Coroa e poder: a estrutura política dos reinos anglo-saxões no século VII e VIII

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Coroa e poder: a estrutura política dos reinos anglo-saxões no século VII e VIII Kauê Junior Neckel1 Renato Viana Boy2

Introdução Dentro da historiografia tradicional, muito se tem pensado o estado como forma de exercício do poder. O campo da política é amplo, principalmente quando referenciados no âmbito de sua própria ciência, a ciência política. Entretanto, o estudo da ciência política também possui sua influência dentro da história, porém, suas discussões tratadas em primeiro plano, tendem a ser muito limitadas ao poder na Idade Antiga, com a pólis grega e o Império Romano e só voltam a ser discutidas na Idade Moderna, com o surgimento dos estados absolutistas. Pegando o exemplo de um tradicional cientista político, Norberto Bobbio (1980, p. 77) em sua obra “A teoria das formas de governo” onde Bobbio recapitula os exercícios do poder nos diferentes períodos do tempo, Bobbio dá a Idade Média, apenas um pequeno capítulo chamado de “Intervalo”. Levanta-se aqui a pergunta, se Bobbio dá um pequeno capítulo ao poder no medievo chamado de “Intervalo” então, não há estado na Idade Média? Esta pressuposição domina o senso comum. Quando relacionado ao poder na Idade Média, muito se afirma que o poder no medievo estaria limitado ou ao poder da igreja ou às relações verticais que estimulariam o feudalismo. Entretanto esquece-se de uma instituição essencial nas organizações sociais medievais: a coroa. É justamente neste ponto que este trabalho pretende fazer seus estudos. Tentaremos perceber, daqui em diante, a esfera do estado nas sociedades anglo-saxônicas, centrados principalmente nos estudos relacionados aos séculos VII e VIII, tempo este que é recheado de conflitos políticos internos e externos. Sendo assim, este é um recorte temporal determinante para compreender as estruturas de poder e suas relações nestas sociedades, objetivo principal 1 2

É graduando de licenciatura em História na Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS. Desde abril de 2015, vem desenvolvendo pesquisa junto ao LEME – Laboratório de Estudos Medieval (núcleo UFFS). E-mail: [email protected] É professor de História Antiga e Medieval na Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS e coordenador do núcleo UFFS do LEME – Laboratório de Estudos Medievais. E-mail: [email protected]

deste trabalho.

A Crônica Anglo-Saxônica Dentro de nossas problematizações, nosso trabalho se beneficiará da Crônica AngloSaxônica como fonte de informações. Este documento, é um documento escrito no século IX, a mando de Alfredo, o Grande (849 – 899) até então rei de Wessex. A partir das informações trazidas por Blair (1997, p. 339) é dito que neste documento procura se fazer um relato de todos os acontecimentos importantes para o povo Inglês desde o início da era cristã até o ano de 1154, quando a fonte deixa de ser escrita. A Crônica Anglo-Saxônica possui sete diferentes manuscritos, dos quais seis são escritos em anglo-saxão (ou Inglês antigo) e o sétimo é escrito parcialmente em latim e parcialmente em anglo-saxão. Ainda segundo Blair (1997, p. 337) o manuscrito mais velho é chamado de A, que é dividido entre o A¹ e o A². O A¹ está atualmente na biblioteca do Corpus Christi College, em Cambridge, Inglaterra. O A² está no museu britânico, este consiste em alguns fragmentos chamuscados, em decorrência de um incêndio que ocorreu no museu em 1731. Outros dois manuscritos são conhecidos como B, e relatam os eventos de 977 até pouco além do ano 1000. Um quinto manuscrito é o C, que relata em geral os acontecimentos do século XI. Outros dois manuscritos o D e o último, o E, são relacionados a um texto que saiu de Wessex e ficou um tempo no norte, provavelmente em York, os manuscritos D foram escritos por diferentes mãos até 1079, o resto dos acontecimentos até o ano de 1154 são relatados no E.3 A Crônica Anglo-Saxônica, apesar de ter começado a ser escrita somente no século IX, relata ao todo os acontecimentos desde a era cristã na ilha Britânica. O principal recorte que este trabalho se atentará são os séculos VII e VIII, que apesar de seus acontecimentos tiverem sido escritos posteriormente ao tempo em que aconteceram, eles estão de certo modo atrelados entre si. Portanto, cabe ao historiador ter o olhar definidor para absorver e dissociar as informações, uma vez que esta fonte é escrita a mando de uma coroa – o que já é significante para os relatos – e de certo modo influencia nossas problemáticas, sendo elas

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A versão da Crônica Anglo-saxônica que usaremos, é uma versão em inglês traduzida do idioma anglo-saxão (inglês antigo), pelo Rev. James Ingram (Londres, 1823) com edição e comentários adicionais pelo Dr. J. A. Giles (Londres, 1847). O texto da edição está baseado no que foi publicado como “The Anglo-Saxon Chronicle” (Everyman Press, Londres, 1912), que está sob domínio público nos Estados Unidos. Usaremos a edição eletrônica da fonte, disponibilizada pela Universidade de Yale (EUA) e disponível em: http://omacl.org/Anglo/ que foi editada, verificada e preparada por Douglas B. Killings em julho de 1996.

ligadas a história política. Deste modo, perceber as estruturas de poder e cadeias políticas em suas relações, é também perceber até onde vai a parcialidade da Crônica, nos atentando sumariamente a seus acontecimentos relacionados a estas trocas de poder.

Os personagens Este trabalho, terá por seu objetivo visualizar três personagens principais vinculados à Crônica Anglo-Saxônica: Penda de Mércia (626 – 656)4 e Offa de Mércia (755 – 794) e Cynewulf de Wessex (755 – 786). Os dois primeiros são analisados principalmente em decorrência de suas campanhas militares, das quais abalaram as estruturas políticas dos reinos vizinhos, exaltando o poderio e a soberania do reino de Mércia. Segundo a Crônica Anglo-Saxônica5, Penda obteve suas campanhas no século VII, expandindo a soberania de Mércia quase que inteiramente sobre os outros reinos anglo-saxões no período. Já Offa, foi um rei que expandiu novamente o reino de Mércia no século VIII, depois de um grande tempo de domínio da casa de Wessex, sua expansão está diretamente ligada a dois fatores: a expansão militar que tende a estremecer as estruturas políticas dos reinos vizinhos e também pelo próprio reino sofrer com as incursões vikings no fim de seu reinado.6 Este trabalho problematizará primeiramente a figura de Cynewulf de Wessex, percebido principalmente por sua liderança em um conflito interno. Segundo a Crônica Anglo-Saxônica7, Cynewulf tomou o poder após assassinar o antigo rei, Sebright (755 – 756), assumindo o poder através de um regicídio, incomum para as cadeias de poder relacionadas aos anglo-saxões. Abre-se uma problemática principalmente na figura de Cynewulf, pois conforme a Crônica, sua tomada ao poder não foi uma articulação vinda dele, mas sim de um “conselho”. No fragmento do ano de 7558, a Crônica relata a tomada de Cynewulf ao poder de Wessex, afirmando que sua ação foi em conjunto com um conselho de nobres da coroa de Wessex. O próprio manuscrito relata que Cynewulf era parente de Sebright e possuía o consentimento dos conselheiros – talvez por isso a tomada de poder não quebre uma dinastia 4 5 6 7 8

Todas as citações feitas neste trabalho com números entre parentes são correspondentes ao período do reinado. Part 1: A.D. 1 – 748 A Crônica Anglo-Saxônica relata a primeira presença viking na ilha no ano de 789, tempo que Offa ainda goverrnava. Part 2: A.D. 750 – 919 Part 2: A.D. 750 – 919 Part 2: A.D. 750 – 919

– o manuscrito também traz que Cynewulf possuía o apoio de grande parte do reino, sendo que Sebright exilou-se em Hampshire, e depois foi morto pelo próprio Cynewulf na floresta de Andred.9 É importante ressaltar a complexidade para entender tal evento. Segundo Arnold (1997, p. 136) “As políticas Anglo-Saxônicas, em suas numerosas associações reais, reinados conjuntos e as possíveis implicações para a divisão de território são extremamente complexas”10. Desta forma, este evento se mostra como complexo, pois é uma referência detalhada e direta no que se remete as estruturas políticas anglo-saxônicas fazendo referência a seus personagens.11 Ainda dentro da complexidade das sociedades anglo-saxônicas, é possível perceber em Classen (1978, p. 640 apud Arnold, 1997, p. 167): “Uma organização sócio-política centralizada para a regulação das relações sociais estratificadas na complexa sociedade dividida em ao menos dois estratos básicos ou classes sociais emergentes – os governantes e os governados – das quais reações são caracterizadas por domínio político das antigas e tributárias obrigações deste último, legitimadas por uma ideologia comum da qual a reciprocidade é um princípio básico.”

Assim, é possível confirmar a tese de que Cynewulf chega ao poder, mas não se quebra a linhagem real. Uma vez um nobre comum, ou sequer ou um súdito comum – coisa inconcebível, pelo menos ao período no que foi aqui por este trabalho estudado – teriam maiores dificuldades ao convocar a quantidade de “conselheiros” – o termo será problematizado mais adiante, junto à semelhante situação nos acontecimentos de Offa de Mércia – o suficiente para a tomada de poder. Cynewulf possui sucesso justamente por ser parente – não é mencionado se é próximo ou não – de Sebright, rei em exercício que estava desagradando boa parte dos nobres do reino. Um outro personagem a nos atentarmos é Offa de Mércia. Como mencionado, Offa foi um rei de grande poderio militar, na Crônica Anglo-Saxônica seu nome é mencionado diversas vezes, sobretudo quando relacionados aos ataques contra os bretões e em guerra

O trecho em que é relatado estes acontecimentos possui comentários adicionais dos editores: “a descrição detalhada desta narrativa, combinada com sua simplicidade, prova que foi escrita em uma distância não tão grande do evento. Essa é a primeira vez que tal fato ocorre no manuscrito mais antigo da Crônica Anglo-Saxônica” (tradução livre). 10 Todas as citações que foram feitas neste trabalho foram traduzidas livremente a partir da bibliografia, que se encontra em inglês. 11 Apesar do livro de Arnold ser voltado a um estudo arqueológico da sociedade anglo-saxônica, neste trecho em especial ele disserta diretamente sobre as fontes escritas. A Crônica Anglo-Saxônica é tida como quociente íntimo de suas conclusões, isto é, o próprio Arnold também admite (1997, p. 167) o uso das fontes escritas para seu trabalho. Caracterizando assim o livro como de confiança para problematizações sobre a Crônica.

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contra o próprio rei Cynewulf de Wessex, posteriormente. A partir das conclusões feitas por Cowie (2001, p. 179) Offa também é conhecido como o construtor do dique de Offa (do inglês: Offa's Dyke) que é o fosso que foi usado para separar as terras de Mércia e dos bretões. Também segundo Farr e Brown (2001, p. 4) Offa foi um rei que teve contato com Carlos Magno. No entanto, este trabalho se atentará ao fragmento da crônica referente ao ano de 75512, onde é relatado Offa de Mércia tomando o poder, quebrando uma linha de sucessão.13 Neste trecho do manuscrito, Offa é mencionado brevemente, mas a Crônica indica que ele veio a governar Mércia tomando o poder Bernred (755 – 755), que por sua vez, chegou ao reinado quando Æthelbald de Mércia (714 – 755) foi morto.14 Segundo a Crônica, o motivo que veio a Offa tomar o poder é que no reinado de Bernred não houve “prosperidade”. No entanto, o trecho não diz que Bernred foi morto, indicando que ele pode ter se exilado, ao contrário de Sebright em Wessex, onde a Crônica afirma que o mesmo foi morto, mesmo após o exílio em Hampshire. Segundo Farr e Brown (2001, p. 8), “Offa pode ter absolvido as lições de Æthelbald no que concerne ao subjugamento dos homens”, isto pode indicar que Offa pode ter sido, de certo modo, um sucessor de Æthelbald nos modos de governo. Isto pode indicar muito sobre a continuação de poder, quebrando certas volatilidades de governo que podem ser observadas em trocas de reinados do período. A Crônica Anglo-Saxônica não confirma se Offa tinha ou não parentesco com Bernred ou Æthelbald. Farr e Brown (2001, p. 9) analisam: “O governo tão freneticamente forjado e exercido por uma série de poderosos governantes de Mércia – notadamente Æthelbald (716 – 757), Offa (757 – 796)15 e Coenwulf (796 – 821) – não foi apoiado por uma continuidade dinástica, apesar de haver esforços de Offa para a promoção de uma ancestralidade em comum.”

Assim, é perceptível que Offa tomou o poder através da força, não havendo ligação dinástica. Também não é mencionado qual era a posição de Offa antes de se tornar rei de Mércia, visto a existência de um conselho de representantes ou condes, titulações estas do

12 Part 2: A. D. 750 – 919 13 Neste ano, relata-se mais detalhadamente os acontecimentos referentes a tomada de Cynewulf ao poder, em Wessex, apenas mencionando brevemente a tomada de Offa ao poder. Isto pode ser relacionado com o fato da Crônica ter sido escrita a mando de Alfredo, que então era rei de Wessex. 14 Part 2: A. D. 750 – 919 15 Há divergências entre a data exata de reinado de Offa, entretanto, optamos por usar as datas que a Crônica AngloSaxônica indica.

qual este trabalho posteriormente se problematizará. É necessário mencionar também, que, mesmo que não houvesse ligação sanguínea com os reis anteriores, houve a preocupação de Offa para estabelecer uma ligação, mesmo que falsa. Deste modo, esta preocupação em uma ligação sanguínea para com o trono pode indicar o que já é característico das estruturas de poder, de que o governante principal deve fazer parte de uma linhagem dinástica real e nobre. Apesar de não mencionado, é muito provável que Offa venha a ter uma posição, antes de se assumir rei, ao menos privilegiada dentro das estruturas políticas anglo-saxônicas. Uma vez que conforme mencionado quando nos problematizamos sobre Cynewulf, uma tomada de poder de um súdito comum, sobretudo no que se diz à coroa, seria altamente improvável. Um último personagem para brevemente analisarmos é Penda de Mércia. Penda foi um rei de Mércia entre os anos de 626 e 65616. Comparados a reis posteriores, pouco é retratado de Penda na Crônica Anglo-Saxônica, sendo assim, não nos atentaremos a um trecho comum para problematizar a figura de Penda. No entanto, sua menção é necessária justamente por envolver a primeira menção ao reino de Mércia. Conforme percebido por Yorke (2001, p. 18) a primeira menção a Mércia como um reino é a partir da coroação de Penda 17, sendo assim, coloca-se como um importante personagem para o estudo de Mércia, que foi um dos reinos que mais ganha destaque e poder no território da Britânia, sobretudo no século VII. Ainda é necessário mencionar que no ano de 64218, Penda é mencionado como o “rei dos Soutúmbrios”, possivelmente indicando que seu poder cresceu consideravelmente, onde possivelmente tenha tomado as terras ao sul do estuário do Humber. Esta tomada de poder pode indicar que conforme Penda vai anexando territórios, o conjunto de sua estrutura política também vai aumentando, sugerindo aí uma espécie de ruptura política em relação aos reinados anteriores. Conforme Yorke (2001, p. 18), Penda também pode ser tomado como um libertador do reino de Mércia contra o subjugamento anterior aos reinos nortenhos. Confirmando a tese da ruptura política perante os outros reinados anglo-saxões e fortalecendo o fato de que foi o primeiro rei a ser mencionado na Crônica Anglo-Saxônica como rei de Mércia, começando aí uma nova dinastia para com o reino, sugerindo novas estruturas de poder.

16 Part 1: A. D. 1 – 748 17 A fonte que Barbara Yorke se problematiza é a História Eclesiástica do Povo Inglês, entretanto ao trecho referido ela faz uma breve análise sobre os fatos relatados na Crônica Anglo-Saxônica.

18 Part 1: A. D. 1 – 748

Por fim, é importante ressaltar também é que este conjunto de ações em Wessex e Mércia, pelo menos no que se tem conhecimento a partir da Crônica, é tomada como uma ação aparte da igreja. Estes trechos, portanto, são diretos para o propósito principal deste trabalho, que é verificar as ações tomadas de uma coroa, sem, ou com pouco, contato do clero.19 Mesmo assim, os trechos problematizados se mostram válidos como pontapé principal das problematizações que pretendemos fazer para além deste trabalho.

Estruturas e titulações Dentro das cadeias de poder percebidas por este trabalho, a figura do rex, do thegn e do ealdorman (alderman) podem ser tidas como figuras-chave para o entendimento das estruturas políticas relacionadas ao período. No que se refere a titulação de “ealdorman” dentro da Crônica Anglo-Saxônica, apenas é percebido como a posição do conselheiro,20 posição esta que é inúmeras vezes mencionada no manuscrito, porém, dentro da bibliografia especializada a palavra “alderman” é substituída por termos alternativos. A caracterização do ealdorman portanto, se remeteria a uma posição de uma espécie de “conde”. Na Crônica Anglo-Saxônica21 vincula-se o termo do alderman ao council, que seria o conselho. Portanto, tanto “conde” como “conselheiro” poderia ser válido para retratar esta posição. Chega-se a conclusão, desta forma, que este conselho de nobres teria importante influência na escolha do rei, conforme o que aconteceu com a escolha de Cynewulf, no ano de 755 na Crônica como aqui já mencionado. A forma que olhamos este trecho do manuscrito é, então, relacionada com o exercício de poder dos aldermans, com seu poder de legitimação do regicídio de Sebright e com a coração de Cynewulf no poder. No entanto, há discrepâncias no trato da questão das titulações dentro das próprias fontes. Arnold (1997, p. 207) afirma que a questão do rex é mencionada sobretudo na História

19 Outra informação importante, é que mesmo a Crônica ter sido escrita a mando de Alfredo, o Grande, ela ainda foi escrita sob regime monástico. Desta forma, é percebido em Abels (2013, p. 14) que é provável ainda que Alfredo tenha interferência direta aos acontecimentos mencionados nos trechos problematizado, entretanto ainda não é possível perceber quais são suas interferências, nem de que modo foram feitas. 20 Traduzido do inglês “alderman”, que vem do anglo-saxão “aldormon”, “aldormonn” ou “ealdormon”. Pela tradução seria tido como alguém nobre, mas a própria idade também poderia ser fator de interferência na posição, pois “alderman” vem do inglês “elder”, que pode ser traduzido como “ancião”. 21 Part 2: A.D. 750 – 919

Eclesiástica do Povo Inglês, de Venerável Beda22. Ainda segundo Arnold (1997, p. 208) a questão do rex é tida como tradução para “rei”. Yorke (2003, p. 157) também afirma que as análises referentes a esta titulação é percebida em Beda. Deste modo, no que se refere ao rex, pouco é mencionado na Crônica, tanto que a questão da palavra “rei”, dentro do manuscrito, varia da palavra em anglo-saxão “cyning” que usava-se para descrever a posição do rei, portanto a palavra rex para definir a titulação do rei a partir de nossas fontes não mostra-se válido. Como já mencionado, a Crônica Anglo-Saxônica, sobretudo nos manuscritos que usamos como fontes, estão escritos originalmente em anglo-saxão, portanto a palavra “cyning” se apresenta muito mais útil quando relacionada à Crônica.23 Por último, a titulação de thegn não é mencionada na Crônica Anglo-Saxônica. Entretanto, no que se refere à bibliografia especializada, Arnold (1997, p. 175) menciona thegn como uma titulação dada a guerreiros nobres, ainda problematizando na titulação dos ceorl, trazendo que seriam guerreiros livres, mas sem nobreza. É importante ressaltar, que neste trecho, novamente Arnold deixa claro que esta titulação está ligada às fontes documentais. Por fim, as titulações mencionadas à nobreza se tornam como essenciais para se caracterizar as estruturas políticas do período. Seja no que se refere as altas titulações – como a questão do governante tido, em anglo-saxão como o rei, o cyning – ou mesmo na questão do thegn que aparece como uma titulação mais baixa – mas que ainda possui seu valor de nobreza – é necessário entender que este tipo titulação se envolve numa estrutura de poder maior e geral, que para além deste trabalho serão estudadas mais especificamente.

Conclusão A partir das problematizações propostas por este trabalho, pode-se concluir que o trato às titulações de nobreza mostra-se como tópico essencial para o estudo das estruturas de poder. Partindo da análise destes posicionamentos nas cadeias políticas, tirar-se-ão conclusões

22 É importante mencionar que no trabalho apresentado nesta edição da ANPUH/SC, não teremos um trato relacionado à História Eclesiástica, apenas nos atentaremos em relação à Crônica Anglo-Saxônica. Entretanto em trabalhos posteriores, pretendemos expandir o escopo adicionando a obra de Venerável Beda como fonte para análises futuras. 23 Antes de problematizar a questão do rei para os anglo-saxões é necessário definir o conceito de reino. Para Hindley (2006, p. 2) a própria constituição do reino deve ser definida mais precisamente. Entretanto, este trabalho não se prezará a esta questão pois seria necessário uma maior carga de leituras especializadas para esta definição. Tampouco é a proposta que este trabalho se pretende, pois o grande foco é a problematização das titulações e sua posição dentro da estrutura do reino.

para as mutações de poder nos diferentes reinos anglo-saxões, percebendo assim suas variações entre reinados. Para explicar o reinado de um determinado rei, portanto, será necessário partir de estruturas referentes a estas análises. Desta forma, o estudo das estruturas políticas, sobretudo atentado ao reinado de Cynewulf de Wessex, Offa de Mércia e Penda de Mércia mostram-se como um tópico ainda em construção, deixando assim às etapas posteriores que este trabalho enfrentará, estudos mais específicos sobre os tópicos que aqui são abordados. Os reis aqui são problematizados por diferentes características, que se tornam intrinsecamente ligadas com o ambiente político de seus reinados. Assim, em análises e problematizações futuras, se tomarão estes três reis como figuras-chave para se estudar as estruturas políticas dos reinos anglosaxões do século VII e VIII.

Fonte THE ANGLO-SAXON CHRONICLE. Londres: Everyman Press, 1912. Disponível em: acessado em 25/05/2016. Referências bibliográficas ABELS, Richard. Alfred the Great: War, kingship and culture in Anglo-Saxon England. 2. ed. New York: Routledge, 2013. ARNOLD, C. J.. An Archaeology of the early Anglo-Saxon Kingdoms. 2. ed. New York: Routledge, 1997. BLAIR, Peter Hunter. Anglo-Saxon England. 4. ed. Londres: The Folio Society, 1997. (A History of England). BOBBIO, Norberto. Intervalo. In: BOBBIO, Norberto. A teoria das formas de governo. 10. ed. Brasília: Unb, 1980, p. 77-82. Tradução e: Sérgio Bath. BROWN, Michelle P.; FARR, Carol A.. Mercia: An Anglo-Saxon Kingdom in Europe. Leicester: Leicester University Press, 2001. CAMPBELL, James. Essays in Anglo-Saxon History. London: The Hambledon Press, 1986. COWIE, Robert. Mercian London. In: BROWN, Michelle P.; FARR, Carol A.. Mercia: An Anglo-Saxon Kingdom in Europe. Leicester: Leicester University Press, 2001. p. 194-209. HALL, John. R. Clark. A concise Anglo-Saxon Dictionary. 2. ed. Nova York: Cambridge University Press, 1916.

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