Costa Pinheiro. 2010. O Brasil diante de um mundo mais plural. OGlobo (newspaper) [Brazil facing a more pluralist world]

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O Brasil diante de um mundo mais plural

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O Brasil diante de um mundo mais plural Cláudio Costa Pinheiro Sem grandes estardalhaços e sem que muita gente se desse conta, foi oficialmente sepultado, em 2009, o Terceiro Mundo. Pelo menos foi o que vaticinou, em abril passado, o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick. O Terceiro Mundo surgiu com a publicação de "Trois Mondes, Une Planète" do geógrafo Alfred Sauvy, em 1952. Ele descrevia um mundo dividido entre Ocidente e Oriente, capitalismo e comunismo, e onde restaria pouco aos países subdesenvolvidos e pós-coloniais a não ser apoiar um dos polos. O pretenso fim do Terceiro Mundo não extinguiu as clivagens que separam países ricos e pobres, nem a divisão entre centro e periferia, como alguns imaginam. Mas houve mudanças. Fala-se hoje numa divisão entre países Norte e Sul, conceito que não reproduz a bipolaridade do mundo pós-1945. O chamado Sul Global é uma arena mais complexa de interlocutores, teorias e conexões político-econômicas, do qual fazem parte tanto Brasil e Índia, como Austrália e Cingapura. Não se trata, então, de uma forma eufemizada de falar dos países pobres, mas de um vocabulário que reflete uma outra gramática das estruturas internacionais de poder. Mas como tudo isso afeta nossas eleições de domingo? Zoellick deu sua declaração na mesma semana em que, em Brasília, ocorriam duas grandes cimeiras - o fórum IBAS (Índia, Brasil e África do Sul) e a cúpula dos BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) - que discutiam, entre outros aspectos, a representação política global desses países periféricos cujas economias são, cada vez mais, centrais. O termo BRIC foi cunhado, em 2002, pelo economista Jim O'Neill, sugerindo que aqueles países seriam as economias mais poderosas do planeta em 2050 - previsão que tem sido antecipada. Não parece estranho, então, que os percursos da política interna desses países importem ao mundo. Em entrevista recente, O'Neill sugeriu preocupação pelo fim do governo Lula, dada a dificuldade que terá o/a sucessor/a em substituir seu prestígio internacional e o desafio de manter o equilíbrio entre as políticas econômicas e sociais de modo a garantir o desenvolvimento continuado do país. Discutir a inserção do Brasil no Sul Global está na ordem do dia, tanto por questões econômicas, como políticas: trocas comerciais com a China e a Índia; diálogos políticos com Irã e Turquia; tentativas de mediar os conflitos do Oriente Médio; oscilações de paixão, repúdio e indiferença aos vizinhos latino-americanos etc. Mas por que, brasileiros, devemos nos preocupar com a forma pela qual o Brasil se relaciona com outros países periféricos - em relação aos quais, até pouco, parecíamos indiferentes? Primeiro, porque a relevância econômica do Sul Global na circulação mundial de capitais é muito mais expressiva hoje do que antes. Também porque esse bloco tem colaborado para uma reacomodação das instituições internacionais de poder. Além disso, países periféricos enfrentam desigualdades semelhantes e ganhariam com um diálogo direto sobre o enfrentamento de dilemas comuns - distribuição de renda, inclusão social de minorias políticas etc. O Brasil é apontado, e se posiciona, como um dos líderes desse processo. Daí, interessa não apenas termos uma balança comercial positiva com outros países Sul, mas empenharmo-nos por fomentar estabilidades econômica, política e social do bloco. Embora essa questão não esteja tão explícita nos programas de governo dos candidatos/as à Presidência, deverá, indubitavelmente, marcar continuidades e descontinuidades na política internacional brasileira, com vistas a manter o lugar que o Brasil passou a ocupar nesse mundo multipolar. Cláudio Costa Pinheiro é antropólogo e pesquisador do CPDOC A opinião expressa nesta coluna é de responsabilidade de seus autores e não necessariamente a da FGV. URL: http://glo.bo/12z4VGY Notícia publicada em 27/09/10 - 0h00 Atualizada em 23/05/12 - 20h40 Impressa em 08/07/13 - 17h32

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