Critérios editoriais e comentários do público nos sites de quatro diários portugueses

June 15, 2017 | Autor: Helena Lima | Categoria: Online Journalism
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V Congreso Internacional de Ciberperiodismo y Web 2.0 Audiencias Activas y Periodismo Comunicación

 

Critérios editoriais e comentários do público nos sites de quatro diários portugueses Editorial criteria and public comments on the websites of four Portuguese daily

Ana Isabel Reis Universidade do Porto

[email protected]

Helena Lima Universidade do Porto [email protected]

Resumen

La interactividad en cuanto característica del medio digital es entendida como una forma de medir audiencias y el interés público ya que es a través de los comentarios y del número de visualizaciones que los lectores manifiestan sus preferencias. La interactividad puede igualmente ser entendida como una contribución para la reconfiguración editorial de los sitios que pueden escoger los destaques y definir la agenda mediática en función de los comentarios expresos. El objetivo de este estudio es analizar la relación entre los perfiles editoriales de los cuatro sitios de cuatro diarios portugueses y los comentarios dos lectores y procurar verificar si existe una correspondencia entre ellos, y si hay proximidad entre la agenda noticiosa e la agenda pública. El análisis fue organizado según secciones a fin de identificar el perfil editorial e intentar encontrar una relación entre estos temas e as escojas del público. Palabras-clave: Sitios de los periódicos, Periodismo de referencia, Periodismo

popular, Interactividad, Comentarios Abstract

Interactivity is a characteristic of the digital medium and is often seen as a way of measuring audiences and the public interest given that it’s through the number of views and commenting that readers express their preferences. Interactivity can also be understood as a contribution to the reconfiguration of news sites which can choose the headlines and the media agenda according to the public participation preferences.

 

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The aim of this study is to analyze the relationship between editorial profiles of the four sites from the Portuguese newspapers with thereaders comments and try to verify whether there is a correspondence between them, and if there is proximity between the news agenda and the public agenda. The analysis was organized according to sections to identify the editorial profile and try to find a connection between these issues and the public’s choices. News media sites, Reference journalism, Popular journalism, Interactivity, Comments

Keywords:

1. Critérios editoriais e participação pública nos sites noticiosos

A Internet trouxe alterações significativas do ponto de vista dos utilizadores que se traduziram também numa transformação dos comportamentos face ao meio digital. Na utilização da Web alguns factores são determinantes nas preferências do público: velocidade, imediatismo e interatividade, para além da muito apreciada gratuitidade. O meio digital facilita a interatividade, estimula-a ao funcionar como uma ferramenta que aumenta a vontade de participar (Sundet; Ytreberg, 2009). No entanto, a interatividade na Internet vai muito além do simples click que possibilita a seleção e a navegação (Schultz, 1999). Os novos media, embora não uniformemente, entenderam rapidamente as potencialidades da interatividade ao criarem sites que permitem aos utilizadores novas formas de participação, tornando-os mais atrativos do ponto de vista das audiências, o que por inerência, despertou igualmente o interesse das empresas, e em particular os media noticiosos. Este factor de atratividade é, contudo, potenciado de formas distintas uma vez que a interatividade e as formas de participação pública podem surgir mais ou menos desenvolvidas de acordo com as opções de cada empresa de media. No caso português, estas características da interatividade têm sido alvo de um forte desinvestimento que corresponde aos cortes orçamentais levados a cabo pelas empresas e que também se fazem sentir globalmente na forma como o online se estrutura, desde a vertente noticiosa até às funcionalidades da multimedialidade que o meio digital pressupõe. Por outro lado, a interatividade típica do meio digital abriu também caminho ao acesso generalizado de todos os utilizadores à esfera pública aumentando portanto as potencialidades da democracia participativa e permitindo um novo entendimento dos conceitos de cidadania. Assim, idealmente, os media digitais conferem aos cidadãos os meios não só para acederem à informação, mas igualmente um espaço de trocas de opinião (Deuze, 2003), o que de alguma forma contribui para o enriquecimento da democracia, na medida em que este novo meio de expressão da opinião pública pode levar a uma correção das falhas dos sistemas políticos.

 

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Os novos media podem ainda vir a reforçar as formas mais tradicionais de atividade política através da criação de novas formas de participação, nomeadamente em ambiente digital, pela possibilidade de debate da agenda mediática. No entanto, esta relação intrínseca entre informação, interatividade e participação não será ainda completamente conseguida, uma vez que nem sempre mais informação conduz a níveis elevados de interação ou participação política (Reis e Lima 2011; Lima e Reis, 2012). Por outro lado, a forma como os sites noticiosos permitem ou não essa participação e as formas de que se reveste, podem ainda ser entendido como limitadores destas potencialidades. Do ponto de vista dos media digitais informativos, os fenómenos de interatividade têm sido estudados nas formas de articulação das práticas jornalísticas com a emergência destas audiências ativas e em que medida elas se traduzem em alterações quer do ponto de vista dos conteúdos quer em termos de produção e gestão, quer dos procedimentos profissionais. Nos media tradicionais verifica-se uma produção unidirecional, enquanto a Internet permite uma bidirecionalidade em termos de emissores e audiências e entre os utilizadores que podem dialogar entre si, quase em tempo real. O público tem a possibilidade de ver os seus próprios conteúdos incluídos no discurso público global, o que de alguma forma constitui um incentivo à participação. Esta pode assumir várias denominações, como UGC (user-generated content), em que os inputs dos utilizadores podem assumir variadas formas largamente dependentes do que os sites noticiosos permitem. Tipos de UGCs podem ser rodapés de última hora, comentários, testemunhos, jornalismo colaborativo, jornalismo da Web e material não informativo incluído em noticiários (Wardle, Williams, 2010). A participação do público pode também surgir sob a forma de fóruns e debates online em chat-rooms especialmente criados para determinadas temáticas, como os que são incentivados pelo New York Times através da transformação dos espaços de opinião em blogues de debate público. Outras formas mais complexas e polémicas da participação do público nos conteúdos noticiosos estão ainda ligados aos conceitos de jornalismo de cidadania, nas suas diferentes vertentes (Bruns, 2011). Contudo, a inclusão de conteúdos gerados pelo público é ainda problemática do ponto de vista dos responsáveis dos sites. Na maior parte dos casos, a participação pública não é de todo incentivada, ou é “editada”, em alguns casos excluída ou censurada por conter termos ofensivos, ou é considerada SPAM. As várias possibilidades de acesso a informação e participação activa nos temas em debate contribuem para a emergência do conceito “netcitizen” que traduz essa capacidade de se informar e promover escolhas em função das potencialidades que as novas plataformas digitais lhe conferem (Deuze, 2003). A questão que se coloca atualmente, e vários estudos reflectem essa preocupação, é de que forma as audiências realmente aproveitam as oportunidades que lhes são oferecidas pelas plataformas digitais. Se isso representa um efetivo debate público dos temas estruturantes, e em que medida contribui para a construção e reforço da democracia. A participação pública não se traduz necessariamente numa perspetiva

 

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construtiva que está inerente aos conceitos anteriormente enunciados. O estudo destes comportamentos é determinante para entender em que medida os media digitais geraram novas formas de participação e atividade política ou transformaram as já existentes, o perfil dos utilizadores, a articulação e participação nos conteúdos, bem como as ferramentas disponibilizadas pelos media e os tipos de interatividade que são permitidos. A interatividade enquanto característica do meio digital é entendida como uma aferição de audiências e do interesse público já que é através dos comentários e do número de visualizações que os leitores manifestam as suas preferências. No campo dos sites noticiosos, a interatividade pode também ser entendida como um contributo para a reconfiguração editorial. Para além dos mencionados UGCs a participação pública poderia contribuir para uma reconfiguração dos destaques (através do número de visualizações, volume de comentários ou partilhas nas redes sociais), contribuindo assim para definir a hierarquização da agenda mediática, potencialidade esta que desejavelmente seria ainda aferida pelos comentários expressos no site.

2. Metodologia

Este estudo incide na articulação entre a hierarquização noticiosa dos sites dos quarto jornais diários portugueses, através dos destaques na sua página na Internet e a sua inserção nas diferentes editorias, e a interatividade registada através dos comentários do público. O objectivo é procurar aferir se existe uma correspondência em termos das opções editoriais e as respostas do público, bem como se se verifica uma real distinção na classificação editorial e se esta tem uma correspondência constatável pelo número de comentários e a sua distribuição pelas editorias. Procura-se assim, verificar se existe uma correspondência nas preferências e comentários dos leitores revelando uma aproximação entre a agenda noticiosa e a agenda pública (Boczkowski; Michtchelstein, 2010). Para tal, foi constituída uma amostra em que foi aleatoriamente escolhido o período de um mês no ano de 2012 e em que manchetes e comentários dos quatro sites foram fotografados às 23:00. O critério de seleção recaiu apenas nos principais destaques da página e respetivos comentários. A análise foi organizada segundo a separação por secções/editorias a fim de conhecer melhor o perfil editorial e para tentar encontrar uma ligação entre estes temas e as escolhas do público nos comentários das notícias. A escolha de quatro sites de jornais diários com políticas editoriais distintas, Público, Diário de Notícias, Correio da Manhã e Jornal de Notícias prende-se com espectativa de que a hierarquização noticiosa apresente elementos de diferenciação, e que de alguma forma possa ter reflexos na participação a nível dos comentários. Os dois primeiros são considerados os jornais de referência, tendo, portanto, uma particular responsabilidade na relação entre o poder informativo e os processos de cidadania. O Correio da Manhã e Jornal de Notícias apresentam orientações editoriais mais  

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próximas, com temáticas e estilos narrativos que tendem a suscitar a participação do público, ainda que o primeiro se aproxime mais do formato tabloide, incorporando as típicas temáticas escândalo, desporto, vida privada (Zoonen, 1998; Sparks, 2000, Deuze, 2005). Os sites estudados correspondem a versões online de quatro matutinos com histórias e percursos muito diversos e em que as estratégias de consolidação de públicos assentam quer numa certa tradição dos estilos noticiosos, mas também nos recentes desenvolvimentos da conjuntura dos media portugueses. Assim, a breve caracterização do perfil editorial de cada um deles procura ter em linha de conta esta dupla vertente e a análise leva que os sites se agrupem dois a dois, ora pela orientação editorial de jornais de referência, ora de jornalismo mais popular. O Diário de Notícias lançado em 1864, afirmou-se como o primeiro diário português que obedecia ao figurino da imprensa industrial e informativa. Com um percurso centenário notável, o DN caracterizou-se pela conquista do público da capital, graças ao seu estilo sóbrio. Tendo sofrido algumas vicissitudes no período da ditadura e durante o PREC, este diário depois de ter estado integrado no grupo da imprensa nacionalizada viria a ser privatizado após a aquisição pelo Grupo Lusomundo, tendo finalmente ficado integrado no grupo Controlinveste. No período em análise tinha uma circulação de 32 mil jornais. Os leitores caracterizam-se por grau de instrução médio, são empregados no sector administrativo ou têm profissões qualificadas. Dos quatro jornais o Diário de Notícias é o que tem o maior número de leitores entre os 25 e 34 anos e que vivem na Grande Lisboa. O DN online estava no 15º lugar no ranking do Netpanel que mede as audiências dos sites, e era o terceiro mais visto da amostra, com mais de 4 milhões de visitas. O Jornal de Notícias, fundado em 1888, é um dos diários centenários que subsistiu às dificuldades do período revolucionário de 1974 /1975 e que emergiu como diário líder das tiragens após a sua inclusão no quadro da imprensa estatizada. Depois de uma série de passagens de mãos em grupos de media, juntamente com o Diário de Notícias é atualmente propriedade da Controlinveste e tem uma circulação que ronda os 77 mil exemplares. Os seus leitores têm maioritariamente o ensino básico, são trabalhadores não qualificados ou de serviços, têm entre os 25 e 34 anos, embora em relação aos três outros diários este seja o que tem mais leitores acima dos 45 anos. O JN é lido sobretudo no norte do país. No mês em análise o online o JN estava no 7º lugar do ranking de visitas, e era o terceiro mais visitado dos quatro sites seleccionados, com mais de 7 milhões de visitas. O Correio da Manhã, é propriedade da Cofina e foi criado em 1979, tendo sido lançado como o primeiro projecto tablóide português. Depois de um início difícil, este diário foi consolidando posições em termos de público e após um período de disputa em termos de circulação com o JN, tornou-se o diário de maior circulação em Portugal, com 134 mil exemplares. Os leitores do CM têm o ensino básico, são trabalhadores não qualificados ou de serviços têm entre os 25 e 34 anos, mas o jornal tem também uma fatia significativa de leitores com mais de 65 anos. O Correio da Manhã vende-se mais no centro e sul do país embora a sua presença no litoral norte

 

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esteja em crescimento. No online o Correio da Manhã ocupava a sexta posição, sendo o segundo mais visitado da amostra deste estudo com mais de 8 milhões de visitas. O Público foi fundado em 1990 sendo parte do grupo Sonae, e foi lançado com uma linha editorial clara de jornalismo de referência, caracterizando-se pela preferência das temáticas nobres do jornalismo e por um estilo gráfico sóbrio, que contribuíram para a conquista de um público de elite. No período de recolha de dados para este estudo tinha uma circulação de 31 mil jornais. Os leitores do jornal têm um grau de instrução elevado, são profissionais liberais, dirigentes de empresas ou do Estado ou ocupam lugares administrativos, têm entre os 25 e 34 anos, mas o jornal tem também uma percentagem elevada de leitores dos 45 aos 54 anos. O Público é lido sobretudo nas zonas urbanas de Lisboa e Porto. O Público online era o quarto site de informação mais visitado, dos quatro sites de jornais em análise era o mais visto com mais de 9 milhões de visitas.

3. Discussão de Resultados

No decurso desta análise constituiu-se uma amostra em que foi aleatoriamente escolhido o período de um mês em 2012, e em que se selecionaram as manchetes e comentários dos quatro sites de jornais que foram fotografados às 23:00. O critério de seleção recaiu apenas nos principais destaques da página e respetivos comentários. A análise foi organizada segundo a separação por secções/editorias a fim de conhecer melhor o perfil editorial e para tentar encontrar uma ligação entre estes temas e as escolhas do público nos comentários das notícias. Os resultados apresentados são preliminares e resultam de um número global de 516 notícias distribuídas da seguinte forma:

Gráfico 1 Notícias em destaque distribuídas pelos sites dos jornais

 

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Como é visível as diferenças são mínimas e as diferenças reportam-se a uma ligeira variação no número de destaques, que estão directamente relacionadas com alterações pontuais do design da homepage, em função da valorização de um dado acontecimento jornalístico. Mediante o impacto da atualidade algumas das páginas dos jornais alteram o seu design, a forma como apresentam as notícias ou o seu número. Em alguns casos a homepage pode ser ocupada quase na totalidade com dois ou três títulos. Relativamente ao volume de comentários, estas notícias geraram 9.275 comentários distribuídos da seguinte forma:

DN

Público

JN

CM

618 2287

5523 847

Gráfico 2 Volume de comentários nos sites dos jornais

É notório o desiquilíbrio entre os quarto diários sem que se possa fazer uma relação com o estilo editorial sejam publicações ditas de referência ou de cariz mais popular. O Diário de Notícias destaca-se em relação aos restantes com mais de cinco mil comentários. No lado oposto está o Correio da Manhã. De acordo com a orientação editorial de cada um dos jornais e que se espera tenha reflexos na configuração noticiosa dos sites, procuramos estabelecer uma análise quantitativa das diferentes editorias de forma a aferir o comportamento em termos dos perfis editoriais e de que resultaram os seguintes dados globais:

 

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Gráfico 3 Distribuição global das notícias por editorias nos quatro diários

A editoria de Política mantém um peso considerável no volume total de notícias, com exceção do site do JN, em que os valores são consideravelmente mais baixos: 7%. O Diário de Notícias é o que regista um valor maior, 24%, Público e Correio da Manhã apesar de terem perfis editoriais diferentes e públicos distintos apresentam uma percentagem idêntica: 17%. Pode-se ainda adiantar que as principais exceções se registam a nível da editoria Internacional, que no Público se destaca claramente e no Desporto e Outras, onde os valores do Correio da Manhã e o Jornal de Notícias apresentam valores muito aproximados. Nesta primeira abordagem global é possível constatar que não há uma diferença acentuada em termos de distribuição das notícias pelas diferentes editorias e que que os quatro sites revelam escolhas muito aproximadas. A diferença estará no enfoque dado às notícias que vai de encontro à linha editorial e ao perfil do público de cada um dos diários. Procurando aferir melhor as diferenças e semelhanças dos quatro sites, procedeu-se a uma análise comparativa de forma a confirmar ou não a hierarquização informativa típica de uma orientação mais popular ou do chamado jornalismo de referência e qual o impacto em termos de comentários. Quer a orientação do jornal seja mais popular ou dita de referência, é a política que detém o maior número de comentários dos leitores da versão online dos quatro diários, como se pode verificar no seguinte gráfico:

 

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50% 40% 30% Gente/escândalos Justiça/Tribunais/Polícia Sociedade Política

20% 10% 0% DN Política

Público Sociedade

JN

CM Justiça/Tribunais/Polícia

Gente/escândalos

Gráfico 4 Distribuição global dos comentários por editorias nos quatro diários

A Política é a editoria mais comentada nos quatro sites: no DN com 36%, no Público 49%, no JN 19% e no CM 38%. Essa preferência encontra, de forma global, uma correspondência na linha editorial dos quatros sites. O que distingue os dois tipos de imprensa é, sobretudo, a diferença para a segunda editoria mais comentada. No JN e no CM essa diferença é muito menos expressiva do que no DN e Público. No Correio da Manhã e no Jornal de Notícias as notícias que suscitam mais participação estão na secção de Justiça/Tribunais/Polícia (JN 17% e no CM 30%) o que coincide com a que os dois diários dão mais relevância nos destaques da homepage. No DN é Sociedade (19%) e no Público é Economia (12%). No Diário de Notícias não há correspondência entre o volume de comentários e de notícias de Sociedade, a segunda mais participada. Tal ocorre também no Público, em que a segunda editoria mais forte, o Internacional, regista pouca participação, 9%, enquanto os leitores preferem comentar as temáticas relacionadas com Economia. A maior diferença entre os quatro diários reside na editoria Gente/Escândalos. Os jornais de referência não publicam este tipo de notícias, ao invés da imprensa mais popular. Assim, o número de comentários no JN espelha também as suas opções editoriais e o destaque dado à editoria na homepage do jornal. O mesmo não acontece com o Correio da Manhã porque estas notícias não fazem parte dos destaques, ocupando uma área própria no site numa barra lateral destacada a vermelho. Pretende-se agora tentar encontrar uma ligação entre as editorias mais destacadas na homepage dos quatro jornais e as escolhas do público nos comentários às notícias do sites.

 

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50% 45% 40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0%

Política

Sociedade

Justiça/Tribunais/Polícia

Internacional

Gente/escândalos

Desporto

Gráfico 5 Distribuição global das notícias e dos comentários por editorias nos quatro diários: os de cariz mais popular JN e CM e os de referência DN e Público

Os dois diários de cariz mais popular e os dois considerados de referência registam algumas diferenças sobretudo nas ediotorias que se identificam mais com o perfil de cada estilo editorial, mas também alguns pontos em comum. Política é, globalmemente a principal editorial nos destaques da homepage dos quarto jornais e o que gera maior volume de comentários. No CM a editoria forte dos destaques é Justiça/Tribunais/Polícia com 19%, o que em certa medida corresponde à preferência do público do jornal já que é a segunda mais comentada com 30%. A primeira é Política com 38%, embora apareça em segundo lugar nas editorias com mais publicações. Este facto aparentemente contraria o perfil do jornal de cariz mais popular, mas é de referir que estas notícias são abordadas com um enfoque na polémica ou escândalos o que suscita naturalmente uma maior participação do público. No geral o JN apresenta um equilíbrio entre a seleção da temática das notícias e a dos leitores embora em Política se registe uma diferença substancial: 7% de notícias e 19% de comentários, o que faz desta editoria a mais comentada no site do diário portuense. Justiça/tribunais/polícia; Política; e Gente/escândalos são três editorias fortes em ambos os sites com correspondência no número de comentários: em todas elas se regista um enfoque transversal: o da polémica ou escândalos que lhe estão associados. Nos diários de referência Diário de Notícias e Público, uma das editorias mais publicada vai ao encontro do volume de comentários, embora no Público seja notória a discrepância dos valores da secção que está em primeiro lugar, o Internacional com 29% das notícias em destaque sendo que o volume de comentários é de 9%. No DN essa diferença acentuada é visível na secção Sociedade cujas notícias apenas perfazem 4% do total enquanto que os comentários alcançam os 19%.

 

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Neste estudo cabe ainda fazer referência à qualidade da participação pública nos sites dos quarto diários portugueses. A grande maioria dos comentários não estão relacionados com o conteúdo das respetivas notícias: são spam, publicidade ou considerados insultuosos. Estes últimos são palavras trocadas com outros leitores o que gera diálogos acesos que vão subindo de tom entre os participantes ou visam os protagonistas das notícias, conforme se pode verificar pelos seguintes exemplos:

Figura 1. Exemplo de comentário ofensivo

Figura 2 Exemplo de comentário ofensivo

O cariz dos comentários dos sites noticiosos tem sido por diversas vezes tema de debate interno nas redacções que adoptam estratégias diversas para minimizar os efeitos da linguagem e do conteúdo considerado malicioso ou ofensivo. Na época em análise não era obrigatório o registo no site para se comentar uma notícia, mas cada um era filtrado pelo jornal e nenhum tinha publicação instântanea. O site que regista  

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maior número de comentários desta amostra, o Diário de Notícias, alterou, nessa altura, a sua política em relação à participação do público depois de ter recebido uma notificação da ERC (a Entidade Reguladora para a Comunicação Social que regula o setor dos media em Portugal) sobre a insuficiência de mecanismos de filtragem dos textos publicados pelos leitores na edição online. Segundo a Recomendação 1/2012 de 2/CONT-NET/2012 de 26 de Abril de 2012 “O Conselho Regulador recomenda ao Diário de Notícias a adoção de um sistema de validação de comentários eficaz e que, desse modo, se abstenha de publicar comentários que ultrapassem os limites consagrados à liberdade de expressão, adotando assim uma conduta que respeite os direitos fundamentais”. A direção do jornal decidiu não acatar a deliberação da ERC e numa nota publicada a 2 de Julho sob o título “Diário de Notícias denuncia possíveis crimes de racismo” e explicando que o jornal “dá total liberdade aos seus leitores na forma como participam nas caixas de comentários do seu site, não censurando qualquer texto e permitindo a publicação de todos eles.” Entende o jornal que é essa a sua obrigação enquanto defensor da liberdade de expressão. E anunciava ainda que iria “enviar às autoridades denúncias sobre comentários feitos no seu site que indiciam a prática de crimes de discriminação racial previstos no Código Penal”. O número de comentários aumentou consideravelmente a partir deste dia o que terá contribuído para a discrepância entre o número de comentários no DN e nos restantes diários. Sobre a deliberação da ERC foi tornada publica a posição definitiva do jornal num editorial datado de 18 de Julho de 2012 sob o título “DN recusa fazer censura prévia aos leitores”. Nele se escreve que a ”direção editorial do Diário de Notícias decidiu não acatar, dentro do quadro legal em vigor, a Recomendação da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) sobre comentários no seu site, pois ela obrigaria ao exercício de censura prévia aos leitores. Decidiu o DN, igualmente, implementar um sistema automático de apagamento de comentários, acionado exclusivamente pelos leitores.” Já depois deste estudo também o Público alterou o processo de publicação de comentários.

4. Conclusões

O perfil editorial na versão online dos quatro diários corresponde à categorização atribuída aos jornais ditos de referência e aos de cariz mais popular. Público e Diário de Notícias dão mais relevo às temáticas consideradas nobres: política, economia, internacional. O Correio da Manhã e Jornal de Notícias dão mais destaque a temáticas que são mais polémicas ou que ou que têm um enfoque que suscita reações e que , em consequência, desencadeia mais participação por parte do público. Tal é o caso das editorias de Justiça/Tribunais/Polícia, como era expectável. Mas o

 

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enquadramento da editoria de Política é o mesmo, pelo que se registam também aqui muitos comentários do público, embora não sendo esta a tamática mais relevante. Podemos igualmente concluir que, apesar de algumas particularidades referidas anteriormente, se verifica uma correspondência entre as opções editoriais e as preferências e comentários dos leitores o que revela uma aproximação entre a agenda noticiosa e a agenda pública. Ou seja, as opções editoriais correspondem ao perfil dos leitores de cada jornal e às suas preferências, o que nos leva a considerar que os públicos no online serão uma extensão dos leitores do jornal impresso. É ainda de referir que o espaço de comentários continua a ser usado não como um fórum online, mas na maior parte dos casos para outros fins. Por último, de notar o aumento considerável em termos de deabate no site do Diário de Noticias, ainda que a função de fórum possa ter sido desvirtuada pelo tipo de ideias expressas.

Referências

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