Convento de São Gonçalo, Angra do Heroismo

July 28, 2017 | Autor: Bri Baptista | Categoria: Arqueología, Açores, Iglesias Y Conventos
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Carta Arqueológica dos Açores Convento de São Gonçalo Brígida Baptista CRS: 062-A Tipo de Sítio: Templo Localização: Terceira» Angra do Heroísmo» Sé Meio: Terrestre Cronologia: Séc. XVI Durante o processo de colonização portuguesa do espaço insular, uma das principais ações da Coroa foi a edificação de edifícios religiosos – ermidas e igrejas (Costa, 2008: 184-185). Entre 1450 e 1642 deu-se a fase de implantação da Igreja nos Açores, por iniciativa da monarquia portuguesa (Costa, 2008: 172). Porém, não só igrejas e ermidas foram erguidas nesta época; também os conventos começaram a surgir, sendo o primeiro em 1446, franciscano, na ilha de Santa Maria (Costa, 2008: 186). Ao longo do século XVI, esta congregação religiosa instalou-se nas ilhas mais povoadas, construindo sete conventos: três em São Miguel, dois na Terceira, um em Santa Maria e um no Faial (Costa, 2008: 186). Da mesma forma, no decorrer desta época, implantam-se, os mosteiros femininos nos principais centros populacionais, todos eles da Ordem de Santa Clara. Registam-se cinco na Terceira, incluindo o de São Gonçalo, quatro em São Miguel e um no Faial (Silva, 2008: I, 58). O convento de São Gonçalo é um importante monumento da história religiosa açoriana, como primeiro convento de clarissas a ser fundado na ilha Terceira, mais concretamente na cidade de Angra do Heroísmo. Fundado na década de 40 do século XVI, por iniciativa de Brás Pires do Canto, o monumento estruturou-se em torno de um único claustro de traçado manuelino, que sofreu sucessivas remodelações e ampliações ao longo dos séculos. Estas mudanças e evolução do edificado foram marcadas pela passagem significativa de mulheres que desenvolveram as suas atividades quotidianas dentro de um espaço conventual, cujo testemunho foi detetado pelo registo arqueológico. Esta ordem seguia o ideário da clausura e pobreza segundo a Regra de Santa Clara. Porém, esta parece não impor normas obrigatórias para a arquitetura dos conventos. Por outro lado, os estudos sobre a arquitetura monástica feminina são esporádicos em Portugal, comparativamente com os estudos que se desenvolveram nas últimas décadas sobre os conventos masculinos. Contudo, em termos de distribuição dos espaços, denota-se alguma uniformização nos mosteiros de um claustro (Duarte, 2006: 14). É importante entender como se organizam e articulam as dependências fundamentais de um convento, distribuídas em redor de um claustro: igreja; sala do capítulo; refeitório; dormitório e restantes dependências. No caso concreto do convento de São Gonçalo, compreende-se uma transformação no edificado não só pelas exigências sociais, mas também em consequência das intempéries naturais e eventos bélicos. Os episódios históricos que ficaram registados nas paredes e subsolo ressurgiram com a intervenção arqueológica. As grandes catástrofes naturais e humanas – sismos, tempestades, pestes, guerras – que ocorreram na ilha Terceira, desde a fundação do convento aos nossos dias, transformaram um quotidiano de silêncio e clausura. São vários os episódios registados que podem ajudar a compreender as realidades arqueológicas identificadas no convento. No caso dos sismos, os mais expressivos e passíveis de terem conduzido à realização de modificações na estrutura do convento foram os de 1571, 1614, 1647, 1690, 1698, 1801, 1811, 1841 e, mais recentemente, o de 1980. Também os episódios bélicos do século XVI e XIX foram relevantes, destacando-se a Guerra da Restauração e as Guerras Liberais. Outro fator foi sem dúvida as exigências sociais, com o crescente número de clarissas ao longo das centúrias, que obrigou a uma expansão do edificado. Assim, os dados recolhidos durante uma intervenção de diagnóstico e acompanhamento arqueológico (2007-2008), coadjuvada pela pesquisa histórica, conduziram a um estudo que pretende ser um contributo para a interpretação desta realidade insular. A intervenção arqueológica no Convento de São Gonçalo decorreu em três fases entre fevereiro de 2007 e

setembro de 2008. Foram intervencionadas as salas do rés-do-chão e primeiro piso, onde se realizaram trabalhos de picagem de rebocos e aberturas de valas no subsolo, que revelaram novas realidades arqueológicas que contam a história da evolução estrutural de cinco séculos do Convento de São Gonçalo. O que inicialmente começou por ser um convento de um claustro em redor do qual se desenvolviam os dormitórios, refeitório e consequentes espaços religiosos sofreu, a partir da segunda metade do século XVII, uma expansão e modificação construtiva, que transformou as paredes do convento em verdadeiros palimpsestos de histórias de destruição e construção. Registam-se diferentes técnicas construtivas, que por vezes reaproveitam antigos elementos arquitetónicos. Na picagem de paredes foram postos a descoberto vãos de janelas e portas, pias, nichos e oratórios que demonstram diferentes funcionalidades dos espaços. O primitivo claustro mantém a planta quadrangular com pavimento em toda a sua extensão, à exceção dos canteiros, com lajes de tufo vulcânico, maioritariamente de forma retangular, algumas delas com marcas de serem reaproveitadas. Relativamente, às quatro arcarias que compõem o claustro, observaram-se dois diferentes estilos construtivos: colunas e pilastras. Assim, as arcarias Norte, Sul e Oeste tem arcos suportados por colunas sem decoração na zona do fuste, tendo o arco uma pequena reentrância ao centro. A arcaria Este, tem pilastras retangulares com arcos abatidos. Em 1889 há uma referência a obras numa das alas do claustro, a qual terá caído em consequência do sismo 1841. Esta descrição indica que, por impossibilidade por parte do construtor em reproduzir o traço arquitetónico existente, as colunas das restantes alas, este ergueu pilastras retangulares (Merelim, 1974: 122). Comprova-se que a ala Este tem uma cronologia posterior às restantes alas. Na intervenção arqueológica foi possível aceder ao registo histórico de cinco séculos de construção, destruição e adaptação de espaços que visaram responder às necessidades do quotidiano de uma comunidade religiosa com características muito particulares. Compreendeu-se as diferentes fases de ocupação deste espaço e identificou-se a grande transformação aí ocorrida a partir dos finais do séc. XVII. O Estado Português, pelo decreto nº 25 de 17 de maio de 1832, extinguiu as ordens religiosas, sendo o Convento de São Gonçalo o último a encerrar, a 20 de junho de 1885, com a morte da última clarissa (Merelim, 1974: 139). O amplo espaço do convento foi cedido à Associação Educadora do Sexo Feminino, fundando uma escola de instrução primária (Merelim, 1974: 153). Anos mais tarde, em 9 de julho de 1914, esta associação passa a denominar-se de Recolhimento de São Gonçalo, para abrigar menores e adultos do sexo feminino. A 1 de outubro de 1958 foi fundado no Recolhimento, o Jardim-Escola Jesus Infante pela Reveranda Irmã Ana Maria de Jesus Infante (Merelim, 1974: 148), instituição que se mantém em funcionamento ainda na atualidade. O conjunto patrimonial do Convento e Igreja de São Gonçalo está classificado como Imóvel de Interesse Público, pelo Decreto nº 516/71, de 22 de novembro.

Bibliografia COSTA, Susana Goulart (2008) – A Igreja: implantação, práticas e resultados in História dos Açores. Do descobrimento ao século XX, Volume I, Angra do Heroísmo: Instituto Açoriano de Cultura, pp. 173-198. FERREIRA, A., GODINHO, R. (2008) – Escavação arqueológica na necrópole do Convento de são Gonçalo, Angra do Heroísmo, Ilha Terceira. Açores, Relatório dos trabalhos arqueológicos, Lisboa: Era Arqueologia. MERELIM, Pedro (1974) – As 18 paróquias de Angra, Angra do Heroísmo: Câmara Municipal de Angra do Heroísmo. PINTO, Marina (2010) – Acompanhamento arqueológico no Recolhimento de São Gonçalo, Angra do Heroísmo, Ilha Terceira. Açores, Relatório dos trabalhos arqueológicos, Lisboa: Era Arqueologia. SILVA, Lígia, (2008) – A arquitectura monástica de clarissas em Portugal, Tese de Doutoramento Patoloxia e Restauracíon Arquitectonica, Escuela Técnica de Arquitectura, Universidade da Corunha.

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