COOPERATIVAS DE CRÉDITO SOLIDÁRIO DA CRESOL: EM BUSCA DA TOTALIDADE DAS DINÂMICAS DE PODER DO CRÉDITO NO CAMPO

June 3, 2017 | Autor: Tiago Karas | Categoria: Poder, Espaço, Finanças
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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO

COOPERATIVAS DE CRÉDITO SOLIDÁRIO DA CRESOL: EM BUSCA DA TOTALIDADE DAS DINÂMICAS DE PODER DO CRÉDITO NO CAMPO TIAGO SATIM KARAS1 Resumo: O presente artigo é uma contribuição em busca da totalidade de poder do crédito no campo a partir dos estudos sobre o Sistema de Cooperativas de Crédito Rural com Interação Solidária (CRESOL). Para problematização são propostas quatro temáticas: o Estado, o crédito, o território; e uma quarta categoria, que permeia as outras três, que é o poder. Essa proposta de estudo segue três caminhos metodológicos: a dialética; a totalidade da questão territorial do poder e a análise integradora do espaço. De modo geral, trata-se de relações em múltiplas dimensões, que possibilitam uma tentativa de compreensão das relações de poder do crédito no campo na Região Noroeste do Estado do Paraná a partir da atuação da CRESOL. Como consideração a atuação desse sistema fortalece a necessidade de entende-la como um sistema que ao valorizar a autonomia dos cooperados cria novas formas de dependência.

Palavras-chave: Estado, território, crédito, poder, CRESOL. Abstract: The present paper is a contribution to search for the totality of credit`s power in field from the studies about the Cooperatives` System of Rural Credit with Sympathetical Interaction (CRESOL). To question, four themes are proposed: The State, credit, territory and a fourth category that permeates the other three, which is the power. This study’s proposal follows three methodological ways: the dialectic; the totality of the power’s territorial; and the integrative analysis of the space. In general, it`s about relations in multiples dimensions, that enable an attempt to understand the relations of power credit in field in Northwest Region of Paraná State from the acting of CRESOL. As consideration, the performance of this system fortify the need to understand it as a system that while values the autonomy of the cooperatives, create new ways of dependence.

Keywords: State, territory, credit, power, CRESOL. 1-Introdução Apresentamos nesse trabalho parte dos resultados da pesquisa da dissertação de mestrado em geografia. Na primeira parte, resumidamente, é apresentado a proposta de trabalhar com o Estado, crédito, território e o poder que permeia todas essas relações. Em seguida, também resumidamente, optou-se por apresentar a perspectiva de discussão metodológica da pesquisa entre dialética, a totalidade

do

espaço

e

a

análise

integradora.



também

uma

breve

contextualização do surgimento do sistema CRESOL e sua expansão na Região Noroeste do Estado do Paraná. Por fim, apresentamos parte dos resultados que em

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Doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal da Grande Dourados. Bolsista da CAPES. E-mail de contato: [email protected]

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nossa compreensão nos permitiu traçar as considerações sobre as dinâmicas de poder do crédito no campo2. Para desenvolvimento da pesquisa, além da análise dos dados do Censo Agropecuário (IBGE) 2006 e dados do “Anuário Estatístico do Crédito Rural”, do Banco Central do Brasil. Analisamos, também, dados das cooperativas CRESOL da base de serviço regional de Paranavaí/PR, como; valores financiados e números de domicílios, bem como, aplicação de questionários/entrevistas com cooperados, técnicos e diretores das cooperativas do sistema CRESOL (KARAS; 2014, 2015). Como consideração, a ênfase sobre as dinâmicas de poder do crédito no campo sob a perspectivas de uma aproximação à totalidade das suas dinâmicas de poder, reforça não se tratar de uma dinâmica de poder em si, mas sim, de múltiplas dimensões das dinâmicas de poder, cujo o acesso/restrição ao crédito, o sistema cooperativo e as instituições tradicionais são parte dessas dinâmicas. 2 – O poder entre Estado, crédito e território Toda a problematização para esta proposta de pesquisa sobre as dinâmicas de poder do crédito no campo envolve o princípio de que há uma relação muito próxima entre estas três categorias; Estado, crédito e território, permeadas por um quarto elemento que é o poder, exemplificado pela figura 01.

Figura 1. Dinâmicas de Poder do Crédito no Campo Fonte: Organizado por KARAS (2014)

2

As discussões apresentadas no XI ENANPEG já foram previamente publicados, assim, sugere-se, que para uma compreensão detalhada, a consulta dos artigos sobre a CRESOL e as dinâmicas de poder do crédito no campo, (KARAS; 2014 e 2015).

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Diante disso duas concepções são propostas para o estudo dessas relações: a primeira e mais comum é aquela que toma o Estado e sua base política e institucional do qual exerce papel principal; a segunda, são as abordagens que se referem às relações econômico-sociais. Embora os estudos tenham dado maior atenção às relações de poder político-institucionais, acreditamos que na perspectiva “multidimensional do poder” (RAFFESTIN; 1993) essas implicações possam ser aproximadas e analisadas conjuntamente. Assim a primeira consideração é que tanto o Estado quanto as relações econômico-sociais podem ser analisados na perspectiva de que seus diversos quadros políticos, econômicos e sociais é composto por diferentes classes sociais que podem afetar as estruturas, de modo que a sociedade como um todo constitui-se de relações de poder. 2.1 – Dialética, totalidade e análise integradora do espaço Dentro dessa proposta de pesquisa que caminhe no sentido de estabelecer relação e conexão entre quatro grandes categorias de análises (Estado, crédito, território e poder), são propostos três caminhos: a dialética, a perspectiva de estudo do espaço como uma totalidade e as contribuições para a análise integradora do espaço. Para Martins (1996) a análise do método dialético de Henri Lefebvre, para as ciências sociais, ao confrontar os processos históricos, suas temporalidades, suas estruturas, fazem emergir relações contraditórias que revelam suas diferentes temporalidades, mas não se limitam apenas em identificar os “desencontros de tempo”. Assim, segundo José de Souza Martins, Lefebvre introduz um elemento novo com o método de análise dialético: se o desencontro é um fato real, o fato de haver novas possibilidades também se coloca como presente. Afirma que “[...] é o desencontro das temporalidades dessas relações que faz de uma relação social em oposição à outra, a indicação de que um possível está diante do real e realizado” (p. 22). Cabe ao pesquisador, nas ciências sociais, “[...] juntar os fragmentos, dar sentido ao residual, descobrir o que ele contém como possibilidade não realizada” (p. 23). Segundo Santos (2012, p. 12), o estudo dessas relações representa uma “totalidade” que é tanto social como espacial. “A economia está no espaço, assim

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como o espaço está na economia. O mesmo se dá com o político-institucional e com o cultural-ideológico. Isso quer dizer que a essência do espaço é social”. Essa totalidade do espaço, que tem como essência a sua sociabilidade, é uma referência para pensar como tanto o espaço como o social estão implícitos à vida humana. Partindo da compreensão dessas implicações, não é possível estudar o homem (e sua vida social) sem compreender as relações que ele tem com determinados espaços, ou vice-versa. Segundo Haesbaert (2010, p. 75), o conceito chave sobre as dinâmicas territoriais é aquele que privilegie uma análise “integradora” do/no espaço, “capaz de evidenciar a riqueza ou a condensação de dimensões sociais que o espaço manifesta” como uma totalidade. A condensação dessas múltiplas dimensões proporcionam estudos dirigidos para a compreensão da dinâmica do espaço ao “priorizar,

assim,

a

dinâmica

combinada

de

múltiplos

territórios

ou

“multiterritorialidades”, melhores expressas pelas condições de territorialização e desterritorialização” (p. 341). Estes elementos devem ser considerados como variáveis, pois não possuem e nem atribuem ao lugar um valor fixo: “cada elemento do espaço tem um valor diferente segundo o lugar em que se encontra e [...] cada lugar atribui a cada elemento constituinte do espaço um valor particular” (SANTOS, 2012, p. 21). Milton Santos ao nos permitir pensar na variabilidade dos elementos, estamos diante da possibilidade de identificação dos elementos de diferenciação do espaço, seja numa proposta política, numa postura econômica nacional ou até mesmo num sistema de cooperativa, já que suas qualidades de relação e organização variam de acordo com os lugares. Esse é o insight para se pensar nas características que os elementos assumem quando em contato com lugares diferentes; ou seja, uma das principais características não é a homogeneização, mas, pelo contrário, são as múltiplas possibilidades, como veremos a seguir. 2.2 – Crédito cooperativo da CRESOL Surgida na Região Sudoeste do Estado do Paraná em 1995 expandindo, a partir de então, para várias regiões e outros Estado. O embrião do cooperativismo da CRESOL no Noroeste do Paraná foi lançado com o curso de Gestão com Ênfase

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em Cooperativismo, promovido pelo INFOCOS – Instituto de Formação do Cooperativismo Solidário. Com a participação de diversas lideranças, pequenos agricultores, dirigentes sindicais, associações, comerciantes e simpatizantes em geral. Não havia conhecimento sobre o sistema e tudo era incerto e novo, mas aos poucos foram surgindo os interesses, após um tempo de amadurecimento, foram fundadas as primeiras cinco cooperativas na região (figura 02). O principal argumento, entre os participantes desse curso, era considerar a CRESOL uma cooperativa diferente em termos de organização dos agricultores, através dos bons resultados das cooperativas da região Sudoeste do Estado do Paraná.

Figura 02 – CRESOL: Cooperativas e base de Serviço Regional Noroeste Fonte: IBGE – Microrregiões Geográfica do Estado do Paraná (2013); CRESOL – Base de Serviço Regional de Paranavaí (2013); Organizado por (KARAS, 2015).

Com

algumas

características

próprias,

a

CRESOL

defende

a

não

centralização financeira do sistema, em comparação como o que ocorre com as cooperativas de crédito tradicionais. Mesmo com o crescimento e expansão do sistema, a CRESOL defende “a ideia de valorização das dinâmicas locais entre seus cooperados, na medida em que mantém nas próprias cooperativas as receitas que são entre elas geradas”. No entanto, como toda organização capitalista precisa crescer para garantir sua reprodução, de que forma isso ocorre? é que não está bem

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esclarecido. Esse e outros indícios demonstram “haver uma rede de intercâmbio e poder, pois à medida que o sistema expande, depende também de que cada cooperativa esteja financeiramente bem, de forma a garantir sua manutenção” (KARAS, 2015, p. 23). Nesse sentido é que buscou-se compreender essas relações de poder do crédito cooperativo da CRESOL, a seguir. 2.3 – Por uma totalidade das dinâmicas de poder do crédito no campo Devido ao restrito espaço disponível para a organização deste artigo, optouse por apresentar apenas os resultados a que chegamos com a pesquisa, restringindo-se as diferenças entre o financiamento oriundos das instituições financeiras tradicionais e da CRESOL, bem como a discussão a que se chegou com as entrevistas realizados com os cooperados. Os dados sobre o financiamento entre a CRESOL e o Banco Central levantados nos municípios que possui essas cooperativas, apresentam tendências completamente opostas (figura 3 e 4). No entanto, há de se ressaltar que os valores financiados pela cooperativa CRESOL são menores do que os acessados pelos bancos tradicionais, conforme dados fornecidos pela própria CRESOL. Porém, as tendências são claras: os dois municípios que mais financiaram pela CRESOL (Marilena e Tamboara), estão entre os que menos financiaram pelos bancos tradicionais. Assim como no caso oposto, já que os dois municípios que mais financiaram a partir de instituições tradicionais, são os que menos financiaram pela CRESOL. Embora seja necessário destacar que se trata de uma cooperativa de crédito cuja atuação na região é ainda extremamente recente para se projetar fielmente seus resultados, algumas evidências apontam diferenças em relação a cooperativa e o que é promovido pelas instituições financeiras tradicionais. Porém, há nesta mesma escala local “dinâmicas que contradizem as propostas de solidariedade do cooperativismo de crédito”, como enfatizado nos trabalhos previamente publicados. A nosso ver, “a principal caracterista [...] é a de que a sustentação desse sistema está relacionada ao poder que ele tem de disputar espaços com outras instituições financeiras no mercado de crédito da agricultura” (KARAS, 2015, p. 26).

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Figura 03 – Banco Central do Brasil: Financiamento, ano de 2013. Fonte: Banco Central do Brasil (2013); Organizado por (Ibidem, 2015)

Figura 04 – Financiamento da CRESOL base Noroeste, ano de 2013. Fonte: CRESOL (2013); Organizado por (Ibidem, 2015)

A análise dos dados de financiamento do BCB (2013) por município ao longo dos últimos anos3, “sustentam um significativo aumento dos valores para o financiamento da agricultura”, porém há diferenças consideráveis entre o total de 3

Não foi possível reproduzir neste trabalho os gráficos com esses dados, mesmo sendo indispensável para sua compreensão. Esses gráficos podem ser consultados nos trabalhos citados.

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domicílio que acessou os recursos e o montante de recursos acessado por cada domicílio. Assim constata-se que “este aumento não demonstra que isto esteja relacionado com a democratização do acesso aos recursos financeiros” (Ibidem, 2015. p. 27-8). Diferente dos casos que ocorrem com o financiamento proveniente da CRESOL, em todas as cooperativas os dados demonstraram que o crescimento dos valores financiados acompanha o crescimento do número de estabelecimentos que acessaram os recursos. No entanto não é possível fazer tal constatação sobre as relações de poder valendo-se apenas desses dados sobre os financiamentos, pois, “essas diferenças estatísticas podem não demonstrar claramente a dinâmica local do poder sobre a categoria do financiamento na agricultura”. As evidências que reforçam esses argumentos são encontrados nas falas das entrevistas coletadas com os membros das cooperativas. (Ibidem, p. 26). Parte das entrevistas apresentadas a seguir nos dão uma dimensão mais profunda sobre as dinâmicas de poder do crédito no campo. Entre os principais argumentos está o de haver diferenças entre grandes e pequenos agricultores e como são tratados pelas agencias financeiras tradicionais e pela CRESOL. Como demonstra umas das falas que: pessoas no município de Alto Paraná que nem terra possuem, mas que têm acesso aos financiamentos. Isso está relacionado ao fato de que o financiamento originado pelas políticas públicas possuem taxas de juros 4 bem abaixo dos praticados no mercado corrente (Ibidem, 2015, p. 28) .

Nessa mesma linha de raciocínio, há evidencias de que o Banco do Brasil dificulta o acesso aos recursos pelos camponeses; é comum no município conseguir novos financiamentos, mesmo por parte daqueles que não tenham cumprido com as dívidas dos financiamentos anteriores. Enquanto isso, os projetos para financiamento dos agricultores familiares feitos por intermédio da cooperativa, dificilmente são aprovados pelo Banco do Brasil. (Ibidem, 2015, p. 28)

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Com o objetivo de tentar garantir a idoneidade das informações concedidas, foi previamente assegurado aos entrevistados de que seriam preservadas suas identidades. Acredita-se que, com isso, pudessem se sentir mais à vontade para prestar as informações.

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Por esse motivo é que a cooperativa buscou viabilizar os recursos do PRONAF ao agricultores, acessando os recursos via BNDES. Pois segundo as entrevistas realizadas com alguns diretores das cooperativas, o Banco do Brasil não aprovava os projetos por falta de recursos, demonstrando “que há conflitos de interesses por parte do Banco do Brasil, que age contra a atuação da cooperativa CRESOL nesses municípios” (Ibidem, 2015, p. 28). A evidência que demonstra claramente esses conflitos de interesses entre a CRESOL e o Banco do Brasil, proferida pelo próprio gerente do Banco em uma fala durante um dos balanços anuais realizado pela cooperativa que “naquele ano foram devolvidos para o governo mais de 2 bilhões de reais por não ter para quem financiar” (Ibidem, 2015, p. 28) Porém segundo os dados do BCB dos munícipios em questão; demonstram que não ocorreram grandes mudanças nos números de contratos financiados. Ou seja, possivelmente os financiamentos ocorreram principalmente entre aqueles que foram clientes nos anos anteriores. Isto torna ainda mais evidente a hipótese de que a permanência da estrutura de financiamento é, sobretudo, a reprodução das relações de poder. (Ibidem, p. 28)

Além dessas características de interesses e disputas acima mencionadas, há também, segundo Karas, (2015, p. 28) muita burocracia ou dificuldades que o Banco impõe para desanimar e desacreditar os agricultores quanto a liberação dos recursos, como; pedir um documento de manhã, à tarde pedir outro documento e a demora em ser aprovado o financiamento. Isso tudo... acaba provocando desânimo, porque cada vez é preciso se deslocar do sítio até a cidade para levar esses documentos. Do contrário, caso demore a levar, isto seria motivo para atrasarem ainda mais a liberação do recurso, sob a alegação de que os agricultores estariam desinteressados. (Ibidem, p. 28)

Neste

ponto

há evidências

que

reafirmam

características que

são

mencionadas pelos entrevistados sobre as diferenças com que grandes e pequenos agricultores são tratados pelas agencias financeiras tradicionais. Aproximando sobre as considerações de que entre as vantagens da CRESOL está o fato de que são os próprios agricultores que estão na direção das cooperativas, isso faz com que o cooperados reconheça a CRESOL nele mesmo.

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No entanto, diferentemente dessas relações de disputas entre a CRESOL e o Banco do Brasil, há uma característica singular sobre as relações de poder na cooperativa, no que diz respeito a seleção dos seus cooperados, pois nem todos os pequenos agricultores são bem visto pela cooperativa. O que acontece, segundo o entrevistado, é que se um dos cooperados não cumprir com os compromissos de empréstimo, é a própria cooperativa que terá que arcar com a dívida, seja ela contraída com o BNDES ou com o Banco do Brasil. Isso ocorre justamente porque há uma parcela de agricultores que já é vista como mau pagadora. Ademais, a cooperativa possui um conselho fiscal, formado pelos próprios cooperados, que não aprovam a adesão na cooperativa projetos de financiamento de agricultores que estejam sujos na praça. Lembra, sobre um determinado agricultor da cidade, que nem que ele vendesse tudo que tem, não paga o que deve no Banco. Como aceitar ele na cooperativa? Ainda mais querendo logo de início empréstimos. (Ibidem, 2015, p. 29)

Portanto, essas informações apontam uma singularidade das dinâmicas de poder do crédito cooperativo da CRESOL no campo. A característica principal é de que os próprios agricultores podem disputar entre si. Assim um dos pontos de vista é que essas disputas colocam em evidência o sistema cooperativo e a solidariedade que defendem. Sendo necessário que as análises avancem para além do acesso ao crédito em si e demonstre o papel do Estado e da política de financiamento. Se por um lado a cooperativa transmite uma ideologia para a democratização do acesso ao financiamento, por outro, tende a se fechar e restringir a organização dos cooperados que podem cumprir com suas dívidas, desde que estejam dentro do “padrão” aceitável para compor o quadro. Existem ainda normas e legislações que direta ou indiretamente cobram das organizações o seu cumprimento. As relações, embora aparentemente democráticas, são mediadas a partir de relações econômicas, que, neste caso, podem definir ou restringir o acesso ao sistema de crédito. De outra forma, essas relações de poder, não se restringem apenas ao lugar, pois o Estado tem papel fundamental nas mesmas. (Ibidem, p. 29)

Embora por um lado a CRESOL possui características na direção da autonomia dos agricultores cooperados, por outro lado, as políticas de financiamento das cooperativas não favorece o sistema. “O Estado, como promotor de políticas, não consegue responder às demandas da sociedade, já que essas relações passam a ser definidas na esfera econômica”. Evidenciando aquilo que apresentamos na introdução deste trabalho, a multiplicidade de dimensões do poder. Essas dimensões de poder locar, institucional, político, financeiras, etc. relacionam-se

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podendo comprometer “o nível de organização democrática que se quer aceitável”. E o “Estado pouco consegue obter controle, mesmo se tratando de uma política pública”. Assim seus resultados devem ser contestados levando em consideração “as relações de poder na escala local, ou ainda, uma escala de poder local que reproduz a escala de poder política nacional” (Ibidem, p. 29). Todas essas características sobre as dinâmicas de poder de crédito no campo da cooperativa de crédito CRESOL indica ser uma forma diferente de “instrumento de classe para definir o acesso/exclusão entre aqueles que estão aptos a serem cooperados” (Ibidem, p. 29). Essas relações de poder na escala local de uma cooperativa, que têm como sua principal marca a solidariedade entre os cooperados, pode apontar, na verdade, para outras formas de poder e dominação.

3-Considerações Além dos objetivos gerais e específico, há um implícito que é apresentar os resultados da pesquisa de mestrado em geografia no XI Encontro Nacional da ANPEGE (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia), ao saber que é o principal meio de divulgação das discussões das pesquisas de PósGraduação em geografia do Brasil5. Dos objetivos da pesquisa, optou-se por enfatizar o crédito cooperativo da CRESOL como parte de uma totalidade das dinâmicas de poder do crédito no campo. Diante deste pressuposto e das categoriais apresentadas resumidamente e inter-relacionadas de Estado, crédito e território. Tanto o sistema cooperativo da CRESOL em si, como as instituições financeiras tradicionais, o Estado, bem como as políticas de crédito destinadas ao campo, reforçam o pressuposto de uma totalidade não sendo possível analisá-las separadamente. De modo específico, as evidências sobre essas dinâmicas de poder e acesso ao crédito pelos agricultores, sejam eles acessados pela CRESOL ou mesmo pelas instituições financeiras tradicionais, demonstram várias especificidades. A exemplo do mencionado no trabalho sobre as diferenças que os agricultores dizem ser 5

Como mencionado na introdução em nota, este trabalho é resultado da pesquisa de Mestrado em geografia já tendo sido parcialmente publicado em periódicos, dos quais podem ser consultados e estão citados nas referências.

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tratados. No entanto uma das bandeiras principais defendidas pela CRESOL é a da interação solidária entre seus membros, podem indicar outras características sobre tais dinâmicas de poder. Devido ao próprio fato de que todo o arcabouço institucional da CRESOL estabelecido pelo Banco Central é o mesmo das chamadas tradicionais cooperativas de crédito, portanto, esta organização cooperativa apresenta restrições à democratização do acesso ao crédito. Os próprios cooperados admitem que nem todos agricultores podem ser aceitos, pois o risco de inadimplência pode comprometer a permanência do sistema.

4-Referências bibliográficas

BRASIL. Banco Central do. Anuário Estatístico do Crédito Rural. http://www.bcb.gov.br/?RED-RELRURAL. Acesso em 12 de outubro de 2013. CRESOL. Base Regional de Serviços de Paranavaí. Evolução das Cooperativas. Paranavaí: CRESOL, 2013. HAESBAERT, R. O Mito da Desterritorialização: Do “Fim dos Territórios” à Multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010. IBGE. Agricultura Familiar no Brasil e o Censo Agropecuário 2006. http://www.ibge.com.br. Acesso em 16 maio 2010. IBGE. Micro e Mesorregiões Geográficas http://www.ibge.com.br. Acesso em 20 junho 2013.

do

Estado

do

Paraná.

KARAS, Tiago Satim. Dinâmicas de Poder do Crédito no Campo. AGB-TL, v. 1 n. 20, p. 126-158, nov. 2014 KARAS, Tiago Satim. Dinâmicas de Poder do Crédito no Campo: o caso da Cooperativa de Crédito Cresol no Noroeste do Paraná. Geografia em Questão, v. 8 n. 1, p. 9-35, mar. 2014 MARTINS, José de Souza. As Temporalidades da História na Dialética de Lefebvre. In MARTINS, J. S. (org). Henri Lefebvre e o Retorno à Dialética. São Paulo: Hucitec, 1996. RAFFESTIN, C. Por Uma Geografia do Poder. São Paulo: Boi Tempo, 1993. SANTOS, Milton. Espaço e Método. São Paulo: Edusp, 2012.

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