Crianças Indígenas Amamentadas - Uma análise de Sobrevivência
Evelyne M.T. Mainbourg (FIOCRUZ-AM)
[email protected]
Maria Ivanilde Araújo (Depto de Estatística/ICE/UFAM)
[email protected]
Ana Paula Cruz da Costa (Bolsista PIBIC, Depto de Estatística/ICE/UFAM)
[email protected]
O aleitamento materno prolongado e a introdução progressiva de alimentos
são muito importantes em populações indígenas rurais, pelas dificuldades de
condições de acesso e processamento de alimentos adequados para a criança
menor de seis anos.
Objetivos: Identificar os períodos e os momentos chave desde o início da
amamentação até a introdução de alimentos sólidos dessas crianças: média,
moda e mediana da amamentação exclusive, parcial e total das crianças já
desmamadas; estimação das funções de sobrevivência e de risco;
identificação dos esquemas de amamentação/alimentação (seqüência dos
eventos de introdução do mingau, introdução da comida, desmame);
identificação de uma possível relação significativa entre anemia e crianças
em amamentação exclusive, amamentação parcial e desmamadas.
Metodologia: Num estudo transversal com amostragem aleatória estratificada
proporcional feito nos indígenas do Leste de Roraima (2001), os dados
levantados foram além da idade da criança, as datas de introdução do
mingau, do primeiro alimento outro e do desmame. Das 266 crianças, 169
estavam desmamadas na época.
Além da análise descritiva dos dados, foram utilizadas as técnicas de
análise de sobrevivência que permitem analisar os dados relacionados ao
tempo até a ocorrência do evento de interesse (desmame), ocorrendo censura
quando a criança ainda não está desmamada no momento do inquérito. Na
tabela de vida, foi utilizado o estimador de Kaplan-Meier (Böhmer 1912).
Resultados: A idade média ± desvio-padrão é de 34,7 meses ± 19,8, e a
mediana de 33,5. A amamentação exclusiva vai de 0 a 48 meses, com média de
6,92 meses, moda de 6 meses e mediana de 6 meses. Com o método de Kaplan-
Meier, temos 238 observações válidas: 161 (67,65%) completas e 77 (32,35%)
censuradas. Na tabela de vida, os maiores riscos de abandono situam-se
entre 12 e 15 meses de vida (0,29) referindo-se a 39,8% das crianças em
amamentação exclusiva e entre 6 e 9 meses de vida (0,17) referindo-se a
57,98%. A amamentação parcial vai de 0 a 67 meses, com média de 9,68 meses,
moda de 0 mês e mediana de 8 meses. Foram 219 observações válidas: 153
(69,86%) completas e 6 (30,14%) censuradas. Na tabela de vida, o maior
risco de abandono situa-se entre 9 e 12 meses de amamentação parcial
(0,13) e se refere a 44,29% das crianças em amamentação parcial. A
amamentação total vai de 0 a 69 meses, com média de 16 meses, moda de 12
meses e mediana de 12 meses. Foram 241 observações válidas:164 (68,05%)
completas e 77 (31,95%) censuradas. Na tabela de vida, os maiores riscos de
abandono situam-se entre 24 e 27 meses de vida (0,23) referindo-se a 21,16%
das crianças e entre 12 e 15 meses de vida (0,15) referindo-se a 74,27%.
Foram identificados 13 esquemas de "amamentação, introdução de mingau,
introdução de comida e desmame" entre os desmamados, que foram
classificados em função da sua freqüência e da sua qualidade. O mais
praticado é o de melhor qualidade. Há uma relação significativa entre
anemia e amamentação/desmame, sendo as crianças em amamentação parcial
proporcionalmente as mais prejudicadas. Os tempos de amamentação observados
são semelhantes em outras populações indígenas como Guarani (Serafim,1997)
e Terena (Ribas, 2001); e de duas a três vezes superiores aos encontrados
em populações não indígenas (Sena, 2002; Kitoko et al., 2000; Horta, 1996;
Victora, 1996; e Kummer et al., 2000).
Conclusão: Esse estudo procurou detalhar um pouco o processo de
amamentação/desmame para contribuir no conhecimento dessa fase da
alimentação em que a criança é muito vulnerável, e reforçou a importância
tanto da amamentação exclusiva nos primeiros meses de vida, quanto da
importância da introdução adequada dos alimentos no período de amamentação
parcial.
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