou familiares; - Abrir poucas vezes a porta que vem do coro para a igreja; - Em mosteiro algum pode haver mais do que dois parlatórios; - Eliminar abusos e intensificar a vida comunitária. A arquitectura foi arregimentada para representar e fortalecer a virgindade. (…) as aberturas e os pontos de acesso tornaram-se as partes mais expostas do convento. Só em circunstâncias extraordinárias, como as visitas, o espaço conventual era acessível a pessoas externas e, por vezes, alguns desses espaços, como o coro, eram apenas acessíveis a uma elite de entre as religiosas. A organização arquitectónica era acompanhada por regulamentos que tentavam controlar os acessos, mantendo os visitantes separados das freiras e as freiras separadas umas das outras. 1298 – Papa Bonifácio VIII promulgou uma bula para enfrentar os abusos, os maus costumes e os escândalos, codificando para as mulheres religiosas um preciso ideal de perfeição. 1537 – Santa Sé recomendava atenção às aberturas e às vistas: fechar e colocar grades nos parlatórios; tapar as janelas por cima das ruas de onde as freiras possam ser vistas; tapar as janelas do jardim e guarnecer as mesmas com barras; subir as paredes que se opunham a edifícios e ruas.

A arquitetura dos conventos femininos

Luís Urbano

A inserção de um convento feminino na sociedade e no espaço (…) responde a relações de osmose. (…) O contacto entre o espaço monástico e o que lhe é exterior não implica duas realidades independentes que se excluem mutuamente. A fronteira que se estabelece manifesta um desejo óbvio e radical de separação mas também um complexo processo de negociação. (…) os coros, os confessionários, os parlatórios, a roda, a grade, os mirantes, os pátios ou a cerca, fazem a mediação entre um

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(…) A virgindade pode ser marcada arquitectonicamente. (…) as metáforas de porta clausa, claustra, hortus conclusus e fons signatus costumavam descrever a virgindade e a sua protecção, é em si própria arquitectónica, evocando um espaço defendido, encerrado e selado. (…) o que é particularmente interessante na arquitectura dos conventos femininos é essa capacidade de simultaneamente articular um discurso de visibilidade, através de uma forte presença urbana, e invisibilidade, já que as suas ocupantes raramente se vislumbravam. (…) a arquitectura regulava o corpo das freiras, tornava algumas acções possíveis, outras impossíveis. Mais do que isso, a arquitectura representava o comportamento; esse comportamento podia ser comprovado e determinado pela arquitectura. (…) os edifícios conventuais eram, assim, uma metáfora do corpo virginal feminino, e mesmo que os visitantes fossem mantidos do lado de fora, as ansiedades sobre um indesejado contacto físico permaneciam. Portais pronunciados, entradas estreitas acessíveis apenas através de portões de aço e inclinados lanços de escadas, elaboradas portarias com pesadas portas de madeira flanqueadas por rodas que evitavam o contacto entre interior e exterior, mas permitiam a passagem de bens nas duas direcções (…) (…) Se os espaços comunitários dos conventos fossem demasiado confinados, temia-se que os corpos das freiras se pudessem tocar, num evidente medo que o prazer carnal emergisse de dentro do edifício de respeitabilidade e de que a perda do controlo da mente e do corpo ameaçasse a instituição que se dedicava a subjugá-los. (…) Percursos separados permitiam às freiras circular pelo convento, através de claustros, corredores, passagens, galerias, inclusivamente no interior das paredes da igreja. (…) Essas passagens mantinham os corpos das freiras invisíveis mas potenciavam e tornavam permanentemente perceptível a sua presença. (…) Apesar dos regulamentos e regras impostas, em duas áreas dos complexos conventuais, o parlatório e a igreja, os corpos das freiras e dos visitantes eram pontos focais de ansiedade, já que aí homens e mulheres podiam estar cara a cara com as freiras enclausuradas. (…) a arquitectura permitia a troca verbal mas deixara os corpos cuidadosamente separados numa relação de simetria. Localizados no limite da clausura, os parlatórios consistiam em dois espaços separados, um interior para as freiras, e outro exterior para os visitantes, sepa­rados por janelas duplamente gradeadas. (…) Por vezes os visitantes eram também separados por género, existindo parlatórios para visitantes masculi­nos, e outros para visitantes femininos. (…) As freiras e os visitantes partilhavam também a igreja conventual. (…) Nas igrejas o convento encontrava-se com a cidade. (…) Os parlatórios ofereciam oportunidades de contacto entre as freiras e os leigos, mas o risco de contacto indesejado, incluindo o contacto visual, era expresso com especial intensidade no interior das igrejas. Por mais importante que fosse a clausura no complexo conventual, era na igreja que se encontrava maior tensão.



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