CRITÉRIOS PARA A TIPIFICAÇÃO DE PESQUISAS EM CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS CRITERIA FOR TYPIFYING RESEARCH IN THE HUMANITIES AND SOCIAL SCIENCES

June 5, 2017 | Autor: Francisco T. Leite | Categoria: Metodologias de Pesquisa, Pesquisa Em Educação
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CRITÉRIOS PARA A TIPIFICAÇÃO DE PESQUISAS EM CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS CRITERIA FOR TYPIFYING RESEARCH IN THE HUMANITIES AND SOCIAL SCIENCES Resumo A presente análise documental apresenta um sistema referencial para a tipificação de pesquisas em ciências humanas e sociais, a partir da análise descritiva dos fundamentos adotados por 15 autores brasileiros e americanos. Tal sistema visa a estimular a adoção de uma linguagem e terminologia comuns, facilitando a permeabilidade acadêmica e estabelecendo uma melhor identidade metodológica em pesquisas na área. A partir da harmonização de aspectos epistemológicos e metodológicos, o estudo sugere um sistema de tipificação baseado em cinco critérios, divididos em essenciais e suplementares. Os três critérios considerados essenciais têm a finalidade de clarificar o propósito da pesquisa, a natureza dos dados com os quais se trabalha, e a forma como o estudo é delineado. Os dois critérios ditos suplementares indicam a aplicabilidade do estudo e a forma como os dados são obtidos, objetivando adicionar clareza metodológica tanto ao pesquisador quanto ao leitor. Apesar de não possuir caráter prescritivo, o sistema proposto é importante para auxiliar no entendimento da consistência metodológica de qualquer estudo na área das ciências humanas e sociais. Palavras-chaves: tipos de pesquisa – metodologia da pesquisa – pesquisa social

Abstract This study introduces a unique system of reference for typifying research in the fields of the humanities and social sciences. The study analyzes the fundamental typifying criteria currently utilized by 15 different authors in the Brazilian and American literature, and as such is characterized in part as a document analysis. The proposed system’s goal is to foster the adoption of a common language and a currency of terminology that facilitates academic permeability and provides an improved methodological approach to research in the fields of the humanities and social sciences. Harmonizing epistemology with methodology, the study advances a typifying system based on five criteria that falls under one of two categories, essential or supplemental. The three essential criteria include the purpose of the research, the nature of the data, and the design of the study. The remaining two supplemental criteria address a study’s applicability and how the study’s data is collected. Together, the essential and supplement categories, and their respective criteria, aim to add methodological clarity to both the research and the audience. Although this study does not intend to be prescriptive, it offers a powerful tool for researchers seeking to better understand and assess the methodological process and soundness of any study conducted in the fields of the humanities and social sciences. Keywords: Research Types – Research Methodology – Social Sciences Research

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CRITÉRIOS PARA A TIPIFICAÇÃO DE PESQUISAS EM CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

É notória a profusão de tipos de pesquisa em ciências humanas e sociais. Cervo e Bervian (2002) indicam a “existência de inumeráveis tipos de pesquisa” (p. 65) em função da abordagem e segundo o objeto, objetivo e qualificação do pesquisador. Creswell (2003) reconhece que diferentes nomenclaturas e tipos de pesquisa abundam na literatura. Da mesma forma que nomenclaturas e tipos, os critérios para tipificação de pesquisas são múltiplos. Tal multiplicidade de critérios muitas vezes coloca em uma mesma dimensão os aspectos metodológicos e as bases filosóficas da pesquisa. O tratamento unidimensional de aspectos distintos pode colocar em risco a validade da pesquisa, uma vez que pode induzir o pesquisador a superestimar os aspectos filosóficos em detrimento dos aspectos metodológicos ou vice-versa, quando na verdade eles precisam estar harmonicamente integrados. É oportuno um ordenamento de critérios que permita estabelecer uma tipificação minimamente uniforme das pesquisas em ciências humanas e sociais, harmonizando seus aspectos filosóficos e metodológicos. Tal ordenamento visa a estimular a adoção de uma linguagem e terminologia comuns, facilitando a permeabilidade acadêmica e estabelecendo uma melhor identidade metodológica em pesquisa na área. Uma melhor identidade metodológica certamente constitui-se poderosa ferramenta para professores de metodologia da pesquisa e especialmente a alunos de graduação e pós-graduação, que se sentem muitas vezes confusos com a profusão de termos e tipos que lhes são apresentados. Por fim, um claro ordenamento de critérios auxilia a clarificar as finalidades, técnicas, estratégias e procedimentos associados a cada tipo de pesquisa. É objetivo deste estudo a construção de um sistema referencial para tipificação de pesquisas em ciências humanas e sociais, tendo como base a harmonização de seus aspectos filosóficos e metodológicos, a partir da análise descritiva dos fundamentos adotados por autores brasileiros e americanos. É importante esclarecer que tipificar não pressupõe estabelecer critérios de hierarquia. Dito de outra forma, os tipos de pesquisa não guardam qualquer espécie de hierarquia entre si. Este estudo trabalha com critérios para a tipificação das pesquisas, não com hierarquia entre os tipos de pesquisa. Finalmente, é importante ter em mente o propósito prático de qualquer pesquisa. Isso equivale a responder à seguinte questão: para que pesquisamos? Apesar de não

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existir resposta padrão, de uma forma ou de outra toda pesquisa é feita para orientar nas tomadas de decisões. Pesquisamos quando buscamos novas informações ou sentimos necessidade de melhor organizar e compreender as informações disponíveis acerca de qualquer fenômeno ou situação de interesse. Em última análise, pesquisamos para transformar informação em conhecimento que orientará os processos de tomadas de decisões.

Paradigma e método: elementos para o delineamento da pesquisa Tipificar pesquisa em ciências humanas e sociais implica reconhecer a importância da harmonia na relação entre filosofia e metodologia, mais especificamente, entre paradigma e método (figura 1).

Figura 1: Harmonia entre paradigma e método. Apesar de conhecido desde a época dos grandes filósofos gregos, o termo paradigma teve seu conceito reelaborado por Thomas Kuhn na obra A estrutura das revoluções científicas, publicada originalmente em 1962. O conceito elaborado por Kuhn (1996) desafiou a noção de que o conhecimento científico é puramente objetivo, afirmando que ele é baseado em teorias amplamente reconhecidas e aceitas pela comunidade científica da área, as quais refletem certas crenças e pontos de vista firmemente estabelecidos e vigentes à época em que o conhecimento é produzido. Esse conjunto de crenças e pontos de vista Kuhn denominou paradigma dominante (ROHMANN, 2000). Neste estudo define-se paradigma como sendo o conjunto das crenças, suposições, concepções, valores e práticas que determinam nossa percepção da realidade e, a partir dela, guia nossas ações.

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Paradigma, então, é a lente pela qual percebemos o mundo que nos cerca. Ele – ou eles, pois podemos perceber o mundo sob diferentes perspectivas simultaneamente – está contido em nossa filosofia como indivíduo e/ou como sociedade (consciente ou inconscientemente) a qual, por sua vez, busca compreender e justificar nossos valores, inferências lógicas, formas de apropriar conhecimentos e interpretações sobre a natureza da realidade. O paradigma guia quais questões formular, como formular tais questões, que tipo de conhecimento buscar, que métodos usar na busca desse conhecimento e como interpretar seus resultados (GUBA, 1990; GREENE e CARACELLI, 1997). É importante clarificar que cada paradigma oferece uma forma significativa, legítima e muitas vezes complementares de investigar o mesmo fenômeno (GREENE e CARACELLI, 1997). Por isso assume-se neste estudo que os diversos paradigmas não guardam entre si relação hierárquica, de melhor ou de pior: eles apenas diferem na abordagem e, como resultado de tais diferenças, oferecem perspectivas diferentes, usualmente complementares, de estudar o mesmo fenômeno. Paradigma, então, deve ser considerado como descrição, não como prescrição para a prática da pesquisa; cada pesquisador deve ser capaz de escolher livremente a metodologia que melhor se ajusta ao seu problema de pesquisa, “sem ser limitado ou inibido por concepções filosóficas” (PATTON, 1988, p. 117). Na prática da pesquisa em ciências humanas e sociais, método é definido como o conjunto de técnicas para a obtenção e análise de dados (CRESWELL e CLARK, 2007; GREENE e CARACELLI, 1997). Assim é que, por exemplo, questionários e entrevistas são elementos do método relacionados às técnicas de obtenção de dados, bem como procedimentos estatísticos e codificações conceituais são elementos do método relacionados às técnicas de análise de dados. Aproveitando esses exemplos, “o que” e “como” perguntar nos questionários e entrevistas (conteúdo dos elementos do método) e a decisão sobre quais procedimentos de análise utilizar são ações intimamente associadas ao paradigma no qual o pesquisador constrói a pesquisa, refletindo a importância de harmonizar as dimensões filosófica (paradigma) e metodológica (método). A harmonia entre paradigma e método representa a consolidação de uma forma específica de conhecer o mundo (SCHWANDT, 1990). Método pressupõe ordenação, coordenação e sistematização de procedimentos e está fortemente associado à natureza dos dados/informações com os quais trabalhamos. Quando tomado em seu conjunto, tais procedimentos representam o que denominamos delineamento da pesquisa. Delinear uma pesquisa implica estabelecer as estratégias, 4

consubstanciadas num plano de ação, que articulam a concepção filosófica e os objetivos da pesquisa com os métodos, de forma deliberada e sistemática (CRESWELL e CLARK, 2007; RAGIN, 1994). Na prática, é o delineamento da pesquisa que traduz a harmonia entre as dimensões filosóficas e metodológicas (figura 2) e em consequência guia o pesquisador a conectar ideias e evidências para produzir uma representação de algum aspecto da vida social.

Figura 2: O delineamento da pesquisa como fator de equilíbrio metodológico.

Metodologia

Metodologia representa o estudo e a descrição do método utilizado em um estudo. O presente estudo caracteriza-se como pesquisa documental, por tratar-se de reelaboração de

contribuições

de

diversos autores, não

obstante

desenvolver-se

exclusivamente a partir de fontes bibliográficas (GIL, 1999). Um total de 15 títulos (dez de autores brasileiros e cinco de americanos) foi analisado em relação aos critérios utilizados para a tipificação das pesquisas.

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Selecionados os títulos, procedeu-se à análise de cada obra em relação aos princípios utilizados pelos autores para tipificar as pesquisas. O objetivo foi compreender os fundamentos utilizados por cada um e estabelecer um elenco de critérios utilizados pelo conjunto dos autores para tipificar as pesquisas. Em algumas obras tais critérios eram evidenciados pelo próprio autor de forma explícita, enquanto em outras foi necessária uma leitura mais detalhada do texto para depreender os fundamentos que originaram a opção pela tipologia adotada. Após o estudo das obras selecionadas, construiu-se um elenco de critérios utilizados pelos diversos autores na tipologia das pesquisas, organizando-os de forma a permitir sua comparação e a evidenciar seus contrastes. Tal processo de comparação e contraste incluiu não apenas os critérios, mas também a própria terminologia das pesquisas utilizada pelos diferentes autores.

Descrição e análise Tipos de pesquisa na bibliografia brasileira Os dez autores pesquisados utilizaram, em seu conjunto, dez critérios diferentes para tipificar as pesquisas em ciências humanas e sociais: quanto aos OBJETIVOS, PROCEDIMENTOS

utilizados pelo pesquisador,

FONTES DE DADOS, TIPOS DE DADOS, OBJETO, NATUREZA

MEIOS

FINS,

para realização da pesquisa,

da pesquisa,

NÍVEIS

e

ESPÉCIES

de

pesquisa. Metade deles utiliza-se de mais de um critério para construir sua tipologia. Em termos de nomenclatura, foram encontradas 29 denominações diferentes, agrupadas de forma recorrente nos dez critérios utilizados pelos autores analisados. Os

PROCEDIMENTOS

utilizados pelo pesquisador, os

FINS

e os

OBJETIVOS

da

pesquisa foram, em ordem decrescente, os critérios mais utilizados pelos autores brasileiros pesquisados. Ao todo, 80% dos autores utilizaram-se de pelo menos um desses critérios para estabelecer sua tipologia. Pesquisa exploratória é a única unanimidade em termos de nomenclatura entre os autores analisados, embora não haja unanimidade quanto aos critérios para tipificá-la. Para 50% dos autores, uma pesquisa é considerada exploratória em função de seus fins ou objetivos; para outros, os procedimentos utilizados pelo pesquisador ou as fontes de dados é que determinam o caráter exploratório da pesquisa. Para outros, ainda, exploratória representa simplesmente um nível ou uma espécie de pesquisa. Para 90% dos autores analisados, pesquisa descritiva é considerada como um 6

tipo de pesquisa; desses, pouco mais da metade (55%) consideram a pesquisa descritiva em função de seus fins e objetivos. Da mesma forma, 90% dos autores assumem pesquisa experimental como um tipo de pesquisa; a diferença é que, destes últimos, 55% consideram pesquisa experimental a partir do ponto de vista dos procedimentos adotados pelo pesquisador e não de seus fins ou objetivos. É relevante observar que a esmagadora maioria dos autores que tipificam pesquisa como experimental em função dos procedimentos adotados pelo pesquisador também assumem “pesquisa explicativa” como tipo de pesquisa em função de seus fins ou objetivos; tais autores relacionam tanto a pesquisa experimental quanto a pesquisa explicativa ao estabelecimento de relações de causa e efeito. Dito de outra forma, 70% dos autores pesquisados tipificam a pesquisa ao mesmo tempo como experimental (quanto aos procedimentos) e como explicativa (quanto aos fins ou objetivos). Analogamente, 60% dos autores mencionam pesquisa de laboratório como tipo de pesquisa associada à experimentação. Na verdade, em muitos textos os termos pesquisa de laboratório e pesquisa experimental são utilizados como sinônimos. Pesquisa bibliográfica é outro tipo referenciado por 90% dos autores analisados, a maioria dos quais (88,9%) considera uma pesquisa como bibliográfica segundo as fontes, os procedimentos e os meios para a realização da pesquisa. Da mesma forma, pesquisa documental foi citada por 70% dos autores analisados, referindo-se como um tipo de pesquisa associada às fontes, aos procedimentos e aos meios para a realização da pesquisa. Gil (1999) diferencia a pesquisa bibliográfica da pesquisa documental a partir da natureza das fontes. Para ele (...) enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa (GIL, 1999, p. 66).

Finalmente, pesquisa de campo é outra denominação recorrente em 70% dos autores analisados, associada à forma de obtenção dos dados. No entender desses autores, pesquisa de campo é um tipo de pesquisa na qual o pesquisador vai a campo durante o processo de coleta de dados, utilizando preferencialmente as técnicas de observação e entrevistas. A tabela 1 apresenta os tipos de pesquisa encontrados na análise dos autores brasileiros.

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Tabela 1. Tipologia da pesquisa segundo autores brasileiros Critérios

Quanto aos FINS (FINALIDADE):

Triviños (1987)

Ruiz (1996)

Autores Gil (1999)

Andrade (2001)

• Exploratória • Descritiva (correlacional, ex post facto, estudo de caso, análise documental) • Experimental • Exploratória • Descritiva • Explicativa

Quanto aos OBJETIVOS: “De papel”: • Bibliográfica • Documental “Pessoais”: • Experimental (genuína, pré e quase experimental) • Ex post facto • Levantamento (survey) • Estudo de campo • Estudo de caso

Quanto aos PROCEDIMENTOS:

“De papel”: • Bibliográfica • Documental • Pesquisa de campo

• Exploratória • Descritiva • Comparativa • Explicativa • Bibliográfica • Documental • Experimental • Estudo de caso • Pesquisa-ação • Pesquisa participante

• Teórica • Pesquisa de campo • Pesquisa de laboratório • Quantitativa • Qualitativa

Quanto às FONTES DE DADOS: Quanto aos TIPOS DE DADOS: • Bibliográfica • Pesquisa de laboratório • Pesquisa de campo • Trabalho original • Resumo

Quanto ao OBJETO: Quanto à NATUREZA: • Exploratória • Descritiva • Explicativa

NÍVEIS de pesquisa:

ESPÉCIES de pesquisa:

Vianna (2001) • Pura • Aplicada

• Exploratória • Teórica • Aplicada • Pesquisa de campo • Pesquisa de laboratório (ou pesquisa experimental) • Bibliográfica

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Tabela 1. Tipologia da pesquisa segundo autores brasileiros (continuação) Autores Critérios

Köche (2002)

Santos (2002)

Cervo e Bervian (2003)

Marconi e Lakatos (2003)

• Pura ou básica • Aplicada Quanto aos FINS (FINALIDADE):

Quanto aos OBJETIVOS:

Quanto aos PROCEDIMENTOS:

• Exploratória • Bibliográfica • Descritiva, nãoexperimental ou ex post facto • Experimental

• Exploratória • Descritiva • Explicativa • Bibliográfica • Documental • Experimental (de laboratório) • Ex post facto • Levantamento • Estudo de caso • Pesquisa-ação • Pesquisa participante

• • • • • •

Exploratória Descritiva Explicativa Metodológica Aplicada Intervencionista

• • • • • • • • •

Pesquisa de campo Pesquisa de laboratório Documental Bibliográfica Experimental Ex post facto Pesquisa participante Pesquisa-ação Estudo de caso

• Bibliográfica • Descritiva (estudos descritivos, pesquisas de opinião, pesquisa de motivação, estudo de caso, pesquisa documental) • Experimental • Estudos exploratórios • Resumo de assunto

Quanto aos MEIOS:

Quanto às FONTES DE DADOS:

Vergara (2003)

• Documental • Bibliográfica • Pesquisa de campo (quantitativo-descritivas, exploratórias e experimentais) • Pesquisa de laboratório

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Tipos de pesquisa na bibliografia americana Os autores americanos analisados, apesar de utilizarem cinco critérios diferentes para tipificar as pesquisas, baseiam sua tipologia fundamentalmente em relação aos métodos utilizados na condução da investigação (tabela 2). A preferência pelos métodos como critério para tipificação de pesquisas na literatura americana pode ser compreendida pelas definições de Creswell (2003): segundo ele, o método é representado pelas técnicas e procedimentos utilizados na condução da pesquisa (questionários, entrevistas, etc.), enquanto a metodologia representa a estratégia ou o plano de ação que governa a escolha e o uso dos métodos (CRESWELL, 2003). Os autores são unânimes em diferenciar as pesquisas em quantitativas e qualitativas, quanto aos métodos e quanto ao tipo de dados. Na verdade, a natureza dos dados (quantitativos ou qualitativos) é determinada e ao mesmo tempo determina as técnicas e os procedimentos utilizados na realização da pesquisa e, em última instância, define sua metodologia. Todos os autores analisados basearam-se no trabalho clássico de Campbell e Stanley (1963) para diferenciar as pesquisas quantitativas em experimentais, quase experimentais e não experimentais. Não obstante todos os autores considerarem que as pesquisas possuem três finalidades (explorar, descrever e explicar), apenas dois (40%) as tipificam especificamente segundo esse critério. Pesquisa descritiva, correlacional, causal-comparativa e levantamento (survey) são tipos que aparecem de forma recorrente entre os autores americanos, relacionados aos métodos e associados à pesquisa quantitativa. Da mesma forma, etnografia, estudo de caso, teoria de base (grounded theory) e fenomenologia são tipos recorrentes na literatura americana associados à pesquisa qualitativa. Pesquisa histórica é abordada pelos autores americanos analisados como um tipo próprio, externamente à pesquisa quantitativa e qualitativa. Creswell (2003) considera métodos mistos como um tipo de pesquisa para representar as investigações que se utilizam de dados coletados e analisados quantitativa e qualitativamente. O conceito de métodos mistos já havia sido objeto de estudo extensivo por Tashakkori e Teddlie (1998), cuja obra não integra a bibliografia analisada neste estudo. Para eles, métodos mistos são a combinação de procedimentos quantitativos e qualitativos que transcendem o aspecto puramente metodológico, incorporando os aspectos epistemológicos da mistura de paradigmas (TASHAKKORI e TEDDLIE, 1998). Dois dos autores analisados (BABBIE, 2006; TROCHIM, 2001) consideram as pesquisas em relação à sua dimensão temporal, tipificando-

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as como cross-seccional e longitudinal. Ary, Jacobs, Razavieh e Sorensen (2009) tipificam as pesquisas segundo sua utilidade, em básica e aplicada. A tabela 2 sumariza os tipos de pesquisa encontrados na análise dos autores americanos.

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Tabela 2. Tipologia da pesquisa segundo autores americanos Autores Critérios

Ary, Jacobs e Razavieh (2009)

• Exploratória • Descritiva • Explanatória (explicativa)

Quanto aos FINS (FINALIDADE): Quanto à UTILIDADE:

Quanto aos MÉTODOS:

Quanto ao TEMPO:

Quanto aos TIPOS DE DADOS:

Babbie (2006)

• Básica • Aplicada • Quantitativa: o Experimental o Não experimental (causal-comparativa, correlacional e levantamento – survey) • Qualitativa: o Etnografia o Estudo de caso o Análise de conteúdo • Pesquisa histórica

Trochim (2001)

Creswell (2003)

• Descritiva • Relacional • Causal

• Quantitativa o Experimental (verdadeiramente experimental, quase experimental) o Não experimental (descritiva, correlacional, comparativa, ex post facto) • Qualitativa (etnografia, estudo de caso, fenomenologia, estudo crítico, teoria de base) • Analítica (análise histórica, legal e conceitual)

o Experimental o Quase experimental o Levantamentos (survey) o Pesquisa de campo qualitativa:  Naturalismo  Etnografia  Teoria de base  Estudos de caso  Pesquisa-ação o Análise de conteúdo o Pesquisa histórica

• Cross-seccional (estudos de tendências, estudos de coortes, painéis) • Longitudinal

McMillan e Wergin(2002)

• Quantitativa o Experimental o Não experimental • Qualitativa o Narrativa o Fenomenologia o Etnografia o Teoria de base o Estudo de caso • Métodos mistos: o Sequenciais o Concorrentes o Transformativos

• Cross-seccional • Longitudinal • Quantitativa • Qualitativa

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Sistema para a tipificação de pesquisas O sistema construído ao longo deste estudo estabelece um conjunto de critérios para tipificar as pesquisas em ciências humanas e sociais e, assim, pela adoção de linguagem e terminologia comuns, busca facilitar a permeabilidade acadêmica e estabelecer uma melhor identidade metodológica em pesquisas na área. A proposta se baseia cinco critérios reunidos em dois grupos: três critérios essenciais e dois critérios suplementares. CRITÉRIOS

ESSENCIAIS

são aqueles que devem obrigatoriamente ser mencionados em todo

projeto e/ou relatório de pesquisa para fins de clareza filosófica e metodológica. CRITÉRIOS SUPLEMENTARES

são aqueles que, embora sua menção explícita no projeto ou relatório de

pesquisa não seja uma exigência, adicionam clareza metodológica em certas situações.

Critérios essenciais: Os critérios essenciais clarificam o propósito da pesquisa (para quê?), a natureza dos dados com os quais se trabalha (com o quê?) e a forma como o estudo é organizado – o delineamento do estudo (como?). Os três critérios descritos em seu conjunto não deixam dúvidas quanto à estrutura metodológica de qualquer estudo e oferecem pistas decisivas sobre sua abordagem filosófica.

1. Quanto ao PROPÓSITO (para que pesquisamos?) – O propósito determina como formulamos o problema de pesquisa e tem forte conotação filosófica, pois acaba influenciando a definição da natureza dos dados com os quais trabalhamos e a forma como o estudo é organizado. De forma geral, pesquisamos para explorar, descrever, explicar ou compreender uma população, fato, fenômeno ou situação de interesse. Assim, quanto ao propósito, uma pesquisa pode ser exploratória, descritiva ou explicativa. A pesquisa é exploratória quando procura conhecer algo que ainda não foi estudado; usualmente, a pesquisa exploratória visa a identificar as variáveis envolvidas no fenômeno em estudo. Identificadas as variáveis, pode-se descrevê-las para detalhar o conhecimento sobre o fenômeno em estudo; nesse caso, a pesquisa é considerada descritiva. Na maioria dos casos, identificamos e descrevemos as variáveis num mesmo estudo, que é dito exploratório-descritivo. Algumas vezes, ao descrevermos um fato, fenômeno ou situação acabamos por desvendar relações entre fatores (ou variáveis) que permitirão melhor compreender o objeto do estudo; nesse caso, a pesquisa descritiva é chamada de pesquisa correlacional. Outras vezes estamos interessados em descrever um fato, fenômeno ou situação que ocorreu no

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passado para que possamos antever, com certo grau de previsibilidade, o resultado de uma situação que ocorre no presente ou poderá ocorrer no futuro imediato; em tais situações descrevemos as variáveis, estabelecemos as possíveis relações entre elas e as comparamos com a situação presente/futura para ao final enunciar previsões de resultados. A pesquisa descritiva, aqui, é chamada de causal-comparativa, ex post facto ou preditiva. Finalmente, muitos estudos buscam explicar ou compreender com maior profundidade um fato, fenômeno ou situação de interesse; são as chamadas pesquisas explicativas. Nos estudos explicativos usualmente estabelecemos relações entre as variáveis (dependência ou independência), especialmente quando trabalhamos com dados de natureza quantitativa. Neste ponto é essencial compreender que explicar ou compreender não significa estabelecer relações de causa e efeito, o que só pode ser feito por meio de delineamentos verdadeiramente experimentais, como veremos mais adiante. Buscamos apenas explicar e/ou compreender o porquê e como determinado fato ou fenômeno aconteceu naquelas circunstâncias específicas. Usualmente explicamos quando trabalhamos com dados de natureza quantitativa e compreendemos quando trabalhamos com dados de natureza qualitativa. É por essa razão que muitos autores utilizam a terminologia “abordagem” quantitativa ou qualitativa – a “abordagem quantitativa” possui uma concepção filosófica mais explicativa enquanto a “abordagem qualitativa” é mais compreensiva. Os tipos de pesquisa quanto ao propósito estão sumarizados na figura 3.

Figura 3: Tipos de pesquisa quanto ao propósito (critério essencial 1).

2. Quanto à NATUREZA DOS DADOS (com o que pesquisamos?) – “Natureza dos dados” referese à forma como eles são originalmente coletados (antes de qualquer análise ou tratamento).

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Os dados podem ser coletados em duas formas: numérica ou narrativa. Dados numéricos são aqueles coletados originalmente em forma de números, passíveis de serem submetidos a operações matemáticas e estatísticas em seu estado original. Dados narrativos são aqueles coletados de maneira conversacional, sem estrutura rígida, por meio de entrevistas, levantamentos com questões abertas, grupos de foco, transcrições, audiovisuais, etc. Não é possível submeter dados narrativos em sua forma original a operações matemáticas e estatísticas. Para fins de pesquisa, chamamos os dados coletados originalmente de forma numérica de quantitativos e aqueles coletados originalmente de forma narrativa de qualitativos. É importante notar que muitos dados originalmente coletados como qualitativos podem ser quantificados a posteriori e receber um tratamento quantitativo; entretanto, dados originalmente coletados como quantitativos, jamais poderão ser transformados e tratados como qualitativos. Quando à natureza dos dados, as pesquisas podem ser quantitativas, qualitativas ou mistas. Pesquisas quantitativas são aquelas que trabalham exclusivamente com dados de natureza quantitativa, enquanto pesquisas qualitativas são aquelas que trabalham exclusivamente com dados de natureza qualitativa. São consideradas mistas, quanto à natureza dos dados, as pesquisas que trabalham tanto com dados quantitativos como qualitativos – tais pesquisas são chamadas por muitos autores de “métodos mistos”, referindo-se à forma de analisar dados de natureza diferentes num mesmo estudo. Conforme já mencionado, alguns autores utilizam a terminologia “abordagem” quantitativa ou qualitativa ao se referirem à forma com que conduzem as análises de dados. O termo “abordagem” tem conotação predominantemente filosófica em vez de metodológica e é a partir deste ponto que a harmonização das dimensões filosófica e metodológica da pesquisa começa a adquirir importância prática, pois determina o delineamento da análise dos dados. Enquanto uma “abordagem” quantitativa está usualmente preocupada em explicar numericamente as características de uma população, um fato, fenômeno ou situação de interesse, de forma pontual (ou mesmo estabelecendo relações com outros eventos similares), uma “abordagem” qualitativa preocupa-se em contextualizar a ocorrência de determinadas características de uma população, de um fato, fenômeno, ou situação de interesse, visando compreender as condições nas quais ocorre o evento. A combinação das duas “abordagens” num mesmo estudo, quando possível e de interesse do pesquisador, tem o potencial de adicionar consistência aos resultados por proporcionar um conhecimento mais aprofundado do objeto de estudo. Essa combinação de abordagens só é possível nas pesquisas mistas por meio de uma técnica conhecida como “triangulação metodológica na análise de dados de 15

naturezas diferentes.” Como não é objetivo deste estudo o detalhamento de técnicas metodológicas basta dizer que, para efeitos de tipificação, as pesquisas mistas podem ser de dois tipos, dependendo da predominância da natureza dos dados com os quais trabalha: quanti-qualitativas ou quali-quantitativas. Os tipos de pesquisa quanto à natureza dos dados estão indicados na figura 4.

Figura 4: Tipos de pesquisa quanto à natureza dos dados (critério essencial 2).

3. Quanto ao

DELINEAMENTO DO ESTUDO

(como o estudo é organizado?) – Delinear um

estudo implica dar coerência e forma a ele. Organizar um estudo envolve harmonizar a questão/objetivo(s) com os métodos de coleta e análise de dados visando à obtenção de resultados confiáveis e o mais próximo possível da realidade. A dimensão filosófica é o alicerce sobre o qual qualquer estudo é delineado, pois é a partir dela que se definem os procedimentos metodológicos, que representam, na prática, a essência do delineamento de um estudo. Quanto ao delineamento, podem-se dividir as pesquisas em dois grandes grupos: experimentais e não experimentais. A diferença entre os grupos está no fato de que as pesquisas experimentais buscam estabelecer relações de causa e efeito e generalizar os resultados, enquanto nas pesquisas não experimentais não é possível o estabelecimento de relações de causa e efeito e muitas vezes generalizações não são importantes e/ou possíveis. As pesquisas experimentais subdividem-se em verdadeiramente experimentais e quase experimentais. A construção de “hipóteses” em ambas é um requerimento; controle é a palavra de ordem. Para que possamos estabelecer relação de causa e efeito estatisticamente válida é necessário identificar e controlar todas as variáveis ambientais; a partir daí podemos

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“manipular” a(s) variável(eis) de interesse e observar seu efeito. Para dizer que uma pesquisa é verdadeiramente experimental é necessário ter um grupo de participantes que não recebe nenhum “tratamento” experimental (chamado grupo de controle, ou testemunha) e obrigatório que duas condições fundamentais sejam satisfeitas: 1) controlar todas as variáveis ambientais (ou identificar aquelas variáveis que não podem ser controladas e seus efeitos no estudo) e 2) distribuir os participantes ao acaso entre os grupos de tratamento e controle (ou grupos de estudo e testemunha). Novamente, apenas se satisfeitas as duas condições é que podemos dizer que uma pesquisa é verdadeiramente experimental e estabelecer relação de causa e efeito dentro de determinada margem de segurança estatística para aquela situação. Em algumas situações, apesar de ser possível controlar todas as variáveis ambientais (ou identificar aquelas que não podem ser controladas e seus efeitos no estudo), não é possível que seja feita a distribuição ao acaso dos participantes do estudo nos grupos de tratamento e controle (ou estudo e testemunha). Nesses casos, apesar de termos um grupo de controle ou tratamento, satisfazemos apenas a condição 1 sem satisfazer a condição 2, assim dizemos que o estudo é quase experimental. Pela breve descrição acima, percebe-se que é extremamente complexo o processo de delineamento de qualquer pesquisa experimental em ciências humanas e sociais. Nas pesquisas não experimentais não se busca controlar as variáveis ambientais, uma vez que não é meta o estabelecimento de relações de causa e efeito. Na verdade, algumas vezes sequer a identificação de variáveis a priori é requerida, como no caso das pesquisas de propósito puramente exploratório. Análise de conteúdo, análise documental, estudo de caso, etnografia, pesquisa bibliográfica, pesquisa-ação e pesquisa participante são exemplos de pesquisas não experimentais quanto ao delineamento, como indicado na figura 5.

Figura 5: Tipos de pesquisa quanto ao delineamento (critério essencial 3).

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Critérios suplementares: Os critérios suplementares indicam a aplicabilidade do estudo e a forma como os dados são obtidos. A simples menção a tais critérios, isoladamente ou em seu conjunto, não é suficiente para clarificar filosófica e metodologicamente o tipo de pesquisa. Entretanto, em certos estudos, a menção aos critérios suplementares adiciona clareza em relação aos procedimentos metodológicos.

1. Quanto à

APLICABILIDADE DOS RESULTADOS

– Uma pesquisa pode ser considerada básica

ou aplicada quanto à aplicabilidade de seus resultados. A pesquisa é caracterizada como básica quando sua meta é expandir conhecimentos sobre como determinado processo ou fenômeno humano e social funciona, sem a preocupação de que o novo conhecimento será direta e/ou imediatamente utilizado na solução de algum “problema” prático de interesse nas ciências humanas e sociais. Pode-se dizer que a pesquisa básica, num primeiro momento, é a busca do conhecimento pelo conhecimento. Pesquisas básicas muitas vezes possuem caráter mais causal, buscando tanto quanto possível o controle experimental (ou quase experimental) em seu aspecto metodológico. Assim, as questões que orientam pesquisas básicas são frequentemente muito específicas (objetivas, pontuais), de caráter explicativo, geralmente originadas a partir do interesse do pesquisador, com uma abordagem filosófica predominantemente quantitativa. Por outro lado, a pesquisa é considerada aplicada quando objetiva gerar ou organizar conhecimentos que irão auxiliar direta e/ou imediatamente na solução de algum “problema” prático de interesse imediato nas ciências humanas e sociais. Pesquisas aplicadas geralmente possuem caráter mais compreensivo, não tendo como orientação metodológica principal a busca do controle experimental (apesar de algumas vezes buscar-se o controle de certos fatores para explicar o fenômeno em estudo). Pesquisas aplicadas em ciências humanas e sociais usualmente buscam responder a questões de espectro mais amplo, originadas a partir de problemas percebidos no dia a dia do mundo real para os quais se buscam soluções (seja em empresas, salas de aula, instituições sociais, organismos da administração pública, etc.). Os tipos de pesquisa segundo a aplicabilidade estão ilustrados na figura 6.

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Básica

Aplicada

Produção de conhecimento

Utilização imediata do conhecimento

Figura 6: Tipos de pesquisa quanto à aplicabilidade (critério suplementar 1).

2. Quanto à FORMA DE OBTENÇÃO DOS DADOS – Este critério merece atenção especial por ser muitas vezes utilizado de forma indevida ou incompleta em projetos e relatórios de pesquisa. Uma pesquisa pode ser categorizada em três tipos quanto à forma de obtenção dos dados: pesquisa de campo, pesquisa de laboratório, ou levantamento (survey). Não obstante a forma como obtemos os dados ser um fator crítico para a validade e a confiabilidade dos resultados de qualquer estudo, não basta dizermos apenas “esta é uma pesquisa de campo”, ou “esta é uma pesquisa de laboratório”, ou ainda “esta é uma pesquisa do tipo survey”. Ao dizermos isso, estamos apenas indicando ao público como os dados foram coletados, nada além disso. Essa é a razão pela qual considero a forma de coleta de dados como um critério importante, mas suplementar. Dizemos que uma pesquisa é pesquisa de campo quando trabalhamos com dados primários, coletados pelo próprio pesquisador, a campo. “A campo” significa que o pesquisador foi ao local (ou locais) de interesse do estudo (empresas, departamentos, escolas, salas de aula, repartições, bibliotecas, arquivos, etc.) e entrevistou pessoas, gravou situações, observou atividades, consultou arquivos, etc., gerando os dados (qualitativos e/ou quantitativos) utilizados no estudo. Mais importante ainda: “a campo” significa que o pesquisador coletou dados no ambiente natural, não controlado ou “manipulado” para o interesse do estudo. A pesquisa de laboratório é aquela na qual os dados são coletados em ambiente controlado e manipulado segundo o interesse do estudo, em oposição ao ambiente natural. Na área de ciências humanas e sociais podemos transformar os mais variados ambientes em “laboratórios”, na medida em que conseguimos controlar as variáveis ambientais. Assim é que podemos, nessas circunstâncias, transformar salas de aula, consultórios, ambientes empresariais, etc. em laboratórios. A maioria das pesquisas de

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laboratório, consequentemente, tende a possuir delineamento experimental ou quase experimental com ênfase predominantemente na abordagem quantitativa, apesar de ser possível conduzir estudos qualitativos em ambientes controlados de laboratório. A pesquisa do tipo levantamento (ou survey, em inglês) é uma das mais utilizadas no cotidiano dos cursos de graduação, de pós-graduação, em pesquisas de opinião, pesquisas de marketing, etc. Ela se baseia em dados coletados por meio de questionários estruturados administrados pela internet, pelo correio, por telefone ou face a face. Tais questionários podem conter questões fechadas e/ou questões abertas com respostas estimuladas ou não. Sua principal característica, que a diferencia das entrevistas abertas características das pesquisas de campo, é que os questionários são estruturados, ou seja, deixam pouca margem para a coleta de informações diferentes daquelas que estão no script mesmo no caso de questões abertas. Os levantamentos são uma importante estratégia de coleta de dados para estudos com dados de natureza mista, na medida em que podem oferecer indicativos quantitativos que podem ensejar aprofundamento na compreensão qualitativa de um fenômeno de interesse. Os questionários utilizados nos levantamentos são um assunto complexo que requer boa dose de conhecimento e experiência, para que os dados coletados por meio eles não comprometam a validade e a confiabilidade dos resultados do estudo. Os três tipos de pesquisas segundo a forma de obtenção dos dados estão indicados na figura 7.

Figura 7: Tipos de pesquisa quanto à forma de obtenção dos dados (critério suplementar 2).

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Conclusão Um sistema para a tipificação de pesquisas em ciências humanas e sociais foi construído ao longo deste trabalho e encontra-se sumarizado na figura 8. Baseado em cinco critérios (três essenciais e dois suplementares), o objetivo é facilitar a permeabilidade acadêmica e estabelecer uma melhor identidade metodológica em pesquisas na área pela adoção de linguagem e terminologia comuns. Busca-se com isso promover um ordenamento na profusão de tipos de pesquisa encontrados na literatura brasileira e americana, visando a facilitar pesquisadores e estudantes de graduação e pós-graduação no processo de elaboração de projetos e relatórios de pesquisas. O sistema apresentado não é prescritivo. No entanto, busca adicionar consistência e clareza ao estudo quando sugere ser indispensável indicar claramente em qualquer projeto ou relatório de pesquisa qual é o propósito metodológico, a natureza dos dados com os quais pretende trabalhar (ou trabalhou) e o delineamento do estudo. São os chamados critérios essenciais, que, uma vez claramente estabelecidos, agregam credibilidade a qualquer estudo. Dessa forma, evitam-se situações (não raras) nas quais o autor se refere ao estudo simplesmente como “esta é uma pesquisa de campo”, ou “esta é uma pesquisa de laboratório”, ou ainda “esta é uma pesquisa do tipo levantamento”, como se tais afirmações representassem a estrutura metodológica do estudo quando na verdade indicam apenas a forma como os dados foram obtidos. O sistema oferece ainda dois critérios suplementares para a tipificação de pesquisas em ciências humanas e sociais. Tais critérios, em conjunto com os critérios essenciais, não deixam dúvidas quanto à validade do estudo, além de contribuírem para a organização

do

raciocínio

do

pesquisador.

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Figura 8: Sistema para a tipificação de pesquisas em ciências humanas e sociais.

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