Convocação

May 27, 2017 | Autor: J. Medeiros da Luz | Categoria: Contemporary Poetry, Poesia Brasileira
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Convocação J. A. Medeiros da Luz Longe de possuir As mais dulciolentes das corolas, O vulto do ciclâmen diz-me olá Cromática e eloquentemente, Por meio de borrões de cores, Através da janela de vidro semifosco (Mercê da reticulada multitude, De pequeninas, diminutas, Pirâmides glaciais de sua estampa). As pétalas cor-de-rosa e malva, Entre o verde escuro, Rajado de pistas brancacentas, Das folhas do ciclâmen, Alardeiam que, lá do lado de fora, Onde rola, preguiçosamente, Nos carris luminosos do firmamento, O trólei de um sol ridente, Faz-se, enfim, nova primavera. Instado assim, abro a janela para a rua. E é um tanto de gentes, andorinhas, E mais eu. A flauta do vento, Transeunte gasosa na calçada, Levípede e sem maiores compromissos, Faz seus floreios na orquestração do dia, E daqui para acolá, Sustenta, a espaços quase ritmados, A dança solitária de duas Extraviadas plumas de pardal. E neste pingo de existência, O ponto focal do universo Passa a ser, tão-só e unicamente, isso: O equinócio pulsante, umas gentes, Andorinhas de asas azul-petróleo, Duas plumas, umas flores de ciclâmen, Debruçadas sobre a soleira da janela, Polvilhadas de fótons de sol, A exalar eflúvios de alegria, E mais eu. Ouro Preto, 2016.

Do livro: Martelo de cristal, a sair pela Jornada Lúcida Editora.

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