Criolo: pode colar, mas sem arrastar

July 16, 2017 | Autor: Igor Pereira | Categoria: Music, Popular Music, Hip-Hop/Rap, Brazilian Music, Culturas Urbanas, História Da Mpb
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Centro Paula Sousa – ETEC de Artes
Apreciação e escuta de época da música brasileira I
Docente: Julio Bellodi








Criolo: pode colar, mas sem arrastar












Igor Koermandy Pereira Turma: 1AC


Introdução
O presente trabalho será um curto ensaio sobre a obra e personalidade do rapper Criolo (Grajaú, São Paulo, SP), dividido em uma concisa biografia, uma análise dos seus dois discos oficiais ("Nó na orelha" e "Duas de cinco) e um breve comentário subjetivo sobre o impacto da música do cantor em minha experiência.

Biografia
Filho de nordestinos, Kleber Cavalcanti Gomes, nasceu e cresceu em São Paulo Capital, bairro do Grajaú, periferia da zona Sul. Começou a cantar RAP em 1989, recebendo o apelido de "Criolo doido", que modificou para apenas "criolo" por considerar que ser chamado de "doido" era uma honraria que ele não merecia.
Segundo seu próprio depoimento, após mais de 10 anos cantando rap, Criolo decidiu que queria encerrar sua carreira e investir nos novos talentos que vinham surgindo na cena. Foi então estimulado por seus companheiros para gravar o seu primeiro disco, já que não havia registro nenhum seu até então. Assim em 2006 foi lançado o seu primeiro álbum de estúdio, intitulado "Ainda há tempo", e no mesmo ano Criolo fundou com seus companheiros a rinha de MC's, ação cultural que promove batalhas de improviso freestyle, shows e exposições de grafite e fotografia. A partir daí Criolo começou a ganhar uma certa visibilidade e chegou a ser indicado a prêmios. Participou do Som Brasil Especial, dedicado a Vinicius de Moraes e Em 2008, recebeu o prêmio "Música do Ano" e "Personalidade do Ano" na quarta edição do evento "O rap é compromisso". Após lançar os singles de Grajauex e Subirusdoistiozin, Criolo lançou o álbum "Nó na Orelha", em maio de 2011. Totalmente autoral, o disco, disponível para download gratuito desde o lançamento, traz dez faixas com produção de Daniel Ganjaman, masterizado por Fernando Sanches no estúdio El Rocha. "Nó na Orelha" foi editado em vinil e CD e lançado na Europa em junho de 2012 pela Sterns Music, Londres.
Desde o lançamento, ganhou mais de 12 prêmios. Apresentou o repertório do disco em mais de 200 shows realizados no Brasil, integrou o line-up de um dos maiores festivais de música do mundo, o Roskilde, na Dinamarca e apresentou-se em Nova York, no festival Summer Stage no Central Park. Cativou plateias de todas as idades nos mais de onze países por onde passou nas duas turnês internacionais que realizou em 2012. 

Se apresentou com Caetano Veloso, Seu Jorge, participou do show da fadista Ana Moura e tocou ao lado do ícone do ethio-jazz Mulatu Astatke em Londres. Recebeu homenagem de Chico Buarque nos shows da turnê "Chico", em 2012. Foi entrevistado por Spike Lee para o documentário "Go, Brazil, Go". Em um dos shows da turnê da "Nó na Orelha", no Rio de Janeiro, recebeu Ney Matogrosso para interpretar "Freguês da Meia-noite".
Em 2013 disponibilizou para download gratuito o vídeo na íntegra do show "Nó na Orelha – Ao vivo no Circo Voador" e lançou o DVD "Criolo e Emicida – Ao vivo", dirigido por Andrucha Waddington, Paula Lavigne e Ricardo Della Rosa. 
Em outubro de 2013 lançou, nos formatos vinil e digital, " Duas de Cinco", single com duas faixas inéditas. O material está disponível para download gratuito, com a possibilidade de doação espontânea no site. As duas músicas foram produzidas por Daniel Ganjaman e Marcelo Cabral, repetindo a fórmula que resultou na aprovação quase unânime, de crítica e público, do disco "Nó na Orelha".

"Duas de cinco" é a primeira das duas faixas inéditas e ganhou lyric video, produzido por Ricardo Fernandes, diretor de arte do projeto. É um rap clássico, com versos corpulentos, críticas contundentes ao estado e beat sampleado. O refrão, extraído da música "Califórnia Azul", de Rodrigo Campos, artista contemporâneo, da mesma geração de Criolo, foi o ponto de partida para a composição de letra e batidas.
"Coccix-ência", lado B do single, foi gravada ao vivo, no Estúdio El Rocha, pelos afinados músicos que acompanham Criolo nos shows há dois anos, além de Thomas Rohrer na rabeca. Psicodélica viagem instrumental, a sonoridade da faixa dá a sensação de estar assistindo a banda nos palcos. 

Este ano (2014), além destes shows, Criolo apresentou o show "Criolo e Mulatu Astatke" com o músico e arranjador etíope, o show "Linha de Frente", com Milton Nascimento, e fez participação no show da banda alemã Seeed, que faz misturas de reggae, hip-hop e dancehall.

A obra e expressão do RAP de Criolo
Como já descrito acima a produção central de Criolo é, até o momento presente, seus dois primeiros álbuns e seu LP de dois singles lançados este ano.
De Ainda há tempo para Nó na orelha precisamos perceber que há uma transformação gritante, o primeiro álbum possui uma expressão intensa e letras contundentes, que são, na realidade, a característica do RAP em si. Mostram a vivência na favela, com a linguagem informal, o cotidiano duro, as marcas de ferida simbólicas que são deixadas pela violência desse cotidiano. A sonoridade é característica do RAP nacional, com a batida sintética, também uma evidente influência do RAP americano. Nas letras, ideias cheias de fluidez mostram como a tradição de improviso do RAP altera sua forma, trazendo uma linha narrativa mais tortuosa, comum de uma conversa, mais que de poemas e textos formais. Os temas são dificuldade da pobreza, a violência, a dificuldade de se manter no caminho da honestidade, o preconceito em relação ao RAP, à cor, à condição, ao endereço. Por outro lado a força que surge desse próprio RAP, com sua força catártica e a identidade, cumplicidade e companheirismo, que é levada com a música e poesia de uma pessoa para a outra.
Analisando o RAP brasileiro como manifestação cultural, artística, podemos perceber um problema: a expressão do RAP é algo que muitas vezes não alcançava nichos de fora, quem não era da favela, não compartilhava da consciência do que é a cultura do Hip Hop. Essa dificuldade é expressa na música "Rap é forte", por exemplo quando é dito "RAP é foda! Playboy escuta e não entende". De fato não entende, ouvir o álbum "ainda há tempo" é um desafio na sua maior parte, para quem não está familiarizado com o contexto do RAP, tanto na linguagem, quanto na temática, quanto nos arranjos, quanto nos timbres, quanto na forma de cantar (se é que se pode chamar de cantar). Sem nos aprofundarmos na questão conceitual de o que caracteriza o "cantar", é fácil constatar que quem cresceu ouvindo Beatles e Chico Buarque, não vai apreciar Racionais MC's sem um grande esforço. Esse embate cultural é questão central, que parece que chega a tapar a visão para outras questões que poderiam ser trazidas e que chega a bloquear um pouco outras sonoridades. Questão no entanto que pode ter sido fundamental, para solidificar a cena, para solidificar pó RAP como base para outras coisas que podiam somar e que já davam indícios.
Na música e cultura brasileiras, bem como nas Américas em geral, as diferentes interações que se dão entre referências diversas, imposição de cultura e resistência são o que dá toda a riqueza da nossa cultura, tão diversa. Assim, como característica da moderna MPB nós temos essas misturas que quase de dissolvem, de tanto que já se evoluem em um contexto quase sem amarras. Este tipo de característica é que ainda falta um pouco nesta primeira fase.
Claro que a questão não é simplesmente diminuir o valor do rap como expressão pura, mas perceber que a singularidade do trabalho de Criolo em boa parte deste Album ainda não se manifestava, pois se por um lado essa sonoridade típica do RAP dos anos 90 basta para quem dela se basta, por outro lado ela não trazia muita coisa de novo em relação ao que era feito por seus outros expoentes e certamente não se alinhava com as manifestações de música contemporânea que vinham quebrando cada vez mais barreiras. O que já há é algumas referências incomuns, como a feita a Mahatma Gandhi, alguns trechos mais cantarolados. A música Voz e violão, em ritmo de reggae é um ruído em meio aquela avalanche de um RAP que não se deixa se desgrudar de sua configuração de RAP. A faixa tema do álbum é a que merece real destaque, com uma característica já mais próxima do que é então desenvolvido só depois.
A postura nesta faixa é de inclusão, algumas referências mais genéricas, abrangentes, um tom de voz mais baixo e calmo e um refrão cantado suavemente. Veja a letra do refrão:
''As pessoas não são más, mano, elas só estão perdidas. Ainda há tempo.'
Não quero ver você triste assim, não
Que a minha música possa te levar amor"
Criolo comenta em sua entrevista no "De frente com Gabi", que teve sempre uma relação de apoio vinda de sua mãe. Cursou o Ensino médio junto com ela, que depois cursou filosofia e mestrado em educação, tendo ainda seu irmão formado em Letras. Essa convivência somada à sua experiência com o RAP acabou trazendo para o seu trabalho uma articulação entre elementos da cultura erudita, da cultura popular brasileira e da cultura do Hip Hop, que além de trazer novos ritmos e arranjos, trouxe uma linguagem que é capaz alcançar com a mesma intensidade o fã de Rap e o "playboy de classe média".
Em Nó na orelha, a linguagem vem muito mais leve, colocando Samba, Reggae, Soul e bolero entre seus RAP's; e colocando a turma da Mônica, o Sucrilhos, os espaços do centro de São Paulo, em meio ao Grajaú, em meio aos mesmo problemas já presentes em Ainda há a tempo, em meio ao preconceito contra o RAP (o "nó na orelha"); o piano, os metais, os chocalhos, em meio a batida sintética e efeitos eletrônicos.
As referências ampliadas são explicitamente citadas em "Sucrilhos" e "Mariô": Di Cavalcanti, Oiticica, Frida Khalo Cartola, Muhamed Ali, Dina Di, DJ Primo, Sabotage, Rappin Hood, Facção, Chico (Buarque), Mulatu Astatke, Fela Kuti, etc. terminando a música com a estrofe cantada:
Eu tenho orgulho da minha cor,
Do meu cabelo e do meu nariz.
Sou assim e sou feliz.
Índio, caboclo, cafuso, criolo! Sou brasileiro!
Essa união é confirmada em suas apresentações, que reúnem como público o melhor dos dois mundos em comunhão: os amantes do Rap e os amantes da boa música popular sem distinção de classe cor ou etnia.
Sobre os novos singles, em Cóccix-ência e Duas de cinco, o instrumental de Rock e Soul e Black music, muito bem produzido; a temática da quebra da apatia e as referências cruzadas em harmonia já sua marca registrada:

O que não é seriado da Fox
É playboy se acabando no óxi
Artesanato humilde de durepox
E antes de pensar em tirar
Vai tomar no seu cóccix"

"Aqui é só trabalho, sorte é pras crianças
Que vê o professor em desespero na miséria
Que no meio do caminho da educação havia uma pedra
E havia um pedra no meio do caminho
Ele não é preto véi
Mas no bolso leva um cachimbo"


Bibliografia
CRIOLO – Duas de Cinco. Bio. Disponível em: . Acesso em 25/08/2014
WIKIPEDIA. Criolo (cantor). Disponível em: Acesso em 24/08/2014

Álbuns:
CRIOLO DOIDO. Ainda há tempo. 2006
CRIOLO. Nó na orelha.

Singles:
Duas de Cinco (2013)
Coccix-ência (2013)





Algumas informações foram extraídas da entrevista "De frente com Gabi", de Marília Gabriela com Criolo, exibida em 18 de Janeiro de 2012 pelo Sistema Brasileiro de Televisão (SBT).
Da batalha de MC's surgiu Emicida e também outros artistas da cena do RAP paulista.
Wikipedia.
Da biografia oficial do site do Criolo, exibida em 25/08/2014. Disponível em:
Músico proeminente da nova geração da MPB, já pilotou trabalhos de artistas como Nação Zumbi e Sabotage, e Marcelo Cabral.
A composição de Criolo será gravada por Ney em seu próximo disco. 
Talvez essa reflexão seja contestável pela falta de muitas outras referências de rappers, mas são a minha percepção do "Ainda há tempo"
Nela se canta apenas "Tô pra ver o mundo aqui sucumbir".
Disponíveis no site http://www.rapnacionaldownload.com.br/
Dísponíveis em , onde também é possível baixar o C Nó na Orelha e o ao vivo no Circo Voador. O DVD Criolo e Emicida também está disponível gratuitamente em

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