Corpos Transfigurados: sociologia do corpo pós-humano e as distopias contemporâneas

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Corpos Transfigurados: sociologia do corpo pós-humano e as distopias contemporâneas Eduardo Marks de Marques1

Toda vez que estudiosos de literatura pensam a respeito da definição de distopia, torna-se inevitável não pensar nos três exemplos clássicos do gênero no século XX: Nós (1921), de Yevgeny Zamyatin, Admirável Mundo Novo (1937), de Aldous Huxley e 1984 (1949), de George Orwell. O que a grande maioria dos leitores desconhece, no entanto, é que os três romances supracitados pertencem ao que alguns críticos costumam chamar de segunda virada distópica, sendo que a primeira delas é constituída de sátiras sobre as concepções trazidas pelo Iluminismo de uma vida vivida de acordo com os princípios da razão (CLAEYS, 2010, p. 110) logo após a Revolução Francesa e cujo objetivo principal era expor as falhas da razão como um princípio de organização social e política. Em seu ensaio intitulado “The Origins of Dystopia: Wells, Huxley and Orwell” (2010), Gregory Claeys afirma que o que os romancistas acima compartilham naqueles romances — e o que pode ser tido como o centro das distopias pertencentes à segunda virada — não é simplesmente uma crítica a diferentes formas de organização sócio-política, mas, sim, a aceitação da impossibilidade moderna de alcançar equilíbrio entre um sistema político que busca igualdade e um sistema econômico que deve manter ou erradicar as diferenças sociais e, ainda assim, conseguir manter intactas as individualidades pessoais. Nas duas obras mais importantes de tal tendência, os romances de Huxley e Orwell, apesar do tema óbvio da luta do homem-indivíduo versus o sistema (mostrando, assim, não a falha dos regimes totalitários em controlar todos os indivíduos mas, sim, a mensagem ainda mais poderosa de que qualquer forma de resistência é fútil), um dos principais elementos das distopias é o distanciamento do continuum histórico (através da criação de um novo continuum, em Huxley, e da constante reescrita do mesmo, em Orwell). Se, por um lado, as eutopias clássicas existem apesar da história, o advento do socialismo utópico — e de sua crítica por parte do Marxismo — traz a história para a equação como uma peça vital para a manutenção do sistema 1 PhD em Australian Literature and Cultural History (University of Queensland, 2007) com Residência Pós-Doutoral em Teoria da Literatura (Universidade Federal de Minas Gerais, 2014). Professor de Literaturas de Língua Inglesa na Universidade Federal de Pelotas. Líder do Grupo de Pesquisa Teoria e Crítica Literária e Cultural: Questões Contemporâneas e Metodologias de Ensino.

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