Corpus Daoísta: que fontes para o estudo do Daoísmo no Brasil?

July 12, 2017 | Autor: André Bueno | Categoria: Chinese Philosophy, Chinese Studies, Chinese literature, Taoism
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CORPUS DAOÍSTA: QUE FONTES PARA O ESTUDO DO DAOÍSMO NO BRASIL? ANDRE Num ensaio anterior, apresentamos algumas traduções do Daodejing 道德經, que consideramos viáveis para o estudo do pensamento e da religião daoísta no Brasil. Pudemos constatar que o Daodejing dispõe de versões boas e acessíveis, tornando-se tornando um ponto de partida seguro para uma compreensão mais ampla do pensamento chinês. O corpus rpus de obras daoístas, porém, é vastíssimo, e dele sabemos quase nada em nosso país. Quem quiser, pode consultar as relações de obras daoístas feitas por Fabrizio Pregadio Preg [http://www.goldenelixir.com] ou a de Kristofer Schipper e Franciscus Verellen [‘The [ Taoist Canon – a Historical Companion to the Daozang’ Daozang , 3 volumes, 2004], 2004 das quais a maioria não se encontra traduzida para os idiomas ocidentais. Muitos são apenas Tratados ratados e textos curtos; outras são volumes extensos, cujas traduções ainda estão praticamente ente em andamento, como no caso do Baopuzi 抱樸子 de Ge Hong 葛洪 [sécs. +3 +4].. Não é de estranhar, pois, a dificuldade de achar textos daoístas traduzidos no Brasil. Além m da carência de especialistas interessados nesse tema, a quantidade limitada de produções es para línguas ocidentais, bem como o reduzido público para as mesmas, torna pouco atraente o investimento na tradução e publicação de tais obras. De fato, dado o alto grau de especialização que a compreensão das mesmas envolve, é mais coerente que o pesquisador uisador aprenda chinês clássico e dedique-se dedique se a interpretação direta. Mesmo assim, não se pode negar que algumas obras do corpus daoísta se transformaram em clássicos da literatura, cuja leitura revela alguns aspectos importantes do pensamento e da cultura chinesa. Isso proporcionou a tradução de algumas obras chinesas para o português, seja pelo seu sucesso de divulgação no exterior, seja pelo interesse real na compreensão dessa civilização. Um ponto importante deve ser colocado aqui: embora eu critique constantemente nstantemente as abordagens superficiais do exoterismo, por outro lado, é o interesse assíduo desse grupo que tem motivado a realização dessas traduções, muitas

vezes com fins de consumo rápido, mas que acabam sendo divulgadas. Devemos lembrar que o mercado editorial vive de vender livros; mas, a par das publicações oportunistas, esse público tem sido disputado cada vez mais por traduções de qualidade, que acabam colaborando para a publicação de obras de referência [como no caso do Ijing de Richard Wilhelm ou de James Legge]1. Por um lado, esses textos podem encaminhar os exotéricos para uma leitura mais séria e profunda dos clássicos; por outro, eles revelam o profundo desinteresse da academia pelos temas asiáticos, evidenciando essa ausência gritante e problemática. Em resumo: a academia pode vociferar contra os exotéricos, mas muitas vezes, não tem nada a oferecer em troca, senão os conteúdos consagrados de sempre. Nessa fratura epistemológica, atuam então os mais diversos tipos de autores, desde aqueles em busca de visões alternativas - mas sérios em seus propósitos - até aqueles cujo oportunismo age em função do desconhecimento ou da obtusidade. Essa não é uma análise ampla e exaustiva do problema, que fique claro, mas nos remete à necessidade de constatar que, graças aos exotéricos, temos algumas obras daoístas traduzidas. São pouquíssimos os tradutores acadêmicos desse tipo de texto no Brasil, e com esse conjunto restrito, precisamos então nos conscientizar do material que temos em mãos, suas possibilidades e características, permitindo-nos assim visualizar que tipos de usos podemos fazer deles. Nessa apresentação, indicarei as traduções paulatinamente, por cada texto e/ou autor, buscando resenhá-las conforme suas características literárias e sinológicas. Ademais, obras não incluídas aqui implicam, como já disse em outras oportunidades, no meu desconhecimento acerca delas ou de que, segundo minha análise, não significam uma indicação relevante. Zhuangzi Zhuangzi 莊子 [-369-286?] foi o autor mais importante do Daoísmo filosófico depois de Laozi 老子, e sua obra tem se tornado, nos dias de hoje, uma referência importante no estudo sinológico. Ela tem sido abordada de maneira multifacetada, permitindo inferências no campo do pensamento, da religião, da linguagem, da história e das mitografias chinesas. A obra de Zhuangzi consiste em trinta e três capítulos, dos quais apenas sete são considerados 'originais', e por isso são chamados de 'internos' [‘nei pian’ 內篇]. É muito comum, portanto, que mesmo as versões de Zhuangzi em outras línguas tragam apenas esses capítulos tradicionais, deixando de fora aqueles que teriam sido adicionados posteriormente. Por se tratar de uma obra cuja estrutura está em prosa, composta por narrativas fabulares, o Zhuangzi permite um acesso diverso em relação a

obra de Laozi. Essa propriedade do texto permitiu que a tradução feita na obra de Lin Yutang [1945] fosse repassada ao português de forma linda, clara e correta. Em 'Sabedoria de Índia e China', 1945, os 'capítulos internos' apareceram apareceram pela primeira vez em nossa língua, no Brasil, e conservaram uma beleza extraordinária na tradução. Mesmo assim, passagens mais difíceis - algumas delas ligadas a questão da linguagem não perderam seu conteúdo e essência, sendo muito bem transpostas transpostas para o nosso idioma. Pode-se se dizer que essa tradução foi um caso feliz de adaptação, permitindo-nos permitindo uma leitura fácil e agradável. Ela também foi única até 1976, 1976 quando a versão de Thomas Merton erton foi lançada. Merton [1915 a 1968] era um monge cristão, profundamente interessado nas filosofias asiáticas, com as quais elaborou um fértil diálogo. 'A via de Chuang Tzu' é uma versão poética do texto chinês, comentada, cujo sentido religioso predomina sobre o cuidado na tradução. O texto - que foi versificado - dirigia-se se a busca de uma conexão espiritual e intelectual, se constituíndo como uma obra literária de significativo interesse antropológico e filosófico. Embora a visão de Merton prevaleça sobre a tradução, há que se levar em conta que não existem versões versões isentas, e que toda tradução é uma opção. Seu trabalho, contudo, é uma importante peça de compreensão do processo de câmbio entre culturas diferentes, e deve ser lida para que possamos vislumbrar formas diversas de abordar a obra de Zhuangzi - dentro e fora - do contexto chinês. Já a tradução de Burton Watson [1987] trouxe para o Brasil a versão de um dos maiores tradutores do chinês que se tem conhecimento. Embora ela perdesse um pouco em brilho, é uma tradução mais precisa, completa e cuidadosa, que conta com uma boa introdução explicativa. Burton é um renomado tradutor, e sua versão para o português engrandece nosso parco cabedal de clássicos chineses. Seu texto só traz, igualmente, os capítulos pítulos internos, mas pode ser considerado c derado uma referência ou padrão em nossa língua. 'Chuang tzu - ensinamentos ensinamento essenciais' [2000] é a primeira publicação em que diversos capítulos da obra, além dos 'internos', são apresentados. Ela não está completa, mas

organiza-se numa série de trechos que contemplam quase toda a sua dimensão. Embora os tradutores - Sam Hill e J. Seaton - afirmarem eles próprios que o seu objetivo não era criar uma obra erudita, seu texto preserva muito da vitalidade e do humor de Zhuangzi, tornando-se uma leitura leve e simples. Além disso, a escolha das passagens é bastante interessante: numa, por exemplo, Zhuangzi [um pacifista inveterado] surge como um hábil espadachim! Essa abordagem nos permite entrever o quanto foi adicionado ao núcleo original da obra, mostrando as diferenças fundamentais entre os capítulos 'internos' e os 'apócrifos', inseridos em datas não precisadas. Por conta disso, a versão de Hill e Seaton é única no Brasil, e merece um olhar atento. Liezi Liezi 列子 [séc.-5?] teria sido o mestre de Zhuangzi, mas quase nada se sabe sobre ele. Pode-se tratar de uma figura mítica. Fato é que seu texto parece surgir na Dinastia Han, em torno do século +1, não apenas por seus conteúdos, mas por sua escrita e estrutura. Alguns fragmentos de Liezi estão espalhados na obra de Lin Yutang, em 'Sabedoria de Índia e China' [1954] e 'A importância de compreender' [1988]. A única tradução completa de que dispomos é de 2001, feita pela editora Landy, intitulada 'Tratado do Vazio Perfeito', feita a partir de outras traduções. O texto é correto, adequado, sem retoques ou floreados. Não se trata de uma tradução esteticamente destacada, mas serve de fonte com segurança, suprindo a inevitável carência desse texto em nosso idioma, e indipensável para a compreensão do Daoísmo e do pensamento durante o período Han. Uma outra versão disponível, e de boa qualidade, é a de Amadeu Duarte2, que pode ser lida com segurança, e está disponível na rede. Mestres do Tao, de Henry Normand Uma breve vênia deve ser feita ao pequeno, porém instrutivo, livro de Henry Normand, ‘Mestres do Tao’ [1993]. Nele, o autor apresenta trechos selecionados de Laozi, Zhuangzi e Liezi, proporcionando-nos uma visão geral sobre os três. Embora introdutório, e construído com fragmentos das obras, é um livro agradável e simples de ler, valendo como uma apresentação ao tema. Wenzi O pouco conhecido texto de Wenzi 文子 [datação incerta: supostamente contemporâneo de Laozi ou Zhuangzi, mas o texto de que dispomos é do séc. -1, da dinastia Han] apareceu no Brasil numa singela edição de 1991, pela editora Teosófica, cujo caráter

exotérico torna clara a proposta do livro. A tradução para o inglês foi feita por Thomas Cleary, um grande promotor e vulgarizador de textos clássicos chineses no Ocidente. Ociden Por conta disso, estamos diante de uma tradução acessível, prazeirosa de ler, com algumas incorreções, mas que pode ser bem aproveitada. Uma marca nas traduções de Cleary é que suas introduções não costumam ser muito explicativas ou aprofundadas, tratando trata os textos de forma mais literária e menos histórica ou filosófica. De fato, como Cleary quer que dar a conhecer esses textos para um público além do sinológico [uma idéia louvável], ele dispensa ensaios mais eruditos, densos e pesados, que não agregariam muito ao leitor passageiro. Todavia, em alguns casos, Cleary mal identifica o texto que estamos lendo, o que não nos permite saber de qual fonte ele foi tirado, as alternativas da tradução, os ideogramas chineses, etc. Aparentemente, pois, ele não está preocupado eocupado em ampliar o acesso posterior dos leitores aos textos chineses - mas podemos argumentar, igualmente, que quem estiver interessado, irá estudar chinês. Por fim: as traduções de Cleary nos abrem portas para a literatura chinesa, mas devem ser lidas com cuidado, e quem quiser se aprofundar nelas tem um ponto de partida, mas cedo perceberá suas incomplitudes e carências. Mais obras de Thomas Cleary Como as traduções de Cleary são fáceis, claras e acessíveis, elas são propícias a tradução, proporcionando do versões agradáveis de leitura. Por causa disso, vários outros textos chineses, traduzidos por ele, ganharam versões em português, significando uma diversificação do nosso acervo de textos daoístas. Em 'Estratégia e Liderança' [1994], ele nos apresenta trechos da enciclopédia daoísta do Huainanzi, texto da época Han fundamental para compreender as transformações no Daoísmo filosófico e religioso. Os fragmentos selecionados cobrem apenas as questões referentes à arte de governar, a política e a estratégia, estratégia, estando sem indicação das passagens originais. Já em 'Essencial do Tao' [1991], ele coteja fragmentos de Laozi e Zhuangzi, pondo ênfase

em seu caráter sapiencial. Alguns desses textos apareceriam novamente em 'O espírito do Tao' [2002], uma pequena coletânea de bolso de textos daoístas. Da mesma época é sua versão básica do Ijing, 'I Ching' [2002], sem qualquer relevância maior no âmbito das traduções desse texto. Em 'Trovão no Céu' [1993], Cleary nos apresenta dois textos obscuros do daoísmo religioso chinês, 'Trovão no Céu' e 'O Mestre do vale do demônio' [séc. +4?]. O livro é difícil de achar, e a tradução reproduz devidamente o original em inglês. São dois textos pouco conhecidos, bastante ricos em informações, e ainda pouco trabalhados academicamente. A abordagem de Cleary privilegia os aspectos políticos e estratégicos dos textos, no mesmo sentido de ‘Estratégia e Liderança’. 'O despertar do Tao', de Liu IMing [1992], assim como 'Meditação Taoísta' [2002], se tratam de traduções sobre a alquimia interna daoísta, escapando consideravelmente ao âmbito da auto-ajuda [embora o público brasileiro não consiga fazer grande distinção]. São traduções adequadas de textos difíceis, que não são facilmente acessados, lidos e compreendidos. Huahujing O Huahujing 化胡經 é um texto do século +4, que contava a história de como Laozi teria 'convertido os bárbaros' [não chineses] ao Daoísmo. Ele foi escrito em meio a uma polêmica que graçava na China da época, a chegada do Budismo. Essa religião, vinda da Índia, ameaçava o predomínio milenar dos daoístas no campo da metafísica e das artes sagradas, que em resposta, elaboraram um texto inventando que Buda teria sido discípulo de Laozi, quando ele fora embora da China no século -6, e que o Budismo seria então um tipo de Daoísmo.3 Poderia ser uma tradução notável, se ela não tivesse alguns problemas sérios: o principal, em português, é que nenhuma versão contém a introdução histórica da obra [seu 1o capítulo], na qual se explica toda a lenda relacionada ao Huahujing.4 Duas versões existem em nossa língua: a de Hua Ching Ni [1997] e Brian Walker [1997]. São basicamente idênticas, inclusive com alguns erros e anacronismos marcantes. O texto traduzido se atém aos aspectos filosóficos, religiosos e meditativos, o que nos permite indicar a obra nesse sentido. Todavia, a ênfase dada a uma apresentação exotérica não contribui em nada para uma apreciação correta do texto. Do ponto de vista sinológico, deve ser lida com atenção e muitas ressalvas.

O Segredo Segredo da Flor de Ouro Se as traduções do o Huahujing são fracas, o mesmo não se pode dizer das traduções do ‘Segredo da Flor de Ouro’ [‘Taiyi Jinhua Zongzhi’ 太乙金華宗旨,, de Lü Dongbin 呂洞賓, séc. +8+9?]. Ass versões do 'Segredo da flor de Ouro' são de uma qualidade ímpar. A primeira é do conceituado sinólogo Richard Wilhelm [1873-1930], [1873 que traz impressa o cuidado e apuro com que o autor costumeiramente trabalhava suas traduções. Não obstante, nessa obra se faz presente a contribuição sensível e rica do psicanalista Carl Jung [1875-1961], [1875 ], cuja parceria com Wilhelm rendeu textos notáveis tanto paraa a Sinologia quanto para a Psicanálise [Jung traria essa experiência experiên em seu livro 'Psicologia e Religião Oriental' [1986]]. [1986 Curiosamente, Wilhelm foi muito criticado por Thomas Cleary, quando este apresentou sua tradução do ‘Segredo...’ em inglês [não traduzida duzida no Brasil], mas seus apontamentos obtiveram pouca repercussão. A tradução de Wilhelm poderia definir-se definir se como única, mas o trabalho de Mokusen Miyuki, 'A Doutrina da Flor de Ouro' [1993],, é também muito boa, e vale ser conferida. O texto traz a prática ica da alquimia e da medicina daoísta, e o estudioso que se interessar pelo tema tem nessas duas traduções versões seguras e abalizadas sobre o original chinês, permitindo uma abordagem séria e bem encaminhada com base no texto. Wu Jyh Cherng O sacerdote daoísta Wu Jyh Cherng [1958-2004] [1958 ] traduziu para o português dois textos relevantes da tradição do Daoísmo religioso chinês, o 'Tratado sobre a união oculta' [Yinfujing 陰符經,, séc. +8?] +8?] e o 'Tratado sobre sentar e esquecer' [Zuo Wanglun 坐忘論, séc. +8?]. São traduções aduções de caráter religioso, mas inéditas até então. Para um estudo da antropologia religiosa chinesa, são dois textos textos fundamentais e absolutamente relevantes, feitas por um autor que dominava diretamente o chinês. São obras notáveis que merecem uma atenção ão maior. Eva Wong O texto ' As Artes Taoístas da Saúde, da Longevidade e da Imortalidade' Imortalidade [Landy, 2003] é a versão da escritora Eva Wong sobre um tratado daoísta relacionado à alquimia. Eva é

uma grande divulgadora do Daoísmo, e seu trabalho está voltado a uma compreensão vulgarizada da corrente religiosa, sem incorrer, no entanto, em qualquer expediente de proselitismo excessivo. Nessa versão, publicada para um acesso leigo, temos um texto correto, sem grandes distorções, sobre práticas alquímicas e meditativas. Trata-se de uma versão sem estudos exaustivos, ou devidamente preocupada com questões conceituais e de vocabulário. Ela pode ser apreciada como peça literária; como fonte, exige certos cuidados. No mesmo sentido é a tradução de ‘O Método Correto de Cultivar e Manter a Energia da Vida’ [2003], que se aproxima, tanto em forma, quanto em problemas, das obras de Cleary. Tratado de Zhao Bi Chen C hen O ‘Treinamento Interior Taoísta: Tratado de Alquimia e Fisiologia’ [2012], de Zhao Bìchen 趙避塵 [1860-1942], produzida no início do século 20, quando a China passava por grandes transformações culturais, políticas e sociais. Bem traduzido, o texto pode ser lido tanto pelos seus aspectos ‘médico-alquímicos’ como ainda, um importante documento histórico, que trata do momento em que muitos chineses abandonavam suas tradições em busca de uma modernidade europeurizada. Bony Schachter 'Rito de Passagem do Escrito Amarelo da Claridade Superior' [2014]5, de Bony Schachter, é uma tradução rigorosa, exemplar, bem embasada e amplamente estudada, que destoa do panorama de traduções nacionais. Estudioso brasileiro radicado na China, Schachter apresenta-nos uma versão abalizada e direta do original chinês de um texto religioso daoísta provavelmente da época Han ou Tang, totalmente inédito fora da China. O trabalho de Schachter é uma das raríssimas excessões no contexto da Sinologia Lusófona, cujo domínio da língua e da história torna-a uma tradução impecável em vários sentidos, constituindo uma peça de estudo confiável, segura, fluente, natural e bem estudada. Conclusão Vemos por essa análise que o Corpus de obras daoístas, no Brasil, não é incipiente, mas carece de sistematização e constância. Voltados aos interesses de focos específicos de consumo exotérico, as obras publicadas variam bastante de qualidade, desde as versões problemáticas do Huahujing até as sólidas versões de Wilhelm e Schachter, ou das ricas versões de Cherng. A onipresença de Cleary denota também a opção por versões rápidas

e de fácil acesso - nem sempre incorretas, mas quase sempre incompletas - cujo objetivo claro é a divulgação, mas que terminam servindo de fonte para aqueles que não dominam o chinês ou não possuem traduções em outras outras línguas ocidentais. Não podemos dizer, contudo, que se constata um panorama desolador e estéril; o pouco conhecimento sobre o Daoísmo no Brasil, tanto o filosófico quanto o religioso, tem naturalmente limitado o interesse do público, mesmo o sinológico. sinológic No contexto em que estamos, longe ainda de formar escolas de tradutores em chinês, o uso de 'traduções de traduções' se tornou a solução temporária que, muitas das vezes, é tratada como definitiva. É compreensível ainda que, num mercado cujo interesse no Daoísmo também é pontual, a presença dessas versões atende a demanda básica por literatura chinesa, muito ligada às questões religiosas, e cuja visão, por parte dos leitores brasileiros, é ocasional e confusa. É provável, por exemplo, que um leitor iniciante ini associe o Huainanzi à Sunzi, ambos traduzidos por Cleary, por conta da ênfase ao foco estratégico dada pelos trechos selecionados da tradução. Assim sendo, há direcionamentos em parte equivocados na divulgação dessas obras. Por outro lado, eu não costumo stumo ser partidário da idéia de que 'não ter é melhor que ter algo ruim'. Se o que temos agora não é [e está longe de ser] o ideal, ainda pode vir-á-ser vir ser a ponte para o despertar de um interesse sério e mais profundo sobre a China. O risco do desinteresse, causado pelas imprecisões, é proporcional. Mas não poderia haver qualquer tipo de debate ou curiosidade sem um ponto de partida. Nisso, pois, tais textos cumprem a sua função. Referências Ordenadas segundo o autor da obra. Cleary, Thomas. Estratégia e Liderança. Li Rio de Janeiro: Saraiva, 1994. Cleary, Thomas. Meditação Taoísta. Brasília: Teosófica, 2000. Cleary, Thomas. O Despertar do Tao. São Paulo: Pensamento, 1988. Cleary, Thomas. O espírito do Tao. São Paulo: Rocco, 2002. Cleary, Thomas. O essencial do Tao. São Paulo: Best Seller, 1991.

Cleary, Thomas. O I Ching. São Paulo: Rocco, 2002. Cleary, Thomas. Trovão no Céu. Belo Horizonte: Eleusis, 1993. Cleary, Thomas. Wenzi. Brasília: Teosófica, 1991. Hill, S. e Seaton, J. Chuang Tzu: ensinamentos essenciais. São Paulo: Cultrix, 2000. Hua Ching Ni. Hua Hu Ching. São Paulo: Pensamento, 1997. Jung, Carl. Religião e Psicologia Oriental. Petrópolis: Vozes, 1986. Liezi. Tratado do Vazio Perfeito. São Paulo: Landy, 2001. Lin Yutang. A importância de compreender. Porto Alegre: Globo, 1988. Lin Yutang. Sabedoria de Índia e China. Rio de Janeiro: Ponguetti, 1945. Merton, Thomas. A via de Chuang Tzu. Petrópolis: Vozes, 1976. Miyuki, Mokusen. A doutrina da Flor de Ouro. São Paulo: Pensamento, 1993. Normand, Henry. Mestres do Tao. São Paulo: Pensamento, 1993. Schachter, Bony. 'Rito de Passagem do Escrito Amarelo da Claridade Superior' em Bueno, A. e Neto, J. [org.] Antigas Leituras: Visões da China Antiga. União da Vitória: Unespar/Upe, 2014. Walker, Brian. Hua Hu Ching. São Paulo: Best Seller, 1997. Watson, Burton. Chuang Tzu: escritos básicos. São Paulo: Pensamento/Cultrix, 1987. Wilhelm, Richard. O Segredo da Flor de Ouro. Petrópolis: Vozes, 1983. Wong, Eva. As Artes Taoístas da Saúde, da Longevidade e da Imortalidade. São Paulo: Landy, 2003. Wong, Eva. O Método Correto de Cultivar e Manter a Energia da Vida. São Paulo: Pensamento, 2003. Wu Jyh Cherng. Meditação Taoísta. Rio de Janeiro: Mauad, 2008. [Zuo Wanglun] Wu Jyh Cherng. Tratado sobre a União Oculta. Rio de Janeiro: Mauad, 2008. [Yinfujing] Zhao Bichen. Treinamento Interior Taoísta: Tratado de Alquimia e Fisiologia. São Paulo: Editora É, 2012. Notas 1. Ver meu texto sobre as versões do Ijing: http://sinografia.blogspot.com.br/2015/05/oijing-no-brasil-uma-revisao-literaria.html 2. Ver em http://textosdemetafisica.blogspot.com.br/2014/04/lie-tzu-tratado-do-vazioperfeito.html 3. Ver meu artigo sobre essa questão em: http://sinografia.blogspot.com.br/2013/12/buda-discipulo-de-laozi-controversia-da.html 4. Ver a tradução do 1o capítulo em meu artigo:

http://sinografia.blogspot.com.br/2012/11/buda http://sinografia.blogspot.com.br/2012/11/buda-aluno-de-laozi.html 5. Livro ‘Visões da China Antiga’ disponível disponível em: http://escritosinicos.blogspot.com.br/

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