Costa do Marfim. A repaginação da banda Cachorro Grande

June 23, 2017 | Autor: C. Govari Nunes | Categoria: Identity (Culture), Rock Music, Music scenes
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COSTA DO MARFIM A REPAGINAÇÃO DA BANDA CACHORRO GRANDE Caroline Govari Nunes Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) [email protected]

Considerações iniciais: um panorama do rock gaúcho Quando eu cheguei à Olelê Music para conversar com o Leandro “Lelê” Bortholacci sobre “qualquer coisa que ele quisesse me contar sobre a cena musical de Porto Alegre”, já que eu estava procurando algo que me interessasse para pesquisar, jamais imaginei que chegaríamos ao Costa do Marfim. Comentei, sem pretensão alguma, que eu era integrante de um projeto de pesquisa1 que fazia um mapeamento das cenas musicais de Porto Alegre e Manchester, e então ele me mostrou algumas músicas do novo disco da Cachorro Grande (uns quatro meses antes do lançamento), o qual tinha “uma pegada Manchester”, como ele mesmo disse ao dar play nas músicas. Dessa forma, por já pesquisar identidades culturais e cenas musicais, percebi que o Costa do Marfim vinha a calhar perfeitamente, já que aqui consigo discutir a identidade de uma banda e posteriormente a reciclagem da identidade da mesma banda – não só na questão sonora, mas estética e performática no palco –, pensando de que forma outras matrizes culturais influenciaram em tudo isso. Mas voltemos ao início de nossa conversa. Em atividade desde 1997, a Olelê Music já gerenciou a carreira artística de importantes bandas no cenário musical do rock gaúcho: Bidê ou Balde, Comunidade Nin-Jitsu, Fresno, Tequila Baby, Acústicos & Valvulados, Reação em Cadeia, Ultramen, Defalla e Cachorro Grande, só para citar alguns. Lelê considera o ano de 2000 um divisor de águas para o rock gaúcho, pois foi nesse ano que aconteceu o boom da

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O projeto Creative Industries, Cities and Popular Music Scenes: The Social Media Mapping of Urban Music Scenes, desenvolvido em conjunto por pesquisadores vinculados à Universidade do Vale do Rio dos Sinos e à Universidade de Salford, vem tentando fazer um mapeamento das cenas musicais de Porto Alegre, tendo como parâmetro algumas iniciativas realizadas em Manchester. Site oficial: http://www.poamusicscenes.com.br/

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nova geração. Por exemplo, em 2000 a Comunidade Nin-Jitsu tocou no Planeta Atlântida, maior festival de música do sul do país. Quando fala sobre o rock gaúcho, o proprietário da Olelê Music acredita que o humor das bandas daqui não é muito compreendido “lá pra cima”, daí acontece de algumas bandas tentarem se estabelecer no eixo Rio – São Paulo e acabarem voltando, como foi o caso da Comunidade Nin-Jitsu. Já bandas como Fresno e Cachorro Grande, que não têm o discurso “rock gaúcho”, mas sim um discurso universal, conseguem se fixar no centro do país, fazendo sucesso com os públicos do Brasil inteiro2. E afinal de contas, o que é “rock gaúcho”? Amaral e Amaral (2011) comentam que a expressão provavelmente foi inventada bem no começo da década de 1970 logo após o surgimento da Liverpool Sounds (que rapidamente mudou seu nome para Bixo da Seda), em 1967, cujas influências são bandas como, por exemplo, Beatles (e outras bandas inglesas), e músicas nativistas do Rio Grande do Sul. Na década seguinte, houve o estouro de bandas no país inteiro e as bandas do Rio Grande do Sul também entraram nessa: bandas como Engenheiros do Hawaii, TNT, Os Cascavelletes, Os Replicantes, Nenhum de Nós, Defalla Graforréia Xilarmônica, Garotos da Rua, entre outras, surgiram nessa época, e muitas se mantêm até hoje. Embora o som delas fosse diferente (como Os Replicantes e Garotos da Rua, por exemplo), todas receberam o mesmo rótulo: rock gaúcho (Amaral e Amaral, 2011). Nas décadas de 1990 e 2000, consolidaram-se as bandas que comentei no início do texto: Bidê ou Balde, Cachorro Grande, Acústicos e Valvulados etc. Em junho de 2005, a MTV lançou o DVD “Acústico MTV: Bandas Gaúchas”, e “foi a primeira vez em que o estilo rock gaúcho foi lançado em uma coletânea em nível nacional” (AMARAL e AMARAL, 2001, p. 6). Participaram do DVD as bandas Cachorro Grande, Bidê ou Balde, Ultramen e Wander Wildner (ex-líder d’Os Replicantes). Por possuir características de ser “autocentrado e autossustentável em relação à sua produção musical” (AMARAL e AMARAL, 2011, p. 6), acredito que há uma identidade sendo trabalhada neste contexto de rock gaúcho. Dessa forma, busco problematizar e discutir questões identitárias no subtítulo a seguir.

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Essas informações foram cedidas por Leandro “Lelê” Bortholacci em 30 de maio de 2014, em uma conversa na Olelê Music.

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Identidades culturais e cenas musicais Ao identificar uma identidade sendo trabalhada nas cenas musicais de Porto Alegre – e no tal rock gaúcho –, penso que é necessário compreender o que é identidade e como ela se constrói, simbólica e socialmente. A concepção de sujeito na pós-modernidade, para Hall (2006), é de um sujeito subdividido, composto de várias identidades, as quais se contradizem e se empurram em diferentes direções, fazendo com que nossas identificações sejam continuamente deslocadas. Além disso, o autor diz que uma “identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia” (HALL, 2006, p 13). Assim, entendo que o sujeito é um ser fragmentado, que ocupa várias posições, ou seja, estas posições que esse sujeito ocupa são sempre relacionais, estes fragmentos sempre serão configurados na relação com o outro e com a sociedade, já que estamos falando de uma identidade que não é única. Quando fala de identidades culturais, o autor ainda comenta que as identidades culturais apresentam aspectos de nossas identidades que aparecem em nosso “pertencimento” a culturas étnicas, raciais, linguísticas, religiosas e nacionais. Através do entendimento discursivo e psicanalítico, sugere o termo “identificação” para compreendermos como acontece esse “pertencimento”. Hall diz que as identidades são pontos de afeição temporária às posições do sujeito que as práticas discursivas reúnem para nós (HALL, 2000, p. 80). No contexto em que apresento o rock gaúcho e a música produzida em Porto Alegre em meados dos anos 2000, temos uma identidade cultural ocorrendo dentro de uma cena musical, cuja noção está relacionada aos modos como os movimentos culturais tencionam mundos e classificam afazeres musicais. “Mais do que um conceito, é uma proposição acadêmica para se entender a música em seus processo de (re)territorialização” (JANOTTI Jr, J.; SÁ, S., 2013, p. 5), isto é, cenas musicais é o modo de construir cidades e músicas. Quem nos apresenta o conceito de cena é Straw (2013), explicando que cena constitui determinados conjuntos de atividades sociais e culturais sem especificação quanto à natureza das fronteiras que os circunscrevem. Uma cena nos convida a mapear o território da cidade de novas maneiras enquanto, ao mesmo tempo, designa certos tipos de atividade cuja relação 3

com o território não é facilmente demonstrada (STRAW, 2013, p. 12). Ainda, para o autor, cena é um meio de falar da capacidade que a cidade tem para originar imagens de pessoas ocupando o espaço público de formas sedutoras, capturando o sentido da ebulição e exposição que são as características de uma estética urbana, ao nos depararmos com a efervescência de uma época sendo retratada, e como acontece também na literatura, cinema e música. Straw (2013) explica que “as cenas surgem a partir dos excessos de sociabilidade que rodeiam a busca de interesses, ou que fomenta a inovação e a experimentação contínuas na vida cultural das cidades” (STRAW, 2013, p. 13). Para o autor, o desafio da pesquisa é reconhecer o caráter arisco e passageiro de uma cena, e, ao mesmo tempo, reconhecer seu papel produtivo – e até mesmo funcional – na vida urbana. Isto é, como a música oferece um pretexto para sair para a vida urbana, consumir cultura e interagir coletivamente, percebo aqui que o consumo de música gera uma sociabilidade urbana móvel com mais facilidade do que outras cenas culturais – o próprio autor nos aponta este fato. A música gera uma interatividade coletiva que se enquadra na vida pública mais difusa das cidades, em mesas de bar, casas noturnas e em conversas públicas e coletivas. Além disso, a importância da música em relação às cenas garante que o investimento comercial “que produz novos espaços ou rituais de socialização permaneça entrelaçada com uma história das formas culturais, com as curvas de modismo e popularidade que concedem à história cultural uma dinâmica particular” (STRAW, 2013, p. 15).

Procedimentos metodológicos

Pensando em um nicho de estudos que discuta o campo da comunicação por um viés da história da cultura, chegamos até a Arqueologia da Mídia. Este é um estudo que olha de maneira diferente para a comunicação. São poucos os estudiosos que se debruçam sobre o tema – principalmente no Brasil, e quem nos traz essa perspectiva de maneira mais clara é Goddard (2014). Entendemos a importância dos estudos de Arqueologia da Mídia, uma vez que eles acabam renovando a área de pesquisa comunicacional. Goddard (2014) traz à tona novos métodos que têm o intuito de responder às problematizações de um ambiente permeado 4

por novas tecnologias. Também traz novas perspectivas para a pesquisa empírica, além de acrescentar uma dimensão temporal, que relaciona o presente ao passado, e considera a mudança como crucial para qualquer prática de mídia ou indústria criativa. Esta pode ser uma mudança tecnológica, sócio-cultural, ou o desenvolvimento de uma indústria criativa específica como, por exemplo, a indústria fonográfica, antes e depois do Napster3 e o compartilhamento de arquivos. Com embasamento nas pesquisas de teóricos da mídia alemã, como Friedrich Kittler e Seigfried Zielinski, Goddard (2014) explica que esse pensamento aparece como uma modernização da arqueologia do saber de Foucault para o audiovisual e a era da mídia digital. A Arqueologia da Mídia, através da perspectiva da materialidade, acaba rompendo com as teorias de mídia clássicas, contrapondo a ideia de descorporalização da mídia. Dessa forma, privilegia o desenvolvimento tecnológico e as invenções científicas como métodos midiáticos. Tentando descobrir de que forma a cena musical apresenta meios diferenciados para refletir os circuitos que abordam as práticas culturais e dinâmicas identitárias dos grupos juvenis, e como a música age nestes enquadramentos e processos de identificação cultural, me proponho a explorar de que forma a identidade da Cachorro Grande foi afetada por outras matrizes culturais. Até então, os músicos, assim como a maioria das bandas gaúchas, tinham influências de bandas clássicas do rock. Entretanto, no disco lançado em setembro de 2014, percebemos uma forte mudança na sonoridade da banda: agora eles trazem uma mistura de rock com música eletrônica, característica da cena Madchester4, de Manchester. Não obstante, o show de lançamento do disco também se torna muito importante durante essa análise. Pensando em um contexto de indústria cultural, encontramos detalhes sobre como as indústrias culturais são organizadas em “Assessing the Cultural Industries”. Hesmondhalgh (2012) analisa a estrutura das indústrias culturais, o tipo de trabalho envolvido e o papel dos gestores criativos e intermediários culturais. Para o autor, a divisão do trabalho nas indústrias culturais contemporâneas é muito importante e é subdividida em quatro seções: a primeira, 3

Napster é um software que possibilitava a troca direta de arquivos de música entre os usuários (PORTO, 2003). Madchester foi um movimento musical que aconteceu em Manchester/UK no final da década de 1980 e início da década de 1990. A música resultante deste movimento é identificada como uma mistura de rock alternativo, dance music e psicodelia. 4

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que é composta por músicos, escritores, jornalistas etc; a segunda, composta por engenheiros de som, operadores de câmera etc; a terceira, composta por gerentes, produtores de cinema etc; e a quarta, por donos, executivos, isto é, pessoas que fornecem o capital e têm o poder de contratar sujeitos em determinada indústria, mas que raramente tem papel criativo na produção. Eu tentei conversar com atores sociais de pelo menos duas das quatro seções da indústria cultural em que esta pesquisa está focada. Para isso, me baseei principalmente nas pesquisas de Cohen (2012). Em seu artigo intitulado “Bubbles, Tracks, Borders and Lines: Mapping Music and Urban Landscape”, a autora explora a relação entre música e ambientes urbanos através de uma pesquisa etnográfica realizada com músicos de rock e hip-hop, em Liverpool, cidade portuária situada na costa noroeste da Inglaterra. Eu não usei mapas, mas fui atraída pela pesquisa etnográfica (que inclui entrevistas, imagens, observações etc) da autora para a minha experiência de campo. Cohen (2012) desenvolve, no decorrer de seu texto, seções onde explica os métodos envolvidos e o porquê do mapeamento conceitual, faz entrevista com atores sociais da cena e explora as implicações dessa pesquisa para conceituar e compreender a relação entre os ambientes de música e materiais urbanos, fazendo uso de seus conhecimentos de antropologia, musicologia e pesquisa sociológica. Cohen (2012), que reflete sobre o potencial do mapeamento conceitual como uma ferramenta na investigação da música, entrevistou cerca de 60 músicos durante dois anos de projeto, além de participar e observar as atividades desse espaço urbano. Por isso, e principalmente por fazer uso da etnografia, a autora foi importante no processo de desenvolvimento da minha pesquisa. Na mesma linha de Cohen (2012), Brenan-Horley, Luckman e Willoughby-Smith (2013) também comentam sobre o uso da etnografia. Os autores discutem como as GIS (Geographic Information Technologies) têm se tornado cada vez mais populares em ambas as esferas públicas e comerciais, bem como a pesquisa acadêmica. Neste projeto, a tecnologia GIS foi usada para "recolher e analisar dados sobre as indústrias criativas em um lugar específico" (Brennan-Horley et al, 2012, 25, tradução minha). Assim como no trabalho de Cohen (2012), o projeto de Brennan-Horley et al utilizou mapas digitais de ponta e mapas mentais dos participantes. Entretanto, ao contrário dos antigos projetos, esses mapas mentais também puderam ser digitalizados e, portanto, 'medidos', até certo ponto (Brennan-Horley et 6

al, 2012, 27, tradução minha). GIS poderia, então, ser usado para construir sobreposições dos diferentes mapas mentais dos participantes, revelando informações de forma visual, espacial, bem diferente para ambos os métodos padrão estatísticos ou qualitativos.

Costa do Marfim, um passeio pela Manchester do Stone Roses

Foram seis discos sendo comparados com The Beatles, The Rolling Stones e The Who, entre outros clássicos do rock. Os discos são: Cachorro Grande (2001), lançamento independente; As Próximas Horas Serão Muito Boas (2004), lançado pela revista OutraCoisa; Pista Livre (2005), Todos os Tempos (2007) e Cinema (2009) lançados pela Deckdisc; e Baixo Augusta (2011), lançado pela Trama. Formada em 1999 em Porto Alegre – e radicada em São Paulo (SP) desde o segundo semestre de 2004 – a Cachorro Grande tinha um ótimo primeiro disco, um amadurecimento nos discos seguintes, estava prestes a debutar na estrada e tinha uma marca registrada. Quando tudo se solidificou, eles resolveram “quebrar a casca” e se libertar. Foi mais ou menos assim que Beto Bruno me falou sobre o Costa do Marfim (2014), disco mais recente da banda, antes do show de lançamento no Bar Opinião, dia 09 de outubro de 2014, em Porto Alegre. Volto nessa conversa em breve. A reciclagem de sua própria identidade e o diálogo entre rock e música eletrônica, característica da cena Madchester, são alguns dos pontos que me levaram a ter interesse no Costa do Marfim, pois o disco é diferente de tudo o que a banda fez, até então. Por Beto Bruno ter me falado que “o Edu fez com que a gente se libertasse”, como veremos no tópico seguinte, resolvi investigar de que forma Edu K, ao produzir o novo disco, foi tão crucial na mudança da sonoridade da banda. Em uma tarde chuvosa de segunda-feira, no 17º andar de um prédio na Avenida Senador Salgado Filho, centro de Porto Alegre, Edu K5 me contou que seu estilo de produção

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Vocalista e fundador da influente Defalla, banda criada no cenário da década de 1980 em Porto Alegre, que carrega debaixo do cinto alguns dos álbuns mais icônicos do rock brasileiro, como “Papaparty”, “It’s Fucking Boring To Death” e “Kingzobullshit”. Além da Cachorro Grande, Edu K já trabalhou com nomes como Otto,

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deriva do estilo de produção de música eletrônica. Técnicas e ferramentas da música eletrônica, como bateria sequenciada, em looping, a maneira como se processa e edita o som, tudo – absolutamente tudo – é feito de um jeito diferente. Nada de gravar de ponta a ponta, como num disco normal. O líder do Defalla me disse que a Cachorro Grande tinha o esqueleto do novo disco, mas que praticamente tudo mudou no estúdio. Como os músicos não haviam ensaiado, eles foram criando e gravando em cima das bases que Edu tinha feito. O disco foi montado na hora. O cerne das composições é da Cachorro Grande, mas quem direcionou e colocou a pitada Madchester foi Edu K. O lance da música e de ter um visual diferente no palco foi muito comentado pensando nessa referência de Manchester e da Inglaterra. Essa geração do Stone Roses, Happy Mondays, são caras que frequentavam raves; as raves explodiram nos anos 90, quem pegou o final dos anos 80 e inicio dos anos 90 já não ia a show de rock, ia em rave, e aí é outra experiência, tem as drogas, show de luzes, outro tipo de musica que é uma cena reminiscente psicodélica do Pink Floyd, na Inglaterra, e do Woodstock, em San Francisco. As duas cenas têm uma ligação direta com a psicodelia, e aquilo mudou a cabeça da gurizada do rock. Eles transformaram o show deles, inseriram aquela batida mais groovezona, e eu fiquei louco com isso. Sempre gostei de mistura, sempre gostei de rave, e sempre gostei dessa mistura no rock, e mesmo eu tendo desviado total pro eletrônico depois, os meus shows sempre tiveram uma pegada rock (EDU K, 2014).6

Edu comenta que a Cachorro Grande inseriu tudo isso em sua música, e eles tinham que carregar isso no show, também. O lance do novo visual, a nova identidade visual psicodélica meio rave, mas que também é um pouco mais moderna. Isso transforma o show em uma experiência sensorial muito maior. O Costa do Marfim é chocante porque vem com toda a frente (telão, postura no palco, texturas), mas o centro disso tudo ainda é o rock inglês psicodélico. A gente só trouxe eles pra um ponto mais moderno da cena. Essa cena Madchester e rave... O Kasabian também bebe da fonte sessentista, como a Cachorro, mas eles estavam enclausurados numa Chico Science, Detonautas Roque Clube, Pavilhão9, Mundo Livre S.A., Câmbio Negro, Comunidade Nin-Jitsu, Daniel Tessler, entre outros (THE BACKSTAGE BLOG, 2014). 6 Por opção metodológica, deixamos as falas dos entrevistados da forma como foi dito – sem edições e com o vocabulário usado por eles. Em função disso, eventualmente algumas falas podem se repetir, se cruzar, ficar essencialmente oral.

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espécie de reprodução do rock sessentista inglês. Os elementos que foram usados pra fazer o Costa do Marfim já estavam na história deles, eles não tiveram que buscar fora – pelo contrário – buscaram dentro deles. E eu cheguei e joguei a minha bagagem em cima deles. Eu faço música desde o inicio dos anos 80, passei por várias fases, e isso eram informações que eles não tinham. Isso casa com o que eles tinham. Eu poderia destruir a identidade deles, mas por uma coisa psicológica, da produção, eu soube lidar com isso. Eu olhei pra dentro deles e fui jogando minha bagagem nisso (EDU K, 2014).

Edu afirma que “o negócio, no nosso caso, não é exatamente um revival do som e imagem dessa cena Manchester, mas o que essa cena representou dentro do rock: uma fusão desse pessoal que frequentava as raves com as bandas, com som de banda” (EDU K, 2014). Assim, percebemos que a interação que ocorre entre a rave e a cena de Manchester tem a ver com o Costa do Marfim, da Cachorro Grande, porque eles buscam isso do eletrônico e trazem para o rock. A banda acabou mudando o seu próprio embasamento, fazendo um rock mais moderno. Inclusive, o uso das bases eletrônicas dá outro som para o show – fica mais pesado, com mais texturas. Edu me confirmou que o lance das bases não é pela estrutura, mas pelas texturas, o que deixa o show muito mais cerebral, e faz com que os músicos repensem o seu jeito de tocar. A Cachorro Grande não perdeu sua identidade fazendo o Costa do Marfim – até porque somos compostos de várias identidades, como explicou Hall (2006) – apenas a repaginou, isto é, há novas tensões identitárias sendo trabalhadas, um novo movimento performático acontecendo. Mas isso acontece só no som, ou igualmente no conceito do novo show? Na tentativa de descobrir, a seguir, utilizo técnicas do método etnográfico para descrever o que aconteceu em 09 de outubro de 2014, dia do lançamento do novo disco, no Bar Opinião, em Porto Alegre.

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O show de lançamento do Costa do Marfim

Montagem e passagem de som

Eu cheguei ao Bar Opinião às 16h05min. Tinha combinado com o Lelê que nos encontraríamos ali por esse horário, mas ele ainda não havia chegado. Somente o Boizinho estava no local, passando o som. Beto e Rodolfo, se não me engano, estavam nas rádios. Gross eu não sei onde estava, mas chegou pouco depois, assim como o Pelotas. Preciso comentar que quando cheguei ao bar uma coisa me chamou a atenção: tinha um guri (cópia do Beto Bruno, diga-se de passagem) na frente do local, já esperando pelo show da noite. Quando Beto e Thais, assessora de imprensa, chegaram, o guri entrou junto. Ele estava dando pulos de alegria. Perguntei para o guri o que ele estava esperando do show, o que ele tinha achado do disco novo, essas coisas. Ele mal conseguia falar. Falou o que eu já imaginava: que as expectativas para o show eram ótimas, que o CD estava ótimo, que ele curte a banda há anos, e que estava ali desde muito cedo. O guri se chama Giovanni Desidério, tem 20 anos e, horas depois, estava grudado na grade que separa o palco da plateia. Pois bem. Agora a banda inteira estava no Opinião e logo começaram a chegar pessoas para entrevista-los (Beto, depois, em um boteco ao lado do Opinião, me contou que já tinha dado 89 entrevistas desde o lançamento do disco, inclusive me pediu desculpas, pois estava exausto). Eu não tinha pressa para conversar com ninguém, estava ali para observar, então fiquei circulando, vendo o que todo mundo estava fazendo. Algumas gurias, que tinham entrevistado a banda, estavam de saída, e logo chegou Rodaika e Potter, junto com os câmeras da RBSTV, para gravar uma matéria para o Patrola. Isso sim levou bastante tempo. Primeiro, fizeram uma entrevista em cima do palco. Depois, gravaram o musical, que, se não me engano, passaria no final do programa. Os guris da banda estavam extremamente nervosos, ansiosos, começaram errando. Se o Boizinho, baterista, erra um centésimo de segundo, toda a banda se perde. Mas ok, foi só na primeira tentativa, depois deu certo. Gravaram “Como era bom”, “Nuvens de Fumaça” e “Bom Brasileiro”.

No

camarim, Coruja comentou que realmente estavam muito nervosos. Eu comentei que ia anotar 10

tudo isso, e ele me agradeceu dizendo que “agora, sim, vou ficar pior”. Mas o clima estava tranquilo.

Figura 01: gravação do musical para o Patrola

Figura 02: passagem de som

Boteco próximo ao Opinião, Beto Bruno e eu

Quando a galera do Patrola foi embora, Beto e eu fomos num boteco próximo ao Opinião, longe do barulho das trilhas e bateria. Sentamos, ele pediu um suco de uva e eu um suco de laranja. Ele me contou que o começo da banda foi difícil, mesmo. Que ele nasceu aqui no Rio Grande do Sul, mas foi embora para Minas Gerais aos 6 anos, e, por problemas de saúdem, retornou para Passo Fundo (RS) aos 22 anos. Como morava em Uberlândia, ele ia para vários lugares ver shows (Belo Horizonte, São Paulo, Brasília). Disse que ficou um ano e meio em Passo Fundo – “depois de ver o Brasil inteiro, voltar para Passo Fundo é terrível”. Aí ele veio para Porto Alegre, conheceu o Gross que, na época, tocava bateria no Júpiter Maçã. Ele mostrou algumas músicas para o Gross, eles pegaram um baixista, um baterista e montaram a banda. Eles mesmos que faziam os cartazes do show e saíam colar nos postes com uma tática de fazer isso somente após as duas da manhã, quando todos já tinham colado (dessa forma, o do show deles ficava por cima). 11

Ele me disse que, como o primeiro disco foi lançado na virada da década, para muitos, acabou ficando marcado como um disco conceitual. Além disso, muitos esperavam que eles viessem com um disco tradicional de “rock gaúcho”, mas eles já tinham um lance de música universal. Então eles começaram a sair de Porto Alegre, tocar em lugares maiores, até chegar em São Paulo e pensar: é aqui que a gente vai ficar. “Aqui é a cidade dos Mutantes”, disse ele. Quando comento sobre sair de Porto Alegre e “dar certo”, ele responde que muitos falam “nossa, vocês chegaram lá”, mas que todos chegam lá – o difícil é “se manter lá”. E a banda conseguiu se manter mesmo sem ter tido muito apoio da mídia, no começo, e que a ideologia deles é tentar fazer um show melhor que o outro, um disco melhor que o outro, se reciclar. “Ficar parado fazendo o mesmo “ieiêzinho” não é uma” (BETO BRUNO, 2014). Beto comentou que o primeiro disco foi libertador e faz uma ligação entre o primeiro, Cachorro Grande, e o mais recente, Costa do Marfim: fala que na turnê do DVD Cachorro Grande Ao Vivo no Circo Voador (2013) eles se deram conta de que não tinha mais graça. Foi a primeira vez que eles fizeram um DVD ao vivo, uma coletânea, e então perceberam que estavam fazendo cover deles mesmos. Como a turnê foi muito bem sucedida, eles não podiam parar, mas estavam sentindo-se musicalmente amarrados. É enfático quando diz que a paixão deles “é por música, e não sucesso”. Então, depois de um show, eles se deram conta de que não aguentavam mais, mesmo o público já conhecendo absolutamente todas as músicas. Eles estavam com o jogo ganho, mas musicalmente não tinham nenhum tesão. Quando fala sobre Edu K, diz que é um ponto muito importante para a mudança da sonoridade da banda. Ele diz que “Edu é do mundo”, por isso o chamaram. E que foi um sonho, pois queria trabalhar com Edu há anos, já que o fundador do Defalla sempre foi completamente diferente de todo mundo – não só no Rio Grande do Sul, mas no Brasil. Beto disse que Edu sabe que foi sua inspiração – não necessariamente na música, mas na atitude, no ser diferente, no fato de não ter amarras. “No estúdio, ele não foi só um produtor, ele foi um integrante da banda, e fez com que a gente “trocasse a casca””, diz o vocalista. Explico: eles tinham uma marca registrada que, inclusive, demorou a se concretizar. O primeiro disco foi explosivo e importante, mas parece que os outros, mesmo com o amadurecimento do som, são uma continuidade do primeiro. Então, quando tudo se solidificou, eles quebraram. 12

Todas as músicas foram criadas na hora. Algumas, inclusive, Beto terminava a letra poucos minutos antes de cantar. Até então, eles nunca tinham criado em estúdio: ensaiavam muito para gravar um disco, chegavam com as músicas prontas. Dessa vez, Edu fez com que eles pensassem um jeito diferente de fazer música. Quando a banda chegou com as demos e disse “ó, Edu, agora a gente vai ensaiar”, Edu disse “não, senhor, vamos fazer diferente, vamos criar todos os arranjos dentro do estúdio – e por isso as músicas têm 10 minutos. Foi libertador”, suspira Beto. Estava fácil: eles estavam lançando um disco melhor que o outro, as turnês estavam rolando, estava cômodo. Mas, mesmo assim, eles decidiram mudar tudo: estética, palco, performance e inclusive o figurino, pois não adiantava trazer um disco diferente e eles aparecerem de terno, como antigamente. Conversamos coisas alheias durante um tempo e somos interrompidos para ele tirar foto com um cara que estava sentado em uma mesa ao lado da nossa. Não conseguimos retomar o assunto, e quando somos interrompidos novamente para Beto tirar outra foto com duas fãs, ele diz que eu sou sua fotógrafa particular e que acabei de chegar da França. As gurias adoraram a história. Trocamos os telefones, combinamos de conversar outro dia, e voltamos.

De volta ao Opinião

Deve ser perto das 18h30min, 19h. Voltamos para o Opinião e o clima estava um pouco mais tenso. Alguém tinha esquecido um pendrive, que era muito necessário, e estavam brigando por causa disso. Parece que logo resolveriam, então sentei e esperei. Pouco depois, eles foram para o palco e eu desci para assistir da pista. Ouço gritos, algo dá errado, não entendo o que é, mas penso cá com meus botões que, definitivamente, rock’n’roll não é só festa. Principalmente no momento pré-show. Beto se irrita e vai para o camarim, Boizinho joga as baquetas em cima da bateria e sai também. Eu pensei: “ih, já era, não voltam mais”, mas logo eles voltaram. Dá algum problema, a trilha entra, mas a banda erra. Começam novamente; acertam. Eles passam três músicas e saem do palco. A essa altura eu já estava pensando “será que isso vai dar errado de noite, também?”. Mas não deu. 13

Opinião, 22h30min

O Lelê disse que o show começaria pontualmente às 23h, então cheguei meia hora antes para pegar meu credenciamento e algum tipo de crachá de “acesso livre”, para poder circular por todos os locais do bar. Ainda bem, porque os seguranças não deixam você passar por nenhuma porta mesmo tendo a pulseirinha de imprensa. Fui direto para o camarim para dar um oi, e já tinha uma galera (ganhadores de promoções, alguns amigos). Troquei uma ideia rápida com o Edu, e saí. Logo depois Edu, Thais (assessora de imprensa da banda) e um outro cara saem e nos encontramos ali perto da pista. Edu diz que assistir ali do meio é mais legal do que lá em cima, no camarote, e vamos para o meio da galera, bem no centro, em frente ao palco. Pouco depois o telão acende e aparece a capa do disco. Quando soltam “Costa do Marfim”, faixa selvagem-cheia-de-tambores-e-pássaros que abre o disco, Edu já está enlouquecido. Ele estava muito feliz, e me disse que aquelas músicas também eram dele; ele queria ver a reação da galera. A banda subiu ao palco enquanto era ovacionada pela plateia. Demorou um pouco para soltarem a primeira trilha (lembro de ter ouvido que o esquema seria o seguinte: a banda se olhava, se dava o ok, e o Boizinho dava o ok para o técnico responsável pelas bases). Então a trilha entrou ok, a banda entrou ok, e “Nuvens de fumaça” levou todo mundo ao delírio – eu mesma resolvi nem fotografar, nem nada, quis assistir a primeira música. Edu estava muito louco ao meu lado, pulando igual a uma criança. Resolvi dar uma circulada, mas estava praticamente impossível. Tinha umas 950 pessoas no local, e eu consegui andar muito pouco, só pelos fundos do bar. Subi as escadas, tirei algumas fotos, desci, fui para as laterais, fiz mais algumas fotos e fui para a área de imprensa, em frente ao palco. Ali fiquei um bom tempo. Se durante a tarde o clima estava tenso e todos estavam muito nervosos, durante o show estava tudo indo perfeitamente bem: banda entrosada, músicas funcionando direito e público adorando tudo isso. Beto estava visivelmente emocionado, afinal, perdeu seu pai há pouco tempo. Inclusive, fez uma pausa e disse que dedicava esse show a ele, e todos começaram a gritar “Bocajão”, apelido de seu pai. Saí da área de imprensa, passei pela porta que dá acesso ao camarim e ao palco e fiquei na lateral, vendo a banda um pouco ali de cima. 14

O Pelotas, tecladista, tocava em pé, dançava, sentava, se movimentava o tempo todo. Ele estava com um casaco de pele, todo montado no figurino, e devia estar cozinhando ali dentro. O som não é muito bom para quem fica na lateral do palco, então saí dali.

Figura 03: como eu via o palco área de imprensa

Figura 04: quando circulei pelo bar

Voltei para a área de imprensa, onde o som também não é legal, mas acabei ficando durante todo o “Ato 1” ali. O Ato 1 eram as músicas novas do disco: “Nuvens de fumaça”, “Eu não vou mudar”, “Como era bom”, “Crispian Mills”, “Use o assento para flutuar”, “Eu quis jogar” e “O que vai ser”. Já o Ato 2 eram as músicas conhecidas da banda, um tipo de “Baile da Cachorro”, e preciso dizer que o Ato 2 animou muito mais o público. Na verdade, são duas situações completamente diferentes: o Ato 1 é um desfrute sensorial muito mais inteiro, pois são várias texturas – é outro clima. O Ato 2 é um show pra fora, animadão, com banda pulando e público respondendo. No intervalo entre Ato 1 e Ato 2, os músicos tiraram o figurino Costa do Marfim e voltaram mais casuais (mas nada de terno e gravata). Boizinho tirou o fone de ouvido, já que não tinha mais as trilhas para se preocupar, Gross deixou um pouco os pedais de lado e o som voltou a ficar mais cru. A diferença foi brutal. A textura, que até então dava uma roupagem nova à banda, deu lugar às músicas retas que estávamos acostumados antes do Costa do Marfim.

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O telão, que no Ato 1 nos jogava para dentro de imagens psicodélicas, no Ato 2 mostrava cenas antigas da banda. O Ato 1 foi uma experiência muito mais intensa – de luzes, sons, imagens, tudo – com a tal pegada rave e Madchester, como comentou Edu. Não teve aquela explosão dos shows antigos da Cachorro Grande, mas tinha uma combustão muito mais interna, com texturas muito mais interessantes, com performances diferentes. As músicas que fizeram parte do Ato 2 foram “Lunático”, “Hey amigo”, “Deixa fuder”, “Bom brasileiro”, “A hora do Brasil”, “Roda gigante”, “Que loucura”, “Dia perfeito”, “Sinceramente” e “Velha amiga”. Em “Velha amiga”, uma garota no público começou a chorar desesperadamente. Ao lado dela estava aquele guri, o Giovanni, que chegou cedo da tarde, também muito emocionado. Eles passaram o show inteiro fazendo sinais para o palco, tentando chamar a atenção dos músicos, cantando até as veias saltarem em seus pescoços, mas em “Velha amiga” foi particularmente diferente. Tentei encontrar a garota no final do show, mas não tive sucesso.

Figura 05: público emocionado: chorando, sorrindo

Figura 06: o telão que nos sugava para dentro dele

O show terminou, mas a banda voltou para o bis com “Você não sabe o que perdeu”, e quase não dava para escutar a voz de Beto Bruno, pois o público cantou do início ao fim. Todo mundo muito louco – público e banda. Eu fui saindo da área de imprensa e me dirigi novamente à porta que dá entrada ao camarim/palco, pois queria ver como eles iam estar no minuto seguinte ao fim do show. Perdi a viagem, pois eles não saíram do palco, e quando 16

cheguei àquele espaço no cantinho do palco, o Beto Bruno estava chamando (e fazendo o público chamar) o Edu K para cantar uma música. Antes de o Edu chegar, Beto agradeceu o público, conversou, disse que é muito bom fazer show em Porto Alegre – ainda mais com algo tão especial e renovador, como o lançamento do Costa do Marfim. Edu K demorou a aparecer, e então eles começaram a tocar “Helter Skelter”, dos Beatles. Eu desci as escadas do camarim, voltei para a pista, mas não queria ficar na área de imprensa (minha cabeça já estava doendo de ficar olhando pra cima), mas também não conseguia chegar muito ao centro da pista – as pessoas dançavam, pulavam, e eu teria que sair na cotovelada para chegar ao meio. Fiquei na lateral esquerda, e de repente Edu K surge correndo no palco, arrancando o microfone do pedestal do Coruja (e perdendo o cabo do microfone, ou seja, começou a cantar sem sair som) e agarrando o Beto Bruno pelo pescoço. Logo veio um roadie para trocar o microfone, e enfim pudemos ouvir Edu K cantando. Não teve música nova bem executada, não teve música velha ovacionada – Edu K roubou a cena e tomou conta do palco. O vocalista do Defalla beijou Coruja na boca (na verdade, ambos colocaram suas línguas para fora e começaram a se lamber enlouquecidamente). Depois disso, Beto agarrou o rosto de Edu K e os dois também se beijaram na boca. Foi insano e todos pareciam se divertir muito (não sei dizer para quem foi mais divertido – se para a banda ou para o público). Eu já nem sei como acabou – me perdi no delírio coletivo. Eles foram saindo do palco, mas não sem antes destruir a bateria.

Figura 07: vista da lateral do palco

Figura 08: final do show, com Edu K no palco

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Backstage, por volta da 1h

Respirei por alguns minutos e me encaminhei novamente ao camarim. Cheguei e fui direto pegar uma água, nem falei com ninguém. Na verdade, eles nem tinham entrado – pelo menos não todos. Logo, pessoas foram entrando e o camarim ficou cheio, mas não de fãs e amigos: ficou cheio de familiares. Pais, mães, tios, esposas. Foi uma festa de família. Aos poucos, alguns familiares foram indo embora e pouquíssimos amigos foram chegando. Beto havia me dito que eles não iam receber muita gente, então ficou uma festa para os mais chegados. Daí em diante foi uma confraternização bem afetuosa: pessoas sorrindo, se abraçando, gesticulando, falando alto, mas sem música; sem muita folia. Eu estava exausta, com os olhos ardendo por causa da fumaça do cigarro, que contaminou todo o ambiente, então resolvi ir embora. Cheguei em casa às 3h30min e fui tentar dormir.

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