Corpo dourado do sol de Ipanema

July 16, 2017 | Autor: Rodrigo Bouillet | Categoria: Cinema
Share Embed


Descrição do Produto

Corpo dourado do sol de Ipanema Rodrigo Bouillet Organizador do Cineclube Tela Brasilis [email protected] Texto para a segunda sessão comemorativa de 1 ano do Cineclube Tela Brasilis realizada na Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro em 29 de julho de 2004. A exibição de Garota de Ipanema (dir. Leon Hirszman, 1967) foi antecedida pelo curta Chico Buarque, um Retrato em Preto e Branco (dir. Flavio Moreira da Costa, 1968) e seguida de debate com o crítico José Carlos Avellar e com a atriz do filme Márcia Rodrigues. Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça. Um filme sobre a garota de Ipanema, claro, justo, começa no doce balanço, a caminho do mar. Márcia (Rodrigues), moça de dezessete anos, corpo dourado, desfila seu modelito ao lado das madeixas loiras de seu namorado surfista. Corpos bonitos, seminus. Perto de Ipanema, o paraíso não tem nenhuma graça. Eis que chega um gringo com uma câmera e, encantado com a beleza da garota, quer filma-la. A recusa do namorado surfista ao alimento narciso surge como um alerta à Márcia. A garota de Ipanema não pode ser de ninguém, não pode ser tua nem minha também. Márcia logo confidencia à amiga Regina a vontade de ser caçadora ao invés de caça. Mais tarde o (ex) namorado irá também entender que a beleza não é só minha, a beleza passa sozinha. A proposta do diretor Leon Hirszman, a partir da música de Vinicius de Morais, era de transferir para um espectador menos específico o projeto e a estética do cinema novo. Torna-lo popular. Para isso, busca num exemplo anterior bastante bem sucedido na trajetória do cinema brasileiro, que conquistara efetivamente as platéias nacionais. Encontra os filmes com números musicais, de Adhemar Gonzaga (como, entre outros, Alô Alô Carnaval) e posteriores. Filmes que se apropriavam do sucesso dos cantores e das cantoras de rádio, inseriam números musicais ao leu e filmavam sucessos já garantidos antes mesmo de seu lançamento. Filas homéricas pelas praças da Cinelândia. O tempo é outro e os cantores e músicos de sucesso da época também são outros. Alguns consagrados da música brasileira figuram fazendo pequenas pontas, como Vinicius de Moraes e Baden Powell. Também participam da festa nomes da literatura nacional como Fernando Sabino, Rubem Braga e Ziraldo. Enquanto isso, para os outros recentes talentos da nossa música, como um Chico Buarque de Hollanda, então com seus vinte e três anos, fica sob responsabilidade a maior parte dos números musicais. No entanto, a grande diferença para os filmes carnavalescos de até então está na maneira como essas participações são incorporadas. Pois, se antes se escreviam pequenos diálogos apenas como pretexto de separarem um número musical de outro,

em Garota de Ipanema nossos artistas atuam como coadjuvantes da trama. Márcia, como uma boa menina de família rica e culta, freqüenta a intelectualidade carioca, e assim, assiste às grandes rodas de samba e choro com presenças ilustres garantidas. Márcia, porém, não tem o perfil do intelectual jovem retratado pelo cinema novo. Embora estuda para o vestibular e passe para a PUC, e venha de uma família com algum particular interesse pelas artes clássicas, e freqüente as rodas de samba badaladas, seus interesses transitam mais em desfilar seu corpo deslumbrante em pequenos biquínis pelas praias de Ipanema e aproveitar os sabores da vida. Márcia não quer ser ativista socialista, tampouco partidária dos militares. Porque os últimos dez militares no governo importam tanto quanto importa a nova filha de Pelé. As facetas de Márcia poderiam ser diversas, mas Márcia é a garota de Ipanema, e basta. Ah, se ela soubesse que quando ela passa o mundo inteirinho se enche de graça e fica mais lindo por causa do amor.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.