Crescimento Econômico Brasileiro no Rumo à Diminuição das Desigualdades Regionais: Fatos e Perspectivas.

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Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional (PROPUR), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Prof. Dra. da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS.
Inovação de produto e/ou processo que reflita em aprimoramento substancial para a empresa, não podendo ser processos previamente utilizados (e.g. aumento de eficiência de um processo antigo de trabalho). Precisa haver a introdução de uma técnica nova, mas não necessariamente nova no mercado, mas nova para a empresa que irá adotá-la. A adoção de técnicas novas organizacionais e/ou de marketing, também, é considerada inovações (IBGE (d), 2008).
A última publicação deste tipo por esta revista contemplou as mil maiores empresas do país. O ideal seria trabalhar com todo este universo, porém, como o dado integral não foi disponibilizado pela Exame para este artigo, só foi possível extrair do portal da internet desta revista, as cem maiores empresas do país.


Crescimento Econômico Brasileiro no Rumo à Diminuição das Desigualdades Regionais: Fatos e Perspectivas.
Autoras: Eloísa de Moraes
Maria Alice Lahorgue

Resumo

O crescimento do desenvolvimento econômico brasileiro é historicamente polarizado na região Sudeste e, principalmente, na cidade e estado de São Paulo. Nesta última década, observa-se um singelo crescimento por parte de regiões brasileiras historicamente menos afluentes economicamente. Contudo, exceto pela região Centro-Oeste e por alguns estados isolados das regiões Nordestes e Norte, este crescimento é percebido como fruto de intervenções de políticas públicas, que refletem numa maior mobilidade das indústrias sediadas na região Sudeste. O investimento em técnicas de inovação, bem como em pesquisa e desenvolvimento (P&D) por parte de empresas regionais pode ser um impulsionador do crescimento das regiões menos privilegiadas economicamente. O papel do poder central é percebido como crucial na minimização das desigualdades regionais do país.

1. Introdução

Muito foi escrito sobre a desigualdade do desenvolvimento regional do Brasil, e sobre a forte polarização do desenvolvimento econômico da região Sudeste deste país. Contudo, a última década tem mostrado sinais de crescimento econômico entre regiões brasileiras que, no passado, não tinham participações economicamente significativas na formação do PIB nacional. Apreciando estes recentes fenômenos de crescimento regionais, e entendendo que há muito a ser feito no tocante a políticas de planejamento regional, o artigo busca analisar o histórico econômico e político que ocasionou a polarização econômica e desigualdade regional do Brasil; para num segundo momento, explicar como a diminuição da desigualdade econômica regional está lentamente ocorrendo. Como o tema proposto é complexo, o trabalho almeja apontar resumidamente os fatos históricos, e ensejar futuros trabalhos no que tange novas políticas eficientes, e comprometidas com o desenvolvimento regional, bem como nacional.

2. Metodologia

Para desenvolver este artigo, faz-se uma descrição sucinta do histórico e contexto político que gerou e fomentou o crescimento e a polarização do desenvolvimento econômico da região Sudeste, bem como do estado de São Paulo. Para descrever as diferenças regionais, todos os dados quantitativos que foram utilizados, exceto um, foram desenvolvidos pelo Instituto Brasileiro Geográfico e Estatístico (IBGE). Uma série de dados históricos e atuais é usada para mostrar a evolução econômica das cinco regiões brasileiras. Um dado da Revisa Exame publicado anualmente, referente as 100 maiores empresas do Brasil foi extraído do portal desta revista na internet. Para compreender a qualidade do crescimento industrial das regiões, os dados referentes aos últimos nove anos da Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica (PINTEC) foram analisados.


3. Embasamento Teórico

O artigo se insere no contexto do desenvolvimento regional territorial. O caso em pauta analisa o desenvolvimento econômico no território brasileiro que, através da sua história e evolução, gerou grande polarização do crescimento econômico do país. O Brasil foi dividido em cinco regiões geográficas (ver Mapa 1) distintas entre si nos quesitos: ecológicos, econômicos, humanos e socioculturais. Apesar das características ecológicas e humanas serem legados do próprio habitat, principalmente no que se refere a populações autóctones, os diferentes governos brasileiros, de modo geral, atuaram de maneira débil na promoção equânime do desenvolvimento econômico do país. A falta de uma política de planejamento regional foi notória durante maior parte da história do país. Consequentemente, o agravamento da desigualdade econômica regional, que foi iniciada nos primeiros séculos de colonização do país, foi fortalecido por razões inerentes ao capitalismo desregulamentado; isto é, o comércio e a indústria, livres de regras governamentais, se desenvolveram onde houve demanda sustentado.

Mapa 1
Mapa do Brasil com Grandes Regiões


Segundo a concepção de Gramsci, em EGLER (1995, p. 2),
a questão regional é necessariamente uma questão do Estado, na medida que sua resolução passa necessariamente pela composição do bloco no poder e pelas medidas de políticas públicas que afetam a economia nacional e a distribuição territorial da renda.

Portanto, é razoável admitir que durante o início da colonização do território, as populações exógenas tenham se concentrado na costa. Mas a partir do momento que o Estado/país divide seu território em blocos regionais (i.e., a divisão atual foi estabelecida em 1970; porém, anteriormente já existiam divisões similares as atuais), políticas públicas deveriam ter sido adotadas para minimizar as desigualdades socioeconômicas no contexto global nacional.

Para François Perroux o desenvolvimento não ocorre em todos os lugares e, como citado em EGLER (1995, p. 5), Perroux defendia a visão que, na economia nacional há "zonas ativas" e "zonas passivas", "sendo que as primeiras exercem 'efeito de dominação' sobre as segundas, resultando em uma 'dinâmica da desigualdade'". Esta teoria de Perroux é comprovada no caso do desenvolvimento Brasileiro; como é explicado no discorrer deste artigo.

Outra teoria desenvolvida por Philippe Aydalot (apud EGLER, 1995, p.11) diz respeito à dinâmica regional das economias capitalistas. (...) "Considera-se que as implicações do nível tecnológico são essenciais, mais do que o nível de investimentos, as transferências de excedente aparecerão menos importantes que as escolhas espaciais das técnicas (...)." Segundo Egler (1995), Aydalot compreende que, para haver desenvolvimento, "o trabalho caracterizado de maneira qualitativa e dinâmica (aptidão para a progressão) tornou-se a variável estratégica." Para Egler (1995, p.12), Aydalot dá ênfase na "distribuição desigual das técnicas", mas não explica quais são as causas deste fenômeno no desenvolvimento regional. A teorização de Aydalot, também, pode ser observada no histórico, como na situação atual do desenvolvimento econômico brasileiro. Contudo, a explicação de como as técnicas se estabeleceram e progrediram na região Sudeste são apontadas neste artigo.

Baseado no pensamento de Perroux e Aydalot, as discrepâncias no desenvolvimento regional são 'naturais'. Porém, como é apontado por Gramsci, o papel do Estado, neste caso do governo central brasileiro é crucial na diminuição das desigualdades regionais. O que será demonstrado neste artigo, quando se explica o aumento do crescimento econômico de certas regiões brasileiras.

4. Contexto Histórico

Desde o início da colonização do Brasil, houve ciclos econômicos regionalmente concentrados, porém, segundo Scarlato (2009) o ciclo de exportação do café:

... foi o único capaz de criar mecanismos socioeconômicos para permitir que continuasse a ser importante [para] regiões onde ele prevaleceu, a exemplo do Sudeste, inclusive criando condições para que ocorresse a grande industrialização brasileira. Assim, o Sudeste, pelas suas condições privilegiadas na história do desenvolvimento econômico brasileiro, conseguiu ser responsável pela maior parte das exportações verificadas no período de 1978 a 1988. Isto fez com que as outras regiões permanecessem em suas relações de trocas comerciais com o exterior nos moldes da antiga divisão internacional do trabalho, [...], exportando produtos primários e importando manufaturados. (p. 340)

Vale salientar que a posição geográfica da região Sudeste no contexto do desenvolvimento e colonização do Brasil é muito importante, pois é através dela que, ocorriam às comunicações terrestres entre o Nordeste, Centro-Oeste e Sul. Com a mudança da capital colonial de Salvador (Nordeste) para o Rio de Janeiro (Sudeste), a região é ainda mais beneficiada. Outro aspecto importante a ser apontado é que, com a temporária mudança da família real de Portugal para o Brasil, a qual irá se estabelecer na cidade do Rio de Janeiro, a vida da Colônia foi fortemente impactada por uma série de medidas que aceleraram o desenvolvimento econômico do Brasil. A população que habitava tanto na cidade do Rio de Janeiro e nas regiões limítrofes foi diretamente beneficiada por estas medidas, que contemplaram desde a abertura de escolas superiores a permissões de implantação de indústrias locais através da importação de maquinário estrangeiro, passando pela imigração de recurso humano para o desenvolvimento de atividades até aquela época não existentes na Colônia.

Como é explicado por Furtado (2007), já no ciclo do ouro, o qual ocorreu em Minas Gerais (Sudeste), Goiás e Mato Grosso (Centro-Oeste), foi através do estado de São Paulo (Sudeste) que acontecia o comércio de insumos que supria as demandas das áreas de mineração (e.g. fornecimento de mulas vinda da região Sul que eram utilizadas para transportar o ouro até o litoral, bem como carne, couro e outros gêneros de consumo). Portanto, é no Sudeste que se desenvolve inicialmente um ambiente propício ao comércio. Esta realidade, juntamente com o fato de, também, ocorrer no Sudeste, já no ciclo do ouro e mais tarde nas lavouras de café, o começo da aparição de mão de obra assalariada, mesmo antes da abolição da escravatura; cria-se nesta região uma sociedade mais complexa, onde surge certo potencial de consumo que não vem só das classes dominantes e proprietárias de terras (FURTADO, 2007).

Neste contexto colonial, a região Sudeste, principalmente, no estado de São Paulo, e, em menor escala, no estado do Rio de Janeiro, por haver economias externas propiciou um ambiente próspero ao desenvolvimento econômico. Segundo Scarlato (2009, p. 337), estas economias externas foram "frutos das atividades empresariais nacionais e estrangeiras, há mais tempo radicadas no país. Isso fazia dessa região uma garantia de sucesso dos novos empreendimentos". Por esta razão se daria no Sudeste o início e a polarização da industrialização do Brasil, num processo cumulativo e reforçador.

5. Contexto Político

Seguindo a linha de pensamento da seção anterior, no tocante a polarização do desenvolvimento econômico na região do Sudeste, a história política do Brasil também foi fortemente influenciada pelos interesses desenvolvimentista do Sudeste. Sucintamente, os próximos parágrafos buscam explicar como a política brasileira, durante várias décadas, foi direcionada para promover investimentos infraestruturais na região Sudeste.

Até o final do período da República Velha (1889-1930) o Brasil, segundo Francisco de Oliveira, era percebido como um "arquipélago econômico". Esta percepção se explica pelo fato de não haver no território nacional uma integração econômica, mas uma articulação maior das 'ilhas' com o mercado externo (GEIGER, 1986; ARAÚJO, 1999). Durante esse período político, os estados gozavam de importante autonomia sobre a política econômica de seus territórios. Ainda no contexto da República Velha, houve uma concentração do poder político no âmbito nacional pelos estados de Minas Gerais e São Paulo. O comando do país ficou por alguns anos sendo formado e influenciado por políticos destes estados.

O fim da República Velha significou também a perda de autonomia dos estados, passando o poder político para a União. O regime do Estado Novo buscou corrigir a característica do "arquipélago econômico", e da influência geopolítica exercida pelos estados de São Paulo e Minas Gerais. A compreensão do governo no Estado Novo era que o país precisava se tornar menos agrícola e mais industrial para se desenvolver economicamente. Portanto, uma série de medidas para promover a industrialização do país é adotada, incluindo a normatização das relações trabalhistas e a promoção da urbanização (GEIGER, 1986).

Durante e após o Estado Novo, período que contemplou os anos entre 1930 a 1963, ocorre uma série de investimentos públicos relacionados à construção de usinas hidrelétricas e infraestrutura para mineração em diferentes regiões do Brasil; empresas públicas são fundadas para gerenciar tais infraestruturas, porém as sedes destas empresas se estabeleceram na capital do país, que na época era a cidade do Rio de Janeiro. E os investimentos privados se acumularam na cidade e estado de São Paulo, por razões explicadas acima (GEIGER, 1986).

Nestes trinta e três anos, o país focou na industrialização voltada para a substituição de importações e o governo continuou a incentivar o crescimento urbano e a colonização rural de novas fronteiras agrícolas. Investimentos eram oferecidos e disponibilizados pela União, bem como por investidores internacionais. Neste momento o poder de disputa, entre os estados, é claramente desequilibrado, pois o desenvolvimento socioeconômico das diferentes regiões do Brasil era extremamente desigual. Na disputa por investimento privado, o estado de São Paulo, que já era industrializado, possuía um poder de barganha e atrativos muito maiores que os demais estados do país. Consequentemente, São Paulo, também, se beneficiou mais dos investimentos públicos em infraestrutura energética e viária que os outros estados. A Tabela 1 mostra claramente a preponderância da região Sudeste na geração bruta de energia em meados da década de 1990.

Tabela 1 – Geração bruta de energia elétrica (GWh) em 1995, segundo regiões (SCARLATO, p. 369)

Como é descrito por Geiger (1986), já a partir do Estado Novo, quando o governo fez investimentos infraestruturais nas diferentes regiões do país, o governo da época escolheu a localização das sedes das indústrias públicas através de interesses políticos. A localização de tais sedes no Rio de Janeiro dava mais popularidade ao presidente da república que no interior das regiões mais distante desta metrópole. Portanto, a falta de um planejamento coerente com o desenvolvimento regional do país reforça o antigo padrão de acumulação de capital e população na região Sudeste.

A industrialização do Sudeste é propiciada através do capital ganho das exportações agrícolas das diferentes regiões do Brasil. Isto foi viável através de uma política nacional que pagava aos exportadores locais, uma baixa taxa de cambio pela moeda estrangeira. A diferença obtida pelo valor do cambio internacional foi utilizada para financiar a infraestrutura da região Sudeste (GEIGER, 1986; SCARLATO, 2009). O resultado dessas políticas refletiu no crescimento da desigualdade regional no país. A paulatina migração populacional que vinha da região Nordeste para o Sudeste aumenta a desigualdade social nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Os problemas sociais gerados por este fenômeno passam a ser de ordem política nacional, e em 1959 surge à primeira agência de planejamento regional do país (e.g. Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE). A estratégia adotada pela SUDENE careceu de uma visão que desenvolvesse o interior desta região. Seu trabalho é caracterizado por ter encorajado o rápido crescimento das metrópoles do Nordeste à custa do interior desta região; consequentemente, aumentando a desigualdade interregional (GEIGER, 1986).

Um período importante a ser mencionado, por razão de ter sido autoritário e ditatorial, foi o do regime militar, que perdurou de 1964 a 1985. Durante este período o governo militar se empenhou em construir uma estrutura de governo descentralizada no que se refere a companhias nacionais de gerenciamento infraestruturais para cada estado, contudo, o poder decisório continuava a ser ditado pelo governo central. Portanto, esse período enfraqueceu o poder e capacidade de governança local. Os estados sofreram uma espécie de 'atrofia muscular', pois foram governados por governadores escolhidos pelo poder central, verdadeiros prepostos da União.

Há muito mais a ser detalhado no contexto político desenvolvimentista do Brasil, contudo, não cabe neste artigo discorrer as nuanças de distribuição de poder político dentre os diferentes governos brasileiros. Mas descrever resumidamente a situação do poder de influência através da história política que, o estado de São Paulo e a região Sudeste, tiveram nas decisões sobre os investimentos infraestruturais e industriais do Brasil.

6. Desigualdades Regionais

Tanto o Gráfico 1 (adaptado do dado do IBGE(a)), quanto a Tabela 2 em relação a Tabela 3, sinalizam as mudanças no crescimento econômico das regiões brasileiras. Enquanto a região Sudeste apresenta um pequeno declínio na participação da formação do PIB nacional, outras regiões, que no passado apresentavam crescimento anual pouco significante, hoje se tornam mais importantes para a economia brasileira. Estas mudanças podem ser, em parte, resultantes de ações governamentais, e pelo movimento de descentralização industrial que vem ocorrendo nas últimas décadas.

Gráfico 1 – Distribuição do PIB nos últimos 70 anos


Quando se observa a contribuição de cada região na formação do PIB nacional, e considerando o que foi dito acima sobre o papel do governo central, o crescimento da região Centro-Oeste pode ser compreendido como o mais sustentado a curto e médio prazo. Segundo o relatório de Contas Regionais do Brasil 2005-2009, do IBGE, vários estados da região Nordeste também apresentaram crescimentos significativos entre 2008 e 2009 quando comparados com estados das regiões Sudeste e Sul; porém estes resultados podem ser temporários, pois houve forte incentivo de programas governamentais de distribuição de renda, e investimentos público/privado durante o período analisado.

A região Centro-Oeste é fortemente ligada à agroindústria, fora o Distrito Federal o qual é ligado ao setor público. Os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul são os maiores produtores de milho e soja do país, e estão entre os maiores produtores destas commodities no contexto mundial, já o estado de Goiás está se desenvolvendo através indústria e agropecuária. Portanto, o Centro-Oeste está se desenvolvendo a partir de investimentos privados que produzem para a exportação como para o consumo interno do Brasil. Se a médio e longo prazo houver verticalização da produção primária, esta região poderá se tornar líder no setor alimentício do país.

Em suma o que tem proporcionado um acréscimo na contribuição pelas regiões ora pouco importantes na formação do PIB nacional, foi "o avanço da fronteira agrícola, os incentivos [governamentais] regionais, a maior mobilidade das plantas industriais, além de novas classes consumidoras" (IBGE (b), p. 23). Estes são fatos que contribuíram para a desconcentração da economia brasileira no período de 2002 a 2009.

Quanto à mudança da polarização do desenvolvimento econômico no Brasil, a região Sudeste continua sendo o maior polo produtor industrial. Em relação à indústria de transformação, estados como: São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Rio de Janeiro, Santa Catarina (todos nas regiões Sudeste e Sul), Bahia (Nordeste) e Amazonas (Norte) concentraram em 2008, 87% do valor adicionado bruto desta atividade, e 87,3% da mesma em 2009 (IBGE (c), p. 20).

Apesar de não haver disponível para este artigo o dado de produção da indústria de transformação discriminado como na Tabela 2, portanto, não sendo possível fazer uma análise contínua precisa sobre as últimas sete décadas; utilizar-se-á a analogia do PIB regional (ver Tabela 3) para enfatizar que, este tipo de produção ainda está fortemente polarizado na região Sudeste.

Tabela 2 – Distribuição regional do valor da transformação industrial de 1940 a 2000 (SCARLATO, p. 377)

Em 1940 a produção da indústria de transformação da região Sudeste era 5,24 vezes maior que a da região Sul, 7,8 vezes maior que a da região Nordeste e 22,21 vezes maior que a das regiões Norte e Centro-Oeste em conjunto. Em 2000, o dado do Sudeste ficou 4,28, 8,01 e 10,77 vezes maior respectivamente. Os dados do ano de 2009 (Tabela 3) confirmam a tendência de diminuição relativa da região Sudeste na formação do PIB brasileiro: a região Sudeste tem um PIB 3,35 vezes maior que a da região Sul; 4,09 vezes maior que a da região Nordeste; 10,98 vezes maior que a da região Norte; e 5,76 vezes maior que a da região Centro-Oeste.

Segundo Tânia Bacelar de Araújo (1999), a região Sudeste na década de 90 tinha uma renda per capita 50% maior que a média nacional; contudo, em 2009, esta diferença é 30,91% maior. Portanto, houve diminuição da desigualdade quando analisado o respectivo dado no âmbito de dez anos. Para melhor apreciar as diferenças regionais a Tabela 4 discrimina a distribuição do PIB global (Brasil) e per capita por regiões e estados.

Tabela 3– Participação percentual das regiões no produto interno bruto 2002-2009

(IBGE (c) p. 22)

Tabela 4 – Produto interno bruto, população residente e produto interno bruto per capita, segundo as Regiões e as unidades da federação – 2009
(IBGE (c) p. 27)

7. Inovação Tecnológica

Para apreciar a qualidade do crescimento industrial que está ocorrendo nas diferentes regiões brasileiras, o próximo dado a ser analisado se refere ao indicador de inovação tecnológica empresarial. O dado a ser utilizado é o da Pesquisa de Inovação Tecnológica (PINTEC); gerado pelo IBGE e elaborado a partir da terceira edição do Manual de Oslo, de 2005, o qual foi desenvolvido pela Oficina Estatística da Comunidade Europeia, da qual participaram os 15 países membros da União Europeia, portanto, é um dado compatível a padrão internacional (IBGE (d), 2008).

O dado da PINTEC coleta informações das empresas que estão no Cadastro Central de Empresas – CEMPRE do IBGE, e de empresas com dez ou mais pessoas ocupadas em 31 de dezembro do ano de referência do cadastro básico de seleção da pesquisa. Neste artigo são utilizados os dados sobre inovação e pesquisa e desenvolvimento (P&D) que foram publicados em 2000, 2003, 2005 e 2008. Estas publicações levam em consideração o desempenho das empresas nos intervalos entre cada publicação, isto é, as empresas são monitoradas entre 2001 a 2003, 2003 a 2005, e 2006 a 2008. Portanto, a PINTEC acompanha a implantação e/ou abandono das novas técnicas, bem como os impactos da adoção destas técnicas no desempenho das empresas. Contudo, neste artigo os impactos não são contemplados. Todos os dados demonstrados abaixo são sobre as empresas que continuavam a praticar inovação e/ou (P&D) até a data de publicação da PINTEC.

Gráfico 2 – Número de empresas investiram em inovação e P&D

Como se observa no Gráfico 2, o número de empresas praticando uma ou outra forma de aprimoramento de suas técnicas de trabalho variou ao longo dos nove anos de monitoramento da PINTEC; e a variação é diferente entre regiões e dentre as mesmas. Apesar das variações quantitativas serem irregulares, pode-se constatar que as regiões Sudeste, Sul e Nordestes são as regiões nesta ordem que possuem o maior número empresas atuando em inovação e P&D. Já o número empresas das regiões Norte e Centro-Oeste varia de maneira inconsistente, não se podendo afirmar qual região possui mais empresas ao longo do tempo observado.

Nas Tabelas 5 e Gráfico 3, utiliza-se os PIBs regionais, porém, salienta-se que o dado do PIB contempla um universo diferente do dado declarado na PINTEC, portanto, nesta análise se almeja fazer uma constatação e não uma comparação quantitativa.

Tabela 5 – Percentual de investimento do PIB regional em P&D e percentual de investimento das vendas líquidas das Empresas que praticam P&D em P&D.

Na Tabela 5, constata-se que as regiões que mais investem em P&D são em ordem: Sudeste, Norte, Sul, Nordeste e Centro-Oeste. Somente em 2008 a região Norte perde sua posição para a região Sul.


Gráfico 3 – Percentual de investimento do PIB regional em inovação e percentual de investimento das vendas líquidas das Empresas que praticam inovação em inovação.

Como a informação sobre o percentual de investimento em inovação é significativamente inconsistente entre e dentre as regiões, opta-se por mostrá-lo em gráfico (Gráfico 3). Esta inconsistência faz com que a ordenação da grandeza do investimento ao longo dos anos seja mensurada a partir da média investida por cada região, nos anos observados. Portanto, ao se calcular a média destes valores, pode-se afirmar que, as regiões que mais investiram em inovação foram em ordem: Sudeste, Sul e Norte (2,07% em ambas), Nordeste e Centro-Oeste.

Levando em consideração que as regiões com maiores PIBs são em ordem: Sudeste, Sul, Nordeste, Centro-Oeste e Norte, pode-se inferir que, o grau de investimento em inovação e P&D pelas regiões, não segue a mesma ordem. Como mencionado no parágrafo acima, a média de investimento em inovação mostra que a região Norte é a segunda a ter feito maior investimento nos anos analisados da PINTEC. Já a média de investimento em P&D pelas regiões segue a ordem de grandeza: Sudeste, Sul, Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

Gráfico 4 – Evolução das vendas líquidas das empresas que investiram em inovação e P&D

Sobre o impacto dos dados da PINTEC na diminuição da desigualdade econômica regional, o que se pode inferir é que, o investimento em inovação e P&D pode ser um dos fatores, além das políticas governamentais e descentralização industrial, influenciando no aumento do crescimento econômico das regiões historicamente menos industrializadas. O Gráfico 4 ilustra a situação de contínua progressão das vendas líquidas das empresas regionais que investem em inovação e P&D.


8. A Região Sudeste e o Estado de São Paulo

O legado histórico impactou profundamente o desenvolvimento econômico regional do Brasil. Como já mencionado, o papel do governo central é crucial para o desenvolvimento econômico local e regional das regiões menos privilegiadas. Como o investidor privado vai onde houver lucro certo para seu investimento, este não irá por livre arbítrio se instalar nas regiões menos afluentes economicamente, nem se houver grandes benefícios ficais, pois tais benefícios podem não compensar um mercado consumidor forte e composto de melhor infraestrutura. Para tanto, o governo central deve ser o principal ator no curto prazo, para alavancar as regiões menos desenvolvidas economicamente. E as regiões deverão oferecer incentivos, a médio e longo prazo, para atrair os investimentos privados.

Como é explicado por Scott e Storper (1986), uma região necessita condições para atrair empresas que promovam o desenvolvimento socioeconômico local. Tais atrativos estão relacionados com a existência de capital humano (pessoal capacitado para preencher postos e produzir no ambiente da empresa), infraestrutura (logística para receber insumos e despachar sua produção) e poder de consumo local. Esta região deve ser atrativa a diferentes tipos de empreendimentos e, consequentemente, possuir um ambiente estruturado, o qual haja demanda de consumo diversificado.

Com o objetivo de mostrar a polarização do desenvolvimento econômico da região Sudeste, o dado elaborado pela revista Exame sobre as 100 maiores empresas do Brasil (ano de 2012), é utilizado para construir a análise comparativa apresentada a seguir.

A partir do ranking das 100 maiores empresas brasileiras de acordo com o faturamento, e da localização geográfica de cada uma, foi possível gerar as tabelas e respectivos gráficos abaixo. Na Tabela 6 e no Gráfico 5, pode-se observar que 49% das sedes, das cem maiores empresas se concentram no estado de São Paulo. Na Tabela 7 e no Gráfico 6, pode-se identificar que 79% dessas empresas estão sediadas na região Sudeste. É importante salientar que, cada empresa, na maioria dos casos tem filial em outras unidades federais, portanto, tem filial em outras regiões. Porém, a chefia e tomada de decisão da empresa está na sede.


Tabela 6 – Concentração de Empresas por UF.




Gráfico 5 – Concentração de Empresas por UF.




Tabela 7 – Concentração de Empresas por Região.


Gráfico 6 – Concentração de Empresas por Região





Considerações finais

A desigualdade do desenvolvimento econômico regional do Brasil é um problema que perdura há séculos, e é um tema assaz pesquisado e debatido. Contudo, na primeira década deste século se começa a observar uma leve mudança no comportamento produtivo de algumas regiões antes pouco significativas na formação do PIB nacional. Apesar destas recentes mudanças, a região Sudeste persiste no seu padrão histórico de polarização do crescimento econômico brasileiro.

O padrão de polarização do crescimento econômico não irá mudar se não houver forte empenho e incentivo por parte de políticas públicas promovidas pelo governo central. Como foi descrito acima, as mudanças positivas do crescimento industrial das regiões historicamente menos afluentes, ocorreram principalmente através de programas governamentais, que promoveram a construção e melhoramento da infraestrutura local. Tais investimentos, também, influenciaram a descentralização industrial do Brasil.

Através da analise do dado da PINTEC, é possível inferir que investimentos em técnicas de inovação, bem como de pesquisa e desenvolvimento estão impulsionando o crescimento das empresas regionais. Estes investimentos variam quantitativamente de região para região, e nem sempre as regiões mais ricas são as que investem mais em inovação e/ou P&D, no ano observado. Portanto, tais dispêndios podem estar influenciando o aumento do PIB das regiões menos afluentes economicamente.

Este artigo buscou mostrar a evolução econômica de regiões brasileiras que, no passado recente, tinham pouca importância para a formação do PIB nacional. A análise de dados oficiais objetivou entender os motivos que promoveram tais crescimentos e compreender se há uma tendência de convergência entre o crescimento de cada região. Porém, a desigualdade econômica regional é ainda muito significativa para se afirmar que está havendo uma convergência de produção/desempenho econômico. Como o crescimento econômico das regiões menos privilegiadas é recente, o estudo ainda carece de mais anos de observação para confirmar uma tendência duradoura na direção da diminuição da desigualdade econômica regional brasileira.

Referência

ARAÚJO, T. B.,1999. "Por Uma Política Nacional de Desenvolvimento Regional"
http://www.bnb.gov.br/projwebren/Exec/artigoRenPDF.aspx?cd_artigo_ren=143
(acessado 15/08/2011)

EGLER, C. A. G., 1995. "Questão Regional e Gestão do Território no Brasil".
http://www.egler.com.br/aigaion2/index.php/authors/show/226 (acessado 14/08/2012)

EXAME, Revista, 2012. "100 Maiores Empresas do Brasil"
http://exame.abril.com.br/negocios/empresas/melhores-e-maiores/noticias/as-cidades-das-100-maiores-empresas-do-pais (acessado 15/08/2011)

FURTADO, C. 2007. Formação Econômica do Brasil. 34 ed. São Paulo. Ed. Companhia das Letras.

Capítulo 14: GEIGER, P. P., DAVIDOVICH, Fany R. 1986; "The spatial strategies of the state in the political-economic development of Brazil", em A. J. Scott and Micheal Storper (eds.), Production, Work, Territory – The Geographical anatomy of industrial capitalism., pp. 281-298. Boston, Allen & Unwin.

IBGE (a). Estatística do Século XX
http://www.ibge.gov.br/seculoxx/economia/contas_nacionais/contas_nacionais.shtm.
(acesso no dia 05/04/2012)

IBGE (b). Indicadores IBGE - Estatística da Produção Agrícola julho de 2012
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/agropecuaria/lspa/estProdAgr_201207.pdf (acesso no dia 10/08/2012)

IBGE (c). Contas Nacionais número 35 - Contas Regionais do Brasil 2005-2009
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/contasregionais/2009/contasregionais2009.pdf (acesso no dia 10/08/2012)

IBGE (d). Pesquisa de inovação Tecnológica 2008
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/industria/pintec/2008/pintec2008.pdf
(acessado 15/08/2011)

SCARLATO, F. C. 2009. "O Espaço Industrial Brasileiro"; en J. L. S. Ross, (ed.), Geografia do Brasil. pp. 327-375. Universidade de São Paulo. EDUSP.

Capítulo 1: SCOTT, A. J. e STORPER, M. 1986. "Production, work, territory: contemporary realities and theoretical tasks." Production, Work, Territory – The Geographical anatomy of industrial capitalism. pp. 1-13. Boston, Allen & Unwin.





Nome dos autores e instituição:

Eloísa A. S. de Moraes, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional (PROPUR), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E-mail: [email protected]

Prof. Dra Maria Alice Lahorgue, Faculdade de Ciências Econômicas, UFRGS. E-mail: [email protected]



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