Coração pulsante do Evangelho

July 22, 2017 | Autor: Moisés Sbardelotto | Categoria: Teologia, Teología, Teologia Contemporânea, Igreja Católica, Papa Francisco
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Religião

Francisco

CORAÇÃO PULSANTE

DO EVANGELHO Papa Francisco divulga a “bula de proclamação” do Ano Santo e com ela o “remédio da misericórdia”

Moisés Sbardelotto *

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epois do anúncio-surpresa de um Jubileu da Misericórdia, o papa Francisco divulgou, no último dia 11 de abril, a “bula de proclamação” do Ano Santo, intitulada Misericordiae Vultus (“o rosto da misericórdia”). O termo bula, que indica um tipo de documento papal, vem do antigo selo que fechava as cartas pontifícias, em formato de bola (bulla), podendo ser de prata ou chumbo. Hoje, corriqueiramente, bula também é um folheto explicativo que acompanha um medicamento. E o novo texto papal pode ser lido como ambas as coisas, porque apresenta o “remédio da misericórdia”, conforme a expressão de São João XXIII, retomada por Francisco. Nela, o papa indica o “porquê”, o “como”, o “para quem” e o “para quê” de mais essa novidade do pontificado. 44

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O “porquê” pode ser resumido em poucas palavras, nas quais se encontra o mistério da fé, segundo Francisco: “Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai” (no 1). Mas por que misericórdia? Porque, nela, “temos a prova de como Deus ama. Ele dá tudo de si mesmo, para sempre, gratuitamente e sem pedir nada em troca” (no 14), diz o papa. Porque a misericórdia é “o coração pulsante do Evangelho” (no 12) e a “arquitrave que sustenta a vida da Igreja” (no 10). Hoje, afirma, “somos chamados, de maneira ainda mais intensa, a fixar o olhar na misericórdia, para nos tornarmos, nós mesmos, sinal eficaz do agir do Pai” (no 3). Por isso, o lema escolhido para esse Jubileu é um chamado à vivência concreta da fé: “Misericordiosos como o Pai” (Lc 6,36). A partir desse panorama, Francisco

sugere o “como” do Jubileu, ou seja, o modo pelo qual toda a Igreja poderá viver esse ano, que começará no próximo dia 8 de dezembro, festa da Imaculada Conceição de Maria. Essa celebração, salienta o papa, lembranos de que “perante a gravidade do pecado, Deus responde com a plenitude do perdão. A misericórdia será sempre maior do que qualquer pecado, e ninguém pode colocar um limite ao amor de Deus que perdoa” (no 3). Como sinal disso, está o símbolo da abertura da Porta Santa, que, segundo o papa, será também uma “Porta da Misericórdia, onde qualquer pessoa que entre poderá experimentar o amor de Deus que consola, perdoa e dá esperança” (no 3). E aqui surge mais uma novidade bem ao “estilo de Francisco”: a descentralização do próprio Jubileu. Historicamente, os

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Anos Santos traziam consigo uma forte marca “romana”, pois se tratava de peregrinar até o centro geográfico do catolicismo. Contudo, o papa estabelece agora que, em cada diocese, nas catedrais, santuários ou em outra Igreja de significado especial, também se abra uma Porta da Misericórdia. Assim, “cada Igreja particular estará diretamente envolvida na vivência deste Ano Santo como um momento extraordinário de graça e renovação espiritual”. A celebração descentralizada quer ser “sinal visível da comunhão da Igreja inteira”. Isso porque, para Francisco, “onde a Igreja estiver presente, aí deve ser evidente a misericórdia do Pai. Nas nossas paróquias, nas comunidades, nas associações e nos movimentos – em suma, onde houver cristãos –, qualquer pessoa deve poder encontrar um oásis de misericórdia” (no 12). Depois de revisitar algumas modalidades para viver o Jubileu – como a escuta da Palavra (no 13), as peregrinações (no 14), as obras de misericórdia corporal e espiritual (nos 15-16), a Quaresma e a iniciativa “24 horas para o Senhor” (no 17) –, Francisco lança outra inovação: o envio de Missionários da Misericórdia a toda a Igreja da Quaresma de 2016. Tais sacerdotes receberão do papa a autoridade de perdoar até mesmo os pecados cuja remissão é reservada à Sé Apostólica, ou seja, casos muito graves em que a própria pessoa se exclui da comunhão eclesial ao cometê-los: por exemplo, profanação e sacrilégio com as espécies consagradas, consagração de um bispo sem mandato pontifício, violação do sigilo sacramental da confissão. A intenção do papa é de que

“A misericórdia será sempre maior do que qualquer pecado, e ninguém pode colocar um limite ao amor de Deus que perdoa”

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No dia 8 de dezembro, o papa Francisco abrirá esta Porta Santa, da Basílica de São Pedro, que será então uma Porta da Misericórdia

Tempo favorável para mudança – E “para quem” se dirige esse Jubileu? O papa deixa clara a grande abrangência do evento, quando deseja que “a todos, fiéis e afastados, possa chegar o bálsamo da misericórdia” (no 5) e que “o chamado para experimentar a misericórdia não deixe ninguém indiferente” (no 19). Mas há algumas pessoas a quem Francisco se volta de modo particular: os “homens e mulheres que pertencem a um grupo criminoso, seja ele qual for” e “as pessoas promotoras ou cúmplices de corrupção (…) chaga putrefata da sociedade”(no 19). A ambos os grupos, o papa diz:“Este é o momento favorável para mudar de vida! Este é o tempo de se deixar tocar o coração. Diante do mal cometido, mesmo crimes graves, é o momento de ouvir o pranto das pessoas inocentes espoliadas dos bens, da dignidade, dos afetos, da própria vida”. Por fim, podemos entrever o horizonte ao qual o papa dirige a Igreja, o “para quê”desse Ano Jubilar. Primeiro, Francisco olha para o futuro, “para a construção de uma história fecunda com o compromisso de todos no futuro próximo. Como desejo de que os anos futuros sejam permeados de misericórdia para ir ao encontro de todas as pessoas, levando a bondade e a ternura de Deus!” (no 5). O papa também aponta para a superação das fronteiras da Igreja e para a promoção do encontro com outras tradições religiosas, como o judaísmo e o islamismo, que consideram a 46

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esses missionários sejam um “sinal vivo de como o Pai acolhe a todos aqueles que estão em busca do seu perdão” (no 18).

misericórdia como um dos atributos mais marcantes de Deus. A intenção é de que o Ano Jubilar “nos torne mais abertos ao diálogo, para melhor nos conhecermos e compreendermos; elimine todas as formas de fechamento e desprezo e expulse todas as formas de violência e discriminação” (no 23), também inter-religiosas. É ainda um Jubileu que nasce do caminho sinodal da Igreja sobre “a realidade da família de hoje em toda a sua complexidade, nas suas luzes e nas suas sombras”, como diz o Lineamenta do próximo sínodo. E aqui podemos pensar na abordagem pastoral da Igreja em torno da vida afetiva, dos namorados, dos noivos, dos recém-casados, dos casais

que coabitam, dos separados, dos divorciados, das famílias monoparentais, das pessoas com orientação homossexual etc. Diante dessas realidades, Francisco lembra que justiça e misericórdia não se contrapõem, mas se articulam em uma mesma realidade, até chegar à plenitude do amor. “Se Deus se detivesse na justiça, deixaria de ser Deus; seria como todos os homens que invocam o respeito da lei. (…). Deus vai além da justiça, com a misericórdia e o perdão” (no 21). * Moisés Sbardelotto é jornalista, mestre e doutorando em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), no Rio Grande do Sul, e La Sapienza, em Roma. É também autor de E o Verbo se Fez Bit (Editora Santuário).

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