CRISE CAMBIAL EM ANGOLA QUANDO TERÁ FIM ?

May 25, 2017 | Autor: Janísio Salomao | Categoria: Angola, Economia De Angola, Crise em Angola, crise cambial em Angola
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CRISE CAMBIAL EM ANGOLA QUANDO TERÁ FIM?

14/01/16 Janísio C. Salomão1 [email protected]

A situação a que se encontra imbuída a Economia Angola tem suscitado a muitos à seguinte pergunta: Quando terá fim a crise cambial em Angola? Importa esclarecer aos nossos leitores que a crise cambial é um reflexo sistémico da economia Angolana. Como consabido, a Economia é um todo, encontram-se interligados diversos sistemas: Financeiro, Monetário, Fiscal e o Cambial. Todo este sistema da Economia, acabou por ficar fortemente afectado com a crise que, acabou por se instalar na espinha dorsal da economia Angolana. A crise que teve a sua génese nos finais de 2014, devido a queda abrupta do preço do barril de petróleo em mais de 50% acabou por deixar o saldo da balança comercial em uma situação muito fragilizada pois, o petróleo ainda é a principal matéria prima de exportação representando mais de 95% e, a principal fonte de obtenção de divisas para o País. Gráfico 1 – Preço Médio Barril Petróleo 120

111,6 110,1

100

91,7

96

80

77,8 61,4

60

70 60,7

50 40

20

107,7

36,1

52,55

49,31 43

28,2 24

0

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Fonte: MINFIN

1

Mestre em Administração de Empresas, Consultor Empresarial e Investigador económico.



A queda do preço do petróleo, originou a redução da entrada de divisas no país e consequentemente a redução da oferta de divisas por parte do Banco Nacional de Angola (BNA) ao sistema financeiro (bancos comerciais) e, mantendo a curva da procura constante, as necessidades não foram acompanhadas pela respectiva oferta, gerando assim o acumulado de necessidades de divisas insatisfeitas pelo sistema financeiro.

Gráfico 2 – Venda de divisas BNA (valores médios)

1 800 000 000,00 1 600 000 000,00 1 400 000 000,00 1 200 000 000,00 1 000 000 000,00 800 000 000,00 600 000 000,00 400 000 000,00 200 000 000,00 0,00 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016





Fonte: Banco Nacional de Angola (BNA)

Claramente podemos verificar o comportamento do gráfico, à partir do ano de 2014 que, apresenta uma tendência negativa ou decrescente, o volume de divisas disponibilizadas pelo BNA reduziu drasticamente. Situação está que, tem obrigado ultimamente o BNA disponibilizar ao sistema financeiro euros em relação a dólares; O montante de dólares disponibilizados em 2016 atingiu uma cifra de 730,15 milhões e somente verificou –se nos meses de Janeiro, Fevereiro e Outubro; Já a oferta de euros foi efectuada com alguma regularidade nos meses de Fevereiro à Dezembro, totalizando um montante global de 9,6 mil milhões. A problemática dos dólares, está relacionada com o incumprimento das normas internacionais por parte de grande parte dos bancos que operam em Angola,

situação que contribuiu para o corte das relações com os correspondentes dos bancos Angolanos no exterior, sobretudo o fornecimento de divisas, deixando deste modo o sistema financeiro nacional numa da órbita completamente diferente do sistema financeiro internacional. Consequências A reduzida oferta de divisas acabou por se repercutir na economia como um todo, pois Angola ainda é um pais importador, sendo que, grande parte dos bens e serviços necessários para o funcionamento da economia (>80%) são importados, como tal, o sector produtivo e empresarial foram fortemente afectados. A fraca capacidade de importação originou a escassez de produtos diversos com grande enfoque para produtos da cesta básica, devido ao limitado acesso as divisas. Gráfico 3 – Importação (valores em milhões usd) 500

450

465

450 400

338

350 300 250

186

200 150 100 50 0 2013

2014

2015

Fonte: Relatório Fundamentação OGE 2016 (revisto).

2016



Como consequência da redução da oferta de bens e serviços, os preços dos produtos disparam no mercado atingindo a inflação mensal uma taxa de 3%, a inflação dos últimos 12 meses atingiu um pico de 41,15%.

O kwanza desvalorizou em mais de 30%, a taxa de câmbio conheceu um significativo aumento. Gráfico 4 – Evolução da taxa de câmbio 166,07 135,32

95,83

97,62

2012

2013

Fonte: BNA

102,86

2014

2015

2016



Embora ultimamente se tenham evidenciados os esforços por parte do BNA para minimizar a oferta de divisas, a mesma ainda é insuficiente para fazer cobertura diversas da população como: • • • • • •

Importação de produtos diversos; Pagamento das mensalidades de estudantes no exterior do País; Pagamento de consultas médicas e medicamentosas; Transferências de ordenados dos trabalhadores expatriados; Cobertura de viagens; Restrição dos Cartões Visas

Outrossim grande parte da população vê as suas espectativas goradas quando, ficam meses após meses a espera de uma resposta mais célere das solicitações de cambiais submetidas aos Bancos comerciais que, alegam que, os atrasos verificados são da responsabilidade do BNA; Muitos cidadãos viajam sem divisas solicitadas, nem cartões VISAS;

Para quando o fim da Crise cambial ? Não existe data prevista para o fim da crise cambial, pois a situação, sobretudo em Angola continua muito dependente do preço da principal commodity de exportação “petróleo”, caso o preço do petróleo aumente, tal situação tende a melhorar, deixando a balança comercial Angolana com um saldo superavitário, caso contrário, deficit. As reservas internacionais líquidas (RIL) não continuaram a serem utilizadas com regularidades devido aos limites que a mesma tende atingir, sendo que actualmente se estimem em 20 mil milhões de usd. Torna –se de todo importante o alinhamento com as melhores práticas do sistema financeiro internacional, para que, Angola volte a ter os correspondentes nos principais mercados internacionais, facilitando assim o acesso a divisas, bem como o levantamento do veto de obtenção de divisas por parte da Reserva Federal Americana (RFA). “Não devemos continuar a colocar todos os ovos na mesma cesta” já dizia Warren Buffet, ou seja, devemos acelerar a política de investimento para que a economia não esteja unicamente assente no sector petrolífero, situação que nos deixa mais vulneráveis as alterações do ambiente macroeconómico internacional. Por isso, o fim da crise cambial sine die!

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