Costa Pinheiro. 2008a. Traduzindo Mundos, Inventando um Império: Experiências coloniais Européias e a conquista de um espaço epistemológico na Índia. In: Macagno, Lorenzo et allii (Org.). Histórias Conectadas: África, Ásia e Caribe séculos XIX e XX. Curitiba: Fundação Araucária, pp. 51-73

Share Embed


Descrição do Produto

Histórias conectadas e dinâmicas pós‐coloniais      Lorenzo Macagno  Fernando Rosa Ribeiro  Patrícia Santos Schermann  (orgs.)                                      Universidade Federal do Paraná  Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes  Departamento de Antropologia e Programa de Pós‐Graduação em  Antropologia Social    Apoio: Fundação Araucária    Curitiba, 2008   

Catalogação na publicação  Sirlei R.Gdulla – CRB 9ª/985  Biblioteca de Ciências Humanas e Educação ‐ UFPR                            Histórias conectadas e dinâmicas pós‐coloniais /   H673                Lorenzo Macagno; Fernando Rosa Ribeiro; Patrícia                     Santos Schermann. – Curitiba: Fundação Araucária,  2007.                        306 p.                      ISBN: 978‐85‐99229‐05‐7      1. Colonialismo. 2. Ásia. 3. África. 4. Caribe. 5.  Estado nacional. 6. Pós‐colonialismo.  I.Macagno, L. II. Ribeiro, F.R. III. Schermann,  Patrícia S. I. Título.                                                                                                                  CDD 321.05                                                                                   CDU 321.013                             Projeto gráfico: Fernando Alves da Silva    Desenho da capa: Bruna Garmatter    Foto da capa: Lorenzo Macagno, minarete (Qutb Minbar) da  Mesquita Central da Ilha de Moçambique, outubro de 2000.    Revisão: Angela Lazagna    Impressão e acabamento: Artes gráficas Renascer Ltda. 

INDICE        APRESENTAÇÃO  7      PARTE I: (DES) CONEXÕES     15 Capítulo 1   Histórias conectadas: uma proposta teórica e metodológica a partir  da Índia   Fernando Rosa Ribeiro    51 Capitulo 2   Traduzindo mundos, inventando impérios: Experiências coloniais  Européias e a conquista de espaços epistemológicos na Índia   Cláudio Costa Pinheiro    Capítulo 3   75 As conexões entre o Império do Brasil e o Império Otomano no século  XIX e a utilização de fontes para além do espaço da eurofonia   Paulo Daniel Elias Farah    Capítulo 4   95 Destino: Brasil. Os goeses de São Paulo, 1961‐2005  Luísa Pinto Teixeira     PARTE II: OUTROS ORIENTALISMOS     Capítulo 5   125 O “neo‐hinduísmo” de Calcutá e a orientalização do Ocidente:  notas a respeito da dinâmica histórica de trânsitos religiosos  contemporâneos.   Marcos Silva da Silveira    Capitulo 6   163 O Orientalismo e o Japão   Elisa Massae Sasaki   

PARTE III: (PÓS) COLONIALISMO E PODER     Capítulo 7   As práticas anti‐escravistas no contexto da expansão colonial ‐ o  caso das colônias anti‐escravistas cristãs em Gezira (1885‐1900)   Patricia Santos Schermann    Capítulo 8   Moçambique entre Ásia e África : dinâmicas etno‐religiosas e  identidades muçulmanas   Lorenzo Macagno    Capítulo 9   O Islã e os Poderes Políticos: Das Administrações Francesa ao  Senegal Pós‐Colonial   Alain Pascal Kaly           

199

237

265

 

Capítulo 2  Traduzindo mundos, inventando impérios  Experiências coloniais Européias e a conquista de espaços  epistemológicos na Índia      Cláudio Costa Pinheiro  Universidade Estadual de Campinas          Cuando bien comigo pienso mui esclarecida Reina: i pongo  delante los ojos el antigüedad  de todas las cosas: que para  nuestra  recordación  e  memoria  quedaron  escriptas:  una  cosa hallo e saco por conclusión mui cierta: que siempre la  lengua  fue  compañera  del  imperio:  e  de  tal  manera  lo  siguió:  que  junta  mente  començaron.  crecieron.  e  florecieron.  Antonio  Nebrija  (1513  [1492]).  Dedicatória  a  Rainha  Isabel  de Castilla (grifo meu). 

  Em  1498,  a  expedição  de  Vasco  da  Gama  desembarcou  em  Calicut,  finalizando  uma  viagem  de  11  meses  e  concretizando  investi‐ mentos  do  Estado  Português  na  empresa  de  descobrir  rotas  marítimas  para as “Índias” – obsessão que durou, praticamente, todo o século XV.  Entre  os  tripulantes  destas  embarcações  modernas,  estavam  profissio‐ nais extremamente capacitados: cartógrafos, navegadores, pilotos, além  de  dezessete  especialistas  em  línguas  –  quatro  africanos  peritos  em  línguas da costa ocidental africana, três portugueses falantes de Banto e  Árabe, e outros dez “degredados” (convicts), usados como intérpretes1. A  viagem  de  Da  Gama  pressupunha  um  projeto  de  longo  termo  do 

  Correntemente  usados  pelo  Estado  Português  para  o  aprendizado  de  línguas  contatadas, tanto na rota para o “Oriente”, como na América do Sul (Hein, 1993:41). 

1

51

Estado  português  em  técnicas  e  instrumentos  de  navegação,  constru‐ ção  de  navios,  profissionais  da  marinharia  e  ações  de  uma  empresa  colonial que começava a se conformar durante o século XV, a partir da  invasão  e  conquista  de  Ceuta  (1415),  no  norte  africano.  Além  destes  aspectos,  havia  ainda  o  investimento  pesado  que se fez em técnicas de  comunicação, sem as quais toda a ação expansionista e colonial não seria  possível.  Como  remarca  Bernard  Cohn  (1996:4)  ao  tratar  do  caso  do  colonialismo  britânico  na  Índia,  o  aprendizado  das  línguas  locais  é  condição  fundamental  para  a  viabilidade  da  empresa  colonial  (os  contatos e a administração).  A conquista do périplo africano pressupôs o domínio de uma  territorialidade, o conhecimento de populações costeiras e suas línguas.  No  fim  do  século  XV,  os  portugueses  já  haviam  desenvolvido  um  estreito  programa  para  o  enfrentamento  e  tratamento  sistemático  das  línguas  que  iam  sendo  contatadas.  Muitas  das  viagens  à  África  não  tinham  como  objetivo  (específico  ou  único)  o  estabelecimento  de  relações comerciais ou a obtenção de escravos como força de trabalho,  mas  de  intérpretes  que  viabilizassem,  em  um  segundo  momento,  a  continuidade  do  empreendimento  expansionista‐colonial.  Em  sua  terceira  viagem  ao  Cabo  Bojador,  em  1436,  Gil  Eanes  Zurara  recebia  exatamente esta instrução do Rei de Portugal (Infante D. Henrique):    (...)  é  minha  tenção  de  vos  enviar  lá  outra  vez  em  aquele  mesmo  barinel  [embarcação],  e  assim,  por  me  fazerdes  serviço  como  por  acrescentamento  de  vossa  honra,  vos  encomendo  que  vades  o  mais  avante  que  poderdes  e  que  vos  trabalheis  de  haver  língua  [nesse  caso  um  intérprete]  dessa gente, filhando algum, por que o certamente possaes  saber; (...) (Zurara: 1994 [1452‐53]:57). 

  A  política  expansionista  portuguesa  na  África  seguiu  um  modus  operandi  bastante  definido  durante  o  século  XV:  trazer  nativos  do ponto mais extremo alcançado, levar a Portugal, batizá‐los, ensiná‐

52

los  a  língua  portuguesa2  –  na  verdade  um  pidgin3,  ou  português  simplificado – para, depois, retornar a sua terra natal, onde serviriam  de  intérpretes.  Tanto  nativos  africanos,  quanto  os  “degredados”  portugueses  que  eram  deixados  em  pontos  da  costa  africana,  experi‐ mentavam esse método de imersão na língua do “outro”. Estas circuns‐ tâncias contribuíram para a consolidação do português (“pidginizado”)  como  língua  franca  de  boa  parte  da  costa  africana  e,  mais  especial‐ mente, em um vasto território do Índico (africano e asiático) e sudeste  asiático4.   A  questão  da  comunicação  com  os  grupos  populacionais  contatados é fundamental para a exploração, o comércio e as atividades  de  missionação  que  acompanharam  o  processo  de  expansão  imperial  dos  Estados  modernos  europeus.  Segundo  Jeanne  Hein  (1993:42‐50),  toda  a  política  expansionista  do  Rei  D.  Henrique  (1394‐1460),  que  enfatizava  a  prioridade  de  obtenção  de  africanos  que  servissem  de  intérpretes, construiu um método (e um projeto) de ação colonial que  fez  com  que  os  portugueses  fossem  compreendidos  em  toda  a  costa  africana. Neste quadro, os línguas (intérpretes) eram valorizadíssimos no  estabelecimento de relações comerciais e na compreensão dos costumes 

  Em  Portugal,  um  dos  destinos  destes  nativos  africanos  eram  escolas  dedicadas  ao  ensino  do  português,  ou  o  colégio  da  congregação  de  Santo  Elói,  como  aponta  o  gramático João de Barros em 1539‐40. 3 Apenas em linhas muito gerais, e sem descer às tecnicalidades lingüísticas, um pidgin  “é  uma  língua  auxiliar  que  surge  quando  falantes  de  diversas  línguas  mutuamente  ininteligíveis  entram  em  contato  estreito”  (Bickerton,  1984:173),  já  um  crioulo  (uma  língua  crioula)  surge  quando  crianças  adquirem  um  pidgin  como  sua  língua  nativa,  tendo‐o  enquanto  base  lexical  (Couto,  1996:15).  É  de  se  ressaltar  ainda  que  alguns  lingüistas  compreendem  que  a  construção/surgimento  de  um  pidgin  pressuponha  ainda  que  sua  estrutura  gramatical  e  seu  vocabulário  sejam  “drasticamente  reduzidos” (Hall, 1966:xii). 4  David  Lopes  (1936),  mostra  como  o  português  foi  usado,  até  o  século  XX,  como  língua  franca  de  contato,  comunicação  e,  em  alguns  casos,  administração  colonial  pelos  Impérios  coloniais  europeus  em  Ásia.  Menciona  uma  longa  lista  de  livros  de  catequese  e  bíblias  Inglesas,  Dinamarquesas  e  Holandesas,  empregadas  em  vários  pontos do oriente, publicadas em português. Johannes Fabian (1987:7) também men‐ ciona  a  dependência  de  missionários  britânicos  de  tradutores  de  Umbundo  e  Portu‐ guês nas atividades catequéticas no oeste africano da última década do século XIX. 2

53

de  povos  com  quem  os  portugueses  estabeleciam  relações.  Hein  (1993:50)  chega  a  afirmar  que  eles  foram  mais  importantes  do  que  os  canhões na costa africana e, de resto, em toda a empresa expansionista  portuguesa. Quinze anos antes da chegada de Da Gama a Calicut, os  portugueses já tinham um domínio considerável das rotas marítimas e  do universo lingüístico do Índico, especialmente a partir das rotas e da  língua árabe. O enfrentamento sistemático (e sistematizado) do proble‐ ma da comunicação e traduções e o desenvolvimento de uma “política  efetiva”  de  tradutibilidade  foram  usados  por  três  gerações  no  projeto  expansionista  português  rumo  à  Índia.  Tais  conhecimentos  e  o  modus  operandi  que  os  caracterizavam  também  foram  recursos  de  outros  Estados  europeus  modernos,  durante  a  conquista  e  povoamento  de  diversas regiões no Globo e viriam a ser usados e aprofundados pela  Igreja católica na atividade catequética5.      POVOS E LÍNGUAS: DOMINAÇÃO, CIVILIZAÇÃO E DOMESTICAÇÃO    Os  séculos  seguintes  ao  XV  assistem  a  consolidação  do  processo  de  expansão  imperialista  dos  Estados  europeus  pelas  demais  partes  do  Globo.  Os  portugueses,  por  sua  vez,  estabelecem  colônias,  fortificações,  entrepostos  comerciais  e  religiosos  em  quase  todos  os  continentes.  Neste  quadro,  projetos  políticos  de  Estado  sobre  a  comunicação  com  as  populações  contatadas  e  o  aprendizado  de  suas  línguas  ganham  dimensões  globais.  Num  sentido,  a  utilização  de  nativos e degredados como intérpretes continua a ser uma prática usual  dos  Estados  colonialistas  europeus,  mas  de  outro,  as  técnicas  coloniais  de  comunicação  se  modificam  nos  séculos  XV  e  XVI,  acompanhando  um  fenômeno  que  Silvian  Auroux  (1992)  chamou  de  “revolução  da  gramatização”. 

  Para  o  processo  semelhante  ocorrido  nas  colônias  francesas  do  atual  Canadá  e  América do Sul e espanholas nas Américas, ver Daher (2003). 

5

54

A partir do Renascimento europeu, acontecem transformações  em larga escala destas técnicas de comunicação. Esse é um período em  que várias línguas européias (a quase totalidade delas) passam por um  mesmo  processo  de  normatização  e  redução  a  regras  e  padrões  gramaticais  “universais”  –  já  que  todas,  indistintamente,  baseadas  no  latim6.  A  intensificação  da  produção  de  gramáticas  e  dicionários  (a  partir  de  uma  base  greco‐latina)  inicia‐se  pelos  vernáculos  (línguas)  euro‐peus, mas não se restringe a estes. Num curto período expande‐se  a  quase  todas  as  línguas  conhecidas  e  contatadas  do  mundo.  Como  afirma Auroux (1992:8), esse processo transforma profunda e definitiva‐ mente a “ecologia da comunicação humana”, dando ao ocidente meios  “de conhecimento/dominação” sobre outras culturas do planeta7.    O  problema  da  comunicação  com  os  nativos/colonizados  se  redefine  nas  mesmas  bases,  ou  seja,  não  era  mais  possível  depender  exclusivamente  de  intermediadores,  intérpretes  e  parcas  listas  de  palavras.  Afinal,  não  se  tratava  apenas  de  compreender  e  ser  compreendido,  mas  de  criar  aparatos  (institucionais,  mas  também  lingüísticos)  de  administração  colonial  (laica  e  religiosa)  e  gestão  da  diversidade (de territórios e populações). Era necessária uma compre‐ ensão mais apurada das línguas e das formas de comunicação. A isso se  associa o espírito moderno profundamente empenhado em um ideal de  normatização  (Buescu,  1992:30)  e,  a  partir  do  século  XVI,  verifica‐se  a  materialização de uma extensa gama de publicações, dando conta desta  necessidade de classificar e “civilizar” a língua do “outro”.  

  Apenas  para  mencionar  algumas,  temos  a  Ein  Teustche  Grammatica,  de  V.  Ickelsamer  (1534),  do  alemão;  do  inglês  Pamphlet  for  Grammar,  de  W.  Bullokar  (1586); do dinamarquês a Grammatica Danica, de E. Pontoppidan (1668); do francês  Donait François, de J. Barton (1409), do espanhol a Grammatica de la lengua castellana,  Antonio  Nebrija  (1492);  do  italiano,  a  Regole  della  língua  fiorentina,  de  L.B.Alberti  (c.1437).  As  exceções  são  para  o  islandês,  o  irlandês  e  o  provençal,  que  tiveram  processos de gramatização bem anteriores e não baseados no latim (Auroux, 1992). 7 “Trata‐se propriamente de uma revolução tecnológica que não exito em considerar  tão  importante  para  a  história  da  humanidade  quanto  a  revolução  agrária  do  Neolítico ou a Revolução Industrial do século XIX” (Aroux, 1992:8). 6

55

Este  universo  de  publicações  –  as  chamadas  artes  da  língua,  gramáticas, ortografias, cartilhas, sermões, listas de palavras, elucidários, voca‐ bulários,  bestiários,  dicionários  e,  posteriormente,  as  enciclopédias  –  consa‐ gra‐se  no  período,  também  seguindo  a  lógica  de  partir  dos  vernáculos  europeus, para as línguas/culturas contatadas no processo de expansão  colonial,  num  movimento  extremamente  dinâmico.  Se  considerarmos,  por exemplo, que a primeira gramática da língua portuguesa é editada  em 1536 – “Grammatica da lingoagem portuguesa” de Fernão de Oliveira,  seguida  da  famosa  “Grammatica  da  língua  portuguesa,  Cartinha,  Grammática  e  Diálogo  em  louvor  da  nossa  linguagem  e  Diálogo  da  viciosa  vergonha”  de  João  de  Barros,  editada  em  1539‐40  –  vemos  que  o  intervalo  para  o  desenvolvimento  de  gramáticas  das  “línguas  exóticas” é de pouco mais de dez anos. Em 1548, é escrita a primeira  “Grammatica”  da  língua  malabar,  pelo  Frei  Henrique  Henriques;  em  1554, a “Cartilha Tamul impressa em português” (Tamul); em 1556, a  “Grammatica  hebrea”  (Hebraico)  de  Francisco  Távora;  em  1595,  a  “Arte da língua mais usada na costa do Brasil”, de José de Anchieta e,  em 1620, a “Arte da lingoa Japoa...”, de João Rodrigues (Japonês) etc,  apenas  para  mencionar  alguns  exemplos8.  Como  diziam  o  próprio  João de Barros (1539‐40) e Fernão de Oliveira (1536), respectivamente:    Certo é que não há glória que se possa comparar a quando  meninos  etíopes,  persas,  hindus  d’aquem  e  d’alem  Ganges, em suas próprias terras, na força de seus templos  e pagodes onde nunca se ouviu o nome romano: por esta  nossa  arte  apreenderam  a  nossa  linguagem,  com  que  possam  ser  doutrinados  em  os  preceitos  da  nossa  fé,  que  nela são escritos (Barros, [1539‐40] 1971:171)   (...)tornaremos sobre nós agora que é tempo e que somos  senhores,  porque  melhor  é  que  ensinemos  a  Guiné  que  sejamos  ensinados  por  Roma,  ainda  que  ela  agora  tivera  toda sua valia e preço (Oliveira, [1536] 1975:42). 

8 Curiosamente, segundo Carvalhão Buescu (1992: 13), a África é o primeiro conti‐ nente a ser abordado pelos portugueses e o último sobre o qual uma aprendizagem  e sistematização da língua ocorreram.

56

  A expansão e colonização realizadas pelos modernos Estados  imperialistas europeus não resultou apenas um processo de domínio e  civilização  dos  grupos  sociais  contatados,  mas  também  o  domínio  e  civilização  –  domesticação,  talvez  seja  o  termo  mais  apropriado  –  das  línguas  destes.  Na  verdade,  devem  ser  vistas  como  démarches  indis‐ sociáveis, lembrando a sentença do gramático espanhol Antonio Nebrija  que abre este artigo: “A língua é companheira do Império”. Assim, não  apenas  os  portugueses,  mas  os  espanhóis  e  holandeses,  num  primeiro  momento  e  franceses,  ingleses,  dinamarqueses,  russos,  etc,  a  seguir,  mapearam, romanizaram (recodificaram a representação gráfica dessas  línguas  em  caracteres  romanos),  gramaticalizaram,  dicionarizaram  e  traduziram  uma  vastidão  de  línguas9.  Não  à  toa,  surge  de  maneira  contundente aquilo que resolvi denominar provisoriamente de livros de  tradução, como um gênero marcadamente Moderno10.   Dadas  a  natureza,  características  e  idiossincrasias  de  estilo,  publicações  podem  ser  compreendidas  enquanto  um  gênero  literário.  Num sentido, tanto os textos lexicográficos (dicionários, enciclopédias,  vocabulários e afins), quanto para‐lexicográficos (gramáticas, ortogra‐ fias, cartilhas, artes etc) tinham a pretensão de servirem de referências  para  a  língua.  Por  outro  lado,  destinam‐se  a  construir  e  sedimentar  sentidos  e  leituras  do  mundo  conhecido  e  daquele  que  estava  em  processo de conhecimento. Tomar estes livros em conjunto e na longue  durée, ajuda a compreendê‐los a enquanto um gênero que se consagra  nesta  empreitada  –  também  à  medida  que  consagra  esta  própria  empreitada  –  e  neste  período  –  também  à  medida  que  consagra  este 

  Apenas  para  mencionar  o  caso  da  América  hispânica,  até  o  fim  do  século  XVI  haviam  33  línguas  conhecidas,  até  o  fim  do  século  XVII,  96  e  ao  fim  do  XVIII,  já  eram 158 as línguas conhecidas (Auroux, 1992:37).  10 Assim, uma das grandes obras do período moderno foram os dicionários multi‐ lingües, que chegaram a ter entre oito e doze línguas, como o de Ambrosio Callepino  (1502).  Este  dicionário  em  particular  sofre  dezenas  de  reedições  ao  longo  do  século  XVI, contando com dezoito entre 1542 e 1592. A cada nova edição, foram sendo adi‐ cionadas línguas à edição original em Latim. Na edição de 1590 já eram onze línguas.  9

57

próprio período11. Como um gênero, pode ser compreendido a partir de  uma  combinação  de  vários  motivadores  e  necessidades:  a)  de  catego‐ rizar as experiências; b) de criar traduções (tradutibilidade) de sentidos;  c)  de  registrar  as  conquistas  do  ultramar,  do  exótico,  da  diversidade:  humana,  natural  (fauna‐flora),  de  experiências,  de  relações  sociais,  etc;  d)  de  transmissão  (ensino‐aprendizagem)  –  e,  em  grande  medida,  do  esforço catequético da Igreja; e de e) imposição de sentidos nos quadros  de um império com uma política centralizadora de administração.   É  importante  ter  clareza  sobre  o  processo  de  confecção  dos  livros de tradução, dentro dos quadros da expansão imperialista colonial  européia. Quando começaram a ser compostos nos séculos XV e XVI, os  dicionários  portugueses  empregavam  coleções  de  léxicos  tiradas  de  modelos  latinos  (de  coleções  vocabulares,  de  referenciais  sociolinguís‐ ticos e de instituições). Desta forma, partindo do latim, foram impostas  regras de gramática e formas de ordenação de léxicos que depois iriam  fundamentar  as  coleções  de  palavras  dos  dicionários  e,  em  última  instância,  servir  de  referenciais  para  além  desses  livros  de  tradução,  sendo também associados à produção de discursos e práticas coloniais.  Por  um  lado,  é  possível  imaginarmos  todo  um  pesado  processo  de  imposição de regras lingüísticas que se faz aos dicionários portugueses,  traduzindo  coleções  de  palavras  latinas  que,  em  grande  medida,  não  eram  equivalentes  aos  léxicos  (categorias  e  palavras)  lusófonos,  mas  foram “tornadas” equivalentes no processo de tradução. Deste modo, o  fato  de  as  listas  e  coleções  de  vocábulos  que  compõe  os  dicionários  portugueses  (o  que  é  extensível  à  maioria  das  línguas  européias)  provirem  do  Latim  Romano  implica  em  que  categorias  ligadas  ao  universo  do  exercício  do  poder,  por  exemplo,  sejam  profundamente  devedoras de tradições, reflexões e acúmulos da antiguidade clássica.  

 As experiências antigas e medievais (européias) e mesmo a expansão islâmica não  tiveram  a  mesma  dimensão  e  impacto  a  nível  global.  No  caso  do  islã,  chama  a  atenção  Auroux  (1992:37),  houve  um  interesse  menor  pela  descrição  de  outras  línguas  e  culturas  contatadas,  o  que  acabou  por  não  constituir  um  “fenômeno  técnico‐linguístico” semelhante ao que fez brotar o renascimento ocidental. 11

58

Tomando o conceito de escravo, vemos que a raiz etimológica  selecionada  como  gênesis  à  categoria,  bem  como  a  bibliografia  usada  para  abonar  (ilustrar  e  justificar)  e  exemplificá‐la  (tiradas  de  Cícero,  Plauto,  Plínio,  Horácio,  Ulpiano,  etc)  são  romanas.  Muitas  categorias  latinas ligadas ao exercício do poder na antiguidade – captivus, famulus,  mancipium,  servum,  servitium,  etc  –  acabaram  sendo  genérica,  neste  sentido,  e  vulgarmente  traduzidas  por  escravo  em  português.  Em  grande  medida,  os  Impérios  colonialistas  europeus  do  período  moderno  constróem  a  própria  idéia  de  Império  a  partir  dos  Impérios  clássicos,  especialmente  o  Romano12.  Anthony  Pagden  (1987;  1995)  ressalta o quanto essa característica não é apenas um mero detalhe, mas  um ponto fundamental quando se está pensando nas formas burocrá‐ ticas de administração destes Impérios coloniais da era moderna.  A natureza destes livros não era apenas a de criar tradutibili‐ dades  e  aproximações  (lingüísticas  e  culturais),  mas  também,  através  disso, cristalizar noções e dar a elas a marca do universal e do atemporal.  Os dicionários devem ser compreendidos, desta forma, como meios de  subsunção de diversidades locais em função de categorias etnocêntricas  de  compreensão  do  mundo.  Se  o  movimento  de  civilização  das  línguas, de seus léxicos e com isso, da redução de categorias culturais  iniciou‐se  dentro  da  própria  Europa,  foi  quase  concomitantemente  estendido as colônias. O fluxo, a dinâmica e a extensão deste processo  marcaram  os  da  Idade  Moderna.  Nesta  démarche,  os  dicionários  de  tradução13,  caracterizam‐se  como  um  dos  maiores  (e  mais  eficientes)  meios  de  imposição  de  significados  em  escala  global  para  grupos  e  tradições culturais/lingüísticas distintas.    Havia  mesmo  uma  leitura  intensa  de  clássicos  greco‐romanos  sobre  processos  de  civilização ligados a discussão de agronomia, por exemplo. A própria idéia de império,  aliás, estava também presente em várias sociedades fora do mundo europeu moderno,  como ressalta Subrahmaniam (1997) em Impérios do sudeste asiático, África e alguns  pontos da Américas. 13 É interessante registrar que os dicionários bilíngües antecedem aos monolíngües na  Era moderna. Ou seja, terá sido imprescindível compreender e investir no contato com  o  “outro”  do  que  dar  forma  a  coleções  vocabulares  da  própria  língua.  Ao  fim  e  ao  cabo, os dois movimentos são, em larga medida, praticamente concomitantes. 12

59

O  historiador  Sanjay  Subrahmaniam  (1997)  chama  a  atenção  para o fato de que a era Moderna – mais especificamente aquilo que ele  nomeia de early modernity, que iria de meados do século XIV a meados  do XVIII – é bastante marcada pelo aparecimento de conceitos universais  e  universalistas.  Conceitos  cunhados  com  o  tom  etnocêntrico  europeu  moderno  e  que,  além  de  esmagar  as  diversidades  locais  e  regionais  (de  crenças, conceitos e mesmo dos significados contextuais de categorias),  acabam servindo ao expediente do controle e gestão de populações.      IMPÉRIOS: COLONIALISMO E ADMINISTRAÇÃO DE DIVERSIDADES    Um  dos  dilemas  cruciais  colocados  aos  impérios  coloniais  (antigos,  modernos  ou  contemporâneos)  é  exatamente  este  de  adminis‐ trar diversidades locais. Como frisou Verena Stolke (2001:2) a colonização  da  Iberoamerica  (o  que  pode  ser  considerado  para  outras  situações  coloniais) esteve diante da imensa tarefa de administração de “diversida‐ des”  (sociais,  políticas  e  culturais).  Na  mesma  démarche,  Souza  Lima  (2002:155) – estando especialmente atento ao governo de povos indíge‐ nas – ressalta o fato de que é necessário observar‐se como foram pensa‐ das as “tradições de conhecimento para a gestão da desigualdade”, em  larga  medida,  desenvolvidas  por  este  aparelho  administrativo  do  Ultramar português diante destas variadas experiências de colonização.   Diversidade  e  desigualdade  devem  ser,  neste  quadro,  tomadas  numa perspectiva ampla. Talvez sejam imagens mais visíveis desde o  ponto de vista das “culturas”, regiões, etnicidade, ou populações; mas  é igualmente importante considerarmos o cruzamento destes fatores a  partir da língua (de colonizador e colonizado). Ou seja, como considerar  diversidades  populacionais  desconhecidas  a  partir  das  categorias  lingüísticas conhecidas? Como traduzir estas “diversidades” em léxicos  (e categorias de pensamento) ocidentais, que são, ulteriormente, catego‐ rias latinas do mundo antigo?  É  exatamente  diante  de  um  dilema  destes  que  se  coloca  Raphael Bluteau, que publica um dos dicionários de maior referência 

60

na  língua  portuguesa,  em  princípios  do  século  XVIII  –  o  Vocabulário  Português  e  Latino,  1712‐21.  Entre  as  muitas  categorias  advindas  das  colônias que ele dicionariza estão as espécies naturais:    JACA. Jáca. Árvore grande, que se cria no Malabar e algumas ilhas da  Índia e nas margens dos rios. Dá um fruto comprido, maior  que  a  Abóbara,  coberto  de  uma  casca  verde  escura  toda  cercada  de  bicos,  a  modo  de  pontas  de  diamante,  rematadas  com  uns  espinhos  verdes,  cuja  ponta  é  negra.  Sai este fruto imediatamente do tronco, ou dos ramos mais  grossos;  é  branco  por  dentro  e  sua  carne  divide‐se  em  casinhas cheias de uma espécie de castanhas alguma coisa  maiores e mais compridas que tâmaras, e todas cercadas de  uma  carne  amarela  e  viscosa  que  se  parece  com  a  do  Durião, e quando madura é mui gostosa principalmente a  do Jâca, a que chamam Barca; porque o Jaca chamado Papa  ou Girasal, tem a carne mais mole e menos gostosa; Jaca ou  Jaqua,  ae.  Fem.  Linscoth.  Ludovico  Roman  lhe  chama  Jaceros in Calecut. Durioens e Jacas, vianda assas golosa a  quem começa de a gostar. Barros, 3. Década. Fol. 135, col. 4. 

  A  tradução,  lembra  Cohn  (1996:4),  é  o  caminho  de  conversão  de mundos desconhecidos e estranhos em conhecidos. Daí toda a sorte  de aproximações e analogias a que é obrigado a recorrer no sentido de  conferir sentido aquilo que é virtualmente desconhecido e inimagina‐ do  até  o  momento.  A  leitura  da  “realidade”  colonial  visível  se  faz  a  partir  de  um  gradiente  limitado  de  categorias  sóciolinguísticas  etnocêntricas  (européias,  mas  de  origem  latina  e  indo‐européias)  de  compreensão. Isto está relacionado ao movimento de criar inteligibili‐ dades sobre o “outro” a partir de analogias, movimento  tão distintivo  da modernidade, como ressalta Buescu (1991; 1992). O recurso à analogia  permite  assim  reduzir  “variações  assimétricas  incômodas”,  eliminar  “anomalias”,  possibilitando  estabelecer  “similitudes”  entre  fatos,  situa‐ ções ou fenômenos conhecidos e outros desconhecidos,  refletindo  uma  “abertura  em  direção  a  um  conceito  novo,  o  conceito  de  modelo 

61

universal”14.  As  analogias  se  estruturam  em  diversos  campos  das  relações  hierárquicas  e  de  situações  sociais  ou  no  campo  lingüístico,  por exemplo – aonde se originam as locuções comuns entre os autores  da época: “que quer dizer”, “que em nossa língua quer dizer” (Buescu,  1991:18).   De fato, estes livros ligados à tarefa da tradução relacionam‐se  com  dilemas  cruciais  do  contato,  inerentes  ao  processo  de  expansão  colonial  e  da  fé.  Neste  sentido,  é  importante  lembrar  o  quanto  as  categorias lidam com as subjetividades do mundo, ou por outra, com a  tentativa de encarcerar e domesticar a subjetividade das experiências do  mundo.   Não  apenas  os  dicionários  devem  ser  vistos  como  mecanis‐ mos  de  subordinação  de  diversidades,  mas  o  próprio  processo  de  subsumir diversidades é visível a partir da dicionarização das línguas.  Neste  jogo  de  adaptações  de  idéias,  os  léxicos  reduzem  a  amplitude  dos sentidos. A tradução não lida apenas de uma questão lingüística,  acima  ressaltava  Buescu,  mas  cultural;  da  adaptação  de  conceitos  abstratos  (categorias)  a  representações  simbólicas  (palavras).  Trata  também da criação ou resignificação de palavras que vão sendo gradativa  e  indissociavelmente  agregadas  a  categorias  (sociais,  culturais,  de  instituições, etc)15.  Traduzir  é,  neste  contexto,  transformar  “conquistas”  (territó‐ rios) em “colônias”. A tradução está intrinsecamente ligada à tarefa de  construir impérios – estes entendidos como contextos que associavam  metrópoles  e  colônias  em  totalidades  indivisíveis,  como  salientam 

14A  analogia  inventa  um  modelo  de  coerências  e  solidariedades  intralingüísticas.  Corresponde a tecnologização do discurso teórico, um passo para a “formação de uma  ars (arte), com tudo o que esse conceito implica, de doutrinação, reflexão e também de  aplicabilidade, potenciando a forma metalingüística do discurso” (Buescu, 1992:15). 15 Importante sinalizar que as palavras (ou a linguagem) não são as categorias em si,  mas representam apenas uma parte da subjetividade a que esta se remete (Goodenough,  2001). Há outras formas de representação simbólica desta subjetividade (iconográfica,  por exemplo).  A associação entre  palavra e categoria fica, certamente,  mais marcada  dado que  muito  do  processo  cognitivo  envolve  diretamente  a  linguagem  como  um  meio essencial.

62

John  Elliott  (1989:4)  e  Anthony  Pagden  (1989).  A  expansão  colonial  confronta  territórios  e  culturas,  redimensionando  a  constituição  de  alteridades.  Este  é  um  processo  que  fica  visivelmente  gravado  na  língua  e,  de  maneira  especial,  nos  léxicos  que  passam  a  constituir  os  vocabulários  lingüísticos  de  colonizadores  e  colonizados,  impressos  nos dicionários.      ESCRAVOS: CATEGORIAS, LÉXICOS E PALAVRAS    Disso já tinham clareza os próprios gramáticos e dicionaristas  do século XVI. Fernão de Oliveira lembrava que “o costume novo traz  à terra novos vocábulos” (1975[1536]:85). Muitos grupos populacionais  passam  a  existir  enquanto  realidades  empíricas  mais  amplas  deste  mundo moderno a partir mesmo de um referencial lingüístico, como é  o  caso  dos  índios.  Como  demonstra  Raul  Reisnner  (1980),  o  conceito  léxico  “índio”  surge  no  universo  semântico  ocidental  após  a  Idade  Moderna  e  a  descoberta  de  terras  e  gentes  nas  “Índias  Orientais”  e  “Ocidentais”.  A  palavra  não  existia  dicionarizada  até  1492,  sendo  empregada desde o descobrimento da América para designar todos os  seus habitantes. O vocábulo índio não se restringe a um conceito léxico,  mas  também  a  um  conceito  ideológico,  salienta  Reissner  (1980:19‐24),  passando a nomear uma categoria que tinha menos a ver com o espaço  geográfico  que  ocupava,  do  que  com  a  função  política,  econômica  e  ideológica  que  este  nativo  desempenha.  O  termo  passa  a  designar  um  “objeto”, com um substantivo que dá conta de conhecimentos e crenças  adquiridas  a  partir  do  século  XV.  É  importante  frisar  que  os  conhecimentos  gerados  sobre  esta  categoria  social  e  lingüística  foram  conformando um discurso que justifica o objeto designado como índio e  que  fundamenta  as  práticas  que  com  ele  se  estabelecem.  É,  no  fundo,  um conceito cunhado com base nas condições concretas de conhecimen‐ to e  realidade  e como  respostas  a necessidades  ideológicas, de  classe e  poder.  

63

Fundamental  é  a  reflexão  de  que  a  empresa  colonial  dos  Estados  imperialistas  modernos  pressupunha,  não  apenas,  a  conquista  de territórios ou o exercício de poder sobre populações e suas culturas,  mas  também  a  conquista  de  um  “espaço  epistemológico”  (Cohn,  1996:4).  Um  espaço  aberto  não  só  pela  empreitada  colonialista  em  si,  mas  também  associado  e  compreendido  dentro  deste  contexto  mais  amplo  das  conseqüências  da  “revolução  da  gramaticalização”,  de  que  chamamos a atenção mais acima.  A classificação dos grupos contatados na expansão colônia‐lista  foi  bastante  corrente.  Viajantes,  missionários,  funcionários  da  adminis‐ tração  colonial,  entre  tantos,  estiveram  entre  os  que  escreveram  várias  modalidades  de  discurso  (entre  elas  os  livros  de  tradução),  dando  conta  da  diversidade  de  populações  enfrentadas.  Algumas  destas  passam  a  fazer  parte  do  universo  lexical,  ideológico  e  de  represen‐ tações  ocidental  somente  a  partir  da  colonização,  como  os  índios.  Muitos dos “grupos” populacionais confrontados pela ação expansio‐ nista são (quer sejam da metrópole ou nas colônias), destarte, produtos  da  imaginação  política  de  Estados  Imperiais  que,  diante  da  tarefa  de  administrar  territórios  e  pessoas,  desenvolveram  projetos  e  discursos  de ação que viabilizassem o êxito da empresa colonialista. Como parte  deste processo – faces diferentes de uma mesma moeda – pari e passu ao  desenvolvimento  deste  aparato  administrativo,  inventaram‐se  comunida‐ des.  Como  chama  a  atenção  Anthony  Pagden  –  a  partir  da  leitura  de  Benedict Anderson (1983) – estamos lidando aqui com um processo de  invenção  de  comunidades  imaginadas:  “comunidades  que  não  existiam  enquanto realidades percebidas, mas com parte da imaginação cultural  ou política dos indivíduos” (Pagden, 1987:271).  O  império  colonial  português  foi  especialmente  habilidoso  nesta  tarefa  de  lidar  com  uma  grande  diversidade  de  populações  nativas  e  “inventaram”,  diria  Anderson  (1983),  outros  tantos  grupos  populacionais  enquanto  artifícios  de  Estado  na  tarefa  de  gestão  colonial  –  degradados,  órfãos  e  órfãs,  casados,  soldados,  índios,  etc  (vide  Coates,  2002;  Thomaz,  1994  e  Domingues,  2000).  Este  movimento  de  invenção de populações é aparente a partir da legislação, das resoluções e 

64

comunicação da administração colonial, ou até da produção iconográ‐ fica. De certo, também é visível na dimensão lingüística, observada  a  partir  dos  léxicos  cristalizados  pelos  dicionários.  Como  salienta  Johannes Fabian, as “ilusões de políticos e gramáticos são comparáveis  e,  muitas  vezes,  aliadas  –  como  a  influência  recíproca  entre  políticas  coloniais e descrições lingüísticas” (1986:8).  Ao contrário de índio, escravo não é um léxico e uma categoria  social surgida no período moderno a partir da captura e escravização  de  negros  africanos.  Como  ressalta  Emile  Benveniste  (1995),  é  uma  categoria (e uma instituição) com origem muito mais remota e ligada a  raízes  indo‐européias.  A  palavra  escravo  e  aquilo  que  ela  designa  possuem uma variância muito maior do que o termo índio, dado o fato  que  ocorre,  enquanto  conceito  léxico,  em  vários  idiomas  e,  enquanto  categoria  social,  em  várias  culturas  e  tempos.  Segundo  Benveniste  (1995:349), é uma noção que não comporta uma definição única, nem  no conjunto das línguas européias, nem dentro de grupos de dialetos.  A  importância  da  escravidão  nos  contextos  imperiais  modernos  é  indiscutível.  Como  diz  Pagden  (2003:101),  “todos  os  impérios  da  história,  até  princípios  do  século  XIX  foram  sociedades  escravocratas”.  A  idéia  de  escravidão  opera,  em  grande  medida,  enquanto um indexador, como um horizonte, para as relações sociais e  o  mundo  do  trabalho  em  vários  contextos  sociais.  Desde  o  início  do  processo  de  expansão  colonialista  portuguesa,  império  e  escravidão  operaram  quase  como  sinônimos.  “De  fato,  os  nativos  africanos  tornaram‐se  figura  comum  tanto  na  sociedade  ocidental,  quanto  na  oriental”  (Pinto,  1992:50).  Ao  longo  deste  largo  período  da  early  modernity,  um  sentido  e  uma  compreensão  universal  de  escravidão  foram  tomando  o  lugar  de  uma  ampla  variedade  de  exercícios  e  vivências  de  formas  de  dominação,  tanto  nas  metrópoles  européias,  como em contextos coloniais. Se quisermos recuperar um pouco desta  diversidade  de  experi‐ências  de  formas  de  dominação,  não  podemos  nos ater exclusivamente a consultar os verbetes escravo (ou escravidão) 

65

nos  dicionários,  mas  outras  categorias  de  “subalternidade”16  (id  est  cativo,  criado,  doméstico,  mouro,  negro,  preto,  servo,  trabalhador,  vadio,  etc).  Observando  apenas  um  pequeno  grupo  de  dicionários,  podemos  ver  como  algumas  destas  categorias  podem  ser  percebidas  em suas variações ao longo do tempo e das línguas.  No  “Dictionarium  Lusitanico  Latinum  ...”  de  Agostinho  Barbosa  (1611),  a  categoria  escravo  (em  português)  corresponde  a  três  referentes  distintos  em  latim  (servus,  mancipium,  servitium),  o  que  poderia denotar que o mundo romano antigo tivesse um gradiente de  experiências  das  formas  de  cativeiro  maiores  do  que  as  expressões  lexicais portuguesas pudessem reconhecer. De outro lado, o termo servo  (também  em  português)  apresenta  uma  entrada  interessante  no  dicionário  [“Servo,  escravo.  Lat.  servus,  servulus”].  Além  de  designar  como  significado  latino  duas  das  mesmas  palavras  usadas  para  traduzir  a  idéia  (ocidental  moderna)  de  escravo,  é  apresentado  como  sinônimo de escravo em português. Tais tipos de reducionismos, se é  que  podem  ser  classificados  assim,  vão  limitando  a  expressão  da  diversidade de formas de exercício do poder nestes contextos.   Da  mesma  forma,  esta  lógica  da  subsunção  de  características  locais  e  regionais  em  função  de  modelos  universais,  avança  entre  as  colônias,  a  partir  da  tradução  de  léxicos.  Se  observarmos  o  “Dictionarium  Latino‐Lusitanicum  et  Japonicum...”  de  1595,  que  é  dividido  internamente  em  três  colunas  (latim,  português  e  japonês,  respectivamente), vemos que há apenas a confecção de uma lista voca‐ bular,  já  que  a  palavra  latina  “seruus”,  correspondendo  ao  português  “escravo” e ao japonês “yatçuco”.   Já  no  “Dicionário  Português,  Tamul  e  Cingalês”  (línguas  do  sul  da  atual  Índia  e  Sri‐Lanka),  manuscrito  anônimo  do  século  XVIII,  igualmente  confeccionado  em  três  colunas  (indexadas  desde  o  português),  a  palavra  escravo  possui  cinco  entradas  em  tamul  e  quatro  em cingalês e cativo (duas em tamul e três em cingalês). Já servo aparece  16  Remeto‐me  aqui  ao  conceito  de  “subalternidade”,  tal  como  usado  pelos  historia‐ dores  indianos  dos  subaltern  studies,  dos  anos  1980,  fortemente  influenciados  pela  perspectiva gramsciana nesta categoria. Cf. Subrahmanyam (2004).

66

mais uma vez como sinônimo em português de escravo [Servo, escravo,  servidor: (...)].  Mesmo  sem  investirmos  numa  análise  pormenorizada  dos  significados  destas  categorias,  a  percepção  desta  variabilidade  classifi‐ catória  é  uma  dimensão  muito  significativa.  Afinal,  quantas  formas  diferentes  de  vivência  da  escravidão  e  de  liberdade  o  governo  de  territórios  e  populações  haveria  criado  e/ou  subsumido?  A  codificação  das  línguas  em  escala  global,  “dignificada”  por  sua  gramaticalização  e  dicionarização  visava  não  apenas  a  difusão  das  mesmas  –  como  ocorreu  nos  colégios  religiosos  das  colônias  portuguesas  da  Ásia,  por  exemplo  –  mas  com  ela,  a  transmissão  e  cristalização  de  “padrões  normativos  de  comportamento”  (Buescu,  1992:34‐5).  Fundamental  marcar  que  muitos  destes  contextos  que  se  transformaram  em  “coloniais”,  escravo  e  escravidão,  tal  como  compreendidos  a  partir  das  experiências  Modernas  do  escravismo,  simplesmente  não  existiam.  É  certo  que  existiam  uma  série  de  outras  formas  de  catividade  e  subalternidade que foram, eventualmente classificadas como escravidão  a  partir  do  olhar  colonial.  Assim,  tanto  nos  dicionários  de  tradução,  como  posteriormente  nos  dicionários  monolíngües  (sinonímicos),  muitas  das  categorias  ligadas  ao  exercício  do  poder  interpessoal  apresentam  confusão  de  combinações  entre  os  idiomas,  nublando  fronteiras entre idéias de cativo, criado, escravo, servo e demais catego‐ rias de subalternidade. Portanto, a percepção da existência de diferentes  formas  de  vivência  das  relações  de  dominação  –  sob  a  rubrica  da  escravidão  –  neste  “mundo  português”  não  deveria  nos  demandar  o  desenvolvimento  de  conceitos  teóricos  mais  amplos  e  refinados,  que  englobassem esta diversidade?   Um aspecto interessante é que a Idade Moderna vai, paulati‐ namente,  impondo  uma  moralização  cristã  às  categorias  antigas  romanas.  Embora  estejamos  lidando  com  as  mesmas  palavras  que,  remeteriam,  aparentemente,  as  mesmas  categorias,  tratam‐se  de  instituições bastante diversas, a escravidão antiga e a moderna. Como  ressalta  Moses  Finley  (1980),  ao  contrário  da  escravidão  Moderna,  a  Antiga, enquanto instituição, não opera como um desabono moral para 

67

os  atuais  descendentes  de  cativos,  por  exemplo.  Não  existem  males  sociais,  políticos  ou  econômicos  atuais  (nem  talvez  uma  memória  social),  cuja  culpa  recaia  sobre  a  escravidão  antiga.  Ao  contrário,  no  mundo  moderno  sobrepõe‐se  determinados  conteúdos  estigmatizantes  que  vão  sendo  agregados  a  idéia  de  escravo,  juntamente  com  este  processo de moralização da categoria sócio‐lingüística, hierarquização e  racialização do mundo.   No  final  do  Vocabulário  Português  e  Latino,  Bluteau  apresenta  um  suplemento  anexo  com  um  “Vocabulário  de  sinônimos  e  frases  portuguesas, para facilitar composições em prosa e em versos”. Novamente a  palavra  escravo  registra  uma  entrada:  “ESCRAVO.  Cativo.  Negro.  Moleque. Subdito. Vassalo. Tributário”.       CONCLUSÕES    Tomar  os  livros  de  tradução  pelo  que  eles  simbolizam  é  tão  interessante quanto é importante ter atenção ao que eles dizem e como  o fazem. A superfície de seus “prólogos”, “dedicatórias” e “advertências  aos  leitores”  são  ricas  em  informações  sobre  o  contexto  plural17  que  caracterizam os alvores da modernidade. No seu interior, o conjunto de  léxicos escolhidos para serem traduzidos para as outras línguas, reflete  muito sobre a história dos contextos coloniais multifacetados produzi‐ dos pelos Impérios modernos.  Os livros de tradução não podem ser vistos apenas a partir da  necessidade  de  criar  tradutibilidades,  compreensão  sobre  mundos  novos ou de normatizar a língua do outro. Isto já é bastante, mas não é  tudo  ao  que  se  destinavam.  Tanto  quanto  outros  tipos  de  discurso  produzidos  a  reboque  da  empreitada  colonialista,  visaram  também  o  conhecimento  destes  novos  contextos  (geo‐sociais)  contatados.  Se    Plural  quanto  ao  registro  do  descobrimento  de  terras,  na  diversidade  de  espécies  animais e vegetais, tipos de gentes, suas línguas e de suas formas de estabelecimento  de sociabilidades. Afinal, são livros escritos por homens que, em grande parte, estão  envolvidos com a administração das colônias e suas populações.

17

68

pensarmos  na  circunstância  de  que  como  muitos  destes  gramáticos  e  dicionaristas estavam diretamente envolvidos na empreitada colonial e  que  estas  obras  espelham  o  contato  com  estas  novas  realidades,  podemos  considerar  este  gênero  dos  livros  de  tradução  como  aquilo  que alguns autores dos “colonial studies” chamaram de: “modalidades  investigativas”  num  projeto  colonial  mais  amplo  (Cohn,  1996:  5)  ou  “modalidades  reflexivas  ocidentais”  (Said,  1978).  Da  mesma  maneira  que  o  Império  britânico  utilizaria  a  partir  do  século  XVIII:  censos,  estatísticas, etnologia, cartografia, lingüística, etc, para mapear, classi‐ ficar e reordenar a vida nas colônias, os livros de tradução permitiram a  estruturação deste mundo desconhecido em torno de léxicos (palavras  e  categorias)  conhecidos.  Tanto  quanto  os  censos  demográficos  criavam, objetivavam e substancializavam diferenças culturais, sociais  e  lingüísticas  na  Índia  do  século  XIX,  os  dicionários  e  vocabulários  contribuíram  para  definir  e  cristalizar  categorias  de  percepção  e  ordenamento no contexto do império português moderno.  Isto não é afirmar que os dicionários por si só, tivessem criado  realidades  empíricas  visíveis  na  prática  colonial.  Como  diria  Pierre  Bourdieu (1982) são discursos produzidos e produtores de realidades.  Descrevem  e  prescrevem.  São,  nesta  lógica,  livros  que  podem  nos  informar  sobre  as  “pré‐condições  do  exercício  do  poder”  entre  grupos  populacionais  contatados.  Operam,  como  mencionou  Johannes  Fabian  (1986:2), para o caso dos dicionários coloniais na África do século XIX‐ XX, como “instrumentos de governo” já que se prestaram a construir  uma aparente ordem para uma multidão atordoante de línguas. Com  isso colaboraram não apenas para  criar  um “arcabouço para políticas  lingüísticas”, como disse Fabian, mas para instituir normas e práticas  de  gestão  colonial  de  populações.  São  instrumentos  de  ação  e  ideologia colonizadora dominante e sínteses discursivas das mesmas.  Como ressalta Bourdieu em outro momento (1986), classificar também  é  governar.  O  desenvolvimento  de  formas  de  discriminação  (e  classificação)  construiu  maneiras  particulares  de  racionalizar  a  dominação política (Stolcke, 2001:7).  

69

Como tais, devem ser compreendidos dentro dos quadros mais  amplos de projetos coloniais de Estado imperiais que lidam e administram  uma  diversidade  e  desigualdade  ampla  de  contextos  e  culturas,  submetidas,  no  entanto,  a  lógicas  centralizadoras  de  governamentali‐ dade. Enquanto projetos devem ser lidos a partir da idéia fundamental  da descontinuidade, da dispersão (Tilly, 2000; Fabian, 1986:9). Ainda que  tratando  da  imaginação  política  de  grupos  e  que  este  processo  pressu‐ ponha um acúmulo e intercâmbio de discursos (conhecimentos e práti‐ cas), seu projeto dificilmente é percebido a partir de uma linearidade.          BIBLIOGRAFIA    LIVROS DE TRADUÇÃO:    ANÔNIMO  (1595).  Dictionarium  Latino‐Lusitanicum  et  Japonicum,  ex  Ambrosio Calepini. Amacusa [Amakusa]: Colégio da Companhia.    ANÔNIMO (Séc. XVIII). Dicionário Português, Tamul e Cingalês. Manuscrito  (Arquivo Histórico Ultramarino).    BARROS, João de ([1539‐40] 1971). Grammatica da língua portuguesa, cartinha,  gramática, diálogo em louvor da nossa linguagem e diálogo da viciosa vergonha.  Reprodução  facsimilada,  leitura,  introdução  e  anotações  de  Maria  Leonor Carvalhão Buescu. Lisboa: Imprensa de Coimbra.    BLUTEAU,  D.  Rafael  (sac.)  (1712‐21).  Vocabulário  Português  e  Latino.  Coimbra: Colégio das Artes da Companhia de Jesus.     NEBRIJA,  Antonio  (1513  [1492]).  Gramática  castellana.  Lion:  Impressa  Lugduni.    OLIVEIRA, Fernão de ([1536] 1975). Gramática da Linguagem Portuguesa. 4a  ed. Introdução de Maria Leonor Carvalhão Buescu. Lisboa: INCM.   

70

DEMAIS TEXTOS    ANDERSON, Benedict (1983). Imagined Communities. London: Verso.    AUROUX, Silvian (1992).  A revolução tecnológica da gramatização. Campinas:  Ed. Unicamp.    BENVENISTE,  É.  (1995).  O  vocabulário  das  instituições  indo‐européias.  Campinas: Ed. Unicamp.     BICKERTON, Derek  (1984).  “The  Language  Bioprogram  Hypothesis.” In:  The Brain and Behavioral Sciences, v. 7, n° 2, p. 173‐221.    BOURDIEU,  P.  (1982).  Ce  qui  parler  veut  dire:  L’economie  des  échanges  linguistiques. Paris: Fayard.    BOURDIEU, P. (1986). “La Force Du Droit. Éléments Pour Une Sociologie  Duchamp Juridique”. In: Actes De La Recherce En Sciences Sociales. Paris,  (64), p. 3‐19, September.    BUESCU,  M.  L.  C.  (1991).  “A  viagem  e  a  fala”.  In:  Revista  Prelo,  Lisboa,  INCM, nº 11, p. 7‐26.    ____________(1992).  A  Galáxia  das  Línguas  na  Época  da  Expansão.  Catálogo  da Exposição. Lisboa: CNCDP.    COATES,  T.  C.  (2002).  Convicts  and  Orphans:  Forced  and  State‐Sponsored  Colonization in the Portuguese Empire, 1550‐1755. Stanford: Stanford Univ.  Press.    COHN,  Bernard  (1996).  Colonialism  and  Its  forms  of  knowledge.  The  British  India. Princeton: Princ. Univ. Press.    COUTO,  H.  H.  do  (1996).  Introdução  ao  Estudo  das  Línguas  Crioulas  e  Pidgins. Brasília: UNB.    DOMINGUES,  A.  (2000).  Quando  os  índios  eram  vassalos.  Colonização  e  relações  de  poder  no  Norte  do  Brasil,  na  segunda  metade  do  século  XVIII.  Lisboa: CNCDP. 

71

  ELLIOTT,  John  H.  (1989).  “Introduction,  Colonial  Identity  in  the  Atlantic  World”. In: A. Pagden; N. Canny. Colonial Identity in the Atlantic World,  1500‐1800. Princeton: Princeton University Press.    FABIAN, J. (1986). Language and Colonial Power: The Appropriation of Swahili  in  the  Former  Belgian  Congo  1880‐1938.  Berkeley:  University  of  California Press.    FINLEY, M.  (1980).  Ancient Slavery and Modern ideology. London: Chatto  and Windus.    GOODENOUGH,  W.  H.  (2001).  “Category”.  In:  A.  Duranti.  Key  terms  in  Language and culture. Oxford: Blackwell, p. 19‐22.    HALL,  Robert  A.  (1966).  “Pidgin  and  Creole  Languages”.  Ithaca:  Cornell  University Press.    HEIN,  Jeanne  (1993).  “Portuguese  communication  with  Africans  on  the  Sea  route  to  India”.  In:  Terae  Incognitae,  Detroit,  Wayne  State  University Press, n° 25, p. 41‐51.    LOPES,  David  (1936).  Expansão  da  língua  portuguesa  no  oriente,  nos  séculos  XVI, XVII e XVIII. Lisboa: Portucalense.    PAGDEN,  A.;  CANNY,  N.  (1989).  Colonial  Identity  in  the  Atlantic  World,  1500‐1800. Princeton: Princeton University Press.    ____________(1995).  Lords  of  all  the  World.  New  Haven:  Yale  University  Press.     ____________(2003). Peoples and Empires. New York: The Modern Library.    PINTO,  Jeanette  (1992).  Slavery  in  Portuguese  India,  1540‐1842.  Bombay:  Himalaya Publishers.    REISSNER,  R.  A.  (1980).  El  Índio  en  los  diccionarios.  Exegesis  lexcia  de  un  estereotipo. Ciudad de México: Instituto Nacional Indigenista.   

72

SAID, E. (1978). Orientalism. New York: Vintage.     SOUZA  LIMA,  A.  C.  (2002).  “Tradições  de  conhecimento  para  a  gestão  colonial da desigualdade, reflexões a partir da administração indigenista  no Brasil”. In: C. Bastos; M. V. de Almeida; B. Feldman‐Bianco. (Orgs.).  Trânsitos Coloniais: Diálogos Críticos Luso‐Brasileiros. Lisboa: Imprensa de  Ciências Sociais, p. 151‐172.    STOLCKE,  Verena  (2001).  “A  New  World  Engendered.  The  Building  of  the  Transatlantic  Hispanic  and  Luso‐American  Empires  between  the  XVI  and  the  XIX  Centuries”.  Unpublished  Conference  Paper,  Federal  University Of Rio De Janeiro, September 3rd.    SUBRAHMANYAM,  Sanjay  (1997).  “Connected  Histories. Notes  towards  a  reconfiguration  of  Early  Modern  Eurasia”.  In:  Modern  Asian  Studies,  31(3), p. 735‐762.    ____________(2004). “Prefácio”. In: Chatterjee, P.. Colonialismo, Modernidade e  Política. Salvador: UFBA, p. 7‐14.    THOMAZ, L. F. (1994). De Ceuta a Timor. Lisboa: Difel.    TILLY, C. (2000). “How do relations store histories?”. In: Annual Review of  Sociology, v. 26, p. 721‐23.    ZURARA,  G.  E.  da  ([1452‐53]  1994).  Crônica  de  Guiné.  Lisboa:  Livraria  Civilização Editora. 

73

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.