Criterion validity of the Social Skills Rating System (SSRS-BR) / Validade de critério do Sistema de Avaliação de Habilidades Sociais (SSRS-BR)

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Validade de Critério do Sistema de Avaliação de Habilidades Sociais (SSRS-BR) Criterion Validity of the Social Skills Rating System (SSRS-BR) Lucas Cordeiro Freitas* & Zilda Aparecida Pereira Del Prette Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil Resumo O presente estudo efetuou a análise da validade de critério da versão brasileira do Sistema de Avaliação de Habilidades Sociais (SSRS-BR), com base na comparação entre os resultados de uma amostra de 84 crianças com deficiência mental e de 496 crianças com desenvolvimento típico. As crianças e seus professores avaliaram habilidades sociais, problemas de comportamento e competência acadêmica por meio do SSRS-BR. Em todas as escalas globais e na maioria das subescalas, os instrumentos de autoavaliação e de avaliação por professores foram sensíveis para diferenciar, significativamente, crianças com e sem deficiência mental nos construtos medidos pelo SSRS-BR. Esse estudo permite disponibilizar o instrumento para futuras pesquisas, processos de avaliação e programas de intervenção para crianças com deficiência mental. Palavras-chave: Habilidades sociais; Deficiência mental; Validade de critério; Problemas de comportamento; Crianças. Abstract This study carried out the analysis of the criterion validity of the Brazilian version of the Social Skills Rating System (SSRS-BR). The results of a sample of 84 children with mental disability were compared with a sample of 496 children with typical development. The children and their teachers evaluated social skills, behavior problems and academic competence using the SSRS-BR. In all global scales and in most subscales the instruments of self-evaluation and evaluations done by teachers were sensitive to, significantly, differentiate children with and without mental disability in the constructs measured by the SSRSBR. This study provides the instrument for future researches as well as for the development of evaluation procedures and intervention programs for children with mental disability. Keywords: Social skills; Mental disability; Criterion validity; Behavior problems; Children.

De acordo com a definição mais recente da American Association on Mental Retardation (AAMR), a deficiência mental é caracterizada por limitações significativas no funcionamento intelectual e no comportamento adaptativo e está expressa nas habilidades sociais, conceituais e práticas (Luckasson et al., 2002). Atualmente, o diagnóstico da deficiência mental requer uma abordagem funcional, que considere as condutas adaptativas deficitárias, destacando-se a de relacionamento social. As limitações cognitivas presentes na deficiência mental, o pobre desenvolvimento da linguagem e os problemas de comportamento apresentados por esses indi*

Endereço para correspondência: Universidade Federal de São Carlos, Centro de Educação e Ciências Humanas, Departamento de Psicologia, Laboratório de Interação Social, Rodovia Washington Luiz, Km 235, Monjolinho, São Carlos, SP, Brasil, CEP 13565-905. E-mail: [email protected] Este artigo apresenta parte dos resultados da dissertação de mestrado do primeiro autor, sob orientação da segunda autora. O trabalho teve o apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

víduos podem comprometer, seriamente, sua interação com outras pessoas (Heward, 2003). No caso de crianças com Síndrome de Down, Soresi e Nota (2000) apontam que os déficits em habilidades sociais podem persistir durante a adolescência, resultando em efeitos potencialmente negativos em sua adaptação à vida adulta e em sua integração social. Em uma revisão de literatura, realizada por Gresham e MacMillan (1997), foi verificado que, em termos de status sociométrico, os estudos mostraram que as crianças com deficiência mental são menos aceitas e mais frequentemente rejeitadas do que seus pares sem deficiências. Os autores apontam, ainda, que há uma vasta literatura sugerindo que essas crianças apresentam, paralelamente aos déficits de habilidades sociais, excessos de problemas de comportamentos interferentes. Os resultados de alguns estudos internacionais de avaliação de crianças com deficiência mental apontaram para a existência de déficits de habilidades sociais e excessos de problemas de comportamento no repertório dessas crianças, em comparação com estudantes que não apresentam necessidades educacionais especiais. 430

Freitas, L. C. & Prette, Z. A. P. (2010). Validade de Critério do Sistema de Avaliação de Habilidades Sociais (SSRS-BR).

Por outro lado, notou-se uma semelhança de repertório social quando as crianças com deficiência mental são comparadas a estudantes que apresentam dificuldades de aprendizagem ou baixa competência acadêmica (Bramlett, Smith, & Edmonds, 1994; Gresham, MacMillan, & Bocian, 1996; Merrell, Merz, Johnson, & Ring, 1992). No contexto brasileiro, ainda são poucos os estudos que avaliam as habilidades sociais em indivíduos com deficiência mental, especialmente com relação à população infantil, embora possam ser encontrados alguns trabalhos pontuais sobre essa temática (Batista & Emuno, 2004; Kleijn, 2001; Pereira, 2007; Rosin-Pinola, Del Prette, & Del Prette, 2007). Não obstante o esforço crescente dos pesquisadores nacionais em caracterizar as habilidades sociais de crianças com deficiência mental, a escassez de estudos de avaliação dessas crianças em nosso contexto tem dificultado a produção de conhecimentos sobre questões empíricas próprias dessa população, tais como os fatores associados a um repertório mais ou menos elaborado dessas habilidades. Além disso, a carência de estudos de avaliação tem sido um obstáculo para a identificação de necessidades que poderiam nortear os objetivos de intervenções educacionais e terapêuticas em habilidades sociais junto a essas crianças. Um dos prováveis fatores que podem explicar a carência de pesquisas sobre habilidades sociais de crianças com deficiência mental no nosso país é a falta de instrumentos de avaliação válidos e fidedignos, adaptados para essa população. Segundo Almeida (2004), apesar de a definição atual de deficiência mental proposta pela AAMR enfatizar os comprometimentos nas condutas adaptativas e, especificamente, nas habilidades sociais, no Brasil a identificação dos indivíduos que apresentam essa deficiência continua sendo feita quase exclusivamente com base em indicadores de inteligência. O fato de o país não dispor de escalas validadas que avaliem os comportamentos adaptativos pode, em parte, explicar essa prática inadequada dos profissionais que lidam com essa população (Almeida, 2004). No Brasil, apesar de existirem dois instrumentos confiáveis que avaliam habilidades sociais de crianças – o Inventário Multimídia de Habilidades Sociais para Crianças (Del Prette & Del Prette, 2005b) e o Sistema de Avaliação de Habilidades Sociais, versão brasileira ([SSRS-BR], Bandeira, Del Prette, Del Prette, & Magalhães, in press) – não foi construída ou validada, até o presente momento, nenhuma escala de avaliação dirigida especificamente a estudantes que apresentam deficiência mental. Na lista de testes psicológicos com parecer favorável do Conselho Federal de Psicologia (CFP), não foi encontrado nenhum instrumento comercializado no Brasil que avalie as habilidades sociais de crianças com deficiência mental, até o ano de 2008 (CFP, n.d.). Além disso, nenhum dos instrumentos mencionados acima possui padrões normativos específicos para deficientes mentais, não permitindo situar a posição que uma criança

deficiente ocupa em relação a outras de seu grupo, no construto medido pelas escalas, nem comparar os escores dessa criança com aqueles obtidos pela população sem deficiência. De acordo com Demaray et al. (1995), o Sistema de Avaliação de Habilidades Sociais, versão original (SSRS), é um instrumento amplamente utilizado em pesquisas de avaliação de habilidades sociais de crianças em diversos países, sendo considerado o mais abrangente em comparação a outros instrumentos, uma vez que permite comparar o julgamento de três informantes (pais, professores e a própria criança) e obter indicadores de habilidades sociais, problemas de comportamento e competência acadêmica. Soma-se a essas vantagens, o fato de o SSRS se configurar como um instrumento relativamente fácil e prático de ser aplicado, apresentando um baixo custo de resposta para os respondentes. De acordo com a revisão realizada por Freitas (2008), o SSRS foi submetido a estudos psicométricos em diferentes países, como Estados Unidos, Irã, Portugal, Noruega, Holanda e Porto Rico. Notou-se também que esses estudos foram realizados com diferentes populações de crianças e adolescentes: com desenvolvimento típico, dificuldades de aprendizagem, problemas de comportamento, deficiência mental e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. O conjunto desses estudos demonstrou que o instrumento, em suas três versões, possui as principais propriedades psicométricas de validade e fidedignidade requeridas a uma medida psicológica. Cabe destacar ainda que foram encontrados estudos de avaliação na literatura em que o SSRS foi aplicado a crianças com autismo (Thiemann & Goldstein, 2001), deficiência auditiva (Souza, 2008), deficiência visual (Ferreira, 2008), adolescentes com Síndrome de Asperger (Koning & Maguill-Evans, 2001), dentre outros diagnósticos. O SSRS-BR, já adaptado para o Brasil, pode ser considerado um instrumento potencialmente elegível para ser utilizado com crianças que apresentam deficiência mental no nosso contexto. Entretanto, antes de ser utilizado com essa população específica, o SSRS-BR precisa ser submetido ao exame de suas propriedades psicométricas, a fim de se verificar seus parâmetros de validade e fidedignidade e seus padrões normativos. Tendo em vista o caráter situacional e multidimensional das habilidades sociais, a avaliação do repertório social de crianças deve ser baseada em vários indicadores dos desempenhos abertos e encobertos que ocorrem nas situações interpessoais (Del Prette & Del Prette 2002, 2005a). Alguns autores têm destacado, ainda, que os indicadores de habilidades sociais de crianças devem ser obtidos, sempre que possível, por meio da avaliação de diferentes informantes, tais como a própria criança, seus pais, professores e colegas, uma vez que nenhum deles, isoladamente, tem acesso a todos os indicadores do repertório social da criança (Caballo, 2002; Del Prette & Del Prette, 2003, 2005a; Gresham & Elliott, 1990). Essa 431

Psicologia: Reflexão e Crítica, 23 (3), 430-439.

diversidade de indicadores e de informantes envolvidos na avaliação das habilidades interpessoais de crianças caracteriza uma abordagem multimodal (Del Prette & Del Prette, 2003, 2005a; Gresham & Elliott, 1990; Michelson, Sugai, Wood, & Kazdin, 1983), que integra um maior número de medidas, de modo a garantir uma avaliação mais completa e abrangente. Considerando a falta de instrumentos de avaliação de habilidades sociais validados e normatizados para crianças com deficiência mental no Brasil e as conseqüências negativas que tal carência acarreta tanto para a produção de conhecimentos científicos na área quanto para a prática profissional junto a essa clientela, o objetivo deste estudo foi avaliar propriedades psicométricas da versão brasileira do Sistema de Avaliação de Habilidades Sociais (SSRS-BR) para crianças com deficiência mental, formulários respondidos pelos professores e estudantes. O presente artigo apresenta parte dos resultados dos estudos de validação do instrumento citado e enfoca a análise de sua validade de critério, com base na

comparação entre os resultados de uma amostra de crianças com deficiência mental e de crianças com desenvolvimento típico. Método Inicialmente, o projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de São Carlos ([UFSCar], Parecer CEP nº 309/ 2006) e seguiu suas devidas recomendações. Participantes A amostra do estudo foi composta por 84 crianças com deficiência mental leve, moderada ou inespecificada, estudantes de uma escola especial de uma cidade de médio porte do interior de São Paulo. Do total de participantes, 56 (66,7%) eram meninos e 28 (33,3%) eram meninas, com idades entre oito e 14 anos (Média=11,64; DP=1,47). O grau de escolaridade e o nível socioeconômico dos participantes podem ser observados na Tabela 1.

Tabela 1 Grau de Escolaridade e Nível Socioeconômico das Crianças Participantes Variável

Níveis

Frequência Absoluta

Frequência Relativa

Nível de Escolaridade

Nível IV Nível V Nível VI Nível VII Inicial I Avançado I Inicial II

12 37 10 8 6 7 4

14,3% 44% 11,9% 9,5% 7,1% 8,3% 4,8%

Nível socioeconômico Critério-Brasil

A1 A2 B1 B2 C D E Não responderam

0 0 1 5 30 38 1 9

0% 0% 1,2% 6% 35,7% 45,2% 1,2% 10,7%

Os participantes foram recrutados em dez turmas e pertenciam a sete níveis diferentes de escolarização. Os Níveis IV, V, VI e VII são equivalentes às diferentes etapas da pré-escola do ensino regular. As etapas Inicial I e Avançado I correspondem, respectivamente, às fases de início e término da 1ª série do Ensino Fundamental de uma escola regular. A etapa Inicial II corresponde à primeira fase da 2ª série de Ensino Fundamental do ensino regular. Os estudantes foram selecionados para a pesquisa a partir dos seus resultados obtidos em uma avaliação multidisciplinar padrão, que foi realizada pela própria instituição. Nessa avaliação, foram realizadas anamnese com os pais das crianças, avaliação fonoaudiológica, avalia432

ção pedagógica, avaliação psicológica e, eventualmente, de acordo com a necessidade, avaliações por neurologista e terapeuta ocupacional. Na avaliação psicológica, a criança respondeu a pelo menos um teste de inteligência – WISC – Escala de Inteligência Wechsler para Crianças (Figueiredo, 2002) e/ou Columbia (Lorge, Blum, & Burgemeister, 1993) e, em alguns casos, foram aplicados testes projetivos para avaliação da personalidade, tais como o HTP – The House-Tree-Person (Buck, 2003). O diagnóstico de deficiência mental, assim como a especificação de seu grau de severidade, foi realizado de acordo com os critérios do DSM-IV (Associação Americana de Psiquiatria, 2002), com auxílio das informações obtidas na avaliação das crianças.

Freitas, L. C. & Prette, Z. A. P. (2010). Validade de Critério do Sistema de Avaliação de Habilidades Sociais (SSRS-BR).

Dez professores dos alunos selecionados participaram da pesquisa, como informantes do seu repertório de habilidades sociais, problemas de comportamento e competência acadêmica. A idade média dos professores foi de 43,33 anos (DP=12,66), sendo a totalidade do sexo feminino. Para a realização da análise da validade de critério do SSRS-BR foi utilizada uma amostra de comparação composta por 496 estudantes do Ensino Fundamental de escolas regulares, de 1ª. a 4ª. série, de cinco cidades de quatro Estados brasileiros (MG, PR, SP e RJ), sendo 70,6% de escolas públicas e 29,4% de escolas particulares. A idade média das crianças era de 8,75 anos (DP=1,74), sendo 224 (53,84%) meninos e 192 (46,16%) meninas. Esses estudantes, assim como seus pais e professores, compuseram a amostra do primeiro estudo de validação brasileira do SSRS-BR (Bandeira et al., in press) As crianças desse grupo de comparação não apresentavam deficiências ou outras características clínicas, segundo a avaliação de seus professores. Apesar da diferença entre o número de sujeitos nos grupos de crianças com e sem deficiência mental, a prova de Levene indicou homogeneidade da variância nos escores de habilidades sociais nas duas amostras, segundo a avaliação dos professores (F=3,38; p=0,07). Instrumentos de Avaliação Inventário SSRS-BR. Para a avaliação do repertório social e acadêmico das crianças foi utilizada a versão brasileira do Sistema de Avaliação das Habilidades Sociais – SSRS-BR ([Social Skills Rating System], Bandeira et al., in press). Este inventário avalia as habilidades sociais, os problemas de comportamento e a competência acadêmica de crianças do ensino fundamental, por meio de três questionários, dirigidos aos pais, aos próprios estudantes e aos professores. Na presente pesquisa, foram utilizados somente os questionários dos estudantes e dos professores, uma vez que avaliam as habilidades sociais mais diretamente relacionadas ao contexto escolar O SSRS-BR se encontra validado para o Brasil para crianças com desenvolvimento típico e apresenta propriedades psicométricas adequadas de validade de construto, consistência interna e estabilidade temporal (Bandeira et al., in press). Participaram do estudo de validação 416 estudantes de primeira a quarta séries, de escolas públicas e particulares, de quatro estados brasileiros, 312 pais e 86 professoras. Os resultados da validade de construto indicaram estruturas fatoriais que explicaram de 40% a 62% da variância dos dados. A análise da consistência interna indicou valores adequados de alfa de Cronbach, para as escalas de: habilidades sociais (Estudante=0,78; Pais=0,86; Professores=0,94); comportamentos problemáticos (Pais=0,83; Professores=0,91) e competência acadêmica (0,98). A análise da estabilidade temporal indicou correlações teste-reteste positivas e significativas para os escores globais das escalas de habilidades sociais (Estudantes: r=0,78; Pais: r=0,69; Professores: r=0,71;

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