Conversa com Professor João Tique, O Mito do 15 por 30

July 17, 2017 | Autor: Domingos Macucule | Categoria: Urban Planning, Urban Morphology, Urban Informality
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a F0LHA numero 06 . ano 1 . 13 de Maio de 2015 fórum (i)n(f)ormal sobre o espaço territorio e ambiente

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Conversa Com Professor João Tique A cidade não pode continuar a ser feita por talhões: mas

sim por habitação, a habitação até pode estar no ar, desde que estejam garantidos os serviços para uma vida condigna, ter água canalizada, luz, um sistema de saneamento eficiente, um espaço público condigno e acolhedor etc. O colectivo é o caminho da civilização: Na cidade temos poucas possibilidades de reproduzir os hábitos de uma economia recolectora, onde o individuo tem ao seu dispor um vasto território onde pode colectar o produto para a sua sobrevivência. As formas de agregação no contexto urbano são exponenciais e não aritméticas como o são no campo.

O terreno (talhão individual) não faz cidade: Porque as

facilidades que o homem pode criar no campo, na cidade são produzidas em processos colectivos de partilha e troca, a economia urbana é de troca e de dependências reciprocas e não recolectora. A reprodução da cidade é um processo colectivo e não individual: A reprodução individual da vida só é viável e possível no campo, onde o individuo despõem de espaço e tempo para o efeito. Na cidade a dinâmica dos processos de reprodução e de produção não permitem uma vida autotrófica (onde o individuo produz o seu próprio alimento).

O MITO DO 15 POR 30 A semelhança de muitos, o sonho, da grande maioria, dos Jovens em Maputo é ter casa própria. Porém em Moçambique para se ter casa primeiro é preciso ter um talhão, e o 15 por 30 ou 20 por 40 (metros) está de certo modo incrustado na consciência do povo e dos gestores do território, como a dimensão ideal para uma moradia no espaço urbano.

característica do africano, de tal modo que acredita-se ser possível reproduzir na cidade alguns estilos da vida peculiares do campo, nomeadamente o Munti, ou o mais antigo Zulo-Kraal. São mitos que até tem uma sustentação filosófica com fundamento muito objectivo, mas que também tornam-se permissivos á escamoteios voluntários e por vezes ingénuos.

A sedimentação deste conhecimento empírico-sensitivo é tal que o 20 por 40 surge como um mito. Um Mito, porque os seus pressupostos, nos remetem aos valores da tradição e da cultura ou maneira de ser Bantu ou mesmo pré-bantu, os Vátuas portanto. A Mitologia apoiam-se também nas narrativas do “bom selvagem” que se julga ser

Nesta breve nota que decorre de uma conversa informal tida com o Ilustre Professor João Tique vamos apresentar a já prosaica tese do Professor, segundo a qual uma cidade que se constrói em grandes talhões individuais é insustentável, e ate certo ponto irresponsável com cumplicidade dos seus gestores.

Para a optimização das dimensões do talhão – Não há

Que formas e espaços precisamos de criar para viabilizar o Urbanismo do Ubuntu?

dúvida que haverá na cidade aqueles que vão precisar de terrenos para colocar a sua piscina, o campo de ténis a explanada ou a churrasqueira para confraternizar com os familiares e amigos, todos sonhamos com estas mordomias porque afinal de contas, para nós a terra é um recurso do reino de Deus - Não é proibido ter esse sonho, mas só poucos o podem concretizar, porém, com encargos para o bem público. O esforço individual de construir uma piscina e um campo de jogos quando partilhado pode resultar numa piscina colectiva um campo para o bairro um jardim publico com as facilidades que no actual contexto tendemos ou sonhamos em o ter no nosso espaço privado.

Aqui é onde deve se centrar o debate epistemológico sobre as cidades que queremos construir, temos de nos questionar sobre que dimensões ou quantidade de talhões que a edilidade oferece aos munícipes. Trata-se de encontrar uma nova forma de produzir cidade baseada na procura e não na oferta. Na compreensão do que realmente o nosso ente urbano precisa e não o que quer, porque o que se quer é pura ilusão e pouco sustentável para o colectivo. ff

Editorial A folha é um projeto que pretende se estabelecer ao longo do tempo. A folha é, também, um conceito que pretende criar as suas bases fundamentadas numa literatura científica, objetiva e informal, isto é. Livre dos condicionalismos da produção científica canónica, achámos que assim podemos encontrar um espaço entre a retórica e a prática para construir uma teoria programática e pragmática em nossos contextos. A última edição da folha saiu faz já um ano, isto é, foi a 13 de ABRIL DE 2014. Paramos porque pensamos que a Folha tinha atingido uma dimensão tal que devia ser formalizada … assim andamos durante estes anos a tentar formalizar uma folha cuja génese é informal, porém mais uma vez não conseguimos formalizar o informal. Assim a folha está de volta, a linha editorial continua, o formato também continua salvo esta nota que ocupa a quarta coluna que geralmente ficava vazia… Passaremos a dedicar este espaço às reflexões de todos que se identificam com este projecto-conceito. Esperamos que desta vez seja para durar.

Contrainércia ... Contravento ... Contraonda ... nos parece ser o caminho

Uma cidade de compromissos colectivos: Com o compro-

misso colectivo em nosso contesto africano ou moçambicano podíamos falar também do “Urbanismo do Ubuntu”, a cidade como um espaço de partilha e de novas agregações capazes de promover uma vida comunitária sã e segura, onde as nossas habitações saem das jaulas ou dos murros altos para dialogar com uma cidade humana e acolhedora, Onde o talhão de 50 por 50 do Sr. Fulano é substituído por uma habitação cujo talhão é a própria cidade, assumida e vigiada por todos, e que partilha equipamentos e serviços exaltando a urbanidade.

a F0LHA numero 06 . ano 1 . 13 de Maio de 2015 fórum (i)n(f)ormal sobre o espaço territorio e ambiente

Aqui é onde se deve centrar o debate epistemológico sobre as cidades que queremos construir, temos de nos questionar sobre que dimensões ou quantidade de talhões que a edilidade oferece aos munícipes. Trata-se de encontrar uma nova forma de produzir cidade baseada na procura e não na oferta. Na compreensão do que realmente o nosso ente urbano precisa e não o que ele quer, porque o que se quer geralmente é pura ilusão e pouco sustentável para o colectivo. ff Propriedade: “Sala do Prof. Tique” _CEDH_FAPF_UEM. Maputo. Moçambique. Editor: Domingos A. Macucule. Colaboradores: Pedro Coimbra . Bernardino Jaieia. Hélder Maquico. Comisão Cientifica: Prof. João Tique

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