\"Convento de São Francisco da ponte, Coimbra. Fase I\", Relatório Final de Trabalhos Arqueológicos, aprovado por IGESPAR, Junho de 2009

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TRABALHOS ARQUEOLÓGICOS NO ÂMBITO DAS OBRAS DE CONSOLIDAÇÃO ESTRUTURAL NO CONVENTO DE SÃO FRANCISCO DA PONTE SANTA CLARA – COIMBRA

VOLUME I VOLUME II E

VOLUME III

RELATÓRIO FINAL

JUNHO DE 2009

TRABALHOS ARQUEOLÓGICOS NO ÂMBITO DAS O BRAS DE C ONSOLIDAÇÃO ESTRUTURAL NO C ONVENTO DE SÃO F RANCISCO DA P ONTE SANTA CLARA – C OIMBRA

RELATÓRIO FINAL

JUNHO DE 2009

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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INDÍCE GERAL

1ª Parte – Estudo da Arquitectura

1. Enquadramento dos Trabalhos Arqueológicos 1.1. Introdução 1.2. Metodologia 2. Recursos Humanos 3. O Convento de S. Francisco da Ponte 3.1. História do Convento de s. Francisco da Ponte 3.2. O edifício Actual 3.2.1. Piso 0 3.2.1.1. Piso 0 – Ala Este 3.2.1.2. Piso 0 – Ala Norte 3.2.1.3. Piso 0 – Ala Sul 3.2.2. Piso 1 3.2.2.1. Piso 1 – Ala Este 3.2.2.2. Piso 1 – Ala Norte 3.2.2.3. Piso 1 – Ala Oeste 3.2.2.4. Piso 1 – Ala Sul 3.2.3. Piso 2 3.2.3.1. Piso 2 – Ala Este 3.2.3.2. Piso 2 – Ala Norte 3.2.3.3. Piso 2 – Ala Oeste 3.2.3.4. Piso 2 – Ala Sul 3.2.4. Claustro

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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3.2.4.1. Ala Este – Piso 1 3.2.4.2. Ala Este – Piso 2 3.2.4.3. Ala Norte – Piso 1 3.2.4.4. Ala Norte – Piso 2 3.2.4.5. Ala Oeste – Piso 1 3.2.4.6. Ala Oeste – Piso 2 3.2.4.7. Ala Sul – Piso 1 3.2.4.8. Ala Sul – Piso 2 3.2.5. Os Alçados exteriores 3.2.5.1. Alçado Este 3.2.5.2. Alçado Norte 3.2.5.3. Alçado Oeste 3.2.5.4. Alçado Sul 4. Considerações Finais 4.1. Os Edifícios Preexistentes 4.2. Uma Construção Faseada 4.3. Reutilização de Materiais Construtivos 4.4. O Claustro Principal

2ª Parte – Estudo do Sistema Hidráulico

1. Introdução 2. Recursos humanos 3. Sistema Hidráulico Conventual 3.1. Captação 3.1.1. Captação de águas subterrâneas 3.1.2. Captação de águas pluviais 3.2. Adução Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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3.3. Armazenamento 3.4. Distribuição 3.5. Escoamento 3.5.1. Conduta de abastecimento 3.5.2. Caixa de visita 3.5.3. Cloaca de escoamento 3.5.4. Considerações sobre a latrina não detectada 3.5.5. Escoamento de águas pluviais 4. Anexo gráfico (Sistema Hidráulico Conventual) 5. Outras estruturas hidráulicas 5.1. Sala do capítulo 5.2. Claustro 5.3. Parque de estacionamento 6. Considerações finais

3ª Parte – Sondagens Prévias e Acompanhamento Arqueológico da Empreitada

1. Enquadramento dos trabalhos arqueológicos 1.1. Introdução 2. Objectivos e metodologias 3. Meios técnicos e recursos humanos 4. Resultados obtidos 4.1. Sondagens arqueológicas de diagnóstico 4.1.1. Sondagem 1 4.1.2. Sondagem 2 4.1.3. Sondagem 3 4.1.4. Sondagem 4 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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4.2. Sondagens arqueológicas realizadas no âmbito do estudo do sistema hidráulico conventual 4.2.1. Sondagem 5 4.2.2. Sondagem 6 4.2.3. Sondagem 7 4.2.4. Sondagem 8 4.2.5. Sondagem 9 4.2.6. Sondagem 10 4.2.7. Sondagem 11 4.2.8. Sondagem 12 4.2.9. Sondagens 13 e 14 4.3. Acompanhamento arqueológico 4.3.1. Consolidação arquitectónica 4.3.1.1. Piso 0 4.3.1.2. Piso 1 4.3.1.3. Piso 2 4.3.1.4. Claustro 4.3.2. Remoção de terras 4.3.2.1. Logradouro 4.3.2.2. Claustro 4.4. Espólio 4.4.1. Espólio cerâmico 4.4.2. Espólio pétreo 5. Considerações finais 5.1. Depósito de Materiais 5.2. Ficha de Sítio 6. Bibliografia

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Anexo fotográfico Anexo gráfico

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Iª PARTE

ESTUDO DA ARQUITECTURA

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INDÍCE

1ª Parte – Estudo da Arquitectura

1. Enquadramento dos Trabalhos Arqueológicos 1.1. Introdução 1.2. Metodologia 2. Recursos Humanos 3. O Convento de S. Francisco da Ponte 3.1. História do Convento de s. Francisco da Ponte 3.2. O edifício Actual 3.2.1. Piso 0 3.2.1.1. Piso 0 – Ala Este 3.2.1.2. Piso 0 – Ala Norte 3.2.1.3. Piso 0 – Ala Sul 3.2.2. Piso 1 3.2.2.1. Piso 1 – Ala Este 3.2.2.2. Piso 1 – Ala Norte 3.2.2.3. Piso 1 – Ala Oeste 3.2.2.4. Piso 1 – Ala Sul 3.2.3. Piso 2 3.2.3.1. Piso 2 – Ala Este 3.2.3.2. Piso 2 – Ala Norte 3.2.3.3. Piso 2 – Ala Oeste 3.2.3.4. Piso 2 – Ala Sul 3.2.4. Claustro 3.2.4.1. Ala Este – Piso 1 3.2.4.2. Ala Este – Piso 2 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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3.2.4.3. Ala Norte – Piso 1 3.2.4.4. Ala Norte – Piso 2 3.2.4.5. Ala Oeste – Piso 1 3.2.4.6. Ala Oeste – Piso 2 3.2.4.7. Ala Sul – Piso 1 3.2.4.8. Ala Sul – Piso 2 3.2.5. Os Alçados exteriores 3.2.5.1. Alçado Este 3.2.5.2. Alçado Norte 3.2.5.3. Alçado Oeste 3.2.5.4. Alçado Sul 4. Considerações Finais 4.1. Os Edifícios Preexistentes 4.2. Uma Construção Faseada 4.3. Reutilização de Materiais Construtivos 4.4. O Claustro Principal

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1. ENQUADRAMENTO DOS TRABALHOS ARQUEOLÓGICOS

1.1. INTRODUÇÃO

O presente relatório reporta-se aos trabalhos arqueológicos desenvolvidos no âmbito do projecto de reabilitação estrutural do Convento de São Francisco da Ponte, no que diz respeito à análise da arquitectura do edifício. Exceptua-se a igreja e respectivas capelas, que por se encontrarem inseridas num projecto de reabilitação distinto, não se encontra contemplada no presente estudo.

1.2. METODOLOGIA Num procedimento habitual, a análise arqueológica de um edifício arquitectónico proceder-se-ia através do registo estratigráfico efectuado sobre levantamentos gráficos dos alçados. Perante a sua inexistência, optámos por proceder a uma descrição detalhada dos diversos espaços, ilustrada pelo levantamento fotográfico de cada elemento, referenciado em planta. Não obstante, para o denominado alçado Sul, foi elaborada uma análise mais detalhada, segundo os princípios consagrados pela arqueologia da arquitectura, uma vez que neste caso concreto ocorreram duas condições fundamentais: a existência do levantamento arquitectónico e o facto do alçado se encontrar desprovido de reboco. Uma vez que o edifício de São Francisco da Ponte apresenta uma enorme complexidade arquitectónica, resultante, entre outros aspectos, das diferentes fases de ocupação do espaço (pré-conventual, conventual e industrial), da grande quantidade de compartimentos e da diversidade tipológica dos métodos e dos elementos arquitectónicos empregues, foi inevitável proceder a uma estruturação do estudo da sua arquitectura, com vista a torná-lo mais simples e mais compreensível. Deste modo, procedemos ao estudo arquitectónico do edifício de acordo com os três pisos que o constituem, os pisos 0, 1 e 2, sendo cada um destes pisos divididos por alas, as alas Este, Norte, Oeste e Sul. Cada uma destas alas foi, por sua vez dividida nos respectivos compartimentos, quer estes ainda estivessem presentes, quer tenham

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já desaparecido, sendo denunciados, por exemplo pelos negativos das suas paredes. Estes compartimentos foram então numerados da esquerda para a direita. A cada um dos espaços analisados passa assim a estar atribuído um piso, uma ala e um número. No início da análise de cada piso apresentamos uma planta do mesmo, onde se assinalam as diferentes alas e onde consta a numeração dos compartimentos. Optámos por apresentar plantas onde são recriadas, com base nos elementos recolhidos, as suas configurações à época conventual, pois apenas deste modo podemos ilustrar alguns compartimentos aos quais nos referimos, mas que por vezes não chegaram aos nossos dias. Não obstante, no início da análise de cada compartimento fazemos incluir uma planta do mesmo, tal como se apresenta actualmente, pois somente desta forma podemos ilustrar as características actuais dos seus vãos e paramentos, tal como as observámos e descrevemos. Do mesmo modo, acrescentamos à descrição de cada um dos compartimentos as referências bibliográficas ao mesmo, quando existentes, no sentido de apurar a sua funcionalidade

à

época

conventual.

Relativamente

à

funcionalidade

dos

compartimentos à época industrial, foi referida apenas nos casos em que as alterações físicas dos espaços decorrentes da mesma assim justificavam. No final da análise de cada piso, incluímos ainda uma planta completa do mesmo, tal como se encontra configurado actualmente, onde assinalamos as intervenções decorrentes das diferentes épocas de ocupação deste edifício. Do mesmo modo, incluímos no final da análise de cada piso uma planta onde se encontram assinalados os locais constantes das fotografias apresentadas para ilustrar as descrições do mesmo. Lembramos que do presente estudo não faz parte a igreja de São Francisco da Ponte, uma vez que esta não está abrangida pela presente empreitada. Por último resta-nos referir que devido à extensão do texto agora apresentamos, optámos pela inclusão das fotografias ao longo do próprio texto para uma facilidade de leitura a quem não conhece pessoalmente o espaço. Relativamente ao capítulo destinado às sondagens prévias e acompanhamento arqueológico, as fotografias apresentam-se em anexo próprio e em papel de qualidade fotográfica. Não obstante todas as fotografias encontram-se igualmente em suporte digital.

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2. RECURSOS HUMANOS Os trabalhos, dos quais resultou a elaboração do presente relatório, foram executados pelos arqueólogos António Ginja e Mónica Ginja, licenciados em Arqueologia e História pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Contaram com a colaboração da historiadora de arte Helena Pereira, nomeadamente na análise do alçado Sul da ala Sul do claustro. Os levantamentos gráficos, designadamente, as plantas gerais apresentadas no final de cada capítulo, foram efectuadas em colaboração com o Sr. Ricardo Silva e o Sr. Luís Piedade, ambos técnicos da empresa BEL, S.A., encarregue da empreitada, a quem agradecemos. Uma palavra especial de apreço ao Prof. Doutor António Pimentel, à Prof. Doutora Lurdes Craveiro e à Dr.ª Berta Duarte, pelos esclarecimentos prestados aquando das suas visitas ao local.

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3. CONVENTO DE SÃO FRANCISCO DA PONTE 3.1. HISTÓRIA DO CONVENTO DE S. FRANCISCO DA PONTE

O actual Convento de S. Francisco da Ponte, fundado no século XVII, deve o seu nome ao seu congénere medieval desaparecido sob as areias do Mondego. Com efeito, o primitivo convento encontrava-se localizado na margem esquerda do Mondego, junto à antiga ponte Afonsina que lhe terá conferido tal denominação. Fundado em meados do século XIII, acabou por perecer às águas do Mondego, tal como o Convento de Sant’ Ana, e de forma menos definitiva, o Convento de Santa Clara-a-Velha, sendo abandonado no decorrer do século XVII. A gravura da cidade de Coimbra, da autoria de Hoefnagel de 1572, mostra o antigo mosteiro já em ruínas e cercado de água. A 6 de Novembro de 1630, uma Provisão da Câmara de Coimbra, ordena o derrube do que ainda restava da sua construção e em 1641 foi demolida a sua última parede. Do seu edifício nada resta actualmente, a não ser alguns elementos arquitectónicos identificados no actual convento e que poderão ter sido reaproveitados como adiante veremos. Implantado no sopé do Monte da Esperança, acima do nível máximo das cheias do Mondego, o novo convento marca a paisagem da margem esquerda pela sua monumentalidade, contrariando, de certa forma, os ideais de modéstia da ordem franciscana. A sua primeira pedra é lançada em 1602 pelo Bispo Conde Afonso Castelo Branco e crê-se que estaria a obra concluída ainda na primeira metade do século XVII. No entanto, a sua construção terá sido efectuada de forma faseada, não só porque sendo a Ordem dos franciscanos uma Ordem essencialmente mendicante, não será de estranhar que os seus edifícios fossem construídos à medida que as esmolas fossem engrossando o orçamento de que dispunham. Por outro lado, surgem alguns indícios na sua arquitectura que nos levam a acreditar no faseamento da construção, como veremos ao longo do presente trabalho. São escassas as fontes bibliográficas referentes ao período de ocupação do espaço pelos religiosos. Sabemos que terá entrado em declínio ainda nos finais do século XVIII. Com efeito, a extinção das ordens religiosas em 1834 (com excepção das ordens terceiras) foi o culminar de um processo em que o convento já se encontrava desde

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finais daquele século. Com efeito, vinha-se já a assistir à decadência dos hábitos dos religiosos cada vez em menor número. Com as invasões francesas o processo agravase. Implantado em local estrategicamente apetecível, o local foi ocupado pelas tropas napoleónicas que causaram enormes danos materiais, roubos e a morte de grande número de frades. Em 1842 o edifício é vendido a José Mello Soares de Albergaria e em 1854, com a criação da nova freguesia de Santa Clara, a Igreja torna-se na sua sede, deixando logo em 1872 de desempenhar essa funções. À semelhança do que ocorre por todo o país, em que se assiste, sobretudo na segunda metade do século XIX, à ocupação de antigos espaços religioso por unidades industriais, também o Convento de S. Francisco não escapa a essa sorte e em 1884 o edifício é propriedade de José Lopes Guimarães que ali abre um armazém de vinhos. Mais tarde instalam-se aí duas unidades fabris, uma de massas, pertencente a Victorino de Miranda e a de lanifícios Peig – Planas e Companhia que viria a ocupar todo o edifício até à década de oitenta do século XX. Inicia-se assim um processo de destruição do espaço monástico que paulatinamente se vai descaracterizando à medida das necessidades pragmáticas de espaço da unidade fabril. Em 1985 a Sociedade Planas & Companhia, proprietária de todo o edifício, abre falência e o espaço é comprado no ano seguinte pela Câmara Municipal de Coimbra. Durante os anos seguintes surgem diversos projectos de reutilização do espaço até ao que actualmente se encontra em execução.

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3.2. O EDIFÍCIO ACTUAL

O edifício actual é constituído por três pisos, construídos por patamares, solução arquitectónica que passou pela necessidade de vencer a inclinação do terreno em que se implanta, uma vez que foi construído no sopé do Monte da Esperança. Por este motivo a ala Oeste consta apenas dos pisos 1 e 2. Por outro lado, alguns dos compartimentos foram erguidos com duplo pé-direito, sendo analisados, naturalmente, de acordo com o piso em que abrem os seus vãos de acesso.

3.2.1. Piso 0

Do piso 0 constam a ala Este, erguida no alinhamento da fachada principal da igreja, à direita da qual anexa, a ala Norte, anexa à direita da ala Este, e a ala Sul, anexa ao centro da ala Este. Deste piso, fazem igualmente parte uma cisterna conventual, localizada ao centro do claustro, assim como uma cisterna industrial, localizada a Sul da conventual, ainda no interior do claustro. Estas cisternas, contudo, serão alvo de análise no capítulo dedicado ao estudo do sistema hidráulico. Do piso 0 faz ainda parte uma cisterna industrial soterrada, localizada na ala Sul. Uma vez que, por questões de segurança, não nos foi possível descer ao seu interior, não pudemos analisá-la convenientemente nem proceder ao seu levantamento gráfico ou à avaliação das suas dimensões. Por este motivo, esta cisterna não se encontra registada em planta e a ela faremos referência apenas aquando da análise do compartimento que se lhe sobrepõe (o compartimento 2, da ala Sul do piso 1), no piso a partir do qual, como veremos, se abre um alçapão sobre o tecto desta cisterna.

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- Ala Este

1

- Ala Norte - Ala Sul

2

N

3 4 5 6 7

2

8 9

1

10 11 12

3

13 14 15 16 17 18

1

19 20

3

21

2

22

Convento de São Francisco da Ponte – Piso 0 Reconstituição Hipotética à Época Conventual (piso dividido por alas com numeração dos respectivos compartimentos)

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3.2.1.1. Piso 0 – Ala Este

• Compartimento 1

Trata-se de um compartimento anexado a Norte do nartex da igreja. Sandra Lopes atribui a portaria a este espaço (LOPES, 1998: 93), acrescentando que em dependências

homólogas

de

outras

comunidades, a portaria servia, para além de acolher os visitantes, para praticar obras de caridade como a ‘esmola de porta’. Esta acção seria, aliás, tanto mais importante no caso de uma comunidade franciscana, dedicada à assistência aos pobres e enfermos, uma vez que consistia em fornecer alimentos aos pedintes que ali se dirigiam. Pedro dos Santos acrescenta que, neste caso concreto, o facto de o nartex da igreja ser de características sumptuosas é o motivo pelo qual a portaria de São Francisco da Ponte apresenta características arquitectónicas modestas, ao contrário do que ocorria por vezes noutras casas monásticas (SANTOS, 1997: 56). Não restam dúvidas portanto, pela localização e pelas referências bibliográficas, que neste compartimento funcionava à época conventual a portaria, estabelecendo a ligação entre as comunidades religiosa e laica, entre o sagrado e o profano. É um compartimento de planta rectangular, onde se abrem três vãos de porta e um vão de janela para o exterior. O primeiro dos vãos de porta constitui a passagem para o nartex e abre-se ao centro da parede Sul deste compartimento. Trata-se de uma porta de dupla folha, com bandeira em madeira, de lintel e ombreiras em cantaria de calcário, de moldura exógena nos alçados interior e exterior.

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altura

profundidade

3,60 m

largura

2m

interior

0,90 m

exterior

0,30 m

Foto 1 – Vista geral da porta de acesso ao nartex. Perspectiva Noroeste.

O segundo dos vãos de porta constitui a passagem para o logradouro, abrindo ao centro do alçado da parede Oeste deste compartimento. Trata-se de uma porta de dupla folha, com bandeira envidraçada, de lintel, ombreiras e alguns vestígios de soleira em cantaria de calcário, de moldura exógena nos alçados interior e exterior. Apresenta arco de descarga em tijolo ao cutelo.

altura

profundidade

3,60 m

largura

2m

interior

0,86 m

exterior

0,30 m

Foto 2 – Vista geral da porta de acesso ao logradouro. Perspectiva Este.

O terceiro dos vãos de porta dá actualmente acesso ao compartimento 2 desta ala, abrindo à esquerda do alçado da parede Norte deste compartimento. Este vão poderá não ser original, apresentando inclusive indícios de ter constituído na realidade um armário. Deste armário subsistem indícios de que seria construído em cantaria, à excepção do fundo que seria originalmente rebocado a argamassa de cal e caiado a branco. Todo o seu interior seria, aliás, inicialmente rebocado e pintado a cal, sendo, numa fase posterior revestido a azulejo no fundo e na base, cujos vestígios ainda são visíveis. Possuía uma prateleira central também em pedra. Era encimado por um arco de descarga em tijolo ao cutelo, tal como demonstram os vestígios ainda observáveis. Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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Fotos 3 e 4 – Vista geral do vão de passagem de acesso à casa de dentro da portaria (cujas medidas figuram do quadro abaixo) e pormenor dos vestígios de um armário ali detectados. Perspectiva Sudeste. Vão de Porta Industrial altura

3m

Vão de Armário Conventual altura

largura

1,70 m

largura

profundidade

0,85 m

profundidade

1,70 m ?* 0,55 m

* O seu grau de destruição não permite adivinhar a sua largura.

No mesmo alçado, mas à direita, foi possível observar um vão, emparedado em época indeterminada, que deverá ter constituído a passagem original entre os compartimentos 1 e 2. Desse vão, localizado no canto Nordeste da sala, subsistem apenas o arco de descarga abatido em tijolos ao cutelo, assim como a ombreira esquerda, e de forma menos nítida a direita, ambas em alvenaria de pedra.

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profundidade

altura

2,60 m

largura

2,10 m

interior

?*

exterior

?*

* Emparedamento não permite adivinhar estas dimensões

Foto 5 – Vista geral sobre o vão de porta emparedado. Destaque para o arco de descarga (seta amarela), bem como para o alinhamento da ombreira esquerda (seta verde). Perspectiva Noroeste.

Quanto ao vão de janela, aberto ao centro da parede Este da portaria para o exterior nascente, é constituído por uma janela de avental, de lintel e ombreiras em cantaria de calcário, de moldura exógena nos alçados interior e exterior e encimado por arco de descarga em tijolo ao cutelo.

profundidade

altura

3,30 m

largura

1,70 m

interior

0,86 m

exterior

0,20 m

Foto 6 – Vista geral da janela. Perspectiva Oeste.

Quanto à cobertura deste espaço, apresenta-se em abóbada de berço, adintelada e abatida, com duas arestas abertas ao centro, uma das quais alinhada com a porta de acesso ao nartex. Nesta abóbada foram abertos na época industrial dois orifícios, nos cantos Sudeste e Sudoeste da sala, com certeza relacionados com algum aparato fabril, entretanto desmontado.

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Foto 7 – Vista geral da abóbada de cobertura da portaria. Destaque para o orifício aberto no canto Sudeste (seta amarela). Perspectiva Oeste.

Relativamente ao piso deste compartimento, é de origem industrial, encontrando-se cimentado.

• Compartimento 2

Para

este

compartimento,

compartimento

1,

aponta

anexo Sandra

à

direita

Lopes

para

do a

probabilidade de albergar a ‘casa do despacho da Ordem’ (LOPES, 1998: 40). Por seu turno, Pedro dos Santos avança com a possibilidade de este compartimento ter funcionado como espaço intermédio entre o espaço público e o espaço privado do convento, podendo ter servido como sala de espera, que denomina por ‘casa de dentro da portaria’ (SANTOS, 1997: 56). Apresenta-se de planta rectangular, onde se abre um vão de janela para o exterior nascente, bem como um vão de porta de acesso aos dormitórios e um vão de passagem para a portaria, já descrito. O vão de janela, que abre para o exterior ao centro da parede Este, apresenta avental e bancos laterais já mutilados, vulgo ‘namoradeiras’, assim como lintel e ombreiras em cantaria de calcário, de moldura exógena nos alçados interior e exterior. Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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profundidade

altura

3,20 m

largura

1,70 m

interior

0,80 m

exterior

0,30 m

Foto 8 – Vista geral do vão de janela da casa de dentro da portaria. Perspectiva Oeste.

Como anteriormente ficou referido, a passagem deste espaço para o compartimento 1 efectuava-se através de um vão que se encontra actualmente emparedado. Tal como acontece no interior daquele espaço, também à esquerda do alçado da parede Sul desta sala são ainda visíveis o arco de descarga em tijolo ao cutelo e, de forma menos nítida, o alinhamento de alvenaria que terá correspondido às suas ombreiras. A passagem para o compartimento 22, com que o presente comunica, faz-se através de um vão de porta aberto à esquerda do alçado da sua parede Norte. Encontra-se construído com lintel, ombreiras e soleira em cantaria de calcário, de moldura exógena nos alçados interior e exterior, sendo encimado por duplo arco de descarga, visível apenas no alçado voltado para o compartimento 22, composto por ‘V’ invertido, sobreposto por arco abatido em tijolo ao cutelo.

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profundidade

altura

2,50 m

largura

1,60 m

interior

0,28 m

exterior

0,50 m

Foto 9 e 10 – Vista geral do vão de porta de acesso ao dormitório e pormenor dos seus arcos de descarga. Perspectiva Sul e Norte, respectivamente.

Quanto à cobertura desta sala é, à semelhança do espaço anteriormente descrito, constituída por uma abóbada de berço abatida e adintelada, que se desenvolve no sentido Este/Oeste, contando com duas arestas, cada uma das quais aberta numa das suas extremidades. A abóbada apresenta ainda o negativo de uma parede de cronologia industrial, em tijolo alveolar, que terá subdividido este espaço imediatamente à direita do vão de porta anterior. O piso é constituído em argamassa de cimento e, portanto, será seguramente de cronologia industrial.

O Dormitório

Ao compartimento 2 anexa um conjunto de compartimentos constituído por corredor, trânsitos e celas que, juntos, constituem um espaço comummente designado por dormitório. No Convento de São Francisco da Ponte existiam três pisos de dormitórios sobrepostos, que ainda subsistem e que estariam organizados hierarquicamente de acordo com o estatuto religioso dos seus ocupantes. No caso do piso em análise, Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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ocupado pelos frades de mais baixa condição, era designado ‘dormitório terceiro’ ou ‘da portaria’ (SANTOS, 1997: 42). De acordo com Sandra Lopes era ainda neste dormitório que se localizava a ‘cela do guardião’, embora a autora não refira nenhum compartimento específico para esta cela.

• Compartimentos 3 e 21

Localizados nos extremos Sul e Norte de cada dormitório, unindo entre si os diferentes pisos, localizam-se dois corpos de escadas, os compartimentos 3 e 21. O compartimento 3, por se encontrar bloqueado por um painel proveniente de uma exposição que ali decorreu recentemente, não se encontra acessível. Não obstante, foi possível inspeccionar o seu interior descendo através do piso 1. Trata-se de um compartimento com um núcleo central quadrangular (de 1,32 m x 1,32 m) em alvenaria irregular de pedra, de vértices rematados a cantaria de calcário, à volta do qual se desenvolvem as escadas em lances de três degraus, igualmente em calcário, intercaladas por patamares intermédios que marcam a mudança de direcção. Podemos registar um ritmo de três degraus com patamar, ao fim do qual se abre uma janela, seguido de quatro conjuntos de três degraus com patamar e nova janela, antes de ser atingido o piso 1. Relativamente às janelas, tratam-se de vãos de lintel, ombreiras e peitoril em cantaria calcária de moldura exógena no alçado exterior e interior e encontram-se embutidas num vão de abertura mais ampla que vai do piso de circulação até ao tecto do lance das escadas, igualmente provida de moldura em cantaria de calcário exógena no alçado interior.

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profundidade

altura

1,95 m

largura

1,10 m

interior

0,22 m

exterior

0,18 m

Foto 11 – Vista geral do vão de porta do compartimento 3. Perspectiva Este.

profundidade

altura

1,80 m

largura

0,90 m

interior

0,78 m

exterior

0,22 m

Foto 12 – Vista geral do vão de janela do primeiro patamar de escadas do compartimento 3. Perspectiva Oeste.

Por seu turno, o compartimento 21 encontra-se totalmente desprovido das escadas que o preenchiam, embora permaneçam de pé as paredes que o constituíam, assim como a porta que lhe dá acesso, de lintel e ombreiras em cantaria de calcário e encimada por um arco de descarga abatido em tijolo ao cutelo e de moldura exógena nos alçados interior e exterior. Também a janela que ilumina este corpo se mantém erguida, embora não tenhamos tido oportunidade de a inspeccionar por se encontrar bloqueada a porta que a este compartimento dá acesso.

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

25

altura

profundidade

1,90 m

largura

1m

interior

0,22 m

exterior

0,18 m

Foto 13 – Vista geral do vão de porta de acesso ao compartimento 21. Perspectiva Oeste.

• Compartimento 22

Longitudinalmente em relação ao dormitório, desenvolve-se um corredor, que convencionámos designar por compartimento 22, a partir do qual se abrem as entradas para as celas, assim como para as três áreas de trânsito. Encontra-se ocupado com diversos aparatos relacionados com uma exposição que ali decorreu recentemente, pelo que algumas partes da sua constituição não puderam ser analisadas convenientemente. Ao abordar este corredor pela sua extremidade Sul, encontramos, à direita o compartimento 3, já descrito, ao qual se segue a primeira área de trânsito. Confrontando com esta, encontra-se o vão de uma janela conventual em cantaria, encimada por um arco de descarga abatido em tijolo ao cutelo que se abria para o logradouro. Actualmente, encontra-se emparedada com recurso a materiais construtivos contemporâneos.

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26

profundidade

altura

1,52

largura

1m

interior

?*

exterior

?*

* Emparedamento não permite adivinhar estas dimensões

Foto 14 – Vista geral do vão de janela voltada para o logradouro. Perspectiva Este.

O vão em que se encontra esta janela, apresenta-se profundamente mutilado, o que deverá ter ocorrido na época industrial para permitir a passagem de condutas cujos vestígios ainda são visíveis (setas amarelas)., nomeadamente um tubo de queda que se observa no lado direito do vão À direita daquele vão pode observar-se um óculo (Ø = 1,20 m) emparedado recentemente (seta vermelha), que abriria para o logradouro mutilando ligeiramente o arranque da abóbada de cobertura do corredor. Tem, este óculo, dois correspondentes homólogos na parede Este do corredor, entre o compartimento e a porta da primeira cela, ou compartimento 5, assim como entre esta porta e a porta da segunda cela, ou compartimento 6, que não estão, contudo emparedados, o que permite verificar o seu ligeiro afunilamento. Desconhecemos as funções relativas a estas aberturas, embora especulemos que possam estar relacionadas com algum tipo de aparato industrial ou simplesmente com a entrada de luz.

Foto 15 – Vista geral do óculo aberto entre as portas dos compartimentos 5 e 6. Perspectiva Oeste. Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

27

De frente para a parede que separa as portas da terceira e da quarta cela, ou compartimentos 7 e 8 respectivamente, detectámos um vão que terá correspondido a uma porta de acesso ao logradouro. Encontra-se actualmente desprovido de qualquer elemento de cantaria, pelo que não podemos apurar as suas dimensões originais. O facto de nos pisos 1 e 2 encontrarmos vãos de portas conventuais alinhados verticalmente com este vão no piso 0, leva-nos a conjecturar que seja, à semelhança dos pisos superiores, um vão de origem conventual. De referir ainda um tubo de queda que se encontra embutido verticalmente na parede, do lado direito daquele vão (seta azul).

profundidade

altura

?*

largura

?*

interior

?*

exterior

?*

* Emparedamento e grau de destruição não permitem adivinhar estas dimensões

Foto 16 – Vista geral do vão de porta de acesso ao logradouro. Perspectiva Este.

No corredor observam-se ainda dois pilares de secção quadrangular, implantados de forma paralela ao centro do mesmo, imediatamente à direita do vão anteriormente descrito. Ladeiam uma caixa de planta rectangular aberta na abóbada de cobertura do corredor. Embora seja nítido tratar-se de uma obra industrial, não é clara a sua função.

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28

Foto 17 – Vista geral dos pilares detectados no interior do corredor do dormitório. Perspectiva Sul.

O corredor termina a Norte numa porta de acesso ao exterior do edifício. Trata-se de um vão de porta de dupla folha, com bandeira envidraçada, de lintel e ombreiras em cantaria de calcário, de moldura exógena nos alçados interior e exterior. Contudo, este vão de porta deverá ter correspondido a um vão de janela de avental à época conventual. Para tal abonam alguns vestígios da amputação desse tipo de parapeito, constatáveis junto da ombreira direita do vão, assim como os já emparedados orifícios dispostos regularmente ao longo de ambas as ombreiras, desde o lintel até ao nível a que corresponderia sensivelmente o avental, aos quais deverão ter correspondido um gradeamento.

profundidade

altura

3,40 m

largura

1,90 m

interior

0,80 m

exterior

0,28 m

Foto 18 – Vista geral sobre o vão de porta no extremo Norte do corredor do dormitório. Perspectiva Sul.

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29

Ainda no que concerne ao corredor do dormitório, constatámos dezoito vãos na parede poente e oito na parede nascente, espaçados regularmente e que, no período de ocupação industrial, terão sido abertos com o objectivo de receberem armários e cacifos dos operários (seta vermelha exemplificando um destes vãos). Foram preenchidos na presente empreitada, voltando assim ao seu aspecto original.

Foto 19 – Vista geral sobre o corredor do dormitório ou compartimento 22. Perspectiva Norte.

De referir ainda que, confrontando com o terceiro trânsito, ou compartimento 20, encontra-se um vão actualmente emparedado que deverá ter constituído uma eventual passagem conventual para a latrina (compartimento 3 da ala Norte do piso 0), bloqueada por uma sapata aparentemente erguida, no interior da sala de acesso à latrina, para sustentação de algum aparelho industrial. Desta passagem subsiste apenas o arco de descarga abatido em tijolo ao cutelo, uma vez que as suas ombreiras foram destruídas aquando da instalação dos já referidos armários.

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30

altura aproximada

2,20 m

largura aproximada

1,25 m

profundidade aproximada

0,85 m

Foto 20 – Vista geral sobre a passagem conventual para a latrina. Perspectiva Este.

Todo o corredor que consiste no compartimento 22 apresenta-se coberto por uma abóbada de berço, abatida e adintelada, na qual se rasgam arestas alinhadas com as três áreas de trânsito (compartimentos 4,12 e 20). Um pequeno derrube no reboco da abóbada permitiu constatar ser construída com recurso a tijolo maciços finos ao cutelo. Por seu turno, o piso do corredor é cimentado. De igual forma, não subsistem vestígios do piso conventual neste compartimento, que se encontra actualmente provido de piso cimentado.

Trânsitos

Os trânsitos seriam espaços programados para ritmar a circulação de pessoas no interior do edifício, localizando-se geralmente na confluência de direcções distintas, constituindo igualmente importantes fontes de iluminação para as galerias onde se encontram implantados (SANTOS, 1997: 56). Eram, em cada piso dos dormitórios do Convento de São Francisco da Ponte em número de três, um ao centro do dormitório separando o conjunto de catorze celas em dois grupos de sete cada, outro a Norte do conjunto das celas e o restante a Sul do mesmo

conjunto.

Apenas

ao

nível

do

piso

0

se

mantêm

intactas

as

compartimentações destes espaços. Tratam-se de compartimentos de área quadrangular, servidos de janela de avental para o exterior e cobertura em abóbada de berço abatida e adintelada.

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31

• Compartimentos 4, 12 e 20

A análise do primeiro trânsito, ou compartimento 4 foi muito limitada dada a presença de um painel da exposição já mencionada, que se encontrava no seu interior. Apresenta-se amplo, embora deva ter sido fechado na época de ocupação industrial do edifício, dado que se verificam vestígios de uma parede já desmontada, nomeadamente ao nível da abóbada (seta azul).

profundidade

altura

3,50 m

largura

1,80 m

interior

0,85 m

exterior

0,24 m

Foto 21 – Vista geral do compartimento 4. Perspectiva Oeste.

A janela deste trânsito (na foto por trás do painel, abrindo para o exterior nascente) é de avental, de lintel e ombreiras em cantaria calcária, de moldura exógena nos alçados exterior e interior. O espaço entre o painel e a janela permitiu avaliar as medidas desta que constam do quadro a cima. Por seu turno, a análise do terceiro trânsito, ou compartimento 20, permitiu-nos averiguar as fundações daquele espaço, postas a descoberto aquando da execução

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32

de uma sondagem na campanha arqueológica de 2003. De igual modo se verifica neste espaço a presença de um vão de porta industrial para a cela à direita deste trânsito mas que consiste numa abertura recente (dimensões expressas no quadro abaixo), assim como um pilar anexo à sua parede setentrional. Apresenta igualmente um vão de janela voltado para o exterior nascente, de avental e com reminiscências de dois bancos laterais, de lintel, ombreiras e soleira em cantaria de calcário, com moldura exógena para o alçado exterior e interior. Dada a localização da sondagem atrás referida não nos foi possível averiguar as dimensões deste vão, embora deduzamos que sejam similares às das constatadas no vão de janela do compartimento 4, atrás descrito.

Foto 22 – Vista geral do compartimento 21. Perspectiva Oeste.

Vão Industrial altura

1,90 m

largura

0,80 m

profundidade

0,70 m

Foto 23 – Vista geral sobre o pilar do compartimento 21. Perspectiva Norte. Destaque para o vão industrial aberto para o compartimento 19 (seta azul), bem como para um pilar detectado junto à parede Sul deste trânsito (seta vermelha).

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33

Quanto ao trânsito central, ou compartimento 12, constatámos estar servido de um vão de porta para o exterior, onde se fazem corresponder umas escadas. Trata-se, no entanto, de um vão de cronologia industrial, aberto a partir de um vão de janela de origem conventual, uma vez que se constata, na face interior das suas ombreiras, o desmonte tanto dos bancos laterais, ou ‘namoradeiras’, como do parapeito em avental que ali existiam. De referir que foi detectado um tubo de queda em grés embutido na parede Este deste trânsito, à esquerda do vão de porta referido, que se desenvolvia verticalmente, desde o piso superior até ao actual nível de circulação do presente piso (seta amarela). Confrontando com este trânsito, situa-se um arco de volta perfeita adintelado, de cantaria calcária e moldura exógena em relação aos alçados interior e exterior e que dá, por sua vez acesso ao compartimento 3 da ala Sul do piso 0 e ao piso 0 do claustro. O espaço entre o trânsito central e este arco encontra-se coberto por uma abóbada de arestas.

profundidade

altura

3,50 m

largura

1,80 m

interior

0,85 m

exterior

0,24 m

Foto 24 – Vista geral do compartimento 12. Perspectiva Oeste.

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34

altura máxima largura profundidade

3,90 m 3m 1,10 m

Foto 25 – Vista geral sobre o arco de passagem para o compartimento 3 da ala Sul do piso 0. Perspectiva Este.

Celas

Cada um dos pisos dos dormitórios era originalmente composto por catorze celas, dispostas longitudinalmente ao longo do corredor em dois conjuntos de sete, separados por um trânsito central e ladeados, a Norte e a Sul, por um trânsito lateral. Nos pisos 1 e 2 esta realidade constata-se nas janelas das celas e dos trânsitos voltadas a nascente, os únicos vestígios da segmentação dos dormitórios que sobreviveram à ocupação industrial. Já no piso 0, subsistiram diversos vestígios, entre os quais a parede que separa as celas do corredor, que conserva ainda a maioria das portas de entrada para as celas, assim como os vestígios dos armários de cada uma delas. Cada uma das celas seria numerada a partir de um espaço de relevante importância, cuja posição variava de piso para piso, sendo no piso 0 numeradas a partir da portaria (SANTOS, 1997: 42). No piso 0, constatámos alguns vestígios que poderão corresponder a esta numeração. Trata-se de uma moldura de forma ovalada pintada a negro, na face externa do lintel da porta das celas, embora o número que nessa moldura com certeza figurava não estivesse já visível.

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35

• Compartimentos 5 a 11 e 13 a 19

No piso 0, de uma forma geral constata-se que cada cela teria à época conventual um vão de porta de lintel e ombreiras em cantaria de calcário de moldura exógena nos alçados interior e exterior, encontrando-se encimado por um arco de descarga em “V” invertido. Apresentariam ainda uma janela de avental, aberta para o exterior e confrontando directamente com a porta de acesso à cela, de lintel e ombreiras em cantaria de calcário, de moldura exógena nos alçados interior e exterior, encimada por um arco de descarga abatido em tijolo ao cutelo. As janelas encontrar-se-iam originalmente providas de banco de cantaria, ou ‘namoradeira’, embutido na ombreira esquerda ou direita, conforme se tratasse de uma cela do conjunto mais a Norte ou do mais a Sul, respectivamente. Alguns destes bancos ainda subsistem, embora a maioria tenha sido desmontado no decurso das transformações que o edifício sofreu aquando da sua ocupação industrial. Na última cela, ou compartimento 19, este banco permaneceu intacto, sendo por isso possível apurar que as dimensões das ‘namoradeiras’ das celas do piso 0 consistiam numa laje de cantaria de calcário com 12 cm de espessura, localizada a cerca de 35 cm do piso e distando 35 cm da ombreira em que se inseria.

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36

profundidade

altura

2,10 m

largura

0,90 m

interior

0,86 m

exterior

0,20 m

Fotos 26 e 27 – Vista geral sobre a janela do compartimento 19 e do compartiment o 11, respectivamente. Perspectiva Sudoeste e Oeste, respectivamente.

Tendo em conta que grande parte do espaço do piso 0 dos dormitórios se encontra ocupado por painéis e mostruários pertencentes à já mencionada exposição, tornouse impossível avaliar o estado de algumas das janelas das celas. Excepção feita às do bloco Norte, compartimentos 13 a 19, que se encontram em bom estado de preservação, bem como às da quinta e sétima cela do bloco Sul, compartimentos 9 e 11. Na sétima cela, ou compartimento 11, constata-se que a janela se encontra em bom estado, preservando inclusive parte substancial do seu banco. Na quinta cela, ou compartimento 9, verificámos que apresentava a cantaria das ombreiras e do lintel completamente desmontadas no período industrial, tendo as ombreiras dado lugar a chanfros, com certeza motivados pela necessidade de ampliar a entrada de luz.

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Fotos 28 – Vista geral sobre a janela do compartimento 9. Perspectiva Oeste.

Cada uma das celas era servida igualmente de um pequeno armário embutido na parede, imediatamente à esquerda ou à direita da porta de acesso à cela, conforme se tratasse de uma cela do conjunto mais a Sul ou do mais a Norte, respectivamente. Nenhum destes armários permaneceu até aos nossos dias intacto, encontrando-se todos parcial ou totalmente destruídos, motivo pelo qual não é possível averiguar a sua configuração original. Alguns deles viram inclusivamente a sua parede de fundo ser desmontada na época industrial, sendo dessa forma transformados em janelas voltadas para o corredor do dormitório. Não obstante, foi possível especular as suas dimensões originais, através dos vestígios detectados.

Vão de Porta

profundidade

altura

1,80 m

largura

0,60 m

interior

0,18 m

exterior

0,21 m

Vão de Armário altura

0,68 m

largura

0,55 m

profundidade

0,40 m

Fotos 29 – Vista geral sobre a porta e armário desmontado do compartimento 10. Perspectiva Oeste. Destaque para a moldura de numeração da cela (seta vermelha).

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38

Neste piso encontram-se apenas duas celas ainda completas, a oitava e nona, respectivamente os compartimentos 13 e 14. As restantes apresentam as suas paredes divisórias desmontadas, acção que deverá ter ocorrido no decurso da ocupação industrial do espaço, com o objectivo de obtenção de espaços mais amplos. Contudo, é possível adivinhar a posição destas paredes, graças aos negativos que deixaram na parede que separa as celas do corredor. Ocupariam uma posição lateral face à porta e à janela de cada cela, respectivamente à direita e à esquerda de cada uma, conforme se trate das celas do bloco mais a Sul ou do mais a Norte. De igual modo, também a parede que dividia a segunda da terceira cela, compartimentos 6 e 7 respectivamente, ainda se encontra erguida, embora parcialmente desmontada, acção concebida na época de ocupação industrial do edifício para abrir aí uma passagem em forma de arco abatido, sem qualquer tipo de acabamento quer ao nível das ombreiras, quer ao nível da cobertura.

altura máxima

2,20 m

largura

1,65 m

profundidade

0,55 m

Fotos 30 – Vista geral sobre o vão de passagem industrial constatado na parede divisória entre os compartimentos 6 e 7. Perspectiva Sul.

De referir ainda que todas as celas deste piso apresentam a respectiva porta de acesso original e com todas as cantarias completas, excepto a quinta cela, ou compartimento 9, que desapareceu por completo, encontrando-se no seu lugar um vão de passagem industrial em arco abatido, sem qualquer acabamento ao nível das ombreiras, mas de cobertura construída com tijolos maciço espesso ao cutelo.

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39

altura máxima

2,10 m

largura

1,70 m

profundidade

0,80 m

Fotos 31 – Vista geral sobre o vão de passagem industrial para o espaço correspondente ao compartimento 9. Perspectiva do corredor do dormitório.

Toda a ala ocupada pelas celas apresenta-se coberta por um tecto de origem industrial, constituído por uma placa em betão armado, subido em relação à cobertura original em cerca de 0,30 m, não se tendo averiguado quaisquer vestígios que nos permitam especular sobre a sua cobertura conventual. De igual forma, não subsistem vestígios do piso conventual em nenhuma das celas, que se encontram actualmente providas de piso cimentado.

3.2.1.2. Piso 0 – Ala Norte

Anexado a Oeste do topo Norte da ala Este do piso 0, localiza-se um conjunto de três salas para as quais a ausência de referências bibliográficas é quase total. No seu ‘Convento de S. Francisco da Ponte – Valor da Arte Coimbrã’, Sandra Lopes não inclui sequer estas salas em planta. Já Pedro dos Santos, que apresenta as salas em planta, apenas se refere à maior das três como possível zona de tratamento de águas SANTOS, 1997: plantas em anexo). Como veremos, nesta ala localiza-se a caixa de visita da latrina, sobre a qual julgamos ter estado a própria latrina.

• Compartimento 1 Do compartimento 22 do piso 0 havia, à época conventual, um vão de porta que dava passagem

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para compartimento 1. Este vão localiza-se, tal como já foi descrito, na parede Oeste do corredor que constitui este compartimento e confronta com o trânsito que constitui o compartimento 20. Esta passagem encontra-se agora bloqueada a Oeste por uma sapata de origem industrial, que a avaliar pelo seu tamanho, terá servido de sustentação a algum equipamento de grandes dimensões. Como referido, aquele vão dava à época conventual passagem para uma pequena sala, o compartimento 1, que actualmente vê ¾ da sua área ocupados pela sapata já referida. A destacar alguns silhares em claro contexto de reaproveitamento no aparelho construtivo deste espaço. Na parede Oeste desta sala, um pouco deslocado para a esquerda, abre-se um vão de porta de origem conventual, que dá acesso ao compartimento 2. Esta é constituída por ombreiras de silhares bem facetados e encimada por abóbada abatida de tijolos maciços finos ao cutelo.

altura

1,90 m

largura

0,85 m

profundidade

0,70 m

Foto 32 – Vista geral sobre o vão de porta detectado na parede Oeste do compartimento 1. Perspectiva Nordeste.

A parede Norte desta sala é servida igualmente por um vão de porta, de acesso a uma segunda sala, anexa a Norte à primeira. Este vão, de origem conventual, é constituído por ombreira esquerda em silhares bem facetados, desmontada na sua metade inferior, e coberta por abóbada abatida de tijolos maciços finos ao cutelo. A ombreira direita encontra-se desmontada, facto ocorrido provavelmente durante a fase de ocupação industrial do edifício. Sobre o vão, embora ligeiramente para a direita, encontra-se um pequeno vão abobadado obtido através do desmonte do aparelho da parede, sem quaisquer acabamentos ao nível das ombreiras, lintel ou cobertura. Devido ao pouco cuidado com que foi executado este vão, deduzimos que se trate de uma obra de cronologia industrial, possivelmente relacionada com a passagem de algum aparato fabril, entretanto desmontado. Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

41

altura

2,10 m

largura

0,90 m

profundidade

0,75 m

Foto 33 – Vista geral sobre o vão de porta detectado na parede Norte do compartimento 1. Perspectiva Sudoeste. Em primeiro plano: a sapata industrial.

altura

1m

largura

0,65 m

profundidade

0,75 m

Foto 34 – Vista geral sobre o vão detectado sobre a porta da parede Norte do compartimento 1. Perspectiva Norte.

Este compartimento não possuía, à altura em que se iniciaram os trabalhos da presente empreitada, qualquer tipo de cobertura, podendo observar-se o espaço do compartimento que se lhe sobrepõe. De igual modo não foram detectados vestígios de qualquer tipo de piso, encontrando-se este em terra batida. Como já referido, não existem referências bibliográficas para este compartimento, nem nele foram constatados vestígios que nos possam ajudar a definir qual seria a sua função primitiva. A forma como se localiza este espaço, entre o corredor que constitui o compartimento 22 do dormitório e o compartimento 3, que como veremos deverá ter albergado a latrina, leva-nos, porém, a especular que este compartimento

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tenha sido projectado para criar um espaço intermédio, servindo para impedir o acesso directo à latrina.

• Compartimento 2

O segundo compartimento, é servido pela porta descrita anteriormente que se abre desta feita na sua parede Sul, bem como por uma porta e ainda por uma estreita janela, ambas abertas na sua parede Norte directamente para o exterior do edifício conventual. São aqui igualmente visíveis silhares em contexto de reaproveitamento. O vão de porta detectado na parede Norte desta sala é constituído, na sua moldura exterior, por ombreiras e lintel em cantaria de calcário exógena para o alçado exterior, verificando-se que a sua ombreira esquerda não se prolonga até ao piso de circulação, sendo substituída por moldura em argamassa de cimento. No interior estes elementos são substituídos por aparelho de pedra irregular sem qualquer tipo de acabamento e por uma cobertura em arco abatido de tijolo maciço espesso ao cutelo unido por argamassa de cimento. Por todas estas características e materiais construtivos, parece-nos improvável que este vão seja de origem conventual. Para mais, se observarmos a peça de cantaria utilizada enquanto lintel na moldura exterior, constatamos que não abrange a largura total das peças de cantaria das ombreiras que encima, um fenómeno que nos faz suspeitar que não tenha sido inicialmente projectada para aquele propósito.

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43

profundidade

altura

2,20 m

largura

1,20 m

interior

0,85 m

exterior

0,30 m

Fotos 35 e 36 – Vista geral sobre o vão de porta de acesso ao compartimento 2 e pormenor daquele vão de porta, respectivamente. Ambas as perspectivas Norte.

Estamos convictos de que, apesar da sua aparência cuidada, este vão seja na realidade de origem industrial, tendo sido aberto através do desmonte do aparelho conventual (daí a falta de cuidado com as faces internas das ombreiras e a necessidade de encimar o topo da passagem com um arco) e rematado no exterior com algumas peças de cantaria reaproveitadas. A necessidade de abertura deste vão poderá explicar-se aliás pela sapata industrial do compartimento 1, cuja implantação terá bloqueado o único vão de acesso aos três compartimentos desta ala. Por seu turno, o vão de janela, indiscutivelmente de cronologia conventual, apresentase sobre a forma de um rectângulo disposto na horizontal, elevado em cerca de 2,5 m relativamente ao actual piso de circulação e emoldurado por cantaria de calcário exógena apenas no alçado exterior. Já no alçado interior, a moldura deste vão resulta apenas da disposição do aparelho da parede, bem como de uma cobertura em abóbada de tijolos maciços finos ao cutelo, não tendo havido quaisquer cuidados com o seu embelezamento. De notar que esta janela apresenta duplo afunilamento de ambos os lados da parede, ampliando a sua abertura tanto para o interior como para o exterior. De referir ainda que esta janela apresenta um gradeamento constituído por cinco barras de ferro, espaçadas regularmente e dispostas na vertical, cuja origem especulamos ser conventual.

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44

profundidade

altura

0,47 m

largura

1,10 m

interior

0,60 m

exterior

0,57 m

Foto 37 – Vista geral sobre o vão de janela detectado na parede Norte do compartimento 2. Perspectiva Sul.

À semelhança do que se verifica no compartimento anterior, também neste compartimento não se verifica qualquer tipo de cobertura, podendo observar-se o espaço do compartimento que se lhe sobrepõe. Do mesmo modo não foram detectados vestígios de qualquer tipo de piso, encontrando-se este em terra batida. Se, como já referimos, a função do compartimento 1 poderá ter sido a de impedir o acesso directo do dormitório à latrina, já a função do compartimento 2 é desconhecida. Não obstante, o vão de janela detectado na parede Norte deste espaço, tipologicamente igual ao do compartimento que terá, como veremos, albergado a latrina, fornece-nos uma pista. Se o vão de janela do compartimento da latrina, pelas suas reduzidas dimensões, garante a privacidade que o local exigia, não poderá a janela do compartimento 2, de tipologia e dimensões iguais aos da janela da latrina, ter desempenhado funções semelhantes? Estaremos então na presença de um compartimento destinado a albergar uma segunda latrina? A ser verdade, poderão dois compartimentos para latrinas significar uma segmentação hierárquica que imperasse mesmo na hora de satisfação de necessidades fisiológicas? Estas são algumas questões para as quais a falta de vestígios detectados no interior do compartimento 2 não possibilita respostas. Sugerimos , por este motivo, que no futuro se proceda à realização de alguma sondagem neste espaço, a fim de averiguar quais as suas funç ões.

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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• Compartimento 3 O compartimento 3, para o qual, como referido, não existem quaisquer referências bibliográficas, localizase a Oeste do topo Norte do corredor do dormitório, ou compartimento 22 da ala Este do piso 0, do qual está separado

pelos

dois

compartimentos

descritos

anteriormente. Trata-se de uma sala à qual se tem acesso por um vão de porta de origem conventual, já descrito no âmbito da análise da parede Oeste do compartimento 1. No seu interior encontra-se uma caixa de visita que, pelas suas dimensões só poderia estar associada à latrina. Trata-se de uma caixa rectangular de paredes internas afuniladas, que sustenta, em cada uma das suas paredes laterais, um arco, seguramente responsáveis pela sustentação do piso, entretanto desmontado, da sala lhe estava sobreposta.

Foto 38 – Vista geral sobre a caixa de visita. Perspectiva Sudeste.

Toda a estrutura é construída em silhares de pedra, à excepção dos intradorsos dos arcos que se encontram construídos com tijolos maciços finos ao cutelo. Por seu turno, os silhares que constituem as paredes internas da caixa, de enormes dimensões, encontram -se toscamente talhados e de encaixe pouco perfeito. O facto destes silhares, de tamanha dimensão, não encaixarem perfeitamente, pode por si só indicar que se encontrem em contexto de reaproveitamento. Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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Toda a estrutura tem 4,65 m de largura, 6,70 m de comprimento e 3,70 m de altura. A caixa de visita escoaria as águas ‘sujas’ para o exterior do edifício conventual através de uma conduta não coberta, construída em negativo, relativamente ao piso de circulação da sala, que tem início no extremo Nordeste da caixa e se prolonga para além da parede Norte da sala. Encontra-se parcialmente fechada por uma parede em tijolo alveolar e nela desagua igualmente um tubo de queda em grés que se desenvolve verticalmente, embutido na parede, desde o piso superior. De referir que no interior da sala onde se encontra implantada a caixa de visita da latrina, assim como na própria estrutura que a constitui, observam-se alguns silhares reaproveitados, tal como um lintel de estilo manuelino reaproveitado para a passagem de escoamento da fossa.

Foto 39 – Vista geral sobre um lintel ao estilo manuelino, detectado na parede exterior da caixa de visita da latrina. Perspectiva Norte.

De referir ainda que no interior da caixa de visita da latrina encontram-se dois pilares de secção quadrangular, construídos com recurso a tijolos maciços espessos unidos com argamassa de cal. Do mesmo modo, se observa um destes pilares entre a dita caixa e a parede Norte da sala em que se encontra localizada. Estes pilares são, pelos materiais construtivos, cronologicamente datáveis da época de ocupação industrial do espaço, e deverão ter sido erguidos como reforço aos arcos da caixa de visita, na sustentação que aqueles providenciavam ao piso da sala que se sobrepunha a toda a estrutura.

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

47

Foto 40 – Vista geral sobre o interior da caixa de visita. Perspectiva Nordeste. De notar a ausência de cobertura da sala em que se encontra esta estrutura.

Todo o compartimento 3 é iluminado apenas por uma estreita janela, proporcionando dessa forma a privacidade inerente à funcionalidade deste espaço. Trata-se de um vão de janela de cronologia conventual, de forma rectangular horizontal, de tal forma elevado em relação ao nível do piso de circulação que praticamente se encontra adossado ao nível da cobertura da sala da latrina. Encontra-se emoldurado por cantaria de calcário exógena apenas no alçado exterior. No interior, a moldura deste vão consiste apenas na disposição do aparelho da parede, bem como de uma cobertura em arco abatido de tijolos maciços finos ao cutelo. À semelhança do que acontecia no vão de janela detectado no compartimento 2, com o qual aliás partilha bastantes semelhanças morfológicas, este vão apresenta igualmente duplo afunilamento de ambos os lados da parede, ampliando a sua abertura tanto para o interior como para o exterior. De referir igualmente que esta janela apresenta um gradeamento, embora especulemos não ser o original.

profundidade

altura

0,45 m

largura

1,10 m

interior

0,63 m

exterior

0,50 m

Foto 41 – Vista geral sobre o vão de janela do compartimento 3. Perspectiva Nordeste.

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

48

Este compartimento não se encontra coberto, tal como acontecia com as salas que a antecedem. No lugar da cobertura encontram-se apenas algumas traves que serviriam para sustentação do piso superior. Quanto ao piso da sala, está, igualmente, ausente. No canto Noroeste da sala, o afloramento rochoso não foi sequer aplanado, ultrapassando largamente o nível da caixa de visita, praticamente alcançando metade da altura da sala. Este facto, assim como a pobreza de acabamentos verificados nos vãos de acesso à latrina, reforçam o carácter pouco nobre de toda esta parte do edifício. Especulamos que no interior do compartimento tenha existido algum tipo de estrutura em madeira, entretanto desaparecida por acção antrópica ou natural, que se localizaria sob os arcos da caixa de visita e que permitisse à comunidade conventual adoptar uma posição adequada à satisfação das suas necessidades fisiológicas. Corrobora esta hipótese a presença de três orifícios na parede Sul da sala, ao nível do topo da caixa de visita da latrina, que podem ter servido para aplicação de travejamento capaz de sustentar tal estrutura.

Foto 42 – Vista geral sobre o corredor entre a caixa de visita da latrina e a parede Sul do compartimento 3. Perspectiva Oeste. Em destaque: dois dos três orifícios detectados naquela parede e a eventual forma como se articulariam com alguma estrutura assente sobre a caixa de visita da latrina. De notar a porta de acesso à latrina (ao fundo), descrita no âmbito da análise do compartimento 1.

Para mais informações relativas à latrina e ao respectivo funcionamento do sistema de evacuação de água, deverá o leitor consultar o capítulo dedicado à análise do sistema hidráulico conventual.

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

49

3.2.1.3. Piso 0 – Ala Sul

Anexado a Oeste do centro da ala Este do piso 0, localiza-se a ala Sul deste piso, composta por um conjunto de três salas, os compartimentos 1, 2 e 3.

• Compartimento 1

Este é um compartimento no qual Sandra Lopes localiza a ‘sala do Capítulo’ (LOPES, 1998: 93). A mesma autora defende que, por regra, a sala do capítulo é nos edifícios conventuais um espaço nobre destinado a acolher alguns eventos importantes, tais como a eleição de cargos religiosos, a profissão dos votos dos monges ou o enterramento das pessoas mais ilustres (LOPES, 1998: 41). Também Pedro dos Santos localiza neste compartimento o ‘Capítulo’ (SANTOS, 1997: 47), indicando que ali foram instalados diversos dispositivos de lavagem e tinturaria da fábrica de tecidos (SANTOS, 1997: 49), fundamentando com esta referência o número de condutas industriais detectadas, como veremos, no piso de circulação deste espaço. No caso do compartimento 1 da ala Sul do piso 0, trata-se de uma sala de planta rectangular e de duplo pé direito. Encontra-se coberta por abóbada de berço construída com recurso a tijolos ao cutelo, rasgada por quatro arestas, cujos vértices se apoiam em pilares encimados por lintéis, anexados às paredes laterais.

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

50

Fotos 43 – Pormenor da abóbada de cobertura no canto Noroeste do compartimento 1 e dos respectivos pilares de apoio. Perspectiva Este.

Na parede Norte deste compartimento abrem-se dois vãos de janela ao nível superior, praticamente adoçados à abobada de cobertura, abrindo para o piso 1 da ala Sul do claustro. Tratam-se de dois vão de formato rectangular, que sofrem afunilamento em direcção ao exterior, de lintel, ombreiras e parapeito em cantaria de calcário, de moldura exógena nos alçados interior e exterior, encimados por um arco de descarga em tijolo ao cutelo. Estes vãos foram ligeiramente alterados em época industrial, tendo sido substancialmente menores do que se encontram actualmente, a julgar pela disposição das cantarias das suas ombreiras. Por seu turno, a parede Sul deste compartimento encontrava-se profundamente alterada por dois novos vão industriais de grandes dimensões, bem como por obras de cronologia igualmente industrial nos vãos conventuais preexistentes. Por este motivo, esta parede tem vindo a ser alvo de profundas intervenções de recuperação e consolidação, tendo em vista a recuperação da sua traça conventual. Para esse efeito, os vãos industriais foram fechados, ao passo que os conventuais foram meramente consolidados.

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

51

Fotos 44 e 45 – Vista geral sobre os alçados Norte e Sul do compartimento 1, respectivamente. Perspectiva Sul e Norte, respectivamente. Em destaque: tubo de queda em grés.

Vãos de Janela no alçado Norte

profundidade

Vãos de Janela no alçado Sul

altura

1,60 m

altura

2,55 m

largura

0,92 m

largura

1,10 m

interior

0,22 m

interior

0,22 m

exterior

0,88 m

exterior

0,89 m

profundidade

De referir ainda que foi localizado um tubo de queda em grés na parede Norte desta sala. Trata-se de um tubo industrial de evacuação de águas, que tem a sua origem no piso 1 da ala Sul do claustro e que se desenvolve verticalmente, embutido na parede, desaguando numa caixa de visita implantada no piso da sala, a cerca de 50 cm à esquerda do pilar direito daquela parede. Para mais informações relativas à parede que confina a Sul da sala do capítulo, poderão os leitores ver os dados relativos à análise do alçado Sul do edifício, onde se explicam detalhadamente a cronologia e a função dos vãos que ali se detectaram. Na parede Este do compartimento 1 encontram -se actualmente dois vãos de porta de acesso ao compartimento 2 desta ala. O primeiro, à esquerda do pilar central daquela parede, é uma abertura industrial apresentando-se encimado, contudo, por um arco de descarga em tijolos maciços finos ao cutelo, indicando portanto uma possível origem conventual. Contudo, o seu elevado grau de alterações a que foi sujeito não nos permite averiguar a sua dimensão ou formato originais. O segundo, à direita do pilar central daquela parede, é igualmente uma abertura industrial, embora apresente vestígios de cantaria ao nível das ombreiras, o que indica sem dúvidas uma abertura

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

52

conventual preexistente. O seu grau de destruição não permite igualmente averiguar a sua configuração original.

Fotos 46 e 47 – Vista geral sobre os vãos de porta detectados na parede Este do compartimento 1, respectivamente à esquerda e à direita do pilar central. Ambas as perspectivas a Oeste. Em destaque: vãos de origem industrial.

altura

3,40 m

altura

3,80 m

largura

2,60 m

largura

1,80 m

profundidade

0,90 m

profundidade

0,90 m

Sobre cada um destes dois vãos, embora numa posição ligeiramente desviada para a direita, podemos observar a abertura de dois estreitos vãos de cronologia industrial. Foram obtidos através do desmonte do aparelho conventual, com certeza para permitir a passagem de algum aparato industrial e não a passagem de luz, que tão abundantemente chega a esta sala através dos vãos abertos nas suas paredes Sul e Norte. Sobre o vão de porta à direita do pilar central aquele vão permanece ainda aberto, o mesmo não podendo ser dito do que se encontra sobre o vão de porta à esquerda do pilar central, que se encontra emparedado com tijolos maciços espessos , uma obra aparentemente executada ainda durante a fase de ocupação industrial do edifício. De referir ainda que este compartimento apresenta o seu piso profundamente alterado, sendo visíveis várias condutas industriais, uma das quais partindo de um Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

53

túnel abobadado, aberto à esquerda da parede sul. Na época de ocupação industrial, esta sala terá recebido a maquinaria de lavagem dos tecidos da tinturaria que ali existiu (SANTOS, 1997: 47), facto que teve grande impacto ao nível do piso, de onde irrompem diversas condutas industriais. De notar que no canto Noroeste da sala, apresenta-se um tramo de piso em tijolos maciços espessos cuja tipologia só por si é suficiente para lhe atribuir uma cronologia industrial.

Fotos 48 – Vista geral sobre a conduta industrial de evacuação de águas em conexão com um túnel de igual cronologia que a une ao claustro.

Para mais informações sobre as condutas industriais verificadas no piso da sala do capítulo, devem os leitores consultar o capítulo dedicado ao levantamento do existente relativo à componente do sistema hidráulico industrial.

• Compartimento 2

Não existem para compartimento 2 referências bibliográficas nem nele foram detectados indícios que nos permitam confirmar a sua função original. Não obstante, especulamos que tenha sido projectado em articulação com o claustro principal, Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

54

programado para a área do logradouro mas nunca erguido. Em articulação com esse espaço, o compartimento 2 ganha uma nova perspectiva utilitária, possibilitando um corredor de ligação entre o claustro principal, a sala do capítulo e o compartimento 3, e deste último para a ala Este do dormitório e para o piso 0 do claustro de serviço (o único efectivamente erguido). A ser verdade esta conjectura, deveremos considerar o compartimento 2 da ala Sul do piso 0 como uma área de trânsito. O acesso ao compartimento anterior efectua-se através de um espaço que tal como aquele é composto de duplo pé-direito. As passagens que actualmente fazem a ligação entre os dois compartimentos encontram-se profundamente mutiladas, como descrito aquando da análise da parede Este do compartimento anterior. Tal como se verifica no compartimento 1, a parede sul do presente compartimento foi também profundamente alterada no decorrer da ocupação industrial do espaço. Na presente empreitada têm decorrido trabalhos com o objectivo de restituir ao alçado a sua originalidade. Desta forma, foi recuperado o vão de janela superiormente localizado, restituindo-lhe o seu formato rectangular. Trata-se de um vão de lintel, ombreira e peitoril em cantaria e de moldura exógena nos alçados interior e exterior, encontrando-se ainda encimado por um arco de descarga em tijolo ao cutelo. A sua localização, actualmente inacessível, não permitiu averiguar as suas dimensões. De igual modo o vão inferior, que se abre ao nível do piso de circulação, encontra-se em fase de recuperação. Trata-se de um vão de porta profundamente mutilado durante a fase de ocupação industrial do edifício, tendo permanecido intactas apenas as suas soleira e ombreira esquerda, motivo pelo qual não pudemos adivinhar as suas dimensões originais.

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

55

Vão de Janela

profundidade

altura

1,77 m

largura

1,08 m

interior

0,82 m

exterior

0,28 m

Fotos 49 e 50 – Vista geral sobre a parede Sul do compartimento 2 e pormenor do vão inferior da mesma, respectivamente. Perspectivas Norte e Sul, respectivamente.

Foram entretanto executados alguns emparedamentos de outros vãos industriais localizados nesta parede de forma a restituir-lhe a sua traça conventual. Para mais informações sobre esta parede e respectivos vãos poderão os leitores consultar a análise arquitectónica do alçado Sul. Na parede Este do compartimento em análise acha-se um vão, de cronologia industrial de acesso ao compartimento 22 da ala Este do piso 0, obtido através do desmonte do aparelho conventual e rematado nas suas faces interiores com argamassa de cal, por sua vez caiada de branco. Encontra-se emparedado, obra aparentemente realizada ainda durante a época industrial. À direita deste vão localizase um tubo de queda em grés de origem industrial, que se desenvolve desde o piso 2 até ao piso de circulação do presente compartimento onde encontra uma caixa de visita de origem igualmente industrial.

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

56

profundidade

altura

2,15 m

largura

1,10 m

interior

?*

exterior

?*

* Emparedamento não permite adivinhar estas dimensões

Fotos 51 – Vista geral sobre o vão da parede Este do compartimento 2. Perspectiva Oeste. Em destaque: tubo de queda em grés e respectiva caixa de visita.

Por último, no parede Norte do compartimento, encontra-se um arco de volta perfeita, adintelado, de moldura em cantaria calcária exógena sobre ambos os alçados, que se abre para o compartimento 3 desta ala. Uma vez que o compartimento 3, como veremos, estabelece por seu turno ligação ao compartimento 22 da ala Este do piso 0, estamos convictos de que este vão de arco estabelecia, à época conventual, ligação entre o piso inferior dos dormitórios e a sala do capítulo. Neste alçado são ainda visíveis dois outros vãos, de cronologia industrial. O primeiro, imediatamente à direita do arco anterior, foi aberto possivelmente para albergar algum aparato fabril através do desmonte do aparelho conventual, não ultrapassando a totalidade da espessura da parede. O segundo localizado ao nível superior e desviado para a direita da parede encontra-se ao nível do piso 1 do claustro, através do qual abria para um piso criado na época industrial aproveitando o duplo pé-direito deste compartimento. Deste piso, entretanto desmontado subsistem apenas os negativos das suas paredes, visíveis ao nível do topo das paredes deste espaço. Este último vão, cujos acabamentos emoldurados por cantaria em calcário poderiam induzir em erro relativamente à sua cronologia, não se encontra acessível, motivo pelo qual não apurámos as suas dimensões.

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

57

Vão de Porta altura

1,90 m

largura

1,50 m

profundidade

1,10 m

Vão de Arco altura máxima

3,50 m

largura

1,50 m

profundidade

1,13 m

Vão à Direita do Arco altura máxima

2,90 m

largura

1,90 m

profundidade

0,5 m

Fotos 52 – Vista geral sobre a parede Norte do compartimento 2. Perspectiva Sul. Em destaque: negativo de um piso industrial já desmontado.

De referir ainda que o piso conventual do compartimento 2 se encontra profundamente destruído, no entanto, podem ainda observar-se vestígios de tijoleira, com molduras laterais e central, em lajes calcárias.

Fotos 53 – Pormenor do piso conventual no compartimento 2.

Quanto à cobertura deste compartimento, faz-se em abóbada de berço adintelada, que se desenvolve ao longo do comprimento do espaço, no sentido Norte/Sul.

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

58

• Compartimento 3

Uma vez mais, as referências bibliográficas relativas ao compartimento 3 escasseiam, não sendo por isso fácil adivinhar a sua função à época conventual. À semelhança do que ocorreu com a ala Norte deste piso, Sandra Lopes exclui igualmente este compartimento da planta que nos apresenta em ‘Convento de S. Francisco da Ponte – Valor da Arte Coimbrã’. Como ficou referido, aquando da análise da ala Este deste piso, o trânsito que corresponde ao compartimento 2 dessa ala confronta a Norte com um arco de acesso ao presente compartimento. Este espaço poderá ter tido como única função a ligação entre o compartimento anterior e o piso 0 do dormitório, estabelecendo ainda acesso ao piso 0 do claustro, já que na sua parede Norte se encontram um vão de porta e, à sua esquerda, vão de janela, ambos de cronologia conventual e abrindo para um espaço parcialmente entulhado no piso 0 do claustro. Ambos os vãos são compostos por molduras em cantaria de calcário exógenas apenas no alçado interior, abrindo ambas as folhas de cada um deles para Norte, precisamente para o espaço aberto no piso 0 do claustro. Este facto leva-nos a ponderar a possibilidade de existência de algum compartimento anexo a Norte ao compartimento 3, para o interior do qual abrissem as folhas daqueles vãos. A ser verdade a existência de tal compartimento, terá já sido desmontado, fenómeno que só poderá ter ocorrido ainda durante a fase de ocupação conventual deste edifício, dado que no espaço que ocuparia se encontram posicionados os pilares de sustentação do arco mais a Sul da ala Este do claustro. A não ser verdade a existência desse compartimento, só poderemos admitir um contexto de reaproveitamento para as Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

59

peças de cantaria que compõem aqueles vãos, justificando, ainda que pobremente, o facto de abrirem as suas folhas para o exterior. De salientar o lintel do vão de janela é constituído por uma moldura estilisticamente datável do período medieval e que, portanto se encontra em contexto de reaproveitamento.

Vão de Porta

profundidade

altura

1,75 m

largura

0,90 m

interior

0,20 m

exterior

0,40 m

Vão de Janela

profundidade

altura

0,73 m

largura

0,60 m

interior

0,30 m

exterior

0,23 m

Fotos 54 e 55 – Vista geral sobre a parede Norte do compartimento 3 (em cima) e pormenor da janela com lintel medieval. Ambas as perspectivas de Sul.

Nesta sala existe ainda uma passagem industrial, na sua parede Oeste, à qual se deveria aceder por umas escadas entretanto desaparecidas, até ao piso 1 do Claustro e que deveriam ocupar a totalidade desta sala, tal como ainda é possível constatar através de alguns negativos existentes nas paredes.

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

60

altura

2,40 m

largura

1,20 m

profundidade

?*

* Emparedamento não permite adivinhar estas dimensões

Foto 56 – Vista geral do vão de porta da parede Oeste do compartimento 3. Perspectiva Este.

Do seu piso conventual do compartimento 3 já nada resta, apresentando-se actualmente em terra batida. A cobertura actual é construída em betão armado, remontando pois ao período industrial e deverá ter substituído uma cobertura em abóbada de arestas, tal como testemunha uma imposta e tramo de reboco em negativo visíveis na extremidade Nordeste da sala.

Foto 57 – Pormenor da ombreira esquerda do vão de arco de acesso ao compartimento 22 da ala Este do piso 0 e da imposta de apoio à cobertura do compartimento 3 da ala Sul do mesmo piso (seta vermelha). Perspectiva Sudoeste.

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

61

Na parede Sul do presente compartimento, imediatamente à esquerda do vão de arco que o une ao compartimento 2, encontra-se uma ombreira de um vão de origem conventual. Os escassos dados a ele associados não nos possibilitou determinar a sua configuração ou dimensão originais, ou sequer o modo de articulação com o referido arco.

Foto 58 – Pormenor da ombreira detectada na parede Sul do compartimento 3. Perspectiva Norte.

O piso 0 do claustro

Como

veremos

atempadamente,

o

edifício

que

alberga

actualmente

os

compartimentos da ala Sul do piso 0 é, conjuntamente com o edifício que alberga os compartimentos da ala Este, de cronologia anterior à da construção de outros edifícios conventuais. Na parede Norte do compartimento 3 da ala Sul do piso 0 constatámos, como já referido, dois vãos de origem conventual, evidências da ocorrência à época conventual de um piso 0 no interior do espaço posteriormente ocupado pelo claustro. Desconhecemos as dimensões deste piso, assim como não nos encontramos na posse de elementos que nos permitam avaliar a forma como se articulava este piso com os edifícios que o confinavam, uma vez que o esclarecimento destas questões não se articula com os objectivos previstos para a presente empreitada.

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

62

Sabemos, no entanto, que a falta de emparedamento daqueles vãos indica que não tenham sido desactivados, prolongando portanto a articulação do compartimento 3 com o piso 0 do claustro mesmo depois de este ter sido erguido. No espaço a Norte do compartimento 3 encontra-se a sapata do pilar do canto Sudeste do claustro que encosta à parede Norte deste compartimento, sendo por isso uma construção de cronologia posterior. Uma vez que a sapata deste pilar, tal como do pilar que lhe é oposto a Norte, se apresentam construídas com óptimos acabamentos e aparelho muito regular, julgamos que tenham funcionado como ponto de passagem de um hipotético piso 0 do claustro, uma vez que o grau de perfeição do acabamento não é consistente com sapatas que se destinassem a ser enterradas. Fica, no entanto, por determinar se este piso daria acesso a uma eventual escada de passagem ao piso 1 do claustro (estabelecendo deste modo a ligação entre o claustro e a sala do capítulo) ou se estaria simplesmente relacionado com uma passagem para um hipotético piso 0 da ala Este do claustro.

Foto 59 – Vista geral sobre o canto Sudeste do claustro. Perspectiva Noroeste. Em destaque: parede Norte do compartimento 3 (seta vermelha) e sapatas de sustentação aos pilares do último arco a Sul da ala Este do claustro (setas azuis).

De notar que durante os trabalhos de desaterro mecânico ocorridos no claustro, foram postos à vista vestígios de um lajeado e de algumas estruturas murais ao nível do piso 0, que corroboram a existência no espaço ocupado pelo claustro de um nível de circulação à cota do piso 0. Uma vez que nesta fase não foi possível executar aqui uma sondagem arqueológica, pois tal não se coadunaria com os objectivos previstos para a presente empreitada, a nossa interpretação das estruturas observadas são

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

63

meramente conjecturais. No entanto, parece-nos que uma destas estruturas murais poderá corresponder a um tramo de uma escadaria que unia pelo exterior o piso 0 a Norte do compartimento 3 à ala Sul do piso 1 do claustro, tendo sido parcialmente anulado pela construção do pilar do canto Sudeste do claustro. De salientar que neste tramo de escadas se encontra aplicado como corrimão uma moldura estilisticamente datável do período medieval e, portanto em claro contexto de reaproveitamento. Perto desta moldura, aplicado nas fundações da ala Sul do claustro, detectámos um silhar que exibe marca de canteiro.

Foto 60 – Vista geral sobre o canto Sudeste do claustro. Perspectiva Noroeste. À direita o vão de porta detectado na parede Norte do compartimento 3. À esquerda o corrimão de uma eventual escadaria de acesso ao piso 1 da ala Sul do claustro (seta vermelha). Destaque ainda para a localização de um silhar assinalado com marca de canteiro (seta azul).

Foto 61 – Pormenor Perspectiva Oeste.

do

corrimão.

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

64

Foto 62 – Pormenor do silhar com marca de canteiro. Perspectiva Oeste.

De forma a esclarecer a relação que existiria entre o piso 0 e o piso 1 propomos, como medida de minimização futura, a execução neste espaço, de uma sondagem arqueológica, uma vez que a mesma não teve enquadramento nesta fase da obra.

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

65

Limite de Intervenção

ALA NASCENTE

Emparedamento em época industrial Desmonte em época industrial Intervenção decorrente em época conventual Emparedamento em época indeterminada Emparedamento no âmbito da presente empreitada Emparedamento no âmbito de empreitadas anteriores

CÂMARA MUNICIPAL DE COIMBRA - DOGIM - DEE

Obra Nº 2307 - Convento de São Francisco Obras de Consolidação Estrutural e Trabalhos de Arqueologia

Planta do Piso 0

DESENHO DE PREPARAÇÃO

Desenho Nº PREP 015 / 2307

Págª 1 / 3

Caracterização Arqueológica

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final 66

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final 67

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final 68

3.2.2. Piso 1

O piso 1 do edifício é composto por quatro alas, as alas Este, Norte, Oeste e Sul. Apresenta uma ala a mais (ala Oeste), relativamente ao piso 0, em virtude de estar construído a um nível superior da encosta de Santa Clara-a-Nova, dispondo por esse motivo de uma área maior. Relativamente à ala Este, projectada no prolongamento da fachada da igreja, apresenta as mesmas dimensões que a sua congénere do piso 0, com a qual, aliás partilha, como veremos, bastantes semelhanças construtivas e funcionais. Por seu turno, as alas Norte e Sul encontram-se construídas sobre o alinhamento das suas congéneres do piso 0, embora se apresentem com maior comprimento, facto que se justifica pelo aumento da área disponível a este nível da encosta de Santa Clara-a-Nova, o mesmo motivo que permitiu a construção da ala Oeste. Chamamos a atenção para o facto de os compartimentos da ala Sul não se desenvolverem na sua extremidade Este, onde se verifica o compartimento antes designado por ‘sala do capítulo’, bem como o compartimento que lhe é anexo a Este (compartimentos 1 e 2 da ala Sul do piso 0), que sendo de duplo pé-direito se desenvolvem desde o piso 0 até ao piso 1. Encontram-se estes compartimentos descritos aquando da análise arquitectónica que apresentámos da ala Oeste do piso 1. Do piso 1, e também do piso 2, faz parte integrante o claustro, que se apresenta com as características arcaria e varanda. Contudo, por motivos meramente logísticos, optámos por analisar o claustro separadamente, aparecendo o resultado dessa análise no final da análise do piso 2. De referir ainda que ao nível do piso 1 existiam no centro do claustro algumas estruturas de cronologia industrial, tais como uma fornalha e uma caldeira, que foram alvo de desmonte no âmbito da presente empreitada. A elas dedicaremos alguma reflexão aquando do capítulo dedicado ao acompanhamento arqueológicos dos trabalhos decorridos nesta empreitada.

67 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

- Ala Este - Ala Norte - Ala Sul - Ala Oeste

1

2 N

3 4 2

5

3

6

1

7 8

5 9 4

10 3

11 12 6

13

4 5

14

2

15 16 17 18 19

1

20

21

1

2

3

4

Convento de São Francisco da Ponte – Piso 1 Reconstituição Hipotética à Época Conventual (piso dividido por alas com numeração dos respectivos compartimentos)

68 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

3.2.2.1. Piso 1 – Ala Este

• Compartimento 1

Pedro dos Santos avança com duas possibilidades para a funcionalidade deste espaço. Através da leitura que realizou dos inventários de 1834, este autor defende que no compartimento 1 poderá ter funcionado o ‘cartório’ (SANTOS, 1997: em anexos) ou mesmo a ‘livraria’, ainda que neste caso a título provisório (SANTOS, 1997: 48). Sandra Lopes, contudo, localiza a ‘biblioteca’ no compartimento 6 da ala Sul do piso 2 (LOPES, 1998: 95), não avançando com qualquer funcionalidade para o presente compartimento. Esta sala, de planta quadrangular, tem acesso através do segundo piso dos dormitórios, por uma passagem em arco, que se localiza no extremo Sul deste nível dos dormitórios, à direita do corpo de escadas que constitui, por sua vez o compartimento 3 da ala Este do piso 0. De cronologia conventual, este arco apresenta-se de volta perfeita, adintelado e em cantaria de moldura exógena em ambos os alçados. Actualmente encontra-se parcialmente fechado por um tapume, no qual se abre um porta, e que deverá corresponder a uma obra relacionada com a exposição que aqui teve lugar. No próprio compartimento encontram-se diversos equipamentos daquele evento.

69 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

altura máxima

3,5 m

largura

3,20 m

profundidade

0,52 m

Foto 63 – Vista geral sobre o vão de arco de acesso ao compartimento 1. Perspectiva Norte.

No interior do compartimento 1 averiguámos que o travejamento da cobertura e sustentação do piso superior (originais) ainda se preservam embora de forma muito degradada. Sustentando este travejamento encontram-se duas traves, pintadas de branco, que atravessam o centro do tecto no sentido Norte /Sul. Uma delas, a poente, encontra-se apoiada em duas estruturas, um pilar e uma coluna. O pilar, em madeira, apresenta uma secção quadrangular, de arestas chanfradas e poderá datar da época de ocupação industrial do espaço. A coluna, de estilo toscano, de cronologia conventual, encontra-se ao centro da sala e está caiada de branco. Constitui o único exemplar deste tipo de coluna identificado em todo o convento, com tais dimensões.

70 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 64 – Vista geral sobre a coluna de sustentação do travejamento do tecto do compartimento 1. Perspectiva Nordeste.

A sustentar uma trave em ferro, no canto Sudoeste da sala, encontra-se um terceiro pilar em tijolo maciço e cimento. Trata-se de um aparato relacionado com um lance de escadas criado no decorrer da ocupação industrial, entretanto já desmantelado e que dava acesso ao coro da igreja, no piso superior. O piso deste compartimento, recentemente coberto com painéis de contraplacado, deverá ainda manter vestígios do original, constituído por tijoleira cerâmica emoldurada por lajes calcárias, como pudemos observar no canto Noroeste da sala. Na parede Oeste desta sala, abria-se, para o logradouro, um vão de porta que deverá ter sido anulado pelo lance de escadas do coro da igreja. Encontra-se profundamente remodelado e emparedado com o recurso a materiais recentes (pedra e cimento). Deverá ter constituído, no entanto, a um vão de porta conventual, a julgar pelos seus homólogos dos pisos 0 e 2 e que, à semelhança destes, deveria articular-se com o claustro principal, projectado para aquele espaço mas não construído.

71 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

profundidade

altura

2,80 m

largura

1,70 m

interior

0,40 m

exterior

?

Foto 65 – Vista geral sobre o vão de passagem para o logradouro detectado no interior do compartimento 1. Perspectiva Este.

Foto 66 – Vista geral sobre o vão de escadas para o piso 2 detectado no interior do compartimento 1. De notar o vão de passagem para o logradouro, à direita. Perspectiva Norte.

Na parede Sul do compartimento 1 detectámos um arco abatido, de cronologia conventual, construído em tijolos maciços finos ao cutelo e assente sobre ombreiras de alvenaria de pedra. Apesar de emparedado, é visível o reboco que o cobria inteiramente com vestígios de pintura a branco. Especulamos que, dadas as suas enormes dimensões, não se trate de um vão de porta de acesso a outra divisão, mas antes um prolongamento do próprio compartimento 1. Uma vez que este arco abria para o nartex, de onde aliás se pode, mesmo através da pintura da parede, constatar a sua presença, julgamos possível que existisse ali, ao nível do piso 1, um andar, posteriormente anulado pela construção da abóbada que actualmente cobre o nartex. 72 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Esta hipótese é aliás reforçada no tramo intermédio da fachada da igreja, onde são visíveis quatro vãos de janela emparedados que não fazem sentido no âmbito da iluminação do nartex (já amplamente iluminado pelos arcos que lhe dão acesso) mas que fariam todo o sentido para a iluminação de uma sala autónoma no prolongamento de uma ‘biblioteca’ ou de um ‘cartório’. O arco a que nos referíamos sofreu diversas alterações. Num primeiro momento terá sido parcialmente emparedado dando origem a um vão de janela. São disso testemunho as duas linhas verticais paralelas de cunhais, igualmente rebocadas e caiadas nas suas faces internas. Num terceiro momento este vão de janela, foi parcialmente fechado, deixando contudo, a julgar por uma linha vertical de reboco caiado, um vão de janela menor. Por último, num quarto momento, também este vão acabou por ser fechado. No topo deste arco encontra-se um pequeno vão aberto e emparedado no decurso da ocupação industrial, que poderá ter servido de passagem a qualquer estrutura ou aparelho industrial.

Foto 67 – Vista geral sobre o vão de arco emparedado na parede Sul do compartimento 1 (setas azuis). Perspectiva Norte. De notar o vão janela criado ao emparedar parcialmente aquele arco (setas amarelas), assim como o vão de janela menor, criado aquando do emparedamento parcial daquela janela (seta verde). De notar ainda o orifício emparedado na época industrial (seta vermelha). 73 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Vão de Arco de Passagem

Vão de Janela Maior

Vão de Janela Menor

altura máxima

3,20 m

altura

1,99 m

altura

1,99 m

largura

4,30 m

largura

1,55 m

largura

0,90 m

profundidade

?

profundidade

?

profundidade

?

Na parede Este da biblioteca abrem-se dois vãos de janela de grandes dimensões, coadunando-se com a necessidade de iluminação de uma ‘biblioteca’. Tratam-se de vãos de janela de avental, que eram servidas de bancos laterais em cantaria, embora apenas a ombreira lateral direita da janela à direita do alçado preserve um destes bancos completo. Ambas as janelas apresentam arcos de descarga em tijolo ao cutelo.

profundidade

altura

3,05 m

largura

1,65 m

interior

0,80 m

exterior

0,22 m

Dimensão das ‘Namoradeiras’ altura

0,42 m

largura

0,36 m

espessura

0,11 m

Foto 68 – Vista geral sobre um dos vãos de janelas que se abrem na parede nascente da biblioteca (vão à esquerda do alçado). Perspectiva Oeste.

74 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Dormitório

O piso intermédio dos dormitórios encontrava-se reservado aos frades do topo hierárquico e era designado por ‘dormitório segundo’ ou ‘da parte da livraria’, sendo as celas deste numeradas a partir da ‘livraria’ localizada no extremo Sul desta ala (SANTOS, 1997: 42).

• Compartimentos 2 e 20

Neste piso, dos corpos de escadas que marcavam, a Norte e a Sul, o início do dormitório, apenas o mais a Sul se encontra totalmente preservado, ocupando sensivelmente

metade

da

largura

do

dormitório.

A

este

compartimento

convencionámos designar por compartimento 2, a que corresponde o já descrito compartimento 3 da ala Este do piso 0. A partir da parede Oeste deste compartimento abre-se um vão de porta de acesso ao dormitório. Trata-se de um vão totalmente em cantaria, com moldura exógena no interior e exterior e encimado por um arco de descarga em tijolo ao cutelo. O vão da porta encosta imediatamente à esquerda do arco de acesso ao compartimento anterior.

75 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

profundidade

altura

1,90 m

largura

1,10 m

interior

0,57 m

exterior

0,22 m

Foto 69 – Vista geral do vão de porta de acesso ao corpo de escadas a Sul, ao nível do piso 1. Perspectiva Oeste.

O interior deste corpo é iluminado por um vão de janela de lintel, ombreiras e peitoril em cantaria calcária, de moldura exógena no alçado exterior e interior, que se encontra embutida num vão de abertura mais amplo que vai do piso de circulação até ao tecto do lance das escadas, igualmente provido de moldura em cantaria de calcário exógena no alçado interior.

profundidade

altura

1,80 m

largura

0,90 m

interior

0,78 m

exterior

0,22 m

Foto 70 – Vista geral sobre o vão de janelas que se abre no interior do corpo de escadas a Sul, ao nível do piso 1. Perspectiva Oeste.

Relativamente ao corpo de escadas mais a Norte, ou compartimento 20, nada dele sobreviveu à ocupação industrial deste espaço, tendo sido completamente 76 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

desmontado. Subsistem, contudo, os negativos das suas paredes Oeste e Sul deixados respectivamente nas paredes Norte e Este do dormitório. Dos degraus deste compartimento subsistem igualmente os negativos, ainda visiveis nas paredes Norte e Este do dormitório.

Foto 71 – Pormenor de alguns degraus detectados no canto Nordeste do piso 1 dos dormitórios. Perspectiva Sudeste.

O compartimento 20 seria iluminado por uma janela que ainda subsiste. Trata-se de um vão de janela igual ao detectado no compartimento 2, de lintel, ombreiras e peitoril em cantaria calcária de moldura exógena no alçado exterior e interior, encontrando-se embutida num vão de abertura mais amplo que vai do piso de circulação até ao que seria o tecto do lance das escadas (antes de este ter sido desmontado na época industrial), igualmente provida de moldura em cantaria de calcário exógena no alçado interior.

profundidade

altura

1,80 m

largura

0,90 m

interior

0,78 m

exterior

0,22 m

Foto 72 – Vista geral do vão de janela que iluminaria o corpo de escadas Norte do piso 1 dos dormitórios, conforme foi possível fotografá-lo. Perspectiva Oeste. 77 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

• Compartimentos 3 a 19 e compartimento 21

O espaço que antes era ocupado pelo dormitório conventual do piso 1 encontra-se actualmente amplo, não subsistindo qualquer tipo de divisória, nem dos trânsitos (compartimentos 3, 11 e 19), nem do corredor principal (compartimento 21) e nem das celas (compartimentos 4 a 10 e 12 a 18). O desmonte das paredes divisórias daqueles compartimentos ocorreu, à época industrial, enquanto adaptação do espaço à unidade fabril que aqui laborou, levando à criação de um único e amplo espaço.

Foto 73 – Vista geral do interior do dormitório do piso 1. Perspectiva Norte.

Neste espaço amplo verifica-se, na parede voltada a Este, o conjunto de catorze vãos de janela das celas, de menores dimensões, e três vãos de janela de maiores dimensões (uma ao centro e uma em cada uma das extremidades do conjunto das janelas das celas) que marcariam áreas de trânsito.

78 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Os vãos de janelas que pertenciam às celas, não são de avental, ao contrário do que acontece com as do piso 0. Encontram-se todas com chanfros em ambas as ombreiras, resultantes do desmonte do aparelho, possivelmente com o objectivo de obtenção de mais luz natural ou simplesmente de mais espaço, no decurso do período industrial. Possuem lintel, ombreiras e peitoril em cantaria de calcário e são de moldura exógena no alçado exterior e cobertura em ripado de madeira encimada por arco de descarga em tijolo ao cutelo.

profundidade

altura

3,10 m

largura

1,35 m

interior

0,92 m

exterior

0,22 m

Foto 74 – Vista geral sobre o vão de janela correspondente ao compartimento 12. Perspectiva Oeste. Destaque para o tubo de queda em grés, do lado direito deste vão.

Nas áreas das ombreiras em que não se verifica o desmonte para a obtenção de chanfros, constata-se uma grande quantidade de silhares em contexto de reaproveitamento como acontece, aliás, um pouco por toda a ala dos dormitórios. Alguns deles apresentam, inclusivamente, vestígios de pintura que, pela forma como se dispõem os silhares, só poderá ter ocorrido ainda antes do reaproveitamento ter ocorrido. Do lado direito do vão de janela correspondente ao compartimento 4, constatámos a presença de dois silhares que exibem marcas de canteiro, também eles em claro contexto de reaproveitamento.

79 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 75 – Vista geral sobre a ombreira direita do vão de janela correspondente ao compartimento 4. Perspectiva Oeste. Destaque para os dois silhares que exibem marca de canteiro.

Foto 76 – Pormenor de silhar com marca de canteiro. Perspectiva Oeste.

80 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 77 – Pormenor de silhar com marca de canteiro. Perspectiva Oeste.

Os três vãos de janela que marcavam os trânsitos, ou compartimentos 3, 11 e 19, são efectivamente sacadas abertas para o exterior, resguardadas por um varandim gradeado. Tratam-se de vãos construídos com recurso a cantaria calcária, de moldura exógena em ambos os alçados e encimadas por arco de descarga de tijolo ao cutelo. Não dispõem de ‘namoradeira’, embora a análise das cantarias aplicadas na base das ombreiras nos leve a supor que tenham efectivamente existido em cada uma das faces internas do vão, antes de serem amputadas na época industrial.

81 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

profundidade

altura

3,45 m

largura

1,85 m

interior

0,76 m

exterior

0,22 m

Foto 78 – Vista geral sobre o vão de janela correspondente ao trânsito central, o compartimento 11. Perspectiva Oeste.

A parede Oeste deste espaço, a que à época conventual definia a Oeste o corredor principal do dormitório, ou compartimento 21, apresenta-se profundamente alterada, sendo por vezes difícil distinguir o aparelho conventual do de época industrial, ou os vão conventuais dos industriais. De frente para o compartimento 3, observamos um vão de janela industrial, obtido através do desmonte do aparelho conventual, tendo sido o topo rematado por um arco em tijolos ao cutelo, unidos por argamassa de cal. Encontra-se actualmente emparedado por materiais recentes.

altura máxima

2,20 m

largura

2,10 m

interior

0,30 m

exterior

?

profundidade

Foto 79 – Vista geral sobre vão de janela industrial na parede Oeste do compartimento 21. Perspectiva Este. 82 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Sensivelmente de frente para o intervalo entre as janelas dos compartimentos 4 e 5 encontra-se uma abertura obtida por desmonte do aparelho (sem que atingisse o exterior), ocorrido na época industrial. Apresenta-se em arco de volta perfeita, desde o piso de circulação mantendo, contudo, uma banquete no seu interior. Ao centro desta banquete observava-se um orifício, que, apesar de entulhado deverá corresponder a um tubo de queda, uma vez que todo este vão deveria servir para instalar uma pia (lavatório), entretanto desmontado.

altura máxima

2m

largura

1,40 m

profundidade

0,40 m

Foto 80 – Vista geral sobre um nicho de lavatório industrial detectado na parede Oeste do compartimento 21. Perspectiva Este.

Sensivelmente de frente para o intervalo entre as janelas dos compartimentos 5 e 6 observava-se um vão que, a julgar pelas suas dimensões, terá servido como porta. A julgar pelo programa construtivo do alçado exterior desta parede, trata-se de uma abertura obtida em época industrial, uma vez que uma porta conventual se abre mesmo à sua direita, esta sim alinhada com as suas homologas dos pisos 0 e 2 e programada para se articular com o claustro principal que nunca chegou a ser erguido.

83 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

altura

3,15 m

largura

1,20 m

profundidade

?

Foto 81 – Vista geral sobre um vão de porta industrial detectado na parede Oeste do compartimento 21. Perspectiva Este.

De frente para o espaço intermédio entre os compartimentos 6 e 7 abria-se, à época conventual, uma porta que, à semelhança do que ocorria com as suas homólogas dos pisos 0 e 2 se projectou em articulação com o claustro principal que nunca chegou a erguer-se. Do vão de porta conventual, actualmente emparedado com o recurso a materiais recentes, subsiste apenas a cobertura em ripado de madeira, totalmente desprovido de arco de descarga, da ombreira direita e parte da ombreira esquerda, parcialmente chanfrada no decurso do período industrial (e alvo de reconstrução no âmbito da presente empreitada). Deste período data igualmente um pequeno vão que se abriu junto da sua ombreira direita, tendo sido entretanto emparedado com tijolos maciços e cujas funções desconhecemos, embora especulemos que estivesse de alguma forma relacionado com um pequeno orifício mais à direita, assim como com um alçapão que se abre no piso, igualmente à direita do vão de porta conventual (que corresponde à abertura que constatámos na abóbada do piso 0). Trata-se de um alçapão tapado mas de dimensões aproximadas de 1,40 m de largura e de 2,90 de comprimento.

84 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

altura

2,70 m

largura aproximada

1,40 m

interior

0,40 m

exterior

0,22 m

profundidade

Foto 82 – Vista geral sobre um vão de porta conventual detectado na parede Oeste do compartimento 21. Perspectiva Este. De salientar o chanfro emparedado recentemente (chaveta azul), assim como o orifício emparedado ainda na fase de ocupação industrial do edifício (seta vermelha).

De frente para o compartimento 9 detectámos uma abertura obtida através do desmonte parcial do aparelho da parede. Encontra-se emparedada por tijolos alveolares, obra que julgamos ter ocorrido nos últimos anos de ocupação industrial do espaço, trata-se de uma abertura em abóbada abatida, aberta a partir do piso de circulação. Desconhecemos a sua função, embora uma abertura no emparedamento nos tenha permitido constatar a sua curta profundidade e que se encontrava rebocada e caiada no interior. Especulamos portanto que tenha servido como armário ou para a instalação de maquinaria.

altura máxima

1,65 m

largura

1,60 m

profundidade

0,22 m

Foto 83 – Vista geral sobre uma abertura industrial destinada a maquinaria ou armário, detectada na parede Oeste do compartimento 21. Perspectiva Este.

85 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

De frente para o compartimento 10 constatámos a abertura, a 0,30 m do piso de circulação, de um orifício industrial que abre para o compartimento 2 da ala Sul do piso 0. Encontra-se parcialmente emparedado com tijolos alveolares e cimento (acção ocorrida recentemente). A julgar pelas suas pequenas dimensões, deverá ter servido de passagem a algum aparato industrial.

Foto 84 – Vista geral sobre uma abertura industrial destinada a algum aparato fabril, detectada na parede Oeste do compartimento 21. Perspectiva Este.

De frente para a janela que iluminava o compartimento 12 encontrámos um vão de porta de acesso ao claustro, de origem industrial, É constituído por cunhal na sua ombreira esquerda, bem definido e bem rematado. A sua cobertura é em tijolos alveolares. Encontra-se emparedado com o recurso a materiais de construção recentes. Pela sua localização especulamos que tenha sido construído através do alargamento de um vão conventual. Junto à ombreira esquerda deste vão, ao nível da cobertura, abria-se um orifício que deverá ter permitido, à época industrial, a passagem de algum aparato fabril. O mesmo ocorria junto à ombreira direita mas a partir do piso de circulação (uma abertura com 3,70 m de altura e 0,60 m de largura). Esta, por seu turno encontra-se totalmente emparedada com materiais recentes. Sensivelmente de frente para o compartimento 12 encontrámos um vão de porta industrial, bem como uma série de aparatos à sua esquerda, relacionados com duas latrinas. A porta abre a partir de dois degraus. Não apresenta qualquer tipo de acabamento ao nível das ombreiras ou da cobertura, sendo obtida através do desmonte do aparelho daquela parede. Encontra-se emparedada com materiais recentes. À sua esquerda observámos uma série de três canos em PVC, um completo atravessando todo o piso na vertical e dois incompletos cortados a cerca de 2 m de altura do piso de circulação. Detectaram-se igualmente dois pequenos nichos de 86 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

aplicação de autoclismos para WC. A presença destes WC’s de cronologia industrial foi apenas denunciada através de negativos que se constatam no chão.

Foto 85 – Vista geral sobre um tramo da parede Oeste do compartimento 21, amplamente modificado aquando da ocupação industrial do espaço. Perspectiva Este. À esquerda: um vão de porta industrial munido de ombreira esquerda em cunhal e ladeado por orifícios de época industrial (alguns entretanto emparedados). À direita: um vão de porta industrial arrancando a partir de um par de degraus. Ao centro: aparatos relacionados com WC’s industriais. Em destaque: arco de descarga conventual (seta azul).

Porta industrial à Esquerda

Porta industrial à Direita

altura

2,60 m

altura

2,40 m

largura aproximada

1,40 m

largura aproxim ada

1,40 m

interior

0,40 m

interior

0,45 m

exterior

?

exterior

?

profundidade

profundidade

Entre as duas portas descritas anteriormente, é visível um arco de descarga em tijolo ao cutelo, a uma altura máxima de 2,45 m a partir do nível de circulação actual, que poderá ter estado relacionado com a existência de um vão de janela ou de porta conventual (na foto anterior – seta azul). Todo este pano de parede regista múltiplas 87 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

alterações relacionadas, como já referido, com a construção de WC’s, e que foram continuamente adulterando a configuração original daquele vão conventual.

Fotos 86 e 87 – Pormenor do arco de descarga conventual profundamente amputado por intervenções industriais e pormenor dos negativos de dois cubículos industriais destinados a WC’s, Perspectiva Oeste.

De frente para o espaço entre os compartimentos 13 e 15, encontram -se duas aberturas industriais. Uma de topo abobadado poderá corresponder a um lavabo embutido na parede, com 2 m de altura máxima e 1,40 m de largura. A outra, à sua direita, abre-se à altura de 1,40 m até ao tecto, apresentando um formato rectangular, embora estreito (0,70 m de largura), podendo por isso estar relacionado com algum aparato industrial. A primeira foi emparedada no âmbito da presente empreitada (em baixo, seta vermelha). Quanto à segunda, deverá o emparedamento ter ocorrido ainda no período de ocupação industrial (em baixo, seta azul).

Foto 88 – Vista geral sobre um vão industrial possivelmente destinado a lavabo (seta vermelha) anexo à esquerda de uma abertura industrial destinada a algum aparato fabril (seta azul). 88 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

À direita destas aberturas constata-se, emparedado, um vão de janela de cronologia industrial, de topo abobadado construído em tijolo maciço espesso e ombreiras em alvenaria de pedra. Foi alvo de emparedamento parcial ainda na época industrial com recurso a materiais diversificados, mantendo-se preservado até aos nossos dias um vão de armário embutido no seu interior.

Vão de Janela Industrial altura máxima

2,55 m

largura aproximada

2,20 m

profundidade

?

‘Armário’ Industrial altura

1,60 m

largura aproximada

1,15 m

profundidade

0,85 m

Foto 89 – Vista geral sobre um vão de janela industrial (seta verde) parcialmente fechado para passar a albergar um armário (seta azul). Perspectiva Este.

A partir do canto Nordeste do claustro abre-se actualmente um vão de arco, de cronologia industrial que estabelece acesso ao compartimento 21, no interior do dormitório do presente piso. Terá sido obtido através do desmonte do aparelho conventual, pelo que não podemos excluir a hipótese de ter subsistido um vão conventual preexistente. Trata-se de um arco em volta perfeita, sem acabamentos de qualquer espécie, fechado pelo lado interior, à época industrial, por uma porta em madeira de duas folhas e de bandeira.

89 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

altura máxima

3,50 m

largura aproximada

2,30 m

profundidade

1m

Foto 90 – Vista geral sobre o vão de arco de cronologia industrial de acesso ao dormitório do piso 1. Perspectiva Oeste.

À esquerda deste arco abriam-se outros três, tipologicamente semelhantes, que abriam passagem para a ala Este do claustro. Foram, no decurso da presente empreitada, alvo de emparedamento. À esquerda do primeiro destes arcos (contando a partir de Sul) detectámos, à altura de 2,45 m do actual piso de circulação, um arco de descarga em tijolo ao cutelo, de cronologia conventual, cujo vão que encimava terá sido emparedado, muito possivelmente, ainda durante a fase de ocupação conventual deste edifício. Dado que a abertura do arco industrial que a ele se anexa amputou parte substancial da extremidade direita deste arco é-nos difícil avaliar a configuração do vão que encimava.

altura máxima

3,50 m

largura aproximada

2,30 m

profundidade

1m

Foto 91 – Vista geral sobre os três vãos de arco da parede Oeste do compartimento 21, emparedados na presente empreitada. Perspectiva Este.

90 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Fotos 92 e 93 – À direita: vista geral sobre o primeiro dos vãos constantes da fotografia anterior (contando da esquerda), com destaque para a localização do referido arco conventual de descarga (seta azul). À esquerda: pormenor deste arco. Perspectiva Este.

De frente para o compartimento 19 abre-se um vão de arco conventual, que dá passagem para o compartimento 1 da ala Norte do piso 1. Trata-se de um vão de arco de volta perfeita, construído com recurso a ombreiras adinteladas em cantaria de calcário e arco de tijolo ao cutelo, onde se encontram aplicados igualmente alguns silhares em claro contexto de reaproveitamento.

altura máxima largura profundidade

3,55 m 4m 0,92 m

Foto 94 – Vista geral sobre o vão de arco conventual localizado no extremo Norte da parede Oeste do dormitório do piso 1. Perspectiva Oeste.

No topo Norte do corredor principal deste dormitório, ou compartimento 21, encontrase uma janela de origem conventual, cujas ombreiras foram, na sua metade inferior, chanfradas à época industrial. Trata-se de um vão em cantaria de pedra calcária, de moldura exógena no alçado exterior e interior. Graças aos chanfros que amputaram significativamente as suas ombreiras, não é possível averiguar se esta janela seria ou não munida de ‘namoradeiras’. Em todo o caso, a janela que lhe é homóloga no piso 2 91 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

ainda dispões dos dois exemplares deste tipo de bancos, anexos às faces internas do vão, pelo que será de supor que o mesmo acontecesse no piso 1.

profundidade

altura

3,55 m

largura

1,90 m

interior

0,80 m

exterior

0,22 m

Foto 95 – Vista geral sobre o vão de janela que iluminaria o compartimento 21, conforme foi possível fotografá-lo. Perspectiva Sudeste.

3.2.2.2. Piso 1 – Ala Norte

• Compartimento 1

Para este compartimento, divergem as opiniões das fontes bibliográficas quanto à sua funcionalidade. Pedro dos Santos baseia-se na leitura dos inventários para ali localizar o ‘cárcere’, um espaço que, de acordo com o autor, serviria para penitência e reflexão dos frades que insurgissem em pecado (SANTOS, 1997: 47). Sandra Lopes, por seu turno, não individualiza este espaço do compartimento 2, avançando para ambos a funcionalidade de ‘oficina’ (LOPES, 1998: 95). 92 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Convém esclarecer que a parede que dividia os compartimentos 1 e 2 desta ala foi desmontada aquando da ocupação industrial deste edifício, tendo subsistido apenas o seu negativo na parede Norte da ala, visível desde o piso 1 ao piso 2. Não será por isso de estranhar que aqueles que tenham visitado este edifício em circunstâncias menos favoráveis que as presentes, não tenham constatado a sua existência.

Foto 96 – Vista geral sobre o negativo de parede visível na parede Norte dos pisos 1 e 2 (setas amarelas). Perspectiva Sul.

Ao compartimento 1 dá acesso o arco de volta perfeita descrito anteriormente aquando da análise da parede Oeste do compartimento 21 da ala Este (fotografia 92). Neste compartimento o mesmo arco abre, contudo, ao centro do alçado da parede Este. Igualmente neste alçado, no canto Sudeste do compartimento, localizámos os vestígios de um alinhamento que terá constituído um remate de parede, apresentando inclusive vestígios de reboco pintado a cal. Testemunha uma fase de construção primitiva da ala do dormitório, tendo sido, ainda no decurso da ocupação conventual, anexado o restante corpo do dormitório, criando desse modo o alçado que inclui hoje o arco anterior. A ausência de cobertura desta sala permite, aliás, observar o prolongamento deste remate para o piso 2, assim como a forma como a parede Sul desta sala apenas encosta na sua parede Este, sem imbricar.

93 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 97 – Vista geral do canto Sudeste do compartimento 1, bem como do mesmo canto do compartimento que se lhe sobrepõe. De notar o alinhamento provocado pelo encosto de dois paramentos (setas amarelas), assim como um silhar exibindo marca de canteiro (seta azul). Perspectiva Noroeste.

Estes vestígios (o alinhamento e o encosto entre paredes) permitem-nos afirmar que a ala Este do edifício (pisos 0, 1 e 2) terá sido construída numa fase primitiva do empreendimento, sendo posteriormente anexada a ala Norte do mesmo (pisos 1 e 2). De referir ainda que junto ao alinhamento mencionado, detectámos um silhar em contexto de reaproveitamento, que exibe uma marca de canteiro de cronologia medieval, reforçando a ideia já por nós expressa, de reaproveitamento de materiais construtivos provenientes de uma edificação mais antiga.

94 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 98 – Pormenor de silhar exibindo marca de canteiro de cronologia medieval. Perspectiva Oeste.

A parede que limita o compartimento 1 a Sul, apresenta um vão de passagem em forma de arco de volta perfeita, cuja cronologia é nitidamente industrial, uma vez que se apresenta construído através do desmonte da parede, com argamassa de cimento e tijolos maciços espessos enquanto materiais de acabamento.

altura máxima

3,50 m

largura

2,75 m

profundidade

0,87 m

Foto 99 – Vista geral do vão de arco na parede Sul do compartimento 1. Perspectiva Sul.

Dadas as dimensões deste arco, nenhum vestígio sobrou de uma hipotética passagem conventual que, supomos, ter aqui existido porque faria sentido uma passagem directa para o claustro, tal como se verifica imediatamente acima deste 95 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

arco, na sala que se sobrepõe ao presente compartimento (compartimento 1 da ala Norte do piso 2). Na parede Norte do compartimento 1 verifica-se um vão de janela conventual que nos suscita algumas questões. Originalmente deveria estar no mesmo alinhamento das janelas que se constatam na parede Norte do compartimento 2, uma vez que o arco de descarga se encontra ao mesmo nível destas. No entanto, num período que não podemos precisar e por motivos que desconhecemos, este vão foi sujeito a rebaixamento. Actualmente o vão encontra-se construído com lintel, ombreiras e peitoril em cantarias de calcário, de moldura exógena no exterior, sendo que no interior se encontra embutido num vão aberto desde o nível de circulação da sala até à sua cobertura, que é por sua vez em arco de descarga afunilado em tijolo ao cutelo. À esquerda deste vão abriu-se, à época industrial, um vão de janela que pretendia imitar, em configuração e dimensão, o vão anterior. Trata-se de um vão aberto através do desmonte do aparelho conventual, tendo sido emoldurado no exterior por cantaria de calcário. No interior, onde o vão se abria desde o piso de circulação, não foram detectados vestígios de qualquer tipo de acabamento, embora deduzamos que tenham as suas fac es internas sido rebocadas e pintadas.

Foto 100 – Vista geral sobre o vão de janela conventual (à direita), bem como sobre um vão de cronologia industrial aberto no alinhamento da parede desmontada que definia a Oeste o compartimento 1. Perspectiva Sul. Vão Industrial

profundidade

Vão Conventual

altura

2,40 m

altura

1,25 m

largura

1,25 m

largura

0,87 m

interior

0,90 m

interior

0,65 m

exterior

0,22 m

exterior

0,55 m

profundidade

96 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Como já tínhamos referido, a parede que limitava o compartimento 1 a Oeste encontra-se já desaparecida, tendo a acção de desmonte muito provavelmente ocorrido aquando da ocupação industrial deste edifício. Não conhecemos, por este motivo, a forma como essa parede se articularia com o compartimento 2, com o qual confinava a Este. Especulamos contudo que nela tenha existido algum tipo de passagem, permitindo dessa forma a comunicação entre os compartimentos 1 e 2. Ainda relativamente ao compartimento 1, não estamos seguros quanto ao tipo de piso ou de cobertura que exibia à época conventual, uma vez que estes se encontravam já desmontados no início da presente empreitada.

• Compartimento 2

Para o espaço que actualmente alberga o compartimento 2, define Pedro dos Santos dois compartimentos distintos, separados por uma parede que se desenvolveria no sentido Este/Oeste, dividindo o presente compartimento ao meio. Desta parede, contudo, não detectámos quaisquer vestígios, que seriam evidentes na parede Oeste do presente compartimento. Deste modo, não corroboramos a opinião daquele autor, que avança com a localização do cárcere e do cartório para os dois compartimentos que sugere (SANTOS, 1997: 47 e anexos). Por seu turno, Sandra Lopes localiza no compartimento 2 uma ‘oficina’ (LOPES, 1998: 94). Não foram no local detectados vestígios que possam corroborar ou desmentir inegavelmente qualquer um dos dois autores, embora nos pareça mais viável a 97 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

opinião de Lopes pela a proximidade do local à dita ‘porta do carro’, uma entrada de serviço para o claustro, assim como pelas amplas aberturas que marcavam à época conventual o acesso a este compartimento. A parede que limita o compartimento 2 a Oeste encontra-se marcada pela presença de um único vão em forma de arco, alinhado à esquerda, que abre passagem para o compartimento 3. Trata-se de um arco de volta perfeita construído com recurso a ombreiras adinteladas em cantaria de calcário e arco de tijolo ao cutelo, onde se encontram

igualmente

aplicados

alguns

silhares

em

claro

contexto

de

reaproveitamento.

altura máxima

3,30 m

largura

3,15 m

profundidade

0,90 m

Foto 101 – Vista geral do vão de arco na parede poente da oficina. Perspectiva Este. De ignorar o arco visível no seu interior que dá acesso a outro compartimento.

Outra passagem daria igualmente acesso ao compartimento 2, desta feita desde a ala Norte do claustro. Desta passagem, emparedada provavelmente no decurso da ocupação industrial deste edifício, subsistem apenas as suas ombreiras, construídas com recurso a silhares de média dimensão, dos quais alguns se encontram nitidamente em contexto de reaproveitamento. As ombreiras são igualmente visíveis no lado exterior da parede, na ala Norte do claustro.

98 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 102 – Vista geral sobre o vão de passagem na parede Sul do compartimento 2, destacado pelos tracejados a amarelo. Perspectiva Norte. Em destaque o lintel do vão de janela ali detectado. altura aproximada

3,15 m

largura

1,80 m

profundidade aproximada

0,87 m

No topo desta passagem detectámos ainda um vão de janela que poderá remontar ao período de emparedamento da mesma. Deste vão de janela, também parcialmente emparedado, subsiste apenas o lintel em laje calcária. De referir que na parede Sul do compartimento 2 se encontra ainda um desmantelamento parcial do aparelho, localizado à direita do arco industrial aberto na parede Sul do compartimento 1, que poderá ter consistido num armário embutido, de cronologia industrial. Trata-se de um desmantelamento sensivelmente em forma de arco de volta perfeita sem qualquer tipo de acabamentos.

altura máxima

2,95 m

largura

1,90 m

profundidade

0,45 m

Foto 103 – Vista geral de um vão de armário detectado na parede Sul do compartimento 2. Perspectiva Norte.

99 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

A parede que limita a Norte o compartimento 2 apresenta actualmente três vãos de janela, dois dos quais, de origem conventual, continuam activos. O restante, de origem industrial, encontra-se porém emparedado, acção levada a cabo recentemente no sentido de devolver ao alçado exterior a sua traça original. Os vãos conventuais, que ladeiam o industrial, são rectangulares verticais, de lintel, ombreiras e peitoril em cantaria de calcário, de moldura exógena apenas no alçado exterior. No alçado interior são poucos os cuidados com o acabamento destes vãos que apresentam as ombreiras e o peitoril nus e o lintel em forma de arco de descarga em tijolo ao cutelo abatido e afunilado. É possível, no entanto, que este conjunto se encontrasse originalmente rebocado. Ambas apresentam duplo afunilamento, abrindose simultaneamente para o exterior e interior.

Foto 104 – Vista geral sobre três vãos de janela da parede Norte do compartimento 2. Nas laterais: dois vãos de cronologia conventual. Ao centro: vão de cronologia industrial. Vãos Conventuais

profundidade

Vão Industrial

altura

1,25 m

altura

1,35 m

largura

0,87 m

largura

0,90 m

interior

0,65 m

interior

0,60 m

exterior

0,55 m

exterior

?

profundidade

Relativamente ao vão de janela industrial, ao centro dos anteriores, constata-se que se encontra construído de forma a imitar as anteriores, com recurso ao desmantelamento do aparelho, sem que tenha recebido qualquer tipo de acabamento 100 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

ao nível das suas faces internas, podendo estas, no entanto, sido originalmente rebocadas. Encontra-se emparedado, acção que ocorreu recentemente com vista a restituir à parede exterior deste compartimento a sua traça original, não sendo por este motivo possível avaliar os seus acabamentos ou a sua profundidade exteriores. O grau de alterações promovidas pelas necessidades do espaço enquanto unidade fabril, apagaram por completo qualquer vestígio que nos pudesse elucidar quanto à forma como se processava a cobertura deste espaço, aplicando-se o mesmo em relação ao piso, embora no inicio da presente empreitada se verificassem ainda vestígios de travejamento que nos levam a deduzir que tanto o piso se processaria através de soalho, ao passo que a cobertura consistiria meramente no travejamento e soalho do piso superior. De referir ainda que ao inicio desta empreitada, encontravam-se neste compartimento, em posição original, alguns pilares em ferro forjado de cronologia industrial, que sustentavam e se apoiavam no que ainda subsistia do travejamento do piso superior e do seu próprio piso, tendo sido removidos mediante o devido acompanhamento arqueológico.

• Compartimento 3

Assumindo posição central face à ala Norte, localiza-se um corredor a que se acede a Norte pela denominada ‘porta do carro’. De facto, é Pedro dos Santos que nos indica a denominação antiga desta passagem, afirmando que aos claustros se acedia “pelos fundos da propriedade do convento, a Norte, através de uma porta para carros” (SANTOS, 1997: 40). Trata-se de um corredor que se desenvolve no sentido Norte/Sul.

101 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Deste corredor, abrem-se dois vãos de arco, respectivamente para os compartimentos 2 e 4 desta ala, O primeiro foi descrito no âmbito da análise da parede Oeste do compartimento 2. Quanto ao segundo, será descrito no âmbito da parede Este do compartimento 4. A entrada Norte para este corredor, ou ‘porta do carro’, foi alargada na época industrial relativamente à sua dimensão original, mutilando inclusivamente os arranques laterais de uma das duas abóbadas de arestas que cobrem este compartimento. No lugar da abertura original encontramos agora um arco abatido em tijolos maciços espessos unidos por argamassa de cimento, que arranca directamente das paredes laterais deste corredor. Dada a ampliação a que foi sujeita a ‘porta do carro’, nada da sua composição subsiste. Por este motivo não podemos avançar com a sua configuração original, presumindo apenas que, à semelhança do que acontece no corredor que a Sul do claustro dá acesso ao logradouro, ela consistisse num arco de volta perfeita adintelado, em cantaria de calcário e de moldura exógena em ambos os alçados.

altura máxima

3,35 m

largura

2,85 m

Fotos 105 e 106 – Vista geral sobre o vão de arco de acesso Norte ao claustro, a antiga ‘porta do carro’. Perspectiva Norte. Pormenores do topo deste vão. De notar a forma como a ampliação industrial do vão amputou as extremidades das arestas de uma das abóbadas que cobrem o compartimento. Perspectiva Sul.

102 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

O presente compartimento encontra-se coberto por duas abóbadas de arestas, que estariam apoiadas em impostas, das quais subsistem vestígios ao centro do corredor, onde ambas as abóbadas se encontram. De notar que a sua articulação com a abóbada da ala Norte do claustro resulta de uma junção pouco perfeita, reflectindo o desmonte de um eventual arco que assinalaria o acesso a este compartimento desde a ala Norte do claustro, tal como será exposto aquando da análise arquitectónica do mesmo.

Fotos 107 – Vista geral sobre a cobertura deste compartimento. Perspectiva Norte.

Do piso original deste compartimento não subsistiram quaisquer vestígios, sendo actualmente em cimento.

• Compartimento 4

À semelhança do que definira para o compartimento 2, também para o presente compartimento Pedro dos Santos define uma compartimentação através de uma parede que se desenvolveria no sentido Este/Oeste e que dividiria este espaço em dois, nos quais localiza o ‘cartório’ e a ‘adega’ (SANTOS, 1997: 53 e anexos). Como veremos mais adiante, vários foram os vestígios 103 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

detectados em negativo nas paredes Este e Oeste do compartimento 4, embora nenhum que corroborasse aquela compartimentação. Face às evidências em que consistem aqueles vestígios estamos seguros de que não existia à época conventual quaisquer parede divisória neste compartimento. Não obstante, especulamos que o autor esteja certo quanto à localização neste espaço da ‘adega’, dada a ligação directa que entre ele e o refeitório se estabelecia, tal como atempadamente veremos. A ser esta a funcionalidade original deste espaço, não poderá então estar correcta Sandra Lopes que avança para este espaço, à semelhança do que fizera para o compartimento 2, uma ‘oficina’ (LOPES, 1998: 94). Na parede Este do compartimento 4 apresenta-se um vão de arco em volta perfeita, encostado à direita do alçado, estabelecendo ligação com o corredor da ‘porta do carro’, pelo qual, especulamos, se procederia ao abastecimento da ‘adega’. Está construído com recurso a ombreiras adinteladas em cantaria de calcário e arco de tijolo ao cutelo, onde se encontram aplicados vários silhares em claro contexto de reaproveitamento.

altura máxima

3,20 m

largura

3,15 m

profundidade

0,72 m

Foto 108 – Vista geral sobre o vão de arco de acesso ao compartimento 4. Perspectiva Este.

A mesma parede apresenta ainda vestígios de três impostas de arranque de abóbadas, uma do centro e duas nas extremidades da parede, assim como vestígios em negativo das próprias abóbadas, que analisaremos aquando da dissertação sobre a cobertura deste espaço.

104 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 109 – Vista geral sobre o canto Nordeste do compartimento 4, onde são visíveis vestígios de imposta e de arranque de abóbadas (setas amarelas). Perspectiva Sudoeste.

Confrontando com aquele arco, encontramos, na parede poente deste espaço, um vão de passagem industrial de acesso ao refeitório, que foi construído através do aproveitamento de um vão de arco conventual. Do vão original, que supomos ter sido tipologicamente semelhante ao arco com que confronta, subsiste apenas o topo abobadado, de volta perfeita, em tijolos ao cutelo e silhares em contexto de reaproveitamento. Do topo das suas ombreiras, já amputadas, arranca agora um lintel em betão armado, responsável pela cobertura da passagem industrial. Todo o conjunto foi emparedado na presente empreitada.

altura máxima aproximada

3,10 m

largura aproximada

2,70 m

profundidade

?

Foto 110 – Vista geral sobre o vão arco na parede Oeste compartimento 4. Perspectiva Este. notar o lintel industrial aplicado nível das ombreiras (seta azul).

de do De ao

105 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

À direita deste arco detectámos, já emparedado no âmbito da presente empreitada um orifício de cronologia industrial, que poderá ter sido obtido com o objectivo albergar um armário ou um qualquer tipo de aparato fabril (tinha 1,80 m de altura e 2,60 m de largura). À semelhança do que ocorria na parede oposta, também na parede Oeste observámos vestígios de três impostas, uma ao centro do alçado e duas laterais nos cantos do compartimento, assim como vestígios em negativo das abóbadas que delas arrancavam cobrindo este espaço. Na parede Norte observam-se cinco vãos de janela, sendo que três são de origem conventual e dois industrial. Os conventuais encontram-se nas extremidades e no centro do alçado, intercalados pelos industriais. Os vãos conventuais são de formato rectangular, de lintel, ombreiras e peitoril em cantaria de calcário, de moldura exógena apenas no alçado exterior. No alçado interior são poucos os cuidados com o acabamento destes vãos, que apresentam as ombreiras e o peitoril nus e o lintel em forma de arco de descarga abatido e afunilado em tijolo ao cutelo. É possível, porém, que este conjunto se encontrasse originalmente rebocado. Todas apresentam duplo afunilamento, abrindo-se simultaneamente para o exterior e interior. Os vãos de janela industriais, pretendem, uma vez mais, imitar as conventuais quanto à forma e dimensão. Foram construídos com o recurso ao desmantelamento do aparelho, sem que tenham recebido qualquer tipo de acabamento ao nível das suas faces internas. Encontra-se recentemente emparedado, não sendo possível avaliar os seus acabamentos ou profundidade exteriores. De notar que sob o vão conventual da direita se encontra um tramo em tijolo alveolar, emparedando uma qualquer abertura industrial.

106 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 111 – Vista geral sobre dois dos vãos de janela detectados na parede Norte do compartimento da adega. À esquerda: vão conventual. À direita: vão industrial. Perspectiva Sul. Vão Conventual

profundidade

Vão Industrial

altura

1,54 m

altura

1,70 m

largura

1,10 m

largura

1,15 m

interior

0,55 m

interior

0,58 m

exterior

0,52 m

exterior

?

profundidade

Em relação à parede Sul podemos constatar as mesmas evidências da existência neste compartimento de uma cobertura em abóbada de arestas. Actualmente, esta parede apresenta três vãos de porta, todos de cronologia industrial, sendo que o mais à direita do alçado foi emparedado já na presente empreitada. Os restantes dois, ainda activos, encontra-se sensivelmente ao centro do alçado. São ambos desprovidos de cantaria e de acabamentos muito imperfeitos. O da esquerda apresenta uma moldura em cimento e resulta do desmonte do aparelho conventual, anulando inclusive uma das impostas da abóbada de arestas que cobria originalmente esta sala. O da direita veio instalar-se no local onde existia um vão conventual do qual subsiste o arco de descarga em tijolo ao cutelo e o alinhamento das ombreiras. De referir que este vão resulta de fecho parcial do vão conventual. Para tal foi encostado à ombreira esquerda e ao arco de descarga um novo aparelho, entre os quais detectámos uma peça de cantaria em claro contexto de reaproveitamento, convertida em lintel do novo vão industrial.

107 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 112 – Vista geral sobre dois vãos de porta industriais detectados na parede Sul do compartimento 4. Perspectiva Norte. De notar o vão de porta conventual, no interior do qual se abriu o vão industrial da direita (alinhamento das ombreiras: tracejado amarelo, arco de descarga: seta amarela, lintel reaproveitado: seta verde).

Vão Industrial da Esquerda

Vão Industrial da Direita

Vão Conventual

altura

2,75 m

altura

2,75 m

altura aproximada

2,75 m *

largura

1,30 m

largura

1,30 m

largura aproximada

2,10 m

profundidade

1,10 m

profundidade

1,10 m

profundidade

1,10 m

* Altura do vão estimada pela altura das impostas das abóbadas de cobertura da ala Norte do claustro para a qual abria este vão.

À direita destes vãos, no extremo Oeste da parede Sul, encontra-se o terceiro vão de passagem industrial detectado na parede Sul deste compartimento, já referido. Tratase de um vão construído com recurso ao desmonte do aparelho conventual, com acabamentos em tijolo alveolar ao nível das ombreiras e com lintel em laje de betão armado. Foi sujeito a emparedamento no âmbito da presente empreitada.

108 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

altura

2,10 m

largura

2,10 m

profundidade aproximada

1,10 m

Foto 1113 – Vista geral sobre o vão de passagem industrial detectado na parede Sul do compartimento 4. Perspectiva Sul.

O piso neste compartimento é térreo. Tal como ficou referido anteriormente, todas as paredes deste compartimento apresentam os negativos de uma cobertura em abóbada de arestas, que seriam em número de seis, dispostas paralelamente em duas filas de três. As abóbadas estariam apoiadas centralmente em colunas ou pilares dos quais não subsistem quaisquer vestígios. Apoiamos esta hipótese em detrimento de uma parede central, uma vez que não detectámos vestígios, embora mesmo que em negativo, da sua existência que, a ser verdadeira se verificariam nas paredes Este e Oeste. Propomos, de forma a esclarecer esta questão a realização futura de uma sondagem arqueológica ao centro deste compartimento.

Foto 114 – Vista geral sobre a parede nascente do compartimento 4 e possível reconstituição da forma como esta parede se articularia com as abóbadas de arestas que cobriam este espaço. Perspectiva Oeste. 109 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

3.2.2.3. Piso 1 – Ala Oeste

• Compartimento 1

Tanto Pedro dos Santos como Sandra Lopes localizam neste compartimento o ‘refeitório’ (SANTOS, 1997: 50; LOPES, 1998: 43). De facto, constatámos nesta ampla sala os vestígios de um púlpito, assim como os negativos de bancos corridos anexos às paredes e ainda dois armários, evidências que corroboram a opinião daqueles autores. Trata-se de uma sala de planta rectangular, de duplo pé direito, ao qual se tem acesso a partir do canto Noroeste do claustro, bem como através do compartimento 2 da presente ala. É decorado com um painel de azulejos enxaquetados de malha axadrezada, de cor azul e branca, que corre à altura de 2,10 m do piso conventual, em toda a volta do compartimento, sendo interrompido apenas pelos vãos de porta e pelos vãos dos armários (descritos atempadamente). Ao longo das paredes Oeste, Este e Norte, anexariam bancos de parede com cerca de 0,50 m de altura e 0,50 m de largura. Já nada resta deles, excepto os negativos que deixaram nas paredes. Os paneis de azulejos nestas paredes arrancam acima dos bancos.

110 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 115 – Pormenor do canto Sudoeste do compartimento do refeitório, onde se pode observar o negativo do banco corrido. Perspectiva Norte.

Na parede Este deste espaço abriam-se dois vãos de passagem que se localizam lado a lado, dando acesso ao compartimento 4 da ala Norte deste piso (onde especulamos ter estado localizada a ‘adega’, convenientemente próxima do ‘refeitório’) e ao canto Noroeste do claustro. O primeiro vão, de origem conventual, foi já descrito aquando da análise da parede Oeste do compartimento 4 da ala Norte. O segundo, aberto na época industrial, é actualmente constituído por ombreiras em tijolo alveolar e lintel em laje de betão armado. De notar que ladeando as ombreiras deste vão foram reorganizados os azulejos de forma a recriar o remate dos painéis, motivo pelo qual podemos ser erroneamente levados a atribuir uma origem conventual a este vão. No entanto, se analisarmos cuidadosamente os remates, notaremos que a acção de reconstituição industrial é denunciada pela diferença cromática de algumas peças, assim como pelos erros de padrão. Também o remate do painel da esquerda se encontra aplicado sobre a ombreira do vão em tijolo alveolar, comprovando deste modo a cronologia industrial deste vão.

111 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

altura

2,15 m

largura

1,10 m

profundidade

1,35 m

Fotos 116 e 117 – Vista geral sobre o vão de porta industrial aberto na parede Este do compartimento 1 e pormenor do remate do painel de azulejos junto à ombreira esquerda do vão. Ambas as perspectivas Oeste.

Precisamente entre esta porta e o arco de acesso ao compartimento 4 da ala Norte, localizámos a presença de um cunhal que remataria, numa fase mais antiga da construção deste edifício, o canto Sudoeste daquela ala.

112 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 118 – Vista geral sobre o cunhal detectado na parede Este do compartimento 1. Perspectiva Oeste.

Numa fase posterior, muito provavelmente aquando da construção de toda a ala Oeste, foi erguida parte da parede Este deste compartimento, que encostou à direita daquele cunhal. Localiza-se este cunhal imediatamente abaixo da terceira imposta da abóbada de cobertura desta sala (a contar de Norte). Na parede Sul do presente compartimento abre-se o vão de porta de acesso ao compartimento 2. Trata-se de um vão de porta de grandes dimensões com lintel, ombreiras e soleira em cantaria de calcário, de moldura exógena para o alçado exterior e interior, acompanhada no interior por uma estreita moldura de azulejo. Apresenta arco de descarga em tijolo ao cutelo.

113 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

profundidade

altura

3,40 m

largura

1,72m

interior

0,98 m

exterior

0,22 m

Foto 119 – Vista geral sobre o vão de porta de acesso ao compartimento 2. Perspectiva Norte.

Ladeando esta porta estão dois armários embutidos na parede, emoldurados por cantaria de calcário exógena no alçado interior. Dispunham de duas prateleiras, sendo a inferior em laje de calcário (0,15 m de espessura) e a superior, já desaparecida, em madeira, dada a sua fina espessura (0,04 m). Não foram detectados vestígios de qualquer tipo de fundo, sendo de supor que fosse rebocado e pintado. Ambos os armários são encimados por arco de descarga em ‘V’ invertido. À semelhança da porta que ladeiam, os armários são igualmente acompanhados no topo por uma estreita moldura de azulejo.

114 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

altura

2,02 m

largura

1,10 m

profundidade aproximada

0,42 m

altura entre prateleiras

0,62 m

Foto 120 – Vista geral sobre o vão de armário localizado à direita do vão de porta de acesso ao compartimento 2. Perspectiva Norte.

Na parede Norte, abrem-se dois vãos de janela de grandes dimensões, encimadas por óculo. As janelas, de formato rectangular vertical, encontram-se alinhadas junto aos extremos do alçado. São constituídas por ombreiras, lintel e parapeito em cantaria de calcário, exógena nos alçados interior e exterior. Apresentam um ligeiro afunilamento para o interior, não se verificando o mesmo para o exterior. Ambas as janelas se encontram encimadas por um óculo, de formato ovalado horizontalmente, de comprimento ligeiramente inferior à largura das janelas. Apesar de actualmente se encontrarem parcialmente emparedados, foi possível apurar o seu afunilamento que abre em direcção ao interior do compartimento. Não se encontram emoldurados e aparentemente as suas faces internas encontram-se rebocadas e pintadas a cal. Desconhecemos a sua função, uma vez que os grandes janelões já permitiriam a entrada de abundante luz, embora especulemos tratarem-se de aberturas de cronologia conventual, eventualmente projectadas para o embelezamento do alçado em que se encontram.

115 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 121 – Vista geral sobre o topo da parede Norte do compartimento 1. Perspectiva Sul. Em destaque: óculos parcialmente emparedados.

Na parede Oeste, espaçados regularmente, abrem -se quatro vãos de janelas que são tipologicamente iguais aos descritos anteriormente, embora nesta se constate serem encimados por arcos de descarga em ‘V’ invertido.

profundidade

altura

2,80 m

largura

1,35 m

interior

0,90 m

exterior

0,73 m

Foto 122 – Vista geral sobre o quarto vão de janela (contando a partir de Norte) da parede Oeste do compartimento 1. Perspectiva Este.

Anexado à segunda destas janelas (a contar de Norte), encontra-se o púlpito, que à época conventual se destinava às leituras que decorriam em simultâneo com as refeições. Trata-se de um pequeno compartimento embutido na parede, que abre para a sala através de uma moldura em cantaria exógena para o alçado interior da parede do refeitório. De referir que o seu lintel é constituído por dois silhares anexos, sendo 116 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

que em cada um deles se observa uma reserva destinada a epígrafe. Sobre este lintel verifica-se que o púlpito é encimado por arco de descarga em tijolo ao cutelo.

altura

2,80 m

largura

1,10 m

profundidade

0,50 m *

tipo

* A profundidade exclui o comprimento de um eventual varandim.

Foto 123 – Vista geral sobre o vão do púlpito. Perspectiva Sul.

Encontra-se provido de uma pequena janela de duas folhas, aberta na sua parede do fundo para o exterior poente do edifício, que permitiria a entrada de luz necessária ao leitor. A janela tem moldura em cantaria exógena no alçado interior e exterior. Era ainda provida de um pequeno armário, embutido na parede direita do púlpito, igualmente com moldura em cantaria exógena no alçado interior e exterior. O fundo deste armário coincide com a laje calcária que serve de ombreira esquerda da janela que anexa à direita do púlpito.

Fotos 124 e 125 – Vista geral sobre o vão de janela (à esquerda), bem como sobre o vão de armário (à direita) do púlpito. Perspectivas Este e Sul, respectivamente. Vão de Janela do Púlpito

profundidade

Vão de Armário do Púlpito

altura

0,62 m

altura

0,70 m

largura

0,80 m

largura

0,70 m

interior

0,15 m

profundidade

0,50 m

exterior

0,36 m

117 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

O piso do púlpito encontra-se destruído. A sua cobertura, original, é constituída por reboco pintado a cal. As escadas de acesso ao púlpito unem-se a ele pelo seu lado esquerdo, de forma embutida no paramento da parede Oeste do compartimento. O vão de passagem para estas escadas localiza-se à direita do terceiro vão de janela, a contar de Norte. Tratase de uma passagem com lintel e ombreira em calcário com moldura em cantaria exógena no alçado interior.

altura

1,90 m

largura

0,65 m

profundidade

0,52 m

Foto 126 – Vista geral sobre o vão de acesso às escadas do púlpito. Perspectiva Este.

Os degraus, implantados num estreito corredor são em pedra e em número de sete. De referir ainda que, na ausência de vestígios, não podemos concluir se o púlpito seria servido de parapeito ou de varanda, dado ter sido amputado(a), com certeza, durante a fase de ocupação industrial do edifício. Quanto à cobertura do refeitório consiste numa abóbada de berço, adintelada e ritmada por quatro nervuras que partem de impostas e que a segmentam em cinco partes iguais. Nas suas extremidades a abóbada transforma-se em duas meias abóbadas de barrete de clérigo, também elas decoradas com três nervuras partindo de impostas, uma central e duas laterais, e que convergem ao centro com as nervuras laterais da abóbada de berço. De notar que, ao contrário do que refere Sandra Lopes, 118 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

não se encontra ao centro desta cobertura ‘uma pintura com o símbolo dos franciscanos’ (LOPES, 1998: 44). Na realidade, esta pintura, de que a autora apresenta

inclusivamente

uma

imagem,

localiza-se,

tal

como

veremos

atempadamente, na cobertura do compartimento 2 da presente ala.

Foto 127 – Vista parcial sobre o tecto abobadado do refeitório. Perspectiva Sul.

Relativamente ao piso deste espaço, foi-nos impossível observá-lo completamente, visto que se encontra tapado por placas de pladur. Não obstante, uma observação parcial no canto Sudeste da sala permitiu averiguar a presença de um piso em tijoleiras cerâmicas à semelhança de outros espaços deste edifício, aplicadas em ‘espinha’ e emolduradas lateralmente por peças de cantaria calcária de 0,30 m de largura.

119 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

• Compartimento 2

Trata-se de um espaço amplo, de planta quadrangular e de duplo pé direito. Confina a Sul com o compartimento 1, ou ‘refeitório’, e a Norte com o compartimento 3, onde, como veremos, se localizava à época conventual a ‘cozinha’. Pela localização que assume este compartimento, estamos seguros de que corresponderia à época conventual ao ante-refeitório ou de profundis, um espaço convencionalmente projectado para transitar entre a cozinha e o refeitório, bem como para preparação da comunidade religiosa para as refeições. Desta opinião são igualmente os autores Pedro dos Santos e Sandra Lopes (SANTOS, 1997: 50; LOPES, 1998: 94). Na parede Norte deste compartimento encontra-se o vão de porta que lhe dá acesso através do compartimento 1, já descrito aquando da análise da sua parede Sul. A referir apenas que neste alçado sobre lintel da porta se sobrepõe um silhar onde se constata uma reserva destinada a epígrafe. No mesmo alçado observamos dois painéis de azulejo tipologicamente iguais aos observados no refeitório, que ladeiam aquela porta, aplicados até à altura de 2,50 m. O painel da direita foi profundamente destruído na época industrial, provavelmente aquando do desmonte parcial do aparelho da parede, efectuado para a eventual instalação de um armário embutido. Uma vez que este painel arranca a cerca de 0,55 m do piso de circulação, deduzimos que estivesse ali instalado um banco anexo à parede, à semelhança do que se observaria no ‘refeitório’. Aliás, os vestígios deste banco podem ser, como veremos, constatados um pouco por todo este compartimento. O painel da esquerda apresenta-se parcialmente desmontado mas em bom estado de conservação. Por baixo deste painel é visível, o que sobra do já referido banco anexo à parede. Tem o seu topo totalmente destruído, apresenta as suas faces laterais 120 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

decoradas a azulejos iguais aos do painel que lhe é superior. Mediria, se completo, 0,54 m de altura e 0,43 m de largura.

Vão de Armário altura

1,53 m

largura

1,95 m

profundidade

0,30 m

Foto 128 – Vista geral sobre a parede Norte do compartimento 2. Perspectiva Sul. Em destaque: vestígios do banco de correr (seta amarela).

Na parede Oeste, abrem-se actualmente dois vãos de origem conventual. O primeiro em forma de arco confronta directamente com um arco, tipologicamente igual, que abre por sua vez para o claustro. Este, porém, abre para o exterior Oeste do edifício, onde actualmente se desenvolve um caminho que separa este convento da encosta de Santa a Clara-a-Nova. Trata-se de um arco de volta perfeita, adintelado, de moldura em cantaria de calcário exógena para o alçado interior. Este arco foi emparedado na presente empreitada. Tendo sido detectados vestígios de azulejos junto ao actual piso de circulação sob alçado do arco, na face Este de um paramento quase totalmente desmantelado, levantou-nos este arco algumas questões. Na realidade, estes azulejos poderiam ser os vestígios de um paramento conventual que fechasse a poente este arco. Deste modo, supomos que ele não funcionaria como vão de passagem, como à primeira vista dá a entender, mas antes como um nicho. Para além dos azulejos, ocorrem outras evidências, como sejam a ausência de cantaria a emoldurar o arco no alçado Oeste, o friso vertical que se desenvolve a meio do arco que se encontra descentrado para Este, a irregularidade dos silhares que definem o próprio arco a Oeste, e ainda os vestígios, em negativo, de um emparedamento, visíveis em toda a face interna do arco. 121 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Desta feita, o arco, que foi, tal como o encontrámos no início da presente empreitada, aberto à época industrial, permitindo a passagem para o já referido caminho, seria, na realidade, fechado à época conventual.

altura máxima

3,85 m

largura

2,10 m

profundidade

1,05 m

Foto 129 – Vista geral sobre o arco conventual da parede Oeste do compartimento 2. Perspectiva Este. Em destaque: vestígios de azulejos (seta vermelha).

Especulamos que desta forma, o arco, poderá ter sido projectado para servir de nicho a algum aparato religioso, ou mesmo para acolher um lavabo, estrutura muito frequente em compartimentos homólogos de outras casas religiosas, quase imprescindível à preparação ritual que antecedia as refeições. Recordamos que para o caso de ter corrido ali um lavabo, nada dele subsistiu, nem foram detectadas condutas que no interior deste compartimento o servissem. À direita do arco encontramos mais um painel de azulejos, desta feita completo, e sob ele, anexado à parede, os vestígios de um banco corrido que, à semelhança do que se constata à esquerda da porta de acesso ao ‘refeitório’, se encontra parcialmente destruído no seu topo, apresentando igualmente vestígios de ter tido as suas faces laterais revestidas no mesmo tipo de azulejos que constituem os painéis. Por seu turno, à esquerda do vão de arco observa-se um grande vão de janela. Entre os dois vãos não se constata qualquer vestígio de azulejos, embora especulemos que também ali tenha ocorrido a sua destruição na época industrial.

122 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Não obstante, ainda subsiste, ao nível do piso de circulação, o banco corrido anexado à parede, bastante destruído, embora apresente ainda amplos vestígios do azulejo que cobria a sua face. Quanto ao vão de janela propriamente dito, levanta-nos algumas reservas. Trata-se de um vão rectangular vertical, de moldura em cantaria de calcário exógena nos alçados interior e exterior. Apresenta um duplo afunilamento, abrindo para o interior e simultaneamente para o exterior e, a julgar pelos orifícios existentes no topo do lintel, seria de duas folhas. Apresenta igualmente arco de descarga em ‘V’ invertido.

altura

profundidade

3m

largura

1,15 m

interior

0,56 m

exterior

1,25 m

Foto 130 – Vista geral sobre o vão de janela detectado na parede Oeste do compartimento 2. Perspectiva Este.

Aparentemente, o parapeito deste vão foi, durante a época industrial, desmontado, assim como parte do aparelho que o suportava, criando deste modo um falso avental naquela janela, emoldurado pelo prolongamento das molduras das suas ombreiras, desta feita já em cimento até ao nível superior dos bancos que os ladeiam. Especulamos que toda esta acção tenha ocorrido durante a fase de ocupação industrial do espaço, uma vez que a moldura do piso conventual que ali se preserva quase intacta, não acompanha a reentrância deixada na planta da sala pela alteração do vão. A ser verdade, então o painel que ainda se vê, praticamente intacto, anexado à esquerda do vão de janela, apresenta um remate (na face que contacta com a ombreira em cimento do vão) que será uma reconstituição industrial. É possível que

123 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

na época conventual o painel se estendesse portanto até à ombreira esquerda do vão de arco já descrito. À semelhança do que ocorre na porta industrial detectada na parede Este do ‘refeitório’, também neste conjunto de azulejos, são as incoerências do padrão e a diferença cromática de algumas peças que denunciam a reorganização dos azulejos por forma a originar um remate que não existia, corroborando a alteração a que aquele vão foi sujeito durante a época industrial. O restante painel (à esquerda do vão de janela) parece contudo ser original, bem como serão originais os vestígios do banco de correr anexado à parede que ainda se verificam abaixo do painel. Também este banco deveria ser contínuo desde o canto Sudoeste do ‘ante-refeitório’ até ao arco já descrito, antes de ser interrompido pela ampliação do vão da janela anterior. Ainda na parede poente existiam dois vãos industriais, um acima do arco anteriormente descrito, emparedado no âmbito desta empreitada. O outro, entre o vão do arco e o vão da janela, emparedado na época industrial, embora recentemente, já que foi preenchido por tijolo alveolar e cimento. Na parede nascente deste espaço, abrem -se três vãos de arco. O do centro e o da sua direita são claramente de cronologia industrial. Tratam-se de vãos de arco de volta perfeita, construídos através do desmonte do aparelho conventual, sem acabamento ao nível das ombreiras mas de cobertura em betão, pintado de branco. Abriam directamente para a ala Oeste do claustro, possivelmente para aumentar a passagem de luz. Foram nesta empreitada alvo de emparedamento. Não anularam totalmente o banco corrido que se anexava à época conventual a esta parede, sendo ainda visíveis vestígios da sua presença, assim como dos azulejos (iguais aos demais) que decoravam as suas faces. De igual modo, também se observam vestígios, maioritariamente em negativos, dos painéis de azulejo que também decoravam aquela parede e que foram amplamente destruídos pela abertura destes arcos.

124 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

altura máxima

2,80 m

largura

2,20 m

profundidade

1,35 m

Foto 131 – Vista geral sobre os arcos industriais da parede Este do compartimento 2. Perspectiva Noroeste. De notar os vestígios de azulejos em negativo entre os dois arcos, assim como do banco corrido ao nível do piso de circulação.

Por seu turno, o vão de arco mais à esquerda é de cronologia conventual e confronta directamente com o arco da parede Oeste já descrito, com o qual partilha muitas semelhanças tipológicas. Trata-se de um arco de volta perfeita, adintelado, de moldura em cantaria calcária, exógena nos alçados interior e exterior. Alguns tramos desta cantaria foram rebocados a cimento e pintadas a branco, um restauro sem dúvida de cronologia industrial. A encimar este arco não encontramos nenhum arco de descarga. No lugar dele detectámos a presença de um arco em tijolo ao cutelo que acompanha externamente todo o desenvolvimento do arco anterior. Trata-se pois de um vão de arco abatido, de cronologia conventual embora anterior à do arco descrito. Era construído em tijolo ao cutelo que descarregava em lintel, sob o qual se desenvolvia o alinhamento das ombreiras em silhares aparelhados. Destas ombreiras, apenas o topo da direita se observa, já que a sua base se encontra rebocada pela argamassa onde se aplicava o painel de azulejo. Quanto à ombreira esquerda terá sido amplamente mutilada através da abertura de três orifícios de cronologia industrial, cuja função desconhecemos.

125 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 132 – Vista geral sobre o arco conventual da parede Este do compartimento 2, assim como o arco conventual que o antecedeu (tracejado amarelo). Perspectiva Oeste.

Vão Conventual Interno

Vão Conventual Externo

altura máxima

3,75 m

altura máxima

4m

largura

2,10 m

largura

2,70 m

profundidade

1,76 m

profundidade

1,76 m

A parede Sul do ‘ante-refeitório’ é sem dúvidas a mais alterada deste compartimento, encontrando-se desmontada até à altura de sensivelmente 4,10 m, acção seguramente decorrida em época industrial. A parte superior da parede conventual encontra-se hoje apoiada sobre uma viga em betão armado, por sua vez apoiada num pilar aplicado ao centro do alçado. Trata-se de um pilar em betão armado, de secção rectangular (1,27 m x 0,27 m), cuja parte mais larga se dispõem paralelamente em relação à espessura da parede que sustenta. A sapata deste pilar, parcialmente descoberta, encontra-se aplicada entre o que ainda subsiste da base das ombreiras do vão que estabelecia ligação entre o presente compartimento e o compartimento 3. A julgar pelo que subsiste daquelas ombreiras, não podemos adivinhar muito relativamente à tipologia ou dimensões do vão que sustentavam. É possível, no

126 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

entanto, que fosse tipologicamente semelhante ao vão de porta que dá acesso ao ‘refeitório’, visto que confronta directamente com ele.

Foto 133 – Vista geral sobre a parede Sul do compartimento 2. Perspectiva Norte.

altura

?

largura

1,95 m

profundidade aproximada

1,20 m

Foto 134 – Pormenor dos vestígios do vão de porta de acesso ao compartimento 3. Perspectiva Norte.

Do que subsiste da base da parede desaparecida, verificamos que teria cerca de 1,20 m de espessura e que teria adossado na sua base, um banco corrido, tanto à esquerda como à direita do vão de porta de acesso ao compartimento 3, uma vez que subsistem deles vestígios, bem como dos azulejos que os decoravam. É provável que encimando estes bancos existissem dois painéis de azulejos, à direita e à esquerda da porta, tal como se verifica em toda a volta desta sala. A cobertura do presente compartimento é em abóbada de barrete de clérigo, adintelada e decorada nas suas arestas por nervuras que partem de impostas, uma 127 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

em cada um dos cantos da sala. As nervuras, os lintéis e as impostas são tipologicamente semelhantes aos da abóbada do ‘refeitório’. Ao centro da abóbada, as nervuras encontram-se, formando uma moldura quadrangular na qual se encontra um fresco representando o símbolo da congregação franciscana, sob fundo preto.

Fotos 135 e 136 – Vista parcial sobre a abóbada de cobertura do compartimento 2, perspectiva Sul (à direita). Pormenor do fresco decorativo ao centro da abóbada (à esquerda).

O piso desta sala apresenta-se muito destruído, sendo possível verificar que se encontrava directamente assente sobre o afloramento rochoso. Não obstante, existem vestígios suficientes para reconstituir o piso conventual. Este seria formado por uma moldura lateral em lajes calcárias com 0,30 m de largura, que acompanhava as reentrâncias provocadas pelos vãos e pelos bancos. De cada um dos lados do compartimento partia uma fila de lajes calcárias, com 0,30 m de largura, em direcção ao centro do mesmo. Definiam deste modo quatro campos que eram por seu turno preenchidos por tijoleiras cerâmicas dispostas em ‘espinha’.

128 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 137 – Pormenor do piso conventual detectado no compartimento 2. Em baixo a laje anexa à parede Este deste espaço, ao meio a laje que parte em direcção ao centro do mesmo.

Tal como se descreve detalhadamente nos capítulos dedicados às sondagens de diagnóstico e ao sistema hidráulico conventual, não foram detectadas quaisquer condutas no ‘ante-refeitório’. Para mais achamos que tais condutas nunca tenham existido dada a proximidade do afloramento rochoso ao nível de circulação conventual.

• Compartimento 3

Trata-se de uma sala de planta quadrangular de duplo pé direito, profundamente alterada pela ocupação industrial. Não obstante, nela foram detectados vestígios de uma chaminé de grandes dimensões, assim como três armários embutidos de cronologia industrial, vestígios que, somados à localização deste compartimento próximo do ‘refeitório’, nos levam a deduzir que ali se localizaria à época conventual a 129 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

cozinha. Da mesma opinião são os autores Pedro dos Santos e Sandra Lopes, ambos localizando neste compartimento a cozinha conventual (SANTOS, 1997: 51; LOPES, 1998: 45). Da parede Norte deste compartimento, assim como do vão de passagem que nela abria, subsistem escassos vestígios, como descrito aquando da análise da parede Sul do ‘ante-refeitório’. Não se detectam neste alçado, contudo, vestígios de bancos corridos ou de painéis de azulejos, como aliás em parte alguma da cozinha. Na parede Este do compartimento 3 abrem-se dois vãos de arco industriais que davam passagem para a ala Oeste do claustro. O da esquerda encontra-se emparedado, obra desta empreitada, enquanto que o da direita ainda se encontra activo. São tipologicamente semelhantes aos vãos de arco industriais detectados na parede Nascente do compartimento anterior, apresentando as mesmas características construtivas e as mesmas dimensões. Também nesta parede se encontrava um vão industrial, emparedado na presente empreitada, que se localizava ao centro do alçado, embora ao nível do piso 2, adossado ao arranque da abóbada de cobertura do presente compartimento. Trata-se de um vão de porta ao qual se acedia pelo piso 2 da ala Oeste do claustro e que dava acesso a um piso que, tendo aproveitado o duplo pé direito desta sala, foi criado de raiz na época industrial. Para tal, foi aplicado à altura de cerca de 4,10 m um piso em betão armado e tijolos alveolares cujo negativo ainda é visível em todas as paredes do compartimento, à excepção da parede Sul. Este piso foi já totalmente desmontado.

Vão de Porta ao nível do Piso 2 altura

1,95 m

largura

1,10 m

profundidade

?

Foto 138 – Vista geral sobre a parede Este do compartimento 3. Perspectiva Oeste. De notar os vãos de arco industriais ao nível actual de circulação, bem como o vão de porta, já emparedado, ao nível do piso 2, articulado com um piso industrial já desmontado, do qual subsiste o negativo. Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

130

Na parede nascente encontram-se igualmente vestígios da lareira conventual e respectiva chaminé que descreveremos atempadamente. Na parede poente da cozinha, abrem-se dois vãos de janela de grandes dimensões. Tratam-se de vãos rectangulares verticais que abrem desde a altura de cerca de 1,90 m do piso de circulação até ao arranque da cobertura deste espaço. Os vãos, profundamente alterados durante a fase de ocupação industrial, encontram-se totalmente desprovidos de cantarias ou outros elementos que nos permitam, inclusive, adivinhar a sua configuração ou dimensão originais. Ambos os vãos foram sujeitos a intervenção na presente empreitada, tendo neles sido aplicadas peças de cantaria ao nível dos lintéis e dos parapeitos, com vista a atribuir-lhes características que os aproximassem do vão de janela constante do compartimento anterior.

altura aproximada

3m

largura aproximada

1,20 m

profundidade

1,82 m

Foto 139 – Vista geral sobre a parede poente do compartimento 3, assim como sobre os dois vãos nela abertos, em pleno processo de reconstrução. Perspectiva Este.

Ainda nesta parede encontram-se três armários embutidos, um de cronologia industrial e dois de cronologia conventual. O armário de origem industrial localiza-se no extremo Sul desta parede à altura de 1,35 m do piso de circulação. Foi construído através do desmonte do aparelho da parede e tem todas as suas faces interiores rebocadas a cimento e pintadas de branco.

131 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

altura

1,17 m

largura

1,24 m

profundidade

0,72 m

Foto 140 – Vista geral sobre o vão de armário industrial detectado na parede Oeste do compartimento 3. Perspectiva Este.

Os armários de origem conventual, geminados, localizam-se no extremo Norte desta parede à altura de 0,85 m do nível de circulação. São em tudo idênticos, possuindo o mesmo formato e dimensão, podendo até dizer-se que se trata, na realidade de um único armário dividido ao meio por um silhar vertical de 0,16 m de espessura. Apresentam-se compostos por paredes laterais, coberturas e bases em lajes calcárias, de moldura exógenas no alçado interior da parede Oeste deste compartimento. Ambos são encimados por um arco de descarga abatido em tijolo ao cutelo. Especulamos que tenham sido usados no período industrial, uma vez que têm as suas paredes internas e fundo rebocados a cimento e pintados de branco.

Cada um dos Vãos de Armário altura

0,82 m

largura

1,14 m

profundidade

0,95 m

Foto 141 – Vista geral sobre os vãos de armário conventuais detectados na parede Oeste do compartimento 3. Perspectiva Este.

A parede Sul da cozinha apresenta dois vãos de porta e amplos vestígios da chaminé e da lareira conventuais que descreveremos de seguida. O primeiro dos vãos de porta localiza-se sensivelmente ao centro do alçado dando acesso ao compartimento 4. É de origem conventual, embora quase não preserve vestígios dos seus componentes originais. Distingue-se parte das suas ombreiras 132 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

direita e esquerda e nada mais. O restante vão, alterado na época industrial, deve ter mantido substancialmente o formato original, embora tenha sido alteado em cerca de 0,40 m, encontrando-se o topo construído com base a tijolos alveolares e a betão armado.

profundidade

altura

2,40 m

largura

1,05 m

interior

0,55 m

exterior

0,23 m

Foto 142 – Vista geral sobre o vão de porta de acesso ao compartimento 4. Perspectiva Sul.

O segundo vão de porta, de origem industrial, emparedado na presente empreitada, localiza-se ao nível do piso 2, no extremo Oeste da parede Sul. Era construído com recurso ao desmonte do aparelho da parede e tinha o formato de um estreito arco de volta perfeita. A este vão tinha-se acesso pelas escadas que especulamos terem existido no topo Oeste do compartimento 4. Este vão estaria com certeza relacionado com o já descrito piso industrial criado no presente compartimento.

133 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

altura máxima

1,94 m

largura

0,92 m

profundidade

?

Foto 143 – Vista geral sobre o vão de porta industrial de acesso ao piso industrial do compartimento 3. Perspectiva Sul.

Tal como anteriormente referido, detectámos na cozinha vestígios da lareira conventual e respectiva chaminé. Estes encontram-se no canto Sudeste do compartimento, anexando às suas paredes Este e Sul. Da lareira subsistem apenas os vestígios do muro que a limitava e que definem uma área de 2,90 m x 1,90 m. O muro que é perpendicular à parede Este tem uma espessura de 0,50 m e um comprimento total de 2,45 m. É provável que este muro se tenha desenvolvido verticalmente até ultrapassar a abóbada de cobertura deste espaço, definindo desta forma o extremo Norte da lareira e respectiva chaminé. Especulamos que tenha sido desmontado aquando da criação do piso industrial já referido. O muro que é perpendicular à parede Sul da cozinha desenvolve-se numa espessura de 0,55 m, com comprimento total de 3,45 m. Na base deste muro nota-se a soleira da passagem para o interior da lareira, permitindo averiguar que teria 2,20 m de largura. Esta soleira exibe amplos vestígios de desgaste. A julgar pela ombreira direita desta passagem, que ainda se encontra embutida na parede Sul do compartimento 3, esta teria cerca de 1,90 m de altura. Com esta ombreira está alinhado o negativo da chaminé que se desenvolve na vertical até ultrapassar a abóbada de cobertura deste espaço. Adossado à esquerda da ombreira, no que seria o espaço interno da lareira, encontrase um armário de cronologia conventual embutido na parede, com certeza de apoio ao cozinheiro. Trata-se de uma armário rectangular horizontal, de paredes laterais, cobertura e base em cantaria de calcário de moldura exógena no alçado interno da 134 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

parede Sul do compartimento, e de fundo rebocado a argamassa de cal. Não foram detectados vestígios de ter sido compartimentado. É encimado por arco de descarga em ‘V’ invertido.

altura

0,67 m

largura

0,85 m

profundidade

0,84 m

Foto 144 – Vista geral sobre o vão de armário do interior da chaminé. Perspectiva Norte. De notar, à direita deste armário e adossada à parede Sul deste compartimento a ombreira direita da passagem de acesso à lareira.

No fundo da lareira verifica-se um chanfro da base da parede Este deste compartimento. O chanfro foi acabado com recurso a tijolos ao cutelo e a fragmentos de telha, e rebocado a argamassa de cal. Neste chanfro são amplos os vestígios de fuligem.

Foto 145 – Vista geral sobre o canto Sudeste do compartimento da cozinha. Perspectiva Norte. De notar o chanfro aberto na parede Este (seta vermelha), assim como o alinhamento do negativo deixado pelo desmonte da chaminé na parede Sul (setas amarelas). Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

135

O piso da lareira seria, a julgar por alguns vestígios anexos ao muro que a Norte limitava a lareira, constituído por lajes calcárias de reduzida espessura (0,10 m). O mesmo tipo de lajes encontra-se na área mais a Sul deste compartimento, motivo que nos leva a especular que tivessem revestido a totalidade do piso da cozinha. Anexa à esquerda da lareira encontra-se uma área de piso revestido a tijoleira cerâmica que poderá não ser de cronologia conventual, visto que se encontram aplicados com grande imperfeição. A cobertura deste compartimento é em abóbada de berço adintelada, que se desenvolve no sentido Norte/Sul e que foi já alvo de uma obra que se traduziu no fecho da abertura deixada pelo desmonte da chaminé. Quanto à chaminé propriamente dita, poucas são as considerações que possamos tecer, dado que não detectámos nenhum vestígio da sua presença aquando da análise do topo da cobertura deste compartimento. Numa foto antiga, cuja cronologia não conseguimos apurar, vê-se a chaminé da cozinha, ainda que de forma pouco nítida. Através dela, verifica-se que se trataria de uma chaminé de forma subpiramidal, de paredes e arestas côncavas, encimada por uma cobertura piramidal.

Foto 146 – Vista geral sobre o Convento de São Francisco da Ponte. Perspectiva Este. Destaque para a chaminé da cozinha. Fonte: Imagoteca da Casa Municipal da Cultura.

Relativamente ao compartimento 3, há ainda a referir que, como descrito no capítulo dedicado ao sistema hidráulico conventual, foi detectada uma conduta que se desenvolve desde a parede Oeste à parede Este, não tendo sido detectado nenhum

136 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

aparato relacionado com ela. No referido capítulo encontram-se mais detalhes relativos a esta conduta.

• Compartimento 4

Talvez por se tratar de um mero corredor, não existem referências bibliográficas a este compartimento. Trata-se de um corredor que separa o compartimento 3 do compartimento

4,

dando

acesso

a

ambos

os

compartimentos através do compartimento 1 da ala Sul do piso 1, que por sua vez prolonga a ala Oeste do claustro para Sul. Unindo o presente compartimento ao compartimento 1 da ala Sul do piso 1 encontra-se um vão de arco de volta perfeita, adintelado e emoldurado por cantaria em calcário, exógena nos alçados interior e exterior.

altura máxima

3,80 m

largura

2,10 m

profundidade

0,76 m

Foto 147 – Vista parcial do compartimento 4, assim como do arco que o une ao compartimento 1 da ala Sul do piso 1. Perspectiva Oeste.

O compartimento 3 apresenta uma cobertura em abóbada de berço adintelada que se desenvolve no sentido Este/Oeste. No topo Oeste deste corredor, é interrompida aquela abóbada, abrindo-se um espaço amplo de duplo pé direito, que especulamos 137 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

ter resultado do desmonte de umas escadas para o piso superior. A existência destas escadas é corroborada pelo facto de serem, como veremos, o único acesso possível ao compartimento 1 da ala Oeste do piso 2, que se desenvolve sobre a abóbada de cobertura do presente compartimento, assim como, à época conventual, ao compartimento 2 da ala Oeste do piso 2 e ainda à já referida porta de acesso ao piso industrial superior da cozinha (a mesma porta descrita na análise da parede Sul da cozinha). Precisamente por dar acesso a um vão de porta de origem industrial, especulamos que o desmonte destas escadas tenha ocorrido recentemente. Sensivelmente ao centro do compartimento 3 abrem-se dois vãos de porta à esquerda e à direita, dando acesso respectivamente aos compartimentos 3 e 5 da ala Oeste do piso 1. O vão de porta da direita, aberto na parede Norte do presente compartimento, foi já descrito aquando da análise da parede Sul do compartimento 3. Por seu turno, o da esquerda, abre-se na parede Sul do presente compartimento. Trata-se de um vão de cronologia conventual, constituído por ombreiras, lintel e soleira em cantaria calcária, de moldura exógena apenas para o alçado interior. No alçado exterior resulta somente do alinhamento do aparelho, bem como de um pequeno arco de descarga abatido em tijolo ao cutelo, parcialmente destruído pela rebocagem da face interna do lintel desta porta. Esta acção, à semelhança da rebocagem das paredes internas das ombreiras, é de cronologia industrial, visto estar feita com recurso a argamassa de cimento. De referir que, ao contrário do arco de descarga externo, o arco de descarga desta porta no alçado interno é constituído por ‘V’ invertido.

profundidade

altura

1,90 m

largura

0,95 m

interior

0,55 m

exterior

0,20 m

Foto 148 – Vista geral sobre o vão de porta detectado na parede Sul do compartimento 4. Perspectiva Norte. 138 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

De referir ainda que à esquerda deste vão de porta se abria um vão de passagem em arco, de cronologia industrial que foi, no âmbito deste empreitada, emparedado.

altura máxima aproximada

2,70 m

largura aproximada

1,50 m

profundidade aproximada

0,75 m

Foto 149 – Vista geral sobre o vão de arco industrial detectado na parede Sul do compartimento 4. Perspectiva Sul.

O extremo Oeste deste corredor, muito alterado na época industrial, está a ser profundamente

modificado

no

âmbito

da

empreitada

em

curso,

estando

presentemente a ser criados de raiz dois vãos, um de porta ao nível actual de circulação do compartimento 4 e outro de janela, acima do primeiro. Não obstante a ampla remodelação a que está a ser sujeito este alçado, é ainda visível no seu exterior a ombreira direita de um vão de janela que estaria alinhado com o patamar intermédio das escadas já desaparecidas. O piso deste compartimento, datável da época industrial, é em cimento.

139 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

• Compartimento 5

Para a funcionalidade conventual do presente compartimento divergem as referências bibliográficas. Sandra Lopes atribui ao espaço a ‘despensa’ (LOPES, 1998: 94) o que nos parece plausível dada a proximidade com a ‘cozinha’, ou compartimento 3 da ala Oeste do piso 1. Por seu turno, Pedro dos Santos localiza no compartimento 5 a ‘rouparia’ (SANTOS, 1997: 55). No local não foram detectados indícios suficientes para corroborar ou desmentir as opiniões destes autores. O compartimento 5 consiste num espaço de planta quadrangular localizado entre o compartimento 4 anteriormente descrito e o logradouro. Possui, na sua parede Norte o vão de porta, bem como o vão de passagem em arco (emparedado) já descritos aquando da descrição da parede Sul do compartimento 4. No alçado desta parede são ainda visíveis quatro impostas espaçadas regularmente, responsáveis, em parte, pela sustentação da cobertura deste compartimento. De notar que o vão de porta conventual atrás referido não se encontra localizado ao centro do alçado desta parede, estando inclusivamente desenquadrado face às arestas das abóbadas que cobrem esta sala. O motivo para este desvio poderá estar relacionado com o alinhamento com a porta da ‘cozinha’ com que confronta ou, na hipótese (que exploraremos atempadamente) de esta sala pertencer a um edifício preexistente, com uma abertura do vão posterior à edificação deste compartimento, articulando-o não com o alçado deste espaço, mas sim com a porta de acesso à ‘cozinha’.

140 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Na parede Oeste deste compartimento abrem-se dois vãos de janela conventuais, cada um sob alçado de uma abóbada. Tratam-se de vãos de origem conventual de lintel, ombreiras e peitoril em cantaria calcária, exógena apenas ao nível do lintel e peitoril no alçado interior. Também no exterior deveriam o lintel e o peitoril ser exógenos, embora o excessivo reboco que se aplicou em todo aquele alçado, em muito tenha ultrapassado as suas molduras. Foram ambos os vãos alvo de intervenção nesta empreitada, tendo sido aplicadas novas peças de cantaria no exterior dos lintéis e peitoris, com vista a recuperar aquela situação. Estas janelas seriam de dupla folha e têm duplo afunilamento abrindo para o exterior e interior.

profundidade

altura

1,58 m

largura

1,10 m

interior

0,76 m

exterior

1,04 m

Foto 150 – Vista geral sobre o primeiro vão de janela detectado na parede Oeste do compartimento 5 (a contar de Sul). Perspectiva Este.

Entre as duas janelas e em cada um dos seus lados, junto aos extremos laterais do alçado, encontram-se no total três impostas, responsáveis pela sustentação da cobertura deste espaço. O mesmo número de impostas se verifica na parede Este deste compartimento sendo de resto, os únicos elementos arquitectónicos a observar-se naquele alçado. Na parede Sul, encontram-se o mesmo tipo de impostas, desta feita em número de quatro. Entre as duas impostas da esquerda, foi aberto, na época industrial, um vão de janela adossado ao topo da abóbada, recorrendo ao desmonte do aparelho da parede (para mais informações, consultar o capítulo dedicado à análise do alçado Sul). O desmonte foi executado de forma a criar afunilamento do vão, que abriu no

141 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

sentido interior. Foi alvo de intervenção nesta empreitada, encontrando-se já emparedado.

Foto 151 – Vista geral sobre o vão de janela à esquerda da parede Sul do compartimento 5. Perspectiva Norte.

Praticamente encostado ao extremo direito da parede Sul deste compartimento, foi aplicado na época industrial um armário de parede, recorrendo a cantarias, ao nível do

lintel,

ombreira

esquerda

e

ombreira

direita,

em

claro

contexto

de

reaproveitamento. Nesta última recorreu-se igualmente ao emprego de tijolos maciços espessos. A base construiu-se com recurso a tijolos maciços finos. Todo o conjunto foi rebocado a argamassa de cimento, incluindo o fundo, e pintado de branco.

altura

1,03 m

largura

0,58 m

profundidade

0,38 m

tipo

Foto 152 – Vista geral sobre o vão de armário no extremo direito da parede Sul do compartimento 5. Perspectiva Norte.

Na mesma parede, mas ao centro do alçado, encontra-se aberto um vão de porta cuja cronologia é difícil de apontar, tal é o seu estado de destruição. Preserva unicamente um ‘lintel’ em madeira pintada de verde. Das ombreiras persistem apenas as bases, em reboco de argamassa de cimento, que se observam apenas junto ao alçado exterior. 142 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Apesar de os poucos vestígios de vão terem definitivamente uma cronologia industrial, não podemos em segurança afirmar que será esta a sua cronologia original (para mais informações, consultar o capítulo dedicado à análise do alçado Sul). Para mais, a abertura da ombreira esquerda anulou um arco em tijolo ao cutelo, cujos vestígios ainda se observam anexos a esta ombreira. Não foi identificada a ombreira deste arco, que estaria com certeza na sua extremidade nascente, sendo possível que fosse constituída apenas pelo alinhamento do paramento, que tenha sido anulado aquando do seu emparedamento. A ter funcionado como vão de passagem, então o piso de circulação neste compartimento seria seguramente inferior ao actual, uma vez que o arco se encontra a uma altura de sensivelmente 1,50 m, a partir do actual nível de circulação.

Vão de Porta altura

1,15 m

largura

1,30 m

profundidade

1,03 m

Fotos 153 e 154 – À esquerda: vista geral sobre o vão de porta ao centro da parede Sul do compartimento 5. Perspectiva Norte. Em destaque: local do arco detectado. À direita: pormenor do arco detectado junto à ombreira esquerda do vão. Perspectiva Norte.

143 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

A cobertura deste espaço é em abóbadas de arestas, num número total de seis, com duas filas de três abóbadas alinhadas paralelamente de Este para Oeste. Como já referido, assentam sobre impostas aplicadas nas quatro paredes do compartimento. Ao centro da sala, as abóbadas assentam igualmente em dois pilares de secção quadrangular. No topo, a secção destes pilares alarga, originando um bisel a toda a volta do pilar. Encontram-se totalmente rebocados a cimento, embora em algumas partes, como na base, a ausência deste material permita constatar serem originalmente em cantaria de calcário.

Foto 155 – Vista parcial da cobertura em abóbadas de arestas do compartimento 5. Perspectiva Noroeste.

O piso deste compartimento é cimentado e, portanto de cronologia industrial. Como referido no capítulo dedicado à análise do alçado Sul do edifício conventual, este compartimento tem o seu alçado exterior Sul avançado relativamente ao restante conjunto. Como veremos atempadamente, este poderá constituir um indício da preexistência deste compartimento, assim como o que se lhe sobrepõe (de semelhantes características arquitectónicas) em relação ao restante edifício, ao qual terá sido incorporado numa fase posterior. Outro argumento em abono desta hipótese é a própria arquitectura deste espaço, mais característica do século XVI do que da época em que o restante edifício foi erguido, já em meados do século XVII.

144 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

3.2.2.4. Piso 1 – Ala Sul

• Compartimento 1

Não existem referências bibliográficas a este espaço, talvez por se tratar de um mero corredor de acesso tanto ao compartimento 4 da ala Oeste do piso 1, como aos compartimentos 2 e 4 da presente ala. Este corredor, de planta rectangular, desenvolve-se a partir do canto Sudoeste do claustro, sendo na prática um prolongamento da sua ala Oeste no sentido Sul. Em toda a sua parede Oeste do compartimento 1 constata-se apenas o já descrito vão de arco de passagem para o compartimento 4 da ala Oeste do piso 1. Na sua parede Sul abria um vão de janela de origem industrial, abobadado e de grandes dimensões, que foi parcialmente fechado no âmbito da presente empreitada, criando um novo vão rectangular vertical, de lintel, ombreira e peitoril em cantaria de calcário, de moldura exógena nos alçados exterior e interior. Para mais informações relativamente ao vão industrial, poderá o leitor consultar o capítulo dedicado à análise do alçado Sul do edifício conventual.

145 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Vão Industrial já Substituído altura máxima largura profundidade

3,80 m 3m 0,20 m

Foto 156 – Vista parcial do compartimento 1, assim como do novo vão de janela que abre na sua parede Sul. Perspectiva Norte.

Este compartimento, que na prática funciona, como já referido, como um prolongamento da ala Oeste do claustro, não se encontra presentemente fechado a Norte, embora, o deva ter originalmente sido, a julgar pelos vestígios de arranques de muro, detectados junto ao piso na extremidade Norte deste compartimento, bem como pelo negativo do mesmo muro detectado imediatamente por cima destes vestígios, ao nível da abóbada. Dado que os vestígios detectados são profundamente residuais é impossível imaginar como se desenvolvia aquele muro ou como se articularia com o vão de passagem, que, com certeza, ali existia, sendo igualmente impossível averiguar a tipologia ou dimensões dessa passagem.

146 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Vão de Passagem altura máxima

?

largura

?

profundidade aproximada

0,55 m

Foto 157 – Vista parcial do acesso Norte ao compartimento 1. Perspectiva Nordeste. De notar o arranque de um paramento junto ao actual piso de circulação (seta vermelha), bem como o negativo do mesmo na abóbada (seta azul).

Quanto à parede Este deste trânsito, trata-se de um tramo bastante alterado na época industrial, que reflecte o grau de alteração dos compartimentos com que confina, os compartimentos 2 e 4, também eles profundamente modificados na época industrial. Nesta parede abrem-se presentemente cinco vãos, um deles já emparedado no âmbito da presente empreitada. O primeiro destes vãos, no extremo esquerdo da parede, é definido lateralmente por duas ombreiras em cantaria bem facetada, sendo que ambas foram, na época industrial, sujeitas a rebocagem com argamassa do cimento. Na base deste vão encontra-se o arranque de uma parede que especulamos ter originalmente fechado total ou parcialmente aquele vão. A ser verdade, a abertura que actualmente ali se constata deverá ter a sua origem na ocupação industrial deste edifício, altura em que o aparelho conventual terá sido desmontado e o novo vão encimado por um lintel de betão armado, que ainda se mantém actualmente.

147 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

altura

2,60 m

largura

1,75 m

profundidade

1,15 m

Foto 158 – Vista geral sobre o vão de passagem detectado no extremo esquerdo da parede Este do compartimento 1. Perspectiva Sudoeste.

De referir que, ao prospectarmos o topo das abóbadas que cobrem o piso superior deste edifício, detectámos de forma anexa a Oeste da parede em causa, os vestígios de uma chaminé. Por este motivo, especulamos que o presente vão tenha, na realidade, sustentado um paramento ao qual se anexaria esta chaminé, pelo lado Oeste. A chaminé articular-se-ia eventualmente com um forno, a Este da mesma parede, coadunando-se, deste modo, com a função de ‘amaçaria’ do compartimento 4, avançada por Pedro Santos (SANTOS, 1997: 55). Em suma, julgamos provável que o vão constatado seria efectivamente uma parede à qual se anexava uma chaminé, pelo seu lado Oeste, e um forno pelo seu lado Este. À direita deste vão, localizámos um vão de porta de origem conventual, embora muito adulterado na época industrial, que daria passagem para o interior do compartimento 4. Do vão original subsiste apenas a soleira e o arranque dos paramentos que deveriam constituir as suas ombreiras. Por este motivo, é-nos impossível avaliar a tipologia ou dimensões do vão conventual. A cobrir o vão actual, resultante do desmonte do vão original em época industrial, encontra-se, à semelhança do anterior, um lintel de betão armado. Este vão foi emparedado no decurso da corrente empreitada. De notar que, antes do emparedamento a que foi sujeito, este vão confrontava directamente com o vão de arco que une o compartimento 1 desta ala ao 148 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

compartimento 4 da ala Oeste, aumentando deste modo a probabilidade de ter existido nele um vão de passagem conventual.

Vão actual Emparedado altura

2,80 m

largura

2,30 m

profundidade

1,15 m

Vão Conventual Desmontado altura

?

largura

1,22 m

profundidade

0,64 m

Foto 159 – Vista geral sobre o vão de passagem detectado em frente ao acesso ao compartimento 4 da ala Oeste. Perspectiva Oeste. Destaque para a soleira detectada no actual piso de circulação.

O terceiro vão detectado na parede Este do presente compartimento, localiza-se à direita do anterior, sensivelmente ao centro do corredor, tratando-se definitivamente de um vão de porta de origem industrial. Terá sido aberto através do recurso ao desmonte do aparelho conventual e encontra-se construído com o lintel e as ombreiras demonstrando algum cuidado de acabamentos, recorrendo para tal a tijolos alveolares e argamassa de cal. A soleira não tem qualquer tipo de acabamento.

149 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

altura

1,90 m

largura

0,90 m

profundidade

1m

Foto 160 – Vista geral sobre o vão de porta industrial detectado ao centro da parede Este do compartimento 1. Perspectiva Oeste.

À direita deste vão abre-se outro vão de porta que, pelo contrário, é de cronologia conventual. Possui lintel, ombreiras e soleira em cantaria de calcário de moldura exógena no interior da parede Este do presente compartimento. É encimado, no interior do presente compartimento, por um arco de descarga em ‘V’ invertido e por um arco de descarga abatido em tijolos ao cutelo no exterior onde, praticamente resulta no próprio lintel do vão. De referir que, a julgar pelos orifícios detectados ao nível do lintel, esta seria uma porta de duas folhas que abririam para o exterior. Esta é uma característica que abona em favor da hipótese de este vão servir, numa fase primitiva, um pátio pertencente a um edifício preexistente em relação ao edifício conventual. Esta é uma ideia que exploraremos atempadamente.

150 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 161 – Vista geral sobre os vãos de porta conventual (à esquerda) e de janela conventual (à direita) detectados na parede Este do compartimento 1. Perspectiva Sudoeste.

Vão de Porta

profundidade

Vão de Janela

altura

1,95 m

altura

0,52 m

largura

0,90 m

largura

0,90 m

interior

0,20 m

interior

0,50 m

exterior

0,92 m

exterior

0,64 m

profundidade

O quinto e último vão a ser detectado na parede Este do presente compartimento, à direita do anterior, é um vão de janela conventual (na foto anterior). Trata-se de um vão rectangular horizontal de moldura em cantaria de calcário, exógena no alçado interior do compartimento, sendo as suas paredes exteriores rebocadas a argamassa de cal e rematadas no topo por um pequeno arco de descarga abatido em tijolo ao cutelo. Apresenta um duplo afunilamento, abrindo para o exterior e interior. Foi bastante mutilado no seu canto superior esquerdo, eventualmente para fazer passar algum aparato industrial. Abaixo deste vão e encostando à ombreira direita do vão de porta anterior, existia um desmonte parcial do aparelho da parede, que eventualmente acolheu algum aparato industrial. Foi emparedado no âmbito da presente empreitada. Quanto à cobertura deste compartimento ela é feita por uma abóbada de berço abatida e adintelada, com excepção do seu início (a Norte) onde se constatam dois 151 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

pares de abóbada de arestas. São, pelo que se pode constatar através de uma pequena sondagem de diagnóstico realizadas com vista a averiguar os seus materiais construtivos, em tijolos ao cutelo, unidos por argamassa de cal. O piso deste compartimento é em cimento, logo de cronologia industrial.

• Compartimento 2

Pedro dos Santos refere-se a este compartimento como tendo sido, à época conventual a ‘despensa’ (SANTOS, 1997: em anexo). A atribuição desta funcionalidade para o compartimento 2 entra em conflito directo com a localização da ‘despensa’ atribuída por Sandra Lopes ao compartimento 5 da ala Oeste do presente piso (LOPES, 1998: 94) que, por seu turno atribui ao presente compartimento a ‘adega’ (LOPES, 1998: 94). Pedro dos Santos explora ainda a possibilidade de nesta área se ter localizado à época conventual a ‘pataria’, um espaço reservado ao armazenamento dos utensílios da cozinha (SANTOS, 1997: 55). Uma vez mais, a total ausência de vestígios detectados neste compartimento não nos permite reflectir sobre as informações recolhidas bibliograficamente. Mais difícil ainda se tornou tecer considerações sobre o compartimento 2 por se tratar de um espaço profundamente modificado na era industrial e, aparentemente, por ter sofrido amplas modificações também ainda no decorrer da época conventual. Ao espaço deste compartimento temos actualmente acesso por dois vãos de porta, um industrial e outro pré-conventual, abertos ao centro e à direita da parede Este do compartimento anterior e, portanto, já descritos.

152 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

O vão pré-conventual que abre para este espaço, referido anteriormente, abria as suas duas folhas, pelos motivos que já expusemos, para o interior deste compartimento, denunciando que este seria um compartimento individualizado e confinado por muros já na época conventual. Fazemos referência a este facto uma vez que, como veremos aquando da análise do piso 2 deste edifício, constatámos vestígios que indicam a abertura do espaço imediatamente sobreposto ao presente compartimento. Especulamos que a cobertura conventual do compartimento 2, já desaparecida, consistiria num mero telheiro de apenas uma água, com inclinação para Sul, sobre o qual escoariam as águas dos beirais dos telhados que cobriam os compartimentos que no piso 2 confinavam com a área sobreposta ao presente compartimento. Em abono desta cobertura estão os orifícios detectados na parede Norte e em parte da parede Oeste deste compartimento, que aparentam terem sustentado travejamento ao nível da cobertura do compartimento 2.

Foto 162 – Vista parcial sobre o nível intermédio entre os pisos 1 e 2 (assinalado por seta azul), onde se constata a presença de vestígios de orifícios destinados a travejamento (setas amarelas). Perspectiva Sul.

Desta cobertura nada terá chegado aos nossos dias, nem sabemos ao certo como se desenvolveria, uma vez que a maioria do compartimento 2 apresenta-se coberto por um conjunto de abóbadas de berço e de arestas, todas pelos seus materiais construtivos datáveis do período industrial. Estas apoiam-se ao centro do compartimento numa parede de aparelho de pedra, rematado a poente por silhares bem facetados, tendo como material ligante argamassa de cimento.

153 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 163 – Vista parcial sobre a cobertura do compartimento 2. Ao centro: pilar de origem industrial que suporta as abóbadas de cobertura deste espaço. Perspectiva Oeste.

A Norte deste muro, encontra-se o arranque de uma abóbada de berço industrial, em alvenaria de pedra e cimento como material ligante, já desmontada, mas cujo negativo podemos ver na parede Este deste compartimento. Esta abóbada cobriria o canto Nordeste do presente compartimento.

Foto 164 – Vista geral sobre os vestígios da abóbada industrial desmontada no canto Nordeste do compartimento 2. Perspectiva Norte.

154 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

O canto Noroeste do compartimento 2, por seu lado, manteve-se descoberto, mesmo à época industrial. Tal pode confirmar-se pelo reboco e pintura da face Norte da abóbada de arestas industrial que cobre o canto Sudoeste do compartimento e com o qual aquele canto confina. Com tais acabamentos, naturalmente não encostaria ali qualquer tipo de cobertura.

Foto 165 – Vista parcial sobre a abóbada de industrial que cobre o canto Sudoeste deste espaço. Perspectiva Norte. De notar como a sua face voltada a Norte apresenta acabamentos que demonstram a improbabilidade de nela encostar qualquer estrutura (setas vermelhas).

O canto Sudoeste do compartimento 2 é pois coberto por uma abóbada de arestas de origem industrial, dado encontrar-se erguida com recurso a tijolos maciços finos ao cutelo unidos por argamassa de cimento. O canto Sudeste deste compartimento é, por seu lado, coberto por uma abóbada de berço que se desenvolve no sentido Este/Oeste e que se apresenta erguida com o mesmo tipo de materiais, sendo portanto de cronologia idêntica. A parede Este deste compartimento apresenta dois arcos de volta perfeita, em tijolo ao cutelo e ombreiras definidas pelo alinhamento do paramento. São com certeza vãos de passagem conventual para o compartimento 3, paralelo a este compartimento e que descreveremos de seguida. O arco da direita, encostado ao canto Sudeste do compartimento, foi parcialmente fechado passando, em época industrial, a albergar um vão de porta de lintel e soleira em betão e ombreiras sem acabamentos. O vão da esquerda, encostado ao canto Nordeste do compartimento foi igualmente emparedado. 155 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Apesar dos materiais construtivos do emparedamento consistirem em pedra e argamassa de cal, e portanto cronologicamente abrangentes, estas acções de emparedamento deverão ter ocorrido durante a época industrial. Caso o emparedamento fosse de origem conventual o acesso ao compartimento 3 ficaria impossibilitado, uma vez que não foram detectados outros acessos de origem conventual a este compartimento, para além dos próprios arcos.

Fotos 166 e 167 – Vistas parciais sobre a parede Este do compartimento 2. À esquerda: vão de arco conventual emparedado e encimado por negativo da abóbada industrial que cobria o canto Nordeste deste espaço. À direita: vão de arco conventual emparedado e porta industrial aberta através do desmonte do emparedamento. Ambas as perspectivas Oeste. Arco à Esquerda

Arco à Direita

Vão de Porta

altura

2,60 m

altura

2,75 m

altura

2m

largura

2,45 m

largura

2,40 m

largura

0,95 m

profundidade

0,62 m

profundidade

0,62 m

profundidade

0,62 m

De referir ainda que a parede Este do presente compartimento ultrapassa ligeiramente um vão de uma janela pré-conventual aberto para o interior do corpo de escadas que estabelece ligação entre os pisos 1 e 2 (compartimento 5). A forma como a parede ultrapassa a janela demonstra que foi projectada numa fase posterior à da construção do corpo das escadas e respectiva janela.

156 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Na parede Norte do compartimento 2, constata-se a abertura de um vão de arco que será atempadamente descrito aquando da análise da parede Sul do compartimento 4, que é na realidade a mesma parede. Na parede Sul do presente compartimento abriam-se dois vãos de janela industriais. O primeiro à direita seria em forma de arco abatido e de tipologia semelhante ao vão industrial que abria no topo Sul do compartimento anterior. O segundo, à esquerda, seria rectangular vertical. Estes vãos encontram-se pormenorizadamente descritos no capítulo dedicado ao alçado Sul. Foram ambos emparedados no âmbito da presente empreitada.

Foto 168 – Vista geral sobre a parede Sul do compartimento 2. Perspectiva Noroeste.

Vão de Janela à Esquerda

Vão de Arco à Direita

altura máxima

2,85 m

altura máxima

largura

1,50 m

largura

profundidade

?

profundidade

3,80 m 3m ?

O piso deste compartimento encontra-se muito destruído, sendo apenas visíveis algumas partes em cimento e calçada com pedras de pequeno porte de cronologia industrial. De notar que no canto Noroeste do compartimento se encontra um pequeno ‘canteiro’ de planta pseudo-quadrangular, de cantos chanfrados, de cronologia industrial, dado 157 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

se encontrar construído com recurso a tijolos maciços espessos unidos por argamassa de cimento. No interior deste ‘canteiro’ é visível uma conduta de cronologia conventual, descrita no capítulo dedicado à hidráulica conventual. A referir ainda que sob o piso deste compartimento detectámos a presença de uma cisterna. Trata-se de um compartimento de planta quadrangular, paredes e tecto rectos e rebocados a cimento e com um pilar no extremo Norte construído com tijolos maciços espessos. Por questões de segurança não nos foi permitido aceder ao seu interior, pelo que não pudemos averiguar as suas dimensões ou registá-la convenientemente. Contudo, as suas características levam-nos a atribuir-lhe uma cronologia industrial.

Foto 168 – Vista geral sobre o interior da cisterna detectada abaixo do piso de circulação do compartimento 2, conforme foi possível fotografá-la. Perspectiva Sul.

• Compartimento 3

158 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Trata-se de um espaço anexo a Este ao compartimento anterior e para o qual não existem referências bibliográficas. Trata-se de um compartimento rectangular, de cobertura em abóbada de berço que se desenvolve no sentido Norte/Sul, encostando a Norte ao corpo das escadas de acesso ao piso 2, ou compartimento 5. Esta abóbada apoia-se na parede Oeste do compartimento que, como já referido, ultrapassou a janela conventual de iluminação daquelas escadas, obrigando à criação de um chanfro, que se vê no exterior da parede, no sentido de não eliminar por completo aquela janela. Comunicava com o compartimento 2 através dos arcos já descritos, que são igualmente visíveis na parede Oeste deste compartimento, onde estes apresentam indícios de reboco na sua face interior, corroborando que deverão ter funcionado como vãos de passagem. Em cada uma das extremidades da parede Este deste compartimento abrem-se dois vãos de porta para o compartimento 6. O primeiro, a Norte, é na realidade um vão de porta de cronologia industrial, feito através da ampliação de uma janela préconventual. Para tal foram mantidos o seu lintel e ombreiras originais, tendo o peitoril sido desmontado, bem como o paramento que o sustentava até ao piso de circulação actual. O segundo vão, a Sul, é de cronologia industrial, construído através do desmonte do aparelho conventual e rematado, nas suas faces internas por reboco de argamassa de cimento. A estes vãos voltaremos a referir-nos aquando da análise do compartimento 6, para o qual abrem. A parede que constitui o topo Norte deste compartimento confina com o corpo de escadas de acesso ao piso 2, ou compartimento 5. Nela abre-se um pequeno vão de janela de formato rectangular e de cronologia industrial, a partir da qual se estende um pequeno patamar em madeira e com travejamento em ferro, que deverá ter constituído um local de depósito de materiais em época industrial. Na parede Sul, que confina com o logradouro, não existe qualquer vão, nem são visíveis indícios de aí ter existido algum. De forma anexa a esta parede, contudo, encontra-se um lance de escadas, de origem industrial, com seis degraus, que estabelece ligação entre os dois vãos de origem industrial que servem este espaço e que se localizam frente-a-frente. A aproximadamente um metro do nível do chão, é visível nas paredes deste compartimento negativos de um patamar de cronologia industrial, cuja função desconhecemos mas que pode estar associado à criação de espaço para armazenamento.

159 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Vão de Janela altura máxima

0,70 m

largura

0,66 m

profundidade

0,70 m

Foto 169 – Vista geral sobre o compartimento 3. Perspectiva Sul. Ao fundo abre-se o vão de janela industrial para o corpo de escadas. Sob este vão foi aplicado, à época industrial, um patamar em ferro e madeira. Ao fundo à direita abre-se o vão de porta industrial a partir de um vão de janela conventual. De notar os negativos do piso industrial já desmontado (setas azuis).

• Compartimento 4

Apenas Pedro dos Santos avança com uma possibilidade funcional para o compartimento 4, localizando ali a ‘amaçaria’, um local onde, como o próprio nome indica seria amaçado o pão. Na sequência desta localização, o autor defende que a cozedura do pão teria contudo lugar na ‘cozinha’, ou compartimento 3 da ala Oeste, dada a proximidade entre os dois compartimentos (SANTOS, 1997: 55). 160 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Contudo, tal como já foi referido, foram detectados os vestígios de uma chaminé aquando da prospecção que realizamos no topo das abóbadas de cobertura dos compartimentos do piso 2, precisamente localizados no alinhamento da parede Oeste deste compartimento. Deste modo, considerámos plausível que esta chaminé tenha servido na época conventual alguma lareira ou forno localizado no interior do compartimento 4. Em conjugação com a funcionalidade atribuída por Santos a este espaço, estamos inclinados a aceitar a possibilidade de este espaço ter efectivamente acolhido uma ‘amaçaria’ que, ao contrário do que presumiu o autor, dispusesse de forno para a cozedura do pão.

Foto 170 – Vista geral sobre a chaminé detectada no topo da abóbada de cobertura do compartimento imediatamente sobreposto ao compartimento 4. Perspectiva Sul.

O compartimento 4 propriamente dito, trata-se de uma sala de planta quadrangular, coberta por uma abóbada de arestas cujas extremidades, já amputadas, descarregavam em pequenas impostas, tal como é possível averiguar pelos negativos deixadas no canto Sudeste desse compartimento, que permite verificar igualmente ter esta abóbada sido construída em tijolo ao cutelo. Na sua parede Este, a mesma que confronta com o corpo de escadas de acesso ao piso 2, não foram detectados quaisquer vãos, abertos ou emparedados, pelo que presumimos apresentar a sua configuração original. Na parede Norte foram abertos, na época industrial, dois vãos de passagem. 161 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

O primeiro, à esquerda, era um amplo vão, em arco de volta perfeita, que abria até à altura da abóbada de cobertura deste compartimento, ultrapassando-a até, sem que tenha contudo destruído mais do que a extremidade daquela no canto Noroeste da sala. Trata-se de um vão construído através do desmonte do aparelho e rematado nas suas faces internas por reboco em argamassa de cimento. Foi no âmbito desta empreitada emparedado.

Foto 171 – Vista geral sobre a parede Norte do compartimento 4. Perspectiva Norte. Vão Industrial à Esquerda altura máxima

3m

Vão Industrial à Direita altura máxima

2,35 m

largura

2,70 m

largura

1,10 m

profundidade

1,10 m

profundidade

1,10 m

O segundo vão, à direita do anterior, correspondia a um vão de porta industrial, tendo sido fechado ainda naquela fase de ocupação do edifício por um paramento em tijolos alveolares e argamassa de cimento. Este emparedamento, contudo, fez-se apenas ao nível da parede que ora descrevemos, mantendo-se aberto no exterior, onde poderá ter permanecido em funcionamento como, por exemplo, um armário. Trata-se de um vão de porta aberto com recurso ao desmonte do aparelho da parede, sem acabamentos ao nível das ombreiras (que poderão ter a dada altura sido rebocados), com soleira em cantaria calcária e lintel em forma de arco abatido construído com tijolos maciços espessos ao cutelo e argamassa de cal. Na parede Sul, deslocado para a direita, abria um vão de arco de origem industrial, emparedado no decurso da presente empreitada. Tratava-se de um vão de arco de 162 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

volta perfeita, construído com recurso ao desmonte do aparelho da parede, tendo as suas faces internas sido posteriormente rebocadas a argamassa de cimento. De notar que a este vão já nos tínhamos referido aquando da análise da parede Norte do compartimento 2 da presente ala.

altura máxima

3,30 m

largura

2,90 m

profundidade

0,70 m

Foto 172 – Vista geral sobre o vão de arco industrial detectado na parede Sul do compartimento 4. Perspectiva Sul.

Quanto à parede Oeste deste compartimento, nela se abriam os dois vãos de passagem descritos aquando da análise da parede Este do compartimento 1 da presente ala. Recordamos que se encontravam no extremo direito desta parede dois vãos de passagem de cronologia industrial, o primeiro dos quais aberto através do desmonte da parede onde encostaria a chaminé do eventual forno da ‘amaçaria’, tendo o segundo sido obtido através do desmonte de um vão do qual subsistiu apenas a soleira. Mais recordamos ter este último sido emparedado no âmbito da presente empreitada. O piso deste compartimento é em terra batida.

• Compartimento 5

Não existem referências bibliográficas para este compartimento, talvez por se tratar de um corpo de escadas que une o piso 1 ao piso 2 e que se mantém

163 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

sensivelmente sem alterações desde a época conventual até presentemente. A entrada das escadas é efectuada por uma porta de cantaria calcária, de lintel, ombreiras e soleira de moldura exógena ao alçado exterior. Recentemente foi alvo de uma intervenção de restauro que acrescentou à sua moldura externa, uma moldura em reboco, e que obliterou a moldura interna. Uma vez que este vão abre para o compartimento 6, voltaremos a ele aquando da descrição deste espaço. O primeiro lance de escadas apresenta oito degraus até ao primeiro patamar, à direita dos quais, na parede Norte do compartimento, se consegue observar um vão de arco abatido em tijolo ao cutelo que poderá corresponder a uma antiga passagem, emparedada a argamassa de argila. Por cima deste arco detectámos o emparedamento, no mesmo tipo de material, de um vão de janela. Ambos os vãos, emparedamentos em época conventual, deverão corresponder aos vãos de um edifício preexistente relativamente ao edifício conventual. A este assunto regressaremos atempadamente.

Vão de Janela altura aproximada

1,80 m

largura aproximada

1,40 m

Profundidade aproximada

0,95 m

Vão de Arco * altura máxima

1,40 m

largura aproximada

2,40 m

profundidade aproximada

0,95 m

* Medidas recolhidas a partir do actual nível de circulação.

Foto 173 – Vista parcial sobre a parede Norte do compartimento 5. Perspectiva Sudoeste. Destaque para o emparedamento de um vão de janela (linha amarela), assim como o emparedamento de um vão de arco (linha vermelha).

De seguida as escadas desenvolvem-se em lances de quatro degraus entre cada patamar até ao piso superior, num total de quatro lances desenvolvidos em torno de um pilar central. Este pilar, de secção quadrangular com 1,76 m x 1,76 m, encontrase construído em aparelho de alvenaria irregular, apresentando as arestas rematadas 164 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

a cantaria. O topo do pilar é encimado por um invulgar templete piramidal, de paredes e arestas côncavas, encimado por uma esfera.

Foto 173 – Vista geral sobre o topo do pilar central do compartimento 5. Perspectiva Nordeste.

Os degraus, em pedra calcária, apresentam um elevado grau de desgaste. De referir ainda que o piso 2 é alcançado pelo lado esquerdo do corpo das escadas, na sua parede Norte, com ligação à varanda superior do claustro e ao compartimento 3 da ala Sul do piso 2. No entanto, no período de ocupação industrial, foi aberta igualmente ao topo das escadas mas do lado direito, na sua parede Este, um vão de porta com quatro degraus. O vão de acesso à varanda do claustro, de origem conventual, é composto por lintel, ombreiras e soleira em cantaria de calcário de moldura exógena em ambos os alçados. Não é encimada por qualquer tipo de arco de descarga.

165 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

profundidade

altura

2,10 m

largura

1,25 m

interior

0,58 m

exterior

0,35 m

Foto 174 – Vista geral sobre o vão de porta de acesso à varanda do claustro a partir do topo do compartimento 5, ao nível do piso 2. Perspectiva Norte.

À direita deste vão, ainda na parede Norte do corpo de escadas, encontra-se um vão de janela, que deverá ter sido emparedado em época conventual, a julgar pelo seu aparelho em alvenaria irregular de pedra e argamassa de argila. Deste vão subsiste apenas o alinhamento da sua abertura e o arco de descarga abatido que o encimava, composto por tijolos ao cutelo. Partilha este vão, assim como o emparedamento a que foi sujeito, algumas semelhanças com o vão de janela detectado à direita do primeiro lance das escadas, com o qual, aliás, se encontra alinhado.

altura aproximada

1,80 m

largura aproximada

1,40 m

profundidade aproximada

0,95 m

Foto 175 – Vista geral sobre o vão de janela emparedado, detectado na parede Norte do compartimento 5, ao nível do piso 2. Perspectiva Sul. 166 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Na parede Oeste do compartimento 5, ao nível do piso 2, abriu-se, em época industrial um pequeno vão de janela para o compartimento 3 da ala Sul desse piso, que foi emparedado ainda na mesma época, com recurso a tijolos maciços espessos e argamassa de cal. Na mesma parede, à esquerda do vão de acesso à varanda do claustro, abre-se novo vão de porta conventual de acesso ao compartimento 3 da ala Sul do piso 2, ao qual regressaremos aquando da análise arquitectónica deste compartimento. Como já referido, à direita do quarto patamar abre-se, na parede Este do presente compartimento, um vão de porta industrial, construído através do desmonte do aparelho da parede, que estabelece ligação ao compartimento 5 da ala Sul do piso 2. Apresenta a ombreira esquerda rematada a tijolos maciços espessos e lintel rebocado a cimento. Não apresenta acabamentos ao nível da ombreira direita. O próprio vão desta porta acolhe quatro degraus em cantaria de calcário, embora de tipologia diferente da das escadas ao nível da configuração e da dimensão, não apresentando, por exemplo o desgaste observado nos restantes degraus do interior do corpo das escadas.

altura

1,80 m

largura

1,40 m

profundidade

0,95 m

Foto 176 – Vista geral sobre o vão de porta industrial aberto na parede Este do compartimento 5, ao nível do piso 2. Perspectiva Oeste.

167 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Ao nível intermédio da parede Sul do compartimento 5 abre-se um vão de janela conventual de iluminação às escadas que se encontra a meio do seu corpo, em frente ao segundo patamar. Ali se constata bastante bem a forma como a construção da abóbada de cobertura do compartimento 3 da ala Sul do piso 1 ultrapassa um pouco este vão, como já referido, obrigando à execução de um chanfro para que não o bloqueasse totalmente. Trata-se de uma janela de lintel, ombreira e parapeito em cantaria de calcário, de moldura exógena no alçado exterior. No interior a moldura resulta do aparelho da parede, assim como do arco de descarga abatido em tijolo ao cutelo que a encima.

profundidade

altura

1,18 m

largura

0,90 m

interior

0,22 m

exterior

0,55 m

Foto 177 – Vista geral sobre o vão de janela conventual de iluminação ao compartimento 5. Perspectiva Norte. De notar que, no exterior, este vão é parcialmente ultrapassado pela abóbada de cobertura do compartimento 3 da ala Sul do piso 1.

Do lado esquerdo desta janela abre-se novo vão de janela para o interior do compartimento 3 da ala Sul do piso 1, desta feita de cronologia industrial, construída através do desmonte do aparelho da parede e de faces internas, superior e inferior, rebocadas a argamassa de cimento. Este vão foi já alvo de descrição aquando da análise da arquitectura daquele compartimento. O corpo das escadas é coberto por uma abóbada de arestas que descarregam em pilastras dispostas nos cantos do compartimento. Junto à parede Sul deste corpo foi aberta na abóbada uma clarabóia de formato rectangular, cuja cronologia deduzimos ser industrial, mas cuja função desconhecemos.

168 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

• Compartimento 6

Na ala Sul do claustro, centrado em relação ao alçado, abre-se um vão em arco de volta perfeita e adintelado, de cantaria calcária e de moldura exógena em ambos os alçados que constitui o acesso a um conjunto de escadas, que por sua vez conduzem ao logradouro. De referir que este arco se encontra encostado à direita ao corpo de escadas de acesso ao piso 2, ou compartimento 5, a que nos referimos anteriormente, mas também à esquerda a um cunhal que remata o extremo Noroeste do corpo da ‘sala do capítulo’, ou compartimento 1 da ala Sul do piso 0. Estes fenómenos levamnos a especular sobre a possibilidade de um programa construtivo faseado, assim como na hipótese da existência de uma edificação preexistente ao próprio convento. A estes temas regressaremos atempadamente.

altura máxima

3,90 m

largura

2,10 m

profundidade

1,09 m

Foto 178 – Vista geral sobre o vão de arco de acesso ao compartimento 6 a partir da ala Sul do claustro. Perspectiva Norte. Ao fundo: vão de arco de acesso ao logradouro.

169 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

As escadas que se desenvolvem no interior deste compartimento, unindo o claustro no piso 1 ao logradouro no piso 0, encontram-se profundamente destruídas em consequência da instalação neste espaço de uma conduta de cronologia industrial. De referir que no extremo Sul destas escadas realizou-se uma sondagem arqueológica no decurso da campanha de 2003.

Foto 179 – Vista parcial sobre as escadas do compartimento 6. Perspectiva Norte.

Do arco anteriormente referido existe um congénere no topo Sul do presente compartimento. Trata-se de um arco semelhante na tipologia e nas dimensões, embora tenha uma altura bem mais elevada que o primeiro em consequência de se abrir num alçado de duplo pé-direito. Para mais informações relativas a este arco, poderá o leitor consultar o capítulo dedicado à análise do alçado Sul. De notar que, à semelhança do seu congénere, também este arco encosta aos corpos que o ladeiam à esquerda e direita.

170 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

altura máxima

4,60 m

largura

2,10 m

profundidade

0,85 m

Foto 180 – Vista geral sobre o vão de arco da extremidade Sul do compartimento 6. Perspectiva Norte.

Não existe nada a registar na parede Este do compartimento 6. Por seu turno, na parede Oeste abrem-se três vãos de porta. O primeiro, ao centro do alçado, abre para o compartimento 3 da presente ala. Trata-se de um vão de porta industrial aberto, contudo, a partir de um vão de janela conventual. Para tal foi desmontado o peitoril desta janela, assim como o paramento que o sustentava até ao nível do piso de circulação. As faces internas do novo vão foram então rebocadas e pintadas a branco, tendo permanecido intactos o lintel e as ombreiras da janela original, em cantaria de calcário. Originalmente a janela conventual teria uma moldura em cantaria de calcário exógena nos alçados interno e externo, e apresentava um ligeiro afunilamento, abrindo para o exterior e para o interior em simultâneo.

171 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Vão de Janela Conventual

profundidade

altura

0,43 m

largura

0,80 m

interior

0,30 m

exterior

0,52 m

Vão de Porta Industrial

profundidade

altura

2,25 m

largura

0,80 m

interior

0,30 m

exterior

0,56 m

Foto 181 – Vista geral sobre o vão de porta industrial aberto ao centro da parede Oeste do compartimento 6, a partir de um vão de janela conventual (chaveta azul). Perspectiva Nordeste.

O segundo vão de porta é totalmente de origem industrial. Localiza-se no extremo esquerdo da parede Oeste, abrindo para o compartimento 3 da ala Sul do presente piso. Foi aberto recorrendo ao desmonte do paramento conventual e as suas faces internas foram posteriormente rebocadas a argamassa de cimento e pintadas de branco.

172 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

profundidade

altura

2,20 m

largura

0,85 m

interior

0,50 m

exterior

0,55 m

Foto 182 – Vista geral sobre o vão de porta industrial aberto no extremo esquerdo da parede Oeste do compartimento 6. Perspectiva Nordeste.

O terceiro vão de porta abre no extremo direito da parede Oeste do compartimento 6, estabelecendo acesso ao já referido corpo das escadas que une os pisos 1 e 2, ou compartimento 5. Este último encontra-se construído em cantaria de calcário e apresenta moldura exógena em ambos os alçados, sendo encimado por arco de descarga abatido em tijolo ao cutelo, visível apenas no interior do compartimento 5. Como já referido, às molduras externa e interna deste vão foram, na presente empreitada, acrescentadas molduras em argamassa de cal.

173 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

altura

2,20 m

largura

1,25 m

profundidade

0,60 m

Foto 183 – Vista geral sobre o vão de porta conventual de acesso ao compartimento 5, aberto na parede Oeste do compartimento 6. Perspectiva Nordeste.

Entre o primeiro e o segundo vão a contar de Norte, encontrava-se uma abertura na parede que poderá ter correspondido a um armário embutido, certamente de cronologia industrial, obtido através do desmonte do aparelho conventual. Foi alvo de emparedamento na presente empreitada. A cobertura do compartimento 6 é feita em abóbada de berço adintelada, que se desenvolve no sentido Norte/Sul.

174 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Limite de Intervenção

Emparedamento em época industrial Desmonte em época industrial Intervenção decorrente em época conventual Emparedamento em época indeterminada Emparedamento no âmbito da presente empreitada Emparedamento no âmbito de empreitadas anteriores

CÂMARA MUNICIPAL DE COIMBRA - DOGIM - DEE

Obra Nº 2307 - Convento de São Francisco Obras de Consolidação Estrutural e Trabalhos de Arqueologia

Planta do Piso 1

DESENHO DE PREPARAÇÃO

Desenho Nº PREP 015 / 2307

Págª 2 / 3

175 Caracterização Arqueológica Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

3.2.3. Piso 2

À semelhança do que se verifica no piso 1, também o piso 2 se desenvolve em quatro alas, as alas Este, Norte, Oeste e Sul, todas erguidas no alinhamento das suas congéneres dos pisos 0 e 1. Chamamos a atenção para o facto de em toda a ala Oeste do piso 2 referirmos apenas dois compartimentos no seu extremo Sul, visto que a restante área deste piso se encontra ocupada pelos compartimentos antes designados por ‘refeitório’, ‘anterefeitório’ e ‘cozinha’ (compartimentos 1, 2 e 3 da ala Oeste do piso 1), que sendo de duplo pé-direito se desenvolvem desde o piso 1 até ao piso 2. Encontram-se estes compartimentos descritos a propósito da análise arquitectónica que apresentámos da ala Oeste do piso 1. Como já referido, dos pisos 1 e 2 faz parte integrante o claustro, que será analisado individualmente, encontrando-se os resultados dessa análise no final da análise do piso 2. A maioria dos compartimentos que se localizam neste piso encontram-se actualmente desprovidos da sua cobertura original, tendo esta sido substituída por um novo telhado, responsável pela cobertura de todo o edifício, aplicado em empreitadas anteriores. Por este motivo faremos referência à cobertura dos compartimentos do piso 2 apenas quando se verifica neles a presença de outro tipo de cobertura que não este telhado. Do mesmo modo, alguns dos pisos originais destes compartimentos não subsistiram até à actualidade, não restando deles mais do que o travejamento que os sustentaria. Como tal, alguns dos compartimentos do piso 2 viram os seus pisos substituídos por novos pisos em betão armado, obras que ocorreram no decurso da presente empreitada. Por este motivo faremos igualmente referência ao piso dos compartimentos do piso 2 apenas quando se verifica neles a presença de outro tipo de piso que não este novo piso em betão.

176 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

- Ala Este - Ala Norte

1

- Ala Sul - Ala Oeste

2 3

N 4

2

5 7

6

6

2

5

1

1

7 8 9 10 11 12 4

13

3

14 15 16 17 18 19 20

21

1

2

3

Convento de São Francisco da Ponte – Piso 2 Reconstituição Hipotética à Época Conventual (piso dividido por alas com numeração dos respectivos compartimentos)

177 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

3.2.3.1. Piso 2 – Ala Este

A ala Este do Convento de São Francisco da Ponte encontra-se na sua totalidade ampla, sem qualquer tipo de compartimentação. As paredes que à época conventual se encontrariam dividindo as celas entre si e o corredor principal ou separando o corpo do dormitório dos corpos de escadas a Sul e a Norte, foram totalmente desmontadas durante a fase de ocupação industrial deste edifício, no ímpeto de criar amplos espaços mais apropriados às necessidades fabris da época. Deste modo, as compartimentações que abordaremos nesta ala são denunciadas meramente pela evidência de alguns negativos de parede ou pelo ritmo das janelas conventuais que se abrem na parede Este do espaço actual.

Foto 184 – Vista geral sobre a ala Este do piso 2. Perspectiva Norte.

• Compartimento 1

Ao extremo Sul da ala Este deste piso, localizava-se à época conventual um compartimento que seria, em dimensão

e

organização

espacial,

idêntico

ao

compartimento da ‘livraria’, ao qual aliás se sobrepõe. Não existem referências bibliográficas para este compartimento, pelo que especulamos ter funcionado como espaço de preparação prévia à eucaristia, dado 178 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

localizar-se de forma anexa ao coro, onde assistiam os frades a esta cerimónia. Na parede Oeste desse compartimento, na extremidade abre-se um vão de porta conventual, com certeza projectado em articulação com o claustro principal, que nunca chegou a ser erguido, dado abrir-se para o vazio, como se aguardasse a construção de um piso a Oeste. Trata-se de um vão com ombreiras e lintel de moldura em cantaria calcária, exógena para o alçado exterior e interior, encimado por um arco de descarga abatido em tijolo ao cutelo. Era de duas folhas.

profundidade

altura

2,54 m

largura

1,50 m

exterior

0,22 m

interior

0,56 m

Foto 185 – Vista geral sobre o vão de porta da parede Oeste do compartimento 1. Perspectiva Este.

À direita deste vão de porta observa-se um vão de armário embutido de cronologia industrial, de formato quadrangular e obtido através do desmonte do aparelho. À direita deste encontra-se um vão de janela de cronologia industrial, encimado por arco abatido em tijolos maciços espessos ao cutelo. Foi emparedado no decurso da presente empreitada. Na parede Sul deste compartimento é possível visualizar, alargada na época industrial, a passagem conventual abobadada de acesso ao coro alto da igreja, que se encontra adossada ao canto Sudoeste da sala. É possível imaginar a abertura original que deveria corresponder, grosso modo, à parte mais estreita da passagem que se encontra actualmente, e que foi alargada com o intuito de albergar igualmente um lance de escadas industriais que liga este piso ao piso inferior (mais especificamente ao compartimento 1 da ala Este do piso 1, ou ‘livraria’). 179 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Ainda no topo da parede Sul é possível observar os orifícios destinados à aplicação de travejamento (cuja cronologia será difícil especificar), bem como, no topo à esquerda, uma estrutura abobadada, construída com tijolos ao cutelo e de faces internas revestidas a telha lusa, cuja função desconhecemos.

Vão de arco industrial altura máxima

3,40 m

largura

2,70 m

profundidade

1,15 m

Foto 186 – Vista geral sobre a parede Sul do compartimento 1. Perspectiva Norte. Em destaque: estrutura abobadada (seta amarela), vão de passagem conventual (tracejado vermelho) e vão de passagem industrial (tracejado azul).

Na parede Este do compartimento 1, subsistiram dois vãos de janelas conventuais, que se encontram alinhados com os vãos detectados na parede Este do compartimento 1 da ala Este do piso 1, com os quais partilham características tipológicas e dimensionais. São constituídos por ombreiras, avental e lintel em cantaria calcária, com moldura exógena nos alçados exterior e interior. Apresentam vestígios de terem possuído ‘namoradeiras’ em ambas as ombreiras, amputadas com certeza à época industrial.

180 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

profundidade

altura

3,40 m

largura

1,75 m

exterior

0,22 m

interior

0,58 m

Foto 187 – Vista geral sobre a parede Este do compartimento 1. Perspectiva Oeste.

Quanto à parede Norte deste compartimento, presumimos que se desenvolvesse de modo semelhante à parede homóloga do compartimento 1 da ala Este do piso 1, uma vez que dela nada subsistiu que nos permita auferir com maior rigor o seu comportamento. O piso do compartimento 1, construído sobre o travejamento que era visível na cobertura do compartimento imediatamente abaixo deste, encontra-se construído em cimento, obra que deverá remontar à época de ocupação industrial deste espaço.

Dormitório O piso superior dos dormitórios, que inclui os compartimentos 2 a 21, era designado por ‘dormitório primeiro’, sendo as celas deste numeradas a partir do coro, ao qual se acedia através do extremo Sul desta ala. A primeira dessas celas encontrava-se reservada ao ‘padre leytor’ e as restantes aos ‘estudantes’ (SANTOS, 1997: 42).

• Compartimentos 2 e 20

181 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Anexado a Norte do compartimento 1 situava-se o corpo de escadas mais a Sul, ou compartimento 2, cujas paredes e porta de acesso foram completamente desmontadas na época de ocupação industrial. Não obstante, ainda são visíveis as escadas em cantaria com profundas marcas de desgaste. O negativo da parede Sul do compartimento 2 ainda é visível na parede Este desta ala, onde anexaria ao compartimento 1.

Foto 188 – Vista parcial sobre o acesso actual às escadas do compartimento 2. Perspectiva Oeste.

Na parede Este do compartimento 2 a janela conventual que iluminava as escadas ainda se mantém, bem como o seu avental em cantaria e parte da soleira e moldura exógena no alçado exterior. O seu lintel terá sido em época industrial amputado, assim como o paramento que este apoiava, de forma a aumentar o próprio vão e, desse modo, a entrada de luz. Encontra-se este tramo já emparedado devolvendo deste modo ao vão e ao alçado exterior a sua traça original. À esquerda deste vão encontra-se outro de cronologia industrial, cujas dimensões (do tecto ao nível do piso de circulação) se assemelham à obra levada a cabo na mesma época sobre o vão anterior. Dentro deste vão foi aberto um amplo vão de janela industrial, recentemente emparedado com o intuito de devolver ao alçado exterior a sua traça original.

182 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Vão Conventual à Direita

profundidade

altura

1,80 m

largura

0,90 m

interior

0,78 m

exterior

0,22 m

Foto 189 – Vista geral sobre a parede Este do compartimento 2. Perspectiva Oeste.

Relativamente ao compartimento 20, constata-se que dele subsistiu apenas os negativos das suas paredes Oeste e Sul, que anexavam ao canto Nordeste da actual ala, assim como o vão de janela que o iluminava. Trata-se de um vão de janela de avental, de ombreiras e lintel em cantaria calcária, moldura exógena nos alçados exterior e interior e encimado por arco de descarga em “V” invertido.

• Compartimentos 3, 11 e 19

Os compartimentos 3, 11 e 19 marcavam à época conventual os trânsitos laterais e central da ala Este deste piso. Contudo também as paredes que limitavam estes compartimentos foram desmontadas durante a época de ocupação industrial deste edifício, pelo que deles subsistem apenas as janelas. Tratam-se de vãos desprovidos das características ‘namoradeiras’, assim como de avental. Do exterior avista-se um gradeamento, que supomos ser de origem conventual, que fornece resguardo a um pequeno varandim. Uma observação mais cuidada da base das ombreiras destas janelas revela os vestígios de amputação ao nível do que poderá ter sido um avental primitivo em cantaria. De igual modo se constata que as peças de cantaria aplicadas na base das ombreiras são, pelas suas dimensões, aparentemente aplicadas como 183 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

remate a orifícios deixados pelo desmonte de ‘namoradeiras’. Deste modo, estamos convictos que estes vãos seriam inicialmente constituídos por avental e ‘namoradeiras’, desmontados ainda em época conventual para dar lugar a varandins resguardados por gradeamento. Cada vão é constituído por lintel, ombreiras e soleira em cantaria calcária, de moldura exógena aos alçados interior e exterior.

profundidade

altura

3,40 m

largura

1,75 m

interior

0,58 m

exterior

0,22 m

Foto 190 – Vista geral sobre o vão de janela do compartimento 11. Perspectiva Oeste.

• Compartimentos 4 a 10 e 12 a 18

Os compartimentos 4 a 10 e 12 a 18 correspondem às catorze celas conventuais deste piso, embora delas subsistam apenas as janelas, que apresentam características construtivas muito semelhantes. Tratam-se de vãos de lintel, ombreiras e soleira em cantaria de calcário, de moldura exógena apenas no alçado exterior. No interior, as ombreiras são constituídas apenas pelo paramento que exibe em todos os casos um grande número de silhares em contexto de reaproveitamento. 184 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

As ombreiras, que no alçado interior descem até ao piso, apresentam as arestas rematadas com moldura de madeira que, presumimos, seja um aparato conventual. Na base destas molduras constata-se a presença de uma soleira em cantaria, seguramente parte do piso original deste piso (excepto compartimento 9). O lintel é prolongado para o interior por um painel de ripado de madeira e argamassa de cal e a respectiva aresta igualmente emoldurada por madeira. Os vãos são todos encimados por um arco de descarga abatido, em tijolo ao cutelo.

profundidade

altura

2,06 m

largura

1,30 m

interior

0,78 m

exterior

0,22 m

Foto 191 – Vista geral sobre o vão de janela do compartimento 5. Perspectiva Oeste.

À esquerda das janelas correspondentes aos compartimentos 4 a 9 encontram-se armários embutidos de formato rectangular horizontal, de cronologia industrial e formato quadrangular, obtidos por desmonte do aparelho. À esquerda da janela correspondente ao compartimento 10, igualmente a contar de Norte, encontra-se um pequeno nicho abobadado de paredes internas rebocadas a cimento e pintadas a branco, obtido com recurso ao desmonte da parede. É de cronologia industrial, bem como o é o emparedamento parcial que exibe em tijolos alveolares. O mesmo tipo de nicho emparedado encontramos à direita da janela correspondente ao compartimento 9, bem como à esquerda das janelas correspondentes aos compartimentos 4 e 6. Desconhecemos a sua função original.

185 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

À direita da janela correspondente ao compartimento 10 encontramos uma caleira que atravessa na vertical todo o alçado, embutida na parede e de faces internas rebocadas a argamassa de cimento. À direita da janela correspondente ao compartimento 5, anexou-se em época industrial um armário embutido na parede de lintel em cantaria e paredes internas rebocadas a cimento pintado de branco. Foi parcialmente emparedado, em igual época, por tijolos alveolares.

• Compartimento 21

Do corredor principal que dava nesta ala acesso às celas, aos trânsitos, às escadas e ao compartimento 1 nada subsistiu para além da sua parede Oeste, que é igualmente a parede Oeste da presente ala. Nesta parede constata-se, na sua extremidade esquerda, dois vãos de janela de cronologia industrial, encimados por arcos abatidos em tijolos maciços espessos ao cutelo. Tinham uma altura máxima de 2,40 m e uma largura de 1,55 m. Foram ambos emparedados no decurso da presente empreitada. Entre estes vãos localiza-se um nicho abobadado de cronologia industrial, obtido através do desmonte do aparelho. No seu interior foi mantido um patamar, ao centro do qual se abre um tubo de queda em grés. Presumimos, pelo negativo deixado em redor do tubo que se tratasse de uma pia de lavatório, abastecida por um cano metálico que descia até ela na vertical.

186 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

altura máxima

1,90 m

largura

0,90 m

profundidade

0,45 m

altura da pia

0,90 m

Foto 192 – Vista geral sobre o nicho industrial de lavatório. Perspectiva Este.

À direita do último dos vãos de janela industriais anteriormente referidos, encontra-se uma série de oito armários embutidos de origem industrial, obtidos através do desmonte do aparelho conventual e apresentando em negativo uma prateleira em madeira aplicada à altura de 2/3 do armário.

À direita dos dois primeiros vãos de armário, de frente para os compartimentos 3 e 4, encontram-se dois vãos de porta de cronologia industrial. O primeiro, imediatamente à direita dos armários, é mais baixo e estreito que o segundo, com 2,55 m de altura e 0,85 m de largura. O segundo, imediatamente à direita do primeiro, é mais alto e largo, com 3,25 m de altura e 1,70 m de largura, e é encimado por um arco de tijolos maciços espessos ao cutelo. Este último vão encontra um homólogo à direita do quinto vão de armário industrial. Os três vãos de porta encontram-se emparedados, acção decorrente na presente empreitada, não sendo por isso possível determinar a suas características construtivas, assim como a sua profundidade.

187 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Vão de Armário Industrial altura

1,10 m

largura

1,10 m

profundidade

0,28 m

Foto 193 – Vista geral de um tramo da parede Oeste do compartimento 21, de frente para os compartimentos 3 e 4. Perspectiva Este. Destaque para os armários industriais (setas amarelas), o vão de porta industrial mais estreito (seta azul) e o vão de porta industrial mais estreito (seta verde).

Imediatamente à direita do oitavo e último daqueles vãos de armários industriais, de frente para o compartimento 7, encontra-se um vão de porta conventual que, à semelhança do vão analisado na parede Oeste do compartimento 1, deverá ter sido projectado em articulação com o claustro principal nunca construído. Recordamos que estes dois vãos encontram vãos homólogos, alguns já bastante alterados, nos pisos 0 e 1, com os quais se encontram alinhados. Trata-se de um vão de ombreiras e lintel de moldura em cantaria calcária, exógena para o alçado exterior e interior, encimado por um arco de descarga abatido em tijolo ao cutelo. Era de duas folhas.

188 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

profundidade

altura

2,54 m

largura

1,50 m

exterior

0,22 m

interior

0,56 m

Foto 194 – Vista geral sobre o vão conventual da parede Oeste do compartimento 21, de frente para o compartimento 7. Perspectiva Este.

De frente para o compartimento 9 encontra-se um estreito vão de passagem industrial e à sua direita um vão de porta industrial. Ambos estes vãos correspondem aos detectados na parede Este do compartimento 7 da ala Sul do presente piso, que é na realidade a mesma parede que ora descrevemos. Estes vãos serão descritos aquando da análise daquele compartimento. De referir que o primeiro destes vãos possui neste alçado, anexado à sua esquerda um nicho de cronologia industrial de formato quadrangular, onde poderá ter-se instalado uma pia, servida de água por um cano instalado na sua parede superior. O segundo destes vãos encontra-se neste alçado ladeado por dois armários embutidos de cronologia industrial, semelhantes em dimensão e tipologia aos vãos de armários constatados nesta parede e descritos anteriormente.

189 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Vão de Lavabo Industrial altura largura

2,15 m 1m

profundidade

0,60 m

altura da pia

0,90 m

Foto 195 – Vista geral sobre os vãos do tramo da parede Oeste do compartimento 21, de frente para os compartimentos 9 e 10. Perspectiva Este. Destaque para o vão de lavabo industrial (seta azul), para os vãos de passagem industriais (setas verdes) e para os vãos de armário industriais (setas amarelas).

Na mesma parede Oeste do compartimento 21, de frente para o trânsito central, ou compartimento 11, localiza-se um vão de porta conventual de acesso ao canto Sudeste do claustro. Trata-se de um vão de lintel e ombreiras em cantaria calcária de moldura exógena em ambos os alçados. Era de duas folhas. Ao analisar cuidadosamente este vão, constata-se que o aparelho em que se insere se encontra limitado no topo por um arco de descarga em tijolo ao cutelo e lateralmente por silhares alinhados com os extremos desse arco. Uma observação mais atenta permite averiguar tratarem-se tais limites de arco conventual anterior àquela porta.

190 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 196 – Vista geral sobre os vãos do tramo da parede Oeste do compartimento 21, de frente para o compartimento 11. Perspectiva Este. Destaque para o vão de porta conventual (seta azul), assim como para o vão de arco no interior do qual foi erguido (tracejado amarelo). Destaque ainda para o vão industrial de WC (seta verde) e para o vão de armário industrial à sua esquerda (seta vermelha). Vão de Porta Conventual

profundidade

Vão de Arco Conventual

altura

2,35 m

altura máxima aproximada

3,26 m

largura

1,30 m

largura aproximada

2,06 m

exterior

0,22 m

profundidade aproximada

1,08 m

interior

0,86 m

Vão de WC Industrial (Cada)

Vão de Armário Industrial

altura

1,98 m

altura

0,55 m

largura

1,08 m

largura

0,55 m

profundidade

0,40 m

profundidade

1m

À direita do vão de porta conventual encontramos um pequeno vão de armário embutido, construído através do desmonte do aparelho, À direita deste armário encontramos um conjunto de dois vãos industriais, construídos também eles através do desmonte do aparelho na totalidade da largura da parede. Os seus fundos e ombreiras direitas foram posteriormente rematados com paredes de tijolos alveolares e o topo de ambas por uma placa em betão. A separar estes dois vãos estaria uma parede em tijolo alveolar, já desmontada visível apenas em negativo. Em negativo são 191 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

também visíveis os orifícios de aplicação de dois aparatos sanitários, denunciando a funcionalidade deste vão enquanto WC. À direita destes WC’s, junto ao topo da parede conventual, detectámos um vão largo mas de altura reduzida emparedado com recurso a tijolos alveolares. Deduzimos tratar-se de um orifício com funções fabris obtido na época industrial através do recurso ao desmonte do aparelho conventual, emparedado ainda durante a época de ocupação industrial deste edifício. De frente para o compartimento 15 encontra-se um vão de porta de cronologia industrial, obtido através do desmonte do aparelho conventual e que deverá ter tido, à semelhança do que se verifica no seu topo, as ombreiras rebocadas e pintadas. Na base do vão encontra-se, servindo de soleira, uma peça em cantaria em claro contexto de reaproveitamento. À direita deste vão encontra-se um nicho abobadado de cronologia industrial, obtido através do desmonte do aparelho. No seu interior foi mantido um patamar, ao centro do qual se abre um tubo de queda em grés. Presumimos, pelo negativo deixado em redor do tubo que se tratasse de uma pia de lavatório.

Vão de Porta Industrial altura

2,10 m

largura

1,28 m

profundidade

0,78 m

Vão de Lavabo Industrial altura máxima

1,90 m

largura

0,90 m

profundidade

0,45 m

altura da pia

0,90 m

Foto 197 – Vista geral sobre o tramo da parede Oeste do compartimento 21, de frente para o compartimento 15. Perspectiva Este. Em destaque: vão de porta industrial (seta amarela) e vão de lavabo industrial (seta azul).

Ainda de frente para o compartimento 16, mas também de frente para o compartimento 19, detectámos a presença de dois vãos de armário embutidos de formato quadrangular e cronologia industrial, em tudo semelhantes aos vãos de armário, já descritos, detectados à esquerda da parede Oeste do presente 192 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

compartimento, o último dos quais emparedado com recurso a tijolos alveolares, presumivelmente ainda na época de ocupação do espaço. Ainda de frente para o compartimento 19, à direita do vão de armário emparedado, encontra-se um alinhamento entre paramentos, que corresponde ao prolongamento neste piso do alinhamento detectado na parede Este do compartimento 1 da ala Norte do piso 1. Como tínhamos feito referência aquando da análise daquele compartimento, este alinhamento testemunha dois momentos construtivos distintos, um momento em que se constroem parcialmente os três pisos da ala Este, seguido do momento em que se acrescenta a ala Norte deste edifício.

Foto 198 – Pormenor do alinhamento entre paramentos (assinalado por setas amarelas). Perspectiva Este. À esquerda paramento primitivo da ala Este. À direita paramento posterior da ala Norte.

À direita deste alinhamento, de frente para os compartimentos 19 e 20, encontramos um vão de arco de cronologia conventual, semelhante ao detectado na mesma parede do piso 1, com o qual aliás se encontra alinhado. Trata-se de um arco de volta perfeita adintelado, construído com tijolos ao cutelo e uma grande quantidade de silhares em contexto de reaproveitamento, de ombreiras em cantaria de moldura exógena nos alçados interior e exterior. No alçado exterior, já no compartimento 1 da ala Norte do presente piso, a ombreira direita deste arco foi amplamente amputada por um chanfro, tal como trataremos aquando da análise desta sala. Não apresenta soleira. Este arco foi na época industrial parcialmente fechado por tijolos alveolares, passando dessa forma a albergar um vão de porta. 193 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

A inacessibilidade do local não nos permitiu recolher medidas desta porta. As medidas do arco que apresentamos, são pelo mesmo motivo, as medidas do arco do piso 1 com o qual este se encontra alinhado, uma vez que partilham as mesmas características e, aparentemente, as mesmas dimensões.

Foto 198 – Vista geral sobre o vão de arco conventual parcialmente emparedado à época industrial, detectado no extremo direito da parede Oeste do compartimento 21, de frente para os compartimentos 19 e 20. Perspectiva Oeste.

A parede Norte do compartimento 21 apresenta um vão de janela no seu extremo esquerdo. Trata-se de uma janela conventual de lintel e ombreiras em cantaria calcária, moldura exógena nos alçados interior e exterior. Não apresenta soleira, nem arco de descarga. Apresenta ainda completas ambas as namoradeiras anexas à parte inferior das suas ombreiras. À direita deste vão de janela encontra-se um vão de armário embutido, de cronologia industrial, de formato rectangular horizontal, construído com recurso ao desmonte do aparelho conventual. Partilha características construtivas com os armários detectados no tramo mais à esquerda da parede Oeste do compartimento 21. Entre este armário e o vão de janela anterior é visível um negativo de parede que corresponde ao desmonte da parede Oeste do compartimento 20, ou corpo das escadas que a Norte ligava os distintos pisos de dormitórios.

194 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Vão de Janela Conventual

profundidade

altura

3,55 m

largura

1,90 m

interior

0,80 m

exterior

0,22 m

Vão de Armário Industrial altura

1,10 m

largura

1,10 m

profundidade

0,28 m

Foto 199 – Vista geral sobre a parede Norte do compartimento 21, bem como da parede Norte do compartimento 20. Perspectiva Sul. Destaque para o negativo da parede que separava estes dois compartimentos (setas amarelas).

3.2.3.2. Piso 2 – Ala Norte

• Compartimento 1

O presente com partimento na realidade já não existe, uma vez que a parede que o separava do compartimento 2 foi desmontada, muito provavelmente aquando da ocupação industrial deste edifício. Contudo, a existência deste compartimento é testemunhada pelo negativo deixado pelo desmonte da sua parede Oeste que se verifica actualmente no extremo direito da parede Norte do compartimento 2. Este negativo é igualmente visível na parede Norte dos compartimentos imediatamente abaixo destes dois, os compartimentos 1 e 2 da ala Norte do piso 1. 195 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Quanto ao compartimento 1 propriamente dito, não existem referências bibliográficas, para além da localização das ‘Oficinas’ atribuída a este espaço por Sandra Lopes que, contudo, não reconhece a existência daquela parede, não diferenciando portanto o compartimento 1 do compartimento 2 (LOPES, 1998: 95).

Foto 199 – Vista geral sobre a parede Norte do compartimento 1 visto desde o piso 1, dada a ausência de piso neste compartimento. Perspectiva Sul. Destaque para o negativo da parede Oeste do compartimento.

Na parede Norte deste compartimento encontra-se um vão de janela conventual. Trata-se de um vão rectangular vertical, de lintel, ombreiras e peitoril em cantaria calcária, moldura exógena apenas no alçado exterior, excepto o lintel de moldura exógena também no alçado interior. Possui arco de descarga em ‘V’ invertido. Ao nível do alçado interior, as ombreiras desciam até ao piso de circulação na época conventual, como se pode verificar pela sua soleira que ainda subsiste. Seriam neste alçado constituídas apenas pelo alinhamento do aparelho. Ladeando esta janela encontram-se dois compartimentos embutidos de cronologia industrial, obtidos por desmonte do aparelho conventual. Tratam-se de dois vãos homólogos, rectangulares verticais e forrados no seu interior a azulejo de cor clara até à altura de 2/3 do vão. Eram dois WC’s.

196 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Vão de Janela Conventual

profundidade

altura

1,40 m

largura

1,15 m

interior

0,30 m

exterior

0,22 m

Foto 200 – Vista geral sobre a parede Norte do compartimento 1. Perspectiva Sul.

Na parede Este do compartimento 1 abre-se um grande vão de arco de acesso ao compartimento 21 da ala Este do presente piso. Este arco foi já descrito na análise da parede Oeste daquele compartimento. À esquerda deste vão verifica-se um chanfro no aparelho conventual que terá sido obtido durante a época industrial obtendo como tal espaço necessário para algum aparato fabril. Este chanfro desenvolve-se desde o canto Nordeste do compartimento até à ombreira esquerda daquele arco, amputando parte substancial da sua moldura. À direita do vão de arco verifica-se o alinhamento entre paramentos visível igualmente na parede Oeste do compartimento 21 da ala Este do presente piso.

Foto 201 – Vista geral sobre a parede Este do compartimento 1. Perspectiva Oeste. Destaque para o chanfro industrial (tracejado azul), bem como para o alinhamento entre paramentos (tracejado amarelo).

197 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Ao centro do alçado da parede Sul deste compartimento abre-se um vão de arco de acesso ao canto Nordeste do claustro. Trata-se de um arco de volta perfeita adintelado, construído com recurso a tijolos ao cutelo e alguns silhares em contexto de reaproveitamento. As suas ombreiras exibem arestas em cantaria calcária, moldura exógena nos alçados interior e exterior, e corpo em paramento que, supomos, deveria estar rebocado e pintado de branco. Notam-se vestígios da soleira, bastante danificada.

altura máxima

2,60 m

largura

1,75 m

profundidade

0,95 m

Foto 202 – Vista geral sobre a parede Sul do compartimento 1, assim como da do compartimento imediatamente abaixo deste, dada a ausência de piso. Perspectiva Noroeste.

Como já referido, este compartimento encontra-se desprovido de piso. No início da presente empreitada subsistiam aí algumas peças do travejamento que o sustentaria, removidas mediante o devido acompanhamento arqueológico.

• Compartimento 2 Para o presente compartimento divergem as fontes bibliográficas quanto à funcionalidade do espaço. Pedro dos Santos avança com a localização de ‘aulas’ (SANTOS, 1997: em anexos), ao passo que Sandra Lopes localiza aí, como já referido, ‘oficinas’ (LOPES, 1998: 95). O espaço, desprovido de qualquer vestígio conventual, à excepção das suas paredes Norte e Sul,

198 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

não forneceu pistas suficientes para corroborar ou desmentir a opinião destes autores. A parede Este deste compartimento, que corresponderia à parede Oeste do compartimento anterior, foi como já referido, desmontada à época industrial. Igual destino sofreu a sua parede Oeste da qual subsistem os negativos, localizados nos pontos onde encontrava as paredes Norte e Sul deste compartimento, assim como o seu arranque ainda visível junto ao actual piso de circulação. Não obstante, estes escassos vestígios não são suficientes para deduzir o comportamento destas duas paredes. Especulamos terem estado fornecidas de algum tipo de passagem de acesso aos compartimentos com que confina o compartimento 2. Na parede Sul do deste compartimento, à direita do arco constante da parede Sul do compartimento anterior, começando no exacto local onde antes se deveria encontrar o negativo da desmontada parede Este, e até à extremidade Oeste do compartimento, abrem-se cinco vãos de armário embutidos, de cronologia industrial e dois vãos de janela de cronologia conventual.

Vão de Janela Conventual

profundidade

altura

1,50 m

largura

0,75 m

interior

0,58 m

exterior

0,22 m

Vão de Armário Industrial altura

1,10 m

largura

1,10 m

profundidade

0,28 m

Foto 203 – Vista geral sobre o tramo mais à esquerda da parede Sul do compartimento 2. Perspectiva Norte. Destaque para os armários industriais (setas amarelas), assim como para o vão de janela conventual (seta azul). Destaque ainda para o que subsiste do negativo da parede Este deste compartimento (seta vermelha).

Os vãos de armário são de formato quadrangular e foram construídos com recurso ao desmonte do aparelho. Encontram-se pontualmente rematados (no topo, base, ombreiras e fundo) com tijolos alveolares. À direita do terceiro, assim como à direita do quarto destes vãos de armário, localizamse dois vãos de janela conventuais. São vãos de formato rectangular vertical, com cantaria apenas ao nível do lintel e da parte superior das ombreiras, e apenas na parte 199 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

exterior, ou seja emoldurando o vão apenas no alçado exterior. No interior do vão, as ombreiras são meramente constituídas pelo paramento construído com recurso a argamassa de argila e tijolos maciços finos. Este tipo de paramento aparece aliás envolvendo todo o conjunto superior dos vãos, distinguindo-se largamente do restante paramento em argamassa de cal e aparelho de pedra. Por este motivo, estamos convictos de que as duas janelas foram projectadas depois da construção da parede, embora ainda na fase de ocupação conventual deste edifício. Já na fase de ocupação industrial, os peitoris destes vãos foram amputados e o aparelho que os suportava desmontado, aumentando deste modo a altura dos vãos. Por este motivo o nível inferior das ombreiras é constituído por um paramento pobremente rematado, que terá sido rebocado a argamassa de cimento pintada de branco, tal como ainda se pode constatar no alçado exterior.

Foto 204 e 205 – Vista geral sobre um dos vãos de origem conventual da parede Sul do compartimento 2. Perspectivas Norte e Sul, respectivamente. Destaque para o vão conventual (chaveta azul), bem como para o vão industrial (chaveta vermelha). Vão de Janela Conventual

profundidade

Vão de Janela Industrial

altura

0,40 m

altura

1,50 m

largura

0,60 m

largura

0,75 m

interior

0,58 m

interior

0,58 m

exterior

0,22 m

exterior

0,22 m

profundidade

Na parede Norte deste compartimento encontram-se dispostos equidistantemente dois vãos de janela conventuais. Tratam-se de vãos rectangulares verticais de lintel, 200 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

ombreiras e peitoril de cantaria calcária, moldura exógena apenas no alçado exterior, excepto o lintel cuja moldura é exógena também no alçado interior. Ao nível do alçado interior, as ombreiras, que desciam até ao piso de circulação na época conventual seriam definidas apenas pelo alinhamento do aparelho e foram, na época industrial, parcialmente amputadas e chanfradas. Possuem arco de descarga a encimá-las, em ‘V’ invertido.

profundidade

altura

1,40 m

largura

1,15 m

interior

0,30 m

exterior

0,22 m

Foto 206 – Vista geral sobre um dos vãos conventuais da parede Norte do compartimento 2. Perspectiva Sul.

À esquerda, mais a poente, surge no alçado da parede Norte deste compartimento um negativo de parede que, tal como exposto na análise da oficina do piso 1, deveria segmentar este compartimento no sentido N/S. Este compartimento não se encontra coberto e o piso foi recentemente betonado. Quanto à parede que limitava este compartimento a Oeste, foi totalmente desmontada, tal como já havíamos feito referência. São ainda, porém, visíveis alguns negativos deixados pelo seu desmonte nas paredes Norte e Sul deste espaço. Nas faces destes negativos voltadas a Oeste, é possível constatar que o alinhamento entre dois paramentos. A passo que os negativos testemunham uma acção de desmonte ocorrida em época industrial, os alinhamentos testemunham uma fase conventual de construção primitiva, 201 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

à qual se seguiu a construção da restante ala Norte (compartimento 3 da ala Norte do piso 2 e compartimento 4 da ala Norte do piso 1). O negativo que é visível na parede Sul do compartimento 2 corresponde efectivamente a um cunhal que se observa melhor no alçado exterior. Não fosse o facto do alçado exterior da parede Norte se encontrar já rebocado, ali detectaríamos com certeza um cunhal homólogo. A seu tempo relacionaremos estes cunhais com os cunhais observados na ala Sul do edifício (ver alçado Sul) e dissertaremos sobre as diferentes fases construtivas do edifício. De referir que o pequeno murete que se observa no lugar onde antes ocorria a já desmontada a parede Oeste do compartimento 2, é na realidade uma construção efectuada no âmbito da presente empreitada como forma de auxilio à betonagem do piso deste espaço.

Dissertações sobre a existência de um trânsito central na ala Norte

Uma vez que em toda a ala Norte do piso 2, não são visíveis quaisquer paredes que segmentem o espaço, só nos podemos guiar pelos negativos de paramentos observados nas paredes exteriores, a fim de imaginar a compartimentação desta ala. Ora em todo o piso só se observam os dois negativos já referidos, sendo que o último corresponderia à parede que limitaria a Este um eventual trânsito central da ala Norte. A existir, este trânsito desenvolver-se-ia imediatamente acima do trânsito 3 da ala Norte do piso 1, ao qual se tem acesso pela ‘porta do carro’, opondo-se perfeitamente ao trânsito que se verifica na ala Sul. Não foram contudo identificados vestígios ou negativos de qualquer parede que o limitasse a Oes te. Terá este trânsito existido? Pedro dos Santos inclui este compartimento nas plantas onde encena a reconstituição do edifício à época conventual (SANTOS, 1997: em anexo). Já Sandra Lopes, nas plantas em que reconstitui o desenho conventual do edifício, não apresenta nenhum trânsito nesta ala, fazendo confinar os compartimentos 2 e 3. Como já referido existe um trânsito oposto a este espaço na ala Sul. Não obstante estava previsto um claustro principal que nunca foi erguido, mas que anexaria precisamente à ala Sul deste edifício. Faria pois sentido projectar um trânsito naquela ala, pois assim se estabelecia ligação entre os dois claustros. 202 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Neste espaço contudo, não haveria qualquer edifício anexo a Norte pelo que um trânsito aqui projectado, não teria qualquer funcionalidade, ao contrário do trânsito que está abaixo deste espaço, onde se abre a ‘porta do carro’ e que, portanto era um corredor de grande importância pelo acesso que dava ao exterior do edifício. Na parede Norte, alinhada com a ‘porta do carro’ mas no piso 2 encontra-se um vão de janela conventual que poderia iluminar este trânsito. Cerca de 2,5 m à sua esquerda existe uma janela de características construtivas iguais. Ambas são completamente distintas de todas as janelas que se encontram naquela parede. Tratam-se de vãos de janela rectangulares verticais, com lintel, ombreiras e avental em cantaria de pedra calcária, de moldura exógena nos alçados exterior e interior. As ombreiras são, no interior, prolongadas até ao piso de circulação onde se dispõem soleiras também em cantaria. As ombreiras das duas janelas exibem sinais de amputação de ‘namoradeiras’. São encimadas por arcos de descarga abatidos em tijolos ao cutelo.

profundidade

altura

1,95 m

largura

1,15 m

interior

0,70 m

exterior

0,22 m

Foto 207 – Vista geral sobre o vão de janela conventual à esquerda do alinhamento da parede Oeste do compartimento 2. Perspectiva Sul.

Poder-se-ia dizer que as duas foram projectadas como um par e, portanto, executadas para o mesmo compartimento. Nesse caso a parede que limitaria a Oeste o trânsito, caso existisse, só poderia ocorrer entre as duas janelas. 203 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Infelizmente, o tramo de paramento que separa as duas janelas não pode ser convenientemente inspeccionado, pois ali encosta uma estrutura provisória de madeira e plástico, impedindo completamente o seu visionamento. Infelizmente também, no local onde tal parede poderia confrontar com a parede Sul deste compartimento, abre-se actualmente um vão de arco industrial, resultante do desmonte do aparelho, encontrando-se a sua ombreira direita para além do local onde algum negativo da parede Oeste do hipotético trânsito pudesse eventualmente encontrar-se, pelo que é virtualmente impossível constatar a sua presença. Encontra-se este arco aberto na parede Sul do eventual trânsito, através do desmonte do aparelho, sem qualquer tipo de acabamento e com um topo em arco abatido de tijolos maciços espessos ao cutelo. No interior do arco observa-se uma estrutura de madeira que aplana o topo do vão pelo lado exterior. Através desta estrutura especulamos que o vão tenha, à época industrial contido alguma porta em madeira. É possível que neste mesmo local se abrisse um vão de passagem conventual, embora não seja possível constatar a sua existência (ou configuração) dada a largura do vão industrial. Visto isto, podemos apenas especular quanto à existência, ou não, de um trânsito central na ala Norte do piso 2. A existir, sobrepor-se-ia ao trânsito da ‘porta do carro’. A não existir, como especulamos, o compartimento 2 confinaria directamente com o compartimento 3 da ala Norte do piso 2, sem que saibamos se entre eles haveria ou não algum acesso, dada a ausência da parede que os separava.

• Compartimento 3

Não existindo o trânsito central da ala Norte deste piso, como especulamos, o primeiro vão a abrir no extremo direito da parede Norte do compartimento 3 será o vão descrito anteriormente, o mesmo que se encontra alinhado com a ‘porta do carro’ do piso 1. À esquerda desse vão apresenta-se novo vão de janela conventual, semelhante ao anterior em dimensão e tipologia. À direita deste constatámos a presença de um vão de armário embutido, de origem 204 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

conventual. Trata-se de um vão de armário rectangular vertical de moldura em cantaria de calcário exógena no alçado interior, com uma prateleira ao centro, igualmente em cantaria de calcário, e presentemente sem acabamentos na parede do fundo que poderia, contudo, ser rebocada e pintada. Encontra-se encimado por arco de descarga em ‘V’ invertido. As molduras apresentam uma reentrância na qual se distribuem uniformemente orifícios. Estes poderão ter sido responsáveis pela sustentação de portas em madeira, embora desconheçamos se são originais ou industriais.

Vão de Janela Conventual

profundidade

altura

1,95 m

largura

1,15 m

interior

0,70 m

exterior

0,22 m

Vão de Armário Conventual altura

1,60 m

largura

0,85 m

profundidade

0,40 m

espessura da prateleira

0,13 m

Foto 208 – Vista geral sobre o vão de janela conventual na parede Norte do compartimento 3, à esquerda do vão alinhado com a ‘porta do carro’. Perspectiva Sul.

À esquerda deste vão encontra-se um arco abatido em tijolos maciços finos ao cutelo de

cronologia

conventual.

Encontra-se

actualmente

emparedado.

Apresenta

dimensões demasiado grandes para que tenha encimado uma janela, embora não se encontre a uma altura do piso de circulação suficiente para que tenha encimado um vão de passagem, que, abrindo no piso 2 para o exterior Norte, só faria sentido com umas escadas de que não há conhecimento. Apesar de aparentar ter funcionado como arco de descarga, apresenta vestígios de ter tido a sua face interna rebocada, pelo que deverá efectivamente ter funcionado como cobertura a um qualquer tipo de abertura da parede Norte. Deverá pois ter funcionado como janela, numa fase de ocupação conventual mais remota, seguramente anterior à abertura do vão de janela à esquerda do qual se localiza e com certeza anterior a um vão de janela que se localiza à sua esquerda (que descreveremos de seguida), uma vez que a abertura deste último motivou a amputação parcial do lado esquerdo deste arco. 205 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

É pois possível que o arco tenha sido emparedado ainda na época conventual. Não obstante, existe no emparedamento conventual, de pedra e argamassa de cal, uma secção rectangular vertical preenchida com tijolos alveolares, tijolos maciços e argamassa de cimento, um obra claramente industrial. Um orifício nesta parte do emparedamento permitiu avaliar a profundidade do vão emparedado, tendo-se constatado que é praticamente a totalidade do vão da parede.

Foto 209 – Vista geral sobre o vão de janela conventual ao centro da parede Norte do compartimento 3. À sua esquerda: vão industrial parcialmente emparedado. À sua direita: arco conventual, sob o qual se localiza um vão industrial emparedado. Perspectiva Sul. Vão de Janela Industrial – À Esquerda

profundidade

Vão de Janela Conventual – Ao Centro

altura

2,20 m

altura

1,45 m

largura

1,10 m

largura

1,35 m

interior

0,95 m

interior

0,83 m

exterior

?

exterior

0,22 m

Vão de Arco Conventual – À Direita

profundidade

Vão Industrial no Interior de Arco Conventual

altura

2,20 m

altura

2,20 m

largura

1,80 m

largura

1,80 m

profundidade

?

profundidade

?

Como já dito, à esquerda do arco conventual emparedado encontra-se um vão de janela conventual que lhe amputou parte da sua extremidade esquerda e que deverá, portanto, ser de cronologia posterior.

206 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Aparentemente, terá sido construído com o recurso ao desmonte do aparelho, uma vez que as ombreiras do alçado interior se encontram rematadas com tijolos e argamassa de argila, materiais bem distintos do restante aparelho de parede, em pedra e argamassa de cal. No alçado exterior, as ombreiras, o lintel e o peitoril são em cantaria de pedra calcária, de moldura exógena no exterior. A julgar pelas peças de cantaria destas ombreiras que se prolongam até ao piso de circulação, pela forma como se encontram amputadas sob o peitoril e pelo material claramente recente, tanto da pedra do peitoril como do emparedamento que o sustenta, estamos perante uma janela que já terá sido de avental. É possível que este vão tenha sido amputado, durante a fase industrial, ampliando dessa forma o tamanho do vão. Apesar das ombreiras se prolongarem até ao piso de circulação, não se detectaram vestígios de soleira. Encontra-se encimado por um arco de descarga abatido em tijolo ao cutelo. Sob este arco, o aparelho terá sido parcialmente desmontado na época industrial, criando assim um afunilamento que abre para o interior que não terá ocorrido à época conventual. À esquerda deste vão, encontra-se um vão de janela de cronologia industrial, obtido por desmonte do aparelho da parede, rematado nas ombreiras por tijolos alveolares e no topo por tijolos maciços espessos e argamassa de cal. O vão foi totalmente emparedado ainda na época industrial, com recurso a tijolos alveolares e argamassa de cimento, embora este emparedamento tenha sido parcialmente desmontado por motivos que desconhecemos, até metade da altura do vão. Ainda na parede Norte deste compartimento, no seu extremo esquerdo, localiza-se um vão de janela conventual, muito semelhante ao vão conventual anterior. À semelhança daquele, também este vão foi obtido por desmonte do aparelho, tendo ambas as ombreiras sido rematadas por tijolos maciços finos e argamassa de argila. Tal como o vão anterior, também este vão desenvolve as suas ombreiras até ao piso de circulação, onde não se detectam vestígios de soleira. No topo deste vão, constata-se um arco de descarga abatido em tijolos ao cutelo, em cuja face interna se verifica o aplainamento do aparelho através de argamassa de argila e fragmentos de cerâmica de construção, não se verificando por este motivo, ao contrário do vão conventual anterior, nenhum afunilamento. Quanto à cantaria que emolduram o vão, é claramente recente, assim como o é o emparedamento que sustenta o peitoril. O vão é seguramente conventual, embora a janela propriamente dita seja uma reconstrução recentemente realizada.

207 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Vão de Janela Conventual – À Esquerda

profundidade

altura

1,85 m

largura

1,15 m

interior

0,90 m

exterior

0,22 m

Foto 210 – Vista geral sobre a parede Norte do compartimento 3, à esquerda do qual se localiza o vão conventual descrito anteriormente. Perspectiva Sudoeste.

Na parede Sul do compartimento 3 abre-se, à esquerda do alçado, um vão de passagem conventual, emparedado ainda na época conventual com pedras e argamassa de cal e de argila. Deste vão subsiste apenas um arco de descarga abatido em tijolo maciço fino ao cutelo, assim como o alinhamento das suas ombreiras. De forma anexa ao interior do arco deste vão foi, à época industrial, desmontada uma área rectangular horizontal, cujas faces internas foram rebocadas, proporcionando deste modo um vão de janela. Foi de novo emparedado, ainda à época industrial com recurso a tijolos alveolares e argamassa de cimento. À direita deste vão de janela industrial, localiza-se um vão de armário embutido na parede de origem conventual, que confronta directamente com um tipologicamente igual, descrito aquando da análise da parede Sul deste compartimento. Trata-se de um vão de armário rectangular vertical de moldura em cantaria de calcário exógena no alçado interior, com uma prateleira ao centro, igualmente em cantaria de calcário,

e

presentemente

sem

acabamentos

na

parede

do

fundo

que,

presumivelmente deverá ter sido rebocada e pintada. Encontra-se encimado por arco de descarga em ‘V’ invertido. As suas molduras apresentam uma reentrância na qual se distribuem uniformemente orifícios. Estes poderão ter sido responsáveis pela sustentação de portas em madeira, embora desconheçamos se são originais ou industriais.

208 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 211 – Vista geral sobre a parede Sul do compartimento 3, à esquerda do qual se localiza o vão conventual (tracejado azul) albergando vão de janela industrial (tracejado amarelo), ladeado por vão de armário conventual à esquerda (seta azul) e por vão de armário industrial à direita (seta amarela). Perspectiva Nordeste.

Vão de Passagem Conventual

Vão de Janela Industrial

altura

3,10 m

altura

0,70 m

largura

1,95 m

largura

1,05 m

profundidade aproximada

0,85 m

profundidade aproximada

0,85 m

Vão de Armário Conventual

Vão de Armário Industrial

altura

1,60 m

altura

1,10 m

largura

0,85 m

largura

1,10 m

profundidade

0,40 m

profundidade

0,28 m

espessura da prateleira

0,13 m

À direita do vão de passagem conventual localiza-se um vão de armário embutido na parede, desta feita de cronologia industrial. Trata-se de um vão obtido através do recurso ao desmonte do aparelho, de formato quadrangular, rematado no topo por tijolos alveolares e sem acabamentos ao nível das ombreiras, base ou fundo. Ainda na parede Sul, há a referir um vão de arco de cronologia conventual localizado no extremo direito desta parede. Trata-se de um arco em volta perfeita, construído com recurso a tijolos ao cutelo e silhares em claro contexto de reaproveitamento, rebocado e caiado na face interna, como mostram ainda alguns vestígios. As 209 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

ombreiras e os lintéis, seguramente amputados durante a fase de ocupação industrial do edifício, seriam em cantaria de pedra, a julgar pelos negativos deixados no aparelho. A soleira em cantaria subsiste, parcialmente destruída.

Vão de Arco Conventual altura máxima

2,60 m

largura

1,65 m

profundidade

0,85 m

Foto 212 – Vista geral sobre o vão de arco conventual à direita da parede Sul do compartimento 3. Perspectiva Sul.

Na parede Oeste deste compartimento não há elementos arquitectónicos de relevo a registar, à excepção de dois vãos de armário industriais centrados no alçado, de formato quadrangular, obtidos através do desmonte do aparelho e sem acabamentos de qualquer espécie. Apresentam, em negativo, os vestígios de uma prateleira em madeira, a 3/4 da altura do vão.

Vão de Armário Industrial altura

1,10 m

largura

1,10 m

profundidade

0,28 m

Foto 213 – Vista geral sobre a parede Oeste do compartimento 3. Perspectiva Sul.

210 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

3.2.3.3. Piso 2 – Ala Oeste

• Compartimento 1

Para o presente compartimento não existem referências bibliográficas. Trata-se de um estreito compartimento que anexa a Norte ao compartimento 2 da presente ala e a Sul ao compartimento da ‘cozinha’, que sendo de duplo pédireito se desenvolve desde o piso 1 até ao piso 2. Já nos tínhamos antes referido ao trânsito que unia o claustro à ‘cozinha’ e à ‘rouparia’ (compartimento 4 dada ala Oeste do piso 1) e que se localiza imediatamente abaixo deste trânsito. Tínhamos então estranhado o facto de esse trânsito se desenvolver a partir de outro trânsito transversal e não directamente a partir do próprio claustro, obrigando a um trânsito pouco ou nada prático para quem quisesse aceder àquelas divisões. Ao analisar o compartimento 1, que se lhe sobrepõe, como ora fazemos, essa estranheza aumenta, uma vez que aparentemente não conduzia a nenhum sítio à época conventual.

Foto 214 – Vista geral sobre o compartimento 1. Perspectiva Oeste.

211 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

A este compartimento acedia-se por umas escadas anexas a Oeste do trânsito inferior e que já se encontravam totalmente desmontadas à altura do início da presente empreitada. A existência das escadas contudo é inegável uma vez que eram o único acesso possível tanto ao vão de porta conventual de acesso ao compartimento 2, como ao vão de porta industrial de acesso ao piso superior de cozinha (igualmente industrial e já desmontado – ver capítulo dedicado àquele compartimento). De igual modo, também na parede que a Oeste limitava as escadas se podiam observar duas ombreiras de um vão de janela que abria no patamar intermédio das escadas e que por isso se encontravam descentradas face ao alçado. A ombreira direita encontravase relativamente completa, ao passo que a esquerda tinha sido profundamente amputada pela abertura de um amplo vão de janela industrial.

Foto 215 – Vista geral sobre a parede Oeste do corpo de escadas de acesso ao compartimento 1, antes da intervenção ali decorrida no âmbito da presente empreitada. Perspectiva Oeste. Destaque para os vestígios da ombreira esquerda de um vão de janela conventual.

Este alçado, que tinha sofrido grandes alterações na época industrial, encontra-se presentemente em profunda remodelação, apresentando já dois vãos totalmente recentes que anulam a ombreira direita daquela janela, permanecendo contudo a esquerda (visível no alçado exterior do edifício). Comprovada a existência das escadas, resta dizer que davam ainda acesso ao presente compartimento, que, curiosamente, como já referido, não tem qualquer saída, ou sequer um vão de janela. De facto, tanto as suas paredes Norte e Sul, como a sua parede Este, se encontram totalmente desprovidas de vãos ou de qualquer sinal de alguma vez terem sido 212 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

servidas para um. De igual modo, a extremidade Oeste do compartimento, que actualmente desemboca no fosso deixado pelo desmonte das escadas, deveria ser constituída por uma parede da qual subsistem vestígios em negativo na abóbada de cobertura e nas paredes laterais deste espaço. Para mais, ao avaliar a extremidade Oeste do piso deste trânsito, constata-se a presença de um silhar em forma de ‘L’ que poderá constituir o arranque da soleira e da ombreira direita de uma porta. A ser verdade, a porta anexar-se-ia à esquerda da porta de acesso ao compartimento 2 e o presente compartimento constituiria, na realidade, um compartimento anexo à hospedaria e não um trânsito de acesso a outros locais.

Foto 216 – Pormenor do extremo Oeste do piso do compartimento 1, conforme foi possível fotografá-lo. Perspectiva Sul. Destaque para a eventual soleira e arranque de ombreira (tracejado azul) e ainda para os orifícios de aplicação de gradeamento industrial (setas vermelhas).

Sendo o compartimento 2 um espaço de inegável beleza e nobreza que como veremos poderá ter alojado a ‘hospedaria’, terá o presente compartimento servido para acomodar os pertences dos hospedes ou os criados dos hóspedes mais abastados? Podemos sempre especular quanto à função deste espaço. No entanto, é facilmente constatável através de uma leitura da planta deste piso que, a funcionar como trânsito (num momento em que a hipotética ausência da sua parede Este tal permitisse) conduziria directamente ao compartimento 1 da ala Sul do piso 2 e daí para o claustro. Mais uma vez, tal como acontece com o compartimento que lhe é inferior, 213 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

este obrigaria a uma deslocação indirecta e pouco prática. Se o compartimento inferior justifica tal necessidade de circulação por ser o único acesso à ‘cozinha’ e à ‘rouparia’, isso já não se verifica no presente compartimento, cuja disposição não lhe permite estabelecer acesso a outros compartimentos, para além do já referido compartimento 1 da ala Sul do piso 2. Por esse motivo se justifica que tenham fechado a Este o presente espaço ainda em época conventual, criando um compartimento. Esta estranheza na organização dos trânsitos, entre outros aspectos que exploraremos

atempadamente,

leva-nos

a

deduzir

que

os

compartimentos

sobrepostos da ‘rouparia’ e ‘hospedaria’ poderão, na realidade pertencer a um edifício preexistente, anexado pelos franciscanos ao restante complexo conventual, obrigando para tal a uma disposição de trânsitos algo invulgar. De referir que o piso deste compartimento se encontra em bom estado de preservação, sendo pontualmente restaurado com telhas ‘de Marselha’. De referir ainda que este compartimento, assim como o espaço do fosso onde antes se encontrariam as escadas, se encontra coberto por uma abóbada de berço que se desenvolve no sentido Este/Oeste. No limite Oeste do piso encontram-se quatro marcas de um gradeamento já desmontado que, por se encontrar igualmente sobre a eventual soleira da porta conventual, deverá corresponder a uma solução industrial.

• Compartimento 2

214 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Para o compartimento 2 avança Pedro dos Santos a funcionalidade de ‘hospedaria’, um local onde ficariam alojados os hóspedes (Santos, 1997: 46). Dada a nobreza arquitectónica do espaço consideramos viável esta classificação, embora no local não tenhamos detectado vestígios que nos permitam corroborá-la. Um facto, contudo, não abona em favor desta funcionalidade para o compartimento 2. Como veremos, o único acesso possível para este compartimento à época conventual dava-se através das escadas que se desenvolviam a Oeste do compartimento anterior, pelo que o percurso a realizar até aceder à ‘hospedaria’ far-se-ia por uma área de serviço. Para o compartimento 2 temos actualmente acesso através de um vão de porta aberto na parede Oeste do compartimento 1 da ala Sul do pisoo 2, que é igualmente a parede que limita a Este o presente compartimento. Trata-se do único vão de porta neste alçado, embora, como veremos aquando da análise daquele compartimento, tenhamos fortes motivos para especular que seja de cronologia industrial.

Foto 217 – Vista geral sobre o compartimento 2. Perspectiva Sudoeste. Ao fundo: vão de porta de cronologia industrial que analisaremos detalhadamente no capítulo dedicado ao compartimento 1 da ala Sul do piso 2.

Para além daquele existe outro vão de porta, desta feita de cronologia conventual, no extremo esquerdo da parede Norte deste compartimento. Trata-se de um vão de porta de ombreiras e lintel em cantaria calcária e de moldura exógena no exterior do alçado. No alçado interior as ombreiras são constituídas pelo alinhamento do paramento. Já o lintel seria à época conventual constituído por um arco de descarga abatido em tijolo ao cutelo, de face interna rebocada e caiada. Os vestígios desta forma de lintel ainda são visíveis, ainda que na época industrial o interior do arco tenha sido preenchido com tijolos alveolares e cimento, aplanando o lintel. A soleira deste vão foi amputada. Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

215

profundidade

altura

2,24 m

largura

1,02 m

interior

0,56 m

exterior

0,22 m

Foto 218 – Vista geral sobre o vão de porta detectado na parede Norte do compartimento 2. Perspectiva Sul.

Na parede que limita a Oeste este compartimento, abrem-se dois vãos de janela, alinhados entre as arestas das abóbadas que cobrem este espaço. Tratam-se de vãos de origem conventual, embora tenham à época industrial sido aumentados. Da época conventual notam-se ainda as ombreiras em cantaria de calcário e de moldura exógena nos alçados interior e exterior, assim como o peitoril também com em cantaria de calcário e de moldura exógena nos alçados interior e exterior. À época industrial, o lintel foi amputado e o vão aumentado na sua parte superior, sendo posteriormente rematado por um arco abatido.

216 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

profundidade

altura

1,72 m

largura

1,08 m

interior

1,20 m

exterior

0,22 m

Foto 219 – Vista geral sobre o compartimento 2. Perspectiva Nordeste. Ao fundo: vaso de janela conventuais.

O aumento industrial destes vãos não recebeu qualquer tipo de acabamento tendo sido apenas rebocado e pintado, tal como sugerem alguns vestígios detectados nas faces internas dos arcos. No decurso da presente empreitada, um lintel voltou a ser aplicado, com recurso a uma nova peça de cantaria, e o aumento industrial emparedado. Na base das ombreiras dos vãos também não existem acabamentos, sendo constituídos apenas pelo paramento. Desconhecemos se este facto resultou do desmonte parcial do peitoril ou em consequência do desmonte de eventuais ‘namoradeiras’. Entre os dois vãos observa-se um vão anterior emparedado, do qual subsiste o arco de descarga abatido em tijolo ao cutelo. Não se observam os vestígios das ombreiras, ou do peitoril, facto que deverá dever-se à abertura dos vãos que o ladeiam. O modo como este arco se aplica sob uma imposta de sustentação à cobertura deste compartimento, levou-nos a suspeitar tratar-se de um mero arco de descarga para essa imposta. Contudo, nenhuma das restantes impostas da mesma sala se encontra apoiadas em arcos semelhantes. Não obstante, esta hipótese não deverá ser descartada, visto que a abertura dos vãos de janela poderão ter fragilizado o paramento, justificando deste modo a aplicação de um arco de descarga.

217 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 220 – Pormenor do paramento entre os dois vãos constantes da parede Oeste do compartimento 2. Perspectiva Nordeste. Em destaque: arco abatido em tijolo ao cutelo (tracejado azul).

Na parede Sul deste compartimento encontra-se um vão de janela industrial, emparedado no decorrer da presente empreitada, cujas características estão descritas no capítulo dedicado à análise do alçado Sul.

Foto 221 – Vista geral sobre a parede Sul do compartimento 2. Perspectiva Norte.

De referir ainda, relativamente aos paramentos deste compartimento que o aparelho da parede Sul encosta no da parede Este, assim como o da parede Oeste encosta no da parede Norte. Especulamos que isto não tenha resultado da construção posterior deste compartimento, mas antes de uma acção posterior de reparação das paredes, talvez contemporânea da abertura dos vãos de janela da parede Oeste. Na verdade, ao analisar o interior das ombreiras destes vãos verifica-se que não deverão ter sido projectados inicialmente, uma vez que entre as peças de cantaria interior e exterior 218 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

que subsistem se nota um certo espaçamento, invulgar, preenchido com tijolos maciços finos ao cutelo. Para mais, as peças de cantaria que se encontram aplicadas nestas ombreiras não se desenvolvem penetrando no paramento como habitual, mas antes encostando nele, dando a entender resultarem de uma solução arquitectónica posterior à construção do paramento. Desta sala resta abordar o piso e a cobertura, ambos conventuais e em óptimo estado de conservação. O piso é, uma vez mais, constituído por tijoleiras cerâmicas em espinha, sem que se verifique contudo a existência de molduras em lajes calcárias. A cobertura é constituída por seis abóbadas de aresta alinhadas em duas filas de três, dispostas no sentido Este/Oeste, à semelhança do compartimento imediatamente abaixo do actual. Descarregam o seu peso em dez impostas biseladas (uma em cada um dos cantos, duas ao longo das paredes Norte e Sul, e uma ao centro das paredes Este e Oeste). Ao centro da sala, as abóbadas descarregam em duas colunas ligeiramente abauladas, de secção octogonal, de lintel e capitel que prolongam cada uma das faces das colunas, embora abrindo progressivamente o seu diâmetro enquanto se afastam de coluna. Terminam o capitel numa imposta quadrangular onde arrancam as arestas e a base num soco quadrangular que a separa do piso.

Foto 222 – Pormenor da coluna de sustentação das abóbadas de cobertura do compartimento 2. Perspectiva Sul. Ao fundo: vão de porta conventual da parede Norte.

219 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Este compartimento, bem como o da ‘rouparia’ que lhe é inferior, possui uma série de características que nos levam, tal como ficou expresso no capítulo dedicado à análise do alçado Sul, a especular acerca da sua preexistência face ao restante complexo conventual. Ambos os compartimentos encontram-se na realidade construídos num estilo que estaria já desadequado da era construtiva deste convento, podendo datarem-se efectivamente do século XVI. As janelas descritas aquando da análise da parede Oeste de ambos, estarão contudo mais adequadas a um estilo arquitectónico posterior, podendo ser datadas de finais do século XVII. A possibilidade da preexistência destes compartimentos é um assunto a que regressaremos atempadamente.

3.2.3.4. Piso 2 – Ala Sul

• Compartimento 1

Para o presente compartimento não existem referências bibliográficas. Este trânsito, que parte do canto Sudoeste do claustro funcionando na prática como prolongamento da sua ala Oeste, deverá ter sido originalmente projectado para estabelecer ligação entre este claustro e o claustro principal que nunca chegou a ser erguido, dado que não encontrámos evidências de que a partir do seu interior se tenha podido à época conventual aceder a qualquer um dos compartimentos com que confina.

220 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 223 – Vista geral sobre o compartimento 1. Perspectiva Norte.

Na parede Norte deste compartimento abre-se um vão de arco conventual, de volta perfeita adintelado, de lintel, soleira e ombreiras em cantaria de calcário e de moldura exógena nos alçados interior e exterior da parede. É possível que este arco acolhesse algum tipo de porta, talvez em madeira, dado que em toda a sua face interna se notam orifícios dispostos uniformemente, capazes de sustentar alguma estrutura. De igual modo, também na soleira surgem orifícios com patíveis com aplicação de um ferrolho. Na ausência de mais vestígios, contudo, não podemos averiguar a cronologia dos orifícios ou da estrutura que sustentavam.

221 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

altura

2,60 m

largura

1,75 m

profundidade

0,54 m

Foto 224 – Vista geral sobre o arco de acesso ao compartimento 1. Perspectiva Sul. Ao fundo: a varanda da ala Oeste do claustro, com cobertura instalada recentemente.

A direita do arco encontra a sua moldura ligeiramente amputada graças à abertura de um pequeno orifício no paramento, com certeza relacionado com aplicação de algum aparato industrial (que supomos ter sido um quadro eléctrico). Na parede onde se implanta este arco, nada mais há a registar, a não ser que encosta à direita na parede que limita a Este o presente compartimento. Dado que a parede Este deste é a mesma que a parede Oeste do compartimento 3 da presente ala, podemos dizer que esta última tenha uma cronologia anterior, já que a ela encosta outro paramento. De notar que o encosto é tanto mais evidente, visto que a parede exterior do compartimento 3 recebe ali um cunhal em cantaria bem facetada ao qual irá encostar o tal paramento. A este cunhal regressaremos posteriormente aquando da análise do claustro, embora pese agora dizer que se trata de mais um dos argumentos em favor da existência de outro edifício anterior à edificação conventual. A parede Este do compartimento 2 toma deste modo início com aquele cunhal no seu extremo esquerdo. Um pouco à direita daquele abre-se um vão de porta de cronologia industrial que será alvo de descrição aquando da análise da parede Oeste do compartimento 3 da presente ala. Sensivelmente ao centro desta parede, encontra-se um novo encosto entre aparelhos, desta feita um pouco mais irregular. Passaria despercebido não fosse o facto de se localizar precisamente no ponto onde termina a Sul o compartimento 3. Mais um dos 222 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

argumentos em abono de aquele compartimento ter pertencido a um edifício preexistente. No extremo direito deste alçado abre-se novo vão de porta industrial, de topo abobadado. À excepção do topo, encimado por tijolos alveolares, nenhum cuidado foi aplicado aos seus acabamentos. É naturalmente de cronologia industrial, embora, graças à sua largura, nunca saibamos se terá sido obtido graças ao desmonte do aparelho ou se na sequência do alargamento de um vão conventual preexistente.

altura máxima

2,40 m

largura

1,10 m

profundidade

1,10 m

Foto 225 – Vista geral sobre o vão de porta detectado no extremo direito da parede Este do compartimento 1. Perspectiva Oeste.

Na parede Sul deste compartimento abre-se um vão de janela conventual de ombreiras e peitoril em alvenaria e de moldura exógena no alçado exterior. O lintel deste vão parece ser uma combinação de duas peças laterais em cantaria (onde se abrem os orifícios de sustentação das folhas) cobertas por sua vez por ripado de madeira, rebocado a argamassa de cal. A moldura que marcaria as ombreiras deste vão no alçado interior parece ter sido retirada, como demonstram os negativos detectados em ambos os paramentos que o ladeiam.

223 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

profundidade

altura

1,80 m

largura

1,08 m

interior

0,36 m

exterior

0,19 m

Foto 226 – Vista geral sobre o vão de janela detectado na parede Sul do compartimento 1. Perspectiva Norte.

Na parede Oeste deste compartimento, abre-se apenas um vão de porta de acesso ao compartimento da hospedaria. Trata-se de um vão de grandes dimensões, que ultrapassa inclusivamente a base da abóbada que cobre este espaço. Não possui acabamentos nas ombreiras, embora as arestas exteriores e interiores se encontrem rematadas por molduras em madeira. O lintel é em ripado de madeira rebocado a argamassa de cal e a soleira é em cantaria de calcário. Não possui arco de descarga nem no alçado interior nem no alçado exterior. Nos paramentos que servem de ombreira encontram-se vários silhares em claro contexto de reaproveitamento. Não existem indícios claros que apontem para uma cronologia exacta deste vão, embora a falta de cuidados com os seus acabamentos, a ausência total de cantarias nas suas molduras e a sua altura (que ultrapassa a abóbada) nos incline a atribuir-lhe uma cronologia industrial.

224 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

altura

2,65 m

largura

1,06 m

profundidade

1,20 m

Foto 227 – Vista geral sobre o vão de porta detectado na parede Oeste do compartimento 1. Perspectiva Este. De notar o topo deste vão ultrapassando a base da abóbada.

Ainda no mesmo alçado tentámos detectar vestígios de uma passagem para o compartimento 1 da ala Oeste do piso 2, que é perpendicular ao compartimento em análise. Não fomos, porém, recompensados neste aspecto. Pensamos por isso que o aparelho da parede Oeste do presente compartimento tenha sido construído de uma só vez, não prevendo qualquer passagem para o compartimento 1 da ala Oeste deste piso.

• Compartimento 2

Apenas Pedro dos Santos faz referência a este espaço, atribuindo-lhe nas plantas em que elabora uma reconstituição do desenho conventual do edifício a funcionalidade de ‘capela dos noviços’, uma vez que de acordo com o autor estes teriam um local para orar à parte da restante comunidade (SANTOS, 1997: em anexo). Não

obstante,



quando

analisámos

os

compartimentos aos quais se sobrepõe o presente (os 225 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

compartimentos 2 e 3 da ala Sul do piso 1), detectámos alguns indícios de que o compartimento 2 seria, na realidade, um espaço aberto à época conventual. De igual modo, uma fotografia cuja cronologia não conseguimos apurar, recolhida na Imagoteca da Casa Municipal da Cultura de Coimbra, revela uma abertura no telhado localizada sobre esta área do edifício, mostrando como tal que esta abertura terá sido mantida mesmo durante a época de ocupação industrial deste edifício.

Fotos 228 e 229 – Vista geral sobre a cobertura do claustro do Convento de São Francisco da Ponte. Perspectiva Sudoeste. Em destaque: a abertura do telhado no canto Sudoeste do claustro (setas amarelas).

A corroborar a teoria de que este foi em tempos um espaço aberto, estão os negativos de telhado detectados no topo da cobertura do compartimento anterior, o compartimento 1 da ala Sul do piso 2. Estes negativos demonstram que o telhado ali instalado abria directamente para o espaço que presentemente analisamos, escoando para ele as suas águas.

226 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 230 – Pormenor dos vestígios em negativo de um telhado detectado no topo da cobertura do compartimento 1 (primeiro plano), abrindo para o compartimento 2 (segundo plano). Perspectiva Oeste.

Para mais, detectámos duas janelas de avental, ambas ao nível do piso 2, abrindo no sentido deste compartimento. Como sabemos, estes são elementos claramente projectados para abrir para o exterior. O primeiro destes vãos encontra-se no extremo direito da parede Este deste compartimento e será descrito aquando da análise da parede Oeste do compartimento 4 da presente ala, com o qual confina.

Fotos 231 e 232 - Vista geral sobre a parede Este do compartimento 2 e pormenor da janela de avental no extremo direito deste alçado (seta azul). Perspectiva Oeste. 227 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

O segundo vão de janela de avental, abre no extremo esquerdo da parede Norte deste compartimento e será descrito aquando da análise do compartimento 3 da presente ala, com o qual confina.

Fotos 233- Vista geral sobre a parede Norte do compartimento 2 onde se constata uma janela de avental (seta azul). Perspectiva Sul.

Especulamos dadas estas evidências, que o compartimento 2 fosse à época conventual um espaço aberto, limitado apenas pelos compartimentos com os quais confina a Este, Norte e Oeste (respectivamente, compartimentos 1, 3 e 4 da ala Sul do piso 2). O espaço abria sobre o telhado de cobertura dos compartimentos 2 e 3 da ala Sul do piso 1, cuja existência foi demonstrada aquando da análise daqueles espaços.

Fotos 234 – Vista geral sobre o compartimento 2, assim como sobre a sua parede Oeste. Perspectiva Este.

Relativamente à parede que actualmente limita a Sul este compartimento, estamos convictos de que será uma obra industrial. Tal como demonstraremos aquando da 228 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

análise do alçado Sul deste edifício, o tipo de paramento desta parede apresenta uma coloração diferente. Para mais, neste tramo de parede abria-se um conjunto de três janelas anexas que ocupava grande parte deste paramento, indicando grande esforço construtivo no desmonte de um eventual paramento que ali existisse previamente.

Fotos 235 – Pormenor do alçado Sul, correspondente ao tramo exterior da parede Sul do compartimento 2 da ala Sul do piso 2 (limites assinalados por setas vermelhas). Perspectiva Sul.

A ser verdade o conjunto de premissas que agora expomos, então o compartimento 2 seria efectivamente um espaço não coberto e aberto a Sul. Esta solução arquitectónica talvez se justifique pela preexistência do edifício que alberga os compartimentos 2, 4 e 5 da ala Sul do piso 1 e o compartimento 3 da mesma ala do piso 2. A preexistência deste edifício será desenvolvida mais adiante, embora importe agora sublinhar que a ser verdadeira, esse edifício limitaria a Norte o espaço aberto de que agora tratamos. O fecho deste espaço talvez estivesse programado no âmbito da construção do claustro principal que não chegou a realizar-se, ficando esta acção destinada aos industriais que vieram instalar-se neste edifício. Na presente empreitada, as janelas industriais foram alvo de desmonte, tendo sido substituídas por duas janelas em cantaria de calcário totalmente novas. Estas operações

decorreram,

naturalmente,

mediante

o

devido

acompanhamento

arqueológico.

229 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 236 – Vista geral sobre os vãos de janela criados de raiz na parede Sul do compartimento 2. Perspectiva Nordeste.

Relativamente ao piso do compartimento 2, este é constituído apenas pelo topo cimentado da abóbada de berço conventual do compartimento 3 da ala Sul do piso 1, bem como pela abóbada de berço e ainda pela abóbada de arestas industriais do compartimento 2 da ala Sul do piso 1. Resulta deste modo um compartimento onde o piso não existe no canto Noroeste.

• Compartimento 3

Como já referido, no topo das escadas que constituem o compartimento 5 da ala Sul do pios 1 abriam à época conventual duas portas, uma abrindo para a varanda Sul dos claustros e outra abrindo para Oeste, dando acesso ao presente compartimento. A única referência bibliográfica que detectámos relativamente a este espaço é-nos dada por Pedro dos Santos, que avança com a localização da ‘cela do mestre dos 230 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

noviços’ para o compartimento 3 (SANTOS, 1997: 45), embora não tenhamos averiguado vestígios capazes de corroborar a sua opinião, para além de um armário embutido de origem conventual, nem por isso tipologicamente semelhante aos armários detectados nas celas do dormitório do piso 0. A este espaço tem-se acesso por um vão de porta de origem conventual, aberto à esquerda do alçado da parede Este deste compartimento. Possui soleira (onde à época industrial terão esculpido uma moldura para colocar um tapete), ombreiras e lintel em cantaria de calcário de moldura exógena para o exterior, sendo a sua moldura interna criada através do reboco do paramento nas ombreiras e por um arco de descarga abatido em tijolo ao cutelo no topo. No exterior é possível ver um arco de descarga em ‘V’ invertido encimando este vão. Não deixa de ser curioso verificar que, o aparelho que serve de ombreira esquerda a este vão, encoste (e não imbrique) na parede Norte do compartimento, aparentando como tal tratar-se de um elemento construtivo posterior. Vão de Porta Conventual altura

profundidade

2m

largura

0,98 m

interior

0,44 m

exterior

0,22 m

Vão de Armário Industrial altura

1m

largura

0,80 m

profundidade

0,56 m

Foto 237 – Vista geral sobre a parede Este do compartimento 3. Perspectiva Oeste. De notar vão de porta à esquerda.

Na mesma parede, desta feita, encostado à direita constata-se a presença de um armário de parede de cronologia industrial. Foi obtido através do desmonte do paramento que terá sido totalmente fechado no fundo com tijolo maciço espesso, posteriormente rebocado (este vão foi referido na descrição da parede Oeste do corpo de escadas desta ala, ou compartimento 5 da ala Sul do pios 1, onde é igualmente visível). A base deste armário, muito destruída aparenta ter acolhido uma prateleira. Na parede Norte deste compartimento, verifica-se a presença de um vão de janela encimado por arco de descarga em tijolo ao cutelo. Encontra-se emparedado com 231 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

pedras e argamassa de argila (obra com certeza conventual). Por não se encontrar centrado face ao compartimento e dado que aparentemente terá sido emparedado em época conventual, especulamos que este vão nunca tenha feito parte do programa construtivo deste compartimento, motivo que nos leva a colocar a hipótese de este compartimento (e naturalmente o que lhe é inferior) pertencer a um edifício preexistente. Sobre esta hipótese trataremos mais adiante, quando outros dados estiverem já expostos.

Vão de janela emparedado altura largura profundidade

2m 1,40 m ?

Foto 238 – Vista geral sobre a parede Norte do compartimento 3. Perspectiva Sul.

Na parede poente deste compartimento abre-se ligeiramente para a direita, um vão de porta industrial que dá acesso ao compartimento 1 da presente ala. Apesar de apresentar uma peça de cantaria em cada uma das ombreiras, especulamos que se trate de uma vão de origem industrial. Na verdade, as ombreiras são complementadas por tijolos ao cutelo, tijolos maciços espessos e até por pedaços de madeira. Para mais, o lintel deste vão é feito através de travejamento de madeira que se encontra em óptimo estado de conservação e não se encontra encimado por nenhum tipo de arco de descarga.

232 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Vão de Porta altura

2m

largura

1,10 m

profundidade

0,94 m

Vão de Armário Conventual altura

1,54 m

largura

0,50 m

profundidade

0,60 m

espessura da prateleira

0,12 m

Vão de Armário Industrial altura

0,94 m

largura

0,67 m

profundidade

0,58 m

Foto 239 – Vista geral sobre a parede Oeste do compartimento 3. Perspectiva Este. Destaque para o armário conventual já emparedado (tracejado amarelo), para o armário industrial (seta verde), para o vão de porta industrial (seta azul) e para a moldura em cantaria (seta vermelha).

Foto 240 – Pormenor construtivo do vão de porta detectado na parede Oeste do compartimento 3. Perspectiva Norte.

Do lado esquerdo deste vão, detectámos dois armários embutidos na parede. O primeiro conventual, imediatamente à esquerda do vão, tem por ombreira direita, a peça de cantaria detectada na ombreira esquerda do vão (talvez seja o motivo pelo qual ali se encontra). A sua ombreira esquerda, desmontada, poderá, dado a sua 233 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

altura, corresponder à peça de cantaria detectada na ombreira direita do vão de porta. O armário seria encimado por um pequeno arco abatido em tijolo ao cutelo e, apesar de se encontrar emparedado com materiais cronologicamente datáveis da época de ocupação industrial deste edifício, como tijolos maciços espessos, alguns orifícios permitem avaliar que tinha as suas paredes rebocadas e pintadas a cal. Aparentemente possuía dois compartimentos separados por uma prateleira. Anexo à esquerda deste armário localiza-se outro, de cronologia industrial, dado que possui alguns elementos construtivos contemporâneos, tais como tijolos maciços espessos aplicados na base. Este armário é de formato quadrangular e paredes internas rebocadas a argamassa de cimento pintado a branco. Ainda nesta parede pode ver-se, ao centro, a cerca de 2,50 m do piso actual, uma moldura em cantaria, coberta por argamassa de cimento, que poderá corresponder a alguma imagem ou ícone religioso, entretanto amputado. Na parede Sul deste compartimento abre-se ao centro, um grande vão de janela de avental, de ombreiras e lintel em cantaria de calcário de moldura exógena nos alçados interior e exterior. Na base das ombreiras, onde não há cantaria e são maus os acabamentos do paramento, deduzimos ter ocorrido amputação de bancos anexos em cantaria, comummente designados por ‘namoradeiras’. A janela afunila, abrindo ligeiramente para o exterior. Este vão de janela já tinha sido mencionado aquando da análise do compartimento anterior para o qual abre. Como então foi referido, estamos convictos de que este vão foi projectado para abrir para o exterior, dado o seu avental. A tipologia desta janela, diferente de qualquer outro exemplar existente no convento, leva-nos a especular que tenha pertencido, à semelhança do compartimento em que se encontra, a um edifício preexistente, cuja existência, como já dito, será atempadamente explorada.

234 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Vão de Janela ao Centro

profundidade

altura

1,90 m

largura

1,30 m

interior

0,56 m

exterior

0,21 m

Vão de Porta à Esquerda altura largura profundidade

2m 0,80 m 0,78

Vão de Armário Industrial – à direita

Foto 241 – Vista geral sobre a parede Sul do compartimento 3. Perspectiva Norte.

altura

0,85 m

largura

1,40 m

profundidade

0,26 m

À esquerda deste vão de janela encontra-se um vão de porta de cronologia industrial, aberto com recurso ao desmonte do paramento, sem qualquer tipo de acabamento nas faces internas, à excepção do topo que foi rebocado a cimento. Actualmente o vão abre para um espaço sem piso, mas à época industrial ocorreria ali um piso sustentado por abóbada de berço industrial, entretanto desmontada, tal como já foi exposto aquando da análise do compartimento 2 da ala Sul do piso 1. À direita do vão de janela abre-se ainda um vão de armário embutido de cronologia industrial. Trata-se de um vão rectangular horizontal, construído com recurso ao desmonte do aparelho e de faces internas rebocadas. Apresenta em negativo os vestígios de uma prateleira em madeira que estaria aplicada a metade da altura do vão. O piso deste compartimento encontra-se totalmente destruído, podendo ter sido rebocado a cimento à época industrial. Não restam vestígios de tijoleiras conventuais. Por sua vez, a cobertura deste espaço consiste numa abóbada de arestas, cujas arestas descarregam em quatro impostas de cantaria que se encontram em óptimo estado de preservação, sendo cada uma aplicada num dos cantos da sala.

235 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

• Compartimento 4

O presente compartimento, por não se encontrar actualmente limitado a Sul, pode erroneamente ser interpretado como uma extensão do compartimento 5, com que confina, e vice-versa. Como veremos, porém, existia uma parede a separar os dois compartimentos. Não existem referências bibliográficas ao compartimento 4.

Foto 242 – Vista geral do compartimento 4. Perspectiva Norte. Ao fundo, após a abóbada: compartimento 5.

236 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Na parede Norte do compartimento 4 abre-se actualmente um vão de porta industrial com lintel em betão. Este lintel encontra-se contudo encimado por um arco de paredes internas rebocadas e caiadas de branco que deverá corresponder a um arco de acesso a este compartimento à época conventual, emparedado em época industrial. O vão de porta industrial, cuja largura terá ultrapassado o primitivo arco conventual, apresenta-se sem acabamentos ao nível das ombreiras ou da soleira. Faz sentido que este vão tenha substituído um vão conventual que abrisse para a varanda Sul do claustro, dado que se localiza ao centro do alçado do piso 2 do mesmo e, como tal, em posição preponderante quando articulado com o claustro principal que não chegou a ser erguido, como aliás se articularia o corredor de acesso ao logradouro, ou compartimento 6 da ala Sul do piso 1, ao qual o presente se sobrepõe.

altura

2,10 m

largura

1,50 m

profundidade

0,45 m

Foto 243 – Vista geral do vão de porta da parede Norte do compartimento 4. Perspectiva Norte.

No extremo direito da parede Este do compartimento 4, e confrontando directamente com o vão de porta industrial que dá acesso a este compartimento a partir do corpo de escadas, localiza-se um vão de porta para o compartimento 6 da presente ala. Trata-se de um vão em forma de arco de volta perfeita, obtido por meio do desmonte do aparelho conventual sem que recebesse qualquer acabamento ao nível das suas faces internas. É definitivamente um vão de cronologia industrial, que não substituiu um vão anterior, a julgar pela sua soleira onde se verifica ainda o arranque do paramento desmontado.

237 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

altura

2,45 m

largura

1,20 m

profundidade

0,90 m

Foto 244 – Vista geral do vão industrial detectado na parede Este do compartimento 4. Perspectiva Oeste. Em destaque: negativos de uma parede industrial.

Uma parede em tijolo alveolar terá segmentado na transversal este compartimento, precisamente junto à ombreira direita deste vão, a avaliar pelos vestígios em negativo detectados na abóbada e junto à própria ombreira. Ainda na parede Este, à direita do vão anterior, detectámos um arco abatido em tijolo ao cutelo, amputado à sua direita por um vão que abordaremos em frente. Encontrase emparedado com recurso a alvenaria irregular de pedra e argamassa de argila.

altura máxima aproximada

0,90 m*

largura aproximada

2,90 m*

profundidade aproximada

0,55 m*

* Medidas recolhidas a partir do actual nível de circulação.

Foto 245 – Vista geral do vão de arco detectado na parede Este do compartimento 4. Perspectiva Oeste.

238 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Este vão encontra-se a escassos 0,90 m do actual piso de circulação, que é ainda o piso original conventual. Desconhecemos o motivo para a existência deste arco, embora não nos surja como hipótese viável que tenha servido como arco de descarga para o aparelho da parede, uma vez que não encontramos, senão aqui, tal solução arquitectónica em todo o edifício. No piso inferior não é possível averiguar o comportamento deste arco, uma vez que a ele anexa a abóbada de cobertura do corredor de acesso ao logradouro, ou compartimento 6 da ala Sul do piso 2. O compartimento 4 termina precisamente no local onde aquele arco é amputado. À sua direita, onde à época conventual existia a parede Sul deste compartimento, observa-se uma soleira, bem como o arranque de dois paramentos laterais, que terão constituído as ombreiras, já desmontadas, de um vão de passagem ao compartimento 5. Da parede Sul notam-se igualmente ténues vestígios em negativo na abóbada, ali já muito alterada. Especulamos que o desmonte desta passagem tenha ocorrido à época industrial.

altura largura aproximada profundidade

? 1,25 m 0,48 m

Foto 246 – Vista geral sobre os vestígios da parede Sul e respectiva passagem do compartimento 4. Perspectiva Norte. Em destaque: soleira de uma passagem desmontada (tracejado amarelo).

Na parede Oeste do compartimento 4 não existem elementos arquitectónicos de relevância, à excepção de um vão de porta industrial aberto no seu extremo direito, responsável pelo acesso ao corpo de escadas, ou compartimento 5 da ala Sul do piso 1. Este vão foi já descrito aquando da análise da parede Este deste compartimento.

239 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Quanto ao piso conventual do compartimento 4, encontra-se relativamente bem preservado, sendo constituído pelas características tijoleiras cerâmicas aplicadas em ‘espinha’, sem as molduras em lajes calcárias que se encontram por vezes noutros compartimentos do edifício. Relativamente à cobertura deste compartimento, ela é obtida através de uma abóbada de berço, desprovida de lintel.

• Compartimento 5

Não existem referências bibliográficas a este espaço. O compartimento 5 não se encontra coberto por nenhum tipo de cobertura conventual ou industrial. Encontramos, na sua parede Este, alguns orifícios de travejamento destinado à aplicação de um telhado, cujas traves seriam transversais relativamente ao corredor, e que deverão ser datáveis da época industrial, uma vez que alguns daqueles orifícios estão aplicados em tramos de parede constituídos por materiais contemporâneos. Dada a existência de um espaço aberto à direita deste compartimento (o compartimento 2 desta ala, já descrito), julgamos possível que este telhado tenha escoado as suas águas para o interior daquele espaço. Desconhecemos se este telhado terá substituído um telhado de origem conventual, mas especulamos que sim, dada a ausência de abóbada ou de vestígios de outro tipo de cobertura neste compartimento.

240 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 247 – Vista geral sobre o compartimento 5. Perspectiva Sul. De notar o negativo de um telhado (setas amarelas), cuja inclinação tendia para o compartimento 2. (nesta perspectiva à esquerda da imagem). Ao fundo: compartimento 4.

Teria em época conventual o compartimento 4 abobadado sido seguido pelo compartimento 5 coberto por telhado? Especulamos que os motivos inerentes a esta solução arquitectónica passem pela abertura do compartimento 2 a Sul. Uma vez que o compartimento 5 confina a Este com o compartimento 2, um telhado poderia albergar um alpendre ou uma varanda voltada para um espaço aberto. Na extremidade esquerda da parede Este do compartimento 5 encontra-se emparedado com tijolos alveolares um vão de passagem responsável pela amputação constatada no arco da parede Este do compartimento anterior.

altura

2,95 m

largura

1,75 m

profundidade

0,55 m

Foto 247 – Vista geral sobre o vão emparedado na parede Este do compartimento 5. Perspectiva Sudoeste. De notar arco amputado pela sua abertura (seta amarela). 241 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Ainda na parede Este, aberto ao seu extremo direito, encontra-se um vão de porta obtido através do desmonte do avental de uma janela, como se pode verificar pelas invulgares saliências das bases das ombreiras. Trata-se de um vão de origem conventual, de lintel e ombreiras em cantaria de calcário de moldura exógena nos alçados exterior. Pelo interior, as ombreiras são conseguidas pelo reboco do paramento e o lintel por um arco de descarga muito abatido e em tijolo ao cutelo. Desconhecemos se a amputação deste avental terá ocorrido em época industrial ou durante o período ainda conventual. Não obstante, o facto de esta abrir em direcção ao compartimento 6 da presente ala, no qual todos os indícios apontam para que fosse fechado, leva-nos a especular que as cantarias deste vão se encontrem em contexto de reutilização. Confrontando com este vão encontra-se um vão de janela de avental, muito similar ao presente, e ao qual nos referimos já aquando da análise da parede Este do compartimento 2. Terá o presente vão sido, durante a época industrial, amputado daquela parede, onde fazia parelha com uma janela semelhante, e aplicado no local onde ora se encontra, tendo o seu avental sido amputado para criar deste modo um vão de porta? Esta é apenas uma hipótese interpretativa. Como visto noutros casos, as necessidades industriais levavam por vezes à criação de novos vãos, por vezes com acabamentos de tal qualidade que só uma observação mais cuidada nos permite distingui-los de vãos conventuais.

Vão de Janela Anterior a Amputação do Avental

profundidade

altura

1,05 m

largura

0,90 m

interior

0,28 m

exterior

0,22 m

Vão de Porta Posterior a Amputação do Avental

profundidade

altura

1,85 m

largura

0,90 m

interior

0,68 m

exterior

0,22 m

Foto 248 – Vista geral sobre o vão de porta detectado na parede Este do compartimento 5. Perspectiva Oeste. 242 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Na parede Oeste do compartimento 5, sensivelmente ao centro do seu alçado encontra-se um vão de porta industrial de acesso ao compartimento 2. Apresenta-se praticamente desprovido de acabamentos, à excepção da sua ombreira direita e do seu lintel que receberam acabamentos com argamassa de cimento. À direita deste vão encontra-se um vão de passagem industrial emparedado com recurso a tijolo alveolar, obra que terá ocorrido ainda durante o período de ocupação industrial deste edifício. A parede onde actualmente consta este emparedamento distingue-se da restante parede Oeste do compartimento 5, por estar erguida com um aparelho de perdas de menor porte unidas por uma argamassa de cal mais escura. Especulamos que este tramo do aparelho conventual tenha sido desmontado durante a época industrial com vista a albergar um vão de maiores dimensões, rematado por um novo aparelho de características naturalmente distintas do paramento original. Mais especulamos que desta acção de desmonte tenha resultado a remoção do vão de janela conventual de avental anteriormente descrito.

Vão Industrial Emparedado – À Esquerda altura

2,90 m

largura

0,85 m

profundidade

0,38 m

Vão Industrial – À Direita altura

2,30 m

largura

0,35 m

profundidade

0,38 m

Foto 249 – Vista geral sobre o tramo à direita da parede Oeste do compartimento 5. Perspectiva Oeste, do interior do compartimento 2. De notar paramento industrial (chaveta azul) de aparelho diferente do conventual (chaveta verde).

No extremo esquerdo da parede Oeste do compartimento 5 encontra-se ainda um vão de origem conventual. Trata-se de um vão de janela de avental, lintel e ombreiras em cantaria de calcário de moldura exógena nos alçados interior e exterior, encimado por arco de descarga em ‘V’ invertido. Pelos sentidos da abertura das duas folhas desta janela e do seu avental, esta janela abriria deste compartimento para o compartimento 2 da presente ala, que deveria portanto consistir num espaço aberto, tal como havíamos defendido aquando da sua análise arquitectónica. 243 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

altura

profundidade

1m

largura

0,76 m

interior

0,25 m

exterior

0,17 m

Foto 250 – Vista geral sobre o vão de janela detectado no extremo esquerdo da parede Oeste do compartimento 5.

Na parede Sul deste compartimento abria-se um vão de janela industrial que foi alvo de remodelação na presente empreitada, tendo sido recriado um vão com aparência conventual de moldura em cantaria exógena nos alçados interior e exterior. Estes aspectos encontram -se mais desenvolvidos aquando da análise arquitectónica do alçado Sul.

Foto 251 – Vista geral sobre a parede Sul do compartimento 5. Perspectiva Norte. 244 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

A referir ainda em relação ao compartimento 5, que se encontra o seu piso muito destruído com escassos tramos de tijoleira, alguns dos quais possivelmente reorganizados na época industrial.

• Compartimento 6

Para o compartimento 6 divergem as fontes bibliográficas. Pedro dos Santos avança que este compartimento terá acolhido a ‘enfermaria’ até finais do século VIII, dando posteriormente lugar ao ‘noviciado’, um espaço destinado a acolher os noviços (SANTOS, 1997: 45 e 46). Por seu turno, Sandra Lopes é da opinião de que a ‘noviciaria’ seria separada do edifício conventual, construída talvez em madeira, uma vez que “em 1817 estava completamente destruída e, nesse mesmo ano foi mandada compor com madeira…” (LOPES, 1998: 46) No local não foram recolhidos vestígios que nos permitam ajuizar sobre a opinião destes autores, embora um dado observado sobre a cobertura do compartimento 4 desta ala nos permita, como veremos corroborar a opinião de Pedro dos Santos. Na parede Oeste do compartimento 6 verificam-se todas as características arquitectónicas detectadas nas paredes Este dos compartimentos 4 e 5, sendo na realidade a mesma parede. Ali se verifica à direita o vão de porta industrial sem acabamentos que confronta com o vão industrial de acesso às escadas. Verifica-se, ao centro, o vão de passagem emparedado com materiais datáveis da época industrial, amputando o arco emparedado com materiais de cronologia conventual. Verifica-se ainda, à esquerda, o vão de porta obtido através de uma janela cujo avental foi amputado. 245 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 252 – Vista geral sobre a parede Oeste do compartimento 6. Perspectiva Este.

Na parede Norte deste compartimento verifica-se um enorme tramo desmontado na época industrial, com 5 m de comprimento e na altura total da parede. Desconhecemos portanto, por completo o que ocorria neste tramo da parede à época conventual. Foi alvo de emparedamento na presente empreitada.

Foto 253 – Pormenor do tramo central da parede Norte do compartimento 6. Perspectiva Sul.

À esquerda deste tramo, anexada ao canto Noroeste do compartimento, existia um vão de porta de cronologia industrial, emparedado possivelmente na mesma época. Tratava-se de um vão abobadado e de soleira em cimento, tanto quanto o emparedamento permitiu apurar. Foi emparedado com recurso a materiais muito semelhantes aos de época conventual, à excepção de alguns fragmentos de tijolo 246 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

alveolar aplicados junto à ombreira direita, pelo que se torna quase imperceptível a sua existência.

altura

2,40 m

largura

1,10 m

profundidade

?

Foto 254 – Pormenor da extremidade esquerda da parede Norte do compartimento 6. Perspectiva Sul. Destaque para o vão industrial emparedado (tracejado amarelo).

Na parede que a Sul limita o compartimento 6 abrem-se actualmente dois vão de janela, criados na presente empreitada, com o intuito de recriar vãos idênticos aos conventuais identificados noutros pontos do edifício. Tratam-se de vãos com lintel, ombreiras e peitoril em cantaria de calcário de moldura exógena nos alçados interior e exterior. Encontram-se ambos encimados por arco de descarga de tijolo ao cutelo de origem conventual. O vão que se localiza à esquerda do alçado mas também o vão que se localiza à direita deste, foram totalmente recriados, tendo substituído total ou parcialmente as cantaria dos vãos preexistentes, por sua vez de origem industrial. Mais detalhes sobre estes vãos poderão ser encontrados no capítulo destinado à análise do alçado Sul.

247 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Vãos de Janela

profundidade

altura

1,60 m

largura

0,87 m

interior

0,78 m

exterior

0,22 m

Foto 255 – Vista geral sobre a parede Sul do compartimento 6. Perspectiva Norte.

A parede Este do compartimento 6 foi completamente desmontada, a ponto de dela nada ter subsistido. A sua existência é apenas denunciada pelo arranque da abóbada de cobertura do compartimento 7 que, como veremos aquando da análise desse compartimento, se verifica na sua parede Este. Naturalmente que esta abóbada necessitaria de apoiar-se numa parede a Oeste que seria simultaneamente a parede Este do compartimento 6. Relativamente ao piso do compartimento 6, não se constatam vestígios do típico piso conventual em tijoleira, encontrando-se a totalidade do piso composta por calçada de pedras de pequeno porte, muito degradada, que presumimos ser datável da época industrial. Ao realizarmos uma prospecção sobre as coberturas dos compartimentos do piso 2, detectámos, como já referido a propósito da análise do compartimento da ‘amaçaria’, ou compartimento 4 da ala Sul do piso 1, uma chaminé que de certa forma poderá constituir um argumento a favor da opinião de Pedro Santos relativamente à funcionalidade que atribui a esse compartimento. De igual modo, outra chaminé foi detectada sobre a cobertura do compartimento 4 da presente ala, que corrobora a funcionalidade atribuída pelo mesmo autor ao compartimento 6. Na realidade, Pedro dos Santos começa por afirmar que o ‘noviciado’ se instala no final do século XVIII onde antes se localizava a enfermaria. Mais acrescenta que a enfermaria dispunha de “uma cela para o enfermeiro, seis leitos e uma cozinha, onde se preparavam refeições mais leves” (SANTOS, 1997: 46). 248 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Ora a chaminé detectada no topo da abóbada de cobertura do compartimento 4 desenvolve-se no canto Nordeste do mesmo, confrontando como tal com o canto Noroeste do compartimento 6.

Foto 256 – Vista geral sobre a chaminé detectada sobre a abóbada de cobertura do compartimento 4. Perspectiva Oeste.

Especulamos como tal, que a chaminé detectada se desenvolvesse de forma anexa ao exterior das paredes do canto Noroeste do presente compartimento, sendo plausível que tenha efectivamente servido a cozinha da ‘enfermaria’. A ser verdade, então a funcionalidade deste espaço enquanto ‘enfermaria’, posteriormente substituída pelo ‘noviciado’, atribuída por Pedro dos Santos estará correcta.

• Compartimento 7

Não existem referências bibliográficas relativas ao compartimento 7. Como já referido, a parede Oeste deste espaço foi completamente desmontada durante o período de ocupação industrial deste edifício, fazendo com que seja impossível distingui-lo do compartimento 6 com o qual confinava à época conventual. 249 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Trata-se de um compartimento que se desenvolvia a partir do canto Sudeste do claustro, atravessando na perpendicular toda a ala Sul do piso 2. Naturalmente, pela localização que ocupa, deverá ter sido projectado para estabelecer ligação entre o claustro existente e o claustro principal que não chegou a ser erguido unindo. Especulamos que tenha sido concebido ainda para dar acesso ao ‘noviciado’. Na parede Sul deste compartimento abria-se um vão de janela industrial, obtido através de um vão preexistente que terá originalmente sido projectado como porta de acesso ao claustro principal nunca erguido. Sobre a forma como o vão de porta conventual deu origem a um vão de janela industrial poderão os leitores obter mais informações no capítulo dedicado à análise do alçado Sul.

Vão de Porta Anterior à Remodelação altura

profundidade

3m

largura

1,50 m

interior

0,38 m

exterior

0,58 m

Foto 257 – Vista geral sobre o vão de porta detectado na parede Sul do compartimento 7. Perspectiva Sul.

Relativamente ao vão propriamente dito, tratar-se-ia inicialmente de um vão de porta em cantaria de calcário, de moldura exógena no alçado exterior, sendo o alçado interior rematado pelo paramento rebocado e encimado por um arco de descarga abatido em tijolo ao cutelo, preenchido pelos mesmos tijolos por forma a criar um lintel plano. Este vão foi na presente empreitada reformado, tendo nele sido aplicadas novas peças de cantaria com vista a criar um vão de janela semelhante aos criados na parede Sul do compartimento 6. Durante este processo foi removida a ombreira direita do vão existente, tendo-se constatado que era na realidade um elemento arquitectónico reaproveitado. Este elemento apresentava uma face decorada com motivos 250 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

vegetalistas em baixo relevo, embora a decoração se encontrasse inicialmente invisível por estar voltada para o interior do paramento. Sobre esta peça voltaremos a referir-nos aquando do capítulo dedicado ao acompanhamento arqueológico desta empreitada.

Foto 258 – Fragmento de cantaria reaproveitada como ombreira no vão da parede Sul do compartimento 7.

À direita deste vão detectámos um tramo de paramento constituído por tijolos maciços finos à mistura com alguns materiais contemporâneos tais como tijolos maciços espessos. Tratam-se evidentemente dos materiais provenientes do desmonte da abóbada que cobria o compartimento 7, reaproveitados à mistura com outros elementos para um reparo no paramento da parede Sul, realizado à época industrial. Na parede Norte do compartimento 7 abre-se um vão de arco conventual que dá acesso ao canto Sudeste do claustro. Trata-se de um arco de volta perfeita, adintelado, de ombreiras, soleira e impostas em cantaria de calcário de moldura exógena nos alçados interior e exterior. Sobre este arco observa-se, em negativo o arranque da abóbada, já desaparecida, que servia de cobertura a este compartimento. Embora os vestígios sejam escassos, especulamos ter-se tratado de uma abóbada de berço.

251 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

altura

2,60 m

largura

1,75 m

profundidade

0,82 m

Foto 259 – Vista geral sobre o vão de arco detectado na parede Norte do compartimento 7. Perspectiva Sul. Em destaque: negativo do arranque de uma abóbada (setas amarelas) e arco de descarga (seta azul).

Foto 260 – Pormenor do negativo de arranque de abóbada no canto Nordeste do compartimento 7. Perspectiva Oeste.

Na parede Norte são visíveis apenas dois vãos industriais. O primeiro localiza-se à esquerda de alçado e é um vão de porta de ombreiras rematadas a aparelho de tijolo alveolar e lintel em betão. O segundo encontra-se sensivelmente ao centro do alçado. Trata-se de um vão de ombreiras rematadas a tijolo maciço e de lintel rebaixado relativamente ao original. Originalmente seria coberto por um arco abatido em tijolo 252 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

maciço espesso ao cutelo, tendo posteriormente sido emparedado no topo com tijolos maciços. Este vão, demasiado estreito para servir de porta, encontra-se rodeado na base esquerda e em ambos os topos por orifícios, emparedados ainda na época industrial. Por estes motivos especulamos que tenha estado articulado com algum aparato industrial, possivelmente relacionado com o alçapão que se abre no piso à sua direita. Este alçapão, que abre para o compartimento 2 da ala Sul do piso 0, é claramente de cronologia industrial. Ao longo de todo o topo desta parede é ainda possível observar o negativo do arranque da abóbada que cobria este espaço.

Foto 261 – Vista geral da parede Este do compartimento 7. Perspectiva Oeste. Destaque para o negativo da sua abóbada de cobertura (setas vermelhas). Vão de Porta à Esquerda

Vão de Porta à Direita

altura

2,30 m

altura

2m

largura

1,45 m

largura

0,67 m

profundidade

0,75 m

profundidade

0,75 m

Relativamente ao piso do compartimento 7, constatámos que apresenta as mesmas características que o compartimento anterior, sendo constituído por calçada de pedras de pequeno porte, muito degradada, que presumimos ser datável da época industrial.

253 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Limite de Intervenção

Emparedamento em época industrial Desmonte em época industrial Intervenção decorrente em época conventual Emparedamento em época indeterminada Emparedamento no âmbito da presente empreitada Emparedamento no âmbito de empreitadas anteriores

CÂMARA MUNICIPAL DE COIMBRA - DOGIM - DEE

Obra Nº 2307 - Convento de São Francisco Obras de Consolidação Estrutural e Trabalhos de Arqueologia

Planta do Piso 2

DESENHO DE PREPARAÇÃO

Desenho Nº PREP 015 / 2307

Págª 3 / 3

Caracterização Arqueológica

254 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

3.2.4. O CLAUSTRO

Como é habitual, o claustro de São Francisco da Ponte é constituído por quatro alas que formam um pátio interno de planta quadrangular. As alas comunicam entre si, estabelecendo portanto um trânsito contínuo, e estão orientadas de acordo com os pontos cardiais. São constituídas por dois pisos, estando o piso inferior ao nível do piso 1 do edifício conventual e o piso superior ao nível do piso 2 do mesmo.

Foto 262 – Vista geral sobre a ala Oeste do claustro. Perspectiva Este.

Cada uma das alas divide-se não só entre estes pisos mas também entre três tramos verticais ritmados por duas pilastras. Estas são constituídas por cantaria de calcário e desenvolvem-se desde o nível de circulação do piso 1 até ao topo do telhado, onde se encontram encimadas por uma cornija piramidal em cantaria calcária. O tramo central, limitado lateralmente por aquelas pilastras, é constituído por arcaria ao nível do piso 1 e por uma varanda ao estilo italiano de loggia ao nível do piso 2. A arcaria do tramo central é constituída por um conjunto de três arcos abatidos de aduelas em cantaria de calcário de moldura exógena no alçado exterior, que descarregam sobre lintéis apoiados em pilares de cantaria calcária. Dois destes pilares são autónomos, ao passo que os outros dois, que ocupam posição lateral, se anexam às já referidas pilastras.

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

255

A varanda, por seu turno, é constituída por sete colunas de estilo toscano, apoiadas em pedestais em cantaria de calcário, que se desenvolvem desde o nível de circulação do piso 2 até ao telhado, sustentando uma trave em cantaria de calcário onde aquele se apoia. Embora actualmente não haja qualquer tipo de resguardo entre as colunas, uma análise das faces laterais dos pedestais permitiu averiguar a presença de orifícios na base e topo dos mesmos, que sustentaria algum tipo de estrutura já desaparecida que desempenhasse essa função de resguardo. Cinco das colunas são autónomas, enquanto que duas delas, ocupando as posições laterais, anexam às pilastras.

Foto 263 – Vista geral sobre a ala Este do claustro. Perspectiva Oeste.

Cada um dos tramos laterais é, por sua vez, constituído por arcaria ao nível do piso 1, à semelhança do que acontece no tramo central, mas por dois vãos de sacada ao nível do piso 2. A arcaria destes tramos é constituída por dois arcos que assentam em lintéis apoiados em pilares em cantaria de calcário. O pilar do centro é perfeitamente autónomo enquanto os pilares laterais se anexam às pilastras. As arcarias dos tramos laterais, tipologicamente iguais à arcaria do tramo central, criam, apesar de separadas pelas pilastras, um efeito de continuidade em todo o piso 1 das alas. De notar que cada um dos arcos que se encontre implantado junto a um dos limites da ala partilha um pilar de sustentação com um arco da ala seguinte, reforçando o efeito visual de continuidade neste piso. Deste pilar partilhado parte um friso vertical em cantaria

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

256

calcária que se prolonga até ao nível do telhado, assinalando o canto criado pela junção de duas alas.

Foto 264 – Vista geral sobre a ala Norte do claustro. Perspectiva Sul.

As sacadas do piso 2 de cada tramo lateral das alas são em número de duas e encontram-se alinhadas com os arcos do piso 1 do mesmo tramo. São vãos de lintel e ombreiras em cantaria de calcário, de moldura exógena no alçado exterior. Uma análise das faces internas das suas ombreiras permitiu averiguar a presença de orifícios que se destinariam à sustentação de algum tipo de estrutura de resguardo da sacada. Também se constata, pela observação da face interna do lintel, a presença de dois orifícios, denunciando a possibilidade de aplicação de duas folhas, já desaparecidas, que fechariam à época conventual estas sacadas. Entre as duas sacadas constata-se, no alçado exterior, a presença de um friso vertical em cantaria de calcário, que se desenvolve desde o nível de circulação do piso 2 até ao nível do telhado. De notar que algumas das colunas do piso 2, maioritariamente localizadas nas alas Este e Oeste, não apresentam qualquer sinal de erosão (natural ou antrópica), pelo que julgamos serem já reconstituições das empreitadas de recuperação do edifício anteriores. Relativamente aos pilares do piso 1, todos se conservam originais, embora alguns tenham sofrido amputações parciais decorrentes da ocupação industrial do espaço. O quinto pilar da ala Este (a contar partindo de Norte), foi contudo Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

257

completamente recriado na presente empreitada, uma vez que tinha sido completamente amputado na época industrial. Sobre esta operação constam mais informações no capítulo dedicado ao acompanhamento arqueológico da presente empreitada.

Foto 265 – Vista geral sobre a ala Sul do claustro. Perspectiva Norte.

O piso de circulação do claustro foi, ao nível do piso 1, completamente adulterado na época industrial, quer sob a alçada das alas, quer sobre o pátio por elas formado. Não se detectam vestígios suficientes para tentar recriar o piso original. Encontram-se apenas, ao nível do piso 1, alguns vestígios de uma moldura lateral em cantaria de calcário (com cerca de 0,33 m de largura) anexa, nomeadamente, à parede exterior do compartimento 1 da ala Oeste do piso 1, ou refeitório, sob alçada da ala Oeste, e que presumimos se desenvolvesse ao longo de todas as paredes externas dos compartimentos que confinam com as quatro alas do claustro. É igualmente na ala Oeste que se encontram os vestígios de painéis de azulejos enxactados, nomeadamente ao nível da parede externa do ‘refeitório’ e junto à ombreira esquerda do vão de arco de acesso ao compartimento 2 da ala Oeste do piso 1, ou ‘ante-refeitório’, ambos no piso 1. Do mesmo modo, estes vestígios são constatáveis na ala Sul, na parede à direita do vão de arco de acesso ao compartimento 6 da ala Sul do piso 1, e ainda em vários pontos da parede externa do piso 1 do dormitório, sob alçada da ala Este. Nesta ala, os vestígios são suficientes para apurar o comportamento dos painéis que se desenvolviam desde o nível de Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

258

circulação até uma altura de 0,70 m. Especulamos que estes painéis se estendessem por todas as paredes externas dos compartimentos que confinam com as alas do piso 1 do claustro, sendo apenas interrompidos pelos vãos de passagem.

Foto 266 – Pormenor do vestígio do painel de azulejos detectado no piso 1 da ala Este do claustro, à direita do vão de arco industrial do extremo Norte desta ala. Perspectiva Oeste.

Quanto ao murete que, correndo entre os pilares do piso 1, separava as alas do pátio por elas definido, subsistem igualmente escassos vestígios. Destes, notam-se ténues vestígios, nomeadamente nas alas Oeste e Norte que, conjuntamente com os negativos detectados nas faces internas dos pilares, permitiram averiguar que se tratava de um murete com cerca de 0,25 m de altura e que seria revestido na face interna por azulejos enxactados, de resto semelhantes aos anteriores. Quanto ao piso de circulação do claustro no piso 2, foi profundamente intervencionado na presente empreitada, com vista a executar acções de consolidação das abóbadas de cobertura do piso 1, que na prática sustentavam este piso. Relativamente a esta acção, bem como ao piso existente antes desta ocorrer, disponibilizamos mais informações no capítulo dedicado ao acompanhamento arqueológico da presente empreitada. Como referido, a cobertura do piso 1 das alas do claustro faz-se em abóbadas de arestas construídas em tijolo ao cutelo e alinhadas com a arcaria destas alas, que descarregam tanto sobre os pilares que sustentam os arcos que a compõem, como sobre impostas apensas aos paramentos dos compartimentos que confinam com as quatro alas do claustro.

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

259

De notar que durante a época de ocupação industrial do edifício, foram desmontadas três destas abóbadas, totalmente refeitas no decurso desta empreitada com recurso a cimbres de madeira e a argamassa de betão. Esta operação será igualmente visada no capítulo dedicado ao acompanhamento arqueológico da presente empreitada. Uma destas abóbadas localiza-se na ala Sul, alinhada com o primeiro arco (contando de Este). As restantes duas encontram -se na ala Norte, alinhadas com o primeiro e o segundo arcos (contando de Este). De referir que na ala Este foram detectadas evidências de uma parede apensa à parede externa dos compartimentos que ali confinam com o claustro (a saber, pisos 1 e 2 dos dormitórios). Este fenómeno, comprovado pela análise transversal dos paramentos que nos foi permitida pela abertura de alguns vãos industriais, é datável do período de ocupação conventual, muito provavelmente contemporâneo da edificação do claustro, uma vez que se justifica pela necessidade de criar um paramento onde se implantassem as impostas e os demais elementos arquitectónicos necessários à construção das abóbadas daquela ala.

Foto 267 – Pormenor da parede apensa detectada no piso 2 da ala Este do claustro. Perspectiva Norte.

Não obstante, trata-se de um paramento apenas constatado na ala Este, pelo que deduzimos que esta solução arquitectónica tenha sido dispensada nas restantes alas.

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

260

Desconhecemos os motivos inerentes a essa dispensa, mas especulamos que o desmonte parcial dos paramentos existentes a fim de neles aplicar os elementos arquitectónicos necessários se tenha revelado mais prático e económico, em oposição à edificação de um paramento totalmente novo. Quanto à cobertura do piso 2 das alas do claustro, seria composta, muito provavelmente, por um tecto em madeira sobre o qual se erigia o telhado de cobertura do edifício. Na verdade, foi identificada, no piso 2 das quatro alas, uma reentrância que se desenvolvia ao longo dos paramentos exteriores dos compartimentos que com elas confinam. Trata-se de uma reentrância que, em algumas partes, ainda alberga uma trave de madeira e que se desenvolve ao nível da trave de cantaria sustentada pela colunata da varanda deste piso. Por se desenvolver ao mesmo nível, corresponderia a um travejamento plano e, portanto, compatível com um tecto e não com um travejamento de telhado. Para mais, a reentrância não se encontra ao nível mais alto dos paramentos dos compartimentos do piso 2, que se prolonga bastante acima dela. Por todos estes motivos, julgamos mais viável a possibilidade da existência de um tecto em madeira que cobrisse o piso 2 do claustro, acima do qual se desenvolveria o telhado de cobertura de todo o edifício. É certo que não poderemos excluir a hipótese deste tecto ser de origem industrial, pelo que a cronologia conventual atribuída aos vestígios do tecto detectados é, na melhor das hipóteses, especulativa. Actualmente não subsistem vestígios do telhado que originalmente cobria o edifício. No lugar desta cobertura original encontra-se actualmente um telhado criado de raiz numa das anteriores empreitadas de consolidação e recuperação do convento, cujo travejamento é visível sobre as alas do piso 2 do claustro. Feita que está a descrição geral das características arquitectónicas do claustro, passamos a descrever algumas das características particulares das suas alas. Não voltaremos a debruçar-nos sobre os vãos de origem industrial, activos ou emparedados, que das alas abram para os compartimentos que com elas confinam, uma vez que sobre eles já reflectimos aquando da análise arquitectónica de cada um desses compartimentos. Abriremos, no entanto, excepção sempre que os vãos, ou outros elementos arquitectónicos, sejam visíveis apenas nos alçados exteriores dos compartimentos.

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

261

3.2.4.1. Ala Este, piso 1

Foto 268 – Vista geral sobre o piso 1 da ala Este do claustro. Perspectiva Oeste.

Apesar de serem inúmeros os vão abertos no alçado exterior do dormitório do piso 1 (compartimento que confina com esta ala), nenhum nos pareceu de cronologia seguramente conventual. Todos se encontram emparedados, acções decorridas tanto ainda em época industrial como na presente empreitada. Apenas um vão de cronologia industrial permanece activo, localizando-se no extremo Norte desta ala. Recordamos que não excluímos a possibilidade de este arco ter sido obtido a partir do alargamento de um vão de passagem conventual, embora não existam elementos que corroborem esta hipótese. De referir ainda que, tal como explorámos aquando da análise do compartimento de acesso ao compartimento 3 da ala Sul do piso 0, foram detectadas evidências de uma área de circulação ao nível do piso 0 abaixo da alçada do último arco desta ala (a contar de Norte). Na realidade, os pilares sobre os quais assenta este arco assentam por seu turno em pilares de secção mais larga que se articulam com um vão de porta e de janela, abertos naquele compartimento para o claustro. No capítulo que dedicámos à descrição arquitectónica desse compartimento expusemos algumas hipóteses para

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

262

explicar este fenómeno e recomendámos a realização de uma sondagem nesse local, de forma a recolher mais informações que nos permitam compreender melhor o modo como se desenvolveria o piso 0 do claustro. Lembramos que a abertura de tal sondagem não se articula com os objectivos da presente empreitada, motivo pelo qual não nos foi possível proceder à sua abertura.

3.2.4.2. Ala Este, piso 2

Foto 269 – Vista geral sobre o piso 2 da ala Este do claustro. Perspectiva Norte.

Neste piso da ala nascente do encosto de paramentos criado, como já referido, aquando da edificação deste claustro. Para além dos já descritos vãos industriais, abre-se um vão de origem conventual, igualmente já descrito, localizado no extremo Sul desta ala, confrontando directamente com a ala Sul. Desconhecemos se terá havido ou não intenção de abrir um vão semelhante no extremo Norte da presente ala, que confrontasse directamente com a ala Norte. Não obstante, verifica-se ali um alinhamento entre paramentos de argamassas distintas. Especulamos que, no momento em que se ergueu o paramento apenso à parede exterior da ala Este, se tenha deixado por preencher um espaço que, estando destinado à concretização deste vão, implicaria o desmonte da parede preexistente do dormitório. Uma vez que esse desmonte não se verificou aquando da análise das características arquitectónicas daquele compartimento, estamos certos de que nunca terá ocorrido. Por motivos que desconhecemos, o vão previsto não se concretizou, tendo posteriormente sido preenchido o espaço do paramento apenso a ele destinado Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

263

com alvenaria de pedra unida por argamassa de argila, que veio, por sua vez, encostar à direita ao paramento apenso (em argamassa de cal) e à esquerda à parede da ala Norte do claustro. Já em época industrial foi aberto, através do desmonte deste tramo de aparelho em argamassa de argila, um vão que, não ultrapassando a totalidade da espessura da parede, se destinaria com certeza a albergar algum aparato fabril. Trata-se de um vão rectangular horizontal encimado por tijolos alveolares, assim como por um orifício vertical realizado também através do desmonte do aparelho. Apresenta no seu interior dois suportes em ferro, embutidos na sua parede do fundo.

Orifício Superior altura

0,50 m

largura

0,23 m

profundidade máxima

0,55 m

Vão Inferior altura

0,80 m

largura

1,50 m

profundidade

0,60 m

Foto 270 – Vista geral sobre o emparedamento conventual executado no extremo Norte do piso 2 da ala Este, assim como do vão e orifício industriais nele abertos. Perspectiva Oeste.

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

264

3.2.4.3. Ala Norte, piso 1

Vão de Armário Industrial altura

1,80 m

largura

6,50 m

profundidade

0,30 m

Foto 271 – Vista geral sobre o piso 1 da ala Norte do claustro. Perspectiva Oeste. Destaque para o vão de armário embutido, de cronologia industrial, à direita.

Para além dos vãos das paredes que separam esta ala dos compartimentos 1, 2, 3 e 4 da ala Norte do piso 1, salientamos a presença de um cunhal detectado à direita da passagem para o compartimento da ‘porta do carro’, ou compartimento 3 da ala Norte do piso 1, e que testemunha o final do momento construtivo em que foram erguidos os compartimentos 1 e 2 dessa ala. Este cunhal tem prolongamento no piso 2.

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

265

Foto 272 – Vista geral sobre o cunhal detectado à direita da passagem de acesso ao compartimento da ‘porta do carro’ no piso 1 da ala Norte do claustro (setas vermelhas). Perspectiva Sul.

A passagem que dá acesso ao compartimento da ‘porta do carro’, abre ao centro desta ala e demonstra uma falta de cuidado que não é típica da construção deste edifício. Recordamos que não apresenta qualquer tipo de acabamento, revelando até um grande descuido programático ao nível da ligação entre as abóbadas de cobertura do trânsito e as de cobertura desta ala. Especulamos se neste local se abriria um vão de arco, à semelhança do que se abre ao centro da ala Oeste ou ao centro da ala Sul (com o qual aliás esta passagem confronta). Caso este arco alguma vez tenha existido, é possível que tenha sofrido igual destino ao da própria ‘porta do carro’, desmontada na época industrial para permitir o acesso ao centro do pátio do claustro a veículos de maior porte. Ainda em relação a esta ala, refira-se a existência de um grande tramo de desmonte no aparelho da parede que a separa do compartimento da adega, efectuado na época conventual. Tem início imediatamente à esquerda da passagem anterior e prolonga-se até ao centro da parede daquele compartimento, sendo interrompido pela abertura dos vãos de porta industriais dessa parede que se localizam, como já foi referido, ao centro da mesma. Trata-se de um vão rectangular horizontal, aberto a cerca de 0,30 cm do nível de circulação. Desconhecemos a sua função, embora especulemos que

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se destinasse a albergar algum tipo de armário embutido ou qualquer outro aparato industrial.

3.2.4.4. Ala Norte, piso 2

Foto 273 – Vista geral sobre o piso 2 da ala Norte do claustro. Perspectiva Oeste.

Neste piso da ala Norte salientamos a existência de um nicho detectado à esquerda do topo do vão de arco de acesso ao compartimento 1 da ala Norte do piso 2, que por sua vez se localiza no extremo Este desta ala. Trata-se de um nicho subquadrangular, afunilando um pouco para o interior e encimado por uma pequena trave de madeira. Tem as suas paredes internas rebocadas a argamassa de cal e caiadas de branco. Não estamos seguros quanto à sua função ou cronologia, embora especulemos tratar-se de um nicho de origem conventual, destinado a albergar algum ícone religioso.

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altura

0,60 m

largura

0,50 m

profundidade

0,62 m

Foto 274 – Vista geral sobre o nicho detectado à direita do vão de arco de acesso ao compartimento 1 da ala Norte do piso 2.

À direita do mesmo arco é possível verificar como o paramento encosta à parede do dormitório, sendo por isso uma construção posterior. A este paramento encosta, por sua vez, o já referido paramento em argamassa de argila do extremo Norte da ala Este. Ainda nesta ala verifica-se, como já referido, o prolongamento do cunhal observado à direita da passagem para o compartimento da ‘porta do carro’ e que se desenvolve até ao topo da parede deste piso.

3.2.4.5. Ala Oeste, piso 1

Nesta ala nada há a assinalar que não tenha já sido descrito aquando da análise arquitectónica dos compartimentos que com ela confinam, os compartimentos 1, 2 e 3 da ala Oeste do piso 1, ou ‘refeitório’, ‘ante-refeitório’ e ‘cozinha’. Recordamos apenas que à excepção do vão de arco de acesso ao ‘ante-refeitório’, aberto ao centro do alçado desta ala, nenhum outro vão, activo ou emparedado é de origem conventual.

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Foto 275 – Vista geral sobre o piso 1 da ala Norte do claustro. Perspectiva Norte.

3.2.4.6. Ala Oeste, piso 2

Do mesmo modo também neste espaço não existe nada a assinalar. Este piso da ala Oeste confina com o topo das paredes e com as abóbadas de cobertura dos compartimentos do ‘refeitório’, ‘ante-refeitório’ e ‘cozinha’. Encontra-se o aparelho bem preservado, não tendo sido perturbado pela ocupação industrial do edifício, excepção feita à abertura de um vão de porta de acesso ao piso industrial criado ao nível intermédio da ‘cozinha’, a que já nos referimos aquando da descrição das características arquitectónicas deste espaço.

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Foto 276 – Vista geral sobre o piso 2 da ala Oeste do claustro. Perspectiva Sul.

3.2.4.7. Ala Sul, piso 1

Foto 277 – Vista geral sobre o piso 1 da ala Sul do claustro. Perspectiva Oeste.

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Ao centro desta ala abre-se, como já referido, o vão de arco de acesso ao compartimento 6 da ala Sul do piso 1, um corredor de acesso ao logradouro. Voltamos a salientar que este arco encosta tanto ao paramento da sua direita, como ao cunhal que remata a edificação da sua esquerda. Trata-se portanto de um arco criado num momento posterior à edificação das paredes, e como veremos atempadamente, dos edifícios que o ladeiam. O cunhal que é pois visível à esquerda deste arco, testemunha o fim da edificação do compartimento da sala do capítulo e o seu prolongamento para o piso 2 seria seguramente visível, não fosse o desmonte do aparelho que, como veremos, foi ali levado a cabo na época industrial. Recordamos que um cunhal semelhante foi identificado aquando da análise arquitectónica do alçado Sul, rematando o canto Sudoeste dos compartimentos 1 da ala Sul do piso 0, ou ‘sala do capítulo’, e 6 da ala Sul do piso 2, ou ‘noviciado’, que se lhe sobrepõe, ao passo que este cunhal, alinhado com o anterior, remata o canto Noroeste dos mesmos espaços. Ambos estão, por seu turno, alinhados com o cunhal que, como vimos à direita da passagem para o compartimento da ‘porta do carro’, rematava o canto Sudoeste do compartimento 2 da ala Norte do piso 1, assim como do compartimento que se lhe sobrepõe.

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Foto 278 – Vista geral sobre detectado à esquerda do arco de compartimento 6 da ala Sul do claustro (setas azuis). Perspectiva

o cunhal acesso ao piso 1 do Norte.

À direita do arco de acesso ao trânsito do logradouro, por sua vez, o paramento ao qual este arco também encosta apresenta dois vãos de janela e um vão de porta emparedados ainda no decurso do período de ocupação conventual deste espaço, com recurso a materiais característicos da época, entre eles argamassa de argila. O vão de porta, a uma cota demasiado baixa para ter funcionado à época conventual, assim como o vão de janela que se lhe sobrepõe, já foram explorados aquando da descrição arquitectónica do corpo de escadas que une na ala Sul os pisos 1 e 2 do edifício. À direita destes abre-se um vão de janela, tipologicamente igual ao anterior e que abriria para o compartimento da ‘amaçaria’, embora não fosse visível no seu interior, com certeza à conta da abertura de um dos vãos industriais que naquela parede abriam para este compartimento, e aos quais já nos reportámos. Encontra-se igualmente emparedado com materiais cronologicamente datáveis da época conventual, como tijolos maciços finos e argamassa de argila.

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Foto 279 – Vista geral sobre os vãos emparedados no piso 1 da ala Sul do claustro (tracejado amarelo). Perspectiva Nordeste.

Estes três vãos, cujas cotas e articulação com os compartimentos interiores não se coadunam com uma projecção de raiz para os espaços em que se encontram são, como veremos, argumentos favoráveis à hipótese de preexistência de um de dois edifícios posteriormente incorporados na edificação do edifício conventual.

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3.2.4.8. Ala Sul, piso 2

Foto 280 – Vista geral sobre o piso 2 da ala Sul do claustro. Perspectiva Este.

Ao nível do piso 2 da ala Sul as evidências da preexistência deste edifício continuam. Recordamos que ali abre um vão de porta conventual de acesso ao corpo de escadas que une na ala Sul os pisos 1 e 2. Ladeando este vão posicionam-se dois vãos de janela emparedados que abrem para o corpo de escadas e para o compartimento 3 da ala Sul do piso 2, cuja tipologia e materiais de emparedamento são iguais aos verificados no piso 1, sobre os quais aliás estes se localizam (embora não propriamente alinhados com eles). À semelhança do que ocorre com os vãos emparedados do piso 1, estes vãos também não se articulam com os espaços para os quais abriam, encontrando-se descentrados relativamente a cada um desses compartimentos.

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Foto 281 – Vista geral sobre os vãos emparedados no piso 2 da ala Sul do claustro (tracejado amarelo). Perspectiva Nordeste.

Especulamos, por todas estas evidências que estes vãos do piso 2, bem com o os do piso 1, pertenceriam a um edifício de dois andares preexistente que, ao ser incorporado no novo edifício conventual, viu os seus espaços internos serem convertidos às novas funções a que passaram a destinar-se. Nessa altura, os primitivos vãos deixaram de estar articulados com os novos espaços internos, tendo por isso sido alvo de emparedamento. A existência de edifícios anteriores que tenham sido incorporados na edificação do Convento de São Francisco da Ponte será atempadamente analisada e reforçada com outros argumentos. Ao extremo Oeste da ala Sul do claustro abre-se, como já referido, um vão de arco de origem conventual de acesso ao compartimento 1 da ala Sul do piso 2. Recordamos que o paramento envolvente deste arco encosta à parede da sua esquerda, mais concretamente a um cunhal ali detectado. Este cunhal deverá testemunhar uma reparação ao edifício preexistente, levada a cabo com certeza aquando da edificação do claustro, uma vez que se apresenta em cantaria calcária cuja tonalidade e forma de talhe em tudo se assemelha à cantaria utilizada na construção do claustro.

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Foto 282 – Vista geral sobre o cunhal detectado à esquerda do vão de arco do extremo Oeste do piso 2 da ala Sul do claustro (em segundo plano). Destaque para as semelhanças com a cantaria aplicada no canto Sudoeste do claustro (em primeiro plano, à esquerda).

Ao centro do alçado do piso 2 da ala Sul, abre-se um vão de acesso ao compartimento 4 da presente ala, que sendo de cronologia industrial deverá ter, como já expusemos, sido aberto a partir do alargamento de um vão de cronologia conventual. À esquerda deste vão encontra-se um desmonte do aparelho, realizado à época industrial. Tratase de um vão rectangular horizontal. Uma vez que se encontra alinhado com um conjunto de quatro sapatas de betão armado, implantadas no piso de circulação, torna-se provável que este vão tenha sido aberto a fim de criar o espaço suficiente para ali albergar algum aparato industrial de grandes dimensões. Recordamos que no extremo Oeste da parede Norte do compartimento do ‘noviciado’ se detectou um vão de porta aberto e emparedado na época industrial. Este vão é visível precisamente no interior do vão destinado aquele aparato.

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altura máxima largura profundidade

2,20 m 3m 0,36 m

Foto 283 – Vista geral sobre o desmonte industrial detectado no piso 2 da ala Sul do claustro. Destaque para o conjunto de sapatas ao nível do piso de circulação. Perspectiva Noroeste.

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3.2.5. OS ALÇADOS EXTERIORES

O estudo de alçados do ponto de vista da arqueologia da construção implica necessariamente a sua descrição estratigráfica. Para tal torna-se imprescindível o levantamento gráfico dos mesmos que, dado o propósito a que se destinam, só poderão ser executados no caso de os alçados se encontrarem desprovidos de reboco. No caso do Convento de São Francisco da Ponte, dos alçados interiores apenas o denominado ‘alçado Sul’ se encontrava nessas condições. Por esse motivo, apenas aquele alçado foi alvo de descrição estratigráfica, permitindo por isso uma maior descrição dos seus materiais e momentos construtivos. Não obstante, os demais alçados foram igualmente alvo de análise e interpretação, desta feita bem mais limitada por se encontrarem rebocados. Quanto aos alçados exteriores voltados para as alas do claustro, não foram, por motivos alheios à nossa vontade, alvo de levantamento gráfico. Por esta razão, foram exaustivamente analisados, descritos e fotografados (à semelhança dos restantes paramentos do edifício), com o objectivo de serem interpretados quanto aos seus programas e momentos construtivos. De referir que todos os vãos do edifício foram estudados e descritos aquando da análise da arquitectura dos espaços interiores. Por este motivo não voltaremos neste capítulo a descrever as suas características tipológicas ou morfológicas. Qualquer questão relativa ao tipo ou à forma dos vãos a que nos referiremos de seguida poderá, naturalmente, ser esclarecida através da leitura dos capítulos dedicados à análise dos pisos 0, 1 e 2. Os alçados do edifício de São Francisco da Ponte reflectem a tendência do estilo Chão para a aplicação da pedra enquanto elemento construtivo responsável por definir os limites dos tramos de parede caiados de branco, por salientar as intervenções ocorridas nas paredes (como sejam portas ou janelas), ou por estabelecer a hierarquização dos espaços através da proporção entre a importância destes e a quantidade de pedra neles empregue. Esta tendência é tanto mais evidente nos alçados exteriores, em geral mais visíveis, em particular no alçado principal, voltado a Este.

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3.2.5.1. Alçado Este

O alçado Este é simultaneamente o alçado principal do edifício. Dele constam a fachada principal da igreja, à direita da qual se anexa a fachada da ‘portaria’, da ‘biblioteca’ e dos três pisos de dormitórios.

Foto 284 – Vista geral sobre a fachada principal da igreja de São Francisco da Ponte. Perspectiva Este.

Já antes tínhamos referido que não faria parte do presente trabalho a análise da arquitectura da igreja, por não se tratar de um edifício abrangido pela presente empreitada. Não obstante, convém tecer algumas considerações sobre a sua fachada, de modo a compreender como se articula esta parte do edifício com os demais a ela anexos. A fachada da igreja de São Francisco da Ponte distingue-se do resto do alçado Este por uma maior complexidade ornamental e estilística, assim como por um maior recurso à pedra, que marca profundamente a fachada através de frisos, entablamentos, cunhais, pilastras e molduras dos vãos. Não será de estranhar a forma propositadamente acentuada com que se estabelece a diferenciação desta fachada relativamente ao restante alçado, visto tratar-se do espaço mais importante do edifício.

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De um modo genérico, a fachada desenvolve-se em três tramos sobrepostos, separados entre si por um friso em cantaria. O tramo inferior abre, ao nível do piso 0 do edifício, através de uma arcaria para o nartex da igreja. Ainda neste tramo, embora ao nível do piso 1, sobressaem na fachada quatro entablamentos, que poderão corresponder a janelas emparedadas ainda no período de ocupação conventual do edifício. No tramo intermédio, ao nível do piso 2, abrem-se cinco janelas que iluminam o coro da igreja. No tramo superior, acima de qualquer nível do edifício, abre-se apenas um nicho, ocupado pela imagem de Nossa Senhora da Conceição, ladeado pelas imagens de São Francisco de Assis e de Santo António, os padroeiros da congregação, localizados ao topo de duas pilastras que segmentam verticalmente a fachada da igreja. A fachada da igreja não é avançada relativamente ao resto do alçado, como acontece por vezes noutros edifícios da época, embora seja separada dele através de uma pilastra encimada por uma cornija piramidal. À direita desta pilastra anexa o restante alçado do edifício, composto por um corpo de três pisos sobrepostos, ao qual se anexa o corpo dos dormitórios, igualmente de três pisos sobrepostos e paralelos aos do corpo anterior, do qual se separa através da aplicação de uma pilastra.

Foto 285 – Vista geral sobre o alçado Este do Convento de São Francisco da Ponte. Perspectiva Sudeste.

Em cada um dos pisos do corpo imediatamente anexo à direita da fachada da igreja abrem-se dois vãos de janela de grandes dimensões, perfeitamente alinhados verticalmente de piso para piso. Não se encontram centradas relativamente ao tramo deste corpo, mas antes alinhadas à direita e à esquerda, quase de forma anexa à pilastra que o separa, respectivamente, do corpo dos dormitórios e da igreja. São, em Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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todos os casos, de avental, apesar de este tipo de parapeito ser visível no alçado exterior apenas ao nível do piso 0. No piso 0 (o piso inferior) estas duas janelas iluminam respectivamente a ‘portaria’, à qual se acede através do nartex da igreja, e à ‘casa de dentro da portaria’, à qual por sua vez se acede através da primeira. No piso 1 (o piso intermédio), as duas janelas iluminam a sala que terá servido de ‘biblioteca’. Da análise deste espaço resultou a detecção de uma antiga passagem na parede que o separa do nartex. Contudo, o nartex apresenta-se presentemente em duplo pé-direito e coberto por uma abóbada de berço. Pelos já mencionados entablamentos que se verificam a este nível na fachada da igreja (e que poderão na realidade corresponder a janelas emparedadas), especulamos que, numa fase primitiva da construção do edifício, existisse um piso no prolongamento da biblioteca sobre o nartex, anulado posteriormente pela construção da abóbada que hoje cobre este espaço. O piso 2 (o piso superior) do corpo anexo à direita da fachada da igreja encontra-se separado do piso 1 por um friso em cantaria. Nele abrem-se duas janelas para um espaço amplo que, dadas as alterações ocorridas na fase de ocupação industrial no interior deste piso, não apresenta qualquer parede divisória. Não obstante, dados os negativos de parede verificados, especulamos que ambas as janelas iluminassem o interior de um espaço autónomo de acesso ao coro da igreja, eventualmente usado pelos frades para algum ritual de preparação que antecedesse a sua entrada no espaço sagrado da igreja. Anexo à direita deste corpo encontra-se uma pilastra em cantaria que limita a Sul a fachada dos dormitórios. A Norte, a mesma fachada é igualmente limitada, desta feita pelo cunhal em cantaria que determina o ponto de encontro entre o alçado Este e o alçado Norte do edifício. A fachada dos dormitórios é composta por três pisos sobrepostos, paralelos aos tramos do corpo anterior. Imediatamente à direita daquela pilastra, assim como à esquerda do cunhal, abrem-se as janelas que iluminam os corpos de escadas que permitiam a ligação vertical entre os três pisos dos dormitórios. As janelas são de pequenas dimensões e encontram-se perfeitamente alinhadas na vertical. Encontramos três destas janelas espaçadas uniformemente entre os pisos 0 e 1 e apenas uma no piso 2. Entre os dois corpos de escadas localizam -se, em cada piso, catorze celas separadas daqueles corpos, a Sul e a Norte, por trânsitos laterais e divididas em dois conjuntos Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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de sete por um trânsito central. Esta organização reflecte-se, naturalmente, na fachada exterior. Cada um dos trânsitos é iluminado por uma janela de grandes dimensões, que se encontram verticalmente alinhadas nos três pisos. As janelas dos trânsitos do piso 0 são ligeiramente menores do que as suas congéneres dos pisos 1 e 2 e são servidas de avental. De notar que na janela do trânsito central deste piso este tipo de parapeito foi amputado na fase de ocupação industrial do edifício, transformando deste modo a janela em porta, servida no exterior por uma escadaria ainda visível no alçado que remontará com certeza ao mesmo período cronológico em que tal amputação ocorreu. Nos pisos 1 e 2 as janelas dos trânsitos são exactamente do mesmo tamanho, embora ligeiramente maiores às suas congéneres do piso 0. Não são de avental, encontrandose o parapeito substituído por um gradeamento em ferro forjado, cuja cronologia, especulamos seja conventual. Quanto às janelas das celas, encontram-se perfeitamente alinhadas entre os três pisos e, como já referido, em dois conjuntos de sete separados pela janela do trânsito central. No piso 0, onde as celas se destinariam aos frades de menor condição hierárquica, as janelas são de menores dimensões que as suas congéneres dos pisos 1 e 2 e encontram-se servidas de avental. Nos pisos 1 e 2, as janelas de iluminação das celas são exactamente do mesmo tamanho, não se verificando nelas a presença de avental. De notar que o piso 2 (o piso superior) se encontra no alçado separado dos pisos 0 e 1 por um friso em cantaria, à semelhança do que se verificava no corpo imediatamente anexo à direita da igreja, onde um friso semelhante separava o piso 2 dos pisos 0 e 1. Desta forma, cria-se no alçado Este a sensação de diferenciação de pisos, sendo nitidamente destacado o piso superior dos pisos inferior e intermédio. O facto de o acesso ao coro, espaço onde assistiam os frades às cerimónias religiosas, se efectuar através do piso superior não deverá ser mera coincidência arquitectónica. Na realidade, esta disposição obrigaria todos os frades a deslocarem-se ao piso de superior posição antes de acederem ao espaço mais sagrado de todo o edifício conventual, a igreja. Por este motivo o espaço que antecedia o coro encontra-se igualmente demarcado por um friso no alçado exterior.

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O piso 2 é, sem dúvida, salientado no alçado Este pela presença daquele friso, de forma a destacar a importância daqueles que o ocupavam e a reverência do espaço que o separava da igreja. Este piso é em todo o alçado suplantado em altura apenas pela parte superior da fachada da igreja, reservada às imagens de Nossa Senhora da Conceição, de São Francisco de Assis e de Santo António, os padroeiros da congregação. De referir ainda que todo o alçado Este se encontra assente sobre uma parede responsável pela contenção dos detritos que nivelam o terreno onde se implanta o edifício. Inicialmente, especulámos sobre a existência de alguma estrutura interior (por exemplo, um criptopórtico), que nivelasse o terreno enquanto simultaneamente sustentasse o edifício. A abertura de uma vala transversal ao piso 0 para aplicação de tubagem, que será alvo de estudo no capítulo dedicado ao acompanhamento arqueológico, permitiu contudo verificar a inexistência de tal estrutura. A vala demonstrou que a ala dos dormitórios se encontra, na realidade, assente sobre terra. Infelizmente, a ausência de materiais dela exumados impede-nos de tecer considerações sobre a origem dessa terra. Não obstante, estamos na posição de afirmar com segurança que a parede sob o alçado Este, visível do exterior do edifício, não oculta nenhuma estrutura, mas antes serve apenas para sustentação de um aterro, bem como para nivelamento do terreno para a edificação do edifício. A mesma parede é visível sob a fachada da igreja. Dado que se localiza imediatamente abaixo da arcaria do nartex, é de supor que a esta parede anexasse ali algum tipo de acesso, quer ele fosse em forma de escadaria ou em forma de caminho.

3.2.5.2. Alçado Norte

Como próprio nome indica este é o alçado que limita a Norte o edifício conventual. À época de ocupação industrial do edifício foram erguidos, de frente para este alçado novos edifícios, já demolidos. Destes resta apenas a escadaria que, de forma anexa ao alçado, separava o edifício conventual dos novos edifícios fabris, estabelecendo ligação pelo exterior entre o piso 0 e o piso 1. Do mesmo modo, as alterações decorrentes no período de ocupação industrial neste alçado foram elevadas, tendo muitos dos seus aspectos conventuais sofrido profundas modificações. Destas restam apenas alguns exemplos (dado que este alçado foi já Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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alvo de intervenções com vista à recuperação da sua traça original), como sejam a ampliação da denominada ‘porta do carro’, a amputação do parapeito em forma de avental do vão de janela que abre para o corredor principal dos dormitórios do piso 0 ou o chanfro da extremidade Oeste deste alçado, todos ainda visíveis. De um modo geral pode dizer-se que as intervenções levadas a cabo nas últimas empreitadas com vista a recuperar a traça conventual deste alçado foram bem sucedidas. Os vãos que tinham sido abertos aquando da ocupação industrial do edifício foram fechados, ao passo que aqueles que, sendo de origem conventual sofreram alterações formais na época industrial, foram intervencionados no sentido de recuperar o seu formato original (à excepção da já referida ‘porta do carro’). O alçado Norte desenvolve-se em três pisos, 0, 1 e 2, embora o piso 0 não alcance a totalidade do comprimento do alçado, visto se encontrar a ala Norte do edifício conventual (à semelhança da ala Sul) construída em patamares. Programada desta forma, a construção do edifício permitiu vencer o desnível natural do terreno em que se implanta.

Foto 286 – Vista geral sobre o alçado Norte do Convento de São Francisco da Ponte. Perspectiva Nordeste.

Em todo o alçado sobressaem fundamentalmente dois elementos arquitectónicos. O primeiro é a chamada ‘porta do carro’, aberta ao nível do piso 1, de forma central face ao comprimento do alçado. O segundo é um friso em cantaria de calcário que, à semelhança do que ocorria no alçado Este, separa o piso 2 do piso inferior, sendo,

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contudo, interrompido à direita do alçado pela abertura de dois grandes vãos de janela do refeitório. Ao nível do piso 0 abre-se um vão de porta, à esquerda do alçado, de acesso ao corredor principal do piso 0 dos dormitórios. Trata-se, contudo de um vão de janela conventual, transformado na época industrial em vão de porta. Deste modo, este vão encontra-se no alinhamento dos vãos de janela de iluminação aos corredores principais dos dormitórios dos pisos 1 e 2, que apresentam aliás, as mesmas formas e dimensões deste vão. À direita deste vão abre-se novo vão de porta, de dimensões inferiores, que dá acesso a uma sala que antecede a latrina. Apesar de desconhecermos os motivos inerentes à projecção desta porta, estamos seguros quanto à sua cronologia conventual. Por este motivo, especulamos que estivesse de algum modo relacionada com funções de manutenção à latrina, sem que para tal quem as executasse não necessitasse de entrar no dormitório do piso 0 (o único pelo qual se tinha acesso à latrina). Ao nível do piso 0 abrem-se ainda dois vãos de janela. Tendo sido programados para abrir junto ao tecto dos espaços interiores, encontram-se sensivelmente alinhados com o topo superior do vão de porta de maiores dimensões já referido (estando o da direita ligeiramente rebaixado face ao da esquerda. O primeiro destes vãos, à direita e acima do vão de porta de menores dimensões, abre, tal como esta porta, para a sala que antecede a latrina, enquanto o segundo abre directamente para a latrina. Tratam-se de dois vãos de reduzidas dimensões e, tal como referido, abertos ao nível do tecto dos espaços interiores para os quais abrem, cumprindo dessa forma duas funções fundamentais. Estavam projectadas para iluminar os espaços interiores, mantendo contudo a privacidade exigida a espaços relacionados com a satisfação de necessidades fisiológicas, e impediam tentativas indesejadas de invasão, ou mesmo de evasão, reforçando inclusive os vãos com gradeamento. O primeiro destes vãos (à esquerda) encontra-se alinhado com dois vãos de janela, que se encontram respectivamente no piso 1 e 2. O mesmo não acontece com o segundo (o da direita), que não se encontra no alinhamento de nenhuma janela. Ao nível do piso 1 abre-se, ao centro, a denominada ‘porta do carro’, ladeada à esquerda e à direita por um conjunto de três vãos de janela. Como já referido, a ‘porta do carro’ não se encontra com a sua forma ou dimensões originais. Foi ampliada na época de ocupação industrial do edifício, para possibilitar a passagem de veículos de maiores dimensões. Actualmente não possui ombreiras, encontrando-se encimada por

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um arco abatido de tijolos maciços ao cutelo, de cronologia industrial, que apoia directamente nas paredes laterais do corredor a que o vão dá passagem. Especulamos, dada a total ausência de vestígios conventuais, que este vão se assemelhasse aos seus homólogos do corredor que a Sul une o claustro ao logradouro. É pois bastante provável que a ‘porta do carro’ se apresentasse originalmente em arco de volta perfeita adintelado em cantaria de calcário, de moldura exógena em ambos os alçados.

Foto 287 – Vista geral sobre o alçado Norte do Convento de São Francisco da Ponte. Perspectiva Norte.

Como referido, este vão encontra-se ladeado por dois conjuntos de três vãos de janela cada. À sua direita os três vãos de janela, espaçados regularmente, apresentam-se inalterados desde a época conventual. Encontram-se alinhados entre si, assim como em alinhamento com três vãos de janela que se encontram abertos ao nível do piso 2. À esquerda da ‘porta do carro’ abrem-se igualmente três vãos de janela que se encontram espaçados regularmente entre si, e que estariam todos alinhados ao mesmo nível dos vãos da direita, não fosse o rebaixamento a que o último vão da esquerda foi sujeito ainda durante a época conventual. Não obstante, encontram-se todos alinhados com três vãos que se abrem ao nível do piso 2. À esquerda do alçado, ainda ao nível do piso 1, abre-se um grande vão de janela que iluminava o interior do corredor principal do dormitório do piso 1, alinhado com o vão de porta de maiores dimensões que abre no piso 0, bem como com um vão de janela homólogo que abre ao nível do piso 2.

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Ainda ao nível do piso 1 abre-se, à direita do alçado, um par de vãos de janela de grandes dimensões que iluminam o interior do refeitório. Uma vez que este compartimento é de duplo pé-direito, não é de estranhar que os vãos ultrapassem em altura o nível do piso 1, prolongando-se para o piso 2 e interrompendo, deste modo, o friso de cantaria de calcário que, como já referido, separa estes dois pisos. Não se vislumbram, por de trás do reboco e da pintura que cobrem o alçado Norte, vestígios dos óculos que, no interior do refeitório, foram detectados encimando estes vãos. Ao nível do piso 2, que como já mencionado se encontra separado por um friso em cantaria de calcário do piso inferior, abrem-se oito vãos de janela. Iremos tratá-los da esquerda para a direita, uma vez que se encontram dispostos de forma mais irregular do que os seus congéneres inferiores. O primeiro dos vãos de janela abre-se para o que seria o corredor principal do dormitório do piso 2. Trata-se de um vão de grandes dimensões, semelhante em forma e tamanho aos vãos de porta e janela do piso 0 e do piso 2, respectivamente, com os quais se encontra alinhado. À direita deste vão abrem-se três vãos de janela morfologicamente semelhantes, alinhados entre si e espaçados regularmente. Encontram-se, como já referido, alinhados com três vãos de janela abertos ao nível do piso 1, embora sejam tipologicamente distintos deles. O primeiro destes vãos possui um novo peitoril em cantaria de calcário, sendo toda a restante moldura, igualmente em cantaria de calcário, conventual. Os restantes vãos são integralmente da época conventual. À direita destes vãos abrem-se dois vãos de janela, o primeiro dos quais encimando a ‘porta do carro’, ao passo que o segundo se encontra perfeitamente alinhado com o vão de janela imediatamente à direita daquela ‘porta’. Encontram-se ambos no seu contexto original e sem alterações ocorridas na época industrial ou durante as empreitadas mais recentes. Estão alinhadas com os vãos anteriores ao nível do peitoril embora, sendo mais altas, ultrapassem ligeiramente o nível do lintel das suas antecessoras. À direita destes vãos abre-se um vão de janela que nos levanta algumas reservas. Sendo mais baixo e mais largo que os vãos anteriores, tem o seu lintel alinhado com os três vãos de janela imediatamente à direita do primeiro vão deste nível e encontrase alinhado com um vão de janela aberto ao nível do piso inferior (o segundo à direita da ‘porta do carro’). Quanto ao seu peitoril, foi aplicado recentemente de modo a ficar alinhado com o peitoril de todas as janelas deste nível (à excepção do primeiro vão,

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que é de todos o que possui o peitoril mais baixo). No entanto, uma análise cuidada das ombreiras desta janela (que são efectivamente originais), efectuada no interior do compartimento para o qual ela abre, permitiu detectar uma amputação do que terá sido em tempos um peitoril em forma de avental. Deste modo, especulamos que esta janela estivesse originalmente munida de avental para o alçado exterior, alterando ligeiramente o aspecto do alçado Norte, nesta área em particular. O último dos vãos de janela abertos ao nível do piso 2 possui lintel, obreiras e peitoril completamente novos, tendo claramente sido reconstituído numa tentativa de imitar, em dimensão, em forma e no alinhamento, o vão de janela que encima a ‘porta do carro’, bem como aquele que se encontra à direita deste. Encontra-se igualmente alinhado com um vão de janela aberto ao nível do piso inferior (o terceiro à direita da ‘porta do carro’). A análise deste vão a partir do interior do compartimento para o qual abre, não permitiu a recolha de elementos suficientes para tentar adivinhar o seu formato original, tal era o nível de alteração a que foi sujeito durante a fase de ocupação industrial do edifício. Contudo, os paramentos interiores que envolvem e encimam este vão e que são de origem conventual, são bem distintos do restante paramento do compartimento, sugerindo inclusivamente uma fase posterior de construção (ver capítulo dedicado à análise da arquitectura dos compartimentos da ala Norte do piso 2) e assemelham-se bastante aos paramentos que envolvem a janela de avental descrita anteriormente. Especulamos, por este motivo, que este vão se tratasse originalmente de um vão de janela de avental, tal como seria o que se localiza à sua esquerda, já descrito. O alçado Norte termina a Oeste num profundo chanfro, aplicado na época industrial para permitir a passagem de veículos de maior dimensão. O chanfro, de grandes dimensões, afectou apenas a parte inferior do canto Noroeste do edifício. Na sua parte superior é possível observar ainda, tanto no alçado Norte, como no alçado poente, o que subsistiu do cunhal que ali rematava o edifício. À primeira vista trata-se de um cunhal executado com recurso a silhares ‘almofadados’. Contudo, em lugar nenhum do convento se observam silhares com semelhantes acabamentos. Na verdade, uma observação mais cuidadosa desta parte dos alçados revela que as ‘almofadas’ são de facto o resultado da amputação mal acabada dos silhares que compõem o cunhal, revelando que estariam em conexão Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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com paramentos desmontados, possivelmente durante a época de ocupação industrial do espaço. A ser verdade, o alçado Norte seria, no seu extremo Oeste substancialmente diferente de como se apresenta actualmente, uma vez que ali se anexavam um paramento que se desenvolvia para Norte e outro para poente.

3.2.5.3. Alçado Oeste

O alçado Oeste do edifício é constituído por duas partes distintas. A primeira do alçado Oeste (Parte I) compreende a parede externa do ‘refeitório’, do ‘ante-refeitório’, da ‘cozinha’, do compartimento 4 da ala Oeste do piso 1 e do espaço que se lhe sobrepõe, o compartimento 1 da ala Oeste do piso 2, da ‘rouparia’ e do espaço que a ela se sobrepõe, a ‘hospedaria. A segunda parte do alçado Oeste (Parte II) é constituída pela parede externa dos pisos 0, 1 e 2 dos dormitórios.

Parte I Este alçado foi excessivamente rebocado em empreitadas anteriores, tendo o novo reboco ultrapassado largamente as molduras dos vãos de janela que dele constam. Por este motivo foi, no decurso da presente empreitada, efectuada uma série de acções com vista à restituição destas molduras, através da aplicação de novas peças de cantaria. De uma forma geral, essas acções passaram pela aplicação de uma peça de cantaria calcária anexa pelo exterior ao lintel e de uma nova peça de cantaria ocupando todo o exterior do peitoril. Como veremos, contudo, estas acções não se generalizaram a todos os vãos.

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Foto 288 – Pormenor do extremo esquerdo do alçado Oeste do Convento de São Francisco da Ponte, antes da presente empreitada. Perspectiva Sudoeste.

No extremo esquerdo da parte I deste alçado verifica-se o chanfro industrial, já descrito aquando da análise do alçado Norte. Sobre este chanfro subsistem os vestígios, também já mencionados, do cunhal que unia o presente alçado a um paramento já desaparecido e que se desenvolvia no sentido Oeste. À direita deste chanfro, observa-se um conjunto de quatro vãos de janela que iluminam o interior do ‘refeitório’. Tratam-se de vãos rectangulares verticais, onde novas peças de cantaria foram aplicadas ao nível do lintel e peitoril, conforme descrito. Encontram-se todos perfeitamente alinhados, não tendo as novas cantarias alterado a sua configuração original, a julgar pelos vestígios da cantaria conventual ainda existentes. Através destes vestígios podemos constatar a presença de orifícios destinados à aplicação de gradeamento nestes vãos. Ao lado direito da segunda janela (a contar de Norte) abre-se o vão de janela de iluminação ao púlpito, constatando-se claramente o excesso de reboco do alçado sobre a sua moldura.

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Foto 289 – Vista geral da janela do púlpito, assim como de uma das janelas do ‘refeitório’, à sua esquerda, antes da presente empreitada. Perspectiva Sudoeste.

Sensivelmente ao centro desta parte do alçado abre-se o vão de janela de iluminação ao ‘ante-refeitório’. Tal como já tínhamos referido aquando da descrição deste compartimento, esta janela foi substancialmente alterada ao nív el do seu parapeito. Na presente empreitada, foi aplicada a este nível uma nova peça de cantaria numa tentativa, não só de restituir o seu formato original, mas também de o alinhar com os vãos de janela do ‘refeitório’. Não obstante, apresenta-se ligeiramente mais alto que aqueles. A cerca de 5 m à direita deste vão, abre-se um par de vãos de iluminação ao compartimento da ‘cozinha’. Tal como já havia sido referido aquando da descrição desse espaço, estes vãos foram completamente alterados na época industrial sendo impossível averiguar a sua configuração original. Na presente empreitada foram aplicadas novas peças de cantaria ao nível externo do lintel e ao nível total do parapeito. No interior do vão, a meio da profundidade da parede, foi criada totalmente de raiz uma moldura em cantaria abrangendo o lintel, as ombreiras e o parapeito. A cerca de 2 m a partir do último destes dois vãos (contando de Norte) encontra-se o paramento que limita a Oeste o compartimento 4 da ala Oeste do piso 1, assim como o espaço que se lhe sobrepõe, o compartimento 1 da ala Oeste do piso 2. Neste tramo do presente alçado abriam-se sobrepostos dois vãos de janela de origem industrial. Eram vãos abobadados de moldura em cantaria de calcário. Entre os dois vãos e à esquerda dos mesmos constatavam-se os vestígios, respectivamente, das ombreiras direita e esquerda de uma janela conventual de iluminação a um corpo de escadas já

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desaparecido,

referido

aquando

da

análise

da

arquitectura

daqueles

dois

compartimentos. Os dois vãos industriais foram desmontados, assim como o paramento que os envolvia, mediante o devido acompanhamento arqueológico. No seu lugar foi criado, na presente empreitada, um novo tramo de parede, mantendo-se contudo a ombreira esquerda do vão de janela conventual. No novo paramento foram criados um vão de porta ao nível do piso 1, e um vão de janela ao nível do piso 2. Ambos com molduras em cantaria em calcário, exógenas em ambos os alçados.

Foto 290 – Vista geral sobre os vãos industriais abertos no alçado Oeste, antes da presente empreitada, assim como sobre os vestígios das ombreiras de um vão de janela conventual. Perspectiva Oeste.

À direita deste paramento localiza-se o último tramo desta parte do alçado Oeste, constituído pelas paredes que limitam a Oeste a ‘rouparia’ e a sala que se lhe sobrepõe, a ‘hospedaria’. Em cada um destes compartimentos abre-se, como tivemos oportunidade de descrever aquando da sua análise arquitectónica, um par de janelas alinhadas entre si e alinhadas entre pisos. Como já referido as janelas do piso superior possuem moldura em cantaria exógena no alçado exterior original, à qual foi acrescentada, na presente empreitada, nova peça de lintel, pelos motivos já expostos.

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Como igualmente já mencionado, as janelas do piso inferior apresentariam, originalmente, moldura em cantaria igualmente exógena no alçado exterior, tendo esta sido parcialmente obliterada pelo excesso de reboco a que já nos referimos. Na presente empreitada, foram acrescentadas a ambas as janelas, nova peça de parapeito em cantaria de calcário e nova peça anexa ao exterior do lintel, de forma a recuperar daquela situação. De referir que estas duas janelas apresentam ambas afunilamento abrindo para o exterior. Nas suas peças de cantaria internas, constatámos a existência de orifícios destinados a gradeamento.

Foto 291 – Vista geral sobre o alçado Oeste do Convento de São Francisco da Ponte, antes da presente empreitada. Perspectiva Sudoeste.

A parte I do alçado terminava a Sul num chanfro de cronologia industrial, aberto até ao topo do piso 1. Na presente empreitada foi reposto o paramento na alçada deste chanfro, eliminando-o. De referir ainda, relativamente ao tramo da parede que a Oeste limita compartimentos da ‘rouparia’ e da ‘hospedaria, que constatámos não estar alinhado com a restante parte I do alçado Oeste. Se nos posicionarmos junto do limite Norte da parte I do alçado Oeste e olharmos para Sul verificamos que o alçado se mantém alinhado até onde se inicia a secção definida por aqueles compartimentos, altura em que o alçado se desvia ligeiramente para Oeste. Este desvio é de tal forma discreto que tem passado despercebido, não constando de nenhum dos levantamentos arquitectónicos Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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realizados até à data. Este é mais um dos argumentos em favor da hipótese de preexistência do edifício que alberga aqueles dois compartimentos.

Foto 292 – Vista geral sobre o alçado Oeste do Convento de São Francisco da Ponte, no final da presente empreitada. Perspectiva Norte. Destaque para a secção deste alçado desalinhada do restante.

Parte II A análise desta parte foi bastante dificultada pelo facto de se encontrar já rebocada, antes mesmo do início da presente empreitada. Contam desta parte do alçado os três pisos dos dormitórios, cada um deles exibindo para o exterior um par de vãos de porta. Cada vão, por sua vez localiza-se nos extremos esquerdo e direito do alçado de cada piso e todos eles deverão ser de cronologia conventual, inicialmente projectados para dar acesso aos diferentes pisos de um claustro, o claustro principal que não chegou a ser edificado. O vão da direita, ao nível do piso 0, assim como ambos os vãos do piso 2, encontram-se ainda activos, apresentando as respectivas molduras em cantaria exógena relativamente ao alçado. Os restantes vãos encontram-se emparedados e desprovidos de moldura, acção que terá decorrido na época industrial.

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Foto 293 – Vista geral sobre a parte II do alçado Oeste do Convento de São Francisco da Ponte. Perspectiva Oeste.

Ao centro do alçado, ao nível do piso 0, abria-se um vão de janela de origem conventual que se encontra emparedado mas cuja moldura em cantaria, se encontra ainda exógena em relação ao alçado. Alinhado com este vão encontra-se, ao nível do piso 1, um vão já emparedado, de cronologia e função que não conseguimos apurar. Mais informações acerca destes vãos constam da análise da arquitectura dos pisos 0, 1 e 2 dos dormitórios.

Foto 293 – Vista geral sobre os vãos de janela abertos ao centro da parte II do alçado Oeste do Convento de São Francisco da Ponte. Perspectiva Oeste.

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De notar que, à semelhança do que acontece no restante edifício (salvo da parte I deste alçado), também nesta parte do alçado deveria constar um friso, que neste caso, poderá ter sido obliterado pelo presente reboco. Testemunho da sua existência é o ressalto visível no alçado ao nível do topo do piso 1. De referir ainda que a parte II exibe um painel de azulejos localizado à esquerda do vão de porta aberto ao nível do piso 0, na extremidade direita desta parte do alçado Oeste. Uma vez que a esta parte do alçado encostaram alguns edifícios industriais já desmontados, desconhecemos se este painel se estenderia ao longo de toda a parte II do alçado Oeste, tendo sido destruído pela construção ou pelo desmonte de tais edifícios, ou se o painel original teria a dimensão com que chegou aos nossos dias. Na parede Norte da igreja, que pelos motivos já expostos não foi analisada no presente estudo, foram detectados junto da mesma porta, embora à sua direita, vestígios de um painel semelhante, do qual subsistiam apenas alguns azulejos intactos rodeados pelos negativos deixados pelo desmonte de alguns dos seus pares.

Foto 294 – Vista geral sobre o painel de azulejos na extremidade direita da parte II do alçado Oeste do Convento de São Francisco da Ponte. Perspectiva Oeste.

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Foto 295 – Vista geral sobre o painel de azulejos na extremidade esquerda da parede da igreja do Convento de São Francisco da Ponte. Perspectiva Noroeste.

3.2.5.4. Alçado Sul

Como havíamos referido no início deste capítulo, a ausência de reboco neste alçado aquando do início da presente empreitada, bem como a existência do seu levantamento, permitiu-nos analisá-lo mais aprofundadamente. Desta forma, pudemos proceder para o alçado Sul, a um estudo arquitectónico de acordo com os princípios consagrados pela arqueologia, distinguindo os vários momentos construtivos que lhe deram origem. Cada momento construtivo denominamos por unidade estratigráfica (U.E.), de acordo com os princípios estabelecidos por Harris. Cada unidade estratigráfica será seguidamente apresentada, descrita e ilustrada com fotografias. No final da análise deste alçado apresentamos ainda o levantamento gráfico do mesmo com as respectivas U.E.’s representadas.

U.E: 1 – Extremidade Oeste do alçado Sul, primeiro e segundo pisos. Esta área do alçado Sul corresponde à fachada de duas salas sobrepostas, a ‘rouparia’ e a ‘hospedaria’. Uma observação mais cuidada desta sala, assim como da sala que lhe está sobreposta, revelou uma arquitectura completamente distinta da do restante complexo conventual, característica do século XVI tal como expusemos no capítulo dedicado à análise desses compartimentos. Julgamos que estas salas integrassem algum edifício anterior à fundação do convento, que posteriormente tenha sido, talvez graças à elevada qualidade da sua construção, incorporado no restante Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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complexo conventual. Este fenómeno de incorporação terá até ficado ‘fossilizado’ no alçado Sul, uma vez que a área correspondente às duas salas se encontra ligeiramente avançada em relação ao restante alçado. Do mesmo modo, ficou igualmente ‘fossilizado’ no extremo direito da parte I do alçado Oeste, onde o paramento correspondente às duas salas se encontra desalinhado com o restante alçado, tal como referido anteriormente. Esta área encontra-se construída através do recurso a alvenaria de pedra de aparelho irregular, ligada por argamassa de cal. Apesar da irregularidade do aparelho, era visível uma alternância entre fiadas de pedra de dimensão mediana e fiadas de pedras pequenas.

Foto 296 – Pormenor da U.E. 1 do alçado Sul do Convento de São Francisco da Ponte. Perspectiva Sul. Destaque para o avanço relativamente ao restante alçado (seta amarela). Destaque ainda para o vão de porta, em baixo à esquerda, e vãos de janela, em cima à esquerda e em baixo à direita, que correspondem respectivamente às U.E.’s 2, 3 e 4.

No seu limite esquerdo, esta U.E. foi submetida a um chanfro ao nível do piso 1, obra com certeza levada a cabo na época industrial com o objectivo de melhor permitir a passagem de veículos. Foi emparedado na presente empreitada. Ao nível do segundo piso, ligeiramente abaixo do actual telhado, são visível algumas pedras salientes em relação ao alçado. Desconhecemos a função deste conjunto pétreo, embora nos pareça que ele possa sugerir o arranque de algum paramento entretanto já desaparecido.

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Foto 297 – Pormenor do limite esquerdo da U.E. 1 do alçado Sul do Convento de São Francisco da Ponte. Perspectiva Sul. Destaque para o avanço de algumas pedras relativamente ao paramento (seta amarela), assim como para o chanfro ao nível do piso 1 (seta verde).

A U.E. 1 encosta à U.E. 20 e envolve as U.E.’s 2, 3 e 4. Cronologia: ocupação eventualmente anterior à conventual, século XVI (?)

U.E. 2 – Vão de porta aberto no extremo Oeste do alçado Sul, ao nível do primeiro piso. Trata-se de um vão rectangular, disposto na vertical, completamente desprovido de cantaria ou de qualquer outro tipo de moldura. Encontra-se profundamente mutilado, sem que tenham sido detectados elementos que nos permitissem a sua caracterização tipológica e cronológica originais. Foi alvo de emparedamento na presente empreitada. No interior deste vão era visível parte de um arco de descarga que terá sido amputado pela sua abertura. Este facto parece articular-se melhor com a possibilidade de não ter, à época conventual, existido ali nenhuma passagem. Por outro lado, a necessidade de existência de uma ligação entre o logradouro e a despensa, ali localizada por Sandra Lopes (LOPES, 1998: 94), sugere o contrário. Está envolvida pela U.E. 1. Cronologia: ocupação industrial, século XIX/XX.

U.E. 3 – Vão de janela aberto no extremo Oeste do alçado Sul, ao nível do segundo piso. Trata-se de um vão rectangular, disposto na vertical, completamente desprovido

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de cantaria ou de qualquer outro tipo de moldura. Apesar de se tratar de um vão tendencialmente rectangular, encontra-se profundamente mutilado e descaracterizado, facto que nos impediu de apurar a sua cronologia. Foi alvo de emparedamento na presente empreitada. Está envolvida pela U.E. 1. Cronologia: ocupação industrial, século XIX/XX (?).

U.E. 4 – Vão de janela aberto no extremo Oeste do alçado Sul, ao nível do primeiro piso, a Este do vão que compõe a U.E. 2. Trata-se de um vão rectangular, disposto na vertical, completamente desprovido de cantaria, embora se encontre limitado por uma moldura em tijolos alveolares rebocados a argamassa de cimento. Uma vez que o topo do vão coincide com a base da abóbada de cobertura do espaço para o qual abre, e que nesta abóbada é visível o negativo do prolongamento da parede que foi desmontada para se abrir este vão, achamos improvável que a sua cronologia remonte ao período de ocupação conventual. Está envolvida pela U.E. 1. Cronologia: ocupação industrial, século XIX/XX.

U.E. 5 - Extremidade Este do alçado Sul, ao nível dos pisos 0 e 1, correspondendo à parede Sul da ‘sala do capítulo’. Esta área encontra-se construída através do recurso a alvenaria de pedra de aparelho irregular, ligada por argamassa de cal. Dada a natureza mendicante da Ordem Franciscana, os escassos recursos financeiros deverão ter ditado a construção faseada do edifício. Este facto, já explorado noutros capítulos, é denunciado também nesta U.E. pela existência de um cunhal no seu limite Oeste. Este cunhal, que corresponde ao canto Sudoeste da ‘sala do capítulo’, é visível ao nível dos pisos 0, 1 e 2. Por este motivo, julgamos que todo este corpo do complexo conventual terá sido construído numa fase anterior à da construção do restante edifício. À semelhança do que acontecia com a U.E. 1, também o paramento da presente U.E. se encontra mais avançado em relação ao restante alçado Sul, bem como em relação à parede Sul do compartimento sobreposto à ‘sala do capítulo’, o ‘noviciado’, que constitui a U.E. 6. Este facto abona igualmente em favor da hipótese de uma

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construção faseada mas também poderá estar relacionada com a projecção do claustro principal que não chegou a ser construído. Sobre este paramento, e após ter sido desmontado o paramento que constitui a U.E. 7 e que o encimava, foi aplicado um friso em cantaria calcária totalmente novo, imitando o friso conventual que constitui a U.E. 27. A U.E. 5 está sob a U.E. 7 e 6 e encosta na U.E. 20. Envolve as U.E.’s 11, 11a, 12, 13, 13a, 13b, 14, 14a, 15, 16, 17, 18, 19, 19 a e 19b. Cronologia: ocupação conventual, século: finais século XVI/século XVII.

U.E. 6

U.E. 5

Foto 298 – Vista geral sobre o extremo Este do alçado Sul do Convento de São Francisco da Ponte. Perspectiva Sul. Destaque para a distinção entre as U.E.’s 5 e 6, assinalada pelas chavetas à esquerda e destacada pelo tracejado amarelo. Destaque ainda para o cunhal no limite esquerdo de ambos as U.E.’s 5 e 6 (seta azul).

U.E. 6 - Extremidade Este do alçado Sul, ao nível do piso 2, correspondendo à parede Sul do compartimento do ‘noviciado’, encontrando-se construída através do recurso a alvenaria de pedra em aparelho irregular, ligada por argamassa de cal. Este pano de parede encontra-se ligeiramente recuado em relação à U.E. 5. Os motivos inerentes ao recuo desta parede não estão bem claros, no entanto poderiam passar pela intenção de adoçar ao topo da U.E. 5 outra construção, eventualmente o claustro principal. Os motivos que corroboram esta hipótese passam pela presença de um vão aberto ao nível do piso de circulação do noviciado (U.E. 8) que, pelos motivos

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que apresentaremos aquando da sua descrição, julgamos ter sido aberto para funcionar como porta e não como janela. Está a U.E. 6 sobre a U.E. 5, sob a U.E. 32, encostando à U.E. 7 e envolvendo as U.E.’s 8, 8a, 9 e 10. Cronologia: ocupação conventual, século: finais século XVI/século XVII.

U.E. 7 - Extremidade Este do alçado Sul, ao nível do piso 2. Esta área do alçado Sul corresponde à parede Sul do ‘noviciado’, embora seja visível apenas na base desta parede. Esta área encontra-se construída através do recurso a alvenaria de pedra de pequena dimensão e aparelho irregular, ligada por argamassa de cal. Trata-se de uma parede apensa, construída sobre a U.E. 5 e que encosta à U.E. 6, tendo selado a única porção de reboco conventual ainda visível no alçado Sul, mas que deveria estender-se a todo ele. Este tramo de parede deve corresponder a anexos de cronologia industrial que encostavam ao alçado Sul e que ainda subsistiam à data das primeiras intervenções de recuperação deste edifício. Foi desmontado no âmbito da presente empreitada. A U.E. 7 está sobre a U.E. 5, encosta à U.E. 6 e envolve as U.E.’s 8a e 8b. Cronologia: ocupação industrial, século XIX/XX.

Foto 299 – Pormenor da U.E. 7 no extremo Este do alçado Sul do Convento de São Francisco da Ponte (tracejado amarelo). Perspectiva Sul. Destaque para o vão de janela que constitui a U.E. 9 (seta vermelha)

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U.E. 8 – Vão de janela aberto na extremidade Este do alçado Sul, ao nível do piso 2. Este vão deverá ter sido obtido, à época industrial, a partir do fecho parcial e do alargamento do topo de um vão de porta conventual, passando assim a albergar uma janela. Está sobre a U.E. 8a e é envolvida pela U.E. 6. Cronologia: ocupação industrial, século XIX/XX.

U.E. 8a – Vão de porta aberto na extremidade Este do alçado Sul, ao nível do piso 2. Este vão deverá ter sido projectado em articulação com o claustro principal que não chegou a ser erguido, uma vez que só deste modo é admissível a abertura de uma vão de porta ao nível deste alçado do piso 2. Subsistem o arco de descarga em tijolo ao cutelo e parte da ombreira direita em cantaria calcária. Encontrava-se sobre a U.E. 8a e envolvida pela U.E. 6. Cronologia: ocupação conventual, século: finais século XVI/século XVII.

U.E. 8b – Vão de porta aberto na extremidade Este do alçado Sul, ao nível do piso 2. Este vão, embora tenha na época conventual sido planeado como porta (U.E. 8 a), funcionaria como janela já desde a época industrial (U.E. 8). Essa janela terá sido em parte desmontado a baixo do seu peitoril e acrescido de alguns degraus, passando deste modo a funcionar como porta, servida de escadaria. Alguns degraus desta escadaria ainda eram visíveis. Está sobre as U.E.’s 5, 8 e 8a, corta as U.E.’s 6 e 7. Cronologia: ocupação conventual, século: finais século XVI/século XVII.

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Foto 300 – Vista geral sobre vão aberto ao topo do extremo Este do alçado Sul do Convento de São Francisco da Ponte Perspectiva Sul. Tracejado amarelo: vão de porta conventual (U.E.8a) Tracejado vermelho: vão de janela industrial (U.E.8) Tracejado azul: desmonte industrial para criar vão de porta (U.E.8b).

Os vãos 8, 8a e 8b foram alvo de intervenção na presente empreitada, conforme exposto no capítulo dedicado à análise do compartimento 7 da ala Sul do piso 2.

U.E. 9 - Vão de janela aberto na extremidade Este do alçado Sul, ao nível do piso 2, a Oeste da U.E. 8. Trata-se de uma abertura de cronologia industrial que terá vindo ocupar um vão de janela anterior, de cronologia conventual e de menor dimensão. Este vão foi alvo de intervenção na presente empreitada, tendo sido nele aplicadas novas peças de cantaria, conforme exposto aquando da análise da arquitectura do compartimento 6 da ala Sul do piso 2. Está assente sobre a U.E. 7 e envolvida pela U.E. 6. Cronologia: ocupação conventual, século: finais século XVI/século XVII.

U.E. 10 - Vão de janela aberto na extremidade Este do alçado Sul, ao nível do segundo piso, a Oeste da U.E. 9. Trata-se de uma abertura de cronologia conventual, que terá sido destruída na sua base à época industrial, dando assim origem a uma porta (10a).

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Subsiste o arco de descarga em tijolo ao cutelo, assim como as ombreiras e o lintel em cantaria calcária. Está sobre a U.E. 10a e é envolvida pela U.E. 6. Cronologia: ocupação conventual, século: finais século XVI/século XVII.

U.E. 10a - Vão de porta aberto na extremidade Este do alçado Sul, ao nível do segundo piso, a Oeste da U.E. 9. Trata-se de uma abertura de cronologia industrial, que veio prolongar a base da janela que constituía a U.E. 10, transformando-a numa porta. Cortava a U.E. 6. Cronologia: ocupação industrial, século XIX/XX.

U.E. 10

U.E. 10a

Foto 301 – Vista geral sobre o vão que constitui as U.E.’s 10 e 10a no extremo Este do alçado Sul do Convento de São Francisco da Ponte. Perspectiva Sul. Destaque para a distinção entre aquelas U.E.’s, assinalada pelas chavetas à direita.

U.E. 11 - Vão de porta aberto na U.E. 5, ao nível do primeiro piso. Trata-se de uma abertura de cronologia industrial que correspondia à porta de entrada de um W.C. embutido na parede. A parede conventual foi parcialmente desmontada para acolher este W.C. de planta rectangular e alçado abobadado. Posteriormente, construiu-se

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uma parede de menor espessura, em tijolo alveolar (cujos vestígios ainda subsistiam), fechando o espaço embora tenha sido salvaguardada uma abertura para a porta. Corta a U.E. 5. Cronologia: ocupação industrial, século XIX/XX.

U.E. 11a - Vão de porta aberto na U.E. 5, ao nível do primeiro piso, a Este da U.E. 11. Trata-se de uma abertura de cronologia industrial que correspondia à porta de entrada de um W.C. embutido na parede. A parede conventual foi parcialmente desmontada para acolher este W.C. de planta rectangular e alçado abobadado. Posteriormente, construiu-se uma parede de menor espessura, em tijolo alveolar (cujos vestígios ainda subsistiam), fechando o espaço embora tenha sido salvaguardada uma abertura para a porta. Corta a U.E. 5. Cronologia: ocupação industrial, século XIX/XX.

Foto 302 – Vista geral sobre os vãos que constituem as U.E.’s 11 e 11a no extremo Este do alçado Sul do Convento de São Francisco da Ponte, respectivamente assinalados pela seta vermelha e pela seta verde. Perspectiva Sul.

U.E. 12 - Vão de janela aberto na U.E. 5, ao nível do piso 1, à direita da U.E. 11a. Trata-se de um vão rectangular de cronologia conventual, emoldurado por cantaria

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calcária e aberto para o interior do compartimento 2 da ala Sul do piso 0. Da cantaria que originalmente emoldurava este vão, restam apenas alguns vestígios das ombreiras e do lintel. É também visível o arco de descarga em tijolo ao cutelo. Uma acção de emparedamento parcial, ocorrida à época industrial, terá bloqueado parcialmente esta abertura. Na presente empreitada este emparedamento foi desmontado e o peitoril original recriado através da aplicação de novas peças de cantaria. Está sobre a U.E. 18 e é envolvida pela U.E. 5. Cronologia: ocupação conventual, século: finais século XVI/século XVII.

Foto 303 – Vista geral sobre o vão que constitui a U.E. 12 no extremo Este do alçado Sul do Convento de São Francisco da Ponte. Perspectiva Sul.

U.E. 13 - Vão de janela aberto na U.E. 5, ao nível do piso 1, à esquerda da U.E. 11. Trata-se de um vão rectangular de cronologia conventual, emoldurado por cantaria calcária e aberto para o interior da ‘sala do capítulo’. Numa fase posterior, de cronologia industrial, este vão terá sido aumentado através de um alargamento do seu topo, que por sua vez foi fechado por um arco. Posterior a este aumento, parte deste vão foi emparedado dando origem à U.E. 13a. Do vão original subsistia apenas parte das ombreiras em cantaria calcária. Este vão foi alvo de intervenção na presente empreitada, tendo sido recriados o lintel e o peitoril originais através da aplicação de novas peças de cantaria. Está sobre a U.E. 17, sob as U.E.’s 13a e 13b e é envolvida pela U.E. 5. Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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Cronologia: ocupação conventual, século: finais século XVI/século XVII.

U.E. 13a - Vão de janela aberto na U.E. 5, ao nível do piso 1, sobre a U.E. 13. Trata-se de um vão rectangular rematado no seu topo por um arco, aberto para o interior da ‘sala do capítulo’ através do desmonte da parte da U.E. 5 que imediatamente se sobrepunha à U.E. 13. Numa fase posterior, de cronologia industrial, este vão terá sido emparedado, originando a U.E. 13b. Está sobre a U.E. 13, envolve a U.E. 13b e é envolvida pela U.E. 5. Cronologia: ocupação industrial, século: XIX/XX.

U.E. 13b – Emparedamento de vão de janela na U.E. 5, ao nível do piso 1, no interior da U.E. 13a. Trata-se de um emparedamento em tijolos alveolares que terá ocorrido à época industrial, fechando a metade superior do vão de janela que constitui as U.E.’s 13 e 13a. É provável que este emparedamento se articulasse com o mesmo piso de circulação que anexava aos W. C.’s que constituem as U.E.’s 11 e 11a. Está sobre a U.E. 13 e é envolvida pela U.E. 13b. Cronologia: ocupação industrial, século: XIX/XX.

Foto 304 – Vista geral sobre o vão que constitui as U.E.’s 13, 13a e 13b no extremo Este do alçado Sul do Convento de São Francisco da Ponte. Perspectiva Sul. Tracejado amarelo: U.E. 13 Tracejado vermelho: U.E. 13a seta azul: U.E. 13b

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U.E. 14 - Vão de janela aberto na U.E. 5, ao nível do piso 1, a Oeste da U.E. 13. Tratase de um vão rectangular de cronologia conventual, emoldurado por cantaria calcária e aberto para o interior da ‘sala do capítulo’. Subsistia apenas parte da sua ombreira direita em cantaria calcária. Num momento posterior, de cronologia industrial, este vão terá sido aumentado através do desmonte da U.E. 5 no topo da U.E 14, que por sua vez foi rematado por um arco, dando origem à U.E. 14a. Na presente empreitada a U.E. 14a foi emparedada e um novo lintel em cantaria, aplicado sobre a U.E.14. Ao acrescentar uma nova ombreira esquerda e um novo peitoril no local onde a U.E. 14 encostava à U.E. 16 foi-lhe devolvido o seu aspecto original. Está sob a U.E. 14a e é envolvida pela U.E. 5. Cronologia: ocupação conventual, século: finais século XVI/século XVII.

U.E. 14a - Vão de janela aberto na U.E. 5, ao nível do piso 1, sobre da U.E. 14. Tratase de um vão rectangular rematado no seu topo por um arco aberto durante a fase de ocupação industrial, para o interior da ‘sala do capítulo’ através do desmonte da parte da U.E. 5 que imediatamente se sobrepõe à U.E. 14, sendo os novos limites do vão rematados e emoldurados por cimento pintado de branco. Na presente empreitada esta U.E. foi emparedada e um novo lintel em cantaria, aplicado sobre a U.E.14. Está sobre a U.E. 14 e é envolvida pela U.E. 5. Cronologia: ocupação industrial, século: XIX/XX.

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309

U.E. 14

U.E. 14a

U.E. 16

Foto 305 – Vista geral sobre os vãos que constituem as U.E.’s 14, 14a e 16 no extremo Este do alçado Sul do Convento de São Francisco da Ponte. Perspectiva Sul. chaveta amarela: U.E. 14 chaveta vermelha: U.E. 14a chaveta azul: U.E. 16

U.E. 15 – Vão de porta aberto no extremo Este da U.E. 5, à direita da U.E. 12. Tratase de uma abertura efectuada durante a época de ocupação industrial, através do desmonte de parte da U.E. 5. O vão apresentava-se rectangular, disposto na vertical e rematado por um arco. As suas paredes interiores estão rebocadas a cimento. É provável que esta porta se encontrasse em articulação com o mesmo piso que servia os W. C.’s que constituíam as U.E.’s 11 e 11a. Corta a U.E. 5. Cronologia: ocupação industrial, século: XIX/XX.

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Foto 306 – Vista geral sobre o vão que constitui a U.E. 15 no extremo Este do alçado Sul do Convento de São Francisco da Ponte. Perspectiva Sul.

U.E. 16 – Vão de porta aberto na U.E. 5, imediatamente abaixo da U.E. 14. Trata-se de uma abertura realizada à época industrial, através do desmonte de parte da U.E. 5, abaixo da janela que constitui a U.E. 14. É uma abertura quadrangular, de paredes internas rebocadas a argamassa de cimento e topo rematado por trave em betão armado. Encontrava-se, no interior da ‘sala do capítulo’ para a qual abre, servida por escadaria, sendo ainda visíveis alguns degraus. Foi alvo de emparedamento na presente empreitada. Está sob a U.E. 14 e é envolvida pela U.E. 5. Cronologia: ocupação industrial, século: XIX/XX.

U.E. 17 – Vão de porta aberto na U.E. 5, imediatamente abaixo da U.E. 13. Trata-se de uma abertura realizada à época industrial, através do desmonte de parte da U.E. 5, abaixo da janela que constitui a U.E. 13. É uma abertura rectangular, de paredes internas construídas em tijolos alveolares rebocados a argamassa de cimento e topo rematado por trave em betão armado. Foi alvo de emparedamento na presente empreitada. Está sob a U.E. 13 e é envolvida pela U.E. 5.

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Cronologia: ocupação industrial, século: XIX/XX.

Foto 307 – Vista geral sobre os vãos que constituem as U.E.’s 16 e 17 no extremo Este do alçado Sul do Convento de São Francisco da Ponte, assinaladas respectivamente pelas setas verde e vermelha. Perspectiva Sul.

U.E. 18 – Vão de porta aberto na U.E. 5, imediatamente abaixo da U.E. 12. Trata-se de uma abertura realizada à época industrial, através do desmonte de parte da U.E. 5, abaixo da janela que constitui a U.E. 12. Era uma abertura rectangular, de paredes internas rebocadas a argamassa de cimento e topo rematado por trave em betão armado. Foi emparedado na presente empreitada. Está sob a U.E. 12 e é envolvida pela U.E. 5. Cronologia: ocupação industrial, século: XIX/XX. U.E. 19 – Vão de porta aberto na extremidade inferior Este da U.E. 5. Trata-se de um vão de origem conventual que terá sido parcialmente desmontado em época incerta e emparedado em época industrial (dando origem à U.E. 19a). Apresenta a base e parte da ombreira direita em cantaria calcária. O emparedamento que fechou este vão foi parcialmente desmontado em época industrial para dar origem a uma pequena passagem que constitui a U.E. 19b. Está envolvido pela U.E. 19b. Cronologia: ocupação conventual, século: finais século XVI/século XVII.

U.E. 19a – Emparedamento do vão de porta da extremidade inferior Este da U.E. 5. Trata-se de um emparedamento ocorrido em época industrial, tendo obstruído a totalidade do vão de origem conventual que constitui a U.E. 19. O emparedamento terá sido parcialmente desmontado ainda em época industrial (dando origem à U.E. Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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19b). O emparedamento encontra-se construído através do recurso a alvenaria de pedra de pequenas dimensões de aparelho irregular e alguns tijolos maciços espessos, tendo argamassa de cal como material ligante. Encosta à U.E. 19, envolve a U.E. 19a e é envolvida pela U.E. 5. Cronologia: ocupação industrial, século: XIX/XX.

U.E. 19b – Vão de porta da extremidade inferior Este da U.E. 5. Trata-se de um pequeno vão de passagem, obtido através do desmonte do emparedamento que constitui a U.E. 19a. As paredes laterais deste vão encontram-se rebocadas a argamassa de cal e o topo está rematado por um pequeno arco construído com recurso a tijolos maciços espessos unidos por argamassa de cal. Encosta à U.E. 19 e é envolvida pela U.E. 19a. Cronologia: ocupação industrial, século: XIX/XX.

Foto 308 – Vista geral sobre os vãos que constituem as U.E.’s 18, 19, 19a e 19b no extremo Este do alçado Sul do Convento de São Francisco da Ponte. Perspectiva Sul. seta azul : U.E. 18 tracejado amarelo: U.E. 19 tracejado vermelho: U.E. 19a tracejado verde: U.E. 19b

Na presente empreitada o vão que constitui a U.E. 19b, assim como o emparedamento que constitui a U.E. 19a foram desmontados de forma a recuperar a abertura do vão que originalmente constituía a U.E 19. Até ao terminus desta empreitada não foram aplicados acabamentos nessa abertura. Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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U.E. 20 – Tramo de alçado a Este da U.E. 1 e tramo de alçado a Oeste das U.E.’s 5 e 6, pisos 0, 1 e 2. Estas áreas do alçado Sul correspondem à fachada da parte do edifício que resultou da união entre o corpo do edifício que inclui a ‘sala do capítulo’ e o ‘noviciado’ (cujas fachadas a Sul correspondem às U.E.’s 5 e 6) aos edifícios preexistentes ao convento (cujas fachadas a Sul constituem as U.E.’s 1 e 26). Como tinha ficado demonstrado aquando da análise da ala Sul do piso 1, os compartimentos 2 e 3 poderão corresponder a um compartimento pertencente a um edifício preexistente ao edifício conventual, sendo coberto por um telhado de uma só água que escoaria para Sul. Entre este edifício preexistente e corpo que inclui a ‘sala do capítulo’ e o ‘noviciado’ foi construído um corredor, o compartimento 6 da ala Sul do piso 1, cuja parede Sul veio encostar à direita do edifício e à esquerda do corpo. Esta parede constitui parte da U.E. 20. A comprovar a sua existência encontra-se o arco nela aberto que encosta tanto à esquerda do cunhal que limita o canto Sudoeste da ‘sala do capítulo’ como à direita do paramento do edifício preexistente. A separar o edifício preexistente do edifício que inclui a ‘rouparia’ e a ‘hospedaria’, também ele preexistente, encontram-se os compartimentos 1 das alas Sul dos pisos 1 e 2, que ao serem construídos foram limitados a Sul por uma parede que constitui também ela a U.E. 20. A prova da existência deste tramo da U.E. 20 reside no facto de se encontrar recuado relativamente à parede Sul da ‘rouparia’ e da ‘hospedaria’, assim como as diferenças cromáticas do seu paramento relativamente ao paramento à sua direita. Especulamos que os momentos construtivos em que ocorreram as uniões acima descritas sejam contemporâneas. Por este motivo incluímos ambos os paramentos deles resultantes sob alçado da mesma U.E. Para mais, as semelhanças construtivas entre os dois paramentos que constituem a U.E. 20, levam-nos também a pensar que se tratam efectivamente de conjuntos construídos em simultâneo. Encostam às U.E.’s 1, 26, 27, 5 e 6, estão sob a 32 e envolvem as U.E.’s 21, 22, 23, 24 e 25. Cronologia: ocupação conventual, século XVII (?).

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Fotos 309 e 310 – Vista geral sobre os paramentos que constituem a U.E. 20 no alçado Sul do Convento de São Francisco da Ponte, destacados pelas chavetas amarelas. Perspectiva Sul. Destaque para os vãos que constituem as U.E.’s 21 e 22, assinaladas respectivamente pelas setas verde e vermelha.

U.E. 21 – Vão de janela aberto ao nível do piso 2, no tramo Oeste da U.E. 20. Trata-se de um vão rectangular vertical, construído à época conventual e rematado por uma moldura em cantaria calcária. É envolvida pela U.E. 20. Cronologia: ocupação conventual, século XVII (?).

U.E. 22 – Vão de janela aberto ao nível do piso 0, no tramo Oeste da U.E. 20. Trata-se de um vão quadrangular encimado por um arco abatido construído à época industrial, através do desmonte de parte da fachada do piso 0 do tramo Oeste da U.E. 20. Apresenta as paredes internas rebocadas a argamassa de cimento, assim como um parapeito construído com tijolos alveolares e rebocado a argamassa de cimento pintado de branco. Foi alvo de emparedamento na presente empreitada.

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315

Dada a sua localização, relativamente ao corredor que ilumina, o compartimento 1 da ala Sul do piso 0, é provável que tenha sido obtido através do alargamento de uma janela conventual preexistente. A ser este o caso, admitimos que a grande amplitude do vão industrial tenha destruído quaisquer vestígios do vão conventual. É envolvida pela U.E. 20. Cronologia: ocupação industrial, século: XIX/XX.

U.E. 23 – Vão de janela aberto ao nível do piso 0, no tramo Este da U.E. 20. Trata-se de um vão quadrangular, construído à época conventual e rematado por uma moldura em cantaria calcária. É envolvida pela U.E. 20. Cronologia: ocupação conventual, século XVII (?).

U.E. 23

U.E. 31

U.E. 25

Foto 311 – Vista geral sobre os vãos que constituem a U.E. 23, assim como as U.E.’s 25 e 31 (analisadas mais adiante) no alçado Sul do Convento de São Francisco da Ponte Perspectiva Sul.

U.E. 24 - Vão de arco aberto ao nível do piso 0, no tramo Este da U.E. 20. Trata-se de um arco que dá acesso a um corredor abobadado, o compartimento 6 da ala Sul do piso 1, que por sua vez estabelecia ligação entre o logradouro e o claustro. Encontrase aberto ao nível do piso 0, embora ultrapassasse um pouco o nível do piso 1, dado ser aquele compartimento de duplo pé-direito.

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316

O arco, de volta perfeita, encontra-se emoldurado por peças de cantaria calcária, que se encontram parcialmente rebocadas com argamassa de cimento pintado de branco. As ombreiras encontram-se separadas do arco por dois lintéis. Encontra-se envolvido pela U.E. 20. Cronologia: ocupação conventual, século XVII (?).

Foto 312 – Vista geral sobre o vão de arco que constitui a U.E. 24 ao centro do alçado Sul do Convento de São Francisco da Ponte. Perspectiva Sudeste.

U.E. 25 – Vão aberto ao nível do piso 1, no tramo Este da U.E. 20, acima do arco que constitui a U.E. 24. Trata-se de um ‘nicho’ aberto à época industrial, através do desmonte de parte do tramo Este da U.E. 20, de paredes internas toscamente definidas e de topo arredondado. Apresenta uma parede de fundo construída com recurso a tijolos alveolares unidos com argamassa de cimento. Foi emparedado na presente empreitada. Desconhecemos a função deste ‘nicho’, embora se observasse que era atravessado na diagonal por um tubo de queda em grés. Encontra-se envolvido pela U.E. 20. Cronologia: ocupação industrial, século: XIX/XX.

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U.E. 26 – Tramo central do alçado Sul que medeia os tramos Este e Oeste da U.E. 20, ao nível do piso 1. Trata-se da parede que limitava a Sul o compartimento coberto por telhado pertencente a um dos dois edifícios preexistentes relativamente ao edifício conventual. Ao incorporar este edifício no restante, foi encostado a este paramento os dois tramos da U.E. 20. Encosta nas U.E.’s 20 e 27, está sob a U.E. 26a e envolve as U.E.’s 28, 29 e 31. Cronologia: ocupação anterior à época conventual, século XVI (?).

U.E. 30

U.E. 26 U.E. 28 U.E. 29

U.E. 26a

U.E. 31

Foto 313 – Vista geral sobre os vãos que constituem as U.E.’s 28, 29, 30 e 31, assim como os paramentos que constituem as U.E.’s 26 e 26a do alçado Sul do Convento de São Francisco da Ponte. Perspectiva Sul.

U.E. 26a– Tramo de paramento edificado à época industrial, fechando a área que até então estaria aberta ao nível do piso 2, tal como exposto aquando da análise do compartimento 2 da ala Sul do piso 2. A sua existência foi denunciada pela diferença cromática entre esta U.E e os paramentos com os quais encosta. Encosta nas U.E.’s 20 e 26, está sob a U.E. 32 e envolve a U.E. 30. Cronologia: ocupação industrial, século: XIX/XX.

U.E. 27 – Friso horizontal que atravessa longitudinalmente grande parte do alçado Sul. Este friso, constituído por peças de cantaria colocadas consecutivamente lado a lado,

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318

poderá ter sido aplicada com o objectivo de transmitir ao alçado Sul unidade e harmonia, características que lhe faltariam por ter sido construído faseadamente. Encosta às U.E.’s 26, 26a, 20, 1 e 5 e é cortada pelas U.E.’s 22, 28, 29 e 14. Cronologia: ocupação conventual, século XVII (?).

Foto 314 – Vista geral sobre o alçado Sul do Convento de São Francisco da Ponte, com destaque para o friso que constitui a U.E. 27. Perspectiva Sul.

U.E. 28 – Vão de janela aberto ao nível do piso 1, a Oeste do tramo central que constitui a U.E. 26. Trata-se de um vão quadrangular encimado por um arco abatido, construído à época industrial, através do desmonte de parte do tramo central que constitui a U.E. 26. Apresenta as paredes internas rebocadas a argamassa de cimento, assim como um parapeito construído com tijolos alveolares e rebocado a argamassa de cimento pintado de branco. Foi alvo de emparedamento na presente empreitada. Encontra-se envolvida pela U.E. 26 e corta a U.E. 27. Cronologia: ocupação industrial, século: XIX/XX.

U.E. 29 – Vão de janela aberto ao nível do piso 1, à direita da U.E. 28. Trata-se de um vão rectangular vertical, de época industrial, sem cantarias ou qualquer outro tipo de moldura, e de paredes internas rebocadas a argamassa de cimento. Está envolvida pela U.E. 26 e cortava a U.E. 27. Cronologia: ocupação industrial, século: XIX/XX.

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U.E. 30 – Tríptico de janelas aberto ao nível do piso 2, no topo da fachada que constitui a U.E. 26a. Trata-se de um conjunto de três janelas rectangulares anexas, apenas separadas por dois pilares de secção quadrangular e encimadas por três arcos abatidos. Apesar da aparência, este conjunto data de época industrial, uma vez que se encontra construído com recurso a tijolos alveolares rebocados a cimento pintado de branco, imitando desta forma pilares e molduras em cantaria de pedra calcária, para além de se encontrar envolvido por um tramo de paramento de cronologia industrial (U.E. 26a). Na presente empreitada este vão foi alvo de emparedamento parcial, tendo sido mantidos dois vãos de janela de formato rectangular, onde foram aplicadas novas molduras em cantaria de calcário. Encontra-se envolvida pela U.E. 26a. Cronologia: ocupação industrial, século: XIX/XX.

U.E. 31 – Vão de janela aberto ao nível do piso 1, no limite direito da U.E 26. Trata-se de um pequeno vão rectangular vertical de época industrial, com uma moldura construída com tijolos alveolares rebocados a cimento pintado de branco de forma a imitar uma moldura em cantaria calcária. Está envolvida pela U.E. 26. Cronologia: ocupação industrial, século: XIX/XX.

U.E. 32 – Telhado. Trata-se da cobertura de duas águas constituída por telha ‘abacanudo’ e sustentada por travejamento de madeira, datado dos finais da década de 1990. Está sobre as U.E.’s 1, 20, 26a e 6.

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

320

31.85

Corte 1-1

U.E. 1

U.E. 9

U.E. 14a

U.E. 22

U.E. 31

U.E. 2

U.E. 10

U.E. 15

U.E. 23

U.E. 32 (Telhado)

U.E. 3

U.E. 10a

U.E. 16

U.E. 24

U.E. 4

U.E. 11

U.E. 17

U.E. 25

U.E. 5

U.E. 11a

U.E. 18

U.E. 26

U.E. 6

U.E. 12

U.E. 19

U.E. 26a

U.E. 7

U.E. 13

U.E. 19a

U.E. 27

U.E. 8

U.E. 13a

U.E. 19b

U.E. 28

CÂMARA MUNICIPAL DE COIMBRA - DOGIM - DEE

U.E. 8a

U.E. 13b

U.E. 20

U.E. 29

Obra Nº 2307 - Convento de São Francisco Obras de Consolidação Estrutural e Trabalhos de Arqueologia

U.E. 8b

U.E. 14

U.E. 21

U.E. 30

Alçado Sul

DESENHO DE PREPARAÇÃO

Desenho Nº PREP 011 / 2307

Págª 1 / 1

Caracterização Arqueológica

321 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Terminada que está a apresentação da análise arquitectónica do edifício do Convento de São Francisco da Ponte, do qual não estudámos a igreja pelos motivos já expostos, é tempo de sumariar os pontos de maior relevo arqueológico que deste estudo resultaram.

4.1. OS EDIFÍCIOS PREEXISTENTES

Temos conhecimento de que o terreno de implantação escolhido para o novo edifício de São Francisco da Ponte, aprovado pela Câmara em sessão decorrida a 17 de Junho de 1600, seria pertença do Deão Velho, Diogo Rodrigues, e que se encontraria nele uma “carreira de casas” (SANTOS, 1997: 19). Ao longo da análise das alas Oeste e Sul de ambos os pisos 1 e 2 foram sendo postas a descoberto diversas evidências que apontam precisamente para a preexistência de dois edifícios relativamente à construção do novo Convento de São Francisco da Ponte. Dado que tais evidências foram já expostas aquando da descrição arquitectónica de cada um dos compartimentos que originalmente os comporiam, assim como dos compartimentos que a eles foram anexados aquando da construção do restante edifício, bem como dos alçados que os limitam externamente, não voltaremos a descreve-las. Em vez disso faremos a sua apresentação de modo sintético. Salientamos que apesar de nos referirmos aos edifícios como edifício preexistente n.º 1 e edifício preexistente n.º 2, tal numeração não reflecte uma relação cronológica, servindo apenas um propósito meramente logístico. Como veremos, apenas o compartimento preexistente n.º 1 apresenta características passíveis de nos fazer avançar com uma proposta cronológica, pelo que uma eventual relação cronológica entre os dois edifícios fica à partida inviabilizada.

Edifício preexistente n.º 1 O edifício preexistente n.º 1 corresponde aos compartimentos 5 e 2, ambos no extremo Sul da ala Oeste, respectivamente nos pisos 1 e 2. Uma vez que o último se Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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sobrepõe ao primeiro e que ambos partilham as mesmas proporções e características arquitectónicas, não restam dúvidas de que pertenceriam ao mesmo edifício. Para mais foram vários os indícios que nos levaram a atribuir a estes dois compartimentos uma cronologia anterior à da edificação do próprio convento. • Arquitectura singular A arquitectura com que ambos os compartimentos 5 e 2 das alas Oeste, respectivamente dos pisos 1 e 2, se encontram erguidos é bem distinta da dos compartimentos do restante edifício. Ambas as salas se encontram cobertas por abóbadas de arestas apoiadas sobre impostas embutidas nas paredes laterais e ainda sobre dois pilares, ou sobre duas colunas respectivamente. De acordo com os especialistas em História da Arte convidados ao local, o estilo arquitectónico de ambos os espaços encontrar-se-ia já obsoleto aquando da data de fundação do Convento de São Francisco da Ponte, podendo mesmo ser remetido para meados do século XVI. • Piso rebaixado do compartimento superior O piso do compartimento 2 da ala Oeste do piso 2 encontra-se rebaixado relativamente ao piso dos restantes compartimentos deste nível. É certo que muitos dos compartimentos do piso 2 encontram -se desprovidos do seu piso conventual, embora esse não seja o caso do compartimento em questão, nem tão pouco do compartimento com que actualmente comunica a Sul, o compartimento 1 da ala Sul do piso 2, sendo claro o desnível entre os dois. Nenhum outro espaço em todo o edifício conventual se encontra rebaixado relativamente ao piso em que se insere. • Avanço da parede Sul A parede que limita a Sul ambos os compartimentos 5 e 2 das alas Oeste, respectivamente dos pisos 1 e 2, encontra-se avançada relativamente ao restante alçado Sul do edifício, sem que aparentemente se encontrem motivos para este facto. • Vão de passagem na parede Sul Ainda na parede Sul, desta feita no compartimento 5 da ala Oeste do piso 1, foi detectada a metade esquerda de um arco em tijolo ao cutelo que poderá corresponder a um primitivo vão de passagem entre este compartimento e o logradouro. Este arco encontra-se, porém, a uma altura do actual piso de circulação demasiado reduzida para que tenha sido funcional na época conventual. É certo que o actual piso se Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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encontra revestido a cimento, pelo que a sua cota não deverá corresponder à cota de circulação conventual. Não obstante, a julgar pela cota dos pisos conventuais detectados nos compartimentos da mesma ala, nomeadamente nos compartimentos 1 e 2 da ala Oeste do piso 1, a cota do piso deste compartimento à época conventual não deverá ter sido muito diferente da actual. Por este motivo estamos convictos de que o arco detectado, a ter funcionado como vão de passagem, implicaria uma cota de circulação bem inferior à verificada na época conventual. Deste modo, especulamos que o edifício preexistente tivesse o seu compartimento inferior implantado a uma cota de circulação demasiado baixa para se articular com os compartimentos do piso 1 do edifício conventual, tendo sido o seu piso subido para resolver este problema, resultando consequentemente na anulação do seu vão de passagem para o logradouro. • Desalinhamento da parede Oeste A parede que limita a Oeste ambos os compartimentos 5 e 2 das alas Oeste, respectivamente dos pisos 1 e 2, encontra-se desalinhada relativamente ao restante alçado Oeste do edifício, estabelecendo com este um ângulo obtuso ainda que pouco proeminente. • Estranha posição ocupada na planta do edifício Ambos os compartimentos 5 e 2 das alas Oeste ocupam uma estranha posição nas plantas dos pisos 1 e 2, respectivamente, obrigando à criação de trânsitos de acesso pouco práticos e nada directos, ao contrário de todos os demais trânsitos verificados no edifício.

Por todas as evidências agora resumidas, estamos convictos de que os compartimentos 5 e 2 das alas Oeste, respectivamente dos pisos 1 e 2, pertenceriam originalmente a um edifício cronologicamente datável do século XVI, posteriormente incorporado na edificação do Convento de São Francisco da Ponte.

Edifício preexistente n.º 2 O edifício preexistente n.º 2 corresponde aos compartimentos 2, 3, 4 e 5 da ala Sul do piso 1, bem como aos compartimentos que se lhes sobrepõem, os compartimentos 2 e 3 da ala Sul do piso 2. Foram vários os indícios exibidos por este conjunto de compartimentos que nos levaram a considerá-los como pertença de um edifício

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preexistente. A estes indícios juntaram-se outros, que como veremos foram detectados nos compartimentos que vieram confinar com o edifício preexistente n.º 2 aquando da sua anexação ao restante edifício conventual. • Janelas de avental Tanto a janela de avental da parede que limita a Sul o compartimento 3 da ala Sul do piso 2, como a janela de avental detectada na parede que limita a Oeste o compartimento 5 da mesma ala indiciam, como já referido, um espaço aberto para Sul e que hoje, após ter sido limitado a Sul por uma parede de origem industrial, corresponde ao compartimento 2 da dita ala. Uma vez que para o logradouro localizado entre o alçado Sul e a igreja estaria, como veremos, projectado um claustro principal que não chegou a ser erigido, o espaço aberto referido no parágrafo anterior passaria a confrontar directamente com este claustro a partir do momento da sua construção. Estamos convictos da elevada improbabilidade de um tal espaço aberto ter sido originalmente projectado para se articular com um claustro. Por este motivo consideramos provável que tal espaço se encontrasse previamente definido pelo edifício preexistente n.º 2, sendo eminente a sua anulação a partir do momento em que o claustro principal fosse erguido. • Vãos não industriais abertos para trânsitos de circulação No compartimento 2 da ala Sul do piso 1 abrem-se para o trânsito constituído pelo compartimento 1 da ala Sul do piso 1 um estreito vão de janela à direita de um vão de porta de cronologia não industrial. Por outro lado, no compartimento 3 da ala Sul do piso 1 abre-se igualmente um estreito vão de janela de cronologia não industrial, desta feita para o trânsito constituído pelo compartimento 6 da ala Sul do piso 1. Pela forma como abririam as folhas do vão de porta referido no parágrafo anterior, o espaço interior corresponderia ao compartimento 2 e não ao compartimento 1 com o qual comunica. Este facto, articulado com os dois vãos de janela abertos não directamente para o exterior mas para o interior de outros compartimentos (casos únicos em todo o edifício conventual) parece-nos mais consistente com a preexistência dos compartimentos 2 e 3 da ala Sul do piso 1. Para mais, a estreita altura dos vãos de janela sugere que tenham estado articulados com compartimentos dispostos no rés-do-chão, impedindo dessa forma o acesso a eventuais invasores.

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• Vãos emparedados na parede Norte Na parede que limita a Norte os compartimentos 4 e 5 da ala Sul do piso 1 e o compartimento 3 da mesma ala do piso 2, encontra-se um conjunto de cinco vãos emparedados, acção que a julgar pelos materiais utilizados deverá ter ocorrido ainda à época conventual. O facto de todos estes vãos se encontrarem totalmente desarticulados com os compartimentos acima referidos, para os quais abriam antes de serem alvo de emparedamento, sugere que a compartimentação desses espaços não é original. Especulamos que o espaço interior do edifício preexistente n.º 2 tenha sido reorganizado de acordo com as necessidades conventuais surgidas aquando da sua anexação ao restante edifício. Na mesma altura deverá ter ocorrido o emparedamento dos vãos, que se encontrariam então totalmente desarticulados com a nova compartimentação. Um dos vãos emparedados deverá ter correspondido a um vão de passagem, a julgar pela sua largura. Não obstante, a altura a que este vão se encontraria à época conventual do piso de circulação, seria demasiado baixa para permitir o desempenho daquela função. Para mais, o vão, agora emparedado, abrir-se-ia para o interior do compartimento 5 da ala Sul do piso 1, tendo sido anulado não só pelo emparedamento como também pela construção das escadas conventuais que se desenvolvem no interior deste espaço. Por estes motivos, estamos convictos que se trate efectivamente de um vão de passagem para o interior do edifício preexistente n.º 2, sugerindo que o piso de circulação nos compartimentos inferiores do mesmo se encontrasse a uma cota bem mais baixa da cota de circulação conventual. À semelhança dos vãos de janela anteriores, a remodelação dos compartimentos do edifício preexistente n.º 2 para que se ajustassem às necessidades do edifício conventual, ditou igualmente o emparedamento do vão de passagem, tendo provavelmente ditado ainda a subida da cota de circulação no interior dos seus compartimentos inferiores. • Vãos de arco encostados a Este do edifício Em cada uma das paredes Norte e Sul do compartimento 6 da ala Sul do piso 1, o mesmo que corresponde a um trânsito de ligação entre o claustro e o logradouro, abre-se um vão de arco, ambos encostando a Este dos compartimentos 3 e 5 da mesma ala. Averiguámos que estes arcos se encontram simplesmente encostados ao aparelho da parede externa daqueles compartimentos, ao envies de neles imbricarem Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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como seria de esperar caso a projecção e execução dos compartimentos 3, 5 e 6 tivesse ocorrido simultaneamente. Por este motivo estamos convictos de que ao edifício preexistente n.º 2 terá sido anexado o compartimento 6 da ala Sul do piso 1, resultando este facto no encosto dos arcos ao aparelho preexistente. • Cunhal do canto Noroeste do compartimento 3 da ala Sul do piso 2 Este cunhal, ao qual encosta o paramento que limita a Norte o compartimento 1 da ala Sul do piso 2, encontra-se construído com recurso a técnicas e materiais consistentes com os adoptados na construção do claustro, motivo pelo qual estamos convictos que a sua execução seja contemporânea da edificação deste espaço. Face aos argumentos já expostos que nos levam a acreditar na ocorrência do edifício preexistente n.º 2, especulamos que este cunhal corresponda a uma acção de restauro e consolidação realizada à época conventual naquele canto do edifício, que sendo preexistente poderia não encontrar-se então nas melhores condições para uma total integração no restante conjunto conventual, nomeadamente das alas do claustro. • Alinhamento entre paramentos no compartimento 1 da ala Sul do piso 2 Na parede Este do compartimento 1 da ala Sul do piso 2 foi detectado um alinhamento entre paramentos orientado com o canto Sudoeste do compartimento 3 da mesma ala. Este alinhamento sugere a preexistência da parede que limita a Oeste o compartimento 3 da ala Sul do piso 2 ao qual encostou um novo tramo de parede, aquando da construção do compartimento 1 da mesma ala, que por sua vez veio unir o edifício preexistente n.º 1 ao edifício preexistente n.º 2.

Apesar de nenhum dos compartimentos originalmente pertencentes ao edifício preexistente n.º 2 preservar indícios suficientes para que possamos especular sobre a sua cronologia, não restam dúvidas, face aos argumentos expostos, quanto à sua preexistência relativamente ao restante edifício conventual. Um argumento final apoia a hipótese agora explorada de preexistência de ambos os edifícios preexistentes n.º 1 e n.º 2: • Largura dos compartimentos 1 das alas Sul dos pisos 1 e 2 Tanto o compartimento 1 da ala Sul do piso 1, como aquele que se lhe sobrepõe, o compartimento 1 da ala Sul do piso 2, funcionam na prática como trânsitos que à época conventual deverão ter sido projectados para unir os dois claustros previstos, mesmo que apenas um tenha efectivamente sido construído (relembramos que o Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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compartimento 1 da ala Sul do piso 1 serve ainda o acesso ao compartimento 4 da ala Oeste do piso 1). Não obstante a função que desempenham, ambos os compartimentos apresentam uma largura considerável quando comparada com a largura dos restantes trânsitos que se articulam com o claustro construído. Como consequência deste facto, os dois espaços foram cobertos não por abóbadas de berço como ocorre em todos os trânsitos do edifício conventual, mas antes por abóbadas abatidas, uma solução arquitectónica impar em todo o edifício, se exceptuarmos o corredor do dormitório do piso 0, ou compartimento 22 da ala Este do piso 0. Estamos convictos que a singularidade da largura e da cobertura com que se apresentam os compartimentos 1 das alas Sul dos pisos 1 e 2 se deve ao facto de ambos os compartimentos unirem dois edifícios preexistentes entre si, que naturalmente se encontravam a uma distância um do outro já existente aquando da criação arquitectónica do edifício conventual.

4.2. UMA CONSTRUÇÃO FASEADA

Uma vez constatadas as evidências relativas à preexistência de dois edifícios relativamente ao complexo conventual, parece-nos evidente que tenham existido pelo menos dois momentos construtivos no que diz respeito à edificação do Convento de São Francisco da Ponte, correspondendo o primeiro momento à edificação dos edifícios preexistentes e o segundo à construção do restante edifício. Não obstante, foram igualmente detectados indícios de que o segundo momento terá ocorrido de uma forma faseada. Referimo-nos aos alinhamentos entre paramentos e aos cunhais já descritos do decurso da análise arquitectónica dos três pisos apresentada anteriormente. No seu conjunto estas características arquitectónicas revelam diversas fases construtivas para a edificação do Convento de São Francisco da Ponte. De momento expomos de forma resumida os argumentos que sustentam cada uma das diversas fases do segundo momento construtivo. Apresentaremos contudo, no final destas considerações uma ilustração representando cada uma das plantas do Convento de São Francisco da Ponte em cada uma das distintas fases em que acreditamos terem sido erguidas.

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• Fase I: Ala Este A primeira fase construtiva corresponde aos três pisos da ala Este, desde a sua anexação ao corpo da igreja até aos três trânsitos que antecedem o corpo de escadas mais a Norte desta ala, os compartimentos 20, 19 e 19 dos pisos 0, 1 e 2 respectivamente. Recordamos que nas paredes que limitam a Este os compartimentos 1 das alas Norte dos pisos 1 e 2 foi detectado um alinhamento resultante do encosto entre a primitiva parede Oeste dos três pisos da Ala Este e o paramento que posteriormente lhe foi anexado, na fase em que se concluiu a construção da ala Este tal como chegou aos nossos dias e simultaneamente se iniciou a construção da ala Norte (fase II). Recordamos ainda que este alinhamento se encontra perfeitamente orientado com um pilar anexo à parede Sul do compartimento 20 da ala Este do piso 0. Este pilar, de funções nada claras, poderá corresponder a um antigo cunhal que não tenha sido desmontado aquando da fase II, eventualmente por se ter demonstrado demasiada resistência. As fases II e III são denunciadas por um conjunto de evidências que se encontram perfeitamente alinhadas entre si no sentido Norte/Sul e que abarcam tanto a ala Norte como a ala Sul do edifício conventual. Por este motivo não estamos totalmente seguros de que as duas fases tenham ocorrido separada ou simultaneamente. • Fase II: Ala Norte até ao trânsito da dita ‘porta do carro’ Na fase II concluiu-se o topo Norte da ala Este, resultando no alinhamento e pilar referidos na fase I, e iniciou-se a construção da ala Norte até à parede que limita a Oeste o compartimento 3 da ala Norte do piso 0, o compartimento 2 da ala Norte do piso 1, ao qual posteriormente se anexou o trânsito da dita ‘porta do carro’, e o compartimento 2 da ala Norte do piso 2. Esta fase ficou assinalada no edifício por um cunhal visível no canto exterior Sudoeste dos compartimentos 2 das alas Norte dos pisos 1 e 2. É provável que um cunhal semelhante se encontre no canto Noroeste dos mesmos compartimentos, embora a presença de reboco no alçado Norte do edifício não nos tenha permitido averiguar a sua existência. • Fase III: Ala Sul até ao trânsito de acesso ao logradouro Na fase III iniciou-se a construção da ala Sul, anexa sensivelmente a meio da ala Este, até à parede que limita a Este o compartimento 6 da ala Sul do piso 1, que serve Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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de trânsito de acesso ao logradouro, mas também os compartimentos que se lhe sobrepõem, os compartimentos 4 e 5 da ala Sul do piso 2. Uma vez que não foram detectados alinhamentos entre paramentos, cunhais ou outras evidências capazes de apontar para uma distinção cronológica entre a fase I e a presente fase, não podemos afirmar contundentemente que as duas tenham sido executadas separada ou simultaneamente. Contudo, foram detectados dois cunhais, um no canto exterior Sudoeste do compartimento 1 da ala Sul do piso 0 e do compartimento que se lhe sobrepõe, o compartimento 6 da ala Sul do piso 2, e outro no canto exterior Noroeste dos mesmos, marcando indiscutivelmente o final da fase em que se iniciou a construção da ala Sul. Como referido anteriormente estes cunhais encontram-se alinhados com o cunhal referido na fase II. • Fase IV: Ala Norte até ao ‘refeitório’ Nesta fase concluiu-se a construção da ala Norte. Para tal foram anexados aos compartimentos desta ala erguidos na fase II os compartimentos 3 e 4 da ala Norte do piso 1, assim como o espaço que se lhe sobrepõe, o compartimento 3 da ala Norte do piso 2. Esta anexação é testemunhada pelo encosto entre o paramento que limita a Sul estes compartimentos e o cunhal referido na fase II, que por sua vez remata o canto exterior Sudoeste dos compartimentos nela erguidos. O final da fase IV, por seu turno, é assinalado por um cunhal detectado no interior do ‘refeitório’, ou compartimento 1 da ala Oeste do piso 1. Este cunhal, visível à direita do vão de arco que estabelecia a comunicação entre este compartimento e o compartimento 4 da ala Norte do piso 1, rematava o canto exterior Sudoeste deste último e é possível que disponha de um cunhal homólogo no canto exterior Noroeste do mesmo, embora o reboco patente no alçado Norte não o permita confirmar. • Fase V: Ala Oeste Nesta fase foram edificados os compartimentos que se encontram na ala Oeste do edifício, desde o ‘refeitório’ localizado no seu topo Norte até ao compartimento 4 da mesma ala do piso 1, assim como o que se lhe sobrepõe, o compartimento 1 da mesma ala do piso 2, sendo estes últimos responsáveis pela união entre o corpo da ala Oeste erguido na presente fase e o edifício preexistente n.º 1 que desta forma passou a integrar a mesma ala.

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Especulamos que toda a ala Oeste tenha sido erguida de uma vez só, dado que não foram nela detectados vestígios de alinhamentos entre paredes, cunhais ou pilares que testemunhem uma construção faseada. • Fase VI: Inclusão do edifício preexistente n.º 2 e união das alas Sul e Oeste Nesta fase foi anexado ao corpo Sul e remodelado conforme as novas necessidades conventuais o edifício preexistente n.º 2, assim como a sua união ao edifício preexistente n.º 1, unindo desta forma as alas Sul e Oeste. Pelos motivos que apresentaremos de seguidas, estamos convictos de que esta última acção terá sido realizada em simultâneo com a construção do claustro. Apesar das evidências que comprovam todas estas acções, algumas já demonstradas, não estamos seguros de que tenham ocorrido em simultâneo ou, se pelo contrário, tenham sido desenvolvidas isoladamente. Por este motivo optámos por apresentar as diferentes acções construtivas em instantes distintos, embora não excluamos a possibilidade de que tenham ocorrido em simultâneo. - Instante I: anexação do edifício preexistente n.º 2 aos compartimentos da ala Sul erguidos previamente na fase III, através da construção do compartimento 6 da ala Sul do piso 1, assim como dos compartimentos que se lhe sobrepõem, os compartimentos 4 e 5 da ala Sul do piso 2. Este instante construtivo é testemunhado pela forma como a cantaria que emoldura ambos os vãos de arco abertos nos topos Norte e Sul do compartimento 6 da ala Sul do piso 1 encostam tanto à esquerda, nos cunhais detectados nos cantos exteriores Noroeste e Sudoeste dos compartimentos erguidos na fase III, como à direita na parede que limita a Este os compartimentos pertencentes ao edifício preexistente n.º 2. Neste instante foi igualmente erguida a parede que limita a Oeste o compartimento 5 da ala Sul do piso 2 que, como vimos aquando da descrição arquitectónica deste espaço, encosta à parede Oeste do compartimento 4 da mesma ala, que na prática corresponde à parede Este do edifício preexistente n.º 2. A nova parede veio, por seu turno, limitar a Este o espaço aberto a Sul que tendo sido fechado à época industrial deu origem ao compartimento 2 da ala Sul do piso 2. - Instante II: remodelação do edifício preexistente n.º 2, da qual resultou uma nova compartimentação, melhor ajustada às necessidades conventuais para este espaço. Esta acção é testemunhada pelos emparedamentos dos vãos detectados na

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parede que limita a Norte este edifício e que, como já referido, foram emparedados em consequência da sua desarticulação relativamente aos novos compartimentos interiores. - Instante III: União dos edifícios preexistentes n.º 1 e n.º 2, através da construção do compartimento 1 da ala Sul do piso 1 e do compartimento 1 da ala Sul do piso 2 que se lhe sobrepõe, e construção do claustro. A anexação entre os dois edifícios preexistentes resultou no encosto da parede que limita a Norte o compartimento 1 da ala Sul do piso 2 ao canto exterior Noroeste do compartimento 3 da mesma ala. No entanto neste canto, como já referido, encontra-se aplicado um cunhal construído com o mesmo tipo de técnica e de materiais aplicados no claustro, denunciando uma cronologia aproximada para a aplicação do cunhal naquele canto e para a construção do claustro. Recordamos que a aplicação deste cunhal poderá corresponder a uma acção de consolidação do canto Noroeste do edifício preexistente n.º 2. A ser verdadeiro este conjunto de premissas, então a edificação do claustro e a dos compartimentos 1 das alas Sul dos pisos 1 e 2 são contemporâneas. Por este motivo incluímos as suas construções no mesmo instante. A união entre os dois edifícios preexistentes resultou ainda num alinhamento entre paramentos verificado na parede Es te do compartimento 1 da ala Sul do piso 2, que terá surgido em consequência do encosto à parede Oeste do edifício preexistente n.º 2 de uma nova parede que veio limitar a Este aquele compartimento. À semelhança do que se verifica no compartimento 5 da mesma ala do piso 2, o novo paramento veio limitar, desta feita a Oeste, o espaço aberto a Sul que tendo sido fechado à época industrial deu origem ao compartimento 2 da ala Sul do piso 2. A edificação do claustro, por seu turno, implicou, como referido aquando da análise arquitectónica da sua ala Este, a construção de uma parede apensa ao exterior da parede Oeste do piso 2 da ala Este. Esta parede testemunha a individualização do instante construtivo do claustro, em detrimento da hipótese de uma construção em simultâneo com a do restante edifício conventual. A existência desta parede comprova-se ao nível do piso 2 da ala Este do claustro, onde alguns desmontes ocorridos na época industrial permitem verificar a forma como as duas paredes encostam entre si. Do mesmo modo, verifica-se o encosto entre o novo paramento e a parede exterior Sul da ala Norte do piso 2 e a parede exterior Norte da ala Sul do mesmo piso.

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Por todas estas evidências achamos pertinente sublinhar ter a obra de construção do novo Convento de São Francisco da Ponte sido levada a cabo de uma forma faseada e não de uma só vez. Sendo a Ordem dos franciscanos uma Ordem essencialmente mendicante, não será de estranhar que os seus edifícios fossem por vezes construídos à medida que as esmolas fossem engrossando o orçamento de que dispunham.

4.3. REUTILIZAÇÃO DE MATERIAIS CONSTRUTIVOS

Tal como foi referido ao longo dos capítulos dedicados à análise da arquitectura do edifício do Convento de São Francisco da Ponte, foi detectada uma grande quantidade de materiais construtivos em contexto de reaproveitamento, em particular ao longo das alas Este e Norte. Em ambas as alas Este e Norte verifica-se uma enorme quantidade de peças de alvenaria e mesmo de cantaria calcária reaproveitada nos paramentos. O seu contexto de reaproveitamento é denunciado por três factores: - A sua cor branca que contrasta com a cor amarelada das pedras calcarias que constituem o aparelho das paredes destas alas; - Os vestígios de pintura que algumas exibem mesmo nas faces voltadas para o interior das paredes em que foram aplicadas, denunciando tratar-se efectivamente de vestígios de pintura do seu local de origem; - A forma cuidada com que se apresentam talhadas contrastando com a forma aleatória com que foram aplicadas no aparelho. Estas peças de cantaria encontram-se um pouco por todas as paredes das alas Este e Norte, embora se verifique uma maior concentração nas faces internas dos vãos de janela e de porta, assim como nos vãos de arco, tirando desta forma melhor partido das suas faces bem aparelhadas. Também alguns silhares se encontram em claro contexto de reaproveitamento, como se verifica na caixa de visita da latrina, localizada no compartimento 3 da ala Norte do piso 1. Na realidade o talhe destes silhares, de tão grandes dimensões, implicou com certeza um considerável esforço que não coincide com a forma pouco cuidada com que se encontram ali aplicados, denunciando desta forma encontrarem-se num contexto para o qual não foram originalmente previstos.

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Ainda na caixa de visita da latrina foi detectado um lintel em cantaria de calcário ao gosto manuelino que se encontra invertido, denunciando com este facto não se encontrar no seu contexto original. Para mais, o seu estilo estava já ultrapassado aquando da data de fundação do convento, motivo pelo qual estamos convictos de que tenha provindo de um edifício de cronologia mais antiga. A proveniência de materiais de um edifício mais antigo reutilizados no Convento de São Francisco da Ponte é reforçada por algumas peças de cantaria que exibem marcas de canteiro. Como é sabido, este tipo de marcação dos materiais pétreos é característica da Idade Medieval e portanto estaria já em desuso aquando da época de construção deste edifício. Relembramos que durante a análise arquitectónica do edifício foram detectadas duas peças de cantaria exibindo marcas de canteiro, aplicadas na ombreira direita do vão de janela do compartimento 4 da ala Este do piso 1, assim como uma peça de cantaria exibindo marca de canteiro aplicada no aparelho do canto Sudeste da ala Norte do piso 1. Foi ainda detectado um silhar assinalado com marca de canteiro aplicado na parede exterior do compartimento 1 da ala Sul do piso 0, visível desde o interior do claustro. Na mesma parede em que se encontra aplicado aquele silhar, especulamos ter ocorrido à época conventual uma escadaria de acesso ao compartimento 3 da ala Sul do piso 0, tal como havíamos já exposto aquando da análise arquitectónica desta ala. Aplicado como corrimão dessas escadas detectámos uma moldura com características medievais em cantaria de calcário, também ela em claro contexto de reaproveitamento e denunciando uma proveniência a partir de um edifício de cronologia anterior à da edificação do convento. No próprio compartimento 3 da ala Sul do piso 0 encontra-se aberta, na sua parede Norte, um vão de janela que exibe um lintel em cantaria de calcário de características medievais, podendo igualmente especular-se que tenha a sua origem num edifício de cronologia mais antiga e que se encontre portanto em contexto de reaproveitamento. Ainda na ala Sul, foram ainda detectadas duas peças de cantaria de calcário em claro contexto de reaproveitamento. A primeira foi removida do friso horizontal que decorava o alçado Sul, no âmbito da reparação a que foi sujeito este elemento arquitectónico. Ao ser retirado, verificou-se que se tratava efectivamente de uma moldura medieval em cantaria de calcário que se encontrava aplicada de forma invertida, tendo a sua face trabalhada sido voltada para o interior do paramento que constituía o alçado Sul.

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O mesmo se pode dizer de uma peça em cantaria de calcário decorada com motivos vegetalistas em baixo relevo, reaproveitada como ombreira direita do vão de janela que se abria na parede Sul do compartimento 7 da ala Sul do piso 2, exibindo no entanto a sua face posterior. Foi durante a operação de reconstrução deste vão, decorrida no âmbito da presente empreitada, que esta peça foi removida revelando a sua face decorada.

Como vemos, são vários os elementos arquitectónicos que se encontram em óbvio contexto de reaproveitamento, alguns dos quais denunciando uma proveniência a partir de um ou vários edifícios de cronologia mais antiga face à cronologia de edificação do Convento de São Francisco da Ponte. Desconhecemos o local original destes elementos, embora não excluamos a possibilidade de provirem do primitivo Convento de São Francisco da Ponte, localizado junto da margem esquerda da extremidade Oeste da ponte afonsina que unia as duas margens do rio Mondego. Como é sabido, este edifíc io não resistiu ao processo de assoreamento do rio Mondego, demonstrando preocupantes sinais de ruína pelo menos desde os inícios do século XVI e motivando o deslocamento da comunidade religiosa para o actual Convento de São Francisco da Ponte, que viria a ser construído a partir de 1602. Em 1641 é derrubada última parede do antigo convento (SANTOS, 1997: 16). Não existem referências documentais que subscrevam a utilização dos materiais construtivos do antigo convento no novo edifício. No entanto, face à imensa quantidade de materiais construtivos que a ruína do antigo edifício disponibilizaria e face às evidências constatadas quanto à reutilização de materiais cronologicamente mais antigos no novo edifício, parece-nos razoável admitir que o novo Convento de São Francisco da Ponte tenha reutilizado materiais do antigo edifício arruinado.

4.4. O CLAUSTRO PRINCIPAL

Os claustros são uma solução arquitectónica aplicada em múltiplos edifícios religiosos, que resulta da necessidade de organizar de forma funcional espaços com distintas funcionalidades e hierarquias. Simultaneamente o claustro fornece a dupla sensação de clausura, de onde aliás provem a sua designação, e de abertura aos elementos

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naturais. Constitui ainda um espaço privilegiado de reflexão e oração, simbolizado pelo perpétuo percurso possibilitado pela ligação entre as suas quatro alas. Por serem várias e de distintas naturezas as funções a que um claustro se destina, muitos edifícios religiosos evoluíram para passar a incluir dois ou mais claustros. Nos edifícios que incluem dois claustros o primeiro, ou ‘claustro principal’, destina-se a articular os compartimentos de maior nobreza, como sejam a igreja, a sacristia e a sala do capítulo, ao passo que o segundo, ou ‘claustro de serviço’, se destina a congregar os espaços mais práticos, como as oficinas, a adega ou a despensa. Ora o único claustro verificado actualmente no Convento de São Francisco da Ponte, articula-se precisamente com compartimentos de natureza mais prática, como os que julgamos terem funcionado como adega, cozinha, despensa, amassaria e até com um acesso de serviço ao exterior, a dita ‘porta do carro’. Para mais, a tradição de traçado dos edifícios conventuais nunca permitiu um único claustro separado do corpo da igreja (SANTOS, 1997: 40). Por todos estes motivos, mas também por algumas evidências que exporemos adiante, julgamos ter sido inicialmente projectado para o Convento de São Francisco da Ponte um claustro principal que nunca chegou a ser erguido, constituindo o claustro efectivamente construído um claustro de serviço. Já Pedro dos Santos havia reflectido sobre esta possibilidade, avançando com alguns argumentos que subscrevemos na totalidade. • O espaço não construído entre a ala Sul e a Igreja, equivalente em dimensão ao espaço ocupado pelo ‘claustro de serviço’ (SANTOS, 1997: 40), constitui um espaço ideal para a construção de um ‘claustro principal’, que para mais ficaria desse modo directamente articulado com a igreja e com a ‘casa do capítulo’; • Alguns vãos dos ‘dormitórios’ orientados no sentido Este/Oeste articular-seiam com as galerias Norte e Sul do ‘claustro principal’, caso este fosse erguido (SANTOS, 1997: 40). Na realidade, os vão de janela em ‘sacada’ detectados nos três pisos dos ‘dormitórios’ da ala Este poderiam a qualquer instante ser convertidos em portas de acesso às alas Norte e Sul do ‘claustro principal’, sugerindo que este terá sido projectado para incluir na totalidade três pisos; • Os silhares que se destacam do topo Oeste do alçado Sul denunciam a intenção de ali anexar algum paramento (SANTOS, 1997: 41). Já antes nos tínhamos referido a estes elementos arquitectónicos aquando da análise arquitectónica do

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alçado Sul, assim como à possibilidade de se tratarem de vestígios de um arranque de parede desmontada. Parece-nos no entanto, que se a sua existência se devesse à intenção de ali anexar um futuro paramento, estes se encontrariam em maior número e se localizariam desde a base do alçado até ao seu topo e não exclusivamente no topo, como se verifica. Para mais, já demonstrámos como esta parte do alçado Sul corresponde à parede Sul do edifício preexistente n.º 1, pelo que não seria possível acrescentar-lhe aquelas pedras com a intenção de as fazer coincidir com a futura construção do ‘claustro principal’. Não nos parece portanto coerente aceitar este argumento de Pedro dos Santos. Não obstante, o autor refere a orientação do canto Sudoeste do edifício a que nós atribuímos a designação de ‘edifício preexistente n.º 1’ com o canto Nordeste da capela-mor da igreja, apontando essa orientação como o limite poente do ‘claustro principal’ projectado o que, em nossa opinião, nos parece bastante razoável. • As galerias Este e Oeste do piso 2 do ‘claustro de serviço’, assim como a sua galeria Oeste do piso 1, parecem ter continuidade para Sul (SANTOS, 1997: 41). Efectivamente, o compartimento 7 da ala Sul do piso 2, assim como o compartimento 1 da ala Sul do piso 2 e ainda o compartimento 1 da ala Sul do piso 1 a que o autor se refere, mas também o compartimento 6 da ala Sul do piso 1 e os compartimentos 4 e 5 da ala Sul do piso 2, atravessam toda ala Sul na perpendicular, unindo não só as alas Este e Oeste do ‘claustro de serviço’ mas também o centro das alas Sul dos seus pisos 1 e 2 ao espaço para o qual se projectou o ‘claustro principal’. Pelo menos um destes compartimentos, o compartimento 1 da ala Sul do piso 2, não se encontrava à época conventual articulado com qualquer outro compartimento para além da ala Oeste do piso 2 do ‘claustro de serviço’, indiciando ter sido projectado unicamente para se articular com o futuro ‘claustro principal’. O mesmo carácter parece ter tido o conjunto composto pelos compartimentos 4 e 5 da ala Sul do piso 2, embora, como visto aquando da análise arquitectónica desses espaços, as alterações ali levadas a cabo durante a fase de ocupação industrial deste edifício dificultem de certa maneira a interpretação das suas funções originais.

Como vemos, são alguns os indícios que apontam para a projecção de um ‘claustro principal’ no espaço que convencionámos designar por ‘logradouro’. Contudo, estamos convictos de que este claustro nunca chegou a ser erguido.

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Como referido no volume dedicado ao Acompanhamento Arqueológico das obras realizadas na presente empreitada, uma grande parte da área ocupada pelo ‘logradouro’ foi sujeita a rebaixamento da sua cota de circulação, tendo este sido realizado até ao afloramento rochoso. Algumas estruturas foram então detectadas, embora todas elas datassem da época de ocupação industrial, constituindo parte das fundações de compartimentos então construídos neste espaço. Não foram detectadas estruturas ou elementos arquitectónicos consistentes com qualquer construção conventual neste espaço, motivo pelo qual excluímos a possibilidade de ter sido erguido o ‘claustro principal’.

***

Como ficou demonstrado, o Convento de São Francisco da Ponte apresenta uma grande complexidade construtiva, o que dificulta por vezes a interpretação funcional de alguns dos seus espaços. A somar a esta complexidade, todo o edifício foi profundamente alterado aquando da sua ocupação industrial, tendo sido anuladas certas características arquitectónicas e até compartimentos inteiros, tornando mesmo impossível a reconstituição de vários aspectos da vida conventual deste espaço. Não obstante, é de nossa convicção de que o presente estudo se realizou num momento privilegiado para leitura histórica da arquitectura do Convento de São Francisco da Ponte, uma vez que as próprias características da obra desenvolvida na presente temporada expuseram os seus segredos mais bem escondidos. Esperamos com o presente estudo ter de alguma forma contribuído para engrossar as escassas informações disponíveis relativamente ao Convento de São Francisco da Ponte e fazemos votos para que de futuro novos estudos possam somar-se a este, no sentido de aumentar o conhecimento histórico deste edifício.

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Fases Construtivas do Piso 0

Fase I

Fase II

Fase III

N Legenda: - Pilares detectados - Cunhais detectados

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Fases Construtivas do Piso 1

Edifícios Preexistentes (edifício preexistente n.º 1 – em cima, edifício preexistente n.º 2 – em baixo)

Fase I

N

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Fase II

Fase III N

Legenda: - Cunhais detectados - Alinhamentos detectados

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Fase IV

Fase V N

Legenda: - Cunhais detectados - Alinhamentos detectados

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Fase VI – Instante I

Fase VI – Instante II

N

Legenda: - Cunhais detectados - Alinhamentos detectados

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Fase VI – Instante III

Fases Construtivas do Piso 2

Edifícios Preexistentes (edifício preexistente n.º 1 – em cima, edifício preexistente n.º 2 – em baixo) N Legenda: - Cunhais detectados - Alinhamentos detectados

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Fase I

Fase II N

Legenda: - Cunhais detectados - Alinhamentos detectados

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Fase III

Fase IV

N

Legenda: - Cunhais detectados - Alinhamentos detectados

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Fase V

Fase VI – Instante I N

Legenda: - Cunhais detectados - Alinhamentos detectados

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Fase VI – Instante II

Fase VI – Instante III

N Legenda: - Cunhais detectados - Alinhamentos detectados

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TRABALHOS ARQUEOLÓGICOS NO ÂMBITO DAS O BRAS DE C ONSOLIDAÇÃO ESTRUTURAL NO C ONVENTO DE SÃO F RANCISCO DA P ONTE SANTA CLARA – C OIMBRA

2ª PARTE

ESTUDO DO SISTEMA HIDRÁULICO

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INDÍCE

2ª Parte – Estudo do Sistema Hidráulico

1. Introdução 2. Recursos humanos 3. Sistema Hidráulico Conventual 3.1. Captação 3.1.1. Captação de águas subterrâneas 3.1.2. Captação de águas pluviais 3.2. Adução 3.3. Armazenamento 3.4. Distribuição 3.5. Escoamento 3.5.1. Conduta de abastecimento 3.5.2. Caixa de visita 3.5.3. Cloaca de escoamento 3.5.4. Considerações sobre a latrina não detectada 3.5.5. Escoamento de águas pluviais 4. Anexo gráfico (Sistema Hidráulico Conventual) 5. Outras estruturas hidráulicas 5.1. Sala do capítulo 5.2. Claustro 5.3. Parque de estacionamento 6. Considerações Finais

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1. I NTRODUÇÃO No presente capítulo apresentam-se os resultados obtidos no levantamento arqueológico do sistema hidráulico da época conventual do Convento de São Francisco da Ponte. Foram ainda analisadas as estruturas relacionadas com a hidráulica no período de ocupação fabril do espaço mas com algumas limitações como à frente veremos. O estudo do sistema hidráulico conventual no caso de São Francisco da Ponte reveste-se de uma particularidade condicionante. A ocupação industrial do edifício, ocorrida desde o século XIX até recentemente, alterou profundamente várias das suas componentes, em particular as que se localizavam no subsolo. Em alguns casos verificou-se uma alteração das estruturas hidráulicas conventuais de forma a reajustálas às novas necessidades industriais, noutros a construção de novos aparelhos industriais anulou completamente os aparelhos conventuais. Por estes motivos, deparámo-nos por vezes com algumas dificuldades em distinguir a época construtiva de determinadas estruturas ou em interpretar a sua função original. A somar a estas dificuldades está a difícil distinção cronológica de algumas estruturas que aconteceu sempre que os seus materiais construtivos não eram especificamente modernos ou especificamente contemporâneos. A proximidade cronológica entre o abandono conventual motivado pela extinção das ordens religiosas em 1834 e a ocupação industrial do espaço deu origem a que os materiais utilizados na construção de determinadas estruturas fossem por vezes difíceis de datar. Não obstante, procedemos à realização de sondagens arqueológicas sistemáticas, o que produziu um considerável número de dados passíveis de nos permitir estabelecer cronologias de utilização absolutas ou relativas. Tradicionalmente, o estudo de um sistema hidráulico conventual reflecte-se sobre cinco áreas distintas, a captação, a adução, o armazenamento e a distribuição das águas ‘limpas’, e o escoamento das águas ‘sujas’. Nestas áreas incidirá igualmente o presente estudo. No final deste capítulo apresentamos uma planta do edifício conventual onde se encontram assinalados os vestígios detectados relativos ao sistema hidráulico conventual.

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2. RECURSOS HUMANOS Os trabalhos foram desenvolvidos pelos arqueólogos António Ginja e Mónica Ginja da empresa Munis – Trabalhos de Arqueologia, Lda., de acordo com a solicitação da empresa BEL, S.A. encarregue da empreitada. Deveu-se igualmente à empresa BEL, S.A. a disponibilidade de meios técnicos e humanos na realização das sondagens necessárias à execução do presente estudo, bem como na elaboração da planta geral relativa ao sistema hidráulico conventual.

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3. SISTEMA HIDRÁULICO CONVENTUAL 3.1. Captação

3.1.1. Captação de águas subterrâneas

Não existem referências bibliográficas, ou sequer indícios que apontem para uma indiscutível localização do ponto de captação de água à época conventual. De acordo com Pedro dos Santos, a alimentação da cisterna conventual processarse-ia através do aproveitamento de águas das minas existentes na cerca (SANTOS, 1997: 42). Por outro lado, algumas informações orais locais levam-nos a acreditar na existência de uma mina de água natural, localizada nas traseiras da igreja. Visto isto, julgamos preponderante explorar convenientemente a encosta que separa o Convento de São Francisco da Ponte do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, desde as traseiras da igreja de São Francisco da Ponte até ao limite Norte do espaço conventual, assinalado pela cerca conventual que ainda ali se constata. Se em relação às traseiras da igreja a investigação se pôde proceder abrindo uma sondagem (sondagem 9), já a restante área da encosta só poderá ser convenientemente inspeccionada após a limpeza do mato que actualmente a cobre. Do que nos foi permitido averiguar, grande parte daquela encosta distribui-se por dois patamares a que se acede por uma escada implantada a Norte da chamada ‘porta do carro’. Nestes patamares existem efectivamente vestígios de captação de água, datáveis, no entanto, da época de ocupação industrial do edifício. O primeiro destes vestígios encontra-se no patamar superior, anexado a um paredão natural de afloramento rochoso, imediatamente abaixo dos edifícios que actualmente constituem o Museu Militar de Santa Clara-a-Nova. Consiste num tanque (tanque I) construído com placas de betão armado, com cerca de 3 m 3 de capacidade. Apresenta-se a uma cota de implantação de 54,15 m (medida na sua base).

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Foto 315 – Tanque I. Perspectiva Sudeste.

Deste tanque partem dois tubos metálicos. O primeiro, implantado na sua parede lateral Norte junto à base, não se encontra relacionado com quaisquer estruturas, estando interrompido alguns centímetros para além do tanque. O segundo tubo está implantado na sua parede frontal Este, junto ao topo, descendo até à sua base, onde se anexa a um outro tubo em PVC. Um simples teste proporcionado pelo enchimento deste tanque com água, permitiunos constatar que aquele tubo em PVC conduzia na realidade as suas águas em direcção ao tanque II, que descreveremos de seguida. Apesar dos evidentemente recentes materiais construtivos do tanque I, será possível que esteja anexado a alguma mina de água mais antiga? Apenas conseguiremos obter resposta a esta questão depois de limpo o mato que cobre toda aquela área e talvez mesmo só depois de se proceder ao desmonte do próprio tanque. O segundo vestígio consiste igualmente num tanque (tanque II), que se encontra sensivelmente no alinhamento do primeiro, embora mais para Este e no patamar inferior da encosta de Santa Clara-a-Nova. Está construído também com materiais recentes, embora aparente ter sido erguido a partir das ruínas de um tanque mais antigo cujos materiais (alvenaria de pedra e argamassa de cal) apresentam inclusive uma patine antiga. Trata-se de um tanque de apreciáveis dimensões, capaz de reter um grande volume de água (cerca de 46 m 3 de capacidade). Apresenta-se a uma cota de implantação de 51,35 m (medida na sua base). A ter existido já na época de ocupação conventual, esta estrutura poderia ter funcionado como um centro de captação de água a partir de um ou vários pontos de origem, antes da sua distribuição para o edifício conventual. A ser verdade, e dado que se localiza num patamar superior em relação àquele edifício, então esta estrutura

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poderá ter funcionado como um tanque capaz de criar pressão suficiente para que a água escoasse dele em direcção a outro ponto de destino.

Foto 316 – Tanque Perspectiva Nordeste.

II.

Como já referido, ao proceder ao enchimento do tanque I com água, apurámos que a escoava em direcção ao tanque II. Na realidade, o tubo em PVC que parte do primeiro tanque atravessa totalmente o segundo, entrando e saindo, respectivamente pelas suas paredes Oeste e Este, interrompendo-se de imediato, não estando anexado a quaisquer estruturas. No interior do tanque II, encontra-se instalada uma torneira naquele tubo, indicando que seria desta forma fornecido de água pelo tanque I. O facto de o tanque I e II se encontrarem unidos por um tubo de PVC indica para além de dúvidas uma ligação recente entre os dois. Não obstante, uma relação mais remota entre ambos não deverá ser totalmente colocada de parte, sob pena de nunca virmos a estar em posição de compreender totalmente as suas funções originais. Ligeiramente a Sul do tanque II, embora ao nível do piso de circulação do actual caminho que separa o alçado Oeste do edifício conventual da encosta de Santa Clara-a-Nova, detectámos duas estruturas passíveis de terem, no passado, estado com ele articuladas. A primeira consiste num tanque (tanque III) que se encontra no alinhamento da cozinha, embora entre ele e a parede exterior daquele espaço exista a distância de alguns metros. Trata-se de um tanque com cerca de 30 m 3 de capacidade, construído com recurso a um aparelho regular de pedra unida por argamassa de cimento. Tem no seu topo um pequeno resguardo em pedra e betão armado, de onde parte uma

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série de degraus em ferro, que permitiam o acesso ao seu interior. Apresenta-se a uma cota de implantação de 36,11 m (medida na sua base). Apesar da evidente cronologia recente dos seus materiais construtivos, a sua posição face ao tanque II e à cozinha levou-nos a suspeitar da possibilidade de ter originalmente pertencido ao sistema hidráulico conventual. Por este motivo executámos uma sondagem anexa à parede externa da cozinha (sondagem 8), cujo objectivo passava pela detecção de alguma conduta que estabelecesse ligação entre aquele espaço e tanque III. Dos resultados dessa sondagem trataremos no ponto dedicado à Adução das águas do sistema hidráulico conventual.

Foto 317 – Tanque Perspectiva Sul.

III.

A segunda estrutura passível de ter estado no passado articulada com o tanque II consiste numa caleira de queda vertical detectada a cerca de dois metros a Norte do tanque III (seta vermelha). Trata-se de uma caleira implantada no muro que estabelece actualmente o limite a poente o caminho que separa o alçado Oeste do edifício conventual e a encosta de Santa Clara-a-Nova. Este muro deverá exercer igualmente a função de suporte de terras daquela encosta, motivo pelo qual se encontra construído com alguma inclinação. É um muro construído através do recurso a um aparelho regular de alvenaria de pedra unida com argamassa de cal. Por seu turno, a caleira, que possui cerca de 20 cm de largura e 3 m de altura, foi obtida através da moldagem dos silhares que constituem o aparelho do próprio muro. Nas paredes internas desta caleira encontravam-se alguns vestígios de uma resina de cor negra que poderá ter unido e isolado alguma estrutura que fechasse a caleira, executada com recurso a, por exemplo, telhas lusas, embora de tal estrutura não tenhamos constatado quaisquer vestígios. Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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Foto 318 – Caleira detectada a Norte do tanque III. Perspectiva Nordeste. Destaque para a localização do tanque III (seta vermelha).

À semelhança do que aconteceu com o tanque III, também neste caso a proximidade entre a caleira e o de profundis, nos motivou para a execução de duas sondagens (sondagens 11 e 12) anexas, respectivamente à parede exterior daquele espaço e à própria caleira, cujos resultados abordaremos igualmente no ponto dedicado à Adução das águas do sistema hidráulico conventual. Relativamente à área posterior à igreja de São Francisco da Ponte fomos induzidos a proceder aí a uma sondagem arqueológica (sondagem 9) por, como já referido, termos recebido algumas informações orais locais que nos indicaram a existência de uma mina de água nesse local. A sondagem 9 foi implantada junto ao paredão natural de rocha que praticamente encosta à parte posterior da igreja. Para a escolha do local da sondagem contribuiu igualmente a detecção de um aparato em forma de caleira vertical que se desenvolvia de forma anexa ao paredão, apesar de estar construída em tijolos alveolares, e portanto datável da época industrial. A escavação da sondagem revelou a presença de um aparato anexo à caleira, totalmente construído com materiais compatíveis com a época de ocupação industrial do edifício. Trata-se de uma estrutura cuja escassez de vestígios não permite a total identificação da sua função. Apresenta-se, ao fundo da caleira uma abertura de forma abobadada, abrindo para uma superfície plana e arredondada. Não muito distante desta superfície, e à mesma cota, detectámos um cano metálico. Especulamos que toda a estrutura tenha servido, à época industrial para recolha de águas pluviais que desceriam pela caleira e seriam recolhidas nalguma espécie de Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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tanque, entretanto desaparecido mas cujo formato se adivinha pela referida forma circular da superfície para a qual se abre a caleira. O excesso de água escoaria, porventura, pelo cano detectado. Toda a estrutura é sem dúvida de cronologia industrial, no entanto, atesta incontestavelmente a presença de água naquele local. Na restante escavação da sondagem não foram detectados indícios de captação de água à época conventual, como inicialmente tínhamos previsto. A escavação da sondagem terminou à cota de 34,95 m, tendo sido atingido o solo virgem.

3.1.2 – Captação de águas pluviais

Para além dos pontos de captação de água subterrânea, existe igualmente a possibilidade de ter ocorrido à época conventual captação de águas pluviais. Esta hipótese surgiu ao ser executada a sondagem 6, aberta de forma anexa ao exterior Norte da cisterna conventual, localizada ao centro do claustro, com o objectivo de sondar a forma de articulação entre este dispositivo de armazenamento de água e o abastecimento à latrina. A realização da sondagem 6 pôs a descoberto, anexada à parede setentrional da cisterna conventual, uma caixa de visita conventual (seta azul), cuja base se encontra à cota de 35,55 m e que estabelece ligação, através de um pequeno orifício àquela cisterna, mas também a duas condutas de origem conventual, ambas constituídas por canos cerâmicos, envolvidos e cobertos por argamassa limitada por muretes construídos com recurso a tijolos maciços finos, sendo todo o conjunto coberto por lajes calcárias de diferentes tamanhos e espessuras.

Foto 319 – Pormenor da sondagem 6, com destaque para a caixa de visita conventual (seta azul), assim como de duas condutas conventuais eventualmente relacionadas com a recolha de águas pluviais (setas amarela e verde).

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A primeira conduta (seta amarela) parte à cota de 35,93 m no sentido Norte, em direcção ao pilar direito do arco central da ala Norte do claustro, unindo a uma caixa de visita que se encontra junto desse pilar. Nesta caixa, visivelmente adaptada às necessidades industriais, verifica-se a ligação, pela sua parede Sul, com aquela conduta à cota de 36,14 m. Na parede oposta, a caixa abria um amplo orifício quadrangular que escoava as suas águas para o interior da conduta de abastecimento da latrina, tal como veremos mais adiante. A segunda destas condutas (seta verde) parte à cota de 35,88 m no sentido Noroeste, em direcção ao pilar esquerdo do arco central da ala Norte do claustro, e viria a ser posteriormente detectada na sondagem 10, aberta junto a este pilar. Junto do pilar esquerdo do arco central da ala Norte do claustro procedemos, como já referido à sondagem 10, onde foi detectada, entre outras estruturas de cronologia industrial, a segunda das condutas detectadas na sondagem 6, a uma cota de 36,18 m.

Foto 320 – sondagem 10.

Pormenor

da

Uma vez que estas condutas se desenvolvem com declive desde aqueles pilares até à cisterna, não restam dúvidas de que serviriam para abastecer a mesma. Quais seriam então os seus pontos de origem? Uma das hipóteses seria a recolha de águas pluviais provenientes de canos que estivessem instalados de forma anexa aos pilares dos cantos do claustro, desde o telhado até à conduta detectada. Dois elementos arquitectónicos sugerem precisamente a possibilidade de recolha de águas pluviais na época de ocupação Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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conventual nestes pontos do edifício. Tratam-se de duas estruturas em alvenaria, de formato semi-circular, que serviriam para sustentação de canos verticais. São visíveis tanto no canto Noroeste como no canto Sudeste do claustro, imediatamente abaixo do telhado. Lamentavelmente, desses canos nenhum sobreviveu até aos nossos dias.

Foto 321 – Pormenor do canto Noroeste do telhado de cobertura do claustro. Perspectiva Sudeste.

Numa tentativa de detectar alguma conduta ou caixa de visita que servisse para escoar as águas do pilar do canto Noroeste, o mais próximo da sondagem 10, para a conduta detectada nesta sondagem, foi levantada uma laje calcária que se encontrava posicionada junto à base desse pilar, tendo-se detectado, no entanto, o afloramento rochoso imediatamente abaixo dela. Em anexo incluímos uma planta do pátio do claustro com a representação hipotética para a captação de águas pluviais, tendo por base os elementos detectados nas sondagens 6 e 10, bem como nos elementos arquitectónicos detectados abaixo do telhado nos cantos Noroeste e Sudeste.

3.2 – Adução

Partindo do princípio de que a captação de águas subterrâneas se processaria na encosta de Santa Clara-a-Nova, e tendo em conta que o principal local de armazenamento de água, a cisterna conventual, se encontra localizado no centro do claustro, então existem apenas três áreas possíveis para a localização de condutas de adução. São elas a área a Norte do edifício conventual, a área que corresponde ao

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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actual caminho que se desenvolve de forma anexa a todo o alçado Oeste do mesmo edifício, e a área do logradouro. Para a primeira área atribuiu Pedro dos Santos a localização das cavalariças e do celeiro do convento, embora os argumentos que apresente para tal sejam um pouco especulativos (SANTOS, 1997, p. 41). Não obstante, foi detectado o vestígio de uma conduta naquele local. Surge-nos essa conduta a uma altura de cerca de 1,5 m do actual nível de circulação, encontrando-se implantada num tramo de aparelho regular de pedra unida por argamassa de cal, que por sua vez se encontra encrostado no afloramento rochoso. Tem cerca de 30 cm de altura e 50 cm de largura. Encontra-se a uma cota de implantação de 41,40 m (medida na sua base).

Foto 322 – Vista geral sobre o paredão a escassos metros do canto Noroeste do edifício conventual. Perspectiva Este.

Serviria esta conduta de abastecimento à cavalariça, caso estivesse Santos correcto quanto à sua localização? Estaria ela ligada à cisterna conventual que abasteceria? Ou tratar-se-á apenas de um mero orifício para o escape das águas que se infiltravam nas terras que se lhe sobrepõem, comummente designado por ‘ladrão’? Estas são questões que dificilmente encontrarão resposta dado o grau de alteração que esta área sofreu durante a ocupação industrial do convento de São Francisco da Ponte, altura em que neste local foram erguidos alguns armazéns, entretanto demolidos. Quanto à origem desta conduta, só poderemos analisá-la após a limpeza do mato que cobre a encosta de Santa Clara-a-Nova, em particular na zona que se sobrepõe à própria conduta. Quanto à área que corresponde ao actual caminho que se desenvolve de forma anexa a todo o alçado Oeste do convento, foi alvo da realização de cinco sondagens (sondagens 8, 11, 12, 13 e 14), que foram realizadas como forma de explorar Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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possíveis ligações entre os tanques detectados na encosta da colina de Santa Claraa-Nova e o edifício conventual. Da sondagem 8, aberta junto à parede exterior da cozinha, resultou a detecção de uma conduta conventual de grandes dimensões que se desenvolve de forma paralela e anexa àquela parede, a uma cota de 36,99 m (medida na sua base). Esta conduta apresenta-se

construída

com

recurso

a

materiais

pouco

impermeáveis,

nomeadamente ao nível da sua base. Na parede Oeste desta conduta, detectámos uma ligação a uma estreita conduta (seta azul) que parte na direcção do tanque III, que julgamos ter servido de ‘ladrão’ para a excessiva acumulação de água naquele tanque.

Foto 323 – Pormenor da conduta detectada na sondagem 8.

Não foi detectada nenhuma ligação entre o tanque III e a cozinha, embora nos pareça que, a existir tal conduta, ela deva estar implantada abaixo da cota da conduta detectada. Uma vez que esta conduta se apresenta construída com materiais pouco impermeáveis, em particular ao nível da sua base (em tijoleiras cerâmicas sem qualquer tipo de material ligante ou isolante), deduzimos que a sua função fosse a de evacuação de águas pluviais, impedindo a sua infiltração para o interior do edifício e não a de adução. Por este motivo regressaremos a ela no capítulo dedicado ao Escoamento, onde abordaremos igualmente os dados obtidos nas sondagens 13 e 14, abertas, como veremos, com o objectivo de averiguar o desenvolvimento desta conduta. Da sondagem 11, implantada de forma anexa à parede exterior do de profundis, resultou apenas a detecção da mesma conduta (seta amarela) detectada na Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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sondagem 8, desta feita sob um nível de calçada de origem industrial, em pedra assente sobre areia de rio. Encontrava-se coberta pelo mesmo tipo de laje calcária que se encontrava à cota de 37,48 m. Não foi detectada qualquer ligação entre a caleira a Norte do tanque III e o de profundis. Por existir igualmente a possibilidade de essa ligação poder ocorrer abaixo da cota de circulação da conduta detectada nas sondagens 8 e 11, foi aberta uma sondagem (sondagem 12) de forma anexa à caleira em causa.

Foto 324 – Vista geral sobre a sondagem 11.

Da sondagem 12 resultou, contudo, a detecção quase imediata do afloramento rochoso sobre o qual assenta o muro onde se implanta a caleira. No afloramento rochoso encontra-se escavado o prolongamento da caleira, em forma de sulco côncavo que se anexa ao muro, desenvolvendo-se para Sul, em direcção ao tanque III. Não obstante o alargamento da sondagem naquela direcção, a rocha onde se encontra escavado o sulco termina alguns centímetros para além do primitivo limite Sul da sondagem, desaparecendo com ela o sulco. Dada a ausência de elementos conclusivos nesta sondagem, fica por esclarecer a cronologia do sulco ou da caleira a que este se anexa, bem como a forma como hipoteticamente se articularia com o tanque III. Quanto à área do logradouro, constatámos apenas uma conduta no canto Sudeste desta área, junto à porta de acesso ao compartimento da portaria. Toda a área foi sujeita a um grande rebaixamento da cota de circulação, acção prevista no projecto da presente empreitada, que decorreu mediante o devido acompanhamento arqueológico. Desta forma, foi possível averiguar a presença de eventuais vestígios arqueológicos, entre eles hipotéticas condutas hidráulicas, em toda a totalidade da área do logradouro. Não obstante, apenas se constatou a presença de uma conduta, Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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parcialmente destruída. Salientamos que toda esta área foi amplamente afectada pela ocupação

industrial

do

edifício.

Como

patente

no

capítulo

dedicado

ao

acompanhamento arqueológico, foram detectadas estruturas de cronologia industrial assentes sobre o afloramento rochoso. De igual modo, foram detectados níveis contemporâneos assentes sobre o afloramento nas quatro sondagens efectuadas no interior do logradouro antes da remoção mecânica das terras, tal como descrevemos no capítulo dedicado aos resultados das sondagens arqueológicas. Consideramos por isso provável que a ocupação industrial tenha afectado grandemente as estruturas conventuais que eventualmente existissem nesta área. Uma das condutas que esperávamos analisar na área do logradouro foi detectada no interior do compartimento 2 da ala Sul do piso 1 do edifício conventual. Tal como referido no capítulo dedicado à análise da arquitectura desse compartimento, foi ali detectado uma espécie de canteiro construído com materiais de cronologia industrial, no interior do qual se desenvolve uma conduta de origem conventual. Esta conduta encontra-se totalmente construída com recurso a alvenaria irregular de pedra, unida a argamassa de cal, apresentando a sua base rebocada a argamassa de cal e a sua cobertura em pedras calcárias de formato irregular. Tinha 40 cm de largura e 60 de altura. A sua base desenvolvia-se a uma cota de 36,43 m.

Foto 325 – Vista geral sobre o ‘canteiro’ detectado no compartimento 2 da ala Sul do piso 2.

Aparentemente, esta conduta desenvolve-se no sentido Sudoeste/Nordeste, motivo pelo qual ponderámos inicialmente tratar-se de uma conduta de adução, projectada para abastecimento, a Nordeste, da cisterna conventual localizada no interior do claustro. Infelizmente para o presente estudo, nunca poderemos averiguar esta hipótese, uma vez que a ser verdadeira ela implicaria a passagem desta conduta pela Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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área onde actualmente se encontra construída uma ampla cisterna soterrada de origem industrial, que se encontra, por sua vez, anexa a Sul da cisterna conventual. Quanto ao seu ponto de origem, a Sudoeste, contávamos com o desaterro do logradouro para o averiguar. Contudo, tal não se verificou. Ao procedermos ao acompanhamento arqueológico da remoção mecânica das terras anexas ao alçado Sul do edifício, não verificámos a existência de qualquer conduta. Dada a ausência de mais dados que nos permitissem apurar o comportamento desta conduta, optámos por proceder ao seu enchimento com água, com vista a detectar os seus pontos de origem e de destino. Como viríamos a comprovar pela observação possível do seu interior, apresenta-se entulhada a alguns metros a Nordeste, pelo que a água escoou apenas no sentido contrário. Ao cabo de alguns minutos, detectámos uma mancha de água no exterior da parede que limita a Sul o compartimento em que detectámos a conduta. A água rapidamente se propagou no exterior, pelo que deduzimos que se encontre interrompida imediatamente após transpor aquela parede. Não dispomos de muitos dados que nos permitam confirmar peremptoriamente a função para a qual foi projectada esta conduta, embora deduzamos, pela disposição que assume no interior do ‘canteiro’ em que foi detectada, que se encontrasse em articulação com a cisterna conventual, servindo-lhe de abastecimento. Uma vez mais, os altos níveis de alterações do edifício em análise decorridos da sua ocupação industrial impedem-nos de confirmar objectivamente os indícios que, por esse motivo, permanecerão no domínio da especulação. Quanto à conduta detectada no canto Sudeste do logradouro, averiguámos tratar-se de uma estrutura projectada para a evacuação de águas de um cano em grés embutido na parede Norte da igreja, pelo que será tratada mais adiante. Uma outra conduta de origem conventual foi detectada no compartimento 3 da ala Oeste do piso 2 do edifício conventual, o mesmo espaço que apurámos ter funcionado como cozinha. Esta conduta foi identificada neste espaço durante a fase de acompanhamento arqueológico da abertura de uma sondagem geológica ali realizada, embora tivesse sido detectada nas imediações da sondagem e não propriamente no seu interior. Trata-se de uma conduta implantada em vala escavada no afloramento rochoso. Parte junto da parede Oeste da cozinha, sensivelmente ao centro da parede, a uma cota de 37,53 m. É uma conduta composta por canos de cerâmica, vidrada de chumbo no seu interior. Por sua vez, os canos encontram-se assentes sobre e envolvidos por argamassa de Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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cal, coesa e de cor branca. Têm 35 cm de comprimento e 6,5 cm de diâmetro. Sobre a argamassa foram dispostas transversalmente tijoleiras (27 x 14 x 3 cm), que indicariam o trajecto da conduta, das quais ainda subsistem alguns exemplares.

Foto 326 – Pormenor da conduta detectada no interior da ‘cozinha’.

A conduta desenvolve-se no sentido Nordeste, desaparecendo sob a parede Este da cozinha. Para além desta parede, é visível no trânsito da ala Oeste do claustro, encontrando-se soterrada para além do segundo arco Sul da mesma ala. Uma vez que aparentava dirigir-se para a cisterna conventual, procedemos à realização de uma sondagem arqueológica (sondagem 7) anexa à parede Oeste da mesma, com o objectivo de sondar o comportamento daquela conduta, bem como de outras que eventualmente se encontrassem relacionadas com a cisterna. A sondagem, de 6 x 3 m, revelou um substrato térreo profundamente alterado durante a época de ocupação industrial do edifício, nomeadamente pela implantação de uma conduta industrial que se desenvolve no sentido Sul/Nordeste, a uma cota de 35,12 m. Encontrando-se a uma profundidade de cerca de 1,40 m, a construção desta conduta terá inclusivamente destruído a ligação da conduta detectada na cozinha à cisterna conventual. De facto, detectámos aquela conduta interrompida a cerca de 3 m a Oeste da cisterna, a uma cota de 36,28 m.

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Foto 327 – Pormenor da conduta detectada no interior da sondagem 7.

Aquando da detecção desta conduta, ponderámos a possibilidade de ela ter sido projectada enquanto parte do sistema de Distribuição de água, abastecendo a cozinha a partir da cisterna. No entanto, a conduta apresenta um desnível em direcção à cisterna, motivo que nos leva a ponderar a possibilidade de ter escoado água em direcção à cisterna e não o contrário. Especulamos que no passado, esta conduta tenha estado articulada com alguma forma de abastecimento de água à cozinha, escoando o excesso desse abastecimento em direcção à cisterna. Por este motivo, incluímos esta conduta na componente de Adução de água.

3.3. Armazenamento

No interior do claustro, e com uma posição relativamente central em relação a ele, foi detectada uma cisterna de origem conventual, onde se procederia ao armazenamento de águas limpas. Trata-se de uma cisterna soterrada, de planta pseudo-quadrangular, faltando-lhe o canto Nordeste para que formasse um quadrado perfeito. Tem uma área aproximada de 42 m 2 e uma altura máxima de 6,9 m.

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Foto 328 – Vista geral sobre o interior da cisterna conventual. Perspectiva Sul.

O acesso à cisterna faz-se a partir do piso de circulação do claustro por um estreito corredor lateral, actualmente coberto por uma laje em betão armado (0,55 x 1 m). Acede-se então ao interior da cisterna por um conjunto de degraus adossados à sua parede interior Sul. A cisterna é constituída por paredes laterais rectas e coberta por uma abóbada de arestas onde são visíveis duas nervuras em cada um dos quatro lados. As nervuras, efeito criado pela aplicação de cantarias calcárias, partem duas a duas a partir de impostas a uma altura de 3,45 m, e encontram-se no topo da abóbada criando um quadrado perfeito. Este quadrado emoldura uma abertura de acesso ao interior da cisterna a partir do piso de circulação do claustro, actualmente coberta por uma laje em betão armado (0,98 x 0,98 m). As paredes interiores da cisterna, assim como a abóbada, encontram-se actualmente rebocadas por argamassa de cimento, motivo pelo qual não pudemos apurar o seu material construtivo. Este reboco, seguramente da época de ocupação industrial do espaço, poderá ser contemporâneo de um arco que se encontra no interior da cisterna. Este arco, que interrompe, a Sul, a escada de acesso, a partir o 22º degrau, desenvolve-se no sentido Norte/Sul e ocupa, em relação à planta da cisterna, uma posição central, ligeiramente desviada para Este. Trata-se de um arco de volta perfeita de altura máxima de 4,2 m e com uma largura de 4,36 m.

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Foto 329 – Vista geral sobre o interior da cisterna conventual. Perspectiva Oeste.

Uma vez que o arco interrompe a escadaria de acesso ao interior da cisterna, julgamos difícil que se trate de uma obra conventual. É provável que tenha a sua origem durante a época de ocupação industrial do convento, e que se deva à necessidade de reforçar o interior da cisterna, sobretudo da abóbada, que não existe a Este deste, tendo sido substituída, por motivos que desconhecemos, por uma placa em betão armado.

3.4 – Distribuição

Apesar dos esforços desenvolvidos no sentido de apurar a forma como se desenvolveria a distribuição de água pelos diversos compartimentos conventuais, não foram, contudo, detectadas condutas ou outras estruturas que pudessem ter servido esta finalidade. Um compartimento para o qual o abastecimento de água seria imprescindível era com certeza a cozinha. Não obstante, a única conduta que ali foi detectada não podia, pelo declive e pelo pequeno caudal, como já foi referido, destinar-se a este propósito. Como também já foi referido, à água da cisterna poderiam os frades franciscanos ter tido acesso através do topo da mesma. Ali constata-se uma abertura passível de permitir o acesso ao conteúdo da cisterna através do recurso a um balde munido de corda. Seria esta a forma de abastecimento à cozinha, assim como a outras dependências conventuais onde se fizesse sentir a necessidade de água? Não seria esta uma forma demasiado rudimentar, tendo em conta o grau de engenharia

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comprovadamente empregue noutras componentes do sistema hidráulico? Caso tenham existido outras estruturas passíveis de abastecer a cozinha de água, não podemos, uma vez mais, excluir a possibilidade de a ocupação industrial deste edifício ter destruído os vestígios que dela subsistissem. Outro compartimento onde a água em abundância teria forçosamente de se verificar seria a latrina. Neste caso, detectámos uma conduta de distribuição de água da cisterna para o compartimento onde localizámos a latrina, embora, por motivos óbvios preferíramos inclui-la no capítulo dedicado ao Escoamento de águas. Não obstante não termos identificado outras estruturas de distribuição de água, detectámos, no patamar inferior do parque de estacionamento anexo à Avenida da Guarda Inglesa uma estrutura passível de ter funcionado como fontanário. A ser verdade esta função para aquela estrutura, esta terá tido incontornavelmente abastecimento de água. Neste caso, a conduta que abastecesse este ‘fontanário’ incluir-se-ia no conjunto de estruturas destinadas à distribuição de água. A estrutura em questão foi detectada sob o vão de escadas que unia os patamares inferior e superior daquele parque, ocupando uma posição relativamente central face à fachada principal do edifício, o alçado Este. O vão de escadas é totalmente construído em alvenaria de pedra, num aparelho regular, com paredes rectas e topo abobadado. Na base deste vão detectámos uma conduta, também de paredes laterais rectas e topo abobadado.

Foto 330 – Vista geral sobre o vão de escadas que actualmente une os dois patamares de estacionamento em frente à fachada principal do edifício conventual. Perspectiva Este.

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O actual piso de circulação do parque de estacionamento, encontra-se alguns metros acima daquela conduta, fazendo com que se tenha de descer a um fosso para a alcançar. Não obstante, da análise que nos foi possível efectuar, verificámos encontrar-se construída com tijolos maciços finos ao cutelo, cronologicamente compatíveis com o período de ocupação conventual deste edifício. Apresenta-se a uma cota de implantação de 19,11 m (medida na sua base).

Foto 331 – Pormenor da conduta detectada sob o vão de escadas que actualmente une os dois patamares de estacionamento em frente à fachada principal do edifício conventual. Perspectiva Este.

Nada nos garante que se esta conduta tenha abastecido efectivamente um fontanário, embora a sua posição relativamente ao vão de escadas já mencionado, assim como ao piso de circulação ilustrado no século XIX, sugira um local apropriado para a implantação de uma fonte de água e não de alguma conduta de escoamento. A ter funcionado ali um fontanário, não excluímos a possibilidade de este ter sido abastecido por aquela conduta, nem de ela se ter tido a sua origem no interior do logradouro. A verificar-se este ponto de origem, a conduta poderá ter sido directamente abastecida a partir de um ponto de captação de água e não a partir da cisterna conventual de armazenamento. Como já referido, em toda a área do logradouro foi identificada apenas uma conduta de origem conventual, que estará, como veremos, relacionada com o escoamento de águas, não sendo portanto compatível com a existência de tal fontanário nem em dimensão, nem em ponto de origem.

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Foto 332 – Ilustração do convento de São Francisco da Ponte no século XIX. Fonte: LOPES, 1998: 22.

3.5. Escoamento

Foram detectadas três estruturas de época conventual relacionadas com o escoamento de águas ‘sujas’: uma conduta de abastecimento de água para a caixa de visita da latrina, a caixa de visita da latrina propriamente dita e a cloaca de escoamento.

3.5.1. Conduta de abastecimento

A conduta de abastecimento de água para o escoamento das águas ‘sujas’ foi detectada através de uma sala localizada no piso 0, abaixo da sala que Sandra Lopes identificou como sendo a ala nascente das oficinas (LOPES, 1998: 93), designado compartimento 2 da ala Norte do piso 2. Não obstante encontrar-se soterrada, uma passagem que se encontra aberta naquela sala do piso 0 permitiu inspeccionar igualmente o interior da conduta, embora apenas até certo ponto, uma vez que, como veremos se encontrava intencionalmente bloqueada por uma parede interior. Trata-se de uma conduta com cerca de 1,70 m de altura e 1,65 m de largura, de paredes rectas, coberta por uma abóbada de berço ligeiramente abatida. Tem a abóbada construída através de tijolos maciços finos ao cutelo, unidos por argamassa de cal, paredes laterais rebocadas com argamassa de cal e o piso lajeado com tijoleiras de cerâmica. Está interrompida ao cabo de 3,80 m, por uma parede transversal também rebocada a argamassa de cal. Aberta nesta parede encontra-se uma pequena abertura rectangular vertical (0,57 x 0,27 m), cujas paredes internas se encontram também rebocadas a argamassa de cal. Esta abertura apresenta vestígios

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de escorrimento, motivo pelo qual julgamos que aquela parede não interromperia a circulação de água no interior da conduta.

Foto 333 – Vista geral do interior da conduta de abastecimento à caixa de visita da latrina. Perspectiva Norte.

A abertura em causa corresponde ao orifício detectado na parede Norte da caixa de visita detectada junto ao pilar direito do arco central da ala Norte do claustro. Dentro da conduta são igualmente visíveis dois canos de grés convergentes, que transpõem a parede transversal e estão instalados sobre um conjunto de seis pequenos pilares, erguidos com recurso a tijolos maciços espessos (22 x 11 x 6 cm) e a argamassa de cimento. Desenvolvem-se de forma anexa à parede Este da conduta no sentido Norte, terminando sensivelmente cerca de 3 m depois e escoando as suas águas directamente no interior da conduta. Torna-se assim claro que a conduta, outrora conventual, foi reaproveitada para o escoamento de águas também durante a fase de ocupação industrial do edifício. A conduta desenvolve-se ao longo do trânsito da ‘porta do carro’, designado compartimento 3 da ala Norte do piso 2. Tem inicio, como já referido, na caixa de visita implantada junto do pilar direito do arco central da ala Norte do claustro, a mesma caixa que estabelecia ligação uma conduta de captação de águas pluviais, detectada na sondagem 6. Desenvolve-se então ao longo daquele trânsito e inflecte para Este, sensivelmente ao centro deste. Neste ponto a conduta termina junto da parede Oeste da sala abaixo do compartimento 2 da ala Norte do piso 2, dando lugar a uma conduta em forma de caleira aberta, que escoa as suas águas directamente para a extremidade Oeste da caixa de visita da latrina. No ponto onde a caleira encontra esta caixa de visita registase uma cota de 33,32 m. Trata-se de uma caleira constituída por uma base em lajes Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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cerâmicas e pequenas paredes de uma única fiada de tijolos maciços e pequenas pedras, unidos por argamassa de cal e rebocadas também neste material. Não apresenta cobertura e aparenta nunca a ter tido. Tinha 0,35 m de largura e 0,20/0,30 m de altura.

Foto 334 – Vista geral sobre a ‘calha’ que estabelece a ligação entre a conduta de abastecimento e a caixa de visita da latrina. Perspectiva Este.

3.5.2. Caixa de visita

A caixa de visita foi detectada no interior de uma sala no piso 0, designada compartimento 3 da ala Norte do piso 0. Trata-se de uma estrutura de dimensões monumentais, que ocupa grande parte da sala onde está instalada. É constituída por uma caixa rectangular de paredes internas afuniladas, sustentando em cada uma das suas paredes laterais um arco, seguramente responsáveis pela sustentação do piso do compartimento sobre ela posicionado. Os arcos Este e Oeste, mais estreitos, são de volta perfeita, enquanto que os arcos Norte e Sul, mais largos são abaulados e arrancam a partir de impostas.

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Foto 335 – Vista geral sobre a caixa de visita da latrina. Perspectiva Sudoeste.

Toda a estrutura é construída em silhares de pedra, num aparelho bastante regular, unido por argamassa de cal, à excepção dos intradorsos dos arcos que se encontram construídos com tijolos maciços finos ao cutelo, unidos por argamassa de cal. Por seu turno, os silhares que constituem as paredes internas da caixa encontram-se toscamente talhados, sem material ligante e sem sequer se verificar um encaixe cuidado. Toda a estrutura tem 4,65 m de largura, 6,70 m de comprimento e 3,70 m de altura máxima, uma vez que a irregularidade do piso desta sala, que é constituído pelo afloramento rochoso, fazia variar um pouco a altura de toda a estrutura. No seu interior, a caixa apresenta uma abertura máxima com 4,98 m de comprimento e 2,93 m de largura e uma abertura mínima (resultante do afunilamento já mencionado) com 4,45 m de comprimento e 1,80 m de largura. A caixa de visita escoa as águas ‘sujas’ para o exterior do edifício conventual através de uma conduta não coberta. Trata-se de uma conduta de paredes rectas, construída com silhares de pedra, num aparelho regular, unido por argamassa de cal. Esta conduta encontra-se construída em negativo, relativamente ao piso de circulação da sala, a uma cota de 31,17 m e prolonga-se para além da parede Norte da mesma. Encontra-se parcialmente fechada por uma parede em tijolo alveolar unido por argamassa de cimento, uma intervenção claramente datável da época de ocupação industrial do espaço. Aquela conduta liga à caixa de visita através de uma passagem nela aberta no extremo nascente da sua parede Norte. Tem 0,70 m de profundidade, 0,80 m de largura e 2 m de comprimento entre o alçado externo da fossa e o alçado interno da parede Norte do convento.

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No exterior do edifício não foi possível averiguar a forma como se desenvolve ou o destino que toma, uma vez que para tal seria necessário a abertura de uma sondagem que inviabilizaria a estrada de acesso à entrada Norte do edifício. Não obstante, julgamos que aquela conduta está de alguma forma relacionada com a cloaca de escoamento detectada no exterior do edifício conventual, pelos motivos que exploraremos mais adiante. De referir que no interior da sala onde se encontra implantada a caixa de visita da latrina, assim como na própria estrutura que a constituía, foram detectados alguns silhares reaproveitados, tal como um lintel de estilo manuelino reaproveitado para a passagem de escoamento da fossa. Os próprios silhares usados para construir o interior da caixa, por apresentarem um encaixe muito irregular, aparentam encontrarem-se também em contexto de reaproveitamento.

Foto 336 – Vista geral sobre o lintel ao estilo manuelino reaproveitado na construção da caixa de visita da latrina. Perspectiva Norte.

Estes elementos, bem como alguns outros elementos detectados em diferentes pontos do edifício, no decorrer dos trabalhos arqueológicos, comprovam o reaproveitamento de elementos arquitectónicos de uma construção mais antiga. De referir ainda que no interior da caixa de visita da latrina encontram-se dois pilares de secção quadrangular, construídos com recurso a tijolos maciços espessos unidos com

argamassa

de

cal.

Estes

pilares

são,

pelos

materiais

construtivos,

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cronologicamente datáveis da época de ocupação industrial do espaço, e terão sido erguidos como reforço aos arcos da caixa de visita, na sustentação que aqueles providenciavam ao piso da sala que se sobrepunha a toda a estrutura.

3.5.3. Cloaca de escoamento

A cloaca de escoamento foi detectada no exterior do edifício conventual, mais propriamente no parque de estacionamento localizado entre o convento e a Avenida da Guarda Inglesa. O limite Este do espaço conventual é estabelecido por um muro que o separa daquele parque de estacionamento e que se desenvolve no sentido Norte/Sul. Precisamente no extremo Norte deste muro encontra-se uma abertura cuja análise cuidada revelou tratar-se de uma passagem para a cloaca de escoamento. O tramo de muro que emoldura aquela abertura apresenta uma tipologia construtiva distinta do restante muro. Encontra-se ligeiramente inclinado sobre as terras que sustenta, estando construído com recurso a um aparelho regular de alvenaria de pedra de tonalidade mais clara, unida por argamassa de cimento, e não apresenta nenhum pináculo piramidal. Por seu turno, o restante tramo de muro apresenta uma abundância daqueles pináculos, assim como um aparelho regular de alvenaria de pedra de tonalidade mais escurecida, unida por argamassa de cal, encontrando-se perfeitamente vertical.

Foto 337 – Vista geral sobre o paramento onde se abre o vão de acesso à cloaca de escoamento. Perspectiva Este.

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A julgar pela diferença de tipologia de construção do tramo que envolve aquela abertura, pensamos que tenha sido construído não na fase conventual, como o restante muro, mas antes já na fase industrial. Desconhecemos os motivos que levaram à sua construção, embora possamos supor que esta tenha sido motivada pela necessidade de sustentar a estrada de acesso à entrada Norte do claustro. A própria abertura de acesso à cloaca é constituída por um pequeno corredor de paredes de alvenaria de pedra, unida por argamassa de cimento, e encimada por uma pequena abóbada de berço construída com recurso a tijolos maciços espessos (23 x 11 x 7 cm) também unidos por argamassa de cimento, reforçando a hipótese de se tratar de uma construção de época industrial. Este corredor tem pelo menos 2,65 m de altura, 3,30 m de comprimento e 1,87 m de largura. Apresenta-se a uma cota de implantação aproximada de 19,47 m (medida na sua base). Seja qual for a razão pela qual foi construído, a preexistência da cloaca terá ditado a construção da abertura naquele tramo, para que não fosse bloqueado o escoamento das águas que, como já mencionado a propósito da conduta de abastecimento à caixa de visita da latrina, continuava a realizar-se através do sistema conventual mesmo durante a ocupação industrial. A cloaca conventual propriamente dita encontra-se constituída por uma espécie de sala de significativas dimensões. Está construída por paredes laterais de alvenaria de pedra bastante irregular, unida por argamassa de cal, e encimada por uma abóbada de berço construída com recurso a tijolos maciços finos (26 x 12 x 4 cm), também unidos por argamassa de cal, onde ainda são visíveis os orifícios laterais de suporte ao travejamento para cofragem. Tem 1,90 m de altura, 5,80 m de comprimento e 2,30 m de largura.

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Foto 338 – Vista geral sobre o interior da cloaca de escoamento. Perspectiva Este.

Na parede interior Oeste da cloaca, junto ao topo da abóbada, verifica-se uma pequena abertura, cujas paredes apresentam vestígios de escorrimento. Este foi o principal motivo que nos levou a pensar tratar-se esta ‘sala’ de uma cloaca de escoamento. As semelhanças dos vestígios de escorrimento verificados tanto no interior desta cloaca, como na caixa de visita descrita anteriormente, leva-nos a ponderar a hipótese de ambas as estruturas se ligarem entre si por alguma conduta. O escoamento da cloaca processar-se-ia por uma estreita conduta (altura: 1,75 m, largura: 70 cm), de paredes rectas mas de cobertura em abóbada triangular, construída com recurso a alvenaria de pedra. Embora desaparecida, pelo menos desde a construção industrial da abertura de acesso à cloaca, o formato desta conduta poderá imaginar-se através da mera observação da entrada da cloaca conventual. Uma vez que se encontra interrompida pelo actual parque de estacionamento, não foi possível averiguar o percurso desta conduta, bem como das águas ‘sujas’ que escoaria. Contudo, a proximidade relativamente ao rio Mondego, permite-nos deduzir que seria esse o seu destino.

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Foto 339 – Vista geral sobre o vão de acesso ao interior da cloaca de escoamento. Perspectiva Este.

3.5.4. Considerações sobre a latrina não detectada

Apesar da monumentalidade da caixa de visita da latrina e do impressionante nível de conservação que apresenta, não foram detectados quaisquer vestígios da latrina. Perante esta situação admitimos dois cenários possíveis: poderá nunca ter existido uma latrina propriamente dita ou tal compartimento poderá ter desaparecido por acção do tempo ou em consequência da ocupação industrial do espaço. Caso nunca tenha existido uma latrina, os dejectos poderiam ter sido recolhidos individualmente em penicos e posteriormente despejados na caixa de visita. Neste caso o acesso à caixa poder-se-ia fazer pelo piso 0 do dormitório, através de uma passagem detectada na parede Este da sala onde aquela se encontrava implantada. Esta passagem comunica com uma sala intermédia e desta para o dormitório, através de uma segunda passagem bloqueada por uma estrutura quadrangular de grandes dimensões que, apesar de construída com recurso a alvenaria de pedra, aparenta datar da época de ocupação industrial do espaço.

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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Foto 340 – Vista geral sobre o interior do compartimento 3 da ala Norte do piso 0. Perspectiva Oeste.

Não nos parece, porém, que a monumentalidade da caixa de visita se justificasse caso a ela não estivesse associada uma latrina, nem tal hipótese nos parece viável dada a dimensão da comunidade monástica ali instalada. Caso a latrina tivesse de facto existido e desaparecido por efeitos erosivos ou antrópicos, só podemos admitir que se localizasse imediatamente por cima da caixa de visita. Neste caso duas hipóteses distintas poderiam ter ocorrido. A primeira hipótese seria a latrina ter sido instalada imediatamente sobre a caixa da fossa, sob a alçada dos arcos que a compõem. Neste caso o acesso à latrina fazer-seia pelo piso 0, a partir do extremo Norte do dormitório, pela passagem já descrita. Caso se verificasse esta hipótese, um estrado em madeira poderia ter fornecido um piso mais regular (perante a irregularidade que apresenta naquela sala o afloramento rochoso), sobre o qual se instalaria a latrina. Em abono desta hipótese está a janela de iluminação do espaço em que se encontra a caixa de visita. Este compartimento encontra-se na realidade iluminado por uma única janela, de dimensões bastante reduzidas, como descrito aquando da análise da arquitectura deste espaço, fornecendo deste modo a privacidade inerente a uma latrina. A segunda hipótese seria a latrina ter sido instalada sobre os arcos que compõem a fossa, no primeiro piso dos edifícios conventuais. Neste caso o acesso à latrina fazerse-ia pelo piso 1 do dormitório, a partir do seu extremo Norte. Caso fosse esta a hipótese correcta, a localização da latrina entraria em conflito com a localização das oficinas atribuída por Sandra Lopes para aquele espaço (LOPES, 1998). Contudo, esta hipótese parece-nos menos viável, uma vez que este compartimento apresentar-se-ia à época conventual, tal como referido aquando da

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análise da arquitectura deste espaço, servido por dois amplos arcos e duas amplas janelas, para além de uma porta de grandes dimensões emparedada em época incerta. Todos estes vãos parecem -nos incompatíveis com a privacidade que um espaço como o da latrina exigiria.

3.5.5. Escoamento de águas pluviais

Tal como referido no capítulo dedicado à Adução, a proximidade do tanque III ao compartimento da cozinha, motivou a realização de uma sondagem arqueológica (sondagem 8) anexa ao exterior da parede Oeste do edifício, imediatamente do lado exterior daquele compartimento. Nesta sondagem detectámos a presença de uma conduta de origem conventual. Trata-se de uma conduta com cerca de 56 cm de largura e 50 cm de altura, constituída por paredes laterais de alvenaria de pedra e cobertura em lajes calcárias de consideráveis dimensões, que se encontravam à cota de 37,63 m. A sua base, que apresenta um ligeiro declive para Norte, é constituída por um conjunto de três filas de tijoleiras cerâmicas e uma fila de telhas lusas e encontra-se à cota de 36,99 m.

Foto 341 conduta sondagem Oeste.

– Pormenor da detectada na 8. Perspectiva

Uma vez que esta conduta se encontra construída com recurso a materiais pouco impermeáveis, em particular ao nível da sua base, julgamos pouco provável que tenha sido projectada como meio de adução de água, uma vez que não só perderia grande parte do seu caudal como ainda veria o restante contaminado pela sujidade que se infiltraria no interior da conduta.

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Por este motivo especulamos que a sua construção tenha sido motivada pela infiltração das águas pluviais nos compartimentos da ala Oeste do edifício conventual. Dado que apresenta um declive para Norte, deduzimos que recolhesse essas águas pluviais à medida que elas se infiltravam, escoando-as posteriormente para aquele sentido. Com o objectivo de apurar o desenvolvimento da conduta, foram realizadas duas sondagens (sondagens 13 e 14), ambas anexas à parede Oeste do edifício, junto da qual a conduta foi inicialmente detectada. Cada uma das sondagens foi implantada num dos extremos desta parede. Da sondagem 13, aberta no extremo Norte do caminho que separa o alçado Oeste do edifício conventual da colina de Santa Clara-a-Nova, resultou a detecção não daquela conduta mas antes de um nível de entulho de origem industrial, constituído por pedras de pequeno porte, fragmentos de cerâmica de construção e terra. Foi detectado este nível de entulho a uma profundidade de cerca de 1,20 m do actual nível de circulação, a uma cota de 36,90 m. Achando impossível que aquela conduta se desenvolvesse abaixo desta cota, abandonámos a escavação da sondagem 13, convictos de que o nível de entulhamento criado à época industrial tenha amputado a conduta. Da sondagem 14, aberta por seu turno no extremo Sul daquele mesmo caminho, resultou a detecção do afloramento rochoso a escassos centímetros do actual nível de circulação, a uma cota de 37,05 m. O mesmo afloramento foi detectado aquando da construção de um vão de porta, levada a cabo na presente empreitada, abrindo no trânsito anexo a Sul ao compartimento da cozinha. Este trânsito, designado compartimento 4 da ala Oeste do piso 1, confina com a mesma parede Oeste, no exterior da qual foi detectada a conduta. Ao proceder à construção daquele vão de porta, que, como referido no capítulo dedicado à análise da arquitectura deste compartimento, não existia à época conventual, de imediato surgiu o afloramento rochoso, a escassos 40 cm de profundidade. Em suma, não detectámos as extremidades da conduta em questão, embora estejamos na posse de elementos que nos permitam afirmar que presentemente esta não se prolongue para além do extremo Norte do alçado Oeste do edifício ou para além da parede Sul do compartimento da cozinha, o designado compartimento 3 da ala Oeste do piso 1. Também no canto Sudeste do logradouro foi detectada uma conduta que poderá estar relacionada com o escoamento de águas pluviais. Trata-se de uma conduta construída com recurso a alvenaria irregular de pedra unida a argamassa de cal, cujos interiores foram rebocados com argamassa de cal, inclusivamente a base que se

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encontra côncava, sendo o conjunto coberto por lajes de grandes dimensões e de espessura variada. Tinha 32 cm de altura e 20 cm de largura. Encontra-se a sua base à cota de 31,19 m. Esta conduta desenvolve-se de forma anexa ao exterior da parede Norte da igreja, desaparecendo sob a soleira da porta que estabelece ligação entre o logradouro e a portaria, designada compartimento 1 da ala Este do piso 0. Não podemos precisar o seu ponto de origem, dado que se encontra interrompida a cerca de 7 m daquela porta. Quanto ao seu ponto de destino, não podemos estar muito certos dado que se desenvolve através do já mencionado compartimento e porventura através do parque de estacionamento anexo a Este ao edifício, cujas áreas, fora dos limites de intervenção da presente empreitada, não puderam ser convenientemente sondadas. Tudo indica, pelos materiais construtivos, bem como pela forma como se articula com a soleira da já mencionada porta que seja de origem conventual e, pela forma como aparentemente se dirige para o exterior do edifício conventual, especulamos que se trate de uma conduta de escoamento. Não estamos no entanto, na posse de dados suficientes para garantir tratar-se em absoluto de uma conduta de escoamento de águas pluviais. A insuficiência de dados deve-se, como já referido, ao facto de a conduta se encontrar interrompida a escassos 7 m daquela porta, não permitindo por isso, a averiguação do seu ponto de origem.

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4. ANEXO GRÁFICO (SISTEMA HIDRÁULICO CONVENTUAL ) De notar que os levantamentos gráficos elaborados no âmbito da realização das sondagens arqueológicas aqui abordadas, se encontram representados no capítulo seguinte.

Figura 1 – Esquematização do tanque I.

Figura 2 – Esquematização do tanque II.

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Figura 3 – Caixa de visita da latrina (em planta e alçados Sul e Oeste).

Figura 4 – Possíveis hipóteses para a instalação da latrina sobre a caixa de visita.

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N

Sala do Capítulo Sala da caixa de visita da latrina

1m

Figura 5 – Estruturas do sistema de escoamento conventual. Planta do extremo Nordeste do piso 0 do convento.

Legenda: Cisterna ‘Clau. 1’ Conduta de abastecimento à caixa de visita da latrina ‘Calha’ de abastecimento à caixa de visita da latrina Caixa de visita da latrina Conduta de escoamento da caixa de visita da latrina Cloaca de escoamento da latrina Passagem industrial

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Figura 6 – Condutas associadas à captação e ao escoamento de águas pluviais e ainda condutas possivelmente relacionadas com a adução de água para a cisterna.

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Figura 7 – Condutas associadas ao abastecimento e escoamento da caixa de visita da latrina.

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Figura 8 – Cisterna conventual, secção Este/Oeste (medidas em metros). Levantamento: BEL

Figura 9 – Cisterna conventual, secção Norte/Sul (medidas em metros). Levantamento: BEL

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51,35

36,99

Armazenamento Captação e adução de águas pluviais Escoamento Adução Escoamento de águas pluviais Estruturas detectadas Desenvolvimento esperado para estruturas detectadas Reconstituição hipotética de estruturas desaparecidas

36,45 36,28 35,88 36,18 35,55 35,93 36,14 33,32 32,82 31,17

31,19

Figura 10 – Estruturas do sistema de escoamento conventual.

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5. OUTRAS ESTRUTURAS HIDRÁULICAS

Ao longo dos trabalhos de arqueologia desenvolvidos no âmbito do estudo do sistema hidráulico

conventual,

foram

detectadas

várias

estruturas

contemporâneas

relacionadas com as práticas industriais decorridas neste edifício desde o século XIX. Muitas encontravam-se completamente destruídas, fruto dos desmontes dos aparatos industriais a que estariam associadas, levados a cabo ao longo de anteriores empreitadas de recuperação deste espaço. Algumas mantinham-se em relativo bom estado de preservação. Independentemente do seu estado de preservação, interpretar as suas funções originais não foi tarefa concretizável, dado que se encontravam precisamente desprovidas dos aparatos fabris a que estariam associadas. Por este motivo optámos por apresentar um levantamento das estruturas detectadas de acordo com o espaço em que se encontravam e não consoante o sistema funcional a que pertenceriam, como antes fizemos para o sistema hidráulico conventual.

5.1. Sala do Capítulo

A ‘sala do capítulo’ encontra-se localizada na ala Sul do piso 0 do edifício conventual, a Oeste do edifício do dormitório. De acordo com Pedro dos Santos “ali foram instaladas as maquinarias de lavagem dos tecidos” de uma tinturaria que ocupou grande parte do edifício conventual e que se manteve no activo até à década de 1980 (SANTOS, 1997: 47). Por este motivo, tanto a ‘sala do capítulo’ como a sala que lhe é anexa, o compartimento 2 da ala Sul do piso 0, eram profícuas em condutas hidráulicas, que se viam à superfície, mesmo sem a abertura de sondagens arqueológicas. De igual modo, a degradação destas condutas permitiu uma cuidadosa inspecção da constituição e interior de todas elas.

Conduta 1: Tem início junto do extremo Este da parede Norte da ‘sala do capítulo’, prolongandose em túnel através daquela parede, no sentido Norte, em direcção ao claustro. Este Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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túnel, de topo abobadado, encontra-se construído em alvenaria de pedra de aparelho irregular, rebocada a cimento. Tem cerca de 1 m de altura e 50 cm de largura. Já no interior da Sala do Capítulo, o túnel dá lugar a uma conduta que se desenvolve para Este de forma anexa à parede Norte da sala. Inflecte, cerca de 2 m depois, no sentido Sudeste. Prolonga-se então até cerca de 3 m do extremo Sudeste da sala, onde comunica com a conduta 4. A conduta 1 é constituída por paredes laterais em tijolos alveolares (30 x 15 x 7 cm) ligados por cimento, base em cimento e cobertura em lajes de betão armado (1,02 x 0,62 x 0,04 m). Tem 30 cm de altura e 48 cm de largura. Desenvolve-se a uma cota média de 30,80 m.

Foto 342 – Vista geral sobre o canto Noroeste da ‘sala do capítulo’ onde se verifica um túnel e conduta 1. Perspectiva Sul.

Conduta 2. Tem início numa caixa de visita (0,4 x 0,5 m) localizada no extremo Oeste da parede Norte da ‘sala do capítulo’. Esta caixa encontra-se construída com paredes em tijolo alveolar (25 x 11 x 5 cm), base em cimento e tampa em laje de betão armado, com orifício aberto para passagem de um tubo de queda, cujas águas recolhe. O tubo de queda cerâmico (Ø: 0, 10 m) irrompe da parede Norte, a 1,7 m de altura do piso da ‘sala do capítulo’. A conduta partia a Oeste da caixa de visita, desenvolvendo-se no sentido Oeste, de forma anexa à parede Norte da ‘sala do capítulo’, até encontrar a conduta 1, onde desagua, a cerca de 2,5 m de distância da caixa de visita. Trata-se de uma conduta Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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com paredes laterais em cimento e fragmentos de tijolo alveolar, base em cimento e cobertura em lajes de betão armado (1,03 x 0,27 x 0,04 m). Esta conduta tem 20 cm de altura e 18 cm de largura Desenvolve-se a uma cota média de 30,80 m.

Foto 343 – Vista geral sobre o canto Nordeste da ‘sala do capítulo’ onde se verifica uma caixa de visita, unida a um cano de queda e da qual parte a conduta 2. Perspectiva Sul.

Conduta 3. Tem início na caixa de visita localizada no canto Nordeste da ‘sala do capítulo’, a mesma onde se inicia a conduta 2. Esta conduta está construída com paredes laterais em tijolo maciço espesso (30 x 12 x 6 cm), base em argamassa de cal e cobertura em lajes calcárias de dimensões variáveis, mas de espessura a rondar os 5 cm. Em alguns locais foram depositados sobre estas lajes blocos calcários para que se atingisse o nivelamento do piso. Desenvolve-se no sentido Sul até cerca de 3 m do extremo Sudeste da ‘sala do capítulo’, onde encontra as condutas 4, 5 e 9. Tem 40 cm de altura e 23 cm de largura Desenvolve-se a uma cota média de 29,38 m.

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Foto 344 – Pormenor da conduta 3 no interior da ‘sala do capítulo’.

Conduta 4. Tem início junto da entrada Sudeste da ‘sala do capítulo’, onde desaguam as condutas 3 e 5. Desenvolve-se no sentido Oeste, encontrando primeiro a conduta 1 e depois a conduta 6. Termina junto da parede Sul, a cerca de 2,5 m do extremo Sudoeste da mesma sala, ultrapassando aquela parede em direcção ao logradouro Sul do convento. Está construída com paredes laterais em tijolos maciços espessos (40 x 8 x 6 cm), unidos por argamassa de cal, base em tijoleira e cobertura em blocos calcários com cerca de 16 cm de espessura mas de dimensões variáveis. Tem 45 cm de altura e 35 cm de largura. Desenvolve-se a uma cota média de 29,27 m.

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Foto 345 – Pormenor da conduta 4 no interior da ‘sala do capítulo’.

Conduta 5. Verifica-se a cerca de 3 metros da ‘sala do capítulo’. Inicialmente ter-se-ia desenvolvido no sentido Oeste até desaguar na conduta 4, embora esta passagem se encontre bloqueada por cimento e fragmentos de cerâmica de construção, acção que deverá ter ocorrido ainda durante a ocupação industrial do edifício. A conduta desenvolve-se ainda no sentido oposto, de forma anexa à parede Sul da ‘sala do capítulo’, até cerca de 2,5 m do extremo Sudeste da mesma sala, ponto onde inflecte para Nordeste até encontrar as condutas 3 e 4. Encontra-se construída com paredes laterais de uma única fiada de tijolos maciços espessos (23 x 10 x 7 cm) unidos por argamassa de cal, base em tijolos maciços espessos rebocados a argamassa de cal e cobertura constituída em parte por tijolos maciços espessos (23 x 10 x 7 cm) dispostos transversalmente e em parte por lajes calcárias de reduzidas dimensões (23 x 10 x 7 cm). Tem 10 cm de altura e 14 cm de largura. Desenvolve-se a uma cota média de 28,85 m.

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Foto 346 – Pormenor da conduta 5 no interior da ‘sala do capítulo’.

Conduta 6. Pequena conduta que teria início junto de uma caixa de visita, cujas águas evacuaria e indo desaguá-las na conduta 4. A caixa de visita, muito destruída, é visível praticamente apenas em negativo: a sua base (largura: 29 cm, comprimento indeterminável) é constituída por argamassa e as paredes já se encontram desaparecidas. A conduta é constituída por um cano galvanizado (Ø: 6 cm), envolvido por argamassa. Desenvolve-se a uma cota média de 28,87 m.

Conduta 7. Tem o seu início junto da parede Oeste do compartimento 2 da ala Sul do piso 0. Nesta parede encontra-se uma passagem, aberta durante o período de ocupação industrial do edifício mas que se encontra emparedada, aparecendo esta conduta por baixo da sua soleira. Desenvolve-se então no sentido Oeste, até encontrar a conduta 9, onde desaguava, junto da entrada Sudeste da ‘sala do capítulo’. Encontra-se construída com paredes laterais de uma única fiada de tijolos maciços espessos (26 x 14 x 7 cm), unidos por argamassa de cal, base em argamassa de cal e cobertura em lajes calcárias de dimensões variáveis e superfícies pouco facetadas. Tem 14 cm de altura e 14 cm de largura.

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Desenvolve-se a uma cota média de 28,84 m.

Foto 347 – Pormenor da conduta 7 no interior da ‘sala do capítulo’.

Conduta 8. Tem início no canto Sudeste do compartimento 2 da ala Sul do piso 0. Verifica-se que a conduta atravessa esta parede, a cerca de 45 cm acima do piso conventual. É então interrompida, logo ao partir para o interior da sala, reaparecendo a cerca de 2 metros a Norte, já anexa ao piso conventual. Desenvolve-se por mais cerca de 2 m para Norte, desaguando então numa caixa de visita implantada sobre a conduta 9. A caixa (0,45 x 0,36 m) é construída com paredes laterais em tijolos maciços espessos unidos por cimento e coberta por duas lajes calcárias, sendo visível, numa delas, uma pequena argola de ferro, ‘chumbada’ ao centro. A conduta é construída por tijolos maciços espessos (18 x 10 x 5 cm) unidos por cimento. Tem 10 cm de altura e 14 cm de largura. Desenvolve-se a uma cota média de 29 m.

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Foto 348 – Pormenor da conduta 8 no interior do compartimento 2 da ala Sul do piso 0. Ao fundo: caixa de visita (seta amarela) sobre a conduta 9.

Foto 349 – Pormenor do interior caixa de visita sobre a conduta 9, no interior do compartimento 2 da ala Sul do piso 0.

Conduta 9. Tem o seu início junto da parede Oeste do compartimento 2 da ala Sul do piso 0. Nesta parede encontra-se uma passagem, aberta durante o período de ocupação industrial do edifício mas que se encontra emparedada, aparecendo esta conduta por baixo da sua soleira, junto da conduta 7. Desenvolve-se então no sentido Oeste, passa pela caixa de visita relacionada com a conduta 8 e termina anexando-se à conduta 4, já no interior da ‘sala do capítulo’ a cerca de um metro da sua entrada Sudeste. Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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Foto 350 – exterior da interior do 2 da ala Sul

Vista geral do conduta 9 no compartimento do piso 0.

Uma análise do interior desta conduta, feita através da abertura da caixa de visita relacionada com a conduta 8, permitiu apurar que esta conduta tinha as paredes laterais e a base rebocadas por cimento e a cobertura abobadada construída com tijolos maciços espessos, unidos por cimento. Tem 53 cm de altura e 45 cm de largura Desenvolve-se a uma cota média de 28,06 m.

5.2. Claustro

No piso de circulação do claustro eram, ao início da presente empreitada, visíveis várias infra-estruturas hidráulicas relacionadas com actividades fabris. Apesar de todos se encontrarem à cota negativa, a degradação do piso e das próprias infraestruturas permitiu a sua análise. De notar que a cisterna 1 foi já descrita no capítulo relativo ao sistema hidráulico conventual uma vez que, apesar de apresentar claros sinais de ter sido utilizada durante a fase de ocupação industrial do convento, as suas características arquitectónicas denunciam uma cronologia conventual.

Cisternas:

Cisterna de armazenamento 1.

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Cisterna subterrânea localizada ao centro do claustro de planta trapezoidal e cobertura abobadada. As suas paredes internas apresentam-se rebocadas a cimento e com o seu interior comunicam dois canos em ferro, um pelo lado setentrional outro pelo lado meridional. Estes apontam para uma utilização à época de ocupação industrial do espaço, embora as características arquitectónicas da cisterna a façam remontar ao período de ocupação conventual. Por esta razão a cisterna 1 foi já descrita de forma mais aprofundada no capítulo relativo à hidráulica conventual. É possível que a função desta cisterna, o armazenamento de água, se tivesse mantido desde a época de ocupação conventual até à de ocupação industrial.

Cisterna de armazenamento 2.

Cisterna subterrânea de planta quadrangular, localizada a Sul do claustro, de 6,55 m de comprimento e 6,3 m de largura. É constituída por duas salas anexas encimadas por uma abóbada de berço cada. As salas, meridional e setentrional, desenvolvem-se paralelamente, no sentido Este/Oeste.

Foto 351 – Vista geral do interior da cisterna de armazenamento 2, detectada a Sul do claustro.

As abóbadas são construídas em tijolos maciços espessos unidos por argamassa de cal e as paredes laterais em alvenaria de pedra de aparelho irregular e rebocadas a argamassa de cal. Na abóbada setentrional abrem-se duas caixas comunicando com o piso de circulação do Claustro, uma localizada a Oeste e outra a Nordeste. Por sua

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vez, a abóbada meridional apresenta também duas destas aberturas, uma relativamente central, a outra ocupando uma posição Sudoeste. As duas abóbadas apoiam-se ao centro da cisterna sobre uma trave de betão armado, que por sua vez se apoia sobre quatro pilares, três ao centro e o quarto a Este. Dois dos pilares centrais, de secção quadrangular, estão construídos em tijolo maciço espesso e ladeavam um pilar em ferro, de secção circular, base campanulada e capitel em forma de ‘asas de borboleta’. O pilar Este, de secção rectangular, apresenta-se construído em tijolo maciço espesso.

Foto 352 – Pormenor da parte superior do conjunto de três pilares centrais que sustentam as abóbadas da cisterna de armazenamento 2, detectada a Sul do claustro.

No piso da cisterna eram visíveis, em cada uma das salas, um conjunto de quatro apoios paralelos, constituídos por muros de base rectangular e topo côncavo, equidistantes entre si (95 cm). Tinham 1,50 m de comprimento, 35 cm de largura, 30 cm de altura mínima ao centro e 60 cm de altura máxima nas extremidades. O conjunto dos quatro apoios tinha um comprimento de 4,25 m. Pela constatação daqueles apoios, avançamos com a possibilidade de esta cisterna ter albergado dois contentores de consideráveis dimensões (já desaparecidos), possivelmente para armazenamento de algum tipo de combustível, já que as paredes internas da cisterna apresentavam-se cobertas de uma substância de cor negra, gordurosa ao tacto e de odor característico.

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Foto 353 – Vista geral dos apoios detectados na sala setentrional da cisterna de armazenamento 2.

À cisterna podia-se aceder através do piso de circulação do claustro, por uma passagem descoberta de planta rectangular, anexa à cisterna pelo seu lado Este, de 6,55 m de comprimento e 2,76 m de largura. O acesso fazia-se então por uma escadaria anexa a Sul desta passagem, sendo a entrada para a cisterna constituída por uma passagem aberta no canto Noroeste da mesma passagem.

Conduta 10 Junto ao pilar meridional do segundo arco da ala Este do claustro, contando a partir do extremo Sul desta ala, é visível a conduta 10. A partir deste ponto esta conduta inflecte para Norte e neste sentido se desenvolve, inflectindo de novo para Este junto do pilar setentrional do arco central da ala Este do claustro. Neste ponto a conduta encontrase cortada, facto que permitiu inspeccionar o seu interior, assim como verificar que se desenvolve no sentido Oeste, anexando ao extremo Nordeste da fornalha 1 e inflectindo aí para Norte.

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Foto 354 – Pormenor do interior da conduta 10, detectada junto da ala Este do claustro. Perspectiva Oeste.

Junto do extremo Nordeste da fornalha 1 existem duas portas de comunicação com esta conduta. A primeira fazia-se ao nível do piso de circulação do claustro, através de uma porta (50 x 40 cm) com tampa em ferro articulada com dobradiças, que dá acesso à cobertura abobadada da conduta. A segunda fazia-se através de uma porta, tipologicamente semelhante à primeira, mas localizada lateralmente, à qual se acedia através de um estreito corredor abobadado, anexado à parte posterior da fornalha 1, a Sul da conduta.

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Foto 355 – Vista geral da porta de acesso ao topo da conduta 10 e respectiva tampa em ferro, já deslocada. É possível observar a articulação desta porta com o extremo Nordeste da fornalha (canto superior esquerdo). Perspectiva Este.

Foto 356 – Vista geral da passagem anexa à parte posterior da fornalha 1 de acesso à porta lateral Sul da conduta 10, assim como à porta de acesso à chaminé daquela fornalha. Perspectiva Sul.

Conduta 11 Uma conduta, em todos os aspectos idêntica à conduta 10 é visível no compartimento 6 da ala Sul do piso 1, uma passagem que une o claustro ao logradouro a Sul do convento. Este conduta atravessa toda a ala Sul do edifício conventual, inflectindo ligeiramente no sentido Sudeste assim que entra no Logradouro, desaparecendo depois no subsolo. Após a extracção de terras do Logradouro, foi possível averiguar que esta conduta termina pouco depois de inflectir para Sudeste, junto a uma parede de materiais construtivos industriais. A forma como esta conduta termina abrupta e

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desordenadamente sugere que tenha sido desmontada e desactivada ainda durante o período de ocupação industrial deste espaço. Ambas as condutas 10 e 11 se encontram construídas com tijolos maciços espessos unidos por argamassa de cal, desde as suas paredes até à cobertura em abobada, sem que as suas paredes, internas ou externas, estivessem rebocadas. A sua base era constituída por entulho coberto por argamassa de cal. Têm 1,20 m de altura e 65 cm de largura. Desenvolve-se a primeira a uma cota média de 34,66 m, enquanto a segunda se desenvolve a uma cota de 32,10 m.

Fornalha 1. Fornalha de combustão a lenha localizada a Este do claustro, de planta rectangular, com cerca de 2,60 m de largura, 2,90 m de altura e 3 m de profundidade. Encontra-se construída em tijolos maciços, com as paredes laterais a alcançar até 60 cm de espessura. O seu topo era abobadado e o seu piso era constituído por uma grelha metálica de ferro para escoamento de cinzas.

Foto 357 – Vista geral da grelha metálica que constitui o piso da câmara superior da fornalha 1. Perspectiva Este.

O alçado anterior a fornalha apresenta duas aberturas, uma sobre a outra. A superior, de topo abobadado (55 cm de largura, 48 cm de altura) serviria para aceder a uma câmara superior onde se queimaria lenha. São visíveis os vestígios das dobradiças em ferro que sustentavam a porta desta abertura. A abertura inferior, também de topo abobadado (75 cm de largura, 30 cm de comprimento), onde os vestígios da estrutura

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que a fechava, também em ferro, eram bem visíveis, estaria relacionada com a remoção de cinzas, provenientes da câmara superior.

Foto 358 – Vista geral da fachada anterior da fornalha 1. Perspectiva Este.

Na parte posterior desta fornalha verifica-se uma abertura quadrangular que serviria para escoamento de fumos. Adossada à parte posterior desta abertura encontra-se uma passagem (1,60 m de altura, 60 cm de largura) estreita e abobadada que dá acesso à abertura descrita anteriormente e a outra abertura, ainda provida de tampa em ferro, que dava acesso ao interior da fornalha 1. É uma passagem de topo abobadado construído com recurso a tijolos maciços espessos unidos por argamassa de cal e de paredes interiores rebocadas a cimento. As enormes dimensões desta fornalha deixam perceber que ela terá servido para aquecer grandes quantidades de água, possivelmente contida em algum recipiente que sobre ela estivesse colocado. No decurso da presente empreitada esta fornalha foi alvo de desmonte mediante o devido acompanhamento arqueológico.

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Caldeira 1. Encontra-se à esquerda da fornalha 1 já descrita, no canto Sudeste do claustro e está bastante danificada. É construída em ferro rematado a rebites e apresenta uma forma cilíndrica. Está segura por quatro braços laterais, dois em cada um dos topos, suspensa em espaço aberto e coberta por abobada construída com tijolos maciços, que já se encontra abatida e também ela muito destruída.

Foto 359 – Vista geral sobre a caldeira 1.

No topo Oeste da caldeira é visível um conjunto de dois orifícios em ferro que receberiam condutas, talvez articuladas com as funções de abastecimento da caldeira e escoamento dos vapores. Tem 4 m de comprimento e 1 m de diâmetro. Não foram detectadas estruturas que estabelecessem alguma relação de funcionalidade entre esta caldeira e a fornalha 1 referida anteriormente, embora a proximidade entre ambas sugira que tal relação possa ter existido (distam entre si 2,65 m). Abaixo da caldeira detectámos um conjunto de três válvulas de aberturas iguais, dispostas paralelamente ao longo de uma linha horizontal. Foram detectados na parede Este da abertura de acesso ao interior da cisterna 2.

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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Foto 360 – Vista geral sobre a abertura de acesso à cisterna 2. Perspectiva Norte. Destaque para a caldeira 1 (seta azul) e para a localização das válvulas (seta amarela).

Cada uma delas consiste num cano de secção circular constituído por peças de ferro unidas a rebites, com uma abertura ovalada, munida de porta também em ferro e de formato igualmente ovalado. A julgar pela morfologia da porta, o fecho seria conseguido por um sistema de rosca e maximizado pela aplicação de um vedante em borracha armada, aplicada na parte externa da porta. Os canos têm um diâmetro interno de 52 cm e 8,10 m de comprimento. A abertura ovalada tinha uma largura de 38 cm e uma altura de 30 cm. Todo o conjunto se encontra envolvido por uma parede de tijolos maciços espessos. Imediatamente sob este conjunto, é visível um conjunto de dois orifícios circulares emparedados que poderão ter constituído uma versão primitiva destas válvulas.

Foto 361 – Vista geral sobre as aberturas das válvulas detectadas sob a caldeira 1.

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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No decurso da presente empreitada a caldeira 1 e as válvulas que se localizam abaixo dela foram alvo de desmonte mediante o devido acompanhamento arqueológico. Após o desmonte foi possível confirmar que a caldeira 1 se articulava com o conjunto de válvulas, através de curtas condutas em ferro que uniam a caldeira às válvulas perpendicularmente.

Foto 362 – Vista geral sobre o conjunto formado pela caldeira 1 e pelas válvulas, no momento em que estavam a ser retiradas do seu contexto original.

5.3. Parque de Estacionamento

O parque de estacionamento do convento localiza-se entre a sua fachada principal, o alçado Este, e a Avenida da Guarda Inglesa, e encontra-se dividido entre dois patamares distintos. No patamar superior foi detectado um poço de cronologia industrial e no muro de separação dos dois patamares uma conduta abobadada de igual cronologia.

Poço 1 No patamar superior do parque de estacionamento, anexo ao alçado Este foi detectado um poço, imediatamente à direita da escadaria que faz ligação entre aquele parque e o dormitório do piso 0, mais precisamente ao compartimento 12 da ala Este do piso 0. Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

410

Embora selado por uma laje de betão armado de grandes dimensões, um orifício que esta ostenta permitiu uma inspecção ao interior da estrutura. Trata-se de um poço de secção circular com um diâmetro aproximado de cerca de 3 m, construído em alvenaria de pedra com um aparelho irregular unido por argamassa de cal. Embora

com

algumas

reservas,

atribuímos

a

este

poço

uma

cronologia

contemporânea, relacionada com a ocupação industrial do espaço, uma vez que no seu interior também foi detectada uma escada, resultante da aplicação de apoios em ferro incrustados directamente na parede interna do poço. Contudo, alertamos para o facto de os materiais e aparelho utilizados na construção desta estrutura não serem totalmente incompatíveis com o período moderno. À data da elaboração deste estudo foi possível averiguar a presença de água no interior deste poço, motivo pelo qual lhe atribuímos a função de captação e armazenamento de água.

Foto 363 – Vista geral do interior do poço detectado no patamar superior do parque de estacionamento.

Conduta 12. No patamar inferior do parque de estacionamento anexo à Avenida da Guarda Inglesa, abaixo do nível do patamar superior, foi detectada uma conduta cuja abertura se localiza na extremidade esquerda do alçado Este do muro que dividia os dois patamares. Trata-se de uma conduta construída com recurso a tijolos maciços espessos (25 x 14 x 6) unidos por argamassa de cal. Apresenta as paredes laterais rectas e o topo abobadado. Tinha 46 cm de largura e 60 cm de altura. Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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Foto 364 – Vista geral sobre a conduta detectada no muro de separação entre os patamares superior e inferior do parque de estacionamento.

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

412

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Das diferentes vertentes que compõem o estudo do sistema hidráulico do Convento de São Francisco da Ponte, algumas permaneceram na obscuridade, não obstante os esforços desenvolvidos para fazer incidir sobre elas alguma luz. Sem dúvida que a ocupação industrial e as consequentes alterações físicas a que foi sujeito este espaço, muito contribuíram para a alteração e mesmo destruição de algumas estruturas hidráulicas, impedindo irremediavelmente o seu estudo. Destacamos, porém, as estruturas que compõem as componentes de Armazenamento e de Escoamento, todas em relativo bom estado de preservação, possibilitando uma correcta análise das suas características físicas e, consequentemente, uma profícua interpretação funcional das mesmas. Em contrapartida, os resultados inerentes às componentes de Captação, Adução e Distribuição ficaram muito aquém das nossas expectativas iniciais, dado delas terem subsistido escassos vestígios. Para o estudo da Adução e Distribuição foram desenvolvidos diversos esforços, tendose contudo sistematicamente verificado a adulteração à época industrial dos solos em que eventualmente se localizariam as estruturas que os compunham. Quanto ao estudo da Captação de água, foram igualmente desenvolvidos alguns esforços em diferentes áreas das imediações do edifício conventual. Uma área em particular, a encosta de Santa Clara-a-Nova, suscitou-nos particular interesse. No entanto, a densa vegetação que ali se constatava não nos permitiu uma análise tão detalhada como gostaríamos, motivo pelo qual sugerimos uma futura desmatação, seguida naturalmente de prospecção e abertura de sondagens, em particular junto ao paredão natural de rocha sobre o qual se ergue o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova. Ainda relativamente à Captação de água, assinalamos a presença de algumas estruturas detectadas no interior do claustro, em suficiente número e estado de preservação para especular como se processaria à época conventual a captação de águas pluviais. É indiscutível a importância da água para a subsistência das comunidades religiosas, dado que ela constitui um elemento não só imprescindível à sobrevivência individual dos que a compõem, como também ao estabelecimento de um ritmo muito próprio

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

413

destas comunidades, ditando o seu quotidiano, desde a satisfação das necessidades mais básicas de cada individuo até ao cumprimento dos mais distintos rituais de toda a comunidade. Neste sentido, o estudo e compreensão do sistema hidráulico do Convento de São Francisco da Ponte torna-se mais relevante ainda, pelo valioso contributo que nos pode dar, não só para o conhecimento de que dispomos da vida religiosa em São Francisco da Ponte, como também para o conhecimento geral da vida das comunidades religiosas de Época Moderna em Portugal.

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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TRABALHOS ARQUEOLÓGICOS NO ÂMBITO DAS OBRAS DE CONSOLIDAÇÃO ESTRUTURAL NO CONVENTO DE SÃO FRANCISCO DA PONTE SANTA CLARA – COIMBRA

3ª PARTE

SONDAGENS ARQUEOLÓGICAS PRÉVIAS E ACOMPANHAMENTO ARQUEOLÓGICO DA EMPREITADA

415 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

ÍNDICE

3ª Parte – Sondagens Prévias e Acompanhamento Arqueológico da Empreitada

1. Enquadramento dos trabalhos arqueológicos 1.1. Introdução 2. Objectivos e metodologias 3. Meios técnicos e recursos humanos 4. Resultados obtidos 4.1. Sondagens arqueológicas de diagnóstico 4.1.1. Sondagem 1 4.1.2. Sondagem 2 4.1.3. Sondagem 3 4.1.4. Sondagem 4 4.2. Sondagens arqueológicas realizadas no âmbito do estudo do sistema hidráulico conventual 4.2.1. Sondagem 5 4.2.2. Sondagem 6 4.2.3. Sondagem 7 4.2.4. Sondagem 8 4.2.5. Sondagem 9 4.2.6. Sondagem 10 4.2.7. Sondagem 11 4.2.8. Sondagem 12 416 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

4.2.9. Sondagens 13 e 14 4.3. Acompanhamento arqueológico 4.3.1. Consolidação arquitectónica 4.3.1.1. Piso 0 4.3.1.2. Piso 1 4.3.1.3. Piso 2 4.3.1.4. Claustro 4.3.2. Remoção de terras 4.3.2.1. Logradouro 4.3.2.2. Claustro 4.4. Espólio 4.4.1. Espólio cerâmico 4.4.2. Espólio pétreo 5. Considerações finais 5.1. Depósito de Materiais 5.2. Ficha de Sítio 6. Bibliografia Anexo fotográfico Anexo gráfico

417 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

1. ENQUADRAMENTO DOS TRABALHOS ARQUEOLÓGICOS

1.1. INTRODUÇÃO

No presente capítulo apresentamos os resultados obtidos no decurso dos trabalhos arqueológicos, no que diz respeito à execução de sondagens arqueológicas de diagnóstico e às realizadas com vista ao estudo do sistema hidráulico conventual, bem como no acompanhamento dos restantes trabalhos, desenvolvidos no âmbito do projecto de reabilitação estrutural do Convento de São Francisco da Ponte, como já mencionado nos capítulos anteriores. A localização do monumento na área de protecção do mosteiro de Santa Clara-a-Nova (Z.E.P., D.G., 2ª série, n.º 259 de 4/11/2003), condicionou este projecto de reabilitação estrutural à realização de trabalhos arqueológicos para avaliação e caracterização do potencial histórico-arqueológico do sítio, bem como para prevenir possíveis impactes de obra no património cultural. Assim, em conformidade com os pareceres emitidos pelo ex – IPPAR, actual DRCC (ofício 26/03, Processo n.º (02)06.03/64, de 12/12/2002 e Informação n.º S-2008/206753(c.s:80615 de 7/10/2008), e de acordo com a autorização concedida pelo IGESPAR (ofício n.º 10701, de 25/11/08 e referência S-18701), iniciámos a execução do nosso Plano de Trabalhos Arqueológicos. Pretende-se com este documento fornecer a organização sistemática dos dados obtidos em acompanhamento e escavação, em consonância com o “Regulamento dos Trabalhos Arqueológicos” (Decreto-Lei nº 270/99, de 15 de Junho, com as alterações que lhe foram introduzidas pelo Decreto-Lei nº 287/2000, de 10 de Novembro). Deste modo, apresenta-se a descrição dos trabalhos efectuados, a estratégia de intervenção e a descrição e interpretação das estruturas e estratigrafias identificadas.

418 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

2. OBJECTIVOS E METODOLOGIAS

Os objectivos desta intervenção resumem-se à promoção da salvaguarda e valorização do património histórico-arqueológico, bem como à minimização de eventuais impactes decorrentes da empreitada de recuperação do Convento de São Francisco da Ponte. Após a concessão da referida autorização demos início à escavação de quatro sondagens arqueológicas de diagnóstico, localizadas na área compreendida entre a ala Sul do edifício e a igreja, uma área que convencionámos denominar por ‘logradouro’. Estas sondagens foram realizadas com vista a avaliar o impacte decorrente da execução dos trabalhos de terraplanagem previstos para o local, bem como a determinação da cota do nível de circulação original neste espaço. No entanto, a sua implantação foi fortemente condicionada pelas infra-estruturas existentes no local, bem como pela área já sondada em intervenções arqueológicas anteriores. Desta forma, fomos forçados ao agrupamento das sondagens previstas inicialmente num número total de quatro, mantendo-se, no entanto, o total da área ia sondar. Não obstante, a opção de reduzir o número de sondagens em relação às previstas inicialmente, mantendo no entanto a mesma área, resultou numa melhor leitura e interpretação dos dados recolhidos. A metodologia empregue para a escavação destas sondagens baseou-se no sistema de Unidades Estratigráficas preconizado por Harris, onde cada Unidade Estratigráfica (U.E.) foi devidamente identificada, descrita, desenhada, cotada, fotografada e registada em fichas caracterizadoras. Para a distinção de cada U.E. foram adoptados diversos critérios, tais como a cor, granulometria, compacticidade, composição, textura, quantidade e volumetria de elementos pétreos, quantidade e volumetria de inclusões orgânicas, quantidade e volumetria de inclusões culturais, etc. O registo gráfico foi elaborado à escala de 1/20, salvaguardando o rigor métrico e atendendo a todos os pormenores. Já o registo fotográfico foi efectuado com recurso a uma máquina fotográfica digital de 6.0 megapixeis. A execução das referidas sondagens prévias deu lugar à elaboração de um relatório preliminar, cuja aprovação por parte do IGESPAR, permitiu a libertação do espaço para a execução dos trabalhos de remoção de terras de modo mecânico, acompanhados pela equipa de arqueologia. A remoção de terras verificadas naquele espaço teve como 419 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

objectivo a recuperação do nível de circulação à época conventual, bem como a prevenção de infiltração das águas pluviais nos espaços edificados. Simultaneamente, foi efectuado um acompanhamento de todos os trabalhos no âmbito da consolidação estrutural propriamente ditos, tais como demolições, fecho ou abertura de vãos, consolidação de abóbadas nas alas do claustro, limpeza de entulhos, entre outros. No âmbito do trabalho de gabinete foi efectuado o tratamento do espólio exumado, que incluiu a sua lavagem, marcação, colagem (quando se verificaram fracturas coincidentes),

inventariação

e

estudo.

Posteriormente

foi

acondicionado

em

embalagens apropriadas. Foi igualmente executado o tratamento gráfico dos levantamentos de campo.

420 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

3. MEIOS TÉCNICOS E RECURSOS HUMANOS

Os trabalhos de Intervenção Arqueológica tiveram o seu início no dia 26 de Novembro de 2008 e prolongaram-se até ao dia 30 de Abril de 2009. A coordenação científica pertenceu às arqueólogas Mónica Ginja e Ana Sampaio e Castro, tendo participado no trabalho de campo igualmente o arqueólogo António Ginja, licenciados pelo Instituto de Arqueologia da FLUC e ainda a historiadora da arte Helena Pereira, licenciada pelo Instituto de História da Arte da FLUC. O presente Relatório Final é da responsabilidade dos supra-referidos arqueólogos. O apoio logístico foi partilhado pela empresa MUNIS, Trabalhos de Arqueologia, Lda. e pela empresa BEL, Engenharia e Reabilitação de Estruturas, SA., à qual coube a execução da empreitada. Ao empreiteiro ficou igualmente a dever-se a disponibilização de mão-de-obra não especializada, sempre que necessário, nomeadamente na execução das sondagens arqueológicas. Ao dispor dos executantes destes trabalhos estiveram os meios e materiais apropriados à correcta execução de uma intervenção arqueológica deste género. Os levantamentos gráficos, designadamente as plantas gerais apresentadas no final do presente capítulo, foram efectuadas em colaboração com o Sr. Ricardo Silva e o Sr. Luís Piedade, ambos técnicos da empresa BEL, S.A., a quem agradecemos. O tratamento do espólio cerâmico ficou a cargo da técnica de arqueologia Carolina Silva, ao passo que o seu estudo, inventário e desenho foi da responsabilidade da arqueóloga Ana Sampaio e Castro que colaborou igualmente no tratamento gráfico dos restantes levantamentos arqueológicos.

421 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

4. RESULTADOS OBTIDOS

4.1. SONDAGENS DE DIAGNÓSTICO

Tal como anteriormente referido, o Plano de Trabalhos autorizado previa a abertura de quatro sondagens de diagnóstico, escavadas até ser atingida a cota de afectação da obra ou o solo geológico. Localizadas no logradouro do edifício conventual, estas sondagens visaram a avaliação do potencial arqueológico, bem como preconizar medidas de minimização de eventuais impactes causados pelos trabalhos de remoção de terras.

4.1.1. Sondagem 1

A sondagem 1 foi implantada no topo Oeste do logradouro, com as dimensões de 1,5 x 3 metros, tendo revelado uma sequência estratigráfica relativamente simples, constituída por uma U.E. de entulho pétreo, de cronologia de abandono contemporânea, assente sobre substrato arqueologicamente estéril, e sobre a qual assenta o actual nível de circulação. Fotos 343, 344 e 345.

No processo de escavação obtivemos a seguinte leitura estratigráfica: U.E. 1: nível térreo de cor preta, granulometria fina, textura argilo-limosa e de fraca compacticidade. Apresentava-se constituída por terra e muitos elementos pétreos de pequena dimensão, assim como por raízes de plantas. Dela foi exumada uma grande variedade de inclusões culturais, tais como fragmentos de vidro, de plástico e de cerâmica de construção contemporânea (tijolo ‘alveolar’ e telha ‘de Marselha’). Assentava sobre a U.E. 2. Corresponde ao actual nível de circulação. Cronologia: Contemporânea.

422 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

U.E. 2: nível térreo de cor amarela, granulometria muito fina, textura argilosa e de fraca compacticidade. Era constituída por terra e muitos elementos pétreos de pequena dimensão, vários deles aparentando terem sido talhados por mão humana. Dela foram exumados apenas dois fragmentos de cerâmica, um de loiça ‘inglesa’ e outro de loiça ‘malagueira’. Assentava sobre a U.E. 3 e estava coberta pela U.E. 1. Poderá corresponder ao local de depósito dos detritos resultantes do talhe da pedra usada para a construção do edifício conventual, embora os materiais exumados desta unidade apontem para uma cronologia contemporânea. Cronologia: Contemporânea (?). U.E. 3: nível térreo de cor amarela alaranjada, granulometria fina, textura argilosa e de elevada compacticidade. Era constituída por terra e alguns elementos pétreos de pequena dimensão. Encontrava-se totalmente isenta de materiais culturais. Este facto, aliado à enorme compacticidade que apresentava, levou-nos a considerar esta camada térrea como arqueologicamente estéril, provavelmente assente sobre o afloramento rochoso. Por este motivo a sua escavação foi suspensa, não sem que se tivesse escavado cerca de 30 cm desta camada. Estava coberta pela U.E. 2. Cronologia: Indeterminada.

4.1.2. Sondagem 2

A sondagem 2 foi implantada ao centro do logradouro, com as dimensões de 3 x 3 metros. Revelou uma maior complexidade estratigráfica, com vários níveis de aterro contemporâneos, assentes sobre uma U.E. aparentemente mais antiga, por sua vez directamente assente sobre o afloramento rochoso, cujos materiais nos levam a pensar tratar-se do nível de circulação conventual com abandonado já em época contemporânea. Nesta sondagem foram ainda detectados uma unidade mural assente sobre uma U.E de abandono contemporâneo, ao qual estava associado um derrube de muro, e ainda um cabo eléctrico, naturalmente contemporâneo. Fotos 346, 347 e 348.

423 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

A leitura da sequência estratigráfica resultante da escavação desta sondagem é a seguinte: U.E. 1: nível térreo de cor bege, granulometria fina, textura arenosa e de fraca compacticidade. Era constituída por terra e alguns elementos pétreos de pequena dimensão, assim como por raízes de plantas. Estava totalmente isenta de materiais culturais. Assentava sobre as U.E.’s 2 e 3. Corresponde ao actual nível de circulação. Cronologia: Contemporânea. U.E. 2: nível térreo de cor castanho-claro, granulometria fina, textura arenosa e de grande compacticidade. Era constituída por terra e alguns elementos pétreos de pequena dimensão. Dela foi exumada pouca variedade de inclusões culturais, entre elas fragmentos de cerâmica de construção contemporânea (tijolo ‘alveolar’ e telha ‘de Marselha’). Assentava sobre as U.E.’s 4 e 6, estava coberta pelas U.E.’s 1 e 3 e cortava as U.E.’s 2 e 4. Poderá ter correspondido a um nível de circulação anterior à deposição da U.E. 1. Cronologia: Contemporânea. U.E. 2 a): Interface resultante da abertura da vala de instalação de um cabo eléctrico (U.E. 6). U.E. 3: unidade estrutural, constituída por uma fina bolsa de cimento possivelmente resultante de uma acção de obra, detectada no canto Sudoeste da sondagem 2. Não estava associada a nenhum tipo de materiais culturais. Assentava sobre a U.E. 2 e estava coberta pela U.E. 1. Corresponde a um nível de obra. Cronologia: Contemporânea. U.E. 4: nível térreo de cor preta, granulometria fina, textura areno-limosa e de fraca compacticidade. Era constituída por terra, cinzas e fragmentos carbonizados de madeira, alguns elementos pétreos de pequena dimensão e algumas raízes de plantas.

424 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Encontrava-se totalmente isenta de materiais culturais, à excepção de uma estrutura em ferro possivelmente usada no passado no travejamento de algum telhado. Assentava sobre a U.E. 5 e estava coberta pela U.E. 2. Poderá corresponder a uma acção de deposição de cinzas resultante de algum incêndio, neste mesmo local ou em local próximo. Cronologia: Contemporânea. U.E. 5: nível térreo de cor amarela, granulometria fina, textura argilosa e de elevada compacticidade. Era constituída por terra e alguns elementos pétreos de pequena dimensão. Dela foi exumada uma grande quantidade de fragmentos de cerâmica de construção contemporânea (tijolo ‘alveolar’ e telha ‘de Marselha’). Assentava sobre as U.E.’s 7, 8 e 9, estava cortada pelas U.E.’s 2 e 6 e era coberta pela U.E 4. Pela elevada quantidade de fragmentos de cerâmica de construção, poderá corresponder a um nível de aterro. Cronologia: Contemporânea. U.E. 6: unidade estrutural, constituída por um cabo eléctrico com cerca de 1 cm de diâmetro, envolvido por uma camada de areia de rio de cor cinzenta e coberto por uma linha contínua de tijolos alveolares (com a marca: BARBOSA RIBEIRO & CIA LDA TAVEIRO), colocados lado a lado na transversal e sem material ligante a uni-los. Desenvolvia-se no sentido Sudeste/Noroeste, cortando os perfis Norte e Oeste da sondagem 2. Assentava sobre a U.E.7 a), cortava as U.E.’ 5 e 8, estava coberta pela U.E. 2 e encostava a Sul à U.E. 9. Cronologia: Contemporânea. De notar que, por desconhecer se este cabo eléctrico se mantinha ou não activo, optámos, por uma questão de segurança, por não desmontar esta estrutura, facto que nos impossibilitou a escavação do canto Noroeste da sondagem 2. U.E. 7: conjunto de pequenas unidades térreas de diversas cores e composições que apareceram em pequenas bolsas e que deverão ter resultado de uma acção simultânea de aterro. De todas elas foram exumados materiais diversificados mas

425 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

contemporâneos, entre eles fragmentos de cerâmica de construção, de cerâmica doméstica comum e de faiança. Cronologia: Contemporânea. U.E. 7 a) nível térreo de cor cinzenta, granulometria fina, textura arenosa e de fraca compacticidade. Era constituída por terra, alguns elementos pétreos de pequena dimensão e diversos materiais culturais contemporâneos. Estava coberta pelas U.E.’s 5 e 6 e assentava sobre a U.E. 7 b). U.E. 7 b) nível térreo de cor amarela, granulometria fina, textura argilosa e de fraca compacticidade. Era constituída por terra, alguns elementos pétreos de pequena dimensão e diversos materiais culturais contemporâneos. Estava coberta pela U.E.7 a) e assentava sobre as U.E.’s 7 c), d), e), f) e g). U.E. 7 c) nível térreo de cor avermelhada, granulometria fina, textura argilosa e de fraca compacticidade. Era constituída por terra, alguns elementos pétreos de pequena dimensão e diversos materiais culturais contemporâneos. Estava coberta pela U.E. b) e d) e assentava sobre as U.E.’s 7 h) e 10. U.E. 7 d) nível térreo de cor preta, granulometria fina, textura arenosa e de fraca compacticidade. Era constituída por terra e cinza, alguns elementos pétreos de pequena dimensão, alguns fragmentos de escória e diversos materiais culturais contemporâneos. Estava coberta pelas U.E.’s 7 b) e e) e assentava sobre as U.E.’s 7 c) e 10. U.E. 7 e) nível térreo de cor amarela, granulometria fina, textura argilosa e de fraca compacticidade. Era constituída por terra, alguns elementos pétreos de pequena dimensão e diversos materiais culturais contemporâneos. Estava coberta pelas U.E.’s 7 b) e f) e assentava sobre as U.E.’s 7 d) e 10. U.E. 7 f) nível térreo de cor cinzenta, granulometria fina, textura arenosa e de fraca compacticidade. Era constituída por terra, alguns elementos pétreos de pequena dimensão,

cinza,

fragmentos

de

escória

e

diversos

materiais

culturais

contemporâneos. Estava coberta pelas U.E.’s 7 b) e g) e assentava sobre as U.E.’s 7 e) e 10. U.E. 7 g) nível térreo de cor vermelha, granulometria fina, textura argilosa e de fraca compacticidade. Era constituída por terra, alguns elementos pétreos de pequena dimensão e diversos materiais culturais contemporâneos. 426 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Estava coberta pelas U.E.’s 7 b) e assentava sobre as U.E.’s 7 f) e 10. U.E. 7 h) bolsa de cal de cor branca, granulometria fina, textura argilosa e de elevada compacticidade. Encontrava-se totalmente isenta de materiais culturais. Estava coberta pelas U.E.’s 7 c) e assentava sobre a U.E. 10. U.E. 8: unidade mural, detectada sob o perfil Oeste da sondagem 2 e que se desenvolve no sentido Norte/Sul, ultrapassando os limites Norte e Sul da mesma sondagem. Foi construída através do recurso a pedras de dimensões variáveis, mais ou menos facetadas, assentes umas sobre as outras sem qualquer tipo de material ligante a uni-las, resultando num aparelho toscamente aparelhado. Apresentava o seu topo claramente desmontado, uma vez que se encontrava rematado de uma forma muito irregular. Foto 349. Assentava sobre a U.E. 10, estava coberta pela U.E. 5, encostava a Oeste da U.E. 9, cortava todo o conjunto que constitui a U.E. 7 e era cortada ao seu nível superior pelas U.E.’s 2 e 6. Não foi detectada nenhuma vala de fundação que nos tenha permitido exumar materiais passíveis de datar esta estrutura, embora assente directamente sobre uma U.E. de cronologia de abandono contemporâneo (U.E. 10). Por este motivo encontramo-nos em posição de propor para esta unidade mural uma cronologia de construção contemporânea. U.E. 9: unidade estrutural, constituída por um pequeno vestígio de calçada detectada no canto Noroeste da sondagem 2, construída com recurso a pedras calcárias de pequeno porte, dispostas de forma anexa entre si, sem material ligante a uni-las. Estava coberta pela U.E. 5, assentava sobre a U.E. 7 a), encostava a Este à U.E. 8 e a Norte à U.E. 6. A cronologia contemporânea da U.E. 7 a), sobre a qual assenta esta unidade estrutural, permite-nos avançar com uma cronologia contemporânea para a U.E. 9. Este facto é corroborado pelos materiais exumados durante a limpeza dos interstícios desta calçada, entre eles fragmentos de faianças, vidros, cerâmica doméstica comum e cerâmica vidrada. U.E. 10: nível térreo de cor castanha acinzentada, granulometria fina, textura argilosa e de fraca compacticidade. Era constituída por terra e alguns elementos pétreos de pequena dimensão. 427 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Dela foram exumados materiais característicos da Época Moderna em grande quantidade, tais como fragmentos de faiança, mas também materiais de cronologia contemporânea, como fragmentos de loiça ‘ratinhos’. Outros materiais culturais de cronologia mais abrangente foram igualmente exumados, como fragmentos de loiça vidrada e loiça doméstica comum. Não foram exumados materiais explicitamente recentes, como telha ‘de Marselha’ ou tijolo ‘alveolar’, como tinha vindo a acontecer em todas as U.E.’s escavadas até atingir a U.E. 10. Por este motivo colocamos a hipótese de esta U.E. corresponder ao nível de circulação conventual, tendo sido abandonado já em época contemporânea. U.E. 11: conjunto de pedras de grande e médio porte, dispostas aleatoriamente e sem argamassa ligante, detectado no canto Sudeste da sondagem 2. Encontrava-se totalmente isenta de materiais culturais. Estava coberta por pela U.E. 7 g), assentava sobre a U.E. 10 e encostava a Este da U.E. 8. Poderá corresponder a um nível de entulhamento ou a um derrube de muro. Uma vez que assentava sobre uma U.E. com cronologia de abandono contemporânea, propomos a mesma cronologia para esta U.E. U.E. 12: Afloramento rochoso, constituído por pedra calcária de cor amarelada. Estava coberta pela U.E. 10.

4.1.3. Sondagem 3

A sondagem 3 foi implantada no canto Nordeste do logradouro, com as dimensões de 3 x 3 metros, com o objectivo de apurar a cota de circulação de um vão existente no alçado Sul, que dá passagem para o interior da ‘sala do capítulo’, e cuja interpretação nos suscitava algumas duvidas (Foto 9). Apurámos ter este vão correspondido na época conventual a uma porta emoldurada por cantaria de calcário, de duas folhas, implantada praticamente ao nível do afloramento rochoso e, talvez por este motivo, com uma soleira biselada. Este vão terá sido emparedado em época não determinada e parcialmente reaberto durante a época industrial, através de uma pequena passagem rematada por um arco em tijoleira. A esta reabertura terá correspondido a aplicação de um cano em grés, sob a soleira da porta conventual, possivelmente para responder às necessidades de escoamento de águas residuais do interior da ‘sala do capítulo’. A

428 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

cobrir parcialmente aquela soleira estava o actual piso de circulação, directamente assente sobre o afloramento rochoso. Fotos 350, 351 e 352.

Da escavação desta sondagem foi obtida a seguinte leitura estratigráfica: U.E. 1: nível térreo de cor castanho-claro, granulometria fina, textura arenosa e de fraca compacticidade. Era constituída por terra e alguns elementos pétreos de pequena dimensão, assim como por raízes de plantas. Dela foram exumadas poucas inclusões culturais, entre elas fragmentos de vidro, de plástico e de cerâmica de construção contemporânea (tijolo ‘alveolar’ e telha ‘de Marselha’). Assentava sobre as U.E.’s 2 e 4 e encostava a Sul à U.E. 3. Corresponde ao actual nível de circulação. Cronologia: Contemporânea. U.E. 2: nível de obra, constituído por uma fina camada de argamassa de cimento, detectado junto do perfil Este da presente sondagem. Terá possivelmente resultado de

alguma

recente

intervenção

de

recuperação

do

edifício

conventual,

nomeadamente do alçado exterior da parede Oeste dos três pisos dos ‘dormitórios’, o mesmo que limita a Este o logradouro. Assentava sobre a U.E. 4, estava coberta pela U.E. 1 e encostava a Sul à U.E. 3. Cronologia: Contemporânea. U.E. 3: unidade mural, constituída pelo alçado exterior da parede Sul da ‘sala do capítulo’, a mesma que limita a Norte o logradouro. Trata-se de uma parede conventual, onde terá existido uma porta de duas folhas junto ao nível do afloramento, da qual subsiste, no interior da ‘sala do capítulo’, parte da ombreira direita e a soleira em cantaria, onde são visíveis orifícios regularmente espaçados, que poderão eventualmente ter correspondido à aplicação de um gradeamento. Já a ombreira esquerda, desaparecida, é largamente ultrapassada por um emparedamento, dando a entender ter sido aquele vão emparedado em determinada altura. Não obstante, verifica-se no exterior da parede uma abertura contemporânea, obtida pelo desmonte parcial daquele emparedamento, rematada lateralmente por argamassa de cal e no topo por um pequeno arco de tijolos maciços espessos 429 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

unidos por argamassa de cal. A base desta abertura, em cimento, parece fornecer um escape para o escoamento de águas do interior da ‘sala do capítulo’, que se processaria através de uma abertura cilíndrica, montada sob a soleira da passagem conventual através do recurso a um tubo em grés. Assentava directamente sobre o afloramento rochoso (U.E. 4), cortava a U.E. 1 e encostava a Norte à U.E. 2. Cronologia: Moderna/Contemporânea (?). U.E. 4: Afloramento rochoso, constituído por pedra calcária de cor amarelada. Estava coberta pelas U.E.’s 1, 2 e 3.

4.1.4. Sondagem 4

A sondagem 4 foi implantada a Este do logradouro, com as dimensões de 1,5 x 3 metros, com o objectivo de apurar a cronologia de um tanque ali observado, bem como determinar a sua relação com o sistema hidráulico conventual. Deparámo-nos com o fino nível actual de circulação, directamente assente sobre afloramento rochoso, ambos cortados pela parede Oeste daquele tanque. Fotos 353, 354, 355 e 356.

Da escavação desta sondagem resultou a seguinte leitura estratigráfica: U.E. 1: nível térreo de cor castanho-claro, granulometria fina, textura argilo-arenosa e de fraca compacticidade. Era constituída por terra e alguns elementos pétreos de pequena dimensão, assim como por raízes de plantas. Dela foram exumadas poucas inclusões culturais, entre elas fragmentos de plástico e de cerâmica de construção contemporânea (tijolo ‘alveolar’ e telha ‘de Marselha’), de faiança e de cerâmica doméstica comum. Assentava sobre a U.E. 2 e encostava a Oeste à U.E. 3. Corresponde ao actual nível de circulação. Cronologia: Contemporânea. U.E. 2: Afloramento rochoso, constituído por pedra calcária de cor amarelada. Estava coberta pela U.E. 1 e estava cortada pela U.E. 3. U.E. 3: unidade mural, constituída por um aparelho irregular de pedra e argamassa de cal. Constitui o alçado exterior da parede Oeste do tanque anexo à parede Oeste 430 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

dos três pisos dos ‘dormitórios’. Não estava associada a qualquer tipo de materiais culturais e por este motivo, apesar de as paredes interiores do tanque estarem rebocadas com argamassa de cimento, não podemos afirmar, em segurança, se aquele tanque remonta à ocupação conventual deste espaço, se à ocupação industrial, ou se poderá corresponder a um tanque conventual posteriormente convertido na época industrial. Encontrava-se assente sobre a U.E. 2, cortando a U.E. 1. Cronologia: Época Moderna/Contemporânea (?)

4.2. SONDAGENS ARQUEOLÓGICAS REALIZADAS NO ÂMBITO DO ESTUDO DO SISTEMA HIDRÁULICO CONVENTUAL

As sondagens que de seguida descrevemos foram realizadas com o intuito de obter dados que nos conduzissem ao conhecimento do sistema hidráulico conventual, obliterado das fontes bibliográficas e tão desconhecido até ao arranque da presente intervenção. Dado que o sistema hidráulico conventual nada se conhecia à excepção da existência da cisterna de armazenamento de água localizada ao centro do claustro, as sondagens a realizar não foram pré-definidas. Pelo contrário, a sua localização, dimensão e número foram sendo estabelecidos à medida que os trabalhos iam avançando e conduzindo à necessidade de abertura de sondagens arqueológicas como a única forma de esclarecer determinadas dúvidas. Nos parágrafos que se seguem descreveremos detalhadamente cada uma das sondagens realizadas, embora o estudo do sistema hidráulico propriamente dito se encontre apresentado em capítulo próprio, onde são expostos os resultados não apenas das sondagens ora descritas como também da interpretação de diversas estruturas detectadas em diferentes pontos do edifício conventual. Por este motivo não nos prolongaremos demasiado nas descrições que se seguem. Após a escavação e respectivos registos gráfico e fotográfico, as sondagens realizadas foram seladas. As estruturas identificadas foram isoladas por geotêxtil, a que se seguiu a deposição de uma camada de saibro e o nivelamento com as terras da escavação efectuado com o recurso a meios mecânicos e manuais, protegendo-se assim os vestígios da exposição aos elementos naturais e consequente erosão, ao mesmo tempo que se procedia à regularização das cotas de circulação. 431 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

4.2.1. Sondagem 5

Aberta ao centro do ‘ante-refeitório’, ou de profundis (compartimento 2 da ala Oeste do piso 1), com o objectivo de verificar a presença de alguma conduta que servisse um eventual lavabo, elemento frequentemente verificado em espaços homólogos de outros conventos. De salientar que o piso de circulação neste espaço se encontrava bastante degradado pela ocupação industrial do convento, sendo visível o afloramento rochoso em grande parte da área total daquela divisão. A sondagem 5, de 1 x 1 m de área, foi implantada ao centro do de profundis, sobre uma moldura em calcário que julgámos passível de assinalar o traçado de uma hipotética conduta. Para mais, junto ao local era, desde o início, possível observar um pequeno fosso no afloramento rochoso, preenchido com pedras de pequeno porte e argamassa de cimento (uma acção claramente datável da época de ocupação industrial do edifício), que poderia corresponder ao preenchimento do espaço deixado pelo eventual desmantelamento do lavabo. Fotos 357 e 358.

Da abertura da sondagem 5 resultou a seguinte leitura estratigráfica: U.E. 1: Actual nível de circulação que corresponde igualmente ao piso conventual. Era constituído por uma moldura em lajes calcárias (95 x 30 x 10 cm) dispostas em linha no sentido Este/Oeste, ladeadas por tijolos maciços finos cerâmicos (24 x 12 x 2 cm) aplicadas em ‘espinha’. Assentava sobre a U.E. 2. Cronologia: Época Moderna. Apesar de constituir o actual nível de circulação, o piso detectado tem a sua origem na época de ocupação conventual. U.E. 2: Fina camada constituída por terra amarela de grãos finos, fraca compacticidade e textura argilosa. Encontrava-se totalmente isenta de materiais culturais. Assentava sobre a U.E. 3 e era coberta pela U.E. 1. Cronologia: Época Moderna. Apesar de isenta de materiais, trata-se de uma camada selada pelo piso conventual. 432 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

U.E. 3: Afloramento rochoso constituído por rocha calcária de tom amarelo. Era coberta pela U.E. 2.

Considerações: Para além do piso conventual, não foram detectadas quaisquer estruturas, não tendo sido detectada, de igual modo, nenhuma conduta hidráulica. Uma vez que é visível o afloramento rochoso em grande parte da área do ‘ante-refeitório’, ou de profundis, foi possível inspeccionar igualmente as imediações da sondagem 5, no sentido de detectar alguma conduta, ou os vestígios que o desmantelamento de uma estrutura deste tipo pudesse deixar no afloramento rochoso. Uma vez mais, tais vestígios não se verificaram. Na ausência de vestígios passíveis de se coadunarem com uma conduta hidráulica, achamos improvável que tenha existido um lavabo a centro do espaço do anterefeitório. Relembramos que tal estrutura era habitual neste tipo de espaço mas não obrigatória. O lavabo desempenhava uma função importante na preparação dos frades para a refeição, preparação que habitualmente decorria no de profundis. Não obstante, o lavabo poderia ter-se localizado noutro local próximo do refeitório, embora não tenham sido detectados, no decorrer dos trabalhos arqueológicos, quaisquer indícios da sua presença. Como vimos aquando da análise arquitectónica do compartimento 2 da ala Oeste do piso 1, ou ante-refeitório, o lavabo poderá ter-se localizado sob o vão de um arco de origem conventual, por sua vez localizado na parede Oeste deste compartimento.

4.2.2. Sondagem 6

Implantada junto da parede exterior meridional da cisterna conventual, a sondagem 6 tinha por objectivo avaliar a forma como aquela se articularia com a conduta que servia de abastecimento à latrina (ver capítulo dedicado ao estudo do sistema hidráulico conventual). Esta conduta, cujo interior tivemos oportunidade de explorar, consistia num pequeno túnel abobadado que se desenvolvia no sentido Norte/Sul, desde a sala da latrina, ou compartimento 3 da ala Norte do piso 0, sensivelmente até ao arco central da ala Norte do claustro. Neste ponto encontrava-se bloqueada por uma parede, onde se abria uma pequena passagem com vestígios de escorrimento. Pela direcção que tomava achámos plausível que a conduta estivesse relacionada com a cisterna conventual, antes de ter sido bloqueada por aquela parede. De igual modo, 433 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

também a dimensão desta conduta implicaria uma grande volumetria de água, motivo pelo qual especulámos que tivesse sido servida por aquela cisterna. Visto isto, procedemos à abertura da sondagem 6, de 2 x 3 m, de modo que ficasse implantada de forma anexa à parede meridional da cisterna conventual, a mesma parede que especulávamos encontrar-se unida com a dita conduta 1. Fotos 359 a 366.

Da abertura da sondagem 6 resultou a seguinte leitura estratigráfica: U.E. 1: Nível estrutural constituído pelo piso de circulação da época industrial, constituído por paralelepípedos de basalto de diferentes dimensões, unidos por argamassa de cimento e assente sobre uma fina camada de areia de rio de grãos médios e cor bege. Era visível apenas no canto Nordeste da sondagem. Assentava sobre a U.E. 2 e encostava sobre a U.E. 1a). Cronologia: Época Contemporânea. U.E. 1a): Nível térreo constituído pelo actual piso de circulação resultante da degradação do piso industrial e do desmonte dos paralelepípedos que o constituíam. Era constituída por terra de cor cinzenta envolvendo bolsas de areia de rio de grãos médios e cor bege. De fraca compacticidade e textura arenosa. Dela foram exumados alguns fragmentos de vidro, plástico, telha ‘de Marselha’ e tijolos alveolares. Assentava sobre a U.E. 2 e sobre a U.E. 3a), encostava à U.E.1 e era cortada pela U.E. 4. Cronologia: Época Contemporânea. U.E. 2: Nível térreo, constituído por terra de cor cinzenta, de granulometria fina a média, pouco compacta e de textura arenosa. Dela foram exumados alguns fragmentos de cerâmica doméstica comum, de vidro e de metal oxidado, bem como de plástico, de telha ‘de Marselha’ e de tijolos alveolares. Assentava sobre a U.E. 3, era coberta pelas U.E.’s 1 e 1a) e era cortada pelas U.E.’s 1a) e 3a). Cronologia: Época Contemporânea. U.E. 3: Nível térreo, constituído por terra de cor castanho-clara, de granulometria fina, compacta e de textura argilo-arenosa. Dela foram exumados alguns fragmentos de cerâmica doméstica comum e de vidro. 434 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Assentava sobre as U.E.’s 5, 5a) e 6, era cortada pelas U.E.’s 1a) e 3a) e era coberta pela U.E. 2. Cronologia: Época Contemporânea (?). U.E. 3a): Nível térreo, constituído por terra de cor amarela, de granulometria mediana, pouco compacta e de textura arenosa. Trata-se de uma bolsa de areia de rio visível junto ao perfil Oeste da sondagem, que consistia num do enchimento de uma vala aberta para implantação do tubo que constitui a U.E. 3b), que por sua vez atravessava a sondagem no sentido Norte/Sul, junto ao mesmo perfil. Encontrava-se isenta de materiais culturais. Assentava sobre a U.E. 6, envolvia a U.E. 3b), era coberta pela U.E. 1a) e cortava as U.E.’s 2 e 3. Cronologia: Época Contemporânea. U.E. 3b): Nível estrutural, constituído por um tubo de fibrocimento com cerca de 16 cm de diâmetro, que atravessava a sondagem no sentido Norte/Sul junto ao seu perfil Oeste. Assentava sobre e era envolvida pela U.E. 3a). Cronologia: Época Contemporânea. U.E. 4: Nível térreo, constituído por terra de cor negra, de granulometria fina, pouco compacta e de textura areno-limosa. Dela foram exumados alguns fragmentos de cerâmica doméstica comum e de vidro, assim como de tijolos alveolares e de telha ‘de Marselha’. Assentava sobre as U.E.’s 5, 5a) e 8, e cortava as U.E.’s 1a), 2, 3 e ainda as 5, 5a). Cronologia: Época Contemporânea. U.E. 5: Nível estrutural constituído pelo piso de circulação da época conventual, constituído por tijolos maciços finos e lajes de calcário de cor branca. Era visível apenas junto ao perfil Este da sondagem e encontrava-se bastante degradado. As peças de tijolo, assim como as lajes que constituíam este piso encontravam-se unidas e assentes sobre uma fina camada de argamassa de cal, à qual atribuímos a designação de U.E. 5a). Assentava sobre as U.E.’s 5a) 6 e 8, era cortada pelas U.E.’s 3 e 4 e era coberta pelas U.E.’s 3 e 4. Cronologia: Época Moderna. 435 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

U.E. 5a): Nível estrutural constituído por uma fina camada de argamassa de cal sobre a qual assentava o piso de circulação da época conventual, que por sua vez constitui a U.E. 5, e que, tal como esta era visível apenas junto ao perfil Este da sondagem. Assentava sobre as U.E.’s 6 e 8 e era coberta pela U.E. 5a). Cronologia: Época Moderna. U.E. 6: Nível térreo, constituído por terra de cor castanha e granulometria fina, pouco compacta e de textura argilosa. Dela foram exumados alguns fragmentos de cerâmica doméstica comum, assim como de faiança. Assentava sobre as U.E.’s 7, 9, 9a) e 10, encontrava-se coberta pelas U.E.’s 1a), 3, 3a) e 3b) e 5a) e era cortada pela U.E. 8. Cronologia: Época Moderna. U.E. 7: Nível estrutural constituído pela couraça de cobertura da cisterna conventual. Era visível apenas na parte Sul da sondagem e encontrava-se construída com recurso a argamassa de cal e tijolos maciços finos ao cutelo. Assentava sobre a U.E. 10, encostava à U.E. 8 e estava coberta pelas U.E.’s 2, 3, 5, 5a) e 6. Cronologia: Época Moderna. U.E. 8: Nível estrutural constituído por uma caixa de visita anexada à couraça de cobertura da cisterna conventual. Tratava-se de uma caixa de formato quadrangular e paredes rectas, alisadas apenas na sua face interna. Era construída com tijolos maciços finos e fragmentos de peças de cantaria calcária, unidos por argamassa de cal. A caixa comunicava na sua base com a cisterna, através de um pequeno orifício aberto na parede Sul da caixa, assim como com duas condutas de recolha de águas pluviais através de um orifício aberto na parede Norte da mesma. Foto 364. Assentava sobre a U.E. 10, encostava à U.E. 7, estava coberta pelas U.E.’s 4, 5, e 5a) e encontrava-se preenchida pela U.E. 4. Cronologia: Época Moderna. U.E. 9: Nível estrutural constituído por uma conduta de recolha de águas pluviais que anexava à parede Norte da caixa de visita que constitui a U.E. 8 e se desenvolvia no sentido Norte. Encontrava-se construída com recurso a aparelho irregular de pedras unidas por argamassa de cal, de paredes internas rectas e fundo côncavo, ambos rebocados a argamassa de cal, e cobertura com lajes calcárias de formato irregular. Foto 365. 436 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Assentava sobre a U.E. 10, encostava à U.E. 8, estava coberta pela U.E. 6. Cronologia: Época Moderna. U.E. 9a): Nível estrutural constituído por uma conduta de recolha de águas pluviais que anexava à parede Norte da caixa de visita que constitui a U.E. 8 e se desenvolvia no sentido Noroeste. As suas paredes externas encontravam-se construídas com recurso a fragmentos de tijolos maciços finos unidos por argamassa de cal, dentro das quais se desenvolvia um cano em cerâmica com cerca de 18 cm de diâmetro. Todo o conjunto era coberto com lajes calcárias de formato irregular. Foto 365. Assentava sobre a U.E. 10, encostava à U.E. 8, estava coberta pela U.E. 6. Cronologia: Época Moderna. U.E. 10: Afloramento rochoso constituído por rocha calcária de tom amarelo. Era coberta pelas U.E.’s 6, 7, 8, 9 e 9a).

Considerações: Na sondagem 6 foram detectadas várias estruturas de origem conventual articuladas com a cisterna, embora nenhuma delas estabelecesse ligação entre esta e a conduta de abastecimento à latrina, como inicialmente tínhamos previsto. Não obstante, continuamos convictos de que tal ligação deverá efectivamente ter ocorrido à época conventual. Da inspecção realizada ao interior da cisterna conventual, foi-nos possível averiguar a presença de um emparedamento que ocorre ao centro da parede Norte da mesma e que tem início junto ao seu piso de circulação. Este emparedamento poderá corresponder à união entre a cisterna de armazenamento de água e a conduta de abastecimento à latrina, dado assemelhar-se, em tamanho e localização a esta última. Foto 366. Recordamos que as paredes internas da cisterna foram rebocadas com argamassa de cimento à época conventual, altura em que deverá igualmente ter ocorrido o emparedamento daquela ligação. Para atingirmos a eventual cota de desenvolvimento da conduta de abastecimento à latrina, a fim de confirmar desse modo a sua existência, teríamos contudo de prosseguir com a escavação da sondagem 6, sendo para tal necessário proceder ao desmonte das estruturas conventuais ali detectadas. Como tal, demos por terminada a escavação da sondagem 6, optando pela preservação das estruturas nela detectadas, permanecendo por confirmar a existência de uma conduta de ligação entre a latrina e a cisterna. É pois 437 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

nossa sugestão que de futuro se proceda a uma sondagem parietal no local indicado, de modo a confirmar se o dito emparedamento corresponde efectivamente àquela união. Quanto às estruturas detectadas na sondagem 6, suscitam-nos algumas reflexões. Recordamos que detectámos duas condutas conectadas com uma caixa de visita, sendo as três estruturas, pelos materiais com que se encontram construídas, passíveis de se datarem do período de ocupação conventual. Dado que no interior da sondagem as duas condutas se desenvolviam com declive em direcção à caixa de visita, deduzimos que escoassem as suas águas para esta estrutura. E uma vez que a caixa de visita, por sua vez, se encontraria nesse período unida através de um pequeno orifício à cisterna, concluímos que as três estruturas serviriam para a abastecer. Dado que dos objectivos da equipa de arqueologia constava igualmente o estudo do sistema hidráulico conventual, procedemos então à pesquisa dos pontos de origem das duas condutas detectadas na sondagem 6. A conduta que se desenvolvia no sentido Norte, e que corresponde à U.E. 9 da sondagem 6, tinha início junto de uma caixa de visita anexada a Sul do pilar direito do arco central da ala Norte do claustro, à qual se unia. Esta caixa de visita, cuja inspecção foi possível através da remoção de uma tampa em cimento armado, encontrava-se construída com materiais datáveis da época industrial, estabelecendo ligação com uma série de condutas, todas da mesma época. Não podemos, por este motivo, concluir contundentemente tratar-se de uma estrutura de origem conventual, embora o facto de permanecer até aos dias de hoje unida com a U.E. 9 nos suscite especular que sim. Pelo mesmo motivo, não pudemos averiguar o ponto de origem das águas conduzidas pela U.E. 9, embora tenhamos desenvolvido algumas hipóteses que expomos no capítulo dedicado ao estudo do sistema hidráulico conventual. Como habitual, procedemos ao levantamento gráfico da caixa de visita referida no parágrafo anterior, que incluímos no final do presente capítulo. Relativamente à conduta que partia no sentido Noroeste, a U.E. 9a) da presente sondagem, constatámos não ter início numa segunda caixa de visita de características industriais, detectada desta feita junto do pilar esquerdo do arco central da ala Norte do claustro. Por este motivo, procedemos à abertura de uma sondagem, a sondagem 10, anexa a Sul desta caixa, a fim de averiguar o comportamento daquela conduta, dado que aparentemente se desenvolvia nesta direcção. Os dados resultantes da sondagem 10 serão apresentados mais adiante. Contudo avançamos desde já que estes dados, conjuntamente com os dados recolhidos na 438 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

sondagem 6 e noutros pontos do claustro, são suficientes para concluirmos que as estruturas que constituem as U.E.’s 8, 9 e 9a) foram inicialmente projectadas à época conventual para recolha de águas pluviais e seu consequente escoamento em direcção à cisterna de armazenamento. Este assunto encontra-se detalhadamente exposto no capítulo dedicado ao estudo do sistema hidráulico conventual.

4.2.3. Sondagem 7

Dado que o solo que ladeia a Sul e a Este a cisterna conventual foi profundamente alterado na época industrial a fim de ali implantar, respectivamente, uma cisterna de armazenamento industrial e uma fornalha e caldeira industriais, restava-nos somente a possibilidade de sondar o solo a Norte e a Oeste daquela a fim de detectar quaisquer estruturas conventuais que tivessem eventualmente subsistido à época de ocupação industrial do edifício. Uma vez aberta a sondagem 6, a Norte da cisterna conventual, faltava-nos sondar apenas o solo a Oeste da mesma, tendo essa operação consistido na realização da sondagem 7. A sondagem 7, de 6 x 3 m, foi portanto implantada de forma a coincidir com a parede Oeste da cisterna conventual, tendo como objectivo a detecção de eventuais condutas de abastecimento dessa estrutura. Fotos 367 a 374.

Da abertura da sondagem 7 resultou a seguinte leitura estratigráfica: U.E. 1: Nível térreo constituído pelo actual piso de circulação resultante da degradação do piso industrial e do desmonte dos paralelepípedos que o constituíam. Era constituída por terra de cor cinzenta envolvendo bolsas de areia de rio de grãos médios e cor bege. De fraca compacticidade e textura arenosa. Dela foram exumados alguns fragmentos de vidro, cerâmica doméstica comum e tijolos alveolares. Assentava sobre as U.E.’s 2 e 6. Cronologia: Época Contemporânea. U.E. 2: Nível térreo, constituído por terra de cor castanho-amarelada, de granulometria fina, compacta e de textura argilosa. Dela foram exumados alguns fragmentos de cerâmica doméstica comum e de vidro, assim como alguns fragmentos informes de ferro oxidado. Assentava sobre as U.E.’ 3, 4, 5, 7, 7a) e 8 e era coberta pela U.E. 1. 439 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Cronologia: Época Contemporânea. U.E. 3: Nível térreo, constituído por terra de cor castanho-clara, de granulometria fina, pouco compacta e de textura argilo-arenosa. Dela foram exumados alguns fragmentos de cerâmica doméstica comum. Trata-se de uma bolsa de terra detectada apenas no canto Sudoeste da sondagem. Assentava sobre a U.E. 4, encostava a Oeste da couraça de cobertura da cisterna industrial que constituía a U.E. 7 e era coberta pela U.E. 2. Cronologia: Época Contemporânea. U.E. 4: Nível térreo, constituído por terra de cor castanho-escura, de granulometria fina, compacta e de textura areno-limosa. Dela foram exumados alguns fragmentos de cerâmica doméstica comum. Assentava sobre a U.E. 5, encostava a Norte da couraça de cobertura da cisterna industrial que constituía a U.E. 7 e era coberta pelas U.E.’s 1, 2 e 3, assim como pela conduta conventual proveniente da ‘cozinha’, ou compartimento 3 da ala Oeste do piso 1, detectada apenas no perfil Oeste da sondagem e que constituía a U.E. 6. Cronologia: Época Moderna/Contemporânea (?). U.E. 5: Nível térreo, constituído por terra de cor castanho-avermelhada, de granulometria fina, bastante compacta e de textura argilosa. Dela foram exumados alguns fragmentos de cerâmica doméstica comum, assim como de faiança e um fragmento de cavilha em ferro bastante oxidado. Envolvia uma grande quantidade de pedras de pequena a média dimensão. Encostava a Norte da couraça de cobertura da cisterna industrial que constituía a U.E. 7 e em certas áreas da sondagem à U.E. 4 e era coberta pelas U.E.’s 2 e 4. Cronologia: Época Moderna/Contemporânea (?). U.E. 6: Nível estrutural composto por uma conduta em cerâmica vidrada de 12 cm de diâmetro, envolvida por e assente sobre argamassa de cal. Encontrava-se apenas junto ao perfil Oeste da sondagem, e visto que este viu algumas das suas áreas derrubadas por acção das chuvas que se fizeram sentir aquando da abertura desta sondagem, é possível que se tenha deslocado um pouco da sua posição original. Foto 373. Trata-se efectivamente da conduta conventual detectada igualmente no interior da ‘cozinha’, ou compartimento 3 da ala Oeste do piso 1, descrita no capítulo dedicado ao estudo do sistema hidráulico conventual e que, tal como exposto nesse capítulo, 440 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

deduzimos ter escoado as suas águas para a cisterna conventual, dado apresentarse com declive para esta estrutura. Assentava sobre a U.E. 4 e era coberta pela U.E. 1. Cronologia: Época Moderna. U.E. 7: Nível estrutural constituído pela couraça externa de cobertura à cisterna industrial, que como já referimos foi implantada a Sul da cisterna conventual. Era construída com recurso a um aparelho irregular de pedras unidas por argamassa de cal e foi detectada no canto Sudeste da sondagem 7. Da sua face Norte partia um tubo em ferro que constituía a U.E. 7a). Encostava a Sul às U.E.’s 2, 4 e 5 e a Este às U.E.’s 2, 3 e 4, era coberta pela U.E. 2 e cortada pela U.E. 7a). Cronologia: Época Contemporânea. U.E. 7a): Nível estrutural composto por uma conduta em ferro que partia da parede Norte da cisterna industrial que constituía a U.E. 7, desenvolvendo-se no sentido Noroeste. Tinha 18 cm de diâmetro e encontrava-se interrompida a cerca de 1 m daquela parede. Apresentava elevado grau de oxidação nas suas paredes exteriores, assim como vestígios de uma substância negra e gordurosa nas suas paredes internas. Cortava a U.E. 7 e era envolvida pela U.E. 2. Cronologia: Época Contemporânea. U.E. 8: Nível estrutural composto por uma conduta em ferro visível no canto Nordeste da sondagem, transpondo os seus perfis Norte e Este. Tinha cerca de 3 cm de diâmetro e desenvolvia-se no sentido Noroeste/Sudeste. A sua presença levou-nos à não escavação do canto em que se inseria, limitando dessa forma a nossa leitura dos perfis Norte e Sul da presente sondagem, ainda que apenas numa área muito reduzida dos mesmos. Assentava sobre a U.E. 4 e era coberta pela U.E. 2. Cronologia: Época Contemporânea. U.E. 9: Nível estrutural composto por uma conduta construída com recurso a tijolos maciços espessos, inteiros e fragmentados, unidos com argamassa de cal. Desenvolvia-se no sentido Sul/Nordeste, transpondo os limites Sul e Nordeste da presente sondagem. Foto 374. 441 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Como explicaremos de seguida, a detecção desta conduta levou-nos a abandonar a escavação da presente sondagem, pelo que não avaliámos a totalidade do formato da conduta. Apresentava contudo uma cobertura abobadada, sendo de prever que apresentasse as mesmas dimensões e formato de outras condutas industriais construídas com recurso a materiais idênticos e que foram detectadas no interior do claustro, assim como no compartimento 6 da ala Sul do piso 1, tendo sido descritas no capítulo dedicado ao estudo do sistema hidráulico conventual. Assentava sobre a U.E. 4 e era coberta pela U.E. 2. Cronologia: Época Contemporânea.

Considerações: Contávamos com a abertura da sondagem 7 verificar a forma como a cisterna conventual seria abastecida de água à época conventual. Porém, a detecção da conduta que constituía a U.E. 9 e que se desenvolvia a uma cota média de 35,11 m, impediu-nos de prosseguir com a escavação desta sondagem, dado que para tal aquela estrutura teria de ser desmontada. Para mais, nada nos garante que o abastecimento da cisterna conventual se processasse através da sua parede Oeste. Tanto quanto sabemos, é igualmente possível que o seu abastecimento se processasse através das suas paredes Sul ou Este (menos provável através da sua parede Norte, dado que especulamos ter esta parede comunicado exclusivamente com a conduta de abastecimento à latrina), tendo o que quer que subsistisse da(s) conduta(s) de abastecimento sido destruída(s) pela construção da cisterna, fornalha e caldeira industriais. Estamos por estes motivos convictos de que a sondagem aos solos não será a melhor forma para averiguar o comportamento das condutas que estabeleciam ligação com a cisterna conventual. Em alternativa, propomos a picagem do reboco das paredes internas da cisterna conventual. Este reboco, em argamassa de cimento, foi ali aplicado aquando da época de ocupação industrial do edifício e terá obliterado as aberturas de ligação às condutas de abastecimento à cisterna, à semelhança do que especulamos ter ocorrido com a ligação à conduta de abastecimento à latrina. Uma vez que os solos do claustro foram até uma cota bastante profunda, imensamente adulterados pela ocupação industrial deste espaço, não cremos que sondagens futuras venham a ser muito profícuas quanto a dados relacionados com a cisterna conventual, pelo contrário, uma picagem das suas paredes internas poderá vir a revelar todos os dados que inicialmente esperávamos apurar com a sondagem 7. 442 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

4.2.4. Sondagem 8

A sondagem 8, de 2 x 1 m, foi realizada com o objectivo de averiguar a forma de abastecimento de água à ‘cozinha’, ou compartimento 3 da ala Oeste do piso 1, na época conventual. Fotos 375 a 380. Dado que uma inspecção deste compartimento, de piso degradado e com afloramento rochoso visível em quase todas as suas áreas, permitiu constatar a presença de apenas uma conduta, efectivamente de origem conventual embora de escoamento para a cisterna e não de abastecimento à ‘cozinha’. De igual modo, a inspecção das faces internas das paredes que limitavam aquele compartimento não resultou na detecção de quaisquer emparedamentos consistentes com a anulação de condutas conventuais. Era claro que para as descobrir teríamos de sondar o exterior do edifício. Uma vez que foi detectado um tanque no caminho que actualmente separa o edifício conventual da encosta de Santa Clara-a-Nova, alinhado com a ‘cozinha’ (ver ‘tanque III’ no capítulo dedicado ao estudo do sistema hidráulico conventual), decidimos implantar a sondagem 8 de forma anexa ao exterior da parede que limita a Oeste este compartimento, de modo a que ficasse alinhada entre ele e o referido tanque. Apesar de aquele tanque se encontrar construído com recurso a materiais contemporâneos, nada nos garantia que não existisse já à época conventual, sendo posteriormente reabilitado aquando da época industrial.

Da realização da sondagem 8 resultou a seguinte leitura estratigráfica: U.E. 1: Nível térreo constituído pelo actual piso de circulação, constituído por terra de cor cinzenta envolvendo pedras de pequena dimensão. Apresentava-se com fraca compacticidade e textura arenosa. Dela foram exumados alguns fragmentos de vidro, plástico, telha ‘de Marselha’ e tijolos alveolares. Assentava sobre as U.E. 2 e 3 e encostava a parte da U.E. 5. 443 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Cronologia: Época Contemporânea. U.E. 2: Nível estrutural, constituído por uma caleira construída com recurso a argamassa de cimento e pedras de pequeno porte, assentes directamente sobre as terras que constituem as U.E.’s 3 e 4 e que se desenvolvia de forma anexa ao alçado Oeste da ala Oeste do edifício conventual, ultrapassando os limites Norte e Sul da presente sondagem. Tinha cerca de 30 cm de largura. Assentava sobre as U.E. 3 e 4 e era coberta pela U.E. 1. Cronologia: Época Contemporânea. U.E. 3: Nível térreo, constituído por terra de cor negra, de granulometria fina a média, pouco compacta, de textura arenosa e com vestígios de fuligem. Dela foram exumados alguns fragmentos de cerâmica doméstica comum e de faiança. Assentava sobre a U.E. 4, era coberta pelas U.E.’s 1 e 2 e encostava a parte da U.E. 5. Cronologia: Época Contemporânea (?). U.E. 4: Nível térreo, constituído por terra de cor castanho-clara, de granulometria fina, compacta e de textura argilosa. Encontrava-se totalmente isenta de materiais culturais. Assentava sobre a U.E. 5 e era coberta pelas U.E.’s 2 e 3. Cronologia: Época Contemporânea (?). U.E. 5: Nível estrutural composto por uma conduta de grandes dimensões que se desenvolvia no sentido Norte/Sul para além dos limites da presente sondagem e de forma anexa ao alçado Oeste da ala Oeste do edifício conventual (Foto 380). Tinha as suas paredes laterais construídas de forma recta e com recurso a aparelho irregular de pedras, tijolos maciços finos e fragmentos de cantaria calcária, tendo argamassa de cal como material ligante. Não apresentava reboco. Na sua parede Oeste foi detectado um pequeno orifício que especulamos ter servido de ‘ladrão’ ao enchimento excessivo do ‘tanque III’, impedindo-o de transbordar. Na base da conduta, que apresentava um declive para Norte, encontravam-se aplicadas três filas de tijolos maciços finos anexas à parede Oeste da conduta, bem como uma fila de telhas ‘lusas’ anexa à sua parede Este, sem qualquer tipo de material ligante, sendo possível verificar que se encontravam assentes directamente sobre terra.

444 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

A conduta era coberta por lajes calcárias de formato irregular, de grandes dimensões e considerável espessura. A ausência de uma destas lajes permitiu a inspecção do seu interior. Era coberta pela U.E. 4 e preenchida pela U.E. 6. Cronologia: Época Moderna. U.E. 6: Nível térreo constituído por terra de cor castanho-clara, de granulometria fina, pouco compacta e de textura argilosa. Dela foi exumada uma grande quantidade de fragmentos de faiança, cerâmica doméstica comum, assim como grande quantidade de fragmentos de fauna mamalógica e alguns fragmentos de fauna malacológica. Era envolvida pela U.E. 5. Cronologia: Época Moderna.

Considerações: A abertura da sondagem 8 resultou efectivamente na detecção de uma conduta de origem conventual, embora não de abastecimento à cozinha. Apesar de se encontrar anexa à parede exterior deste compartimento, a sua orientação e a falta de cuidado com os acabamentos internos fazem desta conduta inconsistente com o destino e com a função de uma conduta de abastecimento à ‘cozinha’. Para mais, um ‘ladrão’ unindo-a ao ‘tanque III’, remete-a para a categoria de conduta de escoamento de águas excessivas. Estamos convictos de que esta conduta tenha originalmente sido projectada para impedir a infiltração de águas pluviais no interior da cozinha, dado que este compartimento tinha o seu piso a uma cota de circulação inferior à da cota de circulação da base da conduta. Esta conduta foi alvo de maiores considerações, que constam do capítulo dedicado ao estudo do sistema hidráulico conventual. A sua detecção motivou a realização de duas outras sondagens, as sondagens 13 e 14, respectivamente implantadas nos extremos Norte e Sul do alçado Oeste da ala Oeste do edifício, com vista a apurar o seu comportamento. Do resultado destas sondagens trataremos atempadamente. Relativamente ao abastecimento de água à ‘cozinha’, não foram detectadas estruturas na sondagem 8 passíveis de nos fornecer informações relativas ao modo como este se processaria.

445 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

A presença de uma conduta conventual ocupando a totalidade da área da nossa sondagem impediu-nos de prosseguir com a sua escavação, tendo sido, pela natureza dos trabalhos que estavam a ser levados a cabo no alçado Oeste do edifício, impossível proceder ao seu alargamento. Por estes motivos permanece por esclarecer uma eventual ligação entre a ‘cozinha’ e o ‘tanque III’ e, em última análise o modo como seria abastecido aquele compartimento de água.

4.2.5. Sondagem 9

A sondagem 9, de 1 x 2 m, foi implantada nas traseiras da igreja de São Francisco da Ponte, junto à parede Norte da sua capela-mor. Procedemos à sua abertura de forma anexa ao paredão natural de rocha que ali se verificava, de modo a abranger uma estrutura industrial que se encontrava parcialmente visível à superfície. Fotos 381 a 385. Esta sondagem, tal como referido no capítulo dedicado ao estudo do sistema hidráulico conventual, foi realizada com o objectivo de apurar a possibilidade de existência de pontos de captação de água neste local à época conventual, dado que tínhamos recolhido algumas informações orais que apontavam para a existência de uma mina natural nas traseiras da referida igreja.

Da realização da sondagem 9, resultou a seguinte leitura estratigráfica: U.E. 1: Nível térreo constituído pelo actual piso de circulação, composto por terra de cor cinzenta envolvendo pedras de pequena dimensão. Apresentava-se com fraca compacticidade e textura arenosa. Dela foram exumados vários fragmentos de vidro, cerâmica doméstica comum, faiança, plástico, telha ‘de Marselha’ e tijolos alveolares. Assentava sobre parte da U.E. 2, à qual encostava também, e ainda sobre as U.E. 4 e 5, encostava ainda à U.E. 3. Cronologia: Época Contemporânea. U.E. 2: Nível estrutural composto por uma ‘caleira’ que se desenvolvia verticalmente de forma anexa ao paredão natural de rocha, desde uma altura de cerca de três 446 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

metros (contando a partir do actual piso de circulação), desembocando numa passagem abobadada, por sua vez anexa ao que terá subsistido de uma estrutura de base circular implantada directamente sobre o solo que constituía a U.E. 5. Todo o conjunto se encontrava construído com recurso a tijolos maciços espessos e tijolos alveolares, unidos por argamassa de cal. Foto 383. Assentava sobre a U.E. 5, era parcialmente coberta pela e encostava à U.E. 1. Cronologia: Época Contemporânea. U.E. 3: Unidade mural detectada na área mais a Norte da presente sondagem, ultrapassando mesmo o seu limite Norte. Anexava ao paredão natural de rocha a Oeste e desenvolvia-se no sentido Este, sendo interrompida cerca de três metros depois. Era composta por um aparelho irregular de pedras de pequeno porte unidas por argamassa de cal. Foto 385. Assentava sobre a U.E. 5. Cronologia: Época Contemporânea (?). U.E. 4: Nível estrutural composto por um tubo metálico de 10 cm de diâmetro, detectado no sector mais a Sudeste da sondagem e que ultrapassava o limite Este da mesma. Encontrava-se praticamente à superfície. Assentava sobre a U.E. 1. Cronologia: Época Contemporânea. U.E. 1: Nível térreo constituído por terra de cor amarela, de elevada compacticidade e textura argilosa. Encontrava-se totalmente isenta de materiais culturais. Encontrava-se coberta pelas U.E.’s 1, 2 e 3. Cronologia: nível arqueologicamente estéril.

Considerações: A escavação da sondagem 9 foi abandonada a partir da cota 34,75 m, uma vez que tínhamos já ultrapassado os 50 cm de solo arqueologicamente estéril e que consideramos, pela comparação com as terras das sondagens 1 a 4, abertas na área do designado ‘logradouro’, resultar da alteração físico-química do afloramento rochoso. Apesar das informações orais e da estrutura contemporânea que constitui a U.E. 2, nenhum ponto de captação de água foi detectado nas traseiras da igreja de São Francisco da Ponte. 447 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Quanto à Estrutura que constitui a U.E. 2, as suas funções permaneceram desconhecidas, embora especulemos, quer pela ‘caleira’ quer pelos vestígios de uma base circular, que se tratasse de um pequeno tanque de cronologia industrial para recolha de águas, já parcialmente destruído. A origem destas águas poderá ter sido pluvial ou estar relacionada com um cano que é visível na parte posterior da capela-mor da igreja. O cano parte do afloramento rochoso e termina a escassos centímetros da parede Oeste da dita capela. A inacessibilidade do local impediu uma inspecção mais cuidada.

4.2.6. Sondagem 10

A sondagem 10, de 1,5 x 1 m, foi realizada com o objectivo de apurar o comportamento de uma conduta detectada na sondagem 6, constituindo a U.E. 9a) da mesma. Fotos 44 a 51. Dado que a dita conduta se desenvolvia no sentido Noroeste, em direcção ao pilar esquerdo do arco central da ala Norte do claustro, deduzimos que se encontrasse articulada com uma caixa de visita que aí se localizava. Não obstante, após a inspecção do interior da dita caixa de visita concluímos que tal não acontecia. Por esse motivo optámos pela abertura da sondagem 10, de forma anexa à parede Sul daquela caixa de visita.

Da realização da sondagem 10, resultou a seguinte leitura estratigráfica: U.E. 1: Nível térreo constituído pelo actual piso de circulação, composto por terra de cor cinzenta envolvendo pedras de pequena dimensão. Apresentava-se com fraca compacticidade e textura arenosa. Dela foram exumados escassos fragmentos de cerâmica doméstica comum e alguns fragmentos de tijolos alveolares. Assentava sobre as U.E.’s 2, 4 e 5. Cronologia: Época Contemporânea. U.E. 2: Nível estrutural composto por um cano de fibrocimento com cerca de 18 cm de diâmetro. Dentro deste cano desenvolvia-se por sua vez um tubo em PVC de 4 cm de diâmetro. O cano exterior encontrava-se envolvido e assente sobre areia de 448 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

rio amarela, sendo todo o conjunto encimado por uma camada de argamassa de cimento. Esta estrutura atravessava a totalidade da sondagem no sentido Norte/Sul, transpondo os limites Norte e Sul da mesma. Corresponde às U.E.’s 3 e 3a) da sondagem 6, embora nesta última não se tenha verificado o tubo em PVC. Uma vez que a U.E. 2 ocupava grande parte da área da sondagem 10, foi sujeita a desmonte no sentido de possibilitar a sua escavação. Assentava sobre a U.E. 5, era coberta pela U.E. 1 e encostava à U.E. 3a). Cronologia: Época Contemporânea. U.E. 3: Nível estrutural constituído por uma conduta que se desenvolvia no sentido Sudoeste/Nordeste, atravessando os limites Sul e Norte da sondagem 10. As suas paredes laterais, assim como a sua base, encontravam-se respectivamente construídas com recurso a uma única fiada de tijolos maciços espessos unidos por argamassa de cal. A conduta era encimada por lajes calcárias de formato irregular e dimensões variáveis. Assentava sobre a U.E. 5, era coberta pela U.E. 4 e encostava à U.E. 3a). Cronologia: Época Contemporânea. U.E. 3a): Nível de obra constituído por argamassa de cal, resultante da construção da conduta que constituía a U.E. 3. Assentava sobre a U.E. 5, era coberta pela U.E. 4 e encostava às U.E.’s 3 e 2. Cronologia: Época Contemporânea. U.E. 4: Nível térreo composto por terra de cor negra, de fraca compacticidade e textura areno-limosa. Dela foram exumados escassos fragmentos de cerâmica doméstica comum. Assentava sobre as U.E.’s 3 e 3a), encostava à U.E. 2 e era coberta pela U.E. 1. Cronologia: Época Contemporânea. U.E. 5: Nível térreo composto por terra de cor castanho-amarelada, de fraca compacticidade e textura

argilo-arenosa.

Dela foram

exumados escassos

fragmentos de cerâmica doméstica comum e de faiança. Assentava sobre a U.E. 6, e era coberta pelas U.E.’s 1,2, 3a) e 3. Cronologia: Época Moderna/Contemporânea (?). 449 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

U.E. 6: Nível estrutural constituído por uma conduta que se desenvolvia no sentido Sudeste/Noroeste, atravessando os limites Sul e Norte da sondagem 10 (Foto 392). As suas paredes laterais encontravam-se construídas com recurso a fragmentos de tijolos maciços finos unidos por argamassa de cal, no interior das quais se desenvolvia um cano em cerâmica com cerca de 18 cm de diâmetro. Todo o conjunto era coberto com lajes calcárias de formato irregular. Corresponde à U.E. 9a) da sondagem 6. Era coberta pela U.E. 5. Cronologia: Época Moderna.

Considerações: Uma vez que o objectivo da presente sondagem consistia em averiguar o comportamento da conduta conventual que constituía a U.E. 9a) da sondagem 6, demos por concluída a sua escavação ao detectar esta mesma conduta. Averiguámos que não se desenvolvia em direcção à caixa de visita anexa ao pilar esquerdo do arco central da ala Norte do claustro, como inicialmente tínhamos pensado. Na verdade, da parede Este desta caixa parte uma conduta construída por materiais contemporâneos que se desenvolve até unir à parede Oeste da já referida caixa de visita anexa ao pilar direito do arco central da ala Norte do claustro. Esta última conduta é aproximadamente perpendicular à conduta conventual que constitui a U.E. 6 da presente sondagem, sendo provável que a construção da primeira tenha anulado a segunda, já que uma inspecção das paredes internas da conduta industrial permitiu averiguar que não se encontram articuladas entre si. Um simples teste executado com recurso a água corrente permitiu averiguar que a U.E. 6 da presente sondagem corresponde efectivamente à 9a) da sondagem 6, sendo que o desnível entre as cotas a que se desenvolve a conduta nas duas sondagens tende para Sul, isto é, em direcção à cisterna conventual. Como exposto no capítulo dedicado ao estudo do sistema hidráulico conventual, é possível que esta conduta, assim como a conduta que constitui a U.E. 9 da sondagem 6, faça parte de um sistema conventual de captação de águas pluviais. Relativamente à conduta que constitui a U.E. 3 da presente sondagem, assim como a caixa de visita anexa ao pilar esquerdo do arco central da ala Norte do claustro, ambas com certeza de origem industrial, apresentamos os respectivos levantamentos gráficos no final do presente capítulo.

450 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

4.2.7. Sondagem 11

A sondagem 11, cuja implantação e execução foram amplamente condicionadas pela natureza dos trabalhos que decorreram na presente empreitada ao longo de todo o alçado Oeste do edifício, foi aberta com uma dimensão de 1,5 x 1,5 m, de forma anexa ao referido alçado, alinhada com uma ‘caleira’ detectada no muro que limita a Oeste o caminho que separa o edifício da Encosta de Santa Clara-a-Nova. Fotos 393, 394 e 395. A dita ‘caleira’, tal como exposto no capítulo dedicado ao estudo do sistema hidráulico conventual, encontrava-se implantada naquele muro, sendo escavada nos próprios silhares que o compõem. A sua proximidade ao já referido ‘tanque III’, assim como à ‘cozinha’ e ao ‘ante-refeitório’, ambos os locais habitualmente fornecidos de água corrente, motivou a abertura da sondagem 11, com o objectivo de averiguar a existência de alguma estrutura que a unisse a estes compartimentos.

Da abertura da sondagem 11 resultou a seguinte leitura estratigráfica: U.E. 1: Nível térreo constituído pelo actual piso de circulação, constituído por terra de cor cinzenta envolvendo pedras de pequena dimensão. Apresentava-se com fraca compacticidade e textura arenosa. Dela foram exumados alguns fragmentos de telha ‘de Marselha’ e de tijolos alveolares. Assentava sobre a U.E. 3 e envolvia a U.E. 2. Cronologia: Época Contemporânea. U.E. 2: Nível estrutural, constituído por um tubo metálico com cerca de 2 cm de diâmetro, que se desenvolvia de forma anexa ao perfil Oeste da presente sondagem, ultrapassando os limites Norte e Sul da mesma. Era envolvida pela U.E. 1. Cronologia: Época Contemporânea. U.E. 3: Nível térreo, constituído por terra de cor negra, de granulometria fina a média, pouco compacta, de textura arenosa e com vestígios de fuligem. Encontravase totalmente isenta de materiais culturais. Assentava sobre as U.E.’s 4 e 6 e era coberta pela U.E. 3. Cronologia: Época Contemporânea (?).

451 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

U.E. 4: Nível térreo, constituído por terra de cor castanho-clara, de granulometria fina, compacta e de textura argilosa. Encontrava-se totalmente isenta de materiais culturais. Assentava sobre as U.E. 5 e 6 e era coberta pela U.E. 3. Cronologia: Época Contemporânea (?). U.E. 5: Nível estrutural constituído pela mesma conduta detectada na U.E. 8 e que nela constituía a U.E. 5. Ao contrário do que ocorria nessa sondagem, na presente sondagem a conduta não se desenvolvia de forma anexa ao alçado Oeste do edifício, mas afastado deste cerca de 20 cm, assumindo porém o mesmo sentido Norte/Sul. Encontrava-se coberta por uma laje calcária de grandes dimensões, motivo pelo qual não inspeccionámos o seu interior. Não obstante, especulamos que as suas características construtivas não difiram muito das averiguadas na sondagem 8. Era coberta pelas U.E.’s 4 e 6. Cronologia: Época Moderna. U.E. 6: Nível estrutural composto por uma calçada pobremente executada com recurso a pedras calcárias de formato irregular, sem material ligante e assentes sobre uma fina camada de areia de rio de cor branca. Encontrava-se ocupando apenas metade da área total da sondagem, desenvolvendo-se a partir do seu centro e ultrapassando o seu limite Oeste. Assentava sobre a U.E. 5 e era coberta pelas U.E.’s 3 e 4. Cronologia: Época Contemporânea.

Considerações: A escavação da sondagem 11 foi abandonada ao ser detectada a conduta que constitui a U.E. 5, dado que a sua presença nos impedia prosseguir os trabalhos. Deduzimos que a ocorrer algum tipo de ligação entre a ‘caleira’ que motivou a abertura desta sondagem e os compartimentos da ‘cozinha’ ou do ‘ante-refeitório’, esta processar-se-ia abaixo da cota da base da conduta que constituía a U.E. 5. Por este motivo preferimos abandonar a escavação da sondagem 11 e proceder a nova sondagem, desta feita de forma anexa à própria ‘caleira’. Relativamente à calçada detectada, especulamos tratar-se de uma obra de origem industrial mesmo que com ela não estivessem associados materiais culturais desta cronologia. Baseamos a nossa atribuição cronológica no mero facto de que a calçada 452 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

se apresenta com tal irregularidade que estaria mais facilmente adaptada à circulação de veículos motorizados de grande porte.

4.2.8. Sondagem 12

Como referido nos parágrafos anteriores, a abertura da sondagem 12 foi motivada pela impossibilidade de averiguar através da abertura da sondagem 11, uma eventual ligação entre a ‘caleira’ detectada no muro a Oeste do caminho que separa o edifício da Encosta de Santa Clara-a-Nova e os compartimentos da ‘cozinha’ ou do ‘ante-refeitório’. Fotos 397 e 398. Como referido, essa ‘caleira’, de cronologia pouco clara por se encontrar escavada nos silhares que constituem o dito muro e portanto constituída por materiais de datação muito abrangente, despertou a nossa atenção para a possibilidade de ter constituído à época conventual uma forma de abastecimento de água àqueles compartimentos. Para explorar essa possibilidade abrimos inicialmente a sondagem 11, que pelos motivos então explicados decidimos abandonar antes de ser atingido o seu objectivo. Em contrapartida, optámos pela realização da presente sondagem, desta feita anexa à própria ‘caleira’.

Da abertura da sondagem 12, com 1 x 1 m, resultou a seguinte leitura estratigráfica: U.E. 1: Nível térreo constituído pelo actual piso de circulação, constituído por terra de cor cinzenta envolvendo pedras de pequena dimensão. Apresentava-se com fraca compacticidade e textura arenosa. Dela foram exumados alguns fragmentos de telha ‘lusa’ e também alguns fragmentos de um material resinoso de cor negra, totalmente solidificado. Assentava sobre a U.E. 2. Cronologia: Época Contemporânea. U.E. 2: afloramento rochoso. Nele detectámos, no prolongamento da ‘caleira’, um ‘canal’ escavado, que se desenvolvia de forma anexa ao muro a Oeste do caminho que separa o edifício da Encosta de Santa Clara-a-Nova no sentido Sul, ultrapassando o limite Sul da sondagem. Apresentava este ‘canal’ uma largura com cerca de 20 cm e uma profundidade de cerca de 5 cm. Estava coberta pela U.E. 1. 453 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Cronologia: Época Moderna/Contemporânea (?).

Dado que o dito ‘canal’ se prolongava para além do limite Sul da sondagem, optámos pelo seu alargamento nessa direcção em 0,5 m, no sentido de apurar o seu desenvolvimento. Deste alargamento resultou a detecção do final do afloramento rochoso e com ele do ‘canal’ a uma distância de cerca de 35 cm do primitivo limite Sul da sondagem.

Considerações: Da abertura da sondagem 12 resultou apenas a detecção de um ‘canal’ escavado na rocha, que é na prática a continuação da ‘caleira’ escavada no muro a Oeste do caminho que separa o edifício da Encosta de Santa Clara-a-Nova, desviando as suas águas para Sul. Ao contrário do que suspeitámos inicialmente, as águas provenientes dessa ‘caleira’ não seriam conduzidas para nenhum dos compartimentos da ‘cozinha’ ou do ‘anterefeitório’, mas antes para Sul, aparentemente escoando livremente sobre o piso de circulação. Quanto aos materiais detectados na U.E. 1 da presente sondagem, fragmentos de telha ‘lusa’ e de uma matéria resinosa de cor negra, suspeitamos terem feito parte da cobertura da ‘caleira’, tapando-a e impermeabilizando-a. De facto, uma análise das paredes internas da ‘caleira’ permitiu-nos constatar a presença do mesmo tipo de resina.

4.2.9. Sondagens 13 e 14

Após a detecção da conduta conventual que constitui tanto a U.E. 5 da sondagem 8, como a U.E. 5 da sondagem 11, sentimos necessidade de apurar o seu comportamento pois somente desse modo poderíamos compreender totalmente as funções para as quais teria sido projectada. Por este motivo procedemos à abertura das sondagens 13 e 14 implantadas de forma anexa à parte I do alçado Oeste do edifício conventual, respectivamente nas suas extremidades Norte e Sul. Contávamos com estas sondagens apurar o eventual desenvolvimento daquela conduta ao longo de todo este tramo do alçado e dessa forma determinar os seus pontos de origem e destino.

454 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Sondagem 13. Fotos 399, 400 e 401.

Da abertura da sondagem 13, de 2 x 1 m, resultou a seguinte leitura estratigráfica: U.E. 1: Nível térreo constituído pelo actual piso de circulação, constituído por terra de cor cinzenta envolvendo pedras de pequena dimensão, compacta e de textura arenosa. Dela foram exumados alguns fragmentos de telha ‘de Marselha’, cerâmica doméstica comum, faiança, vidro e de tijolos alveolares. Assentava sobre a U.E. 2. Cronologia: Época Contemporânea. U.E. 2: Nível de entulhamento, constituído por terra de cor castanha envolvendo pedras de pequena a média dimensão e bolsas de argamassa de cal. Apresentavase muito compacta e de textura argilo-arenosa. Dela foram exumados alguns fragmentos de cerâmica de construção, tais como telha ‘de Marselha’ e tijolos alveolares, assim como escassos fragmentos de cerâmica doméstica comum. Encontrava-se coberta pela U.E. 1. Cronologia: Época Contemporânea.

Considerações: Dado que a cota a que se encontrava o topo da U.E. 2 era já bastante inferior à cota a que se desenvolvia a conduta que constitui a U.E. 5 da sondagem 8, ou a U.E. 5 da sondagem 11, concluímos que esta não se encontrava junto ao extremo Norte da parte I do alçado Norte, como inicialmente tínhamos previsto, optando por este motivo por não avançar com a escavação da sondagem 13. Desconhecemos se alguma vez aquela conduta tenha passado pelo local de implantação da sondagem 13, tendo posteriormente sido destruída pela mesma acção que originou o nível de entulhamento que constitui a U.E. 2, ou se pelo contrário nunca se tenha desenvolvido até este ponto, desaguando as suas águas noutro destino. Relativamente ao nível de entulhamento que constitui a U.E. 2, desconhecemos igualmente o género de acção que lhe deu origem, embora os materiais dele exumados apontem para uma cronologia contemporânea. Especulamos por este motivo que tenha ocorrido durante a fase de ocupação industrial deste edifício, eventualmente na sequência da destruição do paramento que anexava de forma perpendicular ao extremo Norte da parte I do alçado Oeste (ver capítulo dedicado ao estudo da arquitectura deste

455 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

alçado) ou em consequência da criação do chanfro que se encontra naquele canto do edifício, também ele de origem industrial.

Sondagem 14. Fotos 402 e 403.

Da abertura da sondagem 14, de 2 x 1 m, resultou a seguinte leitura estratigráfica: U.E. 1: Nível térreo constituído pelo actual piso de circulação, constituído por terra de cor cinzenta, compacta e de textura arenosa. Dela foram exumados alguns fragmentos de telha ‘de Marselha’, cerâmica doméstica comum, faiança, vidro, plástico e de tijolos alveolares e ainda uma colher de alumínio. Assentava sobre a U.E. 2. Cronologia: Época Contemporânea. U.E. 2: Nível estrutural, constituído por uma caleira construída com recurso a argamassa de cimento e pedras de pequeno porte, assentes directamente sobre as terras que constituem as U.E.’s 3 e 4 e que se desenvolvia de forma anexa ao alçado Oeste da ala Oeste do edifício conventual, ultrapassando os limites Norte e Sul da presente sondagem. Tinha cerca de 30 cm de largura. Corresponderá à U.E. 2 da sondagem 8. Assentava sobre as U.E. 3 e 4 e era coberta pela U.E. 1. Cronologia: Época Contemporânea. U.E. 3: Afloramento rochoso, constituído por rocha calcária de cor amarelada. Este encontrava-se praticamente à superfície. Encontrava-se coberta pela U.E. 1.

Considerações: Tendo o afloramento rochoso surgido praticamente à superfície do actual piso de circulação, concluímos nunca a conduta que constitui a U.E. 5 da sondagem 8, ou a U.E. 5 da sondagem 11, se ter desenvolvido até ao extremo Sul da parte I do alçado Oeste. Para mais, as acções levadas a cabo na parede Oeste do compartimento 4 da ala Oeste do piso 1, que passaram pelo desmonte total da mesma e consequente criação de um novo paramento contemplando vão de porta ao nível deste piso, expuseram o mesmo afloramento rochoso, igualmente quase à superfície do actual piso de circulação, a cerca de 4 metros para Norte do local de implantação da sondagem 14 (Foto 404). 456 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Deste modo, especulamos que a conduta conventual detectada na sondagem 8, que recordamos ter sido implantada junto ao alçado exterior da parede Oeste do compartimento 3 da ala Oeste do piso 1, ou ‘cozinha’, terá sido projectada para se desenvolver de forma paralela ao exterior da parte I do alçado Oeste, apenas quando a este alçado não se verificava ‘encosto’ por parte do afloramento rochoso. Esta hipótese parece aplicar-se particularmente bem se considerarmos esta conduta como uma via para o impedimento de infiltrações de água através daquela parede no piso 1 da ala Oeste.

4.3. ACOMPANHAMENTO ARQUEOLÓGICO

Tal como referido anteriormente, a intervenção arqueológica consistiu em trabalhos simultâneos de escavação de sondagens e de acompanhamento dos trabalhos decorrentes da empreitada de consolidação do edifício do Convento de São Francisco da Ponte. O acompanhamento, permanente e integral, visou a minimização de impacte arqueológico aquando da remoção de terras, com registo e avaliação dos contextos estratigráficos, assim como ao nível das intervenções inerentes à consolidação estrutural do edifício, em múltiplas acções que trataremos nos parágrafos que se seguem.

4.3.1. Consolidação arquitectónica

O longo período em que o edifício esteve votado ao abandono acelerou a debilidade das condições de estabilidade estrutural, muitas vezes já enfraquecidas pela acção de adaptação do edificado conventual a infra-estruturas industrias, datando deste período inúmeros exemplos de intervenção abusiva sem respeito pelas características originais do edifício ou mesmo pela sua estabilidade estrutural. A presente empreitada visou não só consolidar estruturalmente o edifício como também devolver-lhe a dignidade perdida recuperando para tal a traça conventual, desfigurada 457 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

pelas sucessivas ocupações pós-monásticas, em consonância com o projecto de arquitectura aprovado para o local. Para efeitos de consolidação, assim como de recuperação da traça original, recorreuse, sempre que possível, a materiais de construção com as mesmas características dos materiais usados aquando da construção original do edifício em questão. Em todos os vãos fechados foi utilizada alvenaria de pedra local, ligada com argamassa de cal hidratada, cimento branco e areia do rio. Procuraremos de seguida apresentar um resumo dos trabalhos executados neste âmbito, sem no entanto, nos tornarmos demasiado exaustivos, sob pena de nos estarmos a repetir em relação ao que ficou dito sobre este assunto no capítulo dedicado ao estudo da arquitectura do edifício.

4.3.1.1. Piso 0

Neste piso procedeu-se exclusivamente ao fecho de todos vãos verificados na parede Oeste da ala Este, deixados abertos pela remoção, numa anterior empreitada, dos cacifos e outros armários de apoio aos operários fabris. Esta intervenção encontra-se registada na “Planta do Piso 0 – Caracterização Arqueológica”, na página 567, no final do presente capítulo (esta planta apresenta um número de página errado, onde está 416 deve ler-se 567).

4.3.1.2. Piso 1

Neste piso foram igualmente fechados vários vãos de cronologia industrial que, tal como anteriormente referido, não vamos enumerar para evitarmos repetições, uma vez que se encontram pormenorizadamente referidos e descritos no capítulo dedicado ao estudo da arquitectura do edifício, sendo a sua localização assinalada na planta da página 569 constante do presente capítulo. Destacamos, no entanto, o fecho de um vão de origem conventual. Trata-se do acesso original ao ‘refeitório’, ou compartimento 1 da ala Oeste do piso 1, a partir do espaço da ‘adega’, ou compartimento 4 da ala Norte do piso 1. A localização e características deste vão constam igualmente do referido capítulo. A ala dos dormitórios correspondente a este piso apresentava pilares centrais em ferro fundido, que remontavam à época industrial e que serviam de apoio à totalidade do piso 458 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

superior, assente por sua vez em vigas ainda em madeira mas já executado com betonilha. Os pilares, assim como o piso que apoiava, foi totalmente removido por se encontrar em avançado estado de degradação. O piso superior foi então substituído por um novo piso em betão assente sobre vigas de aço. Relativamente aos pilares removidos, foram depositados no interior do claustro e acondicionados com coberturas plásticas para que não ficassem expostos aos elementos naturais. De igual forma, no compartimento 2 da ala Norte do piso 1 ainda se verificava a existência das vigas em madeira de sustentação do antigo piso. Sobre estas apoiavamse uma série de pilares igualmente em madeira, que por sua vez sustentavam o travejamento em madeira de sustentação do piso superior a este compartimento. Todo o conjunto encontrava-se, no entanto, em avançado estado de degradação, tornando inviável a sua recuperação. Foi por este motivo removido, tendo sido os dois pisos, do referido compartimento e do compartimento a ele sobreposto, substituídos por novos pisos em betão assente sobre vigas de aço.

4.3.1.3. Piso 2

Neste piso os vãos fechados foram escassos como se pode observar na “Planta do Piso 2 – Caracterização Arqueológica”, na página 570 onde consta o seu registo, no final do presente capítulo (esta planta apresenta um número de página errado, onde se lê 418 deve ler-se 570). Foi restituído o piso já inexistente aquando do início da empreitada, no compartimento 2 e no compartimento 3, no caso do compartimento correspondente à ala dos dormitórios, tratou-se de uma substituição, tal como foi dito. Neste procedimento foram colocadas vigas de aço de sustentação dos novos pisos, sobre a qual foi colocada uma malha em ferro que posteriormente foi betonada. Para a sua inserção foram abertos roços com uma profundidade máxima de 40 cm nas paredes laterais.

4.3.1.4. Claustro Dentro do pátio delimitado pelas alas do claustro, foi efectuada a remoção manual do actual piso constituído por paralelepípedos em basalto, de cronologia contemporânea. Procurou-se com esta acção a regularização do nível de circulação (Fotos 405 e 406). 459 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foram mantidas as lajes calcárias que se encontravam aplicadas na zona Nordeste do claustro, dado que poderão eventualmente corresponder ao piso de cronologia conventual. A consolidação das abóbadas que cobrem as alas do claustro constituiu a intervenção mais complexa, uma vez que se encontravam em muito mau estado de preservação, sendo óbvia a sua debilidade aquando do arranque da presente empreitada. Em todas as alas era visível o ‘deslocamento’ da estrutura em relação ao alçado. Esta situação era mais grave nos cantos Nordeste e Sudeste das alas, onde as abóbadas se encontravam demolidas, acção que terá ocorrido ainda durante a fase de ocupação industrial do monumento. Dentro de todas as alas, o exemplo mais flagrante da degradação das abóbadas é a curvatura patente ao alçado da ala Norte do claustro, causada pela ruptura entre as abóbadas de cobertura dessa ala e a próprio alçado no qual estas se apoiam. Para tentar travar este processo, foram aplicados tirantes metálicos que uniam o referido alçado à parede Sul da ala Norte do piso 1, ainda na época de ocupação industrial. Após as devidas acções de consolidação das abóbadas, estes tirantes foram retirados mediante o devido acompanhamento arqueológico. A consolidação propriamente dita, iniciou-se com a remoção do carrego. Este tipo de ‘enchimento’ apresentava uma altura máxima de 45 cm, junto à parede, e mínima de 18 cm, ao centro das abóbadas. Sobre si corria o piso das alas superiores, constituído por ladrilhos cerâmicos aplicados ‘em espinha’ (Foto 407). De seguida, foram aplicadas nas faces superior e inferior das abóbadas faixas de fibras de

carbono

embebidas

numa

matéria

resinosa,

dispostas

longitudinal

e

transversalmente. Ao solidificarem, estas faixas criaram uma estrutura rígida, capaz de sustentar as abóbadas e de manter simultaneamente a sua integridade. Nos cantos Nordeste e Sudeste das alas do claustro como já referido, as abóbadas de cobertura não existiam. Nesses locais, foram integralmente reconstruídas, tendo o canto Nordeste recebido duas novas abóbadas de arestas, ao passo que no canto Sudeste foi aplicada apenas uma abóbada de arestas. Para tal, foram construídos ‘cimbres’ de cofragem em madeira apoiados sobre andaimes, posteriormente preenchidos com betão e rematados no topo com betão armado (Fotos 408, 409 e 410). Antes de se proceder à construção das duas abóbadas do canto Nordeste contudo, foi necessário proceder ao desmonte de uma estrutura maciça localizada imediatamente abaixo delas. Na verdade, existia naquele canto do claustro uma estrutura de origem industrial de grandes dimensões, cuja construção, motivada por alguma necessidade 460 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

fabril que desconhecemos, poderá estar na origem da demolição das abóbadas que à época conventual ali existiam. Tratava-se de uma estrutura de secção quadrangular construída na sua base com recurso a grandes blocos de pedra calcária unidos a argamassa de cal e no seu topo com recurso a pedras não facetadas, unidas a argamassa de cal num aparelho irregular. Toda a estrutura foi desmontada manualmente (Fotos 411 e 412). Ainda no interior do claustro, procedeu-se à recriação de raiz do pilar esquerdo do terceiro arco da ala Este (a contar a partir de Sul). Na realidade, à data de início da presente empreitada verificámos que aquele pilar não existia, estando o terceiro e o quarto pilares (a contar de Sul) unidos entre si por um aparelho que fechava a totalidade dos vãos destes arcos. Pelo que nos foi possível apurar, à ala Este do claustro foram anexados na época de ocupação industrial deste edifício alguns pavilhões demolidos em empreitadas anteriores, cuja edificação poderá estar na origem da abstracção do referido pilar, bem como da construção do igualmente referido paramento (Foto 413). Na presente empreitada procedeu-se à desconstrução do paramento (Foto 414), tendose constatado que se encontrava erguido com recurso a tijolos alveolares unidos a argamassa de cal, seguindo-se a recriação do referido pilar, recorrendo para este efeito a peças de cantaria de calcário de formato e tonalidade semelhante aos demais pilares conventuais do claustro (Fotos 415 e 416).

4.3.2. Remoção de terras

As principais acções de remoção de terras ocorreram em duas áreas distintas, na área compreendida entre a ala Sul do edifício conventual e a igreja que, como já referido convencionámos designar por ‘logradouro’ e no interior do claustro.

4.3.2.1. Logradouro

O acompanhamento arqueológico da remoção mecânica de terras ocorrida no logradouro revestiu-se de particular atenção e interesse. Tal como explorámos no capítulo reservado ao estudo da arquitectura do Convento de São Francisco da Ponte, a constatação de algumas evidências arquitectónicas permitiunos corroborar a hipótese levantada em algumas fontes bibliográficas de que para esta 461 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

área estaria projectada a construção de um segundo claustro, neste caso o ‘claustro principal’. Colocava-se portanto a questão de averiguar se a construção deste claustro teria efectivamente ocorrido, tendo sido destruído em consequência da ocupação industrial do edifício ou se, pelo contrário, nunca tenha ocorrido a edificação de tal claustro. Por outro lado, a realização de sondagens prévias naquela área, descritas anteriormente, não foram conclusivas quanto à ocupação conventual do logradouro. Por este motivo, o acompanhamento arqueológico da remoção das terras foi particularmente cuidadoso, na perspectiva de detectar eventuais vestígios daquele projecto. Tal acabou por não se confirmar, uma vez que todas as estruturas exumadas apontavam para uma cronologia muito recente. Na verdade, detectaram-se algumas estruturas que consistem nos vestígios de um edifício edificado à época industrial na extremidade Este do logradouro. Tratava-se, de acordo com algumas informações orais, de um edifício de dois andares, estando o rés-do-chão reservado ao tratamento de lãs, enquanto o primeiro piso se destinava às acções de cerzir e espichar esta matéria. As estruturas detectadas, na sua maioria murais, mais não são do que as fundações deste edifício fabril, que terá sido demolido na década de 1990 (Foto 417). Não obstante, a existência de tal edifício pode confirmar-se através do negativo resultante da sua demolição, observável na parede Sul da ala Sul do edifício conventual na Foto 418. Relativamente à estratigrafia observada aquando da remoção mecânica das terras do logradouro, esta apontava para uma deposição sistemática de terras de origens variadas e desconhecidas. De facto, constatou-se a presença de uma grande variedade de terras de diferentes tons, granulometrias de grãos, texturas e compacticidades, em particular a Oeste da Estrutura 4, onde a potência estratigráfica era maior. Apesar da diversidade de terras detectadas, os materiais culturais recolhidos eram, na sua maioria datáveis da Época Contemporânea. Não obstante, foi recolhida uma grande quantidade de fragmentos de faiança datável da Época Moderna. Quando comparada a estratigrafia detectada durante a operação de remoção de terras a Oeste da Estrutura 4 com a verificada na Sondagem 2, percebemos que toda esta área do logradouro deverá ter sido aterrada em Época Contemporânea, com o objectivo de elevar a cota de circulação que andaria à época conventual muito próxima do afloramento rochoso.

462 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

A Este da Estrutura 5, contudo, verificámos uma potência estratigráfica muito reduzida, por vezes mesmo inexistente, encontrando-se o afloramento rochoso quase à superfície. Ora, esta é precisamente a área correspondente aos pavilhões fabris já referidos, sendo este o motivo provável para que a acção de aterro verificada a Oeste da Estrutura 4 não ter ocorrido igualmente nesta área. As Sondagens 3 e 4, realizadas ambas a Este das Estruturas 5 e 1, corroboram a fraca potência estratigráfica detectada durante a remoção mecânica das terras desta área. Por outro lado, os materiais culturais detectados nas U.E.’s imediatamente sobrepostas ao afloramento rochoso, à semelhança do que se tinha verificado na Sondagem 2, a Oeste da Estrutura 4, apontam para uma cronologia de ocupação Moderna com abandono já na Época Contemporânea. Por estes motivos estamos convictos de que a cota de circulação à época conventual não terá sido muito superior à do afloramento rochoso. Posteriormente, com a ocupação industrial deste edifício, novos pavilhões foram adossados a Este do logradouro, com uma cota de implantação aproximada à do afloramento rochoso. Destes pavilhões subsistiram algumas fundações que correspondem às Estruturas 1, 2, 4 e 5. A Oeste dos novos pavilhões, por motivos que especulamos terem estado relacionados com o acesso ao logradouro por veículos motorizados de grande porte, a cota de circulação foi subida em vários metros, recorrendo-se para o efeito a terras de proveniência desconhecida.

O conjunto das estruturas localizadas no logradouro do edifício conventual, era constituído por: Estrutura 1: Estrutura mural que tomava início junto do alçado exterior da parede Norte da igreja, desenvolvendo-se de forma paralela à parede Oeste da ala Este do edifício no sentido Sul/Norte. Na sua extremidade, a 18,30 m do seu início, inflecte para Oeste, terminado cerca de 1,30 m após este ponto de inflexão. Tinha cerca de 1,20 m de largura e encontra-se construída através do recurso a pedras não facetadas, tijolos maciços espessos e argamassa de cal, num aparelho não regular. Assentava directamente sobre o afloramento rochoso. A sua largura, algo invulgar, deve-se ao facto de a sua construção resultar da anexação de dois muros. Fotos 419 e 420. Estrutura 2: Estrutura localizada a Este da Estrutura 1, que encostava ao alçado exterior da parede Norte da igreja. Tratava-se de um piso ou de uma base de 463 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

suporte, construída com recurso a lajes de pedra calcária facetadas assentes sobre argamassa de cimento. Tratavam-se de lajes reaproveitadas, cujo contexto original poderá ter sido o piso do claustro, uma vez que ali ainda se encontram algumas de tipologia semelhante. Toda a estrutura tinha cerca de 4 m de largura e 10,5 m de comprimento. Sob a estrutura encontravam-se duas condutas industriais. A primeira desenvolvia-se no sentido Norte/Sul e a segunda no sentido Este/Oeste. Ambas estavam construídas com recurso a tijolos maciços unidos a argamassa de cimento. Fotos 421 e 422. Estrutura 3: Estrutura que tomava início junto do alçado exterior da parede Norte da igreja constituída por duas unidades murais perpendiculares, uma das quais unida a uma estrutura rectangular, definindo uma área quadrangular, em cujo interior não foi detectada nenhuma estrutura. Ambas as unidades murais se encontravam construídas com recurso a pedras não facetadas e tijolos maciços espessos unidos a argamassa de cimento e argamassa de cal, num aparelho não regular. A estrutura rectangular encontrava-se construída com os mesmos materiais. Sob esta estrutura encontravam-se duas condutas convergentes, construídas através de tijolos maciços espessos unidos a argamassa de cimento, uma das quais visível no topo da estrutura. Fotos 423, 424 e 425. Estrutura 4: Estrutura mural que se desenvolvia no sentido Norte/Sul, iniciando-se junto da ombreira esquerda do arco conventual de volta perfeita do alçado Sul, e prolongando-se por 18,20 m de forma paralela à Estrutura 5. Tinha cerca de 70 cm de largura. Encontra-se construída através do recurso a pedras não facetadas, tijolos maciços e argamassa de cal, num aparelho não regular. Assentava directamente sobre o afloramento rochoso. Atravessavam esta unidade dois cabos eléctricos envolvidos por condutas construídas com tijolos maciços espessos e argamassa de cimento. Fotos 426, 427 e 428. Estrutura 5: Estrutura mural que se desenvolvia no sentido Norte/Sul, iniciando-se junto da ombreira direita do arco de volta perfeita do alçado Sul, e prolongando-se por 10,90 m de forma paralela à Estrutura 4. Tinha cerca de 50 cm de largura. Encontrava-se construída através do recurso a pedras não facetadas, tijolos maciços espessos e argamassa de cal, num aparelho não regular. Assentava directamente sobre o afloramento rochoso. Fotos 429, 430 e 431. Estrutura 6: Conduta que partia do interior do claustro conventual, descendo pelo corredor de acesso ao logradouro, ou compartimento 6 da ala Sul do piso 1, transpondo o arco de volta perfeita do alçado Sul. Junto a este arco, inflectia para 464 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Sudeste atravessando a unidade mural 5. Foi impossível averiguar o seu desenvolvimento a partir deste ponto, uma vez que se encontrava já destruída à data de início da presente empreitada. Encontrava-se construída com tijolos maciços espessos e argamassa de cal, de paredes rectas e cobertura abobadada. Tratava-se de uma conduta de cronologia industrial, semelhante a outras também detectadas no interior do claustro. Fotos 429, 430 e 431. Estrutura 7: Conjunto de dois tanques anexos, localizados na extremidade Oeste do logradouro. Eram construídos com recurso a tijolos alveolares, exibindo igualmente alguns tramos em alvenaria de pedra, tendo como material ligante argamassa de cimento. Apresentava as paredes internas rebocadas a argamassa de cimento, apontando portanto para uma cronologia de construção muito recente, corroborada pela presença de tubagens em PVC que partiam do interior destes tanques. Tinha cerca de 1,5 m de profundidade e paredes com cerca de 50 cm de espessura. Ambos os tanques se desenvolviam no sentido Norte/Sul. O tanque mais a Sul apresentava um formato rectangular, enquanto o que se encontra mais a Norte apresentava um formato tendencialmente rectangular, com a extremidade Nordeste arredondada. Uma vez que estes tanques não se encontram articulados com quaisquer estruturas, não foi possível determinar a sua função, embora especulemos que estivessem com certeza relacionados com o armazenamento de líquidos. Fotos 432, 433, 434 e 435.

As estruturas 1 a 6 foram desmontadas mecanicamente, ao passo que a estrutura 7 foi desmontada manualmente. Todas estas operações foram naturalmente processadas mediante o devido acompanhamentos arqueológico.

4.3.2.2. Claustro

Tal como pode ser observado na Foto 413, a utilização do claustro conventual no período de ocupação industrial do Convento de São Francisco da Ponte resultou numa ocupação quase total da área deste espaço por construções contemporâneas. Demolidas na década de 1990 até à cota de circulação do piso 1, não foi possível, através da pesquisa documental, recolher dados que nos permitissem uma adequada reconstituição das suas características ou funções. Delas apenas subsistiram as estruturas que se encontravam à cota negativa.

465 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Segundo nos foi possível apurar através de informações orais recolhidas, a área do claustro estaria reservada à produção de energia, distribuindo a força motriz para diversas máquinas da unidade industrial. Esta hipótese parece articular-se com diversos indícios detectados no interior do claustro, entre os quais constavam uma cisterna industrial de armazenamento de combustível, uma fornalha de combustão de lenha ou uma caldeira de combustão de nafta. Uma vez que o projecto em execução na presente empreitada implicava a remoção de terras na área a Sudeste do claustro, tanto a caldeira como a fornalha, implantadas nesta parte do edifício, foram sujeitas a desmonte mediante o devido acompanhamento arqueológico. Não obstante, procurámos proceder à sua exaustiva caracterização, a fim de preservar a memória futura destas duas estruturas, cujo valor patrimonial considerámos assinalável. Relativamente à cisterna industrial de armazenamento de combustível, poderá o leitor encontrar uma completa descrição no capítulo dedicado ao estudo do sistema hidráulico conventual.

O conjunto das estruturas localizadas no claustro do edifício conventual, e sujeitas a desmonte, era constituído por: Estrutura 8: Fornalha de combustão a lenha localizada a Este do claustro, de planta rectangular, com cerca de 2,60 m de largura, 2,90 m de altura e 3 m de profundidade. Encontrava-se construída em tijolos maciços, com as paredes laterais a alcançar até 60 cm de espessura. O seu topo era abobadado e o seu piso era constituído por uma grelha metálica de ferro para escoamento de cinzas (Foto 436). O alçado anterior da fornalha apresentava duas aberturas, uma sobre a outra (Foto 437). A superior, de topo abobadado (55 cm de largura, 48 cm de altura) serviria para aceder a uma câmara onde se queimaria lenha. Eram visíveis os vestígios das dobradiças em ferro que sustentavam a porta desta abertura. A abertura inferior, também de topo abobadado (75 cm de largura, 30 cm de comprimento), onde os vestígios da estrutura que a fechava, também em ferro, eram bem visíveis, estaria relacionada com a remoção de cinzas, provenientes da câmara superior. Na parte posterior desta fornalha verificava-se uma abertura quadrangular que serviria para escoamento de fumos. Adossada à parte posterior desta abertura encontrava-se uma passagem (1,60 m de altura, 60 cm de largura) estreita e abobadada que dava acesso à abertura descrita 466 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

anteriormente e a outra abertura, ainda provida de tampa em ferro, que dava acesso ao interior da fornalha 1. É uma passagem de topo abobadado construído com recurso a tijolos maciços espessos unidos por argamassa de cal e de paredes interiores rebocadas a cimento. As enormes dimensões desta fornalha deixam perceber que ela terá servido para aquecer grandes quantidades de água, possivelmente contida em algum recipiente que sobre ela estivesse colocado. Estrutura 9: Caldeira que se encontrava à esquerda da Estrutura 8 já descrita, no canto Sudeste do claustro e estava bastante danificada. Era construída em ferro rematado a rebites e apresentava uma forma cilíndrica. Estava segura por quatro braços laterais, dois em cada um dos topos, suspensa em espaço aberto e coberta por abobada construída com tijolos maciços, que já se encontrava abatida e também ela muito destruída. Foto 438. No topo Oeste da caldeira era visível um conjunto de dois orifícios em ferro que receberiam condutas, talvez articuladas com as funções de abastecimento da caldeira e escoamento dos vapores. Tinha 4 m de comprimento e 1 m de diâmetro. Não foram detectadas estruturas que estabelecessem alguma relação de funcionalidade entre esta caldeira e a Estrutura 8 referida anteriormente, embora a proximidade entre ambas sugira que tal relação possa ter existido (distavam entre si 2,65 m). Abaixo da caldeira detectámos um conjunto de três válvulas de aberturas iguais, dispostas paralelamente ao longo de uma linha horizontal. Foram detectados na parede Este da abertura de acesso ao interior da cisterna de armazenamento industrial, também ela já referida. Foto 439. Cada uma delas consistia num cano de secção circular constituído por peças de ferro unidas a rebites, com uma abertura ovalada, munida de porta também em ferro e de formato igualmente ovalado. A julgar pela morfologia da porta, o fecho seria conseguido por um sistema de rosca e maximizado pela aplicação de um vedante em borracha armada, aplicado na parte externa da porta. Os canos tinham um diâmetro interno de 52 cm e 8,10 m de comprimento. A abertura ovalada tinha uma largura de 38 cm e uma altura de 30 cm. Todo o conjunto encontrava-se envolvido por uma parede de tijolos maciços espessos. Imediatamente sob este conjunto, era visível um conjunto de dois orifícios 467 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

circulares emparedados que poderão ter constituído uma versão primitiva destas válvulas. No decurso da presente empreitada a Estrutura 9 e as válvulas que se localizam abaixo dela foram alvo de desmonte mediante o devido acompanhamento arqueológico. Após o desmonte foi possível confirmar que a caldeira 1 se articulava com o conjunto de válvulas, através de curtas condutas em ferro que uniam perpendicularmente a caldeira às válvulas. Foto 440.

Após o desmonte de ambas as estruturas 8 e 9, procedeu-se à remoção mecânica das terras que as envolviam, de acordo com os parâmetros definidos no projecto aprovado. Desta operação resultou a detecção de um conjunto de estruturas conventuais sob o pilar que une as alas Este e Sul do claustro. Não nos prolongaremos em descrições relativas a essas estruturas, uma vez que elas foram alvo de exaustiva caracterização no capítulo dedicado ao estudo da arquitectura do Convento de São Francisco da Ponte. A área resultante da acção de remoção das referidas terras foi posteriormente coberta com geotextil, sobre o qual foi aplicada uma camada de areia de rio, seguida por uma fina camada de terra. Fotos 441 e 442. Relativamente à estratigrafia desta área, constatámos ser constituída por uma grande complexidade de terras associadas à implantação das Estruturas 8 e 9. Na verdade, verificámos uma grande variedade de terras de diferentes tons, granulometria de grãos, compacticidade

e

textura,

embora

de

todas

se

tenha

exumado

materiais

cronologicamente datáveis da Época Contemporânea. Mesmo junto da moldura medieval que consideramos ter servido de corrimão para uma escadaria conventual, detectada junto ao canto Sudeste do claustro (ver capítulo dedicado ao estudo da arquitectura do piso 0), foram detectados materiais de cronologia contemporânea. Já anteriormente tínhamos referido a necessidade de realização futura de uma sondagem neste canto do claustro, como forma de confirmar a existência dessa escadaria. Tal sondagem seria igualmente preponderante para esclarecer a cronologia dos diferentes níveis de circulação nesta área do edifício. Como verificado na Sondagem 6, o piso de circulação conventual no pátio definido pelo claustro não seria muito inferior ao actual. No entanto o piso de circulação conventual entra em conflito com a existência daquela escadaria. Especulamos que duas hipóteses possam ter ocorrido: o piso de circulação conventual não se prolongava até ao canto Sudeste do claustro, deixando espaço para o desenvolvimento da referida escadaria; ou 468 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

o piso de circulação conventual abrangia a totalidade da área deste pátio, tendo anulado a funcionalidade da escadaria, quem sabe já obsoleta. A confirmar-se a primeira hipótese, a instalação das Estruturas 8 e 9 terá sido acompanhada de aterro efectuado com recurso a terras de proveniência desconhecia, dado que ambas se encontravam parcialmente soterradas. Essa acção de aterro poderá então ter decorrido como forma de acondicionar aquelas estruturas, elevando simultaneamente a cota de circulação até à actual cota do piso do pátio. Se, pelo contrário, for verdadeira a segunda hipótese, então a implantação das Estruturas 8 e 9 terão implicado a remoção de terras já existentes no pátio do claustro, contaminando a estratigrafia detectada com materiais culturais contemporâneos.

4.4. ESPÓLIO

4.4.1. Espólio cerâmico

Para a análise e estudo do espólio cerâmico foi adoptada a seguinte metodologia: Distinguimos grandes grupos gerais dentro do universo de cerâmica, dividindo-o em cinco conjuntos: faiança (FAI), cerâmica com vidrado de chumbo (VCH), cerâmica preta (PRE), cerâmica vermelha (VER) e cerâmica doméstica contemporânea (CTP). Designamos por cerâmica com vidrado de chumbo aquela que é recoberta por óxidos alcalinos de chumbo, sendo empregues óxidos de ferro (produzem castanhos ou ocres) e de antimónio (geram amarelos), de forma a conceder tonalidades às peças, independentemente do tipo de pasta empregue. A cerâmica preta resulta de uma cozedura em ambiente redutor e a cerâmica vermelha de cozedura em ambiente oxidante. A denominação ‘faiança’ pode englobar vários géneros de cerâmica. No entender de Artur Sandão (1983: 25) é a cerâmica de argila plástica e carbonato de cálcio na 469 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

dosagem aproximada de seis por quatro partes, recoberta por esmalte estanífero, pintada ou não. Hélène Balfet et al. (1983: 46) afirma que faiança é uma cerâmica de pasta não vitrificada, coberta parcialmente ou totalmente com esmalte, tornando-a impermeável. Na descrição das pastas tivemos em conta os seguintes princípios: cor, elementos não plásticos e dureza. Para definir a cor da pasta foi utilizada uma tabela estandardizada de Munsell – Munsell Soil Color Charts. Os elementos não plásticos (e.n.p.) foram divididos em três patamares segundo as tabelas indicadas por Prudence M. Rice (1987: 349) e Clive Orton et al. (1993: 238): pasta com pequena frequência de e.n.p. (até 3%); pasta com média frequência de e.n.p. (de 3% a 5%); pasta com grande frequência de e.n.p. (mais de 5%). Relativamente à dureza das pastas utilizámos os seguintes níveis: friável, pouco compacta, compacta e muito compacta, segundo a escala de Mohs e o uso na definição da dureza de pastas na cerâmica:

Escala

Definição

1

A superfície é riscada com uma unha

2

A superfície é riscada com um arame de cobre

3

A superfície é riscada com um fragmento de vidro

Da divisão da totalidade de fragmentos cerâmicos pelos cinco grupos distintos resultou o seguinte gráfico, que reflecte a proporção em que cada tipo cerâmico se encontra representado no universo total.

FAI VCH PRE VER CTP

470 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

CATÁLOGO:

Peça n.º 1 Localização: Sondagem 1; u.e. 2 Descrição: Faiança. Pasta de cor rosa

(7.5YR

8/4)

com

grande

frequência de e.n.p., pasta pouco compacta. Esmalte de cor branca, com 0,2 mm de espessura, pouco brilhante e com muita aderência. Decoração

a

azul

formando

motivos

e

manganês, geométricos.

Forma: Prato. Apresenta marcas de uso na linha do fundo e do bordo. Cronologia: finais de século XVII, inícios de século XVIII Centro produtor: Coimbra Bibliografia:

Castro

&

Sebastian,

2002 Peça n.º 2 Localização: Sondagem 1; u.e. 1 Descrição: Cerâmica preta. Pasta de cor cinzenta (5 YR 6/1) com média frequência de e.n.p., pasta muito compacta.

Forma:

indefinida.

Apresenta marcas de uso na linha do bordo. Cronologia: século XVIII-XIX

471 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Centro produtor: ? Bibliografia:

Castro

&

Sebastian,

2002 Peça n.º 3 Localização: Sondagem 2; u.e. 7 Descrição: Faiança. Pasta de cor rosa

(7.5YR

8/4)

com

grande

frequência de e.n.p., pasta compacta. Esmalte de cor branca, com 0,3 mm de espessura, brilhante e com média aderência.

Decoração

manganês, geométricos.

a

azul

e

formando

motivos

Forma:

Prato.

Apresenta marcas de uso na linha do fundo. Cronologia: finais de século XVII, inícios de século XVIII Centro produtor: Coimbra Bibliografia:

Castro

&

Sebastian,

2002 Peça n.º 4 Localização: Sondagem 2; u.e. 10 Descrição: Faiança. Pasta de cor esbranquiçada (2.5Y 8/1) com média frequência de e.n.p., pasta pouco compacta. Esmalte de cor branca, com 0,2 mm de espessura, pouco brilhante

e

pouco

Decoração

a

formando

motivos

azul

aderente.

e

manganês, geométricos.

Forma: Prato. Apresenta marcas de uso na linha do fundo. Cronologia: finais de século XVII, inícios de século XVIII Centro produtor: Coimbra 472 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Bibliografia:

Castro

&

Sebastian,

2002 Peça n.º 5 Localização: Sondagem 7; u.e. 5 Descrição:

Cerâmica

vermelha.

Pasta de cor avermelhada (10 R 6/8) com grande frequência de e.n.p., pasta

muito

compacta.

Forma:

cântaro. Apresenta marcas de uso na linha do fundo. Cronologia: século XVIII-XIX Centro produtor: ? Bibliografia:

Castro

&

Sebastian,

2002 Peça n.º 6 Localização: Sondagem 8; u.e. 4 e 6 Descrição: Faiança. Pasta de cor esbranquiçada (2.5Y 8/1) com média frequência de e.n.p., pasta pouco compacta. Esmalte de cor branca, com 0,1 mm de espessura, pouco brilhante

e

pouco

aderente.

Decoração a manganês, formando a inscrição SF (S. Francisco). Forma: Tigela. Apresenta marcas de uso na linha do fundo. Cronologia: inícios de século XVIII Centro produtor: Coimbra Bibliografia:

Castro

&

Sebastian,

2002

473 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Peça n.º 7 Localização: Sondagem 8; u.e. 6 Descrição: Faiança. Pasta de cor esbranquiçada (2.5Y 8/1) com média frequência de e.n.p., pasta pouco compacta. Esmalte de cor branca, com 0,1 mm de espessura, pouco brilhante e pouco aderente. Forma: Tigela. Apresenta marcas de uso na linha do fundo. Cronologia: inícios de século XVIII Centro produtor: Coimbra Bibliografia:

Castro

&

Sebastian,

2002 Peça n.º 8 Localização: Sondagem 8; u.e. 6 Descrição: Faiança. Pasta de cor rosa

(7.5YR

8/4)

com

grande

frequência de e.n.p., pasta compacta. Esmalte de cor branca, com 0,2 mm de espessura, pouco brilhante e pouco

aderente.

Forma:

prato.

Apresenta marcas de uso na linha do fundo. Cronologia: finais de século XVII, inícios de século XVIII Centro produtor: Coimbra Bibliografia:

Castro

&

Sebastian,

2002

474 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Peça n.º 9 Localização: Sondagem 8; u.e. 6 Descrição: Faiança. Pasta de cor esbranquiçada

(2.5Y

8/1)

com

grande frequência de e.n.p., pasta compacta. Esmalte de cor branca, com 0,2 mm de espessura, pouco brilhante

e

Decoração

pouco

a

concêntricas.

azul

aderente. com

Forma:

linhas prato.

Apresenta marcas de uso na linha do fundo. Cronologia: finais de século XVII, inícios de século XVIII Centro produtor: Coimbra Bibliografia:

Castro

&

Sebastian,

2002 Peça n.º 10 Localização: Sondagem 8; u.e. 6 Descrição: Faiança. Pasta de cor esbranquiçada

(2.5Y

8/1)

com

grande frequência de e.n.p., pasta pouco compacta. Esmalte de cor branca, com 0,1 mm de espessura, pouco brilhante e pouco aderente. Decoração a azul e manganês com motivos geométricos. Forma: prato. Apresenta marcas de uso na linha do bordo. Cronologia: finais de século XVII, inícios de século XVIII Centro produtor: Coimbra Bibliografia:

Castro

&

Sebastian,

2002

475 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Peça n.º 11 Localização: Sondagem 8; u.e. 6 Descrição: Faiança. Pasta de cor esbranquiçada

(2.5Y

8/1)

com

grande frequência de e.n.p., pasta pouco compacta. Esmalte de cor branca, com 0,1 mm de espessura, pouco brilhante e pouco aderente. Decoração a azul e manganês com motivos geométricos. Forma: prato. Apresenta marcas de uso na linha do bordo. Cronologia: inícios de século XVIII Centro produtor: Coimbra Bibliografia:

Castro

&

Sebastian,

2002 Peça n.º 12 Localização: Sondagem 8; u.e. 6 Descrição: Faiança. Pasta de cor esbranquiçada

(2.5Y

8/1)

com

grande frequência de e.n.p., pasta pouco compacta. Esmalte de cor branca, com 0,3 mm de espessura, pouco brilhante e pouco aderente. Decoração a azul e manganês com motivos geométricos. Forma: prato. Apresenta marcas de uso na linha do bordo. Cronologia: inícios de século XVIII Centro produtor: Coimbra Bibliografia:

Castro

&

Sebastian,

2002

476 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Peça n.º 13 Localização: Sondagem 8; u.e. 6 Descrição: Faiança. Pasta de cor esbranquiçada

(2.5Y

8/1)

com

grande frequência de e.n.p., pasta compacta. Esmalte de cor branca, com 0,2 mm de espessura, pouco brilhante

e

pouco

aderente.

Decoração a manganês com motivos florais.

Forma:

prato.

Apresenta

marcas de uso na linha do bordo. Cronologia: inícios de século XVIII Centro produtor: Coimbra Bibliografia:

Castro

&

Sebastian,

2002 Peça n.º 14 Localização: Sondagem 8; u.e. 6 Descrição: Faiança. Pasta de cor esbranquiçada

(2.5Y

8/1)

com

grande frequência de e.n.p., pasta pouco compacta. Esmalte de cor branca, com 0,1 mm de espessura, pouco brilhante e pouco aderente. Decoração a azul e manganês com motivos geométricos e florais. Forma: prato. Apresenta marcas de uso na linha do bordo. Cronologia: finais de século XVII Centro produtor: Coimbra Bibliografia:

Castro

&

Sebastian,

2002 Peça n.º 15 Localização: Sondagem 8; u.e. 6 Descrição: Faiança. Pasta de cor 477 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

esbranquiçada (2.5Y 8/1) com média frequência de e.n.p., pasta compacta. Esmalte de cor branca, com 0,3 mm de espessura, brilhante e com muita aderância.

Decoração

a

azul

e

manganês com motivos geométricos e florais. Forma: prato. Apresenta marcas de uso na linha de fundo. Cronologia: século XVII Centro produtor: ? Bibliografia:

Castro

&

Sebastian,

2002

Peça n.º 16 Localização: Sondagem 8; u.e. 6 Descrição: cerâmica denominada de “creamware”. Pasta de cor branca, devido à sua grande qualidade não é possível distinguir os e.n.p., muito compactos. Vidrado translúcido, com grande craqueler

aderência. em

toda

Presença a

de

superfície.

Forma: prato. Apresenta marcas de uso na linha do fundo. Cronologia: finais de século XVIII, inícios de século XIX Centro produtor: Inglaterra Bibliografia: Castro, 2009

478 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Peça n.º 17 Localização: Sondagem 8; u.e. 6 Descrição: Faiança. Pasta de cor esbranquiçada (2.5Y 8/1) com média frequência de e.n.p., pasta compacta. Esmalte de cor branca, com 0,1 mm de espessura, pouco brilhante e pouco aderente. Decoração a azul, formando

a

inscrição

SF

(S.

Francisco). Forma: Tigela. Apresenta marcas de uso na linha do fundo. Cronologia: inícios de século XVIII Centro produtor: Coimbra Bibliografia:

Castro

&

Sebastian,

2002 Peça n.º 18 Localização: Sondagem 8; u.e. 6 Descrição:

Cerâmica

vermelha.

Pasta de cor parda (2.5YR 5/2) com média frequência de e.n.p., pasta muito compacta. Forma: Tampa. Cronologia: século XVIII Centro produtor: ? Bibliografia:

Castro

&

Sebastian,

2002 Peça n.º 19 Localização: Sondagem 8; u.e. 6 Descrição:

Cerâmica

vermelha.

Pasta de cor avermelhada (2.5YR 6/8) com média frequência de e.n.p., pasta

muito

compacta.

Forma:

Tampa. Cronologia: século XVIII Centro produtor: ?

479 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Peça n.º 20 Localização: Sondagem 9; u.e. 1 Descrição:

Cerâmica

vidrada

de

chumbo. Pasta de cor avermelhada (2.5YR 6/8) com grande frequência de e.n.p., pasta muito compacta. Vidrado no interior de cor castanha. Forma: Alguidar. Cronologia: século XVIII-XIX Centro produtor: ? Bibliografia:

Castro

&

Sebastian,

2002 Peça n.º 21 Localização: Sondagem 9; u.e. 1 Descrição:

Cerâmica

vidrada

de

chumbo. Pasta de cor esbranquiçada (2.5Y 8/1) com grande frequência de e.n.p.,

pasta

pouco

compacta.

Vidrado no interior de cor verde. Forma: Alguidar. Cronologia: século XVIII-XIX Centro produtor: ? Bibliografia: Castro & Sebastian,2002 Peça n.º 22 Localização: Sondagem 9; u.e. 1 Descrição:

Cerâmica

vermelha.

Pasta de cor avermelhada (2.5YR 6/8) com grande frequência de e.n.p., pasta

muito

compacta.

Forma:

Garrafa. Cronologia: século XVIII-XIX Centro produtor: ? Bibliografia: Castro & Sebastian,2002 480 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Peça n.º 23 Localização: Acompanhamento Descrição: Faiança. Pasta de cor esbranquiçada

(2.5Y

8/1)

com

grande frequência de e.n.p., pasta pouco compacta. Esmalte de cor branca, com 0,1 mm de espessura, pouco brilhante e pouco aderente. Decoração a azul e manganês com motivos geométricos. Forma: prato. Apresenta marcas de uso na linha do bordo e de fundo. Cronologia: finais de século XVII, inícios de século XVIII Centro produtor: Coimbra Bibliografia:

Castro

&

Sebastian,

2002 Peça n.º 24 Localização: Acompanhamento Descrição: Faiança. Pasta de cor rosada

(5YR

8/4)

com

média

frequência de e.n.p., pasta compacta. Esmalte de cor branca, com 0,3 mm de espessura, pouco brilhante e aderente.

Decoração

a

azul

e

manganês com motivos geométricos. Forma: prato. Apresenta marcas de uso na linha de fundo. Cronologia: século XVIII Centro produtor: Coimbra Bibliografia:

Castro

&

Sebastian,

2002

481 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Peça n.º 25 Localização: Acompanhamento Descrição: Faiança. Pasta de cor rosada

(5YR

8/4)

com

média

frequência de e.n.p., pasta compacta. Esmalte de cor branca, com 0,3 mm de espessura, pouco brilhante e aderente.

Decoração

a

azul

e

manganês com motivos geométricos. Forma: prato. Apresenta marcas de uso na linha de bordo. Cronologia: século XVIII Centro produtor: Coimbra Bibliografia:

Castro

&

Sebastian,

2002 Peça n.º 26 Localização: Acompanhamento Descrição: Faiança. Pasta de cor esbranquiçada (2.5Y 8/1) com média frequência de e.n.p., pasta compacta. Esmalte de cor branca, com 0,2 mm de espessura, pouco brilhante e aderente. Decoração a azul com motivos geométricos. Forma: prato. Apresenta marcas de uso na linha de bordo. Cronologia: século XVIII Centro produtor: Coimbra Bibliografia:

Castro

&

Sebastian,

2002

482 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Peça n.º 27 Localização: Acompanhamento Descrição: Faiança. Pasta de cor rosada

(5YR

8/4)

com

média

frequência de e.n.p., pasta compacta. Esmalte de cor branca, com 0,3 mm de espessura, pouco brilhante e aderente.

Decoração

manganês

com

a

azul

motivos

e

florais.

Forma: taça. Apresenta marcas de uso na linha de bordo. Cronologia: século XVIII Centro produtor: Coimbra Bibliografia:

Castro

&

Sebastian,

2002

Peça n.º 28 Localização: Acompanhamento Descrição: Faiança. Pasta de cor rosada

(5YR

8/4)

com

média

frequência de e.n.p., pasta compacta. Esmalte de cor branca, com 0,3 mm de espessura, pouco brilhante e aderente. manganês

Decoração com

a

azul

motivos

e

florais.

Forma: taça. Apresenta marcas de uso na linha de fundo. Cronologia: século XVIII Centro produtor: Coimbra Bibliografia:

Castro

&

Sebastian,

2002

483 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Peça n.º 29 Localização: Acompanhamento Descrição: Faiança. Pasta de cor rosada

(5YR

8/4)

com

média

frequência de e.n.p., pasta compacta. Esmalte de cor branca, com 0,2 mm de espessura, pouco brilhante e aderente. Decoração a azul com motivos geométricos. Forma: prato. Apresenta marcas de uso na linha de fundo. Cronologia: século XVIII Centro produtor: Coimbra Bibliografia:

Castro

&

Sebastian,

2002 Peça n.º 30 Localização: Acompanhamento Descrição: Faiança. Pasta de cor avermelhada (2.5YR 6/8) com média frequência de e.n.p., pasta compacta. Esmalte de cor branca, com 0,4 mm de espessura, pouco brilhante e com grande aderência. Forma: covilhete. Apresenta marcas de uso na linha de bordo e de fundo Cronologia: século XVIII Centro produtor: Coimbra Bibliografia:

Castro

&

Sebastian,

2002

484 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Peça n.º 31 Localização: Acompanhamento Descrição: Faiança. Pasta de cor amarelada (10YR 8/4) com média frequência de e.n.p., pasta compacta. Esmalte de cor branca, com 0,3 mm de espessura, muito brilhante e com grande aderência. Decoração a azul formando uma paisagem. Forma: prato. Apresenta marcas de uso na linha de fundo Cronologia: século XIX Centro produtor: ? Bibliografia:

Castro

&

Sebastian,

2002 Peça n.º 32 Localização: Acompanhamento Descrição: Trempe. Pasta de cor esbranquiçada (2.5Y 8/1) com média frequência de e.n.p., pasta compacta. Cronologia: século XVIII-XIX Centro produtor: ?

485 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

4.4.3. Espólio pétreo

Tal como o espólio cerâmico, o espólio pétreo foi devidamente marcado com o acrónimo da intervenção: CSF/09 seguido da sigla EP (elemento pétreo) e o respectivo número de inventário. A marcação dos fragmentos foi efectuada com o recurso a Paraloid B72 diluido em Acetona, sendo criada uma película sobre aqual, após secagem, foi efectuada a marcação com caneta de tinta-da-china. Apresentamos de seguida o inventário do espólio pétreo exumado no decorrer dos trabalhos arqueológicos.

N.º Inventário: EP 1

Designação: Lintel

Cronologia: Século XVI (?)

Descrição: Trata-se de um fragmento de um lintel, em pedra calcária, decorada com motivos vegetalistas, incluindo uma “flor-de-lis”, em baixo relevo, ao estilo clássico. Apresenta vestígios de uma moldura. Encontra-se bastante fragmentada pelo que não nos foi possível averiguar o seu formato original. Terá sido talhada de modo a ser reutilizada como ombreira. Apresenta uma fractura coincidente com uma das fracturas do EP 1B. Proveniência: Encontrava-se em contexto de reaproveitamento como ombreira direita do vão de porta da parede Sul do compartimento 7 da ala Sul do piso 2. A face que ostenta os motivos decorativos encontrava-se inserida na parede, sendo apenas visível a sua face posterior, totalmente lisa. Dimensões: Comprimento: 48 cm; largura: 20 cm; altura: 15 cm. Foto:

486 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

N.º Inventário: EP 1B

Designação: Lintel

Cronologia: Século XVI (?)

Descrição: Trata-se de um fragmento de um lintel, cuja fractura direita é coincidente com uma das fracturas do EP 1, em pedra calcária, decorada com motivos vegetalistas em baixo relevo, ao estilo clássico. Apresenta vestígios de uma moldura. Encontra-se bastante fragmentada pelo que não nos foi possível averiguar o seu formato original. Terá sido talhada de modo a ser reutilizada como ombreira. Proveniência: Encontrava-se em contexto de reaproveitamento como ombreira direita do vão de porta da parede Sul do compartimento 7 da ala Sul do piso 2. A face que ostenta os motivos decorativos encontrava-se inserida na parede, sendo apenas visível a sua face posterior, totalmente lisa. Dimensões: Comprimento: 43 cm; largura: 20 cm; altura: 15 cm. Foto:

N.º Inventário: EP 2

Designação: Lintel

Cronologia: Século XVI (?)

Descrição: Trata-se de um fragmento de um lintel, com as mesmas características dos anteriormente descritos, sem que no entanto qualquer uma das suas fracturas seja coincidente. É igualmente em pedra calcária, decorada com motivos vegetalistas em baixo relevo, ao estilo clássico. Apresenta vestígios de uma moldura. Encontra-se bastante fragmentada pelo que não nos foi possível averiguar o seu formato original. Terá sido talhada de modo a ser reutilizada como ombreira.

487 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Proveniência: Encontrava-se em contexto de reaproveitamento como ombreira direita do vão de porta da parede Sul do compartimento 7 da ala Sul do piso 2. A face que ostenta os motivos decorativos encontrava-se inserida na parede, sendo apenas visível a sua face posterior, totalmente lisa. Dimensões: Comprimento: 48 cm; largura: 20 cm; altura: 15 cm. Foto:

N.º Inventário: EP 3

Designação: Moldura

Cronologia: -

Descrição: Trata-se de um fragmento de uma moldura, em pedra calcária. Proveniência: Encontrava-se em contexto de reaproveitamento no friso em cantaria que assinalava a separação entre o piso 1 e o piso 2, no alçado exterior Sul do claustro. Na acção decorrida da reparação desse friso, algumas peças mais deterioradas foram substituídas, tendo esta sido detectada. Apresentava a sua face decorada voltada para o interior da parede. Dimensões: Comprimento: 45 cm; largura máxima: 34 cm; altura máxima: 15 cm.

488 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto:

N.º Inventário: EP 4

Designação: Moldura

Cronologia: -

Descrição: Trata-se de um elemento de uma moldura, em pedra calcária, bastante fragmentado. Proveniência: Foi exumada no decorrer da acção de remoção de terras no interior do claustro, em contextos de entulhos. Dimensões: Comprimento: 36 cm; largura: 34 cm; altura: 29 cm. Fotos:

489 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

N.º Inventário: EP 5

Designação: Aduela

Cronologia: -

Descrição: Trata-se de um fragmento de uma aduela, em pedra calcária. Apresenta vestígios de fuligem e a própria pedra apresenta-se com sinais de ter sido submetida a elevadas temperaturas, em especial no intradorso. Proveniência: Encontrava-se em contexto de reaproveitamento na estrutura de suporte da fornalha industrial existente no interior do claustro. Dimensões: Comprimento máximo: 42 cm e mínimo: 33 cm; largura: 30 cm; altura máxima: 29 cm. Fotos:

N.º Inventário: EP 6

Designação: Pia

Cronologia: -

Descrição: Trata-se de uma pia, em pedra calcária. Apresenta-se fragmentada no bordo. A sua superfície externa apresenta-se alisada, enquanto a interna se encontra rugosa, resultado de um acabamento pouco cuidado. Não foi possível determinar a sua função original. Proveniência: Foi exumada no decorrer da acção de remoção de terras no interior do logradouro, num contexto de entulhos. Dimensões: Diâmetro exterior: 54 cm; espessura da parede no seu topo: 3 cm; altura: 22 cm. Fotos: 490 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

491 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS As acções de índole arqueológica decorridas na presente empreitada de consolidação do Convento de São Francisco da Ponte foram em grande número e de variada natureza. Das sondagens de diagnóstico levadas a cabo no logradouro, resultou uma interpretação estratigráfica clara que antecedeu a remoção mecânica das terras desta área. Esta acção, por seu turno veio revelar dois aspectos relevantes. O primeiro tem que ver com a não edificação do ‘claustro principal’. Dado que durante o acompanhamento arqueológico da remoção das terras do logradouro não foram detectados quaisquer vestígios estruturais ou materiais que pudessem denunciar a existência de um claustro, estamos seguros em afirmar que a construção do ‘claustro principal’, embora projectada, nunca ocorreu. O segundo aspecto significativo prende-se com a utilização deste espaço para a edificação de novos pavilhões à época de ocupação industrial do convento. Desses pavilhões nada subsistiu até à data de início da presente empreitada, para além de escassas estruturas relacionadas com a sua fundação. Outras sondagens foram igualmente realizadas, desta feita com o objectivo de fornecer dados e esclarecer questões preponderantes para a compreensão do sistema hidráulico conventual. Os resultados de tais sondagens figuram do presente capítulo, embora o estudo propriamente dito figure em capítulo próprio. Não obstante, salientamos a detecção de condutas conventuais relacionadas com a captação, bem como com o escoamento de águas pluviais e ainda a não detecção de qualquer tipo de conduta associada ao tradicional lavabo do ‘ante-refeitório’, como os dois dados mais relevantes extraídos da realização destas sondagens. Várias acções de consolidação estrutural do edifício conventual foram levadas a cabo mediante o devido acompanhamento arqueológico, entre as quais a consolidação das abóbadas tal como descrito anteriormente. As restantes consistiram no fecho de vãos de origem industrial e de remodelação ou fecho de vãos conventuais. Estas últimas foram devidamente descritas no capítulo dedicado ao estudo da arquitectura do edifício e assinaladas em planta constante tanto do presente capítulo como no capítulo dedicado ao estudo da arquitectura.

492 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Também a remoção mecânica das terras e estruturas industrias constantes do canto Sudeste do claustro foi devidamente sujeita a acompanhamento arqueológico, tendo sido obtidos dados muito interessantes relativamente às estruturas industriais que ocupavam esta área, mas acima de tudo relativamente à possibilidade de existência de uma escadaria de ligação pelo exterior entre o piso 1 e o piso 0, possibilidade essa que encorajamos uma vez mais a ser futuramente explorada. Relativamente ao espólio cerâmico exumado quer nas sondagens realizadas, quer durante o acompanhamento arqueológico da remoção das terras do logradouro e do claustro, pode dizer-se que são muito abrangentes quanto às formas, mas nem por isso muito abrangentes quanto à cronologia. De facto, se excluirmos da análise os materiais evidentemente contemporâneos, é óbvia a concentração dos materiais culturais em torno do período cronológico balizado entre os finais do século XVII e os finais do século XIX. Alguns materiais remontavam a uma cronologia mais antiga, até inícios do século XVII, embora nenhum material cultural remonte a períodos anteriores. Quanto à proveniência, a maioria das cerâmicas exumadas tem a sua origem em Coimbra, corroborando o já bem fundamentado facto de esta cidade ter sido um importante centro produtor de cerâmica, em particular na Época Moderna. Por seu turno, do espólio pétreo o mais importante facto detectado prende-se com o reaproveitamento neste edifício de diversas peças de cantaria cronologicamente anteriores à sua fundação.

5.1. Depósito de Materiais

Todo o espólio recolhido no decurso dos trabalhos arqueológico foi entregue no Gabinete de Arqueologia da Câmara Municipal de Coimbra, tal como previsto no PATA.

Condeixa-a-Nova, 25 de Junho de 2009

Os arqueólogos responsáveis

António Ginja

Mónica Ginja

493 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

5.2. Ficha de Sítio

Designação: Convento de São Francisco Distrito: Coimbra Concelho: Coimbra Freguesia: Santa Clara

Lugar: Santa Clara

C.M.P. 1/25.000-folha n.º 241

Altitude (m): 30 m

Coordenadas: - 40º12’45”N – 8º2615’’W Tipo de sítio: - Convento Período cronológico: - Moderno/Contemporâneo Recursos hidrográficos: Rio Mondego Descrição do sítio (15 linhas): Implantado no sopé do Monte da Esperança, na margem esquerda do Rio Mondego, o Convento Franciscano data a sua construção da 1ª metade do século XVII. Proprietários: Câmara Municipal de Coimbra Classificação: Z.E.P. do Convento de Santa Clara-a-Nova Legislação: D.G., 2ª Série, n.º 259 de 4/11/1968 Estado de conservação: Bom

Uso do solo:

Ameaças: Construção Civil

Protecção/Vigilância:

Acessos: Avenida da Guarda Inglesa Espólio: Fragmentos de cerâmica doméstica comum e de faiança num total de 1055 e sete elementos petreos. Descrição: A cerâmica doméstica recolhida no decurso dos trabalhos totaliza 1055 fragmentos, com uma clara predominância para a faiança, num total de 745. Em termos cronológicos situase entre o século XVII e o século XX.

494 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Local de depósito: GAAC Trabalho Arqueológico 2009 Arqueólogo responsável: António Ginja e Mónica Ginja Tipo de trabalho: Escavação arqueológica e acompanhamento Datas de início: 25 /11/2008

de fim: 29/04/2009

Duração (em dias): 102 dias Projecto de Investigação: Objectivos (10 linhas): Os objectivos desta intervenção resumem-se à promoção da salvaguarda e valorização do património histórico-arqueológico, bem como à minimização de eventuais impactes decorrentes da empreitada de recuperação do Convento de São Francisco da Ponte. Resultados (15 linhas): Das sondagens de diagnóstico executadas no logradouro, resultou uma interpretação estratigráfica clara que antecedeu a remoção mecânica das terras desta área. Esta acção, por seu turno veio revelar dois aspectos relevantes. O primeiro tem que ver com a não edificação do ‘claustro principal’. Dado que durante o acompanhamento arqueológico da remoção das terras do logradouro não foram detectados quaisquer vestígios estruturais ou materiais que pudessem denunciar a existência de um claustro, que embora projectada, nunca ocorreu. O segundo aspecto significativo prende-se com a utilização deste espaço para a edificação de novos pavilhões à época de ocupação industrial do convento. Desses pavilhões nada subsistiu até à data de início da presente empreitada, para além de escassas estruturas relacionadas com a sua fundação. Outras sondagens foram igualmente realizadas, desta feita com o objectivo de fornecer dados e esclarecer questões preponderantes para a compreensão do sistema hidráulico conventual. Várias acções de consolidação estrutural do edifício conventual foram levadas a cabo mediante o devido acompanhamento arqueológico, entre as quais a consolidação das abóbadas tal como descrito anteriormente. As restantes consistiram no fecho de vãos de origem industrial e de remodelação ou fecho de vãos conventuais.

** Preencher de acordo com a lista do Theasaurus do ENDOVÉLICO. Essa Lista poderá ser consultada no site do IPA:www.ipa.min-cultur

495 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

6. BIBLIOGRAFIA

BALFET, H.; FAUVET-BERTHELOT, M. F.; MONZON, S. (1983) - Pour la normalisation de la description des poteries. Paris: Editions du Centre National de Recherche Scientifique ; CAEIRO, ABEL e MASCARENHAS (1996) – ‘Os Sistemas Hidráulicos da Abadia de São Bento de Cástris (Évora): Reconhecimento e Análise Preliminar’, Hidráulica Monástica Medieval e Moderna, Coord. QUINTELA, OLIVEIRA, MASCARENHAS e JORGE, Ed. Fundação Oriente, Lisboa, pp. 209-226; CANAS, José Fernando (2003) – “Santa Clara-a-Nova: reabilitação e diagnóstico”, Monumentos, N.º 18, DGEMN, Lisboa; CASTRO, A. S.; SEBASTIAN, L. (2002) – Mosteiro de S. João de Tarouca: 700 anos de História da cerâmica. Estudos/Património. Lisboa: IPPAR – Departamento de Estudos. 3, p. 165-177; DIAS e JORGE (1996) – ‘Rede Hidráulica da Abadia Cisterciense de São Cristóvão de Lafões (São Pedro do Sul)’, Hidráulica Monástica Medieval e Moderna, Coord. QUINTELA, OLIVEIRA, MASCARENHAS e JORGE, Ed. Fundação Oriente, Lisboa, pp. 227-240; DÍAZ-MARTA e FERNANDEZ-ORDÓÑEZ (1996) – ‘Current Investigations on a Medieval Hydraulic Work: The Water Supply System of the Monasteryof Guadalupe’, Hidráulica

Monástica

Medieval

e

Moderna,

Coord.

QUINTELA,

OLIVEIRA,

MASCARENHAS e JORGE, Ed. Fundação Oriente, Lisboa, pp. 255-268; CASTRI, A. S. (2009) – Cerâmica europeia de importação no Mosteiro de S. João de Tarouca (séculos XV-XIX). Tese de dissertação de mestrado. F.C.S.H. Universidade Nova de Lisboa. Policopiado. CHING, Francis D. K. (1999) – Dicionário visual de Arquitectura, Martins Fontes, São Paulo; GONÇALVES, A. (1994) – Santa Clara – Freguesia da margem esquerda do Mondego, Coimbra; LOPES, Fernando Félix (1997) – A Ordem Franciscana na História e Cultura Portuguesa, Colectânea de Estudos de História e Literatura, Vol. II, Academia Portuguesa da História, Lisboa; 496 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

LOPES, Sandra Dias (1998) – Convento de S. Francisco da Ponte. Valor da Arte Coimbrã, GACC – Grupo de Arqueologia e Arte do Centro, Coimbra; LOUREIRO, J. P. (1952) – Anais do Município de Coimbra 1904-1919, Biblioteca Municipal de Coimbra. LOUREIRO, J. P. (1964) – Toponímia de Coimbra, Vol. II C. M. Coimbra. MENDES, José Amado, “Para a história da indústria em Santa Clara”, Diário de Coimbra, 1980; ORTON, C.; TYERS, P.; VINCE, A. (1993) - Pottery in Archaeology. Cambridge: Cambridge University Press. RICE, P. M. (1987) - Pottery Analysis. A sourcebook. Chicago: University of Chicago Press; SANDÃO, A. (1983) – Faiança portuguesa séculos XVIII e XIX. Barcelos: Livraria Civilização. Vol. I; SANTOS, Pedro dos (1997) – O Convento de São Francisco da Ponte, Prova Final de Licenciatura apresentada ao Departamento de Arquitectura da F.C.T. da Universidade de Coimbra, Coimbra.

497 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

ANEXO FOTOGRÁFICO

Foto 343 – Sondagem 1, vista geral no início dos trabalhos.

Foto 344 – Sondagem 1, perfil Oeste no final dos trabalhos.

498 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 345 – Sondagem 1, perfil Norte no final dos trabalhos.

Foto 346 – Sondagem 2, vista geral no início dos trabalhos.

499 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 347 – Sondagem 2, perfil Oeste no final dos trabalhos.

Foto 348 – Sondagem 2, perfil Este no final dos trabalhos.

500 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 349 – Sondagem 2, pormenor da unidade mural (U.E. 8).

Foto 350 – Sondagem 3, vista geral no início dos trabalhos.

501 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 351 – Sondagem 3, pormenor do vão de passagem que constituía a U.E. 3.

Foto 352 – Sondagem 3, vista geral no final dos trabalhos.

502 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 353 – Sondagem 4, vista geral no início dos trabalhos.

Foto 354 – Sondagem 4, vista geral no final dos trabalhos. Perspectiva Oeste.

503 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 355 – Sondagem 4, vista geral no final dos trabalhos. Perspectiva Sul.

Foto 356 – Sondagem 4, perfil Este no final dos trabalhos.

504 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 357 – Sondagem 5, vista geral no início dos trabalhos.

Foto 358 – Sondagem 5, vista geral no final dos trabalhos.

505 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 359 – Sondagem 6, vista geral no final dos trabalhos.

Foto 360 – Sondagem 6, perfil Este no final dos trabalhos.

506 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 361 – Sondagem 6, perfil Norte no final dos trabalhos.

Foto 362 – Sondagem 6, perfil Sul no final dos trabalhos.

507 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 363 – Sondagem 6, perfil Oeste no final dos trabalhos.

Foto 364 – Sondagem 6, pormenor da caixa de visita exumada.

508 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 365 – Sondagem 6, pormenor das condutas exumadas.

Foto 366 – Vista geral sobre o interior da cisterna conventual. Perspectiva Sul. Em destaque: emparedamento detectado na sua parede Norte.

509 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 367 – Sondagem 7, vista geral no final dos trabalhos.

Foto 368 – Sondagem 7, perfil Sul no final dos trabalhos.

510 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 369 – Sondagem 7, perfil Este no final dos trabalhos. Em destaque: acesso ao interior da cisterna conventual (seta azul).

Foto 370 – Sondagem 7, perfil Norte no final dos trabalhos.

511 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Fotos 371 e 372 – Sondagem 7, perfil Oeste no final dos trabalhos.

Fotos 373 – Sondagem 7, pormenor do perfil Oeste no final dos trabalhos. No topo: conduta conventual exumada.

512 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Fotos 374 – Sondagem 7, pormenor da conduta industrial exumada.

Fotos 375 – Sondagem 8, vista geral no início dos trabalhos.

513 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Fotos 376 – Sondagem 8, vista geral no final dos trabalhos.

Fotos 377 – Sondagem 8, vista geral no final dos trabalhos.

514 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Fotos 378 – Sondagem 8, perfil Norte no final dos trabalhos.

Fotos 379 – Sondagem 8, perfil Sul no final dos trabalhos.

515 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Fotos 380 – Sondagem 8, pormenor do interior da conduta conventual exumada.

Fotos 381 – Sondagem 9, vista geral do local de implantação.

516 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Fotos 382 – Sondagem 9, vista geral no final dos trabalhos.

Fotos 383 – Sondagem 9, pormenor da estrutura industrial exumada.

517 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Fotos 384 – Sondagem 9, vista geral no final dos trabalhos.

Fotos 385 – Sondagem 9, perfil Norte no final dos trabalhos.

518 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Fotos 386 – Sondagem 10, vista geral no início dos trabalhos.

Fotos 387 – Sondagem 10, vista geral no final dos trabalhos. Ao topo: a própria sondagem; ao centro: a caixa de visita industrial à qual foi anexada a sondagem; em baixo, ao centro: o pilar esquerdo do arco central da ala Norte.

519 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Fotos 388 – Sondagem 10, perfil Sul no final dos trabalhos.

Fotos 389 – Sondagem 10, perfil Oeste no final dos trabalhos.

520 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Fotos 390 – Sondagem 10, perfil Norte no final dos trabalhos.

Fotos 391 – Sondagem 10, perfil Este no final dos trabalhos.

521 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Fotos 392 – Sondagem 10, pormenor da conduta conventual exumada.

Fotos 393 – Sondagem 10, vista geral no final dos trabalhos.

522 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Fotos 394 – Sondagem 11, vista geral no final dos trabalhos.

Fotos 395 – Sondagem 11, perfil Sul no final dos trabalhos.

523 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Fotos 396 – Sondagem 11, perfil Oeste no final dos trabalhos.

Fotos 397 – Sondagem 12, vista geral no início dos trabalhos.

524 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Fotos 398 – Sondagem 12, pormenor da caleira escavada no afloramento rochoso, após alargamento do limite Sul da sondagem. Perspectiva Norte.

Fotos 399 – Sondagem 13, vista geral no final dos trabalhos. 525 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Fotos 400 – Sondagem 13, vista geral no final dos trabalhos.

Fotos 401 – Sondagem 13, perfil Este no final dos trabalhos.

526 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Fotos 402 – Sondagem 14, vista geral no final dos trabalhos.

Fotos 403 – Sondagem 14, vista geral no final dos trabalhos.

527 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 404 – Vista geral sobre a base do vão de porta aberto na presente empreitada na parede Oeste do compartimento 4 da ala Oeste do piso 1, além do qual se observa o afloramento rochoso (de cor amarela) coberto por uma não muito espessa camada de terra (de cor castanha).

Fotos 405 – Vista geral sobre o interior do claustro à data de início da presente empreitada. Perspectiva Norte. Destaque para o piso em paralelepípedos de basalto.

528 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 406 – Acção de desmonte do piso do claustro. Perspectiva Sudoeste.

Foto 407 – Pormenor do carrego da abóbada, no canto Noroeste do piso 2, tendo sido já parcialmente removido.

529 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 408 – Aspecto geral dos trabalhos de montagem dos ‘cimbres’ de construção das abóbadas do canto Nordeste do claustro.

Foto 409 – Vista geral do topo dos ‘cimbres’ de construção das abóbadas do canto Nordeste do claustro.

530 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 410 – Vista geral sobre as novas abóbadas do canto Nordeste do claustro, após remoção dos ‘cimbres’.

Foto 411 – Processo de desmonte do topo da estrutura maciça localizada no canto Nordeste do claustro.

531 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 412 – Processo de desmonte da base da estrutura maciça localizada no canto Nordeste do claustro.

Foto 413 – Vista geral do interior do claustro durante a década de 1980. Perspectiva Sudoeste.

532 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 414 – Vista geral do paramento erguido entre o terceiro e quarto arco da ala Este do claustro (a contar de Sul), após desmontado o paramento no local onde se aplicaria posteriormente o novo pilar.

Foto 415 – Vista geral dos trabalhos ocorridos entre o terceiro e quarto arco da ala Este do claustro (a contar de Sul), após a montagem do novo pilar.

533 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 416 – Vista geral dos terceiro e quarto arcos da ala Este do claustro (a contar de Sul), após a montagem do novo pilar e consequente desmontagem do paramento existente entre estes arcos.

Foto 417 – Vista geral sobre o Convento de São Francisco da Ponte na década de 1980. Perspectiva Sudoeste. Destaque para os pavilhões industriais ainda presentes, tanto no interior do claustro como no do logradouro.

534 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 418 – Vista geral sobre o alçado Sul do edifico. Destacamos os negativos deixados pelo desmonte dos pavilhões que anexavam a este alçado (à direita).

Foto 419 – Vista geral da unidade mural que constitui a Estrutura 1. Perspectiva Noroeste.

535 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 420 – Pormenor construtivo da unidade mural que constitui a Estrutura 1. Perspectiva Oeste.

Foto 421 – Vista geral da Estrutura 2. Perspectiva Noroeste.

536 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 422 – Pormenor construtivo da Estrutura 2. Perspectiva Oeste. Destaque para as lajes em contexto de reaproveitamento.

Foto 423 – Vista geral da Estrutura 3. Perspectiva Oeste.

537 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 424 – Pormenor construtivo da Estrutura 3. Perspectiva Sul.

Foto 425 – Pormenor construtivo das condutas convergentes sob a estrutura 3. Perspectiva Norte.

538 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 426 – Vista geral das Estruturas 4 e 5 (respectivamente à direita e à esquerda). Perspectiva Norte.

Foto 427 – Pormenor construtivo da Estrutura 4. Perspectiva Norte.

539 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 428 – Pormenor construtivo da Estrutura 5. Perspectiva Norte.

Foto 429 – Vista geral da parede Sul do compartimento 6 da ala Sul do piso 1. Perspectiva Norte. Destaque para a conduta industrial (Estrutura 6) detectada no piso deste compartimento.

540 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 430 – Pormenor construtivo da Estrutura 6. Perspectiva Sul.

Foto 431 – Aspecto geral dos trabalhos de desmonte das Estruturas 4, 5 e 6. Perspectiva Este.

541 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 432 – Vista geral da Estrutura 7. Perspectiva Sudeste.

Foto 433 – Vista geral do tanque Sul que integrava a Estrutura 7. Perspectiva Norte.

542 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 434 – Vista geral do tanque Norte que integrava a Estrutura 7. Perspectiva Sul.

Foto 435 – Aspecto geral dos trabalhos de desmonte da Estruturas 7. Perspectiva Noroeste.

543 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 436 – Vista geral da grelha metálica que constitui o piso da câmara superior da Estrutura 8. Perspectiva Este.

Foto 437 – Vista geral da fachada anterior da Estrutura 8. Perspectiva Este.

544 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 438 – Vista geral sobre a Estrutura 9. Perspectiva Norte.

Foto 439 – Vista geral sobre as aberturas das válvulas detectadas sob a Estrutura 9.

545 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 440 – Vista geral sobre o conjunto formado pela Estrutura 9 e pelas válvulas, no momento em que estavam a ser retiradas do seu contexto original.

Foto 441 – Vista geral sobre a área a Sudeste do claustro, após decorridos os trabalhos de remoção das estruturas e das terras que ocupavam esta área. Perspectiva Sudoeste.

546 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Foto 442 – Aspecto geral dos trabalhos de cobertura da área a Sudeste do claustro, após decorridos os trabalhos de remoção das estruturas e das terras que ocupavam esta área. Perspectiva Sudoeste.

547 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

ANEXO GRÁFICO

Base cartográfica CMP à escala 1/25.000, folha 241 – Coimbra Sul, I.G.E., 2ª edição, 1984 Projecção UTM, datum Europeu, Ellipsóide Internacional

Figura 11 – Enquadramento do local da intervenção na rede viária local. 548 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

z = 35,16 m 1 2

Substrato estéril

0

40 cm

Figura 12 – Sondagem 1, perfil Oeste.

NOTA: Tendo em conta que o substrato estéril se prolongava por toda a sondagem 1, optámos por não apresentar a Planta Final da mesma.

549 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

32.25 m

u.e.1

u.e.3 u.e.4

u.e.4

u.e.2

u.e.5

u.e.8

u.e.5

u.e.11

Área não escavada

u.e.10 Afloramento

u.e.8

u.e.8

.6

u.e.9

u .e u.e.7a

u .e .6 ot ne mar ol f A 01. e. u e7. e. u

c7. e. u

g7. e. u

b7. e. u a7. e. u 6. e. u 2. e. u

4. e. u 1. e. u

Figura 13 – Sondagem 2 0

40 cm

550 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Alçado Oeste da Ala Sul dos Dormitórios

Sala do Capítulo

U.E. 3

U.E. 4 U.E. 2

29.75 m

- Argamassa - Cimento

0

40 cm

Figura 14 – Sondagem 3. Perfil Norte.

NOTA: Tendo em conta que o afloramento rochoso se prolongava por toda a sondagem 3, optámos por não apresentar a Planta Final da mesma.

551 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

z = 29,83 m

0

40 cm

- Argamassa - Substrato rochoso

Figura 15 – Sondagem 4, perfil Este.

35.92 m

U.E. 1 U.E. 2

U.E. 1

U.E. 3

35.80 m

U.E. 3

35.77 m 35.72 m U.E. 3

0

U.E. 3

1m

Figura 16 – Sondagem 5

552 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

U.E. 1a U.E. 1

U.E. 1a U.E. 3

U.E. 6 U.E. 8

U.E. 8

U.E. 7

U.E. 3

U.E. 4

U.E. 5

U.E. 2

36.71 m

U.E. 2

36.48 m

U.E. 9

35.55 m

U.E. 7

U.E. 6

U.E. 8

U.E. 10

U.E. 3b

U.E. 3a

U.E. 3

U.E. 1a

35.93 m

U.E. 2

U.E. 3

U.E. 6 U.E. 9

36.75 m

0

-

1m

- Argamassa -

- Cimento

Figura 17 – Sondagem 6

553 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

36.28 m

U.E. 1

U.E. 6

U.E. 2

Derrube

U.E. 1

Derrube

Derrube

U.E. 2

U.E. 1

U.E. 3

U.E. 4

U.E. 4 U.E. 5

35.68 m

U.E. 5

U.E. 4a

35.12 m

35.60 m U.E. 9

36.06 m U.E. 7

35.120m 35.21 m

U.E. 5 Área não escavada. Couraça da cisterna industrial

Área não escavada

U.E. 4 U.E. 2 U.E. 1

- Argamassa

36.48 m

0

1m

Figura 18 – Sondagem 7

554 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Figura 98 – Sondagem 8.

555 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

35.45 m

2

1

5

5

5 3

5

35.45 m

1

- Argamassa

0

40 cm

Figura 20 – Sondagem 9.

556 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

36.72 m

U.E. 1 U.E. 2

U.E. 4 U.E. 3 U.E. 5

36.35 m

Área não escavada

36.16m 36.18 m

36.32 m

U.E. 5 36.34 m

36.69 m

36.09 m

36.75 m

Pilar

0

1m

- Argamassa

Figura 21 – Sondagem 10.

557 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

36.87m u.e.4

u.e.4

u.e.1

u.e.3

37.48m 37.78m u.e.6

u.e.4

37.54 m

0

40 cm

- Argamassa

Figura 22 – Sondagem 11.

558 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

37.21 m

37.93 m

U.E. 1 U.E. 2

37.84 m

U.E. 2

U.E. 1

U.E. 2

37.71 m

37.78 m

0

1m

Figura 23 – Sondagem 12.

559 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

37.21 m

U.E. 1

U.E. 2

U.E. 2

U.E. 1 36.10 m

35.98 m

0

1m

Figura 24 – Sondagem 13.

560 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

37.62 m

U.E. 1

U.E. 1

37.51 m

U.E. 3

U.E. 3 37.68 m

U.E. 2

37.60 m

U.E. 2

U.E. 3

0

1m

Figura 25 – Sondagem 14.

561 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

32.64 m

32.64 m

32.62 m 32.65 m

0

1m

- Argamassa - Cimento Figura 26 – Planta geral da estrutura anexa ao portão da Igreja (Estrutura 3).

562 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

1m 0

31.24m

30.94 m

- Argamassa

31.25m

Figura 27 – Planta geral da estrutura designada de Unidade Mural 1

563 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

31.40 m 31.92m

29.38m

- Argamassa

0

1m

31.40 m

31.99 m 32.08m

Figura 28 – Planta geral das estruturas designadas de Unidade Mural 4, 5 e Estrutura 6.

564 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Figura 29 – Planta geral do Logradouro com a implantação de todas as estruturas.

565 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Figura 30 - LOCALIZAÇÃO DE SONDAGENS ARQUEOLÓGICAS

566 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Limite de Intervenção

ALA NASCENTE

Intervenção na época industrial Intervenção recente (Emparedamento) Intervenção decorrente na época Conventual

CÂMARA MUNICIPAL DE COIMBRA - DOGIM - DEE

Obra Nº 2307 - Convento de São Francisco Obras de Consolidação Estrutural e Trabalhos de Arqueologia

Intervenção em época indeterminada

Planta do Piso 0 Caracterização Arqueológica

Figura 31 567 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

DESENHO DE PREPARAÇÃ

Desenho Nº PREP 015 / 2307

Págª 1 / 3

Limite de Intervenção

Intervenção na época industrial Intervenção recente (Emparedamento) CÂMARA MUNICIPAL DE COIMBRA - DOGIM - DEE

Intervenção decorrente na época Conventual

Obra Nº 2307 - Convento de São Francisco Obras de Consolidação Estrutural e Trabalhos de Arqueologia

Intervenção em época indeterminada

Planta do Piso 1

568

DESENHO DE PREPARAÇÃO

Desenho Nº PREP 015 / 2307

Págª 2 / 3

Caracterização Arqueológica

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Limite de Intervenção

Intervenção na época industrial Intervenção recente (Emparedamento) CÂMARA MUNICIPAL DE COIMBRA - DOGIM - DEE

Intervenção decorrente na época Conventual

Obra Nº 2307 - Convento de São Francisco Obras de Consolidação Estrutural e Trabalhos de Arqueologia

Intervenção em época indeterminada

Planta do Piso 2

569

DESENHO DE PREPARAÇÃO

Desenho Nº PREP 015 / 2307

Págª 3 / 3

Caracterização Arqueológica

Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

570 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Sem escala

Figura 35 – Planta geral do conjunto conventual.

571 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Rio Mondego

Figura 36 – O Convento de S. Francisco e a sua envolvente directa na Margem Esquerda do Mondego – Santa Clara.

572 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

Figura 37 – O Convento de S. Francisco na rede viária local.

573 Trabalhos Arqueológicos no âmbito das Obras de Consolidação Estrutural no Convento de São Francisco da Ponte em Coimbra – Relatório Final

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