COSME, Susana Rodrigues (2014) - \"Um habitat em fossas da Idade do Ferro em Casa Branca 11, na freguesia de Santa Maria, concelho de Serpa\"

June 9, 2017 | Autor: Susana Cosme | Categoria: Iron Age (Archaeology), Roman Archaeology
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4.º COLÓQUIO DE ARQUEOLOGIA DO ALQUEVA O Plano de Rega (2002-2010)

MEMÓRIAS d’ODIANA 2.ª Série Estudos Arqueológicos do Alqueva

FICHA TÉCNICA MEMÓRIAS d’ODIANA - 2.ª Série TÍTULO

4.º COLÓQUIO DE ARQUEOLOGIA DO ALQUEVA O Plano de Rega (2002 – 2010) EDIÇÃO

EDIA - Empresa de desenvolvimento e infra-estruturas do Alqueva DRCALEN - Direcção Regional de Cultura do Alentejo COORDENAÇÃO EDITORIAL

António Carlos Silva Frederico Tátá Regala Miguel Martinho DESIGN GRÁFICO

Luisa Castelo dos Reis / VMCdesign PRODUÇÃO GRÁFICA, IMPRESSÃO E ACABAMENTO

VMCdesign / Ligação Visual TIRAGEM

500 exemplares ISBN

978-989-98805-7-3 DEPÓSITO LEGAL

356 090/13

Memórias d’Odiana • 2ª série

FINANCIAMENTO

EDIA - Empresa de desenvolvimento e infra-estruturas do Alqueva INALENTEJO QREN - Quadro de Referência Estratégico Nacional FEDER - Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional Évora, 2014

ÍNDICE 9

INTRODUÇÃO

11

PROGRAMA

15

LISTAGEM DOS PÓSTERES APRESENTADOS

17

CONFERÊNCIAS

19

“Alqueva – Quatro Encontros de Arqueologia depois...”. António Carlos Silva

34

“O património cultural no Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva: caracterizar, avaliar, minimizar, valorizar …”. Miguel Martinho

45

“O Acompanhamento no terreno do Projecto EFMA na área da Extensão de Castro Verde do IGESPAR”. Samuel Melro, Manuela de Deus

53

COMUNICAÇÕES

55

“Um mundo em negativo: fossos, fossas e hipogeus entre o Neolítico Final e a Idade do Bronze na margem esquerda do Guadiana (Brinches, Serpa)”. António Carlos Valera, Ricardo Godinho, Ever Calvo, F. Javier Moro Berraquero, Victor Filipe e Helena Santos

74

“Intervenção arqueológica em Porto Torrão, Ferreira do Alentejo (2008-2010): resultados preliminares e programa de estudos”. Raquel Santos, Paulo Rebelo, Nuno Neto, Ana Vieira, João Rebuje, Filipa Rodrigues, António Faustino Carvalho

83

“Contextos funerários na periferia do Porto Torrão: Cardim 6 e Carrascal 2”. António Carlos Valera, Helena Santos, Margarida Figueiredo e Raquel Granja

96

“Intervenção Arqueológica no sítio de Alto de Brinches 3 (Reservatório Serpa – Norte): Resultados Preliminares”. Catarina Alves, Susana Estrela, Eduardo Porfírio, Miguel Serra

103

“Caracterização preliminar da ocupação pré-histórica da Torre Velha 3 (Barragem da Laje, Serpa)”. Catarina Alves, Catarina Costeira, Susana Estrela, Eduardo Porfírio, Miguel Serra, António M. Monge Soares, Marta Moreno-Garcia

112

“Questões e problemas suscitados pela intervenção no Casarão da Mesquita 4 (S. Manços, Évora): da análise intra-sítio à integração e comparação regional”. Susana Nunes, Miguel Almeida, Maria Teresa Ferreira, Lília Basílio

119

“Um habitat em fossas da Idade do Ferro em Casa Branca 11, na freguesia de Santa Maria, concelho de Serpa”. Susana Rodrigues Cosme

125

“Poço da Gontinha 1 (Ferreira do Alentejo): resultados preliminares”. Margarida Figueiredo

132

“Currais 5 (S. Manços, Évora): diacronia e diversidade no registo arqueoestratigráfico”. Susana Nunes,; Mónica Corga, Miguel Almeida, Lília Basílio ÍNDICE

Memórias d’Odiana • 2ª série

5

Memórias d’Odiana • 2ª série

6

137

“A villa romana do Monte da Salsa (Brinches, Serpa): uma aproximação à sua sequência ocupacional”. Javier Larrazabal Galarza

145

“Dados para a compreensão da diacronia e diversidade do registo arqueológico na villa romana de Santa Maria”. Mónica Corga, Maria João Neves, Gina Dias, Catarina Mendes

155

“A pars rústica da villa da Insuínha 2, freguesia de Pedrógão, concelho da Vidigueira”. Susana Rodrigues Cosme

162

“A villa da Herdade dos Alfares (São Matias, Beja) no contexto do povoamento romano rural do interior Alentejano”. Mónica Corga, Miguel Almeida, Gina Dias, Catarina Mendes

171

“A necrópole de incineração romana da Herdade do Vale 6, freguesia e concelho de Cuba”. Susana Rodrigues Cosme

178

“Necrópole romana do Monte do Outeiro (Cuba)”. Helena Barranhão

185

“O conjunto sepulcral do Monte da Loja (Serpa, Beja)”. Sónia Cravo e Marina Lourenço

191

“O sítio de São Faraústo na transição da Época Romana para o Período Alto-Medieval, freguesia de Oriola, concelho de Portel”. Susana Rodrigues Cosme

197

“O sítio romano da Torre Velha 1. Trabalhos de 2008-09 (Barragem da Laje, Serpa)”. Adriaan De Man, Eduardo Porfírio, Miguel Serra

203

“Análise preliminar dos contextos da Antiguidade Tardia do sitio Torre Velha 3 (Barragem da Laje - Serpa)”. Catarina Alves, Catarina Costeira, Susana Estrela, Eduardo Porfírio, Miguel Serra

212

“A Necrópole de São Matias, freguesia de São Matias, concelho de Beja”. Susana Rodrigues Cosme

219

“Xancra II (Cuba, Beja): resultados preliminares da necrópole islâmica”. Sandra Brazuna, Ricardo Godinho

225

“Funchais 6 (Beringel, Beja) – resultados preliminares”. Manuela Dias Coelho, Sandra Brazuna

231

PÓSTERES

233

“Primeiros resultados da intervenção arqueológica no sítio Torre Velha 7 (Barragem da Laje - Serpa)”. Adriaan De Man, André Gregório, Eduardo Porfírio, Miguel Serra

237

“A Torre Velha 3 (Serpa) no espaço geográfico. Uma abordagem morfológica de um “sítio” arqueológico”. Miguel Costa, Eduardo Porfírio, Miguel Serra

242

“O contributo da Antropologia para o conhecimento das práticas funerárias pré e proto -históricas do sítio de Monte da Cabida 3 (São Manços, Évora)”. Maria Teresa Ferreira

246

“Villa Romana da Mesquita do Morgado (S. Manços, Évora): considerações acerca das práticas funerárias”. Maria Teresa Ferreira

ÍNDICE

“Monte da Palheta (Cuba, Beja): dados para a caracterização arqueológica e integração do sítio à escala regional”. Mónica Corga, Gina Dias

256

“Aldeia do Grilo (Serpa): contributos para o estudo do povoamento romano na margem esquerda do Guadiana”. Carlos Ferreira, Mónica Corga, Gina Dias, Catarina Mendes

261

“Resultados preliminares de uma intervenção realizada no sítio Parreirinha 4 (Serpa)”. Carlos Ferreira, Susana Nunes, Lília Basílio

267

“Depósitos cinerários em Alpendres de Lagares 3”. Maria Teresa Ferreira, Mónica Corga, Marta Furtado

271

“Workshop Dryas’09: Estruturas negativas da Pré e Proto-história peninsulares – estado actual dos nossos conhecimentos... e interrogações”. Miguel Almeida, Susana Nunes, Maria João Neves, Maria Teresa Ferreira

276

“Intervenção arqueológica na Horta dos Quarteirões 1, Brinches, Serpa”. Helena Santos

280

“A Intervenção Arqueológica no Monte das Covas 3 (S. Matias, Beja): Os contextos romanos de época republicana”. Lúcia Miguel

284

“O Sítio do Neolítico antigo da Malhada da Orada 2 (Serpa): resultados preliminares”. Ângela Guilherme Ferreira

289

“Intervenção arqueológica nas necrópoles do Monte da Pecena 1 e Cabida da Raposa 2”. Andrea Martins, Gonçalo Lopes, Marisa Cardoso

7

ÍNDICE

Memórias d’Odiana • 2ª série

250

“UM HABITAT EM FOSSAS DA IDADE DO FERRO EM CASA BRANCA 11, NA FREGUESIA DE SANTA MARIA, CONCELHO DE SERPA”. SUSANA RODRIGUES COSME 72 Resumo Este estudo de apresentação do sítio reporta-se aos trabalhos arqueológicos efectuados no lugar de Casa Branca 11, no âmbito da construção da Barragem de Serpa. A Casa Branca 11 situa-se na freguesia de Santa Maria, concelho de Serpa, distrito de Beja, numa encosta de suave inclinação na margem esquerda da Ribeira do Enxoé. Foram postas a descoberto várias estruturas: um muro, U.E.-038, possivelmente de cronologia Tardo-Romana ou Alto-Medieval e um silo que foi utilizado aquando a utilização do muro. Foram detectadas várias estruturas negativas, espécie de fossas redondas ou ovais com níveis de materiais de cronologia da Idade do Ferro, numa primeira fase dos séc.s VI/V e numa segunda fase dos séc.s V/IV, uma lareira e alguns buracos de poste com materiais também da Idade do Ferro.

Abstrat This study of presentation of the site it is referred the archaeological works realized in the place of House White 11, in the scope of the construction of the Barrage of Serpa. The House White 11 places in Saint Maria, Serpa, Beja, in a hillside of soft inclination in the left edge of the Ribeira of the Enxoé. Ranks had been short some structures: a wall, U.E.-038, possibly of chronology Delay-Roman or High-Medieval, a silo that was used when the use of the wall. Some round or oval negative structures, species of depressions with levels of materials of chronology of the Age of the Iron had been detected, in a first phase of century’s VI/V and in one second phase of century’s V/IV, a fireplace and some holes of pole with materials also of the Iron Age.

1. Introdução Esta apresentação resulta dos trabalhos arqueológicos efectuados no lugar de Casa Branca 11, no âmbito da construção da Barragem de Serpa. Estes trabalhos foram adjudicados pela Edia S.A à Zephyros – Empresa de Investigação, Conservação e Restauro em Arqueologia. Foi realizada uma primeira intervenção entre os dias 9 de Julho e 21 de Julho de 2007, trabalhos esses dirigidos pela Dr.ª Maria de Fátima Beja e Costa que por questões de ordem pessoal, não pôde assumir a direcção do alargamento da intervenção, sendo esses trabalhos dirigidos pela autora. Estes trabalhos de alargamento decorreram entre 06 de Agosto de 2007 e 7 de Setembro do mesmo ano, onde se intervencionaram 125m2 em 25 dias úteis. Agradeço desde já a preciosa ajuda da Dr.ª Ana Sofia Antunes, quer nas cronologias das cerâmicas quer na contextualização regional do povoamento na Idade do Ferro.

2. Descrição do Sítio

72 $UTXHyORJDGLUHFomRGHLQWHUYHQomRDUTXHROyJLFDSDUDDHPSUHVD=HSK\URVHLQYHVWLJDGRUDGR&,7&(0 [email protected]

COMUNICAÇÕES

119

Memórias d’Odiana • 2ª série

O sítio de Casa Branca 11, foi identificado aquando dos trabalhos de acompanhamento arqueológico da Barragem de Serpa, trabalho realizado pelo Dr. André Gregório para a empresa Clepsidra. A Casa Branca 11 situa-se na freguesia de Santa Maria, concelho de Serpa, distrito de Beja (CMP folha n.º 522), entre os M-246549,929 e P-114227,606 e o M-246538,831 e o P-114193,540, a uma cota entre os 121m e os 124m de altitude (Fig. 1).

Figura 1 – Localização da Casa Branca 11 com o número 4, num excerto da Carta Militar de Portugal 1: 25000, n.º 522.

O sítio foi caracterizado por evidenciar uma mancha de dispersão de materiais, cuja cronologia reporta ao Período Romano, e onde se detectou em acompanhamento uma estrutura pétrea, que foi parcialmente destruída pela máquina. Este sítio localiza-se numa encosta de suave inclinação na margem esquerda da Ribeira do Enxoé, sendo que, nas proximidades existem núcleos de ocupação, agrupados nos sítios de Casa Branca 1 e de Salsa 3, tendo sido neste último sítio registado um momento do Bronze Final e outro da I Idade do Ferro.

4. Intervenção Arqueológica De acordo com a metodologia previamente estipulada, baseada nos princípios estratigráficos definidos por E. Harris73, foi alargada a sondagem I para Sul e para Este, numa totalidade de 50m2 e entretanto alargada mais 12m2 para Este de forma a verificar se as estruturas detectadas se prolongavam nessa orientação. Numa outra fase, foi decidido, depois da visita dos arqueólogos da EDIA e dos arqueólogos da extensão de Castro Verde do IGESPAR, fazer a remoção da camada superficial em toda a área a afectar. Para tal recorreu-se aos trabalhos de uma máquina retro-escavadora que foi acompanhada por um arqueólogo e um técnico de arqueologia. Após esse trabalho foram definidas 5 áreas de intervenção, onde se verificou a existência de manchas de terra castanha. Essas 5 áreas correspondem às sondagens III, IV, V, VI e VII, marcadas com cerca de 62m2.

4.1. Sondagem I

Memórias d’Odiana • 2ª série

120

Podemos observar, destacando entre as estruturas um alicerce de muro (U.E.-038) em pedra de xisto, fazendo um cunhal. Não foi possível aferir a sua planta ou funcionalidade. Quanto à sua cronologia parece-nos estar entre o século IV e o século V d. C., pelas suas características construtivas. Não foi possível detectar a sua vala de fundação. Foram registadas, na sondagem 1, 4 estruturas negativas, uma espécie de covas arredondadas ou ovaladas, onde surgem camadas ora de terra castanha ora de terra cinzenta escura com alguns carvões, com bastantes materiais da Idade do Ferro, entre os séculos VI-IV a.C. Estes enchimentos assumem a forma das covas como podemos ver no corte Oeste da sondagem 1 (Fig. 2). Estas estruturas negativas são escavadas ou na rocha ou numa terra amarela caracterizada por rocha desfeita formando uma espécie de argamassa e sem quaisquer tipo de materiais arqueológicos. Nesta sondagem não surgem buracos de poste, nem estruturas pétreas de cabanas, sugerindo um modelo de ocupação de território temporário. Os dois momentos da Idade do Ferro constatados podem e devem ter sido descontinuados. Podemos definir 4 fases de ocupação nesta sondagem: 1 – Destruição da U.E.-038 e terras de revolvimento devido à agricultura de cereal. 2 – Época tardo-romana/altomedieval e Moderno/Contemporâneo; 3 – Fase de ocupação da Idade do Ferro (séc.VI-V a.C.); 4 – Fase de ocupação da Idade do Ferro (séc. V-IV a.C.). Na sondagem I foram exumados 6997 fragmentos de cerâmica, fragmentos de material lítico e fragmentos de metal, além de vários fragmentos de material osteológico e malacológico.

73

HARRIS: 1991.

COMUNICAÇÕES

Figura 2 – Corte Oeste da Sondagem 1.

Figura 3 – Fossa da sondagem III.

4.2. Sondagem III74 Esta sondagem resultou do último alargamento, quando se decidiu proceder à decapagem da camada superficial recorrendo-se à utilização de uma máquina retro-escavadora. A essas terras removidas com máquina foi atribuída a U.E.-068. Após os trabalhos realizados com máquina foi marcada a sondagem III entre os pontos: M-246546.810, P-114203.943; M-246542.093, P-114206,757; M-246537.985, P-114199.957 e o M-246542.618, P-114197.840 com cerca de 52m2. Foi atribuída a U.E.-300 a terras castanhas escuras de limpeza dos trabalhos com máquina. Após esta limpeza foram registadas quatro manchas de terra argilosa castanha escura: a U.E.-301 que enche um interface, U.E.-308; a U.E.-302 que enche um interface, U.E.-312; a U.E.-303 que enche o interface, U.E.-311. Estes depósitos, que praticamente não têm espólio arqueológico, enchem pequenas depressões escavadas numa terra castanha amarelada, U.E.-313. Um outro depósito de terra argilosa castanha escura enche uma depressão/fossa maior, semelhante às da sondagem I. A este depósito foi dado o número de unidade estratigráfica, U.E.-304. Sob ele foi registada uma terra castanha escura compacta, U.E.-305. Após a remoção deste depósito foi registada uma terra castanha escura com manchas brancas de calcário desfeito, U.E.-306. Sob esta camada surge-nos uma terra castanha clara, U.E.-207 e uma terra castanha acinzentada, U.E.-309. Todos estes depósitos enchem um interface, U.E.-310. Podemos concluir que nesta sondagem III, foram registadas 14 unidades estratigráficas, onde se destaca mais uma fossa (Fig. 3) onde se salienta a exumação de uma mó manual em granito com o dormente e o movente, bem como, bastante fauna mamalógica de grande porte. Nesta sondagem foram exumados 157 fragmentos de cerâmica e de fragmentos de material lítico, além de vários fragmentos de material osteológico, mamalógico e malacológico.

4.3. Sondagem IV

74 A sondagem II foi intervencionada na 1ª Fase dos Trabalhos e como tal não consta deste trabalho, de qualquer forma não forneceu qualquer tipo de informação arqueológica.

COMUNICAÇÕES

121

Memórias d’Odiana • 2ª série

Esta sondagem ao contrário das outras que foram marcadas devido à existência de manchas de terra argilosa castanha escura com materiais, foi marcada devido a ter-se detectado no corte realizado pela máquina da obra da barragem, ou seja no interface U.E.-031 virado a Oeste, restos do que poderia ser uma lareira ou um forno. Assim, e após se ter atribuído a U.E.-400 a terras castanhas escuras de limpeza dos trabalhos realizados pela máquina, detectou-se uma terra castanha escura compacta, U.E.-401. Sob ela surge uma terra negra, queimada, U.E.-402, sobre uma lareira.

Figura 4 – Lareira da Sondagem IV.

Figura 5 – Silo da Sondagem V.

A lareira, U.E.-406, (Fig. 4) é composta por uma camada de barro com cerca de 3cm de espessura, barro compacto e cozido. Esta lareira foi destruída pelo corte, U.E.-031 e parece ter tido algumas pedras a circundá-la, se bem que, nos tenham chegado até hoje, apenas, duas ou três. Após a remoção do barro registou-se o interface, U.E.-409 que corta uma terra cinzenta, U.E.-408, que foi sujeita ao calor. Esta terra enche um interface, U.E.-403 que corta uma terra castanha escura, U.E.-404. Este depósito cobre a U.E.-410. Também, sob a U.E. 401 forma registados três enchimentos de terra castanha escura, nomeadamente, a U.E.405 que enche um buraco de poste, U.E.-407, a U.E.-412, que enche quatro pequenos buracos de poste alinhados e a U.E.413 que enche uma depressão, U.E.-415. Todos estes interfaces cortam uma camada de terra castanha clara com nódulos brancos de calcário, U.E.-410. No alargamento a Este foi atribuída a U.E.-411 a uma terra igual à U.E.-410, sob ambas foi registada a rocha-base, U.E.-064. Nesta sondagem IV destacamos então uma lareira feita em barro e estruturada com pedras. A Norte da referida lareira foram detectados 4 buracos de poste alinhados, mais outro junto a estes. Nesta sondagem foram exumados 69 fragmentos de cerâmica e de material lítico.

4.4. Sondagem V

Memórias d’Odiana • 2ª série

122

A sondagem V corresponde a um triângulo entre o M-246550,683 P-114221,127, o M-246,545,126 P-114211,898 e o M-246547,708 P-114210,353, com cerca de 20m2. Foi registada com o número de U.E.-500, as terras castanhas escuras de limpeza, resultantes dos trabalhos realizados com máquina. Sob essa camada surge uma mancha de terra castanha escura, U.E.-501,com cerca de 80 a 90 cm de diâmetro. Desde logo se verificou tratar-se de um silo (Fig. 5). Foram então registados dos seus enchimentos mais ou menos de 15 em 15cm ou quando surgiam pedras ou camadas diferentes dignas de registo. Assim, foi registada a U.E.-502, caracterizada por uma terra castanha escura com nódulos brancos de calcário. A U.E.-503 apresenta as mesmas características da camada anterior. A U.E.-504 e a U.E.-505 caracterizam-se ambas por uma terra castanha com pedras grandes, seguem-se as U.E.-506 e U.E.-507 caracterizadas por uma terra castanha compacta. Sob a U.E.-507, foi registada uma terra castanha com pedras pequenas, U.E.-508, a que se seguiu uma terra castanha com pedras pequenas e duas tijoleiras completas, com argamassa. Ao interface do silo foi atribuída a U.E.-510. Este interface encontra-se cortado na terra amarela, U.E.-511 e na rocha, U.E.-564. Caracteriza-se por ir alargando junto ao fundo, parecendo uma cabaça (Fig. 6). Destacamos, pois, na sondagem V, o surgimento de um silo escavado na rocha com cerca de 1,40m de profundidade. Salientamos a exumação de duas tijoleiras, com dimensões muito semelhantes às tegulae, no fundo do silo, o que faz apontar para uma cronologia mais recente, talvez da época do muro da sondagem 1, tardo-romano ou alto-medieval. Outra hipótese seria a de que o silo teria sido reutilizado nessa época. Não podemos confirmar a cronologia da sua construção. Nesta sondagem foram exumados 304 fragmentos de cerâmica, fragmentos de material lítico e fragmentos de metal. COMUNICAÇÕES

Figura 6 – Desenho do corte do silo da Sondagem V.

4.5. Sondagem VI Sondagem com 3m2, marcada entre os M-246548,215 P-114222,843; M-246549,080 P-114222,326; M-246546,680 P-114220,282 e M-246547,525 P-114219,768. Nesta sondagem não se registaram quaisquer estruturas nem materiais arqueológicos.

4.6. Sondagem VII Sondagem com 3m2, marcada entre os M-246549,929 P-114227,606; M-246550,821 P-114227,107; M-246548,370 P-114225,069 e M-246549,236 P-114224,554. Nesta sondagem não se registaram quaisquer estruturas nem materiais arqueológicos.

5. Espólio Arqueológico

COMUNICAÇÕES

123

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O material arqueológico exumado caracteriza-se na sua maioria por material cerâmico, sendo em maior percentagem a cerâmica feita à mão, se bem que, surja já alguma cerâmica feita a torno. Quanto a tipologias funcionais e formais são essencialmente cerâmicas de cozinha como alguidares, taças, potes e panelas. São bastante comuns as taças hemisféricas de engobe cinzento existindo, também, algumas com engobe castanho. Algumas destas taças apresentam-se perfuradas junto ao bordo. Surgem-nos também alguns alguidares e potes de cerâmica manual, hemisféricos e globulares com asas, vasos carenados de cozedura redutora e com colo longo. Foram também exumados vários fragmentos de ânforas. Destacamos para além das formas e decorações, as peças grafitadas, com uma estrela de cinco pontas, cruzes e linhas circulares paralelas. A matéria-prima do material lítico exumado nesta intervenção é essencialmente quartzito, material que é mais comum junto ao Guadiana, surge também quartzo, granito e algum sílex. Surge também xisto mas na construção do

muro, U.E.-038. Foram exumados na sondagem 1: 8 fragmentos em quartzo, 81 em quartzito, 9 em granito e 2 em sílex. Deste material destacamos um machado, e uma mó manual com dormente e movente em granito. Do espólio metálico destacamos as duas fíbulas, 2 agulhas, um fragmento de arado e 1 de espora e um fragmento de placa em bronze. Não nos foi possível fazer um estudo aprofundado dos materiais que, entretanto, foram depositados no Museu Municipal de Serpa e à disposição da comunidade científica. Apresentamos uma primeira contabilização por fragmentos divididos por: 665 fragmentos de bordo, 5 bordos com asa, 18 bordos com decoração, 4 bordos com graffiti, 8 bordos com perfuração, 14 fragmentos de asa, 6154 fragmentos de panças, 22 panças com asa, 38 panças com decoração, 1 pança com asa e decoração, 8 panças com graffiti, 11 panças com perfuração, 176 fragmentos de fundos, 2 fundos com decoração, 3 fundos com graffiti, 6 cossoiros, 3 patelas, 130 fragmentos de ânfora, 45 fragmentos de cerâmica cinzenta, 50 fragmentos de cerâmica com características romanas, 6 fragmentos de cerâmica pintada, 6 fragmentos de vidrados de chumbo, 1 fragmento de faiança, 22 fragmentos de material de construção, 3 outros, num total de 7382 fragmentos.

6. Conclusões Depois de se ter intervencionado cerca de 300m2 foram postos a descoberto várias estruturas: um muro, U.E.038, possivelmente de cronologia tardo-tomana ou alto-medieval, um silo que embora não se tenha conseguido determinar a cronologia de construção, sabemos que foi utilizado aquando a utilização do muro, U.E.-038, pelas tijoleiras encontradas. Foram detectadas várias estruturas negativas, espécie de fossas redondas ou ovais com níveis de materiais de cronologia da Idade do Ferro, numa primeira fase dos séc.s VI/V a.C. e numa segunda fase dos séc.s V/IV a.C., uma lareira e alguns buracos de poste com materiais também da Idade do Ferro. O tipo de povoamento não está ainda bem definido, pois não foram detectadas estruturas pétreas o que implicava uma estabilidade que seria facilmente comprometida. A facilidade de acesso a uma linha de água, apontará para um habitat onde a actividade agrícola ou piscícola fosse a base da economia atestado pelo aparecimento de vários cossoiros e da mó manual. Será, pois a Casa Branca 11, mais um núcleo de povoamento com ocupação temporária, embora recorrente, o que explica cronologias distintas. Os dois momentos da Idade do ferro podem e devem ter sido descontinuados. Apesar da presença das fíbulas, as cerâmicas não são de importação ou excepcionais, podendo indicar estarmos na presença de contextos de abandono e despejo.

%LEOLRJUDÀD ANTUNES, A. S. T. G. (2005) – “Castro da Azougada – conjunto cerâmico. Em torno da Idade do Ferro Pós-Orientalizante da margem esquerda do Baixo Guadiana”. Lisboa: Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Texto Policopiado. HARRIS, E. C. (1991) – Principios de estratigrafía Arqueológica. Barcelona: Editorial Crítica. JIMÉNEZ ÁVILA, J.; ORTEGA BLANCO, J. (2005) – El poblado orientalizante de El Palomar (Oliva de Mérida, Badajoz) Notícia Preliminar. IN Arquitectura oriental y orientalizante en la Península Ibérica. Madrid: eds. D. Ruiz Mata y S. Celestino. p. 227-248. JIMÉNEZ ÁVILA, J. ; ORTEGA BLANCO, J. ; LÓPEZ-GUERRA, A. M.ª (2005) – El poblado de “El Chaparral” (Aljucén) y el asentamiento del Hierro Antiguo en la comarca de Mérida. Mérida: Mérida escavaciones arqueológicas. 2002, 8 Lopes, M Conceição; Carvalho, P. C, et al (1997) – Carta Arqueológica do Concelho de Serpa. Serpa: Câmara Municipal de Serpa.

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LOPES, M. C. (2003) – A Cidade Romana de Beja – Percursos e debates acerca da “civitas” de Pax Ivlia. Coimbra: Instituto de Arqueologia e Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. LOPES, M. C. (2003) – A Cidade Romana de Beja – Percursos e debates acerca da “civitas” de Pax Ivlia. Catálogo de Sítios. Coimbra: Instituto de Arqueologia e Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. MATALOTO, R. (2004) – “Meio Mundo: o início da Idade do Ferro no cume da Serra d’Ossa (Redondo, Alentejo Central)”. IN Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa: Instituto Português de Arqueologia. Volume 7, número 2, p.139-173. PONTE, S. da (2006) – Corpus Signorum das Fíbulas Proto-Históricas e Romanas de Portugal. Coimbra: Caleidoscópio, Edição e Artes Gráficas, Ltd. p.135-144. ROCHA, L. (2003) – “O monumento megalítico da I Idade do Ferro do Monte da Tera (Pavia, Mora): Sectores 1 e 2”. IN Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa: Instituto Português de Arqueologia. Volume 6, número 1, p.121-129.

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