COSME, Susana Rodrigues (2014) - \" A pars rústica da villa da Insuínha 2, freguesia de Pedrógão, concelho da Vidigueira\"

June 9, 2017 | Autor: Susana Cosme | Categoria: Roman Archaeology
Share Embed


Descrição do Produto

4.º COLÓQUIO DE ARQUEOLOGIA DO ALQUEVA O Plano de Rega (2002-2010)

MEMÓRIAS d’ODIANA 2.ª Série Estudos Arqueológicos do Alqueva

FICHA TÉCNICA MEMÓRIAS d’ODIANA - 2.ª Série TÍTULO

4.º COLÓQUIO DE ARQUEOLOGIA DO ALQUEVA O Plano de Rega (2002 – 2010) EDIÇÃO

EDIA - Empresa de desenvolvimento e infra-estruturas do Alqueva DRCALEN - Direcção Regional de Cultura do Alentejo COORDENAÇÃO EDITORIAL

António Carlos Silva Frederico Tátá Regala Miguel Martinho DESIGN GRÁFICO

Luisa Castelo dos Reis / VMCdesign PRODUÇÃO GRÁFICA, IMPRESSÃO E ACABAMENTO

VMCdesign / Ligação Visual TIRAGEM

500 exemplares ISBN

978-989-98805-7-3 DEPÓSITO LEGAL

356 090/13

Memórias d’Odiana • 2ª série

FINANCIAMENTO

EDIA - Empresa de desenvolvimento e infra-estruturas do Alqueva INALENTEJO QREN - Quadro de Referência Estratégico Nacional FEDER - Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional Évora, 2014

ÍNDICE 9

INTRODUÇÃO

11

PROGRAMA

15

LISTAGEM DOS PÓSTERES APRESENTADOS

17

CONFERÊNCIAS

19

“Alqueva – Quatro Encontros de Arqueologia depois...”. António Carlos Silva

34

“O património cultural no Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva: caracterizar, avaliar, minimizar, valorizar …”. Miguel Martinho

45

“O Acompanhamento no terreno do Projecto EFMA na área da Extensão de Castro Verde do IGESPAR”. Samuel Melro, Manuela de Deus

53

COMUNICAÇÕES

55

“Um mundo em negativo: fossos, fossas e hipogeus entre o Neolítico Final e a Idade do Bronze na margem esquerda do Guadiana (Brinches, Serpa)”. António Carlos Valera, Ricardo Godinho, Ever Calvo, F. Javier Moro Berraquero, Victor Filipe e Helena Santos

74

“Intervenção arqueológica em Porto Torrão, Ferreira do Alentejo (2008-2010): resultados preliminares e programa de estudos”. Raquel Santos, Paulo Rebelo, Nuno Neto, Ana Vieira, João Rebuje, Filipa Rodrigues, António Faustino Carvalho

83

“Contextos funerários na periferia do Porto Torrão: Cardim 6 e Carrascal 2”. António Carlos Valera, Helena Santos, Margarida Figueiredo e Raquel Granja

96

“Intervenção Arqueológica no sítio de Alto de Brinches 3 (Reservatório Serpa – Norte): Resultados Preliminares”. Catarina Alves, Susana Estrela, Eduardo Porfírio, Miguel Serra

103

“Caracterização preliminar da ocupação pré-histórica da Torre Velha 3 (Barragem da Laje, Serpa)”. Catarina Alves, Catarina Costeira, Susana Estrela, Eduardo Porfírio, Miguel Serra, António M. Monge Soares, Marta Moreno-Garcia

112

“Questões e problemas suscitados pela intervenção no Casarão da Mesquita 4 (S. Manços, Évora): da análise intra-sítio à integração e comparação regional”. Susana Nunes, Miguel Almeida, Maria Teresa Ferreira, Lília Basílio

119

“Um habitat em fossas da Idade do Ferro em Casa Branca 11, na freguesia de Santa Maria, concelho de Serpa”. Susana Rodrigues Cosme

125

“Poço da Gontinha 1 (Ferreira do Alentejo): resultados preliminares”. Margarida Figueiredo

132

“Currais 5 (S. Manços, Évora): diacronia e diversidade no registo arqueoestratigráfico”. Susana Nunes,; Mónica Corga, Miguel Almeida, Lília Basílio ÍNDICE

Memórias d’Odiana • 2ª série

5

Memórias d’Odiana • 2ª série

6

137

“A villa romana do Monte da Salsa (Brinches, Serpa): uma aproximação à sua sequência ocupacional”. Javier Larrazabal Galarza

145

“Dados para a compreensão da diacronia e diversidade do registo arqueológico na villa romana de Santa Maria”. Mónica Corga, Maria João Neves, Gina Dias, Catarina Mendes

155

“A pars rústica da villa da Insuínha 2, freguesia de Pedrógão, concelho da Vidigueira”. Susana Rodrigues Cosme

162

“A villa da Herdade dos Alfares (São Matias, Beja) no contexto do povoamento romano rural do interior Alentejano”. Mónica Corga, Miguel Almeida, Gina Dias, Catarina Mendes

171

“A necrópole de incineração romana da Herdade do Vale 6, freguesia e concelho de Cuba”. Susana Rodrigues Cosme

178

“Necrópole romana do Monte do Outeiro (Cuba)”. Helena Barranhão

185

“O conjunto sepulcral do Monte da Loja (Serpa, Beja)”. Sónia Cravo e Marina Lourenço

191

“O sítio de São Faraústo na transição da Época Romana para o Período Alto-Medieval, freguesia de Oriola, concelho de Portel”. Susana Rodrigues Cosme

197

“O sítio romano da Torre Velha 1. Trabalhos de 2008-09 (Barragem da Laje, Serpa)”. Adriaan De Man, Eduardo Porfírio, Miguel Serra

203

“Análise preliminar dos contextos da Antiguidade Tardia do sitio Torre Velha 3 (Barragem da Laje - Serpa)”. Catarina Alves, Catarina Costeira, Susana Estrela, Eduardo Porfírio, Miguel Serra

212

“A Necrópole de São Matias, freguesia de São Matias, concelho de Beja”. Susana Rodrigues Cosme

219

“Xancra II (Cuba, Beja): resultados preliminares da necrópole islâmica”. Sandra Brazuna, Ricardo Godinho

225

“Funchais 6 (Beringel, Beja) – resultados preliminares”. Manuela Dias Coelho, Sandra Brazuna

231

PÓSTERES

233

“Primeiros resultados da intervenção arqueológica no sítio Torre Velha 7 (Barragem da Laje - Serpa)”. Adriaan De Man, André Gregório, Eduardo Porfírio, Miguel Serra

237

“A Torre Velha 3 (Serpa) no espaço geográfico. Uma abordagem morfológica de um “sítio” arqueológico”. Miguel Costa, Eduardo Porfírio, Miguel Serra

242

“O contributo da Antropologia para o conhecimento das práticas funerárias pré e proto -históricas do sítio de Monte da Cabida 3 (São Manços, Évora)”. Maria Teresa Ferreira

246

“Villa Romana da Mesquita do Morgado (S. Manços, Évora): considerações acerca das práticas funerárias”. Maria Teresa Ferreira

ÍNDICE

“Monte da Palheta (Cuba, Beja): dados para a caracterização arqueológica e integração do sítio à escala regional”. Mónica Corga, Gina Dias

256

“Aldeia do Grilo (Serpa): contributos para o estudo do povoamento romano na margem esquerda do Guadiana”. Carlos Ferreira, Mónica Corga, Gina Dias, Catarina Mendes

261

“Resultados preliminares de uma intervenção realizada no sítio Parreirinha 4 (Serpa)”. Carlos Ferreira, Susana Nunes, Lília Basílio

267

“Depósitos cinerários em Alpendres de Lagares 3”. Maria Teresa Ferreira, Mónica Corga, Marta Furtado

271

“Workshop Dryas’09: Estruturas negativas da Pré e Proto-história peninsulares – estado actual dos nossos conhecimentos... e interrogações”. Miguel Almeida, Susana Nunes, Maria João Neves, Maria Teresa Ferreira

276

“Intervenção arqueológica na Horta dos Quarteirões 1, Brinches, Serpa”. Helena Santos

280

“A Intervenção Arqueológica no Monte das Covas 3 (S. Matias, Beja): Os contextos romanos de época republicana”. Lúcia Miguel

284

“O Sítio do Neolítico antigo da Malhada da Orada 2 (Serpa): resultados preliminares”. Ângela Guilherme Ferreira

289

“Intervenção arqueológica nas necrópoles do Monte da Pecena 1 e Cabida da Raposa 2”. Andrea Martins, Gonçalo Lopes, Marisa Cardoso

7

ÍNDICE

Memórias d’Odiana • 2ª série

250

“A PARS RÚSTICA DA VILLA DA INSUÍNHA 2, FREGUESIA DE PEDRÓGÃO, CONCELHO DA VIDIGUEIRA”. SUSANA RODRIGUES COSME86 Resumo A Insuínha 2 localiza-se no distrito de Beja, concelho da Vidigueira e freguesia do Pedrógão, numa encosta de declive suave na margem direita do Guadiana. Na sondagem 4, foi identificado um edifício de época romana, embora a sua tipologia formal e funcional não tenha sido possível caracterizar. Apesar dos muros se encontrarem ao nível dos alicerces, pensamos tratar-se de um grande edifício da possível casa do senhor da villa. Na sondagem 6 estamos perante um edifício de cariz rural mas com alguma qualidade de construção que se atesta na tipologia dos muros nos pavimentos e paredes rebocados a opus signinum; no sistema de drenagem de águas de forma a estabilizar o edifício; no uso de elementos arquitectónicos como as colunas adossadas nas paredes e o fuste de coluna detectado no corte Este da sondagem; de dois silhares em granito que ladeiam a entrada e pela presença de um lagar de vinho.

Abstrat Insuínha 2, is situated in Pedrógão, Vidigueria, Beja, in a hillside of soft declivity in the right edge of the Guadiana. In sounding 4, was identified to a roman time building, even so its formal typology and functional she has not been possible to characterize. Although the walls if to find to the level of the foundations, think to be about a great building of the possible house Mr. of the Villa. In sounding 6 we are before a building of agricultural care but with some quality of construction that if it certifies in the typology of the walls in the towed floors and walls it opus signinum; in the system of water draining of form to stabilize the building; in the use of architectural elements as the columns adossadas in the walls and the shaft of column detected in the East cut of the sounding; of two ashlars in granite that tips the entrance and for the presence of wine press.

1. Introdução A estação arqueológica da Insuínha 2 foi detectada no decorrer dos trabalhos de implementação do Plano de Minimização de Impactes Patrimoniais no Açude do Pedrógão no ano de 2004, pelo Dr. João Muralha ao serviço da empresa de arqueologia ArcheoEstudos Lda, tendo como entidade promotora, a EDIA. Nesse mesmo ano, foram realizadas sondagens avaliativas e de minimização, numa área total de 50m2, trabalhos dirigidos pelo Dr. João Muralha. Após apreciação desse relatório foi decidido, pelas entidades competentes, realizar o alargamento das sondagens 4 e 6. Para ambos os alargamentos estavam previstos abrir 100m2 em 30 dias úteis. Os trabalhos foram iniciados a 22 de Agosto de 2005 e terminaram a 30 de Setembro do mesmo ano e foram adjudicados à empresa de arqueologia ArcheoEstudos Lda, que já tinha realizado as sondagens do ano transacto, sendo os trabalhos dirigidos por Susana Rodrigues Cosme e por Maria Furtado.

2. Descrição do Local

86

Arqueóloga, direcção de intervenção arqueológica para a empresa Archeo’Estudos, Lda. e investigadora do CITCEM. [email protected]

COMUNICAÇÕES

155

Memórias d’Odiana • 2ª série

A estação arqueológica da Insuínha 2 fica localizada no distrito de Beja, concelho da Vidigueira e freguesia do Pedrógão, nas coordenadas M-245950.99 e P-131421.50 (Gauss Datum 73), na Carta Militar de Portugal 1:25.000, n.º 500 dos Serviços Cartográficos do Exército. O sítio localiza-se numa encosta de declive suave na margem direita do Guadiana, zona propícia para a agricultura e pesca. A estação arqueológica encontra-se ainda, junto à foz da Ribeira de Marmelar no Rio Guadiana, numa zona de delta e de fácil transposição do rio, como tal, um lugar estratégico de controlo desta via.

3. Intervenção Arqueológica 3.1. Sondagem 4 A Sondagem 4 foi alargada para Este 3m até ao M-245865, para Sul 5m até ao P-131434 e para Oeste cerca de 4m até ao M-245855 e até ao P-131436. Assim, a Oeste, a sondagem foi fechada ligando o M-245855/P-131436 com o M-245858/P-131444. A Oeste do muro, U.E.-402 e sob a camada U.E.-413, foi detectada uma terra castanha escura à qual foi atribuída a U.E.-414. Nesta camada forma exumadas cerâmicas comuns, alguns fragmentos de dolium, de ânforas, de sigillatas e um fragmento de escória. Sob esta camada surgiu uma terra argilosa muito compacta, U.E.-415 com muitos seixos de rio e muitas lascas desse mesmo material lítico. Aliás, nesta camada os únicos materiais exumados são materiais líticos, nomeadamente, núcleos, lascas e outros fragmentos de quartzito. Para além da escavação destas camadas foi ainda realizado o registo fotográfico e gráfico da continuação do muro U.E.-402 com orientação Norte/Sul, bem como o registo da U.E.-416. Esta unidade foi atribuída a um muro com orientação Este/Oeste e que se encontra a Oeste do muro, U.E.-402 e a Sul do muro U.E.-404. Não foi possível detectar qualquer tipo de vala de construção dos muros. Podemos apenas referir que a camada, U.E.-414 de encontra encostada a estas estruturas. O nível de pisos de ocupação relacionados com estes muros há muito tempo que teriam sido destruídos, visto esta zona ter sido objecto de lavoura com tractores, durante vários anos.

3.2. Sondagem 6 Na sondagem 6, decidimos alargar 6m para Norte até ao P-131428, para Oeste 5m até ao M-245946, para Este 5m até ao M-245958 e para Sul, 5m até ao P-131413. Ficámos, assim, com uma área a intervencionar de 180m2. Esta área foi decapada com ajuda de uma máquina retro-escavadora, na primeira camada muito superficial resultante das várias acções de revolvimento provocadas pelos tractores e arados. A esta camada de revolvimento foi atribuída a U.E.-611, onde foram exumadas cerâmicas comuns, fragmentos de dolium, meia garrafa em ferro, um dente de arado, uma cunha em metal, e alguns pregos. Sob esta camada ficaram visíveis, vários alinhamentos que delimitavam espaços. São esses espaços que passamos a descrever.

3.2.1. Espaço 1 À terra sob a U.E.-611, no espaço a Oeste do muro, U.E.-632, foi atribuída a U.E.-613, trata-se de uma terra castanha sem derrube. Nesta camada foram exumadas cerâmicas comuns, sigillatas, ânforas, dolium, vidros e um numisma. Foi a unidade estratigráfica com maior número de fragmentos de cerâmica. Sob esta camada no Espaço 1 foi registada uma terra castanha com alguns seixos, U.E.-631. A vala de fundação não se encontrou, pois o muro foi encostado à terra ali existente. Há a referir a falta de espólio nesta unidade estratigráfica e os contrafortes redondos do aparelho de embasamento do muro. Quer pela tipologia da terra que compõe as unidades estratigráficas, pelos materiais exumados, quer pelo aparelho do muro U.E.-632, este Espaço 1 parece-nos um espaço exterior do edifício.

3.2.2. Espaço 2

Memórias d’Odiana • 2ª série

156

O espaço 2 encontra-se delimitado a Sul e a Oeste do muro U.E.-633, ou seja no canto Sudoeste da sondagem 6 foi registada uma camada de derrube de tegula, U.E.-614, onde foram exumados fragmentos de cerâmicas comuns, dolium, dois pregos, e dois fragmentos de escória de vidro. O alicerce do muro, U.E.-633 é composto por uma área argamassada que termina com um pequeno rebordo. Até este rebordo tínhamos a U.E.-614 a encostar ao muro. Abaixo desse rebordo argamassado, o alicerce do muro U.E.633 é formado por seixos de rio argamassados que foram postos a descoberto com a remoção da U.E.-665 (Fig. 2). O muro U.E.-633 assenta em terra. Na face virada a Oeste do muro U.E.-634, foi posta a descoberto uma canalização, que nos parece uma forma de encanamento de águas, ou uma forma de manter o edifício em melhores condições de estabilidade com um rio tão próximo (Fig. 3). Trata-se de uma estrutura de forma quadrangular com um telhado de duas águas composto de tegulae e com as paredes e o fundo, argamassados. COMUNICAÇÕES

)LJXUD²(VSDoR$OLFHUFHGR0XUR8(YLUDGRD6XO

)LJXUD²(VSDoR²&DQDOL]DomR8(QRDOLFHUFHGR0XUR 8(YLUDGRD2HVWH

Há ainda a referir que o muro U.E.-634 encontra-se adossado ao muro U.E.-633 e como se pode verificar o seu aparelho é composto de pedras de xisto argamassadas.

3.2.3. Espaço 3 O Espaço 3 tem o muro U.E.-638 a Norte, o muro U.E.-633 a Sul, o muro U.E.-632 a Oeste e o muro U.E.-635 a Este. Não foi detectada uma entrada neste espaço, não seria um espaço privilegiado, visto não ter piso e paredes revestidas a opus signinum, não é um espaço com muitos fragmentos cerâmicos, nem muita sigillata ou vidro. A exumação de dois potes inteiros, do garfo comprido com dois dentes e da colher, fazem-nos pensar num espaço de armasenamento, embora sem muitos doliuns ou ânforas.

3.2.4. Espaço 4

COMUNICAÇÕES

157

Memórias d’Odiana • 2ª série

Aos muros que fazem parte deste espaço foram atribuídas as U.E.-637 a Norte, U.E.-635 e U.E.-636 a Este, U.E.-632 a Oeste e U.E.-638 a Sul. Todos os muros apresentam o mesmo tipo de aparelho. Encontram-se rebocados em opus signinum no interior da sala e na entrada. Neste depósito de derrube foram exumados vários tipos de espólio arqueológico entre os quais destacamos um dolium, uma bilha pequena, vários objectos em metal nomeadamente, um machado, uma foice, um punhal, alguns ganchos de lares e um chocalho. Foi ainda exumado um prato numa liga de cobre, uma peça de balança, um aro em metal de bordo de pote, uma concha da sopa, fragmentos de uma lucerna, alguns fragmentos de cerâmica comum e fragmentos de uma pequena garrafinha em vidro. Ainda neste depósito e sem nada o fazer prever, ou seja sem vala de deposição ou qualquer tipo de estrutura tumular foi exumado um esqueleto humano. Este encontrava-se no que podíamos chamar de “posição canónica”, isto é, com a cabeça para Sudoeste e os pés para Nordeste. Encontrava-se praticamente sobre o piso em opus signinum, não apresentava qualquer tipo de tumulação. Ao esqueleto foi atribuída a U.E.-617. Foi levantado e estudado no laboratório de Antropologia Física da Universidade de Coimbra pela Dr.ª Sónia Códinha e mandado para datação em Miami, Florida nos Estados Unidos da América, no Beta Analytic Radiocarbon Dating Laboratory, pelo Director Darden Hood. Sob a U.E.-612, e no canto Nordeste foram detectadas umas tegulas invertidas, U.E.-618 que parecem formar um piso sobre o piso em opus signinum, U.E.-620. Esta sala parece-nos ter funcionado como cozinha, chamámos-lhe Espaço 4. Apresenta o chão e as paredes, revestidas a opus signinum de cor rosa pálido. Tem uma entrada, U.E.-663 a Este, virada para o rio e directamente para uma outra sala, Espaço 9 sem pavimento em opus.

)LJXUD²(VSDoR8(

)LJXUD²(VSDoR8(

3.2.5. Espaço 5 Este espaço encontra-se delimitado a Norte pelo eixo P-131428, a Sul com o muro U.E.-637, a Oeste o muro U.E.-632 e a Este o muro U.E.-636. Após a U.E.-611, foi registada uma camada de terra castanha com derrube, U.E.-628 onde foram exumados 14 fragmentos de cerâmica comum e um fragmento de tegula decorada. Este derrube assenta num piso em opus signinum, U.E.-649. Há a referir que os cantos inferiores deste espaço se encontram em declive. Não foi possível verificar a funcionalidade deste espaço.

3.2.6. Espaço 6 Foi designado como Espaço 6, a zona que tem como limites, a Norte o muro U.E.-634, a Sul o eixo P-131413, a Este o muro U.E.-640 e a Oeste o muro U.E.-634. A entrada U.E.-661 com um piso em opus signinum foi aberta no muro U.E.-633 e que liga o Espaço 6 ao Espaço 7. O muro em L, U.E.-634 encontra-se adossado ao muro U.E.-633 e num nível superior. Parece-nos que foi feito um muro dentro de um muro ou mais precisamente um tanque dentro de uma sala, mas para comprovar esta hipótese haveria de se escavar mais, o que não foi possível.

3.2.7. Espaço 7

Memórias d’Odiana • 2ª série

158

O Espaço 7 tem como limites, a Norte o muro U.E.-642, a Sul o muro U.E.-633, a Este o muro U.E.-635 e a Oeste o muro U.E.-640. Neste espaço e após a camada U.E.-611, foi registada uma camada de terra castanha com derrube de tegula e pedra, U.E.-622. Sobre esta camada foi registado um interface U.E.-644 de um círculo para colocação de seiras ou capachos de esparto ou corda que prensadas faziam escorrer o líquido para o piso em opus signinum U.E.-646 (Fig. 6). Neste espaço as uvas são metidas nas seiras ou capachos que se irão sujeitar à prensa (torcular). Tipologia semelhante é encontrada por todo o império, nomeadamente, junto a São Cucufate. O exemplo mais parecido com este, segundo Jean-Pierre Brun, encontra-se na Grécia, na Rua V do quarteirão do teatro de Délos, datado do século V/VI d.C. (BRUN: 2004, 80-82).

3.2.8. Espaço 8 O Espaço 8 encontra-se delimitado a Norte pelos muros U.E.-638 e U.E.-639, a Sul pelo muro U.E.-642, a Oeste pelo muro U.E.-635 e a Este pelo muro U.E.-640. Este espaço encontrava-se já parcialmente escavado, tem um piso em opus signinum, U.E.-647. COMUNICAÇÕES

É visível que o Espaço 7 e o Espaço 8 foram inicialmente um único espaço e mais tarde foi dividido através do muro U.E.-642, tratando-se este de um muro interior. Esta divisão teria uma função de apoio ao espaço 7, embora não esteja muito definida a sua funcionalidade.

3.2.9. Espaço 9 Foi atribuída a designação de Espaço 9 à área delimitada a Norte pelo eixo P-131428, a Sul pelos muros U.E.628 e U.E.-639, a Oeste pelos muros U.E.-635 e U.E.-636 e a Este pelos muros U.E.-640 e U.E.-641. Neste espaço não foi detectado um piso em opus O acesso para este espaço fazia-se pela entrada aberta entre os muros U.E.-640 e U.E.-641. A esta entrada foi atribuída a U.E.-664. Esta caracteriza-se por estar ladeada por dois silhares em granito, um dos quais foi mexido pelos dentes da máquina pois encontrava-se quase à superfície. Deste espaço passava-se ao Espaço 8 pela entrada U.E.-662, e para o Espaço 4 pela entrada, U.E.-663, funcionava como sala de entrada e trata-se do espaço de maior área entre os espaços intervencionados. Pela presença destes elementos graníticos pensamos que se tratava da entrada principal no edifício. Outro elemento que nos faz pensar tratar-se esta, a fachada principal da casa é o facto de no muro, U.E.-641 estarem incluídos duas bases de coluna em granito. No corte Este (M-245959) da sondagem, foi detectado um fragmento de fuste de coluna que deveria pertencer a uma destas bases.

3.2.10. Espaço 10 O Espaço 10 foi atribuído a uma estrutura adossada à face Este do muro U.E.-640. Esta estrutura encontrava-se cheia com uma camada de derrube de tegula e pedra, U.E.-616. Nesta camada foram exumados 5 fragmentos de cerâmica comum e um fragmento de escória de vidro. Após a remoção desta camada foi posto a descoberto um tanque forrado a opus signinum, U.E.-626, com um interface, U.E.-665, cuja função seria a recepção do líquido espremido no Espaço 7 e que passava para este Espaço 10 através de um orifício feito no muro U.E.-640. Este orifício é composto por um cano em cerâmica e foi-lhe atribuída a U.E.-654. Este tanque é composto por três muros adossados de forma a melhor impermeabilizar este espaço. Entre o muro U.E.-652 (Fig. 6) e o muro U.E.-651 foi registado um interface, U.E.-669, para colocação de um poste de madeira. Aos restos desta madeira foi atribuída a U.E.-670. Era neste tanque que se retirava o vinho recorrendo a conchas de ferro para talhas de barro.

3.2.11. Espaço 11 O Espaço 11 tem como limites a Norte muro U.E.-643 e a entrada U.E.-667, a Sul o limite P-131413, a Oeste o muro U.E.-640 e a Este o limite M-245959. Este Espaço 11 circunda o tanque designado como Espaço 10. O acesso a este Espaço 11 é feito através da entrada, U.E.-667. Esta entrada encontra-se entre o muro U.E.-634 e o muro U.E.-640. Este espaço embora se encon-

)LJXUD²(VSDoRSLVR8(

)LJXUD²(VSDoR8(

COMUNICAÇÕES

Memórias d’Odiana • 2ª série

159

tre adoçado à fachada que considerámos como principal, o que faz dele um espaço exterior, devia tratar-se de um espaço coberto com um telheiro de tegula. Este espaço foi deixado numa terra castanha, U.E.-665 ao nível do início dos alicerces dos muros.

3.2.12. Espaço 12 O Espaço 12 tem como limites a Oeste os muros U.E.-640 e 641, a Este o limite M-245959 e a Sul o muro U.E.643 e a entrada U.E.-667. Pensamos que esta zona seria um espaço exterior e que através da entrada U.E.-664 daria acesso ao interior do edifício. Através da entrada U.E.-667 daria acesso ao espaço 11 e 10, espaços adoçados ao edifício principal e que seriam cobertos com telheiro. Este espaço foi deixado numa terra castanha, U.E.-665 ao nível do início dos alicerces dos muros.

4. Conclusões

Memórias d’Odiana • 2ª série

160

Depois dos trabalhos realizados no ano de 2005, podemos concluir estar perante uma villa do séc. IV/V, de cariz essencialmente rural. Na sondagem 4, estamos perante Figura 7 – Planta do edifício da Sondagem 6. um edifício de época romana, embora a sua tipologia formal e funcional não tenha sido possível caracterizar. Pensamos que muro, U.E.-402, possa ser a fachada virada a Este, portanto ao Guadiana, de um grande edifício da possível casa do senhor da villa. Segundo informações orais aí se teriam encontrado mosaicos, informação que não nos foi possível confirmar. Sob as estruturas de época romana pensamos ser possível ter existido uma ocupação mais antiga, de época pré-histórica, visto terem sido recolhidas muitas lascas. Podemos estar perante uma zona de talhe, mas esta informação requereria uma intervenção mais alargada. Na sondagem 6, revelou-se num edifício de cariz rural que apresenta alguma qualidade de construção a qual é atestada pela: Tipologia dos muros e seus embasamentos de forma a manter estabilidade numa zona aluvionar, nomeadamente pelos maciços que servem de contrafortes no embasamento do muro U.E.-632; Nos pavimentos e paredes rebocados a opus signinum; No sistema de drenagem de águas de forma a estabilizar o edifício e ao mesmo tempo, rentabilizar o uso da água, como se observa nas canalizações, U.E.-657 e U.E.-658, do edifício; No uso de elementos arquitectónicos como as colunas adossadas nas paredes como o atestam as duas bases em granito, integradas no muro U.E.-641, o fuste de coluna detectado no corte Este da sondagem e os dois silhares de granito que ladeiam a entrada U.E.-664; A presença de um lagar de vinho com um tanque de reduzidas dimensões. Também, as peças cerâmicas exumadas, essencialmente, doliuns e ânforas são em reduzido número, o que atesta a reduzida produção. Parece-nos estarmos perante uma produção familiar. Os materiais exumados, cerâmicos, metálicos e numismas como referimos apontam para uma cronologia do século IV/V.

COMUNICAÇÕES

São essencialmente cerâmicas de uso comum, recipientes de uso doméstico e de acondicionamento, os poucos fragmentos exumados e o facto das peças aparecerem quase inteiras e serem exumadas in situ leva-nos a pensar um único e rápido abandono do sítio. Para corroborar esta hipótese, junta-se o facto do aparecimento de um indivíduo sobre o piso do Espaço 4 da casa, sem qualquer tipo de estrutura tumular, tudo apontando para se tratar de um habitante do edifício. Após a leitura dos relatórios do Laboratório de Antropologia Física da Universidade de Coimbra da responsabilidade da Dr.ª Sónia Códinha e do Laboratório de Análises de Radiocarbono da responsabilidade do Dr. Darden Hood, que estamos perante um indivíduo que viveu entre 350d.C. e 520d.C., com uma maior probabilidade entre 385 e 430d.C.. Este indivíduo era do sexo masculino, faleceu já em idade adulta e teria tido uma actividade física vigorosa. Não foi possível saber a causa da morte, visto as doenças detectadas não serem passíveis de óbito. Após tudo o que foi dito e apesar de ser necessário confirmar se o edifício da sondagem 4 será efectivamente a casa principal da villa, pensamos poder classificar assim mesmo, este sítio como villa fazendo parte do domínio da civitate Pax Iulia.

%LEOLRJUDÀD ADAM, J.-P. (1006) – La Construccion Romana – Materiales y Tecnicas. León: Editorial de Los Ofícios. BRUN, J.-P. (2004) – Archéologie du vin et de l’huile dans l’Empire romain. Paris: Editions Errance, p.80-82. GARABITO GOMEZ, T. (1979) – Los Alfares Romanos Riojanos, produccion y comercializacion. Madrid: Bibliotheca Praehistorica Hispana, Vol. XVI. HARRIS, E. C. (1991) – Principios de estratigrafía Arqueológica. Barcelona: Editorial Crítica. HAYES, J. W (1980) – Late Roman Pottery. London: The British School at Rome. HAYES, J. W. (1997) – Handbook of Mediterranean Roman Pottery. London: British Museum Press. LOPES, M. C. (2003) – A Cidade Romana de Beja – Percursos e debates acerca da “civitas” de Pax Ivlia. Coimbra: Instituto de Arqueologia e Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. LOPES, M. C. (2003) – A Cidade Romana de Beja – Percursos e debates acerca da “civitas” de Pax Ivlia. Catálogo de Sítios. Coimbra: Instituto de Arqueologia e Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. MAYET, F. (1984) – Les céramiques sigillées hispaniques. Paris.

161

PEREIRA, C. S. G. (2001) – A Terra Sigillata da Nedrópole Romana da Praça da Figueira. Universidade Nova de Lisboa - Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. PINTO, I. V. (2003) – A Cerâmica Comum das Villae Romanas de São Cucufate (Beja). Lisboa: Universidade Lusíada Editora. Colecção Teses. SANTROT, M.-H. et Jacques (1979) – Céramiques Communes Gallo-Romaines d’Aquitaine. Paris: Editions de C. N. R. S. VÁRIOS (1993) – La production du vin et de l’huile en Méditerranée. Paris: Diffusion De Boccard. VEGAS, M. (1973) – Cerámica común romana del Mediterráneo Occidental. Instituto de Arqueolgía y Prehistoria. Publicaciones Eventuales, n.º 22.

COMUNICAÇÕES

Memórias d’Odiana • 2ª série

NOLEN, J. U. S. et. al (1994) – Cerâmicas e Vidros de Torre de Ares – Balsa. Lisboa: Secretaria de Estado da Cultura e Instituto Português de Museus.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.