Crônica das famílias Longhi e Frantz e sua parentela em Caxias do Sul, Brasil: Estórias e História - Volume I: o lado Paterno

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Imagem da capa: Detalhe de foto de Mancuso mostrando Caxias em 1910. Arquivo Histórico Municipal João Spadari3 Adami (AHM)

Sumário do Volume I

Introdução...................................................................................................... Agradecimentos..............................................................................................

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Estórias e História: os imigrantes e sua descendência O lado Paterno Salvador Sartori e Angela Zancaner........................................................ Amalia Sartori e Rafael Buratto..................................................... Guerino Sartori e Santina Amoretti................................................ Settimo Sartori e Rosalba Maineri................................................. Alberto Sartori e Felicità dal Canale............................................... Carolina Sartori e Ambrosio Bonalume.......................................... Lino Sartori e Thereza Varnieri....................................................... Ludovico Sartori e Agnese Moretto................................................ Attilio Sartori................................................................................. Luigi Angelo Sartori e Emma Araldi................................................ Massimo Sartori e Pasqua da Re.................................................... Outros Sartori....................................................................... Maria Sartori e Daniel von Schlabendorff....................................... Giacomo Paternoster e Orsola dal Piaz................................................... Os dal Piaz............................................................................................. Teresa Paternoster e Felice Rossi................................................... Maria Paternoster e Vittorio Fabris................................................ João Paternoster e Maria Sartori................................................... João Paternoster e Marietina Sartori............................................. Adélia Paternoster e José Costamilan.................................... Angelina Paternoster e João Costamilan................................ Os Costamilan............................................................... Graciema Paternoster e Attilio Pieruccini.............................. Dante Paternoster e Terezinha Vencato................................ Pery Paternoster e Zuleika Santos......................................... Ignez Paternoster e Deodato Canozzi.................................... Ida Sartori Paternoster e Antônio Augusto Frantz.................. A vida social da elite............................................................................... João Adão Frantz e Anna Dorothea Günsch............................................ Josef e Dietrich Theodor Frantz...................................................... O ramo de João Henrique Frantz e Elisabetha Seffrin - Eufrosina Planck.............................................. Gertrud Frantz e Francisco José Wahrendorf / Antônia Elisabetha Frantz e Henrique Antônio Ulm / Anna Maria Dorothea Frantz e Sebastião Kraemer / Maria Anna Frantz e Christoph Braum........................................... O ramo de Christian Conrad Frantz e Johanna Catharina Brodt...... Cristiano Guilherme Frantz e Margarida Schneider.................

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João Frantz e Catharina Frantz / Joana Catharina Frantz e João Mathias Frantz / Jorge Antônio Frantz e Carolina Winck / José Frantz e Mariana Guilhermina Frantz............................... Cristóvão Frantz e Delfina Schuck............................................ Ernestina Frantz e Johann Jacob Meurer................................. Eduardo Frantz e Christiana Schuck......................................... Theodoro Frantz e Anna Katharina Gassen.............................. João Frantz / Sebastião Guilherme Frantz e Berta / Luís Felipe Frantz / João José Frantz / Nicolau Hern Frantz.......................................................... Maria Luiza Frantz e Francisco Alexandre Schuster........... Anna Francisca Frantz e Bento José de Villas Boas............ Ida Olinda Frantz e André Martinewski............................ Antônio Augusto Frantz e Ida Paternoster........................ Marisa Pasqualina Frantz e Herique Panceri............. Os Panceri e os dal Pont........................................... Adriana Elisabeth Panceri e Luís Geraldo Melo.............................................. Thaís Helena Panceri e Eduardo Augusto du Pasquier Nunes................. Vitor Hugo Panceri............................................. Milton Máximo Frantz............................................... Mauro Theodoro Frantz, Vera Horta Barbosa e seus filhos Jean Carlo e Michele.............................. Murillo Moacyr Frantz............................................... Marcelo Henrique Frantz................................... Ricardo André Longhi Frantz..............................

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Notas O hospedeiro faz uma conversão e compressão automática do arquivo para visualização que torna alguns recortes de jornal e imagens mais ilegíveis do que já eram, sendo alguns deles desde sua origem de baixíssima definição. Na versão para download o problema não é tão grave. Como o arquivo é grande, se você encontrar algumas páginas em branco pelo meio do trabalho, faça um “refresh” no seu navegador, pois elas podem não ter sido carregadas direito. A questão das homonímias é uma das mais árduas de resolver na pesquisa documental. Muitas vezes os registros não citam as ligações familiares dos personagens, tornando muito difícil, senão impossível, distinguir entre membros que possam ter recebido o mesmo nome. Este problema, gravíssimo nos registros antigos, permanece importante mesmo em tempos recentes, e há muitos casos em que há dúvidas se as realizações atribuídas a um certo nome pertencem somente a uma pessoa ou devem ser divididas com outros parentes, sendo extremamente comum até há pouco tempo dar-se o nome dos pais aos filhos ou netos, e mesmo há casos de múltiplas atribuições de um mesmo nome em uma mesma família. Às vezes a cronologia das citações pode ajudar a distinguí-los, mas nem sempre, pois muitas gerações conviveram ao mesmo tempo, havendo personagens muito longevos, mas quando há primos homônimos, vivendo no mesmíssimo período cronológico, a confusão pode ser inextrincável. O problema se torna ainda mais complicado porque os registros raras vezes citam as filiações e podem eles mesmos ser errôneos. Desta forma, alguns dos resumos biográficos que criei podem não corresponder bem aos fatos. Recomenda-se, assim, uma certa cautela na leitura. Esta edição foi atualizada em dezembro de 2017.

Todos os direitos desta publicação são reservados. 5

Crônica das famílias Longhi & Frantz e sua parentela em Caxias do Sul, Brasil

Assim tudo começou: os primórdios do núcleo urbano de Caxias do Sul, a chamada Sede Dante, vendo-se a futura avenida Júlio de Castilhos. Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami (AHM).

Caxias do Sul, cidade do Rio Grande do Sul, Brasil, foi fundada em 1875 Ver nota 1 no processo de colonização da serra gaúcha por imigrantes estrangeiros. Foram basicamente italianos, atraídos por um programa do governo imperial para o “branqueamento” da população do país, para a ocupação de vazios demográficos e para a criação de uma nova força de trabalho que fosse livre, quando até então quem carregava o Brasil nos ombros eram os milhões de escravos negros, pardos e índios, que compunham o grosso da população. Na Colônia Caxias, então, de acordo com os planos do Governo, foi proibida a escravidão, de maneira que sua população formou-se a partir do elemento branco, e os negros ali presentes, extremamente

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Esta data é a consagrada pela tradição e se tornou a oficial, mas é equivocada. Segundo Giron, a abertura da colônia ocorreu em 9 de fevereiro de 1870, quando o governo imperial emitiu um aviso ao governo da Província comunicando a transmissão das terras devolutas na serra à administração provincial, iniciando a partir daí a delimitação dos lotes. Os primeiros colonos chegaram em 1872, eram alemães, e se fixaram na 1ª Légua. Os primeiros italianos chegaram em 1875, estabelecendo-se na 1ª e na 2ª Léguas, e na região da atual sede urbana só foram assentados a partir de meados de 1876. Cf. Giron, Loraine Slomp. Caxias do Sul: evolução histórica. UCS / EST / Prefeitura Municipal de Caxias do Sul, 1977

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raros, já eram libertos ou eram fugitivos, 2 e nos anos 50, quando o contexto já era outro, os negros e pardos ainda compunham apenas cerca de 4% da população.3 O processo colonizador da região serrana já foi extensamente estudado e ainda é fonte de copiosa bibliografia, onde se destaca a importância que a nova população estrangeira teve no desenvolvimento do estado na virada do século XIX para o século XX, deixando depois enorme descendência e uma rica cultura e folclore.4 5 Essa importância foi reconhecida já naquela época. Depois de um início muito difícil, o cônsul italiano Pascale Corte disse sobre o que viu em uma visita a Caxias já em 1884: “A abundância dos alimentos é tanta que se dá parte para os animais. O vinho se oferece em quantidade aos visitantes, sempre gratuitamente. A abundância do alimento e do vinho e o ar salutar produzem por consequência bens naturais, isto é, ânimo jovial, força, robustez e longa vida”. 6 Cândido José da Costa, governador do estado entre 1890 e 1891, declarou que “o desenvolvimento e intensidade da pequena lavoura, com a qual pode a província em futuro próximo prover-se de todos os cereais, com especialidade o trigo, e exportá-los para o interior do país e o estrangeiro, depende do sucesso da imigração que recebemos atualmente”, e se tornou conhecido o elogio que Júlio de Castilhos fez em 1896, referindo-se ao colono italiano como “excelente elemento”, “adaptado”, “trabalhador e ordeiro”, dando a Caxias o título de “Pérola das Colônias”, por ela destacar-se entre todas. Diz Machado que o governo confiava no progresso da região “como uma compensação, em termos econômicos, às dificuldades vivenciadas pelas charqueadas e pela criação de gado no final do século XIX, com o fim da escravidão, com a concorrência platina ao charque gaúcho e com os efeitos devastadores da Revolução Federalista”. Apesar das várias medidas tomadas em favor dos colonos, elas foram insuficientes em muitos aspectos, havendo episódios de fome, epidemias e agitação social, especialmente nos anos iniciais, e não fosse o forte sentido de cooperação que se desenvolveu entre os recém-chegados, repetidamente apreciado na bibliografia, tudo poderia ter sido pior. 789

Muitos foram os imigrantes que contribuíram para que Caxias do Sul crescesse rápido e se tornasse o que é hoje, uma das principais cidades do estado e importante também no cenário nacional. Este ensaio visa registrar o legado de algumas dessas famílias pioneiras na construção da sociedade caxiense.

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Giron, Loraine Slomp. “O Corpo Estranho: imigrantes italianos e escravos”. In: Suliani, Antônio (org.). Etnias & Carisma: poliantéia em homenagem a Rovílio Costa. EdiPUCRS, 2001, pp. 647-652 3 Santos, Miriam de Oliveira. “Alteridades em conflito: imigrantes italianos, alemães, portugueses e a população brasileira na serra gaúcha”. In: 26ª Reunião Brasileira de Antropologia. Porto Seguro, 01-04/06/2008 4 Machado, Maria Abel. “Empresários na busca do poder político: acordos e conflitos. Caxias do Sul, 1894-1935”. In: Primeiras Jornadas de História Regional Comparada. Porto Alegre, 23-25/08/2000 5 Santos, Miriam de Oliveira. “A Imigração Italiana para o Rio Grande do Sul no final do século XIX”. In: Revista Histórica, 2006 (9) 6 Apud Machado (2000), op. cit. 7 Machado (2000), op. cit. 8 Giron, Loraine Slomp & Herédia, Vania Beatriz Merlotti. Identidade, Trabalho e Turismo. Universidade de Caxias do Sul, 2006 9 LaboMidia. “Crônica 89”. Projeto Caminhos da Imigração Italiana no RS. Universidade Federal de Santa Catarina, s/d.

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Ainda com a fachada incompleta e sem decoração interna, a Catedral de Caxias do Sul em 1899 já estava funcional o bastante para ser inaugurada, sendo consagrada no ano seguinte. Foto AHM

As famílias de que falo são as que me deram origem imediata, os Longhi e os Frantz, mais os outros troncos que as formaram, os Pezzi, Rossi, Formolo, Rizzi, Tomasoni, Marchi, Viezzer, Cecchini, Panigas, Artico, de Nadai, Sartori, Paternoster e dal Piaz, que perfazem a geração dos meus tataravós, e incluindo também algumas outras que a elas se associaram por vários matrimônios, como os Tessari, Dalfovo, Costamilan e Fedrizzi. E por que falar delas? Por várias razões. Primeiro porque são famílias reconhecidas como pioneiras e históricas pelos pesquisadores e pela oficialidade. Segundo, eu quis fazer um pequeno relato do que o processo de imigração e estabelecimento de uma nova comunidade em uma terra virgem representou para a realidade específica da minha família, mas também quis mostrar sua contribuição particular para esse processo, e o quanto as tradições trazidas da Itália foram decisivas para definir rumos aqui no Brasil. Acho que é importante fortalecer os laços de continuidade entre o passado e o futuro, para, através da descrição de sua história, preservar a própria ideia de família, para que as novas gerações saibam de onde vieram, e para que se lembrem que não nasceram do nada, e que deu muito trabalho chegar até aqui. Como a família é enorme, talvez interesse a várias pessoas, e a outros que a conhecem ou queiram conhecer. Falar de um tema tão próximo imparcialmente é difícil, e é ainda mais difícil falar do que é próximo sem parecer egocêntrico, mas penso que apesar dessas “contaminações”, não se perde o interesse do memorialismo familiar, ainda mais quando alguns sujeitos da narrativa foram gravados não só pela lembrança do círculo interno, mas também por fontes externas à família. De fato, vários se destacaram na história de Caxias na opinião de seus contemporâneos e de autores que os estudaram depois, e não por qualquer tentativa presente de magnificá-los, e alguns chegaram a criar folclore, mas carecia ainda ser feita uma síntese que reunisse as informações dispersas e demonstrasse suas ligações em um painel coerente. O leitor, enfim, irá decidir o valor do conteúdo. Dos mais antigos restou uma esgarçada tradição oral em vias de desaparecimento e um punhado de documentos pobres em informação, mas o que restou basta para dar-nos uma boa ideia do seu papel na sociedade, de como levaram suas vidas e – mais ou menos – o que devem ter sentido e pensado. Da pesquisa “brotaram” trajetórias humanas e profissionais de uma riqueza e significado que não eram bem conhecidos nem mesmo por alguns dos meus parentes mais antigos, que em 2009, morando no edifício erguido exatamente sobre as ruínas

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da casa onde antes seu avô Paternoster vivera, não sabiam nada sobre sua vida nem sobre o seu destacado papel na comunidade,10 o que mostra o quanto da tradição familiar foi perdido. E, como muitos desempenharam um papel de protagonistas em importantes eventos, perdeuse também parte da própria história da cidade. Por isso, esse resgate e “organização” de suas vidas, tentado agora sinteticamente, pode dar alguma contribuição, pequena que seja, para o conhecimento do processo de formação da sociedade local. Tivemos membros em todos os estratos sociais, da elite às classes operária e camponesa, mas os que deixaram registros públicos mais ricos foram, naturalmente, os primeiros, e com algumas trajetórias de ascensões e quedas dramáticas, formando um painel bastante variado e dinâmico. Formou-se efetivamente um “patriciado colonial”, se assim poderíamos chamar a classe dominante dos primeiros cinquenta anos da vida caxiense, que tinha semelhanças com o patriciado comunal italiano estabelecido desde a Idade Média, senão no estatuto jurídico diferenciado e hereditário que o patriciado italiano possuía, pelo menos em seu prestígio, cultura, riqueza e influência em múltiplos níveis, onde as relações interfamiliares e a tradição tinham enorme relevo. Esta classe em particular se tornou importante por monopolizar o poder e os principais meios produtivos, organizar a vida da comunidade e ditar formas de pensamento e tendências. 11 12 13 14 É interessante, portanto, antes de penetrarmos nas biografias familiares, dar uma base contextual preliminar para o que veremos depois, e apreciar em particular o papel da elite na formação da identidade sociocultural de Caxias. Diante deste aspecto, tão essencial, todas as suas outras atividades – a criação de obras beneficentes, a direção da economia e da política, o estímulo à Ida Sartori Paternoster Frantz, minha avó cultura através de cinemas, jornais, literatura, esporte, música, e paterna, conhecida figura da alta sociedade mesmo da moda e do glamour – parecem se tornar menores, de sua geração. pontuais e circunstanciais, pois é a identidade da comunidade o que lhe dá vigor, é o que rege as relações da cidade consigo mesma e da cidade com o outro, o “estrangeiro”, o Brasil como um todo, e é ela o filtro através do qual o outro se relaciona com Caxias, um filtro que mesmo hoje ainda é influente, mesmo depois de tanta transformação e da dissolução de muitas das tradições primitivas. Nos primórdios da colonização, entre os italianos recém-chegados tudo o que havia era um grande mosaico de grupos de origens e costumes diferenciados, que tinham em comum apenas a religião, pois nem a língua era uma só, e sim um balaio de dialetos às vezes pouco inteligíveis entre si, junto com grupos minoritários de alemães, suíços, espanhóis e outros, muitos tendendo a ver-se mutuamente com desdém, como observou Corrêa.15

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Recanto das Letras. Maria Sartori e João Paternoster. Machado, Maria Abel & Herédia, Vania Beatriz Merlotti. “Associação dos Comerciantes: Uma Forma de Organização dos Imigrantes Europeus nas Colônias Agrícolas no Sul do Brasil”. In: Scripta Nova - Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales. Universidad de Barcelona, 2001; 94 (28) 12 Sales, Fabiana de Lima. O desenvolvimento econômico de Caxias do Sul na perspectiva do acervo do Museu Municipal. Universidade de Caxias do Sul, 2006 13 Ribeiro, Cleodes Maria Piazza Julio. Festa & Identidade: como se fez a Festa da Uva. EDUCS, 2002 14 Santos (2006), op. cit. 15 Corrêa, Marcelo Armellini. Dos Alpes do Tirol à Serra Gaúcha: a questão da identidade dos imigrantes trentinos no Rio Grande do Sul (1875-1918). Dissertação de Mestrado. UNISINOS, 2014 11

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O fim do século XIX, lembremos, foi uma época em que os ideais românticos estavam em alta, tradição, honra e pátria eram temas incandescentes que apaixonavam os ânimos. A Itália recentemente fora unificada e seus naturais lutavam por uma nova identidade étnica e nacional, mas os territorialismos ainda eram extremamente fortes, herança de um longuíssimo passado de divisão política e cultural em inúmeros pequenos Estados e cidades-Estado que estavam em perene conflito e alimentavam grandes preconceitos e rancores históricos uns contra os outros. Além disso, tanto na Itália como no Brasil, nesta época estava exacerbada a oposição entre os maçons e liberais e os católicos tradicionalistas, aumentando as discórdias.16 17 18 19

Os locais acabaram superando muitas de suas diferenças pela simples necessidade de sobrevivência, formando logo um grupo social, se não uniforme cultural ou ideologicamente, pelo menos muito coeso em seus objetivos gerais de progresso, o que possibilitou à comunidade obter rápidos resultados positivos. O crescimento iniciou através do comércio, a primeira grande força econômica local, fazendo circular os excedentes da produção agrícola e buscando fora os suprimentos ainda inexistentes, e logo a indústria o acompanhou, tendo seu principal fulcro nos primeiros tempos a produção de vinho, fazendo com isso se desenvolverem outras indústrias correlatas. Logo no começo do século XX, porém, a economia local já se havia diversificado muito e exibia grande pujança, propiciando uma verdadeira explosão cultural, surgindo uma rica e sofisticada arquitetura, vários artistas talentosos estavam em atividade, se multiplicavam os jornais, cinemas, teatros, associações literárias, musicais e beneficentes, clubes sociais e esportivos, e mesmo que a cidade interagisse fortemente em termos econômicos com o Brasil e buscasse informação nova, permanecia de certa forma isolada pela maciça prevalência do idioma italiano, plasmando-se uma cultura original.20 21 22 Apesar de o patriciado colonial em formação buscar a diferenciação das classes inferiores através daqueles meios culturais, da encenação do status e tudo mais, foi uma característica sua não se distanciar em demasia das suas origens. Desde os primeiros ensaios de imprensa no século XIX os colonos a usaram para divulgar informação da Itália, as famílias daqui e de lá trocavam correspondência, e o contato de fato nunca foi rompido, ao contrário, permanecendo um forte senso de orgulho das raízes italianas e mesmo da pobreza inicial, que se tornava um ornamento em si porque realçava a riqueza que fizeram depois, orgulho aumentado à medida que o sucesso material foi se consolidando e chamando a atenção das autoridades políticas e intelectuais do estado, reiterando-o num discurso ufanista expresso de várias maneiras diretas e indiretas e criando uma identidade coletiva peculiar nesta comunidade, onde os imigrantes e seus descendentes passaram a representar a si mesmos como heróis civilizadores, e tendendo a ver os não-italianos como raças inferiores e menos capazes.

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LaboMídia – UFSC. “Crônicas 61-70”. Projeto Caminhos da Imigração Italiana no RS Ramos, Eloísa Helena Capovilla da Luz; Arendt, Isabel Cristina & Witt, Marcos Antônio (orgs.). A História da Imigração e sua(s) escrita(s). Oikos, 2012 18 Santos (2006), op. cit. 19 Stormowski, Marcia. Crescimento econômico e desigualdade social: o caso da ex-colônia Caxias (1875-1910). Dissertação de Mestrado. UFRGS, 2005 20 Machado & Herédia, op. cit 21 Ribeiro, op. cit 22 Giron & Herédia, op. cit 17

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O poeta Vico Thompson assim descreveu o espírito local em 1929: Oh raça de heróis! Filhos da Romana Gente, Que no sangue levais titânicas proezas: Levantai alto o lábaro, que altas grandezas Venceu, ao fio do vosso gládio onipotente! Povo de eleitos! Almós sois da humana mente Que as ideias revestis de helênicas belezas: Cintilai ao mundo, vós, flâmulas acesas, Baixando a diva luz, benigna, docemente! Oh Terra Itálica! Formada do sorriso Sempre azul, sempre puro do seu grande céu: És Tu o jardim, a enfloração dos Continentes, A clara irradiação das artes refulgentes, Tu, o mais esplêndido painel do Paraíso, A Cátedra magnífica da Voz de Deus. 23 Esse ímpeto encontrou sua fórmula acabada na Festa da Uva, até hoje o maior evento da cidade, um evento que, mais do que levar o nome de Caxias a todo o país e atrair atualmente milhões de visitantes, dinamizando imenso a sua economia, foi também a consagração em grande estilo do senso de identidade local, da italianidade que ainda é uma marca registrada de Caxias. Depois da criação de várias feiras agroindustriais entre fins do século XIX e o início do século XX, que não tinham uma proposta ideológica consistente, voltando-se antes aos aspectos econômicos, sua base cultural se cristalizou em 1932, quando foi aberta a II Festa da Uva, promovida pela Associação dos Comerciantes, o reduto econômico da elite caxiense, definindo em linhas gerais o perfil pelo qual ela se tornou conhecida. Entre os aspectos importantes dessa celebração, foi iniciada a prática do desfile de carros alegóricos, que narrava sinteticamente o percurso de sucesso da comunidade e, como disse Ribeiro, tornava inteligível o significado de “fazer a América”, dando ao público, composto também de muitos visitantes de fora, através de uma articulação de imagens, figurinos, objetos, alegorias, cantos, danças e música, desde “informações de natureza histórica até uma particular experiência estética”. Adelia Eberle, a primeira rainha da Festa da Uva. Em 1933 seria eleita a primeira rainha da Festa, Adelia Foto Calegari. Eberle, uma posição que desde aquele período tem sido da mais alta distinção e prestígio nesta sociedade, figura na qual se projetavam os sonhos de beleza, grandeza e beneficência da população, servindo como a embaixatriz de toda uma cultura.24

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Apud Ribeiro, op. cit Ribeiro, op. cit.

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À medida que o progresso ganhava solidez, mesmo a Itália passou a se interessar pelas colônias distantes, buscando reintegrar os emigrados em uma grande comunidade italiana internacional, fortalecendo os laços econômicos e diplomáticos com o Brasil e enviando para cá grande número de profissionais e técnicos, a ponto de o próprio Mussolini, antes do endurecimento político, endereçar mensagens de estímulo aos caxienses, na época em que ideologias de direita como o Positivismo e o Integralismo se disseminavam em larga escala e recebiam influência de correntes como o Fascismo. As sociedades italianas de mútuo socorro se multiplicavam, a imprensa publicava em italiano e várias escolas ensinavam neste idioma, num grande florescimento da italianidade que era acompanhado sem qualquer oposição por parte do governo brasileiro. O Fascismo italiano em particular adquiriu no início do século XX grande preeminência entre os caxienses, fortalecendo o orgulho étnico local e um sentido de unidade, e ajudando a superar em definitivo as antigas diferenças. 25 26 27 Diz Beneduzzi: “Na Revista da Uva, publicada em Caxias do Sul, em ocasião da terceira Festa da Uva, em 1933, foi inserido um artigo de Benito Mussolini intitulado Il vino nella vita e nella civiltà delle nazioni, o qual se constitui em uma apologia ao vinho, feita em linguagem coloquial, cordial e amistosa: uma propaganda da nova Itália. [...] As ideias que o artigo mussoliniano traziam à luz estavam fortemente vinculadas à política fascista de construção de um novo homem, controlado, regrado, moderado. Ao destacar no vinho as qualidades de um povo civilizado, ressaltava essa característica italiana – real ou imaginada – de autocontrole, vista no modo como o alcoolismo não se encontrava fortemente disseminado em meio à população. [...] “De uma certa maneira, utilizar esse texto no espaço de comemoração da terceira Festa da Uva apresenta um sentido muito forte de recuperar para aquela coletividade da serra gaúcha os elementos positivos desfrutados pela italianidade, através de um testemunho impactante como aquele de Benito Mussolini. [...] Essa nova condição italiana acaba coincidindo com a situação de crescimento vivido pelas elites coloniais no Rio Grande do Sul, tanto no campo político quanto naquele econômico. [...] “Neste conjunto de construção identitária das décadas de 20 e 30, a própria pessoa de Mussolini irá compor – através de suas falas e dos discursos e mensagens de seus embaixadores – essa representação da comunidade italiana vitoriosa. Assim como o Duce deu à Itália um novo espaço e uma nova importância no cenário internacional, ele concedeu um novo significado às comunidades italianas no exterior e uma nova percepção diante das sociedades de acolhida. Nesse sentido, Benito Mussolini torna-se uma encarnação da figura emblemática apresentada por Bronislaw Baczko, na qual a comunidade se vê representada nos atos tidos como heróicos (Baczko, 1991). [...] “A divulgação da Festa da Uva vem colaborar para este fim, pois as falas enaltecem essa operosidade italiana, as imagens destacam a italianidade da população, os textos dão relevo a esse transplante da italica gens. A mesma revista que na edição de 1933 publicou a carta de Mussolini, oferece a imagem de uma linda mulher, adornada com cachos de uva, posta em meio aos parreirais, solicitando a atenção e o interesse do leitor. Essa imagem, que é selada com uma didascália, onde o leitor é conduzido a observar os detalhes que enfatizam a grandiosidade do momento celebrado, termina associando, na fisionomia da figura feminina, as duas pátrias. [...] 25

Pozenato, Kenia Maria Menegotto & Giron, Loraine Slomp. 100 Anos de Imprensa Regional 1897-1987. EDUCS, 2004. 26 Trindade, Hélgio. Integralismo, o Fascismo brasileiro na década de 1930. Difel, 1974 27 Beneduzzi, Luis Fernando. “Festa da Uva e política fascista: narrativa de operosidade e resgate de italianidade”. In: Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH. São Paulo, julho de 2011

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“Dessa forma, a Festa da Uva acabou colaborando para a criação deste vínculo da grande nação que enviou seus filhos para cooperar no desenvolvimento de outros territórios, e este trabalho deu certo, visto o modo como os imigrantes superaram as dificuldades da ocupação do solo, produzindo riqueza e desenvolvimento”.28 Segundo Giron, embora a propaganda fascista tenha criado um discurso de grande influência, ela não envolveu a massa dos trabalhadores rurais, permanecendo um fenômeno basicamente urbano e dirigido para e pelas elites.29 Em que pese a autoridade de Giron, penso que as coisas não foram assim tão excludentes. A imprensa local e estadual nas primeiras edições da Festa não cansa de usar os termos mais grandiloquentes para descrevê-la, criando um ciclo de auto-reforço contínuo desta ideologia ufanística e desta identidade, baseadas no trabalho e na fé, e também na satisfação pelo sucesso alcançado. Dois exemplos bastam, o primeiro do Correio do Povo de Porto Alegre, um dos principais jornais do estado: “Festa da Uva! [...] Arco do Triunfo da Terra Serrana, engalanado de folhas de parreira. Caxias, maravilhoso celeiro da serra, vai abrir as portas para mostrar aos visitantes a exuberância de seu seio, a fertilidade de sua seiva, a milagrosa tenacidade de seus homens. [...] Bagos de ouro de uva de variadíssima espécie, atestado de uma capacidade de trabalho que orgulha o Rio Grande e honra o Brasil. [...] Núcleo intenso de trabalho e progresso, fará da uva, símbolo de sua prodigiosa atividade. [...] “O espetáculo grandioso da Festa da Uva será a consagração definitiva da capacidade de trabalho e das possibilidades de um povo de realizações absolutas. As suas terras não são privilegiadas, os seus homens é que o são. Fê-la assim, o milagre do esforço e a tenacidade do trabalho”.30 O outro vem do nº 5 da Revista do Globo de 1932, uma publicação que tinha alcance nacional: “Rolaram os anos. E o grande sonho do imigrante começou a se tornar realidade. E as colônias se povoaram mais e mais. A serra bravia havia sido conquistada. Os caminhos estavam abertos à civilização [...] “E a Festa da Uva, esplêndida demonstração de trabalho que a população daquela terra ofereceu ao Rio Grande do Sul e ao Brasil, é bem um exemplo notável do quanto pode a vontade, a fé e o amor ao trabalho. Todos aqueles que tiveram a ventura de assistir à grande Festa ficaram convencidos de que Caxias é um pequeno estado poderoso que se basta a si mesmo, pleno de recursos econômicos, fértil, sabiamente orientado, num desenvolvimento progressivo incessante”.31

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Beneduzzi, op. cit. Apud Ribeiro, op. cit 30 Apud Ribeiro, op. cit. 31 Apud Ribeiro, op. cit. 29

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Em 1934 esse entusiasmo ensejou a criação, por lei estadual, do Dia do Colono, como mostra a notícia que vem a seguir, publicada n’O Momento no dia 31 de maio de 1934.

Uma matéria ocupando toda a capa no Diário de Notícias em 28 de fevereiro de 1937, ilustrada a seguir, chama a atenção pela sua manchete, Triunfo e Glória de Caxias!, e pela sua grande ilustração, onde um casal idealizado surge em triunfo sobre um cenário onde chaminés de indústrias se mesclam a cachos de uva, sinalizando a ligação entre o progresso e os frutos da terra:

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Obviamente nada disso poderia ter acontecido se a elite não contasse com o trabalho e mesmo com o apoio das classes mais baixas, pois foi principalmente a mão inculta e pobre que se sujou na terra e nas oficinas e indústrias para que a neo-elite pudesse, no início do século XX, ouvir operetas em um belo teatro e se vestir na última moda da Europa, e mesmo criar um discurso ideológico em torno disso. Mesmo que pouco engajadas de modo direto na articulação da propaganda oficial, até mesmo as classes trabalhadoras acabaram sendo inevitavelmente influenciadas pelo clima de otimismo que se formou, basta ler na imprensa o entusiamo despertado pelos corsos alegóricos das primeiras Festas da Uva, onde representantes dos camponeses de todos os distritos e Léguas se faziam presentes com seus trajes típicos e seus instrumentos de trabalho, 15

postados sobre seus carros rústicos puxados por juntas de bois e enfeitados de ramos de videira, desfilando em verdadeiro triunfo sob a frenética aclamação da plateia, composta por todas as classes. Seria impossível imaginar que tais manifestações não afetassem os camponeses e não repercutissem na zona rural e não afetassem igualmente o operariado urbano. Assim, até meados dos anos 30, o conjunto da sociedade, incluindo patrões e empregados, pobres e ricos, em maior ou menor grau, apaixonou-se por si mesmo e se autorretratou como um gigante, espelhando-se nos feitos dos antigos heróis e vendo-se como eles. Em seguida este ciclo foi subitamente interrompido, e todo o ufanismo desencadeado pelo progresso evidente e pelos elogios que lhes faziam figuras ilustres implodiu. Grupos nacionalistas, como a Sociedade dos Amigos de Alberto Torres e a Liga de Defesa Nacional, engajados em campanhas para erradicação dos “quistos raciais que imprudentemente se formaram no Rio Grande do Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso e Pará”, passaram a atacar os italianismos da região colonial e também os militantes do Fascismo italiano que atuavam entre a elite. Esse nacionalismo foi encampado pelo governo de Getúlio Vargas, que impôs dura repressão à cultura italianizada da região colonial, empenhando-se em reorganizar o país sob o signo de uma brasilidade homogênea e lusófona.

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Durante a II Guerra veio a reforçar o nacionalismo a oposição entre os Aliados, aos quais se uniu o Brasil, e as potências do Eixo, grupo que incluía a Itália. Na colônia, o rompimento das relações e o estado de guerra com a Itália produziu efeitos especialmente pungentes. Todo esse contexto adverso aos italianos provocou até mesmo a interrupção da celebração da Festa da Uva por mais de dez anos.32 Como a notícia acima demonstra, foram tomadas medidas severas para reprimir a italianidade local, sendo especialmente agressiva a proibição de falar italiano em locais públicos, pois mesmo já passadas décadas desde a chegada dos imigrantes, para muitos, especialmente os mais velhos, o talian Ver nota 33 era a única língua que conheciam. Isso teve vastas repercussões.

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Ribeiro, op. cit. O talian foi uma língua nova que surgiu na região colonial, composta de uma mistura dos vários dialetos trazidos da Itália, mais elementos do português, e que serviu como a língua franca de toda a região, possibilitando o entendimento entre grupos de origens linguísticas às vezes bastante divergentes e pouco compreensíveis entre si. 33

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Como disse Ribeiro, “Ações destinadas a coibir as atividades de um grupo minoritário no cenário político [...] acabaram por atingir todos. [...] Um amplo muro de silêncio circundou as antigas colônias nesse período. A comunidade regional foi posta duramente à prova. Os colonos, ao serem proibidos de falar em locais públicos, foram, também, proibidos de sair de casa, de efetuar a venda de seus produtos e a compra de outros, de fazer e de ir a festas, de cantar. O que equivale a um confisco do exercício da vida comunal e da sociabilidade”.34 Giron complementa: “Unidos pelo terror, os habitantes da região colonial continuavam divididos em suas posições políticas. Não parece ser através de comícios, ou do medo, que os indivíduos mudam de nacionalidade. A maioria da população continuava sendo descendente de italianos, sempre se haviam considerado italianos, ou, pelo menos, não-brasileiros. Constatando a inutilidade da mobilização popular, o grupo nacionalista passou a utilizar outros instrumentos de pressão. O último a ser utilizado foi o da delação: “Brasileiro: Seja um vigilante da Pátria! Observa e escuta os movimentos e as palavras daqueles que são os inimigos da nossa raça, da nossa família, das nossas instituições. Denuncia-os à polícia.” 35 Desta forma, de importantes colaboradores e promotores do progresso, os italianos e seus filhos se transformaram em traidores da nação. A repressão provocou graves lesões no tecido social da comunidade, levando, nas palavras de Ribeiro, a um ativo “esforço de esquecimento” da memória coletiva, imprimindo duradouramente sobre os descendentes dos imigrantes uma marcante tendência a negar e desprezar as origens. A partir dos anos 50, buscou-se a reintegração da cultura italiana à sociedade brasileira com maior respeito, uma tendência que ganhou força nos anos 70, quando se comemorou os 100 anos da imigração.36 37 38 Neste momento, porém, em que se multiplicava a bibliografia sobre a colonização, o pensamento local cindiu-se em duas correntes. Enquanto a elite política e econômica lançava outra vez o imigrante às alturas, tornando-se no discurso oficial novamente uma figura heroica, grandiosa e toda bondades, parte da elite intelectual passou a fazer uma crítica a essa reconstrução, que entendia como artificiosa, tendendo a O grande Monumento Nacional ao Imigrante, inaugurado dissimular as contradições e problemas do povo recémem 1954, no início da fase de reconciliação entre os chegado, de toda a empreitada colonizadora e mesmo italianos e brasileiros. da realidade presente, denunciando a tentativa de se 34

Ribeiro, op. cit. Giron, Loraine Slomp. As Sombras do Littorio: o fascismo no Rio Grande do Sul. Parlenda, 1994 36 Maestri, Mário. A Lei do Silêncio: história e mitos da imigração ítalo-gaúcha. EST Edições 37 Cenni, Franco. Italianos no Brasil: "andiamo in 'Merica". EdiUSP, 2003 38 Ribeiro, op. cit. 35

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montar o que parecia evidentemente uma grande encenação para inglês ver, pois no cotidiano, em parte ainda herança daquele tempo de repressão, observava-se aceleradíssima perda de tradições e uma destruição massiva do acervo de arte e arquitetura colonial, numa época em que no uso comum ser “colono” passara a significar ser bronco e atrasado, e não mais, como antes, ser um audacioso desbravador e um trabalhador infatigável, construtor de riquezas e herdeiro de cultura milenar.39 40 Sei por experiência própria. Quando me mudei para a capital do estado para estudar, meu sotaque italiano gerou grande implicância entre alguns amigos, que viviam avacalhando comigo, e os “gringos”, para os “modernos” de Porto Alegre, em geral eram apenas figuras folclóricas e burlescas. Mesmo a nova geração nascida em Caxias tinha a tendência de ver as tradições como coisas ultrapassadas e ridicularizá-las. O que aparecia era a Festa da Uva e o seu cortejo de carros alegóricos, e a badalação toda em torno disso, mas a italianidade “autêntica”, por assim dizer, obviamente estava em vias de desaparecimento, transformandose em símbolo e metáfora, mas não mais uma realidade viva e onipresente como antes, passando a sobreviver com sua autenticidade quase apenas em áreas “esquecidas” da zona rural. Não poderia ser diferente. Hoje Caxias não é mais só de italianos, que se tornam a cada dia uma minoria menor, e mesmo esses não podem mais dizer que o são, carregando da Itália quase apenas a marca do sobrenome e vivendo numa cultura quase 100% “brasileira”. Bem, nunca foi só de italianos, mas eles prevaleceram amplamente no início, a ponto de identificar a cidade até hoje como uma cidade “italiana”. Hoje em dia, com a emergência do multiculturalismo, até mesmo o “ser colono” parece estar voltando a ser fonte de orgulho para os locais, e além disso há grande preocupação em resgatar as origens de maneira objetiva e crítica, buscando um mais amplo conhecimento das coisas, e não só como festa e alegoria, pois todo o processo foi real e é a nossa História, e é o fundamento da nossa realidade presente. Porém, como foi “de verdade” ninguém que não esteve lá saberá, pois entre o que os cronistas antigos disseram e o que os críticos modernos entenderam se formou uma selva de opiniões contraditórias.41 E nesta selva, Caxias agora busca uma nova identidade, entre os escombros do passado e os escombros também do futuro, já que o futuro, como nos apresentam os principais cientistas da atualidade,42 43 44 será literalmente caótico se as tendências de consumo, produção, crescimento populacional e a relação com a natureza não mudarem rápido e drasticamente. Mas, como os mesmos cientistas já suspeitam, a mudança, mesmo que venha, não virá a tempo de evitar uma grande catástrofe global. Enquanto este Dia do Juízo não chega, e como aqui não é o local para falarmos do futuro, mas sim do passado, ainda há tempo para observar o percurso histórico e as trajetórias que se formaram e se desfizeram na rede de relações sociais e familiares que se estabeleceram ao longo dos anos, subindo e descendo pela escada social e deixando mais ou menos pegadas atrás de si. Este é, portanto, um estudo descritivo, um pouco memorialista, no mais das vezes 39

Museu Municipal de Caxias do Sul. “A cidade ficou igual a tantas outras… As diferenças?” In: Boletim Memória, 1993 (16) 40 Ribeiro, Cleodes M. P. J. O lugar do canto. UCS, s/d. 41 Mocellin, Maria Clara. “Trajetórias em Rede: representações da italianidade entre empresários e intelectuais da região de Caxias do Sul”. In: 26ª Reunião Brasileira de Antropologia: GT 2: Imigração em Contextos Nacionais e Internacionais. Porto Seguro, 01-04/06/2008 42 Ki-Monn, Ban. "Prefácio do Secretário Geral das Nações Unidas". In: Secretariado da Convenção sobre Diversidade Biológica. Panorama da Biodiversidade Global 3, 2010 43 Barnosky, Anthony et al. Scientific Consensus on Maintaining Humanity’s Life Support Systems in the 21st Century: Information for Policy Makers. Millenium Alliance for Humanity and the Biosfere, 2013 44 Intergovernmental Panel on Climate Change. Climate Change 2014: Impacts, Adaptation, and Vulnerability, 2014

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pura reportagem, e aqui e ali expresso algumas opiniões pessoais, jogando alguns personagens contra o seu contexto e tirando algumas conclusões, mas certamente não é uma tese de sociologia ou uma crítica política e cultural, e tampouco é um romance. É – tão somente – a crônica sucinta da trajetória de algumas famílias caxienses, centrada principalmente em sua contribuição positiva à sociedade e no reconhecimento público que disso derivou. Ao fazer um registro assim tão seletivo, não quero com isso iludir o leitor fazendo-o imaginar que meus parentes são santos e perfeitos ideais de virtude, que não cometem erros e não têm falhas e contradições, e na verdade seria ridícula qualquer tentativa neste sentido. Eles têm falhas, e muitas, poderia ser escrito um outro livro se quisesse enumerá-las todas, e ao longo desta pesquisa infelizmente descobri que alguns até se envolveram em grandes escândalos de corrupção. Tampouco desejo estabelecer comparações com outras famílias. Mas o fato é que muitos lograram viver suas vidas de modo a serem úteis à comunidade, sendo reconhecidos por isso, e esta contribuição, que em diversos casos foi muito relevante, é a que mais importa, é a mais perene, e é a que pretendo registrar. Então, este é um livro para falar das coisas boas. Apesar de algum bairrismo ser inescapável, estando eu envolvido diretamente com os biografados e compartilhando de muitos de seus valores, tentei ser objetivo. Porém, o leitor vai compreender e perdoar a afetividade que às vezes dá um colorido adicional à menção de meus familiares mais próximos, pois a eles devo muito em muitos níveis, e, neste sentido, este trabalho é um tributo àqueles que vieram antes de mim, me criaram e me deram tanto.



O fato de que alguns de meus familiares foram da elite caxiense, associado ao outro fato de que uma bisavó foi casada com um rico barão alemão e levou uma vida de todo incomum para os padrões coloniais, tornando-se uma das “lendas urbanas” do período de fundação da cidade, foi o que me levou a iniciar este estudo, mas então com um outro objetivo: busquei primeiro descobrir se alguns vagos rumores que sobreviviam na tradição oral de alguns ramos da família, sobre uma eventual nobreza ancestral, eram procedentes. A ideia inicial era pesquisar apenas os Sartori, os Artico e os Panigas, sobre os quais havia indícios que justificavam. Mas logo pensei: se ia pesquisar três, por que não pesquisar todos os troncos conhecidos? Assim fiz, e a pesquisa, para minha própria surpresa, evidenciou que os rumores tinham sólido fundamento não apenas para duas dessas famílias, mas para muitas outras também. A grande concentração de troncos nobres é fácil de explicar: nobreza atrai nobreza, sendo uma classe muito preocupada em preservar sua distinção, sempre que possível evitando casamentos com a plebe. No entanto, logo percebi também que a importância deste aspecto para os modernos é muito pequena, é mais uma curiosidade arqueológica. Por isso o trabalho acabou mudando de foco, pois, em primeiro lugar, para alguns troncos não se sabe com segurança absoluta se a história deles é o nosso passado; poderíamos ser meros homônimos ou ramos plebeus de troncos nobres, e sua trajetória documentada no Brasil, que inicia para quase todos somente na década de 1870, é de longe, acredito, muito mais interessante do que sua eventual origem nobre e suas supostas façanhas distantes.

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Mesmo assim, ficou evidente que eu não deveria descartar toda a pesquisa que foi feita na intenção inicial, pois ela trouxe informações abundantes, sólidas e muito interessantes dos pontos de vista histórico e genealógico. E merece permanecer também porque, penso eu, esclarece alguns comportamentos e tradições familiares observados na colônia para os quais não havia explicação consistente, já que sobre a vasta maioria nada se sabia antes de terem posto os pés no Brasil. Mas essa discussão toda agora vem separada como o terceiro volume deste estudo, um apêndice da descrição de suas vidas em Caxias, que são mais próximas e mais pertinentes para os de hoje, e por isso vem antes. Alguns recortes de jornal darão também um vislumbre da reverberação dos nomes na sociedade de sua época e na contemporaneidade, ajudando a dar cor, variedade e atmosfera ao relato, abrindo pequenas janelas para outros momentos e ambientes, complementando a tarefa das fotografias e do texto. Esses recortes, de fato, não devem ser menosprezados, foram selecionados com bastante cuidado dentre os disponíveis, em sua maioria estão longe de serem apenas “atestados de presença” e devem ser considerados como texto, e mesmo que sua leitura possa interromper um pouco o fluxo da narrativa principal, alguns sendo bastante longos, trazem importantes informações para contextualizar os personagens a que se referem. Este estudo, ainda que fale um pouco dos cotidianos e se baseie um pouco na tradição oral, tem seu foco principal no resgate da história das minhas famílias como registrada publicamente, pois dois outros livros, escritos por Vera Longhi e Osvaldino Artico, embora inéditos, já recolheram o que restou da tradição oral sobre os mais antigos. Meu lado materno em particular teve muitos agricultores, operários fabris, artesãos e microempresários, mas pouco ficou gravado de suas vidas, mesmo na memória familiar, e muito menos nos registros públicos, que quase invariavelmente privilegiam os personagens que se sobressaíram, e que em geral pertencem às classes superiores. Assim, ainda que o resultado desta pesquisa apareça um pouco desequilibrado no que diz respeito ao espaço dado a cada classe, não é possível traçar trajetórias do operariado de minha família quando não há base segura para tanto. Afortunadamente João Antonio Tessari publicou um livro sobre alguns ramos dos primeiros agricultores e pequenos empresários estabelecidos na Comunidade de São Romédio, que serve para suprir algumas das lacunas mais dramáticas na história documentada publicamente dos ramos mais humildes da minha família.

Lucia Pezzi Longhi, minha bisavó materna, e sua neta Beatriz Longhi. Lucia e sua família levaram vidas muito simples, trabalhosas e ligadas à terra. A foto a mostra na frente do grande parreiral que havia nos fundos de sua casa.

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Esta compilação, apesar de ampla, está longe de ter exaurido o campo. A maioria das biografias não passa de uma nota extremamente sumária e muito incompleta, e não poderia ser diferente, dado o vasto número de pessoas citadas. Das novas gerações quase só pude citar sua presença, pois foi preciso estabelecer limites, mesmo havendo material disponível. De muitos outros, pior ainda, nada se sabe além de que existiram, e com toda a certeza deixei de fora outros tantos simplesmente por nem saber que existiram, pois os registros são notoriamente incompletos e raros são os que mencionam as famílias em sua formação integral. Além disso, ainda há muitas memórias a serem colhidas entre os mais antigos e muito material impresso a ser explorado, e especialmente os jornais digitalizados armazenados pelos arquivos municipais – um acervo valiosíssimo porque cobre praticamente toda a imprensa caxiense desde o início até a contemporaneidade – permanecem em grande medida intocados, devido a um sistema que não facilita as buscas, indicando a existência dos registros nominais em cada edição mas não apontando sua localização exata, obrigando à leitura de toda a edição. Os mais antigos são de pesquisa mais fácil, pois possuem poucas páginas, mas à medida que o tempo passa os jornais engrossam, e os mais recentes em geral têm muitas dezenas de páginas, além de se multiplicarem os periódicos em atividade, tornando a busca dos anos 50 para cá tão colossal quanto desanimadora, uma vez que desde então o que foi impresso em Caxias enche toda uma biblioteca. E além da imprensa, nas últimas décadas a bibliografia acadêmica, as publicações oficiais e o memorialismo amador, também ricos em informação, se multiplicaram exponencialmente. Porém, a Hemeroteca Digital Brasileira encontrou um modo de levar o pesquisador diretamente aos nomes, cobrindo grande parte das lacunas, mas o seu acervo digitalizado dos jornais caxienses se interrompe nos anos 50, e não contempla todos os jornais que aqui foram editados, embora os principais sim. Isso permitiu que um perfil bastante substancial pudesse ser formado para as famílias até meados do século XX, e fazendo uma pesquisa por amostragem nos acervos municipais, pude deduzir que pelo menos até esta data o que restaria por descobrir não deve ser muito significativo, pois o que os jornais pequenos registraram na maior parte das vezes foi registrado também pelos maiores, mesmo que alguns casos importantes possam ter escapado dessa cobertura. Os registros do século XXI já voltam a ser facilmente pesquisáveis, pois muito do que foi publicado foi posto na web e ainda está disponível. Resta, assim, um intervalo de 50 anos a escavar melhor. Meu núcleo familiar mais próximo facilitou um pouco as coisas, preservando um bom acervo de recortes de jornal e outros registros que lhe fazem referência, a partir dos quais sua história pública recente pôde ser atestada razoavelmente bem, mas mesmo aqui há brechas importantes. Quanto aos ramos mais distantes, não tive acesso ao que possam ter guardado, e mesmo tendo feito vários pedidos, não houve, salvo raras exceções, interesse de disponibilizar suas relíquias para este estudo. Mas na verdade, se eu fosse buscar informação sobre todos os meus parentes consanguíneos eu teria um campo de trabalho composto por pelo menos 5 mil pessoas, isso calculando por baixo e apenas incluindo os que ainda vivem, pois as famílias sempre foram grandes e se interligaram com outras extensamente, gerando vasta descendência. Para se ter uma ideia, apenas um casal, primos de meus avós, gerou até os anos 80 mais de 200 descendentes diretos, não contando os que se aparentaram com eles colateralmente. Então, não persisti nesta direção e resolvi me contentar com o que estava à mão e com o que eu pude descobrir por conta própria, concentrando-me em minha parentela mais próxima.

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Apesar disso, e embora o foco deste trabalho seja Caxias do Sul, alguns ramos que se radicaram em outras cidades e na capital do estado, um polo de atração para inúmeros caxienses, deram membros bastante notórios, e foi impossível resistir à tentação de falar um pouco sobre eles, sendo derivações diretas dos troncos caxienses. Outra observação pertinente é que na grande maioria dos casos não me preocupei em dar as informações sobre cada pessoa em uma ordem cronológica rigorosa, e tampouco assinalei as datas em que os eventos e processos ocorreram, ou a duração de sua participação neles. Preferi oferecer uma nota sintética a fim de não poluir demais o texto com uma profusão de números, que se tornaria logo cansativa. Quis apenas mostrar por onde passaram. O leitor que quiser mais detalhes terá de remeter-se às referências bibliográficas. Dos antigos, os Sartori e Paternoster são os mais bem documentados, mas na maior parte das vezes não sabemos exatamente como os próprios personagens atuaram, nem o que pensaram, pois não deixaram narrativas autobiográficas. Temos o registro de que estavam em certas posições e que fizeram certas coisas, e disso se forma apenas um esqueleto desprovido de vida. Não seria possível preencher todos os vazios, mas a partir do que se sabe, com mais segurança, sobre o contexto em que viveram e o que tais posições acarretavam, e de algumas lembranças de outros, pode-se extrapolar algumas coisas sobre suas individualidades sem grande erro. Por isso em alguns trechos penetro brevemente na descrição do seu entorno, para que os personagens tenham um cenário onde se mover e dar sentido às suas atividades. Por fim, cabe lembrar que, como sempre, a documentação, bem como a tradição oral, são muitas vezes incompletas, imprecisas, contraditórias e mesmo errôneas, e pode haver vários equívocos neste trabalho, em particular pela abundância de homônimos, muitas vezes difíceis de distinguir. Ainda restam muitas lacunas e fragilidades nessa História, que a imaginação sempre tende a completar ou corrigir com sua fantasia. Mas, ao que parece, assim somos todos, um pouco fato, um pouco imagem, lenda e invenção. Antes que mais documentos se percam e as memórias se desvaneçam mais, fica este registro para quem vier depois. A edição impressa deste trabalho, lançada em 2016, também comemora duas datas especiais: os 190 anos da chegada da família Frantz ao Brasil em 1826 e os 140 anos da chegada das famílias Longhi, Pezzi, Rossi e Paternoster e da fundação da Sede Dante e da Comunidade de São Romédio em 1876.

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Capa do “Livro de Ouro” do Município, criado em 1925 e preservado no Arquivo Histórico Municipal. Nele estão inscritos à mão, como fundadores de Caxias, os nomes dos parentes Salvador Sartori; Giuseppe, Angelo e José Viezzer; Achile, Giacomo e Clemente Tomazzoni; Andrea, Abramo e Francesco Pezzi; Pietro, Massimo e Giuseppe Pedron; Giacomo, Caetano e Giuseppe Costamilan; Marcos Vencato; Angelo e Giovanni Poloni; Luiz e Ambrosio Bonalume; Vittorio de Lazzer; Germano Parolini; Luigi dal Canale; João Paternoster; Antonio e José Chiaradia; Antonio Fedrizzi; Antonio Pieruccini; Osvaldo Artico; Antônio José Ribeiro Mendes; Antonio e Giordano Piccoli; Francisco e Giuseppe Andreazza; Rafael Buratto; Domingos e Carlos Maineri. Comparando-se os pioneiros fundadores que foram inscritos com o monumental levantamento de Gardelin & Costa sobre os registros de chegada, a listagem que consta no livro está muitíssimo longe de ser completa. O critério de inclusão não foi declarado, mas pode-se presumir que foi a notoriedade que os contemplados tinham na época de sua criação.

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 Agradeço às seguintes pessoas, que de alguma forma auxiliaram na elaboração deste trabalho: 

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Minha família, em especial meus pais Murillo Frantz e Elisabeth Longhi Frantz, minhas tias Marisa Pasqualina Frantz Panceri, Vera Mari Longhi e Beatriz Ignez Longhi Nonnenmacher, meus finados tios-avós Osvaldino Artico e Graciema Paternoster Pieruccini, meus primos Allen Rizzi, Ana Maria Vasques, André Luís Martinewski, Anéris de Lazzer Viola, Barbara A. Smith, Beatriz Paternoster Cecchetto, Carlin Fabris (in memoriam), Dóris Paternoster, Doroti Artico Chemello, Edelweiss de Almeida Vasques, Flavio Pezzi, Ismar Panigas, João Sady Costamilan Filho, Josef (Joe) Frank, Leonardo Sartorio Rigo, Lucas Andrade Longhi, Ludovico Beretta Sartori, Luís Geraldo Melo, Luiz Alberto Cesa, Maria Ignez Spadari Artico, Marlene Vasconcellos Canozzi, Mosart Longhi Junior, Pasqualina Sartori (in memoriam), Patrícia Vasques, Ricardo Fabris de Abreu, Sergio Enio Buratto, Susete Pricilla Pezzi, Tavane Graeff Costamilan e Victor Hugo de Lazzer, bem como os historiadores e também parentes Angelo Ricardo Costamilan (in memoriam), Gilmar Pedron Lorenzi, João Antonio Tessari (in memoriam), José Ênio Serafini, Mário Hilário Goettems, Paolo Basilici, Vânia Beatriz Merlotti Herédia e Wilson Thier, pela grande contribuição no resgate documental e registro da história e genealogia familiar A Associação da Igreja de São Romédio, através do seu membro Gilmar Pedron Lorenzi, pelo acesso ao histórico Livro de Atas da Associação e outros documentos Equipe do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami Francisco Michielin, pelo que escreveu sobre vários familiares em Assim na Terra como no Céu (1994), sua história do Esporte Clube Juventude Mário Gardelin e Rovílio Costa, pelo seu trabalho monumental e inestimável de compilar e organizar os registros de chegada dos imigrantes. Gardelin também deixou vários outros textos aqui usados com muito proveito João Spadari Adami, o notável amador que foi o grande pioneiro da historiografia local, e que trouxe muitas informações indisponíveis em outras fontes Maria Abel Machado e sobretudo Loraine Slomp Giron, que com seus vários trabalhos forneceram dados valiosos sobre diversos personagens Cleodes Piazza Julio Ribeiro, cujo abrangente painel sobre a história da Festa da Uva, que se confunde com a história de Caxias, deu a base principal para a estruturação e substanciação da parte histórica da Introdução Roni Rigon e Rodrigo Lopes, que em anos recentes se interessaram pela família e resgataram vários aspectos históricos que mesmo nós desconhecíamos, publicando vários pequenos artigos na coluna “Memória” do jornal Pioneiro João Pulita, Paulo Gargioni, Leonir Santos e Werony Sartori, que fizeram ou vêm fazendo a cobertura jornalística da atividade social e cultural de muitos parentes Os padres Pietro Nosadini e Ernesto Brandalise, importantes fontes para os aspectos religiosos da vida caxiense Padre Leonardo Inácio Pereira – Igreja de São Pelegrino Os demais pesquisadores consultados, cujos nomes aqui omito por simples falta de espaço, compondo verdadeiro exército, pois sem sua intensa e competente dedicação à História este estudo teria permanecido muitíssimo aquém do que pôde ser realizado. Este trabalho também não teria sido possível sem a documentação online disponibilizada pela Hemeroteca Digital Brasileira/Fundação Biblioteca Nacional, pela Câmara Municipal de Caxias, pelo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami e pelos arquivos europeus, em particular o Arquivo de Estado de Trento, o Arquivo de Estado de Veneza, o Arquivo Municipal de Breda, a Bossche Encyclopedie, o Brabants 25

Historisch Informatie Centrum, o Arquivo do Castelo Thun e o Arquivo Família Frank, instituições às quais também deixo meu reconhecimento. Um agradecimento todo especial vai para quem presenteou-me com importantes relíquias familiares antes ou ao longo da elaboração deste trabalho: 



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Murillo Moacyr Frantz e Elisabeth Ana Longhi Frantz, pelo estojo de costura que foi de Ida Sartori Paternoster Frantz, pelos óculos que pertenceram a Leda Artico Longhi, e pela mobília e objetos decorativos que adornaram as casas de Augusto e Ema Artico e Antônio e Ida Frantz Vera Mari Longhi e Beatriz Ignez Longhi Nonnenmacher, pelos cristais e louças que pertenceram a Ema Panigas e Leda Artico Longhi, pelos trabalhos em crochet e bordado que foram criados pelas mulheres da família Panigas-Artico, e pela grande coleção de fotografias originais referentes aos troncos Artico, Pezzi e Longhi Gilce Mattana dall’Alba, pelos óculos que pertenceram a Victorio Longhi Gilbert Mattana, pelo retrato original de Victorio Longhi Doroti Artico Chemello, pelos retratos originais de Osvaldo Artico e Magdalena de Nadai e pela fotografia original da família de Tomaso Panigas Leda Artico Longhi (in memoriam), pela coleção de santinhos e livros de oração que foram seus e de sua mãe e irmãs e pelos rosários que foram de seus pais Ema e Augusto Artico Milton Máximo Frantz (in memoriam) pela grande coleção de fotografias originais referentes aos troncos Sartori, Paternoster e Frantz e pelo chicote de montaria que foi de Massimo Sartori Dóris Paternoster, que prometeu legar-me em herança sua preciosa coleção documental sobre João Paternoster e seu filho Pery. A todos os meus parentes, pelas relíquias das vivências guardadas no coração e na memória

As fotos não creditadas deste estudo pertencem à coleção da família do autor. As fotos creditadas como AHM têm origem no Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami de Caxias do Sul.

Ricardo André Longhi Frantz Caxias do Sul/Porto Alegre, 2015 Atualizado em dezembro de 2017

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27 Diagrama retirado de Giron, Loraine Slomp. “Subsídios para a História de Forqueta”. História Daqui, 26/04/2012

Mapa parcial das “Léguas” da Colônia Caxias, mostrando a divisão dos lotes rurais, obtido em Gardelin & Costa. Várias outras das 17 Léguas caxienses não são mostradas aqui. A Sede Dante, o principal núcleo de urbanização, é a área central mais escura. Os imigrantes assim que chegavam em geral eram recebidos em Nova Milano, na 1ª Légua, hoje parte do município de Farroupilha, desmembrado de Caxias, e aguardavam a distribuição de seus lotes abrigados em um precário barracão. Do antigo território da Colônia Caxias foram formados também, no todo ou em parte, os municípios de São Marcos, Nova Pádua e Flores da Cunha. Desta forma, os pioneiros caxienses foram também fundadores de outras cidades nos arredores, bem como de muitas comunidades mais ou menos autônomas que só mais tarde se fundiram à zona urbana ou, se não, ainda permanecem dentro dos limites municipais, como São Romédio, Santa Catarina, Conceição, São Vigílio, Santa Lúcia do Piaí, Ana Rech, De Lazzer e outras, que hoje compõem seus bairros periféricos ou distritos mais distantes. Abaixo, o segundo barracão onde os imigrantes eram recebidos e ficavam até receberem suas terras, localizado na Sede Dante, na rua Coronel Flores, próximo da Estação Férrea. Foto em Adami (1971)

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Meus avós paternos, Antonio Augusto Frantz e Ida Sartori Paternoster, em seu casamento, 1929

Eu entre meus avós paternos Antonio Augusto Frantz e Ida Sartori Paternoster Frantz

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Estórias e História Os imigrantes e sua descendência O lado Paterno

De todos os meus parentes que se tornaram notórios nos primeiros tempos de Caxias do Sul, os que deixaram uma marca mais relevante foram meu tataravô Salvatore Sartori e sua família, e por isso inicio este estudo com eles. Conhecido no Brasil como Salvador, nascido em 20 de outubro de 1827,45 era filho de Angelo Sartori e Giacomina Toffolon, e neto de Gaetano Sartori e Cecilia Omizzolo. Os pais de Giacomina são desconhecidos. O pioneiro chegou ao Brasil em 19 de janeiro de 1879 e a Caxias em 20 de fevereiro, com sua esposa Angela Zancaner e dez filhos: Ludovico, Lino, Amalia, Carolina, Maria, Luigi, Alberto, Massimo, Guerino e Settimo.46 Fizeram a subida da serra guiados por Antônio Ribeiro Mendes, que conduziu muitos colonos.47 Outro filho, Attilio, nasceria no Brasil, pouco depois da chegada. Angelo Ricardo Costamilan,Ver nota 48 que foi vice-prefeito de Caxias, e quem registrou mais longamente a história dos Sartori, tendo acesso a algumas fontes primárias e sendo ele mesmo da segunda geração de pioneiros, conta que a família vivia há gerações em São Pelegrino de Treviso. Não existe nem nunca existiu uma comuna com este nome na Itália, mas ele sem dúvida quer significar a paróquia de São Pelegrino, organizada em torno de um oratório dedicado a este santo localizado na comuna de Cornuda, hoje na comuna de Crocetta del Montello, desmembrada de Cornuda em 1902, ambas na província de Treviso. O dito oratório está em sua frazione de Ciano, na via Fantin, na altura do número 77. Esta é a versão que se consagrou em Caxias. Porém, de acordo com outras evidências, ela não é correta. Embora Costamilan tenha tido contato direto com filhos de Salvador, quando ele é adulto o pioneiro já havia morrido há uns dez anos, e as lembranças dos seus filhos do tempo em que viviam na Itália provavelmente eram fragmentárias e imprecisas, pois a maioria veio para cá com pouca idade. Nos longos trechos que escreveu sobre os Sartori, significativamente ele não diz uma palavra sobre os dois filhos mais velhos, Lino e Carolina, que poderiam ter memórias mais seguras, e só cita Massimo e Maria, que estavam entre os filhos mais jovens e vieram para cá pequenos. Ele refere ainda que os Sartori tinham a tendência de exagerar tudo o que diziam e faziam. Para piorar, Costamilan morreu deixando incompleto o seu trabalho, que foi editado e ampliado nos anos 80 por seu sobrinho Paulo, que interferiu nos originais em extensão e de maneira desconhecidas, e por causa de algumas fontes recentes que foram citadas, parece que boa parte dos trechos sobre os Sartori foram escritos por Paulo, e não por Angelo. Minha tia Marisa Frantz Panceri, que forneceu alguns dados e documentos para ele, disse que assim foi. Além do mais, as buscas que fiz nos arquivos italianos não corroboram a sua versão, tendo encontrado muitos Sartori na província de Treviso desde longa data, mas nenhum especificamente em Cornuda antes do fim do século XIX.

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Data Center Emigrazione Veneta. Sartori Salvatore. Associazione Hospedaria - Emigrazione Veneta in Brasile. Gardelin, Mário & Balen, João Maria. “Primeiras Famílias Chegadas a Caxias do Sul”. Folha de Caxias, 10/06/1989 47 Adami, João Spadari. Caxias do Sul. Tipografia Abrigo de Menores São José, 1957 48 Costamilan será citado inúmeras vezes neste trabalho. Para evitar a multiplicação de referências redundantes no rodapé, sempre que seu nome for citado no texto não será dada a nota de rodapé correspondente. Nos outros casos, sim, para indicar a origem da informação. Sua obra é Homens e Mitos na História de Caxias, publicada em 1989 pela editora Pozenato Arte & Cultura. 46

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Também deve ser assinalado que a maioria dos registros de chegada dos imigrantes não assinalam seu local de nascimento, mas tipicamente indicam apenas o local de procedência, o que é coisa diferente. Muitos só dizem que vieram do Reino da Itália, sem qualquer detalhamento. Salvador está na maioria, e sabemos apenas que ele procedia de Cornuda, mas nada é dito sobre a comuna onde nasceu. Gardelin & Costa inclusive advertem que os registros de chegada estão repletos de erros e podem ser bem enganosos.49 Por outro lado, João Spadari Adami, o decano dos historiadores caxienses, deixou um famoso livro sobre a história da cidade, que não sofreu interferência alheia posterior, e que soluciona o impasse, pois ele faz duas citações explícitas de que o pioneiro era natural de Vicenza. 50 Adami não diz onde obteve seus dados, Ver nota 51 mas ele pesquisou os arquivos do antigo Conselho Salvador Sartori, foto colorida e editada a partir de original Municipal, até transcrevendo na PB da galeria de ex-prefeitos da Prefeitura de Caxias. íntegra muitos documentos oficiais, e isso é importante saber porque Salvador foi membro da primeira Junta Governativa e depois conselheiro, e quando tomou posse com toda a probabilidade deve ter sido feito um registro completo dos seus dados de identificação, incluindo a cidade onde nascera. Mas talvez a fonte tenha sido um álbum comemorativo publicado pela Prefeitura em 1925, A Municipalidade de Caxias em Memória aos seus Pioneiros no Primeiro Cincoentenario de sua Fundação 18751925, que buscou reconstituir o grupo fundador a partir da memória de alguns pioneiros ainda vivos, entre os quais estavam João Paternoster, seu genro, que o conheceu pessoalmente, mais Antonio Pieruccini e o coronel Tancredo Feijó. Neste álbum Salvador aparece como nativo de Vicenza, como prova o recorte abaixo.

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Gardelin, Mário & Costa, Rovílio. Os Povoadores da Colônia Caxias. EST / Folha de Hoje, 1994 Adami, João Spadari. História de Caxias do Sul 1864-1970. Tomo I. 2ª edição. Caxias do Sul, 1971 51 Adami foi um historiador amador, trabalhava com pouco sistema e raramente citava suas fontes, mas ele não obstante deixou um legado inestimável e foi reconhecido como um autor de irreprochável honestidade por acadêmicos notáveis como Loraine Slomp Giron e Luiz de Boni. 50

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É surpreendente que a obra de Costamilan, como a conhecemos em sua forma publicada, não faça nenhuma menção a Vicenza, porque é evidente que ele – ou o sobrinho – consultou Adami, fazendo-lhe referência em outras passagens, mas neste caso transmite apenas a versão sobre “São Pelegrino de Treviso”. Se ele porventura citou Vicenza nos seus manuscritos, ela foi eliminada na edição posterior, o que poderia hipoteticamente ter acontecido porque quando a edição foi realizada, já no fim dos anos 80, a tradição sobre São Pelegrino de Treviso há décadas havia se consagrado em larga escala na cidade, e a alusão a Vicenza poderia ter sido interpretada pelo editor como um engano. Além disso, a publicação de Adami, especificamente o seu Volume I, onde estão as duas citações de Vicenza, se tornou obra rara, dificultando a disseminação da informação relevante, e sem dúvida Costamilan não tinha conhecimento da existência do dito álbum. Com essas provas, que além de tudo se encaixam com perfeição nos meus achados sobre a origem e dispersão do nome Sartori na Itália, Cornuda surge então como um local de residência e procedência da família, onde os filhos certamente devem ter nascido, mas não de naturalidade de Salvador. Os registros de chegada realmente indicam alguns filhos como nascidos em Cornuda, mas o fato de os filhos terem nascido lá não requer necessariamente que também o pai tenha nascido no mesmo local. Do conjunto das evidências, então, se conclui que aquela tradição de estabelecimento há “gerações” em Cornuda deve ser descartada como mais uma das imprecisões perpetuadas pelo folclore, ou como mais um dos exageros pelos quais os Sartori se tornaram notórios. A grande maioria dos colonos de Caxias eram agricultores na Itália, e cruzaram o mar porque estavam em situação muito precária, como referiu Teresa Pezzi, irmã de meu tataravô Pietro, pioneiros da comunidade de São Romédio. 52 Como é notório, no século XIX a Itália estava convulsionada por guerras, fome e carestias generalizadas, enfrentando um difícil processo de unificação. 53 Mas é sabido que outros fugiram não da miséria, mas da perseguição política, ou, como disse Santo Dalfovo, não eram ricos nem pobres, mas estavam fartos de serem servos, 54 numa Itália que mesmo no fim do século XIX ainda vivia imersa em tradições feudais,55 e desejavam possuir as rédeas de seu próprio destino, decidindo “fazer a América”. Mas nem todos foram agricultores; chegaram artesãos, professores, comerciantes, industriais, oficiais e houve mesmo artistas.56 57 58 59 60 Alguns poucos tinham até origem na nobreza, como as famílias alemãs von Brixen-Montzel e von Schlabendorff, e as italianas Paternoster, Morosini e Geremia, assim como foi o caso de Salvador. Segundo as fontes mais reputadas, como veremos em detalhe no Volume III, os Sartori vicentinos são a descendência de parentes do bispo Andrea de’ Mozzi, membro de uma das principais Casas nobres de Florença, onde construíram um palácio e ganharam enorme riqueza como comerciantes e banqueiros, tornando-se os administradores do Tesouro Pontifício. Acompanhado de alguns de sua gente, o bispo foi transferido para Vicenza em 1295, concedendo a seus familiares um feudo em Roana, uma das Sete Comunas do planalto 52

Tessari, João Antônio. Memórias. E.A., 1994 Santos (2006), op. cit. 54 Tessari, op. cit. 55 Jocteau, Gian Carlo. “Un censimento della nobiltà italiana”. In: Meridiana, 1994 (19) 56 Cenni, Franco. Italianos no Brasil: "andiamo in 'Merica". EdiUSP, 2003 57 Giron, Loraine Slomp & Herédia, Vania Beatriz Merlotti. Identidade, Trabalho e Turismo. Universidade de Caxias do Sul, 2006 58 Machado, Maria Abel & Herédia, Vania Beatriz Merlotti. “Associação dos Comerciantes: Uma Forma de Organização dos Imigrantes Europeus nas Colônias Agrícolas no Sul do Brasil”. In: Scripta Nova – Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales. Universidad de Barcelona, 2001; 94 (28) 59 Maestri, op. cit. 60 Machado, Maria Abel. Construindo uma Cidade: História de Caxias do Sul – 1875-1950. Maneco, 2001 53

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vicentino, onde havia uma vila chamada “Sartori”, de onde adotaram o novo nome. Andrea faleceu um ano depois de chegar, mas os novos Sartori permaneceram na nobreza de Vicenza como vassalos dos sucessivos bispos, adquirindo projeção e grandes posses na área. 61 62 No século XVI a nobreza vicentina seria reforçada com a aquisição do patriciado por outro grupo,Ver nota 63 também procedente das Sete Comunas e sem dúvida parentes, com passagem intermediária por Valstagna e Bassano del Grappa, onde foram patrícios poderosos e também riquíssimos, dando numerosos ramos para esta região, todos eles nobres ou patrícios.64 65 66 No sistema italiano, uma vez enobrecidos os fundadores, toda sua descendência era automaticamente enobrecida, podendo, porém, perder-se o estatuto em algumas circunstâncias. Depois do século XVI Bassano tornou-se a principal sede dos Sartori na Província de Vicenza, mas vários documentos atestam a nobreza da família especificamente na capital Vicenza. A República de Veneza a confirmou em 1726,67 um manuscrito do século XVIII, mas sem data precisa, afirma que ali a família era antiga e ilustre,68 e um outro registro, não totalmente seguro, é de 1828.69 A última atestação foi dada por Giovanni di Crollalanza,70 afamado especialista em heráldica e genealogia, que escreveu um livro em 1886 onde cita os Sartori de Vicenza como nobres com armas idênticas às que o erudito historiador Sebastiano Rumor indicou terem sido concedidas no século XVI a Nicolò,71 um dos emigrados de Valstagna e Bassano, o primeiro, até onde pude descobrir, a ser admitido no patriciado da cidade. Contudo, no século XIX a nobreza italiana estava passando por Brasão dos Sartori de Vicenza, muitas mudanças. Inúmeras famílias perderam o seu estatuto por segundo Crollalanza e Rumor. causa de empobrecimento ou por mudanças na política, e o novo reino da Itália unificada restringiu fortemente os critérios de reconhecimento, fazendo com que muitas vezes a nobreza fosse conservada apenas por alguns indivíduos e não pelas famílias coletivamente, como foi a prática tradicional do Antigo Regime italiano.72

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Peck, Fanny Morton. “A Roman Consul of the Nineteenth Century”. In: Historical Records and Studies, 1919; (13) Frigo, Rita. Il Passaggio da una regione a Statuto Ordinario ad una Regione a Stastuto Speciale. Gli art. 5 d 132 della Costituizione: Il caso dell’Altopiano di Asiago. Tesi di Laurea. Universitá degli Studi di Verona, 2013 63 O patriciado e a nobreza propriamente dita tinham estatutos diferentes, embora ambos fossem formas de nobreza. Mais detalhes no Volume III. 64 Occhi, Katia. “Affari di famiglie: rapporti mercantili lungo il confine veneto-tirolese (secoli XVI-XVII)”. In: Mélanges de l’École française de Rome - Italie et Méditerranée modernes et contemporaines, 2013; 125 (1) 65 Occhi, Katia. “Mercanti e traffici nel Canale di Brenta (1571-1702)”. In: Perco, D. & Varotto, M. (eds.). Uomini e paesaggi del Canale di Brenta. Cierre Edizioni, 2004 66 Occhi, Katia. “La corsa al legno. Scambi commerciali tra Altopiano e pianura in età moderna”. In: Rigoni, P. & Varotto, M. (eds.). Altopiano dei Sette Comuni (Immagini e territorio). Cierre Edizioni, 2009 67 Comune di Sustinenza di Casaleone. Storia. 68 Manoscritti della Biblioteca civica di Padova riguardanti la storia nobiliare italiana. Collegio Araldico di Roma, 1906 69 Archivio di Stato di Venezia [Mosto, Andrea da (ed.)]. L’Archivio di Stato di Venezia: Indice Generale, Storico, Descritivo. Tomos I - II. Volume V della Biblioteca degli Annales Institutorum. Biblioteca d’Arte Editrice, 1940 70 Crollalanza, Giovanni Battista di. Dizionario stórico-blasónico delle famiglie nobili e notabili italiane estinte e fiorenti. Pisa, 1886 71 Rumor, Sebastiano. Il blasone vicentino descritto ed illustrato. Venezia, 1899 72 Jocteau, op. cit. 62

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Sobre Angelo, pai de Salvador, nada se sabe senão que foi chamado de possidente, um termo empregado para descrever pessoas ricas e aristocratas. Em 1808 um Angelo foi chanceler de Piazzola, a 20 km de Vicenza, mas não se pode garantir que seja ele,73 embora seja o único Angelo encontrado nesta época e nesta região cujo status permite supô-lo como parente. O fato de ele atuar em Piazzola não é significativo. Naquela época era muito comum forasteiros de reputação ou bem apadrinhados serem chamados para assumir cargos administrativos, por uma suposta (e obviamente ilusória) capacidade de se manterem imparciais nas frequentes lutas partidárias locais. Não se sabe tampouco o que sucedeu ao seu núcleo familiar no século XIX. A pesquisa é dificultada pela escassez de registros sobre a história de Vicenza, cujos arquivos sofreram perdas maciças,74 mas alguns Sartori continuaram em uma situação distinguida nesta época. Em 1843, pouco antes da queda para a Áustria, Antonio era notário,75 uma função pelo menos antigamente quase exclusiva da nobreza, em 1857 Antonio e Paolo foram chamados de possidenti.76 Depois aparecem o dottore signor Jacopo, em 1867 funcionário de alto escalão da Secretaria e da Deputação Provincial e ligado diretamente ao Conselho,77 Ver nota 78 e mais alguns outros. Seja como for, em 1854 Salvador já havia partido, tendo casado neste ano na paróquia de Vas, a 12 km de Cornuda, quando tinha cerca de 27 anos. Provavelmente mudou-se fugindo da guerra e de uma situação geral complicada. Vicenza foi invadida por exércitos franceses, italianos e austríacos várias vezes no início do século XIX, e sofreu violenta ocupação pela Áustria de 1848 até 1866, quando ocorreram diversas rebeliões populares.79 Definitivamente não era um bom lugar para se viver. Muitos Sartori desta área foram declarados proscritos entre 1848 e 1849 por terem viajado para fora de suas comunas sem a autorização do governo militar,80 perdendo consequentemente todos os seus direitos políticos e privilégios, e talvez Salvador tenha estado entre eles. Além disso, durante a ocupação austríaca toda a elite vicentina foi reestruturada.81 Ele pode ter aproveitado as novas perspectivas abertas por Bassano del Grappa, comuna historicamente ligada a Vicenza – e onde ele seguramente teve parentes – que em meados do século XIX melhorou uma antiga estrada que ia exatamente até Cornuda, pois Bassano tinha interesse em expandir seus territórios e investimentos para aquela direção, 82 e é a partir desta época que Sartoris são assinalados em Cornuda. Salvador pode ter estado entre os vanguardeiros desta expansão, pois Ludovico Beretta Sartori, seu bisneto, informou que ele era sócio em uma grande empreiteira que se ocupava justamente da construção de estradas, e ao que tudo indica estava muito bem de vida. Mas se planejava sossegar na nova área que escolheu para viver, não teve sorte, pois por razões desconhecidas o seu sócio entrou em conflito com as autoridades locais, prejudicando os negócios, e Salvador acabou viajando, depois de ter vendido todos os seus bens e investimentos, que aparentemente eram expressivos, pressionado por uma situação adversa e enganado pela propaganda dos colonizadores, que lhe prometeram grandes facilidades no Brasil. Como a História mostra, se 73

Giornale italiano: tutti gli atti d'amministrazione posti in questo foglio sono ufficiali. Agnelli, 1808 Marcadella, Giovanni (ed.). Guida generale degli Archivi di Stato. Archivio di Stato di Vicenza 75 Almanacco per le provincie soggette all' imperiale regio governo di Venezia pel l’anno 1843. Andreola, 1843 76 Formenton, Francesco. Rimembranze sul nuovo piano di manutenzione stradale. Paroni, 1857 77 Atti del Consiglio provinciale di Vincenza: sessioni straordinarie ed ordinaria del 1867. Sante Pozzato, 1868 78 Atualmente os Sartori continuam sendo família de destaque em Vicenza, dando vários outros notáveis, como Amalia, conselheira comunal, e Giovanni Maria, nascido em Vicenza e feito bispo de Adria e arcebispo de Trento. 79 Preto, Paolo. Storia di Vicenza, III/2 – L'Età della Repubblica Veneta. Pozza, 1989 80 Raccolta degli Atti Ufficiali dei Proclami ec. Emanati e Publicati in Milano dalle Diverse Autorità Durante l’ I. R. Governo Militare Dal 6 Agosto 1848 al 31 Marzo 1849. Pirola, 1949 81 Preto, op. cit. 82 Geronazzo, Davide. Storia di Bassano del Grappa, Vol. 2. Comune di Bassano del Grappa, 2013 74

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esperava encontrar facilidades e paz no Novo Mundo, tampouco teria muito sucesso, como logo veremos. É curioso que a tradição oral que sobreviveu na família caxiense não refira uma história de nobreza ancestral, mas na verdade se sabe muito pouco sobre ela nos primeiros trinta anos após sua chegada. Neste grande intervalo, perdeu-se praticamente tudo o que poderiam ter informado aos seus novos amigos a respeito do seu passado na Itália, e mesmo a vida do patriarca Salvador na vila de Caxias, a despeito da alta posição que conquistou, é conhecida muito pobremente. Ao mesmo tempo, considerando os ideais que conhecidamente sustentou no Brasil, é muito provável que a versão oficial sobre a viagem não conte toda a história e que outros motivos tenham contribuído para levá-lo a abandonar a Itália, nomeadamente seu catolicismo fervoroso, sendo um apoiador do ultramontanismo, num tempo em que os liberais, maçons e anticlericais italianos tinham grande poder e perseguiam seus desafetos, e seu republicanismo convicto, uma posição política difícil de conciliar numa Itália monárquica que naquela época se empenhava em consolidar o novo Estado unificado e também fazia sua “caça às bruxas”. Esse republicanismo pode ter sido ainda um fator determinante para ele não dar importância a um passado nobre e preferir esquecê-lo em vez de gabar-se dele. De qualquer modo, as evidências apontam para uma origem claramente diferenciada em relação à média dos outros imigrantes. Ludovico disse que o patriarca era letrado e veio com dinheiro, em poucos anos a família se tornaria notória na vila pela sua cultura e sofisticação; tiveram negócios de vulto, diversas terras na zona suburbana e rural e vários terrenos e imóveis bem no centro, e logo alguns seriam listados entre os cidadãos mais ricos de Caxias. Sem querer duvidar do seu documentado empreendedorismo, seria pouco provável que tanto progresso pudesse ocorrer em tão pouco tempo sem um bom capital anterior. Por outro lado, a tradição que refere o estabelecimento da família “há gerações” em Cornuda pode ter algo de verdadeiro, se quisermos ser mais flexíveis com a geografia. Seu avô Gaetano pode ser o Gaetano Sartori atestado em meados do século XVIII em Cavaso del Tomba, a pouco mais de 10 km de Cornuda. 83 A fonte não informa se ele nasceu ali, nem permite assegurar que eram a mesma pessoa ou que o de Cavaso pertencia ao tronco vicentino, embora por ele ser nobre seja bem possível, como será discutido em detalhe no Volume III. Mas deixemos este tópico para mais tarde e passemos à vida de Salvador no Brasil. Chegando a Caxias, Salvador fixou-se primeiramente no lote rural nº 19 do Travessão Umberto I da 6ª Légua.84 Vieram outros Sartori na mesma época, que segundo Costamilan eram da família de Salvador e haviam se radicado como ele em Cornuda. Ele não cita seus nomes, mas a partir dos registros de chegada que referem Cornuda como procedência, e de documentos a respeito da família de Marietina Sartori, são eles: Francesco, filho de Angelo, casado com Anna Pinzon; Antonio I, filho de Angelo, casado com Angela Pillon; Lorenzo, filho de Angelo, casado com Eva Maria Casagrande; Giuseppe, filho de Francesco, casado com Giuseppina Lizzoni; Antonio II, filho de Francesco; Angelo II, sobrinho de Antonio I; Agostino, filho de Valentino Sartori e Francesca Antoniazzi, casado com Teresa Curtolo, Alberto e Giacomo. 85 Ver nota 86 83

Farronatto, Gabriele. “Il modello di villa veneta artigianale nel pedemonte tra Brenta e Piave”. In: Atti e Memorie dell’Ateneo di Treviso, 2005/2006; (23):323-344 84 Adami (1971), op. cit. 85 Gardelin & Costa, op. cit. 86 Chegaram numerosos outros Sartori, cujas cidades e províncias de origem eram outras, mais outros cuja origem não é declarada, e outros de nome Sartore, Sartorio e Sartor. O parentesco desses com os meus é bastante duvidoso, mas não deixa de ser possível, de maneira longínqua, e mesmo as variantes são muitas vezes atestadas na Itália como consanguíneas. Porém, entre aqueles de origem não declarada, podem ter vindo alguns do sul da Itália e mesmo de outros países, onde o sobrenome também é atestado, mas esses são grupos diferentes, que se

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Francesco, Lorenzo e Antonio I sem dúvida eram irmãos de Salvador. Marietina Sartori, filha de Francesco, sabidamente era prima da Maria filha de Salvador, e o nome do pai de Salvador, Francesco, Lorenzo e Antonio I é o mesmo, mas Lorenzo tem uma mãe que parece ser outra, Giacoma Branchini ou Bianchi, embora o primeiro nome de ambas seja muito parecido. Angelo pode ter casado duas vezes, primeiro com Giacomina Toffolon e depois com Giacoma, ou seria mais um dos muitos erros e trocas de nomes de que os registros estão cheios? Gardelin & Costa referem que houve um escrivão nos primórdios de Caxias, Martim Ayres, que estropiou os nomes de toda uma geração de colonos. Seja qual for o seu passado, nas palavras de Gardelin & Costa, Salvador “será personalidade de grande relevo na vida de Caxias”, com “muitos e exitosos descendentes”.87 Segundo Costamilan, “forjado no crisol da luta diária, bem cedo viu seu nome acatado no seio da comunidade”, mas não se sabe exatamente como a família viveu nos primeiros anos. Em depoimento ao Arquivo Histórico Municipal, 88 sua neta Graciema Paternoster Pieruccini disse que suas tias trabalharam duro na terra, mas não descreve bem o contexto. Costamilan refere que o seu primeiro estabelecimento na zona rural era provisório, não tendo encontrado lotes vagos na sede urbana, dando sentido à afirmação de Graciema sobre suas tias, mas tornando seu trabalho na terra coisa de circunstância emergencial. Realmente, eles chegaram em 1879, poucos anos depois da abertura da colônia, não havia nada bem estruturado, estava-se mesmo na fase da derrubada da mata para abrir espaço para o que viria depois, e a administração da colonização não dava conta de todas as demandas, deixando os colonos muito à sua própria sorte. Mas com os recursos que trouxe, bem poucos anos depois da sua chegada Salvador abriu um comércio. Adami diz que estava entre os primeiros a se dedicar a esta atividade,89 e Maria Abel Machado indica que pelo menos desde 1883 há registro seu neste ramo, já instalado na Sede Dante, 90 tendo adquirido o lote urbano nº 10 da quadra 31, escriturado no ano seguinte, fazendo frente para a Praça Dante Alighieri, o coração do povoado, onde montou o seu negócio e também passou a morar com a família. Ele adquiriu mais três outros lotes urbanos: o de nº 9 da quadra 31, vizinho de fundos do outro, que destinou ao filho Lino, ambos com a lateral dando para a atual rua Marquês do Herval, e os de nos 3 e 5 da quadra 40, com face para a atual rua Pinheiro Machado, destinados respectivamente aos filhos Luigi e Alberto.91 E além do seu lote rural, comprou mais três, que destinaria para seus filhos. Salvo os grandes latifundiários da região, como os Feijó, que possuíam antigas sesmarias, não incluídas nos planos do governo para esta Colônia, e certos grupos familiares de imigrantes que possuíram vários lotes em conjunto, não encontrei sinais de que algum colono italiano tenha tido individualmente tantas terras como ele em sua chegada, e é plausível que tenha sido o imigrante mais rico que aqui chegou, ou um dos mais ricos. Mas, é claro, colocando isso em contexto, não pode ter sido um grande potentado, pois se assim fosse, não teria precisado emigrar. O que é evidente é que ele tinha meios muito superiores do que o geral dos seus novos compatriotas.

originaram ao que tudo indica de maneira independente dos derivados das Sete Comunas e Vicenza, sem qualquer relação de consanguinidade. Em Caxias um grupo pelo menos, radicado em São Romédio da 5ª Légua, tem origem ao que parece franco-suíça. 87 Gardelin, Mário & Costa, Rovílio. Os Povoadores da Colônia Caxias. 2ª Edição. EST, 2002 88 Pieruccini, Graciema Paternoster & Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami (AHM). “Memória: De cor”. Pioneiro, 11/05/1985 89 Adami, João Spadari. Caxias, a Pérola das Colônias. Tipografia d’O Momento, 1950 90 Machado (2001), op. cit. 91 Gardelin & Costa 2ª ed., op. cit.

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A seta indica a casa que foi a primeira de Salvador na Praça Dante. Foto do AHM. A data da foto é desconhecida, sabe-se apenas que foi batida antes de 1900. Mas não pode ser anterior a 1880-1881, pois a disposição das casas já reflete a retificação da avenida Júlio de Castilhos ocorrida neste período, nem pode ser muito próxima de 1900, pois então todas essas edificações já haviam sido substituídas. Pela feição das casas, penso que seja de c. 1885. Mas ele não tardaria em reformá-la e ampliá-la, ocupando os lotes 8 e 10, mais que dobrando o seu tamanho, como se vê em uma imagem de 1904, reproduzida na página 57, reforma que deve ter ocorrido imediatamente ou pouco após a aquisição do lote 8, evento cuja data não foi determinada, mas pelo estilo da estrutura que foi erguida, não se sugere data posterior a 1890.

Sobre seus irmãos e outros parentes, praticamente nada se sabe, de muitos sequer se conhece o local exato de fixação e a maioria desaparece dos registros logo depois da chegada. Provavelmente acabaram se mudando para outras cidades. Em algum momento não determinado, provavelmente entre 1885 e 1890, adquiriu também o lote 8 da quadra 31, contíguo ao lote 10 e também faceando a Praça Dante, originalmente propriedade de Vittorio Panarari. Nesta época substituiu sua residência primitiva por um enorme casarão, um “elegante palacete” 92 ao que parece composto de quatro módulos independentes. Alguns filhos já eram adultos, talvez já estivessem casando, e deviam estar precisando de um espaço próprio. O que se sabe dos investimentos de Salvador em seus primeiros tempos é o que consta nos Livros de Registro de Imposto sobre Indústrias e Profissões, mantidos pela Prefeitura a partir de 1892, onde ele aparece como dono de um “negócio”, uma bodega e um açougue. Seu filho Lino criava ou negociava gado e tinha um matadouro. O que foi exatamente o seu “negócio” é incerto. Na época, os “negociantes” não eram simples comerciantes e faziam mais do que comprar e vender. Podiam também operar com transporte, crédito e poupança e produzir parte dos produtos comerciados, mantendo manufaturas e pequenas indústrias, e até mesmo quartos para hóspedes.93 Costamilan relata que ele também produzia sapatos, e segundo as lembranças de sua neta Pasqualina Sartori, ele manteve uma tropa de mulas para transporte de mercadorias entre Caxias e São Sebastião do Caí, onde descarregavam em vapores mercantes para continuar até a capital, Porto Alegre, muitas vezes fazendo pessoalmente as viagens junto com os tropeiros.94 92

“L’accredita filiale caxiense”. Città di Caxias, 29/06/1914 Giron, Loraine Slomp & Bergamaschi, Heloísa Eberle. Casas de Negócio: 125 anos de imigração italiana e o comércio regional. EDUCS, 2001 94 Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami. Banco de Memória, FG 003. Entrevista com Pasqualina Sartori e Rosalina Sartori, 11/03/1981 93

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Planta de Caxias em 1880-81, obtida em Gardelin & Costa 2ª ed. Em verde está assinalada a Praça Dante Alighieri. Em azul, os lotes que Salvador adquiriu, e em rosa outros que em algum momento foram de seus filhos Ludovico, Carolina, Amalia, Massimo e Alberto.

Livro de Registro de Imposto sobre Indústrias e Profissões, 1893

Livro de Registro de Imposto sobre Indústrias e Profissões, 1899

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Livro de Registro de Impostos sobre Indústrias e Profissões, 1903

No fim do século o matadouro e o açougue haviam passado para as mãos exclusivas de Salvador, e Lino se direcionaria para a produção de vinhos e destilados. Em 1899, no último ano de vida de Salvador, ele já tinha acrescentado aos seus investimentos um curtume. Após sua morte por algum tempo alguns filhos mantiveram sociedade conjunta da sua parte da herança, mas depois a desmembrariam e desenvolveriam empreendimentos separados. Ludovico e Massimo já aparecem no Livro de Registro de Impostos sobre Indústrias e Profissões de 1903 em entradas individualizadas, o primeiro com um negócio e o outro com um açougue. Graciema traz lembranças sobre o negócio dos Sartori, já no início do século XX, que pode lançar uma luz sobre o que Salvador havia mantido antes: “A casa dos meus tios Sartori era tudo. Porque lá era café, tinha um salão de café com o bilhar, salão para jogar cartas, bebida, tinha fazendas, com toda a qualidade de fazenda. Depois tinha uma vitrine muito grande, parece de ver agora, uma vitrine que se empurrava para cá e para lá, cheia de lenços de seda que usava de botar na cabeça, aqueles colares... “ 95 Ao que tudo indica Salvador também foi produtor de vinho. Adelchi Colnaghi, no jornal Stella d’Italia, edição de 11 de maio de 1902, recordou a visita de Júlio de Castilhos à colônia em 1897, e cita que “o vinho das cantinas do velho Sartori concorrera com o sol a fim de esquentar o ambiente”.96 Gardelin, analisando a passagem, não conseguiu identificar quem seria este “velho Sartori”, mas o Sartori em maior evidência naquela data era Salvador, já era efetivamente velho, vindo a falecer dois anos mais tarde, e ele foi amigo de Júlio de Castilhos, sendo muito natural que oferecesse os vinhos nas homenagens ao ilustre político. 95 96

Pieruccini & AHM, op. cit.. Gardelin, Mário & Costa, Rovilio. Colônia Caxias: Origens. EST, 1993

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Além disso, no jornal A Federação de 11 de julho de 1899 foi citada sua participação naquelas festividades, e com a mesma expressão: “Quando lá esteve o nosso benemérito e eminente chefe, dr. Júlio de Castilhos, o velho Sartori apresentou-se o mesmo republicano devotado à causa do Rio Grande e ao preclaro político”.97 Parece não haver muito espaço para duvidar da identificação, e essas cantinas devem ser a origem da grande vinícola que seus filhos Alberto e Lino teriam anos depois. O fato é que, segundo dizem Costamilan e Adami com clareza, poucos anos após sua chegada os Sartori já haviam sido reconhecidos como uma das famílias mais ilustres da colônia, levavam uma vida de considerável conforto, até de luxo, e Costamilan cita as joias e figurinos elegantes das mulheres nas festas e as “pesadas” correntes de ouro dos relógios de bolso que os homens usavam. Sua distinção é atestada também pelo jornal A Federação, da capital do estado. No ano de 1890 Salvador foi mencionado como um dos “conceituados” cidadãos do lugar, estando envolvido na política e evidenciando ter fortes ligações com os altos poderes de Porto Alegre, sendo um dos seus homens de confiança, um dos fundadores e primeiros dirigentes locais do Partido Republicano, e indicado pelo Governo do Estado para integrar a primeira Junta Governativa no ato da constituição formal da vila. Outras fontes o descrevem como um dos comerciantes mais ricos de Caxias nesta época e uma das figuras públicas mais influentes.98 99 100 101 102 Miriam Santos assinalou que neste período o poder estava principalmente nas mãos dos comerciantes, dizendo que é “o desenvolvimento do comércio que propicia a diferenciação e a estratificação social”.103 Naturalmente Salvador se beneficiou deste contexto, que desencadeou a formação da primeira elite caxiense, ocupando desde cedo um lugar de destaque naquela sociedade que se fundava. A colônia passou por três etapas em seu início: a primeira, de 1875 a 1884, ligada diretamente ao Governo Imperial, com sua administração conduzida pela Diretoria de Terras; a segunda a partir de 1884, quando se tornou um distrito do município de São Sebastião do Caí, e a terceira inicia em 1890, quando o distrito foi elevado à condição de vila, tornando-se um município autônomo.104 A transformação da colônia em distrito de São Sebastião não foi bem recebida pelos colonos. A sede municipal agora ficava a mais de 60 km de distância, e para pagarem seus impostos e se dirigirem às autoridades os colonos perdiam uma semana de trabalho entre ida e volta, pois as estradas ainda eram precaríssimas, na verdade apenas picadas abertas na mata, e em dias de chuva facilmente se tornavam intransitáveis. Além disso, a colônia, nesta etapa de seu desenvolvimento, necessitava de muito auxílio em todos os sentidos, mas os políticos de São Sebastião praticamente ignoraram as demandas, deixando o seu novo distrito em abandono.

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“Comunicam-nos de Caxias”. A Federação, 11/07/1899 “Caxias”. A Federação, 09/06/1890 99 Machado (2000), op. cit. 100 Biavaschi, Márcio Alex Cordeiro. Relações de poder coronelistas na Região Colonial Italiana do Rio Grande do Sul durante o período borgista (1903-1928). Tese de Doutorado. PUCRS, 2011 101 Centro de Memória da Câmara Municipal de Caxias do Sul [Onzi, Geni Salete (org.)]. Palavra e Poder: 120 anos do Poder Legislativo em Caxias do Sul. Caxias do Sul: Ed. São Miguel, 2012 102 Campos Jr. José Cândido de. “Intendência Municipal de Caxias”. O Caxiense, 28/04/1898 103 Santos, Miriam. Bendito é o Fruto: Festa da Uva e identidade entre os descendentes de imigrantes italianos. Léo Christiano Editorial, 2015 104 Alves, Eliana Rela. Fides Nostra, Victorian Nostra. Os italianos católicos e o processo de aquisição do poder político na Intendência de Caxias (1890 - 1924). Dissertação de Mestrado. PUCRS, 1995 98

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Conforme Giron & Bergamaschi, em vista dessa situação, os comerciantes, que já haviam se mostrado a maior força econômica do povoado, decidiram se organizar para obter a emancipação, e começaram tratativas neste sentido com o governo estadual.105 Elas dariam fruto em 20 de junho de 1890, efetivando-se a emancipação do distrito, comemorada com três dias de festa.106 Em vista do que ocorreu em sequência – a indicação da primeira Junta Governativa, da qual Salvador fez parte –, provavelmente desde o início da mobilização dos comerciantes ele teria sido membro ativo do grupo emancipacionista e já teria revelado qualidades de liderança e confiabilidade, e deve ter sido este o caminho que o levou ao poder e o tornou um dos principais líderes comunitários da Caxias do século XIX. Machado fala sobre este período: “A expectativa das lideranças políticas gaúchas sobre a população de imigração italiana foi além dos aspectos econômicos, passando pela esfera da política partidária. O Partido Republicano Riograndense que, em 1892, assumiu o poder no Rio Grande do Sul, tinha como núcleo de decisão parte dos fazendeiros e elementos da classe média urbana, mas precisava buscar uma ampliação social de suas bases, naqueles setores da sociedade gaúcha politicamente disponíveis, como era o caso da nascente burguesia da região colonial italiana, que por sua vez careciam de uma aliança com o poder político estadual para garantir o apoio necessário ao atendimento de suas reivindicações. “Os primeiros imigrantes chegaram à região em 1875 e passaram a ocupar os lotes rurais a eles destinados, com o objetivo de implantar uma experiência de minifúndios, onde a mão-de-obra devia ser livre. De conformidade com o modelo de colonização adotado para povoar a região, os imigrantes foram assentados com a finalidade de trabalhar a terra e produzir alimentos para abastecer o mercado interregional e interestadual. A administração pública cabia ao governo da Província, que mantinha os seus funcionários e colaboradores na região, representados pela Comissão de Terras e Colonização, para que houvesse ordem, harmonia e respeito à legislação vigente. Isso significava que os imigrantes deviam trabalhar e obedecer. O nível de exigência era tão rigoroso que, para saírem da Colônia, precisavam de uma autorização do seu diretor, sob pena de serem enquadrados no regulamento que previa a perda dos direitos adquiridos, inclusive relativos à terra, sob a alegação de abandono da propriedade. “Em 1890, a Colônia Caxias, como era denominada, já contava com 16.000 habitantes e tinha se tornado num centro econômico ativo e próspero, demonstrando condições de se autogovernar. Por outro lado, os problemas que o governo provincial vinha enfrentando com os diretores e funcionários da Comissão de Terras e Colonização levaram-no a decidir pela emancipação, que se deu a 20 de junho daquele ano. A administração foi entregue [em 2 de julho] a uma Junta Governativa, constituída por Angelo Chittolina, Ernesto Marsiaj e Salvador Sartori, depois acrescida de mais dois integrantes: Germano Parolini e Pedro Oldra, que ficou responsável pela organização do novo município”.107

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Giron & Bergamaschi, op. cit. Centro de Memória da Câmara Municipal de Caxias do Sul, op. cit. 107 Machado (2000), op. cit. 106

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Comitiva oficial chefiada pelo governador do Estado, o general Cândido José da Costa, chegando de Porto Alegre para a instalação da Junta Governativa de Caxias do Sul, quando tomaram posse Salvador Sartori, Angelo Chittolina e Ernesto Marsiaj, 1890. Foto AHM

A Junta atuou num período de fortes conflitos entre colonos, Igreja, maçons, liberais, conservadores e o poder civil, tendo os imigrantes trazido consigo para a colônia antigas disputas e rivalidades que mantinham na Itália, e enfrentando ao mesmo tempo novos e sérios desafios gerados pela conjuntura local. Diz o Centro de Memória da Câmara Municipal de Caxias do Sul (CMCMCS) sobre o ambiente onde Salvador se moveu: “Com a Proclamação da República, em 1889, republicanos e federalistas estiveram em disputa constante pelo poder dirigente. O fechamento do Congresso Nacional, pelo então presidente do Brasil, marechal Deodoro da Fonseca, em 3 de novembro de 1891, levou a manifestações contrárias em todo o país. No Rio Grande do Sul, as disputas entre o grupo republicano, que apoiava Júlio de Castilhos, e o grupo federalista, liderado por Assis Brasil, geraram conflitos que repercutiram em Caxias. No município também havia dois grupos: um deles, formado pela maioria dos comerciantes, apoiava o Partido Republicano Rio-grandense (PRR) e outro grupo se alinhava aos federalistas. “Revoltas de colonos, enfrentamentos entre federalistas e republicanos, conflitos entre maçons e católicos, atentados, exoneração de intendentes e conselheiros, conflitos entre instituições, Intendência e Conselho Municipal. Grandes disputas no campo da política, entre os anos de 1892 a 1924, marcaram o primeiro período administrativo do município de Caxias. Os desentendimentos na política local não eram fatos isolados, mas se relacionavam aos acontecimentos em nível estadual, nacional e até mundiais. As disputas políticas pelo governo do estado, após a Proclamação da República, os conflitos entre maçons e católicos na Itália, decorrentes da sua unificação, enfim, fatores externos somados às disputas locais pelo poder político-administrativo resultaram em grandes crises. [...]

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“A participação político-administrativa dos maçons em Caxias já se fez presente desde a nomeação dos primeiros administradores públicos do município. Com a emancipação de Caxias, em 1890, o governo do estado nomeou a Junta Governativa para administrar o município. Dos três componentes nomeados, dois − Angelo Chittolina e Ernesto Marsiaj − eram maçons. Somente Salvador Sartori não fazia parte do grupo”.108 As transcrições feitas por Adami 109 de documentação posteriormente perdida permitem-nos conhecer pelo lado de dentro um pouco da participação de Salvador na administração pública naqueles tempos em que tudo estava por fazer. Um dos primeiros ofícios emitidos pela Junta, de nº 8, é como segue: Cidadão. Na presente época todos os impostos anuais facilmente cobráveis já o foram pela Intendência Municipal de São Sebastião do Caí, em todo este novo município; entretanto, carece esta Intendência de pronta importância precisa para reparo do Paço Municipal e atender a consertos urgentíssimos que reclamam diversas ruas e a Estrada Geral, quase intransitáveis. Podia recorrer ao crédito ou à cobrança dos impostos e multas devidos, mas repugnalhe iniciar as suas funções vexando os seus co-munícipes, embora o faça no cumprimento de um dever. Assim resolve pedir-vos aprovação para a resolução que toma de relevar daquela multa a todos que dentro de 30 dias, contados de hoje, satisfizerem voluntariamente seus débitos. E como este prazo não possa ser aproveitado pelos moradores dos confins do município, a mesma Intendência deseja ter a faculdade de prorrogá-lo até mais 30 dias, e vo-la pede. Saúde e Fraternidade. Intendência Municipal de Caxias, 3 de julho de 1890. Ao cidadão general-de-divisão Cândido Costa, d.[igníssimo] Governador do Estado. [Assinam] Ernesto Marsiaj, Angelo Chittolina, Salvador Sartori. Este ofício já assinala um dos principais problemas enfrentados pelo governo recémempossado. Assim que houve o desligamento de São Sebastião do Caí o novo município se viu completamente desprovido de verbas, e a solução encontrada foi a cobrança imediata dos impostos devidos e das multas de atraso. Isso causou insatisfação popular, ainda mais porque muitos colonos ainda estavam em difícil situação, fazendo com que muitos acabassem perdendo suas terras diante da impossibilidade de cumprir suas obrigações legais. A situação permaneceu complicada por vários anos, pois alguns colonos ainda faziam pagamentos no Caí, que não eram devolvidos a Caxias, e a Comissão de Terras, que também cobrava suas taxas, igualmente não repassava os fundos ao Município; na prática, os colonos passaram a pagar os impostos em dobro. Disso surgiriam novos e graves atritos entre o poder público e os colonos, os quais, somados a outras disputas que ferviam, contribuiram para transtornar a vida de todos.110

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Centro de Memória da Câmara Municipal de Caxias do Sul, op. cit. Adami (1971), op. cit. 110 Giron & Bergamaschi, op. cit. 109

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A Praça Dante em torno de 1900, o centro nervoso da vila, onde tudo acontecia e onde Salvador também morava. Foto AHM.

Outros documentos também são interessantes. O de nº 13 diz: Cidadão. O prédio onde funciona a aula do sexo masculino desta vila, de propriedade nacional, está carecendo de consertos, os quais, a requerimento do professor Jerônimo Pereira Porto, foram já orçados, e deixaram de ser feitos por falta de verbas, e isso há mais de um ano. Hoje ainda mais urgentes se tornam aqueles consertos, e por isso esta Intendência vos pede que sejam eles levados a efeito, no interesse da higiene escolar e do próprio Estado. Saúde e Fraternidade. Intendência Municipal de Caxias, 5 de julho de 1890. Ao cidadão general-de-divisão Cândido Costa, d.[igníssimo] Governador do Estado. [Assinam] Ernesto Marsiaj, Angelo Chittolina, Salvador Sartori. Nº 19: Cidadão. Em um município tão vasto como este, e tão distante do centro, habitado em sua maioria por pobres agricultores, como tivestes ocasião de ver, uma só farmácia é um mal: é autorizar o monopólio, é colocar o cidadão na alternativa de usar de remédios manipulados por quem não lhe merece confiança e pagar por eles o décuplo de seu valor, ou de ver o enfermo que lhe é caro morrer à míngua de recursos medicinais. O hábil farmacêutico Hugo Ronca, que goza de geral e inteira confiança, por duas vezes requereu à Inspetoria Geral de Higiene licença para abrir uma farmácia neste município e lhe foi negada a pretexto de que há já nele um licenciado; mas se este 47

licenciado não satisfizer os que precisam de recursos medicinais, a quem hão de recorrer? Esta Intendência, no interesse unicamente de seus co-munícipes, ocupa-se do assunto e pede a vossa alta interferência a fim de que seja concedida aquela licença. Saúde e Fraternidade. Intendência Municipal de Caxias, a 20 de setembro de 1890. Ao cidadão general Cândido Costa, d.[igníssimo] Governador do Estado. [Assinam] Ernesto Marsiaj, Angelo Chittolina, Salvador Sartori. Nº 23: Cidadão. Carecendo esta Intendência de um termo legal, completo, de pesos e medidas para o serviço de aferição, pede que vos digneis dar as ordens necessárias nesse sentido, correndo por conta da mesma Intendência toda a despesa a fazer-se. Saúde e Fraternidade. Intendência Municipal de Caxias, 28 de outubro de 1890. Ao cidadão general-de-divisão Cândido Costa, d.[igníssimo] Governador do Estado. [Assinam] Ernesto Marsiaj, Angelo Chittolina, Salvador Sartori.

Nº 24: Cidadão. Como sabeis é esta vila ainda edificada em geral com madeira de pinho, razão porque a polícia tem proibido queimar-se foguetes nas ruas; mas apesar dessa proibição o abuso se tem repetido e a 4 do corrente ia dando lugar a ser toda uma quadra presa das chamas. E para melhor impedir que tal abuso se reproduza vos pedimos que autorizeis a esta Intendência adicionar ao Código de Posturas provisoriamente em vigor no município a seguinte disposição: “Queimar foguetes, pistolões ou atirar bombas no recinto da vila – Multa de 20$000 réis”. Saúde e Fraternidade. Intendência Municipal de Caxias, 7 de novembro de 1890. Ao cidadão general Cândido Costa, d.[igníssimo] Governador do Estado. [Assinam] Ernesto Marsiaj, Angelo Chittolina, Salvador Sartori.

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Seu mandato na Junta foi breve. Pediu dispensa em 13 de fevereiro de 1891,111 mas em 20 de outubro foi realizada eleição para o primeiro Conselho Municipal. Salvador concorreu e foi eleito. O Conselho, órgão hoje correspondente à Câmara de Vereadores, por algum tempo acumulou também funções executivas da Junta, que encerraria suas atividades em 15 de dezembro do mesmo ano, e acabou composto pelos comerciantes mais ricos da cidade.112 113 A Federação assinalou como a eleição transcorrera com tranquilidade, e considerava o resultado das urnas previsível. Salvador obteve 510 votos.114 Contudo, logo em seguida explodiriam novos tumultos, conforme o histórico levantado pelo CMCMCS: “Em 26 de novembro de 1891, 36 dias após a eleição do Conselho Municipal e cinco dias antes da data marcada para a sua instalação, ocorreu uma resistência política em Caxias, conhecida como Revolta dos Colonos, com o objetivo de tomar o controle da administração do município. A Junta Governativa foi deposta pela Junta Revolucionária Municipal, liderada por Affonso Amabile e presidida por Francisco Januário Salerno. O grupo revolucionário manteve-se na Intendência por dezoito dias. Alegava descontentamento geral dos caxienses com a Junta Governativa, devido aos elevados impostos cobrados da população, e reclamava da falta de estradas e da má conservação das existentes. Os revoltosos também não concordavam com posições político-ideológicas de alguns conselheiros, reflexo da disputa estadual pelo poder dirigente e das rivalidades trazidas da Itália referentes à unificação italiana. Em 14 de dezembro de 1891, a Junta Governativa reassumiu as suas funções e, no dia seguinte, instalou o Conselho Municipal eleito em outubro de 1891. Porém, no dia 9 de janeiro de 1892, o Conselho Municipal encaminhou um ofício ao governador do estado. [...] O ofício informava [...] que Salerno havia retirado os móveis da casa onde funcionava a Intendência e que a vila encontrava-se na maior anarquia. [...]

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Bergozza, Rosali Maria. Escola Complementar de Caxias: histórias da primeira instituição pública para formação de professores na cidade de Caxias do Sul (1931-1950). Dissertação de Mestrado. UCS, 2010 112 Biavaschi, op. cit. 113 Giron & Bergamaschi, op. cit. 114 “Eleição em Caxias”. A Federação, 29/05/1893

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“O Governo do Estado ordenou que Salerno devolvesse os móveis e objetos, mas, além de não devolver, Salerno publicou edital, assinando como presidente da Intendência, solicitando aos contribuintes que não pagassem os impostos municipais. Também enviou emissários em todas as linhas do interior do município para divulgar a ação. Salerno e Affonso Amábile faziam discursos nas ruas e tabernas no mesmo sentido. Foi somente com a intervenção do delegado da Polícia do Estado, Francisco Nabuco Varejão, que os móveis e objetos foram devolvidos em 18 de março de 1892”. 115 Mas o clima na vila não se pacificou, e se tornou mais incerto quando o chefe de Polícia foi transferido. Adami preservou outro ofício do Conselho, onde se lê: Ao cidadão Tenente Coronel Chefe de Polícia. Este Conselho Municipal recebeu com grande sentimento de pesar a notícia que o atual delegado de Polícia e comandante da seção da Guarda Cívica nesta vila, alferes Francisco de Nabuco Varejão, teve ordem de se recolher a esta capital. Fica neste modo o comando do destacamento entregue a um dos poucos soldados que existem, e a

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Centro de Memória da Câmara Municipal de Caxias do Sul, op. cit.

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delegacia entregue aos mesmos indivíduos que, quando tiveram jurisdição, cometeram toda sorte de tropelias contra esta pacífica população. Este Conselho, receando que com a retirada do alferes Francisco de Nabuco Varejão seja novamente perturbada a ordem pública pelas próprias autoridades que têm a estrita obrigação de empregar todos os esforços para mantê-la, resolveu pedir-vos digneis permitir que aquele oficial continue em seu cargo de delegado de Polícia e comandante da Guarda Cívica desta vila, como único meio para garantir a paz e tranquilidade neste município. Saúde e fraternidade. O Conselho Municipal de Caxias, 12 de abril de 1892. [Assinam] O presidente Ernesto Marsiaj. Os membros Hugo Ronca, Romano Lunardi, Salvador Sartori, Angelo Chittolina, Benjamin Cortes Rodrigues.116

Numa tentativa conciliadora, em 30 de maio de 1892 o Governo do Estado aumentou de sete para nove o número de conselheiros, incluindo dois integrantes da Junta Revolucionária, Luiz Pieruccini e Domingos Maineri, e indicou Maineri para a Presidência. Os conselheiros aceitaram a nomeação dos dois novos membros, porém protestaram contra a indicação de Maineri para o cargo supremo. Adami mais uma vez é a fonte valiosa, transcrevendo o ofício que o Conselho enviou ao Governo do Estado: Este Conselho teve a honra de receber o vosso ofício nº 2.306 de 30 de maio último, no qual comunicais ter resolvido elevar a nove o número de seus membros e ter nomeado para ocuparem os novos lugares os cidadãos Luiz Pieruccini e Domingos Maineri, sendo este presidente da Corporação. Este Conselho se aceita com íntima satisfação a colaboração dos dois cidadãos que vos dignastes nomear; julga-se, por outro lado, desmoralizado com a designação do cargo de presidente a um dos nomeados. É verdade, devido aos tempos anormais que atravessa o país, tudo é permitido ao Governo, sem dúvida, inspirado no interesse e bem-estar da população. Este Conselho, porém, como sabeis, foi legalmente eleito pelo povo, e não menos legalmente instalado, pois a circular do Governo do Estado de 26 de novembro do ano passado garante os cargos de eleição.

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Adami (1971), op. cit.

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Aceita, todavia, agradecido, a colaboração dos cidadãos nomeados, se lhe permitirdes conservar o seu atual presidente cidadão Ernesto Marsiaj, ou autorizá-lo a elegê-lo do seu seio, como sempre praticou. Se porém entenderdes que sustentando a nomeação do cidadão Domingos Maineri como presidente, fazeis a felicidade da população deste município, estamos prontos a obedecer-vos, dando-lhe posse. Isto é, quando foi resolvido por este Conselho, em sua sessão extraordinária de hoje, convocada expressamente para deferir o juramento dos novos nomeados, se quisessem aceitar, como membros do Conselho, ao que se recusaram. Saúde e fraternidade. Conselho Municipal de Caxias, 6 de junho de 1892. [Assinam] O presidente Ernesto Marsiaj. Os membros Hugo Ronca, Romano Lunardi, Agapito Conz, Salvador Sartori, Angelo Chittolina, Benjamim Cortes Rodrigues.117 O Governo do Estado acatou a solicitação do Conselho e foi marcada uma eleição para a Presidência,118 mas a situação não se resolveu. O grupo oposicionista não aceitou a solução, o clima começou a ferver novamente e, no dia 30 de maio o Conselho enviou outro ofício ao Governo em Porto Alegre: Cidadão General Governador do Estado. Este Conselho, em vista do que está se passando neste município, deliberou em sua sessão extraordinária de hoje, pedir-vos enérgicas providências, a fim de ser restabelecida a paz e tranquilidade nesta pacífica população, perturbada pelos inconscientes bacharel Manoel Claudiono de Mello e Silva e Francisco Januário Salerno com anuência do inepto juiz distrital Miguel Antonio Dutra Neto. De fato o bacharel Manoel Claudino de Mello e Silva está há dias ativamente trabalhando para promover uma revolta dos colonos contra este Conselho Municipal, esse jurando a estes que não devem pagar os impostos municipais, principalmente com multa conforme foi resolvido pelo Conselho em sua sessão de 2 do corrente e publicado por editais da mesma data, cuja cópia vai inclusa, pondo-se à frente de um grupo de sediciosos no dia 25 deste mês com o fim de desrespeitar esta Corporação.

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Adami (1971), op. cit. Adami (1971), op. cit.

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Isto não basta! No dia 28, no meio de um barulho infernal, foram suspensas as audiências do cidadão delegado de Polícia bem como do mesmo juiz distrital, que não teve a devida energia para chamar à ordem aquele advogado, que na mesma audiência em que estava servindo de promotor público, deixava o seu lugar para intervir indevida e brutalmente no que estava fazendo o delegado, e levantava-se para declarar a todos os que vinham pagar seus débitos, que não o fizessem, pois tudo era ladroeira e ninguém devia pagar. Isto em plena audiência. Mas não parou aqui aquele bacharel, porque ontem ele, o juiz distrital Miguel Antonio Dutra Neto, e um tal Giuseppe Leonardi, negociante na 3ª Légua deste município, colocaramse na praça da Matriz e, quando o povo ia saindo da igreja, começou o primeiro a falar alto, repetindo todos aqueles epítetos aviltantes e calúnias que costuma lançar aos membros deste Conselho e às autoridades policiais, que não se sujeitam às suas intimações, instigando os colonos a revoltar-se, o que não aconteceu ainda graças ao espírito ordeiro da população. Não deixa, porém, isto de infiltrar no ânimo dos colonos alguma desconfiança contra as autoridades e principalmente contra este Conselho, o que pode trazer graves consequências, se não forem tomadas, com urgência, as providências que o caso exige. E isto se dá com pleno assentimento e mesmo na presença do juiz distrital, a quem cumpre evitar por todos os meios possíveis alterações da ordem pública. Como medida urgente, deve este juiz ser demitido do cargo que infelizmente ocupa, para ser substituído por um juiz formado, que não careça ser assessorado por quem quer que seja. Quanto às outras cabeças da revolta, espera este Conselho que provicencieis a punição dos criminosos, garantindo assim a ordem e tranquilidade de quanto carece esta laboriosa população. Saúde e fraternidade. O Conselho Municipal de Caxias, 30 de maio de 1892. [Assinam] Ernesto Marsiaj, Hugo Ronca, Romano Lunardi, Salvador Sartori, Angelo Chittolina, Benjamin Cortes Rodrigues.119

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Adami (1971), op. cit.

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Os temores dos conselheiros se concretizaram, e em 25 de junho de 1892, ocorreu a segunda revolta com a participação de cerca de trezentas pessoas. 120 O CMCMCS resume o final da novela: “A resistência aos revoltosos foi impossível, devido ao apoio que as autoridades policiais locais deram à revolta. O Conselho Municipal foi novamente deposto pela Junta Revolucionária, e assumiram a administração municipal os revolucionários Luiz Pieruccini, Domingos Maineri e Vicente Rovea. No dia seguinte, os revolucionários tomaram conta do Correio. O Conselho Municipal solicitou [...] providências enérgicas. [...] “Para acabar com as disputas políticas, o governo estadual nomeou, em 5 de julho de 1892, Antônio Xavier da Luz chefe da Intendência Municipal. Na mesma data o Conselho foi reempossado para organizar a entrega da documentação ao intendente. Antônio Xavier da Luz tomou posse no dia 1º de agosto de 1892 e nomeou Luiz Pieruccini, do grupo revolucionário, como sub-intendente. Os revoltosos devolveram à Intendência o arquivo e os objetos apreendidos durante a revolta”. 121 Depois das formalidades prescritas pelo regimento provisório apresentado pela Intendência, o Conselho foi solene e definitivamente instalado em 26 de setembro de 1892, quando cada conselheiro “prestou o compromisso de desempenhar com toda lealdade e dedicação o mandato que lhes fora confiado pelos seus co-munícipes”,122 permanecendo em atividade até a posse dos segundo Conselho, que ocorreu em fins de setembro de 1896. Passavam pelo Conselho a discussão do orçamento; a política econômica; o controle dos bens do Município; a criação, aumento ou supressão de impostos e a autorização para empréstimos e operações de crédito, entre outras atribuições. Como conselheiro Salvador participou dessas atividades e da aprovação de três importantes leis que organizaram o município e o funcionamento dos poderes Executivo e Legislativo: o Regimento Interno, aprovado em 4 de outubro de 1892, a Lei Orgânica, em 12 de outubro de 1892, e o Código de Posturas, em 5 de março de 1893. 123 124 120

Centro de Memória da Câmara Municipal de Caxias do Sul, op. cit. Centro de Memória da Câmara Municipal de Caxias do Sul, op. cit. 122 Conselho Municipal de Caxias. Acta de Installação do Conselho Municipal de Caxias, 26/09/1892 123 Machado (2000), op. cit. 124 Centro de Memória da Câmara Municipal de Caxias do Sul, op. cit. 121

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Acima, fac-símile da primeira página da Ata de Instalação do primeiro Conselho Municipal em 26 de setembro de 1892. Diz o texto: “Acta de installação do Conselho Municipal de Caxias. Presidencia provisória do conselheiro Ernesto Marsiay. Aos vinte e seis dias do mes de Setembro de mil oitocentos e noventa e dois, na sala do edifício onde funciona a Intendência municipal presentes, as seis horas da tarde, os cidadãos Ernesto Marsiay, Hugo Ronca, Benjamin Cortes Rodrigues, Angelo Chittolina, Salvador Sartori e Romano Lunardi, conselheiros eleitos para decretarem a Lei organica do município, estando ausente por motivo de moléstia, o conselheiro Agapito Conz, pelo cidadão Ernesto Marsiay, anteriormente escolhido presidente provisorio, foram os outros conselheiros convidados a tomarem assento. Depois das formalidades prescriptas no Regimento provisorio, apresentado pelo Intendente, cada um dos presentes prestou o compromisso de desempenhar com toda lealdade e dedicação o mandato que lhes fôra confiado pelos seus co-municipes, e o Conselho foi dado por instalado. [...]”. No alto, à direita, a última página do manuscrito da Lei Orgânica. A assinatura de Salvador está em realce. Ao lado, cópia impressa do primeiro Código de Posturas. Arquivo da Câmara Municipal.

55 Arquivo Histórico da Câmara Municipal.

É interessante fazer alguma menção ao que representaram essas leis. O Regimento Interno organizou o funcionamento do Legislativo e estabeleceu um código de ética para o exercício de cargo público. A Lei Orgânica formalizou a existência do Município, equivalendo a uma Constituição municipal, e criou os instrumentos para a execução das responsabilidades previstas para os municípios na Constituição da República de 1891, fixando as atribuições dos ocupantes de cargos públicos, além de regular os serviços e responsabilidades da administração municipal.125 Sua promulgação foi celebrada festivamente, com uma solenidade na sede do Conselho abrilhantada pela Banda Santa Cecília, e com a maior parte da população reunida na parte externa.126 O Código de Posturas reuniu as normas em todas as áreas de atuação do poder público, com o objetivo de regulamentar o comportamento das pessoas e o uso do espaço urbano, para a manutenção da ordem pública e o fomento do progresso e do bem estar social.127 Algumas das proibições estabelecidas evocam aquele tempo tão diferente do nosso: Andar a galope pelas ruas, multa de 5$000; demorar demasiadamente nas ruas e praças com carretas e tropas carregadas, multa de 10$000; esgotar ou desviar fontes que servem aos viandantes, multa de 50$000; não pintar a frente das construções, multa de 10$000; mendigar sem licença da autoridade, multa de 2$000; deixar os porcos soltos na vila, multa de 4$000; andar nas ruas e praças todo nu, multa de 10$000. 128 129 As primeiras leis definiram também regras sobre a estética das edificações e logradouros públicos, podendo-se ver nisso uma expressão da cultura dos imigrantes. Em breve, de fato, a cidade teria uma grande Catedral, que seria decorada com requinte.130 Ela passou mesmo a representar a síntese do esforço coletivo na esfera do espiritual, o extrato sublimado e transformado em arte do progresso material que brotava na cidade a olhos vistos, e que atestava a cultura que haviam trazido de sua terra, uma cultura de grande riqueza e imensa antiguidade, que até então havia permanecido sonolenta, como que congelada, à espera de que a estação de seu florescimento chegasse. Só chegaria, com efeito, a esta expressão erudita – transcendendo o que foi, no início, criado em folclore simples e rústico, com o pouco instrumental e recursos que havia – com a consolidação do poder econômico da comunidade, que se iniciava nesta mesma época precoce de sua história. Como assinalou o CMCMCS, a construção dessa civilização “precisava ser regulamentada e fiscalizada, para que a paisagem pudesse começar a se produzir de forma harmônica e de acordo com o gosto e o desejo das principais lideranças locais”.131 Na ata do Conselho na promulgação da Lei Orgânica fica clara a importância que se atribuía às regras: “Às duas horas da tarde, reunidos na sala das sessões os conselheiros Marsiaj, Ronca, Cortes, Sartori, Chittolina e Lunardi, foi aberta a sessão. [...] Nesta ocasião pelo mesmo presidente [Marsiaj] foram pronunciadas as seguintes palavras: ‘Ao decretar a Lei Orgânica do Município, este Conselho cumpre o grato dever de congratular-se com o Estado e em particular com os munícipes por este auspicioso fato. Está a laboriosa população de Caxias dotada por esta lei de todos os meios de bem

125

Centro de Memória da Câmara Municipal de Caxias do Sul, op. cit. Machado, op. cit. 127 Centro de Memória da Câmara Municipal de Caxias do Sul, op. cit. 128 Centro de Memória da Câmara Municipal de Caxias do Sul, op. cit. 129 Município de Caxias. Código de Posturas da Vila de Santa Teresa de Caxias, Decreto nº 10 de 5 de março de 1893. 130 Brandalise, Ernesto A. Paróquia Santa Teresa - Cem Anos de Fé e História (1884 - 1984). EDUCS, 1985 131 Centro de Memória da Câmara Municipal de Caxias do Sul, op. cit. 126

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desassombradamente prosseguir em demanda de máximo progresso social e consequentemente material. Assim o entendam e desejem todos aqueles que por sua inteligência e posição estão no caso de dirigir a opinião pública e os destinos deste futuroso município. Amanhã enceta o Conselho suas funções ordinárias e inspirandose no sacrossanto amor pátrio, saberá dar cumprimento aos deveres a que se impõe, começando por dotar o município de uma Lei Orçamentária justa e equitativa’. [...] Foram depois levantados pelo presidente do Conselho vivas à República Brasileira, ao Estado, e à população do município, vivas que foram correspondidos pelos cidadãos presentes, e acompanhados do Hino da República e salvas”.132 Em 2 de março de 1893, por motivo ignorado, Salvador apresentou sua renúncia ao Conselho, mas houve protestos, a dispensa foi negada e ele permaneceu no cargo. Alguns temas de cujo debate Salvador atestadamente participou foram a constituição da Guarda Municipal e da Comissão Municipal para apontar deputados federais, a divisão do município em seções eleitorais, e a construção da estrada entre Caxias e São Sebastião do Caí. Esteve presente nas homenagens ao intendente de Porto Alegre José Montaury e na posse do intendente de Caxias José Domingues de Almeida, e integrou, aparentemente ao longo de todo o seu mandato, duas comissões especiais, do Orçamento, e das Petições e Reclamações. 133 134 135 Havia enfim sido organizado um projeto de civilização, a ser implantada ordenadamente, embora ordem fosse coisa rara ali por então. Pouco depois, em 30 de junho de 1894, Caxias foi invadida por uma tropa de soldados de Belisário Batista, que saquearam o comércio, provocaram incêndios e assediaram edifícios públicos, causando mortes e obrigando a população a se refugiar na zona rural. Era a Revolução Federalista estendendo seus efeitos à região.136 E no meio de todas essas atribulações, nesses anos epidemias de varíola, tifo e cólera ceifaram muitas outras vidas.137 O prédio da Comissão de Terras, danificado pela artilharia dos

Naquele período turbulento de revoltas, caudilhos revoltosos de 1894. Foto AHM. e coronelismo, a família Sartori foi parte central em uma célebre controvérsia envolvendo o padre Pietro Nosadini, vigário da Matriz. Assim que assumiu o governo da paróquia, em 15 de junho de 1896, como se já não houvesse disputas o bastante, o padre lançou mais lenha à fogueira iniciando uma grande campanha contra a Maçonaria. Para veicular suas ideias entre a população, fundou o segundo jornal a circular na vila, Il Colono Italiano, para fazer frente ao O Caxiense, o jornal da oficialidade, além de organizar a Federação Católica, uma rede de associações populares com núcleos em todas as Léguas, com o objetivo de “manter os seus membros e criar no povo e na mocidade sentimentos francamente católicos”.138

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Gardelin, Mário. Caxias do Sul: Câmara de Vereadores: 1892-1950. EST, 1993 Gardelin (1993), op. cit. 134 Centro de Memória da Câmara Municipal de Caxias do Sul, op. cit. 135 Adami (1971), op. cit. 136 Biavaschi, op. cit. 137 Giron & Bergamaschi, op. cit. 138 Machado (2000), op. cit. 133

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Não seria de esperar outra coisa senão uma forte reação dos maçons, que na época tinham seu maior baluarte em José Cândido de Campos Júnior, grão-mestre da loja local e também intendente do município. Diz Costamilan que o padre “havia granjeado a estima e a admiração de toda a população católica”, e segundo Machado, sempre fora um defensor do povo e falava sua linguagem, e sobre o povo a Igreja exercia grande influência, mas toda a administração pública estava principalmente nas mãos dos maçons, demonizados pela Igreja. Para reforçar o movimento, o padre Nosadini invocou o apoio das maiores lideranças católicas, criando um Comitato Católico, do qual Salvador fez parte junto com seu genro Ambrosio Bonalume, mais João Michele, Antonio Moro, Caetano Costamilan, Luiz Michelin e Luiz Baldessarini.139 140 Diante do crescimento da força católica, alegando desejar evitar que Caxias se tornasse outra Canudos, Ver nota 141 o intendente chamou os membros do Comitato para uma reunião, onde tentou fazê-los aceitar a ideia de remover o padre da vila e dissolver as sociedades católicas, por “medida de prudência”.142 O intendente também participou às autoridades de Porto Alegre sobre a tensão que pairava. Disse ele em telegrama de 20 de março de 1898 ao Governo do Estado: “Questão Nosadini agrava-se. Animosidade recrudesce. Trabalho insano acalmar ânimos. Domingo [13/03/1898] predicou verrinamente causando indignação. Ontem à noite [19/03/1898] fez reunião secreta casa Sartori e declarou aguardar a oportunidade para minha deposição [por] julgar eu inconveniente perigosa sua permanência paróquia. Colonos fanáticos aconselhados por ele são capazes tentar. Morrerei defendendo princípios autoridade”.143 A situação se precipitou, e em 24 de março de 1898 o intendente sofreu um atentado, acusando a família Sartori como mandante. No entanto, este atentado deve ter sido uma farsa. Ele foi a única testemunha e saiu ileso do incidente, e o telegrama que enviou a Porto Alegre poucos dias antes, dizendo que morreria em seu posto, soa como o enredo de uma ópera e leva a pensar em premeditação. Além disso, Costamilan, provando-o com documentos, afirma que tudo não passou de uma grande encenação, pois Campos reconhecera em Salvador, ele mesmo declarando-o em correspondência, um oponente poderoso, e tudo indica que tinha interesse em desprestigiá-lo.Ver nota 144 Os recortes que vêm a seguir trazem trechos de uma matéria endereçada ao delegado de polícia e publicada pelo Campos no jornal O Caxiense, ligado ao Partido Republicano, mostrando a sua versão dos eventos.

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Machado (2000), op, cit. Giron, Loraine Slomp. “Maçonaria: uma nova ordem”. História Daqui, 28/03/2012 [A historiadora cometeu um lapso, pois citou “Nicolau Sartori” como membro da Junta Governativa, mas era Salvador quem fazia parte dela.] 141 Canudos foi o palco de uma célebre revolta messiânica liderada por Antônio Conselheiro e que acabou em massacre. 142 Machado (2000), op, cit. 143 Apud Costamilan, op. cit. 144 Costamilan, aliás, deixando de lado sua costumeira ponderação na avaliação das pessoas, faz de seu livro um desagravo e enche Campos de injúrias, considerando-o um desprezível e mentiroso aproveitador do cargo público, verdadeiro lobo em pele de cordeiro, cuja pretensão, dissimulação e vaidade “levaria o leitor às gargalhadas se estivesse a par do quanto já conhecemos”, sendo também, segundo ele, o causador indireto da morte de seu pai Caetano. Seu primeiro mandato foi uma indicação, e o segundo, eleito pelo voto, provavelmente foi obtido através de fraude, em vista da grande antipatia que ele, como grão-mestre da loja maçônica local, era alvo por parte dos colonos católicos, a vasta maioria da população. Apesar do que possa haver de mágoa pessoal nesta animosidade, ela se torna mais plausível na medida em que Campos também enfrentou uma guerra aberta de parte da Associação dos Comerciantes, inconformada com os entraves que ele impôs ao desenvolvimento da cidade e com o grande endividamento das contas públicas, e que resultou na demissão do intendente. 140

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O padre Nosadini

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O padre Nosadini defendeu seus amigos em carta aberta à população, dizendo: “Agora passa o Campos a indagar quem poderá ter sido o autor do atentado, se o padre Nosadini e Bonalume foram os mandantes do mesmo, e conclui que não pode ser outro senão um dos membros da família Sartori. Os Sartori não carecem que eu os venha defender, e tenho a certeza de derrocarem o acervo de calúnias que o Campos publicou contra eles. De todos esses fatos, o Intendente conclui que eu e o Bonalume somos os autores, como mandantes, do atentado. Como, porém, ninguém deu crédito a essa acusação, deixo de gastar tinta e tempo para provar o que não é senão uma infernal calúnia. [...] O Campos mente mais uma vez. Nem na casa do Sartori nem em qualquer outra casa particular tiveram lugar, em 19 de março nem em qualquer outro dia, reuniões quer secretas quer públicas”.145 Ao contrário do “atentado” sofrido pelo intendente, o padre sofreu um bem real. Depois de ter a Casa Paroquial onde vivia metralhada, à vista da população, por 22 encapuzados “armados até os dentes”, como disse Costamilan, foi esfaqueado, atado num cabresto, levado para um ermo e votado à morte, só saindo vivo por verdadeiro milagre, pois um dos seus algozes se compadeceu na última hora e demoveu os demais. Ele retornou à paróquia depois de ter-se abrigado por algum tempo entre amigos na 2ª Légua, mas acabou mesmo removido da colônia pela cerrada perseguição que sofreu por parte dos seus desafetos. Os eventos em Caxias, além de serem influenciados pelo contexto na Itália e por acontecimentos recentes na colônia, eram em parte ecos tardios da antiga Questão Religiosa, em que Igreja e Estado disputaram a primazia do poder, que agitou o Brasil na década de 1870 e causou um enorme desgaste no Governo, sendo um dos fatores que levaram à queda da Monarquia.146 147 148 Não admira que tantos tenham sido os embates entre as instituições sagradas e profanas, que foram em parte responsáveis pelo clima de grande instabilidade política e social daqueles tempos neo-republicanos. Lembre-se que os colonos italianos eram católicos, em geral fervorosos, e é de assinalar, como já foi dito, que Salvador foi um dos poucos políticos da época que não foi maçom; era devoto e destacou-se pelo apoio que dava à Igreja, e isso explica o seu elevado prestígio na vila de população maciçamente católica que precisava urgentemente de líderes confiáveis para organizar os trabalhos iniciais nesta sociedade em formação, como foi observado pelo Projeto Caminhos da Imigração Italiana no Rio Grande do Sul, da Universidade Federal de Santa Catarina,149 e conduzir os menos dotados de luzes a um bom destino, como pregava o ideário político paternalista daqueles tempos, propondo uma espécie de novo “despotismo esclarecido”, muito influenciado pelo Positivismo, uma das bases ideológicas do Partido Republicano, do qual Salvador foi membro tão destacado. 150 151

145

Apud Costamilan, op. cit. Giron, Loraine Slomp. “Maçonaria x Igreja: luta pela hegemonia (2)”. História Daqui, 21/03/2012 147 Barros, Roque Spencer de. “Vida Religiosa”. In: Holanda, Sérgio Buarque de. (org). História Geral da Civilização Brasileira. Tomo II, vol. 4. Difel, 1974 148 Cavalcanti, Robinson. Cristianismo & Política: teoria bíblica e prática histórica. Editora Ultimato, 2004 149 LaboMídia – UFSC. “Crônicas 61-70”. Projeto Caminhos da Imigração Italiana no RS 150 Axt, Gunter. “Contribuições ao debate historiográfico concernente ao nexo entre Estado e sociedade para o Rio Grande do Sul castilhista-borgista”. In: Metis, 2002; 1 (1) 151 Pesavento, Sandra Jatahy. A Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul: a trajetória do parlamento gaúcho Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, Porto Alegre: Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, 1992 146

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A primeira capela de São Pelegrino, fundada por Amalia Sartori e Rafael Buratto com uma imagem doada por Salvador. Foto da Casa de Memória da Paróquia São Pelegrino.

Salvador na verdade manteve fortes e múltiplos laços com a Igreja. Além da liderança que exercia entre a população católica e da sua participação no Comitato do padre Nosadini, doou a imagem entronizada na primeira Capela de São Pelegrino e foi fabriqueiro da primeira Matriz desde a instituição da primeira comissão em 19 de março de 1888, integrada também por meu outro tataravô Osvaldo Artico, mais Francisco Rossi e Domingos Bersani. Aquela Matriz foi um templo erguido em madeira rústica, praticamente um grande galpão, que precedeu a presente Catedral, e que substituiu casas particulares que funcionaram provisoriamente como templo, uma de Nicolau Amoretti e outra de Luiz Gatti, esta incendiada em 1886.152 153 Para evitar confusões com a primeira Matriz, a Matriz Nova, atual Catedral, será sempre chamada como Catedral neste estudo, mesmo antes de adquirir este estatuto oficialmente, o que só ocorreu em 8 de setembro de 1934, na criação da Diocese de Caxias.154 Os “fabriqueiros” administravam a “Fábrica” ou “Fabriqueria” do templo, ou seja, sua estrutura física e as obras que se faziam necessárias para manutenção, reforma ou, como ocorreria em breve, a substituição do edifício anterior por um de alvenaria, que é o que hoje se conhece. Supervisionavam também obras nas capelas subordinadas à Matriz, e nos edifícios anexos pertencentes à Igreja, sendo uma posição de grande prestígio na comunidade. Pelo que narra Brandalise, até pelo menos 1888 os primeiros fabriqueiros se envolveram também em assuntos alheios às obras do templo e funcionaram quase como um “Conselho Paroquial”, participando de reuniões para a eleição do sacristão e da elaboração dos contratos entre a Igreja e a comunidade para o sustento do clero e para a prestação dos serviços religiosos. Isso pode surpreender o leitor moderno, mas até a proclamação da República vigorou a união formal entre a Igreja e o Estado através do sistema do Padroado, no qual os poderes civil e religioso compartilhavam responsabilidades sobre vários aspectos da vida da sociedade brasileira.155

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Brandalise, op. cit. Catedral Santa Teresa. Histórico. 154 Brandalise, op. cit. 155 Barros, op. cit. 153

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Única imagem conhecida do interior da primitiva Matriz, tomada pelo fotógrafo Giovanni Battista Serafini. A foto foi doada recentemente 62 pelo professor Alexandre Arioli ao Arquivo Histórico Municipal.

A primeira Matriz de Caxias, templo do qual Salvador foi fabriqueiro. Foto AHM, c. 1890. O edifício em obras à esquerda era um projeto de Matriz iniciado pelo governo, mas que não foi levado adiante.

Depois o Padroado foi abolido, mas mostra-se que os costumes não mudavam tão rápido quanto as leis, havendo muitos testemunhos de solicitações de subsídios oficiais para os projetos da Igreja por muitos anos à frente, que muitas vezes foram concedidos.156 Salvador permaneceu como fabriqueiro da Matriz pelo menos até 1891, sendo assim chamado em um ofício do procurador da Intendência, datado de 8 de junho, que solicitava ao poder público que o reembolsasse da doação de 50 mil réis que ele fizera para a construção,157 mas na comissão para a construção da Catedral, criada em 15 de julho de 1893, seu nome já não aparece.Ver nota 158 Sua família continuaria a tradição. Em 1897 seu filho Ludovico se tornaria fabriqueiro, bem como seu genro Ambrosio Bonalume e, mais tarde seu outro genro João Paternoster da mesma forma faria parte da equipe. Outros filhos dariam contribuições de outras maneiras. No entanto, uma iniciativa sua na condição de conselheiro municipal mostra que ele permanecia engajado nos interesses da Igreja, e, reflexo do clima instável do período, a própria construção da Catedral foi envolta em controvérsia. 156

Brandalise, op. cit. Adami (1971), op. cit. 158 Os primeiros fabriqueiros da Catedral, segundo Brandalise foram Domingos Maineri, Francisco Balen, Luiz Baldessarini, Luiz Curtolo e Francisco Bonotto, mas esta comissão não durou e foi novamente reorganizada em 1897, quando ingressaram Ludovico Sartori e Ambrosio Bonalume. 157

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A Catedral em 1910, ainda em obras, faltando-lhe a conclusão da fachada, das escadarias e da decoração interna. Da sua construção participaram não apenas os Sartori, mas vários outros parentes das famílias Buratto, Pezzi, Bonalume, Paternoster, Panceri, Panigas, Tessari e Pieruccini.

Diz Biavaschi: “Os conflitos políticos locais entre maçons e católicos já eram percebidos quando, em 4 de maio de 1896, em sessão do Conselho Municipal, entrou em discussão a concessão de recursos municipais para a construção da igreja da cidade. A iniciativa partiu de Salvador Sartori, e teve a oposição do conselheiro maçom Angelo Chittolina.159 Gardelin complementa: “A reunião foi convocada por iniciativa de alguns conselheiros, entre os quais, em posição de preeminência, devia estar Salvador Sartori, que foi o primeiro orador. Disse ele que a população estava empenhada em construir uma igreja, e que essa igreja demandava enormes importâncias. Os recursos arrecadados por iniciativa particular já estavam quase esgotados. Pedia, com isso, que o Conselho autorizasse uma verba de ajuda, saída dos cofres municipais. Quem combateu a proposta foi Angelo Chittolina, mas a ata não traz os argumentos invocados, limitando-se a dizer que Sartori foi à contradita e não aceitou o ponto de vista exposto (pelo sr. Chittolina). Ninguém mais fez uso da palavra, e o auxílio foi cotado em 500$000. Evidentemente, quem votou contra foi Chittolina. Por quê?

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Biavaschi, op. cit.

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“A resposta a isso pode estar vinculada à separação do Estado e da Igreja, e a pendências locais. Quanto a mim, gostaria muito que alguém conseguisse localizar as atas da Loja Maçônica que à época existia. Tenho quase certeza de que o segredo estaria vinculado a outros fatos. O Conselho emitiu uma lei, enviou cópia ao intendente e pediu que a importância fosse paga”.160 A vida de Salvador é muito mal documentada, em sua época a imprensa estava recém nascendo em Caxias e a maioria dos documentos da antiga Junta e do Conselho justamente do período em que ele atuou foram perdidos num incêndio em 1992, mas ele fez algumas aparições no jornal da capital A Federação. Além dos eventos já citados, ele surge em 23 de maio de 1893 assinando uma moção de apoio a Filinto de Carvalho, junto com vários outros, por alegadas calúnias de que o dito fora alvo, que o acusavam de assassinato, “não trepidando” em “protestar energicamente, desmentindo, pois, o miserável comunicado”, afirmando que o Filinto era “moço honesto e cumpridor dos seus deveres”,161 e contribuiu em 9 de abril de 1895 com 2 mil réis na subscrição popular para a aquisição de um palacete a ser oferecido a Júlio de Castilhos, 162 o governador do estado, e que após sua morte foi transformado no Museu Júlio de Castilhos, o primeiro museu do estado do Rio Grande do Sul e até hoje um dos seus mais importantes museus históricos, com o prédio tombado pelo estado e a coleção tombada em nível nacional pelo IPHAN. Uma das suas últimas aparições na imprensa ainda em vida está no jornal Il Colono Italiano, registrando sua participação numa “Festa Escolástica” (uma festa escolar) na Matriz em 15 de maio de 1898, sendo citado com outros parentes, solenidade ornamentada com a música da Banda Ítalo-Brasileira, na qual atuavam vários membros da família Sartori.

O palacete adquirido para Júlio de Castilhos em subscrição popular, que teve a contribuição de Salvador Sartori, hoje o Museu Júlio de Castilhos.

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Gardelin, Mário. “Para a História da Câmara de Vereadores”. Pioneiro, 07/01/1978 “Nós, abaixo-assinados”. A Federação, 29/05/1893 162 “Subscrição popular”. A Federação, 08/04/1895 161

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Numa das salas deste prédio, localizado na esquina da avenida Júlio de Castilhos com a rua Marechal Floriano, com a fachada para esta última, foi instalada em 2 de julho de 1890 a Junta Governativa. Ali também funcionou a primeira escola pública municipal, vendo-se na foto os professores e alunos. AHM.

Reconstrução do antigo casarão que serviu de residência e comércio para os Sartori na Praça Dante. A imagem original, de Domingos Mancuso, no acervo do Arquivo Histórico, mostra apenas a metade da edificação, e a metade da direita, com um tom ligeiramente mais escuro, é reconstruída. Outras imagens que sobreviveram desta casa atestam que era composta de quatro módulos idênticos (dois em cada um dos dois lotes contíguos que Salvador adquiriu, com comércios no térreo e residência no piso superior), o que torna esta reconstrução muito próxima da realidade. A foto original data de 1904. Nesta altura Salvador já era falecido, mas a casa não parece ser nova e deve ter sido edificada ainda em vida de Salvador, substituindo a casa mais baixa e simples que teve no início, mostrada na página 36. Pela sua estética deve datar de 1880-1890. Em 1904 o negócio e residência de Settimo Sartori ocupavam o segundo módulo a partir da esquerda, e seu nome consta em um letreiro na fachada, aqui pouco nítido. Talvez o grupo de pessoas que está junto à entrada seja ele e sua família. Provavelmente Guerino e Attilio e suas famílias também residiram neste conjunto, pois um dos terrenos foi vendido em 1928 e nesta época ele lhes pertencia. Ainda que o telhado fosse contínuo, parece que os módulos eram 66 família. Embora independentes um dos outros. Em sua época o conjunto foi provavelmente a maior edificação de Caxias habitada por uma mesma de formas austeras e despojado de ornamentos, salvo discretas sacadas de ferro forjado e vitrais nos arcos das portas inferiores, a uniformidade dos vários módulos dá ao conjunto o vulto monolítico e monumental de um palácio. A casa branca à esquerda seria comprada por Alberto Sartori, que em 1911 a substituiria por uma construção de alvenaria, onde instalou um café-bilhar.

Causa alguma estranheza o fato de ele ter por duas vezes, quando membro da Junta e depois quando conselheiro, pedido dispensa antecipada de suas funções (a segunda delas negada). Não há registro dos motivos que o levaram a isso, mas o período se caracterizou pelas fortes polêmicas e disputas, que podem ter tornado dificil a sua atuação. Também é possível que seus negócios e a criação de sua grande família exigissem demais de seu tempo e energia. Salvador faleceu às 12 horas do dia 8 de julho de 1899. Seus últimos momentos foram noticiados no jornal A Federação três dias depois, fazendo-lhe vários elogios. 163 Em 1925 seu nome foi inscrito como um dos fundadores da cidade no álbum A Municipalidade de Caxias em Memória aos seus Pioneiros no Primeiro Cincoentenario de sua Fundação 1875-1925, uma espécie de Livro de Ouro do Município, com os nomes escritos à mão e provavelmente exemplar único, hoje depositado no Arquivo Histórico Municipal. No mesmo ano foi destacado como fundador no grande álbum Cinquantenario della Colonizzazione Italiana nel Rio Grande del Sud, publicado sob os auspícios do Governo do Estado e do Governo da Itália. Ali foi chamado de “benemérito”, chefe de uma família “egregiamente associada aos afetos e às tradições domésticas, bem como à cooperação econômica que remonta às origens da ‘Pérola das Colônias’ e que concorre para formar uma história de assombroso progresso”, sendo um insigne exemplo “da poderosa contribuição econômica e civil dada ao Rio Grande pela obra cinquentenária dos italianos”.164 Em 1949, nos preparativos para o 75º aniversário da imigração, foi chamado por Manoel Peixoto de Abreu e Lima de “conceituado e digno cavalheiro”,165 nos festejos de 1950 e em 1977, em sessão solene da Câmara Municipal, foi outra vez lembrado, e veio a batizar uma rua. Em 2002, na sessão solene comemorativa dos 110 anos de instalação do Poder Legislativo em Caxias do Sul, com a presença de grande número de autoridades, foi descerrada na sede da Câmara uma placa reproduzindo a ata de instalação do primeiro Conselho: Ata de Instalação do Conselho Municipal de Caxias Aos vinte e seis dias do mês de setembro de 1892, na sala do edifício onde funciona a Intendência Municipal, presentes, às seis horas da tarde, os cidadãos Ernesto Marsiaj, Hugo Ronca, Benjamin Cortes Rodrigues, Angelo Chittolina, Salvador Sartori e Romano Lunardi, conselheiros eleitos para decretarem a Lei Orgânica do Município, estando ausente por motivo de moléstia o conselheiro Agapito Conz, pelo cidadão Ernesto Marsiaj, anteriormente escolhido presidente provisório, foram os outros conselheiros convidados a tomarem assento. Depois das formalidades prescritas no Regimento Provisório, apresentado pelo Intendente, cada um dos presentes prestou compromisso de desempenhar com toda a lealdade e dedicação o mandato que lhes fora confiado pelos seus co-munícipes e o Conselho foi dado por instalado. Procedeu-se à eleição da mesa e obtiveram votos: para Presidente Ernesto Marsiaj, 3; Hugo Luciano Ronca, 2; para Vice-Presidente Hugo Ronca, 2; Angelo Chittolina, 2; e Benjamin Cortes Rodrigues, 1; para Secretário Angelo Chittolina e Benjamim Cortes, 2. E como nenhum obtivesse a maioria absoluta, procedeu-se à eleição entre os mais votados, sendo então eleitos e proclamados: Ernesto Marsiaj, presidente; Hugo Ronca, Vice-Presidente; e Benjamim Cortes, Secretário. Em seguida foi posto em discussão o regimento já referido, e o Conselho resolveu discuti-lo logo, artigo por artigo, visto que era matéria já conhecida.

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[Nota sem título]. A Federação, 11/07/1899 Cichero, Lorenzo (org.). Cinquantenario della Colonizzazione Italiana nel Rio Grande del Sud 1875-1925. Edição fac-similar. Pozenato Arte & Cultura, 2000 165 Abreu e Lima, Manoel Peixoto de. “Às vésperas do 75º aniversário”. O Momento, 03/09/1949 164

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Seguiu-se um Toque de Silêncio, e depois discursou a vereadora Geni Peteffi: “Há cento e dez anos, no dia 26 de setembro de 1892, às 18 horas, na sede na esquina da Avenida Júlio de Castilhos com a Rua Garibaldi, instalou-se o Poder Legislativo de Caxias do Sul. O início das atividades legislativas em nosso município coincidiu com um período muito importante na história do País. Recém havia sido proclamada a República. Nem três anos se passaram desde o 15 de novembro de 1889 e a instalação deste Poder. Nascemos em meio a uma mudança que representou o fim da Monarquia e o começo da República. Foi natural que fossem absorvidos aspectos do Império, ao menos temporariamente. “É importante destacar, mesmo que rapidamente, que ainda no período colonial, foi nos municípios onde se manifestaram as primeiras práticas eleitorais. Na época, o Governo Municipal era exercido pelas Câmaras Municipais, já que não existia um Executivo autônomo. No sistema de Capitanias Hereditárias, adotado por D. João III, foi concedida autoridade aos donatários para elevar vila e fazer eleição dos seus Conselhos. O sistema era oriundo dos tempos romanos, em que se atribuía ao Conselho dos Homens Bons o direito de decidir sobre aspectos administrativos. Por isso a denominação de Conselhos Municipais. Mais adiante a denominação de Conselheiros foi substituída por Vereadores. “Em 1891 foi eleito o primeiro Conselho Municipal que, diante de episódios políticos, teve que esperar até o final do ano para a posse e levou quase um ano para a instalação oficial. Vamos registrar aqui os integrantes do primeiro Conselho Municipal como forma de homenagear a todos os Conselheiros e Vereadores, de todos os tempos. Foram eles: Angelo Chittolina, Ernesto Marsiaj, Hugo Luciano Ronca, Benjamin Cortes Rodrigues, Salvador Sartori, Romano Lunardi e Agapito Conz. É do nosso conhecimento − e já foi anunciado pela Mesa desta Casa − que um trabalho de pesquisa está em andamento e futuramente será implantando um memorial com os nomes de todos os Conselheiros e Vereadores. “Desde o seu início até o presente, o Poder Legislativo Caxiense tem sido o esteio, a sustentação, o meio mais representativo da comunidade. A delegação que recebe do povo, diretamente, com o exercício da delegação se renovando de quatro em quatro anos, tem sido o melhor sistema de representação até hoje surgido. [...] “Com o percorrer dos tempos, foram se aperfeiçoando e ampliando as funções do Legislativo. Registramos as principais: legislar, fiscalizar (agora com mais abrangência diante da Lei de Responsabilidade Fiscal), julgar, administrar e colaborar. “Na vida política, o Legislativo Caxiense tem o orgulho de poder registrar que, em sua existência, viu integrantes, ou ex-integrantes, ascenderem a cargos de Prefeito, Deputado Estadual, Governador, Deputado Federal e Senador, numa efetiva e importante participação no desenvolvimento da prática e da vivência democrática. “O Poder Legislativo Caxiense, a exemplo de todos quantos sejam constituídos da forma que adotamos, da eleição direta, é a verdadeira representação da sociedade, da qual é originária. Não podemos vacilar diante de tentativas de substituir a delegação da representação dos Legislativos; e com muito maior razão nos municípios, de onde se originou o processo eleitoral. Alguém já afirmou que a democracia é a vida para o desenvolvimento dos povos. Não podemos desconhecer o presente e a necessidade de preocupação com o futuro. Com a globalização estamos em outra fase histórica. O 68

mercado se ampliou no espaço geográfico mundial, enquanto o Estado continua constituído nacionalmente, gerando uma nova realidade, uma nova situação. A globalização gerou muitos ganhadores, mas também gerou muitos perdedores. A maior preocupação é como fazer para diminuir as desigualdades sociais. “O político e professor alemão, integrante do Clube de Roma, Ernest Ulrich von Weizsäcker, em um trabalho recentemente publicado, afirma: Estaremos diante de dois grandes desafios nos próximos cinqüenta anos. O primeiro deles chamo de redescoberta da democracia; e o outro, de reorientação do progresso técnico. Esta observação, que é um verdadeiro chamamento à ordem política e econômica mundial, faz com que se medite sobre o papel dos Legislativos. Assim como lá no início as eleições aconteceram primeiro nos municípios, também na busca da redescoberta da democracia, mesmo com o fenômeno da globalização, por certo caberá à organização das pequenas células, que são as comunidades, buscar o caminho para tanto, já que não há o global se não houver o municipal. “Nesta missão, os Legislativos municipais serão chamados a atuar e nós desta comunidade devemos estar atentos e a postos para correspondermos com a parte que nos toca, como nesses 110 anos, estaremos, por delegação popular, cumprindo com o nosso dever de buscarmos o melhor para a coletividade caxiense. Salve os 110 anos de vida do Legislativo Caxiense! Agradecemos a Deus por nos proporcionar a vivência deste momento”.166

Assinatura de Salvador no manuscrito da Lei Orgânica do Município

A imagem de Salvador Sartori consolidou-se como a de um homem de honra, capacidade e inteligência, como um dos fundadores e um dos primeiros organizadores da cidade, como um patriota servidor da Lei e da causa pública, e como uma liderança firme nos tempos de agitação social, política, religiosa e militar que marcaram os primórdios da história de Caxias do Sul.167 168 169 170 171 Gardelin & Costa, na página 117 da segunda edição do seu monumental Povoadores da Colônia Caxias (2002), haviam lamentado que na data da publicação figura tão ilustre ainda não tivesse sido biografada, e fico feliz, como seu tataraneto, por ter tido o privilégio de reunir os poucos fios soltos que restam de sua vida e alinhavar este esboço biográfico em memória daquele grande pioneiro.

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Anais da Câmara Municipal de Caxias do Sul. 36ª Sessão Comemorativa em homenagem aos 110 anos de instalação do Poder Legislativo em Caxias do Sul, 26/09/2002 167 Azevedo, Renan Falcão de. “75 anos depois”. O Momento, 25/02/1950 168 Costamilan, op. cit. 169 Câmara Municipal de Caxias do Sul. Ata da Sessão Solene do 1º Período Legislativo da VIII Legislatura, 08/06/1977 170 Gardelin & Costa 2ª ed., op. cit. 171 Giron (2012), op. cit.

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Não faço ideia de qual herança teria deixado, mas como vimos, seu patrimônio parece ter sido considerável. Quando as atividades da família começam a ser mais bem documentadas pelos vários jornais que vão aparecendo no início do século XX, vemos que os Sartoris têm vários negócios, entre comércios e indústrias, alguns de grande porte, se lançariam em vários empreendimentos “alternativos”, como casas de cinema e teatro, um folhetim e um hipódromo, comprariam outros terrenos na Praça Dante Alighieri, o coração da vila, outros na avenida Júlio de Castilhos, a rua principal, tiveram terras na zona rural e mais algumas onde hoje ficam o quartel do Exército e o Aeroporto, Ludovico possuiu terras que mais tarde foram desapropriadas para se erguer a Cidade Universitária, e através do seu casamento receberia o que hoje é o Parque Municipal Mato Sartori. Além disso, com a herança do rico barão Schlabendorff recebida por Maria Sartori, ampliariam suas posses incluindo grande parte das terras que hoje delimitam o bairro de São Pelegrino. Acompanharemos o progresso da segunda geração em detalhe logo adiante.

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71 Salvador Sartori em seus últimos anos. Coleção Ludovico Beretta Sartori.

Angela Zancaner Sartori em seus últimos anos. Coleção Ludovico Beretta Sartori.

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Da matriarca Angela, esposa de Salvador, quase nada se sabe. Era filha de Bortolo Zancaner e Luigia Reboli, procedente de Cornuda, nascendo em 29 de junho de 1834, casando na paróquia de Vas, comuna de Quero, em 20 de fevereiro de 1854, 172 e falecendo às 14 horas do dia 26 de dezembro de 1903. A tradição sobre ela já se perdeu e nenhum dos dois sobrenomes foi registrado nos primórdios da cidade. Contudo, não é difícil imaginar o seu perfil: uma matrona dedicada ao gerenciamento da casa e à família, agregadora, católica fervorosa, e de personalidade recatada em público, especialmente por causa da dignidade do seu marido, membro da Junta Governativa e depois conselheiro municipal, embora provavelmente fosse expansiva no convívio familiar, que era marcado por um clima de confraternizações assíduas e extravagâncias diversas. Sugere Costamilan que era uma grande cozinheira, que vestia-se, como toda a família, com elegância, e que dedicava grande cuidado à criação dos filhos, mas são apenas deduções indiretas, e em sua crônica Angela permanece à sombra do marido e da família, mesmo que se possa sentir sua presença invisível, como uma âncora moral e emocional no muitas vezes turbulento cotidiano familiar, em que aconteceram momentos de grave crise e dor. Dela sobreviveu uma fotografia apenas, ilustrada na página anterior, mostrando que foi uma dama distinta. Mas a vida política de Salvador não conta toda a sua história, ainda que quase nada se saiba de suas outras facetas, e muito menos a política conta a história da sua família, que floresceu dedicada principalmente a outras atividades. Na crônica de Costamilan, “[Salvador] Era um homem um tanto reservado, de vontade férrea, equilibrado em seus julgamentos e em seu modo de ser. Sua figura impressionava e impunha respeito, mas no fundo era um pai compreensivo, de fala suave, defensor intransigente da religião que professava e dos princípios de sua formação. Por isso tudo é que soa estranho, à primeira vista, vinculá-lo ao comportamento excêntrico de seus filhos adultos, que eram todos de índole alegre, falantes, fanfarrões e barulhentos, verdadeiros artistas da arte cênica e por certo os responsáveis pelos brancos cabelos do pai. Todos eram cantores e músicos exímios, cinco deles vindo a tornar-se, por volta de 1893, membros efetivos da histórica Banda Ítalo-Brasileira, [...] e que por tal motivo viria a ser conhecida como La Musica dei Sartori. Mas para não destoar de um velho ditado, o circunspecto pai tinha uma bela voz de tenor, e além de fazer coro com seus filhos, [...] abrilhantou muitas festas religiosas e concertos da antiga Caxias. Enfim, ninguém podia ficar triste perto daquela gente, porque tudo o que fizessem ou dissessem era motivo de graça; o maior passatempo dos rapazes, sempre que tivessem ocasião, era pregar peças aos amigos, e uma enciclopédia poderia ser escrita, se alguém a tanto se dispusesse, sobre as travessuras daquele bando de histriões”. Antes de prosseguir falando sobre as “travessuras” da família Sartori, cabe aprofundar um pouco a atividade da Banda Ítalo-Brasileira, que participou de muitos eventos festivos e solenes da cidade, sendo citada como “famosa” por Brandalise.173 Costamilan recorda um desses momentos, quando foi aberto o 1º Congresso Católico, e que dá uma vívida ideia dos costumes e da cultura daquela sociedade em formação, fortemente marcada pela religiosidade: “No domingo de 14 de outubro de 1897, véspera da data em que Caxias comemorava seus 22 anos de existência, a Vila amanheceu envolta por um ambiente festivo. Logo às primeiras horas da manhã vários grupos de pessoas iam chegando das Léguas vizinhas, esmeradamente vestidas, para participarem das solenidades que teriam curso na 172 173

Data Center Emigrazione Veneta. Zancaner Angela. Associazione Hospedaria - Emigrazione Veneta in Brasile. Brandalise, op. cit.

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A Banda Ítalo-Brasileira ou La Musica dei Sartori. Fileira de cima, da esquerda para a direita: Adone Ferrari, Francisco Ceola, Settimo Sartori, Massimo Sartori, Antonio Manfro, Antonio Artico, Quinto Filippini, Alberto Sartori. Fileira de baixo: Guerino Sartori, João Mocelin, Atilio Sartori, Franciso Zani (Mestre), Antonio Ceola, Francisco Adami e Tito Rossi. Coleção Ludovico II Beretta Sartori.

igreja [...] da Praça Dante, ato inicial do esperado 1º Congresso promovido pela Federação das Sociedades Católicas que o padre Nosadini presidia. O vigário de Santo Inácio da Feliz, padre Maximiliano de Lasberg, S. J., convidado para a abertura dos atos religiosos, às 8 horas da manhã, já cercado por centenas de pessoas, procede à bênção das bandeiras de quatro novos comitês, respectivamente de Santo Antônio da 7ª Légua, da Santíssima Virgem das Neves, recém fundado na 9ª Légua, de São Marcos da Linha Feijó, na 2ª Légua, e do Círculo de São Tarcísio, também na 9ª Légua. Ao fim da missa começa a ordenar-se enorme cortejo, precedido por cavaleiros que portavam, pela ordem, as bandeiras Pontifícia, Brasileira, Italiana e Alemã, depois do que postavam-se os componentes da Banda Ítalo-Brasileira e, atrás destes, os presidentes do Comitê Paroquial e do Círculo São Luiz Gonzaga, ambos de Caxias, ao que seguiamse os demais presidentes dos comitês das diversas Léguas. Por fim, e um pouco afastados daqueles que os precediam, os presidentes dos quatro novos comitês, todos eles desfraldando garbosamente as bandeiras sob sua guarda. [...] O local da reunião era na 7ª Légua. [...] “Na 7ª Légua havia sido preparado como que um grande palco, todo enfeitado com festões, algo nunca visto por aqueles lados. [...] Ao lado das autoridades tomaram assento os representantes da União Católica Tedesca da zona colonial de São Sebastião do Caí, srs. Jacob Selbach e Pedro Scherer, o presidente da Sociedade Operária de 74

Mútuo Socorro de Caxias, sr. José Chiaradia, e do outro lado os sacerdotes das paróquias vizinhas, entre eles o padre Alexandro Pellegrini, o único que se absteve de discursar. Em plano mais baixo, de um lado ficaram os presidentes dos vários comitês católicos, enquanto no outro postava-se a Banda Ítalo-Brasileira, as bandeiras drapejando à frente deles todos. Que espetáculo grandioso deve ter sido, para aquela gente simples, ver ali, em meio à colônia, o que de mais representativo havia em Caxias e nas Léguas que habitavam, além de um punhado de homens de grande cultura e projeção, os sacerdotes então presentes. “O padre Nosadini, que fora o organizador daquela poderosa demonstração de fé e de unidade, em sua condição de presidente da Federação das Sociedades Católicas, levanta-se e ocupa a tribuna, para abrir os trabalhos daquele dia. Os participantes em peso o recebem com demorada e calorosa ovação, em seguida ele propõe à assembleia, antes de iniciar sua pregação, que se envie ao papa o seguinte telegrama: Leão XIII – Roma. Oitocentos italianos sócios Federação Católica Estado Rio Grande do Sul reunidos solene Congresso presentes autoridades civis reafirmam sentimentos irrestrita devoção à Sé Apostólica, imploram bênção. “Em resposta à proposição do padre, a uma só voz os católicos prorrompem aos gritos de ‘viva o papa’, e em continuidade, como que se erguendo em meio às vozes, ouve-se os acordes majestosos do Hino Pontifício, magistralmente executados pela Banda Ítalo-Brasileira, sob o coro de efusivos aplausos. Foi uma abertura grandiosa e brilhante [...].” A Banda participou de outros eventos solenes, como a inauguração do Lanifício São Pedro em Galópolis, que veio a se tornar uma importantíssima empresa,174 a bênção da pedra fundamental da Catedral, e a sua inauguração.175 Depois a Banda Ítalo-Brasileira foi rearranjada sob o nome de Banda Independente. O primeiro registro encontrado com este nome data de 1900, citada num relatório da Intendência Municipal,176 e em 1910 a banda abriu uma escola de música,177 mas é incerto se os Sartori ainda continuavam nela. Adami não os lista na formação da Independente mas em outro local afirma que ambas tinham os mesmos componentes. Pode ser que sim, pelo menos alguns, pois a Independente foi assinalada se apresentando em 1912, entre outros eventos, no funeral de Thereza, esposa de Lino Sartori,178 em um banquete dado por João Paternoster, 179 casado com Maria Sartori, e manteve estreito contato com o Esporte Clube Juventude, onde Honorino e Gabriel Sartori eram membros ativos, abrilhantando muitas de suas partidas, como era costume na época.180 Continuando agora a falar sobre o comportamento original dos membros da família, vamos a Francisco Michielin, que também deixou um relato: “A família Sartori esbanjava extroversão. Eram todos extremamente alegres. [...] Esculhambações eram com eles mesmos. Costumavam, entre os irmãos, se engalfinharem em supostas brigas, simulando graves atritos. Faziam isso amiudemente, na zona central, de preferência nos domingos e dias santos de guarda, quando o povo ia para as ruas. Quanto mais plateia, melhor. Os ‘artistas’ precisavam 174

Adami, João Spadari. “Como surgiu a Vila de Galópolis”. Pioneiro, 09/07/1962 Brandalise, op. cit. 176 Apud Gardelin & Costa 2ª ed., op. cit. 177 “A Banda Independente”. O Brazil, 02/04/1910 178 “Agradecimento”. O Brazil, 10/02/1912 179 “As festas de domingo”. O Brazil 04/05/1912 180 Gardelin, Mário. “Juventude: 65 anos de paixão e glória”. Pioneiro, jan/1978 175

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do seu público. E o público levava a sério, pensando que se tratasse de desentendimento antigo e insolúvel. [...] Tudo um circo. O pau comia solto, soqueavam-se de brinquedo, fingiam, caíam e rolavam teatralmente pelo chão sujo. Um cidadão achando que aquilo era demais, penalizava-se, compadecido, em defesa do mais fraco e resolvia intervir, procurando dar um fim ao prevalecimento. A briga ficava momentaneamente apartada. A multidão se dissipava. Os Sartori seguiam em frente e, tendo mais espectadores incautos, armavam novos tumultos. As diversões eram mais ou menos assim”.181 Costamilan lembra outros episódios: “Há um outro caso lendário em Caxias, de uma senhora viúva [...] que contraiu matrimônio em segundas núpcias. Tudo muito natural, não fosse existir ali esses jovens estróinas, que, munidos de guampas de boi – os chamados ‘berrantes’ da tradição do Rio Grande, usados para reunir o gado – puseram-se a soprá-las com fúria por toda a tarde e noite adentro, como que a lamentar, no som cavo e soturno que dali extraíam, o desencanto do apaixonado noivo... A polícia teve de intervir, e promessas foram feitas de se por um fim à brincadeira; mas dali a alguns minutos, de um outro local mais afastado, lá vinha novamente o som pesaroso das guampas, transformando em lua-de-fel a que deveria ser lua-de-mel. “Adami registra, na sua História de Caxias, que dois ‘inocentes’ irmãos Sartori [eram Massimo e Alberto], quando ainda menores, junto a outros sete rapazes de sua idade [...] na noite de 1º de dezembro de 1890 se reuniram num bar de São Pelegrino, onde tomaram alguns copos de cerveja além da conta. Ao se retirarem para suas casas, porém, ocorreu-lhes quebrar a monotonia daquela escura segunda-feira, e, ato contínuo, ao passarem em frente a um mercadinho que uma senhora dirigia neste bairro, decidiram ‘tomar emprestado’ um cesto cheio de ovos, que estava comodamente ali bem próximo à porta... Assim munidos, foram subindo a avenida Júlio de Castilhos ao mesmo tempo em que iam decorando as fachadas de algumas casas, previamente selecionadas, nas quais residiam figuras representativas da sociedade. E, pasmem, nem aquela do pacato Salvador Sartori, pai dos dois ‘menores’, [...] deixou de ser agraciada com alguns violentos petardos! Na manhã seguinte a vila ganhou vida nova, com os grupos que iam se formando aqui e ali em frente às residências atingidas, liderados por seus proprietários revoltados, braços e mãos agitando-se freneticamente. Havia muitas vidraças quebradas, cortinas e tapetes manchados, mas tudo ficara envolto no mais denso mistério... Os mais inconformados – precisamos dizer? – eram os irmãos Sartori, que, muito solidariamente, iam ter com suas infelizes vítimas, para consolá-las e ao mesmo tempo apreciar, à luz do dia, os efeitos do seu artístico trabalho. E tudo teria terminado aí se não fosse uma lânguida e chorosa donzela – que havia sido preterida por um dos componentes daquele bando – ter assistido ao ataque praticado por eles. [...] O delegado, que era a grande figura do sr. Benjamin Cortes Rodrigues, depois de autuar os delinquentes, multou-os em 1$600 réis por cabeça e determinou que ficassem duas horas na prisão. [...] “Tudo isso é uma pequena e pálida amostra de como viviam os filhos de Salvador Sartori e mais tarde os descendentes deles, tornando realidade, com seu modo folgazão e exuberante, aqueles tempos nostálgicos que hoje gostamos tanto de relembrar”.

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Michielin, Francisco. Assim na Terra como no Céu. Sagra / D. C. Luzzatto, 1994

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A par desta veia irreverente, vários nomes da família Sartori aparecem citados com frequência nos vários jornais das primeiras décadas de Caxias do Sul, se destacando em várias frentes e marcando uma liderança positiva na estruturação e desenvolvimento da cidade em seus primeiros cinquenta anos, quando Caxias, partindo do zero, se tornou uma das principais economias do estado. Os Sartori se ligaram por casamento com várias outras famílias locais de prestígio, como os Costamilan, Alessandrini, Buratto, Bonalume, Serafini, Paternoster, Oliva, Amoretti, Perini, Moretto e Pieruccini, e deram descendentes para várias outras cidades, mas nem todos conseguiram manter um elevado padrão de vida.182 Os filhos de Salvador e Angela foram: 1) Amalia Sartori, nascida em 6 de agosto de 1857, casou-se em 9 de novembro de 1879 com Raffaelle Buratto (Rafael). Seu maior legado foi tornar-se a grande benemérita da Paróquia de São Pelegrino, fundada em suas terras e sempre fortemente apoiada por ela. 183 184 Rafael nasceu em 24 de outubro de 1848, filho de Pietro e Giustina, e morreu em 22 de novembro de 1925. Outros Buratto estavam entre os primeiríssimos a chegar na colônia, sendo registrados em 30 de setembro de 1875 com lotes na 1ª Légua, mas Rafael veio mais tarde. Tanto Adami como Costamilan referem que chegou cerca de um ano após Amalia, mas Gardelin & Costa o citam registrado em Caxias em 18 de maio de 1879, apenas três meses depois dos Sartori, e em 24 de novembro de 1884 é assinalado como proprietário do lote urbano nº 6 da quadra 4 na Sede Dante.185 186

Rafael e Amalia Buratto. Coleção Sergio Enio Buratto.

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Costamilan, op. cit. “A crença que atravessou mares: Igreja de São Pelegrino firma convênio com Prefeitura de Caxias do Sul”. Oriundi, 22/06/2007 184 Costamilan, op. cit. 185 Gardelin & Balen, op. cit. 186 Gardelin & Costa 2ª Edição, op. cit. 183

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Foi primeiro tanoeiro, e segundo seu bisneto Sergio Enio Buratto, “fabricava, somente em madeira: ‘mastei’ (baldes para carregar água), carrinhos de mão, caixões de defunto que vendia por 25 mil réis, barris e ‘quintos’ com aduelas também de madeira. Depois adquiriu um lote, onde atualmente fica o jardim do Hospital Pompéia, continuando com a tanoaria”.187 Mais tarde, ajudado pelo concunhado rico, o barão Schlabendorff, tornou-se conhecido industrial cervejeiro, instalado em São Pelegrino, com produto muito apreciado.188 Em 1914 passou o negócio para seu filho Hermenegildo, sob aluguel. Contribuiu para a construção da escadaria da Catedral,189 foi um dos fundadores do Diretório do Partido Republicano,190 várias vezes membro do júri popular, membro da Sociedade Operária Príncipe de Nápoles, e secretário do Recreio Guaraní.191 Em suas terras em São Pelegrino havia um prado que serviu de campo de treinamento para o primeiro time de futebol da cidade, o Esporte Clube Ideal, fundado em 1910, e depois usado pelo Esporte Clube Juventude, cujos jogadores, depois dos treinos, saboreavam a cerveja de Rafael, vendida a preço de custo. 192 Fornecia bebidas também para as escolas municipais.193 Em 1925, ano de sua morte, foi reconhecido como um dos fundadores de Caxias em dois álbuns comemorativos, Cinquantenario della Colonizzazione Italiana nel Rio Grande del Sud, 1875-1925, e A Municipalidade de Caxias em Memoria de seus Pioneiros no Primeiro Cincoentenario de sua Fundação 1875-1925. Depois voltou a ser saudado “com veneração e com respeito” como um dos “homens denodados e devotados ao trabalho” que fundaram a cidade. 194 195 196 Hoje é nome de rua. O barão Schlabendorff era casado com Maria, irmã de Amalia, e residiram em São Pelegrino antes de Amália e seu marido irem lá morar. A área ficava longe do centro, onde Salvador e o restante da família Sartori moravam, e originalmente a casa do barão era a única da sua redondeza, deixando Maria isolada de sua gente. Segundo Costamilan, para amenizar a solidão da esposa, o barão doou um grande terreno diante de sua casa para Amalia, a fim de que ela fosse ali viver com seu esposo Rafael, e o ajudou a montar a cervejaria para também mantê-lo próximo. Adami tem um bom registro sobre o casal, que diverge ligeiramente da versão de Costamilan. De todo modo, segue o que Adami transmitiu: “A filha Amalia [...] havia deixado seu coração em sua terra natal, Itália, trocado pelo de seu conterrâneo Rafael Buratto – seu príncipe encantado – sob a condição de aqui também vir o quanto antes para uni-los para toda a eternidade, ou destrocá-los. Como de fato um ano após, mais ou menos, Rafael, em obediência ao prometido à sua muito amada Amália, aporta à Sede Dante e procura localizar entre o povoado recém iniciado na referida tapera de Bugres [o Campo dos Bugres, antigo nome da Sede Dante] a residência de Salvador Sartori, o que não lhe foi difícil, pois era já bastante conhecida la famiglia dei Sartori. 187

Buratto, Sergio Enio. As Descendências de Wilhelm Straatmann, Lamberht Hackenhaar, Raffaele Buratto, Johann Georg Raupp, Peter Wingert, Ignacio Rieger. 2004 188 “Birraria S. Pellegrino”. Città di Caxias, 01/02/1913 189 “Escadaria da Igreja”. Cidade de Caxias, 30/09/1911 190 “Caxias”. A Federação, 09/06/1890 191 “Recreio Guarani”. A Época, 11/06/1939 192 Adami, João Spadari. “História do Futebol Caxiense”. A Época, 05/07/1953 193 Adami, João Spadari. História de Caxias do Sul. Tomo III – Educação: 1877 a 1967. EST, 1981 194 Abreu e Lima, Manoel Peixoto de. “Às vésperas do 75º aniversário”. O Momento, 03/09/1949 195 Mendes, Américo Ribeiro. “Do sr. Americo Mendes”. O Momento, 30/06/1951 196 “Salve Caxias!” O Brazil, 01/06/1910

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O bairro de São Pelegrino em seus primórdios. Os números indicam 1) a primitiva capela de São Pelegrino, 2) a casa donde nasceu João Spadari Adami, 3) a cervejaria de Rafael Buratto, 4) a casa de Rafael e Amalia e 5) a casa do barão Schlabendorff e sua esposa Maria Sartori. Foto em Adami (1971), op. cit.

“Amalia, apesar de tal esperar acontecer um dia, ficou perplexa. Não sabia se devia acreditar verdadeira a notícia que lhe deram da chegada de seu eleito. Receava lhe tivessem aplicado uma pilhéria. Porém, dentro de poucos instantes, ficou tudo claro... Era mesmo em carne e osso. Era o ansiosamente esperado Rafael Buratto, que viera da longínqua, bela e imortal Itália, para desposar Amalia Sartori, com a qual já se havia unido espiritualmente fazia muito tempo. Após a chegada Rafael e Amalia uniram-se perpetuamente, indo residir em uma casa de sua propriedade, sita no lote urbano nº 6 da quadra nº 4, onde montou uma oficina de tanoeiro, cujo lote é hoje parte do jardim do Hospital N. S. de Pompeia. “Alguns anos mais tarde, Rafael recebeu de Daniel von Schlabendorff, seu concunhado, como presente, uma chácara da colônia nº 21 A do Travessão Santa Teresa, o [mesmo travessão] de sua propriedade, sob a condição de morar nela, para assim morarem perto um do outro. [...] Rafael recebeu sensibilizado aquela dádiva por parte de seu concunhado, e não só mudou para ali sua habitação, como também montou uma fábrica de cerveja, gasosa e outras bebidas adocicadas. Mas não parou aí a predestinação da parte da colônia 21 A que recebeu de presente, e sim, apenas o início de uma grande glória. “Rafael, alguns anos após ter ido morar na chácara referida, no dia de mais um de seus aniversários recebeu como presente de seu sogro uma imagem de São Pelegrino, a mesma que ainda hoje é conduzida nas procissões das festas em seu louvor, como lembrança da localidade de seu nascimento. Imediatamente (1891) Buratto ergueu uma capelinha no local hoje ocupado pelo nº 266 da avenida Rio Branco, então 79

pertencente à referida chácara o terreno deste prédio. Transformando, assim, aos poucos, aquela imortal colônia nº 21 A num dos mais pitorescos e aprazíveis recantos de Caxias do Sul de ontem. [...] “Mas embora a referida chácara fosse, no tempo da citada doação, apenas um ex-campo agrícola, reflorescido por Rafael Buratto, a alma, a vida e o encanto daquele aprazível jardim da velha Caxias do Sul devem-se em grande parte a seus filhos, principalmente de parte das prendas que, pela expansividade e fidalguia de que eram dotados, cativaram a quantos tivessem a ventura de com eles tratar. Rafael Buratto, além de cervejeiro, fabricava também doces para serem saboreados com suas afamadas bebidas. Em frente à cervejaria em questão, existia um campestre, o qual foi um dos primeiros gramados usados para torneios de futebol, e estreado pelo Esporte Clube Ideal, fundado em 1910 por um grupo de guris caxienses. No lado oeste desse gramado, na subida em direção à avenida Rio Branco, a família Buratto mantinha abertos buracos em forma de cruz para nas Sextas-feiras Santas enchê-los de lenha e, quais piras, arderem durante as procissões. As quais naquela época eram realizadas de noite e cujas fogueiras iluminavam toda a cidade. [...] “Dona Amalia Buratto, viúva já antes de deixar a vida terrena, doou à Igreja de São Pelegrino o imóvel no qual surgiu esta mesma Igreja, para nele serem erguidos edifícios assistenciais. Como se vê, com a referida doação, fica mais que patenteado que a Providência inspirou Daniel von Schlabendorff a ceder à família Buratto aquele pedaço predestinado de solo caxiense às Santas Obras. “Porém, de tudo o que era mais agradável e mesmo encantador no lar dos Buratto do arrabalde de São Pelegrino, a par de outros vestígios que o constituíam e que ainda existem para saciar a saudade de quantos tiveram a ventura sublime de o ter conhecido nos tempos em que todos os seus componentes ali viviam, é o arvoredo que circunda ainda o velho solar da nobre família que o construiu há mais de 70 anos e que, apesar de grisalho, ainda hoje agasalha confortavelmente descendentes seus, [...] cuja habitação é circundada por árvores ornamentais e frutíferas, e nos faz crer ser morada de fadas”.197 O que o autor diz ainda existir no tempo da publicação do seu livro já não existe. Toda a chácara foi progressivamente parcelada e vendida, as casas antigas foram demolidas, o pomar foi derrubado e a região foi profundamente transformada. A evolução do bairro foi descrita no livro São Pelegrino: quem te viu, quem te vê, de Ana Seerig, Charles Tonet e Tânia Tonet, publicado em 2015, e que dedica grandes trechos para falar das famílias Sartori, Buratto e Paternoster, cuja história se confunde com a do bairro. A Casa de Memória da Paróquia de São Pelegrino apresenta vários painéis ilustrados onde é ressaltado o papel dessas famílias na fundação e desenvolvimento da Igreja.

197

Adami (1971), op. cit.

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Texto que consta em um painel na Casa de Memória da Paróquia São Pelegrino, contando a fundação da primeira capela pelos Sartori e Buratto. Segundo Adami (1971), a inauguração da capela ocorreu em 2 de agosto de 1891, e não em 1893, como diz o painel.

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A primitiva capela de São Pelegrino, erguida em 1891. Segundo Adami, a imagem mostra a recepção de dom Diogo Laranjeira quando o prelado visitou Caxias em 24 de abril de 1898, recebido pelos comitês da Federação Católica, os alunos da escola da professora Maria Traslatti e a família Sartori-Buratto, também com a participação da Banda Ítalo-Brasileira. Abaixo, a segunda capela. Foto da Casa de Memória Paróquia São Pelegrino.

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Festa de São Cristóvão na segunda Capela de São Pelegrino. Foto Casa de Memória da Paróquia São Pelegrino.

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O lançamento da pedra fundamental da nova e monumental Igreja de São Pelegrino em 1944. A senhora de chapéu, ao centro, cuja mão é conduzida pelo padre Eugenio Giordani, é Amalia Sartori Buratto. Segurando a sombrinha é Angelina Paternoster Costamilan, e o senhor de chapéu entre elas é João Paternoster. O homem de terno claro, junto à pedra, à esquerda, deve ser Germano Pisani. Na foto abaixo, Amalia assina documentos que foram lacrados numa “cápsula do tempo” dentro da pedra. Angelina Costamilan está ao seu lado ajudando-a, atrás dela vem João Paternoster. Atrás do jovem de terno branco e gravata escura está Graciema Paternoster Pieruccini. O bispo é dom José Barea. Fotos Geremia, acervo Casa de Memória da Paróquia São Pelegrino.

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Amalia ainda pôde participar do lançamento da pedra fundamental da nova Igreja de São Pelegrino em 1944, como mostram as fotos na página anterior, mas não chegou a ver a obra concluída, falecendo em 22 de janeiro de 1946. Seu obituário foi pródigo em elogios: “Nasceu em Treviso, Itália, esposa do falecido Rafael Buratto. Uma das principais famílias que aportaram no Brasil, fixando residência na atual cidade de Caxias do Sul, então Vila de Caxias. “Senhora de sólida piedade cristã, soube educar seus nove filhos e sete adotivos com esmero e dedicação, na senda da virtude, encaminhando-os para Deus. Trouxe da Europa um quadro de São Pelegrino a que se ligavam tradições familiares, doando uma área para construção de uma capela, dedicada ao santo, no próprio terreno de sua residência. Anualmente festejava-se com certa solenidade a festa dedicada ao mesmo, ficando tradicional e tomando o bairro onde residia o nome de Bairro São Pelegrino. “Há 50 anos vinha trabalhando para a futura criação da paróquia. Viu seu sonho realizado. Foi uma defensora acérrima do sacerdote, piedosa em toda a extensão da palavra, possuía um admirável devoção a Nossa Senhora de Pompeia e às almas. Desde os primórdios foi Terceira Franciscana, Zeladora do Apostolado da Oração, e, finalmente, associada da Confraria Nossa Senhora do Carmo. “Ao baixar o corpo à sepultura, falou o Reverendíssimo Padre Eugênio Giordani, Vigário e Diretor Espiritual da extinta, que ressaltou-lhe as qualidades morais, citandoa como modelo das mães cristãs. Ao terminar sua oração, apresentou à família enlutada as suas condolências, bem como as de todas as associações religiosas da paróquia. “O féretro teve grande acompanhamento, sendo recebido à entrada do Cemitério pelas Zeladoras do Apostolado da Oração e da Confraria Nossa Senhora do Carmo que a carregaram até sua derradeira morada. O sepulcro mais parecia um recanto de festa e alegria do que de tristeza e dor, porquanto estava literalmente coberto de guirlandas maravilhosas de cores as mais variegadas, simbolizando assim a grande estima que o povo lhe tributava, não só em vida, como na morte e na Eternidade. “Deixa a prantear-lhe a morte e imitar-lhe as virtudes os seguintes filhos: Raimundo, Hermenegildo, Egide, Itália, Raquel, Angelina, Inês, Julieta e Olga. O Momento apresenta à família enlutada suas condolências.198

A nova Igreja de São Pelegrino tornou-se um templo monumental, sem dúvida o mais importante de Caxias depois da Catedral, um destacado representante em todo o estado do estilo Art Déco aplicado à edificação sacra e uma das grandes atrações turísticas da cidade, com riquíssima decoração interna em afrescos do insigne Aldo Locatelli. Sua inauguração em 2 de agosto de 1953 foi um acontecimento de grande solenidade, reunindo uma multidão.199

198 199

“Amalia Sartori Buratto”. O Momento, 26/01/1946 Lopes, Rodrigo. “São Pelegrino e o novo espaço da Casa de Memória”. Pioneiro, 01/08/2015

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Adelia Tronchini deixou um interessante relato sobre as obras, da qual participaram outros parentes, e destacando a atuação do padre Giordani, que teve um papel principal em todos os trabalhos e foi ao longo de todo o seu ministério uma verdadeira “locomotiva” na sua paróquia, gerando até muito folclore. “No início da década de 40, um jovem padre nomeado pároco, Eugênio A. Giordani, encontrando uma tosca igreja de madeira, erguida em terreno cedido, provisoriamente, pelo morador Francisco Oliva, Ver nota 200 logo idealizou um projeto para uma futura existência de um templo adequado à expansão contínua da população, parecendo portadora de princípios sólidos de fé, uma capacidade diversificada de trabalho e disponibilidade para gestos concretos de colaboração. “Contatos foram iniciados com os proprietários do terreno escolhido, de maneira que a nova igreja fosse vista, por inteiro, desde a Catedral, situada num alto, frente à praça principal da cidade de Caxias do Sul. Prosseguindo, foram consultados engenheiros, arquitetos e construtores, para a escolha do melhor projeto, assim como tornou-se necessário viajar para aquisição de alguns materiais especiais, como também oficializar contatos com autoridades nas áreas federal, estadual e municipal, confiando na obtenção de verbas necessárias à grandiosa obra, onde, aliás, o Padre Giordani foi sempre muito bem sucedido. Aliás, como escreveu o sobrinho Ampére, seu tio era um homem dos mil e um instrumentos – mais fácil seria dizer o que não fez, do que pretender enumerar suas realizações. Assim, confiante no apoio dos membros da sua comunidade, criou uma Comissão de Festas, encarregada da realização de eventos, motivados por cerimônias religiosas de devoção aos santos padroeiros, seguidas de comemorações sociais. [...] “Pela assiduidade e competência junto à Igreja, integraram a Comissão as sras. Angelina Buratto, Anaide Andreazza, Amélia Pisani, Cesira Minguelli, Terezinha Paternoster, Pierina Rossatto, Stela Germani, Zoraide Sant’Ana, Maria Maggi e Teresa Reis. A primeira reunião foi realizada na casa da Amalia Buratto, a doadora do quadro de São Pelegrino, vindo da Itália. Estas senhoras, com seus esposos e familiares, iniciaram as campanhas para obtenção de recursos financeiros, como a venda de tripada, preparada em suas casas. Os três panelões, de 20 kg cada um, eram rapidamente vendidos, sucesso prolongado por quase dez anos. O sr. Carlos Casara era responsável pelo Caixa. Prosseguindo, o cardápio foi ampliado com a venda de tortas e assados, e o local das festas, no início no meio da ruas Feijó Junior com Av. Rio Branco, ou na pracinha João Pessoa, passou a ter melhores condições, na entrada do Colégio La Salle e no ginásio do Colégio São Carlos. Quando as obras da nova igreja possibilitaram um espaço adequado, as festas eram realizadas sobre um chão de cimento, em meio a uma floresta de andaimes de eucaliptos, com suas mesinhas quadradas e suas quatro cadeiras, e alguns espaços vazios cercados, para a realização dos jogos e brincadeiras, bastante disputados, como a roda da fortuna, o jogo das argolas, pescaria, tiro ao alvo, telegramas, dedicatórias de músicas, rifas, colocação de florzinhas, ou lacinhos de fita na blusa das senhoras, ou paletó dos homens, entre outras, de um lúdico ingênuo que, na atualidade, pode-se concebê-lo somente em festas infantis.

200

A autora refere-se à segunda capela de madeira, erguida para acomodar melhor os fiéis que já não cabiam na diminuta capela primitiva dos Buratto. A segunda capela localizava-se diante do local onde a igreja atual seria erguida.

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Foto blog Vivendo São Pelegrino.

“No auge destas comemorações, ao lado da casa paroquial, foi instalada uma grande cozinha, com os fornos para os assados e bolos, o preparo dos cremes para os recheios, a montagem das tortas e suas criativas decorações em coloridas geometrias. As festividades em São Pelegrino atraíam um grande número de participantes, que também vinham ouvir os tangos de sucesso, interpretados pelo dentista sr. Carlos Rauber e filhos, junto ao sr. Frederico Guerra e filho Nilo, o professor Lino Casagrande, sr. Edi Martins, ao som do piano, violino e bandoneon. Além desta ‘Típica’, brilhou também o conjunto ‘Guarani’, formado por estudantes de música do Colégio São Carlos, entre elas Suely Nonnenmacher, Nancy Baldisserotto, Eda Tartarotti e Eni Mariani. Grupo semelhante foi o ‘Marajoara’, composto por alunas do Curso Comercial do mesmo Colégio, cujo regente era o maestro João de Deus Gama. Em termos musicais, destacamos o Coral da Igreja de São Pelegrino, que a partir de 1950 organizou-se sob a regência do maestro Pancrácio Scopel, substituído anos depois por Arnaldo Tondo, cujas performances emocionaram ouvintes da cidade e da região. “Esta trajetória de uma nascente comunidade no entorno de seu pároco, um verdadeiro protagonista de uma história edificante e grandiosa, que até hoje empolga quem participou dela e quer lembrá-la mais uma vez, para que outras gerações saibam o que é ter um sonho e poder realizá-lo, coletivamente, não só com as mãos, mas com os sentimentos de todos aqueles homens e mulheres, que como o Padre Giordani, também acreditaram”.201

201

Tronchini, Adelia Ida. A Igreja de São Pelegrino e Nossa Srª. da Pietá. Suliani, 1999

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A Igreja de São Pelegrino. À esquerda, com as obras quase finalizadas. Foto Geremia, acervo da Casa de Memória da Paróquia São Pelegrino. À direita sua condição atual. Foto do blog Nossas Letras e Algo Mais. Abaixo, detalhe do afresco de Aldo Locatelli na abside, com a cena da Última Ceia. Foto de Eugênio Hansen.

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Amalia e Rafael tiveram uma penca de filhos, entre naturais e adotivos, tornando-se tronco de família tradicional, e vários de seus descendentes se tornaram notórios. Os filhos adotivos não foram identificados. Os naturais foram: a) OlgaBuratto, nascida em 10 de novembro de 1899, cantora do coro da Catedral,202 enquanto solteira foi “distincta senhorita” citada na crônica social e em eventos beneficentes,203 204 e por uma encenação humorística ganhou o prêmio de uma medalha de ouro cravejada de esmeraldas instituído pelo capitão Felipe Viale em uma festa que o homenageava.205 Depois radicou-se em Porto Alegre com o marido Ricardo Augusto Weber, nascido na capital em 26 de abril de 1897, médico da Administração do Porto, cirurgião, ginecologista e obstetra da Santa Casa, membro da Comissão Editorial da Sociedade de Medicina,206 um dos fundadores da sua seccional de Cirurgia e da comissão que elaborou os seus estatutos,207 e um dos fundadores do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul.208 Também foi conselheiro do Grêmio Náutico Gaúcho,209 político210 e conselheiro do Grêmio Republicano Liberal dos Funcionários do Porto.211 Ricardo faleceu em 1º de novembro de 1958, e Olga em 5 de junho de 1989. Tiveram os filhos a1) Myrtô Conceição Weber, casada com Antonio Todesco, pais de Magda, médica ginecologista e obstetra, e Antonio Filho, e a2) Roberto Raphael Weber, nascido em 13 de fevereiro de 1926, médico como o pai e também ilustre, “um dos principais expoentes da Medicina do Trabalho no país”, como o chamou o portal Prevenção Online.212 Diz o seu obituário na Zero Hora: “Médico e um dos fundadores da Unimed Porto Alegre, Roberto Raphael Weber morreu no dia 3 [de dezembro de 2009], aos 83 anos, no Centro de Tratamento Intensivo do Hospital São Francisco, na Capital, em decorrência de complicações e de parada cardiorrespiratória. Nascido em Porto Alegre, foi um dos pioneiros na Medicina do Trabalho, que visa à prevenção de acidentes em ambiente de trabalho. É considerado um dos ‘pais’ das NRs, as normas regulamentares, que integram a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Desenvolveu programas de Roberto Raphael Weber. Foto Zero Hora. segurança na área em todo o país, exercendo atividades junto ao governo federal pela defesa dos trabalhadores. Depois de viúvo e aposentado, teve atividades como ministro da eucaristia da Igreja Católica. Weber deixa filhos e netos”.213

202

“Grande Festa”. Città di Caxias, 05/10/1914 “Hospedes e viajantes”. O Brasil, 23/12/1922 204 “Chá-kermesse”. O Brasil, 10/04/1920 205 “Baile Juvenil”. Città di Caxias, 08/06/1918 206 “Sociedade de Medicina”. A Federação, 19/12/1925 207 Sociedade de Medicina”. A Federação, 21/08/1936 208 Museu de História da Medicina. A História do Sindicalismo Médico no Rio Grande do Sul. Exposição Virtual 209 “Esportes”. A Federação, 13/01/1936 210 “Partido Republicano Liberal”. A Federação, 30/07/1934 211 “Gremio R. L. dos Funcionarios do Porto”. A Federação, 07/03/1933 212 “Responsável pela criação das Normas Regulamentadoras”. Prevenção Online, s/d. 213 “Obituário”. Zero Hora, 09/12/200 203

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Seu passamento também foi lamentado por Marcio Santiago Vaitsman, que trabalhou com ele, e que dá outras informações: “É com pesar que registramos o falecimento do médico do Trabalho que dedicou sua vida aos assuntos da prevenção. [...] Considerado o ‘pai’ das Normas Reguladoras, Weber, como era chamado pelos companheiros, ocupou o cargo de diretor do Departamento Nacional de Saúde e Higiene do Trabalho, que transformou em Secretaria, no Ministério do Trabalho, na gestão do ministro Arnaldo Prieto em 1978. Foi Weber quem criou as várias NRs. Em apenas seis meses ele formou 30 comissões que trabalharam ao mesmo tempo, integradas por profissionais especializados, para construir as normas. Quando Weber assumiu o Departamento, a relação entre o número de acidentes e a força de mão-de-obra era da ordem de 18%, o mais alto do mundo. Quando deixou o cargo, o índice era 5%”.214 Roberto Raphael foi casado com Rosalda Alice Kokemper, nascida em 13 de junho de 1929 em Porto Alegre e falecida em 18 de março de 1994. Seus filhos foram: a2a) Suzana HelenaWeber, médica veterinária e proprietária da Hipica Tarumã. a2b) Roseane Maria Weber, professora. a2c) Miriam Cristine Weber. a2d) Pedro Luis Weber. a2e) Paulo Ricardo Weber atua nas áreas de supply chain e comercial/logística/transportes, foi por muitos anos gerente geral de Vendas/Operações da Variglog. Em 2010 decidiu experimentar outra atividade e empregou-se na SignasulEngenharia de Sinalização nas áreas de administração, comércio e reengenharia de processos. Quando a Variglog retomou suas atividades comerciais, foi convidado para retornar, desempenhando múltiplas funções, entre elas definição da estratégia comercial, formação de equipes, abertura de novos pontos de vendas, projetos e logísitica para clientes. Desde janeiro de 2012 atua como gerente desenvolvedor na DB Schenker, que atua também na área de logística e transporte aéreo.215 Paulo Ricardo Kokemper Weber. Foto de Paulo Ricardo.

b) Angelina Buratto, nascida em 26 de abril de 1898, citada nas crônicas sociais como “fino ornamento da nossa sociedade”, foi dama de honra da rainha do Carnaval do Clube Juvenil em 1908 e tinha talento para a pintura, assim como Olga.216 217 Formou-se no curso de Datilografia da Escola Remington em 1939, o que indica que estava buscando ocupação como secretária.218 Muito devota, era membro do grupo de oração Adoração Noturna nos Lares organizado pela Capela de São Pelegrino, da qual era frequentadora assídua. Nos anos 40 integrou a Comissão de Festas da Paróquia de São Pelegrino, grupo que tinha o objetivo principal de angariar donativos para a construção da nova igreja, e cuja primeira reunião foi realizada sob os auspícios de sua mãe Amalia Buratto, grande apoiadora da Paróquia.219 Não há notícia de que tenha casado e faleceu em data ignorada.

214

Vaitsman, Marcio Santiago. “Morre o Pai das NRS”. Conselho e Segurança no Trabalho, 18/12/2009 Paulo Ricardo Kokemper Weber. Linkedin 216 “Festa de caridade”. O Brasil, 09/04/1921 217 “Hospedes e Viajantes”. O Brasil, 11/12/1921 218 “Escola Remington”. A Época, 08/01/1939 219 Tronchini, Adélia Ida. A Igreja de São Pelegrino e Nª Sª da Pietà. Suliani, 1999 215

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O primeiro carro alegórico do Clube Juvenil no carnaval de 1908. A rainha do carnaval foi Nair Ronca, filha do farmacêutico Hugo Ronca, e entre suas damas de honra estavam Silvia Braghirolli, Olga Ronca, Cristina Moro, Irma Fombriezen, Carolina Marques e Angelina Buratto. Abaixo, a família Buratto. Na fila de trás, Hermenegildo, Itália, Égide, Raquel, Ignez e Raymundo. Na frente, Julieta, Amalia, Angelina, Rafael e Olga. Coleção de Sergio Enio Buratto.

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c) Raquel Buratto, nascida em 1892, casou-se em 5 de setembro de 1914 com Giuseppe (José) Antonio Fausto Buzzoni, italiano de Novara, nascido em 15 de fevereiro de 1888, jornalista do jornal Stella d’Italia220 e diretor em 1916 do Città di Caxias,221 professor de lógica e humanidades,222 contador, comerciante e industrial do vinho, sócio de José e Frederico Costamilan, que vão ser abordados mais tarde, em uma grande vinícola,223 membro da Diretoria da Cooperativa Agrícola de Nova Vicenza224 e da Associação dos Comerciantes,225 um dos representantes de Caxias na Confederação das Associações Comerciais da região vinícola,226 membro da Sociedade Italiana de Mútuo Socorro,227 conselheiro e presidente do Comitato Dante Alighieri,228 associação de caráter social, beneficente e cultural que procurava preservar a identidade italiana da comunidade, presidente do Comitato Italiano Pro Patria, dedicado a ajudar os soldados italianos na I Guerra Mundial,229 e membro das comissões organizadoras das festividades para a posse do Intendente José Penna de Moraes em 1916,230 de quem era um apoiador, e para a recepção da embaixada italiana em 1918.231 A família se mudou para São Paulo em 1921, já tendo os filhos Henrique, Mario e Edda,232 e no ano seguinte foi dissolvida a sociedade com os Costamilan. Em São Paulo José foi um dos fundadores, com seu cunhado Raymundo Buratto, e diretor-gerente da Cooperativa de Consumo do Estado de São Paulo.233 Depois nada mais foi encontrado sobre ele até 1962, quando se retira da Sociedade SOS.234 c1) Henrique Antonio Buzzoni (Bibo), nascido em 9 de abril de 1916 e falecido em 1º de março de 1961, foi homenageado pela Municipalidade de São Paulo com seu nome batizando uma praça no Distrito de São Domingos. O respectivo projeto de lei traz um sumário biográfico:

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“Il battesimo della bandeira del Comitato Dante Alighieri”. Città di Caxias, 17/11/1915 Città di Caxias. Expediente, 18/09/1916 222 “Ringraziamento”. Città di Caxias, 09/11/1914 223 “Distracto social”. O Brasil, 24/03/1923 224 “Cooperativa Agrícola de Nova Viceza”. Città di Caxias, 16/03/1916 225 “Associação dos Commerciantes”. Città di Caxias, 13/04/1918 226 “Falsificação de vinhos rio-grandenses”. Città di Caxias, 02/06/1918 227 “Domenica, p. p.” Città di Caxias, 01/01/1914 228 “Avviso”. Città di Caxias, 01/01/1914 229 “Sottoscrizione Pro Patria”. Città di Caxias, 10/11/1915 230 “Coronel José Penna de Moraes”. O Brazil, 15/04/1916 231 “A Embaixada Italiana vem a Caxias”. O Brazil, 20/06/1918 232 “Hospedes e Viajantes”. O Brasil, 18/02/1922 233 “Cooperativa de Consumo do Estado de S. Paulo”. Correio de São Paulo, 03/01/1933 234 “Extrato para Registro”. Diário Oficial do Estado de São Paulo, 20/09/1962 221

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“Formado pela Universidade Mackenzie como engenheiro mecânico-eletricista, especializou-se em soldas especiais junto à Empresa General Electric S/A. Nessa especialidade teve importante participação no desenvolvimento da indústria automobilística que surgia na década de 50, voltando suas atividades em qualificar os trabalhadores do Setor. Foi orientador dos Cursos de Solda Elétrica do Senai e professor da Escola Técnica Mackenzie. Foi autor de diversas obras técnicas, sempre voltadas para os interesses dos trabalhadores metalúrgicos, onde se destacam: Dicionário de Termos Técnicos Inglês – Português, Manual da Solda Elétrica, Manual do Torneiro, Manual do Fresador, Manual de Galvanoplastia, Manual de Bobinagem. Acreditando nas mudanças que a indústria automobilística traria para o país, lançou o Manual do Automobilista.Foi casado com Anna Maria d'Aragona Buzzoni e deixou dois filhos que, como ele, voltaram suas atividades para os trabalhadores, defendendo seus direitos. Henrique d'Aragona Buzzoni, que foi durante muito tempo advogado do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, e Heitor d'Aragona Buzzoni, que foi diretor dos Sindicatos dos Médicos e, posteriormente, presidente do Conselho Regional de Medicina. Faleceu dando aulas na cidade de Recife em 1º de março de 1961”.235 Anna Maria d’Aragona foi funcionária do Ministério da Fazenda. c1a) Henrique Buzzoni, nascido em 20 de novembro de 1944 em São Paulo, além de advogado é historiador, organizando o livro Arcadas no Tempo da Ditadura, e foi um dos homenageados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, em cerimônia que marcou os 50 anos da instauração do regime militar, como “um dos advogados que lutaram contra a ditadura e foram responsáveis diretos pela democracia de hoje”.236 Casou-se com Sonia Aparecida Vieira, com os filhos Tatiana, Bruno e Adriana.

Heitor d’Aragona Buzzoni, foto Jornal da Gente.

c1b) Heitor Buzzoni, nascido em 26 de fevereiro de 1947 e falecido em 29 de junho de 2015, foi médico urologista, membro titular da Sociedade Brasileira de Urologia, conselheiro e presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, com grande bibliografia publicada em revistas nacionais e internacionais. Foi também membro do Conselho Diretor da Associação Paulista de Supermercados Distrital Lapa, rotariano e engajou-se em ações sociais. Sua morte foi assinalada com notas de pesar do CREMESP e do Centro de Bioética.237 238 239 240 Foi esposo de Joana Augusta Demonte Pontes, deixando os filhos Gustavo, médico gastroenterologista, e Guilherme, cavaleiro e sócio do Clube Hípico de Santo Amaro, também já falecido.241

235

PL 0300/2004. Câmara Municipal de São Paulo - Biblioteca e Documentação. “50 anos do golpe militar: Deusdedit Baptista é um dos advogados homenageados em Ato realizado pelo Conselho Federal da OAB”. OAB/ES, 01/04/2014 237 CREMESP. Nota de pesar, 29/06/2015 238 “Missa em memória Heitor D’Aragona Buzzoni”. Jornal da Gente, 04/07/2015 239 “APAS participa de solenidade de posse da Diretoria ACSP Distrital Lapa”. APAS Notícias 240 Centro de Bioética. Nota de pesar . 241 Missa de 7º Dia: Guilherme Pontes Buzzoni. Brasil Hipismo. 236

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c2) Edda Maria Buzzoni (às vezes chamada Yeda), formou-se na Escola de Comércio Santa Cecília,242 e depois no Instituto Musical de São Paulo,243 tornando-se professora.244 Casou-se com Reynaldo de Oliveira, um dos primeiros dentistas da vila de Osasco, um antigo subúrbio da capital de São Paulo, três vezes presidente da tradicional Associação Atlética Floresta, idealizador e presidente da Sociedade Amigos do Distrito Osasco, uma das maiores lideranças do movimento emacipacionista e primeiro presidente do Movimento Autonomista de Osasco, recebendo por seus relevantes serviços o título de Patriarca da Emancipação, falecendo em 22 de setembro de 1991.245 Através da Sociedade Amigos, Edda veio a se juntar a um grupo de mulheres que foram as pioneiras do feminismo em Osasco.246 Os méritos de Reynaldo também lhe valeram a atribuição do seu nome a um grande viaduto metálico que é o segundo maior vão livre em pontes de arco do país e o principal cartão-postal da cidade.247 248 Tiveram os filhos: c2a) Reynaldo Buzzoni de Oliveira, nascido em 1943 e falecido em 1977, economista, casado Magali Oliveira. c2b) Marisa Buzzoni de Oliveira, nascida em 15 de março de 1949 em São Paulo, assistente social, casou em 13 de dezembro de 1973 com Miguel Catan Neto, ativo na TV Osasco com um trabalho de prevenção às drogas,249 responsável pelo Conselho Tutelar Centro,250 conselheiro fiscal da Revista da ACESP, diretor da Associação Comercial e Empresarial de Osasco251 e suplente do seu Conselho de Previdência Social.252 Seus filhos são Anna Carolina, médica veterinária, e Ricardo, recém-formado em Comunicação Social. No alto, Edda Buzzoni e Reynaldo de Oliveira. Foto de Hagop Koulkdjian Neto. Abaixo, o Viaduto Reinaldo de Oliveira em Osasco. Foto de Dornicke / Wikipédia. 242

“O fim do anno nas escolas”. Correio Paulistano, 01/12/1938 “Fim de ano nas escolas”. Correio Paulistano, 18/12/1941 244 “Roberto Buzzoni”. Memória Globo, 13/07/2000 245 Câmara Municipal de Osasco [Leite Neto, Moura & Danusa, Mara]. A História Está nas Ruas. 246 Koulkdjian Neto, Hagop. “História da família de Fortunato Antinório”. Hagop Garagem – Imagens e História 247 Sales, Mariana. “Prefeitura de Osasco restaura seu principal cartão postal, o Viaduto Metálico”. Secretaria de Comunicação da Prefeitura do Município de Osasco, 12/06/2014 248 “O conjunto arquitetônico do centro da cidade”. Ordem dos Emancipadores de Osasco, 20/08/2014 249 “Diário SP – Legislativo”. Radar Oficial, 03/07/2010 250 Ministério da Ciência e da Tecnologia [Callegari, César (coord.)]. Fóruns Regionais de Inovação Tecnológica, Inclusão Social e Redes de Cooperação. Caderno Técnico e Caracterização Socioeconômica. 251 “Burti empreendeu a platéia com seu entusiasmo”. Correio Paulista, 20/03/2009 252 “Gerência Executiva – B – Osasco”. Diário Oficial da União, 28/03/2012 243

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O diretor da Central Globo de Programação, Roberto Buzzoni (ao centro), em Los Angeles com o vicepresidente senior para a América Latina da Fox, Elie Wahba, e o presidente da Fox Mark Kaner. Foto TV Globo/Jean Yuan.

c2c) Roberto Buzzoni de Oliveira, nascido em 28 de julho de 1945, mais conhecido como Roberto Buzzoni, foi alto funcionário da Rede Globo. Ele e seus irmãos são primos de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o famoso Boni, um dos chefões da Globo.253 Roberto iniciou como assistente de vendas, depois foi assessor de programação em Brasília, responsável pela criação e direção de um departamento de controle de censura; diretor de programação de Belo Horizonte, onde conseguiu colocar a Globo à frente da TV Itacolomi, sua principal concorrente; em 1979 assumiu o departamento de cinema da Globo no Rio de Janeiro, reestruturando o seu funcionamento e adquirindo filmes e séries internacionais, como o sucesso Casal 20, e em 1982 assumiu a direção geral de programação. Junto com Boni e Walter Clark, padronizou os horários de programação e definiu um esquema para a grade do horário nobre que permanece até hoje, com três novelas, o Jornal Nacional entre a segunda e a terceira, e uma atração especial em seguida. Também estava a seu cargo a estratégia de programação, a negociação e aquisição de filmes, séries e desenhos animados, o acompanhamento dos índices de audiência, a negociação para exibição de eventos internacionais, como o Oscar, e a divulgação dos produtos da Globo no mercado internacional. No início da década de 1990, foi convidado por Roberto Marinho para planejar os primeiros canais da Globosat. Em 2013 foi aposentado da programação geral, mas desde 2003 é sócio da TV Vanguarda Paulista, afiliada à Globo no interior de São Paulo.254 Casando em 3 de fevereiro de 1972 com Ana Maria Souza Costa, teve os filhos Reynaldo Neto, diretor de Registro e Conferência da Confederação Brasileira de Futebol 255 e sócio da A+R Comunicações & Marketing; Andréa e Roberta, também sócias da A+R,256 empresa que organiza shows e eventos de grandes proporções com celebridades nacionais e internacionais.257 258

253

Oliveira Sobrinho, José Bonifácio de. O Livro do Boni. Leya, 2012 “Roberto Buzzoni”. Memória Globo, 13/07/2000 255 Confederação Brasileira de Futebol. Diretoria, 31/10/2014 256 “Diário SP – Empresarial”. Radar Oficial, 16/07/2014 257 “Hoje acontece o Show Chiclete com Banana Premium em Teresina”. 45 Graus, 27/11/2012 258 “Luís Correia: Ministério Público articula acordos para garantir organização durante o Carnaval 2013”. Jornalista292, 02/02/2013 254

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c3) Mario Rafael Buzzoni, nascido em 7 de setembro de 1917 e casado com Olinda Martins de Lima, veio a se tornar um médico popular no bairro de Pinheiros, como mostra a notícia abaixo.

Os filhos do casal foram: c3a) Mario Buzzoni, nascido em 14 de junho de 1948 em São Paulo, médico oftalmologista, casado primeiro com Maria Antonieta Ferro Galuppo, tendo os filhos c3a1) Thaís Buzzoni, diretora Comercial da Ótica Donna, e c3a2) André Buzzoni, formado na Business School da Universidade de Harvard, sócio com sua irmã na Buzzoni Management, que oferece serviços combinados de escritório e apoio administrativo.259 André já foi diretor das empresas Valmari Cosméticos e Espaço Árabe Produtos Alimentícios e gerente de Operações da Sí Señor Alimentos e Bebidas, além de ser esportista, assessor de skate do Centro Pró-Memória Hans Nobiling do tradicional Esporte Clube Pinheiros,260 campeão de tênis por equipes do 259 260

Buzzoni Management Ltda – ME. CNPJ São Paulo. Esporte Clube Pinheiros. Relatório da Diretoria, 2013

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campeonato Interclubes de 2009 na equipe do Pinheiros,261 vice-campeão por equipes da Federação Paulista de Tênis,262 vencedor em duplas da etapa brasileira do campeonato Kia Amateur Australian Open, representando o Brasil em Melbourne, na Austrália, no torneio final,263 e entre 2008 e 2012 foi diretor Executivo do Instituto Tênis, mantido pelo Banco Itaú, que integra os clubes e organiza campeonatos nacionais.264 265 Uma reportagem do Web Diário mostrou a atividade do Instituto sob sua direção: “Em 16 meses de trabalho, 34 títulos nacionais e internacionais. Esse é o retrospecto do Centro de Treinamento (CT) Instituto Tênis Itaú, mantido pelo Banco, desde abril do ano passado, em Alphaville, Barueri, e que atende 12 jovens com idade entre 11 a 18 anos. De acordo com a entidade, a média de mais de dois títulos por mês é resultado de um trabalho de apoio aos jovens atletas que conta com técnicos, auxiliares técnicos, fisioterapeuta, nutricionista, psicóloga, fonoaudióloga e preparação física. O serviço é gratuito, mas a seleção para ingressar no projeto é rigorosa. Qualquer interessado pode se apresentar, mas para ficar é preciso mostrar que tem talento com a raquete. De acordo com André Buzzoni, diretor do Instituto, os títulos acumulados mostram que o Brasil pode vir a formar novos ídolos do esporte, André Gallupo Buzzoni, foto de André. como Guga e Maria Ester Bueno. ‘Todos os nossos atletas têm um grande potencial. E o que fazemos no Centro de Treinamento é dar todo o suporte necessário para que o atleta desenvolva todo seu potencial dentro das quadras. O grupo é muito bom, com tenistas de muita qualidade. Quem sabe não sai um novo número 1 do mundo?’, destaca. Os jogadores também fazem intercâmbio internacional. Em julho, equipe e atletas foram para a França e ficaram 40 dias jogando torneios no país. Na cidade de Le Cannet, conquistaram dois títulos: na categoria profissional, com Ingrid Martins, e na categoria até 14 anos, com Igor Shattan”. 266 Depois Mario se uniu em segundas núpcias a Maria Lúcia, não gerando prole. c3b) Celso Buzzoni, nascido em 1º de novembro de 1949 em São Paulo, advogado, presidente do Rotary Club de São Paulo Pacaembu, desenvolvendo ativo trabalho social.267 É casado com Annaluiza de Rosso, nascida em 27 de julho de 1952, professora, com os filhos Marcelo, advogado, produtor cultural e pesquisador na área das relações das histórias em quadrinhos com a educação,268 269 e Rachel, que tem mestrado em Comunicação Social, quando estudante 261

“Interclubes tem mais cinco categorias definidas”. Federação Paulista de Tênis, 14/09/2010 “Definidas mais três categorias do Interclubes”. Federação Paulista de Tênis, 22/09/2010 263 “Dupla Pinheiros/Kia Stern representa Brasil no Kia Amateur Australian Open”. KIA, 17/11/2008 264 “Tenistas entram na reta final da pré-temporada na ALJ”. Associação Leopoldina Juvenil 265 Lepri, Edgar. “Cepeusp recebe Copa Itaú de Tênis”. In: Jornal do Campus, 2010 (363) 266 “CT do Instituto Tênis Itaú vira ‘fábrica’ de títulos em Alphaville“. Web Diário, s/d. 267 Rotary Club de São Paulo Pacaembu. aleria dos e -presidentes: 1995-96 - Presidente Celso de Lima Buzzoni 268 “I Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos divulga relação de autores dos resumos aprovados”. Observatório de Histórias em Quadrinhos da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, 05/05/2011 269 Ouros, Emily Cristina dos; Buzzoni, Marcelo De Rosso & Gonçalves, Murilo de Almeida. “O fabuloso quadrinho de Willingham”. In: Libro de actas del Segundo Congreso Internacional Viñetas Serias: narrativas gráficas: lenguajes entre el arte y el mercado. Biblioteca Nacional, Buenos Aires, 26-28/09/2012 262

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Rachel de Rosso Buzzoni, marcada com o ponto azul, entre as coautoras do segundo livro da coleção Comunicação em Cena, organizado pela profª drª Liana Gottlieb e lançado em São Paulo. Foto de Glorinha Cohen.

foi finalista na categoria universitária da 4ª edição do Prêmio Caixa de Jornalismo Social e Negócios em Turismo, e em 2011 ficou com o 3º lugar na categoria pós-graduação latu sensu do 30º Prêmio Associação Brasileira de Relações Públicas.270 Por muitos anos foi jornalista sênior da agência Máquina da Notícia, e hoje é professora das Faculdades Integradas Rio Branco. Paralelamente, como rotariana, já foi 2º diretora de Protocolo e membro da Comissão de Serviços Profissionais do Rotary Club de São Paulo Pacaembu.271 c3c) Lourdes Buzzoni, nascida em 21 de outubro de 1950, advogada trabalhista em São Paulo, já foi coordenadora Técnica do Centro de Referência LGBT da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania,272 diretora-secretária do Grupo de Advogados pela Diversidade Sexual e diretora suplente do Sindicato dos Advogados de São Paulo ,273 e hoje é delegada suplente do Sindicato junto à Federação.274 É divorciada de Antonio Luciano Tambelli, advogado. O casamento produziu os filhos Rodrigo, Tiago e Adriano. c3d) Ronaldo Buzzoni, nascido em 30 de outubro de 1953, dentista, casado com Maura Márcia Paladino, dentista, tendo os filhos Pedro e Paulo.

270

“Ex-alunos de Relações Públicas são finalistas do Prêmio da ABRP”. Inteligêmcia, 10/09/2012 Rotary Club de São Paulo Pacaembu. Conselho Diretor 2013-14 272 “Portaria 878, de 24 de junho de 2014”. Diário Oficial da Cidade de São Paulo, 25/06/2014 273 “Juristas fazem ato em apoio à eleição de Fernando Haddad”. Carta Maior, 24/10/2012 274 Sindicato dos Advogados do Estado de SP. Diretoria estão “Unidade e Luta” 2012/2015 271

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d) Ignez Buratto, nascida em 5 de junho de 1885, foi casada com o alemão Luiz Stahlecker, caixeiro-viajante da empresa Carvalho Junior & Cia. de Porto Alegre,275 citado como “digno representante do alto comércio da capital”,276 e capitãoajudante do Estado Maior do 253º Batalhão de Infantaria da Guarda Nacional,277 falecido aos 42 anos em 10 de abril de 1920.278 Ignez o seguiu em 12 de maio de 1977. Sua prole foi d1) Maria Stahlecker, que em 1932 foi uma das pajens de Adelia Eberle, a primeira rainha da Festa da Uva,279 e membro do conhecido grupo cultural e social das Falenas,280 depois casada com Henrique Ballot. d2) Lola Stahlecker, também membro das Falenas,281 depois professora, formada em 1934,282 e d3) Carmen Stahlecker, uma das candidatas a rainha da Festa da Uva em 1934,283 no mesmo ano eleita rainha das Falenas,284 e professora como a irmã.285

275

“Viajantes”. A Federação, 01/01/1917 “Enlace matrimonial”. O Brazil, 25/12/1909 277 “Guarda Nacional”. O Brazil, 13/12/1913 278 “Fallecimentos”. O Brasil, 10/04/1920 279 “A Parada da Uva”. A Federação, 11/02/1932 280 “Grupo das Falenas”. O Momento, 29/01/1934 281 “Grupo das Falenas”. O Momento, 29/01/1934 282 “Colou Grau a 2ª Turma de Alunos Mestres”. O Momento, 05/04/1934 283 “4ª Festa da Uva”. O Momento, 15/02/1934 284 “Baile Vienense das Falenas”. O Momento, 04/10/1934 285 “Aniversarios”. O Momento, 13/06/1935 276

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e) Julieta Buratto, casada com Guido Zuliani, foi membro do coro da Catedral.286 Depois mudou-se para a Itália e ao que parece lá faleceu. Foi encontrada uma Giulietta Zuliani em Pádua, morta em 15 de junho de 1977, mas não é garantido que seja a mesma pessoa. Só foi identificada uma filha do casal, Marisa, nascida na Itália em 26 de junho de 1932, naturalizada brasileira em 1965 e residente no Rio Grande do Sul.287 f) Égide Buratto, dedicada ao trabalho beneficente e citada na imprensa num grupo de damas “distintas e caridosas”,288 289 foi viver em Porto Alegre após se casar com o médico Hermenegildo Jayme Varnieri, 290 um dos fundadores do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul,291 incluído no Panteão Médico Riograndense de Álvaro Franco e Sinhorinha Maria Ramos,292 médico do Ministério do Trabalho, um dos reorganizadores e segundo secretário da Federação dos Estudantes Republicanos do Rio Julieta Buratto. Foto em Adami (1971). Grande do Sul, e irmão de Hildebrando, outro médico de destaque, ambos influentes membros da comunidade italiana de Porto Alegre.293 Na capital Égide foi louvada como autora de uma “belíssima bandeira” bordada, exposta em 1919 na vitrine da Casa Guaspari, e depois oferecida por Hércules Gallò, intendente municipal de Caxias, à cidade italiana de Trieste.294 295 Hermenegildo faleceu em 13 de outubro de 1952, e Égide, em 11 de outubro de 1977. Tiveram quatro filhos: f1) Deolinda Varnieri estudou no Colégio Elementar José Bonifácio em Caxias, onde demonstrou ter talentos artísticos participando da encenação de peças teatrais na comemoração do 15 de Novembro em 1916 e do 13 de Maio em 1918,296 297 e depois foi aluna de canto lírico da renomada Sybilla Fontoura no Instituto Carlos Gomes em Porto Alegre, apresentando-se no Theatro São Pedro em 1928.298 Casou-se em 19 de dezembro de 1934 com João Walter Franke, funcionário da firma Kircher & Hilmann,299 e depois provavelmente dedicou-se ao lar, falecendo em Porto Alegre em 13 de março de 1970. O marido sobreviveu a ela até 17 de julho de 1986. Ambos estão sepultados no Cemitério de São Miguel e Almas. f2) Moacyr Varnieri e f3) Rubens Varnieri são citados na imprensa como estudantes na mesma época que Deolinda. Moacyr é mencionado em Porto Alegre em 1928 participando da organização de uma festa no Tiro de Guerra nº 4 em homenagem ao tenente Napoleão de Alencastro Guimarães,300 mas depois desaparece. Rubens está no Rio de Janeiro em 1945 numa assembleia de acionistas da Companhia Copeba Representações Imobiliárias.301 286

“Grande Festa”. Città di Caxias, 06/10/1914 “Decreto de 27 de julho de 1965”. Diário Oficial da União, 02/08/1965 288 “Festa do Natal”. Cidade de Caxias, 09/12/1911 289 “Agradecimentos”, Cidade de Caxias, 09/03/1912 290 “Hospedes e Viajantes”. O Brasil, 29/04/1922 291 Museu de História da Medicina. A História do Sindicalismo Médico no Rio Grande do Sul. Exposição Virtual 292 Franco, Álvaro e Ramos, Sinhorinha Maria. Panteão Médico Riograndense: Síntese Cultural e Histórica: Progresso e Evolução da Medicina no Estado do Rio Grande do Sul, 1943 293 Brum, Rosemary Fritsch. Uma cidade que se conta. Imigrantes italianos e narrativas no espaço social da cidade de Porto Alegre nos anos 20-30. EDUFMA, 2009 294 “Exposição de uma bandeira”. A Federação, 19/06/1919 295 “Hospedes e Viajantes”. O Brasil, 29/04/1922 296 “Festa de 15 de Novembro”. O Brazil, 25/11/1916 297 “13 de Maio – as festas comemorativas”. O Brazil, 11/05/1018 298 “Notas de Arte”. A Federação, 29/10/1928 299 “Os que se preparam para casar”. A Federação, 20/11/1934 300 “Tiro de Guerra nº 4 – festa em homenagem ao instructor”. A Federação, 11/02/1028 301 “Ata da Assembleia Geral”. Diário Oficial da União, 09/03/1945 287

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f4) Amneris Medusa Varnieri foi professora, colando grau na Escola Complementar em 1936.302 Foi casada com um Dos Santos não identificado e faleceu em Caxias em 8 de março de 2011, com 95 anos.303 g) Itália Buratto dedicou-se a importantes obras beneficentes como 2ª tesoureira da Comissão Organizadora do Natal das crianças pobres de 1911,304 membro fundador do Comitê Feminino Pró-Cruz Vermelha Italiana durante a I Guerra,305 membro da Diretoria da Associação das Senhoras da Maternidade do Hospital Santo Antônio e uma das fundadoras do Asilo de Indigentes.306 Também participou da seção feminina da Comissão de Ornamentações das grandes festividades organizadas para a inauguração da Viação Férrea em 1910,307 e foi da Comissão Diretora de uma tenda beneficente durante a Festa da Uva de 1933.308 Ao mesmo tempo, dedicou-se ao lar como esposa de Enrico (Henrique) Fracasso, um dos mais ilustres médicos caxienses das primeiras décadas do século XX e personalidade de grande influência comunitária, hoje nome de rua.

302

“Colou Grau a Turma Farroupilha, de Complementaristas”. O Momento, 30/03/1936 “Obituário”. Pioneiro, 08/03/2011 304 “Pro-Natal das crianças pobres”. O Brazil, 14/12/1911 305 “Comitato Femminile Pro Croce Rossa Italiana”. Città di Caxias, 26/03/1917 306 “Correspondencia Oficial”. O Momento, 30/05/1935 307 “Inauguração da via-ferrea – as festas projectadas”. O Brazil, 21/05/1910 308 “Sabado será inaugurada a festa da uva em Caxias”. A Federação, 14/02/1933 303

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Formado na Universidade de Pádua, foi médico da Viação Férrea309 e co-diretor da Casa de Saúde, requisitado pela elite e recebendo numerosas vezes agradecimentos públicos pelo trabalho competente e dedicação incansável. Também era adepto do tiro ao pombo,310 foi festeiro do Divino,311 conselheiro da Liga de Defesa Nacional,312 e um dos fundadores e diretores da Liga Pró-Pátria e Aliados, criada durante a I Guerra Mundial, que tinha como objetivo dar ajuda à Cruz Vermelha, acender o espírito cívico e patriótico da população contra a Alemanha e “seus cúmplices” e fazer o boicote de industriais e comerciantes que os apoiassem.313

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“Sabemos que foi nomeado”. O Brazil, 07/05/1910 “Tiro ao pombo”. O Brazil, 27/04/1914 311 “Festa do Divino”. O Momento, 17/05/1934 312 “Casamento”. A Federação, 10/06/1914 313 “Liga pró-Patria e Alliados”. O Brazil, 23/11/1917 310

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Além disso, desenvolveu próspera carreira paralela como empresário, sócio da Farmácia ItaloBrasileira,314 duas vezes vice-presidente da Associação dos Comerciantes,315 316 conselheiro fiscal da grande Cooperativa Agrícola317 e um dos fundadores, sócio majoritário e gerente do Curtume Social Caxiense, que tinha o grande capital inicial de 200 contos de réis, logo aumentado para 300, e que beneficiava de 35 a 50 mil couros por ano, exportando para o Brasil e Europa.318 Italiano de nascimento, com a venda da sua clínica em 1920 para as Damas de Caridade, que a transformaram no embrião do Hospital Pompeia, Henrique mudou-se para a Itália com a família.319 No entanto, ele voltaria ao Brasil em data não determinada, provavelmente pouco depois. Ele é citado várias vezes na imprensa já a partir de 1921. Nas primeiras vezes declarase que estava em visita, mas mais adiante aparece como residente, sendo atestado a clinicar até 1940,320 mas nesta segunda etapa sua atividade parece ter declinado bastante. O casal teve uma única filha, Anna Roma Fracasso, nascida em 15 de fevereiro de 1915, que foi tesoureira do grupo das Falenas 321 e circulava na alta sociedade. Depois formou-se professora e foi membro de uma comissão municipal para organizar os exames das escolas rurais em 1937.322 Já que mencionamos as Falenas várias vezes, cabe um breve parêntese para falarmos desta histórica associação. As Falenas eram um grupo de moças da elite ligado ao Clube Juvenil, fundado em 1915 sob a Presidência de Didila Saldanha, responsável pela organização de eventos festivos e culturais e pela integração entre os associados do Juvenil, colaborando também na decoração interna da nova sede social, inaugurada em 1928. Além disso, organizaram inúmeros eventos beneficentes. O grupo se tornou famoso na cidade e é lembrado até hoje, mas com o casamento da maioria das moças, dissolveu-se nos anos 30. Foi ressuscitado em 1948 sob a Presidência de Lorita Sanvitto.323 h) Raymundo Natal Buratto, um dos fundadores do Recreio da Juventude, um dos fundadores e vice-presidente do Esporte Clube Juventude, músico amador, participou de apresentações com uma orquestra local,324 325 foi comerciante e agente em Caxias de Angelo La Porta, de Porto Alegre, um dos credores de meu bisavô Augusto Artico quando este faliu. Até 1921 foi sócio da grande madeireira Oliva, Gavioli & Cia.,326 empresa fundada por meu bisavô Victorio Longhi junto com Luigi Oliva e Clodoveu Gavioli.327 Neste ano radicou-se em Porto Alegre, continuando nos negócios,328 329 e em 1923 sofreu um violento assalto, sendo levado como refém, mas conseguiu fugir.330

314

“Os srs. dr. Henrique Fracasso, J. D’Arrigo e Augusto Gavioli”. O Brazil, 19/06/1909 “Da distincta Associação dos Commerciantes”. O Brazil, 20/01/1917 316 “Associação dos Commerciantes”. O Brazil, 06/04/1918 317 “Cooperativa Agricola de Caxias”. O Brazil, 28/04/1017 318 “Cortume”. O Brazil, 05/02/1916 319 “Viajantes”. O Brasil, 29/05/1920 320 “Agradecimento”. A Época, 31/03/1940 321 “O Baile das Falenas”. O Momento, 09/01/1936 322 “Exames nas Escolas Rurais”. O Momento, 01/11/1937 323 Rigon, Roni. “Clube Juvenil”. Pioneiro, 18/06/2004 324 “Concerto”. O Brazil, 28/08/1909 325 “Obra patriótica”. O Brazil, 01/01/1916 326 “Ao commercio”. O Brasil, 18/06/1921 327 Giron, Loraine Slomp & Bergamaschi, Heloísa Eberle. Casas de Negócio: 125 anos de imigração italiana e o comércio regional. EDUCS, 2001 328 “Despedida”. O Brasil, 09/07/1921 329 “Hospedes e Viajantes”. O Brasil, 01/04/1922 330 “Uma scena de drama cinematográfico desenrolada em Porto Alegre”. O Combate, 29/11/1923 315

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Não ficaria muito tempo em Porto Alegre, e em 1928 seu título eleitoral está registrado na cidade de São Paulo, onde continuou a desenvolver intensa atividade. Neste mesmo ano é citado assumindo como segundo tesoureiro do Centro Gaúcho, numa festividade que comemorava também o primeiro aniversário desta associação,331 que viria a ser um grande núcleo de cultivo de tradições gauchescas, declarado de utilidade pública em 1952 pela Assembleia de Deputados do Estado.332 No ano seguinte assumiu como primeiro tesoureiro, quando o Centro trabalhava pela transferência para uma nova sede,333 e é citado como o diretor da revista Ceres, “proveitosa publicação” dedicada à abordagem de assuntos agropecuários.334 Em 1933 aparece como um dos fundadores e diretor-tesoureiro da Cooperativa de Consumo do Estado de São Paulo.335 Em 1936 é um dos fundadores e gerente da revista O Atirador, órgão de divulgação dos Tiros de Guerra e das escolas militares. A revista tinha 64 páginas, com artigos “de alto critério” sobre as atividades militares brasileiras.336 Em 1937 ele é admitido na Associação Paulista de Imprensa337 e dois anos mais tarde está dirigindo, junto com Amleto Finzi, a revista trimestral Rádio Horário Brasil, que apresentava a programação de rádio das principais emissoras do país e do estrangeiro.338 Ele vai aparecer novamente em 1943, quando faz uma transmissão de bens,339 mas depois decorre um largo hiato nos registros até 1957, quando é listado novamente no cadastro eleitoral. Em 1960 é citado entre os acionistas do grande Lanifício Inglês,340 empresa que era controlada pela família de sua esposa Anita Gasparian, e depois nada mais se encontra a seu respeito.

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“No Centro Gaúcho”. Correio Paulistano, 16/10/1928 Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Lei n° 1.857, de 4 de novembro de 1952 333 “O Centro Gaúcho Terá Nova Sede”. Diário Nacional, 11/12/1929 334 “Publicações”. Diário Nacional, 06/12/1929 335 “Cooperativa de Consumo do Estado de S. Paulo”. Correio de São Paulo, 03/01/1933 336 “O Atirador”. Correio de São Paulo, 21/03/1936 337 “Associação Paulista de Imprensa”. Correio Paulistano, 29/08/1937 338 “Radio Horario Brasil”. Correio Paulistano, 30/06/1939 339 “Transmissão inter-vivos na capital – mês de julho de 1943” . Acrópole, nº 64 340 “Lanificio Inglez”. Diário Oficial do Estado de São Paulo, 02/12/1960 332

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Raymundo e Anita tiveram um só filho, h1) Fábio Antônio Buratto, nascido em 2 de agosto de 1930 em São Paulo e falecido em Campinas em 21 de janeiro de 2013. Ao que parece era funcionário da SETESC – Serviços Técnicos Gerais, uma autarquia do município de Campinas.341 Fábio Antônio por sua vez foi casado com Lygia Rossi, gerando h1a) Fábio Buratto, nascido em 17 de junho de 1957, empresário, divorciado de Luciana Junqueira de Assis. h1b) Nelson Buratto, nascido em 25 de agosto de 1958, advogado, candidato a vereador 342 e assessor jurídico da Prefeitura de Diamantino, no Mato Grosso. 343 h1c) Marcos Buratto, nascido em 24 de setembro de 1962, conselheiro da Federação Brasileira de Naturismo344 e sócio-proprietário da empresa Setor 4 Promoção de Eventos, com sua esposa Marcia Silva Hollerbach.345 h1d) Marcelo Buratto, nascido em 12 de dezembro de 1969, Mestre em Administração de Empresas, casado com Amanda.

341

“Fábio Antônio Gasparian Buratto”. SETESC, 21/01/2013 Quadro Político. Eleições Municipais 2004: Dados do candidato 343 “MT: prefeito tem bens bloqueados após show de dupla sertaneja”. Terra Notícias, 28/10/2011 344 Associação Naturista de Abricó. Ata da Assembléia Geral Extraordinária da Federação Brasileira de Naturismo, 13/09/2008 345 CNPJ-São Paulo. Setor 4 Promocao de Eventos Ltda. - ME 342

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i) Hermenegildo Pascoal Buratto, nascido em 10 de agosto de 1887, foi caixeiro-viajante, dono do Grande Hotel,346 representante da Economizadora Paulista, representante em Caxias de uma agência de advocacia e corretagem “faz-tudo” do ilustre porto-alegrense Thompson Flores, um dos fundadores e diretores da Sociedade Tiro de Guerra, um dos fundadores e presidente do Clube Juvenil por vários anos, para o qual prestou “inestimáveis serviços”, e um dos fundadores e conselheiro do Recreio da Juventude. 347 348 349 350 Aparece frequentemente viajando para a capital e em 1909 era presidente do Prado Independente em Porto Alegre.351 Foi dono de uma empresa de entretenimento com João Finco e Pedro Fonini, que abriu um café-concerto e cinematógrafo, sendo o primeiro cinema de Caxias, o Cinema Juvenil, ligado ao clube homônimo, que fez imediato sucesso, com a casa regularmente lotada. O jornal O Cosmopolita, em 1914, publicou anúncios onde eram elogiadas as condições de ventilação, a beleza do prédio do Cinema Juvenil e a esplêndida localização, Hermenegildo Buratto. Coleção Sergio Enio Buratto. bem no centro da cidade, exibindo “films d’arte das melhores fábricas”. Num espaço do cinema foi instalada em 6 de abril de 1912 a sede da Associação dos Comerciantes,352 que teve uma brilhante e influente trajetória na cidade, da qual trataremos mais adiante. Mais tarde abriu outro cinema em parceria com o tio Ludovico Sartori mais Caetano Finco, o Recreio Ideal, louvado na imprensa várias vezes e tido como o mais popular da cidade.353 354 Os primeiros cinemas serviam também como salas de teatro, música, variedades e eventos, sendo na prática verdadeiras casas de cultura, e já na época era reconhecido para o cinema um papel educativo e promotor do progresso.355 356 357 Hermenegildo teve também a sorte de ganhar na loteria em 1915, junto com um pequeno grupo, a fortuna de duzentos contos de réis.358 Em 1923 mudou-se para São Paulo,359 onde abriu uma empresa.360 No entanto, deixou para trás uma dívida de 15 contos de réis junto ao Banco Nacional do Comércio, foi citado judicialmente em 1924 e exigiu-se a execução do débito em 24 horas.361 Não foi pago, e dois terrenos que tinha na cidade foram afinal vendidos em hasta pública. Viveu até 26 de janeiro de 1974, falecendo em Porto Alegre, mas toda a segunda metade de sua vida passa inteiramente sem notícias.

346

“Accidente”. A Federação, 26/08/1933 “Caxias”. A Federação, 12/06/1911 348 “Anniversario do Club Juvenil”. Cidade de Caxias, 22/11/1911 349 “Club Juvenil”. Cidade de Caxias, 09/05/1912 350 “Recreio da Juventude – 85 Anos”. Pioneiro, 29/12/1997 351 “Acta da Assembleia Geral Extraordinaria”. A Federação, 19/06/1909 352 “Associação dos Comerciantes”. O Brazil, 06/04/1912 353 Pozenato, Kenia. M. M. & Giron, Loraine Slomp. “Os primeiros cinemas”. História Daqui, 10/10/2014 354 Da Costa, Ana Elísia; Stumpp, Monika & Sartori, Roberta. “Arquitetura para o lazer: cinemas e clubes na Serra Gaúcha, de 1930 a 1970”. In: 9º Seminário Docomomo Brasil: interdisciplinaridade e experiências em documentação e preservação do patrimônio recente. Brasília, junho de 2011 355 “Hóspedes e Viajantes”. Correio do Município de Montenegro, 10/08/1911 356 “Cinema Juvenil”. Cidade de Caxias, 12/08/1911 357 Pozenato & Giron, op. cit. 358 “Loteria Extraordinária de S. João”. A Federação, 25/06/1915 359 “Hospedes e Viajantes”. O Brasil, 20/01/1923 360 “Prefeitura do Município”. Correio Paulistano, 09/02/1923 361 “Editaes”. O Brasil, 01/04/1924 347

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O Cinema Juvenil. Arquivo Histórico Municipal.

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Casado com a “distinta signorina” Aurora Bragagnolo,362 de prestigiada família e citada nas crônicas sociais, nascida em 20 de agosto de 1897 e falecida em 28 de maio de 1996 em Porto Alegre, Hermenegildo Buratto teve os filhos: i1) Raphael Lúcio Buratto, nascido em 13 de dezembro de 1919, casado com Ethel Raabe, sobrinha de meu bisavô Augusto Artico, nascida em 18 de setembro de 1921, tendo os filhos: i1a) Vera Lucia Buratto, nascida em 3 de janeiro de 1945, casada com João Carlos Petersen Marafon, médico formado na UFRGS, nascido em 28 de julho de 1942, sendo pais de João Carlos Filho e Rafael, médico do Trabalho. i1b) Gilda Maria Buratto, nascida em 27 de agosto de 1946, casada com Jorge Luiz Ullmann, nascido em 2 de setembro de 1944, com as filhas Sharon e Luciana. i1c) Rafael Buratto, nascido em 23 de agosto de 1959, engenheiro mecânico, especializado em Construções Sustentáveis pela Universidade Cidade de São Paulo, diretor Técnico e Comercial da EJR Ar Condicionado e da Thermo Engenharia em Climatização, empresa em que é associado à esposa, Marcia Brodbeck, nascida em 9 de março de 1959, sendo pais de Maria Luiza, advogada especializada na área trabalhista, e Raffaela, graduada em Comunicação Social - Relações Públicas e pós-graduanda em Marketing Estratégico pela PUCRS, Menção Honrosa na categoria Monografias no Prêmio da Associação Brasileira de Relações Públicas com o trabalho Eventos mais sustentáveis: instrumento estratégico para construção e manutenção da identidade, imagem e reputação corporativa;363 também foi voluntária do Instituto Igor Carneiro e no programa Vida Urgente da Fundação Thiago de Moraes Gonzaga.

Raphael Lucio Buratto. Coleção Sergio Enio Buratto. Abaixo, Raffaela Buratto, à extrema esquerda, com o prêmio que recebeu. Foto Eu sou Famecos.

i2) João Emery Buratto, nascido em 14 de maio de1921, funcionário do Banco do Brasil, presidente da Associação Atlética Banco do Brasil de Porto Alegre364 e conselheiro da Associação dos Funcionários Aposentados e Pensionistas do Banco do Brasil – Rio Grande do Sul,365 casado com Ignez Linck, nascida em 28 de março de 1925, tendo os filhos:

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“Da Porto Alegre”. Città di Caxias, 14/04/1913 “Ex-alunas ganham prêmio por monografia - Prêmio ABRP é um dos mais importantes da área no país”. Eu sou Famecos, 07/10/2014 364 AABB – Porto Alegre. Ex-presidentes. 365 Teixeira, Ari. “Fortunati acompanha posse da diretoria da Afabb-RS”. Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Porto Alegre, 03/09/2014 363

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i2a) Jorge Eduardo Buratto, nascido em 20 de novembro de 1951, advogado, casado com Cátia Barcellos, nascida em 31 de março de 1952, psicóloga, pais de Marcelo, desenvolvedor na empresa EPS em Canberra, Austrália, e Eduardo. i2b) Milton José Buratto, nascido em 4 de agosto de 1953, casado com Neiva Müller, nascida em 18 de dezembro de 1956, agente de serviços para eventos e festeira, cuja criatividade “na elaboração de doces e mesas com cascatas dessas delícias tem sido alvo de todos os elogios em diversos tipos de eventos”,366 pais de Leandro, advogado, e Vinicius, engenheiro sanitarista e ambiental, um dos responsáveis pelo plano de gestão integrada de resíduos sólidos do município de Braço do Norte, em Santa Catarina.367

Leandro Buratto e a mãe Neiva. Foto Fabiano do Amaral / Correio do Povo. Abaixo, Margareth Buratto, marcada com ponto amarelo, entre os organizadores do Dia Nacional de Conscientização do Stress. Foto ISMA/BR.

i2c) Margareth Buratto, nascida em 23 de outubro de 1961, psicóloga, uma das organizadoras em 2010 do 10º Congresso de Stress da International Stress Management Association – ISMA/BR, que combinou-se ao 12º Fórum Internacional de Qualidade de Vida no Trabalho, ao 2º Encontro Nacional de Qualidade de Vida na Segurança Pública e ao 2º Encontro Nacional de Qualidade de Vida no Serviço Público,368 e uma das organizadoras em Porto Alegre do Dia Nacional de Conscientização do Stress de 2011,369 casada com José Fernando Fett Marques, nascido em 28 de junho do 1960, perito da Receita Federal, pais de Gabriela Linck Buratto Assunção Marques. i2d) Fernando Buratto, nascido em 26 de setembro de 1954, médico clínico geral e cardiologista, recipiente da Medalha Irmão Afonso da PUCRS,370 casado com Maria Angela Kuhn, nascida em 22 de agosto de 1955, gerando Fernanda e Márcio. i2e) Roger Artur Buratto, nascido em 3 de outubro de 1950, advogado radicado na Bahia, casado com Ana Luiza Oliva, psicóloga especializada em Administração de Recursos Humanos, professora, autora de livros e artigos, uma das elaboradoras do Programa de Apoio aos Dirigentes Municipais de Educação da Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação, 371 ex-coordenadora do Núcleo de Políticas Públicas e Mobilização Social da ONG Avante: Qualidade, Educação e Vida, e atualmente consultora associada da Avante e

366

Conill, Eduardo. “Formatura”. Correio do Povo, 01/03/2011 Prefeitura Municipal de Braço do Norte. Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos de Braço do Norte, 2015 368 Trabalho, Stress e Saúde: equilibrando esforço e recompensa – da teoria à ação. Porto Alegre, 22- 24/06/2010 369 “Dia Nacional de Conscientização do Stress”. ISMA-BR, 21/11/2011 370 “Universidade entrega Medalha Irmão Afonso para homenageados”. Assessoria de Comunicação Social PUCRS, 09/11/2010 371 Ministério da Educação - Secretaria de Educação Básica [Buratto, Ana Luíza Oliva & Sâmia, Mônica]. Pradime: Programa de Apoio aos Dirigentes Municipais de Educação: Memorial da gestão da educação municipal, 2008 367

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coordenadora do projeto Posso Falar?, dedicado ao combate ao trabalho infantil.372 373 São pais de Luiza, arquiteta e decoradora de interiores, vivendo em São Paulo; Gabriel, diretor Tributário da seccional de Salvador da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade,374 e Vicente, advogado, procurador da Fazenda Pública do Estado da Bahia,375 membro do Núcleo de Ações Fiscais Estratégicas da Procuradoria Fiscal376 e da Comissão de Direitos e Prerrogativas da OAB/BA, recipiente em 2009 do Prêmio Paulo Almeida na categoria Representação Judicial.377

Família de João Emery Buratto e Ignez Linck. Coleção Sergio Enio Buratto.

372

“Posso falar debate participação infantil e escuta de crianças como ferramenta de luta por seus direitos”. Secretaria Executiva da Rede Nacional Primeira Infância, 3 de agosto de 2015 373 Tribunal de Contas da União / Instituto Serzedello Corrêa. Diálogo Público: Fiscalização e Controle Social da Gestão Pública no Estado da Bahia. Salvador, 13-14/05/2004 374 Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade. ANEFAC Salvador 375 Tribunal de Justiça do Estado da Bahia – Juízo de Direito da 1º Vara da Fazenda Pública. Expediente do dia 16 de janeiro de 2009 376 “PGE implanta Núcleo de Ações Fiscais Estratégicas”. Toda Bahia, 30/07/2015 377 “Procuradoria Geral do Estado comemora 44 anos”. Fundação Luís Eduardo Magalhães, 04/04/2010

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i3) Paulo Ennio Buratto, nascido em 25 de fevereiro de 1926, foi casado com Heliana Maria Straatmann, nascida em 29 de agosto de 1926, com os filhos: i3a) Sergio Enio Buratto, nascido em 22 de fevereiro de 1951 em Porto Alegre, atua no ramo de sinalização comercial e propaganda, e foi o responsável pela organização de uma valiosa genealogia dos Buratto, da qual retirei a maioria das datas, casamentos e filhos da descendência do pioneiro Rafael Buratto. É viúvo de Maria Teresinha Rieger, nascida em 8 de novembro de 1948, sendo pais de Marcelo Enio, Daniel Felipe e Denise Beatriz, licenciada em Pedagogia. i3b) Claudio Buratto, nascido em Porto Alegre em 9 de maio de 1952, diretor da Buratto Indústria e Comércio, casado com Janete Maria Lancini, com quem teve os filhos Claudia, cirurgiã dentista, residente em São Paulo, casada com Leonardo de Santis, e Paulo Fernando, formado em Design.

Paulo Ennio Buratto. Abaixo, Sergio Enio Buratto e a esposa Maria Teresinha Rieger. Coleção Sergio Enio Buratto.

i3c) Carmen Helena Buratto, nascida em 16 de junho de 1956. i3d) Geraldo Buratto, nascido em 10 de setembro de 1964. Uma nota no Diário Oficial do Estado de São Paulo diz que Hermenegildo teve também um filho ilegítimo com Rosalina Catueiro, chamado Jorge, motorista de profissão, nascido em Ribeirão Preto em 1916, casado com Palmyra Bruno, 378 mas pode não se tratar do mesmo Hermenegildo. Ainda podem ser citados entre os Buratto caxienses Paulo Ricardo, gerente-geral da grande Voges Metalurgia e seu representante em outros estados; Luiz, nome de rua; Kenia, vice-coordenadora da Comissão de Ética do Hospital Nossa Senhora da Saúde,379 e Grecco, músico radicado em Taquara, já tocou com Sergio Mendes e Enrique Iglesias e atualmente desenvolve carreira internacional como integrante da banda da famosa cantora Shakira.380 Não foi possível descobrir a que ramo pertencem. Como é conhecida a descendência de Raymundo e Hermenegildo, os dois filhos homens de Rafael e Amalia, esses podem ser descendentes dos filhos adotivos dos pioneiros, mas podem também não ser parentes, o que está por ser averiguado. Shakira e Grecco Buratto. Foto IstoÉ.

378

“Faço saber que pretendem se casar”. Diário Oficial do Estado de São Paulo, 16/12/1933 “Comissão de Ética tomou posse no Hospital Saúde de Caxias do Sul”. Notícias COREN, 17/05/2010 380 Nogueira, Marcos Diego. “No ritmo das estrelas”. Isto É, 04/02/2011 379

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Voltando aos filhos de Salvador Sartori, temos: 2) Querino Luigi Sartori, na imagem ao lado, conhecido no Brasil como Guerino, nascido em 20 de junho de 1873, foi membro da Banda Ítalo-Brasileira, contribuiu para a construção da escadaria da Catedral,381 e aparece em 1913 como alferes da 4ª Companhia do 85º Batalhão de Reserva da Guarda Nacional.382 Foi citado entre 1908 e 1926 como dono de um açougue,383 em sociedade com seu irmão Massimo, sem dúvida herdado do pai. Talvez tivesse alguma participação nas cantinas de Alberto e Lino, provavelmente herdadas do pai e compartilhadas com os outros irmãos, pois em 1914 é citado entre outros membros da Cooperativa Vinícola de Caxias fazendo uma demanda junto ao poder público para solução da crise no setor.384 Atuou ao mesmo tempo como comerciante em São Francisco de Paula, vendendo seu negócio em 1922 para seu cunhado (?) Arnaldo Amoretti, e depois foi um dos pioneiros da hotelaria em Torres, abrindo um pequeno estabelecimento em 1923, na praia em que se radicou e que se tornou favorita dos caxienses, e que nesta mesma época começava a entrar na moda.385 386 Em 1931 é atestado integrando a Comissão de Contas do Grêmio 11 de Julho,387 e no ano seguinte foi um dos fundadores e vicepresidente da União dos Caçadores do Nordeste. Em 1934 assumiu como fiscal geral.388 Mais tarde voltou a Caxias, reaparecendo na imprensa local em 1939, quando contribuiu com 1,68 conto de réis para o calçamento da cidade com paralelepípedos,389 e ali viveu até o fim da vida. Seu hotel ficou sendo gerenciado pelo seu filho Cirilo. Faleceu em 21 de julho de 1951.

381

“Escadaria da Igreja”. Cidade de Caxias, 03/09/1911 “Guarda Nacional”. O Brazil, 13/12/1913 383 “Caxias”. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1908-1926 384 “La Cooperativa Vinicola di Caxias”. Città di Caxias, 29/01/1914 385 Cardoso, Eduardo Matos. A invenção de Torres: do Balneário Picoral à criação da Sociedade dos Amigos da Praia de Torres – SAPT (1901-1950). Dissertação de Mestrado. Unisinos, 2008 386 Schlosser, Joana Carolina. “As nossas praias”: Os primórdios da vilegiatura marítima no Rio rande do Sul (19001950). Dissertação de Mestrado. PUCRS, 2010 387 “Gremio 11 de Julho”. A Federação, 10/07/1931 388 “União de Caçadores”. A Federação, 02/06/1934 389 “O Calçamento da Cidade”. A Época, 16/06/1939 382

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Detalhe da pousada que Guerino montou em Torres. O bloco visível era a administração, e para a direita havia um anexo para os quartos. Foto Casa de Cultura de Torres.

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Acervo do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.

Santina Amoretti, sua esposa, foi uma das fundadoras, membro da primeira Diretoria, tesoureira e conselheira da Associação Damas de Caridade.390 391 associação que inicialmente se organizou para promover a fé e construir o altar-mor da Catedral, ampliou suas atividades beneficentes socorrendo os pobres e se tornou a fundadora e mantenedora do grande Hospital Pompeia, que até hoje tem caráter filantrópico. Antes do surgimento do Pompeia, em 24 de junho de 1920, o primeiro hospital de Caxias do Sul e da região, as Damas atendiam os doentes nos domicílios e cuidavam até da limpeza das casas.392 Segundo o padre Brandalise, “só Deus sabe quanta caridade foi feita. Todas as Diretorias foram incansáveis e dedicavam grande parte do dia ao Hospital. [...] Graças a estas Damas temos, com o apoio da autoridade eclesiástica, este monumento que orgulha Caxias do Sul”.393

390

“A Associação Damas de Caridade”. O Brazil, 28/04/1914 “Associação Damas de Caridade”. A Época, 13/08/1953 392 Almeida, Edlaine Cristina Rodrigues de. História da Escola de Enfermagem Madre Justina Inês: uma instituição de ensino superior formando enfermeiras em Caxias do Sul/RS (1957-1967). Dissertação de Mestrado. Universidade de Caxias do Sul, 2012 393 Brandalise, op. cit. 391

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Nas páginas seguintes incluí duas reportagens, uma de 1939 sobre algumas de suas realizações até a data, e outra publicada no jornal A Época em 13 de agosto de 1953 por ocasião das comemorações dos 40 anos da Associação, onde se narra sua origem e a do Hospital, uma instituição que desde sua fundação tem prestado inestimáveis serviços aos caxienses, atendendo grande população carente de graça, elogiada pela qualidade do atendimento, e para a qual colaboraram muitos de meus parentes, seja ligados à entidade mantenedora das Damas de Caridade, seja através de colaborações independentes. O texto demonstra a estima que a instituição granjeara na comunidade e a sua importância social.

116 Santina Amoretti

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O complexo do Hospital Pompeia nos anos 40, vendo-se à esquerda, o palacete onde as Damas de Caridade tinham sua sede, ao centro o prédio novo, e à direita as primeiras instalações do Hospital. Foto Geremia, AHM.

O conhecido poeta Vico Thompson dedicou-lhes um poema, publicado no jornal Città di Caxias em 11 de novembro de 1918: Quem são esses Anjos que andam voando de asylo em asylo a dar um conforto à um’alma sem vida sem luz, sem abrigo que morre de dôr?...

Ah... sei: são as almas que estão abrazadas nas chamas divinas que o Bom Nazareno nos trouxe a esta terra nas dobras das dôres que dão-nos a paz...

Quem são essas luzes que andam nas trevas da eterna miseria vagando, perdidas em busca dos filhos que choram, que gemem, que pedem um pão?...

São estas Senhoras que vejo envolvidas em mantos modestos a andar pelas ruas, pedindo e dizendo: Que dando aos coitados empresta-se a Deus!!!

Quem são estas flores de rica beleza que deixam suas várzeas E correm, sorrindo, a dar seu perfume, seu mystico encanto, ás flores do val?...

Depois que seu marido transferiu seus negócios para Torres, Santina o acompanhou ajudando no gerenciamento do hotel. Também foi membro da Ala Feminina da Ação de Resistência Nacional,394 um movimento político de tendência radical, alinhado ao Integralismo.

394

“Ala Feminina da Acção de Resistencia Nacional”. A Federação, 17/11/1934

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O altar-mor da Catedral, cuja construção foi um dos primeiros objetivos das Damas de Caridade. É trabalho de Francisco Meneguzzo, auxiliado por José Gollo e Alexandre Bartele. Apesar de ser uma obra-prima do mais alto valor, foi mutilado em reformas posteriores, perdendo suas extensões laterais.

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Antiga lata da Aveia Soberana, uma das marcas mais populares da indústria dos Corsetti. Foto Mercado Livre.

Os filhos de Guerino e Santina foram Amélia, Claudia, Maria, Cirilo e Nicolau. a) Amélia Sartori, nascida em 16 de janeiro de 1909, dedicou-se ao lar, casada com Victorio Hermógenes Corsetti,395 comerciante, de uma família de grandes industriais e comerciantes de grãos, frutas, hortaliças, rações, farinhas, massas e implementos agrícolas, fundada por Angelo, que hoje é nome de uma avenida. Victorio foi também um dos fundadores, duas vezes vice-presidente e duas vezes presidente da Sociedade Caxiense de Auxílio aos Necessitados (SCAN), entidade assistencialista criada sob os auspícios das Conferências Vicentinas.396 397 398 399

b) Claudia Sartori foi conhecida professora de Educação Física e diretora da Escola Complementar, a primeira escola para formação de professores de Caxias,400 citada várias vezes nas crônicas sociais. Foi casada com outro Corsetti, José Angelo, filho de João e sobrinho do fundador Angelo, participando da administração da empresa familiar. José Angelo foi ainda conselheiro da Sociedade de Mútuo Socorro Príncipe de Nápoles e tesoureiro da SCAN. 401 402

395

“Edital nº 1057”. O Momento, 08/06/1936 “S.C.A.N.” O Momento, 18/04/1938 397 “SCAN”. O Momento, 07/04/1945 398 “SCAN”. O Momento, 15/06/1946 399 “Sociedade Caxiense de Auxílio aos Necessitados”. O Momento, 17/06/1950 400 “Excursão de Complementaristas”. A Época, 06/11/1938, 401 “Onze de Novembro na Soc. Principe di Napoli”. O Momento, 22/11/1934 402 “Restabelecimento”. O Momento, 20/11/1939 396

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O moinho Corsetti. Foto Ana Elísia da Costa.

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Roni Rigon, Pioneiro, 24/06/2004. Abaixo, Claudia Sartori Corsetti em foto do Pioneiro. Ao lado, sua filha Berenice, em foto do Observatório da Educação.

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Os filhos de Claudia foram: b1) Dulce Corsetti, graduada em Comunicação Social na UCS e especializada em Comércio Exterior na UNISINOS, foi sócia-proprietária da Sagres Representações Internacionais, gerentegeral da Internacional Serviços Marítimos, diretora-presidente do Órgão Gestor de Mãode-Obra do Trabalho Portuário dos Portos de Salvador e Aratu e assessora da Bahia Modal.403 b2) Norberto Corsetti, diretor superintendente da empresa familiar, falecido tragicamente em acidente de aviação em 1981.404 b3) Dirceu Corsetti, nome de rua, mas de vida não esclarecida. b4) Berenice Corsetti, graduada em História pela Universidade de Caxias do Sul, com Dulce Corsetti, foto de Dulce. especialização na Universidade Federal Fluminense, onde também obteve seu mestrado. Graduou-se Doutora e Pós-Doutora em Educação pela UNICAMP. Atualmente é professora titular da UNISINOS, integrando o corpo permanente do Programa de Pós-Graduação em Educação, coordenando a Linha de Pesquisa I (Educação, História e Políticas). Integra o Projeto Observatório da Educação e desde 2008 é membro do Comitê de Ética em Pesquisa da UNISINOS. Tem vasta bibliografia publicada.405 Foi também uma das raríssimas mulheres a integrar o Conselho Deliberativo do Sport Club Internacional, onde a maciça maioria é composta de homens, e chegou a concorrer à Presidência em 2010. Pessoa combativa e dedicada ao social, liderou greves e movimentos de classe de professores e desenvolveu trabalho voluntário nos programas sociais do Internacional, fundou o Mulher Colorada, participou da Fundação de Educação e Cultura e atua há muitos anos no Criança Colorada. 406 407 b5) Mauro Corsetti, economista, diretor de Economia, Finanças e Estatística e conselheiro temático de Economia e Finanças da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias. 408 b6) Verônica Corsetti, comerciante, casada com um Grazziotin.

403

“Dulce Corsetti”. Linkedin “Empresa gaúcha de 133 anos pede recuperação judicial”. ClicRBS, 30 de julho de 2012 405 “Berenice Corsetti”. Currículo Lattes 406 “Grêmio na Final da Libertadores. Inter com a tríplice coroa. Uma reflexão sobre o futebol gaúcho. Entrevista especial com Berenice Corsetti”. Instituto Humanitas – UNISINOS, 13/06/2007 407 Behs, Leandro. “Berenice Corsetti tenta ser a primeira mulher dirigente da Dupla”. Zero Hora, 27/10/2010 408 Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul. Diretorias. 404

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Outros membros notados da família Corsetti são Magda, conhecida professora do Colégio São Carlos e do Cursão, palestrante convidada em muitos eventos, destacada no 9º Encontro da Mulher Empreendedora, presidente do Conselho da Liga Feminina de Combate ao Câncer e uma das fundadoras da Associação de Amparo à Criança e ao Adolescente com Câncer da Serra Gaúcha.409 410 411 412 Casada com João Alberto Torresini, Magda é filha de Leonor Venturella e Attilio Angelo Corsetti, que hoje é nome de rua, e neta de João Corsetti e Regina Andreazza. Darwin, outro filho de João, empresário, vereador, presidente da Câmara, presidente da Festa da Uva, jornalista e diretor-gerente do jornal O Momento, de grande circulação, e um dos fundadores do Aeroclube; ao falecer em 2008 a Prefeitura decretou luto oficial por três dias em memória de sua relevante atuação na comunidade.413 414 Foi casado com Tereza Serafini, parente pelo lado materno.

Magda Corsetti Torresini palestrando na CIC, foto CIC. Abaixo, Higino Corsetti (o segundo à esquerda) recebendo o título de Doutor Honoris Causa na UFSM em 1973. Foto do Patrimônio Arquivístico da UFSM.

Higino Caetano, filho de Angelo, bacharel em Letras,415 engenheiro, coronel do Exército, primeiro comandante do Curso de Comunicações da Academia Militar de Agulhas Negras em 1960 e também da Escola de Comunicações do Exército Brasileiro, que hoje leva seu nome, Doutor Honoris Causa da UFSM, ministro das Comunicações do governo Medici, responsável pela primeira transmissão a cores da TV brasileira, em evento transmitido de Caxias do Sul numa das edições da Festa Nacional da Uva,416 417 grande promotor do desenvolvimento infraestrutural e tecnológico nas comunicações brasileiras.418 Luciano, sócio da empresa familiar, contabilista, representante comercial,419 festeiro de Santa Teresa,420 bibliotecário e conselheiro jurídico da Associação dos Comerciantes,421 422 jornalista, diretor da sucursal do Correio do Povo, delegado da Associação Riograndense de Imprensa423 e depois prefeito,424 casado com Maria Pieruccini, filha de Dosolina Sartori Bonalume e Fioravante Pieruccini, que serão citados mais tarde. Seu discurso na promulgação da nova Lei Orgânica é um interessante exemplo da retórica política em meados do século XX e vai reproduzido a seguir. 409

“Professora fala dos paradigmas das relações humanas em reunião-almoço da CIC”. Assessoria de Imprensa da CIC27/05/2013 410 “9ª edição do evento Encontro da Mulher Empreendedora”. Serra Nossa, 13/03/2012 411 DOMUS. Sócios Fundadores. 412 DOMUS. Sócios Fundadores. 413 Lopes, Rodrigo. “Memória fotográfica no jornal Pioneiro”. Pioneiro, 02/03/2015 414 “Decretado luto oficial pela morte de Darwin Corsetti”. Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Caxias do Sul, 15/09/2008 415 “Novos bachareis em Letras”. O Momento, 12/12/1935 416 “A primeira transmissão a cores da TV brasileira”. O Explorador, 25/10/2008 417 Griffante, Ariel. “Reflexos de Progresso”. Revista Live, s/d. 418 Siqueira, Ethevaldo. “Ascensão e queda do modelo estatal das telecomunicações”. TeleQuest, 20/08/2014 419 “Transporte Aereo de Correspondencia”. O Momento, 13/06/1935 420 “A festa de nossa padroeira”. O Momento, 09/10/1933 421 “Associação dos Comerciantes”. O Momento, 09/10/1933 422 “A Posse da Nova Diretoria da Ass. dos Comerciantes”. O Momento, 22/11/1934 423 “Novo Delegado da A.R.I. em Caxias”. O Momento, 21/04/1941 424 “A posse do novo prefeito eleito de Caxias”. O Momento, 24/12/1947

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Luciano Corsetti, foto O Momento.

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Voltando aos filhos de Guerino e Santina, ainda temos: c) Maria Sartori participou da fundação e da primeira Diretoria da sociedade esportiva e recreativa Grupo Helênico. Foi assinalada várias vezes na imprensa como uma das melhores alunas da Escola Complementar, tornando-se professora em 1934, na segunda turma de formados, aprovada com medalha de ouro.425 d) Cirilo Romeu Sartori, hoje nome de rua em Torres, herdou do pai o hotel e o manteve ativo por décadas, foi 2º secretário da União dos Caçadores,426 e casou-se com Nicra Fantinel, professora e por 21 anos diretora da Escola Marcílio Dias.427 Cirilo faleceu em 28 de novembro de 1970, deixando os filhos Fernando, Alexandra, Carlos, médico, Onella, professora e sucessora da mãe na direção da escola, casada com um Barbosa, e Flávio José. e) Nicolau Sartori foi um dos pioneiros da aviação na cidade,428 tirando seu brevê na primeira turma de formados do Aeroclube de Caxias. Sua turma foi objeto de matéria de Rodrigo Lopes no Pioneiro, que transcrevo a seguir. “Antigo diretor do departamento de bridge do Clube Juvenil e campeão estadual no final dos anos 1950, o empresário Claudino José Frigeri também manteve estreita relação com o Aeroclube de Caxias do Sul. Em 1942, um ano após a inauguração do espaço no bairro Cinquentenário, Frigeri tirou o brevê, juntamente com os amigos Girolamo Magnabosco e Nicolau Sartori. [...] “Fundado em 19 de fevereiro de 1941, o Aeroclube surgiu em meio à Segunda Guerra Mundial (19391945), período em que se buscava a rápida formação de pilotos para a reserva da Força Aérea Brasileira. Inicialmente localizado em uma área do bairro Cinquentenário, o espaço contou com cerca de 10 mentores, entre eles o idealizador e primeiro presidente Júlio Sassi, morto em 2005, e o empresário e ex-vereador Doviglio Gianella, falecido em 2012. A transferência para o endereço atual, no bairro Salgado Filho, deu-se 13 anos depois, em 1954”.429 Com sua qualificação de piloto, ingressou na Força Aérea e recebeu a patente de tenente. Chegou a viajar para os Estados Unidos em 1945 para preparar-se para lutar na II Guerra Mundial, mas o conflito encerrou antes de ele entrar em combate. Ao casar abandonou a carreira militar e passou a se dedicar à indústria, empenhando-se também em atividades 425

“Colação de grau das alunas mestras que concluíram o curso na Escola Complementar de Caxias”. A Federação, 04/04/1934 426 “União de Caçadores”. A Federação, 02/06/1934 427 Eberhardt, Camila. Fotografias de Ensino: memória e representações imagéticas da educação pública na cidade de Torres/RS (1960-1980). Dissertação de Mestrado. PUCRS, 2013 428 Aeroclube de Caxias do Sul. “Escola de Aviação”, 12/11/2010 429 Lopes, Rodrigo, “Brevetados do Aeroclube de Caxias do Sul em 1942”. Pioneiro, 29/05/2015

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comunitárias e sociais, sendo lembrado em seu obituário como uma “personalidade extrovertida, alegre e carinhosa”, “apreciador de bons vinhos”, e “apaixonado pela praia”.430 Foi presidente do Sindicato das Empresas de Veículos de Carga,431 pelo menos duas vezes membro da Diretoria da Festa da Uva,432 433 e presidente da Comissão de Festas do Clube Juvenil.434 Foi casado com Werony dos Santos, conhecida colunista social do jornal Pioneiro e ativa colaboradora nas atividades de Nicolau na Festa da Uva e no Juvenil. Causou polêmica a recente derrubada do seu histórico casarão, conhecido como Palacete Rosa, raríssimo representante da corrente Neocolonial ou Neobarroca na cidade.435 436 Nicolau faleceu em 2 de junho de 2016. O casal teve os filhos e1) Ricardo Sartori, sócio-gerente na NWS Consultoria, casado com Lizia Mastella; e2) Alexandre Sartori, formado em Administração, casado com Marta; e3) Katia Sartori, casada com Rubem Rech, proprietário da empresa Bmzak Beneficiamento Metal Mecânico, pais de Manoela Sartori, empresária, recentemente lançou uma saladaria expressa em Porto Alegre, a Saladear To Go; e4) Rachel Sartori, casada com Luiz Alberto Gazzola, empresários de turismo com a Gazzola Travel, pais de e4a) Renata Gazzola, advogada, assessora do desembargador Sylvio Baptista Neto no Tribunal de Justiça do Estado, e e4b) Marcelo Gazzola, sócio-administrador na empresa dos pais.

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“Obituário”. Pioneiro, 07/06/2016 SIVECARGAS. Presidentes. 432 “D. Benedito Zorzi: Igreja participa da Festa da Uva”. Diário de Notícias, 17/01/1965 433 “Comissão de Festas e da Rainha inicia promoção da Festa da Uva-81”. Pioneiro, 31/05/1980 434 “Será amanhã o Baile de Debutantes do Clube Juvenil de Caxias do Sul”. Diário de Notícias, 07/11/1969 435 “Estudantes de arquitetura organizam velório da casa rosa da Rua Tronca, em Caxias”. Pioneiro, 19/08/2014 436 “Estudantes se despedem de casa histórica com velório em Caxias do Sul”. Pioneiro, 20/08/2014 431

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A antiga residência de Luiz Amoretti, construída em 1881, uma das mais antigas edificações de Caxias ainda existentes. Foto de Loraine Giron.

Os Amoretti, “antiga e conceituada família desta cidade”,437 descendem do pioneiro Nicolau Luiz, proprietário do lote C no Travessão Norte da 2ª Légua e de dois lotes na Sede Dante,438 casado com Maria (Marieta) Santini, filha do “venerando” Emanuel Santini, radicado em Ana Rech.439 Sua casa de madeira, erguida em 1881, ainda sobrevive, uma das mais antigas edificações da cidade. Foi padeiro, abriu um restaurante com bilhar, e foi o primeiro funcionário dos Correios em Caxias, dando nome ao prédio atual da Agência Central dos Correios.440 441 Além de Santina, Nicolau teve os filhos Cecília, socialite;442 Antonieta, socialite, casada com Américo Ribeiro Mendes, um dos fundadores do Clube Juvenil,443 vereador, presidente da Câmara, escritor, fundador e sócio da Livraria Mendes, e proprietário do jornal O Brasil, de grande circulação, hoje nome de uma rua e de uma escola;444 445 Sebastião, que faleceu com 60 anos em 1942, 446 e Luiz, um dos fundadores do Clube Juvenil e associado ao Centro Borges de Medeiros.447 448 Teve pelo menos outro filho, João, do qual não achei notícia salvo o registro de chegada.

437

“Anniversario”. O Popular, 22/08/1929 Gardelin & Costa 2ª ed., op. cit. 439 “Necrologia”. O Brasil, 15/04/1922 440 Giron, Loraine Slomp. “Casas de Madeira 3”. História Daqui, 28/08/2011 441 Vargas, Pepe. Projeto de Lei nº 128, de 2011. Comissão de Educação e de Cultura, Câmara dos Deputados 442 “Vida Social”. O Brasil, 21/01/1921 443 Clube Juvenil. Histórico do Clube. 444 “Enfermos”. A Época, 03/08/1941 445 Oliveira, Marcelo. “Fatos Históricos de hoje, 15 de Novembro”. Panorama, 15/11/2013 446 “Falecimentos”. O Momento, 05/12/1942 447 “A Festa do Centro”. O Brazil, 19/09/1909 448 Clube Juvenil. Histórico do Clube. 438

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O pioneiro Nicolau Luiz Amoretti. À direita, Americo Ribeiro Mendes. Fotos em Adami (1971).

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Outras figuras notórias do passado e do presente na família Amoretti são Maria, que participou da fundação e da primeira Diretoria da sociedade esportiva e recreativa Grupo Helênico;449 Marina, casada com José (?) Viale, “senhora de aprimoradas virtudes de coração”, cujo falecimento “consternou profundamente a sociedade de Caxias, em cujo seio contava um vasto círculo de relações”, e cujo enterro foi “extraordinariamente concorrido”; era mãe do capitão e comerciante Felipe Viale, e sogra de Saturnino Ramos, presidente da Associação dos Comerciantes;450 Arnaldo, caixeiro da Casa Serafini, “moço distinto que se tem imposto à gratidão de seus chefes pela sua dedicação e atividade”, depois da Diretoria do Clube Juvenil;451 452 Eunice e Iracema, da primeira turma de formadas da Escola Complementar;453 Antonio, conhecido dono de restaurante e nome de rua; Sylvia, socialite e professora da Escola Complementar, casada com Vinicius Lisboa, “alto funcionário da Prefeitura”, diretor da Fazenda,454 455 filho de Joaquim Pedro Lisboa, o criador da Festa da Uva, e pais de Marcos, primeiro campeão caxiense de futebol de mesa,456 de Álvaro, considerado o pai da hidrogeologia do Paraná;457 e de Nelson, doutor em Geociências e professor na UFRGS, com muitos artigos publicados.

Hermes Gazzola e Maria Elena Pereira Johannpeter recepcionados por Ana Amoretti Caravantes (à direita), presidente da Parceiros Voluntários. Foto Pioneiro.

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“Grupo Helenico”. O Popular, 24/01/1929 “Necrologia”. O Brasil, 23/04/1921 451 “Casa Serafini”. O Brazil, 21/07/1917 452 “Club Juvenil”. Città di Caxias, 16/06/1918 453 Bergozza, op. cit. 454 “Falecimento”. A Época, 23/02/1941 455 “Aniversários”. A Época, 31/05/1953 456 “Marcos Pedro Amoretti Lisboa – nosso primeiro campeão”. Coluna de Adauto Celso Sambaquy, 19/09/2011 457 Núcleo Paraná da Associação Brasileira de Águas Subterrâneas. “Lisboa era um apaixonado pela água de beber“. ABAS Informa, nº 138 450

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Também se notam Ana Amoretti Caravantes, produtora cultural e presidente da ONG Parceiros Voluntários; 458 459 Daniel Amoretti Caravantes, diretor de Negócios Internacionais da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços, sucessora da Associação dos Comerciantes;460 Mário, diretor Financeiro Previdenciário e da Diretoria Executiva do Fundo de Aposentadoria e Pensão da Prefeitura; 461 e Daniela, diretora do Sindicato dos Bancários e membro do Comando Nacional dos Banrisulenses.462 Nos terrenos antes pertencentes a Alberto, Sétimo, Attilio e Guerino Sartori, onde estava situada metade da antiga casa de Salvador, que incendiou em 1924,463 em 1928 o Recreio da Juventude construiu o Cine Theatro Central, um dos mais interessantes prédios históricos de Caxias, originalmente com suntuosa decoração interna, além de estatuária de fachada e mascarões de Estácio Zambelli, membro de famosa família de santeiros e decoradores, e nele foi instalada a primeira sede social do Esporte Clube Juventude, uma derivação do Recreio.464 A outra metade do primitivo Palacete Sartori sobreviveu por mais algum tempo, mas já pertencente a outras pessoas, e um dos seus quatro antigos módulos ainda estava de pé nos anos 70, já um pouco modificado e ocupado por um bar, depois de ter sido usado como pensão no segundo piso e pequenos negócios no térreo.

O Cine Theatro Central em sua configuração original. À direita, o último bloco remanescente do antigo Palacete Sartori, ocupado na data da foto (1947) pela Pensão Familiar e outros negócios. Detalhe de foto de Reno Mancuso. . Pulita, João. “Social de quarta”. Pioneiro, 27/12/2014 Duarte, Adriano. “Família pobre que sobrevive sem renda ganha doações em Caxias do Sul”. Pioneiro, 13/04/2013 460 CIC. Negócios Internacionais. 461 Prefeitura Municipal de Caxias do Sul. Decreto nº 10.484, de 21 de agosto de 2001 462 “Fetrafi-RS divulga a nova composição Comando dos Banrisulenses 2012/2013”. Fetrafi-RS 463 “Um espetaculo impressionante – pavoroso incendio”. O Brasil, 14/06/1924 464 Recreio da Juventude. Histórico. 458 459

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3) Settimo Sartori (Septimo, Sétimo), nascido em 8 de julho de 1877 e falecido em 5 de janeiro de 1939, foi membro da Banda Ítalo-Brasileira e comerciante generalista, com casa muito sortida de fazendas e bebidas, além de joias, bijuterias, lenços e outros adereços femininos, onde funcionava também um café com salão de jogos.465 Investiu na indústria, produzindo tijolos e sabão, premiado na Exposição Agro-Industrial de 1916 com medalha de bronze e menção honrosa.466 Foi ainda sócio-fundador do primeiro hipódromo de Caxias, localizado na zona norte da cidade, em terras que lhe pertenciam, sendo inaugurado em 19 de março de 1922, com elogios na imprensa.467 468

Settimo Sartori

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Pieruccini & AHM, op. cit.. “A Exposição”. O Brazil, 11/03/1916 467 “Prado Caxiense”. O Brasil, 26/11/1921 468 “Sports”. O Brasil, 18/03/1922 466

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Detalhe de foto de Domingos Mancuso mostrando o comércio de Sétimo em 1904, no antigo casarão da família Sartori. A casa branca ao lado seria adquirida e reformada por seu irmão Alberto para instalar um café-bilhar.

136 Acervo AHM

Sétimo foi casado com Rosalba Maineri (Rosinha), com os filhos Antonio, padrinho de minha tia Marisa Frantz Panceri, e Francisco. Antonio Sartori foi industrial,469 tendo uma olaria, provavelmente herdada de seu pai. Depois de algum tempo os negócios entraram em declínio e ele se mudou para Porto Alegre. Ali prosperou novamente e deixou descendência, mas nada mais se sabe dele. Francisco Sartori também é figura obscura; só pude descobrir que foi soldado do Batalhão Ferroviário,470 falecendo em 1940. Segundo Marisa, foi vítima de tuberculose. A família de Rosalba Maineri tornou-se tradicional em Caxias, com vários membros destacados, como a própria Rosalba, Dama de Caridade, citada como “distinta senhora”; 471 472 473 Domingos, comerciante estabelecido no 6º Distrito, revolucionário em 1892, depois membro da Junta Eleitoral e juiz de paz; 474 475 476 Francisco, “acreditado comerciante”, da primeira Diretoria da Associação dos Comerciantes e da Cooperativa Agrícola; 477 478 479 Natal, juiz de futebol, cuja “criteriosa e honesta” arbitragem era “por si uma garantia de bom futebol”,480 481 e João Luiz, conhecido advogado, escritor e jornalista, um dos fundadores da Academia Caxiense de Letras, auditor da Junta Disciplinar Esportiva e muito ligado ao futebol. 482 483 484 João Luiz casou-se primeiro com Ernestina Cavalcanti Vianna, escrivã do Cartório de Casamentos, com quem teve os filhos Içara e Tibiriçá, e depois com Branca Clos, sem filhos. Seu obituário foi pródigo em elogios e citou outras de suas realizações: “Jornalista da Folha da Tarde na época de estudante, trabalhou no jornal Pioneiro em Caxias do Sul, foi escritor e poeta. Sempre envolvido em movimentos litero-culturais nas cidades de Caxias do Sul e Tupanciretã. [...] Conhecido como uma pessoa divertida, culta e agradável, adorava o time do Grêmio, onde foi cônsul honorário e o Juventude, onde foi dirigente. Na década de 50, abriu em Caxias seu próprio jornal: 469

“Edital”. O Momento, 08/01/1940 “O pagamento das diárias dos ex-soldados do Batalhão Ferro-Viário”. O Brasil, 07/06/1924 471 “Terremoto na Itália”. Correio do Município, 10/01/1909 472 “Factos e Noticias”. Cidade de Caxias, 06/01/1912 473 “Novo altar”. O Brazil, 03/09/1910 474 Centro de Memória da Câmara Municipal de Caxias do Sul, op. cit. 475 “Editaes”. Correio do Município, 10/01/1909 476 “Jurisprudencia Commercial”. Città di Caxias, 01/07/1913 477 “Registro aureo”. Correio do Município, 09/07/1909 478 “Homenagem”. Città di Caxias, 06/04/1918 479 “Cooperativismo”. O Brazil, 24/02/1912 480 “Juízes”. A Época, 22/09/1940 481 “Bento Gonçalves x Caxias”. A Época, 06/10/1940 482 Maineri, João Luiz. “O Direito, o Advogado e a Prova”. A Época, 29/11/1953 483 “Junta Disciplinar Esportiva”. A Época, 06/10/1940 484 Hoffmann, Salvador & Mascia, Nelly Veronese. Vultos da Cultura e Arte de Caxias do Sul. E.A., 1961 470

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Vida Esportiva. Também foi fundador do Centro de Tradições Gaúchas Rincão da Lealdade. Apaixonado por corridas de cavalo e jogo do bicho, era popular pela sorte que o acompanhava. Na política foi fundador, juntamente com Fernando Ferrari, do Movimento Trabalhista Renovador na década de 60. Pessoa divertida, contador de histórias e famoso por suas trovas nas festas que era convidado, costumava defender as pessoas mais necessitadas”.485 Seu pai, João, casado com Filomena Hippolito, foi sapateiro estimado na cidade, e com ele meu avô Alcides Longhi aprendeu o ofício. Sua irmã Lia, “lourinha meiga e gentil”, casada com Paulo Longhi, foi citada nas crônicas sociais.486 487 488 4) Alberto Sartori nasceu em 15 de fevereiro de 1866. Na chegada ao Brasil, em 1879, seu pai adquiriu para ele um lote de terra de 43 mil m2 no Travessão Vittorio Emanuele da 7ª Légua, quitado em 1884.489 Foi membro da Banda Ítalo-Brasileira e casou-se em 20 de fevereiro de 1895 com Felicità dal Canale. Antes de 1907 abriu dois bilhares e um café e explorava “jogos lícitos”. Em 1907 um dos bilhares já havia sido vendido e nesta época abriu o primeiro de vários hotéis que teria, estabelecimento classificado como de 1ª classe.490 Talvez fosse o Hotel Firenze, localizado na praça central, onde residia e realizava bailes e banquetes, famosos pelo seu serviço impecável.491 492 493 Outro do qual se conhece o nome foi o Hotel Democrata.

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Falecimentos desta Segunda-feira. Pioneiro, 16/11/2013 “Noivado”. A Época, 01/07/1954 487 “Aniversários”. O Momento, 27/03/1943 488 Elioth. “Réveillon no Juvenil”. O Momento, 13/09/1947 489 Gardelin & Costa, op. cit. 490 Município de Caxias. Livro de Registro de Imposto sobre Indústrias e Profissões, 1907, 1908 491 “Recreio da Juventude”. O Brazil, 06/02/1913 492 “Hotel Brasil”. Gazeta Colonial, 06/01/1909 493 “29 de junho”. Gazeta Colonial, 30/06/1906 486

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Foi vice-presidente da Associação dos Carreteiros, importante entidade de auxílio aos produtores, industriais e comerciantes em um tempo de estradas precárias que dificultavam o comércio. Foi industrial do vinho, com produto apreciado e exposto no Rio de Janeiro em uma grande mostra de vinhos gaúchos, 494 495 citado em 1918 no jornal A Federação como um dos maiores exportadores do município,496 dirigente da Associação dos Comerciantes – entidade que em poder e influência só ficava atrás da Intendência e do Conselho Municipal – e membro de uma comissão da Associação encarregada de pleitear junto ao governo estadual a redução dos altos impostos sobre o vinho.497 498 Foi muitas vezes membro do júri popular, e tenente quartel-mestre do Estado Maior do 85º Batalhão de Reserva da Guarda Nacional.499 Em 1910 participou da organização das grandes festas para a inauguração da Via Férrea, integrando a Comissão de Ornamentação.500 Em torno de 1911 adquiriu o café-bilhar de Vittorino Panarari, demoliu a casa de madeira onde ele estava instalado e construiu Alberto Sartori uma em alvenaria, aparelhando o bilhar com equipamentos mais modernos. No piso superior foi instalada a terceira sede do Recreio da Juventude, importante clube social que teve entre seus fundadores Honorino Sartori, sobrinho de Alberto, e vários outros parentes. Alberto depois vendeu o bilhar para o celebrado fotógrafo Domingos Mancuso, que o rebatizou de Café Gaúcho. 501 Neste local mais tarde foi erguido o edifício Muratore, o popular “Caixinha de Fósforo”, onde Alcides Longhi, meu avô, teve um apartamento, até hoje em posse da família.

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“Per l’abolizione della tassa vinícola”. Città di Caxias, 27-28/09/1915 “Os vinhos rio-grandenses”. A Federação, 18/10/1918 496 “Vida econômica”. A Federação, 20/04/1918 497 Gardelin, Mário. “A contribuição de Vacaria para o desenvolvimento da região dos Campos de Cima da Serra”. In: Raízes da Vacaria - VII Encontro dos Municípios Originários de Santo Antônio da Patrulha. Vacaria. 498 “Caxias do Sul” O Brazil, 24/07/1915 499 “Guarda Nacional”. O Brazil, 13/12/1013 500 “Inauguração da via-ferrea. As festas projectadas”. O Brazil, 21/05/1910 501 Adami, João Spadari. História de Caxias do Sul. Tomo IV – Sociedade. Editora São Pedro, 1966 495

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Foto de Domingos Mancuso mostrando a população reunida na estação ferroviária para a chegada do trem em 1910.

Com seus vários negócios, Alberto acumulou grande capital, e viajou à Europa em 1919 para aprender mais sobre a fabricação de bebidas. Na volta, mudou-se para Porto Alegre, ambicionando conquistar o mercado metropolitano. No entanto, o projeto não frutificou. Seus filhos ficaram em Porto Alegre estudando e muitos acabaram lá radicados, mas ele e a esposa voltaram a Caxias depois de dois anos, 502 onde Alberto, filiado ao Partido Republicano desde longa data, tendo sido um dos seus dirigentes em 1905,503 passou a trabalhar para o Município.504 505 Em 1920 vendeu cinco hectares de terras que possuía nas imediações do Curtume Social Caxiense pela pequena fortuna de 22,5 contos de réis para a construção do quartel do Exército. 506 Ele pode ter tido alguma ligação com este curtume, pois os empregados organizaram um baile de carnaval em sua casa em 1921,507 mas Alberto se tornou conhecido pelos banquetes e festas que organizava sob contrato, e pode ter sido apenas outro desses eventos. Ainda em 1921 é citado como dono de uma fábrica de licores 508 e construtor do primeiro hipódromo de Caxias.509

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Sartori, Venisio Antonio. Alberto Sartori. Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami. Depoimento, 20/12/2006a 503 “Os republicanos e A Federação”. A Federação, 08/03/1905 504 Bueno, Ricardo. Galópolis e os Italianos: patrimônio histórico preservado a serviço da cultura. Quattro Projetos, 2012 505 Sartori, op. cit. 506 “Construcção do quartel”. O Brasil, 15/01/1921 507 “Carnaval”. O Brasil, 05/02/1921 508 “Indústrias caxienses”. O Brazil, 08/01/1921 509 “Prado Caxiense”. O Brasil, 26/11/1921

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Alberto Sartori, já viúvo, com alguns de seus filhos. Só foram identificadas claramente as pessoas a partir do padre Luiz Victor, que está vestido com o hábito da Igreja, na fila da frente. Para a direita aparecem então Venisio, o patriarca Alberto, Paulo e Albertina. A primeira mulher à esquerda deve ser Isolina, e as outras, na fila de trás, devem ser Julia, Maria e Nair. Outros que estão nesta foto, mas não localizados, são Romeu e Ernesto. Coleção de Venisio Sartori.

No fim da década de 20 é novamente encontrado a residir em Porto Alegre. Em 1927 aparece no cadastro eleitoral da capital 510 e quando seu filho Luiz Victor foi lá ordenado padre em janeiro do mesmo ano, a imprensa diz que os pais residiam na paróquia de São Pedro.511 Pouco mais de um mês depois deste evento, sua esposa faleceu. No mesmo ano Alberto retornou a Caxias, e tendo antigas ligações com a política e a Municipalidade, voltou a trabalhar para a Prefeitura, embora seu título eleitoral permanecesse até 1929 em Porto Alegre.512 Pouco mais tarde abriu outro hotel em Galópolis, onde viveu com algumas filhas. Em 1932 era sub-prefeito do 3º Distrito (possivelmente desde 1931) e foi nomeado delegado distrital do recenseamento geral do Município.513 Em 1934 foi nomeado responsável pelo serviço de limpeza pública do Município, com o salário anual de 3,6 contos de réis,514 cargo renovado em 1935.515

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“Edital”. A Federação, 17/01/1927 “Ordenação de um sacerdote”. A Federação, 11/01/1927 512 “Edital”. A Federação, 19/02/1929 513 Município de Caxias. Recenseamento Geral do Município realisado em 14 de julho de 1932. Typografia da Livraria Mendes, 1932 514 “Município de Caxias – Lei de Orçamento para 1934”. O Momento, 15/01/1934 515 “Prefeitura Municipal de Caxias – Lei de Orçamento”. O Momento, 28/03/1935 511

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Em 1937 pediu aposentadoria por estar doente,516 e faleceu em 25 de março de 1938. Aparentemente foi sepultado em Porto Alegre no Cemitério de São Miguel e Almas. Felicità dal Canale (Felicidade), sua esposa, era filha dos pioneiros Luigi dal Canale e Teresa Tondin, nascida em Feliz em 10 de julho de 1876, durante a viagem de seus pais subindo a serra. Diz João Laner Spinato que Felicità foi a primeira criança filha de imigrantes que nasceu na colônia.517 Dela quase nada se sabe. Fez raríssimas aparições na imprensa, quase sempre enviando condolências para famílias amigas enlutadas. Foi uma das senhoras que cuidaram da mãe do cônego Meneguzzi em sua doença final.518 Faleceu em 26 de fevereiro de 1927. Suas últimas palavras, uma prece, foram preservadas: O Gesù, di amor acceso, non ti avessi mai offeso; o mio caro e buon Gesù, non ti voglio offender più. Os pioneiros dal Canale chegaram a Caxias em 12 de setembro de 1876 e se radicaram na 5ª Légua. Tiveram, além Felicità, os filhos Francisco, Rosa,519 Francesca, 520 e mais três de nome ignorado. Seu nome familiar tem várias grafias: dal Canale, dal Canali, dal Canalli, Dalcanale, Canalli e Canale. Ao que Felicità dal Canale Sartori tudo indica são todas variantes de um mesmo grupo familiar, e alguns de seus membros são registrados em mais de uma forma, como o pioneiro Luigi, citado como Dalcanale, dal Canali, e dal Canale.521 522 A família teve vários representantes notórios, dos quais se pode citar o patriarca Luigi, nascido em 24 de junho de 1852 em Ronchi Valsugana, região de Trento. Na Itália fora marceneiro, e no Brasil trabalhou como construtor de casas.523 Logo integrou-se à comunidade e envolveu-se na política, sendo um dos fundadores do Partido Republicano.524 Foi também membro da Diretoria do Esporte Clube Juvenil, 525 e um dos fundadores da Sociedade de Mútuo Socorro Príncipe de Nápoles.526 Era um “inseparável compadre” de meu bisavô João Paternoster, como falou Costamilan. Faleceu em 27 de março de 1933 e mais tarde foi saudado por Manoel Peixoto de Abreu e Lima entre os bravos e operosos fundadores de Caxias.527 Sua filha Francesca, dona de “excelsas virtudes”, foi casada com Antonio Piccini, grande comerciante 516

“Aposentadoria”. O Momento, 07/06/1937 Sartori, Venisio Antonio. Felicità Dalcanale Sartori. Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami. Depoimento, 20/12/2006b 518 “Agradecimento e Missa”. O Brazil, 13/05/1916 519 Gardelin & Costa, op. cit. 520 “Necrologia”. Città di Caxias, 01/02/1913 521 Gardelin & Costa, op. cit. 522 Adami (1950), op. cit 523 Sartori, Venisio (2006b), op. cit. 524 “Caxias”. A Federação, 09/06/1890 525 “Sport Club Juvenil”. A Federação, 07/07/1921 526 Sartori, Venisio (2006b), op. cit. 527 Abreu e Lima, op. cit. 517

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em Porto Alegre, com os filhos Luigi e Augusta. 528 Ligaram-se à colônia italiana da capital e foram citados entre as “pessoas gradas” da cidade.529 Depois de falecida Francesca, Antonio casou-se em 1914 com Maria Pilla Pasqualatto. Depois de enviuvar, Luigi casou-se com Rosa Piva,530 que foi Dama de Caridade, tendo muitos outros filhos: Guerino, Alberto, João, Luiz, Antonieta, Catarina, Maria Luiza, Ursulina e Teresa. Alberto adquiriu o controle acionário da Companhia de Madeiras do Alto Paraná, empresa argentina que tinha em seu patrimônio 105 mil alqueires de terra entre o Paraná e Santa Catarina,531 onde foram fundadas numerosas cidades, tornando-se um dos maiores colonizadores do sul do Brasil. Luiz juntou-se ao irmão em sua empreitada colonizadora. Mais tarde ampliariam seus territórios. A família tornou-se riquíssima, atualmente dirigindo o Banco Araucária. Seu sucesso, entremeado de recentes escândalos,532 foi registrado pelo jornal DiHitt em duas reportagens: “Apesar de seus problemas contemporâneos (Caso das 200 Mil Árvores e Escândalo do Banestado/Araucária), a família Dalcanale foi, seguramente, uma das mais importantes de toda a história do Paraná, sobretudo para a formação de seu interior. O patriarca Alberto Dalcanale tem seu nome invariavelmente associado a cada passo importante do desenvolvimento do Oeste do Paraná, embora apenas Toledo demonstre gratidão a esta família, através da denominação do Aeroporto Luiz Dalcanale Filho. A saga dos Dalcanale é longa. Começa na distante Europa, muito antes que os nomes de Alberto e Luiz Dalcanale começassem a despontar como alguns dos empreendedores gaúchos mais ousados e visionários dos quais se tem notícia. [...] Teriam saído da Itália a 2 de maio e chegado ao Campo dos Bugres (antigo nome de Caxias) no dia da Festa do Divino Espírito Santo, indo estabelecer-se na 7ª légua, com os seguintes companheiros, entre outros: Giuzeppe Pezzi, [Giovanni] Battista Longhi, Luigi Rech, Pedana, Rizzon, Bolfe, Maschio e Brustolin. [...] “A mãe era extremamente religiosa. Ia à missa todos os dias, e no final da tarde, reunia os filhos para rezar. A região serrana, Caxias, Farroupilha, Bento Gonçalves, era de minifúndios e altos preços, por outro lado, e a maioridade dos filhos, numerosos em todas as famílias, em regra, agudizava os problemas de emprego e trabalho. O jovem Alberto Dalcanale cuidou do assunto de uma maneira diferente. “No início da década de 20, apareceu em Caxias do Sul, com a família, um enólogo francês - ingenieur agricole - que vinha contratado pelo governo brasileiro para fundar a estação experimental da uva na região. Depois de alguns anos, o contrato foi prorrogado por mais quatro anos, e Louis Esquier, este era o seu nome, foi obrigado a trazer para o Brasil a filha Jeanne, de 14 anos, que havia deixado na França, interna num colégio de freiras. Alberto apaixonou-se pela moça, foi correspondido, e quando ela voltou, com a família, para a França, ele ficou com o primeiro e maior problema da sua vida. Trabalhou por dois longos anos, reuniu o dinheiro que pôde, e revelou aquele que seria o traço de sua personalidade e de seu sucesso empresarial: a autoconfiança e a capacidade de se impor ao respeito das outras pessoas.

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“Necrologia”. Città di Caxias, 01/02/1913 “A paz Italo-Turca’. A Federação, 11/11/1012 530 Gardelin & Costa 2ª ed., op. cit. 531 “Dalcanale acredita em revisão”. Paraná online, 14/07/2005 532 “Isso nunca deu em nada?” Luís Nassif online, 19/03/2013 529

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“Como procurador da mãe, com todos os poderes, realizou um negócio ligeiramente atípico, que um civilista poderia situar entre gestão de negócios e empréstimo compulsório, para reposição vantajosa a certo prazo: vendeu um terreno de dona Rosa, a pretexto de problemas com o calçamento de uma rua, e, com o dinheiro, tocou-se sozinho para a França. No dia 2 de agosto de 1930, às 11 horas, na igreja paroquial de Avignon, a família e os amigos de Louis Esquier assistiram ao casamento da bela Jeanne avec Monsieur Albert Dalcamale (como constou do convite). Vestido a caráter, tranqüilo e nos conformes, ele mantinha no bolso as passagens de uma bela viagem de núpcias pela Europa. De volta ao Brasil com a esposa, Alberto foi residir em Cruzeiro (Joaçaba), que era, então, uma das portas de entrada do Extremo-Oeste, e dedicou-se ao ramo de terras e colonização. 533 “Casando-se na França, Alberto Dalcanale iniciava uma carreira de colonizador que o levaria a substituir os ingleses quando eles, no pós-guerra, desistiram de continuar seu domínio sobre o interior do Paraná. A partir de então, quem dominaria o Brasil seriam os EUA. Mas quem puxou a colonização do interior do Paraná foram os gaúchos, dos quais o primeiro a ter sucesso foi Alberto Dalcanale através de uma grande habilidade para negociar e se reunir a novos sócios, como narra seu filho Luiz Alberto: Foi nesse regime societário, liderança mais parceria, que os negócios deram certo. Começando por Ponte Serrada, iniciativa da firma De Carli e Companhia, de Caxias do Sul (RS), e que tinha na liderança local o sr. Bortolazzi, veio a seguir Vila Oeste, hoje São Miguel do Oeste, um trabalho inicial da firma Barth, Benetti e Cia, depois Barth, Anoni e Cia, que tinha como líder Willy Barth e José Anoni, de Carazinho no Rio Grande do Sul. “Mais tarde, segundo o depoimento de Luiz Alberto, essa empresa passou a se chamar Colonização e Madeiras Oeste Ltda, e teve como seus diretores José Festugato II, também de Carazinho: Esta empresa associou-se a um grupo de Erechim no Rio Grande do Sul, liderado por José Sponchiado, Hélio Wasum e Angelino Rosa. Fundaram a Industrial e Colonizadora Erechim Ltda., que iniciou a colonização de Salgado Filho e Barracão, no estado do Paraná. Desejando aumentar sua atividade na região de São Miguel do Oeste, Alberto Dalcanale, juntamente com seu irmão Luiz Dalcanale e Alfredo Ruaro, de Farroupilha (RS), constituíram a empresa Pinho e Terras Ltda., colocando como seu gerente local Olímpio dal Magro. “Esta firma foi responsável pela colonização de inúmeras áreas no Oeste de Santa Catarina, e Anchieta é uma delas. Além disso, foi quem conduziu para o Oeste Catarinense as colonizadoras de São José do Cedro e Romelândia, de Romeo Granzzoto. Em 1946, Alberto Dalcanale passou a residir em Curitiba. Quase na mesma época, iniciava-se a colonização das áreas em que se situam, hoje, os municípios de Céu Azul (nome escolhido pela filha Ivete), Matelândia, Medianeira, São Miguel do Iguaçu, Santa Terezinha e Palotina. Mais tarde, na década de 50, inicia-se a urbanização de áreas na cidade de Foz do Iguaçu e Cascavel, promovendo grandes loteamentos.

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“Vendeu terreno da mãe para casar com francesinha”. DiHitt, 11/02/2009

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“A família Matte, detentora de boa parte das terras da região, criou a Companhia Florestal do Paraná, em Foz do Iguaçu, para explorar e colonizar a região. Havia dificuldades imensas e o projeto fracassou. A família chegou a trazer migrantes gaúchos, mas quase ninguém ficou por conta da total falta de estrutura. Assim, os Matte hipotecaram grande parte de seus bens a Alberto Giambeli & Cia., que por sua vez transferiu seus direitos a Ramon Lopez. O restante da hipoteca ficou para a Caixa Econômica Federal, Banco da Província do Rio Grande do Sul e a União Popular de Venâncio Aires. Sabendo disso, Alberto Dalcanale levantou a hipoteca, negociou seu pagamento e ficou com as terras. A partir daí, organizou a Colonizadora Gaúcha e a Pinho e Terras Ltda. Assim começaram a surgir as cidades da chamada Rota Oeste, entre Cascavel e Foz do Iguaçu. Alberto Dalcanale, portanto, desenvolveu um leque de atividades empresariais que fizeram dele um dos nomes mais importantes e destacados da colonização do Oeste de Santa Catarina e Sudoeste do Paraná. “Alberto Dalcanale comprou a totalidade das ações da Cia de Madeiras Del Alto Paraná S.A., uma sociedade com sede na Argentina, mas de propriedade de um grupo inglês. Esta empresa era proprietária da Fazenda Britânia, no Oeste do Paraná, uma área de 110 mil alqueires. Dalcanale lidera, então, a incorporação dessa área em uma empresa que fundou juntamente com um grupo gaúcho – a Industrial e Colonizadora Rio Paraná S.A. (Maripá). Surge, assim, um megaprojeto de colonização, que mereceu, inclusive, os aplausos da FAO, uma organização da ONU para a agricultura e alimentação, como o melhor plano de colonização da América Latina, e que hoje é representado pelos municípios de Toledo, Marechal Rondon, Nova Santa Rosa, Maripá, Pato Bragado, Entre Rios e Quatro Pontes, dentre outros”.534 “Hoje, segundo seu filho Luiz Alberto Dalcanale, os mais de duzentos mil alqueires que ele adquiriu, colonizou e vendeu, pertencem a quase um milhão de brasileiros, em mais de uma dezena de municípios. Uma centena de cidades surgiram da iniciativa do seu trabalho, no Oeste de Santa Catarina e no estado do Paraná. Alberto, na verdade, tornou-se um especialista no assunto: escolher área atrativa, grande e bem localizada; planejar as colônias, considerando acesso e águas; eleger o ponto ideal da sede; apoiar os compradores com assistência social e religiosa; promover os financiamentos, equipamentos, sementes e insumos agrícolas; abrir as estradas vicinais, e às vezes, colocar até o transporte coletivo regular, o armazém, a secagem de cereais ou a fábrica de aproveitamento das matérias-primas. “De relacionamento fácil, sabia que o segredo do empreendimento era escolher bem o gerente local, geralmente um líder da cidade de origem, no Rio Grande do Sul. Os colonos negociavam, portanto, com uma pessoa amiga, de sua confiança, ou pelo menos, muito recomendada pela voz corrente. Os sócios e parceiros, [pois] sempre trabalhou dividindo empreendimentos, também os escolhia com o mesmo critério, entre gente conhecida e de confiança, utilizando uma pessoa jurídica para figurar como proprietária da colonização. Emprestavam credibilidade ao projeto, canalizavam os compradores, resolviam os problemas locais, num grande e complexo esforço, de que brotavam cidades”. 535

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“O grande empreendedor”. DiHitt, 17/02/2009 “Vendeu terreno da mãe para casar com francesinha”. DiHitt, 11/02/2009

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“Os últimos anos de Alberto foram passados em Balneário Camboriú e Cabeçudas, no litoral catarinense. Morreu em Curitiba, em 19 de novembro de 1980. Dona Jeanne, a francesinha, faleceu em Florianópolis, em 16 de janeiro de 1994. Deixaram os filhos Luiz Alberto (advogado e político) e Roger Dalcanale (economista), residentes em Curitiba, e a filha Ivete, casada com Paulo Bornhausen, residente em Florianópolis”. 536 Alberto virou nome de rua em várias cidades e de uma rodovia estadual do Paraná. O filho Luiz Alberto, advogado, foi deputado e presidente da Assembléia Legislativa do Paraná, presidente do Banco Araucária, presidente da Celepar – Tecnologia de Comunicação e Informação do Paraná,537 e um aficcionado do hipismo. Presidente da Sociedade Hípica Paranaense por três vezes, presidente da Federação Paranaense de Hipismo por duas vezes, conselheiro vitalício e presidente da Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo de Hipismo, participou de provas no Brasil e no exterior, foi chefe da equipe do Brasil em concurso internacional de Carrasco no Uruguai e tem inúmeras classificações e títulos no Brasil e no exterior. Fundou um grande haras e clube campestre que leva o seu nome, mais conhecido como Haras Adal. Seus filhos seguem seus passos no hipismo, com muitas premiações em competições de relevo.538 Teresa, outra filha de Luigi dal Canale, hoje nome de rua, foi casada Luiz Alberto Dalcanale. Foto blog Jota com Guerino Zugno, de família conhecida na cidade, industrial, Agostinho. conselheiro do clube social Recreio Guarany, vereador e membro da comissão para a construção do Monumento Nacional ao Imigrante, que marcou o início da reconciliação entre os descendentes de italianos e os brasileiros após a repressão governamental,539 540 541 542 batizando depois uma escola. O casal gerou o ilustre engenheiro agrônomo e botânico José Zugno, renovador da agricultura, da apicultura e da ovinocultura local, sócio-fundador e presidente da Cooperativa de Plantadores de Tungue, adotou a inseminação artificial no gado, criou as exposições distritais de produtos agropecuários, implantou exposições no centro urbano para valorizar os trabalhadores da zona rural, criou a Feira do Agricultor, eliminando a presença do intermediário, integrou a equipe de doze prefeitos como secretário da Agricultura, de Planejamento ou chefe do Gabinete, além de participar da organização de muitas edições da Festa da Uva, recebendo os títulos de Cidadão Emérito e Engenheiro Agrônomo do Ano.543 Voltemos agora aos Sartori.

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“O grande empreendedor”. DiHitt, 17/02/2009 “Inaugurada galeria de presidentes da Celepar”. Celepar, 27/11/2014 538 Haras Adal. O Haras. 539 “Recreio Guarany”, A Época, 06/07/1944 540 “Guerino Zugno”. A Época, 25/11/1939 541 Giron, Loraine Slomp. “Vargas e Caxias (2)”. História Daqui, 03/09/2013 542 “O Poder Legislativo Municipal”. A Época, out/1949, edição do 11º aniversário 543 “Um semeador de idéias pela qualidade da vida agrícola”. Correio Riograndense, Especial. 537

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Santinho do acervo do AHM. Ao lado, Julia Sartori Vigna e seu filho. Abaixo, sua assinatura, que consta no verso da foto.

Alberto Sartori e Felicità dal Canale tiveram dezesseis filhos. a) Honorino Ermindo nasceu em 1911 e ao que parece faleceu com menos de vinte anos. Sobre as vidas de b) Nair e c) Idele (Caxias, 27/03/1899 – Porto Alegre, 16/12/1926), nada pude descobrir. d) Alberto II é outro mal conhecido, só descobri que serviu no Exército e possivelmente também faleceu jovem. e) Julia Sartori em sua juventude foi citada na crônica social em eventos beneficentes.544 545 Casou-se em Porto Alegre em 8 de setembro de 1923 com Salvador Vigna,546 nascido em 1896,547 comerciante e industrial porto-alegrense “vastamente relacionado e bem-quisto”, “destacado esportista”, 548 um dos fundadores da Sociedade Gondoleiros em 1915,549 presidente do Esporte Clube São José 550 e um dos doadores do terreno onde foi construído o seu Estádio Passo d’Areia,551 falecido em 27 de julho de 1964. O casal teve os filhos: e1) Gilberto Vigna, artista plástico, figurinista, diretor e cenógrafo de teatro e televisão.552 553 Foi o cenógrafo de novelas famosas produzidas pela Rede Globo.554 555

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“Chá-kermesse”. O Brasil, 10/04/1920 “Caxias nas festas do centenário”. O Brasil, 15/07/1922 546 “Vida Social”. A Federação, 10/09/1923 547 “Edital: Serviço Eleitoral”. A Federação, 11/11/1926 548 “Necrologia”. Diário de Notícias, 28/07/1964 549 “A Sociedade Gondoleiros comemora, hoje, o seu Jubileu de Ouro”. Diário de Notícias, 05/03/1965 550 “Cruzeiro e São José encerrarão, hoje, o Campeonato da Cidade ”. Diário de Notícias, 17/11/1940 551 Moraes, Ronaldo Dreissig de; Silva, Carolina Fernandes da & Mazo, Janice Zarpellon. “Esporte Clube São José de Porto Alegre (RS): a busca pela sua sede definitiva (1913-1940)”. In: Revista Kinesis, 2014; 2 (31):22-37 552 Magaldi, Sábato. Amor ao teatro. Edições Sesc, 2016 553 Levi, Clovis. “Um lápis entre a vida e a morte”. O Globo, 09/06/1979 554 Memória Globo. O Rebu – 1ª Versão 555 Memória Globo. Gabriela – 1ª Versão 545

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Um dos seus principais trabalhos foi a criação, junto com Mário Monteiro, de toda uma cidade cenográfica para a primeira versão da novela Gabriela. Diz a Memória Globo: “Uma réplica da cidade de Ilhéus (BA) foi construída em Guaratiba, zona oeste do Rio de Janeiro. Os cenógrafos Mário Monteiro e Gilberto Vigna, apoiados pela Divisão de Engenharia da TV Globo, basearam-se nos desenhos do artista plástico Carybé para projetar os cenários. A construção da cidade cenográfica exigiu o aterro de uma área de 1.200m2 – mais tarde, encoberta por jardins projetados pelo paisagista Burle Marx – , e a instalação de uma caixa d’água com capacidade de 16 mil litros além de um transformador de 50kw, para prover iluminação e geração de força para as gravações”.556 e2) Gilmar Vigna, arquivista da Secretaria Municipal de Obras e Viação de Porto Alegre, casado com Lenir Selbach.557 Ao falecer, o Diretório Nacional do PSDC lembrou sua trajetória política: “A Comissão Executiva do Diretório Nacional do PSDC – Partido Social Democrata Cristão, com pesar vem comunicar aos Democrata Cristãos de todo o país, o falecimento no dia 31 de maio de 2017, de nosso companheiro da primeira hora: GILMAR VIGNA. Gilmar Vigna foi um dos 115 Membros Fundadores do PSDC, em 30 de março de 1995. Foi também um dos nove membros da histórica primeira Comissão Diretora Estadual Provisória do PSDC do Estado do Rio Grande do Sul. Sua permanente lealdade aos ideais e princípios do PSDC, foi a marca de sua vida, na árdua, mas vitoriosa reconstrução nacional da Democracia Cristã no Brasil”.558 Lenir é filiada ao PSDC e empresária com a Vegna (sic) Indústria de Bordados Bolsas e Confecções. Tiveram pelo menos dois filhos: e2a) Otávio Luiz Selbach Vigna, nascido em 05/03/1960, biólogo e biomédico, mestre em Ecologia, biólogo da Unidade de Segurança Meio Ambiente e Saúde da Petrobras,5597 empresário com a Ecoltech Viveiro, e candidato a vereador pelo Partido Verde em Bombinhas, Santa Catarina.560 e2b) Antônio Carlos Selbach Vigna, arquiteto e urbanista, político do PSDC,561 candidato a deputado federal,562 gerente de Projetos e Estudos de Mobilidade da Empresa Pública de Transporte e Circulação,563 membro do Conselho Gestor do Fundo Municipal de Apoio à Implantação do Sistema Cicloviário de Porto Alegre (BikePoa), e principal responsável pelo projeto.564 565 Julia e Salvador Vigna tiveram também e3) uma filha casada com Guido Afonso Mussoi, de nome incerto, provavelmente Gilda, com descendência. Somente um de seus filhos foi descoberto, Guido Afonso Mussoi Filho, advogado e comerciante, residente em São Paulo.

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Memória Globo. Gabriela – 1ª Versão Concessão de aposentadoria. Diário Oficial do Município de Porto Alegre, 25/07/2017 558 “Nota de Pesar”. PSDC Notícias, 02/06/2017 559 “Quem Faz o que pela Mata Atlântica" será atualizado anualmente a partir de 2003”. Notícias Instituto Socioambiental, 06/12/2001 560 “Eleições Municipais do ano 2000: Otávio – 43643”. Eleições e Política.net 561 Nery, Sebastião. A eleição da reeleição: histórias, estado por estado. Geração Editorial, 1999 562 “Eleições 98”. Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul 563 “Portarias. Protocolo: 147343”. Diário Oficial de Porto Alegre, 06-07/01/2016 564 “Vá pedalando, compartilhe essa ideia!”. RRPP Atualidades Online, 20/06/2013 565 Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Decreto Municipal 19044 /2015 557

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f) Venisio Antônio Sartori foi aprovado em 1954 no vestibular para a Faculdade de Direito da PUCRS,566 e tornou-se advogado. Em 1967 assumiu o lugar de Martin Schenk, esposo de sua irmã Isolina, como mestre de tinturaria do Lanifício São Pedro em Galópólis.567 Mais tarde voltou a advogar. Deixou importantes depoimentos sobre a família no Arquivo Histórico Municipal, mas não fala de si. Faleceu em 30 de novembro de 2015 com 94 anos.568 Foi casado com Ivanizi Maria Amoretti, tendo o filho Renato, casado com Carmen Beatriz Mezzomo e pai de Lucas Antônio. g) Maria Sartori radicou-se em Porto Alegre, onde foi uma das fundadoras do Grêmio Feminino Republicano Liberal Evaristo Flores da Cunha, o primeiro centro político feminino organizado no estado.569 Foi casada com Helmuth Gustavo Richter, comerciante em Porto Alegre. “Muito estimada na sociedade local”, Maria faleceu em 5 de novembro de 1959,570 e Helmuth a seguiu em 3 de julho de 1985.571 Seus filhos foram g1) Rony Richter, g2) Mônica Richter, e g3) Luiz Cláudio Richter.572 Luiz Cláudio, engenheiro, foi casado com Lígia Pinto Serrano, nascida em Porto Alegre em 30 de outubro de 1949, e falecida em 23 de setembro de 1997, sendo pais de Maria Cláudia, nascida em Porto Alegre em 18 de fevereiro de 1973, engenheira. h) Paulo Pedro Sartori deu baixa no Exército como 2º tenente 573 e formou-se bacharel em Direito em 1947 em Porto Alegre,574 mas desde antes já se envolvera com o jornalismo esportivo, partricipando da fundação em 1945 da Associação dos Cronistas Esportivos de Porto Alegre, que veio a presidir.575 Na década de 1950 foi muito ativo como esportista, por muitos anos colaborou com a Federação Atlética Riograndense, chegando à Presidência comandando uma “equipe admirável” que contribuiu para profissionalizar modalidades antes praticadas apenas amadoristicamente, como o vôlei e o basquete.576 Foi ainda membro do Conselho de Julgamento da Federação Gaúcha de Voleibol,577 membro do Tribunal de Justiça Desportiva,578 membro da Diretoria do Sindicato dos Jornalistas de Porto Alegre,579 redator e secretário do Jornal do Dia,580 redator do jornal Hoje, órgão da Frente Democrática,581 e vice-presidente, presidente interino e conselheiro da Associação Riograndense de Imprensa.582 583

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“Candidatos aprovados no vestibular da faculdade de Direito”. Diário de Notícias, 10/03/1954 Bueno, Ricardo. Galópolis e os Italianos: patrimônio histórico preservado a serviço da cultura. Quattro Projetos, 2012 568 “Falecimentos desta segunda-feira”. Pioneiro, 30/11/2015 569 “Revestiu-se de brilhantismo a posse da Directoria do Gremio Feminino R. Liberal Evaristo Flores da Cunha”. A Federação, 04/01/1933 570 “Falecimentos”. Diário de Notícias, 07/11/1959 571 Cemitério da Irmandade Arcanjo São Miguel e Almas. Listagem dos sepultados por ordem alfabética de sobrenomes. 572 “Falecimentos”. Diário de Notícias, 07/11/1959 573 “Pessoas chamadas”. Diário de Notícias, 10/09/1955 574 “Bacharelandos de 1947”. Diário de Notícias, 24/11/1957 575 “Prefeito participa de comemoração dos 70 anos da Aceg”. Prefeitura de Porto Alegre, 17/10/2015 576 “Respingos Náuticos”. Diário de Notícias, 25/08/1955 577 “Grêmio x Piratas”. Diário de Notícias, 03/09/1955 578 “Deliberação da Secretaria”. Diário de Notícias, 22/10/1957 579 “Reconduzido Fermino Bimbi à presidência do Sindicato dos Jornalistas de Porto Alegre”. Diário de Notícias, 20/02/1957 580 “Falecimentos”. Diário de Notícias, 07/11/1959 581 “Nova fase de Hoje”. Diário de Notícias, 11/11/1954 582 “Paulo Sartori assumiu a Presidência da ARI”., 14/07/1957 583 “Eleito o novo Conselho Deliberativo da ARI”. Diário de Notícias, 30/03/1959 567

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Em 1965 Paulo integrou o Gabinete de Mário Mondino, secretário de Estado do Interior e Justiça, assumindo a Direção do Departamento de Fiscalização dos Serviços de Diversões Públicas, órgão que exercia a censura no tempo da ditadura.584 Em 1966 participou da fundação e assumiu a Diretoria do Departamento de Relações Públicas da Associação dos Consultores Jurídicos e Advogados de Ofício do Rio Grande do Sul; 585 em 1967 assumiu como juiz titular do Tribunal de Justiça Desportiva,586 participou da fundação do Serviço de Imprensa da Associação Comercial e assumiu sua Direção,587 e em 1970 foi citado como secretário-geral da Federação das Associações Comerciais.588 Em 2015 Paulo Pedro foi homenageado postumamente pela Prefeitura de Porto Alegre com os outros fundadores da Associação dos Cronistas Esportivos Gaúchos.589 Foi casado com Marília da Cunha, falecida em 8 de novembro de 2009. Seus filhos foram Elvira,590 morta antes de 2009, Paulo e Flávio.591 Paulo, aparentemente médico, é casado com Vera Garcia, que lhe deu os filhos Ana Paula, médica radiologista, e Eduardo, médico anestesiologista. Flávio, advogado, é casado com Elizete, sendo pais de Fernanda, analista corporativo pleno no Sistema FIERGS.

O coronel Washington Bermudez, secretário de Segurança Pública, e Paulo Sartori, diretor do DFSDP. Foto Diário de Notícias.

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“Mondino assume enaltecendo as providências de C. Branco”. Diário de Notícias, 28/10/1965 “Assoc. dos Consultores agora tem departamentos”. Diário de Notícias, 10/07/1966 586 “TDJ com novo juiz”. Diário de Notícias, 03/06/1967 587 “Homens & negócios”. Diário de Notícias, 23/11/1967 588 “Homens & negócios”. Diário de Notícias, 26/09/1970 589 “Prefeito participa de comemoração dos 70 anos da Aceg”. Prefeitura de Porto Alegre, 17/10/2015 590 “Diário Social”. Diário de Notícias, 30/10/1959 591 “Obituário”. Zero Hora, 13/11/2009 585

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Flávio Sartori com a esposa Elizete e a filha Fernanda, foto de Elizete. Ao lado, Paulo Sartori e seus filhos Ana Paula e Eduardo. Foto de Ana Paula.

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i) Romeu Sartori nasceu em 1913 e foi comerciante em Porto Alegre, onde “gozava de muita estima”, mas faleceu em 24 de maio de 1935 com apenas 22 anos, “após longa enfermidade”.592 j) Ernesto Sartori foi membro da Comissão de Fiscalização de Campo do Grêmio Futebol Clube593 e funcionário da Cooperativa dos Empregados da Viação Férrea,594 falecendo em 27 de julho de 1968 e sendo sepultado no Cemitério de São Miguel e Almas de Porto Alegre. Foi casado com a professora de Artes Ricardina Teixeira Pretz.595 Tiveram a filha Lia, nascida em 5 de novembro de 1935,596 e o filho Pedro Luiz.597 j1) Lia Pretz Sartori casou-se com Sérgio Bertoglio,598 de uma tradicional família de Lajeado.599 Sérgio é médico ginecologista e obstetra, foi homenageado durante a 16ª Semana Gaúcha de Combate ao Uso de Drogas no município,600 e foi um dos fundadores 601 e presidente da Unimed do Vale do Taquari e do Rio Pardo, que sob sua direção recebeu o prêmio Melhor Empresa para a Mulher Trabalhar no Brasil, concedido pelo instituto Great Place to Work.602 O casal teve oito filhos. Lia tornou-se psicóloga respeitada em Lajeado, onde através da Associação Lajeadense Pró-Segurança Pública ajudou a criar o Projeto Adolescente Legal, que atende 250 crianças em situação de vulnerabilidade e pobreza e lhes Sérgio Bertoglio e a gerente de Desenvolvimento da Unimed Marta Saling recebendo o prêmio Melhor Empresa oferece práticas desportivas e educação musical. Lia para a Mulher Trabalhar no Brasil. Foto Unimed. também é coordenadora do Movimento Chega de 603 Violência de Lajeado, e foi agraciada com a Medalha Estrela de Bronze de Reconhecimento da Brigada Militar.604 Por uma trágica ironia do destino, um dos seus filhos, Fábio Antônio Sartori Bertoglio, executivo e diretor comercial da conhecida empresa Termolar, casado e pai de dois filhos, foi assassinado dentro de sua casa, um crime que abalou a comunidade de Lajeado. 605 Hoje seu nome batiza uma rua.

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“Necrologia”. A Federação, 25/05/1935 “Desportos”. A Federação, 15/05/1935 594 “Vida social”. A Federação, 06/11/1935 595 “Vida social”. A Federação, 14/12/1934 596 “Vida social”. A Federação, 06/11/1935 597 “Necrologia”. Diário de Notícias, 03/08/1968 598 “Necrologia”. Diário de Notícias, 03/08/1968 599 Grandi, Celito de. “Pela honra do filho (II)”. Zero Hora, 16/09/2012 600 “Caminhada pela Vida encerrou atividades em Lajeado”. Mulher Progressista, 16/05/2009 601 “Unimed VTRP inaugura nova sede e reforça seu maior propósito: cuidar das pessoas”. Unimed VTRP, s/d. 602 Sizinando, Julia. “Unimed VTRP: a melhor empresa para a mulher trabalhar no Brasil”. Unimed VTRP, 15/08/2006 603 Grandi, op. cit. 604 Estado do Rio Grande do Sul. Decreto nº 45.329, de 19 de novembro de 2007 605 Grandi, op. cit. 593

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Não descobri o nome de todos os outros filhos. Fernando José também é médico, especializado em Pediatria e delegado do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul;606 Celso Renato e Maria Lúcia são dentistas; Gerson Luiz também é dentista, conselheiro da Associação Gaúcha de Ortodontia e Ortopedia Facial.607 Segundo seu currículo na Plataforma Lattes, j2) Pedro Luiz Pretz Sartori é graduado em Geologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Doutor em Mineralogia e Petrologia pela Universidade de São Paulo. Foi professor titular, membro do Comitê Editorial, da Comissão de Pesquisa e da Comissão de Carreira do Curso de Geografia do Centro Universitário Franciscano de Santa Maria e da Comissão Editorial da revista Disciplinarum Scientia; professor titular e chefe do Centro de Ciências Naturais e Exatas do Departamento de Geociências da Universidade Federal Fábio Antônio Sartori Bertoglio, foto Zero Hora. de Santa Maria; professor visitante da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; recebeu a Medalha do Mérito Universitário e o Diploma do Mérito Florestal da UFSM pelos relevantes serviços prestados à Engenharia Florestal na coordenação do Curso de Engenharia Florestal da UFSM, e foi membro do Comitê Assessor do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico, membro colaborador da Coluna Estratigráfica do Mapa Geológico do Rio Grande do Sul na Escala do Milionésimo e consultor científico do International Symposium on Granites and Associated Mineralizations. Tem grande bibliografia publicada. Do seu casamento com Maria da Graça Barros teve dois filhos, Daniel e Débora, casados com Taís e Lisandro. 608 Maria da Graça nasceu em Júlio de Castilhos e tornou-se uma notada professora da pósgraduação na Universidade Federal de Santa Maria e uma grande geógrafa e climatologista, deixando “pesquisas importantes que se tornaram referência na Climatologia Geográfica brasileira, e especialmente sul-rio-grandense”, como afirmou Cássio Arthur Wollmann em um artigo que a homenageia. Ele continua: “A aprovação da profª. Maria da Graça no Programa de Pós-graduação em Geografia Física da Universidade de São Paulo não foi um ingresso qualquer, mas sim, a partir de 1973, a abertura das portas dos programas de pós-graduação em Geografia da USP para os sul-rio-grandenses. A profª. Maria da Graça foi a primeira gaúcha a cursar pósgraduação na área de Geografia na Universidade de São Paulo, e foi a responsável por levar o nome da Geografia de Santa Maria Brasil afora. Se a Geografia de Santa Maria, da UFSM, hoje é reconhecida no Brasil todo, foi graças a ela e seu esforço e devido ao reconhecimento que tornou isso possível. [...] “Com a defesa de sua tese de mestrado, sobre o clima de Santa Maria, seriam publicados nos próximos anos cinco artigos que se tornariam referencial no entendimento da circulação atmosférica regional para o sul do Brasil, e em especial, para o Rio Grande do Sul. [...] A autora aborda temas ligados à climatologia urbana, que ainda no final dos anos 1970 e meados dos anos 1980, eram novidade em quase todo o território brasileiro. [...]

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“Governo quer reduzir número de cesárias”. A Hora, 08/01/2015 Associação Gaúcha de Ortodontia e Ortopedia Facial. Diteroria. 608 “Obituário”. Zero Hora, 20/01/2014 607

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“Em 2000, novas perspectivas ao estudo da ambiência atmosférica surgem quando Maria da Graça Barros Sartori defende sua tese de doutorado intitulada Clima e Percepção, que viria a ser uma das maiores contribuições à Climatologia Geográfica, conforme depoimento de inúmeros profissionais reconhecidos, sendo citada, referenciada e tida como bibliografia obrigatória nesta temática em todo o território nacional. [...] “A autora aborda os fundamentos teóricos da percepção climática pelo homem que influencia seu ajustamento ao meio atmosférico. Como os indivíduos percebem o tempo e o clima é assunto principal no campo da percepção ambiental, influenciando nas suas sensações de conforto e de desconforto físico e mental. Os fundamentos da Bioclimatologia Humana mostram de que maneira e porque o organismo reage às mudanças nas condições de tempo, e que tipo de reações podem lhe ser impostas. A metodologia utilizada pela autora possibilitou novos avanços na interpretação Maria da Graça Barros Sartori. Foto de Cássio da gênese de fenômenos climáticos analisada em Wollmann. escala regional e sub-regional, bem como na identificação e análise de atitudes, sensações e significados envolvidos na percepção do tempo e do clima, contribuição ímpar à Climatologia Geográfica brasileira, e até mesmo mundial". 609 Faleceu em 14 de janeiro de 2014, em Santa Maria. Seu passamento foi marcado com uma Nota de Pesar da Associação Brasileira de Climatologia, da qual era membro fundador, e como tal integrava o Conselho Editorial da Revista Brasileira de Climatologia, sendo descrita como “uma mulher íntegra, forte, corajosa, elegante, além de excelente professora e pesquisadora”.610 k) Isolina Sartori foi casada com Martin Schenk, químico industrial e protestante. Uma filha sua, Marlene, deixou um interessante relato sobre sua família, do qual transcrevo vários trechos, retirados do livro Galópolis e os Italianos: patrimônio histórico preservado a serviço da cultura (2012), de Ricardo Bueno: “Em 1926, teve início a grande aventura que modificou a vida de meu pai, Martin Schenk. Em 30 de janeiro daquele ano, ele embarcou em um navio-vapor no porto de Bremenhaven, norte da Alemanha, rumo a Buenos Aires, na Argentina. [...] Martin ficou pouco tempo na Argentina. Voltando ao Brasil, acabou conseguindo emprego em São Paulo, na Fábrica de Tecidos Belém. Lá, cruzou com Ismael Chaves Barcellos [proprietário do Lanifício São Pedro em Galópolis], que procurava um técnico químicotêxtil. E assim Martin chegou a Galópolis, no ano de 1931. Hospedou-se em um hotel próximo da entrada do vilarejo, onde também vivia Alberto Sartori, vice-prefeito de Caxias [era na verdade sub-prefeito do 3º Distrito] e na época já viúvo. 609

Wollmann, Cássio Arthur. “Maria da Graça Barros Sartori: vida e obra dedicadas à climatologia geográfica brasileira”. In: Geografia Ensino & Pesquisa, 2015; 19 (1):105-115 610 “Nota de falecimento: Profa. Dra. Maria da Graça (UFSM)”. Associação Brasileira de Climatologia

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“Sartori vez por outra levava uma das filhas para lhe fazer companhia. Uma delas se chamava Isolina. Daí surgiu o romance entre Martin e Isolina, que se casaram em 25 de junho de 1932, em Porto Alegre, em cerimônia realizada em casa, já que Martin era protestante. Imagino que a partir de então passaram a morar em uma das casas da fábrica, ao lado da Igreja Matriz. “Tiveram três filhos: Marisa, nascida em 18 de outubro de 1933, eu, Marlene Selma, de 12 de janeiro de 1936, e meu irmão, Mário, de 25 de abril de 1937. Infelizmente, esses anos não foram os mais felizes para os meus pais, e para Martin, principalmente. A nossa irmã, Marisa, devido a uma forte gripe, acabou hospitalizada em Caxias, no Hospital Pompeia. Tratada pelo dr. Félix Laner Spinato, provavelmente teve um quadro de pneumonia, não resistiu à doença e veio a falecer em 19 de janeiro de 1936, uma semana depois de meu nascimento. Quando minha mãe teve seu terceiro filho, o parto foi difícil, pois meu irmão nasceu muito grande. Por força de complicações, minha mãe veio a falecer no mesmo dia. [...]

Isolina Sartori

“Martin ficou desnorteado. Longe de sua família, viúvo tão cedo, depois de perder uma filha, ainda tinha dois filhos pequenos para criar. Na Alemanha, meu avô já havia falecido, e minha avó materna, já com idade avançada, poderia falecer a qualquer momento. Então Martin decidiu deixar a mim e a meu irmão aos cuidados de nossa tia Albertina, que era solteira, mas estava morando em Porto Alegre, e viajou para a Alemanha. Embarcou no porto de Santos em junho de 1937 e retornou da Alemanha no final de outubro daquele mesmo ano, desembarcando no porto de Rio Grande. “Somente no retorno Martin deu-se conta da dificuldade que seria criar duas crianças tão pequenas. No início, contratou uma empregada, o que acabou não dando muito certo. Foi então que seu cunhado, o padre Luiz Victor Sartori, aconselhou Martin a se casar com Albertina, irmã de sua falecida mulher, que era solteira e já estava acostumada a cuidar dos sobrinhos. Acabaram se casando, novamente em casa, em Porto Alegre, em 27 de junho de 1938. “De volta a Galópolis, mudaram-se de imediato para a casa da família Galló, em frente ao Lanifício São Pedro, que estava vazia, já que a família, após a morte de Hércules Galló, havia voltado para a Itália, só podendo regressar quando a guerra acabasse. Não sei a data exata da mudança, mas temos fotografias tiradas no jardim da casa já a partir de julho de 1938. Os anos passados naquela casa foram muito prazerosos. Lembro-me dessa casa com muita saudade. A nossa mãe, Albertina – sempre a chamamos de mãe, pois foi a única que de fato conhecemos – cuidava do jardim, que estava sempre florido. [...] 156

Isolina Sartori e Martin Schenk. Coleção de Luciana Schenk Duque.

“Nosso pai tentava nos ensinar a falar alemão. Quando começou a Segunda Guerra, nossa mãe não mais permitiu que ele assim o fizesse, já que os alemães eram perseguidos pelo governo brasileiro. Nosso pai tinha a proteção da fábrica, mas não foi o suficiente: em um dia em que Martin estava trabalhando e Albertina tinha ido a Caxias, chegaram policiais à nossa casa e à casa de outro senhor alemão, que também trabalhava na fábrica. Vinham fazer uma busca, pois desconfiavam dos alemães que moravam na região. [...] “Na nossa casa, a polícia também entrou. Eu era muito pequena, mas nunca esqueci. Estávamos sozinhos com a empregada. A polícia levou o nosso rádio, a máquina de fotografia e até um binóculo. No sótão da casa, fizeram uma limpa em alguns pertences da família Galló que lá estavam guardados. Levaram até as coroas do velório do sr. Hércules, que ficavam enfileiradas em uma taquara. Levaram, ainda, objetos que o filho dos Galló havia trazido da Europa como souvenir da Primeira Guerra Mundial (capacetes, máscaras de gás, granadas vencidas etc). Também foram levados objetos de valor, como a máquina de costura, relógio de parede e outros pertences. Ficaram no sótão algumas louças, móveis e um baú com roupas. [...]

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A casa da família Galló onde residiram por muitos anos Albertina Sartori e sua família. Trata-se de um dos principais exemplos da arquitetura colonial em madeira na cidade, senão o mais notável entre todos a sobreviver, e depois de quase perdida pela degradação, foi tombada, restaurada e hoje abriga um centro cultural. Outra casa da família Galló, localizada ao lado, e mais simples, também foi recuperada e integra o complexo. Foto Galópolis e os Italianos.

“Os Natais eram sempre muito esperados. Meus tios mais moços, que ainda eram solteiros – Paulo e Venísio – passavam temporadas conosco. Nosso pai sempre encomendava um pinheiro grande, que vinha das colônias no caminhão da fábrica. Venísio era muito habilidoso. Ajudava a enfeitar o pinheiro e a fazer o presépio com um moinho que se mexia e formava um laguinho com água de verdade, onde nadavam patinhos de celofane. A gente adorava! [...] “Outros programas muito esperados eram as festas do padroeiro de Galópolis, São Pedro, em fins de julho, com quermesses e muitas brincadeiras. Uma vez por ano, faziam um almoço, tipo piquenique, durante o qual reuniam todos os operários da fábrica. Em um grande panelão era feito o risoto de miúdos de frango, servido com frango assado e pão. [...] “Com o fim da Guerra, os pertences do Martin lhe foram devolvidos. Eles tinham ficado em Caxias com o delegado, dr. Célio Marques Fernandes, que era noivo de uma sobrinha da minha tia Júlia, irmã da nossa mãe. Ela se chamava Maria Scalzilli, e o delegado já nos conhecia bem. Martin naturalizou-se brasileiro em 23 de abril de 1947, ato assinado pelo então presidente do Brasil, General Eurico Gaspar Dutra. Em 1948, Martin comprou o seu primeiro carro, o que foi uma festa.

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Marlene Schenk com seus brinquedos na casa dos Gallò. Foto Almanque Gaúcho.

“Quando eu fiz 12 anos [também em 1948], terminando o curso primário no Colégio Chaves Irmãos, fui para Porto Alegre fazer o exame de admissão para o Ginásio e passei a estudar no Colégio Bom Conselho das Irmãs Franciscanas, em regime de internato. No ano seguinte, foi a vez do Mário, que passou a estudar no Colégio Anchieta dos Jesuítas, também em regime de internato. Voltávamos para Galópolis nos feriados de Páscoa, Finados e nas férias de julho e de verão. Era sempre uma alegria rever os amigos. Íamos passear e depois ao cinema, em Caxias. No verão, íamos aos bailes de carnaval nos clubes Juvenil e Juventude. Às vezes saíamos de um e íamos para o outro. Quando tinha Festa da Uva, íamos aos bailes, festas e desfilávamos em carros alegóricos. [...] “Em Finados, era sagrado: íamos primeiro ao cemitério de Galópolis, onde a Marisa fora enterrada, para limpar o túmulo e levar flores. Passávamos sempre em frente ao jazigo do Sr. Hércules Galló, o mais bonito do cemitério. Depois, íamos a Caxias levar flores ao jazigo dos dal Canale, família da minha mãe, por sua via materna. Lá foram enterrados nossos avós, tios e a nossa mãe biológica, Isolina. [...] “A família Galló regressou ao Brasil depois da Segunda Guerra, e então pediram que a casa fosse desocupada. Eu e o Mário já estávamos estudando em Porto Alegre, de modo que, de fato, a casa ficou grande demais para os nossos pais. Além disso, estava começando a se deteriorar. Algumas das sacadas ameaçavam cair, e era perigoso pisar nelas. A fábrica havia construído um prédio novo, o Círculo Operário Ismael Chaves Barcellos, onde ficava a nova cooperativa dos operários, a farmácia, o ambulatório médico e o jardim de infância. Na parte superior, havia três apartamentos. Martin ficou com um deles, o da esquina, e para lá se mudaram. Moramos na casa dos Galló por 16 anos. Não me lembro exatamente a data da mudança definitiva. Sei que lá festejei os meus 15 anos. [...] 159

“Depois que os meus pais se mudaram para o novo apartamento, eles iam sempre almoçar no restaurante da Cooperativa, onde se comia muito bem. Lembro-me do sr. Baiche (esse era o apelido dele), que com a esposa tomava conta do restaurante. A comida caseira era muito boa. Ele desossava um leitão pequeno, recheava e assava no forno à lenha. Era uma delícia. Eles eram muito amigos dos nossos pais, e ensinaram como se preparava o prato. Assim, passou a ser uma tradição o leitão recheado que se fazia nos aniversários do Martin. Martin trabalhou no Lanifício São Pedro de 1º de outubro de 1931 a 31 de outubro de 1967. Depois que se aposentou, Venísio assumiu o seu lugar na fábrica, como mestre da tinturaria”. l) Albertina Sartori, como vimos, foi a segunda esposa de Martin e a mãe de criação dos seus sobrinhos, mas antes disso, quando residia em Porto Alegre, mostrou ter interesses políticos e feministas e esteve presente, junto com sua irmã Maria, em 3 de janeiro de 1933, na assembleia de fundação e posse da primeira Diretoria do Grêmio Feminino Republicano Liberal Evaristo Flores da Cunha, o primeiro centro político feminino organizado no estado, “uma pujante demonstração de fé e de esperança que veio, ainda uma vez, provar que a mulher gaúcha não é indiferente às grandes causas nas quais se jogam os interesses da Pátria”.611 Poucos meses depois, em setembro de 1933, Albertina assumiu uma cadeira no Conselho do Grêmio, e participou no mesmo ato da criação de um centro literário educacional com aulas de inglês, literatura e outras, a fim de “integrar a mulher em seu papel, principalmente na política, que é o fim do Grêmio”.612 Mário Schenk parece ter trabalhado como funcionário da Associação Comercial de Porto Alegre e depois da Associação Brasileira de Terminais Portuários. Marlene formou-se em Biblioteconomia em 1967. Seu marido tem o sobrenome Duque, mas não pôde ser identificado. Eles tiveram os filhos Luciana, Marcelo, Mário Martin (?) e Ricardo (?), contador e representante da Deloitte Touche Tohmatsu, empresa de auditoria.613 Luciana é Mestre em Administração de Empresas. Foi analista de sistemas na PROCERGS, gerente de contas e diretora de Desenvolvimento Organizacional do Grupo Meta, consultora da Kienbaum – Brasil, diretora voluntária da ADVB/RS e hoje é executiva associada da Kienbaum – Brasil.614 Com Rodrigo Cirne Lima, advogado, teve os filhos Mathias e Thiago.

Marlene e Luciana Schenk Duque. Foto de Luciana.

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“Revestiu-se de brilhantismo a posse da Directoria do Gremio Feminino R. Liberal Evaristo Flores da Cunha”. A Federação, 04/01/1933 612 “Gremio Feminino R. Liberal Evaristo Flores da Cunha”. A Federação, 14/09/1933 613 Lupatech S.A. Ata da Assembleia Geral Ordinária e Extraordinária 001/2012, 30/04/2012 614 “Juliana Schenk Duque”. Linkedin

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Marcelo Schenk Duque, retratado na página anterior, nascido em 25 de outubro de 1974, graduou-se em Ciências Jurídicas e Sociais e em Engenharia Química, é Doutor em Direito do Estado, pesquisador convidado junto ao Europa Institut da Universidade de Saarland, Alemanha, professor em diversos cursos de pós-graduação lato sensu e coordenador acadêmico do Curso de Especialização em Direito do Estado da UFRGS, professor da Escola da Magistratura Federal do Estado do Rio Grande do Sul, do Centro Universitário Ritter dos Reis e da Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre, membro da Associação Luso-Alemã de Juristas, palestrante, autor dos livros Direito Privado e Constituição e Curso de Direitos Fundamentais: teoria e prática, e diversos artigos na área do Direito Constitucional. 615 616 É também parecerista convidado da Revista da AJURIS.617 m) Thereza Sartori casou-se no início de 1923 com José Chinali 618 e depois desaparece. Encontrei apenas três registros na imprensa caxiense do sobrenome Chinali até os anos 50. Alberto e Felicità tiveram mais dois filhos que não chegaram à idade adulta. Seus nomes não são conhecidos. Por fim, p) Luiz Victor Sartori, nascido em 30 de agosto de 1904, fez brilhante carreira na Igreja, chegando ao episcopado. A imprensa caxiense quase não guarda registros sobre ele, mas como colegial já aparecia recitando poesias.619 Fez sua preparação sacerdotal no antigo Seminário Provincial Nossa Senhora da Conceição, em São Leopoldo, mantido pelos jesuítas, onde fundou com colegas a revista O Seminário, que circulou até 1967, periódico que tinha como objetivo ser um elo de união entre os seminaristas de todo o Brasil.620 De acordo com Breno Sponchiado, a revista, além do seu objetivo declarado, "transformava-se em campo de luta, onde os alunos se degladiavam, cada um querendo [se] mostrar mais prendado no manuseio da pena, esforçando-se ao máximo para assinar artigos comovedores, valentes; vazados no melhor português, com direito a rebusqueios e explorando ao máximo a última flor do Lácio. Entre estes, destacam-se Luiz Victor Sartori, que foi um dos fundadores e o primeiro diretor do periódico, em 1926, e Vítor Battistella”.621 Luiz Victor Sartori

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Duque, Marcelo. Curso de Direitos Fundamentais, FADERGS Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre. Marcelo Schenk Duque. 617 Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul. Revista da AJURIS - Composição dos Conselhos. 618 “Juízo de Casamentos”. O Brasil, 30/12/1922 619 “15 de novembro”. O Brazil, 14/11/1914 620 Bohn, Remídio José. "Estudos Teológicos no Seminário Maior de Viamão". In: Hastentenfel, Zeno (org.). História dos cursos de teologia no Rio Grande do Sul. EDIPUCRS, 1995 621 Sponchiado, Breno Antonio. Mons. Vitor Battistella, padre e caudilho. Tese de Doutorado. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2003 616

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O padre Pedro Luís, que o conheceu no Seminário, pintou-lhe muitos anos mais tarde um lisonjeiro retrato desta fase: “À frente do velho Seminário espelhado na face turva do Rio dos Sinos pacientavam as patriarcais figuras de nossos mestres de antanho – os jesuítas venerandos. Poucos daqueles mestres permanecem entre nós, minados pelo tempo, cansados de ciência, carregados de virtudes. Aquelas esquivas traças de Loyola, metidas entre livros e saber, não honram uma época, honram-nas todas. Ora bem: nosso bispo-coadjutor foi filho natural deles. Adestrou a inteligência privilegiada sobre os bancos escolares do casarão secular ao lado do Monumento ao Imigrante. “Era então jovem, estimado de todos, cercado de verdadeiro halo de simpatia, já que sua figura moça semeava logo em redor de si, quando surgia, bom-humor, amabilidade, sorrisos e bem-querer. Todos procuravam a companhia dele. Possuía palestra cativante. As maneiras, sempre ágeis, espontâneas, simétricas, fugidias ou vagarosas, [adquiridas] onde os parreirais emolduram as montanhas e enriquecem a região. Em contato com a terra que explode em primaveras de fartura, as almas florescem melhor, especialmente se a Religião e o Trabalho valorizam a vida”.622 Foi ordenado sacerdote em Porto Alegre por dom João Becker em 9 de janeiro de 1927, em cerimônia na Matriz de São Pedro, 623 624 logo após retornou a Caxias e celebrou sua primeira missa na Catedral, como narra a imprensa, “perante grande multidão. Terminada a cerimônia religiosa, foi servido lauto banquete na Sociedade Príncipe de Nápoles, comparecendo as autoridades e pessoas gradas, trocando-se amistosos brindes”.625 No mesmo ano foi indicado capelão coadjutor da Catedral.626 Em 1929 é citado fazendo um discurso no casamento de sua prima Ida, minha avó.627 Seria mais tarde lembrado por Adami como “notável orador e escritor sacro”,628 e em 1949 Cyro de Lavra Pinto dedicar-lhe-ia um soneto.

622

Luís, Pedro. “D. Luiz Vitor Sartori”. Diário de Notícias, 20/09/1957 “Faleceu D. Victor Sartori”. A Razão, 10/04/1970 624 “Ordenação de um sacerdote”. A Federação, 11/01/1927 625 “O padre Luiz Sartori”. A Federação, 26/01/1927 626 Adami (1971), op. cit 627 “Consorcio”. Caxias, 09/05/1929 628 Adami (1950), op. cit. 623

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Em 1930 integrou-se à revolução desencadeada por Getúlio Vargas atuando como capelão militar.629 Em 1931 ainda é registrado em Caxias, participando da homenagem ao cônego João Meneguzzi pelo seu jubileu sacerdotal,630 mas no mesmo ano mudou-se para Porto Alegre, onde seus dotes de oratória também foram reconhecidos e requisitados, pregando “com grande brilho”,631 dando uma longa série de “apreciadas conferências apologéticas” em reuniões da União de Moços Católicos que faziam “enorme sucesso [...] perante numerosíssima assistência”, 632 633 Ver nota 634 e divulgando a fé pela rádio, responsável pelo programa Hora Católica da Rádio Farroupilha, que incluía cânticos sacros, leitura do Evangelho, sermão, orações e noticiário sobre a comunidade católica.635 Este programa fora lançado por ocasião do Congresso Eucarístico Nacional de 1937, do qual foi presidente da Comissão Organizadora.636

629

Sponchiado, op. cit Brandalise, op. cit. 631 “Secção Catholica”. A Federação, 19/05/1931 632 “Conferencias”. A Federação, 28/08/1931 633 “Conferencias”. A Federação, 22/07/1931 634 As reuniões tinham uma segunda parte como saraus lítero-musicais, em que o padre às vezes também se apresentava como músico, embora não se declare sua especialidade. Como era hábil com a palavra, talvez fosse cantor. 635 “Seção Catolica”. A Federação, 03/06/1937 636 "A Hora Catolica na Rádio Farroupilha". A Federação, 03/06/1937 630

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Em 1940 foi co-celebrante da grande missa campal realizada diante da Prefeitura comemorando os 200 anos da colonização da cidade, mostrada na imagem acima. Foi vigário assistente na paróquia de São João, organizou e presidiu a paróquia de São Francisco,637 foi assistente arquidiocesano,638 membro da Cúria, assessor eclesiástico da União Católica dos Militares,639 diretor do Departamento Militar da Ação Católica,640 capelão das Carmelitas, do Asilo da Providência e da Capela do Divino Espírito Santo, e cura da Catedral.641 Mais tarde passou a dirigir a construção do Seminário Maior de Viamão como presidente da Comissão de Obras. 642

637

Beozzo, José Oscar. Padres Conciliares no Vaticano II: participação e prosopografia –1958-1965. Tese de Doutorado. USP, 2001 638 “Vida Catolica”. Diário de Notícias, 15/12/1940 639 "Convite". A Federação, 11/06/1937 640 “O próximo juramento da bandeira no Tiro de Guerra 318”. A Federação, 29/08/1935 641 “Faleceu D. Victor Sartori”. A Razão, 10/04/1970 642 Beozzo, op. cit.

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Seminário Maior de Viamão, cuja construção ele iniciou. Foto Valderli Silva.

Foi sagrado bispo em Porto Alegre em 1º de junho de 1952, com cerimônia presidida pelo arcebispo dom Vicente Scherer, indicado para a Diocese de Montes Claros, estado de Minas Gerais, 643 onde foi descrito por Dário Cotrim como “grande propulsor da fé e do progresso na cidade; reorganizou a Obra das Vocações Sacerdotais, instalou o Seminário Menor, apoiou a Ação Católica, bem como a criação da diocese de Januária e atuou juntos aos poderes públicos para a iluminação da cidade por meio da Companhia Energética de Minas Gerais”.644 Segundo Laurindo Pereira, o abastecimento de eletricidade na região entrara em crise e em 1953 havia sido iniciado um racionamento, e a liderança do bispo pressionando o presidente Juscelino Kubitschek, o governador Clóvis Salgado e outras autoridades foi decisiva para a liberação de verbas estatais e a construção de uma nova usina. O deputado Teófilo Pires, envolvido com as reivindicações populares, propondo a criação de um comitê sob a presidência do bispo para aglutinar as forças políticas opostas e assim resolver a “situação de abandono” em que se encontrava o município, disse que Sartori tinha uma "reconhecida autoridade moral”, era inegável seu “alheamento às lutas partidárias” e era o “denominador comum, eliminador de arestas que, porventura, ainda se mostrassem demasiado vivas”.645 Depois voltou para o seu estado natal, transferido para Santa Maria em vista da enfermidade do bispo dom Antônio Reis, sendo nomeado seu coadjutor com direito à sucessão, sendo recebido em 6 de maio de 1956 e sucedendo seu predecessor em 14 de setembro de 1960.646 647

643

Beozzo, op. cit. Cotrim, Dário Teixeira. Ensaios Históricos de Itacambira. Editora Millennium/Cotrim Ltda., 2014 645 Pereira, Laurindo Mékie. Dependência, Favores e Compromissos: Relações Sociais e Políticas em Montes Claros nos anos 40 e 50. Dissertação de Mestrado. Uberlândia, 2001 646 Beozzo, op. cit. 647 Sponchiado, op. cit 644

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Consagração episcopal de Luiz Victor Sartori. A foto tem dedicatória para seu primo Pery Paternoster. Coleção de Dóris Paternoster.

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Santuário e Basílica de Nossa Senhora Medianeira. Foto Wikipédia.

Consagrou a cidade de Santa Maria a Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças, promovendo ativamente sua devoção. Criou a Comisão Pró-Construção de um Santuário e Altar-Monumento dedicado à Medianeira, obra terminada por seus sucessores, hoje uma basílica que atrai milhares de peregrinos.648 Criou uma peregrinação da Imagem Milagrosa de Nossa Senhora Medianeira que percorria quase todas as paróquias da Diocese, iniciativa que deu origem a outra, destinada a suscitar vocações, formando a Comissão Diocesana de Vocações e um grupo de voluntários que levavam capelinhas aos domicílios.649 Criou as paróquias de São Roque de Taquaruçu do Sul e Nossa Senhora da Glória de Camobi,650 651 organizou as novas dioceses de Frederico Westphalen e Cruz Alta,652 653 instalou o Conselho Presbiteral Diocesano, construiu o Seminário Diocesano São José e presidiu sua inauguração em 1966.654 655 Foi presidente de um dos tribunais rogatoriais no processo de beatificação e canonização de Madre Paulina,656 e participou ativamente, como padre conciliar, de três das quatro sessões do Concílio Vaticano II (1963-1965).657

648

Basília Nossa Senhora Medianeira Medianeira. Breve História da Devoção, 10/03/2012 Borin, Marta Rosa. Por um Brasil Católico: tensão e conflito no campo religioso da República. Tese de Doutorado. Unisinos, 2010 650 Diocese de Frederico Westphalen. Paróquia São Roque de Taquaruçu do Sul. 651 Paróquia Nossa Senhora da Glória. Histórico da Paróquia Nossa Senhora da Glória – Camobi. 652 Diocese de Frederico Westphalen. Histórico da Diocese de Frederico Westphalen. 653 Diocese de Cruz Alta. Histórico. 654 "Novo Seminário Diocesano de Santa Maria será inaugurado a 1º de maio". Diário de Notícias, 27/04/1966 655 "Inaugurado em Santa Maria o Seminário Diocesano São José". Diário de Notícias, 06/05/1966 656 Barbosa, Fidélis Dalcin. Madre Paulina, a coloninha. Loyola, 1988, 11ª ed. 2005 657 Beozzo, op. cit. 649

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Por outro lado, conforme a opinião de Sponchiado, devido ao seu caráter legalista, ortodoxo e inflexível, nesta época não via com muita simpatia a Ação Católica, pelo fato de ela "valorizar e tornar o leigo protagonista da evangelização", incentivando apenas seu ramo da Juventude, mas sob uma supervisão estrita, e suprimiu o Movimento Apostólico de Shoenstatt, promovido por um grupo de sacerdotes palotinos, "num sinal veemente de que a autoridade do bispo sobressaía a qualquer movimento ou modismo".658 Segundo Marta Borin, o bispo discordava da pedagogia do Movimento de Shoenstatt e temia que suas expressões fossem confundidas com práticas espíritas, mas procurou conciliar-se com os palotinos, a quem dedicava "elevada consideração, profunda estima e gratidão", preservando O brasão episcopal de dom Luiz Victor. sua atuação em outras esferas,659 e entregando-lhes o governo da paróquia de Santa Cecília de Humaitá.660 Ao mesmo tempo entrou em conflito com eclesiásticos que se mantinham apegados a "velhas práticas e tradicionais métodos" de atuação pastoral, em particular o monsenhor Vítor Battistella, seu antigo colega de seminário, que estava encarregado da paróquia de Barril e havia adquirido uma grande influência sobre a população durante o episcopado de dom Antônio Reis.661 Ele deve ter sido mesmo uma pessoa de personalidade muito forte. Sponchiado o chamou de “vulcão”, e consta que certa ocasião uma carta que enviou para a Câmara de Santa Maria, protestando contra a doação de um terreno para a União de Umbanda do Rio Grande do Sul para a construção de um hospital, foi devolvida pelo presidente da Casa sem ser levada para a análise do plenário pela sua linguagem excessivamente virulenta, e aconselhava o ilustre prelado a moderar o tom se quisesse que suas queixas fossem pelo menos recebidas.662 Em 1959 estabeleceu uma parceria com o Sistema Rádio-Educativo Nacional para a difusão de programas de educação básica pelo rádio, prevendo a instalação de receptores em duzentas escolas da sua Diocese, as chamadas Escolas Radiofônicas. A transmissão se faria através de uma emissora local, a ser criada, que veio a ser a Rádio Medianeira, uma iniciativa que o torna um dos pioneiros locais da radiofonia. Além da programação cultural, a rádio fazia a propaganda da fé. 663 664 Fez parte de um movimento dos bispos gaúchos contra a proposta de Anísio Teixeira, então diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, para a

658

Sponchiado, op. cit Borin, Marta Rosa. "Continuidades e rupturas no campo religioso santa-mariense". In: Zanotto, Gizele (org.). Religiões e Religiosidades no Rio Grande do Sul. Clube de Autores, 2008 660 Diocese de Frederico Westphalen. Paróquia Santa Cecília de Humaitá. 661 Sponchiado, op. cit 662 “Câmara de Vereadores devolveu o ofício do bispo D. Luiz Sartori”. Diário de Notícias, 20/09/1957 663 “Duzentas escolas radiofônicas na Diocese de Santa Maria”. Diário de Notícias, 15/11/1959 664 Memorial Landell de Moura. O Rádio no RS, 2011 659

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implantação exclusiva de sistemas de ensino laicos,665 e presidiu a Comissão Pró-Fundação da Faculdade de Direito, instituto que se integrou à Universidade Federal de Santa Maria, cuja fundação igualmente apoiou.666 667 Envolveu-se fortemente também na política. De fato, sua intimidade com os altos escalões civis e militares já era notada desde seu tempo como simples sacerdote. Suas primeiras incursões mais decididas neste campo datam do período em Montes Claros, quando foi, como se viu, um ativo representante da sociedade em demandas junto aos poderes estabelecidos. Em 1955 publicou uma nota do Diário de Notícias de Porto Alegre protestando contra a corrupção política, a impunidade e os escândalos nas esferas administrativas, que ocorriam “numa sequência de causar espanto”, dizendo que “o Brasil, como o pobre da Parábola do Bom Samaritano, caiu nas mãos dos ladrões”, e que “mais do que econômica, a crise do Brasil é de caráter”.668 Em 1957 condenou publicamente o projeto de Armando Falcão para viabilizar o voto do analfabeto, por considerá-lo um desestímulo à educação do povo, favorecendo a demagogia eleitoreira e a fraude, e por ser uma ameaça à democracia e uma “terrível arma nas mãos do comunismo”. Em 1959 voltou à carga sobre o mesmo ponto. 669 670 Manifestou sua apreensão por ocasião da renúncia de Jânio Quadros, afirmando que era situação grave cujos desenvolvimentos poderiam vir a ameaçar as instituições democráticas e cristãs, e apoiou a posse de João Goulart convocando uma grande romaria. Alguns dias depois, pronunciou-se na Rádio Medianeira afirmando que “grupos de ideologia da extrema esquerda tencionam agitar o seio da massa popular”. Para Diorge Konrad, "era um prenúncio local da posição futura de setores importantes da Igreja Católica no rumo da posição golpista [o golpe militar de 1964], em nome do 'combate ao comunismo'. Antes ainda da posse de Jango, Sartori já deixava em aberto que Legalidade defendia, ao defender que a 'crise deverá ser superada dentro da Lei'." 671 Sua atuação se intensificou, e segundo Capssa Lima, o bispo “participou ativamente da conspiração golpista e praticava uma pregação anticomunista aos moldes da que fazia o arcebispo dom Vicente Scherer em Porto Alegre”. 672 Em sua casa foi realizada a primeira reunião que preparou o golpe, liderada pelo general Olympio Mourão Filho.673 O general considerava Sartori “um revolucionário entusiasmado”.674 Santa Maria na época tinha o segundo maior contingente militar do Brasil, apenas inferior ao do Rio de Janeiro, e foi um forte polo de apoio ao movimento. Sartori ocupou muitas vezes espaços na imprensa para defender a legitimidade do regime militar.

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Corsetti, Berenice & Ecoten, Márcia Cristina Furtado. "Educação e Autoritarismo: ações e consequências na trajetória de Anísio Teixeira". In: XI Encontro Estadual de História da ANPUHRS. Rio Grande, 23-27/07/2013 666 Universidade Federal de Santa Maria. Cronologia | UFSM - parte 1 667 Oliveira, Milton & Montagner, Roberto. "A criação da Universidade de Santa Maria". In: Conexão UFSM, 2010; (2) 668 “O Brasil, como o pobre da Parábola do Bom Samaritano, caiu nas mãos dos ladrões”. Diário de Notícias, 01/08/1954 669 “Voto do analfabeto: terrível arma nas mãos do comunismo”. Diário de Notícias, 17/09/1957 670 “Voto do analfabeto constitui desestímulo à albabetização”. Diário de Notícias, 11/11/1959 671 Konrad, Diorge Alceno. "Legalidade e Mundos do Trabalho em Santa Maria". In: XI Encontro Estadual de História da ANPUHRS. Rio Grande, 23-27/07/2013 672 Lima, Mateus da Fonseca Capssa. Movimento Estudantil e Ditadura Civil-Militar em Santa Maria (1964-1968). Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Santa Maria, 2013 673 “Mais um gringo no comando do Estado”. Sul 21, 28/12/2014 674 Lima, op. cit.

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Dom Luiz Victor Sartori, foto de Eduardo Trevisan, acervo do Museu de Arte Sacra de Santa Maria.

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Em sua dissertação de mestrado Ianko Bett fez uma leitura da participação do bispo neste momento histórico: "No período em questão, foi possível identificar que as manifestações católicas [...] veicularam expressões que giraram, basicamente, em torno de alguns principais eixos temáticos. Dentre esses, destacaramse a forma como os católicos comemoraram a destituição do presidente Goulart pelos militares, a tentativa de construir o golpe como um movimento democrático, inspirado evidentemente nas concepções ocidentais e cristãs, a representação do golpe enquanto um divisor de águas no cenário político nacional e a defesa de que os culpados ou envolvidos com a infiltração comunista deveriam ser punidos. [...] "No dia 25 de abril de 1964, no espaço que tradicionalmente era ocupado pelo arcebispo dom Vicente Scherer, o Diário de Notícias publicou uma declaração do bispo de Santa Maria, dom Victor Sartori, a qual originalmente foi transmitida em rádios daquela cidade. A declaração objetivava convidar a população santa-mariense para participar da Marcha de Agradecimento a Adelia e José Costamilan com o bispo Luís Victor Sartori e outro prelado Deus e às Forças Armadas. em visita a Passo Fundo na década de 1960. Estruturalmente, a declaração de dom Victor Sartori se assemelhou com as demais manifestadas pelos católicos, ou seja, trouxe em suas palavras toda uma justificativa para o golpe, e neste aspecto aludiu ao passado corrompido como forma de legitimar o presente. Também versou sobre os objetivos a serem atingidos pela 'revolução' e o seu papel para eliminar qualquer possibilidade de subversão e, por fim, propôs a construção de uma visão democrática do golpe militar, fator este possível de perceber ao longo de todos os primeiros manifestos dos católicos na imprensa. "Uma das características dos textos dos católicos que se reportaram sobre justificativas para o golpe, é que quase todas as manifestações trazem como preponderante o fato de que um golpe comunista era iminente. Para o bispo de Santa Maria, este aspecto também foi considerado: 'o objetivo de anular o iminente golpe marxista-comunista, que ameaçava o regime democrático brasileiro com uma ditadura totalitária, nos moldes de Moscou, Pequim ou Cuba'. Entendia que no Brasil existia uma 'máquina infernal marxista' prestes a desencadear o seu 'traiçoeiro golpe', daí a necessidade de intervenção das Forças Armadas, justamente para neutralizar a ação dos agentes da subversão, bem como aqueles que com eles estavam em conluio.

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"Dom Victor defendeu que o golpe militar não tratou apenas de uma revolução anticomunista, mas sim, o considerou uma revolução social, ou seja, entendia que se o perigo de um golpe comunista existia era porque o clima de injustiça social, a miséria e o atraso econômico eram fatores que propiciavam as agitações sociais, as quais desencadeariam uma guerra revolucionária marxista-comunista, contra a democracia. Por isso, admitia que a tarefa era imensa e complexa, necessitando 'sanear e limpar a administração pública da corrupção, dos roubos, dos saques e das negociatas', que em última instância eram obras dos comunistas. Para dom Victor, era preciso que o novo governo propusesse reformas que dessem ao povo 'condições de vida mais justas, cristãs e por isso mesmo mais democráticas', enfim, uma verdadeira revolução social que proporcionasse ao povo humilde e aos pobres 'o que falsa e traiçoeiramente lhe prometiam os agentes da subversão marxista-comunista e seus comparsas aliados".675 Seus últimos anos foram também cheios de trabalho, continuando engajado nas causas políticas e sociais paralelamente às da religião. Em 1966 conclamou seus diocesanos para se engajarem na luta contra a proposta de alteração do Código Civil que autorizava a dissolução do casamento, “uma ameaça à santidade e à união indissolúvel da família no Brasil”, “um desrespeito à família, que é a sementeira insubstituível das vocações sacerdotais e religiosas para a Igreja”, pois “um povo sem vocações, muito em breve, será um povo sem Deus e sem amor fraterno”. Não admitia que a população assistisse “de braços cruzados, como gente destituída de brio e de valor cívico, à dissolução moral dos costumes e da sociedade” .676 Em 1967 organizou grandes festividades para os jubileus marianos, comemorativos dos 50 anos das aparições de Maria em Fátima e dos 250 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora de Aparecida, padroeira do Brasil;677 participou da Comissão Organizadora das grandes celebrações do 3º aniversário da “Revolução Democrática”; 678 saiu a campo em defesa do princípio da hierarquia dentro da Igreja, contestada por um manifesto de padres progressitas que discordavam do regime militar, apoiado pela maioria do alto clero, e haviam entrado em conflito com as Forças Armadas;679 680 no mesmo ano assinou um manifesto dos bispos gaúchos e catarinenses preocupados com a estagnação econômica, o desemprego e a pobreza, reivindicando aos novos políticos eleitos o cumprimento de suas promessas,681 e em 1968 assinou outro manifesto com o mesmo grupo de prelados que, à luz da encíclica Populorum Progressio, urgiam junto ao governo federal a execução imediata do Estatuto da Terra, a fim do promover uma efetiva reforma agrária, "visando à formação de vigorosa classe média rural, indispensável à estabilidade econômica e social de nosso país", entendendo que "assim se cumprirá o solene compromisso assumido pelo Governo Revolucionário perante a Nação Brasileira".682 Além da sua participação nesses grandes eventos, o bispo desenvolveu uma atividade incessante inaugurando escolas, associações e instituições, benzendo pedras fundamentais, celebrando missas festivas, promovendo a fé, viajando em visitas pastorais, ordenando padres e consagrando outros bispos, e fazendo uma série de outras intervenções de menor monta na cena gaúcha.

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Bett, Ianko. A (Re)Invenção do Comunismo: discurso anticomunista católico nas grandes imprensas brasileira e argentina no contexto dos golpes militares de 1964 e 1966. Dissertação de Mestrado. Unisinos, 2010 676 “D. Sartori conclama fiéis para a defesa da família”. Diário de Notícias, 10/05/1966 677 "A Convocação do Bispo". Diário de Notícias, 14/04/1967 678 “Santa Maria”. Diário de Notícias, 30/03/1967 679 “Mea culpa”. Diário de Notícias, 23/11/1967 680 “Entre o Evangelho e Das Kapital”. Diário de Notícias, 03/12/1967 681 "Bispos preocupados com o presente e o futuro do Rio Grande e Santa Catarina". Diário de Notícias, 02/04/1967 682 "Bispos querem a Reforma Agrária". Diário de Notícias, 07/07/1968

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Em 1969, já com a saúde abalada, solicitou ao papa a nomeação de um bispo coadjutor, sendo enviado para a função dom Antônio do Carmo Cheuiche.683 Faleceu em Santa Maria em 9 de abril de 1970, sendo sepultado na Catedral Metropolitana com grande pompa e a presença das mais altas autoridades do estado e todos os bispos riograndenses. A Prefeitura decretou luto oficial por três dias e suspendeu as aulas de todos os colégios públicos municipais por dois dias.684 A Assembleia Legislativa do Estado suspendeu suas funções em sua memória, pronunciando-se um Voto de Pesar, ocasião em que os deputados Moisés Velásquez e Alfredo Hofmeister lhe fizeram elogios. O primeiro, em nome da bancada do MDB, disse que seu desaparecimento arrebatava da sociedade rio-grandense "uma figura excepcional, cujos serviços prestados à nossa gente jamais serão esquecidos pelo muito que enriqueceram o patrimônio espiritual do nosso estado". O segundo, em nome da bancada da ARENA, recordou sua atuação em inúmeras campanhas em que procurou "levar o lenitivo de A Catedral de Santa Maria, sede de seu episcopado e local de descanso dos seus despojos. sua ação atuante e a segura orientação da sua palavra de guia e pastor, [...] dando sempre a contribuição valiosa de sua inteligência e cultura", e pela marca deixada, pela estima geral que granjeara, pela sua personalidade forte e dinâmica que "levava a bom termo tudo quanto empreendia", merecia "o respeito da nossa admiração e o reconhecimento do povo riograndense".685 Depois seu nome batizou uma rua em Caxias, uma praça em Montes Claros, e uma travessa, uma creche686 e uma escola em Santa Maria.687 Muitos objetos relacionados ao seu episcopado, incluindo uma baixela de prata com várias peças oferecida por seus familiares, hoje fazem parte da coleção do Museu de Arte Sacra de Santa Maria,688 e segundo o cura emérito padre Antonio Bonini, o espaço foi criado justamente "para proporcionar à comunidade maior contato com o legado episcopal de dom Antonio Reis e dom Luiz Victor Sartori, além da própria história da Igreja na região".689

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"Assembleia suspende sessão em memória de Dom Sartori". Diário de Notícias, 11/04/1970 “Faleceu D. Victor Sartori”. A Razão, 10/04/1970 685 “Assembleia suspende sessão em memória de Dom Sartori". Diário de Notícias, 11/04/1970 686 Martins, Marcelo. “Prefeitura abre licitação para preparar terreno para cinco creches de Santa Maria”. Rádio Gaúcha, 02/12/2014 687 Pedroso, Gustavo. “Projeto de incentivo a esporte reúne cerca de 300 crianças em Santa Maria”. Rádio Gaúcha, 15/08/2014 688 Borin, Marta Rosa. O Museu de Arte Sacra de Santa Maria: Paróquia Catedral. Museu de Arte Sacra de Santa Maria.. 689 Xavier, Carmen Staggemeier. "Uma história quase escondida: Peças, pinturas e outros objetos contam a história da Igreja Católica e de Santa Maria no Museu de Arte Sacra". Portal Bei, s/d. 684

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Galheta que pertenceu ao bispo Sartori e hoje está no Museu de Arte Sacra de Santa Maria. Esses vasos servem para a água e o vinho destinados ao ofício da missa. São revestidos de prata e no centro da bandeja está gravado o brasão do bispo. Essa peça foi doada para ele por Marieta (Sartori Paternoster ?), Iones ?, as irmãs Maria, Carmen e Lola Buratto Stahlecker, os irmãos Dante Paternoster, Pery Paternoster e Graciema Paternoster Pieruccini, Gaziela Paternoster Pieruccini, Pasquina da Re Sartori, Ida Paternoster Frantz, Anuncio Sartori, Olinda Sartori Falcão e seus filhos Mario, Inezinha e Ceres Falcão Alessandrini, Santina Amoretti Sartori e seus filhos Cirilo, Nicolau, Maria e Claudia Sartori, Dosolina Sartori Bonalume e os irmãos Égide, Deolinda, Hermenegildo e Angelina Sartori Buratto. Abaixo, castiçal que pertenceu ao bispo, doado pela família de sua tia Carolina Sartori e o esposo Salvador Bonalume. Fotos do Museu de Arte Sacra de Santa Maria.

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Uma peça da baixela que é composta por quatro bandejas, as quais fazem parte de um conjunto de utensílios a serviço do altar. Artefato revestido de prata ricamente trabalhada na qual foi gravado o brasão do bispo Sartori e a frase Ecce sacerdos magnus. Foto do Museu de Arte Sacra de Santa Maria.

Aspersório, usado para aspergir a água benta. No vaso está gravado o brasão episcopal e a seguinte frase: Asperges me, domine, hyssopo et mundabor. O objeto foi doado ao bispo pelos seus primos Pasqualina, Gabriel, Noemy e Honorino Sartori e esposa. Ao lado, lavabo em prata. No centro do prato e na jarra está gravado o brasão do bispo. No prato foi gravada a frase Et circundabo altares tuum domine. Foi doado pelas famílias de seus irmãos Albertina, Julia, Maria, Ernesto, Paulo e Venísio Sartori. Fotos do Museu de Arte Sacra de Santa Maria.

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5) Carolina Sartori, nascida em 1858 (?) e morta em 12 de fevereiro de 1930, aparece em algumas crônicas sociais e foi uma das fundadoras e do primeiro Conselho das Damas de Caridade.690 691 Foi também uma das senhoras que cuidaram de Angela de Ros Meneguzzi, mãe do cônego Meneguzzi, vigário da Catedral, durante seus meses finais.692 Seu marido, Ambrogio Bonalume (Ambrosio), nascido em Monza em 1862, região de Milão, era filho de Angelo Bonalume e Luigia Berti, registrados em Caxias em 1º de outubro de 1876.693 Foi um dos acusados pelo intendente Campos do atentado contra sua vida, parte da famosa controvérsia envolvendo o padre Nosadini,694 já referida quando tratamos de Salvador Sartori. Abaixo transcrevo parte das acusações que Campos lhe dirigiu, em carta aberta ao delegado de polícia, e depois dá a réplica do padre: “Na audácia com que se exprime para a primeira autoridade do município o indivíduo Ambrosio Bonalume, taberneiro medíocre, sem imputação moral, quase analfabeto, pobre imigrante, vê-se claramente a perniciosa influência do padre Nosadini, a maquinação de um plano tenebroso, o acordo, o conclave para a consumação de uma série de crimes, tendo por fim a eliminação dos elementos que possam fazer sombra às suas ideias de predomínio. E o início começou por mim. Apreciai com atenção esses documentos, perscrutai-os com paciência, serenamente, Acervo do Arquivo Histórico Municipal João Spadari examinando-os ponto por ponto, vede a Adami. desconsideração com que sou tratado por Ambrosio Bonalume [...] e estou certo que haveis de chegar à conclusão, como é lógica, que os autores, como mandantes do atentado que acabo de sofrer, não foram outros senão o padre Nosadini e Ambrosio Bonalume, despeitados por eu ter aconselhado a dissolução das Sociedades Católicas aqui existentes, [bem] como a remoção do dito padre, como medida de prudência”.695 O padre Nosadini o defendeu assim: “O Campos definiu o Bonalume por um taberneiro medíocre, sem imputação moral, quase analfabeto, pobre imigrante. A vossa excelência faço observar que, no tempo da Revolução [Federalista], o Bonalume forneceu víveres às forças do Governo, e se é um taberneiro medíocre é porque não recebeu os dez contos de réis de que é credor pelo dito fornecimento de víveres. Que o Bonalume seja sem imputação moral é uma

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“Novo altar”. O Brazil, 03/09/1910 “Associação Damas de Caridade: quarenta anos de existência”. A Época, 13/08/1953 692 “Agradecimento e Missa”. O Brazil, 13/05/1916 693 Gardelin & Costa, op. cit 694 Costamilan, op. cit. 695 “Intendência Municipal de Caxias”. O Caxiense, 28/04/1898 691

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infame calúnia, pois que [...] pertence a uma honrada e honesta família, goza da estima das pessoas honestas, quer em Caxias, quer em Porto Alegre. Dizendo que é quase analfabeto, o Campos corre por demais com suas palavras; em todo o caso, eu, de minha parte, deixando os sábios a ele, prefiro, para mim, os homens de caráter. Que ele tenha sido um pobre imigrante – concedo. Mas o que seria de Caxias sem os pobres imigrantes, e estaria o Campos edificando casas em Caxias?“ 696 De um início modesto como curtidor de couro, seleiro e pequeno comerciante, não cessou de progredir, mesmo tendo tido um grande prejuízo em 1914, quando seu negócio incendiou junto com toda uma quadra da cidade. Foi dono da primeira arena de touradas da cidade, numa época em que este esporte era popular no estado; presidente da Exposição Agro-Industrial de 1898; presidente-geral da Federação das Associações Católicas, e fabriqueiro da Catedral de 1897 até 1917, pedindo afastamento por estar ocupado demais.697 698 699 700 Em 1915 fora citado como o 15º maior pagador de impostos prediais da cidade,701 representou Caxias, junto com outros, em uma exposição em Porto Alegre em 1918,702 e lançou-se com grande sucesso na indústria do vinho. Sua contribuição mais importante foi a participação na fundação em 1928 e na direção do Sindicato Viti-Vinícola do Rio Grande do Sul, entidade que definiria os rumos do setor do vinho em termos econômicos e também em termos técnicos e normativos, colocando a produção sob o controle do Estado, definindo uma série de parâmetros de qualidade técnicos e sanitários, estabelecendo regras para a instalação e funcionamento das cantinas, introduzindo inovações tecnológicas, regulando o mercado, desenvolvendo estirpes de videiras mais adaptadas ao clima gaúcho, e passando a exigir exames laboratoriais do produto antes que fosse colocado à venda. Do seu seio surgiu em 1929 a Sociedade Vinícola RioGrandense (antecessora da atual Companhia Vinícola RioGrandense), sendo de fato o braço comercial do Sindicato, fundada com a maioria dos fundadores da entidade classista, entre eles Bonalume, sendo nos anos 50 a maior organização

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Apud Costamilan, op. cit. Adami (1966), op. cit. 698 Brandalise, op. cit. 699 “Fabriqueria da Igreja Matriz de Caxias”. Città di Caxias, 22/01/1917 700 “Cronaca della Federazione Cattolica Caxiense”. Il Colono Italiano, 01/04/1898 701 “Edital”. Città di Caxias, 21/12/1915 702 “Do Imparcial”. A Federação, 16/10/1918 697

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do setor vitivinícola brasileiro, com uma produção de 32 milhões de litros e exportando cerca de um terço disso. O Sindicato e a Sociedade tanto revolucionaram quanto monopolizaram o setor, qualificando o vinho local, tornando-o afamado pelo Brasil afora e lançando para um novo patamar a base da economia local, que desde fins do século XIX passara a ter na produção e comércio do vinho o seu ponto mais forte, definindo também muito da própria identidade sociocultural da região.703 704 705

Ambrosio foi destacado com uma página inteira no álbum Cinquantenario della Colonizzazione Italiana nel Rio Grande del Sud 1875-1925, sendo coberto de elogios, chamado de “pioneiro infatigável”, “cidadão e chefe de família modelo”, de “modéstia superlativa e bonomia singela e tranquila”, qualidades que traduziam “infalivelmente um caráter benigno e um ânimo bom”, dotes morais que O Hotel Dante, antes a cantina de Ambrosio Bonalume. Foto de Ana Elísia da enalteciam “o homem tanto quanto os Costa. talentos e outros atributos que conquistou, dando-lhe a classe para ostentar um nome honrado, que decora a ele, a família, a sociedade e a pátria, que confia a todos, indistintamente, seus filhos no estrangeiro, uma alta missão de operosidade, de retidão, de civismo”. Faleceu em 5 de fevereiro de 1945, “estimado em toda a cidade”, “muito devendo o nascente povoado às suas raras qualidades de coragem, bondade e operosidade”.706 No Álbum Comemorativo do 75º Aniversário da Imigração Italiana no Rio Grande do Sul, publicado em 1950 pela Festa da Uva, voltou a ser destacado com página inteira, reproduzida a seguir. A Sociedade Vinícola também recebeu atenção especial no álbum Documentário Histórico do Município de Caxias do Sul 1875-1950, Comemorativo do 75º Aniversário da Colonização, publicado em 1950 pela Prefeitura e outras entidades,707 e a matéria segue depois. Hoje Ambrosio é nome de rua.

703

Jalfim, Anete. “Elementos para o estudo da agroindústria vinícola: uma abordagem da indústria vinícola riograndense”. In: Ensaios FEE, 1991; 12 (1):229-247 704 De Souza, Sergio Inglez. “Companhia Vinícola Rio-Grandense”. EnoEventos, 04/03/2013 705 Valduga, Vander. “O Rol da Vitivinicultura e do Turismo na Evolução Identitária da Região Uva e Vinho (Rio Grande do Sul): Uma Proposta de Estudos”. In: Anais do VI Seminário de Pesquisa em Turismo no Mercosul: Saberes e Fazeres no Turismo: Interfaces. UCS, 09-10/07/2010 706 Gardelin & Costa, op. cit. 707 Antunes, Duminiense Paranhos (org). Documentário Histórico do Município de Caxias do Sul 1875-1950, Comemorativo do 75º Aniversário da Colonização. Associação Comercial / Biblioteca Pública / Câmara dos Vereadores / Prefeitura de Caxias do Sul, 1950

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Ambrosio e Carolina Bonalume tiveram sete filhos: De a) Eleonora Bonalume só se sabe que em sua juventude participou de atividades sociais promovidas pelo Esporte Clube da Juventude. b) Guilhermina Bonalume, “distinta senhorita da elite caxiense”,708 apareceu colaborando com os festejos de Santa Teresa em 1908,709 fez parte da comissão de bailes do Recreio da Juventude,710 e foi professora municipal de português no Travessão Hermínia da 6ª Légua.711 Em 1919, já casada com Antonio Chiaradia Neto, foram presidentes do Recreio da Juventude. As pesquisadoras Eliana Maria Sacramento Soares e Terciane Ângela Luchese ofereceram um interessante retrato da precariedade das escolas rurais daquele tempo, onde ensinaram Guilhermina e vários outros parentes, mas que Antonio Chiaradia e Guilhermina Bonalume, acervo do Recreio também ressalta a criatividade dos professores da Juventude. com os poucos recursos que havia e a sua força de vontade de trabalhar em um meio tão despojado: “Se julgar as listagens de materiais recebidos ou enviados para as escolas no início do século XX, como balizadores das ‘tecnologias’ disponíveis e possíveis ao uso didático de professores e alunos, além dos livros de frequência e matrícula, percebe-se o seguinte panorama: um professor ou professora para um grupo relativamente numeroso de quarenta ou cinquenta crianças sentadas em bancos de madeira simples, numa sala de aula nem sempre espaçosa para abrigar o número de alunos frequentes. Um quadro negro, relativamente pequeno, um balde para água, um armário para os materiais, uma mesa e cadeira simples para o professor, alguns livros - manuscritos, livros de tabuada, aritmética, cartilhas, lousas e penas, cadernos, tinteiros, tinta e mata borrão para os mais adiantados. Como afirma Díaz (2002, p. 225), ‘as coisas, os objetos, guardam uma ordem, cumprem uma função na aula, nos espaços do colégio’, elas permitem compreender o modo como o professor pensa, como foi formado, que relações estabelece com os alunos, e eles entre si. Sinaliza para que se compreenda as práticas pedagógicas, o modo de ser, pensar e estar no fazer pedagógico. Pelo descrito pode-se imaginar como eram as salas de aula no início do século XX. Dos registros fotográficos do período, verifica-se na figura a seguir, que mesmo estando no espaço externo da sala de aula, é possível compreender um pouco como as práticas pedagógicas eram pensadas:

708

“Baile”. Città di Caxias, 01/06/1914 “Continuação da subscripção popular para os festejos de Santa Thereza”. Gazeta Colonial, 21/10/1908 710 “Baile”. Città di Caxias, 01/06/1914 711 “Relazione dei professori sovvenzionati dal Municipio per l’insegnamento della lengua portoghese”. Città di Caxias, 06/04/1914 709

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Guilhermina Bonalume sentada à mesa, na escola isolada do Travessão Hermínia, 1910. Acervo AHM.

“A professora sentada junto à mesa (na foto) era Guilhermina Bonalume Chiaradia. A professora se confunde com algumas das alunas mais velhas da turma, já que a própria formação de professores, no período, adquiria-se em serviço. Observa-se a presença dos livros, como sinalizadores do estudo, do saber, indicando a pouca materialidade e suporte que outrora sustentavam as práticas pedagógicas. Como nos lembra Benito (2012) os docentes construíram competências para ir resolvendo com os recursos materiais disponíveis no entorno, os problemas que precisaram enfrentar. A exemplo do uso, por exemplo, de espigas de milho para o ensino de noções matemáticas, de metragem de parreirais ou de relações entre quantidade de uva e produção do vinho. Eles ‘também produziram tecnologias próprias, isto é, respostas técnicas que os professores inventaram na mesma prática de ensinar’, criando e escrevendo peças teatrais, poesias, textos, adaptando e reinventando elementos culturais para torná-los acessíveis no contexto da sala de aula. Benito (2012) também constata que ‘existe uma larga tradição dos professores como produtores de artefatos’ (p. 15). No contexto da nascente Caxias do início do século XX, as salas de aula eram espaços modestos e estavam providas com o mínimo, os professores eram leigos, em sua maioria, mas ensinavam aos seus alunos o que sabiam e da forma que dispunham na época”.712

712

Soares, Eliana Maria Sacramento & Luchese, Terciane Ângela. “A sala de aula no presente-passado: dois olhares, uma reflexão”. In: Revista Intersaberes, 2015;10 (21):493-508

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O marido de Guilhermina, Antonio Chiaradia Neto, foi personagem de relevo. Era ourives e relojoeiro de profissão, sócio de Reynaldo Kochenborgen na loja A Artística,713 e foi muito ativo na comunidade. Além de ter sido um dos fundadores em 1912 e o primeiro a presidir o Recreio da Juventude, foi vice-presidente em 1915, 1916 e 1918,714 715 716 1º secretário em 1917,717 um dos fundadores do Esporte Clube Juventude em 1913, jogador, também seu primeiro presidente,718 tesoureiro em 1917 e 1918,719 720 vice-presidente em 1922,721 e presidente da Sociedade Príncipe de Nápoles.722 Faleceu em 1923. c) Alfredo Bonalume, um dos fundadores do Recreio da Juventude, faleceu jovem, assassinado em frente ao Cinema Juvenil, num caso que repercutiu na cidade, quando era noivo de Rosalba Pieruccini. 723 d) Adelino Bonalume veio a se casar com a antiga noiva de seu irmão, Rosalba. Também fundador do Recreio,724 foi comerciante, proprietário do Hotel Dante,725 cujo prédio antes abrigara a cantina de seu pai, e muitas vezes membro do júri popular. Teve como filhos Assis Adelino, comerciante em São Paulo,726 e Victor Delmo Maria, nascido em Caxias em 25 de abril de 1931. Adelino casou-se novamente em 1950 com Olga Croda,727 ou talvez tenha sido um homônimo, pois a nota o cita como solteiro e não como viúvo, e não o cita como “Assis Adelino”, como seria esperado se fosse seu filho. Seu descendente Adelino José, advogado e corretor de imóveis, vive em São Paulo.

Ricardo Bonalume. Foto do Diario Nacional. 713

“Os srs. Reynaldo Kochenborgen e Antonio Chiaradia”. O Brazil, 29/10/1910 “Il baldo Recreio da Juventude”. Città di Caxias, 01/01/1915 715 “Com gentile pensiero”. Città di Caxias, 01/01/1915 716 “Recreio da Juventude”. O Brazil, 22/12/1917 717 “Club Recreio da Juventude”. Città di Caxias, 15/01/1917 718 “O Esporte Clube Juventude completou 36 anos de existência”. O Momento, 02/06/1949 719 “Sport Club Juventude”. Città di Caxias, 18/12/1916 720 “Sport-Club Juventude”. Città di Caxias, 28/07/1918 721 “Sports”. O Brasil, 13/05/1922 722 “Ieri l’operosa corporazione”. Città di Caxias, 04/05/1914 723 “Triste Cronaca”. Città di Caxias, 01/03/1913 724 “Hotel Dante”. Città di Caxias, 07/09/1922 725 “Hotel Dante”. O Brazil, 29/10/1921 726 “Edital”. O Momento, 05/07/1937 727 “Juízo de Casamentos”. O Momento, 16/09/1950 714

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e) Ricardo Bonalume, membro fundador, tesoureiro e conselheiro fiscal do Recreio da Juventude, 728 depois radicado em São Paulo, onde foi comerciante de alfafa,729 730 e um dos diretores do Centro Gaúcho.731 Em 1935 abriu outra firma,732 mas depois não encontrei mais traços dele. Seu neto, que leva seu nome, trabalha na Folha de São Paulo desde 1985 como redator e editor-assistente de Educação e Ciência, além de ser repórter e colunista da Revista da Folha de 1988 a 2002.733 f) Salvador Bonalume, casado com Elza, o primeiro a ser batizado na Catedral recém consagrada,734 um dos fundadores do primeiro time de futebol de Caxias, o Esporte Clube Ideal, que será abordado mais tarde, um dos fundadores da Sociedade Vinícola Rio-Grandense e depois da Diretoria do Instituto Riograndense do Vinho, sucessor do Sindicato, conselheiro da Associação dos Comerciantes e da Associação dos Proprietários de Imóveis, presidente do Esporte Clube Juventude e do Recreio da Juventude.735 736 737

Elza e Salvador Bonalume. Foto do Recreio da Juventude. Abaixo, Maria Gema, Dosolina e Assis Bonalume Pieruccini, coleção família Pieruccini.

g) Dosolina Bonalume casou-se com Fioravante Pieruccini, “egrégio industrialista” de “distintíssima família”,738 coronel na Revolução de 1923, e tiveram seis filhos: Oscar; Moacyr; Dinarte, que foi agente auxiliar de impostos e taxas da Secretaria da Fazenda do Paraná;739 Gastone, que faleceu durante a Revolução; Maria Gema, moça “da alta sociedade porto-alegrense”,740 casada com o ex-prefeito de Caxias Luciano Corsetti, já citado, e Assis Brasil, árbitro e secretário técnico da Federação Aquática do Rio Grande do Sul, campeão na classe Four em 1965 e na classe Eight em 1955 e 1966,741 diretor de Remo em 1959 e de Esportes em 1989 do Club de Regatas Almirante Barroso,742 membro da equipe do clube e com ela campeão da Regata Sulbanco em 1961,743 e autor de uma biografia sobre Fioravante. Uma outra filha, Nair, faleceu com poucos anos.744 A família Pieruccini será abordada com mais detalhe mais adiante.

728

“Il Baldo Recreio da Juventude”. Città di Caxias, 01/01/1915 “O Natal dos Pobres”. Diario Nacional, 18/12/1929 730 “Agencia do Braz”. Correio Paulistano, 18/05/1027 731 “Associações”. Correio Paulistano, 24/10/1928 732 “Editaes”. Correio Paulistano, 15/01/1935 733 “Bate-papo com Ricardo Bonalume Neto”. Bate-Papo UOL, 14/01/2010 734 Costamilan, op. cit. 735 “Esporte Clube Juventude”. A Época, 08/01/1939 736 “Viajantes”. A Época, 14/01/1940 737 “Reeleita a Diretoria da Associação Comercial de Caxias”. A Época, 01/01/1949 738 “Nel mezzo della settimana scorsa”. Città di Caxias, 06/04/1914 739 “Demissão”. Última Hora, 31/08/1963 740 “Consórcios”. O Momento, 21/06/1947 741 Federação Aquática do Rio Grande do Sul. Registro dos Campeões Gaúchos de Remo 1898-1965, 04/04/1965 742 Club de Regatas Almirante Barroso. Subsídios Históricos. 743 Licht, H. F. B. Regata Sulbanco 1959 - 1972, 2001 744 “Nel mezzo della settimana scorsa”. Città di Caxias, 06/04/1914 729

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Os Bonalume se tornaram, da mesma maneira, família tradicional, dando diversos outros notáveis, como Luigi, um dos primeiríssimos a se instalar em Caxias, chegando ainda em 1875 na primeira leva de imigrantes e sendo um “padre leigo”, líder religioso e oficiante de ritos básicos quando ainda não havia sacerdotes disponíveis.745 E continuam sendo conhecidos. Talita foi a goleadora da 9ª Copa Farmácia do IPAM de Futsal Feminino;746 e Cláudia Regina, formada em Educação Física na UCS, pesquisadora com muitos trabalhos publicados, depois foi secretária municipal de Esporte e Lazer, diretora do Departamento de Ações de Desenvolvimento Territorial na Secretaria de Desenvolvimento Territorial do Ministério do Desenvolvimento Agrário, coordenadora-geral do Ministério do Esporte, diretora de Políticas Sociais, membro suplente do Conselho Nacional do Esporte e chefe de gabinete da Secretaria Nacional de Desenvolvimento de Esporte e de Lazer.747 Ramos da família se radicaram na 1ª Légua, hoje Farroupilha, deixando vasta descendência, e também no Cláudia Regina Bonalume em visita oficial a distrito de Santa Lúcia do Piaí, onde fizeram nome Campos. Foto Esportes Sem Fronteiras. 748 Giuseppe (José), filho de Angelo e irmão de Ambrósio, agricultor e madeireiro, um dos fundadores da comunidade e tronco de família tradicional;749 Darci Francisco e Olmiro, ativos no Botafogo Futebol Clube, o primeiro time de futebol do distrito. Diz o blog da equipe: “Darci Francisco Bonalume: Foi presidente do clube. Destacou-se como atleta do clube. Foi em sua gestão que foi inaugurada a cancha de bocha e bolão. “Olmiro Bonalume: Foi presidente do clube em três oportunidades. Além de ser atleta do clube, destacou-se pela sua efetiva participação nos eventos sociais. Foi na sua gestão que foi inaugurada a Boate Paralelos Bípedes, que por 30 anos animou as noites de sábado”.750

745

Pinheiro, Luciana Santos. Processos de Territorialização de Variedades Dialetais do Italiano como Línguas de Imigração no Nordeste do Rio Grande do Sul. Tese de Doutorado. UFRGS, 2014 746 “9ª Copa Farmácia do IPAM entrega premiação”. Visão Esportiva, nov/2011 747 “Ministro comunica troca de titulares em áreas do MDA”. Assessoria de Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco. 748 Gardelin & Costa, op. cit. 749 “História de Santa Lúcia do Piaí”. Portal Férias Tur 750 “Pessoas Ilustres”. Botafogo F. C., 04/03/2011

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Angelo José Bonalume, filho de José, foi comerciante, vereador pelo Partido Social Democrático e um dos seus dirigentes, benemérito de Santa Lúcia e hoje nome de rua.751 752 Foi casado com Ana Andreazza (Anita), juízafesteira da padroeira do distrito, 753 de família que circulava nas crônicas e produziu outros nomes ilustres, como seus primos Guilhermina, casada com o dentista Aparício Postali, benemérita da paróquia de São Pelegrino e ativa no cuidado dos menores carentes do Círculo Operário,754 e o controverso Mário David, coronel do Exército, adjunto do Estado-Maior das Forças Armadas, membro do Corpo Permanente da Escola Superior de Guerra, um dos criadores do Serviço Nacional de Informações no tempo da ditadura e um dos signatários do AI-5, decreto que deu poderes extraordinários à Presidência da República e suspendeu várias garantias constitucionais do cidadão e das instituições, radicalizando a repressão da oposição e resultando, entre outros efeitos, no fechamento do Congresso; ministro dos Transportes nos governos Costa e Silva e Médici, tendo sido responsável por realizações como a Ponte Rio-Niterói e a Transamazônica, entre muitas outras, e ministro do Interior de João Figueiredo, criando programas habitacionais como o Promorar, ganhando fama como um dos maiores “tocadores de obras” do Brasil. Também criou a comissão que determinou o local exato do Descobrimento do Brasil.755 756

Ambrósio Luiz Bonalume. Foto UCS.

Ambrósio Luiz Bonalume, nascido em 27 de julho de 1945 em Santa Lúcia do Piaí, filho de Angelo José e Anita, passou a morar na sede de Caxias aos 16 anos a fim de estudar no Colégio Cristóvão de Mendoza. Ao mesmo tempo, trabalhava no Cartório Mário Ramos. Formou-se em Direito em 1973 e em 1975 foi aprovado em concurso para juiz, exercendo a magistratura em Antônio Prado, mas no ano seguinte exonerou-se para voltar a advogar em Caxias e dar aulas de Direito na UCS. Elegeu-se vereador em 1982 e ao término do mandato foi indicado Procurador do Município, deixando o cargo para ocupar novamente uma cadeira na Câmara, e hoje é presidente do Conselho Diretor da Fundação Universidade de Caxias do Sul. É casado com Vanda, tendo os filhos Gustavo e Angelo. 757 758

751

“O Poder Legislativo Municipal”. A Época, 1949 – Edição do 11º Aniversário “Reestruturado o Diretório Municipal do Partido Social Democrático”. A Época, 30/08/1951 753 “Tradicional Festa em Honra da Padroeira Santa Lucia”. A Época, 01/02/1953 754 Machado, Maria Abel & Aguzzoli, Leonor de Alencastro Guimarães. Nossas mulheres... que ajudaram a construir Caxias do Sul. Prefeitura de Caxias do Sul/Fundoprocultura, 2005 755 Bento, Claudio Moreira. Coronel Mario Davi Andreazza (1918-1988). Portal Militar, 10/02/2013 756 “Travessia: Ponte Rio-Niterói 40 anos”. O Globo, Especial 757 “Ambrósio Bonalume é o presidente da Fundação Universidade de Caxias do Sul”. Gazeta de Caxias, abr/2014 758 “Ambrósio Bonalume”. O Pellegrino, s/d. 752

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6) Lino Epifanio Sartori, nascido em 6 de janeiro de 1856, serviu no Exército italiano.759 Foi citado por Adami, Antunes e Herédia como um dos primeiros comerciantes e industriais de Caxias,760 e seus primeiros registros na cidade são de 1892, aparecendo nas listas municipais de impostos sobre indústrias e profissões, citado como dono de um açougue, talvez em sociedade com o pai, e um matadouro, mas depois de 1894 não é mais associado a este tipo de negócios, que ficaram todos com Salvador. 761 Possuiu terras junto com Settimo na 7ª Légua e segundo Adami ali residiu até pelo menos 1899.762 Como neste ano seu pai falecera, logo depois deve ter mudado para sua casa na Praça Dante, pois mais tarde conduziu no térreo o comércio que herdara, legando-o em herança a João, que deve ser um dos seus filhos. Manteve fortes laços com o Conselho Municipal, sendo membro de uma comissão para eleição de deputados federais, um dos festeiros indicados pelo Legislativo para organizar as comemorações do 5º aniversário da República, 763 764 e assinou uma carta, junto com conselheiros, endereçada a José Gomes Pinheiro Machado, protestando contra a administração do intendente Serafim Terra, acusando-o de abuso do Lino Sartori poder. 765 Foi também um dos acusados pelo intendente 766 Campos Jr. do atentado contra sua vida. Foi membro fundador da Sociedade Operária Príncipe de Nápoles e contribuiu com 2 mil réis para as vítimas de um terremoto na Sicília em 1909.767 Foi grande produtor e exportador de vinho e destilados, 768 estabelecido com a casa de secos e molhados Lino Sartori & Irmão na avenida Júlio de Castilhos,769 premiado com medalha de bronze na Louisiana Purchase Exposition, realizada em Saint Louis, nos Estados Unidos, em 1904,770 e medalha de prata na edição de 1907.771 O “irmão” da sua firma não foi identificado, mas deve ser Alberto, também grande produtor e exportador de vinho. Seu negócio foi citado em 1909 e 1910 no Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, aparecendo ao lado de grandes comerciantes como Chittolina, Rovea, Lunardi e outros, mas ainda em 1910 é assinalado com um capital irrisório, menos de um conto de réis, e

759

Comune di Cornuda. Situazione Militare, 13/10/2000 Herédia, Vânia Beatriz Merlotti. O Processo de Industrialização da Zona Colonial Italiana. EDUCS. 1997 761 Município de Caxias. Livro de registro de Imposto sobre Indústrias e Profissões, 1892. 1893, 1894 762 Adami (1971) op. cit. 763 Gardelin & Costa, op. cit. 764 “Pelo fôro”. O Brasil, 07/02/1909 765 Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami. Fundo Germano Parolini Pezzi. MFN 015996, maço 01, PPG 010. Carta. 766 Costamilan, op. cit. 767 “Subscrição popular”. Gazeta Colonial, 23/01/1909 768 Costamilan, op. cit. 769 “Registro Mortuário”. A Federação, 26/02/1910 770 Souza Aguiar, F. M. de. Brazil at the Louisiana Purchase Exposition, St. Louis, 1904 771 “Exposição de S. Luiz”. A Federação, 30/07/1907 760

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classificado como comércio de quarta categoria.772 Como falecera no início deste ano, em 6 de fevereiro, o registro pode ter mostrado o desmantelamento da firma após a morte do dono. Lino foi casado com Thereza Varnieri, que participou da comissão de senhoras para a construção do altar da Catedral.773 Thereza faleceu com 42 anos, sendo sepultada em 1º de fevereiro de 1912.774 Não pude descobrir o nome de seus pais, mas possivelmente era filha de outra Thereza e irmã de Hermenegildo Varnieri, que casou com Egide Sartori Buratto. O marido desta outra Thereza é incerto, mas deve ter sido José, cervejeiro e produtor de vinho. A família Varnieri residia em Porto Alegre. Os filhos de Lino e Thereza foram Idalino, Salvador II e Giovanni (João). Diz um dos obituários de Lino que teve também uma filha, que quase certamente é Severina. Como os pais faleceram cedo, Alberto Sartori assumiu em 1913 a tutoria dos sobrinhos. 775 Severina já era casada. Salvador II, nascido em 14 de outubro de 1901, foi comerciante, guarda-livros (contabilista), ator amador, nome assíduo na crônica social, tesoureiro do Esporte Clube Caxias, do Grêmio Atlético Eberle e da própria Metalúrgica Eberle – cargo de enorme responsabilidade dado o vulto dos negócios desta grande firma, que por um tempo foi a maior da América em seu ramo. Secretário do Grêmio Republicano e da Liga Esportiva Caxiense, da qual também foi membro da Comissão Fiscal, presidente da primeira Diretoria provisória e depois conselheiro da Associação dos Empregados no Comércio, participou de várias Diretorias do Esporte Clube Juventude, onde, segundo Michielin, foi grande figura numa segunda etapa da vida do clube.776 777 778 779 780 781

772

Stormowski, op. cit “Novo altar”. O Brazil, 03/09/1910 774 Municípío de Caxias. Registro de óbitos 1909-1934 775 “Licença”. Città di Caxias, 20/09/1913 776 “S. C. Caxias”. A Tribuna, 20/09/1920 777 “Gremio Republicano Paim Filho, de Caxias”. A Federação, 08/06/1928, 778 “Notas Esportivas”. A Época, 16/03/1941 779 “Nova Diretoria”. O Momento, 01/06/1933 780 Sindicato dos Comerciários. História. 781 “Resoluções da Liga E. Caxiense”. A Época, 16/03/1941 773

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Salvador II Sartori. A foto tem uma dedicatória autógrafa para Ida Sartori Paternoster, minha avó e sua prima, que diz: À bôa prima Ida offereço como lembrança do primo Salvador Sartori, Cx (Caxias) 7/9/37.

Fez o discurso de agradecimento em nome de Abramo Eberle quando este recebeu as insígnias do título de Cavaleiro da Coroa outorgado pelo rei da Itália, um evento de significado simbólico, consagrando em grande estilo os valores do imigrante e o seu sucesso.782 Casado com Elydia (Lidia) Pizzamiglio, Salvador II teve como filhas Loraine e as gêmeas Lenir e Ledir. Faleceu em 24 de março de 1956. João foi funcionário do Banco do Comércio,783 participou da Diretoria do Recreio da Juventude784 presidiu o Esporte Clube Juventude,785 e, junto com Renato e Ida, cantou em um coral em apresentações operísticas.786 787 Teve o filho Ricardo Sartori, do qual não encontrei notícias seguras. Renato pode ser um outro filho de Lino; se não, é um sobrinho. Renato foi ainda membro da Comissão de Festas do Recreio Guarani,788 foi casado com Inês e teve o filho Marco Antônio.

782

“Cav. Abramo Eberle”. O Momento, 02/11/1936 “Banco Nacional do Commercio”. O Brasil, 14/01/1921 784 “Recreio da Juventude”. O Popular, 06/12/1928 785 “Sport Club Juventude”. O Popular, 10/01/1929 786 “Concerto”. Caxias, 01/12/1927 787 “Concerto”. O Popular, 13/12/1928 788 “Nova Diretoria do Recreio Guarani”. A Época, 21/06/1942 783

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Severina Sartori foi rainha do carnaval do Bloco dos Venezianos,789 e casou-se em 1909 com José Rotta, residente em Antônio Prado.790 Depois a família mudou-se para Guaporé, onde José tornou-se político, sendo eleito conselheiro em 1916.791 Em 1917 acumulou a função de juiz distrital,792 em 1922 é citado como sub-intendente e sub-delegado de polícia no distrito de Serafina Corrêa,793 e em 1923 é novamente listado entre os membros do Conselho de Guaporé.794 Tiveram pelo menos um filho, Clayr Liberal, comerciante atacadista de roupas e tecidos em Guaporé. Uma Elizabeth Severina Rotta, que aparece ao lado de Clayr nos autos de um processo judicial, deve ser outra filha. Ela também trabalhou no mesmo ramo, coproprietária com Clayr das Confecções Rinna, com lojas em Guaporé e em Santa Maria.

789

Adami (1966), op. cit. “Edital nº 60”. O Brazil, 07/08/1909 791 “Intendencias municipaes”. A Federação, 22/11/1916 792 Registro Civil de Pessoas Naturais de Serafina Corrêa. Certidão de Casamento de Victorio Cella e Augusta Debortoli, 10/08/1918 793 “Districto de Seraphina Corrêa”. In: Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro; 1891-1940. Ano 1922. Vol. IV 794 “Guaporé”. A Federação, 13/10/1923 790

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De Idalino nada encontrei com segurança. Um Idalino Sartori aparece em Nova Roma do Sul, dando nome a um campeonato de futebol, mas nada garante que seja o mesmo. Um Antonio Lino Sartori foi vereador e presidente da Câmara em Rio Pardo, depois dedicado à advocacia. Seu pai, segundo declaração do próprio, teve um pequeno sítio, onde tentaram manter um alambique artesanal, que no entanto não vingou, mas disse que “na nossa região, até hoje quem fabrica cachaça artesanal herdou a fórmula da família”.795 A firma Lino Sartori & Irmão foi citada em 1904 em uma lista de produtores de brandy numa exposição em Louisianna, nos Estados Unidos, 796 e essa tradição nos destilados sugere que o Lino caxiense poderia ter sido o avô do advogado, mas nada mais pude descobrir sobre ele. 7) Ludovico Sartori nasceu em 29 de setembro de 1863 e faleceu em 15 de julho de 1924. O mais ilustre dos filhos de Salvador e hoje nome de rua, recebeu do pai logo na chegada um lote de terra no Travessão Solferino da 5ª Légua. Diz sua filha Pasqualina que logo em seguida um ricaço de Caçapava notou sua esperteza e pediu a seu pai Salvador para criá-lo. A situação é um pouco incerta. Nesta altura Ludovico já tinha entre 17 e 18 anos, e o que parece mais provável é que o tal ricaço tenha simplesmente lhe oferecido um bom emprego. De fato, Pasqualina também diz que em Caçapava ele trabalhava ganhando a expressiva quantia de um conto de réis por ano.797 Ficou lá por três anos, e depois disso a família o chamou de volta. A despeito de sua saúde sempre frágil, sofrendo desde a juventude de um grave problema estomacal,798 a partir daí se tornaria uma das figuras de maior relevo e influência política, econômica e cultural na Caxias de sua geração, ocupando uma série de posições de destaque e adquirindo enorme riqueza. Porém, levou uma vida muito simples. Foi um dos fundadores, em 1º de janeiro de 1887, da Società Operaia di Mutuo Socorso Principe di Napoli, antecessora da Sociedade Caxiense de Mútuo Socorro, entidade de importante atuação assistencial, cooperativa e cultural. O nome tem origens obscuras, e não designava propriamente uma associação de operários.799 Em 14 de outubro de 1889 casou-se com Agnese Moretto,800 (Agnes, Ignez) nascida em Cornuda, filha de Gabriele Moretto e Pascoa Brelo. 801 Com ela teria dez filhos: Honorino, Pasqualina, Olinda, Gabriel, Rosalina, Maria, Annucio (Anúncio), Florencio, Bruno e Noemia (Noemy).

795

“Advogado de Santa Cruz tem coleção de cachaça”. Jornal Debate. Caderno D – Especial, s/d. Souza Aguiar, F. M. de. Brazil at the Louisiana Purchase Exposition, St. Louis, 1904. Myerson, 1904 797 Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami. Banco de Memória, FG 003. Entrevista com Pasqualina Sartori e Rosalina Sartori, 11/03/1981 798 Entrevista com Pasqualina Sartori e Rosalina Sartori, op. cit. Em 1909 ele chegou a buscar tratamento na Europa, e diz Pasqualina que por três vezes a doença o levou à beira da morte. O problema foi diagnosticado como uma úlcera com estenose do piloro, sendo submetido a “melindrosíssima operação”, como noticiou O Brazil em 12/03/1913. 799 Rodrigues, Jimmy. “A evolução das denominações da Sociedade Príncipe de Nápoles”. Pioneiro, xx/xx/1987 800 “Necrologia”. A Época, 04/07/1948 801 Gardelin & Costa, op. cit. 796

197

198 Agnese Moretto e Ludovico Sartori. Coleção de Ludovico II Beretta Sartori.

Detalhe de foto de Mancuso de c. 1953 mostrando o Mercadinho do Povo na avenida Júlio de Castilhos. A casa cinza de dois andares bem à esquerda foi a residência de Máximo, irmão de Ludovico e pai adotivo de minha bisavó Maria Sartori, sua sobrinha.

Depois de casar construiu uma casa modestíssima na avenida Júlio de Castilhos, onde montou uma padaria e um variado comércio, que mais tarde se tornou o tradicional Armazém do Povo, também conhecido como Mercadinho do Povo, uma das edificações em madeira que mais resistiram ao avanço do progresso. Nesta casinha nasceriam todos os seus filhos, e ali a família iria residir por muitos anos, apesar dos protestos de seus sogros, que a consideravam “um buraco”.802 Na década de 1920 o negócio passou para Attilio Mariani & Irmão,803 e depois para a família Santini. A edificação foi demolida nos anos 70. 804 Junto com seu pai Salvador e outros, foi um dos fundadores do Partido Republicano na cidade em 1890,805 e foi vice-presidente da Exposição Agro-Industrial de 1898.806 Seu comércio prosperou a ponto de ele montar uma empresa de transportes fluviais, que mantinha dois vapores mercantes estacionados no rio Caí, a fim de abastecer seu negócio, comandando-os pessoalmente. A imprensa cita o nome de um dos vapores: Pedro I.807 Em virtude disso, foi comissário da Capitania do Porto do Estado. Comerciava com madeira, farinha, fumo, tecidos, vinho, açúcar, café, banha, salame e muitos outros gêneros, e fazia o transporte de mercadorias entre Caxias e Porto Alegre para muitos empresários e colonos caxienses.808 No início do século XX já se tornara pessoa rica e influente, com interesses diversificados e possuindo muitos bens, terras e fazendas espalhados por Caxias e os Campos de Cima da Serra. Foi um dos fundadores e diretores da Associação dos Comerciantes, destacada associação que mais tarde será abordada em detalhe,809 810 organizou uma exposição em Milão em 1906, da qual sobrevive o registro de uma medalha que recebeu, e foi membro de uma 802

Entrevista com Pasqualina Sartori e Rosalina Sartori, op. cit. Lopes, Rodrigo. “Venda a granel: ontem, hoje, sempre...” Pioneiro, 04/04/2015 804 Giron, Loraine Slomp. “Casas de Caxias”. História Daqui, 31/08/2011 805 “Caxias”. A Federação, 09/06/1890 806 Costamilan, op. cit. 807 “Secção Livre”. A Federação, 15/02/1906 808 Entrevista com Pasqualina Sartori e Rosalina Sartori, op. cit. 809 “O 38º Aniversário da Associação dos Comerciantes”. O Momento, 07/09/1939 810 “Homenagem Associação dos Commerciantes de Caxias”. Città di Caxias, 06/04/1918 803

199

Ludovico Sartori. Coleção de Ludovico II Beretta Sartori.

comissão do Conselho Municipal para eleição de deputados federais.811 Sua filha Pasqualina refere que quando foi anunciada a construção da estrada de ferro (inaugurada em 1910), prevendo que seu negócio de transportes iria ser prejudicado, vendeu-o, passando a administrar seus outros investimentos, e teria nesta mesma época vendido também o comércio,812 mas o fato é que em 1913 ainda é atestado com o comércio na avenida Júlio de Castilhos,813 continuou ativo na Comissaria da Capitania do Porto pelo menos até 1917,814 e isso deve significar que nesta época ainda mantinha seus navios mercantes, e de acordo com Rodrigo Lopes o mercado permaneceu em sua posse até os anos 20, como antes foi referido.

811

Gardelin & Costa, op. cit. Entrevista com Pasqualina Sartori e Rosalina Sartori, op. cit. 813 “Avviso”. Città di Caxias, 05/05/1913 814 “Chamados à Capitania do Porto”. A Federação, 27/06/1917 812

200

O antigo casarão de Ludovico Sartori. Coleção de Ludovico II Beretta Sartori. A foto mostra apenas o bloco principal, atrás havia um anexo de um piso.

Com a insistência de seus sogros para que morassem melhor, construiu um casarão em madeira que a historiadora Loraine Giron considerou um dos maiores que foram erguidos na cidade,815 localizado na esquina da avenida Júlio de Castilhos com a rua Garibaldi, a pouca distância da sua antiga morada, depois herdado pelos seus filhos. Ludovico de fato possuiu vários terrenos e casas nas redondezas. Sobre esta residência, diz Giron: “Na década de setenta, nela viviam três irmãos, mais precisamente duas irmãs e um irmão. Mexendo nas fotos antigas encontrei uma foto da época. Agora se tornou uma janela para o passado. Seu Anúncio ficava muitas horas sentado em uma cadeira, em frente da janela que dava na rua Garibaldi. Uma imagem patética. Maravilhoso tempo em que se podia dormir em frente a uma janela térrea sem ser assaltado”.Ver nota 816 O casarão já não existe. É de assinalar que essa arquitetura em madeira que povoou Caxias e toda a região colonial em seus primórdios já foi estudada por vários especialistas, que são unânimes em apontar suas características originais, e embora em geral fossem construções austeras, costumavam ser espaçosas e confortáveis, muitas delas possuíam detalhes ornamentais nas fachadas, como lambrequins e caixilharia decorada, e seus melhores exemplares se impunham na paisagem urbana como pequenos palacetes, constituindo um patrimônio histórico inestimável do qual infelizmente restam poucos – e cada vez menos – sobreviventes.817 818 815

Giron, Loraine Slomp. “Casas de madeira”. História Daqui, 22/09/2011 A historiadora deve ter-se enganado. Não consta que Anúncio tenha vivido ali depois de adulto e segundo Pasqualina quem costumava ficar na janela era seu irmão Honorino. Diz ela que Honorino apreciava ficar ali porque podia ver o movimento e conversar com todos. Foram muitas as propostas que a família recebeu para vender o imóvel, em esquina muito valorizada, mas Honorino sempre respondia aos interessados: “Tu não tem dinheiro, nem que tu queira, para pagar quanto vale só o que vale aquela janela”. 817 Bertussi, Paulo Iroquez. “Elementos de Arquitetura da Imigração Italiana.” In: Weimer, Günter (org). A Arquitetura no Rio Grande do Sul. Mercado Aberto, 1987 816

201

Apareceu em 1910 no jornal A Federação assinando a ata de instalação da filial em Caxias do Banco da Província,819 mas não é claro se era acionista ou se a ata apenas registrou as muitas figuras ilustres presentes na solenidade de inauguração. No mesmo ano participou da organização das grandes festas para a chegada do trem à cidade, integrando a Comissão de Donativos.820 Em 1913 foi citado como capitão da 1ª Companhia do 85º Batalhão de Reserva da Guarda Nacional.821 Foi membro do Comitato Italiano Pro Patria, uma associação que ajudava a financiar e apoiar os combatentes italianos na I Guerra.822 823 Em 1915 era o maior contribuinte em impostos prediais da cidade, 824 e por muitos anos esteve entre os dez maiores. Foi sócio da importante Cooperativa Agrícola,825 e através da Associação dos Comerciantes foi membro da comissão para a construção da Ponte do Korff, passagem importante que fez mais fácil a ligação com os Campos de Cima da Serra. Segundo Gardelin, sua construção, considerada muito necessária para dinamizar o comércio regional, foi um dos temas mais debatidos na comunidade em sua época.826 Ele também é citado na imprensa várias vezes como industrial. Ali não é dito a que ramo se dedicou, mas as notas devem se referir a uma empresa de beneficiamento e comércio de erva-mate que instalou junto ao Mato Sartori quando este foi herdado pela sua esposa.

A medalha da exposição em Milão, com seu nome inscrito, coleção de Ludovico II Sartori. À direita, a Ponte do Korff. Foto de Raynits em Skycraper City.

818

Posenato, Júlio. “A Arquitetura do Norte da Itália e das Colônias Italianas de Pequena Propriedade no Brasil”. In: Martins, Neide Marcondes & Bellotto, Manoel Lelo. Turbulência cultural em cenários de transição: o século XIX ibero-americano. EdUSP, 2004 819 “Caxias”. A Federação, 13/09/1910 820 “Inauguração da via-ferrea. As festas projectadas”. O Brazil, 21/05/1910 821 “Guarda Nacional”. O Brazil, 13/12/1013 822 “Comitato Italiano Pro-Patria”. Città di Caxias, 05/07/1915 823 Biondi, Luigi. “A greve geral de 1917 em São Paulo e a imigração italiana: novas perspectivas”. In: Cadernos do Arquivo Edgard Leuenroth, 2009; 15 (27) 824 “Edital”. Città di Caxias, 21/12/1915 825 “O cooperativismo”. Correio do Povo, 22/02/1912 826 Gardelin (s/d), op. cit.

202

Seu lado cultural revelou-se no envolvimento com o cinema e a imprensa. Adquiriu as existências do Cinema América quando este fechou em 1912, incorporando-as ao patrimônio do Cinema Juvenil.827 Aparentemente em algum momento tornou-se sócio deste último, e foi sócio também do Cinema Ideal, já citado quando falei dos Buratto. Complementando o que lá foi dito sobre os cinemas naquela época, Kenia Pozenato e Loraine Giron, em sua obra Cinemas: lembranças, que resgatou a história dessa atividade na região, referem o seguinte: “A influência do cinema não se limitou à apresentação dos espetáculos e à influência no gosto da população, influenciou também a vida social da pequena cidade de Caxias. Essas mudanças foram tão importantes que mereciam até nota no jornal, como a que se pode encontrar na Secção Livre de O Evolucionista de 7 de fevereiro de 1913, que faz alusão ao surgimento de um novo e moderno sistema de namoro propiciado pelo cinema, em que os namorados faziam um prolongado passeio até o bairro de São Pelegrino e depois iam ao cinema, assistir ao filme. Os namoros, antes restritos às salas das casas das famílias, ou às festas religiosas, começavam a realizar-se ao ar livre e nas salas de cinema. [...] 827

“Cinema America”. O Brazil, 10/07/1912

203

A seta assinala o Cinema Ideal, onde hoje se localiza a sede social do Clube Juvenil. No alinhamento da praça, o prédio com andaimes na frente é o Hotel Dante, de Adelino Bonalume, antigamente a cantina de Ambrosio Bonalume. Foto em Adami (1966)

“O Cinema Ideal foi o seguinte cinema caxiense [refere-se aos anteriores, o cinema Juvenil e o América]. Seus proprietários foram Caetano Finco, Raymundo Buratto e Ludovico Sartori. O prédio era de madeira, com construção rústica, situado na esquina das ruas Marquês do Herval e Júlio de Castilhos. Era o mesmo em que haviam funcionado os outros dois cinemas. O Cinema Ideal durou mais tempo que os anteriores e sua programação era anunciada nos jornais locais. No dia 8 de novembro era anunciado, no jornal O Cosmopolita, o importante filme Mas... meu amor não morre, tendo como protagonista Lydia Borelli. Segundo o jornal, era então o cinema preferencial da cidade. “O jornal humorístico A Encrenca apresenta o Cinema Ideal como o mais simpático centro de diversões caxienses, apresentando os filmes A Bíblia e O Rei de Ouro, como dramas de grandes aventuras. Os cinemas ganham espaço nos jornais e novas mudanças de hábito são anunciadas. [...] Em outra nota, há alusão ao namoro no interior da cabina de projeção do cinema, onde uns ‘noivinhos’ não deram atenção ao filme, ‘trocando beijinhos’. A coluna Estão dizendo, do jornal A Encrenca, de 1º de janeiro de 1915, informa que o Cinema Ideal é ‘o paraíso terrestre para conquistas, já que é ponto delicioso para este esporte’. Outras afirmações revelam mudanças no namoro, com liberação dos costumes, já que um jornal alerta que as sessões com fitas duplas ‘estão prejudicando a zona’. Parece que o cinema estava intimamente associado ao namoro, tanto entre os jovens como entre viúvos, propiciando a ‘troca de namorados’. A palavra zona é uma clara alusão à zona do meretrício.[...] 204

“Até 1914 o grande cinema da cidade ainda era o Ideal. Sobre ele o jornal O Cosmopolita, em 10 de outubro desse ano, publicava anúncios onde são elogiadas as condições de ventilação, do prédio e do ponto esplêndido, exibindo films d’arte das melhores fábricas. A Praça Dante Alighieri, onde funcionava o Cinema Ideal, era o ponto de encontro mais importante da cidade. Ali também estava instalada a casa comercial de Adelino Sassi, que vendia de tudo um pouco. Além da Igreja Matriz, havia também a Padaria Familiar, de Raymundo Magnabosco e o Café América, que dava como referência para sua localização o Cinema Ideal, que ficava ao seu lado, na rua Júlio de Castilhos. Próximo ao cinema, na rua Marquês do Herval, funcionava o Hotel Globo, de Antonio Baggio, onde os visitantes e viajantes se hospedavam”.828 Notas na imprensa da época mostram que o Ideal foi não apenas um cinema, mas uma grande casa de espetáculos variados, apresentando teatro e concertos e dando espaço para eventos. Mantinha uma companhia dramática contratada de Porto Alegre,829 recebia atores convidados e tinha uma orquestra estável, que se apresentava em outros eventos festivos de Caxias, a exemplo do banquete oferecido em homenagem ao intendente Penna de Moraes em 1914, quando executou “bellos trechos de seu repertório”.830 Também eram realizadas palestras e conferências em seu salão.

828

Pozenato, Kenia Maria Menegotto & Giron, Loraine Slomp. Cinemas: lembranças. EST, 2007 “Deve chegar a esta cidade...” O Brazil, 13/06/1914 830 “Cel. Penna de Moraes”. O Brazil, 11/07/1914 829

205

Fundou um dos primeiros jornais de Caxias com seu filho Honorino, A Encrenca, semanário de variedades com notícias, humor e literatura, que circulou entre 1914 e 1915, 831 que logo será novamente abordado, e participou também da solenidade de fundação do Recreio da Juventude, como mostra a notícia abaixo, embora não fosse um dos fundadores oficiais.

831

Arquivo Histórico Municipal. Notas sobre o Jornal.

206

A Praça Dante Alighieri coberta de neve em meados de 1918, com a Casa Canônica ainda em construção, e a Catedral já com sua fachada pronta. Cartão-postal acervado no AHM, Fundo Sartori.

Além dessas atividades, manteve íntima associação com a Igreja até o final da vida. Em 1898 foi vice-presidente de um comitato, junto com vários outros parentes, para a organização de uma Exposição Agro-Industrial que reverteria em benefício das obras da Catedral.832 Neste ano já era um dos fabriqueiros, depois ocupando alternadamente os cargos de secretário, conselheiro e tesoureiro. Como vimos, os jornais reforçam a conclusão a que chegou a equipe do Arquivo Histórico de Caxias, conforme comunicação pessoal, de que os Sartori desempenharam um papel de primeiro plano na construção da Catedral desde o tempo de Salvador, com vários deles contribuindo para as obras do templo, especialmente Ludovico, que aparentemente foi o mais longevo dos fabriqueiros, em atividade documentada desde 1897, quando foi eleito representando os comerciantes,833 até pelo menos 1917,834 mas ao que parece permaneceu na equipe até falecer. Neste longo intervalo participou de todas as obras de decoração, conclusão da fachada e escadaria e outros arremates que vestiram a estrutura nua que encontrou em 1897, quando o edífício recém havia sido coberto, e lhe deram sua forma definitiva, e como fabriqueiro colaborou também na construção do grande edifício do Colégio Nossa Senhora do Carmo, pertencente à Igreja, e da Casa Canônica, residência do bispo, um imponente palacete que fica anexo à Catedral, inaugurado em fins de 1918. 835 836 Em 1921 fez parte da comissão que presenteou dom João Meneguzzi com um grande retrato do próprio quando o prelado foi elevado à condição de cônego da Catedral,837 e em 1924, já às portas da morte, participou da comissão de recepção do Visitador Apostólico dom Bento Lopes.838

832

“Esposizione agrícola industriale”. Il Colono Italiano, 01/04/1898 Nosadini, Pietro. Carta Aberta, 15/06/1898. Apud Brandalise, op. cit. 834 “Fabriqueria da Igreja Matriz de Caxias”. Città di Caxias, 22/01/1917 835 “Escadaria da Igreja”. Cidade de Caxias, 07/10/1911 836 Brandalise, op. cit. 837 “Homenagem”. O Brasil, 19/11/1921 838 “Visitação Apostólica”. O Brasil, 17/05/1924 833

207

Página de uma ata dos fabriqueiros da Catedral, de 26 de julho de 1897, que assinala a eleição de Ludovico para o cargo de secretário da Comissão de Obras. Acervo do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.

208

Lembranças de falecimento de Ludovico e sua esposa Agnese. Coleção de Ludovico II Beretta Sartori.

209

A família de Ludovico Sartori. Seus filhos são marcados em itálico. Da esquerda para a direita, de pé: Serafim Alessandrini e sua esposa Ignez Sartori, Pasqualina Sartori, a viúva Agnese Moretto Sartori, Noemy Sartori, Olinda Sartori Falcão, Wanda Beretta Sartori, Maria Sartori Haag. Na frente: João Haag, Bruno Sartori, com o pequeno Ludovico II Beretta Sartori, Anúncio Sartori, com o pequeno João Alberto Beretta Sartori, Vera Beretta Sartori e Gabriel Sartori. Coleção de Ludovico II Beretta Sartori.

Em 27 de novembro de 1936 a família de Ludovico se viu envolvida em um pequeno escândalo, quando seus filhos Honorino e Gabriel discutiram e acabaram partindo para as vias de fato com o advogado Luiz Oliveira. Segundo notícia publicada n’O Momento em 5 de abril de 1937, o agredido teria ofendido mãe dos dois acusados, a viúva Agnese, recebendo um tapa no rosto dado por Gabriel. Eles foram processados e absolvidos, mas o agredido recorreu, fazendo com que fossem condenados a três meses de prisão e ao pagamento das custas do processo. No entanto, o juiz reconheceu a ofensa à honra da mãe como atenuante, e sendo réus primários, e sendo a pena inferior a um ano, como previa a Lei, foi-lhes concedido o benefício da suspensão da sentença. O caso é um tanto obscuro. Oliveira acusara Agnese e os filhos de apropriar-se de bens “pela lei do menor esforço”, de agir de má fé e sem escrúpulos, chamando-os de “trinca de aventureiros”, mas ao mesmo tempo o dr. Olmiro de Azevedo, presidente da seccional da Ordem dos Advogados, se admirava de como isso seria possível, sendo família tão considerada e conhecida de todos, opinião citada na sentença do juiz, e Gabriel acabou sendo elogiado na imprensa por fazer o que todo bom filho teria feito defendendo a mãe, “veneranda senhora” e pessoa de “qualificação e idoneidade moral e social”.839 840

839 840

“Processo Irmãos Sartori”. O Momento, 05/04/1937 “Condenação”. O Momento, 10/05/1937

210

Agnese Moretto sobreviveu a Ludovico por muitos anos, falecendo em 30 de junho de 1948. 841 Foi lembrada por sua filha Pasqualina como uma mulher forte, dedicada ao trabalho, à família e à religião, sendo zeladora do Apostolado da Oração mantido pela Catedral.842 Os Moretto também tinham prestígio e riqueza. O pai de Agnese possuía terras perto do centro. Um fragmento foi preservado e hoje é o Parque Municipal Mato Sartori. Diz o histórico levantado pela Prefeitura:

Agnese Moretto Sartori. Coleção de Ludovico II Beretta Sartori. Abaixo, vista aérea do Mato Sartori, uma pequena jóia verde com mata ainda densa bem no coração da cidade. Foto do site do Parque.

“A área era de propriedade de Miguel Moretto.Ver nota 843 Posteriormente, passou para sua filha Agnes, que casouse com Ludovico Sartori, com quem teve dez filhos. O Mato dos Sartori, assim chamado na época, foi palco de muitas brincadeiras por parte das crianças moradoras dos arredores. Analisando o histórico legal desta área, voltamos a 1970, quando na cidade despertava uma nova consciência em torno dos problemas ambientais. Neste momento, por meio do Decreto n° 734, a área tornou-se de utilidade pública. Em 1979 o Plano Físico Urbano declarou o Mato Sartori como Zona de Preservação Ambiental. Entretanto, somente em 30 de outubro de 1991 é sancionada a lei que cria o Parque Municipal Mato Sartori. Em 28 de novembro de 2007, o prefeito José Ivo Sartori assinou o início das obras do Parque, tornando-o o primeiro Parque de Educação Ambiental de Caxias do Sul”.844 Entre os muitos representantes dos Moretto podem ser destacados Norberto, tesoureiro do Círculo Operário;845 Luiz, contador, diretor Administrativo e depois presidente do Instituto Riograndense do Vinho, citado nas crônicas sociais;846 847 848 Maria, secretária da Associação Rural e louvada como “a alma” da entidade, “líder dos colonos”, e “uma das maiores autoridades” em seu campo de atuação, responsável por “um rosário de feitos benéficos aos agricultores deste município e não menos dos vizinhos”,849 850 851 e Isidoro, advogado e juiz municipal interino, vereador duas vezes, presidente da Câmara, vice-prefeito, professor emérito, louvado pelos seus

841

“Necrologia”. A Época, 04/07/1948 Entrevista com Pasqualina Sartori e Rosalina Sartori, op. cit. 843 Seu nome era Gabriele, e não Miguel. 844 “Reestruturação do Parque Mato Sartori inicia na próxima semana”. Coordenadoria de Comunicação da Prefeitura Municipal, 05/02/2014 845 “Círculo Operário Caxiense”. O Momento, 05/05/1945 846 “Viajantes”. A Época, 26/01/1941 847 “Síntese Estatística das Atividades do Instituto Riograndense do Vinho”. A Época, 05/10/1941 848 “Discurso proferido pelo sr. presidente do Instituto Riograndense do Vinho...etc”. O Momento, 02/08/1947 849 “Associação Rural de Caxias”. A Época, 08/06/1941 850 “Vida Rural”. O Momento, 21/06/1947 851 Peruffo, Italino. “Vida Rural”. O Momento, 18/10/1947 842

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“nobres sentimentos e cultura magistral”, secretário do Orfanato Santa Teresinha, jornalista, um dos fundadores do jornal Pioneiro, hoje o maior da serra gaúcha, festeiro de Nossa Senhora de Lourdes, primeiro ministro da Eucaristia na paróquia de Lourdes, citado nas crônicas sociais e nome de rua. 852 853 854 855 856 857 Casado com Maria Pezzi, Isidoro foi pai de Linda, e em segundas núpcias com Paulina Soldatelli, gerou Nei Paulo, sacerdote e bispo. Segundo Tessari, o bispo também se aparentou conosco via materna, sendo bisneto de Emilio Pezzi, e manteve laços com a Comunidade de São Romédio.

Isidoro Moretto, foto em Adami (1971), e seu filho Dom Nei Paulo Moretto, bispo de Caxias. Foto da Paróquia Santa Fé.

Nascido em Caxias em 25 de maio de 1936, iniciou seu ministério como presbítero coadjutor na paróquia de São Francisco de Paula, em 1962. Foi assistente e logo reitor do Seminário Nossa Senhora Aparecida em Caxias, lecionou Filosofia e Teologia no Seminário Maior de Viamão, onde chegou também à posição de reitor. Em 16 de novembro de 1972 assumiu como o primeiro bispo de Cruz Alta. Transferido para Caxias do Sul como bispo coadjutor com direito à sucessão, tomou posse em 19 de março de 1976. Na cidade veio a gozar de geral estima. Também foi presidente da Pastoral dos Nômades da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil,858 859 e membro do Conselho Diretor da Fundação Universidade de Caxias do Sul.

852

“O Poder Legislativo Municipal”. A Época, edição especial do 11º aniversário, 1949 “A Festa de N. S. de Lourdes”. A Época, 12/02/1939 854 “Casamentos”. A Época, 21/04/1940 855 “Homenageado o Prefeito em Ana Rech”. A Época, 21/02/1952 856 “Pintura do Edifício do Orfanato Santa Terezinha”. A Época, 18/01/1953 857 “Formatura no Ginásio do Carmo”. O Momento, 17/12/1949 858 “Pastoral dos Nômades agradece os 19 anos de dedicação de dom Nei Paulo Moretto”. Blog da CNBB, 07/07/2011 859 Duarte, Dogival. “Dom Paulo Moretto pede renúncia em Caxias do Sul. Diário Regional, 19/05/2011 853

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Orfanato Santa Teresinha, antecessor da Escola Normal Madre Imilda. Foto em Brandalise, op. cit.

Sua mãe Paulina iniciou sua vida pública como professora na escola da Colônia Pedra Branca.860 Depois fixou-se em Caxias, onde casou e foi fundadora do Orfanato Santa Teresinha, o primeiro da cidade, e do primeiro Clube de Mães, sendo sua presidente por vários anos, instituição homenageada pela Câmara Municipal pelos relevantes servisço prestados à comunidade. 861 Ajudou a instalar a Paróquia de Lourdes e o seu Apostolado da Oração, sendo sua presidente por 50 anos. 862 A Paróquia lembrou sua atividade no Clube de Mães: “A ideia do clube foi levantada no curso de Arte Culinária realizado na Escola Normal Madre Imilda em 1967. Paulina Moretto (in memoriam), mãe do bispo emérito dom Nei Paulo Moretto, já participava ativamente da paróquia e foi convidada a fundar o grupo durante as aulas de cozinha. ‘Por iniciativa da Madre Cecília, do Colégio Madre Imilda, começou o curso de culinária, sob os auspícios da Delegacia Nacional da Criança e do Departamento Estadual da Saúde, com a professora Joana Adelise Remus. Ela contou em suas aulas que vinha vindo do Nordeste, descendo por todo Brasil, para organizar Clubes de Mães. Relatou que tinha iniciado grupos em diversos lugares mais pobres. Todas as mulheres ficaram entusiasmadas com o que ela nos contava sobre clubes. Então, a professora nos perguntou – por que vocês não organizam um aqui? – e nós respondemos – vamos fundar já’, relatou Paulina em entrevista realizada em março de 2002, ao Informativo da Paróquia de Lourdes.

860

Gardelin, Mário. “O dia de hoje, 21 de novembro, na história regional”. Canguçu em Foco, 21/11/2013 “Clube de Mães Santa Terezinha será homenageado”. Assessoria de Comunicação da Câmara de Vereadores de Caxias do Sul, 11/04/2013 862 Alves, op. cit. 861

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“Paulina Moretto foi presidente-fundadora durante muitos anos, depois começou a organizar grupos em outros lugares, como em Flores da Cunha, São Marcos, Fazenda Souza, Santa Lúcia e em outros tantos em Caxias do Sul, mas sempre participando no de Santa Terezinha. ‘No Clube de Mães se trabalhava para os pobres, se fazia roupas, brinquedos para o Natal de quem necessitava e se distribuía. Quantas vezes levávamos sacos nas costas para distribuir ranchos para os pobres. O grupo fez um trabalho maravilhoso na cidade’, lembrou Paulina, na época. “Lembranças de Dom Paulo Moretto – O bispo emérito recorda que sua mãe se dedicava bastante ao grupo e que ela sempre voltava animada dos encontros, contando tudo o que foi vivido. ‘Primeiro fato que motivou o início do grupo é que elas eram um grupo de amigas. A amizade forte entre elas foi o que ocasionou o nascimento do clube e o que o sempre fez perseverar durante todos os anos’, aponta. De acordo com ele, elas procuravam ajudar a todos, colégio, famílias, paróquias, mas a assistência não era a finalidade principal e sim viver juntas o que a idade e a amizade propiciavam. ‘O clube era um lugar propício para viver a gratuidade. Na etapa da vida em que as mães estão, não tinham muitos compromissos e podiam se dedicar a amizade e aos outros. Elas gostavam de se encontrar, de conversar e de repartir a própria vida, partilhando o que tinham de alegria e de dificuldades. Elas falavam como estava a vida dos seus filhos, procuravam viver juntas o momento da velhice, conhecendo o que tinha de característica e de valores dessa idade’, afirma. Ele lembra que o clube constantemente buscava conhecimento através de cursos de culinária e de costura. ‘A mãe dizia que elas conversavam e aprendiam muito. Que viviam um constante crescimento juntas. Minha mãe era uma líder no trabalho, dinâmica e ativa, de modo que caprichou e cuidou do clube como um filho. Ela ajudou para que surgissem outros, mas para ela nenhum era igual, cada um tinha sua identidade’, afirma”.863

Acima, Paulina Soldatelli Moretto em maio de 1937 com seu filho Nei Paulo nos braços. Foto Pioneiro, e abaixo, da Gazeta de Caxias.

Paulina também foi presidente das Damas de Caridade por mais de 20 anos, e diretora do jornal Pioneiro, sucedendo seu marido.864 Recebeu muitas homenagens, e seu nome batiza uma escola de educação infantil 865 e uma ala do Hospital Pompeia, onde foi instalado um busto para perpetuar a memória da mais longeva das Damas de Caridade e sua grande contribuição ao Hospital.866 863

“50 anos tecendo amor”. Paróquia de Lourdes “Mulheres que ajudaram a construir Caxias do Sul”. Gazeta de Caxias, mar/2013 865 “Prefeito em Exercício sanciona lei que denomina Escola Infantil Paulina Soldatelli Moretto”. Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Caxias, 13/06/2014 866 “Hospital Pompéia: Prefeito participa da entrega das reformas da Unidade de Internação do SUS”. Revista Em Evidência, 12/08/2013 864

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Time do Juventude em 1925, quando sagrou-se campeão da Região Nordeste. De pé: Julio Filippini (Cavagnin), Adelino Pauletti (Bocha), Anúncio Sartori, Edemar Ferreira, Vicente Luizi, Florisbelo Bortogaray (Bortinho), Alvaro Martinez e Joaquim Giusto. Na frente: Francisco Bortogaray, Julio Travi, Celestino Bortogaray. Coleção Ludovico II Beretta Sartori.

Os filhos de Ludovico e Agnese circulariam nas crônicas sociais e promoveriam ativamente a cultura e o esporte nos clubes caxienses. Foram eles: a) Anúncio José Sartori (Annucio), estudou no Colégio do Carmo e formou-se contabilista. Trabalhou como bancário por algum tempo e depois tornou-se sócio do Expresso Caxiense e da Cooperativa Madeireira Caxiense, chegando a ser diretor das duas empresas, considerado um grande empresário no sumário biográfico que consta na lei que atribuiu seu nome a uma rua.867 Atuou também no esporte, sendo jogador do E. C. Juventude, sagrando-se campeão regional em 1925, além de participar várias vezes do Conselho Fiscal do clube. No Recreio da Juventude foi membro da Comissão de Finanças, também várias vezes. Falecido em 1984, foi casado com Wanda Beretta, filha de Anselmo e Augusta, conhecida família de relojoeiros e joalheiros, proprietários até hoje da Joalheria Beretta, negócio onde Wanda trabalhou. Ela deixou memórias publicadas por Giron & Bergamaschi: “Anselmo e Augusta Beretta foram imigrantes vindos de Vicenza, Itália. Amigos residentes em Caxias convidaram-nos para vir para ao Brasil, vieram imigrantes espontâneos. Foram para os Estados Unidos em 1901. Ficaram em Hamilton nove anos. Em 1908, nasce sua primeira filha Wanda; em 1913 vão para Buenos Aires, onde nasce seu segundo filho, Júlio. Chegaram a Caxias em 1917. Aqui nasce mais uma filha, Eny. De tradicional família de joalheiros, as origens são mantidas até hoje com a Joalheria Beretta que no início se chamou Ourivesaria e Joalheria Beretta.

867

Câmara Municipal de Caxias do Sul. Lei nº 3.684, de 27/06/1991

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Anselmo Beretta na joalheria em 1920. Ao lado, ele com a esposa Augusta e os filhos Júlio, Wanda e a pequena Eny. Fotos família Beretta.

“Em 1917 abrem a primeira joalheria em Caxias, pouco tempo depois morre Anselmo de acidente e quem assume a direção do negócio é sua viúva Augusta Beretta. Mais tarde seu filho dedica-se ao conserto de relógios, e as filhas Wanda e Eny auxiliam no balcão e no caixa. Após a morte de Anselmo mudam-se para novo local, onde hoje é o Banco do Brasil, no Centro. Em 1920 mudam-se para onde hoje está a Loja Colombo, perto da Livraria Rossi. A loja foi transferida para a Júlio, defronte à atual loja, lá ficando até 1933, quando é construída a nova loja. Anos depois Júlio fez um curso de ótica em Porto Alegre. Voltando para Caxias abre a primeira Ótica Caxiense, ficando responsável pela parte técnica da ótica. Com ele trabalharam Antônio Beretta, Venâncio Assunção, Guilherme Calloni, Aldo Rosinatto, Euclides Danna e Raymundo Pezzi. O comércio de joias e relógios tem início na pequena cidade. Vendiam alianças de noivado e o tradicional anel de ouro com pedra vermelha para a noiva, ainda relógios de bolso, correntes e medalhas. Com o tempo a loja vai se ampliando e diversificando, sendo incluídos artigos de decoração, de cristal e prata, os mais belos da cidade. Para fazer as joias compravam libras esterlinas de ouro e moedas antigas de ouro e prata”.868 Eny casaria com Alcides Merlin, “do alto comércio da cidade de Farroupilha”.869 Júlio casaria com Suzana Lima e conduziria o negócio familiar de 1954 a 1989, sendo sucedido pelo filho Valter, até hoje no comando. Rodrigo Lopes publicou uma boa matéria sobre a família Beretta no Pioneiro.870 Anúncio e Wanda Sartori apareceram muitas vezes na crônica social comemorando seus aniversários. Tiveram os filhos a1) Ludovico II, de quem logo falarei; a2) João Anselmo, nascido em 1942 e falecido em 1986, engenheiro, casado com Leari Frank, bancária, pais de Anselmo Lucas, que estudou Engenharia Mecânica e depois foi funcionário do Banco do Brasil, e a3) Vera Niceas, nascida em 1937, casada com Francisco Valiati, advogado e bancário. Vera foi professora mas mudou-se de Caxias e Ludovico pouco sabe dela. Seus filhos foram e Glauco, empresário, e Mirtô, advogada, mãe de Aryetha.

Vera Niceas, João Anselmo e Ludovico II Beretta Sartori. Coleção Ludovico II. 868

Giron & Bergamaschi, op. cit. “Nupcias”. O Momento, 08/12/1941 870 Lopes, Rodrigo. “Beretta, uma tradição da Avenida Júlio de Castilhos”. Pioneiro, 21/07/2014 869

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Ludovico II com sua faixa de bicampeão de bochas ao lado da esposa Maria Otília. Ao lado, Ludovico, os filhos Marcos (atrás) e Mateus, Maria Otília e sua mãe Guiomar Perosso. Coleção de Ludovico II.

Ludovico II, nascido em 29 de julho de 1940, estudou nos colégios do Carmo e Cristóvão de Mendoza e no internato Murialdo de Ana Rech. Mudou-se para Porto Alegre em 1964 para estudar Odontologia na PUC, formando-se em 1967 e fazendo carreira nesta profissão. Aposentou-se em 1994, mas trabalhou até o ano 2000. Foi notado jogador de bochas integrando a equipe do Esporte Clube Juventude, ganhando muitas medalhas. Entre seus títulos estão o de campeão regional, campeão da Semana Caxias, bicampeão estadual em 1984, e em 2008 sagrou-se pela terceira vez campeão municipal.871 Ludovico deu muitas informações importantes sobre a família e disponibilizou vários documentos mostrados neste estudo. Ele guarda uma vasta quantidade de material relacionado aos Sartori, que ainda está por ser explorado. É casado com Maria Otília Junker, nascida em 17 de setembro de 1950, professora de inglês e português em vários colégios, entre eles o Imigrante, o Carmo, o La Salle, o João XXIII e o Angelo Guerra, sendo homenageada pela Prefeitura em sua aposentadoria.872 O casal teve dois filhos, Marcos e Mateus. Marcos José, nascido em 29 de novembro de 1976, estudou no Carmo e formou-se em Medicina pela UCS, especializado em Clínica Geral, trabalhando para a Prefeitura de Caxias, casado com Letusa Karen Pezzi, 873 nascida em 26 de fevereiro de 1983, assistente social, parente nossa pelo lado materno, tendo o filho Marco Antônio, nascido em 6 de janeiro de 2015. Mateus Anucio, nascido em 9 de janeiro de 1986, é estudante de Direito.

871

“Juventude conquista 9º título municipal na Bocha”. Esporte Clube Juventude, 15/08/2008 “Prefeitura homenageia servidores aposentados”. Assessoria de Comunicação – SMRHL, 08/07/2015 873 Pulita, João. “Social de Terça”. Pioneiro, 06/11/2012 872

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Marcos Sartori e Letusa Pezzi e seu filho Marco. Abaixo, Maria Otília, Mateus e Ludovico, com o pequeno Marco. Coleção de Ludovico.

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b) Honorino Sartori, nascido em 2 de março de 1894, casado com Teresa Poloni, foi figura notável nas primeiras décadas do século XX como grande agitador social, esportivo e cultural. Como essas atividades não garantiam o seu sustento, foi sócio em uma olaria com seu tio Attilio 874 e abriu uma tipografia. Iniciou sua vida social no Clube Juvenil promovendo festas e bailes, e quando os sócios solteiros, como ele, insatisfeitos com as limitações às suas atividades impostas pela Diretoria, resolveram debandar para criar uma associação exclusiva, o Recreio da Juventude, Honorino estava entre eles, sendo um dos seus líderes e fundadores, e presidente dos conselhos Executivo e Deliberativo, além de por várias vezes ocupar os cargos de secretário, tesoureiro e conselheiro.875 876 877 878 Pelos seus grandes serviços ao clube, foi nomeado sócio honorário e sócio benemérito.879 880

Acima, foto oficial como presidente do Conselho Executivo do Recreio da Juventude, na Galeria dos Presidentes do clube. Abaixo, o convite para a fundação do Recreio da Juventude, doado por Zulmir Fabris ao acervo do clube.

874

Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami. Fundo Sartori. Maço 04. MFN 016381. SAR 152. Nota fiscal. “Il baldo Recreio da Juventude”. Città di Caxias, 15/01/1915 876 “La rispetabile segretaria”. Città di Caxias, 28/06/1915 877 “Com gentile pensiero”. Città di Caxias, 21/12/1915 878 Recreio da Juventude. Galeria de Presidentes 879 Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami. Fundo Sartori. Maço 03. MFN 016348. SAR 104. Diploma. 880 Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami. Fundo Sartori. Maço 03. MFN 016349. SAR 105. Diploma 875

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Honorino e Teresa Sartori. Acervo do Recreio da Juventude. Abaixo, a assinatura de Honorino retirada de seu título eleitoral. Coleção de Ludovico II Sartori.

220 Diploma de sócio benemérito. Coleção de Ludovico II Sartori.

221 Capa da primeira edição d’A Encrenca, de Ludovico e Honorino Sartori. Arquivo Histórico Municipal.

Ele já havia sido citado na seção de Ludovico, seu pai, como co-fundador do semanário A Encrenca, mas ao que parece o pai participou do jornal mais como financiador do que como editor, pois pelo que diz Michielin, o caráter humorístico e até mordaz do semanário era muito típico do filho Honorino, e embora Ludovico tivesse sido um dos “arteiros” da família Sartori quando jovem, a esta altura se havia tornado um respeitado e importante comerciante e figura ligada intimamente à Igreja, e lhe seria muito inconveniente escrever tais textos para o jornal. Sabe-se ainda que sua irmã Pasqualina o ajudou na edição do jornal. Mas aqui, portanto, é o lugar adequado para darmos algumas notas sobre esta publicação.

Arquivo Histórico Municipal

O jornal só durou seis meses, circulando entre 11 de outubro de 1914 e 9 de maio de 1915, tinha de duas a quatro páginas, e vários colaboradores, sendo impresso na gráfica do próprio Honorino, sita à avenida Júlio de Castilhos, nº 38.881 Seu conteúdo é variado, mesclando noticiário, poesia, enigmas, trocadilhos, crônicas e sobretudo sátiras, mas também dando espaço para textos mais ousados e apelativos, que enveredavam pelo erotismo e se aproximavam mesmo da pornografia, revelando uma faceta pouco conhecida da vida dos colonos italianos. Caracteristicamente, o jornal se auto-identificava como “órgão das zonas”, fazendo uma alusão ao meretrício, e como seria de esperar, os autores dos artigos não se expõem, usando pseudônimos. A História do Primeiro Beijo, publicada no número 2, é ilustrativa, e é mostrada ao lado.

Na mesma edição, sob o título Chroniqueta, faz-se como que uma declaração de princípios, apresentando como o objetivo do jornal “cavar a vida pilheriando, castigat ridendo mores, é o nosso programa, critica leve porque doi menos um beliscão do que uma facada, e mesmo 881

Pozenato, Kenia Maria Menegotto & Giron, Loraine Slomp. 100 Anos de Imprensa Regional 1897-1997. EDUCS, 2004

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porque não estamos dispostos a modificar costumes, e em um meio ainda pequeno como é o nosso, o que seria conflagrar a zona e dar socos em facas de ponta. O nosso escopo é criticar brincando entre risos e flores, próprio da atual estação, a primavera!”. No entanto, a “crítica leve” não foi um uso regular, havendo textos bastante incisivos, e em seguida é acrescentado que “não temos a espinha dorsal frágil, própria para curvaturas de ocasião”, o que tem o tom de um desafio. Na verdade os jornais humorísticos da época – houve outros – traziam para o campo da sátira aparentemente inocente as fortes rivalidades que existiam entre diferentes grupos culturais e políticos.882 De qualquer maneira, o painel que o jornal oferece sobre o seu tempo é assaz interessante, mas a abordagem tipicamente machista da imagem da mulher, uma característica na época, não passou despercebida pela Secretaria de Políticas para as Mulheres do Rio Grande do Sul, que republicou uma crítica do blog História Caxias: “A luta das mulheres por sua emancipação é histórica. Se hoje a mulher, amparada por uma legislação mais simpática, vem garantido direitos iguais ao do homem, no início do século XX a situação era bastante diversa. A política era eminentemente feita pelos homens e a cultura da época exprobava a participação do gênero feminino nas discussões sobre os rumos do país. No Brasil, o sufrágio feminino só foi regulamentado no ano de 1932 (!), quando as mulheres conquistaram o direito de votarem e serem votadas. Até então, à mulher cabia conformar-se com o seu destino natural, ou seja, cuidar do lar. Como assinala a historiadora Michelle Perrot, ‘a mulher foi criada para a família e para as coisas domésticas – mãe e dona de casa, esta é a sua vocação’. A participação da mulher na política ainda era minimizada por falta de competência para a função. A política sempre fora um reino do pensar, proibido às mulheres que, em função de seu ‘instinto materno’, procedem sentimentalmente, são excessivamente passionais: ‘os homens pensam e agem; as mulheres sentem e padecem’, como coloca a filósofa Marilena Chaui. Em busca de subsídios para a história das mulheres na nossa cidade, selecionamos um artigo publicado em um periódico local, o Jornal A Encrenca (escrito por homens) falando acerca do envolvimento das mulheres na política, em uma manifestação pró-Nilo Peçanha (à época senador da República), fato que ocorreu no Rio de Janeiro. Embora o artigo tenha sido assinado por um pseudônimo [Chevalier de la Lune], certamente a pena é masculina, encharcada de reprovações contra as mulheres que envolviam-se em tais atos. O artigo é do ano de 1915”.883 O artigo em seguida reproduz o texto original (a ortografia foi atualizada): “O caso do Rio, dia a dia, hora a hora, complica-se assustadoramente. Para cúmulo da má ventura nacional, um grupo de senhoritas promoverá uma manifestação de apreço ao dr. Nilo Peçanha. Não somos dos que, receosos de uma invasão feminina no campo de ação masculino, entendem que a serventia única da mulher se consuma no remanso do lar. Não; está provado que a mulher também coopera, como fator apreciável para o brilho dos cabarés, das casas de jogo, a de quejandos centros de útil desopilamento. Mas o que, por via de regra, se reprocha (e nós também reprochamos), é o fátuo propósito de se enovelarem as mulheres nos negócios politicos do país, ou em outros assuntos que, a um simples contato, podem desfeminizar as mulheres mais dignas do seu sexo. O feminismo não é um progresso; nem, tampouco, um retrocesso. O feminismo – e pedimos licenças para nos servir dos

882

Pozenato & Giron (2004), op. cit. “Artigo de 1915 reprovava participação das mulheres na política”. Secretaria de Políticas para as Mulheres do RS, 04/03/2012 883

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moldes acacianos Ver nota 884 – é um produto degenerado de uma invenção sexual nas manifestações da sociedade. Entre uma mulher que se irineumachadifica Ver nota 885 em comícios populares e uma outra que se conserva no discreto seio do lar, não há dúvida que a gente opta pela segunda. A primeira é um homem, a quem só falece a prerrogativa masculina da reprodução da espécie. De resto, nos tempos que transcorrem, nem mais o próprio bigode é característica do sexo masculino, depois que os ingleses, os americanos e outras gentes se convenceram das vantagens da ausência dele. A mulher que se mantém dentro da clássica moldura feminina, é que é a mulher lídima e pura, quer se estadeie ela nos lascivos passos do tango, quer se recate, pudica, no altar da família, dedilhando ao piano ou fazendo crochet. A mulher só deve ser política na política do amor. Se o senador Pinheiro fosse mulher, seria, graças à sua sagacidade e finura, a demi mondaine mais requisitada do país, e, certo, jamais se emaranharia nos negócios dos Estados, para só se consagrar ao eviterno culto do amor. As mulheres, pois, de perspicácia e tino comprovados, não procedem com acerto envolvendo-se em assuntos masculinos. Devem, ao invés, aplicar tais predicados em misteres pertinentes ao seu sexo, e, destarte, serão ou exemplares esposas de maridos felizes, ou cançonetistas afamadas pela falta de voz e abundância de carícias”. Honorino foi também uma das grandes figuras dos primeiros tempos do Esporte Clube Juventude como um dos seus fundadores, grande jogador e dirigente. 886 Francisco Michielin dedicou muito espaço para ele em seu livro Assim na Terra como no Céu, a história do clube. Trago alguns trechos significativos para destacar a sua colaboração e também por ser uma agremiação à qual deram grande contribuição vários outros Sartori, como Anúncio, Bruno e Gabriel, filhos de Ludovico, mais Salvador II, Álvaro e Raymundo Sartori Buratto.887 888 889 João Sartori, outro neto de Salvador, foi presidente.890 Ver nota 891 Osvaldo Artico e mais tarde Alcides Longhi e seu filho Vitor, que aparecem no Volume II, também deixariam forte marca no Juventude. Fala Michielin: “Honorino Sartori era alto e esguio. Tinha pernas compridas. O rosto irradiava simpatia, parecia estar permamentemente com um leve sorriso. Naquele chuvoso sábado, 28 de junho de 1913, não lhe interessava sorrir ou apressar o passo. [...] Estava prestes a encontrar com os irmãos Chiaradia e com Mirim, o Osvaldo Artico. Primeiro, para resmungar daquela chuva impertinente, mostrando o seu desapontamento. Segundo, porque lhe comprazia aplicar alguma malandragem em seus companheiros. Honorino era um arteiro e sabia das tantas encrencas pelas quais Caxias passara. Um ano depois – em 1914 – inspirado nisso, ele criaria um jornal de cunho humorístico, como lhe assentava. O nome? A Encrenca, é lógico. [...] Haviam escolhido o dia 28 de junho de 1913, um sábado, para festejar, já na véspera, a fundação do primeiro clube de futebol da cidade. Ver nota 892

884

Alusão ao Conselheiro Acácio, personagem da obra O Primo Basílio, de Eça de Queirós, que se tornou um modelo burlesco do moralismo e do convencionalismo. 885 Referência ao então senador Irineu Machado, opositor de Nilo Peçanha. 886 “O Esporte Clube Juventude completou 36 anos de existência”. O Momento, 02/07/1949 887 “Porto Alegre versus Juventude”. Città di Caxias, 14/12/1919 888 “Eleita a nova Diretoria do Esporte Clube Juventude”. A Época, 01/01/1939 889 [Nota]. Città di Caxias, 24/12/1915 890 Michielin, op. cit. 891 Álvaro e João também deviam ser descendentes de Salvador, convivendo com o grupo dos seus filhos e netos. 892 Este é um erro comum, mas o Juventude não foi o primeiro clube de futebol caxiense, a primazia cabe ao Sport Club Ideal, fundado em 1910, mas de breve existência. Voltaremos a falar dele mais adiante. Cf. Adami, João Spadari. “História do Futebol Caxiense”. A Época, 14/07/1953

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“De um ano para cá – precisamente em 1912 – começara uma fogosa e infindável discussão entre os associados do Clube Juvenil, que brigavam, digamos, ‘aristocraticamente’. Das divergências, originara-se um movimento separatista que terminou confluindo para o nascimento de uma nova entidade social: o Recreio da Juventude. Os solteiros, sentindo-se discriminados com as atitudes dos casados do Juvenil, não se conformaram e da cisão resultou o Recreio. No início unicamente para solteiros! Muitos desses jovens desejavam também fundar um clube eminentemente futebolístico. Ligaram-se ao Recreio – pois a ele pertenciam – e no ano seguinte partiram para a concretização da ideia. [...] Sartori, Chiaradia, Grossi, os Reis, Mirim Artico acertavam os últimos e importantíssimos detalhes. Auscultavam muito a voz e as opiniões de John Tibbitz, um jovem inglês, contando-lhes as maravilhas do ‘esporte bretão’ e o quanto ele monopolizava a sua Inglaterra. Foi Tibbitz quem dera a ideia de fundar um clube de futebol. [...] “O domingo desponta exuberante e reluzente, um dia para entrar no cofre da história. [...] Desde bem cedinho, pela manhã, as moças ornamentavam as sacadas e as janelas com colchas e toalhas coloridas de verde e branco, como se fosse passar a procissão do Divino. Foguetes espoucaram durante todo aquele dia, em diferentes locais. O assunto era um só: a criação do primeiro clube de futebol de Caxias do Sul: o Esporte Clube Juventude. No próprio sermão da missa das oito, o jovem padre João Meneguzzi arranjou um jeitinho para intrometer-se no assunto. Predicou para que o clube fosse forte e pujante pelo correr dos tempos. Que nada o fizesse soçobrar! Terminou abençoando a todos os juventudistas, assim na terra como no céu. [...] “Pois é! Aquela que deveria ter sido a primeira ata, no dia oficial da fundação, não é elaborada por um único vivente. Só se pensava em fazer festa. Assim, ela ficou transferida para o dia 10 de julho. [...] “Na quinta-feira de 10 de julho, trinta e cinco entusiasmadas almas encontravam-se reunidas para a escolha definitiva da primeira Diretoria do Esporte Clube Juventude. A unanimidade, por consenso, confirmou e aclamou Antonio Chiaradia Neto como seu primeiro presidente, tendo como vice, o honrado cervejeiro Raimundo Buratto. O primeiro-secretário, autor da ata inaugural, chamava-se Álvaro Gomes de Mello e o segundo, Astrogildo Rodrigues. Todos acharam que não haveria melhor tesoureiro que Honorino Sartori. [...] As assinaturas estavam lá, caligrafadas por mãos firmes e rústicas, por mãos caprichosas e mais letradas, com mãos trêmulas de emoção [parentes em itálico]: Antonio Chiaradia Neto, João Sambaquy, Carlos Zacchera, Carlos Leonardelli, José Carletti, José Grossi, Bruno Sperandio, Astrogildo Rodrigues, Guido Chittolina, Zulmir Fabbris, João Costamilan, Honorino Sartori, John Tibbitz, Clarimundo Lucena, Raimundo Buratto, Avelino Lucena, Francisco Spinato, Atilio Pieruccini, Ferdinando Jaconi, Victorio Sanvitto, Donato Rossi, Victorio Pieruccini, Osvaldo Artico, Ademar dos Reis, Luís Pieruccini, Luís Debisi, Francisco Grossi, Hugo Serafini, Reinaldo Rubenich, Clemente Guelfi, Arthur de Lavra Pinto, Octavio Reis, Dante Marcucci, Álvaro Gomes de Mello e Antonio Piccoli. [...] “O Juventude estava fundado. Tinha diretoria e associados. As camisas listradas, verde e branco, já estavam a caminho. Até baile se realizara. Faltava, agora, jogar. [...] Adversários na cidade não existiam. [...] Finalmente, descobriu-se o primeiro deles a ser desafiado. O Serrano, de Carlos Barbosa, levava fama de arrasador. Ganhava de todo mundo. [...]

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O primeiro time do E. C. Juventude em 1913, presidido por Ferdinando Jaconi. De pé, da esquerda para direita: João Sambaquy, Luiz Geral, José Grossi, Adelmar Reis e Otávio Reis. Ajoelhados: Carlos Zachera, Osvaldo Artico (Mirim) e Francisco Grossi. Sentados: João Costamilan, Francisco Chiaradia (Nico), John Tibbits, Honorino Sartori e Guido Chittolina. Coleção de Ludovico II Beretta Sartori.

“Domingo, 20 de julho. Uma inquieta e numerosa torcida compareceu ao ‘ground’ do hoje bairro Pio X. Estava na hora de ver esse Juventude correr atrás de uma bola. Primeiramente, a massa de torcedores concentrou-se no centro da cidade. Os atletas estavam elegantemente vestidos, todos uniformizados com camisas e calças brancas, adornadas de verde. Davam uma excelente impressão. Nada menos do que seis times alvi-verdes formaram-se para o grande desfile, que iria da praça até o campo. Dois deles considerados ‘titulares’. Dois ‘aspirantes’. E mais dois ‘filhotes’. O cortejo foi acompanhado por bandas de música e a retreta funcionou durante o espetáculo inteiro. Motivos suficientes sobravam. Mas o maior deles foi a goleada imposta pelo Juventude no seu primeiro amistoso: implacáveis quatro a zero. Os decantados astros do Serrano não viram a cor da bola. E olhem que entre eles havia o acrobático goleiro Ehressperger, os médios Arnoldi e Nicola e o impetuoso atacante Guedes. Acabaram vendo o brilho e a classe de José Grossi, Adelmar dos Reis e Octavio dos Reis; Carlos Zacchera, Osvaldo Artico e Francisco Grossi; João Costamilan, Nico Chiaradia, ‘Inglês Tibbitz’, Honorino Sartori e Guido Chittolina. O primeiro de todos os times do Juventude! Tibbitz enfiou duas bolas nas redes. Honorino Sartori e o ponta Chittolina, um pequeninote muito esperto, fizeram os outros dois gols”.893

893

Michielin, op. cit.

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Michielin também fala da ocasião da bênção da bandeira do Juventude, em 27 de outubro de 1918, realizada com grande solenidade na Catedral, tendo como paraninfo o presidente da Associação Comercial, Saturnino Ramos, a conhecida socialite Julia Lamb como madrinha, e o arcebispo metropolitano de Porto Alegre, dom João Becker, como celebrante. Conta o autor que o arcebispo se emocionou na cerimônia e louvou a escolha das cores, que simbolizavam para ele a esperança e a paz. Depois um cortejo com banda de música acompanhou o prelado até a Casa Canônica, e o poeta e professor Vico Thompson, “com seu fácil poder de oratória, profere um punhado de palavras inundadas pelo sentimentalismo. É calorosamente aplaudido”. O cronista continua, citando outros de nossos familiares na ocasião: “Em seguida, a bandeira recém benta é beijada por todos. A cena é fortemente tocante. Há os que se abraçam. Há os que choram. Depois, um finíssimo lanche é servido a todos. As senhoritas de Caxias, ardorosas juventudistas, cumpriram um importante papel neste singular epiosódio. Graças a Julia Lamb, Irene Sperandio, Flora Muratore, Lola Jaconi, Ayre Spada, Graciema Artico, Rosalina Sartori, Rita Grossi, Albertina Sartori e Eleonora Bonalume, tudo foi coroado com sucesso”.894 Anualmente o clube realizava uma partida beneficente, cuja renda revertia para as Damas de Caridade. Em 1925, com o clube enfrentando dificuldades financeiras, Caetano Petinelli, Osvaldo Artico e Italo Agostinelli recorreram às Damas, que organizaram uma sessão de cinema beneficente em prol do clube que sempre as ajudara. Michielin conta o seguinte: “As bilheterias estouraram naquela noite. [...] No cine-teatro, elas perfilaram-se faceiras, com seus delicados semblantes e sóbrias vestimentas, saias semilongas, colares e braceletes, dando ao recinto um aspecto suntuoso. Lá estavam Hilda Agostinelli, Irma Valiera, Ignez Sartori Paternoster, Matilde Zanella, Albertina, Odete, Rosalina, Oliva [Olinda?] e Marietina Sartori, Mariuccia Artico, Elsa Spada, Ayre Spada, Ignezinha Ahrends. [...] “Felizmente o belo sexo respondia presente e com uma voz ativa que, em escala tênue, poderia prever o surgimento do feminismo. O que seria do Juventude sem a participação dessas senhoras e senhoritas?” 895

O papagaio, mascote do Juventude. À direita, seu brasão. Imagens do E. C. Juventude. 894 895

Michielin, op. cit. Michielin, op. cit.

227

O historiador Mário Gardelin destacou Honorino em uma extensa matéria no Pioneiro sobre os 65 anos do clube, “Juventude: 65 Anos de Paixão e Glória”, publicada ao longo de várias edições no início de 1978, cuja imagem, mostrada ao lado, apareceu na edição de 18 de janeiro. Seu texto recupera os registros das primeiras atas e correspondência oficial. Ali se mostra que o clube interagia em vários níveis com a sociedade da época. Transcrevo um trecho: “A 16 de novembro de 1917, o Juventude volta a interessar-se pela sorte das vítimas da Iª Guerra Mundial. Uma bela ata, de Salvador Bonalume, informa que a Cruz Vermelha Brasileira, aqui existente, solicitou a colaboração do clube, a fim de conseguir a coleta de recursos destinados à Europa. A Diretoria fez-se imediatamente sensível e programou um amistoso interno, entre o primeiro e o segundo time. Além disso, haveria mais uma partida com o pessoal do Colégio do Carmo. Belo gesto, sem dúvida, que recordamos com emoção, depois de tantos anos. O pequeno, mas aguerrido clube, perdido nas serranias gaúchas, não esquecia a sorte dos irmãos, estraçalhados pela metralhadora, na distante Europa. [...] “Antes de concluir esta crônica, referente ao ano de 1917, demos uma espiada no Livro de Correspondência. Um telegrama felicita o Grêmio [de Porto Alegre] pelo 14º aniversário de existência, assinalado por ‘lutas heroicas’. Outro telegrama, apresentava ao Tiro de Guerra 248 pêsames ‘pelo passamento do inditoso tenente Homero Silva Paranhos’, sobrinho do barão do Rio Branco. Em ofício, cumprimentava-se o S. C. Caxias [não confundir com o S. E. R. Caxias] pelo seu surgimento, formulando votos de êxito e glórias. Por fim, o ofício endereçado à Cruz Vermelha local dizia textualmente: ‘A mocidade do Sport Club Juventude, cuja solicitação teve eco nos seus corações, promoverá no domingo próximo, no seu ground, uma festa esportiva no intuito de auxiliar a vossa nobre e caridosa tarefa, a qual encontrará nos componentes desta sociedade ampla solidariedade’. Sem favor, foi uma forma magnífica de encerrar o ano de 1917”.896

896

Gardelin, Mário. “Juventude: 65 Anos de Paixão e Glórias – XI”. Pioneiro, 22/02/1978

228

O primeiro campo adquirido pelo clube em 1919, chamado “Quinta dos Pinheiros”. Foto do Memorial do E. C. Juventude.

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Ele foi destacado também numa entrevista do Pioneiro em 13 de agosto de 1977, “O Pai de Ontem, de Hoje e de Sempre”, junto com três outros anciãos, Giacomo Rossi e Angelo de Carli, falando sobre o significado da paternidade, que reproduzo pelo que tem de tocante e de testemunho das eras passadas: Pioneiro: A palavra PAI lembra filho pequeno. Como o sr. recorda o seu pai? Honorino: Meu pai foi comerciante. Foi um santo homem. Cuidava de todos, evitando erros. Sempre nos dizia a verdade de tudo. P: Se o seu pai estivesse vivo, hoje, como gostaria que ele fosse? H: Da mesma forma como viveu conosco: honesto, trabalhador e honrado. Em dez irmãos, sempre tivemos do pai toda atenção. Os sete que ainda vivemos, jamais nos esqueceremos dele, das coisas boas que nos deixou. P: A vida de pai, hoje, é mais difícil do que naqueles tempos? Por quê? H: Ser pai hoje é muito mais difícil. Vivemos numa época de liberdade excessiva. Antes, os pais eram mais enérgicos. O filho e o rapaz de hoje deveria ter mais consciência daquilo que faz. Admiro moços bem apresentáveis, dispostos e corteses. Mas o pai de hoje sente uma tremenda dificuldade em encaminhar seu filho na sociedade. Admiro o bom pai de família que sabe aplicar a melhor educação para seu filho. Porque a vida de hoje é muito custosa. Os preços de tudo o que se compra aumentam sempre. E a família de poucos recursos não consegue resistir. P: A sua vida, como pai, como tem sido? H: Como pai, digo que não tive filhos. Casei tarde e minha esposa, anos após, faleceu. Antes dela falecer, adotamos uma filha, à qual dedicamos todo nosso amor por ela, como uma verdadeira filha nossa. Vivi com ela como se fosse a melhor coisa de minha vida. Incentivei-a para o estudo, onde mostrou ser muito inteligente. Gosto muito dela. Atualmente, vivo junto aos meus demais irmãos. Honorino foi um agente importante no processo de conservação do Mato Sartori, especialmente quando a área sofreu a ameaça de ser loteada. Sendo um dos seus herdeiros, declarou que preferia vê-lo conservado, tendo muitas memórias enraizadas neste lugar que foi para várias gerações de jovens caxienses um verdadeiro parque de diversões, mas nas décadas de 70 e 80 formou-se uma favela no entorno e várias frações foram invadidas por posseiros, que transformaram o Mato em depósito de lixo, além de cortarem muitas árvores para obtenção de lenha. Assim, a preservação da área estava muito complicada, mas felizmente o Poder Público interveio, como já foi mencionado, definindo-o como área de preservação permanente e implementando estruturas para sua proteção. Em 2003 o Arquivo Histórico Municipal publicou uma edição especial de seu boletim Mirante, onde a história do Mato Sartori é recontada.897 Continuando a seção sobre os filhos de Ludovico Sartori, temos:

897

Mirante. Cadernos do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, 2003 (3). Edição Especial “Mato Sartori”.

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Time do Juventude nos anos 20: na fila de trás Bortogarai, Nicolau e Bado, na fila do meio Gabriel Sartori, Vicente Luiz e Mengatto, na fila da frente Edemor, Pepito, Martinez, Zanella e Rio Grande.

c) Gabriel Angelo Sartori, nascido em 1898, estudou em Porto Alegre no Instituto de Agronomia e Veterinária, no curso para capatazes rurais,898 foi citado como comerciante em 1922,899 quando devia estar ajudando o pai, depois foi funcionário da Usina Elétrica em Caxias,900 membro do comitê para eleição de Américo Ribeiro Mendes ao cargo de prefeito, 901 muitas vezes membro do júri popular, contribuiu para a construção do Hospital Pompeia, 902 e foi como Honorino notado jogador do E. C. Juventude, sendo campeão regional e ganhando duas medalhas de ouro, uma delas oferecida pela ala feminina, participando também das Diretorias.903 904 Doou apreciável soma para a construção da sede social do Recreio da Juventude.905 d) Noemia Sartori, conhecida como Noemy, era muito culta e adorava viajar, e sobrevivem vários cartões-postais que enviou a seus familiares. Foi professora no Grupo Escolar Pulador, em Guaporé, e depois professora e diretora por 26 anos do Grupo Escolar Burgo, em Caxias,906 membro do distinto grupo cultural Éden Juventudista, 907 enfocado mais adiante, obteve o segundo lugar no concurso de rainha do Esporte Clube Juventude na comemoração dos vinte anos da agremiação,908 foi membro fundador da Academia Caxiense de Letras,909 professora de piano, excelente cantora, saudada em um soneto de Cyro de Lavra Pinto, e organizou um famoso conjunto feminino de jazz, chamado As Garotas do Jazz, que fez muito sucesso nos clubes e principalmente nas festas de Santa Teresa.910 911 898

“Instituto de Agronomia e Veterinaria”. A Federação, 24/04/1914 “Editaes”. O Brasil, 24/11/1922 900 “Edital”. O Momento, 08/02/1940 901 “Para as urnas”. O Momento, 07/09/1947 902 “Associação Damas de Caridade”. O Momento, 27/10/1941 903 “Esporte Clube Juventude”. O Momento, 22/02/1933 904 Michielin, op. cit. 905 “Recreio da Juventude”. O Popular, 06/12/1928 906 Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami. Fundo Sartori. Maço 07. MFN 016437. SAR 242. Requerimento. 907 “Eden Juventudista”. A Época, 15/01/1939 908 “Baile no Recreio da Juventude”. O Momento, 13/07/1933 909 “À exímia cantora caxiense srtª Noemy Sartori”. O Momento, 27/01/1945 910 Entrevista com Pasqualina Sartori e Rosalina Sartori, op. cit. 899

231

911

Brandalise, op. cit.

232

Coleção de Ludovico Beretta Sartori

e) Maria Sartori casou-se com João Saturnino Haag Filho, que foi vigilante da Exatoria de Taquara, onde se radicaram. Em 1958 estavam novamente vivendo em Caxias, onde João assumira um cargo no escritório da Exatoria Estadual.912 Uma Maria participou quando estudante da apresentação de um “drama patriótico”, A Bandeira Nacional, nas comemorações do Dia da Bandeira,913 participou de um concurso de beleza, sendo a terceira mais votada.914 No entanto, não foi possível definir se esta Maria é a filha de Ludovico, de Guerino ou de Alberto. f) Florencio Sartori, nascido em 24 de outubro de 1910 e falecido muito jovem, em 24 de julho de 1926, vitimado pelo tifo quando prestava o serviço militar.

912

“33 anos de casamento”. Diário de Notícias, 03/06/1958 “O dia da Bandeira”. O Brasil, 20/11/1920 914 “Concurso de beleza da Máscara”. O Brasil, 22/04/1922 913

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234

g) Rosalina Sartori, falecida em 14 de fevereiro de 1990 em Porto Alegre (?), e h) Pasqualina Sartori, nascida em 11 de novembro de 1893, tinham cultura e dotes musicais, tocavam instrumentos915 e foram cantoras do coro da Catedral.916 Pasqualina envolveu-se também em atividades sociais e beneficentes do Clube Juvenil,917 918 foi zeladora do Apostolado da Oração na Catedral e colaborava assiduamente em atividades beneficentes da Igreja, especialmente costurando para os pobres. Ficou solteira para cuidar dos irmãos e deixou um belo depoimento no banco de memória oral do Arquivo Municipal, onde deu muitas informações sobre a família de Ludovico.

915

Entrevista com Pasqualina Sartori e Rosalina Sartori, op. cit. “Grande festa”, Città di Caxias, 05/10/1914 917 “Collecta entre as admiradoras do Club Juvenil”. Cidade de Caxias, 02/03/1912 918 “Agradecimento”. Cidade de Caxias, 09/09/1911 916

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236

Os programas da Festa de Santa Teresa de 1914 e 1915 mostram muitos parentes envolvidos, entre eles Pasqualina e Rosalina Sartori.

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Já Rosalina foi casada com Carlos Bertoni, tendo os filhos Yara, Sérgio, Mário e Mônica. Mônica foi professora primária. Mário foi médico em Porto Alegre, diretor do Instituto Psiquiátrico Forense e membro da Comissão Científica da Associação Médica do Rio Grande do Sul, organizando congressos e seminários. 919 920 921 Sérgio Ludovico Bertoni, nascido em 3 de setembro de 1930, desenvolveu insigne carreira. Foi advogado, assessor técnico e político de governos e grande empresário. Um dos fundadores do balneário Magistério, sócio da CAPIA/RS - sociedade de economia mista - Incorporada pelo Instituto Brasileiro de Reforma Agrária (IBRA), da qual foi representante do Incorporador, sócio da CAPSE/RS - sociedade de economia mista, incorporada pelo IBRA, da qual foi representante do Incorporador IBRA, consultor Jurídico das Prefeituras de Triunfo e Mostardas, assessor Jurídico das Secretarias de Obras e de Segurança do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, da Delegacia Regional do IBRA/RS e do Centro Regional de Cadastro e Tributação do IBRA/RS, assessor técnico do Gabinete de Assessoria e Planejamento do Governo, chefe de Gabinete da Presidência da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, diretor-presidente do Serviço de Transporte de Carvão, empresa pública da União sob administração estadual, secretário da Prefeitura Municipal de Triunfo, chefe do Centro Regional de Cadastro e Tributação em Brasília, órgão Regional do IBRA,922 e diretor do Departamento de Cadastro e Tributação do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária.923

Rosalina Sartori Bertoni e sua prima Ida Sartori Paternoster Frantz

Depois retirou-se do serviço público e envolveu-se privadamente na colonização do Mato Grosso, onde foi um importante agente e fundou, com Norberto Schwantes, a empresa Colonização e Consultoria Agrária – Conagro S/C Ltda. Segundo Ana Caroline Mocelin “Valendo-se dos contatos mantidos no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e no Banco do Brasil, conseguido pelos projetos de colonização, além de uma boa imagem entre os vendedores e compradores de lotes advindos pelos bons resultados dos projetos, ambos investem na empresa na perspectiva de fazer bons negócios:

919

“Jornadas e Conferências Médicas”. Diário de Notícias, 06/10/1966 “Picoterapia analítica de grupo terá congresso aqui”. Diário de Notícias, 09/10/1968 921 “Presídio tem novo diretor”. Diário de Notícias, 11/11/1970 922 “Mensagem nº 440/68”. 13ª Sessão da 2ª Sessão Legislativa Extraordinária da 6.a Legislatura, em 12 de dezembro de 1968 (Extraordinária). In Anais do Senado, dez/1968. 923 “Ministério da Agricultura”. Diário Oficial da União, 15/10/1969 920

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‘‘Não era necessário capital para prosseguir a colonização, porque poderíamos continuar comprando terras para pagar seis meses depois e – nesse meio tempo poderíamos fazer o projeto, conseguir a aprovação do Incra, vender os lotes com financiamento pelo Crédito Fundiário e pagar o vendedor da gleba. Isso já vinha sendo feito sem problemas. Tanto vendedores como compradores confiavam em nós’. “Schwantes relata os motivos que tempos depois o fizeram se afastar da Conagro e do processo de implantação do cooperativismo, contudo em sua saída deixou como sócio de Bertoni seu irmão Édio Schwantes. [...] Oportuno citar essa passagem, pois a iniciativa de Schwantes e Bertoni pela Conagro permeia o processo de loteamentos de áreas de Nova Xavantina. O Projeto Xavantina tinha um área total de 22.068 hectares e assentou 75 famílias.924 Sergio Ludovico envolveu-se também com a Cooperativa de Colonização 31 de Março Ltda – Coopercol, para a qual serviu como advogado. Depois de fazer assentamentos às margens da Transamazônica, em Altamira e Itaituba, a Coopercol voltou-se para a área de transição amazônica – cerrado, acima do paralelo 16 e na margem esquerda do Rio Araguaia, região destinada a receber investimentos do Programa de Redistribuição de Terras e de Estímulo à Agricultura do Norte e Nordeste (PROTERRA). Segundo Olmeri Barcelos, Sergio Ludovico desempenhou um papel fundamental para o sucesso deste empreendimento de 40 mil hectares, chamado Canarana I – origem das cidades de Canarana, Água Boa, Querência e várias outras, que hoje estão entre as maiores produtoras de grãos do estado de Mato Grosso – e deu o estímulo decisivo para a realização de A primeira colheita de arroz em Água Boa. Foto de Elga Grohs, 1975 vinte outros projetos semelhantes na década de 1970, muitos deles empregando em sua maioria colonos gaúchos.925 Além disso, desde sua fundação fez parte da equipe da empresa Integração, Desenvolvimento e Colonização, mais conhecida como Colonizadora INDECO, formada em 1973 com um capital de 12 milhões de dólares em ativos, que realizou o projeto das glebas Alta Floresta, Paranaíta e Apiacás, com um total de 818 mil hectares. Claiton Lira Perins diz que o projeto foi organizado com uma sólida infraestrutura de apoio, com escolas, capelas, bancos, estradas e outras benfeitorias, e “privilegiava a exploração agroflorestal ou agropecuária de grande porte, isto é, privilegiando os grandes latifundiários, ficando 30% da área para o pequeno e médio agricultor”, também selecionando preferencialmente colonos do sul, considerados mais experientes e com mais recursos para aquisição de lotes.926

924

Mocelin, Ana Caroline. Diretrizes para o plano diretor de Nova Xavantina – MT: uma contribuição á gestão pública municipal. Dissertação de Mestrado. Faculdades ALFA, 2011 925 Nascimento, Alessandro Matos do. Barra do Garças, das Pedras aos Grãos: Uma História de Migrações e Ocupações (1960-1980). Dissertação de Mestrado. Pontifícia Universidade Católica de Goiás. 2010 926 Perins, Claiton Lira. Escola, Colonização e Formação da Identidade do Colono: história e memórias da Terra Prometida de Alta Floresta – MT (1976-1982). Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Mato Grosso, 2015

239

i) Bruno Ludovico Sartori, nascido em 9 de abril de 1913, deixou uma bela marca de sua breve existência, falecendo ainda jovem, em 8 de setembro de 1944, chamado na imprensa de “espírito empreendedor” e “figura simpática e entusiasta”.927 Foi jogador do Esporte Clube Juventude, chegando a fazer parte da Diretoria.928 Formou-se em Direito, ajudava os desfavorecidos e advogou para a Companhia Nacional de Seguros.929 Fez um discurso em nome da sociedade caxiense nas grandes festividades de recepção de dom José Barea, o primeiro bispo de Caxias,930 e discursou também no 3º Congresso de Viti-Vinicultura, evento associado à Festa da Uva de 1937.931 Foi membro da Comissão de Festas do Recreio da Juventude,932 participando da organização das solenidades conjuntas do Jubileu de Prata das duas agremiações em 1938,933 ano em que ocupou a Presidência do Recreio.934 Mudou-se para Nova Prata pouco depois, onde continuou ligado a atividades sociais e exercendo a advocacia. Nesta cidade foi um dos fundadores e vice-presidente da Liga de Defesa Nacional,935 936 e presidente do clube social e recreativo Grêmio Pratense.937

Bruno Sartori, foto do Recreio da Juventude.

Sua morte foi lamentada por Cyro de Lavra Pinto em um elogioso soneto. Foi casado com Ivone de Oliveira, tendo como filho Gilberto Mário, nascido em 25 de julho de 1940,938 advogado como o pai e membro da Associação Gaúcha de Fiscais da Previdência,939 casado com Ana Valderez, bibliotecária, coordenadora do Arquivo Público Municipal de Porto Alegre,940 falecida em 2016.

927

“Saudação”. O Momento, 24/10/1938 Michielin, op. cit. 929 “Pelo Foro”. O Momento, 12/12/1938 930 “A Cidade Recebeu com Imenso Júbilo o seu Primeiro Bispo, D. José Barea”. O Momento, 17/02/1936 931 “Está Elaborado o Brilhante Programa da Festa da Uva de 1937”. A Federação, 17/02/1937 932 “Recreio Juventude”. O Momento, 01/03/1937 933 “Jubileu de Prata do Recreio Juventude e S. C. Juventude”. O Momento, 30/05/1938 934 “Clubes Juvenil e Recreio da Juventude”. O Momento, 31/05/1938. 935 “Prata”. Diário de Notícias, 27/12/1940 936 “Liga de Defesa Nacional”. A Época, 26/01/1941 937 Grêmio Pratense. Ex-Presidentes. 938 “Participação de nascimento”. A Época, 04/08/1940 939 Associação Gaúcha de Fiscais da Previdência. Aniversariantes de julho/2012 940 “Más condições de arquivo ameaça documentos no Sul”. Jornal do Brasil, 18/04/1989 928

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241

j) Olinda Sartori foi casada com Alfredo Gomes Falcão, coletor federal de impostos, dirigente, conselheiro e festeiro do Tiro Nacional, conselheiro do Recreio da Juventude, diretor de um curso técnico no Sindicato dos Bancários, e secretário da Associação dos Comerciantes,941 942 943 944 falecido precocemente em 12 de agosto de 1940. Casal citado nas crônicas sociais, Olinda e Alfredo tiveram os filhos: j1) Mário Falcão, que desde jovem apareceu nas crônicas, 945 946 947 tornou-se médico “muito estimado” 948 e médico-chefe do Centro de Saúde de Caxias,949 casado com Alice Emília Bramatti e pai de Alfredo e Meri Alice. j2) Ceres Maria Falcão, professora, formada em 1945 e falecida em 2013 com 87 anos, foi casada com Arlindo Roberto Ferrari, cirurgião-dentista, fiscal sanitário designado para Pelotas,950 mas aparecendo novamente em Caxias dez anos depois como conselheiro e diretor de Jogos e Torneios do Caxias Xadrez Clube,951 e hoje é nome de rua. Tiveram o filho j2a) Roberto Falcão Ferrari, dentista em Caxias. É casado com Maria Cristina Balbinotti, advogada.

Alfredo Falcão e Olinda Sartori e suas filhas Ignez e Ceres.

941

“Tiro Nacional”. O Brazil, 07/09/1916 “Recreio da Juventude”. Città di Caxias 943 “Curso Rapido Comercial”. A Época, 06/10/1940 944 “A Construção do Palácio do Comércio”. A Época, 27/05/1951 945 “Aniversário”. O Momento, 04/12/1939 946 “Estudantes em férias”. O Momento, 03/02/1945 947 “Viajantes”. O Momento, 02/07/1949 948 Sartori, Werony. “Passarela”. Jornal de Caxias, 20/05/1978 949 “Centro de Saúde”. Diário de Notícias, 27/07/1959 950 “Arlindo Ferrari”. O Momento, 30/04/1939 951 “Caxias Xadrez Clube”. O Momento, 29/04/1950 942

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Roberto Ferrari e Maria Balbinotti tiveram três filhos: j2a1) Maurício Balbinotti Ferrari, graduado em Fisioterapia e mestre em Engenharia Biomédica, e recentemente formou-se advogado. j2a2) Fabrício Balbinotti Ferrari, advogado e membro da Defensoria Pública do Rio Grande do Sul,952 do Conselho Municipal da Habitação de Caxias,953 e da Procuradoria-Geral do Município.954 j2a3) Márcio Balbinotti Ferrari, médico especialista em Ortopedia e Traumatologia, vencedor do prêmio de pesquisa Jorge Paulo Lemann Mentored Scientific Award, oferecido pelo Steadmann Philippon Research Institute dos Estados Unidos,955 tem vários trabalhos publicados. j3) Ignez Falcão, “fino ornamento da nossa melhor sociedade”,956 casou em 31 de janeiro de 1941 com Serafim Alessandrini, advogado, “alto funcionário” do Banco da Província, um dos fundadores e Márcio Balbinotti Ferrari, foto de Márcio presidente do Sindicato dos Bancários, sócio da fábrica de joias Rosinato, Calcagnotto e Cia. Ltda., jornalista, um dos fundadores, redator e gerente do jornal A Época, de grande circulação, secretário do Clube Juvenil, e citado como tendo “múltiplos afazeres”.957 958 959 960 De Ignez e Serafim descende Olinda Maria Falcão Alessandrini, sua única filha, casada com Luiz Brandenburger, médico cardiologista. Olinda é professora, pesquisadora e pianista. Estudou na Universidade de Caxias do Sul com e aperfeiçoou-se no curso de Virtuosidade em Piano do Instituto de Artes da UFRGS, em Porto Alegre, sendo aluna de Milton de Lemos. Ali ganhou sua primeira Medalha de Ouro em um concurso.961 Desde então desenvolve ativíssima carreira, ganhando renome internacional e vários prêmios.962

952

“Defensor-geral nomeia mais sete aprovados no último concurso”. Associação dos Defensores Públicos do Estado do Rio Grande do Sul, 26/07/2016 953 “Prefeito empossa Conselho Municipal da Habitação gestão 2015/2017”. Prefeitura de Caxias do Sul, 27/04/2015 954 “Caxias do Sul: MP e Município apresentam resultados de parceria inédita”. Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul, 30/07/2013 955 Pulita, João. “Sociedade”. Pioneiro, 25/03/2017 956 “Consórcio”. A Época, 11/02/1942 957 “Nova Direção d’A Época”. A Época, 23/07/1939 958 “Clube Juvenil”. A Época, 25/12/1938 959 “2º Congresso Nacional de Bancários”. A Época, 27/07/1941 960 “Consórcio”. A Época, 11/02/1942 961 Alessandrini, Olinda. “Procurei seguir seus passos”. Blog Leo Scneider – Depoimentos, 02/02/2010 962 Welzin, Leonore. “Quando o diabo dança, sai fumaça do Bösendorfer”. Heilbronner Stimme, 16/01/2014

244

A Associação Pró-Música de Uberlândia assim a descreveu: “As atividades da pianista Olinda Alessandrini incluem apresentações ao vivo, gravações, programas de rádio, atividades pedagógicas, seminários de música e festivais, colaboração em jornais e na organização de concertos no sul do país. Seu repertório pianístico vai do barroco ao contemporâneo e sua dedicação especial à música brasileira, do passado e do presente, contribui significamente para a divulgação de nossos compositores e suas obras. É freqüentemente convidada como solista com orquestras, no Brasil e no exterior. A convite da Embaixada Brasileira apresentou concertos e palestras em La Paz e Cochabamba na Bolívia e palestras sobre Villa-Lobos na Alemanha e Noruega. A convite do Instituto Goethe, realizou extensa programação na Alemanha. Recebeu inúmeros prêmios, entre eles dois prêmios em concursos nacionais de Piano no Rio de Janeiro e na Bahia e por duas vezes o Prêmio Açorianos. Atuou como colaboradora especial do livro O Piano na Música Brasileira. Atualmente trabalha em uma pesquisa sobre a vida musical de Novo Olinda Alessandrini. Foto de Olinda. Hamburgo, desde sua colonização. Participa da organização da programação musical do Instituto Goethe em Porto Alegre, e, desde novembro de 2001 produz e apresenta o programa semanal Panorama da Música Brasileira na Rádio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul em Porto Alegre”.963 O website da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre dá mais informações sobre ela: “Tendo conquistado em 2005, pela terceira vez, o mais importante troféu do sul do país, o Prêmio Açorianos, como destaque especial em música erudita, já participou de diversos seminários de música e festivais, entre os quais o Musica em El Cabildo, em Montevideo; Festival Pianotune, na Bélgica; Festival de Poços de Caldas, em Minas Gerais; Klavierwoche, na Alemanha; Festival do Centenário Radamés Gnattali, no Rio de Janeiro; Festival Brasilianische Impressionen, em Berlim, além de várias edições da Semana do Piano, em Pelotas (RS), e dos festivais de Música de Montenegro (RS) e de Londrina (PR). Ainda possui CDs inteiramente dedicados a obras de Villa-Lobos, Radamés Gnattali e Araújo Vianna, além dos CDs Panorama Brasileiro, Valsas, PamPiano, Ébano e Marfim e Um piano na Esquina, com obras de diversos compositores. Participou ainda de outros álbuns, como pianista convidada”.964

963 964

Associação Pró-Música de Uberlândia. Olinda Alessandrini. OSPA. “7º Concerto Oficial da OSPA apresenta obras de compositores contemporâneos da América Latina”.

245

Seu CD com peças de Villa Lobos foi considerado pelo jornal O Globo um dos mais importantes lançamentos do ano de 1993.965 Já atuou com a Orquestra Sinfônica Jovem de Charlottenburg e outros grupos de grande reputação. Foi convidada pelo Quarteto de Cordas de Karlsruhe para uma tournée no Brasil, atuou por vários anos com os violinistas austríacos Lavard SkouLarsen e Luz Leskowitz, em Salzburgo foi convidada pelo Quarteto de Cordas Mirabel para várias apresentações na Áustria e Alemanha, com o violoncelista alemão Walter-Michael Vollhardt realizou recitais a convite do Consulado da Alemanha e participou de festivais como convidada do Quinteto Villa-Lobos. Fundou com Hella Frank e Inge Volkmann o Trio Elas por Elas, dedicado a executar obras de compositoras, foi fundadora do Trio Bruno Kiefer, e participou intensamente das atividades do Trio de Madeiras de Porto Alegre, com quem gravou um CD. Escreveu livros, capítulos de livros e artigos e suas atividades como pesquisadora da música brasileira e divulgadora de obras pouco conhecidas são constantemente elogiadas. Recebeu também o prêmio especial de Melhor Intérprete de Liszt na Bahia, em 2010 foi premiada com a distinção Líderes e Vencedores da FEDERASUL, como destaque na área cultural, e recebeu a medalha comemorativa do Ano Chopin do Consulado da Polônia em Porto Alegre.966 Sylvio Lago, em seu livro A Arte do Piano, a considerou artista “de técnica apurada e dotada de fina imaginação e bom gosto, [...] uma das mais atraentes pianistas do repertório nacional”.967

965

Lago, Sylvio. Arte do Piano. Algol, 2007 Instituto Villa Lobos / UNIRIO. “Redescobrindo Villa-Lobos na Sala Villa-Lobos IVL/UNIRIO”. 967 Lago, op. cit. 966

246

Foi aclamada no festival Semana do Piano de 2014 em Heidelberg, na Alemanha, sendo a primeira brasileira a participar, quando o crítico Klaus Ross falou: “A pianista Olinda Alessandrini é uma embaixadora mundialmente referenciada como representante da música do seu país – há muitos anos conhecida pela interpretação ideal e execução competente da literatura pianística brasileira”.968

968

Ross, Klaus. “Olinda Alessandrini mit feinem Raritätenprogramm im DAI”. Rhein-Neckar-Zeitung, 14/01/2014

247

8) João Attilio Sartori, o filho de Salvador nascido no Brasil em 19 de julho de 1879,969 mais conhecido como Attilio, foi membro da Banda Ítalo-Brasileira, sócio de uma olaria com Domingos Corso e seu sobrinho Honorino Sartori (o jornal O Momento cita “Leonorino”, mas é uma corruptela),970 teve terras em São Francisco de Paula,971 foi dono do “confortável” Cinema Ravengar (ex-Cine Pathè),972 e um dos sócios-fundadores da Fritz Bergmann & Cia., famosa empresa do entretenimento estabelecida com o expressivo capital de 50 contos de réis, 973 fundadora em 1921 do Theatro Apollo, depois reformado como Cine Teatro Ópera, a mais emblemática casa de espetáculos da cidade, como referiu Rodrigo Lopes. De saudosa memória, com um interior de madeira de excelente acústica e único na região, de importância reconhecida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o Cine Ópera foi demolido há poucas décadas depois de um “oportuno” incêndio que se suspeitou provocado, quando a sociedade estava em pleno debate para conseguir o seu tombamento.974 975 Considerando a falta de interesse e respeito pelo patrimônio histórico que tem caracterizado Caxias, não causa surpresa que em seu lugar tenha sido erguido um prédio-garagem para automóveis, certamente muito mais lucrativo. Além de Attilio, a firma proprietária do Theatro Apollo era composta pelo dito Fritz (Frederico) Bergmann, mais Saverio Postiglione, Pedro Fonini, Henrique Lorenzi e Rodolfo Braghirolli,976 977 mas quando o teatro foi reconstruído em 1928, depois de um primeiro incêndio, Attilio não aparece mais na sociedade.978 Pozenato & Giron escreveram longamente sobre o Theatro Apollo, sobre o qual “há muitas lembranças”. O local servia a apresentações dramáticas e líricas e também como cinema. Num tempo de cinema mudo, o Theatro contava com um grupo de câmara fixo, composto por Miloca Rosa ao piano, Waldomiro do Valle na flauta, mais Jayme do Valle, Silveira Filho, Zuardi Filho e Corso, sob a batuta do maestro Guido de Camino, de Porto Alegre, assessorado pelos maestros caxienses Saverio Postiglione e Miguelino Silveira, grupo que, segundo notas na imprensa, era o melhor da região, e que atuava também nas peças teatrais.979 Attilio Sartori 969

Gardelin & Costa, op. cit “Edital”. O Momento, 23/11/1936 971 “Declaração”. O Brazil, 14/09/1918 972 “Cinema Pathè”. Città di Caxias, 27/05/1918 973 “Junta Commercial”. A Federação, 09/09/1910 974 Lopes, Rodrigo. “Cine Ópera, um filme 20 anos depois”. Pioneiro, 03/07/2014 975 Lopes, Rodrigo. “Um abraço no Cine Ópera em 1991”. Pioneiro, 03/07/2014 976 Adami (1966), op. cit. 977 “Pelos theatros”. O Brasil, 01/01/1921 978 Pozenato & Giron (2007), op. cit. 979 Pozenato & Giron (2007), op. cit. 970

248

249

O Teatro Apollo em construção. Foto em Pozenato & Giron.

250

251

Cena da opereta Don Pasticcio no Theatro Apollo, 1925. Foto AHM

Em 1922, nas comemorações do centenário da Independência do Brasil, foi levada à cena a opereta Don Pasticcio, com orquestra regida por João Bragagnolo, que era também o líder da Banda Independente.980 A seguir reproduzo o que disse Adami sobre uma récita no Apollo em 1925, comemorativa dos 50 anos da imigração: “Por ocasião das festividades realizadas em comemoração à grande data de colonização, foram cantados hinos e trechos de óperas italianas. Quer a parte coral, quer a parte da orquestra, foram magistralmente ensaiadas e dirigidas pelo insigne violinista Guido da Camino. Principalmente, pela manhã foi realizada uma missa campal, no Parque Cinquentenário. Foi executada uma missa com grande orquestra e coro, em que tomaram parte os principais músicos e cantores caxienses. Em grande representação foi encenada a opereta Geisha, de Sidney Jones, pelo professor maestro Saverio Postiglione, o qual dirigiu à altura, sendo calorosamente ovacionado. A orquestra e o coro portaram-se na mais completa harmonia, tanto aquela na sua execução, em dar todos os coloridos e obedecendo atentamente todos os andamentos, como estes na entoação e no volume de voz. “O Theatro Apollo estava feericamente iluminado e a plateia totalmente lotada. Em dado momento aparece o maestro regente, Saverio, com sua batuta, ocasião em que uma grande salva de palmas ecoou pelo vasto e suntuoso salão do teatro, que avisou à plateia, que já se mostrava inquieta pela demora, que dentro de poucos instantes teria início a apresentação da peça anunciada. Foi uma das mais brilhantes noitadas de arte de que se tinha notícia até aquela memorável comemoração havidas neste ex-Campo dos Bugres. Os componentes que tomaram parte na representação da opereta em tela, na maioria eram de amadores e todos de Caxias do Sul. Na parte coral

980

Pozenato & Giron (2007), op. cit.

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salientaram-se muito Icilio de Pauli, Guido d’Andrea, Silvio dal Zotto, Clodoveu Castagna, o tenor Navezini e outros mais. Ettore Montagutti tomou parte na apresentação da opereta cômica Don Pasticcio. Na parte coral, tomaram parte diversas senhoras daqui. Destacou-se o sr. Segalla na voz de baixo. Na apresentação desta opereta, atuou como regente o maestro João Bragagnolo, tendo sido também um verdadeiro sucesso, pois dirigiu magistralmente”.981 Pozenato & Giron registraram um interessante depoimento de minha tia-avó Sylvia Gedoz Artico sobre as sessões de cinema no Apollo, que reproduzo a seguir.

981

Adami (1966), op. cit.

253

Porém, em 28 de maio de 1927 ocorreu o incêndio que destruiu o teatro inteiramente, espalhando-se pela vizinhança e consumindo outras casas, sinistro que deu um prejuízo total de 705 contos de réis, verdadeira fortuna. O teatro tinha seguro e pôde ser rapidamente reconstruído. Mas deste momento em diante Attilio Sartori não é mais mencionado em relação a esta casa de espetáculos. A reconstrução foi em alvenaria, e a estrutura passou depois por uma grande reforma nos anos 50, sucumbindo novamente e em definitivo no incêndio de 1994. Depois de sair da sociedade do teatro, Attilio mudou-se para o estado de São Paulo levando um bom capital, tornando-se político e fazendeiro de café em Bauru. Foi citado em 1929 num abaixo assinado de produtores que declaravam solidariedade ao governo de Júlio Prestes. 982 Em 1935 ele aparece como vice-presidente do Sub-Diretório do Partido Republicano Paulista no distrito de Tibiriçá, em Bauru,983 permanecendo ativo até 1937. 984 Hoje Attilio Sartori é nome de uma rua. Sua descendência tem incertezas e não se sabe ao certo sequer se casou. Ludovico Beretta Sartori assegurou que ele permaneceu solteiro, mas outros familiares citam uma Pierina como esposa, da qual não encontrei sinal algum. Teve uma filha, Nedda, registrada em Porto Alegre em 26 de março de 1906, de mãe ignorada, da qual só encontrei a participação de nascimento, que não menciona a mãe.985 Parece ter gerado também Aracy, nome que pode ser atribuído a homem ou mulher, e em São Paulo gerou Attilio Sartori Filho, advogado, sócio, secretário e contador da empresa Tecelagem Helvetica S/A,986 987 988 e sócio e secretário da Elite do Brasil S/A - Discos e Instrumentos Musicais.989 990 Várias atas que lavrou para essas empresas em sua condição de secretário foram publicadas pelo Jornal de Notícias. Ele é atestado até 1973 ligado à Tecelagem Helvetica.991 Foi pai de Attilio Sartori Neto, que trabalhou com café, tendo uma empresa com seu nome em Jaú. 9) Luigi Angelo, de todos os filhos de Salvador Sartori, é o de vida mais obscura. Nasceu em 6 de junho de 1862 e teria casado com Emma Araldi em 14 de outubro de 1889. Pouco depois foi enviado para o sanatório São Pedro em Porto Alegre, pensava-se que estivesse enlouquecendo, mas foi liberado em 12 de fevereiro de 1891 por não terem sido encontrados sinais de doença mental. Um Luiz fazendo em Porto Alegre uma demanda ao Governo do Estado em 1907 poderia ser ele, mas a notícia não indica de que cidade provinha. Nada mais se sabe dele. Os Araldi, família de sua esposa, são raros na cidade, mas foram assinalados alguns agricultores, como Eneas, Aristides e Ernesto; José, sub-intendente e distinto membro da Societade Umberto II da 10ª Légua,992 e seu filho Casemiro, industrial.993

982

“O café, a lavoura legítima, a que, de facto, trabalha e produz, é inteiramente solidaria com o governo”. Correio Paulistano, 05/09/1929 983 “Partido Republicano Paulista”. Correio Paulistano, 29/12/1935 984 “Bauru”. Correio Paulistano, 30/06/1935 985 “Registro civil”. A Federação, 26/03/1906 986 “Editais”. Jornal de Noticias, 05/08/1948 987 “Tecelagem Helvetica S.A.” Jornal de Notícias, 11/02/1949 988 “Editais”. Jornal de Noticias, 23/04/1949 989 “Editais”. Jornal de Noticias, 08/09/1948 990 “Elite do Brasil S.A. - Discos e Instrumentos Musicais”. Jornal de Noticias, 20/04/1949 991 “Ineditoriais”. Diário Oficial do Estado de São Paulo, 27/03/1973 992 “Corrispondenza”. Città di Caxias, 28/04/1913 993 “Edital”. O Brasil, 16/09/1922

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10) Massimo Sartori, chamado Máximo no Brasil, nasceu em Cornuda em 19 de novembro de 1871 e faleceu em Caxias em 15 de julho de 1933. Foi casado com Pasqua da Re ou dal Re, mais conhecida como Pasquina ou Pasqualina, nascida em Ceneda, Treviso, em 29 de maio de 1877. O sobrenome desta família acabou se fixando como Daré. Máximo e Pasquina não tiveram filhos naturais, e criaram sua sobrinha Ida, minha avó, filha de João Paternoster e Maria Sartori, “com mimos de filha única”, como lembrou Costamilan. Por isso, e também pelo prestígio muito maior dos Sartori, Ida acabou sendo conhecida como Ida Sartori, mesmo sendo uma Paternoster pela parte do pai. Ela será abordada mais adiante. De Máximo pouco se sabe. Foi comerciante, desde 1903 é atestado como dono de um açougue,994 certamente herdado de Salvador, e em 1908 seu irmão Guerino é incorporado como sócio. O açougue funcionou pelo menos até 1926.995 Sua foto na página seguinte sugere um caráter forte, mas a tradição oral sobre ele se perdeu. Mesmo assim, atesta-se que foi assíduo jurado em julgamentos, membro da Banda Ítalo-Brasileira, do Tiro de Guerra996 e da Sociedade Príncipe de Nápoles.997 Esteve também envolvido com a política, integrando o Diretório do Partido Republicano,998 e um documento encontrado no Arquivo Histórico Municipal sugere que foi vice-intendente,999 mas esta informação ainda não pôde ser confirmada e parece pouco provável. Por outro lado, é citado numerosas vezes em agradecimentos fúnebres, o que indica ter possuído um largo círculo de amizades.

Máximo Sartori na Banda Ítalo-Brasileira

Pasquina sobreviveu a ele quase exatamente vinte anos, até falecer em 12 de junho de 1953, tendo levado uma vida discreta ajudando o marido no açougue e, depois de viúva, dedicando-se totalmente à família. Meu pai lembrou seus dotes culinários e sua devoção religiosa, e disse que Pasquina previu com exatidão o dia de sua morte. Algumas notas na imprensa mostram uma Pasqualina envolvida em atividades beneficentes e festas comunitárias, mas provavelmente se referem à filha de Ludovico e não à esposa de Máximo. Sua única citação inequívoca trata de uma doação que fez em 1920 ao Hospital Pompeia.1000

994

Municipio de Caxias. Livro de Registro de Impostos sobre Indústrias e Profissões, 1903 “Caxias”. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1908-1926 996 “Tiro de Guerra nº248”. O Brazil, 18/03/1922 997 Adami (1971), op. cit. 998 “Os republicanos e A Federação”. A Federação, 08/03/1905 999 Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami. Fundo Delfino Prezzi, PRE 033, maço 01 1000 “Hospital de Caridade”. O Brasil, 23/10/1920 995

255

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Máximo Sartori

Máximo Sartori e Pasquina da Re Sartori

257

A primeira sede do Hotel Menegotto, à direita, foto de Domingos Mancuso.

Pasquina era filha de Luigi da Re e Ana Braido. Sua família chegou em 17 de novembro de 1879 e se estabeleceu no lote 111 do Travessão Pedro Américo da 8ª Légua. 1001 Além de Pasquina, o casal teve os filhos: a) Teresa, casada com Alberto Menegotto, um dos organizadores da IV Festa da Uva1002 e proprietário de famoso hotel que levava seu sobrenome, localizado na Praça Dante. Funcionou primeiro no prédio da antiga Intendência, e depois foi transferido para o outro lado da praça, onde antes existiu a cantina de Ambrosio Bonalume. Foi em sua época o maior da cidade, com quarenta quartos, todos com água encanada, instalações sanitárias e banhos frios e quentes,1003 além de oferecer grandes banquetes.1004 Em 1941 Alberto abriu uma estância de veraneio no distrito de Vila Seca, localizada “em ponto verdadeiramente pitoresco”, dispondo de “um ambiente de conforto absoluto”.1005 No entanto, em 1944 o prédio do primeiro hotel foi requisitado de volta pela Municipalidade e demolido,1006 e o casal se mudou para Porto Alegre, onde Alberto abriu o Bar Pindorama.1007 O segundo hotel, ainda maior que o anterior, já estava outra vez em atividade no início de 1946 e funcionou até os anos 80, e ali muitas vezes eu e minha família almoçamos. Não pude descobrir como se deu a mudança e reabertura do hotel nem quem se responsabilizou por ela. Como o nome do estabelecimento não foi alterado, talvez tenha sido o próprio Alberto, mas logo após a reabertura ele é listado entre os hóspedes, vindo de Porto Alegre, e não se faz menção a ele ser proprietário. Nos anos 60 o estabelecimento foi arrendado por Ricardo Martini, sendo fechado e demolido em 1982.1008 Alberto faleceu em 30 de setembro de 1977 e Teresa em 4 de janeiro de 1988, sendo sepultados no Cemitério de São Miguel e Almas em Porto Alegre. Foram pais de Tulio Luiz e Milton Menegotto.

1001

Gardelin & Costa 2ª ed., op. cit. “Vai ser realizada a 4º Festa Regional da Uva”. A Federação, 15/01/1934 1003 Langaro, Cristiane Cauduro. O Rosto da Lei: quotidiano e relações inter-pessoais segundo a documentação judiciária. Caxias do Sul. 1930-1945. Dissertação de Mestrado. Universidade de Passo Fundo, 2005 1004 “Banquete”. O Momento, 05/10/1936 1005 “Veraneio Menegotto”. O Momento, 01/12/1941 1006 “Surpresas administrativas”. O Momento, 19/02/1944 1007 “Viajantes”. O Momento, 09/02/1946 1008 Lopes, Rodrigo. “Majestosos prédios na Praça Dante Alighieri”. Pioneiro, 26/10/2015 1002

258

a1) Tulio foi padrinho de meu pai, trabalhou em Porto Alegre como químico legista do Instituto Médico Legal,1009 e foi chefe da Equipe de Repressão ao Dopping da Federação RioGrandense de Futebol.1010 Faleceu em 23 de setembro de 1993. a2) Milton, nascido em 1926 e falecido em data ignorada (depois de 2004), formou-se Bacharel e Licenciado em História Natural, com pós-graduação em Microbiologia Médica. Tornou-se professor emérito da PUCRS, 1011 onde lecionou como titular da cadeira de Biologia Celular, foi por três vezes diretor do Instituto de Biociências, idealizador do seu curso de especialização em Toxicologia Aplicada, o primeiro da América Latina, membro do primeiro Conselho Editorial da editora da universidade, onde permaneceu por muitos anos,1012 nomeado pelo Governo do Rio Grande do Sul para representar estado nos debates sobre a harmonização dos problemas transfronteiriços no CODESULMERCOSUL-ECOSUL 1991-1994,1013 suplente do Conselho Nacional do Meio Ambiente,1014 e autor de vários livros. Casado com Virginia Gama, teve os filhos Renato Gilberto e Beatriz. a2a) Renato é graduado em Arquitetura e Engenharia Civil, especializado em Expressão Gráfica, mas desenvolveu seu mestrado e doutorado em História, sendo Professor Titular Teresa da Re Menegotto e seus filhos Milton e Tulio da PUCRS na Escola Politécnica e na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), a qual coordenou.1015 É ouvidor da FAU e membro do seu Núcleo Docente Estruturante, da Comissão Científica, do Núcleo de Projetos Especiais, da Comissão de Estudos para Criação do Programa de PósGraduação, do Conselho Editorial da Revista da Graduação e vários outros corpos colegiados de alto nível, professor homenageado por várias turmas e recipiente da Medalha Irmão Afonso, foi membro da comissão de elaboração e implantação do Projeto Pedagógico da FAU e das respectivas atualizações curriculares, e desenvolve pesquisas sobre a arquitetura italiana em Porto Alegre no final do século XIX e nas primeiras décadas do XX, assim como sobre o tema da habitação social na fase inicial da arquitetura moderna no Brasil, com grande bibliografia publicada.1016 1017 a2b) Beatriz faleceu precocemente em 22 de janeiro de 2015. Era médica especializada em Genética Clínica, por mais de vinte anos professora na PUCRS.1018

1009

“Estranha morte ocorreu em Belém Novo”. Jornal do Dia, 19/02/1957 “Dopping: FRGF ainda nada comunicou à CBD”. Jornal do Dia, 24/09/1964 1011 Clemente, Elvo. Quando a Crônica Floresce. EDIPUCRS, 2004 1012 Clemente, Elvo. História da PUCRS, volume III. EDIPUCRS, 1999 1013 “Milton Menegotto”. WS Editor. 1014 Ministério do Meio Ambiente e da Amazônia Legal. Portaria nº 102 de 3 de dezembro de 1993 1015 Currículo Simplificado Renato Gilberto Gama Menegotto. PUCRS 1016 Renato Menegotto. Linkedin. 1017 Renato Gilberto Gama Menegotto. Plataforma Lattes. 1018 “Obituário: Beatriz Gama Menegotto”. Zero Hora, 09/02/2015 1010

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Outra irmã de Pasquina foi b) Luiza, casada com Leão Iotti (Yotti), mãe de b1) Cora Maria, que segundo a Câmara de Caxias, que atribuiu seu nome a uma rua, foi “mulher à frente de seu tempo, durante décadas foi proprietária de um dos primeiros laboratórios de produtos químicos para alimentos e bebidas em Caxias. [...] Uma pessoa muito boa e acolheu sempre muita gente em sua casa. [...] Cora com fibra e coragem, superou muitos obstáculos durante a vida. Ficou viúva aos 28 anos, criou três filhos (Luiz Felipe, Lyon e Erny) e foi sempre a figura central da família”.1019 O marido de Cora foi Henrique Kunz. Por muitos anos teve o hábito de projetar filmes ao ar livre na parede de um prédio em frente à sua casa, reunindo grande público. Foi industrial do ramo de bebidas com a Destilaria Marumby, empresa que se tornou de grande porte entre os anos 50 e 60, quando era gerenciada por sua descendência. A empresa foi estudada por Véra Lucia Maciel Barroso, que traz interessantes informações:

Pasquina da Re Sartori, o menino Mansueto de Castro Serafini Filho, e Luiza da Re Iotti. Abaixo, Cora Maria Iotti.

“A Destilaria Marumby se apresentava como uma organização 100% gaúcha. Sediada em Caxias do Sul, foi fundada em 1938. Contava, em 1965, com uma centena de funcionários para a fabricação de Whiski, Gin, Fernet, Vermute, Marumby Ouro, Marumby Prata, Kuns Bitter e Caninhas Marumby. A produção diária de 30 mil engarrafamentos era comercializada nos estados brasileiros, adquirindo grande popularidade na década de 1960. “Seus diretores, Gustavo Giesen e Luiz Felippe Kunz Neto (neto de Felipe Kunz, precursor da organização), ampliaram o parque industrial fundando, em 1964, uma unidade em área de 31,5 hectares, adquirida em Santo Antônio da Patrulha. Seus proprietários, nas lembranças do Seu Osny, chamavam-se Luiz Felippe Kunz, Lyon Kunz, Erny Kunz e a mãe deles, a Dona Cora, mais a D. Giselda. [...] Quem respondia pela indústria em Santo Antônio da Patrulha era Lyon Kunz. Ele morou com a família na rua principal da Cidade Alta, ao lado do Clube Patrulhense.

1019

Câmara Municipal de Caxias do Sul. PL-88/2013

260

Maquinário da Destilaria Marumby. Coleção de Osny Bitello.

“A empresa foi instalada na área do parque de Hans André, com uma destilaria e engarrafamento de caninha e rum. A partir de 1965, funcionou um engenho para fabricação de melado, com produção de 10 toneladas diárias. Em 1969, a produção de aguardente alcançou aproximadamente 20.000 litros. Era considerada a maior produtora, no ramo, do Rio Grande do Sul. Moía na base de 240 toneladas diárias de cana-de-açúcar. A empresa dinamizou bastante a vida de Santo Antônio da Patrulha. “Os armazéns e as lojas passaram a ter intenso movimento. Havia dinheiro circulando na cidade”. Barroso continua: “A Marumby automatizou os processos de industrialização, a fim de garantir a suficiência do mercado, em decorrência da ampla aceitação dos seus produtos. Em 1969 foi obtido o financiamento de NCr$ 150.000,00, através do Banco do Estado do Rio Grande do Sul. Tinha como objetivo expandir o plantio da cana e ampliar a indústria. Mas a concorrência de com a AGASA era um empecilho ao intento. Era visível uma aguerrida disputa entre as duas pela cana, diante dos sinais evidentes de sua escassez na região”. 1020 Surgiu uma série de problemas, a Marumby se endividou e acabou fechando.

1020

Barroso, Véra Lucia Maciel. Moendas Caladas: Açúcar Gaúcho S. A. – AGASA: um projeto popular silenciado: Santo Antônio da Patrulha e Litoral Norte do Rio Grande do Sul (1957-1990). Vol. I. Tese de Doutorado. PUCRS, 2006

261

Depois do fechamento da empresa familiar, Luiz Felipe, que era formado em Contabilidade, trabalhou na Caixa Econômica Federal; depois de aposentado passou a se dedicar a uma paixão da juverntude, a música, sendo hoje professor de piano em Porto Alegre; casou e teve quatro filhos.1021 Um deles, que tem o nome do pai, tornou-se diretor de Licenciamento e Qualidade Ambiental do Ibama,1022 e o neto, com o mesmo nome do avô, continua no ramo de bebidas. Lyon Carlos empregou-se na grande indústria de bebidas Dreher em Bento Gonçalves e teve um filho que leva o seu nome, formado em Sistemas de Informação na UCS, membro do Movimento Pró-Escotismo de Bento Gonçalves e diretor técnico do Grupo Escoteiro Ciretama.1023 Erny Alfredo tornouse sócio-gerente da Engarrafadora Ibicuí Ltda.1024 Luiza da Re Iotti também foi mãe de Luiz Felipe Kunz tocando no piano histórico de Anelise Kunrath no Casarão e Museu Friedrich em Novo Hamburgo. Foto do Museu. b2) Welma, casada com Walfredo Azevedo, caixeiro-viajante, e b3) Silvestre Iotti, nome de rua, casado com Zoé Maria Horn, conhecida professora, diretora do Departamento Municipal de Arte e Cultura e nome de rua. Silvestre e Zoé foram pais de b3a) Leon, médico; b3b) Eduardo; b3c) Carlos Henrique, cartunista, criador do famoso personagem cômico Radicci, uma caricatura do colono grosso, preguiçoso, beberrão, machista e com todas as características da tradição italiana desvirtuadas, pelo que ganhou o HQ Mix, prestigiado prêmio de quadrinhos brasileiro, e b3d) Luiza, professora e diretora de vários colégios, pesquisadora do Museu Municipal e do Arquivo Histórico, coordenadora da Casa da Cultura, professora da UCS, diretora do Instituto Memória Histórica e Cultural da universidade, editora da conceituada revista Métis e renomada historiadora, tendo publicado livros e artigos.1025 1026 Outros irmãos de Pasquina foram c) Francesca, da qual nada foi encontrado, e d) Augusto, agricultor, que faleceu solteiro em 1937 com 57 anos.1027

1021

“O dom repassado através da partitura”. Editorial J, 20/08/2012 Parente, Lucas. “Ibama prioriza avaliação cuidadosa do impacto ambiental da construção de usinas hidrelétricas”. Agência Brasil, 02/07/2005 1023 “Grupo Escoteiro Videira será criado”. Semanário, 14/05/2013 1024 “Execução Fiscal”. Diário de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, 03/042009 1025 “Lado B - Luiza Horn Iotti”. Revista Acontece Sul, 05/08/2015 1026 Câmara Municipal de Caxias do Sul. PL-49/2009 1027 “Registro Civil”. O Momento, 18/08/1937 1022

262

Silvestre Iotti. Ao lado, sua filha Luiza Horn Iotti, foto da Revista Acontece Sul. Abaixo, uma tira do Radicci, de Carlos Henrique Iotti.

263

Outros Sartori fizeram nome na cidade, embora eu não tenha conseguido descobrir de quem eram filhos. Como foi dito no início, chegaram vários grupos, e não se sabe se todos eram consanguíneos. Alguns dos que são citados a seguir podem descender dos que se fixaram na 6ª e na 11ª Léguas, que segundo as evidências são parentes de Salvador, mas vieram mais de vários locais do Vêneto, e outro grupo, segundo Tessari, era de origem franco-suíça.1028 Mas dada a impossibilidade de distinguir as origens desses descendentes, fica o registro de todos: Angelo, que chegou na época de Salvador, e provavelmente é seu sobrinho, nascido antes de 1856, em 1909 mandou condolências à família do finado Florêncio dal Prá;1029 em 1911 apareceu numa lista de contribuintes com impostos em atraso;1030 em 1916 foi excluído do registro eleitoral por ter-se mudado para fora do 1º Distrito (a Sede Dante);1031 em 1921 fez uma petição ao governo relacionada a terras, mas não há detalhes,1032 e depois não há mais traços dele. Em 1936 Gelsemino, seu filho, pede em juízo que o declarem ausente para fins de sucessão, por ter saído da vila há 26 (sic) anos e nunca mais voltado, 1033 pleito atendido no mesmo ano. Teve pelo menos outro filho, Fioravante Antonio, agricultor que se fixou no Travessão Gablontz, Colônia 65, no 4º Distrito. Domenica muito provavelmente era uma neta de Salvador, de pai não identificado. Foi uma das fundadoras das Damas de Caridade. Henrique foi industrial e presidente da Cooperativa Viti-Vinícola Trentina;1034 Augusto foi membro do diretório do Partido Social Democrático1035 e conhecido médico do Hospital del Mese, e José abriu um hotel em Ana Rech, tendo o filho Rodolfo. Em 1940 aparece o primeiro Sartori citado na classe operária, Pedro, escolhido para fazer um discurso nas festas do Dia do Trabalho,1036 mas nada mais pude descobrir sobre ele. O sobrenome Sartori continua a florescer na cidade, com muitos profissionais respeitados e vários negócios pertencendo a seus membros. Há uma grande quantidade de Sartoris residentes em Porto Alegre no começo do século XX, mas salvo os descendentes de Alberto que lá ficaram, suas relações com os caxienses são desconhecidas.

1028

Tessari, João Antônio. Memórias. Caxias do Sul. E.A., 1994 “Agradecimento e Missa”. Correio do Município, 15/07/1909 1030 “Intendencia Municipal”. O Brazil, 23/01/1911 1031 “Edital”. O Brazil, 16/11/1916 1032 “Archivo Publico”. A Federação, 10/06/1921 1033 “Edital”. O Momento, 06/04/1936 1034 “Caxias, 9”. A Federação, 21/11/1933 1035 “Reestruturado o Diretório Municipal do Partido S. Democrático”. A Época, 30/08/1951 1036 “O Dia do Trabalho em Caxias”. A Época, 12/05/1940 1029

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Euclemente Ferruccio Sartorio, coleção de Leonardo Sartorio Rigo.

Outro grupo que merece nota foi o fundado por Francesco “Bianco” Sartori, que nasceu em Vicenza e em 1878, quando tinha 41 anos, emigrou para o Espírito Santo a bordo do navio Clementina, fixando-se em Monte Belo, onde se dedicou à agricultura. Foi casado com Luigia Taurina, e teve os filhos Cesar Germano (Giacomo?), nascido em 1876, casado com Silvia Paula, falecido em 05/10/1917; Pedro (Pietro?) Bianco, casado com Catarina Ferri; Maria (Mariquinha) nascida em 1869, casada com Angelo Ferri, e Romano, nascido em 1871 e falecido em 20/03/1911. Euclemente Ferruccio, outro filho, nasceu a bordo do navio em março de 1878, e casou em 20/05/1899 com Elvira Ervatti. Já idoso, transferiu-se de Monte Belo para a localidade de Santa Rosa, interior de Cachoeiro de Itapemirim, depois para Cachoeiro, onde faleceu em 1948. Os traços fisionômicos de Euclemente guardam uma nítida semelhança com os de Salvador no período em que ele foi membro da Junta, de maneira que o parentesco entre os ramos é garantido. No Brasil nasceram duas outras filhas de Francesco: Julia e Josefa, casadas com os irmãos Marcelino e José Bazoni, vindo a se transferir para Soturno, distrito de Cachoeiro de Itapemirim. Hoje os descendentes de Francesco Bianco são uma família enorme com grande tradição regional, tendo adotado a forma Sartorio para seu sobrenome. Euclemente teve os filhos Alfredo, Alberto, Alzira Sartorio Missagia, Pedro Sobrinho, Francisco, Alcides, Afonso, Amelia Sartorio Missagia (Clementina), José (Zeca), Luiza Sartorio Caprini (Salim), Anselmo (Tito), Anterio, Rosalinda Sartorio Rigo (Linda) e Eurico (Luca).

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Afonso Sartorio, nascido em Monte Belo em 1908, casou-se com Ida Volpato em 1932, tendo os filhos Carlos, Regina, Vera, José Rogério, Eduardo, Edson, Eda e Ivan. Viveu sucessivamente em Duas Barras, Iconha; em Cobiça, interior de Cachoeiro; em Salgadinho de Baixo, no distrito de Soturno, Cachoeiro, e finalmente na sede de Cachoeiro, onde fixou-se em 1944, falecendo em 1990 no distrito de Itaipava, na cidade vizinha de Itapemirim. Diz Leonardo Sartorio Rigo que Afonso foi o único que teve uma melhor educação formal, tendo estudado no Colégio Pedro II no Rio de Janeiro, levado ainda novo por um casal que se afeiçoou a ele. Quando retornou, teve uma pequena escola em Monte Belo, onde primos e irmãos foram alfabetizados. “Ele foi um visionário, de espírito aventureiro, empreendedor, avançado para a época”. Aos poucos, ele e seus irmãos foram deixando Monte Belo, até que Euclemente, já mais idoso e sozinho, foi se juntar à família. Depois de algumas mudanças pela região, vários se Afonso Sartorio. Coleção de Leonardo Sartorio Rigo. estabeleceram no bairro Coronel Borges de Cachoeiro de Itapemirim. De lá, Luca mudou-se para Duque de Caxias/RJ e Anselmo e Clementina mudaram-se para o Rio de Janeiro. Alzira Sartorio Missagia talvez tenha sido a única que não residiu no bairro, tornando-se a matriarca da família Sartorio Missagia em Iconha/ES. Como eram muitos os irmãos, e como tiveram muitos filhos, com o passar dos anos o bairro veio a ter quase uma centena de Sartorios. Ficaram conhecidos pelo seu trabalho incansável e pela força dos laços familiares, criando um pequeno “feudo” na região e tornando-se uma das famílias mais influentes do lugar. Leonardo continua: “Fui beneficiado por isso por muitos anos, primeiro com uma infância livre, feliz e segura, e depois a frase ‘esse aí é da gente dos Sartorio’ me serviu como uma espécie de salvo-conduto que me acompanhou e que me protegeu por um bom tempo, tal o respeito que o nome impunha. Essa época dourada durou até o final da década de 70 e meados dos anos 80. Quando os irmãos começaram a falecer, os mais novos foram se dispersando, saindo do bairro, por causa da ausência dos primeiros, de estudo dos filhos, novas oportunidades de trabalho, por ascensão social, etc. Foram principalmente para o norte do Estado, para Vitória, para o Rio de Janeiro. No bairro hoje, em 2016, devem restar umas dez famílias descendentes de Afonso, Zeca, Salim, Francisco e Alfredo”. Vários dos irmãos foram homenageados, com seus nomes batizando escolas, ruas, condomínios, etc. A família também teve membros no distrito de Safra, em Itapemirim, onde muitos se estabeleceram empresarialmente, e no distrito de Itaipava, em Itapemirim, no litoral, para onde Afonso e diversos irmãos se mudaram depois de certa idade, vindo a falecer lá.

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Ivan, Eduardo, Eda, Vera, Regina, José Rogério, Edson e Carlos. Coleção de Leonardo Sartorio Rigo.

Regina Martha Sartorio, nascida em 1937 na Estação da Cobiça, interior de Cachoeiro, casou-se com José Aride Rigo em 1956. José é filho de Rosalinda Sartorio, irmã de Afonso, portanto são primos. Tiveram os filhos Maria, Angelo, José Eduardo, Daniel, Gino, Leonardo e Bruno. Leonardo Sartorio Rigo é advogado e professor e contribuiu para este estudo disponibilizando importantes documentos relativos aos Sartori italianos e dando informações e fotos sobre sua família, a quem agradeço. 11) Maria Sartori, outra filha de Salvador, minha bisavó, também deixou sua marca. Nascida na Itália em 6 de dezembro de 1861, foi casada em primeiras núpcias com o barão de origem alemã João Daniel von Schlabendorff. Isso seria o bastante para alguém fazer nome na colônia, se a família já não fosse conhecida pelos seus outros membros. A família Schlabendorff é atestada desde 1234 com a elevação de Johann ao baronato, e, segundo o historiador Mário Gardelin, depois deu ramos principescos e comitais.1037 Rietstap cita barões do Sacro Império, radicados em Brandenburgo desde o século XVI, e condes na Prússia a partir do século XVIII. 1038 O nome aparece grafado de várias maneiras, como Schlabrendorff, Schlaberndorf, Schlapendorff e outras, mas ao que tudo indica a forma primitiva é Schlabendorff, pois a origem do nome é a aldeia de Schlaben, na Alemanha. Esta forma foi atestada em Caxias num cartão de participação do segundo casamento de Maria, conservado por sua neta Marisa Pasqualina Frantz Panceri. Porém, Costamilan, Adami e Gardelin, historiadores locais, acompanhando outros autores, e concordes com a maioria dos registros sobre os descendentes modernos da família, preferem Schlabrendorff.1039 1040

1037

Gardelin, Mário. “Von Schlabrendorff”. Pioneiro, 23/05/1997 Rietstap, Johan Baptiste. Armorial Général. Goor Zonen, 1886-1890 1039 Costamilan, op. cit. 1040 Gardelin (1997), op. cit. 1038

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Maria Sartori. Foto colorida e editada a partir de original PB de Virgilio Calegari.

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Em 1823 o barão Friedrich Wilhelm, que era afilhado do imperador mas havia empobrecido,1041 emigrou para o Brasil com sua esposa Maria Anna Friedericka von Wrede e seus filhos Hubert, Matilda Frederica e Clara, fazendo carreira militar no exército imperial, 1042 assim como seu filho e herdeiro, o barão Hubert, que veio a casar com Catharina Bach. Seu neto, o barão João Daniel, também engajado no exército imperial, foi ferido na Guerra do Paraguai, ficando com uma perna defeituosa. Então fixou-se em Caxias do Sul, chegando em 15 de março de 1882. 1043 Veio ele com sua irmã Catharina Elisabetha Eulalia Alexandrina Augusta Emilia, mais conhecida como baronesa Alexandrina, adquirindo uma grande área de terra, que segundo Costamilan cobria “uma boa parte do atual bairro São Pelegrino e indo além, desde o antigo Parque de Exposições e dali até os fundos do Parque Cinquentenário. Nestas terras ele construiu sua residência, na então denominada estrada Visconde do Rio Branco”. Foi a primeira casa a ser construída ali, sendo efetivamente o fundador do que mais tarde se transformou no bairro de São Pelegrino, o “segundo centro” de Caxias. Nesta época, devido à presença de Alexandrina, o local era conhecido como Morro da Baronesa. O barão abriu também um curtume e uma selaria nas imediações de sua casa.1044 1045 Daniel acabou se enamorando pela bela Maria, e casaram afinal, tendo dois filhos, Avelino e Adélia.

O barão Hubert Karl Anton Ludwig von Schlabendorff e sua mãe Maria Anna. Coleção família Steigleder. Abaixo, Alexandrina von Schlabendorff. Coleção Mancuso.

É de perguntar o que fazia um barão alemão com bens consideráveis naquela erma colônia italiana recém aberta onde faltava de tudo e tudo era precário, longe de amigos e das terras que antigamente possuíra em São Leopoldo, então já uma cidade florescente, parte das mais antigas e bem estruturadas colônias alemãs do Vale dos Sinos, onde sua família havia ganhado prestígio. Eu penso que os Sartori podiam conhecer esses alemães há mais tempo em suas frequentes andanças comerciais e políticas entre Caxias, São Sebastião e Porto Alegre, e podem ter pensado em unir as famílias antes de 1882, e por isso uma perspectiva de casamento pode ter sido um motivo bem concreto para o barão se mudar para lá. Por outro lado, tendo ficado fisicamente prejudicado na Guerra, pode ter querido deixar seu passado para trás e começar de novo em um lugar diferente, talvez também querendo evitar olhares de piedade dos seus antigos conhecidos.

1041

Woortmann, Ellen Fensterseifer. “Identidades e memória entre teuto-brasileiros: os dois lados do Atlântico”. In: Horizontes Antropológicos, 2000; 6 (14): 205-238 1042 Braun, Felipe Kuhn. Memórias do povo alemão no Rio Grande do Sul. Amstad, 2010 1043 Costamilan, op. cit. 1044 Braun, Felipe Kuhn. História da imigraçao alema no sul do rasil. Costoli, 2010, 2ª edição 1045 Tisott, Ramon Victor. “Família e trabalho em lembranças da infância (Caxias do Sul, fim do séc. XIX e início do XX)”. In: XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais. Caxambu, 29/09-03/10/2008

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A história dos barões Schabendorff em painel da Casa de Memória da Paróquia São Pelegrino.

270

De acordo com os registros de chegada recolhidos por Gardelin & Costa, o barão adquiriu metade do lote 21 e o lote 21 A, com um total de 350 mil m2. Mas é certo que ele teve outras terras além dessas. Observando-se os mapas sobrepostos dos lotes coloniais e da malha urbana moderna,1046 sua casa não se localizava dentro dos ditos lotes, e nem a de Rafael Buratto, mas na divisa do lote 21 B (que em 1877 era de Giovanni Piva) com a outra metade do lote 21 e com zona urbana. Lembremos ainda o que disse Costamilan sobre suas terras irem até o fundo do Parque do Cinquentenário, que está no antigo lote 21 B, e o fato de Amalia Buratto e João Paternoster legarem terrenos que eram do barão para a paróquia levantar a igreja definitiva, terrenos que não se localizam em nenhum dos lotes supracitados. A discrepância entre esse os dados é grande demais para admitir que o barão teve apenas os dois meios-lotes registrados inicialmente por Gardelin & Costa. O gráfico acima ilustra isso claramente. Apesar de terem riqueza e nada lhes faltar, não viveram em ostentação, e sua residência foi um simples chalé, mas a questão da suposta “fortuna” do barão, citada por Costamilan como “imensa”, é aberta à controvérsia. Esse lote de terras era grande mas não era um latifúndio; sua casa não tinha nada que a destacasse, e os negócios que abriu, um curtume e uma selaria, significativamente não constam em nenhuma das listas que encontrei dos maiores empreendimentos da colônia. Stormowski em sua dissertação de mestrado apresenta o seu curtume com o pequeno capital de 3,5 contos de réis, de fato pouquíssimos autores acusam sua presença na cidade, e nenhum, salvo Costamilan, refere que era tão rico, embora Stormowski o inclua na elite caxiense.1047 Ele poderia ter herdado patrimônio de seus ancestrais em ouro, investimentos e outros bens não descritos na bibliografia, mas parece difícil conciliar esta hipótese com a descrição de Woortmann citando que seu avô viera da

1046

Prefeitura de Caxias do Sul. Mapa das léguas e travessões – escala 1/35.000 Stormowski, Marcia. Crescimento econômico e desigualdade social: o caso da ex-colônia Caxias (1875-1910). Dissertação de Mestrado. UFRGS, 2005 1047

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Detalhe das antigas terras do barão Schlabendorff. Foto do Arquivo Histórico Municipal. A casa branca da extrema direita, com duas portas e seis janelas, é a casa do barão e Maria, sendo a outra, do lado de cá da estrada, de Rafael e sua esposa. Os pavilhões em primeiro plano à esquerda são a cervejaria de Rafael. A estrada que passava entre as duas propriedades era a estrada que fazia a ligação de Caxias com São Sebastião do Caí, uma passagem vital. Em torno deste pequeno núcleo se formou o bairro de São Pelegrino, hoje densamente povoado.

Alemanha empobrecido, “tudo perdera por desares da fortuna”,1048 embora no Brasil tenha sido militar de destaque, podendo ter ganhado meios desta maneira. De todo modo, se vamos dar inteiro crédito a Costamilan, Daniel pôde se dar ao luxo de cobrir de joias a sua esposa, além de doar parte de suas terras à cunhada e ajudar seu concunhado na abertura de uma cervejaria. Sua situação econômica, portanto, é bastante incerta, e mesmo que pareça claro que ele vivia em um nível bem acima da média dos outros colonos, parece também provável que o folclore tenha magnificado indevidamente sua verdadeira riqueza. Alexandrina, por sua vez, casou-se com Clemente Fonini, um dos primeiros professores de Caxias, tendo os filhos Pedro, Clementina, Cecília, Luiz, Emílio e Olava, hoje com grande descendência. Cecília foi casada com Domingos Mancuso, um dos mais importantes fotógrafos da cidade em seus primeiros tempos, deixando um legado documental vasto e inestimável. Várias de suas fotos são usadas neste estudo. A descendência de Alexandrina se entrelaçaria por casamento à família Longhi, do meu lado materno, como será descrito no volume II. Costamilan continua: “Maria, nos primeiros tempos, parece realmente estar feliz, encantada com as joias que o marido prodigamente lhe dá, as roupas finas que veste, e, mais do que tudo – além de haver passado a ser chamada, pomposamente, de baronesa Maria von Schlabrendorff –, por sentir-se querida e respeitada por Daniel, que era um homem bondoso e a tratava, todos o sabem, como se fosse uma rainha. [...] Maria Sartori, ao casar-se com Daniel, havia ficado praticamente isolada de sua gente, uma vez que o 1048

Woortmann, Ellen Fensterseifer. “Identidades e memória entre teuto-brasileiros: os dois lados do Antlântico”. In: Horizontes Antropológicos, 2000; 6 (14):205-238

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Maria Sartori em piquenique com sua turma elegante na chácara de São Pelegrino. Ela é a figura de branco e de chapéu caído para o lado direito, para a qual o homem aponta, ao lado da mulher de chapéu grande. Os outros personagens não foram identificados, salvo a mulher de chapéu grande, que deve ser Irma Valiera, e a baronesa Alexandrina von Schlabendorff, irmã do barão, a figura sentada no chão aos pés de Maria, com a criança ao lado. A casa da qual se vê uma parte, bem ao fundo, à esquerda, deve ser a de Rafael Buratto e sua esposa Amália, irmã de Maria. Coleção de Marisa Paqualina Frantz Panceri, neta de Maria.

caminho desde sua casa até o centro não era de molde a ser percorrido a pé, sem contar a relativa distância que mediava entre os dois pontos, e para ir a cavalo [...] Daniel não apreciava que ela fosse, e muito menos desacompanhada. Assim, a cada pouco um dos irmãos, ou os pais, iam visitar”. Costamilan dá mais um registro interessante sobre a família em seus primeiros tempos, narrando como batizaram o bairro: “Somente aos domingos é que eles todos se encontravam, quando iam à missa na única igreja que então existia em Caxias do Sul [a Matriz, futura Catedral]; em ocasiões especiais, porém, toda a família Sartori se espremia em uma carroça e ia visitar as filhas e genros [Maria e Amália e seus esposos], naquelas terras que ainda não tinham nenhuma denominação oficial a não ser o nome dos moradores ou do curtume que lá existia. E foi num desses domingos festivos, em 1º de agosto de 1886, que a família Sartori empreendeu mais um de seus ruidosos passeios às casas das filhas, desta vez motivados pela data litúrgica dedicada ao Patrono de sua terra de origem, São Pelegrino de Treviso. Na verdade, Salvador trouxera da Itália, ao emigrar, um grande quadro com a imagem deste santo, medindo 1,50 x 0,80 m, Ver nota 1049 um tesouro a lembrá-los da tradição de sua origem, então entronizado, com a maior veneração, no recesso de seu lar; portanto, o transcurso de tal data num domingo foi duplo motivo 1049

Costamilan (aqui provavelmente escrevia seu sobrinho Paulo) está enganado.

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para visitarem Maria e Amália, onde iriam passar o dia inteiro e assim homenagear o santo de sua devoção. Exagerados em tudo que fizessem, ao findar a ‘missa grande’, começaram a se preparar para sua histórica ‘viagem’, como de hábito sob grande estardalhaço, as mulheres luzindo em seus amplos vestidos, um turbilhão de joias, plumas e flores por todos os lados, os homens também na maior elegância, com um cravo à lapela e pesadas correntes a brilhar em seus coletes. Indiferentes aos olhares curiosos da aglomeração na Praça Dante [onde moravam], atulham a carroça com bolos, frangos, doces, farnéis e sacos com biscoitos, garrafões de vinho e a fornada de cucas que a mãe Angela havia preparado especialmente para aquela ocasião, depois do que milagrosamente eles todos ali se aboletam, com os pais à frente para os conduzir. E como não podia deixar de acontecer em data de tanto significado, os mais velhos levam seus instrumentos musicais, dando impressão, a quem os visse, de que se apresentavam para uma grande viagem, tal a balbúrdia e espalhafato que faziam. Quando parece que está tudo pronto, é então que alguém ingenuamente lhes pergunta, em meio aos gritos das mulheres e às recomendações de última hora: ‘Aonde é que vocês vão?’ E um deles, trocista como os demais, com grande entusiasmo responde: ‘Vamos a São Pelegrino!’ Ato contínuo, explodem os acordes de um dobrado, ao mesmo tempo em que, ruidosamente, e na maior velocidade, eles se põem a caminho. [...] “Na realidade, o motivo de tal resposta nada mais era do que outra das costumeiras pantomimas dos rapazes, com o que julgavam estar pregando uma peça a seus espantados assistentes, que sabiam ser toda a família Sartori originária de São Pelegrino de Treviso; por isso, o que eles tiveram em mente, com sua brincadeira, foi impingir que estavam de fato voltando à sua terra de origem, sequer imaginando, com tal encenação, que assim davam nome ao bairro que viria a ser, dentro em pouco, o ponto obrigatório de lazer dos caxienses de então”.

O quadro de São Pelegrino preservado na Igreja. Tem sido divulgado que esta pintura é a imagem trazida por Salvador Sartori, mas isso não é correto. Ela tem a data de 1942 claramente legível ao lado da assinatura do autor, H. Celi, e segundo a restauradora Fernanda Matschinske, que recuperou a obra há poucos anos, ela foi oferecida à família Buratto nos anos 40. Sua iconografia faz uma alusão à imigração, mostrando o santo a atravessar o Oceano Atlântico em direção à América, que não faz sentido para uma imagem devocional alegadamente criada muito antes de os pioneiros viajarem. Provavelmente esta peça teve sua origem ligada ao plano de edificação de uma nova igreja dedicada ao santo, a que hoje existe, cuja pedra fundamental foi lançada em 1944. Deve, portanto, ser uma obra comemorativa desta construção e também da história dos pioneiros. Além disso, a análise estética mostra que é sem dúvida uma criação do século XX, e Brandalise, quando falou sobre a paróquia, informa que o original se tratava de uma oleografia, uma espécie de gravura, e não uma pintura. O original hoje está em local ignorado.

Relatou Marcos Kirst que foi nesta ocasião que a família decidiu fundar a primeira capela dedicada a São Pelegrino, e segundo Adami a inauguração do primeiro oratório ao santo ocorreu em 2 de agosto de 1891, logo substituído por uma capela, inaugurada com missa em 19 de abril de 1893.1050 1051 No entanto, a felicidade de Maria acabou quando as crianças perderam a vida numa epidemia, Adélia em 20 e Avelino em 30 de outubro de 1888, e logo depois também o barão, em 5 de março de 1889.1052 1053 1050

Kirst, Marcos. “Os primeiros tijolos saem do forno”. Revista Acontece Sul, 11/11/2013 Adami (1971), op. cit. 1052 Costamilan, op. cit. 1053 Gardelin & Costa, op. cit. 1051

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Maria herdou as terras e riqueza, e se uniu em segundas núpcias a João Paternoster, antigo amor de sua juventude, perdendo com este ato o título de baronesa. 1054 1055 João era filho de Giacomo II Paternoster, nativo de Vigo di Ton, frazione da comuna de Ton (ou Thun), próxima de Trento, filho de Giacomo I. Giacomo II era casado com Orsola dal Piaz, e tiveram os filhos Giacomo Giuseppe (10/09/1850), Doratea Teresa (07/08/1851), Giuseppe Andrea Bonifacio (11/04/1853), Anna Teresa (23/01/1855), Giacomo Anselmo (30/04/1857), Giovanni Battista Celestino (o João, 04/08/1858), Colomba (14/01/1863), Giuditta Cattarina Maria (07/10/1860) e Anna Angela (23/01/1872). Nascido em 29 de setembro de 1814, Giacomo II trabalhou inicialmente como professor em Flavon, recebendo um atestado de proficiência em 1835, onde foram louvados seu zelo e o sucesso que conseguira, bem como sua exemplar conduta de vida. Foi citado em 1853 como curador dos bens da viúva Catterina Baroletti, interditada por incapacidade mental.1056 Segundo Costamilan, que teve acesso a documentos italianos, ele chegou a ser sindaco de Vigo. Sindaco é uma posição equivalente a prefeito que na época era acessível somente ao patriciado, e segundo Nequirito, tal cargo era ocupado apenas por membros das famílias mais distintas,1057 1058 o que dá uma sólida prova, ainda que indireta, da origem ilustre da família, que de toda forma é atestada no Tirol desde o século XIII como senhores feudais e depois produziu muitos outros patrícios. A família de sua esposa, com registros desde o século XV, aparentemente também era patrícia, como se verá no Volume III. No entanto, em 1854 Giacomo fez um empréstimo com a Igreja, e em 1856 a instituição reclamou os juros de um empréstimo da elevada quantia de mil florins que fizera a ele e seu irmão Antonio,1059 provavelmente a mesma dívida citada antes, mas pode ser um segundo empenho. Ao que parece nesta altura eles estavam em difícil situação financeira, isso pode ter perdurado até mais tarde e possivelmente foi o fator determinante da sua mudança. Por outro lado, pouco antes de viajar estava servindo Matteo Thun, o mais poderoso nobre da região, o que torna a verdadeira razão da viagem bastante obscura.

1054

Costamilan, op. cit. “Igreja de São Pelegrino comemora 60 anos”. Gazeta de Caxias, 28/07/2013 1056 “Editto 4353”. Gazzetta del Tirolo italiano, 24/05/1853, 1057 Brunetto, Rosella & Guglielmetti, Elio. Dal Console medievale all'attuale Sindaco. Comune di Torre Canavese 1058 Nequirito, Mauro. ”L’Assetto Instituzionale Roveretano nel Settecento”. In: Atti della Accademia Roveretana degli Agiati, a246, 2006; VII (VI A):319-346 1059 Comai, Piergiorgio. Gestione delle chiese e rapporti col comune, 2012 1055

275

A família não veio para o Brasil completa. Viajaram o casal e os filhos Maria, Angela e Giovanni Battista (João).1060 Embarcaram no vapor San Martin, saído de Havre, França. 1061 Carlos Fabris, o folclórico Carlin, que é neto de Giacomo II e também historiador, deixou um registro de sua viagem e instalação na colônia. 1062 Este relato foi corroborado por outro do ilustre historiador Mário Gardelin numa nota datilografada, sem data, não assinada e aparentemente inédita, preservada na coleção de Dóris Paternoster, e que reproduzo a seguir, com a grafia atualizada: “Giacomo Paternoster, com a esposa Orsola dal Piaz e os filhos João e Maria, saíram da Europa em 10 de outubro de 1876 do porto de Havre, onde embarcaram no vapor San Martin, da Cia. Chargeurs Réunis, com destino a Porto Alegre. Pagaram 50 liras por pessoa até o Rio de Janeiro, onde chegaram em 29 de novembro de 1876. Depois de 8 dias de permanência no Rio, embarcaram num vapor com destino a Itajaí. No Rio, Giacomo Paternoster apresentou ao Barão de Teffé, ministro do Exterior, uma carta de apresentação dada a ele na Itália pelo Conde Matteo Thun, de quem era empregado para cuidar da escrita do castelo. O Barão de Teffé deu-lhe a nomeação de professor, com ordenado de 105$000 (?) mensalmente, que recebeu até seis meses depois de morrer. Ficaram 8 dias em Itajaí – Itajaí é o porto onde muitos imigrantes desembarcavam para depois irem a Blumenau e Brusque. Embarcando em Itajaí chegaram a Porto Alegre em dezembro de 1876. A viagem do Rio a Porto Alegre foi gratuita. Hospedaram-se gratuitamente na Casa dos Imigrantes, localizada na antiga Praça da Harmonia, em frente à Igreja das Dores. Depois de alguns dias embarcaram no vapor Harmonia para São Sebastião do Caí. Ali hospedaram-se na Casa da Imigração. Vieram a Feliz em carretas e cargueiros. O negociante Weissheimer hospedava gratuitamente, por conta do Governo, como também se encarregava dos transportes. De lá dirigiram-se a Nova Palmira, de onde vieram para o Campo dos Bugres, onde chegaram a 12 de dezembro de 1876. Em Nova Palmira Giacomo recomendou que lhe dessem uma mula “brava”. Deram-lhe então uma mula “braba” [brava em italiano significa valente, capaz, mas em português significa indócil ou furiosa], que corcoveando o deitou ao chão. Chegando em Caxias, foram se hospedar no lugar da imigração, localizado na rua Pinheiro Machado, perto da hoje Padaria Sestari. Tinha um barracão de taquaras. Encontraram lá muitos imigrantes (mais ou menos 6 mil) todos da Itália e do Tirol, que faziam barracas de macacos,Ver nota: 1063 esperando que a Diretoria fizesse a distribuição das terras. Receberam comida. Lá Giacomo fez uma barraca em 2 horas, onde ficou uns 20 dias. A Diretoria deu-lhe então o lote nº41, hoje o Mercadinho do Povo, e o lote nº 40 para João Paternoster. Procurou então Felice Laner, e da casa deste se encaminhou para procurar os lotes nº 40 e 41. Mesmo auxiliado por uma bússola, Giacomo e o filho João se perderam. Ouviram depois certo ruído de quem estava fazendo tabuinhas. Era Andrea Pezzi, [ancestral pelo lado materno] que [estava] no lote da esquina, que depois foi de Angelo Manfro. Andrea os guiou por uma picada até o lote onde foi mais tarde a Escola Complementar. De lá tinha uma picada que conduzia ao campo da imigração. No lote 41 construíram uma casa de moradia, onde Giacomo instalou a escola governativa, que foi a primeira escola de Caxias. Os primeiros alunos foram Miguel Muratore e Antonio Pisani”.

1060

Gardelin & Costa, op. cit Relação dos imigrantes que em conformidade do contrato celebrado entre o Governo Imperial e Joaquim Caetano Pinto Junior conduz do Havre para o Rio de Janeiro o vapor San Martin. Maudet, Godefroy & Cia, 17/10/1876 1062 Fabris, Carlos. “Vittorio Fabris e Maria Paternoster”. Angelfire, 19/08/1961 1063 O significado da expressão “barraca de macaco” é obscuro. Presumo que fossem cabanas de taquaras ou toldos. 1061

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277 Atestado recebido por Giacomo II Paternoster das autoridades de Flavon, onde deu aulas na juventude. Coleção de Dóris Paternoster.

Capa da lista de passageiros do navio San Martin, que trouxe Giacomo Paternoster e sua família para o Brasil. Na sequência, a página onde eles são listados. Acervo do Arquivo Nacional.

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Giacomo, portanto, foi o primeiro homem a ensinar na cidade em caráter profissional, Ver nota 1064 o que Adami confirma, 1065 dizendo que iniciou a trabalhar no mesmo ano que Luiza Morelli Marchioro, a celebrada Maestra, que em 1877 se instalara na 7ª Légua, mas talvez Giacomo iniciasse efetivamente alguns meses depois que ela, que foi nomeada pelo Estado no dia 5 de fevereiro. Porém, como diz Adami, antes de eles iniciarem seu trabalho, provavelmente desde 1875 funcionaram aulas informais na 1ª e 2ª Léguas, e desde 1876 nas Léguas adjacentes à Sede Dante, mantidas amadoristicamente por alguns imigrantes alfabetizados, mas os nomes destes precursores não ficaram registrados. Adami também colocou Giacomo na lista dos primeiríssimos imigrantes a se instalar na Sede Dante.1066 A data exata de nomeação de Giacomo como professor estadual não é conhecida. As primeiras aulas que deu podem ter sido particulares, e o seu contrato estadual só é atestado com segurança a partir de 1º de julho de 1879. Adami, além disso, atesta Maria Paternoster como professora também desde 1877, ao contrário do que disse Fabris, que a apresenta como substituta do pai após sua morte. Como professor do Estado Giacomo dava aulas em italiano para cerca de 20 alunos, com um turno letivo de 3 horas por dia, com o baixo salário de 15$000 réis mensais, e a partir de 1883 é mostrado outra vez dando aulas particulares, mas com subvenção do Governo, o que deve ter melhorado um pouco seus vencimentos. Em 1884 foi demitido, junto com todos os funcionários públicos, em vista da reorganização administrativa da colônia, que passou a ser distrito de Sâo Sebastião do Caí. 1067 1068 1069 Entrementes, em 23 de agosto de 1882 é registrada sua mudança para o lote nº 5 da quadra 14.1070 Nesta altura a planta da cidade estava sendo remodelada e as casas antigas, que não se encaixavam no novo traçado, foram sendo demolidas. Segundo Balen, ele foi um dos primeiros a se estabelecer depois de a planta ter sido retificada.1071

1064

Abramo Pezzi muitas vezes é creditado como o primeiro professor de Caxias, mas ele só iniciou sua atividade docente em 1879, tendo chegado à cidade apenas neste ano, dois anos depois de Giacomo. 1065 Adami, João Spadari. História de Caxias do Sul. Tomo III – Educação: 1877-1967. EST, 1981 1066 Adami (1971), op. cit. 1067 Costamilan, op. cit. 1068 Luchese, Terciane Ângela “Leggere, Scrivere, Calcolare. Escolas comunitárias étnicas em Caxias do Sul”. In: Anais do VI Congresso Luso-Brasileiro de História da Educação: percursos e desafios da pesquisa e do ensino de História da Educação. Uberlândia, 17-20/04/2006, pp. 1422-1430 1069 Adami (1981), op. cit. 1070 Gardelin, Mário & Balen, João Maria. “Da sede Dante a Caxias, as primeiras famílias da cidade, quadra por quadra”. Folha de Caxias, 08/07/1989 1071 Apud Gardelin, Mário & Costa, Rovilio. Colônia Caxias: Origens. EST, 1993

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Assinatura de Giacomo Paternoster

A recomendação que trouxera do Conde Thun também lhe serviu para conquistar respeito na cidade. Sua vida poderia ter sido mais difícil se não dispusesse dessas credenciais, já que os tiroleses como ele, que chegaram com passaporte austríaco, sendo Trento parte do Império Austriaco nesta época, permaneceram bastante isolados dos outros imigrantes, remetidos em geral à zona rural, vistos com preconceito pelos “italianos” que vinham em sua maioria do Vêneto, e tendo dificuldade de acesso aos cargos de destaque.1072 Adami o cita dando aulas em 1908 na comunidade de Buraty, na 1ª Légua, 1073 e depois disso não há mais registros dele, nem do seu falecimento. Mas é muito questionável que este registro na 1ª Légua seja dele. Em 1908 Giacomo já teria 94 anos de idade, e dificilmente ainda estaria apto para dar aulas, se é que sobreviveu tanto, ainda mais em uma localidade distante da sede cerca de quinze quilômetros. Um senhor de tanta idade teria grandes problemas para ir até seus alunos e voltar para sua casa todos os dias, percorrendo um caminho na época extremamente precário, a menos que estivesse morando lá, e mesmo assim a situação é muito duvidosa. Parece mais provável que seja ou um erro de data de Adami ou um homônimo, embora eu não tenha encontrado registro de outros Paternosters no estado nesta época, salvo um Andrea em Bento Gonçalves, que pode se o Andrea Bonifacio filho de Giacomo. O mais provável é que ele tenha morrido em 1888, pois nesta data sua esposa passou a trabalhar para o clero da Matriz, recebendo um salário de 8$000 réis mensais,1074 e Fabris diz que Orsola não só trabalhou para o clero, mas que também passou a morar na Casa Canônica.1075 A morte de Giacomo nesta altura seria um bom motivo para explicar essa mudança de atividade e também de endereço de Orsola, e seu desaparecimento seria um motivo para explicar também a transferência em 1889 do seu terreno para Vittorio Fabris, marido de sua filha Maria.1076 Não há registro de quando Orsola faleceu, e tampouco se sabe quem foram seus pais. Sobrevive na coleção de Dóris Paternoster a cópia xerográfica de uma carta que Giacomo escreveu à sua filha Teresa em 1884, o único documento autógrafo que resta do pioneiro. Não se sabe se a carta foi realmente enviada, uma vez que o original permaneceu com seus descendentes antes de desaparecer, mas pode ter sido conservada por Teresa e trazida para o Brasil quando ela finalmente imigrou em 1888. Ela é reproduzida a seguir e depois vem sua transcrição.

1072

Alves, op. cit. Adami (1981), op. cit. 1074 Brandalise, op. cit. 1075 Fabris, op. cit. 1076 Gardelin & Costa 2ª ed., op. cit. 1073

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Mário Gardelin fez uma transcrição: Colonia Caxias 29/9 – 84 Teresa mia carissima! ià da tempo stavo deciso di scriverti in quest’oggi, sicome appunto oggi corre il giorno mio natalizio, festa dell’Arcangelo S. Michele, potentissimo nostro protettore. In questo giorno, si compie la vecchia mia età di settentani e quindi si avvicina la certissima epoca della mia morte, così, sentendo anche il desiderio tuo, vengo con queste poche righe, e ti raccomando assai a non volerti dimenticare, como non dubito, nelle tue orazioni l’urgente bisogno de’ tuo genitori. en volentieri abbiamo ricevuta la tua l[ettera]. pp. Agosto, e com grandissima consolazione sentiamo il buon stato attuale di tua salute, e qui dirò, che grazie al buon Dio, noi pure godiamo del pari, ma d’altronde ci duole il sentiere como sei interrata nel tuo servizio, e como vadano deluse le tue e nostre speranze della tua emigrazione. A me sembra che forse potesse essere tuttavia causato dall’infondato, ossia troppo timore, però rispetiamo pure sempre le altis[sime] disposizioni. Siamo contenti che in via provisoria sii collocata presso la Maestra. Pensa bene e consigliati ancora più bene pria d’ingagiarti in altri collocamenti o servizii. Come dissi noi tutti godiamo buona salute – il Tita [João] e la Marieta vivono ancora nel celibato e ti salutano intanto caramente assieme alla Maestra ed altri amici – in seguito ti scriverano. Restiamo molto abbligati per l’anticipazione per noi fatta della tassa alla Confraternità del S. S. [Santissimo Sacramento] e ne siamo molto contenti. Altra volta che scriverai o che scrivesse Il Sigre Capellano, il Sigre Paroco, la Mestra ed altri, saremo contenti di sentire qualche notizia più esata di novità, per esempio: come vadano gli affari politici, le [ilegível], le morti, i matrimoni, cambiamenti di certe [ilegível] famiglie, le emigrazioni, le risorce, le miserie ecc. almeno le più rimarchevoli, s’intende e più significanti.Qui le novità son ben poche, solo posso dire che è continuata lotta per affari dei preti mi ha impedito di andare alla caccia in tutto l’inverno ove che invece gli anni [ilegível] andavo quasi ogni giorno. Finisco col [ilegível] de’ miei complimenti e saluti a tutti quanti mi hanno salutato, a nome anche de’ miei di casa, e desiderandoti ogni più florida prosperità e benedizioni, chiudo dichiarandomi L’affett[uosissimo] tuo Padre Giacomo Paternoster Como só temos referências sobre sua atividade docente e nada sobre sua personalidade, esta carta é um documento valiosíssimo. Embora o conteúdo seja prosaico, pode-se dele estimar que era um pai afetuoso e interessado, e uma pessoa prática e objetiva. Fica ainda evidente que tinha um largo círculo de amizades na Itália, gostava de estar atualizado sobre a política e a situação do país, era um católico devoto e no Brasil mantinha uma íntima ligação com as atividades da Igreja, além de ser um apreciador de caçadas. Também ressalta sua bela e requintada caligrafia, reminiscente da antiga tradição barroca em seus elaborados floreios, especialmente na saudação de abertura, mostrando ter uma formação mais refinada do que a necessária para ser um professor primário comum, devendo ter significativa cultura erudita. Isso é consistente com o relato de que ocupara o importante cargo de escrivão na corte dos condes Thun, que implicava em contato direto e assíduo com seus senhores, e que havia sido sindaco comunal.

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Vieram outros dal Piaz da Itália nos primeiros tempos, oriundos da mesma região de Orsola, e tudo indica que eram parentes próximos. Gardelin & Costa citam Luigi I, solteiro, chegado em 3 de janeiro de 1877 e sem registro de estabelecimento; Luigi II, casado com Fortunata, pais de Carolina, Luigi e Maria, chegados em 1º de março de 1880, e Pellegrino, casado com Teresa, pais de Lino e Ernesto, também chegaram em 1º de março de 1880. Estas duas famílias se estabeleceram no lote 13 do Travessão Hermínia da 6ª Légua, perto dos lotes dos Sartori. No distrito de Ana Rech, antiga 8ª Légua, onde viveram Costante e sua família, cuja data de chegada não é conhecida, os dal Piaz se tornaram família tradicional. Nos anos 50 Pedro e sua esposa Libera estão ligados às atividades da igreja; Camilo, ainda criança, é citado em 1939 como “cruzadinho” da Cruzada Eucarística, organização de fomento religioso,1077 e mais tarde se tornou líder comunitário, membro da comissão que ergueu o monumento a Ana Rech,1078 e tesoureiro da comissão encarregada de pleitear a emancipação do distrito nos anos 80, que no entanto não ocorreu.1079 Orestes, agricultor, foi casado com Paulina Formolo,1080 parente nossa pelo lado materno, sendo pais de Veronica Catarina, Josephina e Augusto João. Orestes foi um dos doadores do terreno que serviu como caminho até a Matriz, enriqueceu com a agricultura, tornou-se figura conhecida na comunidade e virou nome de rua.1081 Recentemente Luci e Luiza Maria foram diretoras da Escola Profª Marianinha Queiroz do Travessão Leopoldina de Ana Rech,1082 e Leda Marta, coordenadora de Apoio Pedagógico e delegada suplente da mesma escola no Sindicato dos Servidores Municipais de Caxias do Sul.1083 1084 Outros notados em Caxias são Felipe, procurador do Município,1085 e Ariela Siqueira dal Piaz, psicóloga da Escola Lacan e secretária do Mestrado da UCS. Fortunata, ao que parece depois de viúva, radicou-se em Bento Gonçalves e ligou-se à Igreja.1086 Outros parentes devem tê-la seguido, pois houve descendência que estabeleceu laços com a ilustre família Ferrari, também aparentada recentemente pelo lado materno, onde se destacou Juliana Ferrari dal Piaz, presidente da Fundação Bento-Gonçalvense Pró-Ambiente (PROAMB), 1087 com importante atuação na sua área de atividade.1088 1089

1077

Dall’Alba, João Leonir et al. História do Povo de Ana Rech. Volume I – Paróquia. EDUCS, 1987 Dall’Alba, João Leonir et al. História do Povo de Ana Rech. Volume II – Distrito. EDUCS, 1987 1079 Gomes, Carla Renata A. S. & Gomes, Carlos Cesar. “Do voto ao veto: o processo de emancipação de Ana Rech”. In: Giron & Nascimento, op. cit. 1080 “Edital”. O Momento, 30/08/1937 1081 Dall’Alba et al. Vol. II, op. cit. 1082 E.M.E.F. Profª. Marianinha Queiroz. Escola Marianinha - Nossa História. 1083 Sindicato dos Servidores Municipais de Caxias do Sul. Conselho Deliberativo. 1084 Coordenação Escola Municipal Marianinha Queiroz. Quadro de Pessoal – 2014. 1085 “Caxias do Sul: MP e Município apresentam resultados de parceria inédita”. Agência de Notícias do Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul, 30/07/2013 1086 “Semana de Vida e Cultura Católica”. O Momento, 29/09/1945 1087 “Proamb comemora 22 anos em Bento Gonçalves”. Rádio Difusora 890, 15/04/2013 1088 “BRDE e Fundação PROAMB firmam parceria para projeto inédito de tratamento de resíduos sólidos”. BRDE Notícias, 27/04/2012 1089 Quadros, Carlos. “Inaugurado Projeto piloto que visa gerar energia pelo bagaço da uva em Bento”. Leouvre, 25/10/2012 1078

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A Comissão construtora do Monumento a Ana Rech, instalado em 1977 diante da Igreja Matriz: da esquerda para a direita, Ademar Bacchi, o padre José Lorenzini, Bruno Segalla, autor da escultura, Valter Susin, Camilo dal Piaz e Ary Albé. Foto em Dall’Alba, op. cit, vol II.

288 Ugo e Gilberto Dalpiaz, à esquerda, recebendo homenagem da Câmara Municipal de Osório. Foto da Câmara Municipal.

Também se fizeram presentes em outras cidades, em particular no litoral norte do estado, descendo a serra atraídos pela abertura da Colônia Marquês do Herval, descendendo dos pioneiros Costante dal Piaz, sua esposa Maria e os cinco filhos, incluindo Faustino e sua esposa Joana, que haviam se estabelecido primeiro na 8ª Légua e se fixaram a partir de 1911 no município de Osório, gerando grande descendência, que se espalhou por todo o litoral norte, tornando-se notórios como políticos e comerciantes.1090 1091 Em Osório fizeram nome especialmente Jaime, vereador e empresário;1092 Gilberto e Ugo, dirigentes da rede de Supermercados Dalpiaz, empresa que em 2011 recebeu homenagem da Câmara Municipal.1093 Gilberto foi também diretor Jurídico da Associação Comercial e Industrial de Osório, e Ugo, seu vice-presidente,1094 além de ser ainda diretor-secretário da Associação Gaúcha de Supermercados.1095 Em Maquiné se tornaram conhecidos Flávio, vereador e nome de rua; Giacomo, nome de rua, e Lourdes, ativa nos trabalhos da Igreja; 1096 em Cidreira Maris Stela foi Primeira Dama do município,1097 e em Torres funciona até hoje o Hotel Costa dal Piaz. O nome dal Piaz atualmente está espalhado pelo Brasil. Dos filhos de Giacomo e Orsola, 1) Angela Paternoster faleceu logo depois da chegada, em 16 de julho de 1877.1098 2) Doratea Teresa Paternoster, conhecida apenas como Teresa, transferiu-se para o Brasil em 1888, depois de ter vivido um tempo na França. Casou com Felice Rossi e faleceu em 31 de outubro de 1938, gozando de “vasta estima” na cidade, como consta em seu obituário, sendo especialmente sentido o seu desaparecimento nos círculos religiosos, sendo muito devota, membro fundador e conselheira das Damas de Caridade, 1099 1100 zeladora do grupo Propagação da Fé,1101 e benfeitora da Escola Normal São José, lembrada por Gardelin & Costa como “benemérita e inesquecível”, elogio repetido por Adami, em virtude de sua generosidade e prontidão em ajudar.1102 1103 O jornalista Augusto Pinz corroborou essa impressão dizendo que ela “se destacou pela incansável atuação em favor dos pobres”.1104

1090

Gardelin & Costa 2ª ed., op. cit Podilchuk, Susana Maria da S. Projeto 7ª Festa da Polenta e do Vinho de 2010. Secretaria Municipal da Agricultura, Turismo e Meio Ambiente de Maquiné 1092 “Morre ex-vereador de Osório”. Litoral Mania, 18/01/2015 1093 Cardoso, Gisele. “Supermercado Dalpiaz recebe homenagem solene na Câmara”. Assessoria de Comunicação da Câmara de Vereadores de Osório, 11/10/2011 1094 Centro Empresarial de Osório. Diretoria da ACIO. 1095 “Ugo Dalpiaz na Diretoria da Agas”. Portal Abras, 31/10/2012 1096 Podilchuk, op. cit. 1097 “Curso de artesanato capacita moradoras de Maquiné”. Onda H, 24/05/2013 1098 Gardelin & Costa, op. cit 1099 “Falecimentos”. A Época, 06/11/1938 1100 Hospital Pompeia. Associação Damas de Caridade. 1101 “Propagação da Fé”. O Brazil, 03/02/1912 1102 Adami (1981), op. cit. 1103 Gardelin, Mário & Costa, Rovílio. Colônia Caxias: Origens. EST, 1993 1104 Pinz, Augusto. “O dia de Hoje, 31 de outubro, na história regional”. Canguçu em Foco, 31/10/2013 1091

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Uma das primeiras diretorias das Damas de Caridade de Caxias do Sul, talvez a primeiríssima. Só foram identificados com segurança o padre Meneguzzi, o segundo da esquerda para a direita, na fila de trás, e Santina Amoretti Sartori, a última pessoa de pé nesta ordem, e na fila da frente Amazilia Penna de Moraes, Ignez Parolini, Teresa Paternoster Rossi, respectivamente a segunda, a quarta e a última da esquerda para a direita

De acordo com a tradição familiar, Teresa teve um imenso círculo de amizades, sabia de tudo o que se passava e era a maior “agente de informações” da cidade em seu tempo, com sua casa sempre num constante entra-e-sai de pessoas que iam em busca das novidades. Felice Rossi quase certamente era parente dos Rossi de meu lado materno, que também procediam de Vigo. Giron o registra como coveiro do cemitério municipal,1105 mas a imprensa da época o mostra na verdade como o zelador do cemitério, 1106 uma função administrativa, mas possivelmente também fazia sepultamentos. Aposentou-se em 8 de outubro de 1924 com mais de 30 anos de serviço.1107 Ao falecer em 20 de julho de 1927, em seu obituário Felice foi chamado de “conceituado extinto”, “venerando ancião”, e “estimadíssimo pelos altos dotes de caráter e coração”, recebendo um sepultamento “concorridíssimo”.1108

1105

Giron, Loraine Slomp. “Maçonaria x Igreja: luta pela hegemonia”. História Daqui, 14/03/2012 “Aposentadoria”. O Brasil, 25/08/1924 1107 “Acto nº 204”. O Brazil, 18/10/1924 1108 “Necrologia”. Caxias, 21/07/1927 1106

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O casal teve os filhos: a) João Rossi e b) José Rossi, comerciantes, c) Maria Rossi, d) Maria Estela Rossi, religiosa e professora no Colégio Sevigné em Porto Alegre.1109 Os filhos Maria e José também revelaram forte inclinação religiosa, sendo citados como membros fundadores do grupo de oração Hora Santa no Lar (ou Adoração Noturna) da Igreja de São Pelegrino, uma ramificação do Apostolado da Oração da Catedral.1110 e) Polydoro Giacomo Rossi, mais conhecido como Giacomo, foi sacristão da Catedral,1111 e iniciou atividades profissionais como sócio da Rossi & Piccoli, empresa que foi dissolvida em 1921, quando já era funcionário do Banco da Província. Nesta época foi tesoureiro, 2º secretário e conselheiro fiscal do Recreio da Juventude, 1112 1113 1114 membro da Diretoria do Esporte Clube Juventude,1115 e vicepresidente do Grêmio Esportivo São Pelegrino.1116 Depois fez carreira como inspetor do Banco da Província, sendo em 1949 presidente honorário do seu time de futebol, o Grêmio Esportivo Província.1117 Ele foi entrevistado em 1977 pelo Pioneiro em uma matéria alusiva ao Dia dos Pais, que dá um pequeno e interessante vislumbre de sua existência e de seus valores: Pioneiro: A palavra PAI lembra filho pequeno. Como o sr. lembra e recorda o seu pai? Giacomo: Guardo o meu pai na lembrança como tendo sido um pai severo, mas também de coração generoso. O que dizia era sempre com intenção de nos auxiliar. P: Se o seu pai estivesse vivo hoje, como gostaria que ele fosse? G: Gostaria que fosse como foi, naquela época. Afinal, pai a gente tem um só na vida.

1109

“Falecimentos”. A Época, 06/09/1938 “Adoração noturna das famílias nos lares”. O Momento, 09/12/1946 1111 “Caxias”. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1919-1920 1112 “Club Recreio da Juventude”. Città di Caxias, 15/01/1917 1113 “Club Juventude”. O Brasil, 18/12/1920 1114 “Recreio da Juventude”. O Brazil, 22/12/1917 1115 “Notas sportivas”. O Brasil, 13/11/1920 1116 “G. S. São Pellegrino”. O Brasil, 28/07/1921 1117 “Gremio Esportivo Proviíncia”. O Momento, 01/10/1949 1110

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P: A vida de pai, hoje, é mais difícil do que naqueles tempos? Por quê? G: Depende como a gente interpreta a pergunta. Se considerarmos ser pai antigamente, levando em questão a mentalidade do tempo com a mentalidade de hoje, diria que para a educação dos filhos, escolheria a antiga maneira. No entanto, reconheço que seria necessário o meio termo. Comparando as diferentes formas de educação, digo que sou contra os excessos, mas sempre de acordo com a evolução. Um dos maiores problemas que o pai de hoje encontra, é para mim, a dificuldade financeira. Mas, no meu ver, a família que luta para educar seus filhos, leva sempre uma vantagem Antiga Casa Serafini, que depois pertenceu a Donato e Giacomo Rossi. Hoje no local ergue-se o Edifício Fontana di Trevi. AHM. sobre os demais. Os filhos que nascem dentro de dificuldades, por instinto, procuram se encaminhar na vida, vivenciando e fazendo sacrifícios. Ao contrário, os filhos nascidos em berço de ouro, não sentem esta necessidade de sacrifícios, salvo exceções. Quando se está em dificuldades, sempre se procura ....... [palavra ilegível], em busca de uma fórmula de melhorar as coisas. [Na] Minha família, posso dizer, reinou sempre a alegria. Costumamos nos reunir seguidamente. Tive sete filhos, quatro mulheres e três homens. Todos eles casaram tarde, e por isso a convivência foi mais extensa. P: A sua vida, como pai, como tem sido? G: Foi normal. Com os filhos no Ginásio, eu já estava fazendo economias, visando a instrução superior. Quando chegou a vez de eles fazerem a faculdade, não tive problemas. Hoje, todos casados, estão bem colocados na vida. Tenho treze netos, que são a alegria dos meus dias. Para sustentar a família, trabalhei toda a vida e ainda estaria disposto. Fui seminarista e ali formei o meu caráter, durante quatro anos. Entrei no Banco da Província no dia 7 de março de 1914. Aposentei-me em 1965. Nos últimos anos, exercia a função de inspetor do mesmo Banco.1118 Giacomo foi casado com Maria Pasetti, e faleceu em 18 ou 19 de agosto de 1980. Dos seus sete filhos só quatro foram identificados com segurança, Bruno Félix, Darcy Paulo, Teresinha e Dora.1119 De Teresinha não encontrei sinais seguros, parece ter havido umas duas ou três Teresas Rossi nesta época. Talvez seja aquela que em 1921 casou com Hermenegildo Scalari.

1118

1119

Borghetti, Vitorino. “O Pai de Ontem, de Hoje e de Sempre”. Pioneiro, 13/08/1977

“Falecimentos”. Jornal do Brasil,

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Bruno Félix foi arquiteto formado na primeira turma do Instituto de Arquitetura da UFRGS,1120 em 1950 abriu uma construtora com Valente Segalla e depois atuou de maneira independente, tendo entre seus projetos a ampliação do Hospital São Paulo em Lagoa Vermelha,1121 e em Caxias a sede da empresa Balanças Dalle Molle. Foi secretário municipal de Obras na gestão Vanin, e durante 20 anos integrou o Conselho Fiscal do Banco do Estado do Rio Grande do Sul.1122 Apaixonado por futebol, foi jogador do Juventude e depois conselheiro do Grêmio de Porto Alegre; trabalhou também na Rádio Caxias e foi considerado por João Garavaglia como...

Bruno Félix Rossi, foto Pioneiro.

“Um dos caxienses mais inteligentes e perspicazes que conheci. Tinha uma memória fotográfica. Tive o prazer de ter longas e memoráveis conversas com ele ao longo dos anos quando aprendi muito sobre a história de Caxias, com destaque para a política e o futebol. [...] Era também um dos melhores analistas políticos da cidade, em época de eleições municipais. Como se tivesse uma bola de cristal, geralmente antecipava o resultado das eleições, antes dos números finais, num tempo em que não havia pesquisas”. 1123 Era sócio em seu escritório de arquitetura Darcy Paulo Rossi, seu irmão, engenheiro civil. Eles foram os responsáveis pelo projeto do Colégio Sacré-Coeur de Marie, cuja estrutura hoje faz parte dos prédios da Universidade de Caxias do Sul, sediando a Reitoria.

Hospital São Paulo em Lagoa Vermelha, foto da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.

1120

Alvarez, Cicero. Palácio da Justiça de Porto Alegre: construção e recuperação da arquitetura moderna em Porto Alegre. Dissertação de Mestrado, UFRGS, 2008 1121 Barbosa, Fidélis Dalcin. “Saúde”. Projeto Passo Fundo, 31/03/1981 1122 “Obituário de quinta-feira”. Pioneiro, 12/08/2012 1123 Garavaglia, João. “Morreu Bruno Rossi”. Gazeta de Caxias, 20/08/2012

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Antigo Colégio Sacré-Coeur, hoje a Reitoria da UCS, projeto de Bruno e Darcy Rossi.

Bruno Félix foi casado com Maria Marina Valsechi e deixou descendência, mas só foi identificado um filho, Rubens Félix, engenheiro, casado com Marion Luiza Onzi, Dama de Caridade, que foram pais pelo menos de dois filhos, Rafael Paolo e Lucas Félix, ambos médicos. Rafael é fisioterapeuta, especialista Traumato-Ortopedia Clínica e Esportiva e mestre em Farmacologia, com vários artigos publicados. Lucasx é especializado em cirurgia do aparelhop digestivo e trabalha no Grupo Hospitalar Conceição e no Hospital São Lucas da PUCRS em Porto Alegre. Também são desta família Régis Francisco Rossi, casado com Maria Eugênica Granzotto, Marília Bergamaschi Rossi Mosmann, atriz e arte terapeuta, provavelmente filha de Yolanda Bergamaschi e irmã de Ricardo Rossi, arquiteto e construtor, Hamilton Mosmann Rodrigues, ator, Marcia Bergamaschi Rossi, casada com Abram Jefferson Figlarz, e Maria Antonia Rossi Bergamaschi, mas seu parentesco não foi bem esclarecido. O outro filho de Teresa e Felice foi f) Donato Mario Rossi, que se destacou na vida caxiense. Foi um dos fundadores em 1901 da Associação dos Comerciantes, o que significa que nesta data já devia ter amealhado um patrimônio expressivo. Em 1912 esteve entre os fundadores do Recreio da Juventude, e no ano seguinte participou da fundação do Esporte Clube Juventude.1124 1125 Em 1916 ganhou a bela importância de dois contos de réis na loteria,1126 e em 1922 ganhou novamente, desta vez um valor menor, de 550$000 réis.1127 Na década de 30 foi citado como “capitalista”1128 e “do alto comércio”,1129 o que significa que estava realmente rico. É possível que tenha ganhado fortuna na produção de vinhos, pois em 1921 estava residindo no Travessão Thompson Flores da 9ª Légua,1130 na zona rural, e em 1934 expôs suas uvas na IV Festa da Uva, ganhando o terceiro prêmio.1131 Mas em 1935 já estava Donato Rossi 1124

Rodrigues, Paulo. “E. C. Juventude: 100 Anos de Paixão”. In: Revista Acontece Sul, 03/06/2013 Recreio da Juventude. Histórico. 1126 “Resultado do 20º Sorteio da Serie Especial”. A Federação, 09/02/1916 1127 “Serie Previsora”. A Federação, 18/04/1922 1128 “Falecimentos”. A Época, 06/11/1938 1129 “Viajantes”. A Federação, 14/12/1934 1130 “Notas forenses”. O Brasil, 01/10/1921 1131 “4ª festa da Uva – Caxias”. O Momento, 08/03/1934 1125

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O Palacete Rossi, onde foram instaladas as repartições da Polícia e do Fórum. Foto Google Maps.

residindo no centro urbano, na avenida Júlio de Castilhos.1132 Deste ano em diante aparecem vários registros seus como produtor de “produtos coloniais” e como dono de um comércio de secos e molhados.1133 Em 1938 construiu um palacete “confortável” e ”moderno” de dois andares onde foram instaladas em 1939 todas as repartições da polícia municipal, e depois o Fórum. A inauguração foi realizada com grandes festas e solenidades, merecendo vários artigos na imprensa da época, tendo seu nome sempre lembrado, louvado pelo “espírito empreendedor que muito tem contribuído para o embelezamento e desenvolvimento de sua terra natal”. 1134 1135 1136 1137 No mesmo ano estava ocupando a Vice-Presidência do Grêmio Atlético Eberle, o time de futebol da metalúrgica de Abramo Eberle. 1138 Donato e sua esposa Hermelinda Costamilan, filha do celebrado Caetano, que será citado mais adiante, foram pais de: f1) Moacyr Felix Rossi, nascido em 17 de julho de 1918, casado em 1948 com Zilá Faustina Lazzarotto,1139 aparentemente advogado. f2) Homero Ruy Rossi, padre, ordenado em 29 de junho de 1954,1140 colaborador de Angelo Ricardo Costamilan na elaboração de seu livro Homens e Mitos na História de Caxias.1141 f3) Zaida Luci Rossi professora, casada com Italo Antonio Corsetti, de família já mencionada antes. A Zero Hora publicou um obituário de Italo descrevendo sua trajetória:

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“A Elaboração da Lei de Meios, de 1936, para os Municípios”. O Momento, 29/08/1935 “Caxias”. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1935-1940 1134 “Centralizados num só prédio todas as repartições da polícia local”. A Época, 05/03/1939 1135 “Com solenidade foram inaugurados ontem os departamentos da Polícia Central desta região”. O Momento, 24/04/1939 1136 “Homenagem ao Chefe da Nação”. O Momento, 05/06/1939 1137 “Casa da Justiça”. O Momento, 03/04/1939 1138 “O Gremio Atlético Eberle”. A Época, 09/04/1939 1139 “Juizo de Casamentos”. O Momento, 28/08/1948 1140 “Rev. Padre Homero Rossi”. A Época, 01/07/1954 1141 Costamilan, op. cit. 1133

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“Italo Antonio Corsetti (1914-17/05/2004). Sócio-fundador da Mecânica Industrial Colar, empresa do setor metalúrgico, Italo Antonio Corsetti, 90 anos, morreu no dia 17 de maio. Corsetti estava internado havia 11 dias no Hospital Medianeira, em Caxias do Sul, e foi vítima de uma leucemia aguda, segundo familiares descoberta durante a internação. “Irmão do ex-ministro das Comunicações do governo do general Emílio Garrastazu Médici, Hygino Corsetti, responsável pela primeira transmissão a cores da TV brasileira, em 1972, e morto há 22 dias, no Rio, e filho de Angelo Corsetti, dono do antigo Moinho Progresso, ele herdou do pai o setor de mecânica da empresa e, em 1949, fundou a Colar. Corsetti ainda participava do quadro societário da empresa, hoje no segmento de elementos de fixação, como rebites e parafusos. Ele foi também membro ativo do antigo Centro das Indústrias Fabris de Caxias e um dos fundadores da entidade que o substituiu, o Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul (Simecs). Seu filho Ênio comenta que foi o pai o responsável pela indicação ao então prefeito da cidade, Mário Ramos, do local de construção dos atuais Pavilhões da Festa da Uva. Corsetti colaborou na construção da Igreja de São Pelegrino, foi patrocinador de um dos quadros da via-sacra, pintados pelo artista italiano Aldo Locatelli, expostos no templo. Também auxiliou na construção do antigo Colégio Sacre Cour, hoje o bloco A da Universidade de Caxias do Sul (UCS), e da Escola Estadual Maria Luiza Rosa, que batizou o auditório com seu nome. “Casado havia 62 anos com Zaida Luci Rossi Corsetti, Italo Corsetti deixou seis filhos, 19 netos e uma bisneta. O corpo está sendo velado na Capela Cristo Redentor, e será enterrado hoje, às 10h, no Cemitério Público Municipal de Caxias”.1142 Além de Ênio, não foi possível identificar os outros filhos de Italo e Zaida, salvo Celso e Mário. Ênio Corsetti, engenheiro e industrial, foi um dos fundadores do Grupo Escoteiro Saint Hilaire.1143 Foi casado com Rita Maria Valls, falecida em 2011, professora, filha de Carlos Maria Valls e Maria Stella Comaru.1144 Celso Corsetti é diretor da Wenmazza Indústria de Válvulas Ltda. Mário Corsetti é sócio-gerente da Marco Metalizações Ltda., uma evolução da antiga Indústria Galvânica Cromar Ltda., fundada em 1964, que operava com banhos rotativos eletrolíticos de zinco, cobre e latão.

1142

“Obituário”. Zero Hora, 18/05/2004 “Programação Semana da Pátria”. O Caxiense, s/d. 1144 “Lista de falecimentos”. Gazeta do Povo, 18/01/2011 1143

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Formatura do curso Científico no Colégio do Carmo em 1964. Celso Rossi Corsetti é o terceiro da esquerda para a direita na terceira fila a partir de trás. Foto Studio Tomazoni, acervo de Alberto Rech. Abaixo, Ênio Rossi Corsetti acendendo a Pira da Pátria em 7 de setembro de 2011. Foto jornal O Caxiense.

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Mário Rossi Corsetti em entrevista na UCS-TV.

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f4) Nadir Rossi veio a casar com Hegínio (Higino) Riquelmo Andreazza, de família já citada, “forte industrialista” em Rio Bonito, Santa Catarina,1145 proprietário da grande empresa Heginio Andreazza S/A Agricultura e Pecuária, sendo pais de: f4a) Hedir Maria Andreazza, casada com Eloir Figueiredo e mãe de Maristela, Stela Marisa e Marilúcia, acionistas da empresa familiar, e Eloir Rogério, que faleceu na infância. f4b) Hélio Antônio Andreazza, nascido em 1941, engenheiro agrônomo, vereador em Lages, Santa Catarina, empresário, secretário da Agricultura de Santa Catarina e homenageado nas comemorações dos 40 anos da fundação da Fecoagro,1146 1147 casado com Marilena Vargas e pai de Mariana, sócia e secretária da Translages S/A; Daniel, diretor-presidente da Translages S/A entre 1993 e 2011, atualmente advogado do escritório Orlandi & Evangelista, e André, concessionário da marca Chevrolet há 22 anos, entre 1994 e 1996 diretor da Associação Brasileira dos Concessionários Chevrolet, diretor regional da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores, coordenador do programa nacional Profissionais de Qualidade, e entre 2003 e 2007 presidente do Sindicato Intermunicipal dos Concessionários e Distribuidores de Veículos –SINCODIV/SC.1148

André Vargas Andreazza, foto do 25º Congresso & Expo da Fenabrave. Abaixo, Nilton Bussi e Maria Inês Andreazza Bussi, foto de Wille Bathke Junior.

f4c) Maria Inês Andreazza, nascida em 19 de julho de 1948 em Lages, radicada em Curitiba, psicóloga especializada em Gerontologia e Psicologia Clínica, colaboradora da Comissão de Gerontologia do Conselho Regional de Psicologia do Paraná,1149 acionista da empresa de Hegínio, casada com Nilton Bussi, nascido em 19 de abril de 1938 em Porto União, Santa Catarina, advogado, Doutor em Direito Público, promotor, professor da antiga Faculdade Estadual de Direito de Londrina, da qual foi um dos fundadores, e da Universidade Federal do Paraná, idealizador e primeiro coordenador do Programa Themis no estado, que busca reintegrar os ex-detentos à sociedade, um dos criadores da Coordenadoria das Promotorias Cíveis e Criminais do Estado do Paraná, e diretor vice-presidente da empresa dos Andreazza, pais de 3 filhas: Luize Cristina, arquiteta, Cristiane, advogada, e Aline Maria, designer.1150

1145

“Enlace Andreazza-Rossi”. O Momento, 04/07/1938 “Sucesso nas comemorações dos 40 anos da Fecoagro”. Notícias Fecoagro, 28/07/2015 1147 “Veja mais uma análise de Luiz Spuldaro”. CLNews, 16/10/2008 1148 “André Vargas Andreazza”. 25º Congresso & Expo da Fenabrave, 15-16/09/2015 1149 Conselho Regional de Psicologia do Paraná. Relatório de Gestão 2007-2010 1150 Bathke Junior, Wille. Nilton Bussi de Campo Mourão - Promotor Divertido, 04/06/2011 1146

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O Cine Teatro Real nos anos 50. Foto de Geremia. Neste cinema em minha juventude assisti muitos filmes, sem saber que pertencia a meus parentes. Hoje no prédio funciona um comércio, e embora seja um grande representante da estética Dèco na cidade, estudado pela Academia, já foi bastante desfigurado. Recentemente Rodrigo Lopes resgatou sua memória no jornal Pioneiro.

f5) Itacyr Romeo Rossi, casado com Marisa Ungaretti, de próspera e tradicional família caxiense, radicados em Porto Alegre, onde Itacyr virou nome de rua. No projeto de lei que atribuiu o nome de Itacyr a uma rua constam suas muitas realizações: “Itacyr Romeo Rossi faleceu em 27 de dezembro de 2010, aos 88 anos de idade, de morte natural. Era cineasta e um dos mais importantes produtores veteranos do Rio Grande do Sul. Teve fundamental importância na carreira cinematográfica do também inesquecível cantor e ator gaúcho Teixeirinha. Foi homem ativo e realizador a vida toda. Durante os anos de atividade comercial, atuou nos três segmentos do mercado de cinema: exibição, distribuição e produção de filmes. [...] “Recém formado, foi convidado a participar da Diretoria da Sociedade de Vinhos Catarinense, em Perdizes, vindo, mais tarde, a atuar na direção de empresa do segmento têxtil, a Tecelagem Aranhol e Loja Aranhol, ambas em Porto Alegre. Retornou a Caxias do Sul para trabalhar junto com seu pai Donato Mario Rossi. Foi assim que, em 1950, a família Rossi inaugurou o Cine Teatro Real. A primeira sessão foi um acontecimento cultural, com a apresentação do filme Eles Preferem as Loiras, estrelado por Marilyn Monroe. Dentro das atividades da inauguração, durante a Festa da Uva, foi apresentada, na íntegra, a ópera La Traviata, de Verdi. “Em 1951, Itacyr fundou, junto com Paulo Jorge, cinegrafista da TV Piratini, a Empresa Cinematográfica Minuano e produziu, então, o seu primeiro documentário, Carnaval da Amizade, registrando para o cinema imagens do carnaval dos clubes de Caxias do Sul. Como havia dificuldade na contratação de filmes para exibição no Cine Real, pois 300

os representantes dos estúdios internacionais davam preferência a empresas que possuíam mais cinemas no estado, Itacyr comprou a Interfilmes, empresa distribuidora de filmes. Essa iniciativa garantiu o acesso a títulos de longa metragem pelo cinema da família Rossi, além de fazer a distribuição de filmes para outros cinemas do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Durante os anos seguintes, a família Rossi ampliou sua atuação no segmento, abrindo casas de exibição nos municípios de Vacaria, Passo Fundo e Erechim, num total de 12 cinemas. “Em 1957, Itacyr se transferiu definitivamente para Porto Alegre, comprou o cinema Oasis e montou uma rede própria de casas de exibição, explorando os cinemas de Farroupilha, Bento Gonçalves e São Marcos. Iniciou, também, as atividades de produção cinematográfica da Interfilmes, cuja produção se baseava em registros de notícias, eventos de relevância política, social e Itacyr Rossi na homenagem em Gramado. Detalhe de foto de Daniela Xu para o ClicRBS. cultural, por meio do Canal 40, e de documentários sobre temas específicos, como a Festa da Uva, a Feiras e Empreendimentos Turísticos, a Festa Nacional do Vinho, o Parque Marechal Osório, entre outros. Na filmografia de Itacyr existe a produção de mais de duzentos curtas, entre documentários e noticiários, e o longa-metragem Motorista sem Limites, estrelado por Teixeirinha, Mary Terezinha, Walter d’Ávila, Ivan Trilha e Jimmy Pipiolo. As músicas apresentadas nesse longa-metragem foram compostas por Teixeirinha, especialmente para a produção. Todos os cenários e as locações utilizados ocorreram no Rio Grande do Sul, em especial, na serra gaúcha. A equipe de produção contava com mais de sessenta pessoas, tendo direção de Milton Barragan, direção de fotografia de Antônio Gonçalves e, como câmeras, Ivan Kzamanski e Edgar Rodrigues. Nos seis meses de filmagens, o orçamento do filme foi estourado, exigindo recursos adicionais. Mas o esforço de Itacyr foi recompensado, pois o filme foi um sucesso de bilheteria. Em apenas três meses, todo o investimento já tinha retornado. Itacyr foi um pioneiro, um desbravador de caminhos e um idealista que também se mostrou pragmático. “Pouco antes de falecer, aos 87 anos, era comum vê-lo dar expediente em seu escritório, para organizar o seu acervo cinematográfico. A cultura e a história de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul muito devem ao seu trabalho denodado e inteligente no campo da exibição, da distribuição e da produção cinematográfica. Entendo que esses são, sem dúvida, motivos mais do que válidos para que Porto Alegre dê a um de seus logradouros o nome Itacyr Rossi”. 1151 Itacyr foi homenageado no 37º Festival de Cinema de Gramado, quando foi instalada uma placa no saguão do Palácio dos Festivais, que guarda a história do evento, 1152 que é um dos mais importantes e tradicionais do Brasil.

1151 1152

Nedel, João Carlos. Projeto de Lei nº 114/11. Câmara Municipal de Porto Alegre Ioschpe, Cláudia. N9VE, 10/08/2009

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Cartazes obtidos em Cinedicas, História do Cinema Brasileiro e Sinopsedofilme.

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3) Maria Paternoster, outra filha de Giacomo e Orsola, casada com Vittorio Fabris (ou Fabbris), foi uma das primeiras professoras da cidade e a primeiríssima a atuar na Sede Dante, em atividade desde 1877,1153 como já se disse. Carlin Fabris acrescentou que ela foi a primeira a ensinar em português, pois “com sua privilegiada inteligência em pouco tempo dominou o vernáculo nacional. Percebia, então, do governo imperial a importância de trinta mil réis”. Carlin prossegue: “Maria empregou-se na casa de Germano Parolini. [...] Continuou a lecionar pela manhã e à tarde trabalhava como costureira. Esta foi a vida de Maria até dezembro de 1887, vindo a contrair núpcias em 1º de novembro de 1888 com Vittorio Fabris na hoje metrópole do vinho. Com a revolução republicana o casal Fabris foi residir em Eduardina, hoje Conceição da Linha Feijó”.1154 Maria acabou sendo uma “faz tudo”, trabalhando até como operária da construção da estrada entre São Sebastião do Caí e Caxias. Faleceu em 25 de fevereiro de 1944, dando nome a uma rua e uma escola.1155 1156 Vittorio, por sua vez, nasceu em 30 de junho de 1859 em Valli del Pasubio, Vicenza. O antigo solar da família era um enorme casarão de sete andares com o porte de um castelo, embora rústico e despojado de ornamentos, e é uma lástima que hoje esteja arruinado. Ao que parece os Fabris fizeram parte do patriciado vicentino. Vittorio foi outro “faz tudo”, e segundo narra Costamilan, foi “um homem que espalhou beleza e poesia no perdido rincão em que plantou raízes, a saudosa São Vigílio da 2ª Légua”. Ver nota 1157 Tornou-se figura notória na comunidade da qual foi um dos fundadores junto com a esposa, onde também participaram da fundação da capela local, sendo hoje nome de rua.1158 1159

Ferreiro de profissão, iniciou suas atividades trabalhando na construção da estrada ao lado da esposa, depois foi premiado em várias exposições por sua produção de ferramentas agrícolas. Estabeleceu-se na 2ª Légua, em 1890. Teve cinco filhos, Carlos, José, João, Ursulina e Assunta, e faleceu poucos meses depois da esposa, em 22 de abril do mesmo ano, sendo ambos sepultados o cemitério de Galópolis.1160

1153

Adami (1981), op. cit. Fabris, op. cit. 1155 Gardelin & Costa, op. cit. 1156 Adami (1950), op. cit. 1157 São Vigílio, Loreto e Conceição são comunidades vizinhas na 2ª Légua e os nomes às vezes se confundem. 1158 Costamilan, op. cit. 1159 Fabris, Carlin & De Boni, Luis (org.). “História de Conceição”. In: La Mérica. EST/UCS, 1977 1160 “Conquistarsi con un maglio un pezzetto di storia”. Veneti nel Mondo, 2002 1154

Vittorio Fabris e Maria Paternoster. Abaixo, o antigo solar dos Fabris em Vicenza. Fotos de Ricardo Fabris de Abreu.

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Marcados na foto estão Maria Paternoster e Vittorio Fabris, na festa de suas Bodas de Ouro em 1936. Carlin Fabris, seu filho, é o primeiro à esquerda, na filha da frente. Foto de Ricardo Fabris de Abreu, seu tataraneto. Abaixo, diploma de medalha de prata recebido por Vittorio Fabris em uma exposição em Porto Alegre em 1925. Foto de Veneti nel Mondo. À direita, a Capela de Nossa Senhora da Conceição na Linha Feijó, que fundou com seus companheiros pioneiros. Esta é a segunda capela, que substituiu a primitiva em madeira, na qual também ajudou. Foto de Carcamano em Panoramio.

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Costamilan recorda mais sobre o personagem: “Só quem o conheceu pode saber do quanto este imigrante era capaz, pois até carabina de precisão ele fabricava em sua ferraria. Quando não estivesse trabalhando, era encontrado invariavelmente lendo, desde Voltaire até a evolução das espécies ou a origem das galáxias, graças ao que podia-se conversar com ele sobre qualquer assunto. Seu filho Carlos, por todos chamado Carlin Fabris, seguiu-lhe os passos e tornou-se um renomado historiador, e é sempre com uma grande nostalgia que olhamos para aquele trecho do caminho, em nossas idas a Loreto, ao relembrarmos que ali um dia houve vida, vibrante e cheia de encantamento, que um homem simples e inteligente soube criar. Um velho paredão de pedras, quase oculto pela mata que tudo invadiu, é só o que resta a lembrar que naquele ermo um dia moraram Maria e Vittorio, junto a um córrego acanhado e que ainda hoje quebra o silêncio daquele recanto, com sua perene mensagem de paz, o mesmo de que este artífice emérito se valia para mover as máquinas que seu gênio criara. É preciso reconhecer que ele foi por todos os motivos um homem incomum, que disse a que veio, e bem dito, e que devia ser sempre lembrado como um modelo a ser seguido pelas novas gerações que habitam as pioneiras Léguas”. Vittorio e Teresa tiveram os seguintes filhos: a) Assunta Fabris, nasceu em 8 de julho de 1903 e faleceu em 17 de outubro de 1987. Foi casada com Jorge João Mezzomo, filho de Giovanni Giorgio Mezzomo e Giacomina Casagrande, nascido em 6 de maio de 1905 e morto em 5 de novembro de 1958, hoje nome de rua. Viveram em Ana Rech. Tiveram os filhos: a1) Uma filha, casada com um Ferreira dos Passos. Na sua descendência aparece Fábio dos Passos Teixeira, de cujo website retirei informações e fotos. a2) Clóvis Victorio Mezzomo, nascido em Caxias e criado em Estância Velha, onde trabalhou desde pequeno, 1161 depois jornalista e consultor de negócios na empresa dos filhos, a Mezzomo Advogados, no Rio. É pai de Adriano e Rodrigo. a2a) Adriano Mezzomo é advogado especialista em Direito Empresarial, sócio-diretor da Mezzomo Advogados, foi candidato a conselheiro federal da OAB na chapa de Leandro Mello Frota,1162 1º secretário do Clube dos Advogados do Estado do Rio de Janeiro,1163 advogado do grupo empresarial de Eike Batista e líder de uma associação de acionistas minoritários do grupo que cobrou do empresário explicações quando começou sua derrocada e pretendeu bloquear seus bens para obter compensações pelos prejuízos,1164 1165 é membro efetivo do Instituto dos Advogados Brasileiros,1166 e autor do livro O Mercado de Balcão Organizado. É casado com Francis Egydio, proprietária do Espaço Vida Saudável no Rio.

Adriano Mezzomo, foto de Adriano.

1161

“Pedido no STF que Lula se explique sobre gente branca de olhos azuis”. Espaço Vital, 10/04/2009 Eleições OAB 2015. 1163 Clube dos Advogados do Estado do Rio de Janeiro. Diretoria. 1164 “CVM apura mais de 15 casos envolvendo empresas de Eike Batista”. O Globo, 18/07/2017 1165 “Minoritários querem bloquear bens de Eike”. O Estado de São Paulo, 21/07/2013 1166 Instituto dos Advogados Brasileiros. Associados. 1162

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a2b) Rodrigo Mezzomo é também advogado e sócio da Mezzomo Advogados, foi précandidato a prefeito do Rio em 2016 pelo Partido Novo1167 e candidato a deputado federal com uma campanha de defesa da liberdade individual e econômica, da propriedade privada, da meritocracia, do livre mercado e da liberdade de imprensa,1168 é colaborador de jornais e professor de Processo Civil e Direito Empresarial na Universidade Makenzie.1169 Considerado por Rodrigo Constantino “um verdadeiro liberal”, segundo o Boletim da Liberdade Rodrigo é “líder do movimento Endireita Rio e está certamente entre as 25 personalidades mais influentes da nova direita do país”.1170 a3) Lodovina Therezinha Mezzomo, que ao falecer em 2014 recebeu um voto de pesar da Câmara Municipal,1171 casada com Irineu Sandri Brambilla. Tiveram duas filhas: Anita Maria Brambilla, casada com Rafael Nora e mãe do ciclista Rafael Nora Jr., e outra casada com um Luchese (Arthur ?). Geisa Luchese, modelo fotográfico, pode ser sua filha. a4) Clari ou Clarice, casada em 1946 em Estância Velha com Willy Metz, nascido em 4 de agosto de 1917 em Estância Velha, filho do agricultor Eduard Metz e Florentine Weimer, descendentes das primeiras famílias evangélicas do lugar.1172 Tiveram cinco crianças: um filho chamado Renésio, outro Mainar, político do PDT em Estância Velha, uma filha casada com Samuel Altenhofer Jr, e mais duas de quem nada encontrei. a5) Clayr Mezzomo, pai de Claudete, gerente administrativa do antigo Banco Maisonnave e hoje consultora de arte e sócia da Cubo Galeria de Arte Contemporânea em Caxias,1173 casada com Euclides Matias e mãe de Leonardo e Luciano. Leonardo é bacharel em Biologia e licenciado em Ecologia, e é fundador e diretor administrativo da Biometria Consultoria e Projetos, especializada em gerenciamento ambiental, manejo de resíduos, e licenciamento, implantação e desenvolvimento de projetos para geração de energia eólica, hídrica e fotovoltaica nas regiões Sul e Nordeste do Brasil.1174 É parceiro de Franciani Barddal, farmacêutica, e tem uma filha.

Lodovina Mezzomo Brambilla e Clari Mezzomo Metz. Coleção de Fábio Passos Teixeira.

1167

Freire, Quintino Gomes. “Rodrigo Mezzomo lança pré-candidatura a prefeito do Rio pelo Partido Novo”. Diário do Rio, 11/01/2016 1168 Brasil, Felipe Moura. “Bolsonaro conversa e muda má impressão de estudante: ‘Ele está longe de ser o monstro que a mídia desenha’. Deputado federal foi o mais votado do Rio de Janeiro”. Veja, 12/02/2017 1169 Instituto Millenium. Rodrigo Mezzomo. 1170 “Exclusivo: Mezzomo diz ao Boletim que pode ir à Corte Interamericana de Justiça pelo direito da candidatura independente”. Boletim da Liberdade, 05/03/2017 1171 Câmara Municipal de Caxias do Sul. 153ª Sessão Ordinária da XVI Legislatura, 25/03/2014 1172 Farias, Suzana de. Primeiras Famílias Evangélicas de Estância Velha, tomo I, 1998 1173 Lato Sensu Assessoria de Comunicação. “Inaugura neste sábado nova galeria de artes, em Caxias do Sul”. Olá Serra Gaúcha, 05/05/2017 1174 “SEBRAE/RS lança Programa Energia Mais”. Arranjo Produtivo Local Metalmecânico e Automotivo da Serra Gaúcha, 25/01/2016

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Euclides Matias e a esposa Claudete Mezzomo entre os filhos Luciano e Leonardo Matias. Foto de Claudete.

b) Ursulina Fabris, casada com um Furlan, sem geração. c) João Fabris, mais conhecido como Beppi, casado e com pelo menos uma filha. Parece ter havido mais de um João Fabris nesta época. Um João casou em 1918 com Emília Maria Randon 1175 e outro com Ignez Viana Ahrends em 1938,1176 podem ser o mesmo. Um terceiro casou com Cláudia Kolling em 1948.1177 Não seria impossível que ele tivesse casado três vezes, mas o caso fica em aberto. d) De José Fabris só foi possível descobrir que em 1934 estava alistado no cadastro eleitoral.

Beppi Fabris. Coleção de Fábio Passos Teixeira.

1175

“Juízo de Casamentos”. O Brazil, 12/10/1918 “Juízo de Casamentos”. O Momento, 06/06/1938 1177 “Sociais”. O Momento, 31/01/1948 1176

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e) Carlos Fabris, nascido em 25 de julho de 1889 e falecido em 28 de maio de 1976, mais conhecido como Carlin, morou em Conceição muitos anos e depois mudou-se para Galópolis. Foi casado com Augusta Rossato (Rosatto). Sua crônica histórica, escrita para comemorar o 50º aniversário da criação do curato de Nossa Senhora da Conceição, que tinha jurisdição sobre a Capela de São Vigílio, é toda original, captando o falar rude e espontâneo do colono, onde ainda se ouvem ecos de um italiano que ficava cada dia mais longínquo,1178 e já mereceu atenção de insignes acadêmicos como Luiz de Boni, que disse o seguinte: “Em 44 páginas de um caderno, Carlin Fabris, um colono de rica personalidade, escreveu a história da Paróquia de Conceição. Tendo conhecido o povoado desde o começo, seu testemunho é valioso sob os mais diferentes aspectos. Vários acontecimentos são por ele narrados com fidelidade; uma linguagem que obriga a gente a simplesmente transcrevê-la, tal a mistura entre dialeto do italiano e português; é um documento ímpar a respeito da formação de uma comunidade na zona de imigração italiana. Trata-se também de uma obra de um semi-letrado e que, por isso, deve ser lida com a consideração que merece um documento provindo diretamente de uma fonte popular. Considerando a intenção do autor de contar os fatos assim como os interpreta pelo seu ângulo de vista, o texto é publicado na íntegra, mesmo quando certas passagens falam em parte em desabono de algumas pessoas. O fator subjetivo influi muito na obra de C. Fabris que julga fatos e pessoas em vista dos interesses da formação da paróquia de Conceição, levando-o mesmo a um juízo um tanto desfavorável a respeito dos padres Carmine Fasulo e João Meneguzzi, de quem a maioria das pessoas e dos escritos conservam as melhores referências”.1179 Vale transcrever alguns trechos para desfrutarmos do sabor de sua narrativa: “Tornamos uns passos atrás para começa a Historia como se formou o povoado de Edoardina e a construção da nossa Igreja, era em 1888 quando o nosso vizinho povoado hoje S. Marco de Linha Feijó organisou-se para construir uma Igreja, como que era tudo Veneto era para dar o nome de S. Marco, o Padroeiro de Veneza. Em Agosto do mesmo ano se reuniu para tratar do assunto todos disposto, esta reunião era composta com a cabeça do Srs. Paolo Rosatto, Antonio Rosatto, Vittorio Rosatto, Marcelo Rosatto, Piero Facchin, Angelo Facchin, Luigi Facchin, Isidoro Facchin, Marco Vencato, Antonio Vencato, Francesco Vencato, estes três o ultimo era conhecido com o nome de i Balarini e por ultimo que fazia parte da reunião Nane Lora. Ouve um debate nesta reunião, parte queria a construção de pedra e parte de madeira especialmente Nane Lora que conhecia bem este serviço porque ele tinha na Italia Valdagno, como que era fino artista tinha trabalhado naquela Igreja e ele queria imitar a mesma por fim que ganhou foi da construção de Pedra. Em vista disso, Nane Lora fizera a parte de Pilatos se lavou as mão e se retirou dizendo que ele construirá uma Igreja de Madeira seja lá onde for. Não perde tempo este intrépido Nane Lora, dirigiuse imediatamente em casa do Sr. Angelo Penacio que morava no povoado de Edoardina com uma pequena casa de negocio e era vendedor dos lote desta futura vila e explicou o que aconteceu na dita reunião acima mencionada. Angelo Penacio muito se interessou, mandou reunir este punhado de povo que todo se mostrou disposto oferecendo os seus braço e esforços para que se levantasse o Templo de Deus. Eis prezado leitor como aconteceu e surgiu este povoado de Edoardina. Era o dia 28 de Outubro 1888 mesmo o dia que tinha acabada a reforma do moinho de Andrea Penacio e era para fazer la Vandéga (Inauguração) e Penacio aproveitou aquela 1178

1179

Barbosa, Fidélis Dalcin. São Vigílio da Segunda Légua – Cem Anos de História. EST /UCS, 1980 De Boni, in Fabris & De Boni, op. cit.

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A família de Carlin Fabris e Augusta Rossato. De pé: Vittorio, Dolores, Benito, Gemma, Getúlio, Helena. Sentados: Evaristo, Augusta, Carlin e Josefina.

oportunidade para convidar todo o povo para festejar esta nova reforma e tratar da construção da Igreja, ali mesmo quando chegou a Água que mete o rodão em movimento com grande alegria e cântico fizeram a segundo reunião, todo respondeu que estava disposto custe o que custar e assim com Angelo Penacio e Nane Lora à cabeça começou a Obra. Assim o Sr Angelo Penacio encarregou-se de ir falar com o Conde Feijó era este considerado pelo nossos emigrante como Conde mas o seu verdadeiro nome era Diego Apio Feijó, e Angelo Penacio foi atendido o Sr. prometeu que vinha ele e a sua Senhora para tratar do assunto. De fato depois de poucos tempo com o povo unido em Casa do Sr Penacio veio cumprir a sua promessa e que foi aceitado com grande alegria de todos os presente e tudo foi decidido neste dia. Nane Lora encarregou-se da Obra em primeiro o Sr. Nane Lora ofereceu a madeira que existia no seu lote toda madeira de Lei como Cedro, Canjerana e outra madeira necessária, o povo começou derrubar e serrar as tábuas barrote (le filorole) que conforme era serrada era levada ao lugar da construção nas costa ou arrastada por animais, Santo Braco que el gera umoleron el gue tocava cuatro tole tocá ala guingaia de la so cavala e dopo el montava suso porque el disea que lú el gera straco e invese el gera furbo, e assim continuo este laborioso povo, desmatando fazendo roça empromtamdo para depois vender o produto para comprar o que era necesario para terminar a dita construcão. Em vista de opinião para construir esta duas Igreja formouse a inimisade entre os de S. Marco e Edoardina que veio ter o nome de S. Marco dela Forca, e Paese dela Grosta porque defato cuei dela Edoardina le gera lesque cuando que i venhea a incomodare, especialmente cuei Cuarnhenta, come Picioci Penaci Batiston Castaldei Meloti etc. le gera slenhade e sassade que gue tocava torsela pela pi curta e acin continuou por diversos anos. “Cuando era presiso faser uma derubada n'uma Familia todos coria para ajudar, acin aquela Familia que tinha gastar 15 dia fasia n'un só dia e acim por diante. Não tinha Medico tão pouco Elevatrice (Parteira) o unico Medico era Nane Lera o home do salasseto (sangria). La Levatrice, ou a Partera era uma ou outa. Poren dentro de toda a dificoldade e sacrificio os cantico e alegria imperiava dentro do seo umilde Lar, La Bela violeta, II Massolin di Fiori, Isabela, e outros cantico que não me lembo, especialmete 310

cuacuando catavo a Familia de i Castaldei i Pirani i Canutí e i Schioti la gera una vera alegria in cuel'epoca. [...] “Continuamo con a Istoria. Como disse a alegria os cantico a irmandade a semplicidade a fieldade e a Religião reinava em todos os lar não tinha Familia que não tivese o S. Rosario trasido da sua longinca Patria natal e que não o recitasse. Mas tamben esistia alguma Armonica porque disia que a alegria é a ipnotisadora da Alma. Nane Lora continuava à cabeça con a cunstrução da Igreja acompanhado do povo e que vinha se adiantando con rapidez. Nane Lora ficava meses sen visitar a Familia so ocupado na sua tarefa, o povo d'aqui ia la em casa d'ele e fasialhe a roça para sustento de sua Familia. Costumava aquela gente que cada construção que surgia n'uma outra Familia de faser la Vandéga (Inauguração). [...] “Tornemo no caso do nosso povo. Catolico Apostolico Romano não faltava de ir assisti à S. Missa esta umilde jente, não se tinha esquesido o seo tradicional sistema Religioso da Italia embora afastado 10 Kilometro da Vila de Caxias não deixava de ir apé ou a cavalo quen tinha pelo meno uma vez ao mez isto é como os nosso primeiro Emigrante no seu primitivo tempo pasó. “Entretanto o serviço de para levantar a sua Igreja e progredir o povoado. Gigio Scápolo por divergencia inhorada vendeo o seo lote ao Sr. Bepo Nadal e sumiu-se sem saber mai nada do seo paradisso. Em vista do Progress que aumentava mes por mes e o nome d'esta tal Edoardina comessou a vir novos emigrante sendo que em 1889 Bepo Nadal acima menssionado, em 1890 Vittorio Fabris que veio trabaliar como Fereiro em casa de Penacio Cristão Randon e seo Irmão Angelo que muito ajudó na construção da Igreja, em 1891 mais familia chegou a de Giovani Lain, de 1892 mais familia sendo Bernardo Luca e Catarin Tonieto, e mesmo ano Valentin e Luiz Boneto mais tarde a Familia de Domingo Frizzo, Francisco Zanoto, João Batista Canuto José e Antonio Roso, Giacomo e Angelo Dale Mole e Familia Nichele e Pietro Bolli, em 1893 Pietro e Giocondo Serafini, João Celeste e Jose Rufato, Batista Dani, Familia Soga, Familia Zucoloto, Celeste Munaroto, Luiz e José Silvestri em 1894 Francisco Preto apelidado Rosso Paleta, Caetano Poloni, João Coltro (Nanei). Mais tarde que não tenho a epoca, Demetrio Dana, Paolo Rufatto, Batista Perosa, Luiz Chiapin, Siussiato, João Caregnato, Piero Muraro, Rodolfo Pelizzari, por ultimo que tenho na memoria Jose e Luiz Dozzin (i tosi dela Vedova), Domingo Zattera (Menegueto Mondo). “Entretanto os primitivo continuava sen tregua na construção da Igreja. Era o mez de Novembro de 1891 cuando que estava cuasi terminada faltavalhe algun retoque. Forão eleita uma comição para ir tratar con P. D. Andrea Walter diretor dos Palotino em Caxias para a Benção da Igreja. O P. Walter que muito se interesó e recebeo a dita comição con carinho, congratulando-se disendolhe que não pensava que assim pouco tempo tivesse terminado esta obra e prometeo que o dia 8 de Dezembro andava um Padre para dar a Bença da Igreja e a Imagens, o povo trató de prepar-se por este grande dia de festa defato o dia 8 veio o P. D. Carmine Fasulo que foi aceito con grande jubilo pela comição e o povo acin esta festa durou 3 dia. “A Comição dos festejo aproveitó esta oportunidade para faser o pedido ao Redo. P. se pudece servir esta nova Capela uma vez ao mez con uma S. Missa Confessar Comugar afinal o que era nessario nas nossa Santa Religião ele disse que será difissel pelo muito serviço que tinha, mas garantio que de treis en treis meses vinha celebrar uma ou duas S. Missa. E acim a Edoardina comessó uma nova Vida que durou mais dois ano. [...] 311

“O povo comesso a desorganisar-se e que veio formar-se em dois partido, um partido queria comprar o Sino e a construção do campanário e o outo a construção da Escola assim mesmo con esta divergencia não foi mal porque surgio mais duas construção em Edoardira. Veio o Sino de P. Alegre, construio a Tore quem impresto o dinheiro pela compra do Sino foi Demetrio Dana faltava que viesse o P. para dar a Benção, o P. Fasulo respondeo que ele vinha basta que dessida a data. Eo não tenho na memoria a data mas forão decedida às 8 hora d'aquel dia ele estaria alí a disposição de todos. O Povo se preparó todo por esta grande festa veio o dia, a 7 hora todo estava reonido, veo as 8 nada, pas as 8 1/2 nada. Veio as 9 nada, das 9 as 10 nada. O povo comessó a faser comentario mas paciencia quen sabe la o que aconteceo, afinal que veo 1/2 dia e nada de Padre, em visto d'isto o povo comessó a incomodar-se queria ir a Caxias para ver porque motivo que ele fes esta parte, mas depois calmou-se e as duas hora da tarde todo unido forão na Igreja fiserão a fução embora sen Padre tocando o Sino e disendo Sonemo le Campane e nó i Sacri Bronsi, e assin continuo a festa que sertamente se pode calcular que de boas não saio disendo que não era Padre porque un padre não deve agir acin e outra tantas, e negou-se de pagar a taxa que devia pagar anualmente e assim acabou o festa”. [Esta se tornou a Capela de Nossa Senhora da Conceição de Linha Feijó, no início do século XX substituída por uma edificação de alvenaria e hoje Matriz]

Abaixo, Carlin aparece à direita da carroça, em pé, no chão. Evaristo Fabris é o menino que segura a bandeira, na carroça. Desfile da Festa da Uva de 312 1950. Fotos de Ricardo Fabris de Abreu, bisneto de Carlin.

Carlin também foi industrial ferreiro, delegado da Ação Integralista Brasileira junto ao juiz eleitoral de Caxias,1180 conselheiro do Patronato Imaculada Conceição, uma sociedade católica ligada à capela que tinha como objetivos guardar e promover a fé e a moral cristã e a educação cívica, sob o lema do venerável Leonardo Murialdo: Oração – Instrução – Recreio, e um dos fundadores1181 e diretor da Biblioteca Rural Dr. Alceu Barbedo, sendo figura de grande destaque em sua comunidade, hoje nome de uma escola em Conceição da Linha Feijó. Seus filhos foram Vitório, Dolores, Benito, Gema, Getúlio, Helena, Evaristo e Josefina. Josefina casou-se com Henrique Varici, Varece, Guarese ou Guarece, sendo pais pelo menos de Guido José, nascido em 27 de março de 1915 e agricultor, residente na 7ª Légua. Josefina ainda estava viva em 1935. Seu nome foi muito deturpado nos registros, aparecendo até como Jusefa Fuba Guarece. Salvo sobre o ramo de Evaristo, nada mais descobri sobre a descendência de Carlin, que desaparece inteiramente dos registros públicos.

Carlin Fabris, ao centro, com os padres e grupo da Capela de Conceição. Foto e recorte de jornal da coleção de Ricardo Fabris de Abreu.

1180 1181

Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul. Certidão, 17/09/1935 “Notícias de Conceição”. O Momento, 16/10/1948

313

314 Coleção de Ricardo Fabris de Abreu

315 Coleção de Ricardo Fabris de Abreu

Evaristo Fabris com sua mulher Armelinda dal Bosco e suas filhas Carmen, Lourdes e Mirtes. Coleção de Ricardo Fabris de Abreu. .

Evaristo Fabris, filho de Carlin, nascido em 11 de agosto de 1916, seguiu a tradição de ferreiro do avô Vittorio e do pai, e depois se especializou em mecânica de automóveis, montando uma empresa em Galópolis e abrindo postos de gasolina. Em 1948 fez um discurso na inauguração da estrada de Conceição, esperada há meio século pela comunidade, numa “eloquente demonstração da importância desta estrada”.1182 Casado com Armelinda dal Bosco, teve as filhas Lourdes, que foi freira, Carmen e Mirtes.

Chaveiros de brinde do posto de Evaristo. Coleção de Ricardo Fabris de Abreu. 1182

“Inauguração da Estrada da Conceição Esperada a Meio Seculo”. Pioneiro, 28/02/1948

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Carmen, advogada, em sua juventude desfilou no carro alegórico da Vinícola João Comerlato & Cia. Ltda. na Festa da Uva de 19581183 e foi madrinha do Grupo de Bolão Explosivo, de Galópolis, e como tal foi o centro de uma matéria de Rodrigo Lopes no Pioneiro.1184 Casou-se com Affonso Borges de Abreu, presidente da Central de Associações Comunitárias, entidade declarada de utilidade pública,1185 e teve o filho Ricardo Fabris de Abreu. Nascido em 3 de maio de 1962, Ricardo é advogado e diretor da 5ª Vara do Trabalho de Caxias,1186 homenageado pelo Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região quando completou 30 anos de profissão.1187 É esgrimista, já participou de competições internacionais e conquistou o 3º lugar no Sulamericano de Montevidéu de 2012 na categoria Pré-Veterano. É filiado à Federazione Italiana Scherma e representou a Itália na categoria Master no Torneio Interpatagônico de Ushuaia, onde obteve o 1º lugar em sabre Veterano Individual e o 3º na categoria Equipes, além de um prêmio de reconhecimento ao clube italiano que ele integra, sendo o 25º colocado no ranking do circuito Master Italiano.1188 1189 1190 Tem interesse pelo patrimônio histórico e tem sido um grande defensor do tombamento do prédio da Metalúrgica Eberle na rua Plácido de Castro. Tem aparecido em várias matérias da imprensa relativas a este assunto polêmico, como a que segue:

Carmen Fabris como madrinha do Grupo de Bolão Explosivo. Abaixo, Carmen dançando no baile da escolha da madrinha com seu futuro marido Affonso Borges de Abreu. Coleção de Ricardo Fabris de Abreu.

“Entusiasta da preservação e um grande espectador do futuro do prédio da Maesa, o advogado e servidor público Ricardo Fabris de Abreu acredita que falta vontade política para fazer o complexo da Maesa, de fato, um patrimônio de Caxias. Segundo ele, que protocolou em 2011 um pedido de tombamento via Legislativo, o processo também poderia partir da Câmara de Vereadores.

1183

Lopes, Rodrigo. “Vinhos Pranzo, de Galópolis, em 1958”. Pioneiro, 09/06/2015 Lopes, Rodrigo. “Escolha da madrinha do Grupo de Bolão Explosivo, de Galópolis, em 1959”. Pioneiro, 24/11/2015 1185 Câmara Municipal de Caxias do Sul. Projeto de Lei nº PL-120/2010 1186 “Os direitos dos trabalhadores da Voges precisam ser garantidos”. Sindicato dos trabalhadores metalúrgicos de Caxias do Sul e região, 24/11/2014 1187 “TRT4 homenageia servidores que completaram 10, 20 e 30 anos de trabalho na Instituição”. Fábio Barrichello Notícias, s/d. 1188 “CURTAS: Futebol 7, Esgrima, Vôlei e Downhill”. Esportes na Serra Gaúcha, 31/05/2013 1189 Pilita, João. “Touché”. Pioneiro, 10/01/2013 1190 Hunoff, Samantha. “Gládios”. Gramado Magazine, 29/08/2012 1184

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— Na minha opinião, não querem tombar e só querem transformar aquilo em dinheiro. Estão fazendo toda essa movimentação para dar a impressão política de que há interesse e depois justificar porque não tombaram. Desde o começo se fala em indenização, mas só se indeniza quando se desapropria. A Maesa já é um bem público, é do Estado. Para o tombamento basta uma decisão do prefeito — criticou Abreu”. 1191

Ricardo Fabris de Abreu. Na foto ao lado, ele está à direita, competindo em esgrima em Roma. Fotos de Ricardo.

1191

Britto, Jessica. “Maesa, o presente que Caxias do Sul espera”. Pioneiro, 19/06/2014

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Mirtes aposentou-se no Banco do Brasil e é colunista e diretora comercial e administrativa da revista Acontece Sul, fundada por seu marido, membro da Diretoria de Cultura da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul,1192 e foi homenageada pelo Conselho da Empresária da CIC no 10º Encontro da Mulher Empreendedora.1193 É casada com Paulo Rodrigues, sobrinho-bisneto de meu avô Antônio Frantz, que vai ser abordado mais tarde. Eles têm o filho Marcelo, nascido em 3 de setembro de 1977, que estudou Odontologia, é colunista da revista e participa com o pai da produção e apresentação do programa Carros & Cia, que está no ar há mais de 20 anos na TV Caxias e na Rádio Caxias, circulando também como um suplemento da revista, bem como do programa de debates esportivos Zona do Agrião, também na TV Caxias.1194 Paulo, Mirtes e Marcelo Rodrigues. Foto de Mirtes.

Vários outros grupos de Fabris chegaram a Caxias nos primeiros tempos, mas não procedem da região de Vittorio,1195 e ao que parece não são aparentados. Por fim, dos filhos de Giacomo e Orsola também se destacou 4) Giovanni Battista (Giambattista) Celestino Paternoster, apelidado Tita, e conhecido no Brasil como João Paternoster, nascido em Vigo em 4 de agosto de 1858, que foi meu bisavô. Logo após ajudar o pai na contrução da sua casa e escola, passou a trabalhar como ajudante do major Augusto de Miranda, então chefe da Diretoria de Terras e Colonização. Mas parece que tinha o dom de atrair e causar confusão. Um dos seus primeiros registros na cidade, em 4 de outubro de 1877, já o mostra envolvido em uma tragédia, estando num baile na casa dos Biondi a dançar com a jovem polonesa Ana Scharneski, que acabou morta em seus braços com um tiro nas costas, junto com outros frequentadores do baile, durante uma briga arranjada por soldados desordeiros, 1196 e mesmo não tendo culpa no episódio, envolver-se em briga com tal repercussão pode ter revertido em demérito de sua imagem. Além disso, enamorou-se de Maria Sartori, que correspondeu ao seu interesse, mas ao mesmo tempo ela era cortejada pelo rico barão Schlabendorff, como já foi mencionado. O barão acabou vencendo a disputa por influência do pai de Maria, Salvador, que não via João com bons olhos. Sua filha Graciema disse que ele tinha um bandônio (acordeão), com o qual “deixou todo mundo louco aqui em Caxias. Então, meus avós não queriam que minha mãe namorasse ele, porque ele fazia farra dia e noite com aquele bandônio. Ele fazia uma revolução aqui em Caxias. [...] Ele era da folia, imagina com bandônio”.1197 Não bastando, por causa de seu comportamento rebelde, vagabundo, desordeiro e irreverente, acabou por ser expulso da colônia em 1880, pelo prazo de um ano.1198 1199 1192

“Prefeitura apoia Mês da Cultura na CIC”. Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Caxias do Sul, 09/09/2009 “10º Encontro da Mulher Empreendedora mostra quatro histórias de sucesso”. CIC-Caxias, 28/03/2013 1194 “Zona do Agrião estreia na tv comunitária e Debate Esporte muda de canal em Caxias do Sul”. Papo de Gringo, 24/01/2012 1195 Gardelin & Costa, op. cit. 1196 Kirst, Marcos. “Ecos do Passado - Raio-x dos primeiros empreendedores”. Revista Acontece Sul, 30/08/2013 1197 Pieruccini & AHM, op. cit. 1198 Corrêa, Marcelo Armellini. Dos Alpes do Tirol à Serra Gaúcha: a questão da identidade dos imigrantes trentinos no Rio Grande do Sul (1875-1918). Dissertação de Mestrado. UNISINOS, 2014 1193

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Porém, isso contrasta com o atestado de “ótima conduta moral e política superior” fornecido pela autoridade de Vigo, e outro assinado pelo capitão do navio em que a família viajara. Mais do que isso, o atestado de Vigo, mostrado abaixo, diz que ele já havia ficado famoso em sua terra como moleiro e padeiro, e o do capitão diz que ele trabalhou como padeiro e confeiteiro na viagem.

Atestado de boa conduta e proficiência como moleiro e padeiro fornecido a João Paternoster pelo capocomune de Vigo. Coleção de Dóris Paternoster.

1199

Costamilan, op. cit.

320

Atestado de boa conduta e proficiência como confeiteiro fornecido a João Paternoster pelo capitão A. Guegan do vapor San Martin. Coleção de Dóris Paternoster.

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Seja como for, ele efetivamente deixou a colônia e foi trabalhar no centro do estado e no Prata (Costamilan diz Argentina, e Graciema, Uruguai), onde reuniu capital. Depois fixou-se em Cruz Alta, onde abriu uma padaria. Segundo Costamilan, João voltou a Caxias ao saber da morte do barão, ocorrida em 5 de março de 1889, o que lhe abriu o caminho para conquistar Maria. Contudo, esta versão não é correta, Costamilan fala inclusive em presságios, e a história tem tudo para ser puro folclore. Ele de fato retornou mais de dois anos antes, uma vez que foi um dos fundadores da Sociedade Príncipe de Nápoles,1200 criada em 1º de janeiro de 1887. Na verdade, não é possível garantir nem que tenha caído de amores por Maria antes da sua expulsão da colônia em 1880, já que os Sartori chegaram somente em 1879 e se fixaram primeiro na zona rural. De qualquer forma, ele acabou mesmo casando com Maria em 9 de julho de 1890. Através da esposa João herdou as terras, o curtume e a selaria do barão, sendo atestado como proprietário no Livro de Registro de Imposto sobre Indústrias e Profissões de 1895. Possivelmente nesta época abriu outra padaria. Disse Marcos Kirst: “Pão quentinho e do dia podia ser adquirido na Padaria de João Batista Pasternoster, a primeira de Caxias do Sul, situada na rua Grande (mais tarde, avenida Júlio de Castilhos) em frente ao atual Hospital Pompeia. Pasternoster produzia o pão em um forno construído especialmente para ele por Félix Laner e vendia toda a produção a 200 réis o quilo”.1201

Participação de casamento de João e Maria, coleção de Marisa Frantz Panceri.

Mas a convivência do casal aparentemente não foi fácil. Maria havia sido tratada pelo barão, como disse Costamilan, como uma rainha, e não por acaso seu pai Salvador se opusera à união dela com João, pois percebera uma grande diferença de gênios e hábitos de vida: “Ela sequer poderia imaginar, em meio a tanto otimismo, que pagaria um preço bem alto por seu gesto, pois em verdade iria ter que assistir, impassível, à dilapidação de quase toda a sua imensa fortuna, e pior que isso, estaria abreviando o fim de seus dias. [...] A partir de seu casamento com João Paternoster, naquele longínquo 1890, começou, para Maria, uma vida nova e bem oposta àquela a que estivera habituada, em que todos os seus caprichos e desejos eram satisfeitos. João, apesar de ter boa cultura, era avesso a formalismos e etiquetas, por vezes rude em seu modo de ser; de gênio reservado, falava pouco e dificilmente ria. [...] Foi inevitável, dessa forma, o choque de personalidades entre ele e Maria, que fora ensinada por Daniel a portar-se como uma dama e assim se tinha havido enquanto ele vivera, mas era evidente que seu mundo começava a desabar.”

1200 1201

"O Aniversário da Sociedade Caxiense M. S. Príncipe de Nápoles". A Época, 17/11/1940 Kirst, op. cit.

322

Maria Sartori e João Paternoster em 1892. Coleção de Beatriz Paternoster Cecchetto.

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João Paternoster, de chapéu branco, entre amigos. É evidente que se trata de uma turma brincalhona.

Sua veia irreverente, porém, nunca morreu de todo. Costamilan refere ainda que, apesar de ser figura bastante calada, “tudo que dissesse escondia um segundo sentido, e que levava os outros ao riso”, e segundo a lenda, uma vez ofereceu aos amigos um banquete de coelhos assados, só para revelar aos convidados, ao fim da refeição, que o que tinham comido eram gatos, fazendo trazer da cozinha uma bandeja com as suas cabeças. Diz-se que houve vários, tomados de nojo, a correr para fora da casa procurando um lugar para devolver a comida à natureza... Mas em outras ocasiões seu bandônio, com o qual ele ”enlouqueceu” a vila em sua juventude, como disse Graciema, serviu a finalidades mais altas, adornando com música sacra uma cerimônia fúnebre na Catedral em honra ao finado rei Umberto da Itália, junto com outros músicos. Da mesma forma, na época em que já tinha os filhos crescidos, tocou com outro grupo tão belamente nas exéquias de seu compadre Caetano Costamilan, que o público, admirado, julgou ouvir a harmonia angélica. 1202 Ele também foi atestado através de uma fotografia como membro da Orquestra Lírica de Caxias, que acompanhava recitais de canto, peças de teatro e sessões de cinema mudo. Em 1894 a família, já com duas filhas pequenas, Adelia e Graciema, junto com toda a cidade, sofreu os pavores do ataque de uma tropa de soldados de Belisário Batista, caudilho maragato, num dos sangrentos tumultos ocorridos durante a Revolução Federalista, e teve de fugir de sua casa para não morrer, escondendo-se em casa de amigos na zona rural. Na pressa, quase todas as ricas joias de Maria foram esquecidas para trás e levadas pelos revoltosos, junto com o bandônio de João. O bandônio mais tarde foi recuperado mas, como seria de esperar, as joias não.1203

1202 1203

Costamilan, op. cit. Costamilan, op. cit.

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Maria, Adelia, Graciema e João Paternoster. Foto tirada em Porto Alegre em 1897, onde então residiam. Coleção de Marisa Frantz Panceri.

Por um tempo, a partir de 1895, se estabeleceram em Porto Alegre, onde abriram outra padaria, que, segundo Costamilan, prosperou mas acabou incendiada por um sócio que desejava receber o seguro. Uma nota no jornal A Federação de 7 de novembro deste ano acusa a formação dessa sociedade com Miguel Zanandrea, com o capital de 5 contos de réis.1204 O motivo da mudança não é claro, Maria pode ter ficado traumatizada com o ataque dos revolucionários, passando a desejar criar os filhos em uma cidade mais civilizada, mas João pode ter sido atraído por parentes, já que A Federação cita um Nicola e um Francisco Paternoster em Porto Alegre no começo do século XX. Em Porto Alegre nasceram mais dois filhos, Angelina e Dante. Depois disso voltaram a Caxias, onde João começou a participar mais ativamente da vida pública da cidade, mas por muitos anos, como se vê em sua correspondência, ainda acalentaria o sonho de voltar a viver na Europa. Em 1899 foi nomeado pela primeira vez subdelegado de polícia do 1º Distrito, a sede urbana, e desempenharia esta função por muitos anos. Em 1900 ele é assinalado viajando a Paris para visitar a grande Exposição Universal, aparentemente uma viagem de negócios, integrando o chamado Grupo Excursionista ÍtaloPorto Alegrense e sendo membro da sua Diretoria.1205 Neste ano nasceu sua filha Ignez. Logo abriu uma bodega e passou a explorar “jogos lícitos”, mantendo os dois negócios até pelo menos 1910.1206 Abriu também outra padaria, à qual deu o original nome Del Paron de la Casa. O edifício tinha uma ala residencial no piso superior e ali viveram até 1902, quando João vendeu o negócio e voltou a morar em sua antiga casa, que havia sido alugada, em São Pelegrino, que se tornara uma área de convívio e lazer para a população local.1207

1204

“Junta Commercial”. A Federação, 07/11/1895 Brum, Rosemary Fritsch. Uma Cidade que se Conta: Imigrantes italianos e narrativas no espaço social da cidade de Porto Alegre (1920 -1937). Tese de Doutorado. PUCRS. 2003 1206 Município de Caxias. Livro de Registro de Imposto sobre Indústrias e Profissões, 1903, 1907, 1908-1909, 1910 1207 Costamilan, op. cit. 1205

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Primeira nomeação de João Paternoster como subdelegado de polícia do 1º Distrito, 1899. Coleção de Dóris Paternoster.

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Maria, de personalidade independente, se misturava aos homens em suas atividades em pé de igualdade, para o desconcerto da tradicionalista sociedade local. Voltemos a recorrer a Costamilan, com sua vivacidade característica: “A errante Maria, agora com cinco filhos para criar, já tinha se conformado de que não era mais a ‘baronesa’ e começava a dar mostras de seu lado Sartori, ainda não revelado inteiramente. A par de sua casa João havia construído canchas de bochas, assim como Rafael Buratto tinha feito, e era nesses locais que diariamente se reuniam os apreciadores de tal esporte. Um dos muitos compadres de Maria, o sr. José Casara, popularmente conhecido como Beppi Casara [...], era dos mais assíduos frequentadores das canchas, e não raras vezes, quando faltasse um companheiro para completar o quadro de jogadores, ele se punha a berrar naquele seu modo característico e sem qualquer cerimônia: ‘Comadre, aqui está faltando um parceiro: não quer jogar?’ Maria não se fazia de rogada e logo respondia: ‘Vou indo’, ao mesmo tempo em que tirava seu inseparável avental e lá se ia para disputar, ombro a ombro com os marmanjos, renhidas e sonoras partidas de bochas, algo inusitado para os padrões da provinciana Caxias, e que levava muitas de suas comadres a arregalar os olhos de espanto...

Ida Sartori Paternoster.

“Não bastasse isso, havia nas redondezas uma raia para corrida de cavalos, na avenida Júlio de Castilhos, altura da atual clínica Del Mese, e que se prolongava em direção à rua Pinheiro Machado; ali, aos domingos e feriados, eram realizados os páreos, via de regra com grande afluência de público, que tinha nessa quadra de esportes e nas canchas de São Pelegrino o seu único local para divertimentos. Em tais corridas, sempre um ou outro se destacava por sua habilidade, e era comum tais pessoas se porem a contar vantagens e a dizer que ninguém as venceria. Pois bem: toda vez que Maria ouvisse alguém gargantear desta forma, não deixava por menos: desafiava o valentão na mesma hora para uma carreira, e lá se ia ela, altiva em seu fogoso Tobiano, mostrar a todos com quantos paus se faz uma canoa, um novo motivo de desencanto para as comadres, que murmuravam, inconformadas: ‘Quem te viu e quem te vê’... “ No entanto, cerca de um ano depois de voltarem para São Pelegrino, Maria contraiu tifo, e faleceu em 11 de fevereiro de 1903, poucos meses depois de dar à luz sua filha Ida, minha avó. Os filhos Graciema, Angelina, Ignez e Dante ficaram com o pai, mas, a pedido de Maria, Ida foi criada pelo seu irmão Massimo Sartori e sua esposa Pascoa da Re. Ida ficou com eles até que faleceram, mesmo depois de casar, mas Adelia, que passara alguns anos com eles também, para fazer companhia a Ida em sua infância e ajudar em sua criação, voltou para a casa paterna ao crescer. 1208

1208

Costamilan, op. cit.

327

328 Adelia, Graciema e Angelina, três das filhas de João com Maria, 1912.

Depois da morte de Maria, João se viu às voltas com seis crianças pequenas. Diz Costamilan sobre os primeiros tempos de adaptação: “Uma senhora amiga da família, dona Angelina Signori, ficou cuidando das crianças, e uma outra, dona Oliva [Odila?] Casanova, vinha um dia por semana para lavar a roupa. A incansável dona Teresa Rossi, irmã de João, a cada pouco ia visitá-los, e sempre levava uma cesta de biscoitos para os pequenos, enquanto o senhor Hermógenes Bertelli, que fora um grande amigo do casal, praticamente passava os dias ali, naquele lar desfeito, ajudando João em tudo o que pudesse. E o fiel compadre, o senhor José ‘Beppi’ Casara, num gesto inesquecível de amizade e respeito à memória de Maria, abalava-se lá de tão longe, onde morava, para levar um pouco de conforto àquelas crianças”. Uma prima de Maria, também chamada Maria Sartori, mais conhecida como Marietina, foi morar em sua casa para organizar a sua caótica vida doméstica. Marietina e João acabaram se apaixonando, e casaram em 20 de agosto de 1904.

Marietina Sartori quando jovem. Coleção de Dóris Paternoster.

329

Marietina nasceu em 30 de abril de 1878, e faleceu em 8 de julho de 1968. Era filha de Anna Pinzon e Francesco Sartori, e Francesco era filho de Angelo II. Haviam se radicado em Cornuda e se dedicavam à agricultura. A sua data de chegada é desconhecida. Gardelin & Costa citam um Francesco e uma Anna procedentes de Cornuda, mas o sobrenome de Anna é dado como Pellizzer. Não resta nenhuma informação sobre Francesco, mas ele pode ser o Francisco que em 1924 foi citado como soldado do Batalhão Ferroviário, na data já na reserva.1209 Provavelmente Angelo II era o Angelo I pai de Salvador Sartori, condição necessária para que Marietina fosse prima da outra Maria. O nome dos pais de Salvador e Francesco é o mesmo. Divergem os nomes das suas mães, respectivamente Giacomina Toffolon e Giacoma Branchini, mas nada impede que o pai de Salvador tenha casado duas Marietina Sartori Paternoster vezes. Angelo II teve ainda os filhos Giovanni e Antonio I, casado com Angela Pillon, que viajou em 18 de dezembro de 1878, conforme consta no seu salvo conduto de transferência para a América, mas sua localização se perdeu. Um Antonio e uma Angela são citados por Gardelin & Costa como chegados em 20 de fevereiro de 1876, adquirindo metade do lote 21 do Travessão Umberto I da 6ª Légua, mas ou a data de chegada está errada ou são outras pessoas. Lorenzo Sartori, outro filho de Angelo II, foi casado com Eva Maria Casagrande, filha de Felice Casagrande e Francesca Colava ou Colai, estabelecido no lote 31 da 8ª Légua com a filha Maria Giacoma. Podem ter sido irmãos de Marietina: Giuseppe, casado em 22 de abril de 1896 com Giuseppina Lizzoni, filha de Carolina Manzoni e Ferdinando Lizzoni, e falecido em 6 de junho de 1931; Antonio II, citado em 1921 como filho de um Francisco, casado e agricultor,1210 e Angelo III, citado como sobrinho de Antonio I em um atestado de bons antecedentes de Antonio. Nada mais se sabe sobre esses Sartori, que desaparecem dos registros caxienses logo depois de chegar, mas é possível que tenham sido a origem dos núcleos Sartori de Antônio Prado e Gramado.

1209 1210

“O pagamento das diarias aos ex-soldados do Batalhão Ferro-Viario”. O Brasil, 07/06/1924 “Editaes”. O Brasil, 07/05/1921

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Marietina se revelou uma mãe extremosa para seus enteados, e teve com João um filho natural, Pery. A filha Graciema deixou impressões sobre sua infância: “Eu era a mais velha. Não lembro bem do que a mamãe morreu, eu era uma guria naquele tempo. Mas tinha uma senhora que morava ali perto, a falecida Odila, que vinha tomar conta da nossa roupa. [...] Ela remendava nossas roupas, pregava os botões que faltavam, e então, ela passava as tardes lá em casa, contando histórias para nós e nós tudo sentado ao redor dela ouvindo... Brinquei muito de boneca. Cada boneca linda! Com aquelas cabeleiras, me parece de ver ainda, douradas, todos os cachinhos! Minha mãe era caprichosa. Pelo amor de Deus! Ela vestia bem as bonecas com colarzinhos, com as pulseirinhas. [...] Às vezes, nas noites de lua, me reunia com minhas primas e vizinhas na rua [...] com o clarão da lua brincávamos de roda, com aquele ‘bandor, o bandor, queremos passar, pela porta passar’, e então prendíamos uma e não soltávamos enquanto ela não fizesse um verso. [...] “Eu gostava muito de ir à escola. Aprendia de tudo. [...] Da palmatória também me lembro. Pegava quase sempre nos guris: era paf, paf, paf. Se ajoelhava no milho também, e ai de quem se mexesse. [...] A missa, esta não faltava, senão ‘não era gente’. [...] Eu ia sempre junto de minhas primas. Aquelas festas grandes, como eram bonitas, como a procissão do Corpus Christi, a procissão da Semana Santa, de noite. [...] A Festa do Divino não se perdia, porque tinha as novenas, depois então se ia na praça e tinha os leilões, os namorados que mandavam presentes pra gente”. 1211 Enquanto isso, a transformação do “arraial” de São Pelegrino em área de lazer comunitária atraía outros para as redondezas de suas terras, e a capela ali situada se tornava um polo de devoção da comunidade caxiense, formando-se o embrião do que hoje é um populoso bairro, vizinho do Centro Histórico.

1211

Pieruccini & AHM, op. cit.

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Tertúlia na antiga chácara dos Paternoster. Foto de matéria do Arquivo Histórico Municipal sobre a família no Pioneiro, 11/05/1985. Attilio Pieruccini é o quarto da esquerda para a direita, na fila de trás, e o de chapéu e roupa toda branca, ao centro, é João Paternoster.

Um relato no jornal O Brazil em 1909 dá uma visão do cenário: “Com extraordinária concorrência, efetuou-se na segunda-feira a tradicional Festa de São Pelegrino, no arraial de mesmo nome. Pela manhã, na igrejinha do bairro, foi rezada missa solene, perante grande concurso de fiéis. Durante o dia, em frente ao templo, fez-se ouvir uma banda de música e avultado foi, até ao crepúsculo, o número de cavalheiros e famílias da vila, que circularam pelo arraial, a pé e de carro. À noite, na residência do Sr. Rafael Buratto, e na do nosso amigo João Paternoster, realizaramse animados bailes, que encerraram brilhantemente o programa da festa”. 1212 João a essa altura se tornara figura pública influente, participando ativamente da vida comunitária em uma variedade de níveis. Sua atuação, assim como foi a de Salvador, seu sogro, bem como a de seus cunhados Sartori, foi um bom exemplo do processo de conquista e consolidação do poder político e econômico dos imigrantes e da formação de uma elite local. Segundo o Centro de Memória da Câmara Municipal de Caxias do Sul, “Os descendentes de imigrantes italianos viam-se à margem da vida política. O governo do estado designava descendentes de lusos, geralmente vinculados à Maçonaria, para ocuparem os cargos administrativos na Intendência. Aos italianos católicos eram destinados cargos secundários da administração, como subintendentes, inspetores, fiscais, auxiliares de obras públicas, cobradores de impostos, funções geralmente desempenhadas nos travessões da zona rural”.1213 Isso concorda com o que dissera Alves sobre os preconceitos enfrentados especificamente pelos tiroleses como ele,1214 e a ascensão de João foi favorecida por uma série de circunstâncias “atenuantes” de sua origem: o crédito que seu pai mereceu da comunidade, seu 1212

O Brazil, 07/08/1909 Centro de Memória da Câmara Municipal de Caxias do Sul, op. cit. 1214 Alves, op. cit. 1213

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casamento com uma Sartori, uma italiana “típica”, de família famosa e ainda mais exbaronesa, e sua forte ligação com a Associação dos Comerciantes, entidade representativa da qual foi um dos fundadores em 8 de julho de 1901, e que praticamente monopolizou a direção da economia de Caxias por muitas décadas, numa época em que “as casas comerciais em Caxias eram o centro dos negócios e o centro do poder. Foram os comerciantes que construíram os primeiros sobrados da vila, reuniram-se em associação de classe e dominaram politicamente”, 1215 e por muito tempo também a Câmara Municipal foi composta em sua grande maioria por comerciantes ligados à Associação. A formação desta sociedade atendia a um desejo antigo dos produtores e comerciantes locais, que alegadamente não recebiam do poder público atenção suficiente para suas demandas.1216 1217 1218 Diz Maria Abel Machado: “A nova entidade procurou plasmar o seu trabalho com base na união dos diversos setores produtivos, buscando, através da intermediação e agindo em nome de seus associados, interferir no curso dos processos decisórios das questões consideradas essenciais para o desenvolvimento das atividades econômicas do município. [...] O crescimento econômico possibilitou o fortalecimento das lideranças e de sua entidade representativa, de modo a estabelecer as normas e as regras de funcionamento dos estabelecimentos comerciais, de interferir na construção de pontes e estradas, alterando traçados e decidindo rotas. [...] “Transcorridas as primeiras três décadas de existência da Associação dos Comerciantes, a entidade já demonstrava a sua solidez, conceito e prestígio tanto junto às autoridades regionais e estaduais, como no seio da comunidade caxiense. Sua atuação se dava em todas as áreas, procurando estabelecer normas e critérios condizentes com a ordem e a harmonia que eram necessárias para o bom andamento das atividades produtivas. Foram definidas regras de defesa dos comerciantes varejistas contra os ‘maus pagadores’, com a criação de um regulamento para nortear as vendas a crédito e contra o ‘comércio clandestino’ e a ‘concorrência desleal’, tudo com a finalidade de ‘zelar pelos interesses comuns’, regulamentando as relações que se estabeleciam entre os diversos setores envolvidos. Mas suas conquistas iam além da esfera empresarial, interferindo, como já foi dito, no traçado de estradas, na construção de pontes, na melhoria dos transportes e das comunicações, assim como na busca da ampliação de faixas de crédito e na instalação de casas bancárias”. 1219 A atividade da Associação deu as bases para um rápido crescimento da indústria local, dinamizou a produção em toda a região em torno e estabeleceu relações comerciais até com o exterior, sendo composta pela elite econômica e tendo íntimas ligações com a classe política, influindo decisivamente nos destinos da cidade. Também com o tempo passou a oferecer serviços jurídicos, médicos e assistenciais aos associados, desenvolvendo um perfil semelhante a um sindicato, sendo declarada em 1941 de utilidade pública pelos “inestimáveis serviços prestados à coletividade caxiense” e pela sua “decidida e influente colaboração com os

1215

Centro de Memória da Câmara Municipal de Caxias do Sul, op. cit. “O 38º Aniversário da Associação dos Comerciantes”. O Momento, 07/09/1939 1217 “Associação Comercial de Caxias”. O Momento, 14/07/1941 1218 Machado, Maria Abel & Herédia, Vania Beatriz Merlotti. “Associação dos Comerciantes: Uma Forma de Organização dos Imigrantes Europeus nas Colônias Agrícolas no Sul do Brasil”. In: Scripta Nova - Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales. Universidad de Barcelona, 2001; 94 (28) 1219 Machado (2000), op. cit. 1216

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poderes públicos”. 1220 Sua atividade não cessou, sendo a antecessora da atual Câmara de Indústria, Comércio e Serviços da cidade, ainda uma grande e poderosa associação. A atuação de João na entidade não é conhecida em detalhe, mas as evidências indicam que ele desempenhou papel destacado. Na fundação em 1901 integrou a Diretoria como suplente da Comissão Fiscal.1221 Provavelmente nos anos seguintes atuou na campanha da Associação para a construção da Ponte do Korff, considerada vital para a dinamização do comércio com os Campos de Cima da Serra. Em 1905 foi eleito como titular de uma das Diretorias. No mesmo ano fez parte de uma comissão que coletaria produtos destinados a uma exposição-feira em Porto Alegre.1222 Em 1907 a Associação entrou em recesso, mas em 1912 foi reativada, com João assumindo outra vez como um dos diretores.1223 Neste mesmo ano a Associação comemorou seu aniversário com um “lauto banquete” no seu hotel, dando à festa “todo o realce possível”.1224 Ao que parece colaborou na entidade ainda por muitos anos. Em 1941 foi calorosamente festejado com os outros fundadores ainda vivos, recebendo com eles o título de sócios honorários.1225 Em 1950 um perfil da Associação foi traçado no grande álbum Documentário Histórico do Município de Caxias do Sul 1875-1950, Comemorativo do 75º Aniversário da Colonização, publicado pela Prefeitura, cujas páginas reproduzo a seguir, onde João é citado entre os fundadores.

1220

Giron & Bergamaschi, op. cit. “Homenagem Associação dos Commerciantes de Caxias”. Città di Caxias, 06/04/1918 1222 Gardelin, Mario. Para a História da CIC. EST, 1995 1223 “Factos e noticias”. Cidade de Caxias, 16/03/1912 1224 “Associação dos Commerciantes”. O Brazil, 03/07/1912 1225 “Comemorar-se-á solenemente o 40º aniversário da Associação Comercial”. A Época, 06/07/1941 1221

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Antunes, Duminiense Paranhos (org). Documentário Histórico do Município de Caxias do Sul 1875-1950, Comemorativo do 75º Aniversário da Colonização. Associação Comercial / Biblioteca Pública / Câmara dos Vereadores / Prefeitura de Caxias do Sul, 1950

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A família de João Paternoster em 1912, quando estava no início do seu apogeu, posando no jardim do seu Hotel, recém-construído. Na 337da primeira frente: Ignez, Marietina, o pequeno Pery, João e Ida. Atrás, Graciema, Angelina, Adélia e Dante. Todos salvo Pery são filhos Maria.

Esta casa foi antigamente a casa do barão Schlabendorff e Maria Sartori, onde João viveu com Maria e depois com Marietina, e onde já dava grandes banquetes antes mesmo de abrir o seu famoso Hotel. Foto e legenda de Costamilan.

Entrementes, em 1911 sua casa em São Pelegrino, que fora do barão, e depois aquela em que João viveu com as duas Marias e os filhos, foi demolida para dar lugar ao seu famoso hotel, o Recreio Familiar, mais conhecido como Hotel ou Pensão Paternoster, que tinha uma casa principal, onde estava a área de atendimento e convívio, e onde a família também morava (no piso superior), e um anexo para os dormitórios. João foi, portanto, um dos pioneiros da hotelaria local, 1226 com seu estabelecimento, baseado no expressivo capital de 150 contos de réis, 1227 se tornando a hospedaria favorita de personalidades em trânsito e dos primeiros turistas porto-alegrenses. Nesta época a cidade começava a se expandir para o oeste e São Pelegrino se consolidava como o “segundo centro” de Caxias, beneficiando os interesses de João.1228 O hotel recebia hóspedes basicamente durante os meses quentes. No resto do ano funcionava como bodega e restaurante para o povo que se reunia na área de lazer que se formava por ali, mas ao que parece hóspedes extemporâneos não eram raros. Havia um salão, sendo também local de 1226

Rigon, Roni. “Memória: Pioneiro da hotelaria”. Pioneiro, 05/08/1999 Giron & Bergamaschi, op. cit. 1228 Da Costa, Ana Elísia. A evolução do edifício industrial em Caxias do Sul, de 1880 a 1950. Dissertação de Mestrado. UFRGS, 2001 1227

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bailes e banquetes elegantes.1229 1230 1231 1232 1233 1234 Graciema deixou um relato sobre o Hotel em seu apogeu: “Nós morávamos lá. Tínhamos quartos no sótão (segundo andar) [...] às vezes serviam banquetes. Quando era banquete da Sociedade Operária, que era só de carpinteiros, era uma farra aquele dia. [...] Uma vez era da Associação dos Comerciantes, vinha até o falecido dom João Meneguzzi (vigário da Catedral) [...] “E fizemos muitos banquetes na nossa casa, [...] de casamento também, porque nossa casa era grande, era um lugar um pouco para fora, muito lindo, aquele patamar que tinha ali na frente, todo coberto, era uma maravilha para jogar cartas no domingo de tarde, os homens, os velhotes, sentavam lá fora e jogavam cartas, senão iam jogar as bolas [bochas], nós tínhamos raias de bolas também. [...] Tinha diversão, era de veraneio, coisas de veraneio. Jogo de bocha, jogo de carta, se era dia frio, chuvoso, então jogavam carta dentro de casa. [...] “Aquela casa maior, ao lado desse prédio velho, era a casa central, onde eles moravam. E a casa onde fizeram o Grupo Escolar, era dormitório. Lá eram só quartos para dormir, era só quarto. [...] Os políticos também eram hóspedes”.1235

1229

Rigon, Roni. “Memória: Hotel da família Paternoster”. Pioneiro, 12/11/2004 “Grupo Escolar Penna de Morais”. O Momento, 10/10/1954 1231 “Estadual”. A Federação, 25/03/1920 1232 “Notícias de Caxias”. A Federação, 09/08/1927 1233 “Festa de Carpinteiros”. O Brazil, 27/10/1912 1234 Costamilan, op. cit. 1235 Pieruccini & AHM, op. cit.. 1230

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A imprensa também oferece múltiplos testemunhos de sua atividade: “Domingo último foi um dia festivo nesta cidade – bandas de música, espoucar de foguetes, e um desusado movimento na rua Júlio de Castilhos, tudo coadjuvado por um sol brilhante e um céu inteiramente azul, davam um aspecto alegre à nossa vida – era o Recreio Aliança que, num extenso préstito, encaminhava-se para o local escolhido para o pic-nic que nesse dia realizava, e a Sociedade de Carpinteiros São José, incorporada, que comemorando a data de sua fundação, realizava o seu tradicional banquete na residência do nosso amigo João Paternoster. Ao banquete dos carpinteiros estiveram presentes o sr. major Penna de Moraes, vice-intendente em exercício, dr. Stefano Paternò com sua exmª esposa, dr. Fontoura Trindade, juiz distrital, com suas gentilíssimas filha e sobrinha, srs. Paulo Rossato e Mario Pezzi, pela Cooperativa de Caxias, representantes do Clube Juvenil e da Sociedade Príncipe de Nápoles. Abrilhantou a festa a excelente Banda Independente [a antiga Musica dei Sartori], proficientemente dirigida pelo sr. João Bragagnolo, que executou belos trechos de música clássica. [...]

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“O dr. Paternô, que pronunciou um magistral discurso com sua habitual eloquência, foi muito aplaudido. O major Penna de Moraes, com a oratória que lhe é peculiar, agradeceu às frases do dr. Paternô e à Sociedade São José. [...] Terminou o seu eloquente discurso brindando o cooperativismo triunfante de Caxias. Os aplausos a esse brinde foram cobertos pelo som dos hinos ítalo-brasileiro, que fez prorromper entusiásticos vivas à Itália e ao Brasil. Foi um dia de música e de sol que encheu de expansão a alma popular”.1236

1236

“As festas de domingo”. O Brazil 04/05/1912

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Rodrigo Lopes, em artigo de 2014 no Pioneiro, enfatizou o cardápio refinado que ele costumava servir: “Com a inauguração da ferrovia, em 1910, Paternoster percebeu a possibilidade de investir em um hotel para atender a crescente demanda de visitantes e homens de negócios. Surgia em 1911 o Hotel Recreio, cuja proposta proporcionava aos hóspedes desfrutar de saborosos jantares e conviver no então bucólico e tranquilo ambiente da Avenida Rio Branco, no bairro São Pelegrino. O hotel, aliás, foi um dos primeiros empreendimentos a se instalar na via, que concentrou ainda diversos outros estabelecimentos clássicos da cidade. Entre eles a Igreja São Pelegrino, a Vinícola Mosele (onde hoje situa-se a Receita Federal), a Sociedade Brasileira de Vinhos, o quartel – onde foram realizados os festejos do cinquentenário da imigração italiana –, a Padaria Rio Branco e a Igreja dos Capuchinhos. [...] “Situado no bairro São Pelegrino, em uma área nobre da cidade, o Hotel Recreio era uma referência recreativa na sociedade caxiense da época. Além disso, a proximidade com a estação férrea e o centro facilitava o trânsito dos hóspedes. Famílias e amigos se encontravam no final de semana para almoçar, fazer piqueniques, jogar cartas e conversar na varanda. Com formação gastronômica na Itália, João Paternoster tinha consciência de servir pratos e bebidas de excelente qualidade aos clientes. O anúncio veiculado em 1913 salientava o caráter familiar e refinado cardápio, acompanhado por bebidas nacionais e importadas.” 1237 Parte do Hotel foi transformada em 1935 no Grupo Escolar Penna de Moraes, e outra parte permaneceu ativa. Porém, em torno de 1940 o hotel foi alugado para um antigo funcionário, Adelino dalla Rosa, que o manteve até 1950 com o nome de Parque Hotel, quando o aluguel passou para outras pessoas. Depois o negócio voltou para a administração familiar e foi convertido em uma pensão, alugando-se os quartos para soldados do Exército e seminaristas, ficando em atividade até os anos 80. Ver nota 1238 Depois foi transformado em escola de música, dirigida por Eda Paternoster, esposa de Raul, filho de Dante, abrigando também a seccional da Ordem dos Músicos e o Sindicato dos Músicos.

1237

Lopes, Rodrigo. “Hotel da família Paternoster em 1924”. Pioneiro, 15/12/2014 Em entrevista [ “Adelino dalla Rosa: Homem de negócios”. In: Informativo SHRBS, 2013; 10 (27):4 ] Adelino afirmou que o Hotel foi comprado por ele e depois passado a um grupo catarinense, mas Beatriz Cecchetto, herdeira da propriedade, desautorizou suas declarações. 1238

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O Livro de Diárias do Hotel. Arquivo Histórico Municipal.

Os remanescentes do antigo complexo foram demolidos em 1990 em meio a polêmica, já que muitos preferiam vê-los preservados, pelo seu grande valor histórico e cultural. Disse Beatriz Paternoster Cecchetto, filha de Dante Paternoster, cuja família herdou a propriedade, que o custo de conservação era muito alto, e na época eles não tinham como arcar com a despesa, também sem receber nenhuma ajuda do poder público, que em minha opinião deveria intervir decididamente em casos de bens de tanto significado. Este é um contexto comum no campo do patrimônio, e explica muitas das destruições que acontecem.

343 Cartão do Hotel. Acervo AHM.

Ao mesmo tempo em que mantinha o hotel, João continuou por algum tempo com sua atividade de padeiro, expondo seu “saborosíssimo pão” na grande Exposição Agro-Industrial de 1913 e fazendo sucesso, conquistando “o batismo da vitória”, como disse o jornal Città di Caxias.1239 Neste mesmo ano associou-se a Bortolo Triches e adquiriram as existências da antiga Padaria Serrana, a fim de abrir uma nova loja, uma “padaria modelo”.1240

“Republicano convicto”, 1241 João envolveu-se na política, como por exemplo enviando cumprimentos a políticos ilustres, dando espaço em seu hotel a conferências republicanas,1242 e participando das atividades do Centro Borges de Medeiros. 1243 Vários banquetes oferecidos a políticos foram realizados em seu hotel. 1244 1245 1246 Foi representante da Intendência em um processo de cobrança geral de dívidas ativas da população em 1911.1247 Foi atestado como subdelegado de polícia até pelo menos 1910. 1248 1249 1250 1251 1252 Assumiu interinamente a titularidade da Delegacia pelo menos duas vezes, em 1908 e 1909.1253 1254 Graciema, sua filha, lembrou que mantinha uma rotina intensa, pois sempre que havia alguma “confusão”, e parece que houve muitas, lá ia o pai a restaurar a ordem. Em 1917 é atestado com a patente de capitão,1255 provavelmente não da polícia, mas da Guarda Nacional, que atribuía patentes honorárias para personalidades públicas ilustres. 1239

“Per l’esposizione”. Cittá di Caxias, 20/08/1013 “Sappiano che i successori...” Città di Caxias, 14/04/1913 1241 “Caxias”. A Federação, 20/11/1908 1242 “Notícias de Caxias”. A Federação, 09/08/1927 1243 “A Festa do Centro”. O Brazil, 18/09/1909 1244 “Major Abramo Eberle”. O Brasil, 19/04/1920 1245 “Banquete”. O Brasil, 16/06/1921 1246 “Exploração ignóbil”. O Brasil, 18/08/1923 1247 “Prevenção”. O Brazil, 07/01/1911 1248 “Pancadaria e facada”. O Cosmopolita, 03/08/1903 1249 A Federação, 26/08/1907 1250 “Aos 19 do corrente”. A Federação, 26/08/1907 1251 “Exhumação”. O Brazil, 27/04/1909 1252 "Caxias". Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1910 1253 “Chefatura de Polícia”. A Federação, 17/11/1908 1254 “Seguiu terça-feira para Porto Alegre”. O Brazil, 18/12/1909 1255 “Fabriqueria da Matriz de Caxias”. Città di Caxias, 22/01/1917 1240

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Dois trechos de um livro de registros policiais da Sub-Delegacia do 1º Distrito. Muitos dos assentos citam como escrivão Caetano Mattana, mas ao que tudo indica este exemplar é uma cópia realizada pelo próprio João Paternoster, pois tanto a letra como as assinaturas são idênticas aos registros de cartas que enviou a parentes de Vigo di Ton. Coleção de Dóris Paternoster.

Início de um auto de inquérito policial com letra de João Paternoster onde são citados Guerino e Lino Sartori. Continua na próxima página. Coleção de Dóris Paternoster.

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Da mesma forma se ocupou bastante na função de fiscal de obras do Município, havendo muitas citações a ele na imprensa da época assinalando-o no desempenho de suas atribuições oficiais. Foi muitas vezes membro do júri popular e também participava de festas comunitárias, integrando, por exemplo, a comissão de organização das grandes comemorações pela chegada do trem em 1º de junho de 1910.1256 O jornal O Brazil em 11 de junho noticiou o evento em uma longa matéria, que merece reprodução por ilustrar vivamente o significado de que se revestiu para a comunidade, e por dar uma visão detalhada de como se realizavam os grandes festejos públicos naqueles tempos, sendo, de fato, uma das maiores comemorações coletivas de que há notícia nos primórdios da cidade. A notícia é mais extensa, e reproduzo a seguir apenas duas páginas:

1256

“Inauguração da via-férrea. As festas projectadas”. O Brazil, 21/05/1910

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Nomeação de João Paternoster como fiscal de obras do 3º Distrito, 1905. Coleção de Dóris Paternoster.

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Enquanto os filhos e filhas faziam suas vidas, João Paternoster continuava a sua com Marietina. Dela pouca notícia resta, ao que parece dedicou-se exclusivamente ao lar, e a sua única aparição na imprensa a mostra ligada ao grupo de oração Adoração Noturna nos Lares, mantido pela Igreja de São Pelegrino. 1257 Mas João manteve sempre uma ligação próxima com o poder civil e a hierarquia da Igreja, permanecendo em evidência. Em 1º de janeiro de 1917 foi citado como um dos fabriqueiros da Catedral, no tempo em que ali também estava seu cunhado Ludovico Sartori.1258 Não encontrei registro na imprensa de quanto durou seu trabalho, aparentemente naquela data atuava há algum tempo, sendo elogiado pela sua competência e dedicação. Porém um obituário aparentemente inédito escrito por Mário Gardelin, conservado por sua neta Dóris Paternoster, confirma que ele permaneceu na equipe de fabriqueiros por longos anos ocupando a posição de presidente. Assim, pode ter colaborado nos anos anteriores na construção da fachada do edifício, inaugurada em fins de 1914, e com certeza participou da construção da Casa Canônica, inaugurada em 1918. Ajudou a organizar solenidades ligadas à Igreja, como as homenagens ao cônego João Meneguzzi em 19211259 e a recepção ao visitador apostólico dom Bento Lopes em 1924,1260 associou-se à Legião dos 10 Mil Construtores da Catedral de Porto Alegre,1261 e foi secretário da Sub-Comissão de Propaganda da Comissão Pró-Caxias, criada no governo do intendente Celeste Gobbato (1924-1928), com uma seleção de próceres da comunidade, com o objetivo de "colaboração junto aos poderes públicos municipais na solução dos variados problemas que afetam a vida de Caxias”.1262 Gobbato, um dos raríssimos italianos a assumir o Executivo desde Salvador Sartori e os outros membros da Junta, representou uma opção de conciliação na agitada vida política caxiense das primeiras décadas. Esta Sub-Comissão era composta em sua maioria de religiosos, indicando a grande penetração da Igreja nos assuntos públicos e o estabelecimento de uma rede de favorecimentos mútuos, após um período inicial de frequentes conflitos entre os poderes civil e religioso.1263 Segundo Alves, “A Igreja não participara diretamente do processo eleitoral de 1924, mas investira durante longo tempo na organização e formação de um ‘grupo de pressão’, cuja atuação lhe facilitasse o acesso ao poder político com vistas a influenciar suas decisões. A instituição católica não administraria o município por conta própria, no entanto, estava organizada para influenciar e mudar aspectos da sociedade, segundo seus interesses. [...] De todas as sub-comissões a que mais se destacou, enquanto atuação, foi a de Propaganda, pois estando nas mãos da hierarquia eclesial, estavam à disposição da máquina governativa a imprensa católica, os sermões dominicais, as capelas... Em reunião realizada pela Sub-Comissão de Propaganda, no dia 7 de setembro de 1925, presidida por Meneguzzi, estavam presentes...

1257

“Adoração Noturna nos Lares”. O Momento, 06/04/1946 “Fabriqueria da Igreja Matriz de Caxias”. Città di Caxias, 22/01/1917 1259 “Homenagem”. O Brazil, 19/11/1921 1260 “Visitação Apostólica”. O Brasil, 17/05/1924 1261 “As obras da Cathedral”. A Federação, 02/09/1929 1262 Alves, op. cit. 1263 Alves, op. cit. 1258

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... muitos commerciantes e industrialistas, bem como o sr. Vigário da 3ª Legua, rev. Angelo Donato e o Dr. Celeste Gobbato. Com enthusiasmo os presentes subscreveram elevadas quantias, collocando-se a disposição da Commissão Pro-Caxias, para propagar e levar avante esta tão util e nobre iniciativa, que bem demonstra, mais uma vez, o civismo deste povo laborioso... “Tanto as quantias arrecadadas pela Comissão de Propaganda como pela Caixa de Depósitos Populares, destinavam-se às obras do Plano de Metas, traçado pelo governo republicano. No plano traçado pela Igreja, para valorização e apoio ao governo de Celeste Gobbato, além das constantes matérias publicadas na imprensa católica enaltecendo o intendente e o seu desempenho, havia a necessidade de esse administrador participar das frequentes comemorações promovidas pela Igreja. Festas aos Santos, missas de aniversários, bençãos de sinos em várias capelas. Tanto que, no Livro Tombo da Paróquia Santa Teresa, Celeste Gobbato aparece como padrinho da benção dos sinos da Capela de Nª. Sª. de Monte Bérico, da Capela de S. Valentim, da Capela de Nª Sª do Pedancino e da Capela de S. José da VI Légua. Todas as solenidades de benção dos sinos foram realizadas pelo cônego Meneguzzi. À medida que a hierarquia eclesial articulava a propaganda do Intendente e sua ‘laboriosa administração’, o governo municipal, por sua vez, autorizava subvenções aos padres ou intermediava a liberação de benefícios doados pelo Governo do Estado”.1264 João foi ainda um dos organizadores e financiadores da IV Festa da Uva em 1934, no auge da fase ufanista da história de Caxias,1265 1266 e conselheiro da Sociedade Príncipe de Nápoles,1267 que havia ajudado a fundar,1268 a principal dentre as várias associações de mútuo socorro criadas na colônia italiana, e que segundo Luchese...

1264

Alves, op. cit. “A Quarta Festa da Uva em Caxias”. O Momento, 15/01/1934 1266 “A Festa da Uva em Caxias”. O Momento, 29/01/1934 1267 “Sociedade Príncipe de Nápoles”, O Brazil, 15/11/1913 1268 "O Aniversário da Sociedade Caxiense M. S. Príncipe de Nápoles". A Época, 17/11/1940 1265

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“Tinha o intuito de manter o prestígio da coletividade italiana e o bom nome da Itália, a cultura do sentimento patriótico, prestar aos associados auxílio material e moral. Possuía sede própria com escola italiana e outros espaços para conversa e estudo, para recreação e discussão. [...] Nas escolas mantidas pelas associações de mútuo socorro o currículo era diversificado com o ensino da geografia e história da Itália, desenho, ginástica sueca e exercícios militares, entre outros. Age ntes consulares e cônsules em seus relatórios destacaram constantemente a importância das escolas ditas italianaspara a difusão do sentimento de italianitá entre os imigrantes e seus descendentes, criando-se laços com a Pátria-mãe”.1269

Quadro preservado na Casa de Memória da Paróquia São Pelegrino

1269

Luchese, Terciane Angela. “As Sociedades de Mútuo Socorro e suas Escolas Étnicas Italianas: a circulação de saberes e as conformações identitárias”. In: Anais do 17º Congresso de Leitura do Brasil. Campinas, Unicamp, 2024/07/2009

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Foi também um dos fabriqueiros nova Igreja de São Pelegrino, doou um terreno que foi incorporado à área ocupada pelo templo, e foi um dos paraninfos da cerimônia de lançamento da pedra fundamental. Um texto instalado em um dos painéis permanentes da Casa de Memória da Paróquia São Pelegrino diz: “Esta cerimônia, presidida por D. José Barea, contou com a presença de um grande público e certamente fez parte das lembranças de muitos por muito tempo. Ainda hoje, o lançamento da pedra fundamental da nova Igreja de São Pelegrino é lembrado, com emoção, por Adelina Tonietto Brugalli, que participou do ato: ‘Eu tinha dez anos na época. Morava em frente à igreja, na casa do sr. Ottoni Minghelli. Como toda criança, eu era curiosa e pude assistir à cerimônia bem de perto, pois todas as pessoas que estavam lá eram conhecidas. A Amalia Sartori Buratto era a mais idosa e eu a vi assinando a ata. Na verdade, era uma espécie de pergaminho, assinado por todos os que contribuíram para os trabalhos de construção da nova igreja. Lá estavam o bispo D. José Barea, o padre Giordani, os irmãos Lassalistas, entre os quais o irmão Bruno, o Luís e a Anaíde Andreazza, o Aparício Postali e a Guilhermina Postali, o Giovanni Paternoster, o Pondé Chaves, o Giovanni Sperandio, o Antônio Rossatto, o Angelo Corso, o Osmar Meletti, que era da minha faixa de idade... O que mais chamou a minha atenção foi a caixa de amianto, onde foram colocados um jornal e moedas da época e documentos escritos, entre os quais aquele com as assinaturas dos benfeitores da nova igreja. Depois ela foi lacrada, colocada dentro do retângulo cavando na pedra, e cimentada. Um dos pedreiros era o Pedro Vanzin. Passaram-se 60 anos desde aquele dia e eu fico muito feliz, pois vi a igreja ser construída, assim como todas as pessoas que estavam ao meu lado na época, muitas das quais já se foram’. “

O lançamento da pedra fundamental da nova e monumental Igreja de São Pelegrino em 1944. Amalia Sartori Buratto assina o pergaminho que foi lacrado numa “cápsula do tempo” dentro da pedra. Angelina Costamilan está ao seu lado ajudando-a, atrás dela vem João Paternoster. Atrás do jovem de terno branco e gravata escura está Graciema Paternoster Pieruccini. Foto Geremia, acervo Casa de Memória da Paróquia São Pelegrino. 354

João Paternoster foi figura de relevo na comunidade ao longo da maior parte de sua vida, desempenhando uma série de funções de influência, e recebeu várias homenagens em vida e postumamente, embora seu filho Pery o descrevesse como homem simples e modesto, que nunca se julgara merecedor de aplauso.1270 Seu papel destacado na fundação e nos primeiros anos da Associação dos Comerciantes foi assinalado quando a entidade comemorou seu 11º aniversário em 1918, sendo chamado de... "[...] um dos valentes pioneiros que abriram caminho com a sua dedicação e os seus esforços para o triunfo da corporação que fundaram e que tem sobrevivido com influência sempre crescente a todos os embaraços e dificuldades que se lhe têm deparado na sua marcha. [...] Nos documentos arquivados na Associação se encontram os traços evidentes da operosidade e da boa vontade de todos os membros de sua primeira diretoria, que tiveram de lutar, como é natural no início de qualquer instituição, contra obstáculos quase insuperáveis".1271 Em 1925, quando foi comemorado o cinquentenário da imigração italiana no estado, seu elevado conceito já estava consolidado e ele foi reconhecido como um dos fundadores da cidade no Livro de Ouro do Município1272 e em um álbum comemorativo publicado pelo Governo do Estado em cooperação com o Governo da Itália, onde foi saudado como “uma das individualidades expoentes da fundação de Caxias”.1273 Ele figura no Volume I com uma fotografia e outra em página inteira dedicada aos fundadores da cidade, mostrada na sequência, e no Volume II seu hotel é destacado como “o preferido das famílias aristocráticas” por seu conforto e localização privilegiada, atraindo “multidões” de visitantes e veranistas. Ele sem dúvida nesta época deveria ser considerado uma das figuras mais ilustres da comunidade. Mais tarde sua contribuição voltaria a ser reconhecida várias vezes.

A inscrição do nome de João (Giovanni) como um dos fundadores de Caxias no álbum A Municipalidade de Caxias em Memória aos seus Pioneiros no Primeiro Cincoentenario de sua Fundação 1875-1925. (Livro de Ouro)

1270

Câmara Municipal de Caxias do Sul. Ata da 56ª Sessão Extraordinária da II Legislatura, 08/06/1953 “Homenagem. Associação dos Commerciantes de Caxias. A eleição de seus novos Directores”. Città di Caxias, 06/04/1918 1272 Município de Caxias. A Municipalidade de Caxias em Memoria aos seus Pioneiros em seu Primeiro Cincoentenario de sua Fundação 1875-1925 1273 Cichero, Lorenzo (org.). Cinquantenario della Colonizzazione Italiana nel Rio Grande del Sud 1875-1925. Edição fac-similar. Pozenato Arte & Cultura, 2000 1271

355

Cinquantenario della Colonizzazione Italiana nel Rio Grande del Sud, 1875-1925. A foto acima foi incluída em uma seção que trata do desenvolvimento agrícola da colônia. O tamanho das couves que ele carrega é realmente impressionante. A moça ao seu lado não foi identificada com segurança, mas deve ser a sua filha Angelina. A foto abaixo é do Volume II.

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357 Cinquantenario della Colonizzazione Italiana nel Rio Grande del Sud, 1875-1925, vol. I.

A sessão solene da Associação dos Comerciantes que comemorou os 40 anos da fundação. João está marcado com o ponto amarelo aos seus pés. Acervo da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias.

Em 1940 foi homenageado junto com os fundadores ainda vivos da Sociedade Príncipe de Nápoles.1274 Em 1941, nas comemorações dos 40 anos de fundação da Associação dos Comerciantes, recebeu efusivas homenagens junto com os outros fundadores ainda vivos, “imagens de um passado distante cheio de sacrifícios à causa sacrossanta do comércio”,1275 recebendo o título de sócio honorário,1276 em uma solenidade de “brilhantismo inexcedível”, como a matéria na página seguinte mostrará. Em 1947 foi citado como figura digna de “profundo respeito” e ”grande veneração” pelo vereador e candidato a prefeito Américo Ribeiro Mendes, como um dos “imigrantes indômitos que foram os primeiros povoadores deste município e fundaram esta admirável cidade, [...] intrépidos arautos do trabalho e do progresso”, devendo ser considerados “relíquias de inestimável valor, pois eles simbolizam uma época e uma epopeia”.1277

1274

“O Aniversário da Sociedade Caxiense M. S. Príncipe de Nápoles”. A Época, 17/11/1940 “Associação Comercial de Caxias”. O Momento, 14/07/1941 1276 Machado, Maria Abel & Herédia, Vania Beatriz Merlotti. Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul: 100 Anos de História 1901-2001. Maneco, 2001 1277 “Vamos para esta pugna com a consciência exata da grande responsabilidade que assumimos”. O Momento, 18/10/1947 1275

358

359

Seu falecimento em 5 de junho de 1948 gerou matéria de capa do jornal O Momento, o maior da cidade.1278 A Assembleia Legislativa do Estado aprovou por unanimidade um Voto de Pesar, e, no elogio fúnebre que lhe fez, o deputado Luiz Compagnoni disse: “Sábado último, na cidade de Caxias do Sul, faleceu o sr. João Paternoster. Trata-se de um pioneiro da colonização italiana no Rio Grande do Sul. Faleceu ele com noventa anos de idade, tendo deixado grande, honrada e laboriosa descendência. O sr. João Paternoster é um daqueles que iniciaram a colonização italiana no Rio Grande do Sul, e teve ele, junto com outros pioneiros, como primeiro abrigo, uma toca num tronco de pinheiro, onde nos primeiros dias na nossa Pátria pôde fugir às intempéries e ao frio.Ver nota 1279

“João Paternoster, em seus noventa anos de vida, acompanhou o progresso crescente da metrópole do vinho. Desde a pequena aldeia, vila, município, cidade e metrópole industrial, João Paternoster esteve sempre ao lado dos caxienses cooperando no seu progresso. Não quero deixar passar este instante sem me referir àquilo que deve ter sido o sofrimento e o trabalho desses primeiros colonos, vindos de centros europeus muitas vezes culturalmente mais adiantados do que o lugar que elegido haviam como sua segunda Pátria. Souberam vencer todas as dificuldades, todas as agruras e construíram cidades e vilas encantadoras que, não só o Rio Grande, como todo o Brasil, sabe admirar. Quero me referir não só ao sofrimento oriundo das dificuldades materiais, mas sim a um sofrimento que poucos, hoje, ainda se lembram. “Quero me referi àquela ausência do espírito de vizinhança de que fala Alberto Torres. Deve ter sido um sofrimento horrível a mudança de ambiente. Vinham de um centro, possivelmente cultural e espiritualmente superior, mais adiantado, e foram atirados no meio da selva, no meio de um matagal tremendo e, no entanto, abrindo estradas, no começo picadas, souberam entrar em contato com a nova civilização brasileira e dela terminaram fazendo parte como elementos de primeira ordem. “João Paternoster é um desses pioneiros, é um desses que deixaram a Pátria de origem, e souberam eleger a terra brasileira como sua segunda Pátria, como sua Pátria efetiva, como Pátria na qual quis morrer. João Paternoster pertence àqueles que preferiram a terra brasileira para lhes servir de túmulo. Italiano de nascimento, nós devemos proclamar o patriotismo, não só de João Paternoster, mas de todos aqueles que souberam fazer como ele, elegendo a terra brasileira como sua segunda Pátria. “Por isso, interpretando os sentimentos dos caxienses, e, estou certo, também dos riograndenses representados nesta augusta Assembleia, solicito que seja inscrito, no Diário desta Assembleia, um Voto de Pesar pelo falecimento deste denodado pioneiro e, ao mesmo tempo, seja telegrafada esta resolução da Assembleia à família enlutada”.1280

1278

Compagnoni, Luiz. “O falecimento do Sr. João Paternoster”. O Momento, 26/06/1948 O deputado exagera, não há evidência de que sua instalação tenha sido tão precária, os imigrantes em geral eram recebidos em um grande pavilhão coberto e dispunham de algum atendimento, e ao que se sabe, a instalação da família foi até facilitada por uma carta de recomendação que o pai Giacomo trouxera de autoridades tirolesas. 1280 Compagnoni, op. cit. 1279

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Mário Gardelin escreveu um obituário, mas não pude descobrir se foi publicado em algum jornal. O original está na coleção de Dóris Paternoster. Ele diz: “Nascido na província de Trento, Itália, aos 4 de agosto de 1858, João Paternoster veio ao Brasil com as primeiras levas de imigrantes que povoaram o município de Caxias, aqui chegando em dezembro de 1876. Filho de Giacomo Paternoster, que foi o primeiro professor público do então Campo dos Bugres, e de Orsola dal Piaz, iniciou as suas atividades em Caxias como funcionário da Diretoria de Emigração. Dedicou-se, posteriormente, ao comércio e à indústria, atividades que abandonou para desempenhar, em diferentes épocas, as funções públicas de fiscal de Obras da Intendência Municipal e de subdelegado de Polícia, cargos que exerceu entre 1899 e 1910. Ver nota 1281 Em 1911 fundou o primeiro hotel tipicamente de veraneio em Caxias, estabelecimento que dirigiu por mais de trinta anos e que pode ser considerado como o precursor da indústria do turismo em nosso meio. “Como cidadão, dotado de grande espírito público, João Paternoster participou ativamente da vida social da cidade. Foi ele um dos fundadores da Sociedade de Mútuo Socorro Príncipe de Nápoles (1887) e da Associação Comercial (1901), as duas entidades mais antigas de Caxias. Ver nota 1282 Como católico, convicto que era, participou de inúmeras entidades religiosas da cidade; foi por longos anos presidente da Fabriqueria da Matriz de Santa Teresa (Catedral), tendo sido, igualmente, um dos esteios da hoje Paróquia de São Pelegrino, bairro em que viveu quase toda a sua longa existência de nonagenário.

1281

Como já foi demonstrado, ele não abandonou suas atividades comerciais, exercendo as funções públicas paralelamente. 1282 Aqui o historiador se engana novamente. A primeira entidade da cidade foi a Associação Igreja de São Romédio, fundada em 1876

361

“Homem probo, afável e de sólida formação de caráter, em todas as funções que exerceu granjeou elevado conceito e se impôs à estima e à consideração dos seus concidadãos, especialmente entre os agricultores e as pessoas humildes, que o procuravam sempre como amigo e conselheiro. “João Paternoster faleceu na paz do Senhor em 5 de junho de 1948, agradecendo à Providência de lhe ter concedido a ventura de viver três quartos de século da vida caxiense, acompanhando, dia a dia, o progresso da cidade que ele viu nascer e crescer sob seus olhos e que ele amou como sua segunda Pátria”. Em 1949 sua memória foi novamente lembrada, quando Manoel Peixoto de Abreu e Lima, antecipando as comemorações do 75º aniversário de Caxias, o citou “com veneração e com respeito” em sua homenagem n’O Momento aos “desbravadores e iniciadores do nosso progresso agrícola e comercial”.1283 Em 1950 foi citado entre os primeiros industriais da cidade no grande álbum Documentário Histórico do Município de Caxias do Sul 1875-1950, Comemorativo do 75º Aniversário da Colonização, publicado em 1950 pela Prefeitura, sendo ressaltada sua participação na fundação da Associação dos Comerciantes como um daqueles personagens que mereciam permanecer "em relevo nos anais da história do município, como pioneiros de um grande e útil empreendimento social".1284 Em 1951 Américo Ribeiro Mendes voltaria a falar dele, quando relembrou os pioneiros da cidade e disse que fora um dos “homens denodados e devotados ao trabalho” que demonstravam “o quanto pode o braço forte e persistente do homem”,1285 elogio repetido por João Spadari Adami em seu livro Caxias do Sul (1957).1286 Em 1953 foi dado seu nome a uma escola do município 1287 e foi louvado na Câmara, quando o vereador Guilherme do Valle Tönniges encareceu que ele “emprestara sempre o seu idealismo e dedicação na batalha pela construção de Caxias”, endereçando cumprimentos ao presidente da Casa Legislativa e filho do homenageado, o vereador Pery Paternoster. Um trecho da Ata da sessão mostra a manifestação de Pery: “Ato contínuo, disse o sr. Presidente que tomava a liberdade de usar a tribuna para externar os seus melhores agradecimentos ao vereador Tönniges pelas cativantes expressões que havia expendido pela homenagem que fora prestada pelo Executivo, em dando o nome do seu saudoso pai à escola municipal da Zona Kaiser. O vereador Corsetti, em aparte, ponderou que as palavras do seu colega de representação, vereador Tönniges, deviam ser consideradas como uma manifestação coletiva da bancada trabalhista, como o quê incontinenti este anuiu. A sua família – prosseguiu o vereador Paternoster – só compreendia que representava uma homenagem a um dos velhos pioneiros que, desbravando a serrania, haviam plantado a cidade de hoje. Não era tomada de outra maneira a atitude o Executivo, porquanto João Paternoster, seu pai, fora sempre um homem simples e que nunca se sentira merecedor de tributos. Afinal, profundamente emocionado, agradecia do fundo do coração as manifestações de apreço em memória do seu extremado progenitor”. 1288

1283

Abreu e Lima, Manoel Peixoto de. “Às vèsperas do 70º aniversário”. O Momento, 03/09/1939 Antunes, Duminiense Paranhos (org). Documentário Histórico do Município de Caxias do Sul 1875-1950, Comemorativo do 75º Aniversário da Colonização. Associação Comercial / Biblioteca Pública / Câmara dos Vereadores / Prefeitura de Caxias do Sul, 1950 1285 Mendes, Américo Ribeiro. “Do sr. Americo Mendes”. O Momento, 30/06/1951 1286 Adami, João Spadari. Caxias do Sul. Tipografia Abrigo de Menores São José, 1957 1287 “Inaugurada solenemente a Escola João Paternoster”. A Época, 11/06/1953 1288 Câmara Municipal de Caxias do Sul. Ata da 56ª Sessão Extraordinária – II Legislatura, 08/06/1953 1284

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Escola Municipal João Paternoster - Atual Olga Maria Kayser. Foto antiga do blog da escola.

Na inauguração da escola, foi elogiado pelo prefeito Euclides Triches, conforme narra a imprensa da época: “Seguiu-se com a palavra o major Euclides Triches, que, entre outras coisas, disse que à infância e à mocidade não deviam servir de exemplo, somente, as virtudes dos vencedores de batalhas, dos grandes heróis, mas, também, as dos homens simples e bons que souberam, com o seu trabalho e com sua devoção à família, legar aos seus descendentes um imenso patrimônio de caráter, dignidade e honestidade".1289 A escola mais tarde teve seu nome mudado, chamando-se agora Escola Municipal João Paternoster - Atual Olga Maria Kayser. João deu também nome a uma rua. João foi reconhecido como um dos primeiros industriais e comerciantes da cidade por Adami, Antunes e Herédia.1290 Sua participação na Associação dos Comerciantes foi registrada no livro Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul: 100 Anos de História 1901-2001, que resgatou a trajetória desta importante entidade, publicado em 2001 por Maria Abel Machado e Vania Beatriz Merlotti Herédia. Quando foi criada a Casa de Memória da Paróquia São Pelegrino foram instalados vários painéis ilustrados mostrando a evolução do bairro e da paróquia, onde a história das famílias Sartori, Buratto e Paternoster figura com destaque. Esta mesma história é também um dos eixos estruturadores da primeira parte do livro São Pelegrino: quem te viu, quem te vê, lançado em 2015 pelos pesquisadores Charles Tonet, Tânia Tonet e Ana Seerig, que narra a evolução do bairro.

1289 1290

“Inaugurada solenemente a Escola João Paternoster”. A Época, 11/06/1953 Herédia (1997), op. cit.

363

Valdir dos Santos incluiu a data de falecimento de João Paternoster na sua cronologia de fatos históricos caxienses no jornal Ponto Inicial, recordando a sua “presença atuante na vida comunitária”.1291 Mas apesar das suas múltiplas atividades, hoje João é lembrado quase apenas em associação com o seu famoso hotel, que deixou uma forte marca na cidade. Recentemente Roni Rigon e Rodrigo Lopes, do jornal Pioneiro, escreveram vários pequenos artigos sobre os Paternoster, enfocando principalmente o hotel, alguns dos quais vão reproduzidos logo a seguir. É difícil estimar como e o quanto João se beneficiou pessoalmente com todas as ligações que manteve com a oficialidade. Não se conhece a dimensão exata de sua riqueza, nem quanto foi e o que fez com o que herdou de Maria, sua primeira mulher. Costamilan, como foi dito antes, alega que João “dilapidou” a “imensa” fortuna da ex-baronesa, mas não se sabe bem o que isso significou, pois parece evidente que ele manteve um alto padrão de vida até o final. Refere-se que quando o barão morreu ainda não havia pago uma parte das suas terras, deixando uma dívida de 154$938 réis, descontada em 1893 dos seus herdeiros,1292 os quais não se sabe exatamente quem seriam; não tendo filhos vivos, provavelmente apenas Maria herdou, mas talvez sua irmã Alexandrina, que sobreviveu a ele, estivesse incluída. Mas o valor daquela dívida, ainda que considerável pelo que valia o real naquela data, não era de fato muito alto.

1291 1292

Santos, Valdir dos. “Fatos Históricos de hoje, 08/06”. Jornal Ponto Inicial, 08/06/2008 Gardelin & Costa, op. cit.

364

Assinatura de João Paternoster

365

Suas padarias, ao que parece, sempre desempenharam bem, assim como o seu Hotel, e ocupou cargos remunerados na administração pública. Os banquetes que dava no Hotel deviam ser lucrativos, recebendo 250$000 réis como parte do pagamento por um que deu em 1923, com outra parte ainda por receber, que não declara a quanto montava,1293 talvez outro tanto, ou seja, meio conto de réis, o que era uma quantia nada desprezível, mas tampouco se sabe quanto custava organizar um banquete naquela época. Sua atuação nas direções das várias associações de que participou, especialmente na Associação dos Comerciantes, talvez também lhe valesse pagamentos em dinheiro ou vantagens substanciais de outras espécies. Seus filhos em geral da mesma forma parecem ter vivido bem, ainda que passando por fases difíceis, mas o que ele transmitiu de herança exatamente é um pouco incerto. Segundo sua neta Dóris Paternoster, ele dividiu suas posses entre os filhos ainda em vida, e de fato em sua certidão de óbito consta não ter deixado bens a partilhar. Dante ficou com o hotel, e Pery com terrenos. As filhas devem ter recebido dotes ao casar, como era o costume, que provavelmente incluíam os terrenos onde construíram suas casas, além de partes de um terreno do qual sobrevive a escritura. As antigas terras do barão muito antes de ele falecer já haviam sido parceladas e vendidas. Sobre o restante que possa ter tido nada descobri. Minha avó Ida herdou todos os bens de seus pais adotivos Massimo Sartori e Pascoa da Re, que não tiveram filhos, e pode ter sido beneficiada herdando algo também de seu pai natural. Porém, não há notícia de que tenha herdado algo significativo de João. Sua segunda esposa Marietina sobreviveu a ele por mais vinte anos, rodeada pela família como uma típica matrona italiana.

1293

“Exploração ignóbil”. O Brazil, 17/08/1923

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Cortando o bolo, Marietina Sartori, a segunda esposa de João Paternoster. Da esquerda para a direita, fazendo a volta em seu redor, estão seu filho Pery, e atrás seus enteados Adélia, Inês, meus avós Antonio Frantz e Ida, Atilio Pieruccini e sua esposa Graciema, Angelina e seu esposo João Costamilan, e na frente, Dante.

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Retrato de João Paternoster. Coleção de Dóris Paternoster. A inscrição no canto superior tem a sua letra.

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João Paternoster, já um patriarca, e sua grande família nos anos 30. Da esquerda para a direita, por trás: Attilio Pieruccini, esposo de Graciema; Deodato Canozzi, esposo de Ignez; Pery; Ida, minha avó; José Costamilan, esposo de Adélia; Dante, e João Costamilan, esposo de Angelina. Na fila do meio: Lourdes, filha de Adélia; Graciema, com sua filha Graziela ao colo; Ignez; o menino Oswaldo, filho de Graciema; o patriarca João com o neto Nelson ao colo, filho de Adélia; o menino José, filho de Graciema; Marietina Sartori, segunda esposa de João, com um neto não identificado ao colo; Adélia, e sua filha Hilda, e Angelina, com a filhinha Nelly à sua frente. Esparramados no tapete estão Breno, filho de Adélia; Isay, filha de Graciema; ?; Carmen, filha de Ignez; Sarita e Liró, filhas de Angelina.

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Enquanto João firmava sua posição na cidade, sua família crescia e os filhos batiam suas asas. As filhas estavam entre as donzelas mais cobiçadas de sua época, e casaram em famílias tradicionais, deixando descendência numerosa, espalhada hoje por várias cidades. 1) Adélia Paternoster, “gentil jovem” nascida em 1894, casou-se em 1913 com o “distinto moço” José Costamilan,1294 nascido em 16 de setembro de 1890, filho do ilustre Caetano Costamilan e de Maria Micheli. Seu noivado tem folclore, como narra Costamilan: “Nosso irmão José, quando pediu a mão de sua futura esposa, deu ensejo a que mais uma das irreverências dos Sartori tivesse lugar. Ocorreu que José, então em meio à sua conhecida paixão por Adélia Paternoster (que mal completara 18 anos), a cada pouco era visto no Hotel do seu eventual futuro sogro, onde sempre almoçava; mas, apesar de tanta constância, nunca se decidia a pedir a mão da moça, ou porque temesse levar um contra do velho, que era tremendo, ou talvez por não estar seguro do afeto de sua pretendida, que ele sabia ter muitos admiradores. [...] “A verdade é que João Paternoster estava farto daquilo tudo, e como não fosse homem de meias medidas, um belo dia, exatamente na terça-feira de 15 de outubro de 1912, data em que Caxias comemora a festa de sua Padroeira, decidiu definir as coisas e assim testar o grau da ‘paixão’ do onipresente José. Ver nota 1295 [...] “Mas, pobre homem, foi ele quem acabou sendo surpreendido, pois naquele mesmo dia José pediu a mão de Adélia e deixou bem claro que para isto já há muito tempo estava preparado, eis que deu a ela uma corrente de ouro maravilhosa, [...] montada intercaladamente com pequenos trevos polidos e conchas filigranadas, e que passava por uma harpa em puro ouro maciço, [...] cravejada de pequenos rubis, e de cada lado, dela pendendo algumas tranças tecidas com fio de ouro, além de minúsculas pérolas que encimavam a extremidade das cordas [da harpa]. E, para completar o ‘golpe baixo’ no preocupado João – àquela altura dos fatos já inteiramente derrubado – da ponta da corrente pendia um artístico reloginho, naturalmente todo em ouro lavrado e da melhor qualidade. [...] A feliz noiva, não cabendo em si de contente, foi mostrar ao pai a finíssima joia que ganhara, mas este, visivelmente chocado pela rapidez com que sua farsa dera frutos, limitou-se a dizer para sua filha estas pouco amorosas e significativas palavras: ‘Ah, para você servia também a corrente da vaca!’... “E em continuidade, para piorar ainda mais as coisas, por um desses caprichos do acaso o jovem e garboso Atilio Pieruccini, que na época andava de namoro com Graciema Paternoster, irmã de Adélia, [...] quis também fazer uma surpresa à sua eleita, e assim, decidiu pedir a mão da moça naquele mesmo dia, sem saber, obviamente, que José tomara idêntica atitude... Foi então que o velho Paternoster, sacudido nos alicerces diante de tanto arroubo, ao ouvir o pedido de Atilio não deixou por menos, e naquele seu modo característico, exclamou: ‘Mas o que é isso? Vocês querem destruir a minha família?’ “O jovem Honorino Sartori, que ali se encontrava e que a tudo assistia de longe, para não desmerecer a tradição de seus tios e do pai Ludovico, não deixou escapar a ocasião para se divertir: tomou Angelina pelo braço e, compenetrado como só um Sartori poderia ser, foi pedir ao já transtornado João Paternoster, solene e 1294

“Consórcio”. Città di Caxias, 05/03/1913 João imaginara por à prova o pretendente da filha inventando para ele uma armadilha, mas Costamilan não deixa claro como isso seria feito. 1295

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respeitosamente, que lhe concedesse a mão daquela filha também! Seguindo-se a um sonoro e furioso bater de bengala, dizem, os que viram, pareceu sair fumaça das ventas daquele pai desfalcado. [...] “Teve de concordar, porém, com o pedido tímido que os futuros genros lhe fizeram, para levarem as moças ao cinema ‘sozinhos’... O fato deu margem a muitos comentários, tanto no recinto do ruidoso e acanhado Cine Juvenil, por terem as moças sentado ‘ao lado’ dos rapazes, como também em meio à comunidade espantada, já que ninguém sabia que os pares eram noivos! Um mês e meio mais tarde (vejam a ‘pressa’ do homem), exatamente na quarta-feira de 27 de novembro de 1912, João Paternoster ofereceu um de seus afamados jantares às mães do intrigados pedintes, as viúvas Palmira Pieruccini e Maria Costamilan, e só aí permitiu que as alianças fossem tiradas de seus estojos e fossem passadas, enfim, para os dedos dos seus ansiosos proprietários”.

Adélia e Graciema Sartori Paternoster com seus noivos José Costamilan e Attilio Pieruccini na frente do Hotel Paternoster.

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José Costamilan e Attilio Pieruccini. À direita, Adélia Paternoster Costamilan.

José e Adélia permaneceram por dois anos na 2ª Légua, onde os Costamilan tinham sua base. José adquiriu parte do comércio de seu irmão Frederico, herdeiro dos interesses do pai Caetano, e outra parte foi adquirida pelo irmão Caetano II, que se casou com Amália Rossato. No final de 1914 se transferiram para Caxias, passando a morar num casarão pertencente à família Zeni, ao lado da capela de São Pelegrino, junto com a matriarca viúva Maria Micheli Costamilan, que permaneceu com eles até 1921, quando voltou para a 2ª Légua. Depois José e Adélia se mudaram para outro prédio alugado, até construírem uma casa própria contígua ao Hotel Paternoster.1296 1297 José abriu em 1917 com seu irmão Frederico e José Buzzoni, já citado, uma grande cantina, destacada no álbum Cinquantenario della Colonizzazione Italiana nel Rio Grande del Sud 1875-1925, a Costamilan, Buzzoni & Cia., com representação em São Paulo, depois foi membro da Associação dos Comerciantes, presidente do Esporte Clube Juventude em 1920-21, homenageado com “concorrida festa” em seu aniversário de 1920, conselheiro do Recreio da Juventude,1298 conselheiro municipal e presidente do Conselho em 1930. 1299 1300 1301 1302 1303 1296

Costamilan, op. cit. Dallegrave, op. cit. 1298 “Recreio da Juventude”. O Popular, 06/12/1928 1299 Corrêa, op. cit 1300 “Distracto Social”. O Brasil, 24/03/1923 1301 “Notas sociaes”. O Brazil, 24/09/1920 1302 Centro de Memória da Câmara Municipal de Caxias do Sul, op. cit 1303 Costamilan, op. cit. 1297

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373 Cichero, Lorenzo (org.). Cinquantenario della Colonizzazione Italiana nel Rio Grande del Sud 1875-1925. Edição fac-similar. Pozenato Arte & Cultura, 2000

Porém, Adélia viu o marido falir em 1933, sendo citado judicialmente com dívidas de 300 contos de réis, uma fortuna muito superior ao seu patrimônio, avaliado para leilão, com os abatimentos legais, em apenas 23 contos.1304 1305 1306 A família se mudou de Caxias, e depois seus registros praticamente desaparecem. Sair de sua terra depois da bancarrota foi uma solução frequente entre famílias tradicionais decaídas, que preferiam a fuga do que suportar entre os seus a vergonha moral que o fracasso financeiro acarretava naquela época. O que pude descobrir é que José continuou no ramo dos vinhos, em 1942 foi convidado para atuar em Erechim como enólogo da Cooperativa Boavistense de Vinho, mas esta associação não teve lá muito sucesso,1307 e ele acabou se mudando para Passo Fundo, onde faleceu em 8 de novembro de 1974. Ali deve terse destacado, pois acabou virando nome de rua,1308 mas nada encontrei sobre suas atividades nesta cidade. Porém, fotos dos anos 60 mostram Adélia e José em Passo Fundo, vestidos com apuro, indicando que conseguiram recuperar uma boa condição socioeconômica. Seus filhos foram: a) Nelson Caetano Costamilan, guarda-livros. b) Breno José Costamilan, de vida obscura, teve um terreno na cidade de São Paulo,1309 mas seu espólio foi aberto em 2015 em Monte Santo de Minas a pedido de Sandra Salete,1310 que deve ter sido uma filha. Ela casou-se com Roberto Schafer, com quem teve o filho André Schafer, nascido em Santa Maria em 06/01/1978, casado, artesão, pasteleiro e representante comercial, domiciliado em Florianópolis. Teve muitas dificuldades, foi acusado e condenado por vários pequenos crimes,1311 1312 e acabou virando morador de rua, mas foi resgatado pelo Movimento Nacional da População de Rua e hoje é representante municipal do movimento.1313 Um depoimento que deixou é significativo: “Tenho outra história a partir da militância. Antes eu era criminalizado, julgado, criticado e, muitas vezes, até com razão, por conta dos crimes que cometi no passado. A partir do momento que dediquei a uma luta verdadeira, comecei a ocupar espaços que jamais imaginei que iria ocupar. Hoje consigo entrar num espaço e não mais ficar de cabeça baixa, não fazer fala de vítima, mas de sujeito de direito”.1314

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“Edital”. O Momento, 26/07/1934 “Edital”. O Momento, 31/05/1934 1306 “Edital”. O Momento, 14/06/1934 1307 Cima, Sônia Mári. Padre Busato: Um protagonista na história de Erechim (1926-1950). Dissertação de Mestrado. Universidade de Passo Fundo. 1308 Prefeitura Municipal de Passo Fundo. Lei nº 1.912 de 26 de Agosto de 1980 1309 Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Decreto nº 28.335, de 15 de abril de 1988 1310 “Abertura, registro e cumprimento de testamento. 00005 - 0013394.80.2015.8.13.0432”. Diário de Justiça do Estado de Minas Gerais, 23/11/2015 1311 “Ação Penal - Ordinário nº 082.08.003740-4”. Diário da Justiça do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, 31/05/2012 1312 Ação Penal Comum, 023.04.065630-9”. Diário da Justiça do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, 17/06/2005 1313 “Audiência Pública sobre população em situação de rua realiza primeiras deliberações”. Desacato, 19/12/2015 1314 “Movimento auxilia população em situação de rua”. Estopim, 07/09/2017 1305

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c) Lourdes e d) Hilda Costamilan, professoras. e) Paulo Costamilan, editor e colaborador do livro de seu tio Angelo Ricardo e ao que parece associado em uma imobiliária em Passo Fundo. f) Vasco Frederico Costamilan, advogado, fiscal do antigo Tesouro Nacional,1315 técnico em Tributação do Ministério da Fazenda,1316 e inspetor do Trabalho do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, radicado em Curitiba e falecido antes de agosto de 2010. Foi casado com Geny Bandeira e não foi encontrado registro de prole, mas pela combinação de sobrenomes devem ser suas filhas f1) Teresa Cristina Bandeira Costamilan e f2) Paula Maria Bandeira Costamilan, coordenadora de Assuntos Econômicos da Secretaria da Fazenda do Paraná.1317 g) Yeddo João (Iedo) foi agente administrativo do Ministério do Trabalho, aposentou-se por invalidez em 1976 1318 e faleceu em 2005. Sua mulher, Selma Gandini, falecida em 2016, foi figura ilustre, que ganhou grande estima na comunidade como professora em vários colégios e ativa em obras sociais. 1319 Foi membro emérito da Academia Passo-Fundense de Letras,1320 membro do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente,1321 e Cidadã Honorária de Passo Fundo.1322 A Academia publicou uma biografia antes de sua morte:

Paulo Costamilan em sua Primeira Comunhão. Abaixo, Vasco Costamilan.

“Natural de Montenegro, Selma é a 10ª filha de Sebastião Gandini e Amália Zanatta Gandini, que tinha uma pequena fábrica de queijos. Em Tapejara seu pai foi um dos pioneiros e destacados comerciantes de madeiras da região. Nascida em 1º de setembro de 1926, Selma fez seus primeiros estudos na Escola Medianeira de Todas as Graças, continuando na Escola Complementar, já em Passo Fundo, e na Escola São José, de Vacaria. Fez o curso de Complementação Pedagógica para Magistério no Colégio Normal Bom Conselho de Passo Fundo, depois, a Formação Pedagógica no Centro de Pesquisa e Orientação Educacional da SEC, por quatro anos. Realizou, também, diversos cursos de extensão universitária para ensino musical e regência de coral. Também cursou Teologia Pastoral, durante quatro anos, para o exercício da disciplina de Educação Religiosa. Cursou, em etapas, mil horas de treinamento para o exercício de Serviço Social Escolar no Departamento de Assistência ao 1315

“Contribuinte e Fiscal, Ambos Terão Bom Futuro”. Diário do Paraná, 18/06/1968 “Fazenda aprova 22 do PR em concurso”. Diário do Paraná, 12/04/1970 1317 Avelar, João Marcos. A escassez de mão-de-obra especializada e seu impacto na produtividade e competitividade do polo do vestuário de Cianorte no período de 2003 a 2007. UFPR, 2009 1318 Ministério do Trabalho. “Anexo III – Quadro Suplementar”. Diário Oficial da União, 29/04/1976 1319 Monteiro, Paulo. Selma Costamilan: professora, ativista social e historiadora. Projeto Passo Fundo, 30/04/2012 1320 Cunha, Gilberto. “O novo livro de Selma Costamilan”. O Nacional, 16/10/2015 1321 Prefeitura Municipal de Passo Fundo. Lei nº 2963/94 de 1º de setembro de 1994 1322 Selma Gandini Costamilan. Projeto Passo Fundo 1316

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Educando. Sempre atualizada, a professora Selma fez o curso superior de Pedagogia Especial, na UPF, para educação de deficientes mentais e de aprendizagem, dentro da Psicopedagogia, numa intensa pesquisa na área da educação especial, motivada pelos desafios de lentidão de aprendizagem que encontrou nos programas do Serviço Social Escolar, no antigo Mobral, e nas próprias escolas de currículo regular. “Iniciou sua carreira como professora particular em 1955, passando, um ano depois, para a rede estadual, no Grupo Escolar Fernando Borba, de Tapejara. Em 1960, transferiu-se para Marau, onde foi coordenadora do Serviço de Expansão Descentralizada do Ensino Primário, cargo de elevada confiança do governo daquela época, em que o Programa semeou o Estado do Rio Grande do Sul com escolas, e no qual Selma foi destaque, por seu espírito dinâmico e criativo. Em meados de 1964, transferiu residência para Passo Fundo, onde foi designada pela 7ª Delegacia de Ensino à Escola Lucille Fragoso de Albuquerque, no bairro Valinhos, na qual realizou trabalho de Serviço Social, além de exercer classe. Destacou essa escola num Seminário de Artes, compondo, também, o hino daquele educandário, cantado até hoje.

Nelson e Yeddo Costamilan. Abaixo, Selma Gandini Costamilan. Foto da Academia Passo-Fundense de Letras.

“Em 1966, passou a exercer suas funções na Escola Estadual Antonino Xavier e Oliveira, da Vila Luiza, em Passo Fundo, onde, além de dar aulas de música e educação religiosa, engajou-se na luta para a solução de problemas daquela vila, como a construção da escola, da Igreja São Judas Tadeu e do monumento e do coral que levou o nome de Padre Jacques. Destacou a escola com muitos trabalhos premiados, entre eles o 1º lugar com peça teatral escrita e dirigida por ela e apresentada por 35 crianças da escola, na Semana do Exército em 1971. [...] Selma fundou e dirigiu por seis anos o Coral Vicentino Padre Jacques, composto por alunos da Escola Antonino Xavier, que se destacou em toda a região, levando a palavra do Evangelho. Compilou várias biografias de pessoas ilustres e históricos de empresas, trabalho que faz parte do acervo da Biblioteca da Escola Antonino Xavier em dois volumes com o título de Conhecimento de Valores de Passo Fundo. [...] “Na Vila Luíza, fundou e foi diretora da Conferência Vicentina Padre Jacques, junto a um grupo de professoras, para atendimento ao escolar carente. Em 1972, a convite da 7ª DE, passou a integrar a equipe do Departamento de Assistência ao Educando, sendo responsável pelo Programa de Serviço Social Escolar, que coordenou a organização e legalização dos círculos de pais e mestres dos municípios da 7ª Região Escolar, com o objetivo primordial de dar assistência ao menor carente. Presidiu, também, a antiga Comissão Municipal do Mobral, a convite do ex-prefeito Wolmar Salton, cargo considerado Destaque Nacional, constando com menção honrosa, assinada pela Coordenação Estadual e Nacional.

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“Nos últimos anos, até sua aposentadoria, em março de 1984, exerceu funções junto ao Eenav, ministrando aulas de Educação Religiosa, coordenando um clube de jovens, promovendo organizações festivas, além de prestar serviço de delegações públicas da escola. Como conselheira do 7º Núcleo do Cpers, Selma procurou a união dos professores junto à entidade. Escreveu o histórico do Cpers na 7ª região, num livro lançado festivamente no 7º Núcleo. Durante dez anos, presidiu o Conselho Comunitário de Assistência aos Presidiários e lutou para a oficialização da Escola Municipal do Presídio Regional de Passo Fundo, na época da administração de Fernando Carrion. Com ideias avançadas referentes à Educação Social, Selma mantém a preocupação com a Educação Especial para presidiários. Lutou, engajada a um grupo de pessoas, para a recuperação de detentos e sua reintegração ao convívio familiar. [...] Por seus trabalhos, já recebeu diversas honrarias, dentre elas Menção Honrosa da Qualidata, da Academia Passo-Fundense de Letras, do Exército, do Clube de Oficiais da Brigada Militar, da Câmara de Vereadores e muitos outros. Selma é autora dos livros Passo Fundo, nome próprio feminino; César Santos, a trajetória de um pioneiro e publicou artigos em revistas e jornais sobre assuntos diversos”.1323 Os filhos do casal foram: g1) Ben Hur Tadeu Costamilan, advogado e assessor técnico superior da Prefeitura de Passo Fundo. g2) Clarice Costamilan desempenha a mesma função,1324 e é também dona da agência e escola de modelos Costamilan’s Models. g3) D’Artagnan Costamilan é grande empresário do ramo imobiliário. Casado com Nilce Graeff, gerou g3a) Cristiano Graeff Costamilan, diretor comercial da Imobiliária Village Dunas em Sombrio, pai de Laura; g3b) Tavane Graeff Costamilan, que deu informações sobre a genealogia de sua família, mãe de Luz Benedita; g3c) D’Artagnan Graeff Costamilan, casado com Michele Rodrigues da Rocha e pai de Vincent Rodrigues Costamilan. Com outra mulher D’Artagnan (pai) gerou g3d) Ramon Costamilan, diretor estratégico da Village Dunas. g4) Tâmara Costamilan, formada em Letras e Psicologia, desenvolveu atividade relevante e recebeu Menção Honrosa da 7ª DE e do antigo Juizado de Menores. Mudou-se para São Luiz do Maranhão após se aposentar, onde se dedicou à arte.1325 Falecida em 2012, era casada com Rogério Liska, auditor da Receita Federal de Passo Fundo,1326 tendo o filho Renato Costamilan Liska, advogado. g5) Arquimedes José Costamilan é empresário do setor de calçados e alimentos, casado com Fabianne Tatim Cato, administradora de empresas, gerando Amanda, advogada, e Ângelo.

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Academia Passo-Fundense de Letras. Acadêmicos Através dos Tempos. Prefeitura de Passo Fundo. Relatório: FPRE118.COL - CCs 2011 1325 “Capa”. In: Água da Fonte – Revista da Academia Passo-Fundense de Letras, 2012; 9 (11): 3 1326 “ACCIAS realiza encontro com auditores da Receita Federal”. Rádio Sideral, 29/03/2017 1324

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Angelina Paternoster Costamilan e as filhas Liró, Sarita e Nelly. À direita, João Sady Costamilan e a esposa Ruth Maciel.

Estreitando ainda mais os laços entre os Paternoster e os Costamilan, 2) Angelina Paternoster, nascida em 27 de novembro de 1895, casou-se em 1º de julho de 1917, com João II Costamilan, outro filho de Caetano I, radicado em Antônio Prado, comerciante, sócio de Virgilio Merlotti na Costamilan, Merlotti & Cia., que tinha em 1929 um capital de 40 contos.1327 Depois se mudaram para Curitiba, estado do Paraná, onde montaram o Hotel São Luiz. Costamilan fala de Angelina como um “tipo humano inesquecível, transbordante de vida e de fé”. Ela voltou a Caxias em seus últimos dias e faleceu em 7 de setembro de 1961. João, que permanecera em Curitiba, faleceu em 28 de janeiro de 1972, sendo sepultado em Caxias. Deixaram os filhos: a) João Sady Costamilan, funcionário do Banco Central do Brasil,1328 casado com Ruth Maciel. Deixaram os filhos: a1) João Sady Costamilan Filho, formado em Educação Física e Ciências Contábeis, hoje corretor de imóveis em Curitiba. É divorciado e pai de a1a) Juliana Vonijone Costamilan, diretora de departamento da Secretaria Municipal de Saúde de Jaraguari, no Mato Grosso do Sul. João Sady deu uma ajuda valiosa para completar a genealogia deste ramo, pelo que deixo registrado meu agradecimento. a2) Maria de Fátima Costamilan desde jovem se interessou pelas causas sociais, e passou a se dedicar concretamente a isso entrando em um grupo católico que fazia atendimentos e visitas em bairros pobres, orfanatos e asilos. Sua atividade se aprofundou após entrar em contato com o celebrado sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, em 1993, participando do seu projeto de cidadania contra a fome, a miséria e pela vida. Fez carreira como bancária da Caixa 1327 1328

“Junta Commercial”. A Federação, 15/05/192 “Banco Central do Brasil”. Diário Oficial da União, 05/04/1976

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Econômica Federal, e dirige há mais de quinze anos a seção paranaense de uma OSCIP de âmbito nacional fundada por funcionários da Caixa, a Moradia e Cidadania, de relevante atuação na promoção da educação digital, alfabetização de jovens e adultos, microcréditos, moradia para baixíssima renda, ações emergenciais, apoio e incentivo à educação, cultura, saúde, geração de emprego, defesa do meio ambiente, assistência social e o combate à fome, à miséria. Também foi membro do Conselho Municipal de Economia Solidária de São José dos Pinhais e de Curitiba, secretária de Políticas Sociais e Estudos Econômicos da Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito-CUT-PR.1329 1330 Também foi membro do Fórum Paranaense de Economia Solidária,1331 da diretoria do Sindicato de Bancários de Curitiba e Região e através dele representante do Paraná no Coletivo Nacional de Mulheres Bancárias,1332 e da diretoria da Central Única dos Trabalhadores do Paraná CUT-PR.1333 a3) Jeanine Maria Costamilan. a4) Bruno Cesar Costamilan, bancário, casado com Fabrícia Córdova, vendedora. a5) Antônio Luiz Costamilan, formado em Turismo e Hotelaria e assistente administrativo do município de Guaraquecaba.

Maria de Fátima Costamilan, foto Moradia e Cidadania.

b) Liró Costamilan, casada com Romeu Lampert de Mesquita, continuador do Hotel São Luiz e tesoureiro e conselheiro do Centro Gaúcho do Paraná, destacado clube social e tradicionalista.1334 1335 O casamento gerou b1) Angela Costamilan de Mesquita, empresária, b2) Pedro Jorge Costamilan de Mesquita, escrivão da polícia e candidato a vereador em Rio Negro, e b3) João Cassio Costamilan de Mesquita, auxiliar administrativo. c) Sarita Ana Costamilan foi casada com Feliciano Vecchi e faleceu com 89 anos em 14 de agosto de 2010 em Curitiba.1336 Foram pais de: c1) Maria Clarice Vecchi, sócia de uma empresa de design gráfico, casada com Francisco Alencar, colunista do jornal Primeira Linha.1337 c2) Maria Cristina Vecchi, nascida em 03/07/1964, faleceu precocemente, deixando os filhos c2a) Yuri Vecchi, analista de sistemas e programador, casado com Jozeanna Bolc, professora de música, e pai de Cecília, e c2b) Jéssica Vecchi.

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“Árvore de Natal solidária incentiva sócios a apadrinharem crianças carentes”. Associação do Pessoal da Caixa Econômica Federal do Paraná, 08/11/2017 1330 Meyer, Patrícia. “Evento com apoio da ONG Moradia e Cidadania resgata importância de uma alimentação saudável”. FETEC-CUT-PR, 18/10/2006 1331 “Economia Solidária precisa de reconhecimento do poder público”. Tadeu Veneri, 13/08/2015 1332 “Paraná no Coletivo Nacional de Mulheres Bancárias”. Sindicato de Bancários de Curitiba e Região 1333 “11° CECUT elege nova direção estadual para o próximo período”. CUT/PR, 22/06/2009 1334 “Centro Gaúcho Comemora o 10º Aniversário Amanhã”. Diário do Paraná, 30/07/1964 1335 “Centro Gaúcho”. Última Hora, 15/01/1964 1336 “Falecimentos do dia 14/08/2010”. Blog de Utilidade Pública do Paraná, 15/08/2010 1337 Alencar, Chico. “Tim Tim pra nóis!” Primeira Linha, Edição 979

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Sarita Costamilan e o marido Feliciano Vecchi

c3) Mauro José Vecchi e c4) Márcio Luiz Vecchi, criadores de cavalos crioulos, proprietários da Fazenda e Haras Cainã em Balsa Nova, no Paraná, 1338 premiados na 2ª Expo Morfológica de Bauru, 1339 e controladores da extinta Objetiva Administradora de Consórcio, atuante em Curitiba na área de veículos automotores. 1340 d) Nelly Costamilan, casada com Luiz Michelin, negociante de automóveis, permanecendo em Caxias. Foram pais de d1) João Carlos Michelin, d2) Suzana Michelin, casada com Gerson Lisboa Garcia, engenheiro de minas, ex-diretor-superintendente da Carbonífera Catarinense S/A e membro da Comissão Técnica do Meio Ambiente do Setor Carbonífero, d3) Suzete Michelin, funcionária da Prefeitura de Porto Alegre, e d4) Saly Simone Michelin. e) Maria do Carmo Costamilan foi professora, falecendo com 71 anos em 3 de julho de 2010 em Curitiba.1341 Deixou a filha Ana Paula Passos, ao que parece ginecologista e obstetra em Curitiba. Cabe agora traçar as origens dos Costamilan, descendentes de Ana Maria Paternoli e Giacomo Daniel Costamilan, nativos de Pergine, no principado de Trento. Giacomo nascera em 17 de maio de 1827, havia recebido educação, fez carreira no exército imperial no batalhão do imperador, chegou a cabo e deu baixa em 31 de outubro de 1859 como sargento e com distinção. Segundo Costamilan, que conservou o documento de sua baixa, ele fora condecorado com a Cruz do Mérito Militar e agraciado com o título de cavaleiro da Ordem Imperial de Leopoldo. Depois viveu com conforto, dono de uma hospedaria. 1342 Teve dez filhos: João, José, Caetano, Luiz Henrique, Virginia, Albino, Emilio, Neonata e Maria Giovanna. Frederico, seu último rebento, nasceria no Brasil. Sua imigração, segundo conta seu descendente historiador, embora derivasse também das poucas perspectivas que os filhos tinham em sua terra, aflita nesta época por séria crise, foi mais o resultado de um impulso de aventurar-se, estimulado por José, Caetano e principalmente por João, cuja determinação de

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Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos. Catálogo de Marcas. “Aconteceu a 2ª Expo Morfológica de Bauru”. O Site Oficial do Cavalo, 05/06/2008 1340 “Consórcio Objetiva pode ter lesado 500”. O Estado do Paraná, 30/09/2005 1341 “Obituário”. Gazeta do Povo, 04/07/2010 1342 Corrêa, op. cit. 1339

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Caetano Costamilan e Maria Micheli com o primeiro filho, José, em torno de 1891. Foto de Costamilan. Ao lado, a sua primeira residência, foto de Arlindo Dallegrave.

viajar a qualquer custo fez com que toda a família se movimentasse com ele a fim de não se separarem. 1343 Os Costamilan se radicaram basicamente nas comunidades de São Valentim e Loreto na 2ª Légua, hoje o distrito de Forqueta, estando entre os primeiros a chegar, ainda em 1875,1344 mantendo porém fortes laços com a Sede Dante. Deixaram uma notável marca em Caxias mas muitos tiveram destinos infelizes e acidentados. Os principais incentivadores da viagem acabaram tendo finais trágicos: José com 27 anos, morto em um acidente de barco, quando já era dono “da maior casa de comércio de São Vigílio”, como referiu Corrêa;1345 Caetano com 41, também deixando um significativo legado, mas morrendo entristecido pela incompreensão que recebeu depois de tanta contribuição à comunidade, e João, segundo disse Costamilan, de vida mal conhecida e temperamento inconstante, rejeitou a oportunidade de estudar e “seria acompanhado pela má sorte, nada realizando que justificasse sua decisão de emigrar, a não ser a mera execução de um desejo e a descendência que deixou”, que se estabeleceu principalmente em São Paulo e ali floresceu com muitos membros em destacadas posições. Neonata faleceu ainda criança; Maria Giovanna, radicada na comunidade de Nova Trento (hoje o município de Flores da Cunha), casada com João de Boni, professor e músico, morreria jovem em seu terceiro parto, e com ela o bebê, e Virginia, a única filha a chegar à velhice, teve o marido Anéo Passoni brutalmente assassinado à sua frente e depois encontrou muitas dificuldades para criar seus cinco filhos. Contudo, casou-se de novo, com José Oppelt, viúvo e já com oito filhos seus, e foi feliz com ele e a grande filharada em Sertão Sant’Ana, município de Barra do Ribeiro, onde se radicaram e onde José tinha um grande comércio... e onde tiveram mais seis filhos! Depois de dez anos de casamento, José também faleceu, deixando a viúva com um árduo trabalho sobre si para educar os doze que ainda eram pequenos e gerir os negócios do defunto, e para complicar, um de seus maiores clientes faliu, causando-lhe um grande prejuízo. O pai Giacomo, depois de um início tipicamente difícil como agricultor, desenvolveu atividade comercial com sucesso, abastecido pelos filhos José e João, que haviam se mudado para Porto Alegre para trabalhar, mas acabou sua vida, nas palavras de Costamilan, “em solidão e desencantamento”. 1343

Costamilan, op. cit. Corrêa, op. cit. 1345 Corrêa, op. cit. 1344

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Os sete filhos homens de Caetano Costamilan e Maria Micheli, reunidos por ocasião do matrimônio de João e Angelina Paternoster em 1917. Sentados, da esquerda para a direita, estão Caetano II e Ernesto, e na fila de trás, o noivo 382 João, Frederico, José, Angelo Ricardo, o futuro historiador, e Settimo. Foto de Costamilan.

A segunda casa de Caetano Costamilan, esplêndido representante da arquitetura colonial italiana. De acordo com Dallegrave, foi construída por Angelo Florian, Pietro Zapparoli, Blasio Spinatto e Carlo Fedrizzi, com projeto possivelmente de Luigi Segalla, inaugurada em 11 de dezembro de 1897 com as bênçãos do padre Maximilian von Lausberg. Nesta casa abrigou-se o padre Nosadini depois do atentado que sofreu, sendo muito amigo da família. No térreo funcionou a primeira vinícola de Caetano, a primeira de Loreto. É uma das edificações históricas mais importantes desta comunidade. Foto de Carcamano em Raízes da Arquitetura. Ao lado a segunda capela de Loreto, erguida com sua participação, mas esta ele não viu terminar. Seus filhos Settimo e Ernesto estavam entre os fabriqueiros. Foto de Carcamano em Panoramio.

Possamai disse que “desde o prinício da imigração os trentinos faziam questão de afirmar uma identidade separada em relação aos outros italianos”,1346 e Corrêa fala sobre as relações familiares dos Costamilan: “O imigrante trentino Caetano Costamilan tinha laços com seis famílias trentinas em Caxias do Sul: com a família Micheli, da qual sua esposa era membro, e de compadrio e amizade com as famílias Laner, Paternoster, Bampi, Santini e Casapiccola. [...] As relações sociais entre os imigrantes trentinos, além da manutenção de laços de parentesco e amizade, também tinham a intenção de manter a união e a identidade do grupo trentino na região de colonização italiana”.1347 Caetano tornou-se influente figura da comunidade, chamado de “grande líder” por Brandalise, opinião também do padre Nosadini. Em Porto Alegre chegou a posições de comando nas empresas onde trabalhou e fez um bom dinheiro, e sempre mantendo contatos com grandes empresas da capital, depois foi industrial do vinho e um dos maiores comerciantes e representantes comerciais da região de Caxias, com lojas na 2º Légua e na Sede Dante. Foi vice-presidente da Exposição Agro-Industrial de 1898, um dos fundadores e da primeira Diretoria da Associação dos Comerciantes, dirigente do Partido Republicano, conselheiro municipal, presidente da Junta Eleitoral (5ª Seção), 1348 1349 1350 1351 presidente do Comitato Católico de Santo Inácio da Capela de São Vigílio,1352 e benemérito da comunidade de Loreto, na 2ª Légua, onde fundou uma escola, que leva seu nome, e a Capela de Nossa Senhora de Loreto, além de lutar pela comunidade de várias maneiras, muitas vezes sem sucesso e ao

1346

Apud Corrêa, op. cit. Corrêa, op. cit. 1348 Costamilan, op. cit. 1349 Corrêa, op. cit. 1350 Gardelin, Mário. “O pacificador de Caxias”. Pioneiro, 16/03/1974 1351 “Acta da reunião dos republicanos de Caxias”. A Federação, 08/08/1895 1352 “Cronaca della Federazione”. Il Colono Italiano, 15/07/1898 1347

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custo de grandes aborrecimentos, prejuízos financeiros e perigos de várias ordens, incluindo perseguições políticas e até ameaças de morte.1353 Depois de ganhar medalhas com sua produção de vinho, foi um dos envolvidos no famoso caso das remessas de vinho exportadas para São Paulo mas apreendidas por estarem adulteradas, que gerou grande controvérsia e reverteu em prejuízo para a imagem dos produtores locais, mas ao que tudo indica a contaminação do vinho foi fruto de má fé de intermediários e desafetos e de alegados “técnicos” que percorriam as colônias, segundo afirmou Costamilan. Depois de um inquérito oficial, que lhe foi favorável, sua inocência foi divulgada no jornal A Federação.1354 Não obstante, diz seu filho historiador que este foi o golpe final em sua atribulada carreira, causando-lhe um desgosto tamanho pela mancha que causou em sua reputação, embora injustamente, que precipitou sua morte. A esposa de Caetano, Maria Micheli, faleceu em 1928, e foi lembrada em um obituário n’O Regional, reproduzido ao lado. A família manteve comércio em Loreto até os anos 70 e ainda tem descendentes na área. Caetano teve dez filhos com Maria – Caetano II, Ernesto, João II, Frederico, José II, Angelo Ricardo, o futuro historiador, Settimo, Maria Teresa, Hermelinda e Josefina –, sendo tronco de uma família tradicional que se espalha por várias cidades, e que produziu outros nomes notáveis. Frederico foi sub-prefeito em Loreto, homem de cultura, representante comercial de grandes empresas, comerciante em São Vigílio e mais tarde herdeiro dos grandes negócios de seu pai, que porém não levou adiante, desativando a cantina e depois passando o comércio para José II e Caetano II.1355 Foi casado com Yolanda Biazus, gerando Sônia e Júlio, este vereador três vezes, deputado estadual duas vezes e federal três, que se destacou na luta pela implantação na cidade do Hospital Geral e do Polo Metal-Mecânico.1356 Ernesto e Settimo foram fabriqueiros da segunda Igreja de Loreto, e Settimo foi sub-prefeito no Distrito. 1357 Hermelinda, hoje nome de rua, casaria com outro parente nosso, Donato Rossi, filho de Felice Rossi e Teresa Paternoster, já citados.

1353

Costamilan, op. cit. “Governo do Estado”. A Federação, 29/12/1903 1355 Costamilan, op. cit. 1356 “Deputado Costamilan quer união dos caxienses”. Pioneiro, 17/01/1976 1357 Dallegrave, Arlindo Luiz. Loreto: 135 Anos de Luta e Trabalho. Maneco, 2012 1354

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O deputado Júlio Costamilan, foto da Câmara dos Deputados. Ao lado, Angelo Ricardo Costamilan, foto de Adami.

Angelo Ricardo, nascido em Loreto em 11 de junho de 1898, aprovado “com máxima distinção” no tradicional Colégio do Carmo em Caxias,1358 formado contador, depois foi corretor de seguros, agente da firma Previdência do Brasil, administrador do espólio do extinto Banco Popular,1359 tesoureiro do Recreio da Juventude, 1360 da Sociedade de Mútuo Socorro Príncipe de Nápoles1361 e do Banco Pelotense;1362 gerente do Banco Pfeiffer1363 e do Banco Industrial e Comercial do Sul;1364 membro do Conselho Fiscal da Metalúrgica Eberle,1365 conselheiro do ABC Atlético Clube 1366 e da Cooperativa Viti-vinícola Santo Antônio,1367 e viceprefeito de Caxias. Angelo foi benemérito do Orfanato Santa Teresinha e do Círculo Operário, e doou a imagem de Nossa Senhora Auxiliadora da Igreja de Loreto.1368 Foi também historiador, escrevendo Homens e Mitos na História de Caxias (1989), 1369 obra importante da historiografia da cidade, editada e ampliada por seu sobrinho Paulo Costamilan e seu filho Carlos Érico, qualificada pelo conceituado Mário Gardelin como “monumental”,1370 que é a fonte para a maior parte do que eu registro aqui sobre as famílias Sartori, Paternoster e também a sua. Gozando “de geral estima”,1371 faleceu em 10 de dezembro de 1986, e hoje é nome de rua. Foi casado com Elydia Artico Raabe, também nossa parente, prima de minha avó Leda Artico, tendo os filhos Nilva Maria, Carlos Érico e Ângelo Caetano.1372

1358

“Collegio N. S. do Carmo”. O Brazil, 23/08/1911 “Pelo comércio”. O Momento, 08/02/1934 1360 “Club Juventude”. O Brazil, 18/12/1920 1361 “O Aniversário da Sociedade Caxiense M. S. Principe de Napoles”. A Época, 17/11/1940 1362 “Banco Pelotense”. A Federação, 08/02/1927 1363 “Viajantes”. A Época, 11/12/1938 1364 “Aniversários”. O Momento, 18/08/1945 1365 “Metalúrgica Abramo Eberle SA”. Jornal do Brasil, 19/10/1974 1366 “Esportes”. A Época, 20/08/1939 1367 “Sociedade Cooperativa V. V. Santo Antônio Lda.” A Época, 01/10/1939 1368 Dallegrave, op. cit. 1369 Costamilan, op. cit. 1370 Gardelin, Mário. “Apresentação do autor”. In: Costamilan, op. cit. 1371 “Banco Pfeiffer S. A.”. A Época, 14/05/1939 1372 Dallegrave, op. cit. 1359

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Carlos Érico foi um entusiasta dos automóveis, sócio gerente da agência Simca – Importadora Auto Nordeste Ltda., e deixou uma interessante memória sobre si e o Simca Chambord, 1373 que conta um pouco da história da cidade e os novos interesses que o progresso vinha despertando: "Fui sócio-gerente da firma Importadora Auto Nordeste Ltda., que vendia automóveis Renault, Chrysler, Skoda, caminhões Fargo, tratores Hanomag e Zetor, autopeças em geral. Em dezembro de 1958, viajei ao Rio de Janeiro à procura do Banco Nacional de Minas Gerais S.A, que se dizia ser o gestor da instalação da fábrica Simca do Brasil. Dali me recomendaram que fosse a Belo Horizonte, onde seria instalada a fábrica. “Procurei o Banco Nacional, onde fui informado que realmente a fábrica seria instalada no Distrito Industrial de Sta. Luzia, mas que provavelmente os veículos seriam montados em S. Paulo, nos pavilhões da Varam Motors, onde eram montados os veículos da marca Nash, na via Anchieta, bem defronte à Volkswagen. A parte comercial deveria ser tratada com o Dr. Marcelo Azeredo dos Santos, no edifício Conde Prates, à Rua Libero Badaró, centro de S. Paulo. “Ali, pois, compareci com o dossiê completo da minha firma. Eu era então um jovem de 24 anos, embasbacado com a grandiosidade de S. Paulo, onde eu então pela primeira vez viajava. Dr. Marcelo, Diretor Comercial, um verdadeiro gentleman, simpatizou comigo e analisou rapidamente minha a papelada, prometendo que eu seria visitado logo pelo Inspetor da Simca para efetivar a nomeação, o que realmente aconteceu logo no início da 1959. “Lembro-me que os primeiros Chambord eram vendidos ao preço ‘de tabela’ da fábrica de CR$ 958.500,00 (não lembro bem qual a moeda da época). Os primeiros carros foram logos vendidos, e em seguida comecei minhas peregrinações por S. Paulo, até duas vezes por mês, para retirar mais carros, tratar das garantias, peças e etc. “Os Simca Chambord tinham motor V8 de apenas 84 cv a 4.500 rpm, três marchas a frente, segunda e terceira sincronizadas, com palanca ao volante. O motor V8 era, na realidade, uma derivação menor do famoso 8BA da Ford, que na França fabricava o Ford Vedette (cuja fábrica foi vendida à Simca francesa). Em Caxias do Sul, como no resto do Brasil, imperavam os veículos norte-americanos: Dodge, Ford, Chevrolet, Mercury, Lincoln, Buick, Cadillac, Pontiac, OSMobile, Packard e outros, caracterizados por sua potência e grande torque, o que justamente faltavam aos Chambord. Por isso era preciso ‘quebrar’ este tabu de força e resistências dos carros americanos. “Na época foi fundado o CAEC (Caxias Auto Esporte Clube) do qual eu era membro dirigente. Organizamos então em meados de 1959, o primeiro KM de Arrancada em Caxias do Sul. O Simca Chambord, que pilotei, venceu em todas as categorias de cilindradas, superando naturalmente os carros americanos, que embora com maior cilindrada e potência estavam ultrapassados. Logo a seguida organizamos o 1º Circuito da Cidade de Caxias do Sul, vencido pelo Simca Chambord de Catarino Andreatta. “Em Abril de 1960 realizou-se o KM Lançado de Taquara/RS, cidade perto de Caxias do Sul e Porto Alegre. O Simca Chambord venceu em diversas categorias. Ainda em 1960, organizamos a 1ª Subida da Montanha, na BR2, hoje BR116, de Galópolis a Caxias do Sul, com chegada defronte ao Monumento Nacional ao Imigrante. Venceu o Simca 1373

Costamilan, Carlos Érico. “Simca do Brasil”. Fórum Amigos do Simca, 09/07/2011

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Chambord de Catarino Andreatta. Assim que – segundo os próprios dirigentes da fábrica – Caxias do Sul e a nossa revenda Importadora Auto Nordeste Ltda, foi a pioneira em colocar o Chambord em competições esportivas. “Granjeamos então notável simpatia em todos os setores da fábrica a ponto de, num contato particular com o Diretor Presidente Sr. Pasteur termos sido contemplados com a doação do Simca Chambord que fazia as filmagens do Vigilante Rodoviário, e que havia sofrido uma pequena ‘batida’ e estava a cargo da seguradora. Trouxemos o carro para Caxias do Sul e o preparamos para a grande corrida das 12 Horas de Porto Alegre, no circuito da Cavalhada – Vila Nova. “A já famosa dupla gaúcha Catarino Andreatta (carro 2) e Breno Fornari (carro 35) corriam de Simca Chambord. Breno era um formidável preparador de motores, desde o tempo das carreteiras. Foi ele o primeiro grande inovador em motores dos Simcas. Entre outras pequenas melhorias ele aumentou o diâmetro dos pistões de 67,5 mm, para 69,5 mm, ocasionando importante aumento da cilindrada, que originalmente era de 2.351 cm³. Os motores ficaram então com muito mais potência e mais torque. “A Simca do Brasil logo percebeu o potencial de melhorar a imagem de seus carros, através de corridas. Contratou pilotos experientes como Ciro Cayres, Jaime Silva e Fernando (Toco) entre outros. Criou um departamento de competições, que ao mesmo tempo, estabelecia melhorias para os carros de linha. “Pois bem, voltemos às 12 Horas de Porto Alegre. Aqui em Caxias do Sul, preparamos o nosso Simca (ex-Vigilante Rodoviário), com todo o carinho. Pintamos o carro todo de branco e com o número 77, pilotado por dois entusiastas, Walter dal Zotto e Juvenal Hermes Martini, porém hábeis pilotos.

O Simca 77 de Carlos Érico Costamilan, foto de Carlos Érico.

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“Estes dois pilotos já haviam participado da edição anterior da 12 Horas de Porto Alegre em 1962 e estavam ponteando a prova quando por pane seca (sem gasolina) perderam a liderança. O vencedor foi Breno Fornari, com o seu Chambord 35. “Estamos agora em Junho/1963 e a fábrica Simca com uma equipe de corridas veio a Porto Alegre com uma carreta e cinco carros e seus pilotos famosos, respaldados por todo o aparato de uma fábrica. Três dos cinco carros da fábrica deram largada pilotados por Jaime Silva, Toco e Zoroastro Avon (se não me engano). Pontearam a prova até o amanhecer (a largada era à meia-noite). Um capotou e dois tiveram problemas no motor. Ao meio dia de 23 de Junho de 1963, a bandeira quadriculada saúda o vencedor: Chambord 77 de Dal Zotto e Martini, sob o patrocínio da Importadora Auto Nordeste Ltda. Breno Fornari com o Chambord 35 foi o segundo colocado”. Ele foi também alto executivo das importantes empresas caxienses Frasle e Agrale, como consta no seu obituário no Pioneiro, mostrado abaixo.

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De Nilva Maria só encontrei registros de sua juventude, como ginasial citada nas crônicas sociais 1374 1375 e primeira colocada em um concurso literário estadual promovido pela União Gaúcha dos Estudantes Secundaristas.1376 Casou-se com um Giron e aparentemente radicou-se em Porto Alegre. Seu irmão Ângelo Caetano mudou-se para Toledo, estado do Paraná, sendo membro do Conselho Deliberativo do Clube Náutico Toledo,1377 do Conselho Administrativo da APAE,1378 diretor da Industrial Madeireira Colonizadora Rio Paraná S/A,1379 e diretor da Industrial de Máquinas S/A Indústria e Comércio, associado ao grande projeto colonizador dos irmãos dal Canale. 1380 Vários outros Costamilan deixaram uma marca, como Enio Luiz, das Diretorias e presidente do SER Caxias, em sua gestão levando o time ao vice-campeonato gaúcho; 1381 Arlindo, um dos fundadores da Companhia de Desenvolvimento de Caxias do Sul (CODECA);1382 e Júlio Costamilan Rosa, filho de Josefina e neto de José I, juiz distrital em Caxias, juiz e benemérito de Erechim, fundador da Biblioteca Pública Municipal, do Centro de Estudos Históricos e do Patronato Agrícola, depois desembargador, presidente do Tribunal de Justiça do Estado, louvado por seus pares como “presidente sereno, competente, de decisões prontas; tudo ele fez por amor à causa da Justiça”, “magistrado que honrou sobremaneira a Justiça de nossa terra, à qual dedicou quase cinco décadas de sua vida profissional”, ocupando também a função de governador interino do Estado em 1971.1383 Foram irmãos de Júlio: Lígia, diretora da Escola Normal em Caxias, e o general de brigada José Costamilan Rosa, casado com Noely Pezzi, parente pelo lado materno.1384

Júlio Costamilan Rosa, foto TER.

1374

“Aniversários”. O Momento, 02/06/1945 “Aniversários”. O Momento, 08/06/1946 1376 “Engrandecidos os estudantes de Caxias no Concurso Literário da U.G.E.S.”. O Momento, 06/10/1945 1377 Clube Náutico Toledo. 2a. Ata de reunião realizada em 12/04/1982 1378 APAE – Toledo/PR. Diretoria Executiva. 1379 “Normal do Comércio”. Diário Oficial do Estado do Paraná, 02/02/2015 1380 “Normal do Comércio”. Diário Oficial do Estado do Paraná, 24/02/2015 1381 Pelisser, Kelly Iris. “Ênio Costamilan, ex-presidente do Caxias, morre neste sábado”. Pioneiro, 28/11/2009 1382 CODECA 35 Anos. “Companhia completa 35 anos na comunidade”, 2010 1383 Costamilan, op. cit. 1384 “Falecimentos”. Jornal do Brasil, 12/08/1978 1375

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Graciema e Adelia Paternoster.

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Graciema Paternoster Pieruccini e um filho

3) Graciema Paternoster, nascida em 1892 e falecida em 1987, foi casada com Attilio Pieruccini, alfaiate, comerciante, sócio da Vinícola Riograndense e da Navegação e Armazenagem de Vinhos do Rio Grande do Sul S/A, inspetor eleitoral em Forqueta, um dos fundadores do Esporte Clube Juventude e do Recreio da Juventude, um dos fabriqueiros da Catedral e hoje nome de rua. 1385 1386 1387 1388 Graciema deixaria um importante relato ao Arquivo Histórico Municipal sobre a vida da família em seus primeiros tempos, publicado em parte no Pioneiro em 1982, e deu muitas informações para o livro de Costamilan. Um trecho do seu depoimento ao Arquivo foi reproduzido em um projeto de memória da Prefeitura, que publicou relatos semelhantes em paradas de ônibus. 1389 1390 Ela conta, na nota no alto, sobre o período passado em Vacaria.

1385

“Nomeações”. O Brasil, 01/09/1920 Michielin, op. cit. 1387 “Notícias de Conceição”. O Momento, 29/01/1949 1388 Pieruccini & AHM, op. cit. 1389 Costamilan, op. cit. 1390 Fabres, Ciro. “Belo acréscimo ao Fotografia na Parada”. Pioneiro, 27/03/2009 1386

391

Graciema Paternoster e Attilio Pieruccini. Abaixo, Acima, Attilio Pieruccini a cavalo ao lado de um filho. Coleção de Graziela e Isay Pieruccini.

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Acima, Graziela e Rita Palmira (Isay) Pieruccini, Abaixo, Graziela, Zeli Weber, José, Rubens, Osvaldo, Isay, João Renato, Graciema, Aidé Weber e Attilio. Na frente as crianças Ida, José e o bebê não foi identificado. Coleção de Graziela e Isay Pieruccini.

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Graciema e Attilio tiveram os filhos a) Rita e b) João Renato, falecidos na infância, mais c) Rita II Palmira (mais conhecida como Isay), que trabalhou no escritório da Sociedade Vinícola RioGrandense; d) João Renato II, presidente da Congregação Mariana de Moços 1391 e presidente do Aymoré Futebol Clube;1392 e) José Gastão, nascido em 13 de março de 1919, comerciante,1393 “pessoa vastamente relacionada nesta cidade”, inspetor da Columbia Companhia de Seguros,1394 conselheiro do Partido Libertador 1395 e diretor-conselheiro do Recreio Guarany;1396 f) Rubens, dentista, presidente da Regional Nordeste da Associação Brasileira de Odontologia;1397 g) Osvaldo, comerciante; h) Ivo, do qual não encontrei registros, e i) Graziela, assistente social formada em 1950 na 2ª turma na PUCRS, numa época em que era raro mulheres frequentarem universidade. Trabalhou no SESI por 31 anos, atuando em Caxias do Sul, Pelotas e Porto Alegre. Trabalhou também na Secretaria da Saúde do Estado por sete anos, dois deles no Sanatório Partenon e cinco no Hospital Psiquiátrico São Pedro. Attilio era filho de Palmira Meneguzzi e Giuseppe (José) Pieruccini. Pouco se sabe da vida de José. Diz uma nota no jornal O Brazil que era comerciante em Antônio Prado, e que em 1909, aflito por uma doença, decidiu buscar cura na Itália. Embarcando num navio em Porto Alegre, por algum motivo caiu na água, perecendo afogado. 1398 O corpo não foi encontrado.1399 Attilio teve os irmãos Manoel Ricardo, caixeiro-viajante, conselheiro do Partido Libertador1400 e hoje nome de rua, casado com Angela Festugatto e pai de dez filhos; Vittorio, industrial e comerciante, festeiro do Divino, 1401 um dos fundadores do Esporte Clube Juventude1402 e do Recreio da Juventude, e Reynaldo, entre os fundadores do Recreio.1403 Ao que parece houve outros irmãos. Os Pieruccini chegaram a Caxias em 1880. Eram três irmãos, filhos de Raffaelle e Phelomena: o dito Giuseppe, pai de Attilio, mais Antonio e Luigi (Luiz), procedentes de Lucca. Seu patronímico originalmente era Puccinelli, e Pieruccini Attilio, Manuel Ricardo, Vittorio e Reynaldo Pieruccini. Coleção família era o sobrenome de Phelomena, adotado 1404 Pieruccini. por todos por ocasião da imigração. Os motivos que os levaram a isso não são claros.

1391

“Congregação Mariana”. A Época, 20/11/1938 “Aymoré F. C.” O Momento, 23/03/1946 1393 “Edital”. O Momento, 09/08/1937 1394 “Nomeação”. O Momento, 14/07/1945 1395 “Partido Libertador”. O Momento, 24/01/1948 1396 “Eleita a nova diretoria do Recreio Guarany”. A Época, 29/07/1954, 1397 ABO – Nordeste. Relação de ex-presidentes. 1398 “Desastre”. O Brazil, 17/071909 1399 “Apesar dos esforços”. O Brazil, 24/071909 1400 “Diretório Municipal do Partildo Libertador de Caxias do Sul”. O Momento, 15/01/1949 1401 “Festa do Divino”. O Momento, 01/06/1936 1402 “O Esporte Clube Juventude completou 36 anos de existência”. O Momento, 02/07/1949 1403 Recreio da Juventude. Histórico. 1404 Otobelli, Danúbia. “Antonio Pieruccini: Um precursor na difusão das uvas finas”. A Vindima, 2014 1392

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A família era tradicional na Itália, bem sucedidos comerciantes e industriais, 1405 e fala-se que pertenciam à nobreza (alguns ramos dos Puccinelli eram efetivamente nobres 1406), e por isso a causa da viagem também é desconhecida. Baseados em imprecisas lembranças transmitidas pelos antepassados, alguns descendentes pensam que os pioneiros podem ter entrado em conflito com a poderosa Maçonaria italiana, fazendo com que precisassem fugir e se esconder, e isso explicaria tanto a viagem quanto a mudança do sobrenome, mas é uma história obscura e circulam várias versões divergentes. Luiz foi revolucionário na Revolta dos Colonos e depois vice-intendente, conhecido comerciante, um dos fundadores e da primeira Diretoria da Associação dos Comerciantes, membro fundador do Esporte Clube Juventude 1407 e hoje nome de rua. Teve um filho e duas filhas, Leda e Silvia. Antonio já tivera sucesso na Itália como produtor de vinho e aqui continuou uma próspera carreira. Foi político, conselheiro municipal, diretor da Associação dos Comerciantes,1408 destacando-se principalmente como grande industrial e “benemérito da indústria vinícola”,1409 um dos fundadores dos influentes Sindicato e Sociedade Vinícola Rio-Grandense,1410 tendo sido também o primeiro exportador de vinho em grande escala de Caxias, introdutor de novas variedades de videira e de inovações tecnológicas que elevaram a qualidade do produto e fizeram escola, e em certo período foi o maior industrial da cidade, possuindo ao mesmo tempo uma fábrica de produtos suínos, mas faliu em 1922. 1411 1412 1413 Faleceu em 1938 em Caxias e hoje é nome de rua.

Fioravante Pieruccini, coleção família Pieruccini.

Casado com Maria Sabatini, teve os filhos Carmelinda; Terezinha; Fioravante, industrial,1414 coronel na Revolução de 1923, casado com Dosolina Bonalume, filha de Ambrosio Bonalume e Carolina Sartori, todos já citados antes; Angelo, industrial e comerciante, ativo em vários clubes, “bastante estimado e relacionado nesta cidade”, mas falecido precocemente,1415 mais Orlando e Luiz II, que foram sócios do pai em sua “vasta cantina”.1416 Diva, filha de Orlando, casou-se com o tenente Ivan Pessoa Pires, prestigiado militar, depois radicados em Cruz Alta, 1417 citados várias vezes nas colunas sociais em suas visitas a Caxias.

1405

Otobelli, op. cit. Archivio di Stato di Firenze. Raccolta Ceramelli Papiani 1407 Rodrigues, Paulo. “E. C. Juventude: 100 Anos de Paixão”. Revista Acontece Sul, 03/06/2013 1408 “Associação dos Commerciantes, di Caxias”. Città di Caxias, 22/01/1917 1409 “Pioneri di civiltà – Vita agrícola – Verso l’industrialismo – Il presente e futuro di Caxias”. Città di Caxias, 21/12/1915 1410 Jalfim, Anete. “Elementos para o estudo da agroindústria vinícola: uma abordagem da indústria vinícola riograndense”. In: Ensaios FEE, 1991; 12 (1):229-247 1411 Otobelli, op. cit. 1412 Santos, Sandro Rogério dos. A construção do cooperativismo em Caxias do Sul: Cooperativa Vitivinícola Aliança (1931-2011). Tese de Doutorado. PUCRS, 2011. 1413 Jalfim, op. cit. 1414 “Nel mezzo della settimana scorsa”. Città di Caxias, 06/04/1914 1415 “Necrologia”. O Brasil, 02/06/1923 1416 “La settimana scorsa”. Città di Caxias, 10/11/1913 1417 “Enlace Ten. Ivan Pessôa – Diva Pieruccini”. A Época, 30/07/1939 1406

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Antonio Pieruccini à esquerda, com seus filhos em sua cantina. Acervo AHM. Abaixo, propaganda da empresa na imprensa da época. Coleção família Pieruccini.

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Também pode ser citado Angelo José, filho de Margarida Grossi e Luiz II Pieruccini, neto de Antonio. Foi presidente do Grêmio Estudantil do Colégio do Carmo, das Diretorias do Juvenil e do Recreio da Juventude, diretor Social da Festa da Uva, apoiador da APAE e da Liga Feminina de Combate ao Câncer, bancário, advogado e empresário do ramo madeireiro e metalúrgico, e hoje nome de rua. 1418 Angelo José foi casado com Zila Turra, rainha da Festa da Uva e presidente da Liga Feminina de Combate ao Câncer. 1419 1420

Seus filhos: Rafael, representante comercial, casado com Gisele de Menezes; João Luiz, advogado, muito ligado ao esporte, por dois períodos diretor de futebol do SER Caxias, sagrando-se campeão do Gauchão em 2000,1421 foi casado com Simone Bergamaschi, tendo os filhos Felipe, Ettore e Sofia; e Fernanda, arquiteta, casada com Miguel Martinato, engenheiro e presidente da Martinato Máquinas de Precisão, há cem anos atuante no ramo de óptica,1422 empresa homenageada pela Câmara Municipal em seu centenário,1423 com as filhas Liza e Júlia.

A segunda Capela do Santo Sepulcro, fundada por Genoveva Conte Pieruccini, hoje patrimônio histórico municipal, com estatuária de Zambelli e um mural de Locatelli. A foto mostra a saída da Procissão do Encontro, uma das mais tradicionais e antigas celebrações comunitárias da cidade.

Outros a notar são Genoveva Conte Pieruccini, a líder da construção da segunda Capela do Santo Sepulcro, tombada pela municipalidade,1424 fundada por seu pai Benvenuto Conte como uma capelinha de madeira; Romeu, dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos,1425 e Gilberto, conselheiro do Sindicato das Empresas de Representação Comercial e dos Representantes Comerciais Autônomos da Região Nordeste do RS.1426 Os Pieruccini, “distintíssima família”,1427 criaram grande tradição em Caxias e lançaram ramos no Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina.

1418

Câmara de Vereadores de Caxias do Sul. 336ª Sessão Ordinária no 3º Período da XIII Legislatura, 29/07/2003 “Começa a contagem regressiva para a Festa da Uva 2010”. Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Caxias do Sul, 19/02/2009 1420 Ruzzarin, op. cit. 1421 “João Luiz Pieruccini é o novo diretor de futebol”. Rádio Caxias, 17/04/2015 1422 Martinato Máquinas de Precisão. Institucional 1423 Câmara Municipal de Caxias do Sul. Voto nº VG-416/2012 1424 “Capela do Santo Sepulcro comemora 70 anos”. Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Caxias, 26/01/2007 1425 Giron, Loraine Slomp. “Os Sindicatos da Comunidade (1977)”. História Daqui, 18/10/2012 1426 “Solenidade de Posse da Gestão 2014/2018 do Sirecom Nordeste-RS”. Sirecom Nordeste – RS 1427 “Nel mezzo della settimana scorsa”. Città di Caxias, 06/04/1914 1419

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Dante Paternoster. Ao lado, com sua esposa Terezinha Vencato. Coleção de Beatriz Paternoster Cecchetto. .

4) Dante Paternoster, nascido em Porto Alegre em 9 de novembro de 1898, formado “com distinção” no Colégio do Carmo,1428 iniciou sua vida como estafeta dos Correios, atestado nesta função entre 1914 e 1926,1429 foi citado em 1921 como comerciante,1430 e depois empregou-se na Sociedade Vinícola Rio-Grandense, já mencionada na seção sobre os Bonalume, onde passou a maior parte da vida como funcionário prestigiado, chegando às Diretorias. Foi um dos fundadores do Grêmio Esportivo São Pelegrino em 1921,1431 diretor da Sociedade Operária São José, que mantinha atividades cooperativas e assistenciais,1432 fez parte da comissão organizadora da grande Festa de Santa Teresa em 1941,1433 1434 e foi o patrocinador de uma das telas de Aldo Locatelli que compõem a famosa Via Sacra na Igreja de São Pelegrino, intitulada Encontro com a Mãe, paraninfando sua inauguração em 1960 junto com a esposa e os patronos das outras telas da série, numa festa de grande solenidade.1435 Casou-se em Porto Alegre, na Igreja São Pedro, em 27 de novembro de 1926, com Theresa Vencato, mais conhecida como Terezinha, nascida em 11 de novembro de 1909, filha de Marcos Vencato Sobrinho e Atilia Rossato. Dedicou-se ao lar mas destaca-se a sua participação na Comissão de Festas da Paróquia São Pelegrino, organizada no período de construção da nova igreja a fim de angariar fundos para as obras. 1428

“Exames”. O Brazil, 10/12/1912 “Caxias”. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1914-1926 1430 “Editaes”. O Brasil, 11/12/1021 1431 “G. S. São Pellegrino”. O Brasil, 28/06/1921 1432 Bandeira, Arlindo. Projeto de Lei nº 272/2009. Câmara Municipal de Caxias do Sul. 1433 “Caxias Católica”. O Momento, 30/09/1941 1434 Gardelin & Costa, op. cit. 1435 Lopes, Rodrigo. “Caravaggio e a Via-Sacra de Locatelli em 1960”. Pioneiro, 22/05/2015 1429

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Segundo sua filha Beatriz, “Meu pai foi um homem sempre calmo e gentil. Sempre se lastimava pelo seu pai não tê-lo deixado estudar Arquitetura em Porto Alegre, a convite de seu padrinho de batismo Sr. Ferlini. Gostava muito de desenhar. Nos primeiros anos de casados viveram no antigo prédio do Hotel, com sogro, sogra, hóspedes e alguns sobrinhos que permaneceram em Caxias do Sul até complementarem seus estudos, quando seus pais se mudaram para cidades de Santa Catarina, Paraná e Porto Alegre. Depois foi construída casa nova onde hoje se encontra o atual Edifício Paternoster. Meu pai faleceu com 88 anos, lúcido, sempre lendo muito. Minha mãe faleceu com 79 anos”. A família de Terezinha teve vários nomes representativos, como Marco, Antonio e Francesco, pioneiros da 2ª Légua e fabriqueiros da capela local;1436 José, industrial, e Mauro, gerente Comercial da Estação Aduaneira Porto Seco1437 e diretor de Negócios Internacionais da Câmara de Indústria e Comércio.1438 Marieta, Adelino Marcos e Otilia Rossato Vencato são nomes de rua.

Aldo Locatelli: Encontro com a Mãe, estação IV da famosa Via Sacra de São Pelegrino, obra patrocinada por Dante Paternoster e Terezinha Vencato.

1436

Fabris, op. cit “Mauro Vencato (Gerente Comercial Porto Seco)”. Entrevista CQ7 1438 CIC. Negócios Internacionais. 1437

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Dante Paternoster, na foto marcado com ponto, com a Diretoria da Companhia Vinícola Rio-Grandense. Recorte d’O Pellegrino sem data.

400

Dante Paternoster, marcado com ponto, em página do livro São Pelegrino: quem te viu, quem te vê, de Ana Seerig, Charles Tonet e Tânia Tonet (Belas Letras, 2015), que narra a história do bairro São Pelegrino e das famílias Sartori, Buratto e Paternoster.

401

A família de Dante Paternoster e Terezinha Vencato. De pé: Maria Bedim e o esposo Romeu Paternoster, Janir Oliveira e o esposo Nestor Paternoster, Beatriz Paternoster e o esposo Delfino Cecchetto, Eda Beluchi e o esposo Raul Paternoster. Sentados: Carlos Paternoster, Dante Paternoster com Fábio no colo, filho de Nestor, Raquel, filha de Raul, Terezinha Vencato com Ricardo no colo, filho de Beatriz, Cláudio, filho de Romeu, e Dante Neto, filho de Raul. No chão: Marcos, filho de Raul, e Rafael, filho de Beatriz. Coleção de Beatriz Paternoster Cecchetto.

402 Rita Palmira Pieruccini (Isay), Marisa Frantz Panceri, Graziela Pieruccini, Beatriz Paternoster Cecchetto, Elisabeth Longhi Frantz e Murillo Frantz.

Dante Paternoster e Terezinha Vencato tiveram cinco filhos: a) Romeu João Marcos, contabilista, trabalhou no Banco da Província e depois na fábrica de móveis Dal Pont até sua aposentadoria, falecendo em 16 de junho de 2012. Foi casado com Maria Magdalena Bedin, tendo os filhos: a1) Antônio Paternoster, casado com Marinês Massignani, pais de a1a) Evelise Paternoster, tecnóloga de moda e estilo formada pela UCS, hoje trabalhando como estilista para a empresa Soles del Mar Internacional, e a1b) Elisa Paternoster, professora na Escola Infantil Anjos Travessos. a2) Cláudio Alberto Paternoster, comerciante de equipamentos de caça e pesca, casado com Ana Rosa Costa, pais de Miguel Paternoster, formado em Administração.

A família de Cláudio Alberto Paternoster, foto de Ana Rosa. Abaixo, Nestor Paternoster e sua esposa Janir Oliveira, com Beatriz Paternoster e seu esposo Delfino Cecchetto em um baile no Clube Guarany. Foto de Janir.

b) Nestor Paulo Paternoster, contabilista, falecido em 6 de setembro de 2007, casado com Janir Ignez Oliveira, formada em Filosofia, professora e funcionária aposentada da Secretaria da Fazenda do estado, ativa nos clubes de mães e habilidosa no crochet, sendo pais de Fábio Paternoster, casado com Frances Barcelos da Silva. Nestor foi membro fundador e primeiro presidente de honra da República dos Estados Unidos dos Caducos das Sextas-Feiras, uma associação recreativa que organizava excursões. Rodrigo Lopes escreveu uma matéria sobre esta divertida associação: “Em meados da década de 1960, a República dos Estados Unidos dos Caducos das Sextas-Feiras agregava um grupo de amigos que, de caduco, não tinha nada. A disposição de cada membro dialogava, sim, com a consciência para aproveitar e valorizar a vida e a amizade nos encontros recreativos. Acampando em lugares por vezes remotos, a trupe contava com uma infraestrutura compatível com as necessidades. O integrante Selênio Raug, diretor da Ferragem Caxiense, recomendava os melhores equipamento de sua loja: barraca, utensílios de gastronomia, camas e diversos outros artigos portáteis e funcionais. Já um caminhão dava auxílio no transporte do material, que incluía mantimentos, bebidas, cobertores e colchonetes. A Serra do Pinto, em São Francisco de Paula, era um dos lugares preferidos. Em novembro de 1968, por exemplo, o grupo acampou às margens do Arroio Carvalho.

403

“Em meio às brincadeiras, a hora das refeições era sagrada. Todos recebiam a incumbência de auxiliar no preparo de carreteiro, risoto, faisão recheado, bem como o tradicional churrasco, entre outros pratos. Além de Raug, a turma era integrada pelos amigos Nestor Paternoster, Nini Rigon, Norildo Rosa, Walmor Vanazzi, Anselmo Mariani, Ademar Biazus, Victor Hugo Rauch e Eduardo Raug. Conforme vemos detalhado no hilariante certificado [mostrado acima], o contabilista Nestor Paternoster era o presidente de honra da República; Selênio Raug, o ex-chefe; Nini Rigon, o decano da turma; e Walter Weissheimer, o chefinho (ou ex-chefe). O elenco de associados estava também integrado pelos companheiros Oswaldo Pieruccini, Walmor Vanazzi, Victor Rauch, Norildo Rosa, Leonel Casara, Ademar Biazus, Pedro Pezzi, Alfredo Spido, Jorge Aveline, Nestor Giusti, Carlos Piccoli, Herculano Einloft, Ysidoro S. Filho, Antonio Piccoli, Evaldo Cenatti, Ary Almeida, Gilberto Hartman, Ronald Zartt, Oscar Serafini, Milton Marroto, Sergio Ferretti, Manoel Ferreira, Anselmo Mariani e Waldemar Vanazzi”.1439 c) Raul Luiz Paternoster, médico formado na Pontifícia Universidade Católica do Paraná, casouse com Eda Beluchi, professora de música, e se radicaram em Santa Fé, no norte do Paraná, onde Raul construiu o Hospital e Maternidade Nossa Senhora das Graças, importante instituição de saúde numa cidade de poucos recursos. Especializou-se em Reumatologia no Rio de Janeiro e após doze anos de atividade em Santa Fé voltou a Caxias, sendo o primeiro reumatologista concursado da cidade. Desenvolveu por dez anos atividade beneficente no 1439

Lopes, Rodrigo. “República dos Caducos das Sextas-Feiras em 1968”. Pioneiro, 08/01/2016

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presídio de Caxias como médico voluntário. Em 2013 foi homenageado com um troféu e o Diploma de Mérito Ético pelo Conselho Regional de Medicina do Paraná.1440 A esposa continuou suas aulas de música em Caxias, ensinando em uma escola instalada no antigo Hotel Paternoster. Raul faleceu em 21 de abril de 2015. No seu obituário foi elogiado como “exemplo de profissional e cidadão. Paternoster fazia atendimento voluntário aos sábados na penitenciária da cidade. Essa inspiração humanitária veio da família, que sempre auxiliou os necessitados da cidade”.1441 O casal teve os filhos: c1) Raquel Iara Paternoster, professora de História em Piraquara, no Paraná, foi casada com Carlos Alberto Dabul Jamil, e depois casou com um Favoretto. c2) Dante Paternoster Neto trabalhou no ramo de alimentação e hoje é pizzaiolo e proprietário da Casa de Massas,1442 casado com Beatriz de Souza, assistente social e coordenadora do Programa de Humanização e do Programa de Atenção ao Paciente Sequelado do Hospital Angelina Caron em Campina Grande do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba,1443 1444 com a filha Letícia.

Raul Paternoster, foto Pioneiro.

c3) Marcos Vinícius Paternoster, técnico administrativo da Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis, é casado com Simone Carpes, professora municipal de Ciências em Florianópolis, com os filhos Léo e Júlia. d) Beatriz Terezinha, professora do Grupo Escolar do Bairro Cruzeiro e depois supervisora pedagógica da Escola Estadual de 1º e 2º Grau Cristóvão de Mendoza por 18 anos, aposentando-se na 4ª Delegacia de Ensino. Beatriz deu muitas informações valiosas para este estudo. É casada com Delfino Antonio Cecchetto, professor de inglês e português, tendo os filhos d1) Rafael, que trabalha na consultoria de pesquisa de mercado Fábrica do Design e estuda Direito, casado com Janaína Nora, e d2) Ricardo, funcionário do Banco do Brasil em Florianópolis.

1440

“Homenagem do Jubileu de Ouro alcança neste ano 48 médicos”. Conselho Regional de Medicina do Paraná, 30/09/2013 1441 “Falecimentos desta quinta-feira”. Pioneiro, 23/04/2015 1442 Ziegmann, Fernanda. “Senac leva profissionalização para quem precisa”. In: Revista Fecomércio PR, 2012; XII (86):48-49 1443 Ceccon, Jean. “Blitz educativa e palestra em Campina Grande do Sul reforçam ações de combate à violência contra crianças”. Grupo Paraná Comunicação, 19/06/2015 1444 “PAPS 2015 - o apoio no momento mais difícil ao paciente sequelado”. Hospital Angelina Caron, 20/08/2015

405

Delfino Cecchetto e a esposa Beatriz Paternoster com os filhos Rafael, com a esposa Janaína Nora, e Ricardo. Coleção de Beatriz.

e) Carlos Roberto Paternoster, nascido em 17 de agosto de 1951, desde a juventude foi engajado em causas sociais e em movimentos estudantis. Estudou Direito na UCS, participando do Diretório Acadêmico como presidente. Em 1984 concorreu à vereança, sendo eleito como suplente, passando à titularidade em 1987. Foi assessor jurídico da União dos Advogados do Brasil, tendo recebido postumamente a comenda de Mérito Comunitário da entidade. Foi presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil e professor e coordenador do curso de Direito da UCS. Membro da Igreja Adventista, desejou ser pastor, mudando-se para São Paulo em 1990 a fim de estudar Teologia. Mas não chegou realizar o desejo, colhido pela morte em dezembro de 1992 em um acidente de automóvel. 1445

1445

“Emoção e lágrimas na Câmara: Paternoster”. O Pellegrino, 02-08/09/1995

406

Sua breve atuação no Legislativo deixou forte impressão em seus pares, que em emocionada sessão da Câmara decidiram homenageá-lo batizando uma praça da cidade com seu nome, em reconhecimento dos seus princípios éticos, morais e humanos, do seu trabalho comunitário e da sua bondade pessoal. 1446 Deixou a esposa Valma Nunes e os filhos André e Daniel. Um folheto que publicou, reproduzido em seguida, expressa algumas de suas ideias e posições políticas.

Carlos Paternoster, foto da Câmara Municipal de Caxias.

1446

O Pellegrino, 02-08/09/1995

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Família de Deodato e Ignez Canozzi. De pé: Enio, Americo, Lucy e Danilo. Sentados: Deodato, Darcy, Leda, Ignez e Carmem. Coleção de Luiz Alberto Cesa.

De 5) Ignez Paternoster, nascida em 20 de setembro de 1900, pouco se sabe. Quando jovem colaborou em algumas festas beneficentes,1447 1448 e em 1922 casou-se com Deodato Pacífico Canozzi, caixeiro-viajante, nascido em Bento Gonçalves em 16 de março de 1896. O casal se transferiu para Porto Alegre em 1940,1449 tornando-se ativos membros da Comunidade São José, mas mantiveram pouco contato com os caxienses. Seus filhos foram Americo, Carmen, Leda, Danilo, Enio, Lucy e Darcy. Deodato faleceu em 1º de maio de 1956 com 60 anos de idade, sendo sepultado no dia 2, e Ignez faleceu em 10 ou 11 de outubro de 1987, sendo sepultada no dia 11 no Cemitério São José de Porto Alegre.1450 Seus descendentes Luiz Alberto Cesa e Marlene Vasconcellos Canozzi deram importante colaboração nesta seção completando a descendência de Deodato e Ignez e dando informações biográficas, e deixo registrada minha gratidão. Os dados referenciados são de minha pesquisa.

1447

“As festas pró-belgas”. O Brasil, 06/10/1917 “Chá-kermesse em benefício do Hospital de Caridade”. O Brasil, 10/04/1920 1449 “Despedida”. A Época, 24/03/1940 1450 Cemitérios da Comunidade São José de Porto Alegre-RS. Listagem de sepultados diversos e trasladados. 1448

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Americo e Leda Canozzi

a) Americo Anacleto Canozzi foi contabilista1451 e em 1957 casou com Anna Maria Battaglia, filha de Floriano, empresário e diretor da Companhia Riograndense de Seguros. Deste casamento nasceram dois filhos: a1) Paulo Canozzi, estudante de Artes Plásticas na UFRGS, foi sepultado em 21 de outubro de 1978 com apenas 19 anos.1452 a2) Beatriz Canozzi (Bia). Seu perfil no Linkedin diz que Beatriz graduou-se em Comunicação Social e tem especialização em Design Gráfico, trabalhando com estamparia, ilustração e programação visual. Foi casada com Paulo Cesar Conceição e mãe de a2a) Ana Paula Canozzi Conceição, e a2b) Otávio Canozzi Conceição, economista e pesquisador, co-autor de um artigo vencedor do Prêmio CNI de Economia, oferecido pela Confederação Nacional da Indústria,1453 e co-autor de outro trabalho vencedor do Prêmio Corecon/RS 2016, na categoria Artigos Técnicos ou Científicos, oferecido pelo Conselho Regional de Economia do Rio Grande do Sul, homenageando os autores dos melhores trabalhos de Economia de jornal, rádio e mídia digital.1454 b) Leda Canozzi nasceu em 1928, casou em 1950 com Germano Cesa, nascido em 1925 e falecido em 2008, que trabalhou toda vida na empresa Sogenalda em Porto Alegre. Tiveram dois filhos, Flávio e Luiz Alberto.

1451

“Noticiário”. Diário Oficial da União, 17/02/1948 “Falecimentos”. Jornal do Brasil, 22/10/1978 1453 “Pesquisadores da PUCRS recebem Prêmio CNI de Economia 2016”. Assessoria de Comunicação PUCRS, 15/12/2016 1454 “Corecon/RS entrega Prêmios nesta quinta-feira, no Plaza”. Corecon/RS 1452

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Leda Canozzi Cesa, Ignez Paternoster Canozzi, Germano Cesa, Cristine Canete Cesa, Nicéia Maria Salvador Cesa e Flávio Cesa. Abaixo, Luiz Alberto Cesa, a esposa Cristine Canete e os filhos Christiano, Alexandre e Patrícia. Coleção de Luiz Alberto Cesa.

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b1) Flávio Cesa, nascido em 1954, sócio da empresa Mega Negócios Imobiliários e do grande grupo Comercial Cesa, trabalhou nas empresas Pirelli e Prismian, hoje aposentado. Casou com Nicéia Maria Salvador e teve a filha Flávia Salvador Cesa. Flávia, nascida em Porto Alegre em 11 de julho de 1985, formada em Engenheira Têxtil, destacada no curso de especialista em Gestão de Projetos com a publicação do seu trabalho de conclusão nos anais do Simpósio de Engenharia de Produção, “um dos mais relevantes congressos de Engenharia de Produção do Brasil”,1455 hoje professora do Curso de Moda e Criação na Faculdade Santa Marcelina em São Paulo,1456 em 2014 casou-se com Vinícius Monteiro Cardoso, nascido em 29 de setembro de 1977 em Imperatiz, estado do Maranhão, instrutor de Educação Física do SESC, filho de Agamenon Alves Cardoso e Francilma Monteiro.1457 b2) Luiz Alberto Cesa, nascido em 1951, sócio da Mega Negócios e da Comercial Cesa, chefe de produtos da DHB Sistemas Automotivos e por mais de 30 anos consultor técnico de Engenharia da Gerdau. Casou-se com Cristine Canete e teve três filhos: b2a) Patricia, casada com José Gustavo Olijnyk, médico com Mestrado em Cirurgia Minimamente Invasiva, membro da Sociedade Brasileira de Videocirurgia e da Sociedade Brasileira de Endocrinologia Cirúrgica, tendo o filho Arthur; b2b) Alexandre, engenheiro mecânico morando na Austrália, hoje superintendente de Engenharia da empresa Yara International, casado com Vanessa Cella e pai de Fillipo, e b2c) Christiano, formado em Engenharia Elétrica e Mestre em Gestão para Empresas de Base Tecnológica, casado com Mariana Zonta Spader, advogada e estudante de Decoração e Desenho de Interiores. c) Carmem Canozzi foi professora e quando estudava na Escola Complementar foi arquivista do Centro Cívico Mauá1458 e membro da comissão organizadora da Campanha do Livro.1459 Casou com José Sant’Anna, bancário, e tiveram 3 filhas: c1) Ignez Sant’Anna, solteira, professora de Geografia no Colégio Militar de Porto Alegre. c2) Leonor Sant’Anna, casada com Daniel Lena Souto, gerando os filhos c2a) Daniela Sant'Anna Souto. c2b) Luiz Antonio Sant'Anna Souto, engenheiro civil.

Carmem Canozzi

c3) Lilia Sant'Anna, professora estadual, promovida por merecimento em 2001, casada com Vasco della Giustina, filósofo, advogado, promotor e procurador de Justiça, juiz do Tribunal de Alçada, desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, 3º vice-presidente do TJ/RS entre 2006/2008, e Ministro do Superior Tribunal de Justiça. Foi professor adjunto de Direito Penal e Chefe do Departamento de Ciências Penais da UFRGS, também lecionou na Escola Superior da Magistratura, na Escola Superior do Ministério Público e na PUCRS, e dirigiu a Revista do Ministério Público.1460 1461

1455

“Alunos do CEGP são reconhecidos por projetos acadêmicos”. Fundação Vanzolini, 03/12/2014 Faculdade Santa Marcelina. Pós Graduação: Área de Moda e Criação: Corpo Docente 1457 “Editais de Casamento”. Diário de Notícias, 09/10/07/2014 1458 “Centro Civico Mauá”. A Época, 04/05/1941 1459 “Os estudantes vão eleger a sua rainha”. A Época, 05/10/1941 1460 “Trabalho do desembargador Vasco Della Giustina é reconhecido pela AJURIS”. AJURIS, 05/06/2012 1461 “Macabu e Giustina deverão permanecer no STJ”. Consultor Jurídico, 01/9/2011 1456

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Recebeu várias homenagens, entre elas o Troféu Dom Quixote, oferecido pela Confraria Dom Quixote e a Revista Justiça & Cidadania, destinado às personalidades que se destacam na defesa da ética, moralidade, dignidade, justiça e direitos do cidadão,1462 e a Grã-Cruz da Ordem do Mérito do Ministério Público.1463 O casal gerou as filhas: c3a) Bianca Sant'Anna Della Giustina, advogada, especialista em Direito Público, Direito Imobiliário e Direito Notarial e Registral, ex-assessora da Subprocuradoria Geral de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul e autora de livros e artigos, e c3b) Lica Sant'Anna Della Giustina, advogada. d) Darcy João Canozzi foi casado com Neiva de Lurdes Falkenbach e faleceu em janeiro de 1999, não tendo deixado filhos.1464 e) Danilo Luiz Canozzi foi representante comercial do Lanifício Sehbe.1465 Casou com Regina Therezinha Vasconcellos e tiveram os seguintes filhos: e1) Ricardo Vasconcellos Canozzi, criador de cavalos crioulos, dono da Cabanha do Rastreador e presidente do Núcleo de Criadores de Cavalos Crioulos de Pantano Grande.1466 1467 Casou com Claijan Gomes, tendo as filhas e1a) Fernanda Gomes Canozzi e e1b) Eduarda Gomes Canozzi.

Danilo Canozzi. Abaixo, Débora, Roberta e Roberto Vasconcellos Canozzi, foto Catálogo de Brotos 2014.

e2) Roberto Vasconcellos Canozzi, dono de uma consultoria de empresas, casado com Débora Surreaux Obino, pais de e2a) Roberta Obino Canozzi, estudante de Direito, e e2b) Guilherme Obino Canozzi, engenheiro de produção, hoje trabalhando na empresa Dell. e3) Marlene Vasconcellos Canozzi, professora de inglês no Colégio Monteiro Lobato, foi casada com Luiz Antônio Marchioni, e tem um filho, Raphael, estudante de Engenharia Civil. e4) Carlos Vasconcellos Canozzi. e5) André Vasconcellos Canozzi, pai de e5a) Rafaela Caminha Canozzi e e5b) Renata Caminha Canozzi. f) Enio Vasco Canozzi casou com Jecy Joana Mathias, filha de João Mathias e Olinda Pereira, tendo duas filhas, Jaqueline e Rosane. 1462

“Vasco Della Giustina recebe homenagem no STF”. AJURIS, 04/11/2010 “Des. Vasco Della Giustina é condecorado pelo MP”. AJURIS, 21/11/2011 1464 “Convite para Missa de 1º Ano de Falecimento”. Correio do Povo, 15/01/2000 1465 “Caxias do Sul”. Diário Oficial da União, 27/09/2007 1466 “Rural: Machos obtêm as melhores notas na final”. Diário Popular, 28/05/2007 1467 “Pantano Grande tem resenha coletiva e Dia de Campo”. In: Cavalo Crioulo, 2010; 21 (199):39 1463

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f1) Jaqueline Inez, formada na Ulbra, trabalhou com terapia holística e hoje é proprietária da empresa Auto Mecânica Becker em Porto Alegre, junto com seu marido André Armindo Becker. O casal tem os filhos: f1a) Gabrielle Canozzi Becker, f1b) Leonardo Canozzi Becker, e f1c) Bianca Canozzi Becker. f2) Rosane Mathias Canozzi é médica neurologista do Hospital Cristo Redentor em Porto Alegre, e foi presidente do Módulo Funcional do 8º Congresso Gaúcho de Neurologia e Neurocirurgia.1468 Foi casada com um Bittencourt, e teve os filhos: f2a) Renan Canozzi Bittencourt, formado em Educação Física, esportista e treinador de boxe, jiu jitsu, kettlebell, corrida e outras modalidades. f2b) Juliana Canozzi Bittencourt, casada com Diego Kersten Morais, formado em Comércio Exterior, gerente em várias empresas e hoje gerente de Operações Logísticas nas Lojas Renner, pais de f2b1) Catarina Bittencourt Morais e f2b2) Cecília Bittencourt Morais. f2c) Caroline Canozzi Bittencourt, advogada na Coelho & Bittencourt Advogados, coordenadora da Comissão de Infância e Juventude do Instituto Brasileiro de Direito de Família,1469 coordenadora da mesa Direito de Família Contemporâneo no VI Congresso do Mercosul de Direito de Família,1470 membro da comissão coordenadora do II Congresso Gaúcho de Direito de Família,183 e membro da ONG Novos Vínculos, um projeto do Aconchego - Convivência Familiar e Comunitária em parceria com a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, que tem o objetivo de “disseminar práticas que contribuam para o sucesso da adoção legal e do apadrinhamento afetivo de crianças e adolescentes em situação de acolhimento institucional com remotas ou nulas possibilidades de retorno ao convívio familiar”.1471 Caroline é mãe de f2c1) Mariana Canozzi Bittencourt Marinho,1472 e f2c2) Lucca Marinho.

Rosane Canozzi, foto de Rosane. Abaixo, Marlene Canozzi e o filho Raphael Marchioni, foto de Marlene

g) Lucy Canozzi casou com José Achutti e tiveram duas filhas: g1) Miriam Fátima Achutti, aparentemente funcionária pública municipal em Porto Alegre, e g2) Magda Achutti, jornalista da Zero Hora e recipiente do prêmio da Associação Brasileira de Planos de Saúde na categoria Medicina / Jornalismo pela matéria “Um médico tamanho família”, depois integrou a comissão que concede o prêmio,1473 co-autora com Carlos Urbim e Lucia Porto do livro Rio Grande do Sul: um século de história, e hoje editora executiva de comunicação da PUCRS, responsável

1468

8º Congresso Gaúcho de Neurologia e Neurocirurgia. Sexta 21/08/15 IBDFAM/RS 1470 “IBDFAM/RS lança programação oficial do VI Congresso do Mercosul”. IBDFAM/RS, 18/06/2014 1471 Novos Vínculos. O que é? 1472 “Gestação na adolescência é fortemente influenciada pelo histórico familiar”. Revista Donna, 24/09/2008 1473 Associação Brasileira de Planos de Saúde. Histórico de Temas e Vencedores. 1469

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Luiz Alberto Cesa, Leda Canozzi Cesa, Germano Cesa, Regina Vasconcellos Canozzi, Flávio Cesa, Anna Battaglia Canozzi, ?, José Sant’Anna, Ignez Paternoster Canozzi, Lucy Canozzi, Ricardo Canozzi, Darcy Canozzi e Americo Canozzi. As crianças não foram identificadas. Coleção de Luiz Alberto Cesa.

pela Editoria Executiva da Revista da PUCRS e da Revista Mundo PUCRS.1474 Magda é casada com Marcelo Flach, tambem jornalista, com quem teve o filho Tiago Achutti Flach. Ernesto, filho de Americo Canozzi e Judite Alegrete e sobrinho de Deodato, representante comercial como ele, trabalhando para as Casas Carvalho de Porto Alegre, quando estava em uma de suas viagens foi morto, junto com o companheiro Olintho Pinto Centeno, pelos irmãos Brocatto, temida dupla de criminosos que atuou entre a serra gaúcha e o planalto catarinese, alegadamente jurados de morte pela Máfia italiana e refugiados no Brasil, onde continuaram uma carreira de crimes até encontrarem a morte também por mão alheia. Contudo, Sara Nunes alega que a imprensa da época mostrava os Brocatto bem relacionados e respeitados, e seu julgamento foi considerado incomumente sumário e apressado, 1475 sendo um caso controverso que tem gerado bibliografia.

1474

Ribeiro, Isis & Matter, Patrícia. “Em busca do princípio”. In: Canal de Imprensa, 2008; 7 (86) Nunes, Sara. “O assassinato de Ernesto Canozzi: as relações de um crime muito além do tribunal“. In: XXIII Simpósio Nacional de História da ANPUH. Londrina, 2005 1475

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O assassínio de Ernesto e Olintho causou forte impressão, viraram “santos”, e seu túmulo, da declaração de Costamilan, “recebe constantes visitas, pois há quem diga que ele tem ajudado muitas pessoas e até operado ‘milagres’. Aos domingos há quase uma romaria àquele local, que fica sempre coberto de flores e velas”. Ainda hoje o túmulo é muito visitado. Uma reportagem recente do jornal Diário da Serra repete a versão popular: “Por volta da 1902, o gaúcho Ernesto Canozzi, de Porto Alegre, era um caixeiro viajante que percorria a região de Lages para vender tecidos, acompanhado de Olintho Pinto Centeno, que puxava as mulas. Certa noite, ele comentou com o funcionário que tinha uma carta de recomendação de Vidal Ramos para casar com a jovem Emília Ramos. Na mesma época, dois irmãos italianos, de sobrenome Brocatto, cometeram um assassinato em seu país natal, e fugiram para o Marrocos, depois Buenos Aires e Porto Alegre. Por onde passavam, praticavam crimes. Um deles estudou Medicina em Caxias do Sul, mas não concluiu o curso. Assim, os dois saíam com diplomas falsos de médico e farmacêutico. Chegando em Lages, o falso farmacêutico apaixonou-se por Emília, e soube da carta que Ernesto possuía. “Revoltado, em maio de 1902 armou uma cilada e matou Ernesto e Olintho, num crime bárbaro que chocou a comunidade. No velório das vítimas, o assassino chorou, e sangue começou a pingar de um dos caixões. Foi quando uma senhora teria comentado que o fenômeno indicava a presença do autor do homicídio no velório. Não muito tempo depois, os Brocatto foram presos. O falso médico foi morto pela polícia, e o outro, dentro da penitenciária de Florianópolis. Já Ernesto e Olintho passaram a ser chamados de Irmãos Canozzi, e devido à brutalidade com que perderam suas vidas, atraíram o carisma e o sentimento de muitas pessoas. “Na visão de grande parte da população, os dois viraram santos milagreiros, já que algumas graças são atribuídas a eles. Sobre os seus túmulos, no Cemitério Cruz das Almas, no Bairro Triângulo, há velas, flores e mensagens com pedidos e agradecimentos. Muitos fiéis têm o hábito de soltar a corrente em frente ao túmulo, colocá-la no chão, fazer pedidos e encaixá-la novamente. Desde pequena ouço a história deles, e neste dia de Finados vim aqui pedir ajuda para passar no vestibular de Medicina, disse a estudante Mayara Rafaeli Lemos, de 17 anos, moradora do Centro de Lages e que a partir da próxima semana enfrentará uma maratona de vestibulares”.1476

1476

“Os santos lageanos”. Diário da Serra, 02/11/2009

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6) João Pery Paternoster, mais conhecido como Pery, único filho de Marietina com João, nascido em 21 de dezembro de 1907, estudou primeiro no Ginásio do Carmo e depois fez um curso técnico de Contabilidade em Canoas, passando a trabalhar na agência do Banco Pelotense de Caxias.

Pery Paternoster em torno de 1930

Continuou a tradição familiar de envolvimento com a política, sendo eleito vereador em 1947, quando a Câmara foi reinstalada depois de dez anos de inatividade sob a Era Vargas. Foi diplomado em 29 de novembro, e na mesma sessão eleito 1º secretário da Mesa Diretora, mas irregularidades encontradas na apuração dos votos da 55ª seção do município obrigaram à realização de uma votação suplementar, que alterou o resultado do pleito. Seu diploma foi então cassado e passou à suplência. Voltou à titularidade poucos meses depois, em 12 de abril de 1948, com a morte de Adelmar Faccioli. Permaneceu na função de 1º secretário até 1949.1477 Eleito outra vez em 1952, foi três vezes presidente da Câmara (1953 como titular e 1952 e 1954 como interino), e 2° vice-presidente em 1955.1478 1479 1480

Presidiu a Comissão de Orçamento e Contas e a Comissão de Petições e Reclamações, e participou de debates legislativos importantes, como a reforma da Lei Orgânica, do Código de Posturas, do Plano Diretor e do Regimento Interno, e a criação do Distrito de Fazenda Souza. Entre outras matérias de relevo que passaram pelo Plenário durante seus mandatos podem ser citadas a criação da Biblioteca Pública, da Escola Municipal de Belas Artes e do Museu Municipal, a doação de terreno à Associação Comercial para a construção do Palácio do Comércio, a fixação dos perímetros urbano e suburbano da cidade, a regulação do Imposto Predial, do serviço de abastecimento de água e da concessão de licenças para a instalação de postos de gasolina e óleos, a assinatura de convênio com a Companhia Estadual de Energia Elétrica para suprimento de energia destinada à iluminação pública, e a regulação da substituição do prefeito nos casos de impedimento ou vaga. 1481 1482 1483

1477

Câmara Municipal de Caxias do Sul. Composição das Legislaturas 1947-1951 Câmara Municipal de Caxias do Sul. Composição das Legislaturas 1952-1955 1479 "Câmara Municipal de Vereadores". A Época, 14/12/1952 1480 "Festa da Uva e 1ª Feira Industrial do Rio G. do Sul". Diário de Notícias, 14/02/1954 1481 Gardelin (1993), op. cit. 1482 Câmara Municipal de Caxias do Sul. Composição das Legislaturas 1947-1951 1483 Câmara Municipal de Caxias do Sul. Composição das Legislaturas 1952-1955 1478

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418 Pery entre seus pais Marietina Sartori e João Paternoster. Coleção de Dóris Paternoster.

Os vereadores de 1948, da esquerda para a direita: Isidoro Moretto, Angelo Bonalume, Agostinho Ballardin, Demétrio da Luz, Guerino Zugno, Pery Paternoster, Ruben Bento Alves (presidente), Mário Crosa, Constantino Bampi, Humberto Bassanesi, Germano Pisani e Francisco Andriollo (parentes em itálico). Foto Geremia, Arquivo da Câmara Municipal.

Pery Paternoster, marcado com ponto, anunciando a promulgação da Lei Orgânica em 1948. Arquivo da Câmara Municipal.

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Uma consulta popular realizada em 1951 o incluiu entre os quatro nomes mais cotados para a Prefeitura, sendo considerado "merecedor de aplauso e confiança pelo muito que já fez pelo progresso desta terra. [...] Modesto, inteligente, trabalhador, de uma honestidade à toda prova. [...] Moço simples, não contaminado pela politicalha, um dos poucos que ainda fazem política por idealismo, sem outra intenção que não seja a de servir, desinteressadamente, a terra de seu nascimento".1484 Também foi elogiado na imprensa como "valor de primeira grandeza",1485 "sobretudo pela operosidade incansável pela causa social", fazendo com que "ocupasse um lugar de absoluto relevo na admiração e na estima de seus conterrâneos".1486 O historiador e antigo vereador Mário Gardelin tinha-o em grande conta e lembrou-o em 1975 como um "esplêndido companheiro" na Câmara, que mantinha por Galópolis "um grande carinho e um interesse manifesto",1487 voltaria a se referir a ele em outros artigos, e no seu livro sobre a história da Câmara o chamou de "parlamentar de reconhecida magnificência", que sobressaiu "brilhantemente" em suas funções.1488 Pelos seus méritos recebeu a Medalha Ernesto Marsiaj, a mais distinguida comenda outorgada pelo Legislativo Caxiense.

1484

“Qual o seu candidato a prefeito de Caxias do Sul e por que votaria nele?" A Época, 01/04/1951 “Eleição à vista”. A Época, 28/10/1951 1486 “Ao povo de Caxias". A Época, 18/10/1951 1487 Gardelin, Mário. “Galópolis às 11,30". Pioneiro, 07/05/1975 1488 Gardelin (1993), op. cit. 1485

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421 Coleção de Dóris Paternoster

Coleção de Dóris Paternoster

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Desenvolveu atividades em vários outros campos da vida comunitária. Foi um dos fundadores e membro da primeira Diretoria do Caxias Tênis Clube,1489 membro do Conselho Fiscal do Esporte Clube Juventude,1490 secretário no Recreio da Juventude por quatro anos,1491 diretor do Cinema Juvenil, participou da organização dos estatutos e da Diretoria da IV Festa da Uva,1492 1493 foi delegado da Liga de Defesa Nacional,1494 conselheiro da Associação dos Empregados no Comércio, e um dos fundadores e membro da Diretoria do Centro Numismático e Filatélico.1495 1496 Em 1953 representou o pai, já falecido, na inauguração da Escola João Paternoster.1497 Em 1962 assumiu um posto no Conselho Consultivo do Centro da Indústria Fabril, que congregava as maiores indústrias da cidade,1498 e foi o nome inicialmente cogitado pela Frente Democrática para a candidatura à Prefeitura,1499 mas a escolha recaiu sobre Hermes Webber. Em 1966 voltou a ser pré-candidato, então pela ARENA,1500 mas também não foi escolhido. Em 1975 fez parte de uma comissão de notáveis encarregada de erguer um monumento em memória da presença tirolesa na imigração italiana.1501 Pery Patertoster. Arquivo da Câmara Municipal.

Além de sua destacada participação na política e sociedade da sede urbana, deixou um grande legado no distrito de Galópolis. Trabalhou por muitos anos como contabilista no Lanifício São Pedro, a maior empresa do local, sendo seu gerente entre 1966 e 1974.1502 1503 Considerado um benemérito de Galópolis, que representou na Câmara de Vereadores, segundo Vania Herédia ele era "reconhecido por todos como um eficiente administrador, homem de justiça e de seriedade. Trabalhava na fábrica desde 1934, e havia dedicado praticamente toda a sua vida a ela e a Galópolis".1504

1489

“Há 45 anos, nascia o tênis em Caxias do Sul”. Pioneiro, 16/07/1975 Gardelin, Mário. "Juventude, 65 anos de paixão e glória - XXXIX". Pioneiro, 03/06/1978 1491 “Diretoria reeleita”. O Momento, 08/02/1934 1492 “Aproxima-se a Festa da Uva!" O Momento, 15/01/1934 1493 “Revivendo a Festa da Uva". Pioneiro, 14/06/1960 1494 "Liga de Defesa Nacional". O Momento, 16/08/1940 1495 "Centro Numismático e Filatélico Caxias do Sul". O Momento, 19/02/1949 1496 "Empossada a Diretoria do Centro Filatélico". A Época, 21/01/1951 1497 "Inaugurada solenemente a Escola João Paternoster". A Época, 11/06/1953 1498 "CIF: Eleita nova Diretoria". Caxias Magazine, 08/12/1962 1499 "Sucessão Municipal começa a movimentar os partidos locais". Caxias Magazine, 29/12/1962 1500 "Umas & Outras". Caxias Magazine, 26/11/1966 1501 "O centenário da colonização italiana e os descendentes de trentinos-tiroleses". Pioneiro, 26/07/1975 1502 Herédia, Vania Beatriz Merlotti. "A Construção de Vilas Operárias no Sul do Brasil: o caso de Galópolis". In: Scripta Nova, 2003; VII (146) 1503 Bueno, Ricardo. Galópolis e os Italianos: patrimônio histórico preservado a serviço da cultura. Quattro Projetos, 2012 1504 Herédia (2003), op. cit. 1490

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“Personalidade de atuação entusiasta",1505 foi também membro da Diretoria do Círculo Operário Ismael Chaves Barcellos, participando da criação de cursos noturnos para os operários,1506 e foi idealizador, um dos organizadores e mais tarde secretário e presidente da Cooperativa de Consumo São Pedro, fundada em função do lanifício com um capital inicial de 30 mil contos de réis e 279 associados, nascendo... ”[...] com o intuito de melhorar as condições de vida dos operários do terceiro distrito de Caxias do Sul, sem intenções de lucro, eliminando o papel do intermediário comerciante, devido à localização da vila estar distante da sede urbana de Caxias. Essa empresa comercial barateava os gêneros de primeira necessidade e garantia aos operários alimentação básica a preço de custo, com a possibilidade de pagamento a crédito. [...] A preocupação com a vila, por parte de quem a gerenciava, manifestava-se em todas as esferas: da questão educativa, religiosa, sanitária, social, à recreativa, justificada sempre com o fim de suprir as necessidades básicas da comunidade operária, como se pode observar no tipo de atividades desenvolvidas pela fábrica".1507 A Cooperativa também expandiu e reformou a Vila Operária de Galópolis, que havia sido iniciada por Hércules Galló quando este administrava o lanifício, resultando num conjunto que foi reconhecido como um marco arquitetônico importante, como ressaltou Daniela Milano: “As primeiras casas para os trabalhadores do Lanifício São Pedro de Galópolis foram construídas em madeira de forma linear. [...] Contudo o elemento diferencial ficava por conta da individualização do espaço, cada volume que compunha o conjunto de habitações operárias abrigava duas famílias, ou seja, as casas eram geminadas. [...] Detalhe da Vila Operária de Galópolis. Foto Carlos Roani.

“A substituição das casas de madeira pelas de alvenaria aconteceu de forma gradual e por muito tempo elas conviveram juntas. As novas habitações foram edificadas em tijolos maciços, sem ornamentações, como as casas da colônia e como a arquitetura fabril desenvolvida na Europa desde a Revolução Industrial. Embora elas fossem construídas em tijolos, internamente continuaram em madeira (com exceção das paredes de divisa entre as unidades) como as casas da colônia. [...] “O ineditismo de um núcleo operário em uma localidade semi-rural com forte cultura da imigração italiana, que absorveu as inovações da habitação industrial européia e ainda manteve os costumes e tradições da região em perfeita harmonia, faz de Galópolis um lugar atípico e diferencial, com todos os atributos para se tornar um bem de patrimônio histórico que merece ser preservado”.1508 1505

"Galópolis, uma cachoeira que formou uma vila". Pioneiro, 14/06/1978 "Abertura do curso noturno". O Momento, 25/05/1946 1507 Herédia (2003), op. cit. 1508 Milano, Daniela Ketzer. “Arquitetura da Imigração Italiana: A vila operária de Galópolis (1906-1941)”. Grupo de pesquisa CNPQ: Imigração, cidades e narrativas de estrangeiros sobre o Brasil (1864-1964) 1506

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O governador Walter Peracchi Barcellos, Pery Paternoster, o ministro Mário Andreazza, o prefeito Victorio Trez e uma mulher não identificada diante do estande do Pastifício Caxiense na Festa da Uva. Ao lado, Zuleika Santos e Pery Paternoster. Coleção de Dóris Paternoster.

Pery faleceu em 27 de setembro de 1988. Após sua morte seu legado de honradez e dedicação à causa pública foi lembrado em outras sessões do Legislativo, 1509 1510 foi homenageado pela Câmara em 1992, em Sessão Ordinária,1511 e novamente em 2002, em Sessão Solene, comemorativa dos 110 anos de instalação do Poder Legislativo em Caxias do Sul,1512 junto com outros ex-presidentes da Casa. Pery foi casado com Zuleika Santos, nascida em Pelotas em 30 de outubro de 1917 e falecida em Porto Alegre em 19 de novembro de 2012, filha de Maria Braga e Carlos Santos, professora, diretora por muitos anos do Grupo Escolar de Galópolis, e depois adjunta do Departamento de Cultura da Secretaria Estadual de Educação e Cultura, sendo nesta época o braço direito de Antonietta Barone, figura ilustre na Educação e Ensino do Rio Grande do Sul. O casal teve os filhos: a) Dóris Paternoster, nascida em Porto Alegre em 9 de setembro de 1941, foi rainha das Falenas e estudou Belas Artes, Ballet e Pedagogia. Levou em sua juventude uma vida aventuresca e à frente de seu tempo, viajando muito e cultivando uma personalidade forte, carismática e independente. Foi professora de Artes por 11 anos na Escola Normal Duque de Caxias, onde fundou a Escola de Artes para crianças, na qual eu próprio passei uma temporada, e depois foi convidada a dirigir a Escola de Artes da Universidade de Caxias do Sul, permanecendo na função por 14 anos, até aposentar-se, dedicando-se de corpo e alma à Arte e à Educação, que diz serem os grandes amores de sua vida. Dóris foi ainda a cuidadora de sua mãe na velhice e de seu irmão em seus anos finais. Ela possibilitou o acesso à sua rica coleção de documentos e fotografias sobre João, Marietina e Pery Paternoster, além de dar muitas informações, pelo que deixo registrado meu agradecimento. 1509

Anais da Câmara Municipal de Caxias do Sul. 80ª Sessão Extraordinária, de Caráter Solene, de Outorga do Título de Cidadão Caxiense ao Sr. Bernardino Conte, 12/06/1991 1510 Anais da Câmara Municipal de Caxias do Sul. 355ª Sessão Ordinária, 14/05/1992 1511 Anais da Câmara Municipal de Caxias do Sul. 369ª Sessão Ordinária, 23/06/1992 1512 Anais da Câmara Municipal de Caxias do Sul. 36ª Sessão Comemorativa em homenagem aos 100 anos de instalação do Poder Legislativo em Caxias do Sul, 26/09/2002

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b) Clóvis Paternoster, nascido em Caxias do Sul em 27 de dezembro de 1943 e falecido em Porto Alegre em 13 de junho de 2015, trabalhou primeiro como funcionário da CRT, depois formou-se psicólogo e advogado. Adquiriu uma vasta cultura e conforme contou Dóris, o ilustre político, professor e advogado Paulo Brossard considerava que Clóvis tinha a melhor redação jurídica que jamais vira. Envolvido na política, trabalhou como assessor dos governadores Jair Soares, Pedro Simon e Alceu Collares, escrevendo inúmeros discursos para eles e sendo uma figura influente no governo, embora fizesse questão de permanecer nos bastidores do poder. A última década de sua existência foi muito difícil, sofrendo uma série de acidentes e doenças que o deixaram incapacitado, sobrevivendo somente graças aos cuidados da irmã. Clóvis Paternoster. Abaixo, Dóris Paternoster. Coleção de Dóris.

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7) Ida Sartori Paternoster, filha de João Paternoster e da primeira Maria Sartori, nascida em 15 de setembro de 1902, foi criada por seu tio Máximo Sartori e a esposa Pasqua da Re. Através da boa educação que teve, Ida se tornou moça brilhante, um dos melhores partidos de sua geração, citada várias vezes na crônica social em elogiosos termos. Algumas notas são especialmente entusiásticas: “Vesperal. Theatro Central. Jardim esplendido... Flôres raras, flôres exóticas; flôres communs, flôres de campo... As altas rodas representadas pelas suas ‘Rainhas’, dos trajes luxuosos e á última moda – o dernier cris de Paris. A sociedade humilde, apresentando as suas modestas ‘Padroeiras’, envoltas na simplicidade e exhalando o aroma acre dos campos... Aqui... acolá... nas finas poltronas da platéa e nos artisticos camarotes, exparsas, como as estrellinhas no céo, fulguram: Elsa Sturci, fascinante, Ignez Bonotto, lembrando a dança das maripôsas, [...] Jurema Santos e Ema Pereira, duas lindas rosas para todos os salões, Venus de Mello e Ida Sartori, imperando no throno da sua belleza, Rosalia Eberle, de preto, sentimental; [...].” 1513 “O concerto da brilhante Soprano Ligeiro, Pina Monaco levou ao Central a élite da nossa sociedade. O faustoso recinto, literalmente cheio, não era mais um simples jardim, mas um deslumbrante céo, onde fulguravam as mais scintilantes estrellas da nossa culta Sociedade Caxiense. Nos artisticos camarotes e na ampla e luxuosa platéa viam-se: Hydée Henriques, a linda boneca dos olhos tristes, Ida Sartori, com um diadema na fronte, uma rainha de magestade e de beleza; [...]”.1514

1513 1514

“Registro Social”. Caxias, 16/06/1927 “Registro Social”. Caxias, 23/06/1927

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É interessante observar como os Sartori, “da mais fina flor da sociedade caxiense”, como disse Costamilan, bem como muitas outras distintas famílias locais, podiam se ocupar em atividades grosseiras sem perder seu prestígio. Máximo e Pasquina trabalharam pessoalmente no seu açougue, ela acabou tendo uma deformação na coluna de tanto carregar pesos, como lembrou Marisa, filha de Ida, e seu cunhado Guerino Sartori matava e carneava as reses para o açougue com as próprias mãos, ao mesmo tempo em que Ida era criada no conforto, vestia-se muito melhor que sua mãe baronesa e recebia excelente educação.

O chicote de montaria que pertenceu a Máximo, e que ainda sobrevive entre as pouquíssimas relíquias familiares daqueles tempos recuados, é uma bela peça de arte aplicada, com um cabo de prata em forma de cabeça de cão e anéis com delicado trabalho de decoração floral em relevo, combinados à extremidade de couro trançado, coberta parcialmente por fina cota metálica também em prata, e isso tudo dá uma mostra expressiva da exótica mistura de sofisticação e rusticidade que caracterizou a vida da elite caxiense em seus primórdios. Outra evidência disso é uma foto em que Ida e mais três amigas, vestidas com todo o aparato das “melindrosas” chiques do início do século, estão sobre uma precária canoa navegando no Rio das Antas, aparentemente fazendo “turismo” numa região naquela época ainda virgem.

Ida, de pé entre duas amigas, em 1926.

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Mas quando Ida floresceu os tempos de Caxias como uma simples colônia em que tudo era improviso haviam ficado definitivamente para trás;1515 a sede urbana se expandia rapidamente e ali a elite estava solidamente estabelecida, enricava e erguia palacetes, e a cultura dava frutos eruditos. Nesta mesma época surgem os clubes sociais com programação cultural e os primeiros jornais reunindo os primeiros intelectuais, e é fundada uma bela casa para operetas, cinema e teatro, o Theatro Apollo, logo seguido pelo Central. Ida participou de vários eventos beneficentes, cantava num coral e se apresentou pelo menos uma vez no Theatro Central, interpretando trechos de óperas e bailados, junto com seus primos Salvador, João e Gabriel Sartori,1516 1517 1518 1519 1520 e é lembrada como habilidosa nos bordados.1521 Além disso, foi sócia honorária do Esporte Clube Juventude. O clube sempre teve muitas fãs, até hoje é o mais tradicional de Caxias, com uma carreira que despertou grandes paixões. Ela, assim como seus tios e primos Sartori, estava entre a torcida esmeraldina.

1515

Santos (2006), op. cit. “Chá-kermesse em benefício do Hospital de Caridade”. O Brasil, 10/04/1920 1517 “Baile de Damas”. O Brasil, 05/07/1924 1518 “Football”. Città di Caxias, 05/10/1918 1519 “Nascimentos”. A Época, 14/01/1940 1520 “Concerto”. Caxias, 01/12/1927 1521 Machado & Aguzzoli, op. cit. 1516

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Michielin dá mais um exemplo, transcrito abaixo, da íntima ligação dos Sartori com o clube, que seria fortalecida entre nós também com os Longhi e os Artico: “A comunhão do sexo frágil com o Juventude sempre foi marcante. Servia como um atestado de aceitação. [...] Por essas estranhas razões femininas, logo que o Juventude começou a travar contato com o Novo Hamburgo, iniciando uma forte integração e constituindose no ‘clássico ítalo-germânico’, as senhoritas hamburguesas [...] Herta, Alma, Ely, Hilda, Oda, Elisa, Maria, Adelina e Eulina, [...] nomeadas em ata, foram agraciadas com o título de ‘sócias honorárias’ [do Juventude]. Desconfiava-se que a homenagem fora prestada pelos atletas namoradores. “Em todo caso, a Diretoria assentiu prazerosamente. O presidente do Novo Hamburgo também foi laureado. A estima era mútua e crescente. As ‘alemoas’ escreviam cartas idílicas. Talvez para não ficar feio com o mulherio caxiense, os ‘malandros’ da cartolagem transformaram em ‘sócias de honra’ Ida Sartori, Mercedes Zanella e Mimosa Ferreira. Eles sabiam onde pisavam e este tipo de confusão não convinha comprar...” 1522 Sua marca mais importante, porém, deixou através do Éden Juventudista. Segundo Roni Rigon, “Ida Sartori Paternoster teve um envolvimento intenso na comunidade caxiense. Seu espírito comunicativo e de liderança a tornou uma mulher de vanguarda para sua época. No âmbito social, desenvolveu atividades com o grupo das Falenas, do Clube Juvenil. Quando ingressou no Recreio da Juventude, ao lado do poeta Vico Thompson fundou a Sociedade Éden Juventudista”.1523 Rodrigo Lopes também falou sobre o Éden: “O universo literário norteou a trajetória de Vico Parolini Thompson (1899-1935), poeta, professor e empresário com destacada atuação em várias instituições de Caxias do Sul. Sua sensibilidade comunitária esteve diretamente associada à historia do Recreio da Juventude – influenciou, inclusive, a Diretoria do clube a fundar o Éden Juventudista, cujo departamento cultural inseriu a participação das mulheres.

1522 1523

Michielin, op. cit. Rigon, Roni. “Memória: O casal Ida e Antônio”. Pioneiro, 10/09/2003

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“Na imagem acima vemos Thompson durante a solenidade de instalação do Éden, em [19 de] dezembro de 1926. Junto à mesa aparece ainda a senhorita Ida Paternoster, eleita a primeira presidente. Para o ano de 1927, integraram a Diretoria as jovens Léa Spada (1ª secretária), Venus Mello (2ª secretária), Omar Piccoli (1ª tesoureira) e Herminia Pauletti (2ª tesoureira). No Conselho Fiscal figuravam Natália Benetti, Rina Ártico, Alice Pasetti, Verônica Rosina e Flora Fabris. Graças ao empenho do poeta, o Recreio da Juventude rompeu os costumes de uma época bastante conservadora, permitindo a contribuição feminina na organização de diversas atividades culturais. [...] “No informativo trimestral do Recreio do Juventude de dezembro de 1987, o retrato de Vico com as integrantes do Éden Juventudista foi publicada na capa. O material relata a criação do Éden”.1524

1524

Lopes, Rodrigo. “Vico Thompson e o Éden Juventudista”. Pioneiro, 26/12/2014

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O papel das Falenas já foi explicado antes, e o do Éden foi similar, realizando muitos eventos sociais, benemerentes e culturais. Seu pioneirismo na incorporação do universo feminino às atividades dos clubes foi lembrado em 2012 em Sessão Solene da Câmara, quando o Recreio da Juventude foi homenageado pelos seus 100 anos de vida.1525

Convite para um baile promovido pelo Éden Juventudista. Acervo do Recreio da Juventude.

1525

Câmara de Vereadores de Caxias do Sul. 128ª Sessão Solene – XV Legislatura. Homenagem aos 100 Anos do Recreio da Juventude, 29/11/2012

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No entanto, sua participação nesses grupos foi breve. Nas Falenas não encontrei registro de quanto tempo tenha permanecido, talvez alguns anos, já que o grupo havia sido fundado em 1915. Mas o Éden surgiu em fins de 1926, e em 1928 ela já não aparece na Diretoria, nem é citada como presidente honorária, sua designação inicial. O provável é que nesta altura ela tenha começado sua retirada dessas atividades típicas de moças solteiras, em 1928 já devia estar noiva, pois casou em 4 de maio de 1929, passando depois a se dedicar ao lar. Isso não quer dizer que não participasse mais de festas, pois diz sua filha Marisa que ela as adorava e estava sempre pronta para um baile.

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Banquete de casamento de Ida Sartori Paternoster e Antonio Augusto Frantz no Hotel Paternoster. Os identificados são 1) André Martinewski 2) Ida Olinda Frantz Martinewski 3) Ignez Paternoster Canozzi 4) Deodato Canozzi 5) Massimo Sartori 6) Salvador II Sartori 7) Hilda Paternoster Costamilan 8) Ida Paternoster 9) Antonio Frantz 10) o padre Luiz Victor Sartori 11) Miguel Muratore 12) a esposa de Miguel Muratore 13) Santina Amoretti Sartori (?) 14) Adélia Paternoster Costamilan 15) Angelina Paternoster Costamilan.

Porém, como seu esposo era um alfaiate desconhecido que recém chegara, e para piorar, alemão, o casamento representou para ela a descida de vários degraus na escada do prestígio na visão dos colunistas sociais, que do dia para a noite a abandonaram por completo. A própria nota sobre o seu casamento, embora longa e citando o “lauto banquete” que foi oferecido no Hotel Paternoster aos convidados,1526 publicada no mesmo jornal que há pouco a incensava, já tem um tom inteiramente diverso, todo objetivo, sendo uma verdadeira pá de cal sobre o glamour que antes a revestira. Um outro periódico lhe concedeu umas linhas ligeiramente mais amigáveis, 1527 mas ficamos por isso, e se antes fora uma diva e uma locomotiva social, depois do casamento, apesar da grande reputação dos Sartori, apesar de continuar sendo uma dama culta e refinada, sempre vestida com elegância em público, e apesar de seu marido em breve tornar-se respeitado e estimado por muita gente, como logo será documentado, seus registros na imprensa desaparecem, só voltando a ser noticiada por ocasião do nascimento dos seus filhos, e mesmo então, laconicamente. Talvez isso possa ter-lhe causado uma certa frustração, acostumada que estava a brilhar, mas, se é que isso ocorreu, foi um preço baixo a ser pago, pois o casamento deu-se por amor e nele ela foi feliz.

1526 1527

“Consorcio”. Caxias, 09/05/1929 “Caxias Social”. O Popular, 09/05/1929

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Da sua união com Antônio Frantz resultaram quatro filhos: Marisa, Mauro, Milton e Murillo. Participou do Apostolado da Oração da Catedral, pois era devota, e mais tarde ligouse à Igreja do Santo Sepulcro, diante da qual morou, no fim da vida, com seu marido e seus filhos Milton, que ficou solteiro, e a família de Murillo.1528 Sua atividade social mais notável depois de casada foi ser festeira de Nossa Senhora das Dores, devoção associada à Igreja do Santo Sepulcro.1529 “Uma das personalidades mais significativas na história caxiense”, 1530 como a descreveu Rigon, Ida faleceu em 27 de novembro de 1968, depois de dois anos de dramática enfermidade. Seu passamento foi assinalado pela Câmara Municipal, que aprovou por unanimidade um Voto de Pesar. Na ocasião, foi citada como membro de tradicionais famílias caxienses e como “um ornamento da sociedade”, tendo criado filhos “que concorriam para o brilhantismo da sociedade em que viviam”.1531

1528

Rigon (10/09/2003), op. cit. “Lembrança”. Paróquia de Santo Sepulcro, 17/11/1957 1530 Rigon (10/09/2003), op. cit. 1531 Câmara Municipal de Caxias do Sul. 327ª Sessão Ordinária da V Legislatura, 29/11/1968 1529

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Ida Frantz e seus filhos Marisa, Mauro, Milton e Murillo em seu colo.

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Trecho do caderno especial do Pioneiro sobre o Recreio mostrando a imagem da fundação do Éden Juventudista, estando Vico Thompson e Ida Sartori assinalados com pontos.

Sua passagem pelos clubes e sua atividade cultural também foram lembradas mais tarde. Na capa da Revista do Recreio da Juventude na edição comemorativa dos 75 anos do clube, em 1987, a fundação do Éden foi revivida com a clássica foto de Geremia onde Ida aparece de pé ao lado de Thompson e várias outras companheiras,1532 a mesma imagem reproduzida no caderno especial do Pioneiro por ocasião do 85º aniversário do Recreio, em 1997,1533 e em artigos mais recentes de Roni Rigon e Rodrigo Lopes no mesmo jornal, 1534 1535 onde Ida foi citada principalmente em função da sua participação naquele grupo, o que constitui talvez a sua mais importante marca na história de Caxias.

1532

Revista do Recreio da Juventude, 1987; 2 (8) “Recreio da Juventude 85 Anos: 1912 – 1997”. Caderno especial. Pioneiro, 29/12/1997 1534 Rigon, Roni. “Mulheres no Juventude”. Pioneiro, 29/12/1997 1535 Lopes, Rodrigo. “Vico Thompson e o Éden Juventudista”. Pioneiro, 26/12/2014 1533

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Ela foi incluída também no livro Nossas mulheres... que ajudaram a construir Caxias do Sul, das conhecidas pesquisadoras e professoras Maria Abel Machado e Leonor Aguzzoli, lançado em 2005 como a abertura das grandes comemorações do centenário do Juvenil,1536 cujo planejamento e execução da parte cultural e histórica esteve honrosamente a cargo de Elisabeth Longhi Frantz, minha mãe e nora de Ida, na época chefiando o Departamento Cultural do clube. O livro obteve repercussão muito positiva junto à intelectualidade caxiense, tendo ilustrações de Rita Brugger, conhecida artista plástica local, e apresentações de Mário Gardelin, notório historiador e ensaísta, Aldo Migot, vice-presidente da Festa da Uva, e Vânia Herédia, A imagem que ilustrou a sua página no livro de Machado & Aguzzoli. conceituada pesquisadora da história da região, recebendo elogios na mídia e de várias personalidades da cultura caxiense, como Mara de Carli, presidente do ativíssimo Núcleo de Artes Visuais (NAVI), e Beatriz Saretta, coordenadora da Lei de Incentivo à Cultura da Prefeitura Municipal, que financiou a publicação.1537 1538 As mulheres enfocadas foram apresentadas como exemplos pelo secretário municipal da Cultura Antônio Feldmann em discurso a uma turma de formandas de um curso técnico.1539 Segundo reportagem da Gazeta de Caxias, “O livro escolheu como tema principal homenagear a mulher imigrante que teve uma participação decisiva na construção de Caxias do Sul. Foram reunidas quase 300 fotografias de mulheres das mais diversas atividades do período que abrange desde o inicio da imigração italiana (1875) até os dias de hoje. Suas histórias registram o espírito de luta, de sacrifícios, de dificuldades, de garra, de senso do dever e o amor com que enfrentaram os desafios. A escolha do tema e a oportunidade de homenagear se traduziram num momento importante de resgate da história dessas mulheres, cujo trabalho esteve presente desde a chegada dos primeiros imigrantes e se traduz num fato econômico importante, tanto no sentido de produção do trabalho como na reprodução da força-trabalho, com vistas ao crescimento da propriedade rural e das atividades urbanas. São todas mulheres, entre outras tantas, que ajudaram a tecer e a construir a história de Caxias de Sul”. 1540

1536

“Nossas bravas mulheres”. Pioneiro, 02/03/2005 Aguzzoli, Leonor de Alencastro Guimarães. “Livro Nossas Mulheres...” Smug Mug. 1538 Machado & Aguzzoli, op. cit. Notas de contracapa. 1539 “Prefeitura entrega certificados para 23ª e 24ª turmas do Banco de Vestuário”. Assessoria de Imprensa Prefeitura de Caxias, 26/04/2013 1540 “Mulheres que ajudaram a construir Caxias do Sul”. Gazeta de Caxias, mar/2013 1537

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Acima, um dos seus antigos porta-joias. Ao lado, medalhão de ouro lavrado com a imagem da Madonna com o Menino de um lado e do Sagrado Coração de Jesus no outro, preservado pelos seus descendentes.

Acima, detalhe da capa da Revista do Recreio da Juventude em edição comemorativa aos 75 anos do clube. Abaixo, uma imagem de seus últimos anos, com sua cunhada Ida Olinda Frantz Martinewski (à esquerda). .

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Ida Sartori Paternoster em torno de 1925, em foto-pintura de Julio Calegari, com colorido original. De meu conhecimento, se trata de uma das suas criações mais impactantes, também pela escala, sendo obra de quase 1,50 m de altura, excepcional para os padrões da época e mesmo na produção deste celebrado fotógrafo caxiense, que se especializou em retratos da elite em cenários fantasiosos, opulentos e românticos típicos 444 da Belle Époque, deixando obras em duas técnicas: fotografias tradicionais e foto-pinturas, fotografias que ele coloria e retocava com giz pastel, têmpera, aquarela ou tinta a óleo. (Cf. Tessari, Anthony Beux. "Retratos Burgueses: Atelier Calegari, Atelier Geremia". In: Anais do II Encontro História, Imagem e Cultura Visual. Porto Alegre, PUCRS, 08-09/08/2013). Coleção de Murillo e Elisabeth Frantz.



Como falamos dos clubes sociais várias vezes, já vai tarde o momento para abrirmos um parêntese e traçarmos um panorama sobre o que era a vida social da elite entre as décadas de 1910 e 1960, o ambiente em que Ida, bem como outros familiares viveram, o período que foi talvez o mais rico em folclore do patriciado colonial caxiense, até que o que havia restado de glamuroso dos “anos dourados” se desvanecesse na rápida globalização dos costumes que se verificou a seguir.

Pensar no Juvenil Ver nota 1541 dos seus primeiros cinquenta anos, assim como em seu eterno rival, o Recreio da Juventude – que nasceu de juvenilistas dissidentes –, tendo os clubes de hoje e as festas rave como parâmetro, não é ter uma boa visão do que eles representaram na vida da cidade naquela época, pois os clubes sociais eram o que hoje são as casas de cultura, com programação de música, inclusive sinfônica, cinema, dança, teatro, saraus literários e palestras educativas, sendo ao mesmo tempo um centro de integração e convívio, e também uma grande passarela da moda e dos costumes da elite, desempenhando em parte estas funções até hoje, consagrando doutrinas sociais e formas de pensamento, lançando tendências e fortalecendo os laços sociais.1542 1543 Como dizem Cruz et alii, os clubes eram “instituições que construíam e reafirmavam a identidade étnica ítalo-brasileira dos moradores da cidade”.1544 1541

Fundado em 19 de junho de 1905 por Américo Ribeiro Mendes, Carlos Giesen, Henrique Moro, Ettore Pezzi, Humberto Jaconi, Luiz Amoretti, Dante Panarari, Vitorio Rossi, Romano Rossi, Antonio Guelfi e Archimino Selistre Campos. [parentes em itálico] 1542 “Recreio da Juventude 1912-1997”. Especial. Pioneiro, 29/12/1997 1543 Rigon, Roni. “Memória: Clube Juvenil”. Pioneiro, 18/06/2004 1544 Cruz, Priscilla Postali et al. “O futebol e a italianidade brasileira: a emergência da prática futebolística em Caxias do Sul”. In: Revista Didática Sistêmica, Edição Especial - Evento Extremos do Sul

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A educação formal e as boas maneiras, o decoro em público e em privado, a dedicação ao trabalho, à religião católica e à família, foram em geral valores básicos para a classe dominante caxiense. Nestes valores a beneficência social estava incluída, e sempre esteve muito ligada a uma ética cultivada por muitos de seus membros, que adotavam, e adotam até hoje, o princípio da noblesse oblige, que diz, em suma, que a “nobreza” ou distinção que a sociedade confere a certos indivíduos e grupos deve ser paga com serviço à sociedade que a propicia, o que, inegavelmente, é uma tradição positiva. De fato, foram incontáveis os eventos e projetos beneficentes organizados pelo patriciado caxiense e grupos dele derivados, como as Damas de Caridade, as Falenas e o Éden Juventudista, e principalmente ao patriciado se deve a existência de instituições como, por exemplo, o grande Hospital Pompeia, fundado e mantido pelas Damas de Caridade, quase em sua totalidade pertencentes à elite, e a construção da Catedral, sempre coordenada e em boa parte financiada por destacados membros da comunidade. Os eventos de caridade que patrocinavam frequentemente se desenvolviam nos clubes e se tornavam eventos culturais também, sendo ocasiões privilegiadas em que aconteciam algumas das mais importantes manifestações na área da música, do teatro, da poesia e da literatura, sendo neste meio que foram fundados a Academia Caxiense de Letras e a Universidade, outros exemplos, e os próprios clubes sociais.1545 1546 O programa de um festival de caridade organizado em 1938, ilustrado abaixo, onde minha prima Eunice Artico de Almeida cantou, é um bom exemplo. 1545

Santos, Leonir. “Academia Caxiense de Letras (V)”. Jornal do Comércio, 03/06/1996 Costa, Liliane Maria Viero. A escola municipal de Belas Artes de Caxias do Sul: histórias e memórias (1949 a 1967). Dissertação de Mestrado. UCS, 2012 1546

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Orquestra Sinfônica de Caxias em apresentação no Clube Juvenil, anos 40. Foto Studio Geremia, coleção de Nóris Pezzi d’Andrea Curra.

O projeto básico de vida para os homens, até o início dos anos 60, era ser um galante e ilustrado cavalheiro em sociedade, um católico devoto e um esposo dedicado ao lar e à família, mas sobretudo devia ser um honesto e esforçado trabalhador. A “ética do trabalho” era um dos fundamentos mais sólidos da cultura colonial e tinha origens exatamente na circunstância de esta civilização nascer como uma colônia em uma terra virgem. Luiz Alberto de Boni e Rovílio Costa, dois dos mais distinguidos historiadores do processo de colonização no estado, escreveram no prefácio da edição fac-similar do grande álbum comemorativo dos 50 anos da imigração:

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“O abandono governamental dos primeiros tempos, dentro de tudo o que tinha de negativo, foi, contudo, uma das razões da manutenção da identidade italiana e serviu para colocar o imigrante ante um dilema: ou lutava com todas as forças para sobreviver, ou haveria de ser levado de roldão pela dureza da vida daqueles primórdios. Desafiado, ele reelaborou um mundo de valores, no qual a propriedade, a parcimônia e o trabalho ocupavam lugares dominantes. [...] A pátria fora deixada porque nela faltava a perspectiva de poder tornar-se proprietário, tal como, segundo dizia a propaganda, era possível tornar-se no Brasil, e como, de fato, estava acontecendo no Rio Grande do Sul. [...] Mas a terra nada é sem o trabalho. De pouco teriam valido as peripécias da viagem e a aquisição da gleba se ela não fosse arroteada. E para tanto era necessário o esforço de quem a adquiria. A terra não era um dom, era uma conquista, e o consquistador era o braço do colono, não medindo sacrifícios, ignorando intempéries, labutando de sol a sol (ou melhor, de estrela a estrela, como alguns preferiam dizer). O trabalho surgia assim como fonte de liberdade, como um valor mítico, encerrando em si o segredo da dignidade e da honorabilidade. Representava, de certo modo, o conjunto de todas as virtudes, ou, ao menos, era capaz de desculpar alguém por vícios que viesse a ter, como o abuso do álcool, os rompantes de cólera, as blasfêmias e até mesmo, no caso das mulheres, a pouca beleza. Por mais de uma vez foi dito de jovens casadoiros que o rapaz era pobre, mas trabalhador, ou que a moça era bonita, mas não sabia fazer nada”. 1547 Para as mulheres, que no ambiente ao mesmo tempo controlado e liberalizante dos clubes começavam a ganhar asas e romper barreiras e preconceitos, ainda lhes cabia o papel primordial, primeiro, de donzela-princesa virtuosa e prendada, e depois, de esposa fiel e perfeita dona de casa e mãe de família. Na sociedade tradicional, a mulher não fazia muito sentido sem um homem, e tampouco um homem fazia muito sentido sem uma mulher, embora eles dispusessem de muito maior liberdade de ação, sendo que suas esposas davam “ajuda”, mas decidiam pouco fora do âmbito doméstico, seu domínio por excelência. Muito já foi escrito sobre o papel de aglutinadoras e preservadoras do tecido social e transmissoras da cultura dos ancestrais desempenhado pelas mulheres nas sociedades tradicionais e patriarcais, um papel vital que foi assinalado desde a Grécia Antiga, mas tantas vezes mantido à sombra do brilho e poder masculino, embora elas fossem também fontes de orgulho e prestígio, se mostrassem recato, operosidade, educação e fidelidade, se fossem ventres férteis, e se fossem de boas famílias, 1548 1549 como igualmente em Caxias se observou. Para as mulheres caxienses por muito tempo os cargos políticos estavam fora de seu alcance e havia poucas opções além de serem esposas e mães, vivendo só para o lar, a não ser como agricultoras, serventes e operárias, mas muitas se destacaram como professoras, enfermeiras e religiosas, também se ocupando, como se disse, em atividades beneficentes, artísticas e, talvez principalmente, socializantes, constituindo-se, nestes últimos sentidos, “o ornamento da sociedade”, uma expressão usada à larga na imprensa até os anos 60. Se esta expressão era um atestado de prestígio social, dirigida em geral a mulheres da elite, ao mesmo tempo sinalizava, na interpretação patriarcal das coisas que então prevalecia, o papel secundário que elas desempenhavam na estruturação da sociedade: o homem era o fundamento, mas a mulher, se de certa forma era obviamente indispensável, era porém um adorno acessório, que dependia em quase tudo da orientação masculina. 1547

De Boni, Luiz Alberto & Costa, Rovílio. “Os Italianos no Rio Grande do Sul”. In: Cichero, Lorenzo. Cinquantenario della Colonizzazione nel Rio Grande del Sud, 1875-1925. Edição fac-similar. Pozenato Arte & Cultura, 2000 1548 Osborne, Robin. "Looking on - Greek Style: Does the sculpted girl speak to women too?" In: Morris, Ian (ed). Classical Greece: ancient histories and modern archaeologies. Cambridge University Press, 1994 1549 Santos, Miriam de Oliveira. “A Mulher e a Reprodução Social da Família”. In: Ártemis, 2007; 7:88-92

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Ida Paternoster, a terceira a partir da esquerda, com suas amigas nos anos 20, simulando fumar charutos. Seu grupo, ativo nos dois clubes sociais, compunha uma juventude que gostava de romper padrões e lançar modas, ma non troppo, é claro. Elas não fumavam de verdade... 449 Mesmo assim, como notou Michielin, a esses grupos de vanguarda se devem algumas das primeiras manifestações do feminismo na cidade.

Nos anos 60 esse cenário mudaria e a moral tradicional seria contestada e profundamente abalada, e a mulher iniciaria seu processo próprio de emancipação depois de tímidos e, poderíamos dizer, “ornamentais” ensaios anteriores, que ocorreram principalmente no seio de grupos como o das Falenas e do Éden Juventudista, e também, de outra forma, na Associação das Damas de Caridade, mas os escritos de meu pai, Murillo Moacyr Frantz, filho de Ida Paternoster e membro de família conceituada, que em sua juventude foi colaborador do jornal Pioneiro e de algumas revistas estudantis, são perfeitas expressões do ideal cavalheiresco que ainda circulava nesta altura em vários grupos da elite mais ilustrados e engajados social e politicamente, atribuindo aos donos do poder a responsabilidade pela justiça e pela criação de oportunidades mais equitativas para todos, mas esperando dos desvalidos as qualidades de dedicação ao trabalho, boa vontade e uma moral sólida, e também um desejo sincero de se aperfeiçoar e aproveitar positivamente a ajuda e as chances abertas, a fim, pragmaticamente falando, de que o investimento das classes superiores não caísse em terreno estéril e pudesse frutificar, retornando em benefícios para todos.1550 1551 1552 Várias de suas crônicas tocaram no problema da pobreza e da desigualdade, numa delas citou Sêneca pregando que os homens nasceram para se ajudarem mutuamente, e noutra disse: “Ocasiões para praticarmos o bem não nos faltam. Basta caminharmos pelas ruas, atravessar as nossas praças, visitar os nossos bairros, e surge-nos naturalmente a vontade de dar nossa contribuição. Toda pessoa no íntimo quer ser útil à sociedade de que faz parte, na qual convive e com a qual deve colaborar para o bem estar de seus membros. Quanta coisa pode ser feita! As reformas de base tão solicitadas, os graves problemas sociais, o analfabetismo e a ignorância religiosa estão aí para nos mostrar quais são os males que nos afligem”.1553 Sua esposa, Elisabeth Longhi, também de família tradicional e conhecida cronista do Pioneiro nos “anos dourados”, serve da mesma maneira como ilustração do ponto, tendo deixado muitos textos idealistas buscando acender na sua geração o amor pelo altruísmo, pelo Bem e pelos valores da religião cristã, atribuindo à mulher grandes responsabilidades e também privilégios, como parceira do homem em pé de igualdade, não como quer o moderno feminismo, mas no sentido de complementaridade, além de sua produção escrita, como assinalou Santos, ser um eloquente porta-voz da alma feminina caxiense de sua época.1554 Diz ela na crônica Condição de Mulher: “Este é um grito de louvor, às mães, às esposas, às noivas e às garotas. É também uma orgulhosa manifestação de meu coração feminino! É tão belo e tão sublime ser mulher que sinto um desejo imenso de extravasar nestas linhas em que se resume o nosso valor. O valor de uma mulher mede-se, e medir-se-á sempre, não pela classe social a 1550

Frantz, Murillo Moacyr. “Aquele pobre desconhecido”. Pioneiro, 24/08/1963 Frantz, Murillo Moacyr. “Alerta!” Pioneiro, 31/08/1963 1552 Frantz, Murillo Moacyr. “Terra, Capital e Trabalho”. Pioneiro, 21/09/1963 1553 Frantz, Murillo Moacyr. “Desperta ... e vive”. In: Revista da Associação Atlética Banco do Brasil, 1963 1554 Santos (2007), op. cit. 1551

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que pertence, [...] ou pelo luxo e elegância no vestir. Nem tampouco será a beleza, o charme ou os conhecimentos literários que determinarão a grandeza de sua feminilidade. Prevalecerá apenas a sua aptidão para desempenhar a sua tripla missão de esposa, mãe e educadora. [...] Não sejamos bonecas sem cérebro nem coração, nem nos prestemos ao que quiser conspurcar nossa dignidade. A sociedade será mais íntegra se nós formos honestas, os homens serão mais dignos se nós formos puras”.1555 Por isso, até algumas décadas atrás a vida nos clubes era, em essência, uma vida tão familiar quanto pública e politica, onde tudo que fosse feito deveria poder ser feito à vista de todos e servir de exemplo educativo, em vários sentidos. Bem... pelo menos idealmente. Minha tia Vera Longhi, que frequentou os bailes com a família em sua juventude, lembrou em seu livro de memórias como a elite podia decair rapidinho, dizendo que quando as horas avançavam e o álcool elevava seus níveis, os ânimos podiam se exaltar a troco de nada e muitas vezes começavam brigas e quebra-quebras nos salões. Sabese também que vários “próceres” da cidade também fizeram coisas execráveis, e a classe política em particular, lamentavelmente tem sido causa de decepções sobre decepções em termos de ética. Os recortes de jornal que se espalham por este trabalho dão uma ideia do discurso que circulou nos clubes, e que exercia influência em larga escala na cultura da cidade. O Juventude e o Juvenil, localizados ambos no coração da cidade, eram lugares onde as pessoas passavam muito tempo, como lembrou minha mãe, que conviveu nesses espaços nos “anos dourados”. Depois seu perfil se modificou profundamente, ocorrendo um grande esvaziamento.1556 É sintomático da mudança nos referenciais desde então o que disse recentemente Solange Lima, produtora de bailes de debutantes no Juvenil: “Hoje as meninas só querem saber o nome, não importa filho de quem. Os sobrenomes interessam aos pais”. A declaração da jovem Danielle Massignani antes do seu début, sobre os costumes de sua geração, também mostra isso: “Ainda nem fomos apresentadas à sociedade e já estão soltas, ‘ficando’, bebendo, caídas no chão”, e Renan Ribeiro Mendes, presidente do clube, reconheceu: “Para essas meninas terem interesse em debutar é preciso ter uma festa muito diferente”. 1557

1555

Frantz, Elisabeth Ana Longhi. “Condição de Mulher”. In: Revista da Associação Atlética Banco do Brasil, recorte sem data. 1556 De Barba, Carol. “No Clube da Decadência”. In: Revista O Caxiense, jun-jul/2011 1557 Aramis, Marcelo. “Bonecas da alta sociedade”. In: Revista O Caxiense, 04/11/2011

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No seu longo apogeu, no entanto, os clubes praticamente monopolizaram a vida social da elite. No final do período aqui enfocado os bailes de debutantes se tornaram eventos dos mais importantes, entendidos como verdadeiros ritos de passagem para todas as filhas do patriciado que desejavam entrar na vida comunitária com o pé direito. Depois de uma apresentação cerimonial, vestidas como princesas, as moças dançavam a primeira valsa com o pai, formalizando seu ingresso na vida adulta. Esse costume tinha origens muito antigas, sendo comum na Europa, onde tanto a elite quando o povo organizavam festas deste tipo para introduzir as novas gerações na sociedade, mas só adquiriu a dimensão de moda no Brasil nos anos 50, quando o colunismo social estava no auge. Segundo Pelissari, os colunistas se tornaram elementos de grande peso na sociedade, recebendo o reconhecimento da elite pelo seu papel de recriadores e apoiadores da sua imagem e da sua ideologia,1558 e para Gonçalves, “Eles não escondiam sua adesão ao ideário aristocrático. Muitos compartilhavam intimidades com os colunáveis, confundindo-se com seus objetos de reportagem. Tomavam partido. Defendiam com unhas e dentes o direito da elite ser um espetáculo em si mesmo. E, sobretudo, tinham um enorme e variado poder. Aliás, nutriam uma consciência profunda de sua capacidade de influenciar diferentes meios sociais”. 1559 Neste contexto, além de cultivar as virtudes tradicionais, fazer uma boa presença nos bailes, ser de família conceituada e ser bem citado nas crônicas, havia outras estratégias para assegurar o prestígio e melhorar as chances de conseguir um bom casamento, como se engajar em atividades beneficentes e culturais através da associação com grupos “brilhantes” já consagrados, como as Falenas e o Éden Juventudista. 1560 Moças que tinham o privilégio de receber um elogio como recebeu Laís em 1949, uma das Falenas e moça da alta, filha dos ricos e notórios Abramo II Pezzi e sua esposa Zilma Alquati, incluída em uma matéria de página inteira sobre “A Mulher Caxiense” na edição de 11º aniversário do jornal A Época, de grande circulação, tinham carimbado o seu passaporte para a popularidade, ingressando na galeria de celebridades locais. Assim falou o colunista a seu respeito: “Uma alvorada rutilante de sol! Menina-moça cheia de majestade e finura, traz consigo mesma a formosa grandeza de uma raça. Esbelta, olhos azuis, porte fidalgo de graça, divisamo-la no inicio de sua gloriosa vida, antevendo-lhe os maiores triunfos na sociedade caxiense. Laís Pezzi, filha dileta de Caxias, é um grande e justificado orgulho da terra bonita dos parreirais que se perdem além da curva caprichosa do horizonte sem fim”.1561 Distinção ainda maior era ser rainha de algum dos clubes principais, e a apoteose era ser eleita rainha da Festa da Uva, posição de imenso prestígio na comunidade.

1558

Pelissari, Marina Krüger. “A mais fina sociedade riograndina” e suas representações: A vida social na elite de Rio Grande. Dissertação de Mestrado. UFGRS, 2012 1559 Gonçalves, José Henrique. “Escavando o chão da futilidade: colunas sociais, fontes para o estudo de elites locais”. In: Revista de História Regional, 1999; (4 (2):35-59 1560 Santos (1996), op. cit. 1561 “A Mulher Caxiense”. A Época, out/1949 – Edição do 11º aniversário

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A rainha da Festa da Uva de 1996, Patricia Pezzi, nossa parente pelo lado materno, ao centro, com as princesas Valéria Weiss e Márcia Maróstica. Foto Morgana Festugato, coleção de Valéria Weiss Angeli.

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Marisa Pasqualina Frantz, filha de Ida Paternoster e Antonio Frantz, em sua Primeira Comunhão. Ao lado, Hilda Costamilan, filha de José Costamilan e Adélia Paternoster, em sua formatura.

Apesar das objeções que essa vida de glamour frequentemente recebe, e com suas boas razões, apontando-se as vaidades, os preconceitos de classe, origem e mesmo de raça que, herança da sociedade colonial, ainda impregnam parte das elites em Caxias e em todo o Brasil, fortalecendo a segregação e as desigualdades, parece bom lembrar também que a bibliografia assinala, assim como os depoimentos de muitos dos envolvidos, que atrás da fachada formal sempre houve pessoas; muitas amaram realmente seus semelhantes e acreditaram em ideiais positivos, buscando o melhor para a comunidade; são múltiplos os testemunhos do quanto esses costumes eram importantes, tanto para a elite que os cultivava, quanto para o povo em geral, que olhava para elite como modelo a ser seguido e ideal a ser alcançado, e do quanto toda essa atividade “frívola” resultou em pura beleza, cultura, arte e simples boa educação. Em vista dessas ramificações extensas na sociedade, a moda, as regras da etiqueta, a encenação do status, que sempre foram elementos inseparáveis da vida social da elite, podem ser considerados superficiais só numa apreciação rápida e irreflexiva das suas representações e pompas, mas como vimos havia uma série de fortes princípios por trás de tudo, e não são tampouco nada frívolos em seus vastos e variados resultados práticos. Por isso, acredito que se justifique esta digressão sobre a vida social da elite, à qual deram notada contribuição muitos de meus familiares, como minha avó Ida e outros que serão descritos mais adiante, e que desde a origem traçou rumos decisivos no desenvolvimento da cidade em múltiplos níveis. Complementando esta descrição deste segmento social, a vida da classe média e baixa será ilustrada com mais detalhe no Volume II, quando se tratar dos meus Pezzi, Artico e Longhi, que em geral foram menos favorecidos pela fortuna.

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Acima, Ida Sartori Paternoster, a segunda à esquerda, sentada, entre amigas. Abaixo, a Diretoria da Liga Feminina de Combate ao Câncer, década de 90. Da esquerda para a direita: Maria Cesa, Theresinha Martini, Celita Royo, Alice Castelan, Zila Pieruccini, Elma Bocchese, Delcia Fedumenti, Wanda Nitschke, Maria Helena Sartori Postiglione, Elisabeth Longhi Frantz, minha mãe, e Beatriz Longhi Nonnenmacher, minha tia. Foto do acervo do Clube Juvenil. Maria Cesa foi presidente das Damas de Caridade, e todas as outras senhoras são ativas em outras formas de trabalho beneficente ou cultural.

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A família de Antônio Augusto Frantz, marido de Ida Sartori Paternoster, foi uma exceção em relação às outras tratadas neste estudo, pois é alemã e seu primeiro local de fixação não foi Caxias, mas São Leopoldo, Porto Alegre e principalmente Santa Cruz do Sul, tendo, além disso, chegado ao Brasil cerca de 50 anos antes das outras. Os Frantz de meu ramo – houve inúmeros grupos, em vários países europeus, com origens independentes – procedem de HanauAltenmittlau, hoje na região metropolitana de Frankfurt, no estado de Hesse, de onde saíram os imigrantes. Embora os ancestrais imediatos dos imigrantes tenham vivido em Albstadt, na região de Baden-Württenberg, onde formou-se um grande grupo claramente aparentado, não descobri onde os ancestrais medievais da família se fixaram primeiro. Em ambos os locais são atestados pelo menos desde o século XV, produzindo vários magistrados, altos administradores e membros do patriciado urbano, como será descrito em detalhe no Volume III. Na Alemanha os patrícios em geral se chamavam burgueses. O sobrenome de nossos ancestrais mais próximos foi grafado na variante Franz, atestada nos registros de batismo,1562 mas a família também era conhecida como Frantz desde tempos antigos. Um brasão pertencente ao grupo de Baden-Württenberg é mostrado ao lado, mas não descobri a data em que foi adotado e não é garantido que nosso ramo também tenha direito a ele. Johann Adam I Franz é o mais antigo ancestral conhecido com segurança. Ao que parece era filho de Johann Georg Franz ou Frantz. Johann Adam nasceu em 1665 em local ignorado e foi casado com Anna Eva Catharina, de sobrenome desconhecido. Ele faleceu em 21 de janeiro de 1714 em Albstadt, e ela, nascida em 1662, faleceu em 9 de maio de 1732 na mesma cidade. Possivelmente ele é o Johann Adam que em 1688 publicou uma louvação erudita para a nobre Anna Helena von Nimptsch.1563

Brasão Betz

Johann Adam II, filho de Johann I, nascido em 6 de abril de 1699 em Albstadt, batizado na Igreja de Santa Ana em Somborn, e falecido em 23 de novembro de 1760 em Albstadt, foi casado com Anna Maria Dey, nascida e falecida em Albstadt (30/09/1703 – 29/06/1764),1564 membro de uma família burguesa. 1565 Foram pais de Johann Adam III (Albstadt, 19/08/1735 – Altenmittlau, 10/07/1800), casado com Maria Elisabeth Betz (Altenmittlau, 11/11/1740 – Altenmittlau, 26/11/1808). 1566 Um Johann Adam era contabilista do hospital de Karlstadt em 1794,1567 mas a cidade fica a uns 50 km de distância de Altenmittlau, e pode ser outra pessoa. 1562

St. Anna Catholic Church, Freigericht-Somborn, Hessen, Germany. Baptism Registers Frantz, Johann Adam. Als die hoch-edel-geborne Frau... Anna Helena Bockin, geborne von Nimptsch... Friedrich von Bock... Ehe-Schatz, den 16 Octobris Anno 1688 dieses Irrdische mit dem Ueberirrdischen verwechselt hatte... wolte... seine... Jacob, 1688 1564 St. Anna Catholic Church, op. cit. 1565 Kempf, Werner B. Leben und Zusammenleben im ehemaligen "Freien Gericht vor dem Berge Welmisheim". Maler-Kempf.de, jul/2015 1566 Associação Família Emmerich. Os alemães pioneiros de Nova Friburgo, 2012 1567 Wirzburger Hof-, Staats- und Standskalender. Hochf. Arbeitshauses, 1794 1563

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Os Betz eram originalmente uma família patrícia da Suíça, e na Idade Média migraram para o sul da Alemanha, onde são atestados desde o século XV como senhores feudais, magistrados e membros da burguesia de várias cidades.1568 1569 1570 1571 1572 1573 Johann Adam IV Franz, filho de Johann III e Maria Elisabeth, foi o imigrante que chegou ao Brasil em 1826, nas primeiras levas de colonos alemães. Conhecido no Brasil como João Adão Frantz, nasceu em Altenmittlau em 11 de janeiro de 1776, foi barbeiro-cirurgião (bader),1574 um ofício de Medicina prática que foi muito valorizado diante da grande escassez de médicos formados em universidades, sendo regulamentado por legislação específica, seus membros se reuniam em guildas e faziam parte da burguesia.1575 1576 1577 Foi casado com Anna Dorothea Charlotte Günsche, nascida em 28 de setembro de 1777 em Lemförde. 1578 Até 1809 João residiu na cidade de Bad Homburg vor der Höhe, onde nasceram seus dois primeiros filhos, depois voltando para Altenmittlau. O casal e seis de seus filhos partiram da Alemanha em 1825, embarcando provavelmente no veleiro Caroline, e chegaram ao Rio de Janeiro em 26 de fevereiro de 1826. Depois de um mês de espera em um acampamento, se transferiram para o Rio Grande do Sul na sumaca Argelino, chegando em 17 de abril à Feitoria Velha da Linha Cânhamo, na colônia alemã de São Leopoldo. 1579 Ali ficaram por um tempo indeterminado, e ali João viveu do seu ofício de barbeiro-cirurgião.1580 Em algum momento a família se transferiu para Porto Alegre, onde João faleceu em 26 de agosto de 1852.1581 Os Frantz deixaram uma descendência que conquistou grande projeção em Vera Cruz, Ijuí, Cerro Largo e outras cidades, que ajudaram a fundar e desenvolver, mas em particular em Santa Cruz do Sul, constituindo-se desde o fim do século XIX em uma das principais lideranças católicas locais e construindo uma sólida relação econômica e matrimonial especialmente com as famílias Kliemann, Schuh, Werlang, Klafke e Agnes, dando uma série de grandes empresários e políticos, formando um dos clãs mais importantes e prestigiados nesta região até a contemporaneidade, como veremos em breve.1582 1583 1584 1585 1568

Akademie der Wissenschaften und der Literatur, Mainz. Regesta Imperii XI Sigmund (1410-1437) - RI XI,2 n. 8659. 1431 Juli 1, Nürnberg 1569 Archivalien aus dem Amtsbezirke Waldshut, verzeichnet von dem Pfleger der bad. hist. Kommission, Landgerichtsrat Birkenmeyer zu Waldshut. (Amtsbezirk Waldshut, Hauensteiner Anteils.). Mitteilungen der badischen historischen Kommission. N o 7. Karlsruhe, 1886 1570 eitschrift f r die eschichte des Oberrheins. Grossherzogliches General-Landesarchiv zu Karlsruhe, XXXIV Band. Braunschen, 1882 1571 Stadtarchiv und das Städtische Museum. 850 Jahre Göppinger Geschichte 1572 Anzeiger fur Kunde der deutschen Vorzeit: Organ des Germanischen Museums, Band I. Artistisch-literarische Anstalt des Germanischen Museums, 1854 1573 Schinnerer, Johannes. atalog der lasgem lde des ayerischen ationalmuseums. Bayerischen Nationalmuseums, 1908 1574 Hunsche, Carlos. O biênio 1824/25 da imigração e colonização alemã no Rio Grande do Sul. Instituto Estadual do Livro, 1975 1575 Bender, A. “Was ist Bürgertum?” Marquise, 1997-2014 1576 Kriegl, G. L. Deutsches Bürgertum im Mittelalter. Europäische Geschichte Verlag, 2012 1577 Roder, Christian. Das Zunftwesen im alten Villingen. Stadtarchiv Villingen-Schwenningen Bestand 2.1, Faszikel BBB 14, pp. 267 - 320 1578 Hunsche, op. cit. 1579 Hunsche, op. cit. 1580 Thier, Wilson. “Famílias Schuster e Frantz – 180 anos de Brasil”. Gazeta do Sul, 23/09/2003 1581 Hunsche, op. cit. 1582 Noronha, Andrius Estevam. Beneméritos Empresários: história social de uma elite de origem imigrante no sul do Brasil (Santa Cruz do Sul, 1905-1966). Tese de Doutorado. PUCRS, 2012 1583 “Santa Cruz completa hoje 101 anos de vida”. Futebol Gaúcho, 26/03/2014 1584 Schmidt, João Pedro. As eleições em Santa Cruz passo a passo. UNISC online. 1585 Centro Cultural 25 de Julho. Sócios Fundadores.

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Localizada na região serrana do Vale do Rio Pardo, a história de Santa Cruz do Sul remonta à colonização espanhola no centro do Rio Grande do Sul, quando este território, por força do Tratado de Tordesilhas, pertencia à Espanha, mais tarde progressivamente invadido e povoado por portugueses. O nome, segundo a tradição, vem de uma grande cruz plantada neste local em torno de 1630 por missionários jesuítas espanhóis em sua empreitada de catequização dos indígenas. No século XIX o tenentecoronel Abel Correa da Câmara, parente do presidente da Província, fundou uma estância que levou o nome de Santa Cruz. A área estava entre a serra, as colônias alemãs que iam se espalhando pelo vale, o Faxinal do João Faria e a sede regional, a cidade de Rio Pardo. Aumentando o trânsito de pessoas e mercadorias por ali, por interesse da Câmara de Rio Pardo, entre 1847 e 1849 o capataz da estância, Delfino dos Santos Moraes, abriu um caminho, a chamada Picada do Abel, em homenagem ao estancieiro, mas logo denominada Linha Santa Cruz, por dar acesso também à Estância Santa Cruz. A região passou então a ser rapidamente colonizada por imigrantes alemães. Em 1852 foi aberto um novo caminho, paralelo à Linha Santa Cruz, acompanhando o vale do Rio Pardinho, a chamada Linha Rio Pardinho, que logo se tornou um outro foco de povoamento. Em 1853 já havia 196 lotes ocupados, com uma população de 692 habitantes.1586 1587

No alto, o centro de Santa Cruz do Sul no início do século XX, mostrando a Praça Getúlio Vargas. Foto Riovale Jornal. Abaixo, esquina das ruas Marechal Floriano e Ramiro Barcelos. À esquerda se vê a torre da antiga Matriz, e à direita o palacete de Jorge Frantz. Foto da Prefeitura Municipal.

Os Frantz foram extremamente prolíficos, e produziram vasta descendência. Carlos Hunsche, com o seu clássico O Biênio 1824/25 da Imigração e Colonização Alemã no Rio Grande do Sul (1975), é a fonte para as primeiras gerações, mas a maior parte das informações sobre datas de nascimento e morte, casamentos e filiação da sua descendência foram obtidas de Mário Hilário Goettems, que mantém um extenso banco de dados em www.goettems.com.br. As informações referenciadas provém de outras fontes. Informações básicas como a escola ou universidade onde se formaram, especialidades acadêmicas ou profissionais, geralmente não foram referenciadas, mas foram obtidas em páginas públicas como a Plataforma Lattes, websites institucionais ou páginas pessoais, salvo no caso de currículos muito extensos, quando a fonte é especificada. 1586 1587

Borowsky, José Augusto. “Linha Santa Cruz relembra amanhã a imigração alemã”. Gazeta do Sul, 18/12/2012 Prefeitura de Santa Cruz do Sul. História de Santa Cruz do Sul

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Antigo Salão Frantz em Santa Cruz, que já serviu à Associação de Damas, de Atiradores e de Bolão. Foi edificado em 1911 e é um exemplo típico da arquitetura colonial germânica. Hoje está integrado ao roteiro histórico oficial da Secretaria de Turismo do município. Detalhe de foto de Émerson Zanoni.

João Adão e Anna Dorothea tiveram os seguintes filhos: 1) Josef Frantz (Bad Homburg vor der Höhe, 1802 – ?), cirurgião, ficou na Alemanha. 2) Dietrich Theodor Frantz (Bad Homburg vor der Höhe, 1807 – ?), ficou na Alemanha. 3) Uma filha de nome desconhecido, ficou na Alemanha. 4) João Henrique Frantz (Altenmittlau, 20/11/1811 – Rincão del Rey, 07/10/1886), comerciante em São Leopoldo, em 3 de junho de 1838 alistou-se no exército imperial entre os voluntários alemães na Guerra dos Farrapos. Deu baixa em dezembro de 1841 e radicou-se em Rincão delRey, distrito de Rio Pardo, onde foi um dos primeiros a chegar. 1588 Seu primeiro casamento, realizado em 1834 com Elisabetha Seffrin (c. 1813 – ?), produziu: a) Antonio Frantz (c. 1835 – ?), casado com Amalia Winck (c. 1838 –?), gerando a1) Felipe Antonio (28/11/1863 – ?) e a2) Jacob José (16/12/1868 –), casado com Manoela da Silva Lopes (c. 1865 – ?), filha de Antonio Raimundo Lopes e Cesária Josefa da Silva, gerando os filhos Othilia Clara, Emília Helena e José. b) João Mathias Frantz (c. 1837 – depois de 1912), agricultor, casado com sua prima Joana Catharina Frantz (23/09/1840 – ?), filha de Christiano Conrado Frantz e Johanna Catharina Brodt. O seu registro de casamento em 25 de agosto de 1860 foi o primeiro da freguesia de Santa Cruz. O casal gerou: b1) Guilherme Cypriano (c. 1863 –?), casado com Rosina Francisca Simonis (Santa Cruz, 19/03/1866 – Candelária, 22/03/1922), filha de Victor Simonis e Maria Magdalena Reimann. b2) Clara Francisca Theodora (22/03/1865 – ?), casada com João Enoch Spall (c. 1862 – ?), filho de Leonhard Spall e Elisabeth Drey. b3) Carlos (?). Em c. 1848 João Henrique casou-se outra vez, em Rio Pardo, com a viúva Eufrosina Reimann, nascida Planck ou Blank (Prússia, c. 1820 – Rincão del Rey, 18/02/1898), filha de Francisco, tendo os filhos:

1588

Hunsche, op. cit.

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c) Nicolau Frantz (Rincão del Rey, 25/10/1858 – Rincão del Rey, 08/08/1942), professor no 6º Distrito de Rio Pardo,1589 casado com Anna Rowedder (23/04/1862 – Rincão del Rey, 28/01/1939), tendo os filhos: c1) João Pedro Frantz (Rincão del Rey, 07/06/1887 – Rincão del Rey, 09/02/1975), sapateiro, casado com Maria Cristina Fröhlich (Rincão del Rey, 20/06/1900 – Rincão del Rey, 22/12/1953), filha de João Baptista Fröhlich e Maria Cristina Limberger, gerando uma filha, Nathalia (09/02/1926 – ?), casada com Ernesto Halmenschlager, alcunhado Fogareiro (c. 1920), motorista do Expresso Gaúcho. Com ele ao volante foi feito o primeiro teste gaúcho de veículo movido a gasogênio, durante o racionamento de gasolina e óleos de petróleo na II Guerra. O teste foi bem sucedido e valeu a autorização oficial para produção do equipamento de adaptação.1590 Foram pais de Rosane (26/10/1953), casada com Enio Goettert, com geração. c2) José Carlos Frantz (Rincão del Rey, 28/01/1896 – ?), casado com Vicentina Lopes (c. 1900 – ?) c3) Nicolau Alberto Frantz (Rincão del Rey, 24/01/1898 – Porto Alegre, 16/10/1982), mascate em Rio Pardo e comerciante em Cachoeira e Guaiba, casado com Rosalina Heller (Passo do Mundo Novo, 28/07/1923 – Porto Alegre, 18/01/1985), pais de c3a) Orlando, c3b) Jenny e c3c) Roberto Nicolau, advogado, desembargador do Tribunal de Justiça do Estado e juiz da Procuradoria Regional Eleitoral.1591 1592 1593 Roberto Nicolau casou com Norma Kirsch e foi pai de Álvaro, casado com Luciana Zanetti; Ricardo, casado com Maribete Holzschuh, e Marcelo, casado com Clarice Balejos.

Egydia Klafke & Edmundo Frantz. Coleção de Júlio César Klafke.

c4) Edmundo Albino Frantz (Rincão del Rey, 01/03/1900 – Santa Cruz, 1987), sapateiro em Arroio Grande, casado com Egydia Joana Klafke (Rincão del Rey, 12/01/1900 – Santa Cruz, 1973), filha de Lorenz Heinrich Klafke e Ludvina Leokadia Schuk. Foram pais de:

1589

“Escolas de Rio Pardo”. A Federação, 11/03/1918 Borowsky, José Augusto. “Só com gasogênio”. Gazeta do Sul, 14/10/2013 1591 Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Desembargadores do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. 1592 Paula, Alexandre de. O Processo Civil à Luz da Jurisprudência. Ed. Forense, vol. III 1593 “Diretório com ex-cassados recebe parecer contrário da Procuradoria Eleitoral”. Jornal do Brasil, 12/8/1975 1590

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Antigos ônibus da Viação Santa Cruz, foto da empresa.

c4a) Elemar José Frantz (Santa Cruz, c. 1926 – antes de 20/06/2013), co-fundador, com Laurêncio Schuh, da Viação Santa Cruz, ainda em atividade e hoje a principal empresa de transporte coletivo intermunicipal do Vale do Rio Pardo, com mais de 500 funcionários, disponibilizando mais de 400 horários diários ligando o Rio Grande do Sul e o estado de Santa Catarina. Jânio Roberto Frantz, presidente da Associação de Entidades Empresariais de Santa Cruz do Sul, hoje é um dos diretores superintendentes da Viação Santa Cruz.1594 1595 c4b) Evelina Maria Frantz (c. 1928 – Santa Cruz, 20/06/2013), falecida solteira e sem geração.1596 c4c) Ilce Thereza Frantz (c. 1930), ainda vivia em 20/06/2013, aparentemente solteira e sem geração. c4d) Renato Albino Frantz (29/11/1932), ainda vivia em 20/06/2013, com família. c4e) Mercedes Ana Frantz (c. 1934 – antes de 20/06/2013), casada com Reinoldo Edmundo Weiss (Santa Cruz, 1930 – 1985). c4f) Isolde Maria Frantz (c. 1936 – antes de 20/06/2013), casada com um Pádua, com geração. c4g) Roque José Frantz (Santa Cruz, 27/09/1941), bancário, casado com Nelma Trindade, pais de Cléber Frantz, líder do Consulado Colorado do Esporte Clube Internacional,1597 e Carla Frantz, que já foi diretora de arte da Gazeta do Chimarrão, e hoje é especialista em especificação de embalagem da Phillip Morris International.1598 c5) Herminio André Frantz (Rincão del Rey, 30/11/1903 – 09/10/1979), casado com Alice Otilia Klafke (Rincão del Rey, 29/11/1906 – 09/10/1990), filha de Ferdinand Julius Klafke e Justina Maria Winck, gerando pelo menos uma filha, Ismeria Maria Frantz, casada com Alberto Aloisio Kipper, com geração. Aparentemente teve muitos outros filhos. d) Antônio Frantz (Rincão del Rey, c. 1853 – ?), casado com Amália Winck (c. 1857 – ?), com os filhos d1) Francisco Alberto Frantz (Rincão del Rey, 27/09/1871 – ?) e d2) Amália Eufrasina Frantz (Rincão del Rey, 27/09/1871 – ?). 1594

“Fundador e presidente da Viação Santa Cruz faleceu em Santa Catarina“. Gazeta do Sul, 23/01/2012 Associação de Entidades Empresariais de Santa Cruz do Sul. Histórico. 1596 “Participação de Falecimento e Convite para Enterro”. Gazeta do Sul, 21/06/2013 1597 “Destacando: em grande estilo”, Gazeta do Sul, 22/06/2009 1598 Carla Trindade Frantz. Linkedin. 1595

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Carlos Luiz Frantz. Abaixo, a família de Carlos Luis II Frantz e Regina Stuelp. Fotos de Margit Busse Frantz.

e) Mariana Guilhermina Frantz (Rincão del Rey, 14/02/1855 – Vera Cruz, 02/11/1901), casada com seu primo José Frantz (São Leopoldo, 30/01/1851 – Vera Cruz, 26/12/1925), filho de Christian Conrad Frantz e Johanna Catharina Brodt. Sua descendência será tratada na linha de Christian Conrad. f) Carlos Luiz Frantz (Rincão del Rey, 12/08/1862 – Rincão del Rey,15/12/1932), casado com Mathilde Schuck (Rincão del Rey, 09/01/1864 – Rincão del Rey, 12/07/1922), filha de Jorge Schuck e Anna Maria Kersten, gerando pelo menos um filho, 1) João Mathias (Rincão del Rey, c. 1889 – Cruz Alta, 28/02/1958), dentista, agricultor e hoteleiro em Itapiranga, casado com Huldina Elisabeth Werlang, filha de Adão Werlang e Maria Goettems (Linha Santa Cruz, 05/11/1891 – Cruz Alta, ?), tendo doze filhos. Só foi identificado um deles, f1a) Carlos Luiz II Frantz, casado com Regina Stuelp, que tiveram treze filhos.

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Destes, só foram identificados f1a1) Tarcilo Frantz; f1a2) Maurício Antônio Frantz; f1a3) Carlos Wilibaldo Frantz, empresário metalúrgico, casado e com geração; f1a4) Gervásio Inácio Frantz, agropecuarista, residente em Dourados, onde foi patrão do CTG Querência do Sul, casado e com dois filhos;1599 e f1a5) Alcides Bruno Frantz, casado com Filomena Busse e pai de Margit e Marlon. g) Mathias João Frantz (Rincão del Rey, 0501/1865 – ?) foi agricultor e um dos fundadores da Cooperativa Rio Pardinho.1600 Casou com Maria Christina Gassen (c. 1871 – ?), filha de João Gassen e Lidwina Klafke, tendo os filhos:

Hotel de João Mathias Frantz. Foto de Carlos Wilibaldo Frantz. Abaixo, João Mathias Frantz e suas tias. Foto de Mauricio Gai Frantz.

g1) Theobaldo Lourenço Frantz (1889 – ?), casado com Coleta Juliana Klafke (c. 1894 –?), filha de José Bernardo Klafke e Maria Luiza Schuck, pais de g1a) Yslanda Glothilda Frantz, casada com Valdemar Baldoino Schwenberger; g1b) Waldomiro Alberto Frantz, e g1c) Arlindo Olmiro Frantz. g2) Anna Elisa Frantz (c. 1890 –?), casada com José Eidt (26/02/1889 – ?), comerciante, filho de João Mauricio Eidt e Ernestina Seipolt, pais de g2a) Orlando Eugenio Eidt, g2b) Dorival Homero Eidt, casado com Maria Olinda Klafke, e g2c) Telmo Affonso Eidt, casado com Elaine Maria Limberger, com geração.

1599 1600

“Morre patrão do CTG de Dourados”. Dourados News, 16/08/2004 “Cooperativa Rio Pardinho”. A Federação, 11/08/1918

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g3) João Henrique Frantz (28/02/1892 – São Sepé, ?), um dos fundadores do Diretório do Partido Social Democrata em São Sepé,1601 vice-prefeito e nome de rua em São Sepé, casado com Ely Aninha Mathias (25/03/1901 – ?), filha de Walter Rodolfo Mathias e Emilia Gressler. João Henrique e Ely foram pais de g3a) Nery Lucinda Frantz, casada com Universino da Luz, g3b) Eulita Alcira Frantz, casada com Ataliba Costa, g3c) Lory Epitácio Frantz, casado com Beatriz Guazina, g3d) Nilza Talita Frantz, casada com Evaldo Loose, g3e) Eloy Milton Frantz, presidente da comissão de emancipação de Formigueiro,1602 g3f) Juarez Telmo Frantz, casado com Cora Correa, g3g) Ibanez Djalmo Frantz, casado com Ligia Tereza Pires Motta, g3h) João Isidoro Frantz, casado com Maria de Lurdes Pedroso, g3i) Noemi Teresinha Frantz, casada com Ramão Democratino Bonilla, perseguido na ditadura, divulgador do Nativismo, um dos fundadores do Centro de Artes Nativas Posteiros do Saicã - CANPoS,1603 um dos idealizadores do famoso festival Gauderiada da Canção Nativa,1604 hoje batiza um prêmio do festival Acordes 1601

“PSD de São Sepé”. Diário de Notícias, 10/09/1955 Prefeitura Municipal de Formigueiro. Histórico. 1603 Centro Nativista Os Posteiros. Histórico, 20/09/2009 1604 Sosa, Chico. “Roteiro dos Festivais”. In: Nativismo, 1983, I (2) 1602

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do Pampa em Canção1605 e uma mostra regional de cultura e artesanato em Rosário do Sul,1606 g3j) Ana Marize Frantz, professora e secretária Municipal de Educação e Cultura de São Sepé,1607 casada com Luiz Conceição Brum Pereira, g3k) Arlete Maria Frantz. g4) Antônio Augusto Frantz (c. 1894 – Venâncio Aires, c. 1991), ferreiro em Arroio Grande, casado com Alvina Maria Limberger (Rincão del Rey, 31/03/1896 – Venâncio Aires, c. 1952), filha de João (Kleine Hannes) Limberger e Luiza Goettems. Foram pais de g4a) Ermelinda Maria Frantz, casada com Edwin Simon, com geração; g4b) Maria Alvina Frantz; g4c) Oresta Maria Frantz, religiosa, professou com o nome de irmã Eutalia; g4d) Maria Frantz, casada com Alfredo Schimanek, com geração; g4e) Imelda Maria Frantz, solteira; g4f) Valesca Frantz, religiosa, professou como irmã Mercedes;g4g) Rosalinda Frantz, casada com Rubens Mielke, com geração; g4h) Eugenio Aloisio Frantz, casado com Igony Arnalia Ullrich, com geração, destacando-se a filha Regidia Alvina, nascida em Santa Cruz, formada em Ciências Econômicas, pós-graduada em Análise de Sistemas, MBA em Gestão Empresarial, foi analista de Sistemas e gerente de Desenvolvimento de Tecnologia da Sociedade de Previdência Complementar do Sistema FIESC, passando à Supervisão, e recentemente foi eleita presidente da Associação Catarinense das Entidades de Previdência Complementar;1608 g4i) Tarcisia Frantz, casada com Jorge Joaquim de Oliveira, pais de Nubiair, e g4j) Reinilde Maria Frantz, casada com Neci Ribeiro Soares, taxista, pais de Antônio Augusto Frantz. Antônio Augusto é conhecido e premiado artista plástico. Nasceu em Rio Pardo em 1963 e mudou-se para Porto Alegre na década de 1970, onde montou atelier e passou a dar aulas. Em breve chamou a atenção: “Frantz é autor de uma vasta obra, notória por subverter práticas e conceitos do campo da arte. Nos anos 1980 se notabilizou por explorar a linguagem das pichações urbanas”. 1609 Em 2001 iniciou uma linha de trabalho que se mantém até hoje: “Atualmente, no espaço em que orienta estudantes e artistas, paredes e chão são forrados com Antônio Frantz Soares com uma tela da década de 1980. Coleção do artista. metros de tela de algodão, a mesma usada como suporte tradicional da prática pictórica. As marcas, pinceladas e escorridos acumulam-se durante meses ou anos até que Frantz decida que a tela está pronta”.1610

1605

Portal Identidade Campeira. Regulamento do Acordes do Pampa em Canção 2015 “1ª Mostra Regional de Artesanato e Cultura Ramão Bonilla é marcada por grande público”. Coluna Ponto de Vista, 09/08/2015 1607 Secretaria Municipal de Educação de São Sepé. Plano Municipal de Educação, 2015/2024 1608 Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar. Confira o Currículo dos Palestrantes. 3º Seminário A Integração dos Órgãos Estatutários na Governança. 1609 “Frantz: O Ateliê como Pintura”. Secretaria da Cultura doi Rio Grande do Sul, 09/01/2013 1610 “Exposição Paisagens, de Frantz Soares, inaugura na sexta-feira”. Assessoria de Comunicação UFCSPA, 09/11/2011 1606

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Antônio Frantz Soares trabalhando. Foto do artista.

Letícia Lima fez uma outra leitura da sua obra: “Após revisão da literatura sobre o artista Frantz Soares, iniciou-se a busca de um tema a ser pesquisado dentro de toda a obra já produzida pelo artista. Depois da leitura de diversos materiais e identificação de literatura base para estudar as temáticas que permeiam a obra de Frantz, chegou-se a uma característica específica: a ironia, presente tanto no discurso do artista sobre a sua obra quanto nas próprias obras, além da relação com o que é considerado pintura no mundo contemporâneo. “De acordo com CARVALHO (2005), uma das ancoragens para o uso da ironia nas artes visuais vem do conceitualismo ou da própria arte conceitual; ‘nesse caso, o próprio campo da arte, suas práticas e suas instituições tornam-se os alvos preferenciais’ (CARVALHO, 2005, p. 25). Além disto, a autora explica que o uso da ironia pelas principais matrizes artísticas se dá como uma ferramenta de dimensão crítica. Ao retirar restos de forrações de diversos ateliês, recortar de acordo com o que acredita ser e formar uma pintura, esticar em um bastidor e transformar este material em uma obra de arte, o artista visual Frantz Soares converte uma matéria prima inusitada para uma obra de arte feita de uma forma, no mínimo, curiosa. Ramos (2011), que se refere ao artista como ‘o pintor que não pinta’, afirma que Frantz se interessa ‘pela matéria da pintura, pela memória da pintura, pela reflexão do que é, afinal, pintura’ e que ‘tal debate [...] se dá na própria obra’ (RAMOS, 2011, p. 25)”.1611

1611

Lima, Letícia de Cássia Bittencourt. “A ironia na obra de Frantz Soares”. Programa Jovens Talentos para a Ciência - UFRGS, 2014

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Sua produção mais recente inclui uma série de livros cujas folhas são recortes de tecido pintado com manchas e restos de atelier. Foi premiado no Salão do Jovem Artista (1982), no 42º Salão Paranaense (1985), no 9º Salão Nacional de Belas Artes (1986), e em 2013 recebeu o Prêmio Açorianos, a maior distinção cultural do estado. É também comerciante, mantendo a mais bem sortida loja de equipamentos e materiais artísticos de Porto Alegre. Casado com Juliana Schnaag, é pai de Antônio, Marília e Teodoro.

Juliana Schnaag e Antônio Frantz Soares. Foto de Antônio. Ao lado, aspecto do seu atelier. Foto de Gilberto Perin. Abaixo, um conjunto dos seus “livros” recentes. Foto do artista.

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Antônio Frantz Soares diante de uma de suas obras. Coleção do artista.

g5) Albertina Christina Frantz (Rincão del Rey, 28/07/1897 – Rincão del Rey, 07/07/1970), casada com João Egidio Klafke (Rincão del Rey, 15/05/1901 – Rincão del Rey, 20/06/1983), pais de doze filhos, entre eles Theonizia Walesca, que professou com o nome de Irmã Theonizia Maria. O seu obituário relembrou sua trajetória: “Aos 19 anos respondeu ao chamado a vocação religiosa e ingressou no postulantado das Irmãs de Nossa Senhora, em Passo Fundo. Três anos mais tarde sua irmã Irena Nayr (Irmã M. da Paz) seguiu o mesmo caminho. “Desde jovem dedicou-se profissionalmente à nobre missão de servir aos irmãos como excelente cozinheira. Administrou por 34 anos a cozinha da Clínica Olivé Leite, Pelotas, onde era amada e respeitada pelos funcionários e médicos. Dedicava carinho especial às Irmãs que na época faziam férias no Laranjal para que nada lhes faltasse e que tivessem um ambiente agradável de férias. Com o fechamento da Clinica Olivé Leite, em 2003 onde se dedicou integralmente, encontrou dificuldade de adaptação a novas comunidades e atividades. Era uma mulher prendada em habilidades domésticas, tanto na cozinha como tricotava com perfeição. Com carinho especial cuidava da horta e jardim. Alegrava-se em doar e presentear produtos resultantes do trabalho de suas mãos: frutas e flores colhidas, quitutes culinários, ou peças de tricô confeccionadas. “Irmã Theonizia Maria assemelhava-se a Marta do Evangelho, sempre pronta e atenta para servir, acolher, oferecendo o melhor de si mesma. Ao mesmo tempo a Marta da fé que crê na ressurreição, quando Jesus lhe diz: ‘Eu sou a ressurreição e a vida, quem crê em mim nunca morrerá’. Jo 11,25-26. Esta fé viva manifestou-se através da 469

fidelidade no seguimento de Jesus na Vida Consagrada, pelo espírito de oração e sentido de pertença a Congregação. Cultivava devoção especial a Nossa Senhora. Irmã Theonizia Maria gostava de receber visita de familiares e muito se alegrava quando ainda podia visitá-los. Impossibilitada nos últimos anos de fazê-lo recebia com carinho os visitantes que vinham até ela. “Era uma Irmã de agradável convivência, simples, disponível e silenciosa, assim como sua partida para a eternidade foi silenciosa e quase despercebida. Apenas um leve gemido foi seu último adeus às 4h10mim do dia 24 de janeiro de 2015, quando a ronda de enfermagem a atendia em suas necessidades pessoais.

Irmã Theonizia Maria, foto Congregation of the Sisters of Notre Dame. Abaixo, irmã Maria da Paz, foto Zero Hora.

“Sua última experiência comunitária foi no Recanto Aparecida, onde recebeu todos os cuidados das coirmãs e funcionárias. O Senhor a acolha no repouso eterno para gozar da vida plena junto Àquele a quem amou e dedicou sua vida e missão”. 1612

Sua irmã, Erena (Irena) Nayr Klafke, também professou na Ordem de Nossa Senhora, deixando uma bela lembrança de sua passagem: “Em 19 de abril de 1924 nasceu em Rio Pardo, RS, Erena Nayr, a segunda dos doze filhos do casal João Egydio e Albertina Christina Klafke. Filha de agricultores cresceu e desenvolveu-se em contato com a natureza. Na idade adulta ingressou na Congregação das Irmãs de Nossa Senhora, motivada por sua irmã, Irmã Theonizia Maria que a precedera por três anos. Ao ingressar no Noviciado, em 30 de janeiro de 1952, recebeu o nome de Irmã Maria da Paz. Sua irmã, Irmã Theonizia Maria, faleceu em janeiro do corrente ano. “Desde o seu ingresso na Vida Religiosa Consagrada dedicou-se ao serviço de técnicas domésticas. Trabalhou em hospitais, no Seminário, no Lar do Idoso e escolas. Abraçou com carinho a missão que lhe fora confiada. Serviu com alegria colocando seus dons culinários à serviço dos irmãos. O ato de cozinhar não era apenas fazer comida. A Irmã Maria da Paz colocava amor no que fazia. Zelava para que os doentes dos hospitais tivessem alimentação sadia para recuperar a saúde, que as idosas no asilo se alimentassem bem para superar as consequências da idade, para que os jovens seminaristas crescessem sadios e se tornassem bons sacerdotes e que as coirmãs tivessem saúde e força de exercer sua missão. 1612

Congregation of the Sisters of Notre Dame. Irmã Theonizia Maria.

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“A Irmã Maria da Paz, era enérgica e decidida na missão, agia com firmeza, mas com muita dedicação no que fazia. Exerceu por longos anos a missão de superiora local. Priorizava o cultivo espiritual, internalizou o carisma da Congregação: ‘uma profunda experiência da bondade de Deus e seu amor providente’, manifesto na sua maneira simples de ser e de agir e pelo interesse e atenção às vocações. Seu coração missionário palpitava em favor das missões. Na idade avançada ocupava seu tempo com trabalhos manuais, confeccionando roupa para crianças pobres e outros trabalhos em benefício das missões. Exerceu sua missão nas localidades: Grupo Escolar – São Carlos, SC – como noviça do 2º ano Pré-seminário Nossa Senhora de Fátima – Maravilha Hospital Roque Gonzales – Tapera Hospital Dom Sebastião – Espumoso Santa Casa de Misericórdia – São Lourenço do Sul Seminário São Francisco de Paula – Pelotas Lar do Idosos Rosinha Borges – Caçapava do Sul Colégio Nossa Senhora das Graças – Cacequi Residência Santa Júlia – Campos Novos Escola Maria Rainha – Júlio de Castilhos Residência São José – Canoas Residência Rainha da Paz – São Lourenço do Sul – desde 2005. “Era qual Marta do Evangelho, sempre pronta para servir e acolher. Com alegria recebia as Irmãs e amigas que visitavam a comunidade Rainha da Paz, em São Lourenço do Sul, onde passou os últimos 10 anos. Sempre que possível visitava doentes e famílias, levando-lhes o conforto e uma palavra amiga. Em 2014 celebrou, com muita alegria, o seu jubileu de Diamante, 60 anos de Vida Religiosa Consagrada. Irmãs, familiares e amigos a honraram com sua presença. Mantinha boas relações com seus familiares e, enquanto a saúde e a idade a favoreciam, os visitava com muita alegria. “No entardecer do dia 27 de agosto, a Irmã Maria da Paz sentiu-se mal com fortes dores abdominais. Foi levada a Santa Casa de Misericórdia em São Lourenço do Sul. Diante da gravidade foi encaminhada ao Hospital Divina Providência, em Porto Alegre em busca de mais recursos médicos. Na noite de 12 de setembro, às 19h45min, dia em que a liturgia celebra a memória do Santíssimo Nome de Maria, Irmã Maria da Paz foi acolhida pelo Deus bom e providente, a quem dedicou toda a sua vida e por Maria de quem era grande devota”.1613 g6) Atalício Avelino Frantz (Santa Cruz, 17/11/1899 –?), g7) Julieta Frantz (c. 1901 –?), g8) Sotero Hermínio Frantz (c. 1903 – ?), dono da Rodoviária de Pantano Grande e nome de uma rua e da maior e mais tradicional escola da cidade.1614 g9) Amélia Catarina Frantz (27/10/1901 – São Sepé, 07/11/1985), casada com Ernesto Olivino Kurtz (12/11/1896 – São Sepé, 07/07/1983), filho de João Daniel Kurtz e Carolina Scherer, com geração. g10) Adylles Frantz (05/11/1913 – ?), casou com Claudionor da Luz. g11) Annatercia Athayda Frantz (Rincão del Rey, 21/02/1915).

1613 1614

Amélia Catarina Frantz, foto família Frantz

Colégio Santa Teresinha. Irmã Maria da Paz (Erena Nayr Klafke). “Sotero Hermínio Frantz comemora 31 Anos”. Prefeitura de Pantano Grande, 11/08/2012

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A escola Sotero Hermínio Frantz, foto da Prefeitura de Pantano Grande.

5) Gertrud Frantz (Altenmittlau, 14/06/1817 – ?, 30/03/1907), casou em São Leopoldo em 10 de agosto de 1830 com Francisco José Wahrendorf (Hanover, ? – São Leopoldo, 29/06/1951), chegado a São Leopoldo em 15 de maio de 1829, ocupando-se como marceneiro. O casal gerou 5a) Doroteia, 5b) Daniel, 5c) Joana, 5d) Augusto, 5e) Luiza, 5f) Gertrudes, 5g) Cristina e 5h) Miguel.1615 5b) Daniel Wahrendorf (c. 1860 – depois de 1916) foi chacareiro, recebeu um lote na Quadra C, na primeira delimitação da planta urbana de Santa Cruz,1616 e em 1916 foi citado como açougueiro.1617 Casou com Luise Schott e foi pai de Marie Amalie Wahrendorf (Santa Cruz, 09/12/1882 – 11/04/1936), casada com Friedrich Karl Textor, empresário em Santa Cruz, gerando Frederico Carlos Textor Filho (Santa Cruz, 18/07/1924 – Santa Cruz, 14/08/1974) e Ilse Erna Textor (Santa Cruz, 11/08/1911 – Santa Cruz, 18/03/1913). 5d) Augusto e 5f) Gertrudes também estavam no grupo que recebeu os primeiros terrenos para habitação no centro urbano de Santa Cruz, recebendo lotes na Quadra A.1618 Gertrudes casou com José André Raupp. 6) Antonia Elisabetha Frantz (Altenmittlau, 14/08/1817 – ?), casada primeiro com Henrique Antônio Ulm, com quem teve os filhos Antônio, Maria e Ana Maria Ulm, e depois com Henrique Tiefenbach (Diefenbach), filho de João Henrique Daniel Diefenbach. 1619

1615

Hunsche, op. cit. Wink, Ronaldo. Santa Cruz do Sul e sua evolução urbana (1855 - 2000). Dissertação de Mestrado. UNISC, 2000 1617 Almanak Laemmert 1916. 1618 Wink, op. cit. 1619 Hunsche, op. cit. 1616

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7) Anna Maria Dorothea Frantz (Altenmittlau, 19/05/1820 – Novo Hamburgo, 13/09/1901), casada com Sebastião Kraemer (Heinesheim, 22/11/1819 – Novo Hamburgo, 14/09/1905), pais de Sebastião Kraemer, comerciante e juiz de corridas de cavalos no Prado Boa Vista em Porto Alegre,1620 Luiza Cristina, Helena e Guilhermina Kraemer. 1621 8) Maria Anna Frantz (Altenmittlau, 23/11/1823 – ?), casada com Christoph Braum (Renânia, 08/12/1822 – ?), filho de Peter Braum. Christoph, chamado Cristóvão no Brasil, foi sapateiro, estabelecido com a família a partir de 31 de janeiro de 1839 no lote 12 da colônia de Santa Cruz, Linha Rio Pardinho. Foi voluntário na Guerra dos Farrapos, lutando sob o comando do major Fernando Kersting ao lado dos imperiais, e segundo Hunsche deve ser ele o Cristóvão Braum que se distinguiu na Guerra do Paraguai como capitão, lembrado por Aurélio Porto como “um colono de valor, cujo nome fica na História”. 1622 9) Christian Conrad (Konerad) Frantz, meu tataravô, nasceu em 15 de setembro de 1809 em Altenmittlau. Não veio com os pais, chegando mais tarde, em data que se ignora. Aparece pela primeira vez em São Leopoldo em 1830, como testemunha de um casamento. Casou em Porto Alegre em 8 de janeiro de 1837, na Igreja Matriz, com Johanna Catharina Brodt, cuja família era oriunda de Ostheim, 1623 Alemanha, onde foram patrícios, produzindo dez burgomestres (prefeitos) entre os séculos XVII e XIX.1624 Segundo a Heimat- und Geschichtsverein Ostheim, a família Brodt é uma das mais antigas e ramificadas de Ostheim, e desempenhou um importante papel na vida da cidade, tanto através dos numerosos burgomestres que produziu como através de vários outros membros que ocuparam posições na administração pública e nos clubes e sociedades.1625 Em 1848 Christian é novamente assinalado em São Leopoldo, no núcleo da Feitoria Velha, com a ocupação de ferreiro. Em 1851 mudou-se para a nova colônia de Santa Cruz, junto com a esposa, a mãe e os irmãos Henrique e Maria Anna, estabelecendo-se em 1º de outubro no lote nº 33 na Picada Nova (Linha Rio Pardinho), mais tarde mudando para um lote de 40 hectares no Faxinal Velho, onde plantou fumo e se dedicou à produção de banha, abrindo um pequeno comércio. 1626 1627 1628 A mãe, Anna Dorothea, faleceu em 13 de junho de 1875 em Rincão del Rey, Rio Pardo.1629 Como outros pioneiros, Christian enfrentou muitas dificuldades até que o povoado se estruturasse, havendo na região registros de períodos de fome, epidemias e até de ataques de onças. 1630 Ao falecer em 4 de abril de 1893 em Vila Progresso, distrito de Vera Cruz, Christian já tinha 63 netos e 22 bisnetos.

1620

“Prado Boa-Vista”. A Federação, 31/10/1889 Hunsche, op. cit. 1622 Hunsche, op. cit. 1623 Hunsche, op. cit. 1624 Pieh, Heinrich. Die Bürgermeister. Heimat- und Geschichtsverein Ostheim e.V. 1625 Heimat- und Geschichtsverein Ostheim e.V. Persönlichkeiten 1626 Werlang, William. Família Werlang. E.A., 2005 1627 Thier (2003), op. cit. 1628 Hunsche, op. cit. 1629 Hunsche, op. cit. 1630 Thier, Wilson. Histórias do Vô França. E.A., s/d. 1621

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Trecho do Livro de Chegada dos imigrantes em Nova Friburgo, com os nomes de meus ancestrais Brodt.

Johanna Catharina Brodt nasceu em 17 de janeiro de 1816 e morreu em 3 de julho de 1900 em Santa Cruz do Sul. Era filha de Johannes Michael Brodt, mais conhecido como Michael, nascido em 19 de fevereiro de 1779 em Ostheim, filho de Christoffel Brodt e Anna Elisabeth Holzheimer.1631 Em 15 de junho de 1813 Michael foi citado em Ostheim como militar, integrando a circunscrição de Frankfurt,1632 e casou em Breda, Holanda, em 13 de dezembro de 1814, com Anna Maria Volraad.1633 Na certidão de casamento Michael aparece com a patente de primeiro-lugar-tenente da Infantaria, e Christoffel foi citado como dono de um açougue em Ostheim. Christoffel e a esposa Anna Elisabeth já eram falecidos. Anna Maria foi batizada em 23 de junho de 1793. Era filha de Johannes Volraad e Maria van Hal, ambos de ilustres famílias patrícias de Breda, com vários troncos nobres e patrícios entre seus ancestrais, como será detalhado no Volume III. Em Breda Johannes foi comerciante e coletor de impostos1634 e figura pública destacada. Michael e Anna Maria vieram para o Brasil no veleiro Caroline, que zarpou de Hamburgo em 17 de dezembro de 1823, chegando ao Rio de Janeiro em abril de 1824. 1635 Traziam os filhos Joanna Catharina, com 7 anos, Guilherme Henrique, com 5 anos e João Jacob, com 12 dias. Do Rio a família se dirigiu para a colônia de Nova Friburgo, sendo parte da primeira leva de colonos. No Livro de Chegada, em 3 de maio 1824, consta que Johann recebeu a casa 68. Trabalhou como agricultor e tinha terra boa, mas vivia sempre doente e acabou na pobreza.1636 Em 1828 mudou-se para o sul, onde participou da Revolução Farroupilha como voluntário das tropas imperiais.1637 Fixou-se em Porto Alegre e mais tarde mudou para São Leopoldo, falecendo em data ignorada. Além de 1) Johanna Catharina Brodt, alguns de seus outros filhos também produziram descendência. Sobre 2) Virgílio, 3) Nicolau, 4) João Jacob e 5) João Albino nada pude descobrir. 6) Anna Maria José foi casada com Louis Petri. 7) Jorge, casado com Catharina Karst, gerou oito filhos, cujos nomes desconheço. 8) Guilherme Henrique Brodt (1818-1904) foi casado com Francisca Bernardina Pereira Jorge (1828-1905), tendo os filhos a) Albino, falecido na infância, b) Albino II, c) Manoel, d) Miguel, e) Bernardina, f) Virgílio, g) Mariana, h) Carlos, i), Ana, j) Augusto, k) Justino, l) Francisca, m) Antônio e n) Jorge Pereira Brodt. 1631

Brabants Historisch Informatie Centrum. Stamboom Michael Brod. Zeitung des Großherzogthums Frankfurt, 1813, 1/6 1633 Brabants Historisch Informatie Centrum, op. cit. 1634 Stadsarchief Breda. Registratiedatum 26-08-1790. G. Chrystie, Allerhande acten (Minuten), 1790. Aktenummer 25 1635 Hunsche, op. cit. 1636 Valverde, Cesar. Brodt. 1637 Hunsche, op. cit. 1632

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b) Albino II Brodt, alfaiate, foi um dos fundadores da Sociedade Germânia de Porto Alegre em 1855, junto com seu irmão Jorge,1638 nomeado alferes em 1862 e tenente em 1871, capitão honorário do Exército, foi condecorado com o Hábito da Ordem da Rosa e a Medalha de Mérito do Império, mas passou por severas dificuldades e sua viúva teve de declarar pobreza para que os bens do marido pudessem ser inventariados.1639 Foi casado com Cristiana Stumpf, falecendo em 1887, e deixando pelo menos os filhos: b1) Albino Brodt Filho, carpinteiro, em 1903 nomeado mestre da oficina de carpintaria da Brigada Militar,1640 ferido gravemente em uma grande explosão nas oficinas em 1908,1641 falecendo pouco depois e deixando a esposa Leopoldina e um filho.1642 b2) Guilherme Brodt, comerciante em Porto Alegre,1643 membro da Diretoria do Club Bailante Esmeraldino, com a função de porta-estandarte,1644 casado com Ernestina Pereira Bastos,1645 gerando pelo menos b2a) Hugo Walter Brodt,1646 diretor-gerente do semanário esportivo, social, literário e cinematográfico Cruzeiro do Sul, lançado em 1929, quando Hugo tinha apenas 19 anos,1647 casado com Alzira e pai de Raul Carlos e Dario Hugo.1648 b3) Nicolau Brodt, alfaiate em São Leopoldo,1649 casado com Maria Cristina Deckmann e pai de Virgínia Osvaldina (São Leopoldo, 30/01/1882 –?) e Eugênia Adelina (São Leopoldo, 13/09/1884 –?).1650 b4) Alfredo Brodt, juiz de percurso e secretário da União Velocipédica. 1651 1652 b5) João Brodt, representante da comissão construtora do Hospital Alemão.1653

1638

“Transcorre hoje o primeiro centenário da Sociedade Germânia (hoje Independência)”. Diário de Notícias, 01/06/1955 1639 Mugge, Miquéias Henrique. “Gostaria de se tornar Tenente: oficiais da Guarda Nacional – um perfil socioeconômico no Brasil Meridional (1850-1870)”. In: História Unisinos, 2012; 16 (3):307-319 1640 “Notícias Militares”. A Federação, 02/06/1903 1641 “Grande desastre”. A Federação, 23/11/1908 1642 “Annuncios”. A Federação, 02/12/1908 1643 “Editaes”. A Federação, 26/06/1895 1644 “Club Bailante Esmeraldino”. A Federação, 15/10/1917 1645 “Secção Judiciaria”. A Federação, 14/01/1905 1646 “Registro civil”. A Federação, 22/10/1910 1647 “Cruzeiro do Sul”. A Federação, 06/05/1929 1648 “Necrologia”. Diário de Notícias, 18/08/1963 1649 Almanak Laemmert 1907 1650 Pufal, Diego de Leão. “Alemães no RS: os Mayer”. Antigualhas, histórias e genealogia, 21/06/2015 1651 “União Velocipedica”. A Federação, 30/05/1903 1652 “União Velocipedica”. A Federação, 21/12/1903 1653 “Conselho Municipal”. A Federação, 23/10/1914

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b6) Antonieta Brodt, casada com Arthur Bardou, tenente quartel-mestre do 224º Batalhão de Infantaria da Guarda Nacional,1654 comerciante, sócio e depois único dono da empresa Kelsch & Bardou,1655 em seguida abrindo uma sociedade com seu irmão Leopoldo baseada em um capital de 45 mil contos de réis para fabrico e comércio de calçados,1656 sócio-fundador e suplente do Conselho Fiscal da Companhia Nacional de Navegação e Indústria, estabelecida com o vultoso capital de 60 mil contos de réis,1657 1658 membro da Comissão Arbitral da Associação dos Empregados no Comércio,1659 juiz de percurso e tesoureiro da União Velocipédica,1660 1661 um dos diretores da Associação Protectora do Turf, que mantinha cavalos de corrida,1662 e autor de um Planispherio Celeste adotado oficialmente pelo Conselho de Instrução do estado.1663 Mais duas filhas 1664 de nome desconhecido, casadas com Daniel Jung, comerciante, e Cirillo Pezzani, comerciante, sócio da empresa Cirillo & Renk, depois da loja de fazendas e miudezas Cirillo & Lemos, conselheiro da Associação dos Empregados no Comércio de Porto Alegre,1665 criador de cavalos de corrida e diretor e juiz da Associação Protectora do Turf.1666 1667 Pertence a esta família Arlindo Brodt, provável filho de Albino, comerciante, funcionário da Secretaria de Obras1668 e um dos fundadores em 1912 do Templo Positivista de Porto Alegre,1669 falecendo dois meses depois da fundação. O Templo Positivista de Porto Alegre

1654

“Guarda Nacional”. A Federação, 27/12/1909 “Ao commercio”. A Federação, 05/11/1909 1656 “Junta Commercial”. A Federação, 09/11/1909 1657 “Companhia Nacional de Navegação e Industria”. A Federação, 10/08/1907 1658 “Declarações”. A Federação, 15/04/1910 1659 “Associação dos Empregados no Commercio“. A Federação, 14/02/1915 1660 “Theatros e diversões”. A Federação, 12/12/1903 1661 “União Velocipedica”. A Federação, 21/12/1903 1662 “Secção sportiva”. A Federação, 10/06/1909 1663 “Varias”. A Federação, 15/07/1910 1664 “Registro mortuario”. A Federação, 16/10/1909 1665 “Associação dos Empregados no Comércio de Porto Alegre”. A Federação, 08/11/1902 1666 “Secção sportiva”. A Federação, 29/09/1911 1667 “Turf”. A Federação, 30/12/1915 1668 “Registro mortuario”. A Federação, 16/04/1912 1669 “Séde Positivista”. A Federação, 20/01/1912 1655

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c) Manoel Brodt, nascido em Sapiranga, iniciou sua vida como alfaiate, mas alistou-se no Exército Imperial e distinguiu-se por bravura na Guerra do Paraguai, recebendo o apreço e honras do Imperador e do Conde d’Eu. Ao fim da guerra havia chegado ao posto de 1º tenente, mas não pôde continuar sua carreira militar pelos sérios ferimentos recebidos em combate. Voltando à vida civil, Manoel foi sócio-fundador da Sociedade Aliança e ajudante do primeiro cartório em Hamburgo Velho, e em Sapiranga foi sócio-fundador da Sociedade 19 de Julho e o primeiro tabelião da cidade, abrindo o primeiro cartório.1670 Foi também maçom e participou da fundação de várias lojas maçônicas na região do Vale dos Sinos. Seu biógrafo Arlindo Thön disse que “o nome do capitão Manoel Pereira Brodt fica lembrado como um símbolo da mocidade da província de São Pedro do RS, que, ainda hoje conservando as tradições, é capaz de morrer pelos ideais que dinamiza”. Era casado com Saturnina, e hoje é nome de uma rua em Novo Hamburgo. d) Miguel Brodt casou com Amélia Oliveira e teve pelo menos um filho, d1) Guilherme de Oliveira Brodt, casado com Rita Pereira e depois com Maria Hortência da Silva. Da primeira esposa nasceram: d1a) Amazilde Brodt, casada com Carlos Henrique Dionísio, gerando Luiz Lázaro, engenheiro elétrico, Rita, Niceia, Umbelina, Maurício, Maria, Elisabete e Paulo Henrique, professor adjunto do Instituto de Física da UFRGS entre 1963 e 1994, quando se aposentou. No ano seguinte foi admitido como professor titular na UNISINOS, onde permaneceu até 2004.1671 d1b) Miguelino Dionísio, sargento do 3º Batalhão Rodoviário, dando baixa como 2º tenente,1672 foi casado com Ruth Barcellos, gerando d1b1) Guilherme Darlan, casado com Eva e pai de Andreia; d1b2) Nairo Victor, casado com Iraci Minuzzi, gerando Carla e Kátia; d1b3) Airton Antônio, casado com Marina, gerando Vivian e Ricardo Roberto; d1b4) Maria Adenéa, casada com Paulo Otávio Gomes, gerando Paulo José e Naira; d1b5) Maria Celina, casada com Carlos Rodrigues Fernandes, gerando Fernanda e Alexandre. d1c) João Dionísio, casado com Dolzira, pais de João Gilberto, Hélia Regina, Geisa Maria, Margareth e Marcos. d1d) Maria Adelina Dionísio, casada com Lúcio Dornelles, gerando Ione. Da segunda esposa nasceu d1e) Celanira Dionísio, casada com José Luiz Moeller, gerando Telma Maria. Há um ramo Brodt em Caxias, mas não descobri sua origem ou parentesco com o meu ramo. Contudo, A Federação traz mais de 1.800 citações sobre os Brodt no Rio Grande do Sul entre 1884 e 1937, com numerosos membros em posições de destaque, evidenciando terem tido grande sucesso na sua instalação nas várias cidades onde se fizeram presentes. Christian Conrad Frantz e Johanna Catharina Brodt tiveram muitos filhos. Para listar sua descendência agora retoma-se a numeração a partir do 1:

1670

Kern, Paulo Henrique. Ruas e Praças Novo Hambrugo - quem é quem. Editora Feevale, 4ª ed., 2015 Instituto de Física – UFRGS. Cinquentenário do Instituto de Física: Nota editorial. 1672 “Decretos do Ministério da Guerra”. Diário Oficial da União, 05/11/1952 1671

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1) Cristiano Guilherme Frantz, nascido em Porto Alegre em 30 de julho de 1838, casou-se em 4 de março de 1862, na Matriz do Rosário de Rio Pardo, com Margarida Schneider, filha de Michael (Miguel) Schneider e Margarida, nascida por volta de 1840. Depois mudou-se para Santa Cruz, onde foi agricultor, plantador de fumo e produtor de banha, e por fim, conseguindo reunir algum capital, tornou-se comerciante de secos e molhados.1673 Um documento sem autoria, preservado na papelada familiar, diz que Cristiano em 1879 foi indicado inspetor do quarteirão 17, depois foi suplente de juiz distrital. Cristiano faleceu em 15 de novembro de 1914 e Margarida em 14 de junho 1900 em Santa Cruz. 1674 O casal gerou: a) Josefina Frantz (Santa Cruz, 12/06/1879 – Santa Cruz, 07/08/1879), casada com Matias José Wilges (Santa Cruz, 24/03/1878 – Santa Cruz, 14/09/1952), filho de Heinrich Wilges e Anna Maria Menten. Foram pais de Ervino Wilges (Venâncio Aires, 05/01/1916 – Porto Alegre, 13/03/1959), casado com Araci Iracema Diel (Estrela, 13/07/1918 – Porto Alegre, 15/10/1976), pais de Airton Wilges.

Anna Maria Schwab Schuh, foto família Schuh. Abaixo, Pedro Affonso Schwab, foto Jornal do Povo.

b) Bernardina Maria Luiza Frantz (21/04/1865 – ?), casada com o moleiro Bernardo Schwab (Cerro Alegre, 14/05/1862 – Cerro Alegre, 17/07/1942), filho de Peter Joseph Schwab e Barbara Sausen. O casal gerou: b1) Pedro José Schwab (Serra de São João, 13/05/1885 – ?), casado com Emilia Schroeder), sem geração conhecida. b2) Anna Maria Schwab (Santa Cruz, 31/12/1886 – Venâncio Aires, 19/11/1977), casada com Matias José Schuh (Cerro Alegre, 13/12/1885 – Venâncio Aires, 17/07/1962), filho de Johann Josef Schuh e Emilia Josefina Lütge, gerando Pedro Artur Schuh, casado com Valéria Clementina Meurer. b3) Bernardo Cristovão Schwab (Cerro Alegre, 31/01/1889 – ?), casado com Luiza Schuh (Cerro Alegre, 29/05/1889 – Santa Cruz, 03/07/1986), filha de João Baptista Schuh e Anna Catharina Weiss. Viveram no interior de Santa Cruz e se dedicaram à pecuária de leite e à agricultura.1675 O casal gerou 14 filhos, mas só foram identificados b3a) Maria Olinda Schwab. b3b) Joana Julita Schwab. b3c) Paula Maria Schwab. b3d) Olga Schwab, casada com Arnoldo Melchiors, filho de João Melchiors e Florentina Kessler, sendo pais de Luiz Antonio, Maria Luiza, Clarice, Nestor e Carlos Alberto Melchiors; b3e) Cacilda Schwab, casada com Willy Haas, e b3f) Pedro Affonso Schwab (1918 – 2007), agropecuarista, presidente do Lions de Cacheira do Sul,1676 recipiente do título de Cidadão Cachoeirense,1677 casado com Alcida Clara e pai de b3f1) Liane Schwab, b3f2) Lúcia Schwab, b3f4) Lisiane Schwab, b3f5) Paulo Afonso Schwab, e b3f6) Luiz Alberto Schwab.1678

1673

Noronha (2012), op. cit. Thier, Wilson. Família Frantz, s/d. 1675 “Encontros de família”. Almanaque Gaúcho, 24/11/2012 1676 Cardoso, Antônio Christino. “Quem já foi presidente do Lions Cachoeira”. Jornal do Povo, 06/06/2008 1677 Miranda, Patrícia. “Emoção com mais uma galeria na Câmara”. Jornal do Povo, 11/11/2008 1678 “Agradecimento e convite para missa de 7º dia”. Jornal do Povo, 12/12/2007 1674

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Paulo Afonso Schwab, foto FarmPoint. Ao lado, Luiz Afonso Schwab,. Foto Blog do Ricky.

b3f5) Paulo Afonso Schwab, radicado em Cachoeira do Sul, é médico veterinário e destacado pecuarista, sócio com o irmão Luiz Alberto da premiada Cabanha dos Pinheiros,1679 três vezes presidente da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos, duas vezes presidente da Câmara Setorial de Caprinos e Ovinos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Agricultura,1680 presidente do Sindicato Rural de Cachoeira do Sul,1681 um dos fundadores e presidente da Cooperativa de Crédito Rural (Sicredi) de Cachoeira do Sul,1682 apoiador da Frente Parlamentar Mista de Apoio à Ovinocaprinocultura,1683 e organizador da 63ª Feira Agropecuária de Cachoeira do Sul. b3f6) Luiz Alberto Schwab, além de sócio do irmão Paulo Afonso, é coordenador do departamento técnico da Cooperativa Tritícola Cachoeirense.1684 Casado com Beatriz Teixeira, é pai do modelo internacional Luiz Afonso Schwab, que em 2007 foi o primeiro colocado no Elite Models, já desfilou em Nova York, Paris, Milão, Berlin, Madri e São Paulo, trabalhando para griffes como Prada, Joop, Louis Vuitton, Lacoste, Marc By MarcJacobs, Hermes, Ellus, 2nd Floor e Redley.1685 b4) Maria Schwab (Cerro Alegre, 21/08/1894 – ?), casada com o agricultor José Leo Goettert (Cerro Alegre, 30/09/1892 – Cerro Alegre, 31/10/1959), filho de Nikolaus Goettert e Margaretha Kipper. Foram pais de:

1679

6ª AGROVINO – 2014. Premiação Completa. “Paulo Afonso Schwab é eleito para mais um mandato”. Folha do Sul, 03/03/2016 1681 Sindicato Rural de Cachoeira do Sul. Quem somos. 1682 “Cooperativismo é, sim, desenvolvimento”. Jornal do Povo, edição especial – Anuário 2005 1683 “Frente Ovino é criada em Brasília”. Canal Rural, 17/07/2015 1684 “Onda verde na capital do arroz”. Jornal do Povo, edição especial - Anuário Cachoeira do Sul, 2007 1685 “Cachoeira na passarela”. Revista Linda, 2009 (29) 1680

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Família de João Melchiors e Florentina Kessler. Arnoldo, casado com Olga Schwab, está marcado com ponto branco. Coleção da família Melchiors.

b4a) Lutmila Maria Dolores Goettert, casada com Pedro Marcos Kessler, professor, gerando: b4a1) Dóris Kessler. b4a2) Antonio Celso Kessler, médico em Guarapuava, PR, casado com Maria Matilde Cantu, empresária,1686 pais de Camila Kessler, médica psiquiatra, Larissa Kessler, dentista, e Celso Alexandre Kessler, médico ortopedista. b4a3) João Roque Kessler, dono de um cartório em Coronel Vivida, PR, e sócio da Kessler Agropecuária. b4a4) Mário Afonso Kessler, o mais antigo dentista em Concórdia, SC,1687 e pai de Glauco Olavo. b4a5) Sérgio Luiz Kessler, pai de Polaco. Sérgio foi diretor Financeiro da Companhia de Energia do Paraná. Uma pessoa com o mesmo nome foi secretário de Administração, Obras e Serviços Urbanos de Itapiranga, Santa Catarina,1688 mas pode não ser o mesmo. b4a6) Dagmar Terezinha Kessler, farmacêutica-bioquímica, proprietária da Dagfarma Farmácia de Manipulação e Homeopatia Ltda., presidente e depois vice-presidente da regional paranaense da Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais,1689 recebeu em 2013 o Prêmio Mulheres Empreendedoras de Curitiba, concedido àquelas “que tenham se destacado em atividades de empreendedorismo, à frente de empresas, cooperativas, clubes de trocas e associações curitibanas, nas áreas da indústria, artesanato, comércio e serviços”.1690 b4a7) Ilirio Rui Kessler, promotor de Justiça do Estado do Paraná, assessor da Casa Civil da Governadoria, diretor do Educandário São Francisco da Fundação Social do Paraná,1691 suplente e depois presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Almirante Tamandaré.1692 1693 Ativo membro da comunidade espírita, Ilirio é membro da equipe executiva da Federação Espírita do

1686

“Grupo Evidência”. In: Revista Visual, 2016 (128) “Coluna do Luís Longhini”. Rádio 96 FM, 21/03/2017 1688 “Determinado bloqueio de bens de ex-Secretário de Itapiranga”, Ministério Público de Santa Catarina, 11/2/2016 1689 “Farmácia de manipulação precisa seguir 200 normas”. Jornal do Povo, 1690 Sistema Leis Municipais. Decreto Legislativo nº 1, de 17 de março de 2013 1691 Sistema Leis Estaduais. Decreto nº 2552 de 27/09/93, 22/04/2008. 1692 Sistema Leis Municipais. Decreto Nº 819, de 31 de outubro de 2013. 1693 “Dispõe sobre substituição representatividade da Casa do Caminho e Presidência do CMDCA e dá providências”. Diário Oficial dos Municípios do Paraná, 27/07/2016 1687

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Paraná,1694 presidente da Instituição Casa do Caminho1695 e diretor do Departamento de Orientação ao Serviço Social Espírita.1696 b4a8) Dilmar Ignacio Kessler, pai de Paulo. Dilmar Ignacio nasceu em 1936 em Santa Cruz, ingressou na magistratura em 1962 como juiz substituto em Santo Antônio da Platina, passando pelas comarcas de Joaquim Távora, Sengés, Tomazina, Maringá, Peabiru, Pato Branco, Araucária, Bocaiúva do Sul e Curitiba. Foi juiz de Direito nas comarcas de Jaguariaíva, Laranjeiras do Sul, Porecatu, Pato Branco, Jaguapitã, União da Vitória e Curitiba. Foi nomeado ao extinto Tribunal de Alçada em 1985, onde assumiu a vice-presidência, tendo sido eleito presidente para o biênio 95/97. Em novembro de 1997 foi promovido a desembargador do TJ. Aposentou-se por idade em 2006.1697 b4b) Ana Brunhilda Goettert, casada com Alfonso Reis, gerando Antônio. b4c) Alma Lidvina Goettert, religiosa clarissa. b4d) Maria Camila Goettert, casada com Arno Arthur Helfer, gerando Curt Arthur Helfer, engenheiro.

Dilmar Ignacio Kessler, foto TJPR.

b4e) Hilda Clotilde Goettert. b4f) Elemar José Goettert casou com Neli Maria Limberger, gerando b4f1) Paulo José, piloto da VARIG, casado com Carmen Terezinha Biaggio, pais de Patrick e Alexandre Goettert. b4f2) Harald Luiz Goettert, representante comercial em Santa Cruz, casado com Claudete Maria Dupont, pais de Tiago Antônio, dono do restaurante Alemão Batata e presidente da Associação dos Lojistas do Shopping Lajeado,1698 Alex Ricardo, especialista em videogames e dono de uma loja no shopping de Lajeado,1699 e César Luiz Goettert. b4f3) Carmen Luiza Goettert, mãe de Roberto. b4f4) José Carlos Goettert, policial da Brigada Militar em Santa Cruz, casado com Cari Adriana Spengler e pai de Gabriel Goettert. b4f5) Marco Aurélio Goettert, monitor no Centro de Instrução de Guerra na Selva do Exército, subtenente de Infantaria, em 2010 recebeu a Ordem do Mérito Militar no grau de Cavaleiro1700 e em 2011 a Ordem do Mérito da Defesa no grau de Cavaleiro.1701 Casou com Marcia Heineck e foi pai de Felipe. b4f6) Maria Cristina Goettert, comerciante, casada com Celso Wiermann, pais de Juliano, Sílvia, Gustavo e Henrique Wiermann.

1694

“Fundadores do Monaci procuram MP e encaminham pedido de averiguação aos processos de destituição familiar de crianças abrigadas”. Promonaci, 01/08/2011 1695 “Dispõe sobre substituição representatividade da Casa do Caminho e Presidência do CMDCA e dá providências”. Diário Oficial dos Municípios do Paraná, 27/07/2016 1696 “Interegional Leste”. Centro Espírita Luz e Verdade, 06/10/2010 1697 “Aposentadoria”. Migalhas, 11/07/2006 1698 Presser, Taís. “Lojistas do shopping apostam em marketing para ter mais visibilidade”.O Informativo do Vale, 10/05/2017 1699 1700

Nascimento, Rodrigo. “Um player à moda antiga”. Caderno Mazup,

“Decreto s/nº de 29/03/2010”. Diário Oficial da União, 30/03/2010 1701 Ministério da Defesa. Ordem do Mérito da Defesa. Lista Corrida 2011

482

Marco Aurélio Goettert, foto de Marco Aurélio. Ao lado, Maria Cristina Wiermann em sua oficina. Foto Caderno Mais.

Maria Cristina foi objeto de matéria no Caderno Mais de Ribeirão Preto: “A primeira boneca da gaúcha Maria Cristina Wiermann, foi ela mesma quem fez. Era uma pedra preta enrolada em um pano. Os olhos, nariz e boca eram desenhados com giz. Mas cabelo a boneca não tinha e isso se tornou uma obsessão para Cristina. Quando criança, ela até ganhou algumas bonecas da mãe, mas todas eram carecas. Com 20 anos, Cristina deixou Santa Cruz do Sul e veio para Ribeirão Preto, onde começou a trabalhar com conserto de brinquedos. “Juntou dinheiro e comprou uma boneca com cabelo, a Fofa. ‘Linda’, segundo ela. Porém, uma semana depois, pais de uma menina doente procuravam uma Fofa para presentear a filha e não encontravam, pois a boneca não era mais fabricada. Sensibilizada, Cristina deu a boneca para a criança e decidiu. ‘Não quero mais boneca com cabelo, agora eu tenho um monte de brinquedos aqui, brinco todos os dias e cabelo não falta’, diz. “Há 26 anos ela conserta brinquedos na Vila Tibério e aproveita para brincar com todos eles. ‘Eu tenho que brincar para ver se está funcionando direito e quando eu gosto do brinquedo, dou um jeito de arrumar um pra mim’, fala. “A ideia de abrir a loja de consertos Gepeto, na Vila Tibério, surgiu em 1988, quando ela foi passear por São Paulo. ‘Eu achei uma boneca no lixo, consertei e dei para minha filha. Logo pensei que isso seria um negócio bom’. O nome da loja veio da infância. ‘Quando eu era criança fazia teatro na escola e sempre fazíamos a história do Pinóquio. Eu era a fada, e pensei que Gepeto seria um nome bem sugestivo’, diz”.1702

1702

Pioli, Jacqueline. “Cristina sonhava com boneca de cabelo e hoje brinca com várias”. Caderno Mais, 22/ 01/ 2014

483

b4g) Otmar Alfredo José Goettert, agricultor, casou com Amanda Dupont, gerando b4g1) Alma Terezinha Goettert, casada com Ivo Fengler e mãe Márcia Fengler. b4g2) Jair Luís Goettert, pecuarista,1703 presidente da Associação Pró-Desenvolvimento de Linha Cerro Alegre em Santa Cruz,1704 casado com Adriana Moura Lopes. b5) Johanna Margarida Schwab (Santa Cruz, 02/06/1896 – 09/01/1972), casada com Pedro José Weiss (Cerro Alegre, 18/11/1890 – 29/04/1971), filho de Pedro Weiss e Anna Schuh. Foram pais de b5a) José Edvino Weiss. b5b) Ana Maria Weiss, casada com Breno Weiandt, escritor, presidente da Associação de Moradores do Jardim das Flores.1705 b5c) Frida Helma Weiss. b6) Guilherme Schwab (Cerro Alegre, c. 1897 – ?), casado com Maria Becker (Santa Cruz, c. 1900 –?), sem geração conhecida. b7) Emma Barbara Schwab (08/01/1898 –?), casada com Henrique Schuh (Cerro Alegre, 07/03/1889 – ?), filho de Miguel Schuh e Christina Henn, sem geração conhecida. b8) Otilia Schwab (Cerro Alegre, 14/04/1901 – Santa Cruz, c. 1995), casada com João Marcos Goettems (Cerro Alegre, 25/04/1900 – Santa Cruz, 27/07/1977), filho de Nicolau Pedro Goettems e Anna Maria Ritter. João Marcos durante 47 anos foi professor da escola comunitária católica de São João da Serra (Kochloeffel). Atendeu também durante muitos anos as escolas de Cerro Alegre, Santa Cruz, João Alves, Capão da Cruz e Carlota. Gostava de música, dirigia e organizava corais. Hoje é nome de rua em Santa Cruz. O casal gerou: b8a) Lourenço José Goettems, teve escritório de contabilidade em Santa Cruz.1706 b8b) Arno Aloysius Goettems, contador formado em 1942, gostava de música, durante muitos anos cuidou do Coral Juvenil Canarinhos de Santa Cruz do Sul, casado com Celia Milania Schuck. Foram pais de b8b1) Terezinha Goettems. b8b2) Ruth Maria Goettems, casada com René Lúcio Rech, gerando Rosane, doutora em engenharia de alimentos e professora na UFRGS, Rafael, formado em Ciência da Computação, e Raquel. b8b3) Ivo José Goettems, formado em Administração de Empresas, funcionário da VARIG, casado com Ellen Marta Pritsch, engenheira química da CORSAN, e pai de Felipe e Fernando. b8b4) Curt Marcos Goettems, empresário de transportes, casado com Maria Teresa Juruena, gerando Daniel, Patricia e Rodrigo. b8b5) Luiz Alfredo Goettems, cardiologista, membro da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro.1707 b8b6) Paulo Ricardo Goettems, casou com Angela Eick, gerando Henrique, Guilherme e Gabriela. b8b7) Roberto Goettems.

Luiz Alfredo Goettems e sua mãe Celia Schuck, foto de Luiz.

1703

“Raiva bovina ainda sobrevoa a região”. Gazeta do Sul, 29/09/2012 Sistema Leis Municipais. Lei nº 6307, de 30 de agosto de 2011 1705 “Foz sugere redução de preço do seguro Carta Verde para ingressar na Argentina”. H2Foz, 30/10/2008 1706 CNPJBrasil. Escritorio Goettems - Lourenço José Goettems. 1707 Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro. Relação de sócios. 1704

484

Ivo Affonso Melchiors, coleção família Melchiors. Ao lado seu neto Guilherme Hermany, foto Gestão Escolar.

Guilherme Hermany, sua avó Carlinda Goettems Melchiors e sua mãe Helena Melchiors Hermany, foto Gazeta do Sul.

485

b8c) Carlinda Maria Goettems, falecida em 13 de janeiro de 2016 com 90 anos, casou com Ivo Affonso Melchiors, marceneiro, gerando: b8c1) João Carlo Melchiors, analista de sistemas em Brasilia, casado com Maria da Graça Silva e pai de João Marcos e Ana Carolina. b8c2) Helena Melchiors, contadora, vereadora de Santa Cruz (2001-2004),1708 duas vezes vice-prefeita, na gestão de José Alberto Wenzel (2005-2008)1709 e na gestão de Telmo Kist (2013-2016), quando acumulou a função de secretária municipal de Inclusão, Desenvolvimento Social e Habitação.1710 É casada com Edmar Guilherme Hermany, advogado, um dos fundadores do Centro Cultural 25 de Julho,1711 presidente do Futebol Clube Santa Cruz,1712 presidente do Rotary,1713 político de relevo, vereador em quatro mandatos,1714 prefeito de Santa Cruz (1992-1996), candidato a deputado federal e secretário do Meio Ambiente, Saneamento e Sustentabilidade em 2015.1715 O casal gerou b8c2a) Guilherme Hermany; mestre em Ecologia, Doutor Ricardo Hermany. Foto Gazeta do Sul. em Geociências, pesquisador com muitos artigos publicados e professor municipal em Porto Alegre, diretor da Escola Chico Mendes;1716 b8c2b) Henrique Hermany, advogado, secretário da Saúde de Santa Cruz,1717 depois titular da Secretaria de Segurança, Cidadania, Relações Comunitárias e Esporte e da Secretaria de Inclusão, Desenvolvimento Social e Habitação,1718 e b8c2c) Ricardo Hermany, advogado, pós-Doutor em Direito, professor da graduação e do Programa de Pós-Graduação em Direito- Mestrado/Doutorado da Universidade de Santa Cruz do Sul, Coordenador do Curso de Direito da unidade UNISC em Sobradinho e Chefe do Departamento de Direito da UNISC, com extensa obra publicada. 1719 b9) João Schwab (Cerro Alegre, c. 1903 – ?) casou com Maria Weiss (Cerro Alegre, 09/04/1905 – ?), filha de José Weiss e Maria Elisabeth Ritter, sem geração. c) Ana Catharina Frantz (02/06/1867 – Santa Cruz, 06/01/1948), casada com José Morsch e depois com Simon Konzen (São João da Serra, 16/09/1869 – Santa Cruz, 20/09/1964), filho de Mathias Konzen e Anna Catharina Unfried. Com o segundo marido teve os filhos:

1708

Câmara de Vereadores de Santa Cruz do Sul. Helena Hermany. “Cozinha Comunitária vai atender mais 300 crianças em Santa Cruz do Sul”. RS Virtual, 07/04/2008 1710 “Helena Hermany em busca de recursos”. Riovale Jornal, 29/01/2013 1711 Centro Cultural 25 de Julho. Sócios Fundadores. 1712 Futebol Clube Santa Cruz. Presidentes. 1713 “105 anos de Rotary Internacional”. Rotary Club Santa Cruz do Sul, 23/02/2010 1714 Câmara de Vereadores de Santa Cruz do Sul. Edmar Guilherme Hermany. 1715 Garcia, Pedro. “Edmar Hermany fica no governo”. Rádio Rio Pardo, 04/03/2015 1716 Lopes, Noemia. “Diretores contam como estrearam no cargo”. Gestão Escolar, sd. 1717 “Morre mãe da vice-prefeita Helena Hermany”. Gazeta do Sul, 13/01/2016 1718 Ciecelski, Luana. “Confusão e novas mudanças no governo”. Riovale Jornal, 05/03/2015 1719 Currículo Lattes. Ricardo Hermany. 1709

486

c1) Jorge Konzen (Santa Cruz, 19/03/1893 – Rincão do Sobrado, 01/01/1981), casado com Maria Heck (12/06/1897 – 17/11/1983), gerando Edvino, produtor de fumo, casado com Otilia Rosaria Eisermann. Edvino e Otilia foram pais de Hélio Luiz Konzen, arquiteto, funcionário do Centro Universitário La Salle, autor de um conjunto de fotografias de Canoas estudado por Danielle Heberle Viegas pelo seu valor histórico.1720 c2) Anna Catharina Konzen (15/05/1895 –?). c3) João Carlos Konzen (Santa Cruz, 06/06/1899 – ?). c4) Simão Konzen (Santa Cruz, 12/05/1904 – Rincão do Sobrado, 30/05/1978), casado com Matilde Fröhlich (Cerro Alegre, 29/8/1908 – Rincão do Sobrado, 30/06/1951), filha de José Fröhlich e Maria Bremm. Seus filhos foram: c4a) Anita Konzen, casada com Marcos João Eichelberger. c4b) Maria Paula Petronila Konzen, casada com Edgar Linos Werlang, agricultor, gerando c4b1) Lourdes Maria, casada com Airan Vitor S. Queiroz. c4b2) Paulo Luiz, casado com Isoldi Rowedder. c4b3) Luiz Alberto, casado com Ivone Meert. c4b4) Sílvio Pedro, casado com Adriana Maria Schimanek, gerando Pedro Artur. c4b5) Sérgio. c4c) Irma Konzen, casada com Hildo Kappaun. c4d) Arno Konzen, casado com Helena Baierle. c4e) Cláudio Armindo Konzen, casado com Terezinha Kessler. Cláudio virou nome de rua. A Câmara de Santa Cruz lembrou sua vida: “O Sr. Cláudio Armindo Konzen nasceu no dia 26 de março de 1945, na localidade de Rincão do Sobrado, hoje pertencente ao Município de Passo do Sobrado. É filho de Simão Konzen Filho e de Matilde Konzen. Aos 17 anos, ingressou na Escola Agrícola de Linha Santa Cruz, em Santa Cruz do Sul. Aos 18 anos, fez o alistamento militar e foi servir na unidade do Exército Brasileiro de Santa Cruz do Sul. Após, ter concluído o serviço militar, voltou a trabalhar com a sua família, na agricultura, e aplicar o que aprendeu na escola agrícola. Casou-se com Terezinha Kessler, em 1971, com quem teve um filho, Heitor Luiz Konzen, que mora na cidade de Canoas, RS. “Depois de algumas safras de fumo mal sucedidas, foi morar na cidade de Campo Bom, no Vale dos Sinos. Após oito anos, voltou para Passo do Sobrado, onde se instalou com um pequeno comércio. Após meio ano, veio a se estabelecer em Santa Cruz do Sul, com um minimercado, no Bairro Faxinal Velho, em prédio alugado. Posteriormente, adquiriu seu próprio estabelecimento comercial e residencial. Foi, então, que participou da fundação e construção da Comunidade Santa Rita de Cássia, em 24 de maio de 1986, juntamente com os demais membros, na função de primeiro tesoureiro da mesma.

1720

Viegas, Danielle Heberle. “A cidade revelada em dois tempos: apontamentos sobre a urbanização de Canoas/RS a partir de registros fotográficos (1952/1978)”. In: Fênix – Revista de História e Estudos Culturais, 2013; 10 (1)

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“Passados quatro anos, no mesmo bairro, foi fundada a Comunidade São Francisco de Assis, no dia 22 de outubro de 1990, da qual, juntamente com a Irmã Vitória Koch, foi novamente fundador e, também, o primeiro tesoureiro. Para se dedicar com tamanha intensidade à causa religiosa e social, deixou muitas vezes o trabalho e o lazer da família em prol do próximo e da comunidade onde morava. Também trabalhou na Associação de Moradores do Bairro Faxinal Velho, tendo atuado intensamente para a construção do asfalto na Rua Dona Carlota. Podemos afirmar que o mesmo era um importante líder comunitário em sua região. Faleceu tragicamente aos 15 de outubro de 2005, com 60 anos, em um assalto mal sucedido em seu estabelecimento. Após o crime, o estabelecimento comercial não voltou a ser aberto. “Diante do exposto, esperamos que os Nobres Pares desse colendo Poder Legislativo aprovem o presente Projeto de Lei, pelo qual é reconhecida a importância familiar e comunitária do Sr. Cláudio Armindo Konzen, sendo também uma forma eternizar o seu nome e homenagear os seus familiares”. 1721

Cláudio Armindo Konzen e Hilário João Schuck. Fotos Gazeta do Sul.

c4f) Elemar Konzen, dentista em Toledo/PR (?), casado com Clarice Kist. c4g) Milton Konzen, casado com Marlise Pick. c5) Eduardo Konzen (Santa Cruz, c. 1906 – Santa Cruz, c. 1966), casado com Cecilia Agnes (Santa Cruz, 01/09/1911 –?), gerando Cacilda, casada com René Anselmo Assmann. d) Cristóvão Ernesto Frantz (08/11/1869 – Santa Cruz, 13/07/1950), casado com Fermina Pick (c. 1870 – Santa Cruz, 30/06/1953), com os filhos: d1) Joana Frantz (04/07/1899 – Cerro Alegre, 1995), casada com Arthur João Schuck (Rincão del Rey, 19/11/1895 – Capão da Cruz, 29/03/1972), filho de João Augusto Schuck e Felisberta Kuhn, agricultor e chacareiro, cujas terras foram um dos núcleos de povoamento de Arroio Grande, um dos três centros de formação da atual Santa Cruz, hoje localizadas em um dos bairros da cidade.1722 Foram pais de d1a) Almerinda Ema Schuck, casada com Arnoldo Theizen. d1b) Carene Schuck, casada com Artur Soder. d1c) Lucila Schuck, casada com Afonso Konzen. d1d) Ely Schuck, casada com Olímpio Lopes. d1e) Hilário João Schuck. d1f) Julieta Maria Schuck, casada com Eugênio Henn, açougueiro, pais de Nestor José, Paulo Alberto, Arnildo e Gelson Bruno, todos com geração. d1g) Hilda Anna Schuck, casada com o pedreiro Florindo Helfer. 1721 1722

Câmara Municipal de Santa Cruz. Projeto 16/L/2014 “Arroio Grande: uma cidade dentro da outra”. Gazeta do Sul, sd.

488

d2) Maria Frantz (c. 1893 – ?), casada com Sobr. José Schwengber (c. 1892 – ?), filho de Antonio Schwengber e Anna Maria Helfer, gerando d2a) Wilibaldo Schwengber, casado com Litvina Schuh, pais de Orlando, casado com Liane Rosali Goettert, com geração. d2b) Maria Julita Schwengber. d2c) Maria Schwengber. d3) João Pedro Frantz (c. 1896 –?), casado com Anna Jennisch (c. 1900 – ?), sem geração. d4) Margarida Frantz (Santa Cruz, 07/12/1897 – ?). d5) Bernardo Cristóvão Frantz (Capão da Cruz, 1895 –1970) casou com Ana Cecilia Fröhlich (Cerro Alegre, c. 1902 – Capão da Cruz, 1937), filha de José Fröhlich e Maria Bremm. Foram pais de: d5a) Wilibaldo Frantz, casado com Ema Ida Müller, pais de Amélia, casada com Pedro Paulo Kern, com geração.

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d5b) Arthur Frantz, jesuíta. Seu correligionário Inácio Spohr escreveu seu obituário: “Na madrugada do dia 4 de setembro de 2012, no Instituto São José (Casa de Saúde), em São Leopoldo, o padre Arthur Frantz, SJ, faleceu piedosamente no Senhor. A morte dele foi um tanto surpreendente. Só nos últimos dias de vida as forças o foram deixando. Deus o chamou a Si quando faltavam três dias para completar 89 anos de idade, dos quais 67 anos de vida religiosa e 54 de sacerdócio. Arthur Frantz nasceu dia 7 de setembro de 1923, no Cerro das Pedras, Capão da Cruz, em Santa Cruz do Sul, RS. Seus pais chamavam-se Cristóvão Frantz Filho e Ana Cecília Froehlich. O padre Arthur é sobrinho de dom Henrique Froehlich, SJ. Sem dúvida, Arthur aprendeu da família os princípios e valores cristãos, muito enraizados em sua conduta de jesuíta e sacerdote. “Arthur frequentou o Colégio Santo Inácio, na então Estação São Salvador, Montenegro, hoje Salvador do Sul, RS, de 1937 a 1944. Ele era da O padre Arthur Frantz, foto Informativo BRM. primeira turma de alunos do Kappesberg quando foi inaugurada a Escola Apostólica, transferida de Pareci Novo. O ingresso de Arthur na Companhia de Jesus aconteceu a 28 de fevereiro de 1945, em Pareci Novo, onde teve o padre Léo Kohler como Mestre de Noviços. Após os primeiros votos do biênio, fez o Juniorado (estudo de Humanidades e Retórica), também em Pareci Novo, de 1947 a 1948. Prosseguindo sua formação na Companhia, estudou Filosofia no Colégio Cristo Rei, em São Leopoldo, de 1949 a 1951. Dedicou-se ao magistério no Seminário São José de Cerro Largo, de 1952 a 1954. Em seguida, retornou ao Colégio Cristo Rei de São Leopoldo para fazer a Teologia, de 1955 a 1958. Foi ordenado presbítero por dom Vicente Scherer no referido Colégio Cristo Rei, aos 12 de dezembro de 1957. Após a Teologia, fez a Terceira Provação em Três Poços, Volta Redonda, no Rio de Janeiro, onde teve o padre César Dainese como Instrutor. Sua incorporação definitiva na Companhia realizou-se no Seminário Três Mártires, em Sede Capela, Itapiranga, dia 15 de agosto de 1960. “As atividades do padre Arthur foram diversas. De 1960 a 1966, o encontramos em Sede Capela, Itapiranga, como prefeito geral, professor e superior do Seminário Três Mártires. Conforme ele relata, havia cerca de 70 seminaristas na casa e faltava tudo. Viviam à mercê da caridade do povo. Após sete anos de vida no meio rural, o padre Arthur foi chamado a trabalhar em Porto Alegre, no Centro Antônio Vieira (CAVI), onde funcionava o Colégio Anchieta, na rua Duque de Caxias. Exerceu aí o cargo de superior e administrador da comunidade, de 1967 a 1975. Quando chegou ao CAVI havia cerca de 30 jesuítas.

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As duas igrejas construídas pelo padre Arthur Frantz. Acima, a da Rainha do Universo em Londrina, abaixo, de Santo Inácio de Loyola em Porto Alegre. Fotos das respectivas paróquias.

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“A partir de abril de 1975, o padre Arthur dedicou 25 anos seguidos ao Paraná. Inicialmente, foi promotor do Movimento dos Santos Anjos em Curitiba, de 1975 a agosto de 1977. Para conhecer mais em profundidade esta Obra dos Santos Anjos, esteve três meses em St. Petersberg, na Áustria. Conforme ele relatou, foi uma experiência gratificante em sua vida sacerdotal. No segundo semestre de 1977, deixou esta obra e substituiu o capelão da Beneficência Portuguesa na cidade de Pelotas. No final deste mesmo ano, voltou ao Paraná onde ficaria bastante tempo. “Foi pároco da Paróquia Rainha do Universo, em Londrina, de 1977 a junho de 1989. Introduziu o dízimo na paróquia, sendo um dos primeiros a introduzi-lo no Paraná. Entre outras obras, construiu a igreja matriz e o salão paroquial da referida paróquia de Londrina. Após 13 anos de missão em Londrina, a Paróquia de São José Operário, em Maringá, acolheu o padre Arthur como vigário paroquial, até fins de 1991. Em seguida, foi pároco da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, em Mamborê, de 1992 a fevereiro de 1998. Continuou o encargo de pároco na Paróquia São Paulo Apóstolo, em Foz do Iguaçu, de fevereiro de 1998 a janeiro de 2000. Em fevereiro de 2000, o padre “Arthur tornou-se pároco da Paróquia Santíssima Trindade, em Tunápolis, SC. Mas sua presença aí foi breve porque esteve com varicose (erisipela) e necessitava urgente de tratamento de saúde, o que aconteceu no Hospital Regina de Novo Hamburgo, e no Instituto São José de São Leopoldo, de setembro de 2001 a abril de 2002. “Sentindo-se restabelecido, substituiu três capelães da Santa Casa de Porto Alegre, com as férias vencidas. Nesta altura, à espera de um novo campo de trabalho, foi pároco interino (“quebra-galho”, como ele escreveu) da Paróquia São João Batista de Moreira Sales, no Paraná, em maio de 2002. Tal mandato se estendeu até fins de 2005. Em agosto de 2003, conforme carta de dom Mauro Aparecido dos Santos, bispo de Campo Mourão, os paroquianos pediram a prorrogação da permanência do padre Arthur na paróquia, pois ele tem feito um grande trabalho apostólico, era muito querido pelos fiéis, visitava as famílias e teve um bom entrosamento com as lideranças paroquiais. “Nesta altura dos acontecimentos, ficou quase cego. Teve que fazer tratamento com oftalmologistas de Campo Mourão que não descobriram o problema. Em Porto Alegre, descobriu-se que tinha problema de catarata, o que foi solucionado com uma simples O padre Arthur Frantz, foto Informativo BRM. cirurgia. Ainda com vontade de trabalhar, padre Arthur assumiu como pároco da Paróquia Santo Inácio de Loyola, no Parque Humaitá, de Porto Alegre, de fevereiro de 2006 a março de 2007. No decorrer da sua breve estada nesta paróquia, construiu a igreja matriz que estava à espera de construção, no decorrer de muitos anos.

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“Após tantos anos de vida paroquial, além de outros encargos, o padre Arthur recebeu o devido descanso e o tratamento de saúde no Instituto São José (Casa de Saúde), em São Leopoldo, de março de 2007 a setembro de 2012. No decorrer destes últimos cinco anos de vida, ele recebeu o importante encargo de rezar pela Igreja e pela Companhia, o que certamente fez com grande espírito de fé, de amor, de paciência e zelo apostólico. Não esteve mais voltado à vida ativa como antes porque sentiu a limitação de suas forças, mas sempre manifestou grande amor pelas coisas que diziam respeito à vida e missão da Companhia. Conforme ele disse, nunca chegou a fazer algum curso de formação após a Teologia, mas o que mais lhe valeu foi a leitura dos cinco volumes da autobiografia do padre João Batista Reus. Em todas as paróquias e outros lugares em que esteve, trabalhou com diligência e boa vontade, exercendo os ministérios com humildade e espírito de fé. Era um homem muito piedoso. No tempo de estudos, ofereceu-se para ir às missões da China ou do Japão, se esta fosse a vontade dos superiores. De fato, não foi destinado às missões do Oriente, mas conservou sempre vivo o zelo missionário. “Agora, junto de Deus Pai, o padre Arthur poderá rezar por nós e que ele esteja na glória com todos os Anjos e Santos. Dia 5 de setembro, às 9h, na Casa de Saúde, o bispo dom Zeno Hastenteufel presidiu a missa de corpo presente. Além dos jesuítas, estiveram presentes 15 familiares do padre Arthur que vieram de Santa Cruz do Sul naquela manhã. O sepultamento foi realizado no cemitério dos jesuítas junto ao Santuário do Sagrado Coração de Jesus. R.I.P.” 1723 e) Guilherme João Frantz (17/12/1874 – Santa Cruz, 01/07/1942) foi industrial, vereador em 1904-1913, presidente do Conselho em 1910, e diretor-assistente da Caixa Cooperativa SantaCruzense, antecessora do Banco Mercantil S/A, e que, segundo Noronha, “centralizaria localmente todos os depósitos e rendimentos da agricultura familiar, servindo de ‘banco central da colônia’, que poderia canalizar os recursos para investimentos na indústria, comércio e infraestrutura local, uma vez que esses recursos não eram oferecidos pelos poderes estadual e federal”.1724 Casado com Anna Kipper (25/03/1875 – São João da Serra, 05/12/1951), filha de Peter Kipper e Anna Maria Fröhlich, tiveram os filhos e1) Anna Frantz (Santa Cruz, 03/12/1895 – ?). e2) Bernardo Frantz (31/10/1897 – ?) casou com Francisca Bertha Schuck (0312/1902 – São João da Serra, 18/10/1951), filha de João Augusto Schuck e Felisberta Kuhn, gerando Isidoro Frantz, presidente do Clube Comercial de Dom Pedrito, pai de Gilson Frantz. e3) Alberto Augusto Frantz (c. 1907 –?) casou com Maria Helena Beckenkamp (c. 1910 –?), filha de Pedro Beckenkamp e Margarida Thomas, gerando Serena Frantz, casada com Alfonso Assmann, com geração. f) Marianna Frantz (27/05/1876 – ?), casada com João Agnes (c. 1874 – ?), filho de Cristóvão Agnes e Catharina Henrich, gerou o filho Willi Jorge (10/04/1897 –?). g) José Germano Frantz, apelidado Juca (24/02/1883 – 06/08/1966), às vezes também grafado Germano José, casado com Caroline Werlang,1725 (Linha Santa Cruz, 14/12/1885 – Santa Cruz, 18/04/1959), filha de João Werlang e Elisabeth Goettems, foi um dos primeiros a serem assentados na Linha Santa Cruz, e em sua memória a Linha acabou recebendo o nome de rua José Germano Frantz.1726 Embora não seja o caminho mais antigo da cidade de Santa Cruz, que 1723

Spohr, Inácio. “Pe. Arthur Frantz, SJ”. In: Informativo BRM, 2012; (509):15-16 Noronha (2012), op. cit. 1725 Hunsche, op. cit. 1724

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Casa de José Germano Frantz, foto ATURVARP.

se formou ao seu redor, é hoje considerado como tal, chamado de fato o berço da colonização da cidade, pela sua importância histórica e por ter perdurado em uso até os dias de hoje.1727 José Germano foi figura ilustre, de acordo com o histórico da Câmara de Santa Cruz: “Através do presente projeto, procuraremos homenagear de maneira concreta, o cidadão José Germano Frantz, mais conhecido em sua época como Juca Frantz. Juca Frantz nasceu em 24 de fevereiro de 1883, vindo a falecer em 6 de agosto de 1966. Ele foi um dos primeiros habitantes da linha Santa Cruz, onde residiu por mais de 50 anos. Ainda hoje sua casa existe. Foi um grande líder comunitário e um exímio alfaiate. Destacou-se por sua participação na Diretoria da Cooperativa Agrícola de Linha Santa Cruz, bem como ainda como membro das Diretorias da Igreja, da Escola, sendo inclusive presidente da Sociedade Lanceiros (Schtechclub). Da mesma forma, sempre prestando serviços à comunidade, foi inspetor para cobranças de impostos e zelador de estrada. Em suma, inúmeros foram os serviços que Juca Frantz prestou à sua comunidade, que o tem em sua memória como um cidadão íntegro, trabalhador e dedicado. Para perenizar seu nome, queremos oficializar o nome desta rua, prestandolhe esta homenagem simples, mas sincera e que tem o apoio de toda a comunidade de Linha Santa Cruz”.1728 Recentemente a casa do pioneiro José Germano e a própria rua foram integradas ao roteiro histórico-turístico oficial de Santa Cruz.1729 Christian e Henrique se fixariam nas imediações dois anos mais tarde, estabelecidos na Picada Nova, também chamada Linha Rio Pardinho.1730 1731

1726

Müller, Armindo L. Dicionário Histórico e Geográfico da Região de Santa Cruz do Sul. EDUNISC, 1999 Borowsky, op. cit. 1728 Câmara de Vereadores de Santa Cruz do Sul. Projeto 13/L/1990 1729 Prefeitura de Santa Cruz do Sul. Roteiro Caminhos da Imigração - Linha Santa Cruz e Boa Vista. 1730 Werlang, op. cit. 1731 Menezes, João Bittencourt de. Município de Santa Cruz. EDUNISC, 2005, 2ª ed. 1727

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O casal gerou: g1) Ermelinda Frantz (Linha Santa Cruz, c. 1910 – ?). g2) Eugenia Maria Frantz (Linha Santa Cruz, c. 1912 – ?). g3) Armindo José Frantz (Santa Cruz, 08/09/1916 – Santa Cruz, 16/03/1978), casado com Wilma Assmann (Venâncio Aires, 18/11/1915 – ?), gerando g3a) Miriam Laura Frantz, casada com José Ferreira dos Santos, pais de Jossane. g3b) Eliete Terezinha Frantz. g3c) Marlise Frantz, casada com Juarez Kothe, gerente de produção agrícola da Souza Cruz,1732 pais de g3c1) Ezequiel Affonso Kothe, casado com Andreia Fiala, com geração; g3c2) Rodrigo Daniel Kothe, engenheiro de som e produtor, músico da banda Los Chick Magnets; g3c3) Leonardo Kothe e g3c4) Cynthia Kothe, casada com Wallace Carpes, tenente-coronel da Polícia Militar de Santa Catarina e assessor parlamentar da Associação de Oficiais Militares de Santa Catarina - ACORS,1733 1734 com geração. g3d) Ari José Frantz, cuja vida não descobri, mas em seu falecimento mereceu um Voto de Pesar e um minuto de silêncio aprovados por unanimidade na Câmara de Vereadores de Santa Cruz, louvado como “pessoa tão conhecida, importante e próxima dos santa-cruzenses”.1735 Foi casado com Milana Staub, pais de Roberto, Virginia e Ronaldo. Depois Armindo José casou com Hildegard Schmit, sem geração.

Cynthia Kothe, o marido Wallace Carpes e a filha Vitória. Foto ACORS.. Abaixo, Paulo Wilson Frantz, foto Riovale Jornal.

g4) Egydio Willibaldo Frantz (Santa Cruz, 18/03/1920 – Santa Cruz, 27/06/1982), comerciante, casado com Anna Ilsa Kirst (Linha Santa Cruz, 08/01/1925 –?), filha de João Kirst e Frieda Beckenkamp, gerando: g4a) Nilva Teresinha Frantz, casada com Sérgio Moacir Duré, capitão do 8º Batalhão de Infantaria Motorizada,1736 um dos fundadores do Santa Cruz Biker's Club,1737 e coordenador de Divulgação da Renovação Carismática Católica da Diocese de Santa Cruz,1738 pais de g4a1) Evandro Carlos Duré; g4a2) André Luís Duré, engenheiro, e g4a3) Juliana Duré, arquiteta. g4b) Paulo Wilson Frantz, comerciante, presidente do Esporte Clube Avenida de Santa Cruz, “o principal mandatário do Periquito em 2007 e 2008, um homem presente em todos os momentos e que jamais será esquecido”,1739 casado com Eloisa Teresinha Schuh. g4c) Lori Maria Frantz, mestre em Letras pela Universidade de Passo Fundo, mestre em Estudos das Sociedades Latino-Americanas pela Universidade de Sorbonne-Nouvelle, e professora titular 1732

Reti, Jorge. “Fumicultor catarinense aumenta renda plantando milho e feijão”. In: Agropecuária Catarinense, 1996 (36) 1733 Pereira, Moacir. “Policiais Militares: com o risco da própria vida”. ClicRBS, 06/09/2013 1734 “A ACORS parabeniza todos os policiais promovidos neste 05.05.2016, em cerimônia prestigiada pelo vicegovernador, Eduardo Pinho Moreira”. ACORS, 05/05/2016 1735 Câmara de Vereadores de Santa Cruz do Sul. Requerimento 115/2014: Moção de Pesar pelo falecimento de Ari José Frantz, 16/06/2014 458 8º Batalhão de Infantaria 1736 8º Batalhão de Infantaria Motorizada. Reserva. 1737 “20 anos do Santa Cruz Biker's Club”. Santa Ciclismo, 15/06/2013 1738 Treichel, Michele. “Carismáticos celebram Maria nesta sexta-feira”. Gazeta do Sul, 11/10/2012 1739 Mello, Júlio. “Avenida e o esporte perdem o dirigente Paulo Frantz”. Riovale Jornal, 15/03/2014

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da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Casada com Irineu de Mello, são pais de Daniela e Débora de Mello. g4d) Iara Bernadete Frantz, professora de Letras, casada com José Enrique Roverano Cardinal, gerando Mirela Cardinal, psicóloga. g4e) Vera Lúcia Frantz, graduada em Comércio Exterior e Economia, casada com Hilton Fernando Teichmann, formado em Zootecnia e instrutor do SENAR,1740 pais de Tanara Teichmann, formada em Hotelaria, e Guilherme, destacado jogador de basquete, campeão dos Jogos Pan-Americanos de 2007 com a seleção brasileira masculina,1741 e recipiente do título de Cidadão Santa-Cruzense.1742 O cronista esportivo Edmar Ferreira traçou sua trajetória: “Guilherme Frantz Teichmann nasceu no dia 13/09/1983, em Concórdia, Santa Catarina. É filho de Hilton Teichmann e Vera Lúcia Frantz Teichmann, tendo apenas uma irmã, Tanara, formada em hotelaria. Guilherme fez de tudo na infância, mas seu forte era a natação, onde praticamente desenvolveu o seu corpo. O basquete entrou em sua vida quando seus pais Guilherme Frantz Teichmann. Foto de Edmar Ferreira. retornaram para Santa Cruz do Sul, considerada a capital do basquete do Rio Grande do Sul. “Tinha 11 anos quando entrei na escolinha do Corinthians. Meu primeiro professor foi o Sérgio Englof. Como ainda não tinha decidido a minha real posição, fui testado como ala, armador e pivô. Apenas a primeira eu descartei”, lembrou. “Foram quatro anos no time gaúcho até uma transferência para o Monte Líbano. Seu basquetebol começou a chamar a atenção e no mesmo ano, surgiu sua primeira convocação para a seleção brasileira cadete, que tinha no comando o técnico Márcio Andrade, um dos treinadores mais importantes na vida do jogador. Teichmann teve a oportunidade de disputar o Campeonato Sul-Americano do Chile em 1999, trazendo para o Brasil a medalha de prata após a derrota para a rival Argentina. “Mas o grande impulso na carreira estava por vir e Guilherme se transferiu para as categorias de base do Vasco da Gama, onde defendia o juvenil e treinava diariamente com os profissionais, que na época eram comandados pelo professor Hélio Rubens Garcia. ‘Cresci vendo craques como Helinho, Rogério, Demétrius e Vargas jogando e num piscar de olhos eu estava treinando com eles no Cruz de Malta. Foi uma experiência bastante agradável, que serviu de motivação para o meu crescimento na modalidade’, comentou. Nos dois anos em que o Vasco foi bicampeão da Liga Nacional, Guilherme fazia parte do elenco. Teichmann entraria definitivamente na história da Winner ao fazer parte do elenco que conquistou o primeiro título paulista em 2008/2009, diante de Franca, no Pedrocão. [...]

1740

SENAR-RS. Consultoria Individual Sala - Avaliação da Ideia de Negócio - NCR “Brasil é Tri-campeão dos Jogos Pan-Americanos”. CBB, 29/07/2007 1742 Câmara de Vereadores de Santa Cruz do Sul. Projeto 13/2007 1741

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“A Seleção Brasileira de Basquete conquistou a medalha de ouro nos Jogos PanAmericanos do Rio de Janeiro em 2007. Entre os convocados do técnico Aluísio Ferreira, o Lula, estava o versátil ala Guilherme Teichmann (13/09/1983), de 2m03 de altura e 100 kg. No momento de sua convocação ele vestia a camisa da Winner/Limeira no Campeonato Paulista da Série A-1. O técnico Zanon e o diretor/presidente da equipe limeirense, Cássio Roque, sabiam que o jogador tinha grandes possibilidades de estar no grupo por seu potencial e ficaram felizes por terem um representante em uma competição tão importante como essa. Foi a primeira vez que um atleta da Winner conquistou a medalha de ouro na história dos Jogos PanAmericanos. [...] “A disputa da medalha de ouro foi contra Porto Rico e o Brasil venceu por 86 a 65, encerrando a competição com 100% de aproveitamento, com 5 vitórias em 5 jogos. Foi o terceiro título seguido da nossa seleção. [...] “Nas 15 edições do torneio masculino, o Brasil subiu 13 vezes ao pódio e, por cinco vezes os jogadores asseguraram a medalha de ouro: Cáli, na Colômbia (1971), Indianápolis, nos Estados Unidos (1987), Winnipeg, no Canadá (1999), Santo Domingo, na República Dominicana (2003) e Rio de Janeiro (2007). Foram mais duas medalhas de prata e seis de bronze. ‘Nós jogadores temos a obrigação de fazer um bom papel nessas competições internacionais. Precisamos levantar o basquete, evitando que mais equipes fechem as suas portas. Uma medalha olímpica por exemplo, traria mais patrocinadores e investimentos para a modalidade, além de valorizar os próprios jogadores’, comentou Teichmann. ‘Desde a aposentadoria do Oscar Schmidt o basquete carece de um ídolo. Precisamos urgentemente de um’, lembrou”.1743 h) Jorge Frantz, outro filho de Cristiano Guilherme, tenente-coronel, nasceu em 24 de maio de 1863 e faleceu em 3 de fevereiro de 1923. Andrius Noronha, que estudou longamente o relevante papel desempenhado pelos Frantz na política e na economia de Santa Cruz, e também na definição do seu perfil cultural e social, deu informações sobre ele: “A família Frantz foi uma das principais lideranças católicas da cidade e consolidou uma estreita relação econômica com as famílias Agnes e Kliemann. Bruno Agnes, por exemplo, fundou sua revendedora Chevrolet com José Miguel Frantz, enquanto que o principal patriarca da família Kliemann, João Nicolau, ajudou a fundar a Caixa Cooperativa de Crédito, futuro Banco Mercantil. O principal integrante dessa família seria Jorge Frantz (1ª geração), que nasceu em 24/05/1863, na Linha João Alves. Sua formação escolar seria típica dos integrantes de sua geração, pois aprendeu a ler e escrever com os pais e depois ingressou numa escola rural organizada pelos jesuítas alemães. “Jorge iniciou sua trajetória profissional na agricultura familiar, na localidade em que nasceu. Após anos de investimentos no fumo e no beneficiamento de banha, sua família conseguiu estabelecer um pequeno comércio de secos e molhados. Em 1912, ingressou como sócio da Caixa Cooperativa de Crédito Santa-Cruzense Ltda., sendo diretor-presidente da instituição entre os anos de 1913 e 1922.

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Ferreira, Edmar. “Guilherme Teichmann conquistou o ouro no Pan de 2007”. História Winner Basquete, 04/05/2011

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A sede da Caixa Cooperativa de Crédito Santa-Cruzense Ltda. Foto em Noronha, op. cit. Ao lado, o antigo palacete de Jorge Frantz. Foto Google Maps.

Família de Jorge Frantz, foto da Gazeta do Sul. Abaixo, mausoléu da família no Cemitério Católico de Santa Cruz, foto de Bruno Pedry.

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“Sua família estendeu os investimentos no comércio urbano e na indústria local, estabelecendo um forte vínculo com empresários protestantes. Jorge comprou um lote de ações da Companhia de Fumos Santa Cruz, em 1923; nesse mesmo ano, foi eleito conselheiro Fiscal da Caixa de Crédito e integrante do Conselho Deliberativo da indústria de cigarros local. “O empresário era filiado ao Partido Republicano Rio Grandense e fez parte da primeira legislatura do Conselho Municipal eleito na era republicana. Ajudou a formular a Lei Orgânica Municipal, em 1895, e foi presidente do Conselho Municipal a partir daquele ano. No Império, integrou a comissão que defendeu o nome de Frederico Guilherme Bartholomay para que este pudesse ter a concessão para investir na construção da estrada de ferro Santa Cruz-Rio Pardo, tendo em vista o vínculo protestante de Bartholomay. [...] “A vila estava engajada na construção de uma linha ferroviária entre essas duas localidades. Esse tipo de concessão, feito pelo imperador, era destinado aos beneméritos cidadãos brasileiros e católicos. Bartholomay teve que contar com apoio de integrantes do PL estadual e o engajamento de políticos católicos locais para obter a concessão para a construção dessa estrada de ferro, que ficaria pronta somente em 1905, 17 anos após seu falecimento. “O processo de concessão foi um exemplo típico de investimento empresarial apoiado numa rede de negociação inter-religiosa. Segundo os documentos da Câmara, em 02 de abril de 1883, os conselheiros enviaram um pedido por escrito a Dom Pedro II com o objetivo facilitar os trâmites legais para a construção da ferrovia (Santa Cruz, 02/04/1883, fls. 147v.), tendo em vista a filiação religiosa do principal acionista, major Bartholomay. Em 15 de setembro de 1885, percebemos uma nova mobilização da elite local, dessa vez mais explícita; o capitão Jorge Frantz, um dos fundadores da Caixa de Crédito, empresário filiado à religião católica, havia defendido que a construção da estrada de ferro entre Rio Pardo e Santa Cruz deveria ficar a cargo do major Frederico Bartholomay (Santa Cruz, 15/09/1885, fls. 22v.). Na reunião extraordinária da Assembleia Provincial foi registrada, após algumas semanas do envio da carta por Jorge Frantz ao presidente da Província, a homologação de recursos estaduais para a construção desse ramal ferroviário a cargo do major Frederico Bartholomay, acionista majoritário do empreendimento. [...] “Em 23 de maio de 1895, foi nomeado sub-intendente do 1º Distrito de Santa Cruz. Em 1903, foi um dos fundadores da União Colonial e da Liga Operária de Santa Cruz, da qual foi eleito primeiro secretário. Em 1915, foi nomeado delegado da Polícia, cargo que exerceu por alguns anos, consolidando assim seu prestígio na burocracia pública local. Entre os anos de 1913 e 1917, foi novamente eleito para o Conselho Municipal, em um período conturbado, tendo em vista o envolvimento do Brasil na I Guerra. Na sociedade civil, fez parte da Comunidade Católica e foi presidente da Sociedade Aliança Católica”. 1744

1744

Noronha (2012), op. cit.

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Casario da Vila Frantz, nas proximidades de Cerro Largo, um dos primeiros núcleos habitacionais da área de Fundão do Ijuí, hoje situada no município de Rolador, e considerada parte do patrimônio histórico da região. Foto Ijuienergia.

Jorge também foi um dos fundadores de Cerro Largo [antiga Serro Azul], abrindo com seu sócio Wilhen Hansen nesta área a Colônia Serro Azul, sendo o seu primeiro diretor, atuando entre 1903 e 1905, trazendo os primeiros suprimentos de medicamentos e contratando a primeira parteira.1745 1746 Hoje ele dá seu nome a uma rua em Cerro Largo e outra em Santa Cruz. Jorge foi casado primeiro com Maria Klafke, nascida em 5 de maio de 1885 e morta em 30 de janeiro de 1890, e depois com Maria Raffler, nascida em 3 de janeiro de 1875 e falecida em 30 de outubro de 1955. Vários de seus descendentes assumiram a variante Franz para o sobrenome. Com a Klafke, Jorge teve os filhos: h1) Maria Frantz (Santa Cruz, 19/02/1886 – Estrela, 04/08/1973), casada Clemente Augusto Ruschel (Estrela, 12/05/1886 – Estrela, 26/06/1948), advogado, filho de Nicolau Ruschel, pais de Marino, Gastão, Rudi e Lauro Ruschel. Lauro casou com Olanda Maria (Nêne) Werlang, tendo os filhos Renato, René, Regis e Aline. h2) Jorge João Frantz (c. 1888 –?). Com a Raffler, Jorge foi pai de: h3) João Carlos Frantz (Santa Cruz, 21/10/1893 – Santa Cruz, 11/01/1956), casado com Maria Barbara Werlang (Santa Cruz, 07/08/1897 – Santa Cruz, 02/04/1934), filha de Guilherme Werlang e Maria Ana Fröhlich. João foi comerciante, proprietário da Frantz Comércio em Geral Ltda., acionista do Banco Mercantil, vereador em 1928-1930,1747 intendente em 1929, membro da Junta Revolucionária de 1930, que deu apoio ao golpe de Getúlio Vargas, 1748 e hoje é nome de rua.

1745

Ramos, Antônio Dari. A Formação Histórica dos Municípios da Região das Missões do Brasil. Instituto Andaluz del Patrimonio Histórico / IPHAN / URI, 2006 1746 Wesz, Mauro M. & Santos, Júlio R. Q. “Colônia Rondinha/Vila Santa Lúcia: migração interna no Rio Grande do Sul e a proposta de integração católica”. In: XXVIII Simpósio Nacional de História. Florianópolis, 2015 1747 Schmidt, op. cit. 1748 Noronha (2012), op. cit.

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Uma notícia no jornal Kolonie dá uma ideia sobre a Junta: O povo deste município, compenetrado da grandeza extraordinária da causa que empolga o Rio Grande do Sul e a Pátria, resolveu organizar, sem distinções de cores partidárias, uma junta revolucionária com o escopo de dar maior eficiência no concurso de Santa Cruz do Sul ao movimento sagrado da Redenção da Pátria, no momento em que se decide o seu destino. Patriotas de Santa Cruz do Sul! O Rio Grande com o seu pró-homens à frente confia no vosso auxílio. Parafraseando a resposta que o presidente do Estado, Dr. etúlio Vargas, deu ao major Plínio Tourinho […] deveis bradar com os que já estão se batendo pela regeneração da República. Bravo! Marchamos com o Rio grande ao vosso encontro, vamos todos, Exército e Povo. Vinde juntar os vossos nomes aos daqueles que já se acham inscritos na lista dos voluntários que vão pagar o seu tributo no campo da honra […]. Santa Cruz, 9 de outubro de 1930. A Junta Revolucionária. [Assinam] José W. Koelzer, Gaspar Bartholomay, Artur G. Fett, Guilherme Hildebrandt, Alfredo Ludwig, Felipe Jacobus Filho, Fernando Werlang, Pedro Corrêa, F. C. Tasch, Ricardo Hoffmann Filho, Artur Jäeger, Marciano L. Ferreira, João C. Frantz, Adão Bapp, Leopoldo Strohschöen e Mario Carneiro.1749 João Carlos e Maria Barbara foram pais de: h3a) Lauro Aloysio Frantz, pai de Sonia Mara,1750 advogada, ativa nas Comarcas de Faxinal do Soturno, Tapes, Ijuí e Porto Alegre, onde exerceu suas funções na Promotoria da Infância e Juventude, nas 4ª e 7ª Varas de Família e Sucessões e no Plantão do Foro Central. Foi promotoracorregedora, procuradora de Justiça, membro do Conselho Deliberativo da Fundação Escola Superior do Ministério Público, vice-presidente Social da Associação do Ministério Público do RS e ouvidora de Serviços da AMP.1751 h3b) Plinio Lúcio Frantz, professor estadual. h3c) Jenny Therezinha Frantz, casada com Albano José Haeser, bancário, pais de Guilherme, bancário. Com ele gerou, até falecer em 2016, 9 filhos, 19 netos e 6 bisnetos. Os filhos foram: h3c1) Virgínia Luiza Haeser, psicóloga (?); h3c2) Ângela Maria Haeser, funcionária do Estado, casada com Paulo Weiss; h3c3) Vinício Teobaldo Haeser, bancário do Banco do Brasil; h3c4) Valkíria Helena Haeser, Sonia Mara Frantz, foto Associação do técnica em processamento de dados, casada com José Fernando Schulte, Ministério Público do Rio Grande do Sul. engenheiro civil; h3c5) Márcia Elisa Haeser, graduada em Letras, especializada em Literatura, mestre em Lingüística e professora do Instituto Fayal de Ensino Superior; h3c6) Carlos Guilherme Haeser, bancário do Banco do Brasil;

1749

“Junta Revolucionária”. Kolonie, 10/10/1930 “Nota de falecimento”. Associação do Ministério Público do Rio Grande do Sul, 26/06/2007 1751 “Procuradora de Justiça Sonia Mara Frantz se aposenta”. Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul, 31/07/2008 1750

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h3c7) Isabel Cristina Haeser, professora municipal, casada com um Iserhard; h3c8) Ana Karina Haeser, corretora de imóveis, e h3c9) Lúcio Flávio Haeser, repórter, redator, editor e coordenador de jornalismo em veículos de comunicação do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Distrito Federal; fundou e presidiu a Associação Rádio Comunitária Campeche, de Florianópolis,1752 escreveu um livro contando a história da Rádio Continental,1753 e foi coordenador de Jornalismo da Diretoria de Jornalismo da Empresa Brasileira de Comunicação em Brasília. 1754 Continuando com os filhos de João Carlos e Maria Barbara, ainda temos: h3d) Albano Amaro Frantz. h3e) Paulo Roque Frantz, contador, secretário do Gabinete Executivo do Partido Libertador,1755 casado com Edina Solon. h3f) Ivone Amália Frantz, casada com um Melchiors. h3g) Norberto Bernardo Frantz entrou para a Aeronáutica e mudou-se para Curitiba, onde se formou em Farmácia. Trabalhou muito tempo como farmacêutico das Forças Armadas. Deixou 6 filhos, 13 netos e 2 bisnetas.1756 h3h) Benícia Maria Frantz, ex-corretora de provas da redação da Gazeta do Sul, casada com Hugo Guilherme Muller, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias do Fumo e Alimentação de Detalhe do campus da UNISINOS, foto Almanaque da Comunicação. Santa Cruz do Sul e Região,1757 hoje residentes no Rio, com geração. h3i) Theobaldo Frantz, padre, escritor, conselheiro educacional, um dos fundadores da Associação Nacional de Professores de Administração Escolar, entidade que surgiu com o objetivo de “sistematizar conhecimentos e práticas de administração do ensino, de defender e valorizar os pesquisadores e docentes de gestão escolar nos meios acadêmicos e de conceber estratégias políticas e organizacionais para um novo sistema nacional de educação, comprometido com a educação popular e a preparação dos trabalhadores para o desenvolvimento industrial”, desencadeando um amplo debate que levou à promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1961.1758 Foi ainda reitor da UNISINOS e responsável pelo início da construção do seu atual campus,1759 sendo hoje nome de rua e nome de um Fundo da UNISINOS que concede bolsas de estudo que visam qualificar professores do Ensino Básico, fomentar a formação em nível de Pós-Graduação Estrito Senso, e desenvolver de pesquisas na área do desenvolvimento social.1760

1752

Senado Federal. Projeto de decreto legislativo nº 266, de 2005 "Notícias de Dezembro de 2008". De Olhos e Ouvidos, dez/2008 1754 EBC. Portaria Presidente nº 924/2014 1755 “Panorama Político”. Diário de Notícias, 11/06/1958 1756 “Falecimentos”. Gazeta do Povo, 14/11/2008 1757 “Uma forma de acompanhar a vida longe de Santa Cruz”. Gazeta do Sul, 26/01/2016 1758 Associação Nacional de Política e Administração da Educação [Sander, Benno]. Relatório de Gestão 2006-2011: sonhos e realizações. Biblioteca ANPAE – Série Cadernos ANPAE, n. 12, 2011 1759 UNISINOS. Histórico. 1760 UNISINOS. Fundo Pe. Theobaldo Frantz. 1753

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Depois João Carlos casou mais duas vezes, com Adelaide Klafke, filha de Johann Karl Klafke e Anna Catharina Winck, e com Neuza Maria Souza, sem geração. h4) Eugênio Henrique Frantz foi médico, vice-prefeito e benemérito de Cerro Largo, em 1º de maio de 1941 fundou o Hospital Santo Inácio de Loyola, do qual foi proprietário e diretor, falecendo em 1956, depois batizando uma escola e uma rua.1761 1762 1763 1764 Eugênio Henrique casou-se com a professora Berta Maria Duren, nascendo cinco filhos:1765 h4a) Bruno Alberto Frantz, médico,1766 por três anos presidente do Aurora Futebol Clube,1767 e nome de rua, h4b) Rodolfo Henrique Frantz, vice-prefeito e depois prefeito de Cerro Largo (1969-1973), um dos promotores da fundação da Associação dos Municípios das Missões,1768 1769 e nome de uma avenida, h4c) Irma Frantz, h4d) Eugênio Adalberto Frantz, médico e a partir de 1956 sucessor do pai na administração do hospital que ele havia fundado,1770 e h4e) Ilse Ana Frantz, casada com um Grillo, em 2015 era presidente da Associação de Voluntários da Saúde da Maternidade Carmela Dutra, de Florianópolis, entidade homenageada pela Assembleia Legislativa de Santa Catarina pelos seus 60 anos de atividades beneficentes.1771

Eugênio Henrique Frantz. Foto da Escola Eugênio Frantz.

Em Cerro Largo também se fizeram notar Isidor Frantz, o primeiro professor,1772 o frei Arthur Frantz, outro professor, e Jacob, presidente da Associação dos Agricultores no início do século XX, de quem o padre Inácio Spohr falou: “Ao seu zelo, seu comunicativo procedimento e sábia administração e prudência, devemos agradecer que, já nesta época, Serro Azul dava sinais de uma promissora florescência. Teve grande interesse pelo bem-estar da colônia”.1773

1761

Ramos, Antônio Dari (org.). A Formação Histórica dos Municípios da Região das Missões do Brasil. IPHAN, 2006 Escola Estadual de Educação Básica Eugênio Frantz. Eugênio Henrique Frantz. 1763 “Cerro Largo comemora 55 anos de emancipação”. Rádio Caibaté, 01/03/2010 1764 Donel, Flavia; Scher, Raquel Cristiane & Oliveira, João Helvio Righi de. “Análise Custo/Benefício no Tratamento de Resíduos Hospitalares Estudo de Caso”. In: XXVI Encontro da Associação Nacional dos Programas de Pósgraduação em Administração, Salvador, 2002 1765 Escola Estadual de Educação Básica Eugênio Frantz. Eugênio Henrique Frantz. 1766 FAMED – UFRGS. Formados do Curso de Medicina. 1767 Aurora Futebol Clube Cerro Largo. 1953/1954/1955-Bruno Alberto Frantz-Presidente 1768 Prefeitura Municipal de Cerro Largo. Ex-prefeitos. 1769 Associação dos Municípios das Missões. Histórico - Missões e AMM. 1770 Donel, Scher & Oliveira, op. cit 1771 “Maternidade Carmela Dutra é homenageada na Assembleia Legislativa”. Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina, 03/10/2015 1772 Strieder, Dulce Maria. As relações entre a cultura científica e a cultura local na fala dos professores: um estudo sobre as representações do ensino de ciências em um contexto teuto-brasileiro. Tese de Doutorado. USP, 2007 1773 Spohr, Inácio. Cerro Largo, Cerro Largo – RS: Paróquia Sagrada Família de Nazaré - Seminário São José: Presença dos jesuítas de 1902 a 1956. Província do Brasil Meridional da Companhia de Jesus, 2013 1762

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Escola Estadual de 1º Grau Eugênio Frantz. Foto do blog da Escola. Abaixo, casamento de José Antônio Frantz e Lina Kühas em 1927, Ijuí. Foto Zero Hora.

h5) José Antônio Frantz (Santa Cruz, 25/08/1895 – Ijuí, 11/04/1956), médico, transferiu-se para Ijuí em 1925, onde abriu uma popular fábrica de cal. Lá casou com Lina Kühas, de família tradicional, tendo três filhos, sendo um dos fundadores do ramo Frantz de Ijuí. Ganhou estima como pessoa extrovertida e comunicativa. Presidiu a Sociedade Ginástica, o Tênis Clube, um grupo de bolão, foi benemérito da Igreja Matriz, do Hospital de Caridade, da Escola Normal, da Colônia Modelo e da Caixa Rural. Envolveu-se na política e chegou a ser vice-prefeito de Ijuí.1774 1775

1774

Madeira, Rafael Machado & Gerardi, Dirceu André. “Descomprimindo Tendências: Os embates intrapartidários no interior da ARENA e MDB em eleições municipais gaúchas (1968-1976)”. In: Cuarto Congreso Uruguayo de Ciencia Política, “La Ciencia Política desde el Sur”. Asociación Uruguaya de Ciencia Política, 14-16/11/2012 1775 “José Antônio Frantz”. Correio Serrano, 19/10/1973

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A fábrica de José Antonio Frantz, foto blog Ijuí, sua História e sua Gente

Em 1995 José Antônio foi lembrado em ato na Assembleia Legislativa do Estado como um dos fundadores da cidade, onde é nome de rua. Na ocasião, o deputado Waldir Heck disse que a homenagem quis honrar “aqueles homens e mulheres que construíram o trabalhismo em Ijuí, que, com o apoio e a colaboração de seus familiares, mudaram a realidade de um município”.1776 Também merecem nota nesta cidade, entre outros, Maria Helena Frantz, uma das fundadoras do Círculo dos Escritores de Ijuí,1777 Walter Frantz, reitor da Unijuí;1778 e Telmo Rudi Frantz, reitor da Unijuí e vice-reitor de pesquisa e pósGraduação por oito anos, reitor da UniRitter em Porto Alegre, secretário de Estado da Ciência e Tecnologia entre 1995 e 1998, agraciado com a Medalha Cidade de Porto Alegre.1779 1780

Telmo Frantz recebendo o diploma da Medalha Cidade de Porto Alegre, foto UnRritter. 1776

Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul. 70ª Sessão Ordinária, 16 de agosto de 1995. Círculo dos Escritores de Ijuí. Fundadores. 1778 “Ex-reitor Walter Frantz, da Unijuí: Campus da UFFS se justifica em Ijuí”. Ijuhy.com, 26/03/2014 1779 “Telmo Rudi Frantz é o novo reitor da UniRitter”. Jornal do Comércio, 10/07/2013 1780 “Telmo Frantz receberá homenagem em Porto Alegre”. Ijuhy.com, 26/03/2014 1777

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Edwino Schröder, José Antônio Frantz, Joaquim Pôrto Vilanova, Alberto Hoffmann, Dr. Solon G. da Silva e João Azambuja em debate pré-eleitoral em 1947. Foto blog Ijuí e sua História.

A visita do Presidente do Estado de Santa Catarina Dr. Adolfo Konder (marcado em azul) em maio de 1929. Ao lado de Konder aparece João Guilherme Werlang (esposo de Aluysia Catarina Frantz, marcado em amarelo). Colônia Porto Novo, Itapiranga, Santa Catarina, foto Editora Werlang.

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h6) Aluysia Catarina Frantz (Santa Cruz, 12/10/1898 – Porto Alegre, 16/06/1976), tradutora de partes do Diário de Campanha do capitão Pedro Werlang, foi casada com João Guilherme Werlang, filho de João Werlang e Christina Brixius, comerciante e industrialista, gerente da Caixa Rural União Popular de Santa Cruz do Sul, membro fundador da Colônia Porto Novo (Volksvereinkolonie) em Santa Catarina, atuou na parte técnica da firma F. Werlang & Cia. de Santa Cruz do Sul nas décadas de 1920-1930 e em 1932 fundou em Porto Alegre o Laboratório Sanifer, com dois produtos: Elixir Iodado Vegetal e Ungüento Sanifer.1781 Foram pais de h6a) Arthur José Werlang (Santa Cruz, 12/10/1924 – Santa Rosa, 13/10/1968), sócio da Werlang & Werlang Ltda. hoje Brasão Werlang nome de uma rua, casado com Arlinda Knecht, com geração. h6b) Yolanda Terezinha Werlang (Santa Cruz, 26/01/1926 – 2003), médica, casada com com Günther Ott e mãe de Rolf. h6c) Adroaldo Antônio Werlang (Santa Cruz, 08/11/1928 –?), farmacêutico, casado com Dulce Einsfeld, com geração, e depois com Maria Antonia Aquino Pereira, sem geração conhecida. h6d) Albano Alberto Werlang (Santa Cruz, 01/03/1931 –?), casado com Regina André Puente de Azambuja, com geração. h6e) Ilse Maria Werlang (Porto Alegre, 20/09/1934 –?), casada com João Marazita, sem geração conhecida. h6f) Armando Pedro Werlang (Porto Alegre, 26/12/1943 –?), sócio do Laboratório Lanifer, casado com Ceres Maria Pacheco, pais de h6f1) Amanda Werlang (Porto Alegre, 15/07/1979) e h6f2) Carlos Fernando Werlang (Porto Alegre, 05/03/1982). h7) Jorge Guilherme Frantz (Santa Cruz, 15/09/1897 – São Leopoldo, 02/10/1957), casado com Alzira Hilda Santos, pais de h7a) Clari Frantz, casada com o industrial Armando Storck, e h7b) Lygia Emília Frantz, casada com Mário Manoel Schlemm Ramos, tenente-coronel comandante do 1º Batalhão Ferroviário, empenhado na construção da linha Roca Sales-Passo Fundo, na troca de trilhos no trecho Mafra-Lages, na recuperação de pontos críticos no trecho Lages-Coronel Buarque, e no lançamento da infra-estrutura e linha de comunicações do trecho Itapeva-São Paulo.1782 Lygia e Mário foram pais de: h7b1) Mário Luiz Frantz Ramos, coronel, foi comandante do Batalhão Escolar do Colégio Militar de Porto Alegre,1783 casado com Eliana Aparecida Gomes da Silva, gerando Mariana, empresária. h7b2) Fernando Manoel Ramos, graduado em Engenharia Mecânica e mestrado em Information Studies na Loughborough University of Technology, professor de Mecânica do Instituto Federal de Brasília, coordenador de Inovação Tecnológica do Campus Taguatinga, diretor de Negócios da DATAPREV,1784 relator do Workshop de Educação Corporativa do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.1785 h7b3) Maria Isabel Frantz Ramos, comunicadora Visual com mestrado em Psicologia pela Universidade de Brasília e mestrado em Ilustração Artística pela Universidade de Évora em parceria com o Instituto Superior de Educação e Ciências de Lisboa, desenhista filatélica para

1781

Editora Werlang. Ramo de João Guilherme Werlang. Prado, Emanuel Marcos Cruz. 10º Batalhão de Engenharia de Construção. Clube de Autores, 2009 1783 Associação dos Amigos do Casarão da Várzea. Colégio Militar de Porto Alegre. 1784 Câmara dos Deputados. Audiência Pública n° 697/02, 26/06/02 1785 Ministério da Educação / Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Workshop de Educação Corporativa, 2003, 1782

507

O embaixador Jorge José Frantz Ramos (esquerda) na entrega das suas credenciais diplomáticas ao primeiroministro da Albânia Ilir Meta. Foto Agjencia Telegrafike Shqiptare.

os Correios do Brasil, chefe da Seção de Mídias Interativas da Coordenadoria de Multimeios do Superior Tribunal de Justiça em Brasília.1786 h7b4) Jorge José Frantz Ramos, diplomata de carreira, conselheiro da Embaixada do Brasil em Estocolmo,1787 cônsul-geral adjunto do Brasil em Milão,1788 embaixador na Albânia e no Mali,1789 1790 e recipiente da Grã-Cruz da Ordem de Rio Branco.1791 h8) Francisco José Frantz, outro filho de Jorge, nasceu no dia 23 de março de 1917, e seria personalidade de vasta influência em Santa Cruz, chegando a comandar o que se tornou o maior jornal da região, ainda em atividade. Noronha fala sobre ele: “Sua trajetória ocorreu toda na cidade de Santa Cruz do Sul. [...] Foi uma das principais lideranças católicas de Santa Cruz. A formação escolar de Francisco foi típica de um membro de elite do interior do Rio Grande do Sul. Estudou no curso de Perito Contador do Colégio Marista São Luis, com colação de grau no início de 1930, período em que aquela formação figurava entre as mais altas da elite local. Sua trajetória profissional iniciou no comércio e foi reconvertida no meio de comunicação local.

1786

Currículo Lattes. Maria Isabel Frantz Ramos Ministry of Foreign Affairs Riga. The Diplomatic List, 2008 1788 Ministero degli Affari Esteri. Consolati Esteri ed Onorai in Italia, 24/02/2004 1789 “Senado aprova indicação de Jorge José Frantz Ramos para o cargo de embaixador do Brasil na Albânia”. TV Senado, 17/12/2013 1790 Calgaro, Fernanda. “Com receio de ataque terrorista, embaixador do Brasil no Mali evita locais de muita aglomeração”. UOL, 17/01/2013 1791 Ministério das Relações Exteriores - Cerimonial. Ordem de Rio Branco. Condecorados de 2009 a 2012 1787

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Foto em Noronha, op. cit.

“Francisco participou da fundação do jornal Gazeta de Santa Cruz, [depois Gazeta do Sul] em janeiro de 1945, Ver nota 1792 dando início a uma sólida carreira nos meios de comunicação locais. Vale destacar que a abertura do jornal foi realizada por meio de uma poderosa rede local de famílias de empresários católicos, como o médico Arthur Carlos Kliemann, filho de João Nicolau Kliemann, e protestantes, como Rolf Bartholomay, filho de Gaspar Bartholomay”. 1793 Seu biógrafo Guido Kuhn acrescenta: “Nada parecia indicar nele uma vocação para humanidades, muito menos jornalismo. Ex-funcionário da Souza Cruz, tinha-se associado a Willy Carlos Froehlich e ao cunhado Leopoldo Morsch no escritório contábil conhecido como Soteca, [...] anexo ao qual também funcionavam uma carteira de seguros e a sede da Associação do Comércio, Indústria e Agricultura, da qual era secretário geral. Foi ali que nasceu o jornal, e foi ali a sua sede nos primeiros tempos”. 1794 Noronha continua: “Na década de 1960, Francisco ascendeu à direção do jornal e ampliou a atuação da família no setor financeiro local; o tio Jorge Frantz [Noronha se engana, Jorge era pai de Francisco José] foi diretor da Caixa de Crédito Santa-Cruzense, enquanto que ele foi conselheiro e acionista da Caixa Rural União Popular, uma instituição financeira fundada por empresários católicos que evoluiria para o Banco Sicredi S/A. Ver nota 1795 Na

1792

Segundo informa a própria Gazeta, Francisco liderou a fundação. Noronha (2012), op. cit. 1794 Kuhn, Guido Ernani. Um homem de fibra: Francisco J. Frantz & outras memórias. Gazeta de Santa Cruz, 2007 1795 A União Popular era propriedade das famílias Agnes, Frantz e Mergener. 1793

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sociedade civil, Francisco foi diretor da Associação Comercial e Industrial, na década de 1960; além disso, fez parte da Diretoria do Clube Aliança Católica. [...] “O jornal Gazeta de Santa Cruz foi identificado como o principal meio de comunicação local, dirigido por integrantes reconhecidos como lideranças tanto na política quanto na economia. Esse jornal, na década de 1940, publicou múltiplas reportagens referentes à comemoração do centenário da cidade. Vale destacar que nessa época ele era dirigido por dois integrantes de famílias tradicionais, Arthur Carlos Kliemann e Rolph Henry Bartholomay. “Havia também um conselho editorial constituído por integrantes ‘beneméritos’ que eram reconhecidos localmente. Esse grupo foi um dos principais formadores da opinião pública de Santa Cruz do Sul na década de 1940: Alfredo Scherer, Jorge Frantz, Oswaldo Hennig, Bruno Agnes e Arthur Germano Fett. Em abril de 1947, eles constituíram a comissão de organização da Festa do Centenário de Santa Cruz do Sul (1849-1949) que, no mês seguinte, elaboraria uma lista das principais empresas da cidade. Um artigo de memória que descrevia a trajetória resumida dos 76 estabelecimentos julgados pela comissão como ‘Firmas Tradicionais’, publicado em 9 de maio de 1947, trouxe uma ampla recuperação da memória das empresas e das famílias proprietárias listadas pela comissão. [...] “Assim, entendemos que esse universo social representaria o retrato mais próximo do que queremos chamar de ‘elite econômica local’ ”.1796 Em sua dissertação de Mestrado Noronha também trouxe dados valiosos. 1797 Ele começa citando Minuzzi: A exemplo de outras empresas de comunicação, a Gazeta também trabalha discursivamente no sentido de instituir uma espécie de aura em torno daqueles sujeitos que lhes deram origem. Assim, Frantz é apresentado como um intelectual, um homem das letras, dono de vasta cultura. E é também colocado como o semeador de valores editoriais pelos quais o jornal se orienta desde sempre, como “liberdade de e pressão” e “comprometimento comunitário”. (Minuzzi, 2002:134) “O valor comunitário apontado por Minuzzi, sempre orientou a Gazeta nas estratégias de legitimação perante a sociedade de Santa Cruz do Sul. Esse discurso também era utilizado pela elite política e econômica da comunidade. A elite política percebia a importância desse instrumento para suas aspirações eleitorais, pois a visibilidade era crucial, tanto para mostrar credibilidade quanto para facilitar a identificação do eleitor. Mesmo quando o MDB começou a ganhar posições na Câmara de Vereadores, o jornal normalmente dava maior abertura para as candidaturas da ARENA. O diretor do jornal, Francisco Frantz, ocupava a Diretoria da ACI na década de 1960, o que aproximava muito a Gazeta dos posicionamentos da elite industrial e comercial de Santa Cruz do Sul.

1796

Noronha (2012), op. cit. Noronha, Andrius Estevam. Instituições e Elite Política de Santa cruz do Sul no Contexto de Internacionalização da Economia Fumageira (Décadas de 1960 e 1970). Dissertação de Mestrado. Universidade de Santa Cruz do Sul, 2006. 1797

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“Sua postura política e ideológica no período da ditadura militar foi de adesão automática, reproduzindo o discurso anti-comunista muito comum na imprensa brasileira dos anos de 1960 e 1970. Os argumentos construídos pela Gazeta em relação ao AI-2 mostram a visão de que o multipartidarismo implicaria em conflitos e quebraria a harmonia comunitária que a crise dos anos de 1961 e 1964 colocara no jogo político do Brasil. O diretor, Francisco Frantz, que escreve um artigo de apoio à implantação do AI-2, é o mesmo que apoiou o movimento pela Legalidade em setembro de 1961, sendo parte da Comissão Pró-Resistência Democrática. Reproduzimos o seu artigo na íntegra: Proliferação Partidária O contato com inúmeras pessoas, das mais variadas tendências, classes e posição, convence-nos de que, por certo, poucas foram as lágrimas derramadas por ocasião do Francisco José Frantz na capa do livro de Guido Kuhn. sepultamento dos partidos políticos que, mais do que bem público, vinham servindo aos interesses de grupos, da sua clientela e os das agremiações. Sempre acontece assim quando proliferam os partidos políticos. Os interesses do país que se danem e somente são considerados em último plano. Quando o número de partidos na Alemanha chegou a 80, o país ficou maduro para cair nas mãos de um bando de doidos. O Brasil, mais feliz, foi salvo à undécima hora pela coesão e intervenção das Forças Armadas. Para que administrar bem a cousa pública se, às vésperas do pleito, se apresenta a oportunidade bem cômoda de fazer um conchavo eleitoral? Das agremiações que aqui abundavam sempre haverá algumas dispostas a explorar rendosamente o seu papel de fiel de balança no pleito. Reorganizando a vida partidária em bases mais sadias, cogitasse, inclusive, extirpar esse mal, limitando-se o número de agremiações partidárias. Existem duas tendências. A que prevê apenas dois partidos e a que entende que três agremiações partidárias seria o ideal. Segundo o nosso entender, dois partidos apenas deveriam existir. Um no governo e outro na oposição. O fiel de balança no pleito seria então, o voto do eleitor não partidário. O partido no governo, esforçando-se para administrar bem e, assim, permanecer no poder. E a oposição dando a sua colaboração em forma de fiscalização. “Tanto o editorial do jornal quanto o artigo de Franscisco Frantz se apóiam no discurso do autoritarismo corporativista e comunitário, vinculando a ética do trabalho e anulando as diferenças que a política nacional estava vivenciando com o sistema multipartidário. Engloba também os ‘interesses gerais’ de toda a sociedade brasileira, evoca a manutenção da ‘ordem’, da ‘fiscalização’. O posicionamento da Gazeta 511

constrói a tese de que, uma vez comprovada a ineficiência do regime democrático (1945-1964), o golpe promovido pelos militares seria a salvação do país. “É certo que, em Santa Cruz do Sul, o jornal Gazeta proporcionava um espaço direto de comunicação entre a comunidade e a elite política. O engajamento político de Francisco Frantz era fundamental para o crescimento eleitoral de qualquer político na cidade”. 1798 Guido Ernani Kuhn também deixou uma apreciação do personagem no livro que escreveu sobre ele: “Inserido em sua época, o jornalista Francisco J. Frantz, usando como arma o seu jornal e como munição o seu próprio ânimo, foi conselheiro habitual de autoridades e se postou, sempre diligente, na primeira linha do desenvolvimento local e regional. Do convívio com este guerreiro da ética e da moral, trago para a vida uma lista bem grande de ensinamentos, junto com uma bagagem de vários episódios interessantes, pitorescos e ricos em conteúdo histórico e formativo. Também trazendo as suas fraquezas humanas, comuns a todas as pessoas, ele mesmo não se considerava nem melhor nem pior do que ninguém, embora sempre deixasse claro que sua espinha não era dobrável. “É preciso reconhecer que ele era único, pelo estilo próprio, pela combatividade, pela reação explosiva a certos fatos e atitudes, pelos valores que defendia, pela forma como colocava o jornal a serviço do interesse comum, sem nunca abrir mão de tomar ele próprio as mais importantes decisões, e pelo respeito que devotava a todas as pessoas, sem distinção, mas muito especialmente aos mais humildes. Ele era, ao mesmo tempo, pai e mestre. Era manso, mas era leão. [...] “Não era apenas um homem alto, mas altivo, de personalidade, que chamava a atenção. Inspirava respeito, às vezes receio, quase sempre admiração. Costumava falar alto, seja para reclamar de alguma coisa, seja para falar amenidades, seja ainda para receber e abraçar os amigos que vinham até o jornal, a quem saudava invariavelmente com o brado de sua marca: ‘Olááá!... Como vai o amigo? Forte e rijo?’. Quando fechava a porta de seu gabinete para receber uma visita pessoal, sua voz era sempre ouvida do lado de fora, sem que se precisasse encostar o ouvido na fechadura. Aliás, ele dificilmente falava alguma coisa que não pudesse ser ouvida. E nem seria necessário escutá-lo pelo buraquinho, porque logo em seguida ele vinha contar tudo, compartilhando idéias e conversas com sua equipe. Seu Frantz, era assim que o chamávamos. Nosso amado diretor, diziam alguns amigos. Schloka, para os mais íntimos. Poucos o chamavam de Francisco. Para nós, ele dizia carinhosamente ‘meus colaboradores’. Apesar de falar alto, e muitas vezes em tom grave, ele era, acima de tudo, um homem simples, que conhecia os próprios limites e sabia respeitar todas as opiniões. ‘Aqui não deve prevalecer a opinião do diretor, mas sempre o melhor argumento’, costumava dizer”. 1799 Francisco José recebeu a Medalha do Pacificador, concedida pelo Exército Brasileiro, por relevantes serviços prestados, foi fundador da Associação de Diretores de Jornais do Interior, membro da Associação Riograndense de Imprensa e do Sindicato das Empresas Proprietárias de Jornais e Revistas do Estado do Rio Grande do Sul. Durante muitos anos atuou no Rotary 1798 1799

Noronha (2006), op. cit. Kuhn, op. cit.

512

Centro de Cultura Jornalista Francisco José Frantz. Foto da Prefeitura.

Clube e no Conselho do Plano Diretor de Santa Cruz do Sul, e foi, ainda, fundador e diretor do Conselho Municipal de Clubes 4-S, que atuava junto à juventude rural. Diz Kuhn que quando faleceu, em 15 de junho de 1981, a cidade parou para acompanhar o enterro. Hoje é nome de rua e do Centro de Cultura de Santa Cruz, instalado no prédio histórico da antiga Estação Férrea. Casado com Nelly Emma Schütz, que após sua morte passou a ser diretora-presidente do jornal, teve com ela duas filhas, Beatriz e Ângela.1800 h9) Maria Julita Frantz, também filha de Jorge, casou com Alfredo José Kliemann, grande empresário, coletor federal de impostos, escrivão da Justiça Federal, e primeiro prefeito da fase democrática pós-Estado Novo, eleito em 1947, num período em que o fumo, principal fonte de divisas de Santa Cruz, estava em alta no mercado internacional, fazendo uma carreira marcada por grandes obras. Hoje Alfredo é nome de uma escola e uma rua. Desse matrimônio nasceram seis filhos e 19 netos, formando uma família que seguiu em geral os passos dos fundadores, sendo empresários, políticos e personalidades de prestígio. Diz Noronha que “foi Arthur Kliemann quem, investindo no setor de comunicação e fortalecendo a rede articulada com a família Frantz e o filho do coronel Gaspar Bartholomay, o advogado protestante Rolph Herry Bartholomay, além de outros, deu origem em 1945 ao Gazeta de Santa Cruz, que substituiu o tradicional Kolonie e antecederia o Gazeta do Sul. Arthur foi diretor do jornal juntamente com Rolph até o início de 1950, quando passou o negócio para Francisco José Frantz”. 1801

1800 1801

Kuhn, op. cit. Noronha (2012), op. cit.

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Família de Philipp Heuser em suas bodas de prata. Fila do fundo: Alfredo Heuser, Oscar Heuser, Wanda Heuser, Paul Ullman e Henrique Heuser. Fila do meio: Felipe Eugênio Heuser, Eugenia (Jenny) von Schwerin, Philipp Heuser e Alice Heuser. Na frente: Jenny Ullman (?), Emilio Heuser (?) Martha Ullman (?). Coleção de Carlos A. Heuser.

Finalizando o ramo de Jorge, ainda temos: h10) Cacilda Frantz (Santa Cruz, 14/01/1920 – ?), casada com Arno José Bohrer. h11) Marieta Ana Frantz (Santa Cruz, 20/01/1906 – ?), casada com Felipe Eugênio Heuser, filho de Philipp Heuser e Eugenia (Jenny) von Schwerin. Seus filhos foram h11a) Jenny Iris Heuser (fal. 05/11/2009), casada com o pastor Egon Michael Koch, sem geração, e h11b) Norbert Heuser. h12) Anna Guilhermina Frantz (Santa Cruz, 14/03/1908 – ?), casada com o irlandês Patrick Joseph Fairon, diretor-presidente da Companhia Brasileira de Fumo em Folha,1802 depois de 1928 proprietário do antigo palacete de Jorge Frantz, pais de Moina Mary, escritora, casada com um Rech.1803 A Zero Hora publicou uma matéria sobre Moina: “Numa cidadezinha, cercada por verdes morros, no interior do Rio Grande do Sul, uma menininha de cabelos dourados observa, quase imóvel, duendes e fadas saltarem de dentro de pesados livros. Na sua biblioteca encantada, príncipes duelam com dragões para defender suas amadas e fadas acenam delicadamente para a garotinha, de graciosos olhos azuis.

1802

“Companhia Brasileira de Fumo em Folha. Ata da Assembleia Geral Extraordinária realizada em 4 de outubro de 1951”. Diário Oficial da União, 24/10/1951 1803 Borowsky, José Augusto. “As procissões no passado de Santa Cruz”. Gazeta do Sul, 25/05/2016

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Moina Fairon Rech, foto Zero Hora.

“Essas mágicas lembranças poderiam muito bem estar até hoje guardadas apenas na memória dessa santa-cruzense, que cresceu e se tornou avó. Mas foi a curiosidade de seus netos, que não entendiam como era possível ser criança sem televisão e videogame, que fez Moina Fairon Rech, 79 anos, pensar que suas memórias poderiam ser perdidas. E assim, numa história que nem essa avó cheia de criatividade poderia imaginar, Moina se tornou escritora. – Hoje eu penso nas coisas que gostaria de perguntar para o meu pai, para minha mãe. Eu sempre tinha essa mania de querer saber, mas tem muito mais coisas que eu poderia ter perguntado. Mas nunca me passou pela cabeça escrever um livro – confessa a autora, que hoje já está em sua oitava obra. “Bastou um lápis e um caderno para que as lembranças de uma menina arteira, que lia até bula de remédios e sonhava com bosques encantados, começassem a despertar. As histórias das tias, das quermesses e até dos desafios para saber quem provava todas as cascas de árvores (até mesmo de cinamomo) foram ganhando espaço na imaginação e no papel. – O livro foi se escrevendo praticamente sozinho – recorda. “Com o calhamaço de histórias pronto, Moina só pensava em imprimir e entregar tudo aos netos. Mas a insistência de uma amiga mudou o rumo da história: – Ela olhou para mim e disse: “Por que tu não publicas? Mesmo que não venda, te dá esse presente”. 515

O palacete de Jorge Frantz, depois de Patrick Joseph Fairon. Foto Gazeta do Sul.

“Não só vendeu como esgotou a edição. O livro Uma Janela para o Passado se transformou em fonte para aqueles que querem conhecer como era a Santa Cruz do Sul entre os anos 1935 e 1945, tudo pela ótica de uma menina peralta. Desde então, os personagens não pararam de surgir . – É como abrir uma porta. Eles vêm assim sem convite, nem nada. Vão entrando, se aboletando e chamando a atenção. Parece que eles querem me dizer alguma coisa, eu pergunto: o que tu queres? Enquanto não escrevo, eles não sossegam– brinca. Escritora na hora certa “Filha de pai irlandês, Moina herdou alguns costumes celtas, como a ideia de que tudo na vida passa por círculos. Para ela, tudo acontece no tempo certo, como nos contos de fadas. O círculo da maternidade se fechou quando os três filhos saíram de casa, e o das aventuras se encerrou comas viagens ao lado do marido. Outro ciclo percorrido, o das artes, garantiu a técnica para pintar os inúmeros quadros espalhados pela casa e para ilustrar seus livros. “Esse foi fechado com as portas do seu ateliê. O círculo mais recente, que permanece aberto, é o da literatura. Escritora homenageada na Feira do Livro de Santa Cruz do Sul, que ocorre em agosto, Moina lança em abril seu novo livro, A Casa do Bosque. Produzida pela neta Daniela Rech, a capa já adianta uma história cheia de magia e suspense, ambientada numa pequena cidade em que uma menina herda a casa de uma tia. 516

“A prova de que o círculo da literatura na vida desta escritora inquieta ainda vai demorar para se fechar é uma nova obra, que tem ocupado seu tempo. Todos os dias, com sua xícara de café, ela senta-se em frente ao computador para se dedicar a esse prazeroso mundo literário. Ali, Moina pode ser avó, menina, princesa e o que mais ela puder imaginar. Uma nova trama já está sendo contada dentro desta casa, entre as montanhas frias do Rio Grande do Sul. Mas esta já é outra história”.1804 h13) Mario Frederico (Santa Cruz, 29/12/1910 – 30/05/1945), casado com Irma Waechter. h14) Jorgina Maria (Santa Cruz, 04/09/1913 – ?), casada com Leopoldo Morsch, “pessoa influente e marcante em diversas atividades importantes na comunidade santa-cruzense e regional”, hoje nome de rua. A Câmara de Santa Cruz justificou a homenagem: “Nasceu em Vila Theresa, então 2º Distrito de Santa Cruz do Sul, hoje Município de Vera Cruz. Filho de Jacob e Anna Morsch, nasceu em 24 de fevereiro de 1917. Casado com Jorgina Maria Frantz, teve os filhos: Carlos Alberto Morsch, médico; Jorge Arthur, advogado em Porto Alegre; Maria de Lourdes Morsch, professora de técnica vocal; Silvia Maria Morsch, professora; João Geraldo Morsch, engenheiro químico; e Maria Luisa Morsch, de lidas domésticas. “Trabalhou na Caixa Rural em 1932, aos 15 anos, trabalhando como auxiliar. Estudou no Curso de Guarda-Livros no Colégio Leopoldo Morsch, à esquerda, e Alfredo Zimmer, na fundação da Mauá, formando-se em 1937. Fez o curso Faculdade de Ciências Contábeis, quando Morsch foi eleito seu de Ciências Políticas e Econômicas na primeiro diretor. Acervo da Editora da Universidade de Santa Cruz Pontifícia Universidade Católica, em Porto do Sul. Alegre, formando-se em 1947. Foi Diretor da Cooperativa de Crédito Caixa Rural União Popular de Santa Cruz do Sul de 1952 a 1974, ou seja, numa período de 22 anos. Sócio-fundador da Gazeta do Sul, foi ainda um dos fundadores da Associação Comercial e Industrial de Santa Cruz do Sul. “Voltando aos problemas da terra, através da Caixa Rural, preocupou-se com a fixação dos colonos na terra, problema que continua ainda nos dias de hoje. Porém, agindo de forma prática e objetiva, empenhou-se para criar em Linha Santa Cruz uma escola chamada de Centro de Treinamento Agrícola, visando preparar os filhos de agricultores. Foi presidente da Frente Agrária Gaúcha, em 1960, demonstrando mais uma vez a sua preocupação com a colônia. Acabou sendo, também, grande incentivador para a criação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santa Cruz do Sul e após a sua criação, em 01/07/62, deu continuidade ao trabalho, ajudando na sua organização e dirigindo as assembléias até a sua plena consolidação, que deu-se em 1970. 1804

Mendes, Letícia. “As histórias da vovó Moina”. Zero Hora, 14/03/2011

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“O Dr. Leopoldo Morsch também teve atuação destacada no ensino, sendo por muitos anos professor no Colégio São Luiz, em Contabilidade Bancária, cujos temas conhecia profundamente, e outras matérias ligadas ao comércio. Contudo, foi no Ensino Superior que se destacou na criação da 1ª Faculdade, visando a futura Universidade. Assim, em 1964, foi um dos pilares que construiu a Faculdade de Ciências Contábeis, sendo seu 1º diretor, de 1964 a 1967, quando transferiu o cargo ao seu sucessor eleito, Dr. Nestor José Kaercher, que foi o 2º diretor. “Leopoldo Morsch foi antes disto um dos fundadores da Associação Pró-Ensino Superior de Santa Cruz do Sul - APESC e mais tarde, seu Presidente, de 1973 a 1978. Sempre atuou com espírito de renúncia e abnegação, gozando de grande conceito junto aos munícipes. Muito humilde, nunca fez questão de honrarias, embora fizesse por merecer. Faleceu em 25 de abril de 1994, com 77 anos. Justíssima, pois a lembrança de seu nome”.1805 Seu filho Jorge Arthur Morsch projetou-se na carreira jurídica. Foi consultor jurídico do Gabinete do Consultor Geral, cargo hoje equivalente a procurador do Estado, dirigente da Equipe para Assuntos Fiscais, dirigente da Equipe para Assuntos Tributários, conselheiro da Revista da Consultoria Geral do Estado, delegado junto ao Supremo Tribunal Federal, constituiu comissão para equacionar alternativas referentes aos serviços de Assessoramento Jurídico e de Representação Judicial das Autarquias Estaduais, examinador em concursos públicos, em 1983 foi designado Procurador-Geral Adjunto, depois coordenador da Unidade de Consultoria para Assuntos Fiscais e membro do Conselho Superior da Procuradoria Geral do Estado, auxiliar de Corregedor Ad Hoc da PGE, membro do Conselho Superior da PGE, presidente da Comissão de Promoções do Quadro de Pessoal da PGE, em 1990 foi nomeado Procurador-Geral do Estado, recebendo ao longo de sua carreira vários Atos de Louvor.1806

Continuamos agora a descendência de Christian Conrad Frantz e Johanna Brodt. 2) João Frantz (c. 1840 – ?), militar e chacareiro,1807 casado com Catharina Frantz (c. 1842), com o filho Antonio (16/07/1861), sem geração conhecida. 3) Joana Catharina Frantz (23/09/1840 – ?) casou com seu primo João Mathias Frantz, filho de João Henrique, e sua descendência já foi descrita antes. 4) Sebastião Frantz (filho incerto) (Porto Alegre, 13/04/1843 – Porto Alegre, 18/01/1844). 1808 5) Jorge Antônio Frantz (São Leopoldo, 04/11/1846 – Passo do Sobrado, 06/12/1923), lombeiro e voluntário da Pátria na Guerra do Paraguai, com a patente de cabo, casado com Carolina Winck (Santa Maria, 07/12/1857 – ?), 1809 com a filha Eulidia Antônia (Santa Cruz, 19/11/1898 – ?), casada com um Preuss, com geração.

1805

Câmara Municipal de Santa Cruz. Projeto 46/L/1998 Procuradoria Geral do Estado do Rio Grande do Sul. Jorge Arthur Morsch. 1807 Hunsche, op. cit. 1808 Hunsche, op. cit. 1809 Hunsche, op. cit. 1806

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A prefeita de Vera Cruz apresentando os novos secretários municipais. Gilberto Luiz Frantz está marcado em amarelo, e Alcides Frantz em azul. Foto da Prefeitura.

6) José Frantz (São Leopoldo, 30/01/1851 – Vera Cruz, 26/12/1925), agricultor, casado com sua prima Mariana Guilhermina Frantz (Rincão del Rey, 14/02/1855 – Vera Cruz, 02/11/1901), filha de João Henrique Frantz e Eufrosina Planck,1810 com os filhos a) Henrique Alberto (19/07/1876 – ?), b) Pedro Bartolomeu (30/04/1893 – ?) e c) Ana Leopoldina (?), integrantes do grupo fundador de Vera Cruz. José, seu irmão Cristóvão e o filho deste, Ernesto, foram colonizadores da Linha do Rio; Pedro, filho de José, pioneiro da Linha Capão, e Gustavo, filho de Cristóvão, pioneiro da Entrada Ferraz, um dos fundadores da Comunidade Católica Sagrado Coração de Jesus, levantando com seus companheiros uma capela e construindo um cemitério. Em Linha Sítio, nos anos 40 Ignácio Jacob foi presidente do Clube de Cavalaria – Lanceiros, fundado em 1911.1811 Possivelmente Albino Frantz, citado como filho de um certo J. Frantz, é um outro filho de José, nascido em c. 1880, alfaiate em Porto Alegre no início do século XX,1812 que casou-se com Anna Schmidt, de uma família de Vera Cruz que fez vários outros enlaces com descendentes de Cristóvão. Teve pelo menos três filhos, Eurico ou Erico, falecido com 14 meses,1813 Edvino1814 e Érica.1815 Em Vera Cruz hoje se destacam Alcides, ex-secretário Municipal de Obras, Saneamento e Trânsito, atual secretário de Desenvolvimento Rural,1816 e Gilberto Luiz, atual titular da Secretaria de Obras, Saneamento e Trânsito 1817 e presidente do Rotary.

1810

Hunsche, op. cit. Dummer, Celeste et al. Vera Cruz: tempo, terra e gente. LupaGraf, 2009 1812 Editaes”. A Federação, 15/06/1907 1813 “Registro civil”. A Federação, 01/08/1908 1814 “Registro civil”. A Federação, 15/01/1909 1815 “Nascimentos”. A Federação, 11/10/1917 1816 “Prefeita anuncia nova composição do secretariado municipal”. Prefeitura Municipal de Vera Cruz, 08/04/2016 1817 “Horst retorna às Obras”. Prefeitura Municipal de Vera Cruz. 09/04/2015 1811

519

7) Cristóvão Frantz (Santa Cruz, 26/09/1853 – Vera Cruz, 26/06/1917), 1818 curtidor de couro em Vera Cruz e criador de gado em Rio Pardo, citado a comprar 51 reses em 1916,1819 casado com Delfina Schuck (1858 – ?), com os filhos: a) Othilia Delfina Frantz (Vera Cruz, 04/04/1876 – Vera Cruz, 11/03/1941), casada com Inácio Regert (c. 1874 – ?), gerando pelo menos uma filha, Adelina, casada com Pedro José Augusto Sehnem, com geração. b) Malvina Frantz (05/06/1878 – Vera Cruz, 25/06/1948), casada com João Regert (c. 1875 – ?). c) Atolina Frantz (c. 1880 – ?), casada com João Schmitt (c. 1877 – ?). d) João José Augusto Frantz (1884 – Santo Cristo, ?), agricultor, fabricante de espingardas, casado com Susanna Schmidt (1888 – Santo Cristo, ?), pais de um filho nascido em torno de 1920. e) Emma Catharina Frantz (c. 1886 –?) casada com José Schmidt (c. 1883 – ?). f) Cristovão João Frantz (c. 1887 – ?), casado com Joanna Melchiors (Santa Cruz, c. 1890 – ?), filha de Henrique Melchiors e Hedwiges Assmann. Tiveram pelo menos uma filha, Edwiges Ana, residente em Curitiba, casada com Azor de Oliveira e Cruz, falecida em 08/04/2010 com 92 anos.1820 Seu filho Gilvani Azor de Oliveira e Cruz é destacado médico curitibano, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica,1821 regente da Disciplina de Cirurgia Plástica e Reparadora do Hospital de Clínicas da UFPR, coordenador do Curso de Especialização em Cirurgia Plástica e Reparadora da UFPR, chefe do Serviço de Cirurgia da Cabeça, Pescoço e Craniomaxilofacial do Hospital Universitário Cajuru da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, chefe do Serviço de Cirurgia Plástica e Reparadora do Hospital do Trabalhador e responsável pelo Serviço de Cirurgia Craniomaxilofacial do Hospital Infantil Pequeno Principe, recipiente do Gilvani Azor de Oliveira e Cruz recebendo o Prêmio Mérito de Prêmio Mérito de Saúde oferecido pela Câmara de Saúde, foto de Noemia Rocha. Curitiba,1822 1823 autor de livros e artigos e Presidente de Honra do XIV Congresso Brasileiro de Cirurgia Crânio-Maxilo-Facial (2016).1824 “Circula nas altas rodas” e ganhou uma efêmera notoriedade popular ao ser objeto dos desejos de Hebe Camargo em 2009.1825

1818

Hunsche, op. cit. “Safra em Rio Pardo”. A Federação, 22/02/1916 1820 “Lista de falecimentos”. Gazeta do Povo, 09/04/2010 1821 Paraná Plástica. Dr. Gilvani Azor De Oliveira E Cruz. 1822 Hospital Universitário Cajuru. Destaque. 1823 Fernandes, Julio Wilson. Cirurgia Plástica: Bases e Refinamento: Com Programa de Dermatologia Aplicada do Prof. Luiz Carlos Pereira. 2012 1824 Associação Brasileira de Cirurgia Crânio-Maxilo-Facial. Congresso 2016. Programa. 1825 “Quem é o médico que encantou Hebe no Sul?”. Caras, 01/07/2009 1819

520

g) Anna Maria Frantz (c. 1889 – ?), casada Bernardo Rech (c. 1885 – ?), filho de Jacob Rech e Susanna Schäfer. h) Gustavo João Frantz (c. 1891 – ?), casado com Maria Josefina Raffler (c. 1894 – ?). i) Ernesto Frantz (c. 1893 – ?), casado com Luiza Schmitt (c. 1895 – ?). j) Ludovico Pedro Frantz (Caxias do Sul, 04/05/1897 – ?). 8) Ernestina Frantz (Santa Cruz, 17/11/1856 – Santa Cruz, 29/12/1935), casada com o agricultor Johann Jacob Meurer (24/04/1845 – 24/04/1924),1826 filho de Jacob Meurer e Catharina Jacobs, com os filhos: a) José Meurer (24/09/1882 – ?), médico, casado com Eva Primat (c. 1885 – ?). b) Alfredo Cristóvão Meurer (Santa Cruz, 05/06/1886 – Santa Cruz, 30/09/1931), casado com Anna Maria Wuttke (Linha Santa Cruz, 25/12/1888 – Santa Cruz, 04/10/1966), professora estadual, filha de Johann Wilhelm Wuttke e Maria Anna Vilachi Gonzales. Tiveram os filhos: b1) Electa Alfreda Meurer (Boa Vista, 26/05/1915 – ?), casada com Theolindo José Kipper (Linha Santa Cruz, 16/10/1912 – Santa Cruz, 25/04/1945), filho de João Kipper e Anna Veronica Werlang, pais de b1a) Euclides Roque Kipper, formado em Letras; b1b) Cláudio Gastão Kipper, nascido em Santa Cruz e radicado em Rio Branco, no Acre,1827 engenheiro, arquiteto e urbanista, membro do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil, proprietário da Construtora Arco,1828 1829 fazendeiro e candidato a deputado federal,1830 eleito como suplente,1831 secretário estadual de Obras,1832 casado com Regina Bezerra, com geração. b1c) Renato Luiz Kipper, analista Judiciário da Justiça Federal de 1ª Instância – Seção Judiciária do Estado de Roraima,1833 casado com Teresa, com geração. b1d) Ernani José Kipper, funcionário da Corsan, casado com Maria Hoppe, licenciada em História, professora adjunta do Curso de Estudos Sociais da Faculdade de Filosofia da UNISC, diretora da faculdade, coordenadora de graduação da UNISC, coordenadora de vestibular e chefe de gabinete do reitor,1834 com geração. b1e) Paulo Adroaldo Kipper, empresário no Acre, casado com Gerti Haas, com geração.

Cláudio Gastão Kipper. Foto UOL.

1826

Hunsche, op. cit. UOL Notícias. Dados sobre todos os candidatos de 2010 e de eleições anteriores: Kipper (2006). 1828 Porfiro, José Cláudio Mota. “E a alma agradecida se enternece”. A Gazeta do Acre, 15/12/2012 1829 “FNA participa de Encontro de Arquitetos e Urbanistas no Acre”. Federação Nacional de Arquitetos e Urbanistas, 27/03/2013 1830 “Escassez de corrupção”. Página 20, 04/01/2016 1831 Tribunal Regional Eleitoral do Acre. Resultado de Eleições Gerais 2006 1832 Silva, José Porfiro da. “A (de)formação da burocracia pública acreana”. O Estado, 16-22/12/2001 1833 “Apostilas”. Boletim de Serviço do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, 2004; XV (51) 1834 “Gratificação por fazer parte de importantes acontecimentos”. Riovale Jornal, 25/06/2013 1827

521

b2) Valéria Clementina Meurer (Boa Vista, 24/04/1919 – Santa Cruz, 21/06/1982), casada com Pedro Artur Schuh (Passo do Sobrado, 17/07/1910 – Santa Cruz, 24/09/1992), filho de Matias José Schuh e Anna Maria Schwab. Foram pais de b2a) Sergio Roque Schuh. b2b) Delia Lurdes Schuh, casada com Gervásio Gonsalves. b2c) Flavio B. Schuh, arquiteto casado primeiro com Marli Rosa Machado, e depois com Ieda Maria Pohl Thier, com geração; b2d) Artur Luiz Schuh, engenheiro florestal, coordenador de departamento da Secretaria de Meio Ambiente de Santa Cruz,1835 casado com Eloisa Aparecida Alvarenga, com geração, e depois com Cleusa Dalmagro, com geração. b2e) Silvio Alberto Schuh, arquiteto, artista plástico e blogger, casado com Helena da Luz Rech, com geração. b2f) Ana Maria Schuh, casada com o paraguaio Alfredo Armenio Chavez Moraes, com geração; Alfredo é artista plástico e ilustrador, com muitas exposições e prêmios, com uma temática principalmente ecológica. b2g) Jair Francisco Schuh.

Silvio Alberto Schuh e sua filha Juliana. Ao centro, uma das aquarelas de Silvio. Fotos de Silvio. À direita, Alfredo Armenio Chavez Moraes e a esposa Ana Maria Schuh, foto de Ana.

1835

Prefeitura Municipal de Santa Cruz do Sul. Relação Nominal do Quadro Funcional da Prefeitura Municipal de Santa Cruz do Sul. Situação em 28/08/2015

522

c) Emma Meurer (Santa Cruz, 04/06/1888 – Santa Cruz, 06/03/1966), casada com Helmuth Guilherme Jungblut (Santa Cruz, 24/02/1888 – 02/06/1958), diretor dos Correios e Telégrafos e nome de rua, filho natural de Emilia Lindaner, adotado por Alexander Joseph Jungblut. Foram pais de c1) Adolfo Eugenio Jungblut e c2) José Pedro Jungblut, casado com Thelma Cecilia Lehmen, pais de c2a) Vera Maria, casada com Renato Pereira Sperb, com geração, e c2a) André Luiz Jungblut, casado com sua prima distante Beatriz Frantz, filha do jornalista Francisco José Frantz e Nelly Emma Schütz. André Luiz construiu distinta carreira. Foi Presidente do Conselho de Administração da Fundação Gazeta, diretor da Viavale Internet, diretor da Editora Gazeta Santa Cruz Ltda., diretor da Rádio Rio Pardo AM em Rio Pardo, da Rádio Gazeta FM em Sobradinho, da Rádio Gazeta FM, em Santa Cruz, da Rádio Gazeta AM, em Santa Cruz, do Jornal Gazeta da Serra, em Sobradinho, diretor-presidente da Gazeta do Sul em Santa Cruz. Presidente do Sindicato das Empresas Proprietárias de Jornais e Revistas no Estado do RS. vice-presidente da Associação Gaúcha de Emissoras de Rádio e Televisão do RS, vice-presidente da Federação Nacional de Jornais, membro do Comitê de Ética do Conselho Nacional de Auto Regulamentação Publicitária, membro efetivo da Junta de Diretores da Sociedade Interamericana de Imprensa, com sede em Miami, três vezes presidente da Associação dos Diários do Interior do Rio Grande do Sul, vice-presidente da Associação Pró-Ensino em Santa Cruz do Sul, membro do Conselho Superior da Associação Pró-Ensino de Santa Cruz, mantenedora da Universidade de Santa Cruz do Sul, duas vezes vice-presidente da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e membro do Conselho de Administração da APAE. Por tantas realizações, a Câmara de Santa Cruz outorgou-lhe o título de Cidadão Honorário, “o que é uma forma deste Poder Legislativo e da comunidade de Santa Cruz do Sul reconhecerem a importância dos trabalhos e atividades que norteiam a vida do ilustre homenageado e que são benéficas a todos nós. É necessário ressaltar que o homenageado é exemplar propagador do nome de nosso município, abrangendo diversas áreas de atuação, com o que está deixando marcas positivas e indeléveis em sua vida e na da comunidade Santa-cruzense”.1836

André Luís Jungblut recebendo o título de Cidadão Honorário de Santa Cruz. Foto Gazeta do Sul.

1836

Câmara Municipal de Santa Cruz do Sul. Projeto 06/2011

523

9) Eduardo Frantz (Santa Cruz, 25/10/1859 – Santa Cruz, 19/04/1939),1837 um dos fundadores e secretário da União Colonial de Arroio Grande, distrito de Santa Cruz,1838 casado com Christiana Schuck (c. 1866 – ?), filha de Christiano Schuck e Maria Antonia Allgayer, com os filhos a) Jorge José Vicente (12/04/1885 – ?), b) Carlos Affonso (18/01/1890–?) e c) Luiz Gabriel (Santa Cruz, 20/09/1896 – ?). Outros cuja linha não foi bem identificada, mas cujo parentesco é seguro, são Lídio Frantz, famoso e premiado gaiteiro no gênero gauchesco, professor e membro de dois conjuntos musicais, o Grupo Pérola e Os Campeiritos, já tendo lançado vários discos,1839 1840 e José Miguel, que junto com Bruno Agnes abriu uma grande concessionária de veículos, a Agnes, Frantz & Cia. Ltda., representante local da General Motors e da Chevrolet, e foi também sócio da Frantz Comércio em Geral Ltda. e do Crédito Rural União Popular. 1841 Embora não haja certeza, pelos seus traços fisionômicos, deve ser parente Joana, patrulheira da Brigada Militar e princesa da Oktoberfest.1842 Numerosos outros Frantz ganharam respeito em suas cidades no estado do Rio Grande, estando presentes em muitas e se tornando nome comum.

Lídio Frantz. Foto Gazeta do Sul. Ao lado, Joana Frantz, princesa da Oktoberfest. Detalhe de foto Rodrigo Assmann / Zero Hora.

1837

Hunsche, op. cit. “União Colonial”. A Federação, 10/05/1933 1839 “Dia do Músico - Uma vida dedicada à música”. Rio Vale Jornal, 17/11/2012 1840 “Lídio Frantz é o primeiro na gaita”. Gazeta do Sul, 13/11/2006 1841 Noronha (2012), op. cit. 1842 Kannenberg, Vanessa. “Princesa de farda, coturno e coldre: soberana da Oktoberfest é policial em Santa Cruz do Sul”. Zero Hora, 10/09/2012 1838

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Theodoro Frantz e Anna Katharina Gassen. Foto colorida digitalmente.

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10) Theodoro Frantz, meu bisavô, outro filho de Christian Conrad, nasceu em 9 de outubro de 1848 em São Leopoldo. Pouco se sabe sobre ele. Em 1876 é citado no cadastro do 7º Colégio Eleitoral de Rio Pardo como alfabetizado e com a ocupação de curtidor de couro. Na lista também aparecem seus irmãos Cristóvão, José, Jorge e Guilherme.1843 Nesta data já estava casado com Anna Katharina Gassen, e vivia em Santa Cruz, onde nasceu seu primeiro filho. Já devia também ter iniciado um envolvimento com a política, pois em 1880 foi eleito em Santa Cruz como suplente de conselheiro pelo Partido Conservador.1844 Mais tarde transferiuse para Porto Alegre, onde abriu uma padaria que funcionou no início do século XX. Ele só é registrado na cidade a partir de 10 de fevereiro de 1912, quando aparece alistado no 3º Distrito Eleitoral,1845 mas pode ter-se instalado bem antes. No fim da vida voltou para Santa Cruz, onde faleceu em 16 ou 17 de janeiro de 1917. Aparentemente não chegou a tomar posse como titular no Conselho de Santa Cruz, mas suas ligações com a política devem ter-lhe rendido algum emprego de bons rendimentos, pois a sua única foto a sobreviver, apresentada antes, que data da época em Santa Cruz, mostra um casal distinto vestido com muito apuro. Ou talvez seu negócio de couros em Rincão del Rey, distrito de Rio Pardo, tenha se tornado bastante lucrativo. Ele aparentemente dividiu seu curtume com o irmão Cristóvão,1846 e pode também ter sido sócio na criação de gado que o irmão manteve em Rio Pardo. Nascida em 13 de maio de 1858 (ou 1869?) e falecida em Porto Alegre em 11 de agosto de 1919, Anna Katharina era filha de Johann Gassen e Catharina Weber. Johann nasceu em Enkirch em 23 de outubro de 1832 e faleceu em data e local desconhecidos, filho de Anna Clara Spreitzer e Mathias Gassen. A vida de Johann é inteiramente obscura. Os Gassen eram uma família de camponeses, artesãos, viticultores e carreteiros. O ancestral mais antigo conhecido é Johannes Gassen, que nasceu em Zell-Merl em data ignorada, falecendo em 5 de fevereiro de 1765 em Enkirch, tendo casado com Margaretha Friedrich, nascida depois de 1802 em Pünderich, de pais desconhecidos. Seu filho Johannes II nasceu em Enkirch em 29 de dezembro de 1763 e ali faleceu em 30 de dezembro de 1813. Foi casado com Maria Gertrud Wendel, nascida em torno de 1761 em Enkirch, de pais desconhecidos, e ali falecida em 22 de maio de 1824. Foram pais de Mathias, que nasceu em Enkirch em 25 de abril de 1791, falecendo depois de 1844. Foi relojoeiro e provavelmente o primeiro burguês da família. Catharina Weber nasceu em 23 de janeiro de 1835 em Rincão del Rey, e ali faleceu em 1 de novembro de 1903. Era filha de Peter Weber e Catharina Hisse, dos quais nada se sabe. Anton Spreitzer, pai de Anna Clara, nasceu em 10 de maio de 1763 em Gemünden, falecendo em Enkirch em 9 de maio de 1841. Dedicou-se ao pastoreio e casou-se em 10 de fevereiro de 1801 com Anna Maria Klara Müller, nascida em 18 de maio de 1770 em Alf, Renânia, de pais desconhecidos, e falecida em 9 de outubro de 1815 em Enkirch. Sua filha nasceu em 10 de dezembro de 1797 em Enkirch e faleceu depois de 1844 em local desconhecido. Além de Anna Katharina, Johann Gassen e Catharina Weber tiveram os filhos José (1856 – Porto Alegre, 1928), em Porto Alegre abriu uma alfaiataria e comércio de tecidos, que se tornou a tradicional Casa Gassen, em atividade até hoje; João (Rincão del Rey/Santa Cruz, 1859 – 09/03/1912); Mathias (Rincão del Rey, 03/06/1862 – Montenegro ?, 27/07/1925); dirigente do 1843

Silva da Costa, Miguel Angelo. Entre a “flor da sociedade” e a “escória da população”: a e periência de homens livres pobres no eleitorado de Rio Pardo (1850-1880). Dissertação de Mestrado. UNISINOS, 2006 1844 “Dia Wahlen in Rio Grande”. Germania, 28/07/1880 1845 “Editaes”. A Federação, 10/02/1912 1846 Dummer et al., op cit.

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Partido Republicano em Montenegro; Carlos (1865 – 1939); Maria (1867 – 1945); Christina Maria (1868 – ?) e Carolina (1869 – ?). A família Gassen deixou grande descendência na região de Santa Cruz do Sul e em Porto Alegre, espalhando-se para muitas outras cidades, com vários personagens de relevo. Foram pioneiros da colonização de Rio Pardinho, distrito de Santa Cruz, com Paul, tanoeiro.1847 Alguns estavam entre os fundadores do Centro Cultural 25 de Julho em Porto Alegre.1848 Eugênia é secretária da Liga Feminina de Combate ao Câncer em Dois Irmãos,1849 Dirceu é gestor de Marketing e Serviços da Cooperativa dos Agricultores de Plantio Direto; 1850 Décio é presidente do Futebol Clube Santa Cruz;1851 José foi vereador em Santa Cruz; Cira é diretora de escola em Vera Cruz, homenageada pelo Rotary local como uma liderança feminina na comunidade,1852 e Mercedes Gassen Kothe é Doutora em História Social pela Universidade Rostock na Alemanha, professora da Universidade de Brasília e chefe de departamento nas Faculdades Integradas UPIS do Distrito Federal, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal, editora da Revista Múltipla, da UPIS, e uma autoridade sobre a imigração alemã.1853 1854 O personagem mais conhecido provavelmente seja Irineu, bispo de Vacaria e estimado em muitas cidades. Natural de Santa Cruz do Sul, foi o nono de 13 irmãos de uma família que trabalhava em plantações de fumo. Aos 12 anos mudou-se para Taquari a fim de ingressar no Seminário. Ordenado presbítero em 1968, cursou Teologia em Divinópolis, estado de Minas Gerais, e depois em Viamão, no Rio Grande do Sul, aperfeiçoando-se em Roma. Voltando ao Brasil, atuou em várias paróquias e foi formador de novos religiosos em Porto Alegre, Agudo e Não-Me-Toque, sendo também Superior Provincial da Ordem dos Franciscanos Menores no estado.1855 Ganhou grande reputação, como mostra matéria na imprensa: “A comunidade católica de Imigrante e, especialmente, os freqüentadores da Igreja Matriz São João Batista, no Bairro Daltro Filho, viveram momentos de emoção na noite de sábado (16). Na ocasião, o frei e ex-pároco Irineu Gassen, aos 65 anos, com 54 anos de vida religiosa e 40 anos de sacerdócio, estava se despedindo do município, já na condição de bispo, preparando-se para assumir no dia 24, a diocese de Vacaria, composta por 28 paróquias. ‘Na divisa do estado as porteiras estarão abertas. Lá a região tem um clima frio, mas a minha missão será a de guiar, orientar, aquecer corações e preparar para Deus um povo perfeito’, disse dom Irineu, ao agradecer o belo convívio de vários anos em Imigrante e as manifestações de carinho recebidas. A Igreja de Daltro Filho estava lotada. A comunidade emocionada manifestou-se através de cartazes, mensagens, lembranças e abraços. ‘Estou saindo com alegria e fé renovada, pois deixo um povo amigo, unido e acolhedor. Despedida faz cultivar saudades’, salientou dom Irineu. [...] Para quem o conhece, dom Irineu Gassen é um verdadeiro ídolo. Além dos imigrantenses, fiéis de diversas cidades prestigiaram a sublime celebração, que foi abrilhantada pelos corais Vozes e Municipal. Ademir Rabaiolli, presidente do Conselho Paroquial, falando em nome da comunidade, expressou a maior gratidão e reconhecimento pelos serviços prestados por dom Irineu. ‘Foram momentos de convívio inesquecível’, disse. Na opinião da primeira dama do 1847

Centenário da Colonização Alemã em Rio Pardinho : 1852-1952. Santa Cruz do Sul : Bins & Rech, 1952 Centro Cultural 25 de Julho. Sócios Fundadores. 1849 “Outubro Rosa já está nas ruas de Dois Irmãos”. Jornal Dois Irmãos, 02/10/2013 1850 “Colheita do milho se encaminha para o final no Rio Grande do Sul”. Portal do Agronegócio, 29/04/2014 1851 Garcia, Tiago Mairo. “Santa Cruz lança projeto para contar a sua história”. Diário Regional,18/08/2011 1852 “Rotary empossa Conselho Diretor e faz homenagens”. Jornal Arauto, 29/07/2011 1853 Méritos Editora. Mercedes Gassen Kothe. 1854 “Mercedes Gassen Kothe”. Escavador, 13/12/2014 1855 Pelisser, Kelly Isis. “Novo bispo de Vacaria está entusiasmado para assumir”. Zero Hora, 28/05/2008 1848

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Foto de Sérgio Bagestan, mostrando a homenagem ao bispo Irineu Gassen na Matriz de São João Batista em 16 de agosto de 2008.

município, Marlene Altmann, ‘a passagem de dom Irineu em nosso meio, ficará marcada pela integração comunitária. Ele foi um elo entre todos e preservou a união familiar’. A professora e catequista Ana Maria Bertolini, destacou que dom Irineu ‘lançou a semente para o bom relacionamento familiar em nossa comunidade’.” 1856 Sobre os meus Weber só é possível especular. O nome teve origens múltiplas, deixou quase três mil registros n’A Federação entre 1884 e 1937, e não foi possível encontrar relações seguras com Catharina, pois dela nada se sabe. Segundo Schunck, os primeiros Weber partiram de Hamburgo e Glückstadt, chegando ao Rio de Janeiro em 22 de abril de 1826, de lá dirigindo-se a São Leopoldo. Três outras levas saíram de Bremen e chegaram ao Brasil entre 1826 e 1828, e mais tarde possivelmente vieram mais, considerando a enorme população que existe no estado desde fins do século XIX. 1857 Theodoro Frantz e Anna Katharina Gassen tiveram os filhos: 1) João Frantz (Santa Cruz, 23/07/1876 – ?). 2) Sebastião Guilherme Frantz (“Bastian”) (Santa Cruz, 06/05/1878 – ?), casado com Berta (c. 1876 – ?), pais de Ervino (Santa Cruz, 1899 – ?), Irma e Herta. 3) Luís Felipe Frantz (Santa Cruz, 07/02/1879 – ?). 4) João José Frantz (Santa Cruz, 03/03/1882 – ?). 5) Nicolau Hern Frantz (30/05/1884 – ?), professor público do 6º Distrito Rural de Rio Pardo.1858 1856

“Emoção na homenagem a Dom Irineu”. Assessoria de Imprensa Portal Região dos Vales, 22/08/2008 Schunck, Ataíde. “História da Imigração Alemã”. In: Revista de História, Genealogia e Afins, 01/11/2012 1858 “Escolas de Rio Pardo”. A Federação, 11/03/1913 1857

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Francisco Alexandre Schuster e sua esposa Maria Luiza Frantz.

6) Maria Luiza Frantz (10 ou 17/03/1886 – 17/03/1956), casada com Francisco Alexandre Schuster (18/07/1882 – 03/09/1975), filho de Rita Wink e Henrique Schuster, agricultor e combatente na Guerra do Paraguai. Francisco Alexandre foi agricultor, teve duas chácaras na Rua da Carlota em Santa Cruz, onde também criava bois, porcos e galinhas. Criou cavalos de corrida e foi carreirista (jóquei nas “carreiras” de cancha reta). Também era apostador nas corridas e ganhava quase sempre, como relatou ao seu neto, o historiador Wilson Thier: “Eu gostava de ver os cavalos correrem desde pequeno. Depois de adulto, se tivesse uma carreira durante a semana, eu era o único que tinha licença do papai e da mamãe para ir, ao invés de ir na roça, pois eles sabiam que raramente eu voltava sem dinheiro, ganho nos cavalos, e na hora que eu saía, a mamãe me dava algum dinheiro e dizia: ‘Franz, joga isso pra mim’. Ela sabia que eu traria dinheiro para ela, pois raramente eu perdia. Quando eu casei com a Maria, com o dinheiro ganho em carreiras, eu comprei bois, vaca, carroça, arado, ferramentas, e muitas outras coisas. Eu não perdia uma. Outros sempre perguntavam qual o segredo de eu sempre ganhar. ‘É que eu tenho muita sorte’, eu dizia. Mas, tinha um segredo sim. Só que eu não contava, pois se contar deixa de ser segredo. “Mas um dia, um amigo tanto insistiu, prometendo não contar, e coisa e tal, que eu cometi a maior asneira de toda minha vida, e lhe contei o segredo, e que segredo. É que alguns anos atrás, um mestiço, já bastante velho, me disse: ‘Ô França, se tu qué ganhá nas carreira, tu faiz o seguinte: na noite antes da carreira, quando tu vai durmi, deita de costa e bota a mão aberta em cima do rosto, e pensa nas carreira do dia seguinte que tu vai vê os cavalo corrê, e este que tu vê ganhá, neste cavalo tu joga que tu vai ganhá’.

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“E daquele dia em diante, na hora de dormir, eu fazia como ele disse, e por mais incrível e inverossímil que possa parecer, eu enxergava os cavalos correr, e no dia seguinte, no local das corridas, eu jogava naquele que eu tinha visto ganhar, e este cavalo ganhava, e eu também claro. E isto aconteceu por alguns anos. Acima eu disse que tinha cometido a maior asneira de minha vida, mas na verdade, isso foi uma burrice sem tamanho, pois, depois de contar o segredo, nunca mais vi os cavalos correr na véspera, na hora de ir dormir”.1859 Em torno de 1923 Francisco Alexandre vendeu uma das chácaras e se mudou com a família para a antiga Vila Teresa, atual cidade de Vera Cruz, para trabalhar como ecônomo do Hospital Teresa, mas só permaneceu na função oito meses. Voltando depois para Santa Cruz, comprou outro lote de terra perto do que havia vendido. Nos anos 1940, com mais três vizinhos, financiou a eletrificação da região, que depois o Município compensou. No início da década de 1950, já com idade e com uma surdez progressiva, Francisco Alexandre vendeu suas chácaras e o casal foi viver em Rio Pardo com a filha Romilda, que estava casada com João Goldschmidt. Depois da morte da esposa Maria Luíza, Francisco foi viver com outra filha, Olinda, também em Rio Pardo, casada com Almiro Kipper, onde permaneceu até falecer.1860 Francisco Alexandre e Maria Luiza foram pais de: a) João Schuster (Santa Cruz, 17/06/1904 – 28/04/1978) caixeiro viajante, comerciante e barbeiro, casado com Lydia Anna Werner (c. 1906). Foram pais de: a1) Milton Schuster (Santa Cruz, c. 1930 – Santa Cruz, 02/12/1996), casado com Lorena Maria Vogt (c. 1933 – Santa Cruz, 27/04/1969), gerando Everton, advogado, e Flavio Edison. a2) Elemar Schuster (c. 1932 – ?). b) Jacó Schuster (Santa Cruz, 2102/1906 – ?), casado com Ondina Camargo (c. 1909 – ?), com geração. Jacó saiu de casa ao completar 18 anos, perdendo-se seus sinais. A família chegou a dá-lo como morto, mas reapareceu depois de muitos anos, já com a profissão de dentista prático e dono de várias terras em Lagoão, onde conhecera sua futura esposa, filha de família conceituada, e onde plantava e criava gado e porcos. Depois de casar viveram com a família de Ondina, mas surgiu uma desavença entre o sogro e um outro genro, Jacó acabou envolvido e jurado de morte pelo concunhado, e terminou seus dias assassinado.1861 c) Pedro Schuster (Santa Cruz, 11/03/1908 – 31/12/1955), casado com Maria Cecilia Klafke (09/02/1916 –?), filha de Francisco Ambrosio Klafke e Anna Morsch. Foram pais de c1) Arnildo Schuster, casado com Reci Niches de Oliveira; c2) Fernando Schuster, dono de uma gráfica em Porto Alegre, casado com Davina Nunes, pais de Leila Schuster, jornalista, apresentadora, empresária do ramo da moda e Miss Brasil em 1993.1862 Em 1995, foi convidada a apresentar o programa Agenda Cultural, na TV CNT carioca. Por conta disto, decidiu cursar Comunicação Social – Jornalismo, na Universidade do Rio de Janeiro. Nesta área, trabalhou nos programas Circuito Rio na CNT, Beleza de Mulher na TV Record. Ao mesmo tempo trabalhava como modelo internacional. Em 2002 Leila formou-se de Comunicação Social, e posteriormente cursou Desenho de Moda no Istituto Marangoni em Milão, Itália. De volta ao Brasil, abriu um atelier, apresentando sua griffe em vários festivais no país e no exterior. Durante treze anos foi casada com o empresário Hélio Viana, com quem teve um filho, Klaus. Em 2008 separou-se e no ano seguinte casou com o empresário José Luiz Gandini.1863 1864

1859

Thier, Wilson. Histórias do Vô França. EA, s/d. Thier, op. cit. 1861 Thier, op. cit. 1862 Goller, Lisete. “Família Schuster – Histórias”. Memorial do Tempo, 01/11/2014 1863 Scaravelli, Gisele. “Miss Schuster em entrevista exclusiva”. Revista Regional, sd. 1864 “As misses mais ricas e poderosas do Brasil”. BS Fama, 20/11/2013 1860

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c3) Almiro Schuster (07/04/1939 –?), pintor, casou com Elsa Goettems (Santa Cruz, 22/12/1937 – Santa Cruz, 1999), filha de João Goettems e Elsa Kretzmann. Foram pais de Gilson Almiro, motorista, Celso Luiz, analista de sistemas e Rosicler. c4) Orlando Laudelino Schuster (Santa Cruz, 10/10/1940 – ?), casado com Maria Alice Esteves. c5) Iracy Schuster (c. 1942 – ?), casada com João Macarte. c6) Virgilio Schuster (c. 1944). c7) Florindo (02/12/1945 – ?). c8) Mercedes (18/05/1948 – ?), casada com Renato Müller. d) Francisca Schuster (Santa Cruz, 18/05/1913 – 30/05/1976), casou com Helmuth Thier (c. 1910 – ?). gerando Wilson Henrique Schuster (Santa Cruz, c. 1937), historiador, que forneceu muitos dados valiosos para este estudo. É casado com Teresinha e tem geração. e) Romilda Schuster (Santa Cruz, 15/09/1918 – 28/11/1975), casada com João Goldschmidt (c. 1916 –?), dono de uma padaria. f) João Artur Schuster (Santa Cruz, 08/03/1919 – 28/03/1992), faleceu solteiro e sem filhos. g) Osvaldo Schuster (Santa Cruz, 07/04/1922 – 06/08/1990) casou com Adil Silveira (c. 1925 – ?).

Wilson Henrique Thier e a esposa Teresinha. Foto de Wilson.

h) Olinda Schuster (Santa Cruz, 29/06/1924 – ?), casada com Beno Almiro Kipper (Santa Cruz, 09/07/1919 – Rio Pardo, 23/01/1983), dono de uma olaria em Rio Pardo. Foram pais de h1) Cilon José Kipper (Rio Pardo, 23/07/1948), professor e sub-chefe do Departamento de Matemática da Universidade de Santa Cruz do Sul, 1865 1866 casado com Sandra dal Ri, pais de Aline, Caroline e Letícia. h2) Danilo Antônio Kipper (Rio Pardo, 25/07/1950), casado com Tania Liane Machado, gerando André Luiz e Cristiane. h3) Eti Francisco Kipper, especialista de Metolodogias da Procergs, coordenador do livro Engenharia de Informações: Conceitos, Métodos e Práticas (1993), com vários autores. Casado com Lurdes Limberger, e pai de Michele e Rafael. h4) Guilherme Luiz Kipper (15/06/1955) casou com Angela Kappel, sendo pai de Daniel Augusto, Ivana Roberta e Alana. i) Elvira Schuster (Santa Cruz, 05/08/1925), casada com Heitor Mendes (c. 1925). j) Waldermar Schuster (Santa Cruz, 10/03/1930), casado com Valéria.

1865 1866

“Unisc realiza mais seis formaturas neste sábado”. Rádio Venâncio Aires, 26/02/2016 “Unisc realiza cerimônia de posse dos novos gestores”. Universia, 16/03/2010

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Anna Francisca Frantz e Bento de Villas Boas, coleção família Pisani.

7) Anna Francisca Frantz (Santa Cruz ?, 08/06/1887 – ?) viveu em Caxias do Sul, casada com Bento José de Villas Boas, maquinista de trens que morreu prematuramente. Desamparada e com cinco filhos menores para criar, a Viação Férrea a empregou como operadora da bomba que enchia a caixa de água que abastecia os trens, um trabalho muito pesado.1867 Seu neto Jimmy Rodrigues recordou a avó em matéria da revista O Caxiense: “Eu era pequeno e lembro da minha avó trabalhando a noite toda para manter acesa a fornalha que bombeava a água para a caixa, já que a Festa da Uva fazia aumentar o movimento de trens e, consequentemente, era preciso ter mais água. Lembro-me ainda da imagem dela sentada ao lado da fornalha lendo a Bíblia em alemão”.1868 Era católica devota e participou do grupo Adoração Noturna nos Lares, organizado pela Igreja de São Pelegrino, do qual participavam também as parentes Marietina Sartori Paternoster, Ignez Buratto Stahlecker e Angelina Sartori Buratto.1869 Dos seus filhos quase não se tem notícia, sabe-se apenas que como filhas teve Elphira, Geni e Jacy, de quem nada se sabe, além de Celia, professora, casada em 1936 com Americo Pisani, filho de Amalia Panigas Pisani, irmã de minha bisavó Ema, que serão trabalhados no Volume II. Darci Villas Boas, que se mudou para Porto Alegre em 1947 para ser telegrafista de um jornal, pode ter sido o outro filho. Porém, seu neto Jimmy Rodrigues ganhou grande notoriedade em Caxias como jornalista e político, considerado um excelente auxiliar de prefeitos e um dos maiores nomes do jornalismo gaúcho.1870

1867

“Comissão Comunitária apresenta tema para a Festa da Uva 2010”. Assessoria de Comunicação - Festa Nacional da Uva, 09/04/2009 1868 Andreatta, Graziela. “Uma festa para a História que Trilhamos”. O Caxiense, 13-19/02/2010 1869 “Adoração Noturna nos Lares”. O Momento, 06/04/1946 1870 “Jimmy Rodrigues vai ser sepultado hoje em Caxias do Sul”. Jornal do Almoço, 10/06/2013

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Geni Villas Boas e uma amiga, talvez uma irmã.

Filho de Elphira Villas Boas e Osvaldo Rodrigues, Jimmy nasceu em 31 de agosto de 1925. Iniciou sua carreira profissional em 1943 no jornal O Momento. Depois trabalhou como redator do Correio Riograndense, editor, redator, colunista e gerente do jornal A Época, e chegou à Direção do Pioneiro nos anos 70, além de dirigir a sucursal de Caxias da Última Hora e da Zero Hora de Porto Alegre. Também foi um dos fundadores e primeiro editor do Jornal de Caxias, além de correspondente do Diário de Notícias e do Jornal do Comércio de Porto Alegre, e colunista da revista Acontece. Foi redator da Rádio Caxias e atuou nas rádios Independência, Difusora, São Francisco e Princesa, além de colaborar na TV Caxias. 1871 O professor do Centro de Comunicação da UCS Marcell Bocchese deixou um belo testemunho sobre sua atuação no jornalismo: “Era adolescente o jovem que trabalhava em um cartório da cidade, mas já se imaginava longe das burocracias que envolviam a profissão. Pensava se fazer presente no cenário mágico do rádio, um veículo que reinava soberano em todo o país, mas ainda um rebento na Caxias do Sul da década de 1940. Antes mesmo da inauguração da primeira emissora de rádio da cidade, a ZYF-3 – Rádio Caxias do Sul, Jimmy Rodrigues já flertava com a então novidade da cidade: um serviço de emissão de informação e entretenimento via alto-falantes – embrião do que seria a futura primeira emissora da cidade e região –, instalado na Praça Dante Alighieri (na época, chamada Praça Rui Barbosa). 1871

“Falecimento de Jimmy Rodrigues”. Gazeta de Caxias, jun/2013

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Jimmy fazendo a cobertura da solenidade de inauguração da Madezatti em 1961, com a bênção do padre Eugênio Giordani. Foto Geremia, acervo Arquivo Histórico Municipal.

“A época era a dos vozeirões do rádio: só falava ao microfone quem possuía, por capricho da natureza, aquela voz impostada, grave e timbrada, que competia com as péssimas condições técnicas de emissão das ondas hertzianas dos primórdios do rádio. Mas o jovem Jimmy Rodrigues não possuía tal dom. Sua autocrítica, inclusive, era cruel, direta. “Anos depois, profissional consagrado, lembraria no livro A Voz e a Palavra: ‘A minha era uma legítima voz de taquara rachada’. Nada, porém, impediria que o então jovem desistisse de seu sonho. Depois de ser reprovado em um teste para speaker do serviço de alto-falantes existente na praça, Jimmy veio a ter sua primeira experiência como locutor nos clubes e nas festas de igreja da cidade. “A porta de entrada no cenário do radiojornalismo caxiense não seria mesmo a voz, mas sim o texto. Hábil e eficaz no uso das palavras, Jimmy – a convite de Ernani Falcão, um dos primeiros locutores da Rádio Caxias – começa a atuar como redator já no início das atividades da emissora, no ano de 1946. Desde que entrou para o cenário do rádio caxiense, Jimmy sempre foi um dos principais protagonistas. Na emissora, o jornalista e radialista é responsável, por exemplo, pela redação dos primeiros textos da emissora, lidos pelo mesmo Ernani Falcão, e pela redação das notícias do radiojornal pioneiro na história da cidade, o Grande Jornal Falado F-3, hoje Jornal Formolo. Comentarista nato, como excelente formador de opinião, seus textos puderam ser ouvidos pelas ondas do rádio desde as primeiras transmissões de partidas de futebol. Também atuou como uma espécie de faz tudo: repórter, apresentador, animador de programas, redator de textos publicitários, comediante, redator de radionovelas e ator.

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“Em meados de 1970, acometido de um câncer na garganta, foi forçado a deixar de realizar locuções. Mesmo assim, não se calou. Sua opinião seguiu sendo veiculada, tanto na Rádio Caxias, como na Rádio São Francisco, a partir da voz de outros importantes jornalistas da cidade, como o filho Paulo Rodrigues.[...] Cronista de Caxias do Sul, o estilo satírico-humorístico do texto de Jimmy Rodrigues marcou época, tanto nas ondas do rádio, quanto nas letras dos jornais. Estilo que o Rio Grande do Sul perdeu no dia 9 de junho de 2013, quando faleceu vítima de insuficiência respiratória aguda. Cala-se a voz que, por décadas, ecoou pelas ondas do rádio nos lares caxienses. Foram quase 70 anos de serviço ao jornalismo, que agora perde uma de suas figuras mais expressivas. Aos 87 anos, Jimmy parte, e já deixa saudade”.1872 Desenvolveu também notável atuação política, social e esportiva, como consta em seu obituário na Gazeta de Caxias: “Elegeu-se vereador para a Câmara Municipal de Caxias do Sul em 8 de novembro de 1959, pelo Partido Democrata Cristão (PDC). Assumiu a função na IV legislatura (19601963), tornando-se presidente da Casa em 1963. Como servidor, foi redator de atas, revisor de anais e diretor-geral do Legislativo caxiense, aposentando-se nessa última função em 1979. Durante muitos anos foi delegado regional da Associação Riograndense de Imprensa (ARI), da qual era um dos mais antigos sócios. Em maio de 1980, a convite do então prefeito Mansueto Serafini Filho, assumiu como assessor de imprensa do município. Posteriormente, em junho de 1982, assumiu o cargo de secretário geral e, em agosto, foi designado para ser chefe de Gabinete da Administração. Em 1984, a convite do então presidente Mario Vanin, foi diretoradministrativo da Festa Nacional da Uva S.A., da qual, em 1965, havia sido secretário Executivo. No esporte, entre outras atividades, integrou diretorias da Liga Caxiense de Futebol e exerceu funções na Justiça Desportiva da mesma liga. Recebeu diploma de Atleta Gaúcho pela participação nos IV Jogos Intermunicipais. Ao longo de sua carreira foi homenageado com várias condecorações e premiações”.1873 Foi autor de sete livros e de inúmeros contos e crônicas, participando de vários concursos literários e recebendo premiações.1874 Foi ainda presidente da Academina Caxiense de Letras,1875 presidente do Esporte Clube Juventude, 1876 recebeu o Troféu ARI – Serra Gaúcha na categoria Homenagem Especial,1877 e em 2003 a Prefeitura o agraciou com o título de Cidadão Emérito.1878 Foi casado com Zita Jandira Frizzo e teve os filhos Silvana, Paulo e Wilton Carlos.

1872

Bocchese, Marcell. “O comentário de Jimmy Rodrigues”. In: Uma História do Rádio no Rio Grande do Sul, 2013 Gazeta de Caxias (2013), op. cit 1874 Rodrigues, Paulo. “Jimmy Rodrigues e sua Tapariu*”. Revista Acontece Sul, 09/07/2013 1875 Academia Caxiense de Letras – RS. História. 1876 Esporte Clube Juventude. “Juventude lamenta a morte do jornalista Jimmy Rodrigues”. 1877 “Troféu ARI Serra Gaúcha será entregue na segunda-feira” Rádio Solaris, 13/11/2013 1878 Cassol, Vânia. “Morre o jornalista Jimmy Rodrigues”. Rede Sul de Rádio, 09/06/2013 1873

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Jimmy recebendo um prêmio da administração municipal em 2005. Aparecem o então prefeito José Ivo Sartori e seus antecessores Mário Vanin, Pepe Vargas e Mansueto Serafini Filho. Foto Luiz Chaves/Pioneiro.

Sua morte em 2013 foi noticiada em numerosos jornais. Foi velado no Plenário da Câmara e a Prefeitura decretou luto oficial de três dias. 1879 Em um obituário a Rádio Caxias assim o descreveu: “Os profissionais e amigos que acompanharam a trajetória ativa de Jimmy Rodrigues no jornalismo e política de Caxias do Sul destacam, sobretudo, uma das virtudes mais importantes para duas áreas profissionais: a honestidade”.1880 Sobre ele o prefeito Alceu Barbosa Velho declarou: “Jimmy Rodrigues foi um mestre na arte de auxiliar aos prefeitos com quem ele trabalhou. Independentemente da cor partidária do prefeito, foi sempre um servidor exemplar. Deixa uma contribuição imensurável para a administração pública”. 1881 Em 2014 um espaço da TV Câmara de Caxias do Sul foi denominado Estúdio Jimmy Rodrigues. Na ocasião o vereador Gustavo Toigo disse: “Conceder o nome de Jimmy a um espaço de comunicação de relevância social como é a TV Câmara de Caxias do Sul é uma forma de agradecer e reverenciar a trajetória desse reconhecido jornalista que fez muito por nossa cidade na área da imprensa e também como político".1882 Em 2015 Rodrigo Lopes recordou sua vida em artigo no Pioneiro, referindo-se a ele como um jornalista e escritor “que soube como poucos vincular sua trajetória com a história da cidade onde viveu”.1883

1879

Jornal do Almoço, op. cit. “Honestidade é destacada como a maior virtude de Jimmy Rodrigues”. Rádio Caxias, 10/06/2013 1881 “Jornalista Jimmy Rodrigues morre em Caxias do Sul”. Pioneiro, 09/06/2013 1882 Espeiorin, Vania. “Espaço da TV Câmara de Caxias do Sul será denominado Estúdio Jimmy Rodrigues”. Assessoria de Imprensa da Câmara Municipal de Caxias do Sul, 02/12/2014 1883 Lopes, Rodrigo. “Para recordar de Jimmy Rodrigues (1925-2013)”. Pioneiro, 31/08/2015 1880

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Thiago Libardi, entre Wilton Carlos Rodrigues e Thaís Ferreira Porto, recebendo em nome de Nova Petrópolis uma placa de agradecimento pela participação do município no projeto Dia do Desafio de 2011. Foto Marco Dieder / Imperial FM.

Wilton Carlos Rodrigues foi por muitos anos gerente do SESC de Caxias,1884 e pela sua notada contribuição em 2008 recebeu o prêmio Reconhecimento Público do Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios de Caxias do Sul1885 e o Troféu Caxias Destaques 2013,1886 homenagem concedida às pessoas mais destacadas em 12 segmentos da sociedade caxiense. Faleceu em 2014 e Carlos Calcagnotto escreveu seu obituário: “Faleceu no dia 05 de janeiro deste ano, o gerente regional do SESC de Caxias do Sul Wilton Carlos Rodrigues. Ele tinha 65 anos de idade. Wilton era casado com Susete Spiandorello Rodrigues e tinha dois filhos, Jackson e Jeferson, este último falecido. Ele era filho de Zita Rodrigues e do jornalista Jimmy Rodrigues (também falecido), tinha dois irmãos, Paulo Rodrigues e Silvana. “Wilton começou sua carreira como vendedor na empresa Divebras Revendedora de Veículos Willys Overland do Brasil, na época comercializava Gordini e Jeep Willys de propriedade do empresário Valdemar De Zorzi. Após, Wilton foi gerente regional das Lojas HM, Hermes Macedo, que revendia eletrodomésticos, móveis, eletroeletrônicos, pneus e serviços e ainda as motos Honda. Com três lojas na cidade na época liderava as vendas do setor.

1884

Marx, Róger. “Nova Petrópolis participa do Dia do Desafio”. Imperial FM Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios de Caxias do Sul. Personalidades premiadas. 1886 “Entrega do Troféu Caxias Destaques 2013 acontece nessa terça-feira”. Olá Serra Gaúcha!, 29/10/2013 1885

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“Há 20 anos, Wilton gerenciou a unidade local do SESC e supervisionou as unidades do nordeste do Estado. Foi grande incentivador e apoiador do Banco de Alimentos de nossa cidade, implantou o restaurante subsidiado para os comerciários, onde atendia e atende mais de mil almoços diários. Além disso, o SESC local sempre foi referência em atividades artísticas, culturais, esportivas, academia de ginástica, além de promover férias numa extensa rede de hotéis conveniadas ou própria do SESC entre inúmeras atividades em parceria com entidades públicas e privadas de nossa região. “Muito culto, sempre falante e de bem com a vida, ele trazia consigo a qualidade de alegrar os seus funcionários, supervisores, amigos, associados do SESC e era muito bem recebido pelas autoridades municipais e dirigentes de entidades empresariais e de empregados. “Mesmo quando há alguns anos faleceu o seu filho Jeferson de apenas 18 anos em acidente de trânsito, quando era passageiro, pois não dirigia e seu pai Jimmy Rodrigues há alguns meses, mostrou-se muito sofrido intimamente, mas conseguia demonstrar grande atenção aos seus familiares e amigos para superar esse sofrimento quase insuperável. Wilton foi um grande incentivador do atendimento voluntário e um exemplo de personalidade, tanto profissional quanto familiar. Os seus inúmeros amigos, parentes, familiares, colegas de trabalho, ainda sentem muito a sua perda insubstituível. Deus o tem na sua glória para sempre, com absoluta certeza”.1887

Seu irmão Paulo Rodrigues é jornalista, apresentador da Rádio Caxias, da TV Caxias e da UCS TV,1888 fundador e editor-chefe da Revista Acontece Sul,1889 e foi vice-presidente do Esporte Clube Juventude. 1890 1891 É apaixonado por carros, na infância passava seu tempo em corridas de kart, e há muitos anos desenvolve grande parte de sua carreira jornalística cobrindo a área da indústria automotiva. Vem se destacando nesta especialidade,1892 1893 e foi presidente da Associação Brasileira de Imprensa Automotiva (Abiauto), que concede o Prêmio Imprensa Automotiva, um dos mais importantes da categoria, do qual é membro do comitê gestor.1894 Foi ainda um dos fundadores e presidente da Associação América Latina da Imprensa de Carros (Americar),1895 que concede o Prêmio Mercosul – Americar para os melhores modelos de veículos produzidos e comercializados nos países do Mercosul e América Latina, prêmio do qual Paulo faz parte da comissão organizadora e da comissão do júri.1896

1887

Calcagnotto, Carlos. “Adeus a um grande homem”. Ponto Inicial, 24/04/2014 “UCS TV grava duas edições do Estúdio Aberto na CIC”. UCS TV, 29/11/2006 1889 Revista Acontece Sul. Sobre a Revista. 1890 “Juventude lamenta a morte do jornalista Jimmy Rodrigues”. Esporte Clube Juventude, 10/06/2013 1891 “Álbum - Automóveis e futebol na pauta de Paulo Rodrigues“. Portal dos Jornalistas, 24/07/2012 1892 “Persona Singular”. Rádio Caxias, 10/07/2015 1893 Portal dos Jornalistas, op. cit. 1894 Dias, Tarcisio. “Chevrolet Agile e Honda CBR 1000 RR com ABS: os melhores entre os melhores em 2009”. In: Mecânica Online, 2009; X (119) 1895 “Os melhores de 2014”. Revista In, 26/11/2013 1896 Rodrigues, Paulo. “Solenidade no Salão de Detroit 2013”. Carros & Cia, 19/01/2013 1888

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Paulo Rodrigues, de branco, na entrega do Prêmio Mercosul – Americar 2013 para o presidente e o CEO da Audi Brasil, conquistado pelo modelo A3 Sedan. Foto da Assessoria de Imprensa da Audi Brasil. Abaixo, Marcelo e seu pai Paulo Rodrigues. Foto do jornal Olá Serra Gaúcha!

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Paulo foi objeto de uma matéria no Portal dos Jornalistas, que deu mais informações sobre sua trajetória: “Paulo Rodrigues, do Carros&Cia, é daqueles jornalistas que se profissionalizaram no dia a dia da atividade. Ele é advogado de formação, mas começou carreira na imprensa no início da década de 1970, na Rádio Caxias, aos 19 anos, como plantonista esportivo. Em 1975, começou a fazer na TV Caxias um programa de carros. Daquele tempo pra cá, a atração foi sendo aprimorada e hoje, além de falar de competições, abre espaço para lançamentos, produtos, salões internacionais e o mercado automotivo em geral. Há 15 anos com o nome de Carros&Cia, o programa de TV vai ao ar aos sábados e pode ser visto também no site de mesmo nome. Na rádio, os boletins são diários. Rodrigues divide a pauta automotiva com a esportiva: às 2as.feiras, apresenta um programa de debate sobre futebol, o Zona do Agrião, também na TV Caxias”. 1897 Casado com Mirtes Fabris, descendente de Giacomo Paternoster, já mencionada antes, teve o filho Marcelo. Ele e o pai foram notícia em 2012 no jornal Olá Serra Gaúcha: “Quem não conhece o jornalista Paulo Rodrigues em Caxias do Sul? Acho que ninguém respondeu ‘eu’ a esta pergunta! Uma unanimidade quando o assunto é automobilismo, Paulo idealizou e detém a marca Carros&Cia há 20 anos: trata-se de um programa de televisão, um portal na internet, um programa de rádio e um caderno impresso que circula junto à Revista Acontece Sul – revista, esta, que completa 10 anos de circulação ininterrupta neste mês de março. E o Paulo está fazendo escola: seu filho, Marcelo Rodrigues, graduado em Odontologia, está seguindo seus passos neste mundo automobilístico. Responsável por atualizar o carrosecia.net com notícias dos segmentos de automóveis e seus derivados (motos, ônibus e caminhões), Marcelo afirma que o portal veio para ampliar e manter a cobertura globalizada do Carros&Cia. ‘Além das coberturas noticiosas, o site também amplia a atuação, colocando à disposição dos usuários uma série de serviços da mais alta valia’, destaca. “A reunião-almoço da CIC de Caxias do Sul da próxima segunda-feira, dia 19, é comemorativa aos 10 anos da Revista Acontece. O palestrante é o presidente da Ford Brasil e Mercosul, Marcos de Oliveira, que falará sobre os desafios da indústria automotiva brasileira”.1898 Voltando aos filhos de Theodoro Frantz, ainda temos: 8) Maria Juliana Frantz (Rincão del Rey, 26/04/1890 – ?). 9) Cristiano Conrado Frantz (03/06/1891 – ?), sub-intendente distrital em Rio Pardo nos anos 30. 10) Ernesto Theodoro Frantz (Rincão del Rey, 12/01/1893 – ?). 11) Arthur Adalberto Frantz (23/09/1895 – ?), marinheiro (?). 12) Maria Paulina Frantz (23/03/1899 – ?).

1897 1898

Portal dos Jornalistas, op. cit. “Mundo do automóvel”. Olá Serra Gaúcha, 15/03/2012

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Ida Olinda Frantz, seu filho Lydio e o esposo André Martinewski. Abaixo, Lúcio e Lydio.

13) Ida Olinda Frantz, nascida em Santa Cruz em 13 de maio de 1897 e falecida em Porto Alegre em 1º de novembro de 1984, casou-se em 6 de outubro de 1920 com André Martinewski, nascido em 7 de março de 1896 e falecido em 8 de abril de 1980, filho de Antrea Martinewski e Catharina Duckart, ambos imigrantes russos que chegaram ao Brasil em 1882. André foi comerciante e ativo membro da Comunidade São José em Porto Alegre. Tiveram os filhos Lúcio, Victor, Lydio, Gerta e Plínio. André Luís, filho de Lydio, deu importante colaboração completando a descendência de Ida Olinda e André, que os caxienses desconheciam.

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Gerta e sua mãe Ida Olinda. Abaixo, Lúcio, Victor, Lydio e Gerta com seus pais Ida Olinda e André Martinewski.

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Lucio e Lydio Martinewski

Gerta, Victor, Lydio e Lúcio Martinewski.

a) Lúcio Arthur, nascido em Porto Alegre em 30 de dezembro de 1921, foi militar na Força Aérea Brasileira, especialista em comunicações, condecorado pelas campanhas da Itália e do Atlântico Sul da II Guerra Mundial, recebendo também a Presidential Unit Citation do Governo dos Estados Unidos. Depois de dar baixa em 1952 como sargento, foi diretor em uma fábrica de calçados e sócio-gerente de uma imobiliária. 1899 Em 2010 a Força Aérea concedeu-lhe outra distinção: “O Quinto Comando Aéreo Regional (V COMAR) realizou, no dia 24 de maio, a entrega do diploma e da Medalha Mérito Operacional Brigadeiro Nero Moura, concedidos pelo Comando da Aeronáutica, a cinco veteranos da Segunda Guerra Mundial, que estiveram na Itália com o efetivo do Primeiro Grupo de Aviação de Caça entre os anos de 1944 e 1945. “Bastante emocionados e relembrando os fatos históricos dos quais participaram, o Capitão Jayme Senra, o Ten. Adolfo Vieira, o Sargento Lucio Arthur Martinewski e o Cabo Heitor Tider receberam as medalhas em suas residências, na cidade de Porto Alegre. O Capitão Paulo Gaspar de Souza recebeu a Medalha das mãos do Comandante do V COMAR, Major Brigadeiro do Ar Nivaldo Luiz Rossato, no Salão Nobre da Organização Militar. “Os veteranos da Campanha da Itália foram agraciados com a Medalha, criada no ano do Centenário de Nascimento do Brigadeiro Nero Moura (2010) – Comandante dos veteranos durante a Guerra – para ser concedida aos comandantes de unidades aéreas que se destacam em suas funções”.1900

1899

Sentando a Pua! A história da Aviação Militar Brasileira na Segunda Guerra Mundial 1942-1945. Lucio Arthur Martinewski – dados biográficos. 1900 Força Aérea Brasileira. “V COMAR realiza entrega de medalhas a veteranos da II Guerra”, 25/05/2010

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Lúcio Martinewski recebendo a Medalha Mérito Operacional Brigadeiro Nero Moura, foto da FAB.

Lúcio casou-se em 19 de setembro de 1951 com Doralice Nedel, nascida em 9 de setembro de 1930, tendo os seguintes filhos: a1) Helena Martinewski, nascida em 5 de outubro de 1953, casou com Carlos Biedermann, nascido em 18 de agosto de 1953, formado em Administração de Empresas, Ciências Contábeis e Administração Pública e pós-graduado em Mercado de Capitais,1901 e hoje destacado empresário, “reconhecido como uma das lideranças mais relevantes do Estado”.1902 De acordo com seu perfil no Linkedin, Carlos trabalhou na empresa PricewaterhouseCoopers e foi sócio da consultoria PwC Brasil, hoje com sua própria empresa de consultoria na área de governança, a Biedermann Consulting. Também é senior associate partner da Cambridge Associates, atuante nos Estados Unidos, membro do Conselho de Administração da Agenda 2020, do Conselho de Administração do Capítulo Porto Alegre da Young Presidents' Organization, do Conselho de Administração da Valley Valmont – BR, do Comitê de Auditoria do Grupo Algar, do Comitê de Auditoria da Suzano Papel e Celulose, do Comitê de Auditoria da BB Seguridade e vice-presidente da FEDERASUL. Até 2014 foi membro do Conselho de Administração do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa e até janeiro de 2016 foi também presidente da seção Rio Grande do Sul da Associação dos Dirigentes de Marketing e Vendas do Brasil. Ao assumir a presidência, Telmo Costa, presidente na gestão 2012/2013, disse que “a experiência de Carlos Biedermann contribuiu para que a ADVB desse passos importantes na implantação do processo de governança e tratássemos, no Comitê de Sustentabilidade, de temas ligados à perpetuação da entidade. Tenho certeza de que grandes realizações virão nesse próximo ano e que a ADVB seguirá seu processo de qualificação, 1901

23º Congresso Apimec. Palestrantes. Assis, Lisiane de “O empresário Carlos Biedermann assume a Presidência da ADVB/RS”. In: Revista em Evidência, 2014; 4 (36):10 1902

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crescimento e expansão”.1903 Sua passagem pela consultoria PwC Brasil foi resumida em matéria do jornal Amanhã: “Entre seus legados, Biedermann enumera a conquista da liderança do mercado no sul e o fortalecimento da consultoria para as empresas da região, com a abertura dos escritórios da PwC em Maringá (PR), Florianópolis (SC) e Caxias do Sul (RS). No rol das conquistas ainda está o importante processo de auxílio à implantação das novas regras da Lei Sarbanes-Oxley, que passaram a valer também para algumas grandes corporações brasileiras que fazem operações Helena Martinewski e o marido Carlos Biedermann. Abaixo financeiras no exterior. Prova do seus filhos Mariana e Luciano. Fotos Lenara Petenuzzo / O fortalecimento da grife na região é a Sul. liderança da PwC na categoria Consultoria de Gestão no Top Executivo, pesquisa feita por AMANHÃ e Segmento com uma centena de presidentes, vice-presidentes e diretores das companhias gaúchas presentes entre as 500 MAIORES DO SUL. A PwC lidera a categoria nas últimas quatro edições. No ano passado, Biedermann, que também preside a Associação dos Dirigentes de Marketing e Vendas do Brasil (ADVB-RS), recebeu o Prêmio Líderes & Vencedores. A condecoração homenageia, há 20 anos, algumas das personalidades políticas, comunitárias e empresariais de maior destaque no ano. O prêmio é uma iniciativa da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul e da Federação das Associações Comerciais e de Serviços do Rio Grande do Sul (Federasul)”.1904 Helena e Carlos têm os filhos a1a) Luciano (23/09/1982), associado do Instituto de Estudos Empresariais, que promove o importante Fórum da Liberdade,1905 e a1b) Mariana (12/05/1985), casada com Rui Bastian, sócio diretor da empresa JOG Engenharia de Andaimes, com o filho Theo. a2) Suzana Martinewski, nascida em 11 de dezembro de 1955, farmacêutica, solteira, tem uma filha adotiva, Mariana. a3) Arthur Martinewski, empresário, nascido em 13 de agosto de 1959, casou-se com Jussara Mariza Gomes, nascida em 1º de junho de 1956, atualmente separados. O casal teve uma filha, Clarissa Gomes Martinewski (29/03/1989), estudante de Engenharia de Produção.

1903

Assis, op, cit. “Carlos Biedermann deixa PwC”. Amanhã, 23/04/2015 1905 Instituto de Estudos Empresariais. Fórum da Liberdade 2037: que Brasil será o seu? 1904

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Arthur Martinewski, foto de Arthur. Ao lado, Fernando Martinewski e a esposa Márcia Gomes Justo da Rosa, foto de Márcia.

Suzana Martinewski e a filha Mariana, foto de Suzana. Ao lado, Virgínia Martinewski, o marido Eron Xavier Fonseca e as filhas Isadora e Manuela, foto de Virgínia.

Silvia Martinewski de Mattos, foto de Silvia.

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a4) Flávio Martinewski, nascido em 21 de julho de 1961, casou-se com Ariadne de Santa Teresa Fonseca, nascida em 16 de agosto de 1964, superintendente de Relacionamento com Clientes Administração Tributária e Comércio Exterior da SERPRO,1906 gerando uma filha, Laura Fonseca Martinewski (01/07/1993). Flávio separou-se e vive com Laura Beheregaray Carvalho (29/04/1966). a5) Fernando Martinewski, nascido em 2 de setembro de 1963, casado com Márcia Gomes Justo da Rosa, nascida em 4 de agosto de 1963, tem uma filha, Fernanda da Rosa Martinewski (25/02/1998), jornalista, e um enteado, Aiurgue Afonso da Rosa Silva (27/05/1987). a6) Virginia Martinewski, nascida em 14 de setembro de 1968, taquígrafa forense do Tribunal de Justiça do Estado, casada com Eron Xavier Fonseca, nascido em 3 de janeiro de 1966, gerou duas filhas, Isadora Martinewski Fonseca (26/12/2002) e Manuela Martinewski Fonseca (04/04/2005). b) Lydio Martinewski, nascido em 7 de janeiro de 1925, casou-se em 27 de maio de 1950 com Ellen Graubmann, nascida em 26 de janeiro de 1927 e falecida em 11 de dezembro de 2001. O casal teve cinco filhos. Depois Lydio casou-se com Maria Olina Pereira, nascida em 21 de outubro de 1930. Lydio trabalhou para a VARIG e foi membro do primeiro Conselho Fiscal da Associação dos Participantes e Beneficiários do AERUS, o fundo de seguridade social da empresa.1907 Também trabalhou para a Fundação Rubem Berta (acionista majoritária da VARIG), sendo até a sua aposentadoria o seu principal representante no Rio Grande do Sul. Depois foi membro do Conselho Fiscal da Tupy S.A., indicado pelo AERUS, até o ano de 2002. Os filhos do primeiro casamento são: b1) Lilian Martinewski, nascida em 14 de maio de 1951, casada com Renato Fischer, nascido em 4 de agosto de 1948, gerando b1a) Alexandre Martinewski Fischer (15/11/1975), cirurgiãodentista, casado com Tassiane Saldanha Grin (12/02/1973), odontopediatra, pais de Daniel Grin Fischer (28/06/2012). b1b) Cláudia Martinewski Fischer (13/04/1978), cirurgiã-dentista, casada com Anderson Rizzolli (17/11/1970), industrial, diretor da gráfica R&S Indústria e Comércio de Etiquetas,1908 pais Laura Fischer Rizzolli (17/10/2007) e Felipe Fischer Rizzolli (12/06/2012). b2) Ligia Martinewski, nascida em 19 de julho de 1953, solteira, bancária na Caixa Econômica Federal, apoiadora do Departamento de Patrimônio Histórico da UFRGS.1909 b3) Silvia Martinewski, nascida em 27 de dezembro de 1954, formada em Administração de Empresas e Administração Pública. Foi casada com Carlos Alberto Bins Livi, nascido em 30 de agosto de 1954, empresário e piloto de kart, falecido em 26 de setembro de 2004 em acidente no Autódromo de Tarumã, homenageado por seus companheiros de esporte batizando uma prova de kart em 2004.1910 Tiveram dois filhos: b3a) Roberta Martinewski Livi (14/04/1981), agente literária, casada com Fabio Paloski Rodrigues (24/03/1981), formado em Administração, e b3b) Guilherme Martinewski Livi (16/04/1984), que foi gerente Comercial e Financeiro da empresa SaveU, coordenador de projeto do aplicativo Bom Motora, gerente Comercial da Rockmend e hoje é coordenador regional de Prevenção em Perdas – RS/SC das 1906

SERPRO. Sunac - Superintendência de Relacionamento com Clientes - Adm. Tributária e Com. Exterior. “Chegou 2011”. Infoaprus, 2011; III (34) 1908 Máquinas de corte e gravação a laser transformam mercado gráfico brasileiro”. Abigraf, 20/02/2015 1909 UFRGS – Patrimônio Histórico. Nossos Incentivadores. Pessoa Física. 1910 “Targh 400 prestará homenagem durante disputa”. F1 Mania, 29/10/2004 1907

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Lojas Americanas S.A.1911 É casado com Juliana Trombetta (28/02/1987). Atualmente Silvia reside nos Estados Unidos, onde é associada da editora Victoria’s Secret e está casada com Samuel (Sam) José de Mattos Jr., nascido em 1º de novembro de 1948, escritor e autor dos livros O Papa Besouros e A Um Passo do Vêneto, que já tinha três filhos, Samuel José de Mattos, Andrea Elizabeth Cole e James Thomas José de Mattos. b4) André Luís Martinewski, nascido em 9 de abril de 1962, formou-se em Administração e Ciências Contábeis e tem Doutorado em Administração. Foi membro do Conselho Editorial da Revista de Administração Contemporânea e da Revista Eletrônica de Administração da UFRGS, e da Revista de Contabilidade do Mestrado em Ciências Contábeis da UERJ; foi superintendente de Infraestrutura e secretário do Patrimônio Histórico da UFRGS, e vicediretor da Escola de Administração.1912 À frente da Secretaria do Patrimônio Histórico da UFRGS propiciou as bases para diversas realizações, 1913 entre elas a conquista de uma Menção Honrosa no VII Prêmio Rainha Sofia de Conservação e Restauração de Patrimônio Cultural, entregue na Espanha, pelo trabalho de recuperação dos prédios históricos da universidade. 1914 Atualmente é Professor Associado da UFRGS e está casado com Clarissa da Luz Varani, nascida em 12 de julho de 1969, que estudou Letras Português/Espanhol na UFRGS e trabalha na empresa de consultoria de beleza feminina Mary Kay. Tiveram os filhos b4a) Gabriel Varani Martinewski (10/09/2002) e b4b) Valentina Varani Martinewski (11/06/2007).

A rainha Sofia da Espanha e André Luís Martinewski, recebendo a Menção Honrosa do Prêmio Rainha Sofia. Foto de André.

1911

Guilherme Martinewski Livi. Linkedin. André Luiz Martinewski. Plataforma Lattes. 1913 Escola de Administração – UFRGS. “Prof. André Luiz Martinewski, secretário do Patrimônio Histórico, conclui mandato e se despede da SPH”. 1914 “Quito recibe el Premio de Patrimonio Reina Sofía”. La República, 07/03/2012 1912

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Victor Martinewski marcado com ponto branco, com a equipe da VARIG.

b5) Simone Martinewski, nascida em 24 de agosto de 1963, estudou Serviço Social, trabalhou na empresa Paramount Lansul e hoje se dedica à produção de hortigranjeiros orgânicos. Foi casada com Romolo Pedrazzi, nascido em 12 de fevereiro de 1958, e separou-se em 2001. Atualmente, é casada com Luiz Ernesto Bulau Dable, nascido em 15 de outubro de 1948, associado à esposa na produção de orgânicos. c) Victor Martinewski, nascido em 28 de fevereiro de 1928, foi telegrafista da VARIG, e depois dedicou-se ao ramo de transporte rodoviário de combustíveis. Casou-se em 9 de abril de 1953 com Marlene Reis, nascida em 15 de agosto de 1933. Victor faleceu em 2015, deixando três filhas: c1) Cristina Martinewski, nascida em 11 de janeiro de 1955), funcionária da Coordenadoria Regional de Educação 1915 e membro das Bancas Examinadoras da Fundação para o Desenvolvimento de Recursos Humanos do Governo do Estado,1916 casada com Walter Ari Döhnert, nascido em 23 de setembro de 1938, professor da Universidade Luterana do Brasil,1917 pais de Christian Martinewski Döhnert (21/08/1987), que foi analista e coordenador de Administração e Estruturação de Fundos de Investimento do Banco Cooperativo Sicredi e hoje é seu Gerente de Administração e Custódia.1918

1915

“Coordenadoria Regional de Educação”. Diário Oficial RS, 26/07/2007 Secretaria de Estado da Educação. Edital de Concurso nº 16/2012 1917 Universidade Luterana do Brasil. Projeto Pedagógico do Curso de Pedagogia, 2014 1918 Christian Martinewski Döhnert. Linkedin. 1916

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Simone Martinewski Dable, foto de Simone. Ao lado, Cristina Martinewski Döhnert, foto de Cristina.

Christian Martinewski Döhnert, foto de Christian. Ao lado, Karen Martinewski, foto de Karen.

c2) Karen Martinewski, nascida em 13 de novembro de 1956, formada em Educação Física e professora estadual, foi casada com Paulo de Tarso Gaspar Pinheiro Machado, graduado em Ciências Econômicas, Mestre em Agronegócios, atualmente professor universitário e sócio e diretor de consultoria da empresa De Tarso Office Estratégia e Governança. O casal hoje está separado. c3) Themis Martinewski, nascida em 7 de agosto de 1959, é servidora do Ministério Público e foi membro da equipe do Programa de Formação de Gestores.1919 Em 2011 foi agraciada com a Ordem do Mérito do Ministério Público do Rio Grande do Sul no grau de Oficial.

1919

“Iniciada a 2ª Fase do Programa de Formação de Gestores do Ministério Público”. Ministério Público do Rio Grande do Sul, 20/10/2004

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Themis Martinewski recebendo a Ordem do Mérito do Ministério Público do Rio Grande do Sul, foto do Ministério Público.

A distinção é conferida a pessoas e instituições que se destacaram pela busca do desenvolvimento das atividades jurídicas e homenageiam aqueles que prestaram relevantes serviços à cultura jurídica e ao Ministério Público. 1920 1921 Themis foi casada com Edmundo Dreher Neto, nascido em 26 de dezembro de 1959, com quem teve duas filhas: c3a) Lívia Martinewski Dreher (16/11/1982), coordenadora da Unidade de Concursos do Ministério Público Estadual,1922 e c3b) Mônica Martinewski Dreher (20/11/1986), analista de Recursos Humanos e Treinamento da empresa GKN Driveline.1923 Atualmente Themis está casada com outra pessoa, cujo nome não foi descoberto. d) Gerta Martinewski, nascida em 24 de dezembro de 1930, foi casada com José Emílio Zepf, relojoeiro, nascido em 30 de junho de 1930, e hoje está separada. O casamento produziu três filhos: d1) Ernani Zepf, nascido em 9 de outubro de 1955, trabalhou no Centro de Formação de Condutores Castelo e foi casado com Clarice Maria Lacava Melo, nascida em 15 de agosto de 1963, assistente administrativa e comercial da Companhia Estadual de Energia Elétrica,1924 com quem teve dois filhos: d1a) Bruno Zepf (16/11/1984), terapeuta na empresa Terapia Holística e guardião na empresa Espaço VITAO, onde atua com Psicoterapia Espiritual e Transpessoal, Florais, Massoterapia, Cura Quântica, Theta Healing e grupos de estudos espirituais e terapia coletiva,1925 e d1b) André Zepf (09/08/1989). Atualmente Ernani está casado com outra pessoa, cujo nome se desconhece. 1920

“Cezar Miola recebe Ordem do Mérito do MP-RS”. Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul, 18/11/2011 1921 “MP concede Ordem do Mérito”. Correio do Povo, 19/11/2011 1922 Ministério Público do Rio Grande do Sul. Concursos. 1923 Mônica Martinewski Dreher. Linkedin 1924 Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE). Distribuição. 1925 “Venha conhecer e aprender a canalizar a maravilhosa energia do Reiki!” Espaço VITAO.

554

Márcia Ramos Rosa, Marcelo Rosa Zepf e Victor Zepf. Foto de Márcia.

d2) Renato Zepf, nascido em 24 de agosto de 1958, solteiro. d3) Victor Zepf, nascido em 29 de setembro de 1959, designer de camisetas, bolsas, estojos, mochilas e similares, proprietário da empresa Ravish Acessórios, é casado com Márcia Ramos Rosa, nascida em 11 de fevereiro de 1963, arquiteta/urbanista e engenheira de Segurança do Trabalho.1926 O casal tem o filho Marcelo Zepf (06/08/1996), estudante. e) Plínio, outro filho de Ida e André Martinewski, viveu pouco tempo, nascendo em 21 de março de 1935 e falecendo em 30 de novembro de 1936.

1926

“Segurança em casa”. In: AAI em Revista – Publicação da Associação de Arquitetos de Interiores do Rio Grande do Sul, 2009, VII (41)

555

Antônio Augusto Frantz, o menino na fila de trás, o segundo a partir da esquerda, com seus amigos do futebol. Abaixo, Antônio em Porto Alegre, entre amigos. Ele é o rapaz encostado à murada alinhado com a torre da Igreja das Dores, que aparece ao fundo.

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Natural de Santa Cruz, neto de Christian Conrad, um dos fundadores da cidade, nascido em 12 de julho de 1901 na casa de seus pais Theodoro Frantz e Anna Katharina Gassen, no distrito de Arroio das Pedras, 14) Antônio Augusto Frantz foi o último dos seus irmãos, e pouco se conhece de sua juventude. Quando pequeno ajudou o pai na padaria de Porto Alegre e depois aprendeu o ofício de alfaiate. Como em sua juventude estava morando na capital, onde a família de sua mãe tinha parentes, entre eles seu irmão José, conhecido alfaiate e “honrado comerciante” de tecidos,1927 muito provavelmente com ele Antônio foi iniciado no ofício, mas pode ter sido ensinado por seu primo de Santa Cruz, o já citado José Germano, filho de Cristiano Guilherme, que segundo a Câmara de Santa Cruz foi “exímio alfaiate”,1928 e também pode ter mantido contato com Albino Frantz, filho de um certo J. Frantz, que pode ser o Edmundo Albino filho de João Henrique, e que comandou no início do século XX uma alfaiataria e comércio de tecidos instalada no centro de Porto Alegre, próxima da Casa Gassen. 1929 Em 1921 Antônio foi alistado no serviço militar.1930 Em 1926 um Antônio Frantz abriu em Santa Cruz uma empresa em sociedade com Willy Mossmann, com o capital de 23 contos de réis, uma soma respeitável, para comércio de “mercadorias em geral”,1931 porém, provavelmente se tratava de seu primo homônimo, filho de seu tio João. O que se sabe é que nesses anos meu avô passara a viajar pelo interior negociando tecidos. Ele poderia, por outro lado, estar fazendo O antigo ferro de passar roupa aquecido com representação comercial para o tio José Gassen de Porto brasas que era utilizado por Antônio em sua Alegre. Seja como for, numa dessas viagens, desta feita para alfaiataria. Caxias, onde tinha contatos com as Lojas Alfred, conheceu Ida Sartori Paternoster, com quem veio a se casar em 4 de maio de 1929, lançando raízes nesta cidade, onde fez carreira e boa reputação. Após seu casamento, já com um novo rumo traçado, Antônio transferiu todos os seus interesses para Caxias, e em 23 de fevereiro de 1931 foi admitido como membro da Associação dos Comerciantes,1932 o que indica que estava em uma situação econômica bastante sólida, embora nunca chegasse a enriquecer. Abriu uma alfaiataria na Praça Dante, ao lado da atual Casa de Cultura, e depois mudou seu estabelecimento para o térreo da casa de seus sogros, na qual residiu por cerca de vinte anos.1933 1934 Permaneceria neste ramo de atividade até se aposentar.

1927

“Acha-se nesta capital”. A Federação, 01/03/1900 Câmara de Vereadores de Santa Cruz do Sul. Projeto 13/L/1990 1929 “Porto Alegre: alfaiates”. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1924, Vol IV 1930 “Alistamento militar”. A Federação, 03/08/1921 1931 “Junta Commercial”. A Federação, 05/08/1926 1932 Gardelin, Mário. “Para a história da Câmara de Indústria e Comércio de Caxias do Sul – XX”. Pioneiro, 13/08/1977 1933 Rigon, Roni. “Memória: O casal Ida e Antônio”. Pioneiro, 10/09/2003 1934 “Nascimentos”. A Época, 14/01/1940 1928

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Casamento de Antônio Frantz e Ida Sartori Paternoster, 1929.

Também foi aficcionado enxadrista, presidente do Caxias Xadrez Clube, vencedor da Copa Cigarros Fio de Ouro, uma competição de partidas simultâneas, por duas vezes vencedor do Campeonato Popular de Xadrez,1935 1936 1937 e membro da Divisão de Xadrez do Clube Juvenil, lembrado nesta qualidade na Sessão Solene da Câmara Municipal que comemorou os 97 anos do clube.1938 Jogador de bocha habilidoso e premiado, campeão municipal em 1951, foi chamado por Maineri de “um dos ídolos da bocha em Caxias, durante largos anos um dos esteios da Sociedade Caxiense de Bochas”.1939 Foi também muitas vezes membro do júri popular.

1935

Rigon, Roni. “Memórias de Antônio Frantz”. Pioneiro, 23/12/2003 “Xadrez”. A Época, 05/08/1954 1937 “Nova Diretoria do Caxias Xadrez Clube”. A Época, 22/01/1953 1938 Câmara de Vereadores de Caxias do Sul. 187ª Sessão Ordinária no 2º Período Legislativo da XIII Legislatura, 19/06/2002 1939 Maineri, João Luiz. “Recordações”. Pioneiro, 20/08/1975 1936

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Fotos em Adami (1966). Ao fundo, à esquerda, o prédio do Clube Juvenil.

559

Foto em Adami (1966). Apesar do que diz o autor na legenda, de algum modo que desconhecemos a Taça Hélio Limeira voltou às mãos de Antônio, sendo preservada por seu filho Murillo.

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Foi membro da comissão fundadora da Ação Integralista na cidade, junto com Humberto Bassanesi, Arthur Rech, Angelo Ricardo Costamilan, José Felippe e Luciano Corsetti.1940 O Integralismo tinha perfil conservador e direitista, afinado com o Fascismo italiano,1941 ideologia que teve grande influência em Caxias no início do século XX, como já foi assinalado na Introdução. Contudo, o movimento durou pouco em Caxias, sendo inaugurado em 1934 e extinto em 1937, quando foi fundado o Estado Novo. 1942 Não se conhece nenhum detalhe de como foi a atuação pessoal de Antônio junto ao grupo, e sobrevive apenas uma fotografia, mostrada abaixo, onde ele aparece com o uniforme de integralista.

1940

Rigon, Roni. “Ação Integralista Brasileira”. Pioneiro, 18/12/2003 Trindade, Hélgio. Integralismo, o Fascismo brasileiro na década de 1930. Difel, 1974 1942 Rigon (18/12/2003), op. cit. 1941

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Nos anos 50 foram vendidos a casa onde morava, recebida por Ida em herança, e os dois grandes terrenos onde ela se situava, em zona já muito valorizada nesta época, e a família pôde se transferir para um pequeno mas confortável palacete na mesma avenida, defronte à Igreja do Santo Sepulcro, geminado ao da família Rigotto. Nos anos 70 este palacete foi vendido e meus pais construíram o sobrado onde moram até hoje, em cujo térreo passou a residir com Milton, seu filho que ficou solteiro, até sua morte em 15 de agosto de 1975. Foi grande leitor, católico devoto e teve como um de seus passatempos a exegese bíblica, especializando-se no Apocalipse e deixando um ensaio sobre o tema.1943 Como narra o historiador Mário Gardelin, “Ele sempre apreciou esses assuntos, embora poucas pessoas de suas relações, mesmo as mais íntimas, o notassem. [...] Consta que mostrou seu trabalho a alguns eclesiásticos, que junto a elogios, discordaram de algumas interpretações. Aliás, interpretar o Apocalipse é atirar-se a um campo onde tudo pode provocar surpresa. As objeções não invalidam o seu honesto e bem intencionado trabalho. Não cabe indagar se as intrerpretações deixadas por ele são exatas. Afinal, o Apocalipse é uma empreitada em que os teólogos têm semeado em abundância, e com uma variedade surpreendente”. 1944 Disse o próprio Antônio, segundo afirma Gardelin, que “interpretar o Apocalipse sem tomar conhecimento do seu sentido histórico é mutilar a obra de São João. [...] O sentido religioso é uma consequência lógica do desdobrar dos fatos históricos”. Em sua filosofia, a fé não excluía a razão, mas pensava que a escritura sagrada devia ser levada muito a sério, pois acreditava em Deus e na inspiração divina dos seus profetas. Neste sentido, procurando entender a profecia, veio a crer que o fim do mundo estava próximo, pois identificara no livro sagrado vários “sinais dos tempos” que correspondiam, em sua visão, a eventos atuais, entre eles a criação do Estado de Israel e a restauração da dignidade de Jerusalém. Interpretando os Quatro Cavaleiros, identificou-os como Jesus, Maomé, Urbano II e o Paganismo.1945 Assim como Gardelin disse que não era, muito menos eu sou qualificado para avaliar suas interpretações. Fica do seu trabalho, ainda inédito, pelo menos este registro.

1943

Rigon (10/09/2003), op. cit. Gardelin, Mário. “O Apocalipse por dentro”. Correio do Povo, 10/05/1977 1945 Gardelin (1977), op. cit. 1944

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A taça que recebeu como vencedor na Copa Cigarros Fio de Ouro, um torneio de partidas simultânea. À direita, a Taça Hélio Limeira.

João Luiz Maineri, ao lamentar no jornal Pioneiro seu passamento, disse: “Com a morte de Antônio Frantz, nosso pensamento se voltou ao passado e, nos lembramos saudosos, quando num velho casarão da avenida Júlio de Castilhos, ao lado da Casa Prataviera, trabalhavam [...] o Frantz na sua profissão honrada de alfaiate; o Benjamin Oliveira, com sua chapelaria; o Chico Fortuna, como representante do Correio do Povo e sua Agência Lotérica e, por que não dizê-lo também, nós, com nossa Vida Esportiva, um jornal que circulou nos idos de 54. [...] Cidadão exemplar, deixa uma descendência formada de homens e mulheres que enobrecem a nossa sociedade. [...] “Antônio Frantz, simples e bom, partiu para encontrar no Céu sua eterna companheira e para descansar dos embates da vida, vida na qual foi um vitorioso. [...] Em vendo o Benjamin Oliveira, os Sartori, os Longhi, e tantos outros nas justas homenagens ao Frantz eu sinto dentro de mim uma saudade imensa dos idos que vão longe, quando meu velho pai na sua banca de sapateiro, como os Frantz, Mariani, Aguzzoli, Sartori e tantos outros, ajudou também de forma humilde a plasmar esse portento brasileiro que é Caxias. [...] E quando na cerimônia de encomendação, o padre Pedrotti, que foi muito feliz, ressaltava a importância de uma vida cheia de labor intenso para os merecimentos futuros, todos entenderam, mais do que nunca, que Antônio obtivera na vida aquilo que os justos e bons pretendem sempre: a paz”.1946 E paz encontrou também na morte, falecendo tranquilamente enquanto dormia, quando ainda tinha saúde e perfeita lucidez. Roni Rigon acrescenta que Antônio foi “pessoa muito admirada pela sociedade caxiense”,1947 e segundo Gardelin, “todos os que o conheciam atestam que foi um homem profundamente bom”, sendo também “exemplar chefe de família e magnífico pai, estimado pela cidade inteira, deixando uma família digna, que ocupa destacadas posições”.1948 1946

Maineri, op. cit. Rigon (23/12/2003), op. cit. 1948 Gardelin (1977), op. cit. 1947

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Minhas memórias de Antônio iniciam pouco antes de Ida ter um derrame catastrófico, do qual jamais se recuperaria, ficando presa no leito em estado vegetativo, falecendo depois de dois anos, e nesta altura Antônio praticamente se recolhera à vida privada, dedicado ao cuidado da esposa. Depois de passado este transe, que deixou uma funda marca em Antônio e em toda a família, tornou-se um senhor grave e austero, de poucas palavras. No entanto, como vimos, antes fora pessoa dinâmica e bem relacionada, esportista, e acompanhava Ida nas festas que ela tanto apreciava.

Ida Paternoster Frantz, Murillo Frantz, Antonio Frantz e Milton Frantz com sua sobrinha recém-nascida Adriana Frantz Panceri.

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Ao lado, o seu antigo relógio de bolso. Acima, a etiqueta de sua alfaiataria, que ia cosida por dentro das roupas que confeccionava.

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Acima, Antonio, à extrema direita, na fila de trás, com seus companheiros de bocha, vencedores do campeonato municipal de 1951. Abaixo, a casa de Massimo e Pasqualina Sartori na avenida Júlio de Castilhos, onde Antonio e Ida viveram por muitos anos, e onde Antonio tinha sua alfaiataria.

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Antonio Frantz, Ida Paternoster Frantz, Milton Frantz, Elisabeth Longhi, Murillo Frantz, Marisa Frantz Panceri e 567 Mauro Frantz. As crianças são Thaís, Adriana e Vitor Hugo, filhos de Marisa.

Antônio Frantz teve com Ida quatro filhos, aos quais deu uma educação de grande rigor, exortando-os ao trabalho, à piedade cristã e ao cultivo dos valores tradicionais. Foram eles: 1) Marisa Pasqualina, nascida em 11 de agosto de 1931, casada com o finado Henrique Panceri, formou-se na Escola Normal Duque de Caxias e trabalhou até aposentar-se como professora de crianças com necessidades especiais na escola Hellen Keller. Experimentou grandes dificuldades em sua vida, que passou principalmente dedicada à família e ao trabalho. Não obstante, seguindo os passos da mãe, também brilhou na sociedade, teve formação pianística e na juventude integrou o grupo das Falenas. Sua participação foi breve, nesta época as Falenas estavam em sua “segunda vida”, tendo sido reativadas em 1948 depois de quase vinte anos de inatividade, e seu perfil já era um pouco diferente do que fora no tempo de sua mãe Ida, dedicando-se principalmente a atividades sociais, e Marisa provavelmente esperava algo além. No fundo sempre foi avessa à superficialidade tão frequente nos círculos da elite, mas não podia fugir de sua própria natureza, possuindo chamativa beleza nos traços e marcante elegância Marisa Frantz Panceri. Coleção de Marisa. natural, características que herdou da mãe e sempre expressou sem qualquer afetação. E sendo pessoa bem criada por pais cultos, de gosto educado, sensível à arte, à cultura e ao belo, também sabe apreciar o que o mundo pode oferecer em requinte, mas desfrutando-o sem sucumbir a ele. No tempo das vacas gordas, antes da crise que causou o fechamento da grande empresa do marido e um forte aperto nas finanças familiares, quando eu ainda era um jovem, viveu em um casarão na avenida Júlio de Castilhos, decorado com obras de arte, antiguidades familiares e mobília de estilo, e a cada visita eu ficava deslumbrado com a beleza do cenário, admirando cada objeto. Para minha sugestionável mente juvenil, entrar em sua imponente residência, que me parecia um pequeno castelo, era como voltar ao tempo da baronesa Maria Sartori, sua avó, cuja história e principalmente o folclore que em seu redor se formou foi ela quem primeiro me transmitiu, e lá ficava eu a sonhar com antigos fidalgos em um ambiente todo propício para isso. Mesmo que hoje eu saiba que a baronesa viveu em uma casa simples, muito despojada e rústica, para mim, que via sua neta como uma princesa em seu palácio, era fácil imaginar Maria vivendo como Marisa vivia, como que num conto de fadas. Além disso, Marisa sempre foi grande contadora de histórias e uma tia extremamente carinhosa e amiga, com a qual desde a infância estabeleci forte afinidade, sendo a convivência com ela fonte de indeléveis encantamentos e felicidade, virtudes que ela conserva até hoje.

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Marisa, marcada com um ponto, com o grupo das Falenas.

569

A primeira casa de Marisa e Henrique Panceri em Torres, com a turma reunida.

Essa convivência tinha seu ponto alto nos verões, quando passávamos temporadas na sua casa da Praia da Cal, uma das praias de Torres, antes que meu pai construísse uma para si, literalmente empilhados pelos dois quartos e a pequena sala, sendo um despretensioso chalezinho de madeira, mas que a amabilidade e solicitude dos anfitriões transformava em mansão. Foram maravilhosas as temporadas nesta casa junto dos tios e primos e os seus parentes Panceri e dal Pont, que tinham casas vizinhas, numa praia onde todos se conheciam ou eram aparentados, onde nos entretínhamos em conversas até as madrugadas nas varandas de portas abertas. Na época em que isso ocorreu, os anos 60 até o início dos 80, a Praia da Cal especificamente, dentre as várias de Torres, ainda era o reduto dos caxienses, mas não passava de um pequeno e esparso núcleo de casas, ainda sem as grades e muros que hoje encarceram os veranistas, ainda com imensas dunas de areia e remanescentes de mata a poucas quadras do mar, e com os grilos à noite competindo com os humanos durante as conversas. Depois os Panceri construíram um amplo sobrado de alvenaria, que acabou sendo vendido quando a crise financeira afetou a família. Nesta época, coincidentemente, encerrara todo um ciclo cultural na vida de Torres, deixando de ser uma praia familiar para se abrir à grande indústria do turismo, demolindo toda a sua rica arquitetura vernacular, superlotando e poluindo as praias e tornando-se comuns os roubos e assaltos, perdendo muito da sua qualidade de vida e da antiga riqueza do seu meio ambiente.1949 1950

1949

Barroso, Vera Lucia Maciel; Quadros, Terezinha Conceição de Borba & Brocca, Maria Roseli Brovedan (coords). Raízes de Torres. EST, 1996 1950 Gedeon, Leonardo. “A Arqueologia em defesa do Patrimônio Material de Torres”. Recanto das Letras, 10/01/2008

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O casamento de Marisa Paternoster Frantz e Henrique Panceri. Coleção de Marisa Frantz Panceri.

571

Hoje Marisa envelhece com a dignidade da grande dama que nunca deixou de ser mesmo nos momentos mais difíceis de uma vida de altos e baixos, preservando a elegância, a delicadeza, a amabilidade e a simplicidade essencial que sempre foram suas marcas registradas, honrando os troncos ilustres dos quais descende. Seu esposo, Henrique Panceri, nascido em 16 de agosto de 1928, era filho de José, sobrinho de Agostinho e neto de Giuseppe, todos conhecidos industriais no ramo de tecidos e artigos de seda. Giuseppe foi o pioneiro da tecelagem da seda em escala industrial no Rio Grande do Sul, e seus artigos foram premiados em exposições na Itália e no Brasil. Foi também fabriqueiro da Catedral. 1951 1952 1953 1954 Gardelin & Costa falam sobre a família: “Giuseppe Panceri nasceu em Concorezzo, Milão, a 7 de setembro de 1858, filho de Baldassarre e Luigia Panceri. Baldassarre era professor em Milão. Desde sua juventude, Giuseppe dividiu seu tempo entre o trabalho na agricultura e o de tecelão, em teares manuais que começavam a surgir em Milão e, mais tarde, em teares mecânicos. Em 1882 casou-se com Virginia Parolini. Em 1884, com dois filhos e os velhos pais, emigrou para o Brasil, fixando-se no Travessão Umberto I da 6ª Légua, lote 18, onde se dedicou à agricultura.

Giuseppe Panceri, e abaixo seu filho Luigi. Coleção da família Panceri.

“Alguns anos após, deixou os filhos na colônia, junto de seus pais, e com a esposa Virginia, foi para a cidade de Rio Grande para trabalhar como contramestre na fábrica de tecidos de algodão Rheingantz, onde se demorou dois anos. Com as economias feitas, comprou fios de algodão do sr. Rheingantz e tornou à colônia com intenção de fabricar tecido. Nos dias de chuva, quando não dava para trabalhar na colônia, e à noite, à luz do lampião, improvisou alguns teares de madeira, beneficiada por ele mesmo. Construiu lançadeiras, liços, pentes... Com cipó e taquaras, iniciou a fabricação de seu primeiro artefato no Brasil, chamado sobrechincha, usado para segurar os pelegos nas selas de montaria. O produto foi bem aceito na população e pouco depois era fabricado com os dizeres ‘Rio-Grandense’. “Mas a tenacidade realizadora de Giuseppe foi interrompida algum tempo, com a morte de seus pais e de sua esposa, Virginia, sepultados em São Valentim na 6ª Légua. Ficou com quatro filhos menores: Carolina, Luigi, Pasqual e Josefina. Depois de algum tempo, casou-se com Josefina de Gregori, da qual teve seis filhos: Domingos, Adelina, Luiza, Amélia, José e Agostinho. Em 1909 faleceu também a segunda esposa, Josefina, e Giuseppe redobrou sua dedicação aos filhos e ao trabalho. Incentivou entre os 1951

Gardelin & Costa, op. cit. “Medalhas de ouro”. A Federação, 30/05/1911 1953 “Exposição em Turim”. A Federação, 18/11/1911 1954 “Exposição internacional do Centenário”. A Federação, 02/02/1924 1952

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colonos o plantio da amoreira para criação do bicho-da-seda, cuja produção ele próprio comprava, e começou, assim, a fabricar lenços de seda para pescoço e palas de seda, dois artigos vendidos em todo o estado. Ainda em 1909 transferiu-se para [o centro de] Caxias, onde instalou sua fábrica. Todos os filhos em condições de trabalhar, aprendiam de Giuseppe a tecelagem. Em 1911, viajou à Europa, onde adquiriu a parte mais importante para os teares, bem como lançadeiras, liços e quadros. Como não era suficiente a criação do bicho-da-seda, tratou de importar fio da Itália e aqui fabricava os tecidos. Por isso, fez mais duas viagens à Europa, em 1914 e em 1920, sempre para dar mais eficiência à sua indústria. A tradição da tecelagem foi seguida pelos filhos e pelos descendentes, que se dedicaram na firma Tecelagem Panceri Ltda.” 1955 Seu filho Luigi mudou-se para Rio Bonito, hoje Tangará, em Santa Catarina, onde dedicou-se à agricultura e à produção de vinho. Seus filhos Natal e Eduardo organizaram a produção e fundaram em 1958 a primeira cantina empresarial da família, chegando a produzir 50 mil litros anuais. A cantina evoluiu para duas grandes vinícolas, a Monte Vecchio e a Vinícola Panceri, ainda em atividade. Nilo, outro neto de Giovanni, foi o pioneiro da tecelagem da seda em Santa Catarina e um dos fundadores da Vinícola Panceri. Das duas vinícolas, a Panceri cresceu mais e foi premiada internacionalmente, considerada uma das maiores produtoras de uvas e vinhos do Brasil. 1956 1957 1958 A família também fundou o Museu da Vitivinicultura de Santa Catarina, onde a sua história figura com destaque. A Tecelagem Panceri de Caxias foi destacada em três grandes álbuns comemorativos dos 50 e dos 75 anos da colonização, cujas páginas vêm logo a seguir.

No alto, a primeira casa dos Panceri em Tangará. No meio, a família Panceri de Tangará na vindima de 1940. Coleção família Panceri. Embaixo, Celso Panceri, diretor da Vinícola Panceri e presidente do Sindicato do Vinho. Foto Portal Palotina.

1955

Gardelin & Costa 2ª ed., op. cit. Gardelin & Costa 2ª ed., op. cit. 1957 “Vinícola Panceri conquista medalha Gran Ouro no Concurso Mundial de Bruxelas 2015 – Edição Brasil”. Portal Palotina, 28/08/2015 1958 Monte Vecchio. Nossa História. 1956

573

574 Cichero, Lorenzo (org.). Cinquantenario della Colonizzazione Italiana nel Rio Grande del Sud 1875-1925

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576

A Tecelagem Panceri foi um centro multiplicador de conhecimentos sobre a industrialização da seda, formando profissionais que mais tarde abriram seus próprios empreendimentos.1959 O prédio foi estudado recentemente por Ana Elísia da Costa, que chamou a atenção para a raridade da sua solução estética, preferindo o uso de tijolos aparentes.1960 Agostinho Panceri foi casado com Ivone Pieruccini, “esposa amantíssima e filha extremosa”, com grande círculo de amizades, de “gênio comunicativo e bondoso”, falecida pouco depois do enlace,1961 e depois com Julieta Cesa, Ver nota 1962 de uma família tradicional que deu grandes comerciantes. Além de industrial, sócio na tecelagem, foi bibliotecário, conselheiro e vice-presidente da Associação dos Comerciantes, e membro da Junta de Conciliação e Julgamento.1963 1964 1965 Henrique participou ativamente na condução do negócio familiar, sendo um dos sóciosdiretores da Tecelagem Panceri, mas nos anos 70 a empresa começou a enfrentar muita concorrência, entrou em declínio e acabou fechando em 1981. Como Henrique tinha talento para invenções, em seguida abriu uma empresa de eletrônica, que foi uma das primeiras na cidade, senão a primeira mesmo – o que seria de averiguar – a instalar portas de garagem com controle remoto. Adorava uma pescaria e foi um tio brincalhão, de saudosa memória, tendo falecido em 11 de fevereiro de 2004. Concorezzo, cidade natal dos Panceri caxienses, é um subúrbio de Monza, onde fixou-se um ramo de uma ilustre família de Milão, que fica a poucos quilômetros, sendo notados na região milanesa desde pelo menos 1354, e já em excelente posição, quando aparece o dominus (senhor) Guillelmus de Panceriis na distinta função de notário público.1966 Em 1369 Johannes de Panceriis é citado como mercador e patrício.1967 O sobrenome também foi grafado como Panzera, Panzeri, Pansera, Panseri, Pansieri, Pancieri e Panciero, e aparece desde o século XIII em outras regiões da Itália, como Parma, Regio, Verona, Bolonha e no Friuli, várias vezes como nobres ou patrícios, mas provavelmente são grupos diferentes. Foram nobilitados em Milão em data incerta, no século XVI os Codices Inconographici já atestam um brasão,1968 e

1959

Manfredini, Mercedes Lusa & Venzon, Bernardete L.S. “Região e identidade regional com o centros propulsores do desenvolvimento sustentável do design”. In: Anais do 8º Colóquio de Moda – GT 11. Rio de Janeiro, 17 a 20 de setembro de 2012 1960 Da Costa, Ana Elísia. “A Poética dos Tijolos Aparentes e o Caráter Industrial – MAESA (1945)”. In: IV Seminário Docomomo Sul – Norma e Licença na Arquitetura Moderna do Cone Sul Americano 1930/70. Porto Alegre, 25 a 27 de março de 2013 1961 “Falecimentos”. O Momento, 27/07/1942 1962 Julieta Cesa era tia de um dos grandes amigos de meus pais, Sérgio Cesa, importante comerciante caxiense, sócio e dirigente da Comercial Cesa e da rede de supermercados Super Cesa, presidente da CIC, casado com Maria Alberti e pai de Regina, Adriane e Rafael. Maria é sobrinha-neta do ilustre Abramo Eberle, participou de várias Diretorias das Damas de Caridade, foi presidente e hoje é sua vice-presidente. A família Cesa tornou-se consanguínea também através do casamento de uma filha de Ignez Paternoster, Leda, casada com Germano Cesa, gerando descendência, citados no Volume I. 1963 “Nova Diretoria da Associação Comercial”. A Época, 14/01/1951 1964 “A posse da nova diretoria da Associação dos Comerciantes”. O Momento, 22/11/1934 1965 “Junta de Conciliação e Julgamento”. O Momento, 11/02/1937 1966 Archivio Parrocchiale di Azzate. Sezione legati, cartella 1, foglio 7 1967 Gauthier, Léon. “Les lombards dans les deux-bourgognes”. In: Bibliothèque de l'École pratique des hautes études. Section des sciences historiques et philologiques, fasc. 156. Champion, 1907 1968 Codices Inconographici. Bayerische Staastbibliotek Cod. icon. 270, folio 310r

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um ramo foi elevado ao condado,1969 mas no século XIX não são mais citados como nobres. Listemos alguns personagens de maior relevo: No início do século XV Margherita foi esposa do nobre Giovanni Mozzoni, capitão e vigário (administrador) da vila de Varese em nome do duque Giovanni Maria Visconti.1970 Pietro foi notário da Chancelaria Ducal de Milão no fim do século.1971 No século XVI Guglielmo também seguiu a carreira notarial.1972 Luca (1607 - 1715), filho de Ginevra Anzaverta e Pietro Giorgio Panceri, apelidado Crivello, fez uma grande doação em imóveis e investimentos bancários para o conde Filippo Archinto.1973 Giovanni Bartholomeo, que viveu na mesma época, seguiu a vida religiosa como monge de Santo Agostinho e distinguiu-se como pregador, poeta e historiador, foi também provincial da Ordem, definidor-geral em Roma e comissário apostólico para a Germânia.1974 Pouco mais tarde surge o carmelita Giovanni Antonio, regente dos estudos no Convento do Carmo de Milão, distinguido como pregador em muitas cidades da Itália, secretário do Geral da Ordem e depois provincial para a Lombardia,1975 sendo também literato, tradutor e historiador.1976 Paolo, nascido em 1774, foi médicochefe do Hospital Maior de Milão e membro da Real Sociedade de Medicina de Londres, louvado como “exemplo de virtudes Brasão Panceri de Milão. Codices Inconographici. sociais e cristãs”.1977 Seu neto Paolo foi médico e naturalista destacado, professor de Medicina na Universidade de Pávia e professor de História Natural no Liceu. Em Nápoles criou um gabinete de Anatomia Comparada. Ficou famoso, foi agraciado com a Ordem da Coroa da Itália no grau de comendador e a Real Ordem do Mérito Civil de Savoia no grau de cavaleiro, e foi membro ou correspondente das mais prestigiadas academias europeias.1978 O ramo de Monza também foi distinto, no século XVIII Carlo Andrea era um dos procuradores regentes da comuna,1979 a família ali construiu um palácio, que mais tarde foi sede provisória da municipalidade,1980 produziram heróis de guerra1981 e vários benfeitores da Igreja,1982 entre eles o rico industrial Domenico, que no século XIX fez grandes doações para a Azienda Ospedaliera San Gerardo, a Congregazione di Carità e a Pia Casa di Ricovero.1983

1969

Zanoboni, Maria Paola. Alberi Genealogici delle Case Nobili di Milano. Edizioni Orsini De Marzo, 2008 Villa Cicogna-Mozzoni. Mozzoni di Bisuschio. Tavole Genealogiche. 1971 Covini, Nadia. “Essere nobili a Milano nel Quattrocento. Giovan Tommaso Piatti tra servizio pubblico, interessi fondiari, impegno culturale e civile”. In: Archivio Storico Lombardo, 2002; XII, CXXVIII (8): 63-155 1972 Notizie storiche del Grand'Ospitale de Milano. Agnelli, 1857 1973 Titolo III - Donazione Luca Panceri (1607 - 1715). Lombardia Beni Culturali 1974 Associazione Storico-Culturale S. Agostino. Panceri Ioannes Bartholomeus a S. Claudia. 1975 Forcella, Vincenzo. Iscrizioni delle chiese e degli altri edifici di Milano dal secolo VIII ai giorni nostri, vol. XI. Prato, 1892 1976 Il Giornale de letterati per tutto l'anno. Dall'Oglio & Rosati, 1686 1977 Casati, Giuseppe. Collezione delle iscrizioni lapidarie poste nei cimiteri di Milano dalla loro origine all'anno 1845, vol. II. Tamburini, 1846 1978 Scillitani, Giovanni. “Panceri, Paolo”. In: Dizionario Biografico degli Italiani, Volume 80. Treccani, 2014 1979 Comunità Pastorale Ascensione del Signore. Storia. 1980 TurisMonza. Piazza Trento e Trieste. 1981 Pietra della Memoria. Monumento ai Caduti di Monza. 1982 Panceri. Lombardia Beni Culturali. 1983 Gerardo Bianchi, Ritratto di Carolina Fusetti Scotti e di Domenico Panceri. Lombardia Beni Culturali. 1970

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No subúrbio de Concorezzo construíram no século XVIII um grande casarão, chamado Corte dei Panceri, hoje um pouco modificado e subdividido em várias residências, mas classificado como patrimônio histórico.1984 Pelo seu nome, provavelmente era uma antiga “corte rural”, que combinava as funções de residência e sede de uma fazenda produtiva. Outra sede rural havia sido construída no século anterior em Lissone, a poucos quilômetros, hoje chamada Cascina Panceri, também patrimônio A Corte dei Panceri em Concorezzo, foto Google Maps. histórico.1985 Em Vedano al Lambro, outro subúrbio de Monza, no século XVII o nobre Ottaviano Panceri ergueu uma capela dedicada a Santa Margherita e San Gerolamo na Igreja de Santo Stefano, decorada com obras de arte, e constituiu um legado administrado por Lodovico Panceri.1986

Detalhe do Palazzo Panceri em Monza, foto Google Maps. Não foi encontrada uma imagem completa, mas percebe-se que é edifício imponente. Ao lado, Domenico Panceri, em pintura de Gerardo Bianchi na galeria de benfeitores da Azienda Ospedaliera S. Gerardo. Foto Lombardia Beni Culturali.

1984

Corte dei Panceri Concorezzo (MB). Lombardia Beni Culturali. Cascina Panceri Complesso – Lissone (MB). Lombardia Beni Culturali. 1986 Pozzi, Giuseppe. Vedano al Lambro, Paese della Brianza: Storia e tradizione. Amministrazione Comunale di Vedano al Lambro, 1984 1985

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Marisa Frantz Panceri, à esquerda, apresentando sua primogênita Adriana à bisavó Virginia Crivelatti, junto com a avó Ida Crivelatti. Coleção de Marisa Frantz Panceri.

. A mãe de Henrique, Ida Crivelatti, nasceu em 23 de janeiro de 1903, filha de Virginia Nicheletto e José Crivelatti, fotógrafo e músico multi-instrumentista na Itália. Virginia era filha de Giuseppe Nicheletto, ourives e relojoeiro na Itália. Quando casou, seu marido aprendeu o ofício do sogro e trabalhou com ele em Caxias, depois abrindo uma conhecida joalheria e relojoaria,1987 mantendo a fotografia e a música como um hobby, participando de frequentes reuniões musicais com João Paternoster, de quem era íntimo amigo. Em depoimento dado ao Arquivo Histórico Municipal, Ida disse que o afamado fotógrafo caxiense Giacomo Geremia aprendeu a arte com seu pai, tendo vivido em sua casa por vários meses quando chegou à cidade. 1988 Quando Ida tinha dois anos, seu pai faleceu. Já tinha as irmãs Leonor, Julieta e Josefina. Sua mãe casou-se de novo, com Luís Finco, e a filha acabou se tornando mais conhecida como Ida Finco. O novo casal teve nove filhos. Por dois anos moraram na Itália, para onde se mudaram pensando em viver melhor, fixando-se em Pádua, mas os planos não deram certo e acabaram retornando ao Brasil. Virginia, em sua estadia italiana, aprendeu as artes da costura, trabalhando como costureira em Caxias e atendendo a clientes de toda a região. Ao mesmo tempo, abriram um mercado. 1989

1987

Giron & Bergamaschi, op. cit. Panceri, Ida Crivelatti. Entrevista. Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami. Banco de Memória FG 093, 06/08/1987 1989 Panceri, op. cit. 1988

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Ida teve boa educação e acabou voltando-se para o Espiritismo, dizendo ser médium desde criança.1990 Na adolescência foi pianista e atriz amadora, apresentando-se em recitais e peças de teatro,1991 1992 chamada por Costamilan de “um dos esteios da graça de Caxias”. Depois casou-se com José Panceri (filho), e por algum tempo foi costureira, mas depois dedicou-se ao lar e a desenvolver sua mediunidade, passando a produzir muitos poemas psicografados. Lia, irmã de Henrique, casou-se com Dino dal Pont, de família tradicional, descendente da celebrada pioneira Ana Rech.1993 Já falecido, foi industrial e comerciante, fundador do histórico Pastifício Caxiense, que lançou marcas conhecidas em todo o estado, como as Massas Diana e os Biscoitos Pérola,1994 As Massas Diana foram as preferidas do público caxiense, ganhando um diploma após uma pesquisa de opinião realizada pela agência de notícias Continental Press de Buenos Aires em conjunto com o Diário do Nordeste de Caxias.1995 Dino foi também sócio da fábrica de móveis Dal Pont, presidente da Associação Profissional da Alimentação e do Conselho Deliberativo da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias.1996 1997 O casal foi rotariano e presidiu o Clube Juvenil.1998 Tiveram os filhos Maria Beatriz, Valéria e Martino.

Arquivo Histórico Municipal. 1990

Panceri, op. cit. “Cronaca di Caxias”. Città di Caxias, 23/07/1917 1992 “Collegio Elementar”. O Brazil, 01/01/1916 1993 Dall´Alba, João Leonir. Origens e Descendência de Anna Pauletti Rech. E.A.,2003 1994 Fortes, Ataré Vargas et al (orgs.). Álbum do Centenário da Imigração Italiana. Edel, 1975 1995 Lopes, Rodrigo. “Os diplomas da preferência popular em 1954“. Pioneiro, 28/05/2015 1996 “Câmara de Indústria e Comércio”. Pioneiro, 11/06/1980 1997 Conselho Deliberativo da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul. Ex-presidentes Conselho Deliberativo 1998 Sartori, Werony dos Santos. “Passarela”. Jornal de Caxias, 21/01/1978 1991

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Estande do Pastifício Caxiense na Festa da Uva de 1965. Na foto, a partir da esquerda, o presidente Humberto de Alencar Castelo Branco, o empresário Ottoni Minghelli (presidente da festa), o juiz Aloísio Maia Barbosa e o sóciodiretor Dino dal Pont. Foto Geremia, coleção da família Dal Pont. Abaixo, o carro alegórico do Pastifício no desfile da Festa da Uva de 1965. Foto de Hildo Boff, coleção de Ricardo Boff.

Rodrigo Lopes recentemente recuperou a história do Pastifício em matéria no Pioneiro. “Um dos estabelecimentos mais tradicionais do bairro São Pelegrino, o Pastifício Caxiense até hoje é lembrado por quem consumiu dois clássicos da gastronomia local: os Biscoitos Pérola e as Massas Alimentícias Diana – aliás, quem não lembra do gostoso cheiro de biscoito percebido desde a Rua Feijó Jr. e seus arredores? “A história do lugar remete ao início dos anos 1950, quando o empresário Martino dal Pont e os filhos Ary, Dino e Ítalo alugaram uma padaria localizada na Rua Os Dezoito do Forte, pertencente ao Moinho Germani, com a intenção de fabricar massas e biscoitos. Em pouco tempo, o sucesso do negócio impulsionou a transferência da fábrica para a Rua Feijó Jr., em frente a atual Galeria Arte Quadros. Já em 1954, a empresa mudou-se para outro ponto da via, exatamente onde, nove anos depois, surgiria o novo e amplo prédio, marcando o início do período áureo da empresa”.1999

1999

Lopes, Rodrigo. “Inauguração do novo Pastifício Caxiense em 1963”. Pioneiro, 23/09/2016

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Lia Panceri e Dino dal Pont marcados com pontos. Coluna de Paulo Gargioni, Jornal de Caxias, 07/01/1978. Abaixo, Dino dal Pont, foto CIC. Ao lado, Lia e sua filha Maria Beatriz.

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Martino, Henrique, Cláudia e Juliana dal Pont. Foto de Cláudia.

a) Maria Beatriz foi gerente corporativa dos centros de Turismo e Hotelaria e de Gastronomia do SENAC no Rio, coordenadora dos cursos de extensão da UCS, uma das fundadoras e diretora da Escola de Gastronomia ICIF/UCS, com sede em Flores da Cunha, que em apenas um ano de atividades ganhou reconhecimento no Brasil e no exterior, é chef de cozinha e expert em azeites conhecida internacionalmente, autora de livros e coordenadora no Brasil da International Olive Oil Academy.2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Em seu casamento com Edson Branchi, Maria Beatriz teve os filhos Carolina, que herdou o talento da mãe nas cozinhas profissionais, Fábio, advogado, e Ana Lia, arquiteta.2007 2008 b) Martino é representante comercial e membro da Comissão Gestora do Tênis do Clube Juvenil,2009 casado com Cláudia dos Santos e pai de Henrique e Juliana.

2000

“Inaugurada escola em Flores da Cunha”. Gazeta Digital, 12/08/2004 UCS. “Escola de gastronomia UCS ICIF comemora o primeiro aniversário”. Universia, 11/08/2005 2002 Pulita, João. “Social do fim de semana”. Pioneiro, 10/11/2012 2003 Sturion, Wagner. “Com estudo se chega ao longe!” In: Cozinha Profissional. 2007; 19 (102):26-30 2004 “Oficina de gastrononia valoriza aptidões e revela talentos”. Notícias - Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro, 10/03/2011 2005 “Boccati lança Coleção Enogastronômica”. As Boas Coisas da Vida, 26/10/2014 2006 International Olive Oil Academy. Olive Oil Academy Brasil. 2007 Pulita, João. “Social do fim de semana”. Pioneiro, 10/11/2012 2008 Pulita, João. “Circuito”. Pioneiro, 09/12/ 2011 2009 Clube Juvenil. Ranking de Tênis, 2014 2001

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c) Valéria, professora e técnica do Herbário da UCS,2010 foi casada com o conhecido botânico e pesquisador Ronaldo Wasum, tendo o filho Guilherme. Ronaldo, nascido em 5 de abril de 1950 e precocemente falecido em 9 de janeiro de 2014, foi celebrado biólogo e museólogo, recipiente de várias premiações, entre elas a Medalha Jubileu de Prata e a Medalha do Mérito Acadêmico da Universidade de Caxias do Sul.2011 Recebeu a rara distinção de ser homenageado com uma Festshcrift acadêmica Ver nota 2012 publicada pelo Instituto Anchietano de Pesquisas, onde sua ilustre carreira foi relembrada: “Prof. Dr. Ronaldo Adelfo Wasum era natural de São Leopoldo/RS, onde viveu com os pais Albano e Lucila e com o irmão Roberto Wasum, até 1985 quando mudou-se para Caxias do Sul/RS, casando-se com Valéria dal Pont Wasum, com quem teve um filho: Guilherme Wasum. Graduou-se em Licenciatura Plena em História Natural pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) em 1972. Neste mesmo ano teve a oportunidade de estagiar no Herbário Dimitri Sucre Benjamin do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, onde trabalhou com a Drª. Graziela Maciel Valéria dal Pont Wasum Barroso, uma das maiores botânicas da história do Brasil. Ao retornar a São Leopoldo, antes mesmo de formar-se já ingressou como professor da UNISINOS nas disciplinas de Botânica Geral e Botânica Sistemática, as quais ministrou até o ano 2000. Em 1973 ingressou como professor da Escola Técnica Estadual Frederico Guilherme Schmidt, em São Leopoldo, onde lecionou até 1986 para alunos de ensino médio. “Além de ministrar as aulas de Botânica, o que fazia com grande dedicação, em 1981 com a morte inesperada do Pe. Aloysio Sehnem, assumiu a curadoria do Herbário PACA até o ano de 1993. Também foi responsável pela organização do acervo da sala Dr. João Dutra (Pai da Botânica do Rio Grande do Sul) com inúmeras peças de arte, o que o fez interessar-se pela Museologia, levando-o a fazer o curso de Especialização em Museologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, concluído em 1991. Este curso deu subsídio e inspiração para a criação e implementação do Museu de Ciências Naturais da Universidade de Caxias do Sul (MUCS) em 9 de novembro de 1984, juntamente com o Profº Gilberto Golin Grazziotin. Como pesquisador na UNISINOS atuou principalmente no levantamento dos tipos do Herbário Anchieta e na área de Educação Ambiental, participando do Projeto Camaquã, entre outros. No Parque Imperatriz Leopoldina e, em especial no Jardim Botânico, Ronaldo foi um incentivador, fornecendo os primeiros exemplares de publicações para a biblioteca; oportunizando também o empréstimo da exposição que conta a chegada de Dona Leopoldina ao Brasil e a comitiva de cientistas e artistas que

2010

UCS. Pesquisa, Inovação e Desenvolvimento Tecnológico - Meio Ambiente e Recursos Naturais “Falecimentos deste sábado”. Pioneiro, 11/01/2014 2012 Festshcrift (escritos festivos) é o nome dado a uma coletânea de artigos e ensaios dedicados a uma personalidade ilustre. 2011

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Ronaldo Wasum no Jardim Botânico de Caxias. Foto Instituto Anchietano de Pesquisas.

a acompanharam. Em 1978 iniciou sua longa, sólida e bem sucedida carreira como professor na Universidade de Caxias do Sul (UCS) sendo responsável, juntamente com os professores Léo Seger e Gilberto Golin Grazziotin, pela criação do curso de Ciências Biológicas desta Universidade. [...] “Além das disciplinas de Botânica ministradas no curso de Ciências Biológicas da UCS, também foi professor nos cursos de Farmácia e Agronomia, além do curso de Medicina onde ministrava a disciplina de Embriologia, sendo esta considerada pelos alunos uma das melhores disciplinas do curso, apesar de Ronaldo não ter formação específica na área. Era conhecido por seu rigor científico, disciplina e exigência com seus alunos, mas também por sua excelente memória, conhecendo cada aluno por nome e sobrenome. Foi um professor muito querido, reconhecido e admirado, tendo sido paraninfo e homenageado por mais de 20 turmas de formandos do curso de Ciências Biológicas. Foi co-orientador de uma dissertação de mestrado e de diversos trabalhos de conclusão de curso. [...] “Já radicado em Caxias do Sul/RS, em 1983 fundou o Herbário da Universidade de Caxias do Sul (HUCS), hoje o 4º maior herbário do estado do Rio Grande do Sul e indexado ao Index Herbariorum desde 2013, contando atualmente com um acervo de 41.200 exsicatas. A coleção de musgos, uma das maiores e mais importantes do Brasil, deu início ao herbário sendo Ptychomitrium sellowianum a exsicata número 001 do HUCS, a qual serviu também como inspiração, juntamente com o apoio do professor Ronaldo, para a retomada dos estudos briológicos no Estado em 2006, os quais estavam há bastante tempo parados. Como curador do HUCS, professor Ronaldo era reconhecido pelos funcionários, técnicos e estagiários pelas horas de dedicação e 587

cuidado minucioso em cada detalhe, com cada etiqueta e cada exsicata que era incorporada à coleção. [...] Deixou um acervo de mais de 5000 amostras de plantas por ele coletadas, com duplicatas em herbários do mundo todo. Sua vasta biblioteca científica contempla exemplares raros e importantes para o estudo e a pesquisa, os quais compartilhava com alunos e colegas. Sempre na busca por conhecimento, em 2005 concluiu o Doutorado em Biologia Ambiental pela Universidad de León – Espanha, desenvolvendo um amplo estudo fitossociológico da vegetação dos municípios de São Francisco de Paula, Jaquirana e Bom Jesus, RS, Brasil. Foram anos de muita dedicação, trabalho e coletas intensivas. [...] “Além de atuação na Licenciatura, outra grande paixão do professor Ronaldo foram os Jardins Botânicos. Ele dedicou parte de sua carreira incentivando e auxiliando a criação de Jardins Botânicos como forma de conhecimento, respeito e preservação da natureza e, através deles, realizava projetos de Educação Ambiental de Crianças e Jovens em cidades brasileiras e no exterior. Em 1990 foi responsável pela criação do Jardim Botânico de Caxias do Sul (JBCS), o qual sempre coordenou e onde desenvolveu importantes projetos de pesquisa e educação ambiental, como o projeto Salvando os Cactos dentro do Programa Internacional Investing in Nature com apoio do BGCI – Botanic Gardens Conservation Internacional; RBJB – Rede Brasileira de Jardins Botânicos; HSBC –SBC Bank Brasil S/A e JBRJ – Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Este importante projeto teve como objetivo resgatar e reintroduzir as espécies do gênero Parodia (Cactaceae) ameaçadas de extinção no Rio Grande do Sul, além de informar a população sobre a necessidade de preservação através do programa de educação ambiental Com Dona Parodia o Jardim vai à Escola, o qual teve grande sucesso através da peça teatral criada com este objetivo e apresentada na 14ª Reunião de Jardins Botânicos (Curitiba – 2005). Outro projeto importante no JBCS, foi O Jardim Botânico vai à Escola, o qual deixava-o realizado. Vários trabalhos de conclusão do curso de Ciências Biológicas da UCS foram desenvolvidos neste projeto, onde Ronaldo atuava como orientador. [...] Sempre valorizou as atividades de Educação Ambiental, dizendo que precisávamos plantar as sementes da preservação do meio ambiente nas crianças e nos jovens, que estes são a esperança de um futuro melhor. E sempre otimista, nos dizia que, se apenas uma destas sementes que plantávamos germinava, já era suficiente. “Foi presidente da Associação Latino-Americana e do Caribe de Jardins Botânicos; vicepresidente da Associação Internacional de Jardins Botânicos; membro da Comissão Nacional de Jardins Botânicos; membro fundador da Rede Brasileira de Jardins Botânicos e fundador da Rede de Jardins Botânicos da Argentina. Também foi membro e coordenador da Rede de Herbários do RS; membro e conselheiro da Comissão de Herbários do Brasil; membro da Sociedade Botânica do Brasil – SBB, fundador da Rede Brasileira de Aerobiologia; membro da Sociedade de Artistas Plásticos do RS e, junto ao Ministério da Educação, ocupava a função de avaliador de Universidades e Cursos Superiores. Reconhecido também por ser um freqüentador assíduo dos congressos de Botânica, onde atuava ativamente nas reuniões da Sociedade Brasileira de Botânica e da Rede de Herbários, auxiliando na organização de minicursos, exposições e eventos relacionados à Botânica, tendo presidido (como vice-presidente), juntamente com o Prof. Albano Backes, o 45° Congresso Nacional de Botânica, em São Leopoldo no ano de 1994. Sempre muito preocupado com o avanço, organização e difusão da ciência, não raro incentivava a vinda de pesquisadores do exterior para contribuir com o conhecimento científico. Organizou inúmeras exposições apresentadas no Museu de Ciências Naturais da Universidade de Caxias do Sul e em outros locais. [...] 588

“Era um homem culto, de bom gosto, apreciador e conhecedor de música clássica, de óperas, e de arte, principalmente da pintura. Pintava muito bem, sendo seu tema principal a natureza, as flores e os frutos. Também pintou, como homenagem aos seus mestres, os bustos de alguns dos maiores botânicos do RS, como Pe. Rambo, Pe. Sehnem, e Pe. Rick, obras hoje situadas na sala histórica Pe. Balduino Rambo, no Herbário PACA. Detentor de inteligência e criatividade privilegiada, sempre tinha grandes ideias, especialmente para atividades relacionadas à educação: teatros, histórias em quadrinhos, exposições, ilustrações. Um de seus últimos e importantes trabalhos foi a criação do programa de educação O Museu de Ciências Naturais vai à escola, através do qual alunos de escolas públicas recebem visita de professores, estagiários e pesquisadores do MUCS, com o objetivo de levar o conhecimento científico sobre as diversas áreas das Ciências Naturais, procurando desenvolver neles o gosto pela Ciência e a importância do cuidado com o meio ambiente. “Amava ensinar Botânica e, por ser um educador nato, era capaz de mostrar como bem ensinar através de seu exemplo. Mais do que os conhecimentos de Botânica, Embriologia ou cultura geral, ele era mestre no ensino da paciência e da espera. Esperar pacientemente, mas sem nunca deixar de sonhar! Sonhar alto e trabalhar duro como ele sempre trabalhou para o sonho se tornar real. Desistir, não fazia parte de seus planos! Foi otimista até os últimos momentos de sua vida, sempre com um sorriso nos lábios e a esperança de que tudo daria certo. Sonhador e idealista, Ronaldo não semeou flores, ele plantou jardins! Certamente os muitos Jardins Botânicos plantados por ele pelo Brasil afora, entre eles o de Caxias do Sul, e o de Lageado e São Leopoldo, do qual foi padrinho, ou os belos jardins pintados em seus quadros, ou os perfumados jardins de sonhos plantados no coração de todos que tiveram o privilégio de conviver e aprender com ele florescerão e darão frutos. E serão lindos jardins ornamentados com belas flores de amor: amor que foi a melhor e mais inesquecível lição que ele deixou. Do querido professor Ronaldo guardaremos os sorrisos, as gargalhadas, a bondade, os gestos de gentileza e cavalheirismo, os ‘puxões de orelha’, as frases do tipo: ‘Vocês precisam lapidar este vocabulário!’ ou ‘Aprendam a elegante arte de engolir sapos!’, mas principalmente, o grande exemplo de caráter, de honestidade, de integridade, otimismo e de amor! Amor pelo seu trabalho, amor pelo próximo, amor pela natureza, amor pela Botânica, pela Educação e amor pela vida!” 2013

Outros ramos da família Panceri se dedicaram em Santa Catarina ao cultivo da uva e à fabricação de vinho, conseguindo expressivos resultados, com seu produto premiado em exposições e exportado para o exterior, com destaque para Nilo, Natal, Celso e Jorge Panceri, entre outros.2014

2013

Instituto Anchietano de Pesquisas. “Ele não plantou flores, semeou jardins...”. In: Pesquisas – Botânica, 2014 (65) 2014 Baumgarten, Christina. Italianos no meio oeste – cultura e progresso. HB Editora, 2011

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590 Henrique Panceri e seus filhos Adriana, Thaís e Vitor Hugo. Coleção de Marisa Frantz Panceri.

Marisa e Henrique Panceri foram pais de: a) Adriana Elisabeth, nascida em 8 de novembro de 1955, médica pneumologista, cujo trabalho se divide entre Porto Alegre, onde atende há muitos anos no Hospital Conceição, e Farroupilha, onde tem consultório e reside com seu esposo, Luís Geraldo Melo. É minha querida madrinha de batismo, tem personalidade jovial, mas forte, decidida e combativa, com variados interesses intelectuais além da Medicina, e como que multiplicando-se em muitas, tem sido uma grande força no enfrentamento dos desafios que a vida tem trazido para a família Panceri. Natural de Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul, Luís é fotógrafo e foi presidente do Clube do Fotógrafo Amador de Caxias.2015 Médico pediatra e ativista político, foi presidente da Associação Médica de Farroupilha, uma associação de classe com divisões culturais e sociais,2016 2017 e secretário municipal da Saúde.2018 Em sua gestão, interrompida antes do fim previsto por exoneração voluntária de Luís,2019 foi inaugurado um centro de fisioterapia, considerado um acréscimo importante aos equipamentos municipais vinculados ao Sistema Único de Saúde.2020 Preocupou-se de maneira particular com a difícil situação do Hospital Beneficente São Carlos,2021 e ao retirar-se deixou em Adriana e seu avô Antônio Frantz construção seis novas Unidades Básicas de Saúde, voltadas para a expansão do programa Estratégia de Saúde da Família, que quando em operação irão praticamente dobrar a capacidade de atentimento básico do município.

2015

Clube do Fotógrafo Amador de Caxias. O Clube. “Leandro Adamatti entrevista Luis Geraldo Melo”. TV Farroupilha, 22/04/2010 2017 “Farmed elege presidente”. O Farroupilha, 23/04/2010 2018 Adamatti, Leandro. “Secretaria da Saúde de Farroupilha oferece 3.000 doses gratuitas da vacina da gripe à população”. Sonora FM, 28/06/2013 2019 Spagnoli, Nilson. “Farroupilha: Secretário de Saúde pediu exoneração do cargo na tarde de hoje”. Leouvre, s/d. 2020 “Farroupilha inaugura novo Centro Municipal de Fisioterapia”. Assessoria de Imprensa e Comunicação Social da Prefeitura de Farroupilha 2021 Adamatti, Leandro. “Secretário de Saúde de Farroupilha afirma que está preocupado com a situação do Hospital São Carlos e que possibilidade de greve dos médicos deverá ser tratada pelo Conselho que dirige o hospital”. Sonora FM, 14/11/2013 2016

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Eu e meu irmão Marcelo com Thaís e Adriana Panceri na praia de Torres.

Eduardo Pezzi Issler, Piá Plentz, Adriana Panceri, Renan Bergmann e Thaisa Storchi. Foto de Eduardo Pezzi Issler.

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594

O Farroupilha, 08/02/2013.

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Luís Geraldo, Tomaz, Adriana e Laura. Coleção de Laura Melo.

Antes de virem os filhos o casal residiu e clinicou por quatro anos em Chiapetta, onde o pai de Luís vivia. Luís e Adriana estão entre os meus melhores amigos, ainda que nossos contatos, em virtude de sua exigente profissão e da distância geográfica, tenham se tornado menos frequentes que o desejado. Foram referências para mim quando estudei Medicina, assim como era meu tio Milton, e ainda hoje o são de variadas maneiras, com uma cabeça aberta e grande engajamento nos temas políticos e sociais, com quem se pode conversar aprendendo e ao mesmo tempo se divertindo. São pais de Laura, minha afilhada, inteligente e vivaz, de personalidade cativante e beleza de top model, que estuda Engenharia de Produção na UFRGS, tendo passado uma temporada na Inglaterra inserida no programa Ciência sem Fronteiras. Já trabalhou no Laboratório de Metalurgia Física da UFRGS e recentemente iniciou experiências de ativismo socioambiental com o grupo Rio Uruguai Vivo, que defende o Rio Uruguai e suas comunidades ribeirinhas. Seu outro filho é Tomaz, doutorando em Paleontologia na UFRGS, também figura carismática e original e um promissor jovem cientista, já com vários trabalhos publicados e membro da Sociedade Brasileira de Paleontologia. É especializado em cinodontes, e fez a primeira atestação da espécie Menadon besairieri na América do Sul.2022 Márcia Pinheiro e Tomaz Melo. Foto de Márcia. 2022

Melo, Tomaz Panceri. Um Novo Cinodonte Traversodontídeo (Eucynodontia, Traversodontidae) da Fauna de Santa Cruz do Sul, Triássico da Formação Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil. TCC. UFRGS, 2010

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Quando este livro foi finalizado Tomaz estava em preparativos para o seu casamento com Márcia Pinheiro, bióloga e funcionária da UFRGS, atuando no herbário da universidade. É filha de Antônio Pinheiro, arquiteto, e Silvia Neis Blashcke, bancária e ex-gerente da Caixa Econômica Federal. Tem os irmãos Carlos Francisco, Luís Fernando e Jaime Leonardo.

Tomaz, marcado com um ponto, com uma equipe de paleontólogos recuperando um fóssil. Foto de Tomaz.

Espécime da coleção da UFRGS descrito e usado por Tomaz para atestar a presença do Menadon besairieri na América do Sul. Imagem do seu trabalho de conclusão do Curso de Biologia.

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Hilda Similde Emmel e José Joaquim de Mello. Coleção de Luís Melo.

A família Melo floresceu no noroeste do estado, tendo hoje numerosos ramos. Luís é filho de José Joaquim de Mello, nascido em 18 de setembro de 1922 em Santa Bárbara do Sul. Trabalhava como técnico de laboratório no Exército. Transferido para Curitiba, onde radicouse com a família, lá cursou Medicina na Universidade do Paraná entre 1960 e 1965. Voltando ao sul depois de formado, passou a atender em Santo Ângelo. Reformou-se em 1969 e depois mudou-se para a cidade de Chiapetta, onde viveu o resto da vida como médico prestigiado. Comprou o hospital da cidade, que estava desativado, colocando-o em operação e sendo seu diretor até 1986, quando o vendeu à Prefeitura. Casou primeiro com Lucy Carvalho, tendo a filha Maria Anália, e depois com Hilda Similde Emmel, nascida em Boca da Picada, distrito de Santa Rosa, em 29 de novembro de 1927, filha de Fredolino Emmel e Frieda Jaeger, tendo com ela os filhos Luís e Mirtes. Os Melo têm origens portuguesas. O ancestral mais antigo conhecido com segurança a usar o sobrenome é Joaquim Henrique de Souza Melo, que nasceu em 1850 na freguesia de Alquerubim, e lá faleceu em 20 de fevereiro de 1916. Foi casado com Maria da Glória de Carvalho, natural de Porto Alegre, filha temporã de Manoel Antônio de Carvalho e Florisbella Cabral e Costa, aquele filho de Manoel Antônio de Carvalho e Constância Francisca Severina, e esta filha de Genovefa Bella da Silva e João José Cabral e Costa, filho de Florinda Cândida de Jesus e José Francisco de Faria e Costa, tenente e vereador de Porto Alegre no início do século XIX.2023 Joaquim Henrique viveu em Santa Bárbara do Sul, retornando a Portugal por sentir sua vida ameaçada por adversários políticos. Seu pai se chamava Henrique Pereira d’Azevedo, casado com Maria Delfina de Souza, mas nada se sabe sobre eles. No caso dos sobrenomes portugueses, sem haver uma genealogia assegurada, é quase impossível traçar as origens da família, já que os costumes locais de transmissão nominal eram extremamente arbitrários. Sérgio Ferreira citou um caso em que os sete filhos de um mesmo casal levaram seis sobrenomes diferentes.2024 2023

Ribeiro, Célia. Fernando Gomes: um mestre no século XIX. LPM editores. Ferreira, Sérgio Luiz. Transmissão de sobrenomes entre luso-brasileiros: uma questão de classe. Núcleo de Estudos em História Demográfica – USP. 2024

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À esquerda, Maria da Glória de Carvalho e sua mãe Florisbella Cabral e Costa. A imagem original tinha grandes perdas e foi restaurada digitalmente. Acima, Anália Lírio e João Henrique de Carvalho Mello. Coleção de Luís Melo.

Em Portugal muitas vezes a transmissão se dava via materna, como na Espanha, mas também são muito comuns adoções por preferências pessoais ou ligações de compadrio, amizade, etc. 2025 Assim, nada garante que antes de adotarem o sobrenome Melo a família se chamasse consistentemente Azevedo. Ambos os nomes são registrados em Alquerubim no início do século XIX. De qualquer forma, possivelmente tivessem ligações com a nobreza, já que muitos Azevedo e outros tantos Melo foram nobres desde o século XV até o fim da monarquia, incluindo fidalgos da Casa Real, duques, marqueses e outros de alto gabarito.2026 2027 O famoso Marquês do Pombal pertencia à família Melo, e Joaquim Rodrigues Tavares de Melo foi o 1º barão de Alquerubim no fim do século XIX. Joaquim Henrique foi chamado em seu óbito de “capitalista”, na época um equivalente de pessoa de muitas posses. Provavelmente ele escolheria uma esposa do mesmo nível social. Uma foto de Maria da Glória ainda criança e sua mãe, acima, as mostra com finos trajes de seda, que só a elite poderia adquirir. Joaquim Henrique e Maria da Glória foram pais de João Henrique de Carvalho Mello, conhecido como Jango Mello, hoje nome de rua em Santa Bárbara do Sul, que veio a se casar com Anália Lírio, avós de Luís. Anália era filha de Reynaldo Vicente Lírio, casado com sua sobrinha Paulina Dumoncel. A família Lírio descende de Manuel Vicente Lírio, português do Porto, capitão em Cruz Alta e dono da Estância de São Pedro Tujá,2028 2029 filho de Vicente José da Rocha e Antonia Albina de Trindade. 2030 Mais uma vez observa-se a adoção de um sobrenome diferente do dos pais.

2025

Rowland, Robert. “Práticas de nomeação em Portugal durante a Época Moderna: ensaio de aproximação". In : Etnográfica, 2008 ; 12 (1) :17-43 2026 Silveira Pinto, Albano Anthero da. Resenha das familias titulares e grandes de Portugal. Vol. 2. Silva, 1883 2027 Pinho Leal, Augusto Soares d'Azevedo Barbosa de. Portugal antigo e moderno: diccionario geographico, estatistico, chorographico, heraldico, archeologico, historico, biographico e etymologico de todas as cidades, villas e freguezias de Portugal e de grande numero de aldeias. Vol. II. Moreira & Cia., 1873 2028 Noal Filho, Valter Antonio & Marchiori, José Newton Cardoso. “A Viagem de Henrique Schutel Ambauer pela Província do Rio Grande do Sul”. In: Balduínia, 2013; 42: 03-16 2029 Pereira, Cláudio Nunes. Genealogia Tropeira, vol. II., 2004. 2030 Pereira, op. cit.

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Manuel casou-se em segundas núpcias com Margarida Antônia de Oliveira, dando origem a Maria Margarida Lírio, nascida em 1828 em Júlio de Castilhos, e Manuel Vicente Lírio II, nascido em torno de 1856, dono da Fazenda Santa Bárbara em Santa Bárbara do Sul. Manuel II casou-se com Carolina Maria Rill e foram pais de Reynaldo.2031 2032 2033 Já os Dumoncel procedem da França. O ancestral mais antigo conhecido com segurança é Victor Dumoncel (du Moncel), nascido em Cherbourg em 21 de julho de 1814. O nome pertence a uma família nobre normanda da região da Mancha, cujo registro mais antigo é de 1178, que assinalou a morte de Castelo de Beaurepaire, em Martinvast-Cherbourg. A forma atual do Raoul du Moncel, residente em La castelo data do fim do século XIX, tendo sido extensamente reformado. Hague. Foram enobrecidos pelo imperador Foto do website do castelo. Leopoldo, distinguindo-se nas armas, no serviço público e na diplomacia.2034 A família também parece ter tido ramos plebeus, e a ascendência de Victor não foi descoberta, mas é significativo que em Martinvast, um subúrbio da mesma Cherbourg, Bertholde du Moncel construiu o Castelo de Beaurepaire entre 1579 e 1581, substituindo uma mansão destruída na guerra,2035 e na mesma cidade foram chamados de grandes proprietários de terras.2036 A família produziu notáveis como Alexandre-Henri-Adéodat du Moncel, político, marechal, conde e Par da França, cujo nome foi grafado também como Dumoncel, nascido no subúrbio Helleville e ativo em Cherbourg como membro do Conselho Geral do Departamento da Mancha, e seu filho o visconde Théodose, ilustre cientista, membro da Academia Francesa, fundador da Sociedade Nacional das Ciências Naturais e Matemáticas de Cherbourg, um dos precursores da radiofonia e da transmissão de imagens por meios elétricos, que veio a resultar na televisão. 2037 2038 2039

2031

Pereira, op. cit. Noal Filho & Marchiori, op. cit. 2033 Pereira, op. cit. 2034 Badier, Francois Alexandre Aubert de La Chesnaye-Desbois, Dictionnaire de la noblesse, contenant les généalogies, l'histoire & la chronologie des familles nobles de France, l'explication de leur armes, & l'état des grandes terres du royaume. Duchesne, 1775 2035 Centorame, Bruno. “Châteaux du XIXème siècle, un hymne à l'excellence”. In: Vieilles Maisons Françaises, 2010 (232) 2036 “Grands Traits de l’Évolution de l’Agriculture dans La Manche, de 1789 à 2000”. In: Valise Documentaire sur le Thème du Bocage. Centre Permanent d’Initiatives par l’Environnement / Centre Départamentale de Dopcumentation Pédagogique de La Manche 2037 Cour de Cassation. Bulletin des arrêts: Chambre criminelle, Volume 50. Direction des Journaux officiels, 1846 2038 Association Normande. Annuaire des cinq départements de la Normandie, Volume 9, 1842 2039 Catalogue of scientific papers: Coa - Gra, Volume 2. Royal Society of London, 1868 2032

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Victor foi enviado para estudar em Paris, onde, segundo Ecker, ainda jovem “foi preso por terse envolvido em movimentos estudantis, mas conseguiu fugir, embarcando para a Argentina. Lá se alistou no exército, tornando-se major por atos de bravura”. 2040 Incorporou-se às tropas de Francisco Pedro Pereira, e em 1837 acampou em São Pedro Tujá. Foi “valoroso explorador do rio Turvo”, como disse Cláudio Pereira.2041 Estabeleceu-se na região de Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, depois de casar-se com Maria Margarida Lírio.2042 2043 Victor abandonou a carreira militar em 1850, passando a dedicar-se à criação de gado, dono da Fazenda Capão Grande ou Capão Ralo. 2044 2045 "Homem inteligente e ilustrado", ficou conhecido pela sua hospitalidade e boa conversa, entretendo os viajantes com histórias sobre suas campanhas e viagens. 2046 Faleceu em Passo Fundo, em 22 de janeiro de 1888. Teve dez filhos, entre eles Paulina e Victor Lírio Dumoncel. Paulina, bisavó de Luís Melo, foi esposa de seu tio Reynaldo Vicente Lírio.2047 Victor Lírio Dumoncel, “criador de mulas e gado franqueiro, gaúcho austero e conceituado”,2048 coronel, casado com Joana Volino, foi pai de Victor Dumoncel Filho, que ganhou grande notoriedade na região do Planalto Médio gaúcho. Pai e filho foram pioneiros da colonização de Saldanha Marinho, e o filho em particular, nascido em 10 de abril de 1882 em Capão Ralo, município de Cruz Alta, e falecido em 6 de setembro de 1972 em Santa Bárbara do Sul, foi um dos mais influentes e poderosos caudilhos da região, projetando o Planalto Médio em todas as esferas políticas, como referiu Isléia Rossler Streit em sua dissertação de Mestrado.2049 Segundo a autora, Dumoncel Filho estudou no Colégio dos Jesuítas em São Leopoldo, onde foi colega de Flores da Cunha, Getúlio Vargas, Nereu Ramos, João Neves da Fontoura, Paim Filho e outros nomes que se fariam eminentes. Nesta época teria nascido a rivalidade com Getúlio Vargas, que determinaria seu rumo político na idade adulta. Casou-se com Lídia, sobrinha-neta do Barão de Antonina, neta do Barão de Ibicuí e filha do controverso general Firmino de Paula, “liderança significativa do Partido Republicano Rio-Grandense em nível estadual e líder absoluto em Cruz Alta”. Fez carreira rapidamente, sendo indicado promotor público em 1904, em 1906 aderiu ao PRR, em 1910 foi nomeado capitão assistente da 16ª Brigada de Cavalaria da Guarda Nacional, e em 1912 foi eleito para o Conselho Municipal de Cruz Alta, no qual permaneceria até 1923.2050 Streit dá mais dados interessantes: “Em uma reportagem da Revista do Globo, de 1962, o repórter Ney Fonseca, descreveu sobre Dumoncel, que ‘olhando-o bem, jamais diríamos que foi um homem terrível, um homem cuja voz de comando poderia matar ou salvar condenados ao fuzilamento’. Neste sentido, se projeta uma de suas características: de homem sábio,

2040

Ecker, A. A trilha dos pioneiros. Berthier, 2007 Pereira, op. cit. 2042 Noal Filho & Marchiori, op. cit. 2043 Pereira, op. cit. 2044 Noal Filho & Marchiori, op. cit. 2045 Pereira, op. cit. 2046 Noal Filho & Marchiori, op. cit. 2047 Pereira, op. cit. 2048 Pereira, op. cit. 2049 Streit, Isléia Rossler. Coroneis e Imigrantes: das lutas pelo poder à conquista do espaço: Saldanha Marinho, 1899 a 1930. Dissertação de Mestrado, Universidade de Passo Fundo, 2003 2050 Streit, op. cit. 2041

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comedido, proveniente de uma eclética formação intelectual capaz de entender os processo e acontecimentos políticos, constitucionais, além dos bélicos do estado e também do país. [...] “Os laços de parentesco com os principais líderes políticos regionais e estaduais justificam ainda mais seu destaque como força republicana no 4º Distrito de Cruz Alta – Santa Bárbara do Sul. Mas não se pode esquecer da tradição de participação política da família Dumoncel desde a fundação de Santa Bárbara e a Revolução Federalista. A conjuntura política republicana, que necessitava da colaboração dos coronéis para o continuísmo político, possibilitou a gradual ascensão de Victor Dumoncel Filho, que iria se consagrar na Revolução de 1923 e deixar visíveis suas características de liderança militar, bem como de um porte autoritário, imponente, destemido, senhor de um zeloso espírito de lealdade partidária ao PRR. [...] “Victor Dumoncel Filho foi um grande proprietário de terras do Planalto do Victor Dumoncel Filho. Foto ADV/SB Rio Grande do Sul, e tinha um poder econômico relevante; foi um estancieiro representativo entre os da região serrana, latifundiários que passaram a legitimar também o poder político do PRR a partir da proclamação da República. Consta na documentação do arquivo particular da família que muitas das terras teriam sido herdadas por seu pai, Victor Dumoncel. Segundo a carta de partilha, os bens do avô do coronel Victor Dumoncel foram divididos em imobiliários, a maioria terras rurais, mas também alguns terrenos urbanos. [...] Num prazo de duas gerações, pai e filho tiveram grande capacidade e facilidade para adquirir enorme quantidade de terras. [...] “Politicamente, o coronel Victor Dumoncel Filho esteve ligado ao presidente do estado e desempenhou funções que lhe foram atribuídas por Borges de Medeiros durante a República Velha; também posteriormente a esse período, em virtude de sua ligação com os governadores e partidos políticos que estiveram no poder político institucional do estado, especialmente José Antônio Flores da Cunha. [...] A representatividade do coronel Victor Dumoncel Filho, ligado ao governador Borges de Medeiros, ampliou-se pelo exercício de vários cargos ligados à defesa político-policial da região, o que lhe deu autoridade para agir livremente, mantendo-a sempre sob seu controle político”.2051 2051

Streit, op. cit.

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Ele casaria mais duas vezes, gerando uma vasta e prestigiada descendência de políticos e grandes estancieiros, e também muito folclore. 2052 2053 Sua influência política se estendeu até os anos 60, sendo hoje nome de uma avenida em Cruz Alta. Outros ancestrais de Luís, na linha materna, são Adão Emmel, casado com Paulina Franke, e Oskar Jaeger, casado com Luíza Reinhelt, bisavós de Luís. Um Adão Emmel esteve entre os pioneiros de Linha Dona Josefa, município de Vera Cruz, tendo chegado da Alemanha em 1857,2054 mas não se garante que seja ele. Fredolino Emmel, avô de Luís, nascido em Santa Cruz, serviu no exército em Santa Maria e mudou-se para Santo Ângelo, onde casou com Frieda Jaeger, filha de Oskar. Viveram como comerciantes e hoteleiros, donos do Hotel Hamburgo, depois renomeado Hotel Vitória por imposição do Estado Novo. Fredolino se tornou pessoa conhecida na cidade, um dos fundadores do Clube 28 de Maio, clube social ainda ativo e um dos mais prestigiados de Santo Ângelo. Hoje Fredolino é nome de rua. Uma irmã de Frieda, Lídia, casou-se com um Frantz, Leonel, mas não descobri a que ramo pertence ou mesmo se é do grupo consanguíneo. Vários Emmel se tornaram ilustres, como Waldemar Donaldo, nome de rua em Santa Cruz, e Guido, tio de Luís, ativista estudantil, médico e vereador em Santo Ângelo. Ideologicamente de esquerda, foi preso nos primeiros dias depois do golpe militar de 1964 junto com os vereadores Genaro Krebs e João Alberto Machado, estando entre os mais ferrenhos opositores do novo regime. 2055 Além de sua formação em Medicina, foi formado também em Direito, Filosofia e Letras. Possuía uma grande biblioteca e escrevia uma coluna na imprensa local. Seu filho, João Luís, que se mudou para Santa Catarina, seguiu os passos do pai, também mantendo uma coluna no jornal O Combativo, de Itapema, onde é político, advogado e professor universitário.2056 Fredolino Emmel. Coleção de Luís Melo.

2052

Mariano, Nilson. “52 Histórias que não acabaram: A versão gaúcha de Romeu e Julieta”. Zero Hora, 30/10/2010 Pereira, op. cit. 2054 Dummer, Celeste. Vera Cruz: tempo, terra e gente. LupaGraf, 2009 2055 Câmara de Vereadores de Santo Ângelo. Do Cabildo às Câmaras: Quatro séculos de Parlamento Missioneiro. 2056 Emmel, João. “Cronicando: A Educação em Itapema”. O Combativo, 14-20/07/2014 2053

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Família de Oskar Jaeger, sentado ao centro. Na fila de trás: Reinhold, Flora, a mãe Luíza Reinhelt, Adolf, Laura e Frieda. Na fila da frente, Lindolfo, Oskar, Rudolf e Lídia. Abaixo, Frieda. Coleção de Luís Melo.

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Outros a levar o sobrenome Emmel, mas cujo parentesco ainda não foi confirmado, são por exemplo Fábio Norberto, vereador em Santa Cruz, radialista, delegado da Federação Gaúcha de Futebol por 37 anos, advogado laureado e 1º presidente da OAB de Sobradinho, primeiro presidente do Conselho Municipal de Esporte e presidente da Paróquia Evangélica de Confissão Luterana na mesma cidade e benemérito local,2057 e Renê Reinaldo, presidente da Federação Desportiva de Eisstocksport e introdutor do esporte no Brasil.2058 Oskar Jaeger descende de Franz Jaeger (Jäger), nascido em Wellstein, no Grão-Ducado de Hesse-Darmstadt. Foi casado com Elisa Krüge, natural da mesma cidade. Emigraram em 1859 no navio Marquês de Caxias, junto com seis filhos, mas ambos os pais faleceram durante a viagem.2059 Um dos filhos, Andreas, nascido em Wellstein em 15 de abril de 1839, foi um dos pioneiros de Agudo, onde foi agricultor na Linha Teutônia, lote nº 33. Em 1880 adquiriu o lote de Manoel da Rosa Garcias na Picada Morro Pelado Campo, falecendo em Agudo e 4 de maio de 1920. Teve Oskar e mais quatro filhos com Juliane Pfeiffer, nascida em Tromashein, Província do Reno, em 4 de junho de 1837, falecendo em Agudo em 9 de setembro de 1931. Oskar nasceu em 18 de agosto de 1884 na Linha Teutônia, e faleceu em 5 de maio de 1939 em Santo Ângelo. Pouco se sabe dele. Foi comerciante e membro da comissão formada em 1907 que organizou a festa de 50 anos da Colônia Santo Ângelo.2060 A família Jaeger se tornou tradicional no estado, produzindo diversos membros em destaque, como Augusto, filho de Adolf e primo de Hilda, vice-prefeito e vereador em Santo Ângelo.2061 O Jornal O Mensageiro assim falou dele: “Conheci o Augusto Jaeger quando ele veio morar em Santo Ângelo, na casa de seu pai Adolfo Jaeger, cidadão correto e sério, situada na Avenida Venâncio Aires, através do Dr.Guido Emmel, meu amigo de infância. Eles eram primos irmãos - seu pai era irmão da mãe do Guido. Ele veio do interior de Santa Rosa, de Tuparendi. “Augusto nasceu em 1928, em Tuparendi. Em 1936, veio morar com seus avós em Santo Ângelo.Estudou no Colégio Concórdia, onde aprendeu a tocar violino com Fernando Krieger, professor desse Colégio Luterano, em 1940. Praticava e tocava junto com seu primo Guido.Tínhamos um amigo em comum, Emílio Heinz, morador da esquina da Venâncio Aires com Av. Brasil, e ex- funcionário do Banco Pfeiffer. Emílio e eu o levamos para o Partido Libertador. Os integralistas (PRP) de Plínio Salgado tentaram levá-lo para as suas fileiras, entretanto não conseguiram. “Augusto foi carregador de malas do Hotel Comércio de propriedade de seu tio Otto Henchke. Vendeu balas e doces no Cinema Avenida. Um exemplo de rapaz sério, responsável e dedicado. Em 1939, faleceu seu avô e ele passou a viver com a avó e seu tio Leonel, que era ecônomo do Clube 28 de Maio. Em 1943, veio toda a sua família morar em Santo Ângelo. “Em 1944, começou a estudar no Colégio Champainat e trabalhar no Banco Pfeiffer. Em 1946, serviu na Base Aérea de Canoas. Em 1947, voltou para Santo Ângelo e assumiu o Bolicho da Casa Jaeger. Foi quando começamos a conviver mais. Participamos de todas as Campanhas Nacionalistas, principalmente do Petróleo é Nosso. Ingressou na Ala Moça do Partido Libertador, da qual eu já pertencia. 2057

“Final de ano com tristeza: morre, aos 81 anos, Fábio Norberto Emmel”. Gazeta da Serra, 04/01/2013 Ciecelski, Luana. “Morre Renê Emmel do Eisstocksport”. Rio Vale Jornal, 03/02/2015 2059 Jäger, Darcy Gilberto. Família Jaeger. Coleção Editora Werlang, Volume 38, 2009. 2060 Werlang, William. Família Pötter. Editora Werlang, 2005 2061 Câmara de Vereadores de Santo Ângelo. Ex-Vereadores. 2058

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“Participamos juntos de muitas campanhas políticas, municipais, estaduais e federais. Procurando sempre o lado certo e o melhor para o Brasil. Lutamos muito contra a eleição do Sr.Getúlio Vargas, pois achávamos que não seria bom para o Brasil – como de fato foi - com um fim trágico, seu suicídio, que quase levou o País a uma Guerra Civil. “Costuramos juntos a candidatura a vice-prefeito do senhor Alfredo Pereira dos Santos pelo Partido Libertador em coligação com PSD, apoiando o Sr. José Carlos Kist para prefeito. Foi uma convenção memorável do Partido, de vez que uma ala apoiava uma candidatura própria. Vencemos a eleição municipal, elegendo com ele três vereadores, sendo um deles o Sr.Augusto Jaeger. Na eleição seguinte, lançamos e elegemos o Senhor Siegfried Ritter para prefeito de Santo Ângelo pelo Partido Libertador.Os outros partidos tiveram de apoiá-lo. Venceu as eleições. “Em 1955, se elegeu vereador. Em 1950, passou a colaborar com o jornal O Debate, de Utalino Fernandes. Em 1951, começou a trabalhar na Caixa Rural. Logo comprou o escritório de aluguéis do Sr. Siegfried Ritter, atual Imobiliária Jaeger. Nessa época, conheceu nosso comum amigo Oscar Pinto Jung e assumiu a direção do jornal O Debate, durante o tempo em que Utalino esteve preso por questões políticas, em virtude da censura à imprensa. “Em 1963, casou-se com Enilse Falcão da Motta, professora, com a qual formamos uma boa vizinhança por quase 50 anos. Seu filho, Augusto Jaeger Junior, e minha filha Daniela, além de serem vizinhos e brincarem muito durante a infância, foram colegas de aula. Em 1964, assumiu a direção da Caixa Rural e, em 1965, assume a presidência do Partido Libertador, no ano em que houve a fusão de vários partidos, formando a Aliança Renovadora Nacional. Dessa época em diante, nos afastamos politicamente, porque passei para a oposição junto com Paulo Brossard de Souza Pinto, Carlos de Brito Velho, Dario Beltrão e Raul Pilla. Antevendo eles uma ditadura militar (de vez que a ordem jurídica e constitucional fora rompida), que se perpetrou por longos 25 anos. Os militares haviam se comprometido ficar no governo somente 2 anos... “Augusto formou-se em Ciências Contábeis. Em 1973, nasce seu único filho, Augusto Jaeger Filho. Em 1978, a Caixa Rural é extinta e ele assumiu a direção da Caixa Estadual. Aposentou-se em 1992 e, em 2003, após uma longa enfermidade, faleceu. Santo Ângelo perdeu uma pessoa amiga de todos, pronta a colaborar sempre com as boas causas. Passei a me privar da presença física de um companheiro de grande afinidade, que passou para outro plano da vida”.2062 Augusto Jaeger Jr. é doutor em Direito, professor em várias universidades no Brasil e no exterior, avaliador do Ministério da Educação, palestrante e autor de seis livros.2063O nome se espalhou pelo estado, mas não se sabe se todos os ramos são consanguíneos. São exemplos Laís Helena, juíza das Varas do Trabalho de São Borja, Erechim, Cruz Alta, Santa Cruz do Sul, Lajeado, Canoas e Porto Alegre, e desembargadora federal do Trabalho;2064 Ardi, prefeito de Bossoroca;2065 e Ari Carlinhos, prefeito de Agudo,2066 entre muitos outros.

2062

“Augusto Jaeger”. Jornal e Revista O Mensageiro, 29/02/2012 Editora Juruá. Autores. 2064 Laís Helena Jaeger Nicotti. Jus Brasil, 19/12/2013 2065 Mendes, Aline. “No Estado, 30% dos prefeitos já admitem concorrer à reeleição”. Zero Hora, 02/10/2014 2066 Werlang, William. História da Colônia Santo Ângelo. Pallotti, 1995 2063

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Mirtes, irmã de Luís, e sua mãe Hilda. Abaixo, Luís e Adriana entrando no clima londrino. Fotos de Luís Melo.

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Thaís fazendo o papel de Lua em apresentação infantil. Na outra imagem Thaís está à direita, em apresentação do grupo Choreo. Fotos da coleção de Thaís.

b) Thaís Helena, nascida em 27 de dezembro de 1957, desde pequena dedicou-se à Dança. Fez apresentações ainda criança, e mais tarde, em Porto Alegre, onde se radicou, atuou no famoso grupo Choreo, de Cecy Frank, que se tornou uma referência no ensino da dança contemporânea no Brasil.2067 Nos anos 80 formou-se como artista plástica na UFRGS, com especialização em Arte na Educação. É também designer de tecidos, roupas e adereços. Trabalhou na tecelagem do pai e mais tarde na Fitesa S/A desenhando estamparia, produzindo belas peças, e por muitos anos foi professora das disciplinas de Desenho, Pintura e Moda no SENAC e no SESC em Porto Alegre. Realizou várias exposições em espaços culturais prestigiados, tendo enorme sensibilidade e o dom de criar beleza e poesia em tudo em que ponha as mãos. 2068 2069 2070 2071 É casada com Eduardo Augusto du Pasquier Nunes, com quem hoje trabalha em conjunto, sendo sócia na Du Pasquier Design Têxtil Ltda. Os tecidos criados pela dupla já foram usados em diversas coleções de roupas, sapatos e estofados, apresentados em shows e desfiles de moda nos grandes centros do Brasil.

2067

Dantas, Monica Fagundes. “Prefácio”. In: Cunha, Margarida & Frank, Cecy. Dança: nossos artífices. Movimento, 2004 2068 “Thaís Panceri”. Maria Rita Caminhos Culturais 2069 “Espaço de Moda e Arte na Zona Sul de Porto Alegre”. Mauren Motta 2070 “CCCEV sedia Seminário de Arte Têxtil”. Grupo CEEE, 03/07/2009 2071 “Anne Anicet e Evelise Anicet abrem novo espaço de arte e moda na Zona Sul”. Sabrina Ortácio, 05/11/2010

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Apresentação do grupo Choreo em 1891. Thaís é a moça com tutu nas duas imagens. Fotos Grillo, coleção de Thaís.

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Duas peças criadas por Thaís apresentadas na exposição ConTêxtil no Centro Cultural CEEE. Fotos Maria Rita Caminhos Culturais.

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Diana Panceri Nunes e seus pais Thaís e Eduardo. Foto de Diana.

Eduardo, um perfeito “boa praça”, divertido, liberal, desprendido e de grande cultura, é licenciado em Artes com ênfase em Arte na Educação, também professor e designer de tecidos e adereços, conhecido pesquisador de corantes e fibras, ministrando cursos e oficinas. Entre seus principais projetos conta-se o Fábrica da Inclusão, desenvolvido durante 4 anos junto à Faculdade de Engenharia da UFRGS como bolsista do CNPq, voltado à pesquisa e processamento de fibras alternativas e descartadas para a produção de materiais têxteis. Já deu consultorias e desenvolveu projetos para grandes empresas e instituições, como a Ellus, Tabacow, Fitesa, Osklen, EMATER, Cooperativa de Artesãos do Rio Grande do Sul e outras, professor do SENAI, ministrando as disciplinas de Desenho para Estamparia e Materiais e Processos Têxteis, além de ser consultor de longa data do SEBRAE no estado. Tem exposições e prêmios no currículo, incluindo um 1º Prêmio e um Destaque em Materiais de Acabamento Tecidos Jacquard, concedidos pelo prestigiado Museu da Casa Brasileira de São Paulo.2072 2073 2074 2075 2076 2077 2078

2072

“Oficina de tingimento de tecidos com corantes naturais” Fundação Gaia Ely, Eduardo Bins. “Um verão que aposta na diversidade”. Jornal do Comércio, 05/08/2011 2074 3º Prêmio Design. Conjunto jacquard. Autor(es): Eduardo du Pasquier Nunes. Produtor(es): Fitesa 2075 “Oficina de Tingimento Vegetal”. ULBRA/Torres, 16- 17/07/2010 2076 “Nova coleção do Contextura”. Correio do Povo, 10/04/2011 2077 “ConTêxtil”. Journal Petit Enfant, 27/08/2010 2078 “Investimento na capacitação para a produção”. UNISOL, 13/02/2011 2073

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612 da Oficina de tingimento de fibras com corantes naturais ministrada por Eduardo (de preto, à esquerda) para um grupo Cadeia Solidária da Lã, viabilizada pelo Núcleo de Estudos em Gestão Alternativa da Escola de Administração da UFRGS. Foto de Eduardo.

613 Feltragem da Du Pasquier Design Têxtil em modelo destacado na Vogue

Jaqueta da griffe Animale, com tecido da Du Pasquier Design, apresentada em desfile na São Paulo Fashion Week. Abaixo, calçados com aplicação de tecidos, grife Arezzo.

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Com seus largos horizontes humanos e culturais, Thaís e Eduardo Augusto são grandes amigos, foram especialmente importantes como apoiadores e incentivadores quando me mudei para a capital e ainda mais quando me decidi pelo curso de Artes, e passamos ótimos momentos em longas e assíduas conversas noite adentro filosofando sobre tudo. A eles também devo muitas leituras proveitosas em temas culturais, fazendo-me descobrir a arte africana e o trabalho de Escher e Klee, entre outras coisas, através deles fiz meus primeiros contatos com artistas destacados, como Maria Lúcia Cattani e Maristela Salvatori, que faziam parte de sua turma de amigos, e até hoje um encontro com eles é motivo de prazer e ilustração. São pais de Diana, bailarina, coreógrafa e professora de Dança, formada na UFRGS. Foi membro do corpo de ballet da universidade, com várias apresentações no currículo, 2079 2080 depois deu aulas de ballet clássico e jazz em vários colégios e academias portoalegrenses, como a Escola de Ensino Infantil O Engenheirinho, o Studio MAIS de Dança, a Escola Infantil Estação Criança, o conhecido Colégio João XXIII e o Grupo de Dança Criação. Atualmente faz parte do corpo docente do Núcleo de Arte e Dança, do Centro de Arte de Porto Alegre e da escola da famosa Lenita Ruschel, também se apresentando como bailarina da Companhia de Ballet de Porto Alegre. Participou de vários festivais de dança como coreógrafa, entre eles o Porto Alegre em Dança, o São Leopoldo em Dança, o Festival de Dança de Gramado, e a V e VI Mostras de Dança do Núcleo de Dança da Casa de Cultura Mário Quintana (com o Ballet da UFRGS). Como bailarina participou do 2º Salão de Dança UFRGS (também como palestrante), do 2º Encontro Estadual das Graduações em Dança, do Projeto Quartas na Dança e do 12º Dança Bagé (com a Companhia de Ballet de Porto Alegre), entre outras atividades. Sua participação como coreógrafa no prestigiado Festival Nacional de Dança (Brasil Vem Dançar) em 2013 foi premiada com o 2º e 3º lugares na categoria ballet clássico infantil, e com o 3º lugar na categoria infanto (grupo e solo) no Brasil Vem Dançar de 2014.

Diana Panceri Nunes. Foto de Diana.

2079

“Descontrários - única temporada!”. Companhia H Martinez, Bethany et alii. “Criadoras-intérpretes: a experiência do Ballet da UFRGS”. In: 5º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária - As Fronteiras da Extensão. Porto Alegre, 8 a 11 de novembro de 2011 2080

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Cartaz de apresentação do Ballet UFGRS, com Diana marcada com ponto.

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A família du Pasquier (DuPasquier, Dupasquier) tem origens muito antigas, remontando ao período carolíngio, espalhando-se pela França e Suíça, onde deu numerosos nomes destacados como políticos, militares, juristas e comerciantes, tendo a partir do século XVI vários ramos na nobreza.2081 2082 2083 2084 O pioneiro no Brasil foi Eugène du Pasquier, tataravô de Eduardo Augusto, que nasceu em Colombier, no cantão de Neuchâtel, Suíça, em 7 de julho de 1820, e faleceu em em São Leopoldo, Brasil, em 11 de janeiro de 1877, filho de Jean-Pierre du Pasquier (Colombier, 15/08/1759–1829) e sua terceira esposa Anne-Catherine (Anette) Gélieu (1786–1855).2085 Nesta região a família é registrada desde 1167, quando Conon dal Pasquier é citado como dono de terras em Villaz-Saint Pierre, a 30 km de Brasão du Pasquier do ramo de Neuchâtel.2086 O ancestral mais remoto conhecido de Eduardo é Rollin Neuchâtel. dou Paquier, que viveu no século XIV. A linha direta que chegou a Eduardo prossegue com Vaulchier du Pasquier (? – ?) > Jacquet (Jacques) (1409 – 1479) > Jean (? – 1552) > Jacques (? – 1553) > Vuillemin (? – 1555, governador de Fleurier) > Hugonin (? – 1593, governador de Fleurier) > Abraham (c. 1588 – 1658, conselheiro) > Huguenin (c. 1613 – Fleurier, 14/12/1691, oficial de justiça e assistente do Consistório) > Pierre I (c. 1640 –1708, burgomestre de Valangins e mestre ferrador) > Pierre II (Fleurier, 1681 – 08/03/1765, notário, casado com Suzanne, filha de Jean-Pierre Liengme, notário) > Jean-Jacques (Fleurier, 09/06/1720 – Colombier, 09/10/1801) > Jean-Pierre.2087 2088 Esta família pertenceu ao alto patriciado, foi armígera e ao que parece teve ramos nobres.2089 Jean-Jacques e seu irmão Claude-Abram (1717-1783), junto com Jean-Jacques Bovet, foram os fundadores da Fabrique-Neuve, uma das primeiras grandes indústrias da Europa, fundada em 1752 na cidade vizinha de Cortaillod, dedicada à produção de tecidos com decoração pintada na técnica da impressão, a maior da Suíça em seu gênero e uma das mais importantes na história do tecido industrializado, exportando para todo o mundo. No fim do século XVIII sua produção atingia a marca de 45 mil rolos de tecido, empregando mais de 700 funcionários. 2090 2091 2092 A partir desta empresa uma série de outras foram fundadas em outras cidades por ramos da família, e os pigmentos usados deram as bases para o posterior florescimento de gigantes como a Ciba Geigy, Sandoz e outras.2093

2081

Petitpierre, Alphonse. Un demi-siècle de l'histoire économique de Neuchatel 1791-1848. Sandoz, 1871 Bulletin officiel des séances du Corps Legislatifs de la Principauté et Canton de Neuchâtel, Volume 1. Wolfrath, 1831 2083 Courcelles, Jean B. Dictionnaire universel de la noblesse de France, Volume 2. Bureau Général de la Noblesse de France, 1820 2084 Saint Allais, Nicolas Viton de. Catalogue général et alphabétique des familles nobles de France admises dans l'Ordre de Malte, depuis l'institution de cet Ordre jusqu'a présent, suivi de la nomenclature générale des Chevaliers de Malte. Paris, 1789 2085 Familles Neuchâteloises. Du Pasquier. 2086 Vevey, Hubert de. Histoire genealogique de La famille von der Weid de Fribourg. BCU, ms.L 1935/11 2087 Familles Neuchâteloises. Du Pasquier. 2088 “DuPasquier, Claude-Abram”. Dictionnaire Historique de la Suisse, 21/02/2006 2089 Christ, Thierry. Des solidarités coutumières à la bienfaisance privée: l'Etat et les pauvres à Neuchâtel (17731830), vol. II. Tese de Doutorado. Université de Neuchâtel, 2009 2090 Christ, op. cit. 2091 Wanner, Anne & Richard, Jean. Le développement de l'indiennage en Suisse, dans: Le Coton et la Mode, 1000 ans d'aventure. Catálogo de exposição. Paris, 10/11/2000 – 11/03/2001 2092 Pierre Caspard, La Fabrique-Neuve de Cortaillod, 1752-1854 entreprise et profit pendant la révolution industrielle. Publications de la Sorbonne, 1979 2093 Tétaz, John. From Boudry to the Barrabool Hills. Australian Scholarly Publishing, 1995 2082

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Charles-Abram du Pasquier. Ao lado Pierre-Henri du Pasquier em pintura de Jean-Pierre Preudhomme, 1780. Musée Militaire et des Toiles Peintes, Colombier. Abaixo, o Domaine de Vaudijon, construído por Jean-Pierre du Pasquier no início do século XIX. Foto David Marchon - L’Éxpress.

Charles-Abram foi também um dos três maiores acionistas da empresa Pourtalès & Cie., que comercializava a produção da fábrica. Jean-Pierre, major e sócio da empresa, assumiu mais tarde a sua direção junto com seu irmão Charles-Henri. Pierre-Henri, filho de Charles-Abram, entrou na terceira formação da sociedade, quando ela iniciou sua fase de apogeu, sendo o segundo maior acionista, com um capital de 300 mil libras. Nesta época Claude-Abram tinha um investimento de 150 mil libras.2094

2094

Christ, op. cit.

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Gravura do século XVIII mostrando o interior da Fabrique-Neuve. Abaixo, prédios da Fabrique-Neuve, hoje patrimônio histórico de Cortaillod. Foto Imagepro/Wikipédia.

Outro filho de Jean-Jacques e sua esposa Marianne de Meuron foi o pastor Jacques-Louis (1762-1830), benemérito local, um dos fundadores, junto com Charles-Henri, de uma sociedade beneficente e um orfanato. 2095 Marianne era irmã do grande general e conde Charles-Daniel de Meuron, fundador do célebre Regimento de Meuron, composto de mercenários, que serviu em vários exércitos europeus. Teve muitos bens na Suíça e na França, entre eles as mansões La Petite e La Grande Rochette em Neuchâtel.2096

2095 2096

Christ, op. cit.. Meuron, Guy de. Le Régiment Meuron, 1781-1816. Editions d'en Bas, 1982

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Projetos de tecidos produzidos pela Fabrique-Neuve. Reprodução de Maurice Evard.

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Eugène mudou-se para o Brasil por motivo desconhecido, mas pode ter tido relação com a decadência da empresa famíliar, que no início do século XIX mudou sua organização, entrou em dificuldades por causa das Guerras Napoleônicas e foi em parte vendida, finalmente fechando em 1854. Um seu primo, Léo, também emigrou. No entanto, Eugène era engenheiro agrimensor e nunca foi citado em associação com a Fabrique-Neuve. Casou-se com Leonor, filha de Tristão Monteiro, personalidade de destaque no estado, onde foi comerciante e latifundiário no Vale do Paranhana, com terras que hoje compõem três municípios – Taquara, Igrejinha e Três Coroas – a Fazenda Mundo Novo, da qual promoveu o povoamento com imigrantes alemães fundando a Colônia de Santa Maria do Mundo Novo, e depois foi vicecônsul dos Estados Unidos em Porto Alegre.2097 Sua filha Cecília casou-se com Ivo Corseuil, ambos notáveis educadores em Porto Alegre, onde mantiveram famosos colégios e hoje são nomes de ruas; Ivo também é nome de escola.2098 Seus outros filhos foram Carlos Eugênio, Júlio Alberto, Ivo Affonso, Ignácio e Gustavo Eduardo.2099 Eugênio tornou-se conhecido farmacêutico em Porto Alegre, vice-presidente da Sociedade Farmacêutica,2100 com uma casa famosa estabelecida com o expressivo capital de 117 contos de réis,2101 que trabalhava também com importação em grande escala e lançou vários produtos que se tornaram populares, como o dentifrício Esmaltina Pasquier e o Xarope Calcáreo Balsâmico. Foi também tenente-coronel, conselheiro municipal,2102 fez parte do grupo que financiou a fundação do jornal Correio do Povo,2103 um dos mais tradicionais do estado, inventou um processo de conservação do leite2104 e foi conselheiro da Caixa Econômica,2105 sendo hoje nome de rua. Outros membros da família du Pasquier também fizeram carreira como farmacêuticos em Porto Alegre, São Jerônimo e Rio Grande.

2097

Engelmann, Erni Guilherme (org.). A saga dos alemães - do Hunsrück para Santa Maria do Mundo Novo. Igrejinha, 2004 2098 Fontes, Rosa Ângela. Logradouros públicos em Porto Alegre: presença feminina na denominação. Câmara Municipal de Porto Alegre, 2007 2099 Pufal, Diego de Leão. “Franceses no RS”. Antigualhas, histórias e genealogia, 06/05/2014 2100 [Nota sem título]. A Federação, 17/09/1895 2101 “Junta Commercial”. A Federação, 14/01/1901 2102 “Editaes”. A Federação, 05/01/1901 2103 Acauan, Ana Paula Bragaglia. Comunicação: Correio do Povo na gestão Ribeiro – ideologia e poder. Dissertação de Mestrado. PUCRS, 2009 2104 Barbosa, Fidélis Dalcin. História do Rio Grande do Sul. Projeto Passo Fundo / EST, 2013 2105 “Funcionou hontem”. A Federação, 11/02/1905

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Thaís e Eduardo Augusto. Abaixo, a família du Pasquier Nunes. Da esquerda para a direita: Carlos Eduardo e Silvana Martani; Lyrbague Nunes e Vera Cândida du Pasquier; Eduardo Antônio; Thaís Panceri e Eduardo Augusto; Maria Thereza Thomas, e a criança Diana Panceri Nunes. Fotos da coleção de Eduardo Augusto.

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Diana Panceri Nunes e seus avós Vera e Lyrbague. Foto da coleção de Eduardo Augusto.

Eugênio, casado com Jerônima Santarém, foi pai de Carlos, engenheiro agrônomo, diretoradjunto do Posto Zootécnico de Porto Alegre,2106 casado com Maria Newbold, pais de Vera Cândida, casada com Lyrbague Nunes, bancário e gerente do Banco do Rio Grande do Sul S/A (antecessor do BANRISUL). Lyrbague e Vera foram pais de Eduardo Augusto, casado com Thaís Panceri; Eduardo Antônio, cirurgião-dentista, casado com Maria Thereza Thomas, e Carlos Eduardo, comissário de bordo, casado com Silvana de Lourdes Grimaldi Martani, psicóloga clínica há mais de 25 anos no hospital da Beneficência Portuguesa de São Paulo, onde também é professora da Residência Médica. É autora de artigos e livros, entre eles Uma Viagem pela Puberdade e Adolescência (2007) e Manual Teen (2009), que se tornaram referência na área da Psicologia juvenil.2107 2108 2109

2106

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1911 Vallerio, Ciça. “A voz dos adolescentes”. O Estado de São Paulo, 18/01/2009 2108 Kindel, Eunice Aita Isaia. A docência em Ciências Naturais: construindo um currículo para o aluno e para a vida. Edelbra, 2012 2109 Zanandrea, Andressa. “Voltado para meninas, livro traz as mudanças do corpo na puberdade”. Agência Estado, 12/03/2009 2107

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José Panceri e seu neto Vitor Hugo Panceri. Coleção de Marisa Frantz Panceri.

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Meu irmão Marcelo, eu e o primo Vitor Hugo Panceri

c) Vitor Hugo, nascido em 14 de fevereiro de 1959, junto com suas irmãs foi grande parceiro de brincadeiras na minha infância. Permaneceu solteiro, enfrentou grandes dificuldades em sua vida e hoje faz companhia para sua mãe viúva. Como ele preferiu preservar sua privacidade, limito-me a esta nota sobre ele.

Vitor Hugo.

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2) Milton Máximo, nascido em 9 de março de 1930, foi médico especializado em Clínica Geral, Pediatria e Cirurgia, estudando em Curitiba e Santos, e depois desenvolveu respeitada carreira em Caxias, falecendo em 23 de julho de 2003 sem terse casado. Avesso a toda publicidade, dedicou-se inteiramente aos estudos, à família e à profissão, levando vida discretíssima. Mesmo assim, seu trabalho foi reconhecido, e seu falecimento foi lamentado pelo Conselho Regional de Medicina, que lhe rendeu homenagem em Sessão Plenária,2110 e pela Câmara Municipal, que aprovou por unanimidade um Voto de Pesar.2111 Foi pessoa culta, amante de música erudita e, herdando a veia do pai, adquiriu sólida cultura literária, filosófica e patrística, deixando desde os tempos de estudante grande número de notas e resenhas sobre variados pontos de estudo. O único Milton Frantz caderno de notas que sobrevive mostra uma selva de pequenas entradas das mais variadas naturezas, desde listas de nomes e minibiografias de personalidades ilustres da história, da ciência, do pensamento, da literatura e das artes, passando por comentários sobre composições de músicos famosos e ponderações sobre a origem do Mal e a natureza da Beleza, entremeadas a notas sobre temas especificamente médicos, incluindo a análise de substâncias medicinais, as maneiras de diagnosticar e tratar cada doença e outros tópicos especializados. De hábitos espartanos e carreira bem remunerada, fez economias que foram grande ajuda para seus irmãos no tempo das vacas magras. Invariavelmente pacífico e controlado, com uma fleugma inabalável em todas as situações, sempre enfurnado em sua biblioteca e às voltas com seus estudos, com sua formação erudita e seus ideais elevados, como se fora um monge medieval deslocado nesta contemporaneidade agitada, alheio ao burburinho e às superficialidades da vida, Milton serviu-me de mentor em vários aspectos. Entretive com ele muitos, longos, interessantes e às vezes incandescentes debates sobre filosofia e religião, exercitando o pensamento abstrato e a arte da retórica, que mais tarde aplicaria em minha produção escrita e musical, e a ele devo minha introdução nos grandes clássicos da literatura, apresentando-me obras como o Don Quixote, de Cervantes, A Odisseia, de Homero, A Divina Comédia, de Dante, e A Montanha Mágica, de Thomas Mann. Também provavelmente por sua influência, ainda que inconsciente, ensaiei de cursar Medicina, mas meu interesse não era verdadeira vocação, desistindo ao cabo de quatro anos de curso. No entanto, foi uma experiência do mais alto valor. 2110

Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul. Of. SAT nº 5.395/2003. Porto Alegre, 08/08/2003 2111 Câmara Municipal de Caxias do Sul. 336ª sessão ordinária do 3º período da XII Legislatura, 29/07/2003

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Os únicos ornamentos que Milton se permitia usar: um par de abotoaduras e um discreto prendedor de gravatas de ouro.

631 Uma das notas de Milton.

Formatura de Mauro na Escola Normal. Coleção de Jean Carlo Frantz.

3) Mauro Theodoro Alfredo, nascido em 24 de outubro de 1934 e falecido em 31 de maio de 2011, meu padrinho de crisma, estudou na Escola Normal Duque de Caxias e serviu no Exército, chegado à posição de cabo. Em sua juventude foi esportista, batendo um recorde local na natação dos 50 metros.2112 Nesta fase levava vida aventuresca, sendo um famoso playboy em Caxias, chegando a ser galã de fotonovelas no Rio, onde se sustentava como bancário. Mesmo depois de casado, com seu temperamento irrequieto, não permaneceu muito tempo em uma atividade. Abriu sucessivamente uma malharia, uma fábrica de brinquedos de madeira, colaborou com seu cunhado Henrique Panceri na sua empresa de eletrônica e terminou sua carreira profissional como dono de uma pequena metalúrgica, onde produzia uma variedade de itens, como espelhos de tomadas, maçanetas de móveis, placas em metal com inscrições, adornos, etc. Também foi apicultor, dirigente da Associação Caxiense de Apicultores e da Diretoria da Federação das Associações de Apicultura do Rio Grande do Sul. Foi amante da pesca por toda vida e tinha muitas histórias de pescador em seu repertório, tendo também patenteado um novo mecanismo para o molinete.2113

2112 2113

“Natação”. A Época, 01/02/1951 Frantz, Mauro Theodoro. Aperfeiçoamento em molitene. Patente MU8502903-3 Dep. INPI 27/12/2005

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633 Acima, poema de Ida para seu filho Mauro. Abaixo, Mauro em solenidade na Associação Caxiense de Apicultores, com o prefeito Mário Ramos entregando diplomas aos associados. Coleção de Jean Carlo Frantz.

O casamento de Mauro Frantz e Vera Horta Barbosa. Coleção de Jean Carlo Frantz. No recorte abaixo há um erro, Ruth não é mãe de Vera, é a segunda esposa de Luiz Antônio.

Mauro casou-se em 11 de janeiro de 1969 com Vera Maria Prates Horta Barbosa, de uma família com ilustríssimas raízes. A família Horta Barbosa foi fundada pelo casamento do conselheiro Luiz Antônio Barbosa da Silva, grande fazendeiro de café, alto político e fundador de Juiz de Fora, com Antônia Luiza Rodrigues Horta, em alguns documentos citada como de Oliveira Horta.2114 Tampouco o nome de Luiz Antônio é totalmente claro, às vezes é citado apenas como Barbosa, ou como Barbosa da Silva ou como Barbosa de Almeida.2115 2116 2117 2118 Mas como já foi assinalado, a transmissão dos sobrenomes portugueses era bastante arbitrária. Vânia Lúcia de Oliveira descreveu sua carreira, a partir dos estudos de Arthur Rezende. Mantenho a grafia que ela adotou: “Conselheiro Luís Antônio Barbosa, batizado em Congonhas do Campo aos 20 de junho de 1814,2119 informação divergente do que registra Arthur Rezende, de que teria nascido aos 15 de junho de 1815. Formado em Direito em São Paulo, em 1837, advogou em Sabará, onde depois atuou como juiz municipal.

2114

Porto, Rubens. Família Horta: genealogia do cel. José Caetano Rodrigues Horta. Rio de Janeiro, 1990 Guimarães, Elione Silva. “Criminalidade e escravidão em um município cafeeiro de Minas Gerais: Juiz de Fora, século XIX”. In: Justiça & História, 2001; 1 (1-2) 2116 Genealogia Brasileira. Estado de São Paulo - Os Títulos Perdidos. Raposos Bocarros. 2117 Porto, op. cit. 2118 Oliveira, Vânia Lúcia de. Francisco de Paula Barbosa da Silva, 29/03/2009 2119 Centro de História da Família. Filme 1284503, item 4, batismos em paróquias de Congonhas do Campo, Minas Gerais 2115

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“Foi Juiz de Direito das Comarcas do Rio das Velhas, do Rio das Mortes (São João d’elRey), do Serro, de Diamantina, do Rio Jequitinhonha e finalmente de Ouro Preto; deputado provincial em várias legislaturas, e deputado geral desde 1844 até ser escolhido senador do Império; chefe de Polícia em 1849 e vice-presidente de Minas; presidente de Minas Gerais de 1851 até fim de abril de 1853; ministro da Justiça em 1853-1854; presidente da Província do Rio de Janeiro em 1854-1857; senador, escolhido em fins de 1859 e comendador da Ordem de Cristo. Como Presidente de Minas foi quem expediu todas as ordens para instalação da Vila de Juiz de Fora, incumbindo Halfeld, Paula Lima e o cel. José Ribeiro de Rezende (depois barão de Juiz de Fora) das providências necessárias para a instalação.2120 “Casado em 1840 com dona Antônia Luísa de Oliveira Horta, [alcunhada] dona Antônia do Cafezal, da Fazenda do Cafezal, nascida aos 2 de julho 1815 e falecida em agosto de 1905, filha de José Caetano Rodrigues Horta (Filho) e dona Bárbara Eufrosina de Almeida Rolim de Moura. “Ainda segundo Arthur Rezende, Luiz Antônio Barbosa teria falecido aos 15 de março de 1890, o que não combina com informações obtidas em seu inventário, datado 9 de abril de 1861, localizado no Arquivo Histórico da Universidade Federal de Juiz de Fora.2121 Deixava a viúva e 13 filhos, vários deles menores (Luiz 19, Antônio 18, Júlio 17, Ignacia 15, Izabel 14, Francisca 13, Luíza 12, Bárbara 11, Antônia 10, José, 9, Maria 7, Nicolau 6 (faleceu), Augusta 4), e muitas dívidas, que foram sanadas por uma comissão que se formou em 1864”.2122 O pai de Luiz Antônio foi Francisco de Paula Barbosa da Silva, nascido em 1789 em Sabará e falecido em torno de 1832, tenente de cavalaria de Vila Rica, casado em 1808 com dona Isabel Maria de Ávila Lobo Leite, nascida em 1783 em Vila Rica, filha do capitão-mor Antônio Agostinho Lobo Leite Pereira, descendente do segundo conde de Aveiro, e dona Ana Francisca de Ávila e Silva.2123 2124 Em sua prole também se destacaram Júlia Adelaide, casada com Lourenço de Assis Pereira da Cunha, professor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, médico da Família Imperial e conselheiro de Estado, filho do marquês de Inhambupe; Francisca, casada com seu primo-irmão, o doutor Antônio Torquato Leite Brandão, que recebeu brasão de armas, filho do sargento-mor Bernardo Xavier da Silva Ferrão Brandão, e Maria Isabel, casada com o conselheiro Quintiliano José da Silva, deputado provincial, deputado geral, vice-presidente e presidente da Província de Minas, que segundo Arthur Rezende “foi administrador esclarecido e patriota. Quando deputado provincial tomou parte saliente da Revolução Liberal de 1842”.2125 Francisco de Paula era filho do coronel Antônio Barbosa da Silva, natural de Santarém, Portugal. Tendo-se transferido para o Brasil, casou em Sabará com dona Anna Maria de Jesus Rolim. Entre seus filhos se destacam ainda Luís Antônio Barbosa da Silva, sargento-mor de ordenanças em Sabará; Antônio Barbosa da Silva (Filho), alcunhado O Gordo e O Baú, fidalgo cavaleiro da Casa Imperial, comendador da Ordem de Cristo, cavaleiro da Rosa e sargento-mor da Segunda Linha do Exército; e Paulo Barbosa da Silva, mordomo do Paço Imperial e fundador 2120

Rezende e Silva, Arthur Vieira. Genealogia Mineira, volume 2, parte III. Imprensa Oficial de Minas Gerais, 19371939 2121 Arquivo Histórico da Universidade Federal de Juiz de Fora. Cx.023/10, processo 138, ano 1861, Grupo B, Código 233, Caixa: 20-B: Inventariado: Luís Antônio Barbosa (Conselheiro), Inventariante: Antônia Luísa Horta Barbosa 2122 Oliveira, Vânia Lúcia de. Francisco de Paula Barbosa da Silva, 29/03/2009 2123 Oliveira, op. cit. 2124 Diniz, Jaime José. “Número 20”. O Esmeraldense, mai/1962 2125 Oliveira, op. cit.

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de Petrópolis, sendo lembrado com uma sala com seu nome no Museu Imperial. Sua casa, conhecida como Quinta da Joana e depois Palacete da Laguna, hoje abriga o Espaço Cultural Laguna.2126 Nas palavras de Felgueiras Gaio, um dos principais genealogistas portugueses,

Brasão Barbosa. Abaixo, o brasão Horta.

“Antiquísima entre as famílias da Espanha [é] a de Barbosa, [que] no primeiro século da Coroa Portuguesa logrou as maiores prerrogativas. [...] Conserva com honra a sua nobreza, podendo na decadência em que se acha Ver nota 2127 gloriar-se que em toda Espanha e Europa se não acharam muitas famílias que tão sem contradição possam provar a série da sua varonia continuada por mais de mil anos e será muito rara a família de Espanha que não tenha nas suas veias sangue dos primeiros Barbosa, e nem houve em Portugal reinado em que os Barbosa não tivessem pessoas ilustres assim em armas como em letras”.2128 Agora passando para o lado dos Horta, a fundadora, Antônia Luiza Rodrigues Horta, era irmã de José Caetano Rodrigues Horta, visconde de Itatiaia e presidente da Província do Espírito Santo, e filha de José Caetano Rodrigues Horta Filho, casado com Bárbara Eufrosina Rolim de Moura. 2129 2130

José Caetano Filho era filho de José Caetano Rodrigues d’Horta, fidalgo da Casa Real, 2131 capitão e vereador em Mariana,2132 e Inácia de Arruda Pires, sua prima. Uma filha do casal, Ana Francisca Joaquina de Oliveira d'Horta, casou com o coronel Gregório Caldeira Brant, sendo pais de Felisberto Caldeira Brant Pontes Oliveira e Horta, conselheiro do Império e gentil-homem da Casa Imperial, marechal, senador e marquês de Barbacena.2133 Inácia era filha de Inácia Pires de Arruda e Maximiano de Oliveira Leite. 2134 Maximiano, filho de Francisco Paes de Oliveira Horta e Mariana Paes Leme, Ver nota 2135 batizado em Parnaíba no dia 29 de outubro de 1701, foi um dos povoadores de Ribeirão do Carmo e se estabeleceu numa fazenda dos Horta em São Sebastião. Foi cavaleiro da Ordem de Cristo, fidalgo da Casa Real e guarda-mor das Minas do Carmo.2136

2126

Oliveira, Vânia Lúcia de. Família Barbosa da Silva, 29/03/2009 O autor refere-se à evolução da família em Portugal, que decaíra de sua alta condição primitiva para se situar, a partir do século XIV, em uma categoria intermédia da nobreza portuguesa. Não obstante, como ele mesmo afirma, sempre continuou a produzir nomes de relevo. 2128 Felgueiras Gaio, Manuel José da Costa. Nobiliário de Famílias de Portugal. Braga, edição de 1938-1942 2129 Porto, Rubens. Família Horta: genealogia do cel. José Caetano Rodrigues Horta. Rio de Janeiro, 1990 2130 Leme, Luiz Gonzaga da Silva. Genealogia Paulistana, vol. IV, edição online 2131 Leme, vol. IV, op. cit. 2132 Chaves, Cláudia Maria das Graças; Pires, Maria do Carmo; Magalhães, Sônia Maria de (orgs.). Casa de Vereança de Mariana: 300 anos de História da Câmara Municipal. Editora UFOP, 2012 2133 Leme, vol. IV, op. cit. 2134 Leme, vol. IV, op. cit. 2135 Mais uma vez observa-se a inconsistência na transmissão dos sobrenomes. Maximiano teve irmãos com os sobrenomes Paes de Queiroz, Garcia, Oliveira Paes, Paes de Oliveira e Paes de Oliveira Horta. 2136 Felgueiras Gaio, op. cit. 2127

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Através de sua mãe Mariana, Maximiano era neto do bandeirante Fernão Dias Paes Leme,2137 o célebre Caçador de Esmeraldas, “chefe de ilustre família, senhor de vastos latifúndios e milhares de escravos, aldeias de índios que administrava, e grossos cabedais, além de corpo de armas numeroso”, como o descreveu Diogo de Vasconcelos, sendo também o patrono da reconstrução do Mosteiro de São Bento em São Paulo. Os Leme descendem do flamengo Martim Lems, “Cavalheiro nobre e rico, que foi senhor de muitos feudos na cidade de Bruges. [...] Passou a Portugal por causa do comércio e se estabeleceu em Lisboa; foi tão magnânimo e de tal modo dedicado ao engrandecimento deste reino que montou por sua conta uma ursa (ou charrua) e nela mandou a seu filho Antonio Leme com vários homens de lança e espingardas a auxiliar a expedição de el-rei dom Afonso em 1463 contra os mouros na África; em recompensa el-rei o tomou por fidalgo de sua Casa”.2138

O visconde de Itatiaia, foto família Horta. Abaixo, estátua de Fernão Dias Pais Leme criada por Luigi Brizzolara, no acervo do Museu do Ipiranga, foto Wikipédia.

Carlos Mathias escreveu sobre esta família: “Pela descendência matrilinear Maximiano era neto do bandeirante que ‘mais largo renome deixou na história da expansão geográfica brasileira, depois de Antônio Raposo Tavares’ (FRANCO, 1989: 282-285), e sobrinho de Garcia Rodrigues Paes Leme que, dentre outros feitos, foi capitãomor e administrador da entrada e descobrimento das Minas dos Cataguazes; abriu um caminho que ligava as ditas minas ao Rio de Janeiro; foi nomeado para o posto de guarda-mor geral das Minas, obteve o título de fidalgo da Casa Real; descobriu inúmeros veios auríferos e, juntamente com seu pai, Fernão, entregou-se na conquista de novas terras e gentios (FRANCO, 1989: 215-217) – o que lhes conferiu qualidade de nobreza, outorgando-lhes uma superioridade na hierarquia estamental. Tais realizações foram levadas a cabo sempre às custas de suas fazendas, o que se traduziu largamente em mercês régias. “Francisco Paes de Oliveira Horta, o pai de Maximiano, seguiu com Fernão e Garcia, em 1674, para o sertão dos Cataguazes onde, através da mineração, obteve fortuna (FRANCO, 1989: 119). Observa-se que Maximiano de Oliveira Leite pertencia àquilo denominado ‘melhores famílias da terra’, ou seja, famílias que conseguiram acumular consideráveis cabedais e prestígio social quer através da atividade de conquista, quer através da ocupação de cargos da governança, quer através de atividades comerciais. [...]

2137 2138

Leme, vol. II-IV, op. cit. Leme, vol. II, op. cit.

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“Em uma rápida análise da referida genealogia, apreendemos que todas as cinco irmãs de Maximiano casaram-se com homens detentores de altas patentes militares, sendo que dois deles eram guardas-mor das Minas, posto indicativo de um alto prestígio a seus ocupantes. Para além do óbvio, tais casamentos demonstram visivelmente que a escolha do cônjuge perpassava o ideal de ‘nobreza da terra’, uma nobreza oriunda da conquista em nome de El-Rei – conquista esta que rendia a seus eleitos mercês, tais como sesmarias, ofícios régios, cartas patentes e Hábitos da Ordem de Cristo (FRAGOSO, 2002)”.2139 Segundo Luiz Gonzaga da Silva Leme, em sua monumental Genealogia Paulistana, os Horta descendem dos condes d’Horta, antigos nobres feudatários também nativos de Flandres, que haviam lançado um ramo no Reino de Aragão. Pedro d'Horta em 1400 transferiu-se para o Algarves, “onde ocupou os primeiros e mais honrosos cargos no reinado de dom Afonso V rei de Portugal, e aí casou-se com dona Constança Lourença”. 2140 Seu filho Nuno Alves d'Horta foi fidalgo da Casa Real, comendador e tesoureiro-mor do Mestrado de São Tiago, casado com dona Theresa Salema. Tiveram entre outros o filho Balthazar Nunes d'Horta, cujo filho Nuno Alves d'Horta foi fidalgo da Casa Real, casado com sua prima dona Ana de Carvalho, filha do desembargador Diogo Ferreira de Carvalho. Eles deram origem a Catarina de Figueiredo d'Horta, falecida em 1621 em São Paulo, casada com Rafael de Oliveira, o Velho, falecido em 1648. Salvador de Oliveira d'Horta, seu filho, casou com Antônia Paes de Queiroz, filha do capitão Gaspar Picam e Catharina de Oliveira Cotrim, que descendia de Ruy Vaz de Almada, o qual, ao ser enobrecido, recebeu o sobrenome Palha. Salvador foi pai do já citado coronel Francisco Paes de Oliveira Horta, pai Maximiano e de Francisca Paes de Oliveira Horta, que com seu marido, o coronel Caetano Álvares Rodrigues, gerou o capitão José Caetano Rodrigues d’Horta, o avô da Antônia do Cafezal.2141 Entre os inúmeros ancestrais ilustres dos Horta brasileiros, citados na genealogia dos Pinto Coelho da Cunha publicada por Wendel Pereira, se encontram Pedro Dias Paes Leme, capitão da vila de São Paulo; João Gonçalves Zarco, descobridor e povoador da ilha da Madeira e 1º capitão do Funchal, fundador da distinta Casa dos Câmara, apelido que recebeu ao ser enobrecido; João Gonçalves da Câmara, fidalgo da Casa Real e 2º capitão do Funchal, muito estimado pelo rei por seus serviços na conquista de Ceuta; don Afonso Henriques, conde de Gijón e Noronha, filho bastardo do rei Henrique II de Castela, que antes de cair em desgraça foi um dos maiores potentados das Astúrias, cuja esposa Isabel era filha bastarda do rei Fernando I de Portugal, sendo os fundadores da nobre Casa dos Noronha; e o famoso cacique Tibiriçá, chefe dos tupiniquins e aliado dos portugueses, através de sua filha Bartira, casada com o também celebrado João Ramalho, que deram apoio essencial para que o jesuíta Manuel da Nóbrega e seus companheiros pudessem fundar o colégio que daria origem à cidade de São Paulo.2142 Ramalho foi ainda fundador de Santo André da Borda do Campo, da qual foi capitão, alcaide e vereador, nomeado pelo rei guarda-mor das Terras Altas de Piratininga, e ajudou Martim Afonso de Souza a fundar São Vicente em 1532.2143 2144

2139

Mathias, Carlos Leonardo Kelmer. “Maximiano de Oliveira Leite e Caetano Álvares Rodrigues: Um Estudo de Caso nas Minas Setecentistas”. In: Revista Espaço Acadêmico, 2005 (50) 2140 Leme, vol. IV, op. cit. 2141 Leme, vol. IV, op. cit. 2142 Pereira, Wendel Albert Oliveira. Os Pinto Coelho da Cunha. Clube de Autores, 2007 2143 “Conheça a história de João Ramalho e Tibiriçá”. Veja SP, 22/10/2010 2144 Pereira, op. cit.

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Retrato de Henrique II de Castela, em pintura de Jaume Serra, c. 1390. Ao lado, cópia em gravura do retrato de João Gonçalves Zarco que está no Palácio de São Lourenço no Funchal, foto Os Descobrimentos Portugueses. Abaixo, retrato romântico de João Ramalho, reprodução do Grupo Etnográfico de Cantares e Dançares João Ramalho de Lafões da Igreja de São Tomé Apóstolo Bonsucesso - RJ. Ao lado, detalhe do túmulo de Tibiriçá na cripta da Catedral de São Paulo. Foto Revista Veja/SP.

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Não menos ilustre foi a vasta descendência dos Horta Barbosa. Luiz Eugenio, filho do fundador Luiz Antônio Barbosa da Silva, advogado, foi presidente das províncias de Minas Gerais e do Paraná no século XIX.2145 2146 Podem ser citados também, entre muitos outros, o engenheiro Luís Hildebrando Horta Barbosa, chefe do Escritório Técnico da UFRJ e co-autor do projeto de urbanização da Ilha Universitária;2147 Rubens d’Almada Horta Porto, engenheiro, membro do Gabinete do Ministro da Justiça e do Gabinete Especial de Getúlio Vargas, responsável pela criação, com Darcy Vargas, da Casa do Pequeno Jornaleiro, da Casa do Pequeno Pescador, da Casa do Pequeno Lavrador e do Abrigo Cristo Redentor; diretor da Imprensa Nacional, membro da Comissão de Estudos para Localização da Nova Capital (Brasília), chefe do Serviço de Estatística Demográfica, Moral Paulo Carneiro em solenidade promovida pela UNESCO. Detalhe de foto do Fundo Família Carneiro / e Política do Ministério da Justiça e Negócios COC / DAD / Fiocruz. Interiores, integrante do primeiro Conselho Diretor da Fundação Getúlio Vargas, ali permanecendo até 1976, fundador do Colégio Nova Friburgo da FGV, representante do Ministério da Justiça no Conselho Nacional da Fundação do Bem-estar do Menor e membro dos Institutos Históricos e Geográficos brasileiro e carioca, além de ser autor de uma avultada genealogia dos Horta;2148 o embaixador Júlio Barbosa Carneiro, que teve um papel importante na estruturação do Conselho Nacional do Petróleo,2149 e Paulo Carneiro, livre-docente de Química Geral na Escola Politécnica do Rio, chefe do Laboratório de Química Vegetal e Animal do Instituto Nacional de Tecnologia, secretário de Estado da Agricultura de Pernambuco, criador do Instituto de Pesquisas Agronômicas, delegado adjunto do Brasil na Conferência das Nações Unidas que aprovou a criação da UNESCO, organização na qual representou o Brasil como ministro e depois como embaixador e delegado permanente, sendo também presidente do seu Conselho Executivo e da sua Conferência Geral, idealizador do Instituto Internacional da Hileia Amazônica, fundado na Convenção de Iquitos de 1950, organizador da monumental História do Desenvolvimento Científico e Cultural da Humanidade, autor de vários estudos e livros sobre cultura, história, ciência e filosofia, e membro da Academia Brasileira de Letras.2150 Entre seus descendentes estão ainda sertanistas companheiros do marechal Rondon. Segundo Laura Antunes Maciel, Rondon atraiu em torno de si um grupo de jovens militares positivistas que se formavam na Escola Militar da Praia Vermelha no Rio de Janeiro, que viam na carreira das armas, amparada em uma sólida formação técnica em diversos ramos da Engenharia e em

2145

“Consta ao Echo do Sul”. A Federação, 06/02/1886 “Consta”. A Federação, 18/08/1886 2147 Urbanismo.org. PA 5172 - 09/08/1949 - Projeto de Urbanismo da Ilha Universitária 2148 Colégio Brasileiro de Genealogia. Rubens d’Almada Horta Porto. 2149 Machado, Danilo Vergani. A Política Externa do Etanol: Estratégias do Estado Logístico para Inserção Internacional dos Biocombustíveis Brasileiros. Tese de Doutorado. Universidade de Brasília, 2014 2150 Lins, Ivan. Discurso de recepção de Paulo Carneiro. Academia Brasileira de Letras, 04/10/1971 2146

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uma excelente preparação para a guerra, uma oportunidade de excercer as mais altas virtudes cívicas e morais e ajudar no progresso da Pátria. A autora continua: “Aos poucos, essa ‘escola prática do dever’ em que a Comissão Rondon havia se transformado aos olhos da juventude militar começou a atrair oficiais engenheiros, ardentes republicanos e positivistas ávidos em conhecer o país e exercitar suas teorias. Apenas a família Horta Barbosa, formada por militares positivistas, ofereceu à Comissão Rondon quatro seguidores dedicados. Júlio Caetano Horta Barbosa, que aderiu ao Positivismo ainda na escola Militar, participou, como praça do Exército e alferes-aluno, da campanha de Canudos. Ao graduar-se engenheiro militar, em 1908, entrou para a Comissão, na qual participou de trabalhos de administração, exploração e construção, mantendo-se ligado a Rondon durante 15 anos. Nicolau Bueno Horta Barbosa participou, ainda como alferes-aluno, de trabalhos de explorações e de construção desde 1900; em 1910, era o responsável pelo escritório central da Comissão. Outro irmão, Francisco Bueno Horta Barbosa, participou da construção da linha [telegráfica] no sul de Mato Grosso, onde morreu na travessia de um corixo, devorado por piranhas. Luís Bueno Horta Barbosa foi integrante do grupo que estruturou o SPI, sendo seu diretor no período de 1918-1921”.2151 Depois de sua experiência como sertanista, Júlio Caetano, que era tio-avô de Vera, galgou todos os degraus da hierarquia militar, chegando a general em 1933. Em janeiro de 1943, em plena vigência da ditadura do Estado Novo, participou da fundação da Sociedade Amigos da América, cujo programa tinha como pontos básicos a defesa da democracia e o alinhamento externo do Brasil aos Estados Unidos e ao bloco dos Aliados na II Guerra Mundial. Foi também vice-presidente do Conselho Nacional de Proteção aos Índios, comandante da 2ª Região Militar, presidente do Clube Militar e sub-chefe do O Horta Barbosa, primeiro navio-tanque da Petrobras. Foto de Edson Estado-Maior, sendo promovido a de Lima Lucas. marechal em 1958. Participou da criação da Petrobras como presidente do Conselho Nacional do Petróleo e presidente honorário do Centro de Estudos e Defesa do Petróleo e da Economia Nacional, lutou contra a interferência das grandes empresas estrangeiras e foi responsável pela Campanha do Petróleo, cujo bordão O petróleo é nosso tornou-se famoso.2152 2153 2154 Foi homenageado no primeiro navio-tanque da Petrobras, batizado Horta Barbosa.

2151

Maciel, Laura Antunes. A nação por um fio: caminhos, práticas e imagens da "Comissão Rondon". EDUC / FAPESP, 1998. 2152 Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. A Era Vargas: dos anos 20 a 1945: Horta Barbosa. Fundação Getúlio Vargas, 1997 2153 Cotta,Pery. O petróleo é nosso? Guavira Editores, 1975 2154 Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro pós 1930. 2ª ed. Fundação Getúlio Vargas, 2001

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Vera com seus pais. Coleção de Jean Carlo Frantz

Vera, nascida em 3 de junho de 1943, filha de Luiz Antônio, descendia do fundador através de seu filho Antônio Agostinho Horta Barbosa e sua esposa Francisca Pires, pais de Luiz Pires Horta Barbosa, casado com Maria Antonieta Goulart, por sua vez pais de Luiz Antônio, nascido em 14 de fevereiro de 1914 em Lambari, Minas Gerais. Luiz Antônio foi major e conhecido médico oftalmologista, chefe do Serviço de Olhos da Polícia Militar do Rio e membro da Sociedade de Medicina de Caxias,2155 casado com Maria de Lourdes Pacheco Prates e falecido em 13 de agosto de 1991 em Caxias do Sul. Tiveram ainda o filho Paulo Sérgio. Do segundo casamento, com Ruth Ferreira, Luiz Antônio teve os filhos Luiz Alfredo, Christine, Paulo Guilherme, André Luiz e Heloísa Helena.. Vera fez sucesso em seu début, sendo chamada na crônica social de uma das mais belas do ano de 1958. Também foi destaque de carro alegórico em uma das Festas da Uva. No entanto, as atividades sociais no fundo não a atraíam, rejeitou o glamuroso caminho que se abrira na sua juventude e preferiu uma vida discreta e longe dos holofotes da imprensa, dedicando-se à família e à profissão. Ainda moça participou da fundação do Instituto de Recuperação, entidade ligada ao Clube de Saúde Dr. Mário Totta. Depois formou-se professora e por toda carreira atendeu crianças com necessidades especiais na escola Hellen Keller. Faleceu em 11 de fevereiro de 2006 deixando belas lembranças, sendo uma tia divertida, carinhosa e original, de hábitos simples e grande contadora de histórias.

2155

“Reunião da Sociedade de Medicina de Caxias”. A Época, 20/04/1953

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Recorte da coleção de Jean Carlo Frantz.

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Vera como destaque de carro alegórico na Festa da Uva, anos 60. Foto da coleção de Jean Carlo Frantz.

Mauro e Vera foram pais de Jean Carlo e Michele. Suas vidas tomaram rumos que tornaram nossa convivência muito rara. Jean, nascido em 22 de maio de 1971, foi escoteiro e esportista. Depois tornou-se empresário no ramo da publicidade, atuando em Caxias e atendendo grandes empresas. Hoje está baseado em Torres. É casado com Lucinda Maria Spies, nascida em 6 de junho de 1981 e formada em Contabilidade, união da qual nasceu uma filha, Camila, em 22 de fevereiro de 2013. Embora tenha se filiado à denominação Evangélica, assim como seu avô Frantz havia se interessado pelo Apocalipse, Jean também é estudante da Bíblia e escreveu um ensaio sobre o mesmo tema. Lucinda é filha de Sérgio Spies e Solange Maria Comin, vereadora em Serafina Correa,2156 de onde sua família provém. Tem os irmãos Miguel Angelo e Paulo Sérgio. Michele, nascida em 10 de novembro de 1978, vive em Porto Alegre e é produtora de fotografia, já tendo realizado vários trabalhos com conhecidos grupos culturais, como a Companhia Municipal de Dança de Caxias do Sul, o Coro da UCS e a Escola Preparatória de Dança de Caxias do Sul. Por um projeto com a Escola recebeu com ela o Prêmio Estímulo da Associação Paulista de Críticos de Arte. Foi também por muitos anos sócia e diretora de pessoal do estúdio de fotografia e publicidade das Lojas Renner em Porto Alegre, e com o fechamento recente do estúdio, agora pesquisa outros campos de atuação.

2156

Quadro Político. Solange Maria Comin Spies: vereadora.

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Mauro e Vera com seus filhos Jean Carlo e Michele. Coleção de Jean Carlo. Abaixo, Michele produzindo fotos. Coleção de Michele.

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Jean Carlo no seu casamento com Lucinda, junto de Michele. Abaixo, à esquerda, Lucinda ladeada de seus pais Solange Maria Comin e Sérgio Spies, e seus irmãos Miguel Ângelo e Paulo Sérgio. À direita, Camila em seu primeiro aniversário. Foto de Jenny Pia. Coleção de Jean Carlo Frantz.

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Ida Frantz e seu filho Murillo

O caçula de Antônio e Ida é 4) Murillo Moacyr Frantz, meu pai. Nascido em 3 de janeiro de 1940, estudou na Escola Normal Duque de Caxias e depois no tradicional Colégio Nossa Senhora do Carmo. Ao mesmo tempo, iniciava intensa participação na vida comunitária através de grupos festivos e atividades esportivas. Nesta época conquistou várias medalhas em competições esportivas e agitou os carnavais dos clubes da cidade participando de uma das primeiras escolas de samba locais, a Palesmec, ativa entre 1957 e 1958, depois chamada Demônios do Mesmo, que se fez presente em vários clubes. Ainda um estudante revelou-se um ativista nas causas públicas. Foi membro do Grêmio Estudantil do Carmo e passou a colaborar em revistas estudantis como fundador, articulista e diretor. Entre 1960 e 1963 participaria de eventos promovidos pelo Instituto Cultural ÍtaloBrasileiro e o Instituto Cultural Brasileiro-Norte Americano e publicaria numerosas crônicas também no jornal Pioneiro. Os escritos que deixou em vários veículos revelam um defensor dos valores da família, do trabalho, da honestidade, do serviço social, da tradição e da religião católica, ameaçados por uma cultura que lhe parecia cada vez mais privilegiar a superficialidade, a impiedade, o abuso e o conflito, e expressam seu desejo de um mundo mais justo e harmonioso e uma vida mais equitativa para todos. 2157 2158 2159 Sua trajetória na maturidade mostra o quanto se empenhou para materializar suas visões juvenis, manifestas naquela época com ardor, tornando-se membro ativo e respeitado da sociedade até os dias de hoje.

2157

Frantz, Murillo Moacyr. “Ponto de Vista”. Pioneiro, 14/09/1963 Frantz, Murillo Moacyr. “Sermão do asfalto”. Pioneiro, 19/10/1963 2159 Frantz, Murillo Moacyr. “Cristãos?” Pioneiro, 28/09/1963 2158

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Quando foi lançada a revista Painel Estudantil, órgão oficial do Grêmio Estudantil do Carmo e da Escola Técnica de Comércio, que iniciou suas atividades em 1962 sob a direção editorial de Murillo, o historiador Mário Gardelin elogiou a iniciativa, dizendo: “A publicação, pelos conceitos emitidos pelo seu diretor [refere-se ao diretor do Colégio do Carmo, que patrocinava a edição], não deseja apenas ser um periódico estudantil. Objetiva muito mais: deseja estar presente nos tumultuosos dias em que vivemos, com palavras de orientação e alerta. [...] Devemos dizer, à guisa de saudação, que formulamos os mais sinceros votos para que o periódico do Carmo não venha a permanecer nos primeiros números, como tem acontecido a tantas publicações do gênero. Mas, mesmo que a fatalidade do alto custo da impressão limitar a vida desse órgão, sua existência é um alto índice de vida cultural. É lugar-comum a afirmação de que à mocidade compete, no futuro, a direção da coisa pública. E que, de conformidade com o que lhe for ensinado, os homens de amanhã assim agirão. Uma das qualidades que devem ser almejadas para todos os jovens é a capacidade de participar da vida da comunidade. É o hábito de dizer aquilo que se pensa, honestamente. O hábito de opinar e opinar com seriedade. Um povo que não seja capaz de tomar decisões em função de valores fundamentais, jamais pode ser livre. [...]

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“Os estudantes de hoje serão forçosamente as elites de amanhã. [...] Mesmo que não venham a participar das atividades políticas, caberá a eles influenciar a vida comunitária pelos postos de liderança que fatalmente irão parar em suas mãos. E não há ninguém que possa desconhecer a importância, na vida de uma comunidade, desempenhada pelas atividades comerciais, industriais e pelas profissões liberais. “Ora, nada podemos esperar, se não criarmos o hábito de opinar, com justeza e com prudência. A democracia é permanente estado de espírito, em que somos convidados a escolher. Não somente na eleição das autoridades, mas especialmente em seu comportamento. [...] A publicação que acaba de estrear entre os alunos do Colégio e da Escola Técnica do Carmo é mais uma contribuição para isso. Vem com um programa ambicioso e nobre. Sua execução indiscutivelmente trará grandes benefícios. Aplaudimos e cumprimentamos”.2160 Para contextualizar esse ideário, é preciso lembrar que no início dos anos 60 o Brasil vivia grande crise política, estava mesmo em plena ebulição. O país, sob a Presidência de Juscelino Kubitschek, desejava se modernizar aceleradamente, não à toa o plano de governo de Juscelino empregava o bordão “50 anos em 5”, e pouco antes do lançamento da revista, em 1960, era inaugurada com grandes festejos uma nova capital nacional, Brasília, que desde o início se tornou o maior símbolo do desenvolvimentismo e dos projetos para uma vida “moderna” e mais justa para todos. No entanto, a conjuntura nacional era social e politicamente instável, o impulso de atualização esbarrava em setores conservadores muito influentes, entre eles a Igreja, que viam as anunciadas reformas com temor e ceticismo, e é sintomático das contradições do período que a própria construção de Brasília consumiu recursos em tal ordem que quase levou o país à bancarrota, e os milhares de operários das obras foram tratados em regime de quase escravidão, com jornadas longas, alojamentos precários, pagamento baixo e irregular, fraca alimentação e péssimas condições gerais de trabalho, levando a frequentes acidentes, revoltas e mesmo conflitos sangrentos com muitas mortes. E em vez de se tornar a capital da justiça social e um modelo positivo a ser mostrado às nações do mundo, como a imaginavam seus fundadores idealistas, em breve se tornou o corolário da profunda segregação entre as classes que ainda existe no país e o maior foco nacional de corrupção institucionalizada. Também não à toa em 1964 seria dado um golpe militar, que levou o Brasil a passar vinte anos sob uma ditadura que governou com mão de ferro.2161 2162 2163

Em Caxias, com sua cultura de forte base tradicionalista, onde a Igreja ainda exercia enorme poder, as reformas eram vistas com reservas ainda mais intensas, embora não se negasse a necessidade de mudanças, como provam os próprios artigos de Murillo, consciente de que havia muito ainda por fazer para que o almejado equilíbrio social fosse alcançado. Temia-se, porém, principalmente, a ameaça do comunismo, demonizado de várias maneiras, especialmente pela Igreja, como evidenciam discursos do antigo bispo diocesano dom Benedito Zorzi, que ensinou uma oração para as famílias rezarem uma vez por semana a fim de 2160

Gardelin, Mário. “O comentário do dia”. In: Painel Estudantil, 1962; I (2) Gouvêa, Luiz Alberto de Campos. Brasília: a capital da segregação e do controle social: uma avaliação da ação governamental na área da habitação. Annablume, 1995 2162 Vesentini, José William. A capital da geopolítica. Ed. Vesentini, 1986 2163 Couto, Ronaldo Costa. Brasília Kubitschek de Oliveira. Record, 2006 2161

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expulsar os espíritos malignos e ao mesmo tempo “salvar a Rússia”.2164 E também temia-se que a desordem se instalasse, levando os progressos conquistados arduamente a um retrocesso, e não é de admirar que a solução que o país encontrou para a crise foi impor a ordem à força. É de assinalar também que apesar dos protestos de importantes setores da sociedade, a instalação da ditadura recebeu o aval de uma vasta parcela da população.2165 2166 Mas enquanto ainda não havia caído sobre a nação a pesada sombra da censura e das perseguições políticas, que causaram tantas mortes e empurraram tantos para o exílio, a militância estudantil caxiense era incrementada com o surgimento de várias agremiações culturais independentes ou ligadas aos principais colégios, e ainda havia espaço para que o idealismo florescesse, sempre temperado pelos princípios cristãos, como mostram as palavras do diretor do Colégio do Carmo, mantido pelos irmãos Lassalistas, no primeiro número do Painel Estudantil, quando ainda se chamada Avant Première: “Com a nossa modesta colaboração, orientando e estimulando, os esforçados componentes dos grêmios da Escola Técnica de Comércio e do Colégio do Carmo, decidiram fazer aquilo que perenemente deveria haver em tão grande educandário, grande pelo aparato exterior da arquitetura, muito maior pelos relevantes serviços prestados na educação da juventude e [pela] fama que já ultrapassou as fronteiras do estado e do país. A modéstia não nos permite citar nomes daqueles rapazes, cujos atos já os tornaram merecedores de nossa estima, apenas queremos dizer que as cousas grandes são feitas no silêncio do trabalho permanente. Queremos apenas mostrar ao público caxiense a capacidade produtiva dos estudantes do Carmo. Mostraremos com isso que os moços amam também as cousas sérias desde que sejam amparados e orientados pelos guias que Deus lhes deu. [...] Na aurora ainda dos trabalhos, percebemos a vontade férrea dos carmenses, razão porque, acreditamos que o jornalzinho será uma estrela lúcida a anunciar uma manhã radiosa. Agora terão os estudantes do Carmo, um terreno propício para incrementar sua formação e mostrar sua capacidade realizadora no terreno cultural, bem como na defesa dos princípios fundamentais da grandeza e felicidade do povo brasileiro. Falando no Brasil, aqui tudo se faz e tudo se faz desassombradamente e raras são as vozes que se erguem para bradar o ‘ALERTA’ das consciências livres contra as ideias contrárias à tradição cristã e democrática de nossa Pátria. Mais do que nunca a mocidade deve fortalecer os princípios cristãos abeberando-se nas lições da Igreja, reatar suas relações com Deus e procurar a solução dos problemas que angustiam o povo brasileiro nos princípios cristãos que nortearam o Brasil desde que começou a ser uma nacionalidade. Somente assim colheremos as bênçãos de que se fez merecedor o idealismo cristão e patriótico de nossos maiores”.2167 Escrevendo nesta época assiduamente, sua atividade cultural e literária foi notada pela intelectualidade local, que o convidou a participar da fundação da Academia Caxiense de Letras em 1962.2168

2164

Torres, Mateus Gamba. “Lutar para manter, lutar para romper: a mulheres e a ditadura militar brasileira”. In: Em Debate., 2010; (4):93-105 2165 Inojosa, Guilherme. “A Cultura na Ditadura Militar – Parte 1”. Liberzone, 03/04/2014 2166 Silva, Vanderli Maria da. A construção da política cultural no regime militar: concepções, diretgrizes e programas (1974-1978). Dissertação de Mestrado. USP, 2001 2167 Irmão Gabriel. “Apresentando”. In: Avant Première, 1962; I (1) 2168 Academia Caxiense de Letras. Membros fundadores.

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Os princípios que expressou o Irmão Gabriel, diretor do Carmo, encontravam forte eco nas aspirações de Murillo, que além de se alinhar à Direção do colégio, depois de casado participou do Movimento Familiar Cristão por cerca de dez anos como membro engajado, sendo colaborador do seu órgão informativo O Mefeciano.2169 É ilustrativo da sua filosofia de vida o que disse em 1965 em um artigo n’O Mefeciano: “Poucos devem estar lembrados das conclusões do II Encontro Estadual realizado em Passo Fundo. E, no entanto, muita coisa importante foi lá debatida e resolvida, sem ter sido posta em prática e divulgada como deveria. Um dos importantes temas abordados foi o da PAZ. E quanto significado encerra esta pequenina palavra, nos dias conturbados em que vivemos. Quantas vezes usamo-la em nossas conversas diárias e, infelizmente, desprovida, na maioria das ocasiões, de seu verdadeiro significado. [...] Palavas tão simples e tão grandiosas – ‘A Paz do Senhor esteja convosco’. Todos os dias são pronunciadas na missa e no entanto estão tão longe de nós, apesar de muitos tentarem em vão encontrá-la, no meio da sociedade corrompida em que vivemos. Ela só terá, podemos ter certeza, um completo desabrochar, quando de fato a buscarmos, aprimorando e fortalecendo nosso espírito, em atividades socialmente salutares e moralmente honestas”.2170 Murillo iniciou sua trajetória profissional como bancário, trabalhando primeiro no antigo Banco da Lavoura, destacando-se em seu time de futebol, que foi campeão invicto no Torneio Início Bancário em 1961. Logo após passou em concurso para o Banco do Brasil. Casou-se com Elisabeth Longhi em 26 de janeiro de 1963, com quem há anos participava de atividades sociais e culturais, estabelecendo uma sólida parceria que daria ricos frutos para a comunidade até hoje. Pouco tempo depois já viriam os filhos, Ricardo em 1964 e Marcelo em 1965.

2169 2170

Hoffmann, Salvador & Mascia, Nelly Veronese. Vultos da Cultura e Arte de Caxias do Sul. Caxias do Sul, 1961 Frantz, Murillo Moacyr. “A Paz Interior”. In: O Mefeciano, 1965; II (11)

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Na foto acima a identificação este errada. Murillo é o segundo da direita para a esquerda na fila de trás. Abaixo, Murillo é o terceiro da esquerda para a direita, na fila de trás.

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Murillo e Elisabeth na fase do noivado. .

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655 Casamento de Murillo e Elisabeth Frantz, com os pais do noivo, Antonio e Ida. A criança é Adriana Panceri, que foi aia na cerimônia religiosa, junto com seus irmãos.

Murillo entre seus filhos Ricardo e Marcelo, 1966.

Neste período formou-se em Administração de Empresas, e no Banco do Brasil desenvolveria todo resto da sua carreira como funcionário prestigiado, especialista em Comércio Exterior, tornando-se chefe de setor e membro destacado da associação dos funcionários do banco (AABB), ativo em seus departamentos Esportivo, Social e Cultural, fazendo-se notar em todos eles como organizador e líder. Mais de uma vez foi-lhe oferecida a oportunidade de ascender na carreira bancária e conquistar uma gerência, mas isso significaria mudar-se de cidade. Tendo toda a família e a de sua esposa em Caxias, preferiu abrir mão do progresso profissional para permanecer próximo dos seus. Colaborou no órgão informativo da AABB como repórter, revisor, articulista e diretor, recebeu numerosas medalhas e distinções pela participação em suas equipes de vôlei, atletismo, natação, basquete e ping-pong, dirigindo departamentos de esporte,2171 2172 2173 2174 2175 2176 e chegou a uma Vice-Presidência em 1965-1966, escolha recebida “com satisfação” pelo colunista Teddy da Revista da AABB, como “feliz e altamente valorizada pela disposição para o trabalho já demonstrada pelo ‘magrão’ “.2177

2171

Mara. “AABB em Sociedade”. In: Revista da AABB, 1963; II (20):30-32 “Associação Atlética Banco do Brasil. Diretoria para o período 1965 a 1966’. In: Revista da AABB, 1965; III (30):2 2173 Vasques, R. A. “Esportes na AABB”. In: Revista da AABB, 1963; II (18)32-35 2174 “Apresentadas Oficialmente as Candidatas ao Concurso de Miss A.A.B.B. 1963”. In Revista da AABB, 1963; II (17):3-4 2175 Revista da AABB, 1964; III (35). Expediente 2176 Vasques, R. A. “Esporte na AABB”. In: Revista da AABB, 1964; II (22):34-38 2177 Teddy. “AABB em Sociedade”. In Revista da AABB, 1965; III (30): 28-29 2172

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Murillo, marcado com ponto, coordenando a VI Jornada Esportiva Regional das Associações Atléticas do Banco do Brasil – Região Sul. Abaixo, algumas de suas muitas medalhas como esportista em várias modalidades na AABB.

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Sua atividade profissional como bancário também foi elogiada, tanto interna como externamente. Um ofício da Direção Geral do Banco do Brasil à Gerência de Caxias em 1985 fez louvor à sua dedicação, iniciativa, competência e à riqueza de informações de seus relatórios,2178 e quando o BB foi homenageado na Câmara Municipal pelos seus 200 anos de fundação em 2008, o vereador Francisco Spiandorello citou Murillo: “Eu gostaria de mencionar que muito do que aprendi na minha atividade de economiário foi com o Banco do Brasil. Alguns dos que estão aqui presentes sabem que, pelos idos de 1960, começou a ser instalada em Caxias a compensação interbancos. Eu me lembro de que o gerente era o Hélio Soledade, já falecido. A Caixa Econômica depositava no Banco do Brasil e no Banco do Rio Grande. Mas lá estavam, já mestres, o Romeu Rossi, que está aqui, o Angeli, o Scotti, o Murillo Frantz, o Nabinger, o Mantovani. Eu não sei se, no passar dos olhos, esqueci alguém. [...] Mas estes tiveram contato direto com os primórdios da modernização dos serviços bancários em Caxias do Sul. A eles nós devemos especialmente a saída da gloriosa Facit 407 para a era do computador. Então, eu quero, em nome dos que estão aí e de outros que eventualmente não tenha mencionado, fazer uma saudação especial a todos os que, no decorrer destes 72 anos, estiveram no Banco do Brasil”.2179 Enquanto progredia no Banco do Brasil, passou a desenvolver um trabalho comunitário em outras esferas, deixando de lado a produção escrita. Sempre ligado ao Recreio da Juventude e ao Clube Juvenil, dos quais fizeram parte desde a fundação vários membros de sua família, também participou ativamente de sua programação, integrando a Diretoria dos seus departamentos Social e Cultural, organizando grandes bailes e festejos e eventos culturais, e recebendo o reconhecimento da comunidade pelo bom trabalho desenvolvido, sempre com a colaboração igualmente dinâmica de sua esposa.

Informativo Social do Recreio da Juventude, 1977; (7)

2178 2179

Direção Geral – Banco do Brasil. Ofício DEPEM / CETEX / SEPAE 85/43, Rio de Janeiro, 15/01/1985 Câmara de Vereadores de Caxias do Sul. Ata da 501ª Sessão Ordinária da XIV Legislatura, 22/10/2008

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Informativo Social do Recreio da Juventude, 1976; (6). Continua na página seguinte.

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Por este trabalho bem sucedido nos clubes, foi convidado com a esposa para participar da organização da XV Festa Nacional da Uva (1980-81), um megaevento periódico e o mais importante e tradicional da cidade, integrando sua Comissão Social, responsável pela divulgação, pela organização de cerimônias, pela recepção de visitantes ilustres e pela coordenação da atividade da Rainha e das Princesas da Festa.2180 2181 2182 Esta edição da Festa exigiu intensa dedicação do casal e de toda a equipe, envolvidos em uma maratona de atividades ao longo de dois anos de preparação, sendo finalmente coroada de êxito, trazendo ao Parque de Exposições um público recorde de 800 mil pagantes, época em que a Festa da Uva se tornara o maior evento turístico do sul do Brasil. 2183 2184 Sua importante contribuição valeu-lhe um diploma e uma medalha da Presidência da Festa.

2180

“A abertura da Festa”. Pioneiro, 21/02/1981 “Festa da Uva no Rio e São Paulo”. Pioneiro, xx/05/1980 2182 “Comissão de Festas e da Rainha inicia promoção da Festa da Uva – 81”. Pioneiro, 31/05/1980 2183 “Festa da Uva teve 800 mil visitantes”. Pioneiro, 17/03/1981 2184 “Dentro de seis dias, a abertura da maior promoção turística do sul”. Pioneiro, 04/02/1981 2181

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Solenidade com a Rainha e as Princesas da Festa da Uva. Murillo está marcado com um ponto amarelo.

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Murillo recepcionando o presidente da República João Batista de Oliveira Figueiredo durante sua atividade na Comissão Social da Festa da Uva.

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Em 1999 voltaria à Diretoria do Juvenil presidindo a comissão que organizou as comemorações do centenário do clube, celebrado em 2005 com grandes festejos e uma série de eventos culturais, integrando também o Conselho Fiscal e auxiliando a esposa, que na época era a principal liderança do Departamento Cultural e desenvolvia um vasto projeto de recuperação do acervo histórico e da memória deste clube, cuja história se confunde com a história de Caxias, projeto orquestrado em estreita colaboração com a Comissão do Centenário. 2185 2186 2187

Em 2002, quando a Câmara Municipal homenageou o Juvenil pelos grandes serviços prestados à comunidade, o vereador Alceu Barbosa Velho, hoje prefeito, citou Murillo entre “os encarregados da continuação do sucesso do nosso Clube Juvenil“.2188 Em 2005, em Sessão Solene da Câmara que comemorou os cem anos do Juvenil, coube a Murillo, na qualidade de diretor do Acervo Histórico do clube, receber um diploma do Poder Legislativo homenageando postumamente o primeiro presidente, Carlos Giesen. Sua esposa Elisabeth também mereceu lembrança especial pelo grande trabalho desenvolvido.2189 Nesta ocasião, o vereador Alaor de Oliveira abriu os discursos, e após as saudações de praxe, salientou a importância desta agremiação, para a qual, como já vimos, numerosos parentes deram expressivas contribuições, dizendo: “Acima de tudo quero agradecer aos nobres pares a confiança em mim depositada, delegando-me falar em nome desta Casa nesta Sessão Solene de tanta importância. Nesta noite memorável, esta Sessão Solene se reveste de um sentimento muito especial. Sem dúvida é de suma importância a valorização das entidades, sejam elas públicas ou privadas, pois enaltecem nossa cidade. E o Clube Juvenil, nosso homenageado desta noite, sem dúvida tem um papel fundamental no desenvolvimento social, econômico e, por que não dizer, também político de Caxias do Sul. “Falar dos 100 anos de atuação do Clube Juvenil seria uma tarefa que demandaria muito tempo e uma longa paciência de quem nos assiste e ouve. Teríamos muito a relatar sobre as atividades, as conquistas e os relatos daqueles que, fazendo parte das Direções da instituição, dedicaram tempo, carinho, abnegação, seu saber, sua capacidade de relacionamento com os integrantes da instituição e com a sociedade. Teríamos histórias e exemplos dignificantes e emocionantes. A história do Juvenil, inevitavelmente, passa pela construção de Caxias do Sul, haja vista que o clube serviu de palco para muitas decisões políticas importantes para o município. [...] “Destacamos a importância do Clube Juvenil para Caxias do Sul. Por isso parabenizamos a todos os que, de uma forma ou de outra, se engajaram e colaboraram visando ao crescimento de tão importante entidade ao longo destes 100 anos. Esta homenagem é o mínimo que o Poder Legislativo Municipal pode oferecer e realizar”.

2185

“Gran Finale”. In: Juvenews, 2006; XIII (4) Frantz, Elisabeth Ana Longhi. “Retrospectiva Cultural / 100 Anos”. In: Juvenews, 2006; XIII (3) 2187 Frantz, Murillo Moacyr & Frantz, Elisabeth Ana Longhi. “Tecendo nossa História”. In: Informativo Clube Juvenil, dez/2004 2188 Câmara de Vereadores de Caxias do Sul. 187ª Sessão Ordinária no 2º Período Legislativo da XIII Legislatura, 19/02/2002 2189 Câmara Municipal de Caxias do Sul. 6ª Sessão Solene da XIV Legislatura, 23/06/2005 2186

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A placa que o Juvenil recebeu da Câmara na passagem do seu centenário. Foto da Câmara Municipal.

O então prefeito José Ivo Sartori também fez um significativo pronunciamento ressaltando outros aspectos, onde a importância das atividades do clube para a cidade é enfatizada, do qual reproduzo alguns trechos: “[...] O Juvenil foi o local onde se fizeram, talvez, as primeiras apresentações culturais do teatro, da poesia ou, como se diria na época, das representações na língua nacional, porque as situações eram todas outras. E aqui eu gostaria de referir quanto foi feliz a nossa Comissão Comunitária da Festa da Uva. Acho que foi buscar no Clube Juvenil a integração de etnias, buscando, entre os fundadores, descendentes de italianos, também os luso-brasileiros, como a figura de Américo Ribeiro Mendes, mas também em seu primeiro presidente, que era de origem alemã, Carlos Giesen. Digo da Festa da Uva porque vamos tomar como tema construído, discutido, debatido e assimilado A alegria de estarmos juntos, que é a soma de todas as etnias, de todos aqueles que vieram se juntando para fazer a prosperidade e o desenvolvimento da nossa sociedade caxiense. “Quero dizer que o Juvenil também foi protagonista, vanguardeiro, e talvez hoje nós saibamos dar valor a uma atitude. Embora os fundadores fossem todos solteiros, o Juvenil é que abriu espaço para as mulheres, participando não apenas nas tarefas caseiras, mas na vida social do clube, na parte econômica, na parte social e também na parte política. O Clube Juvenil, como foi ressaltado aqui, foi o local dos grandes eventos do nascimento de Caxias do Sul e também daquelas situações que propiciaram um maior desenvolvimento. [...]

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“Na verdade, a história do Clube Juvenil sempre esteve ligada à história de Caxias do Sul. O Juvenil soube ter no seu interior pessoas dos mais diferentes credos políticos, das mais diferentes ideologias e, quando não havia espaço em outros lugares, ali se centralizavam muitas discussões políticas. [...] Por incrível que pareça, porque às vezes se diz que o Clube Juvenil seria um clube de estrato superior, no entanto internamente tinha pessoas progressistas, avançadas politicamente e que desdobravam ali atitudes que vieram formar a semente do respeito a todos os credos políticos e a todos aqueles que defendiam teses diferentes do status quo até. A própria Liga de Defesa Nacional, que se encontrava nos clubes sociais, era recheada de gente conservadora e de gente progressista. [...] “Meu caro presidente, toda a Diretoria, todos os associados, fiz questão de estar aqui presente neste dia para trazer a palavra da municipalidade porque não pude estar presente no dia do baile e da festa dos 100 anos do Clube Juvenil. E, estando aqui, quero dizer com todo o coração e com toda a vontade que trago aqui, com certeza, o respeito, a admiração e os parabéns de toda a comunidade caxiense, de todos os cidadãos de Caxias do Sul por essa magnífica trajetória do Clube Juvenil. E dizer que, se hoje vivemos outros tempos, outras situações, outra realidade em relação àqueles que criaram, constituíram e fizeram o Clube Juvenil e àqueles que, ao longo deste tempo, deram a sua contribuição para chegar até aqui, tenho certeza, mesmo que os tempos sejam outros, certamente vocês que fazem o Clube Juvenil vão encontrar novos papéis a desempenhar na história da sociedade de Caxias do Sul”.

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673 Elisabeth e Murillo Frantz

Murillo também é membro do Rotary Club Cinquentenário desde 19782190 e por duas vezes foi seu presidente (1980-1981 e 2003-2004),2191 além de participar de suas Direções em outras oportunidades, 2192 2193 2194 fazendo através do clube assíduo trabalho social. Foi o coordenador dos festejos dos 35 anos do Cinquentenário em 1993, quando incentivou a recuperação da sua memória oral, uma vez que os primeiros arquivos da entidade se perderam. 2195

Em 1994 assumiu a Secretaria da Governadoria Distrital 4700.2196 Nesta gestão, pelos seus relevantes trabalhos, o Distrito 4700 recebeu o Troféu Guarita, concedido pelo jornal Eco do Vale de Bento Gonçalves com apoio da Associação Riograndense de Imprensa, da Associação dos Jornais do Interior do Rio Grande do Sul e da Companhia Rio-Grandense de Turismo e Desenvolvimento (CRTUR), pela atividade em prol do desenvolvimento do estado, e o troféu Símbolo Internacional do MERCOSUL, concedido pela CRTUR e a Símbolo SA, destacando o distrito entre os clubes de serviço rio-grandenses.2197 Foi convidado a suceder o governador Romeu Rossi, mas nesta época sua esposa Elisabeth foi diagnosticada com uma grave doença de prognóstico fatal, e as preocupações familiares impediram-no de assumir cargo de tantas responsabilidades que envolvia também viagens constantes, preferindo continuar colaborando de maneira mais limitada. Por fortuna a doença de Elisabeth não evoluiu como o esperado, um caso raro, deixando poucas sequelas. O Rotary Cinquentenário, fundado em 1958, tem sido extremamente ativo e reconhecido na cidade pelo seu trabalho de grande relevo. Em 1995, quando o clube apresentou-se na Câmara fazendo um relatório de suas atividades, Murillo estava entre os seus representantes, quando o vereador Ambrósio Bonalume pediu a palavra e disse: “Senhor presidente e senhores vereadores, nossos ilustres visitantes doutor Romeu Victório Rossi, senhores Antônio Costa, Luiz Carlos Tronca, doutor Azyr Nehme Simão, Murillo Frantz e excelentíssimas esposas. É um grande orgulho para esta Casa saber que na comunidade de Caxias pessoas que poderiam estar hoje no gozo de suas aposentadorias, no recesso de seus lares, em vez disso se dedicam à atividade comunitária. Nós, como representantes do povo de Caxias nesta Casa, só podemos nos orgulhar e dizer aos senhores que é desse esforço que Caxias se fez, e de pessoas como os senhores que se dedicam à causa pública.[...] Assim, orgulhosos pela presença dos senhores, agradecemos mais uma vez pelos relevantes serviços prestados à comunidade de Caxias”.2198

2190

Gargioni, Paulo. “Rotary”. Jornal de Caxias, 20/05/1978 Rotary Club Caxias do Sul – Cinquentenário. Galeria dos Presidentes. 2192 Rotary Club Caxias do Sul – Cinquentenário. “Posse do novo Conselho Diretor”, 11/07/2013 2193 “Rotary Club Cinquentenário”. Pioneiro, xx/xx/1981 2194 Rotary Club Caxias do Sul – Cinquentenário. Posse Presidente 2014/2015 - Gelson Fernando Vidor. 2195 “Rotary Cinquentenário 35 Anos”. Folha de Hoje, 07/05/1993 2196 Gargioni, Paulo. “Incidente, Miss Brasil e Rotary”. Folha de Hoje, 01/07/1994 2197 “Distrito 4700 recebe troféus”. In: Carta Mensal, 1995, (11):8 2198 Câmara de Vereadores de Caxias do Sul. Ata da 263ª Sessão Ordinária, 18/05/1995 2191

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“Rotary Cinquentenário 35 Anos”. Folha de Hoje, 07/05/1993

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Seu clube, do qual tem participado há muitos anos, recebeu homenagem da Câmara em 2008 quando se comemorou seus 50 anos, quando a este reconhecimento se somaram importantes personalidades caxienses, como o senador Paulo Paim, o deputado federal Ruy Pauletti, Isidoro Zorzi, reitor da Universidade de Caxias do Sul, Maria de Lurdes Grison, presidente da Fundação de Assistência Social, Marta Michelon, presidente do Conselho da Mulher Empresária/Executiva da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços, Samuel D’Avilla, presidente da Associação dos Homens de Negócio, e Joaquim Rocha, presidente do Lions Clube Centro.2199 2200 Seria exaustivo elencar todas as campanhas das quais Murillo vem participando como membro efetivo, mas destacam-se nas suas gestões na Presidência a irmanação do seu clube com o de Haedo, na Argentina, com os objetivos de troca de experiências, aproximação entre os membros e facilitação de ações internacionais, e a fundação do Núcleo Rotary de Desenvolvimento Comunitário (NRDC), que realizou importante obra beneficente no bairro Cinquentenário II, prestando atendimento a 350 famílias, projeto que por algum tempo veio a se constituir no principal foco de atenção do seu clube. O NRDC realizou, entre outras atividades, a implantação de uma biblioteca com mais de 600 volumes; a construção de uma sede para o Clube de Mães; a formação de grupos de ginástica, dança e contação de histórias; o patrocínio de cursos de informática, inglês e costura; a organização de atividades de futebol e capoeira para jovens; a doação de equipamentos, móveis e ranchos, e a prestação de assistência psicológica à comunidade.2201 Mas além de o Rotary organizar essas atividades “à distância”, Murillo se engajou pessoalmente, participando de reuniões regulares no bairro. Na sessão da Câmara de 2008 o vereador Francisco Spiandorello assim falou: “Honra a nossa cidade o trabalho desenvolvido pelo NRDC (Núcleo Rotary de Desenvolvimento Comunitário), que é um programa do Rotary que tem o propósito de motivar a trabalhar pelo desenvolvimento econômico e auto-suficiência das comunidades mais carentes. [...] Está aqui presente este grande amigo de tantos e tantos anos, Murillo Frantz, e sua esposa, Elisabeth Longhi Frantz. Ele afirma: A trajetória do Cinqüentenário deixa frutos visíveis, que gratificam os companheiros do Clube e apoiadores na sua ação rotária: APADEV - Associação dos Pais e Amigos dos Deficientes Visuais; NRDC – Núcleo Rotary de Desenvolvimento Comunitário e dois Rotarys afilhados: Imigrante e Vêneto. “O trabalho desenvolvido pela APADEV é louvável. Esta entidade de fins filantrópicos, que presta serviços gratuitos a pessoas portadoras de deficiência visual, foi fundada em 1983 pelo Rotary Cinqüentenário, possui declaração de utilidade pública municipal, estadual e federal e é certificada como entidade beneficente do Conselho Nacional de Assistência Social. [...]

2199

“Rotary Club Cinqüentenário celebra 50 anos - Em Sessão Ordinária Câmara homenageia rotarianos caxienses”. Blog de Eloi Frizzo, 07/05/2008 2200 Câmara de Vereadores de Caxias do Sul. Ata da 429ª Sessão Ordinária da XIV Legislatura, 06/05/2008 2201 SOCARSUL. Ações dos Rotary Clubs em Caxias do Sul, 29/11/2009

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“Saudamos os 50 anos do Rotary Cinqüentenário, seus feitos relevantes em benefício da sociedade de Caxias do Sul, que tornam esta homenagem merecida. Parabenizamos o seu trabalho do servir, desenvolvendo o companheirismo, buscando melhorias na comunidade e a aproximação de profissionais e visando sempre às boas relações e à cooperação em prol da nossa cidade. Todos nós desta Casa estamos aplaudindo o Rotary Clube Cinqüentenário e os seus 50 anos de relevante participação e contribuição no desenvolvimento de nossa Caxias do Sul. Vida, energia e felicidades!”.2202 Infelizmente, por disputas internas na comunidade e pela falta de interesse da maioria dos beneficiados em assumir o protagonismo de suas vidas, preferindo adotar uma postura passiva e negligente, ocorrendo inclusive a dispersão de parte do acervo da biblioteca, desvios de verbas destinadas e deterioração de outros equipamentos, o NRDC foi extinto depois de alguns anos. Mais tarde Murillo propôs a criação de um fundo próprio no seu clube, suprido por contribuições espontâneas dos associados, a fim de que ele pudesse ter mais independência das verbas advindas do Rotary Internacional e da Governadoria, proposta que foi aceita e implementada, passando a investir os recursos obtidos no trabalho de uma ONG já estruturada, que desenvolvia com bons resultados e ótima receptividade comunitária o programa Trabalho 10, que ministrava cursos técnicos e profissionalizantes a pessoas carentes. Em 2011 foi considerado um dos expoentes do seu clube pelo cronista João Pulita.2203 Em 2013, como membro do Conselho Diretor, assumiu a Presidência da Comissão de Desenvolvimento do Quadro Social.2204 Em 2014 assumiu a liderança da Comissão Fundação Rotária.2205 Foi também tesoureiro da Fundação Caxias, entidade que centraliza o atendimento assistencial à população carente da cidade.

Atividades no NRDC. Fotos do informativo O Cinquentenário do Cinquentenário, 2008 2202

Câmara de Vereadores de Caxias do Sul (2008), op. cit. Pulita, João. “Social de Segunda”. Pioneiro, 14/11/2011 2204 Rotary Club Caxias do Sul – Cinquentenário. Posse do Novo Conselho Diretor 2013-2014 2205 Rotary Club Caxias do Sul – Cinquentenário. Posse Presidente 2014-2015 – Gelosn Fernando Vidor 2203

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Murillo e Elisabeth, marcados com pontos, na posse da Diretoria de 2014-2015. Na ocasião assumiu a Presidência da Comissão Fundação Rotária. Foto Rotary Cinquentenário.

Desenvolvendo ativo trabalho comunitário desde sua juventude, em uma das Sessões Solenes da Câmara Murillo foi citado entre as personalidades locais que exerceram “forte influência nos destinos da vida estudantil, universitária e também no futuro de Caxias do Sul”, sendo uma das lideranças “que, com expressão e marcante atuação, dinamizaram a Caxias em que hoje vivemos”.2206 Recebeu medalhas, placas e distinções outorgadas por organismos locais, destacando-se um troféu da sua Gerência do Banco do Brasil por uma vida de dedicação; o título de Benfeitor do Futuro e a Medalha Paul Harris, concedidos pelo Rotary Internacional, sendo a Medalha a maior distinção conferida pela entidade; 2207 2208 a Medalha do Cinquentenário e do Centenário, da Festa da Uva, distinção que comemora os 50 anos das Festas e os 100 anos das Feiras AgroIndustriais, pelos relevantes serviços prestados na edição de 1981, e a Medalha Monumento Nacional ao Imigrante, uma das mais distinguidas comendas da Municipalidade de Caxias, outorgada aos que se destacam excepcionalmente em suas profissões ou por suas contribuições à comunidade.

2206

Câmara Municipal de Caxias do Sul. 104ª Sessão Solene da XV Legislatura, 03/05/2012 Fundo Permanente. “Murillo Moacyr Frantz”. Fundação Rotária do Rotary Internacional, 30/06/2000 2208 Fundação Rotária do Rotary Internacional. “Murilo Moacir Frantz”, s/d. 2207

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À esquerda, a Medalha do Cinquentenário e do Centenário concedida pela Festa Nacional da Uva, e à direita, a Medalha Monumento Nacional ao Imigrante, da Prefeitura.

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Murillo sempre foi o sustentáculo da família que constituiu, já que a família de sua esposa Elisabeth, embora tradicional, passou por vários apertos financeiros, como professora sempre recebeu baixos salários, e seus filhos tiveram carreiras economicamente irregulares. Trabalhando incansavelmente, deu a todos um ótimo padrão de vida e, a seus filhos, excelentes possibilidades de estudo. Faz grande dupla com Elisabeth, com quem está casado há mais de 50 anos, sendo parceiros constantes em todas as atividades. O casal é presença assídua em eventos culturais e nas crônicas sociais,2209 2210 2211 2212 2213 2214 com uma vasta rede de relações e muitos admiradores pela sua integridade e simpatia e pelas suas atividades comunitárias. São conselheiros do Centro Municipal de Cultura Dr. Henrique Ordovás Filho e foram também festeiros de Nossa Senhora de Navegantes em Torres.

2209

Pulita, João. “Social de quarta”. Pioneiro, 07 /07/2010 Pulita, João. “Social de quinta”. Pioneiro, 25/04/2013 2211 Meneghel, Cleana. “Gente”. Folha do Sul, 15/11/2000 2212 Pulita, João. “Circuito”. Pioneiro, 14/11/2011 2213 Pulita, João. “Social de segunda e terça”. Pioneiro, 24/12/2012 2214 Maria, Jussara. “Flores e abraços”. Pioneiro, 04/10/1980 2210

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Alcides Longhi e sua filha Elisabeth apresentando Marcelo recém nascido à bisavó Lucia Pezzi Longhi.

a) Marcelo Henrique Frantz, nascido em 27 de outubro de 1965, na passagem da infância para a adolescência participou do conhecido grupo coral Canarinhos do Carmo, organizado no colégio homônimo, fazendo várias apresentações pelo estado e fora dele. Dedicou-se ao esporte também desde cedo, e conquistou medalhas em competições nos clubes, especialmente em natação. Depois estudou Informática em Porto Alegre, trabalhou na EDISA e na Riocell e, voltando a Caxias, tornou-se empresário, sendo o pioneiro da mídia eletrônica out-door na cidade com a MTEC Teleinformática Ltda. Atualmente trabalha com o pai Murillo e leva uma vida discreta. Foi o editor do livro de memórias sobre a família Longhi escrito por sua tia Vera Longhi.

683 À esquerda, Marcelo em seu primeiro aniversário, com sua tia e madrinha Beatriz Longhi Nonnenmacher. Na imagem à direita, ele está ao centro da primeira fila, com o time de basquete da escolinha do seu tio Vitor Longhi, que está de pé atrás dele.

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Gazeta de Caxias, 02-08/05/1998

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Murillo e Marcelo Frantz. Abaixo, Marcelo com sua mãe e irmão na réplica de Caxias Antiga no Parque da Festa da Uva.

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b) Ricardo André Longhi Frantz nasceu em 10 de fevereiro de 1964. Recebeu as primeiras letras no Colégio José Penna de Morais, onde sua habilidade no desenho começou a ser notada. A partir da 5ª série estudou no Colégio do Carmo, onde concluiu sua educação básica e recebeu um prêmio em um salão de arte estudantil. Enquanto isso, com 15 anos iniciou estudos de violino com Gabriella Coletti, membro da Orquestra Sinfônica local. No entanto, só acompanharia dois anos do treinamento, já dividido entre Caxias e Porto Alegre, para onde se transferiu em 1981 a fim de cursar Biologia na UFRGS. Permaneceu na Biologia por dois anos, mas a abandonou em favor da Medicina, que iniciou na PUCRS, cursando quatro anos. Ao mesmo tempo, matriculou-se no Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre, cursando um ano de Desenho e outro de Gravura. Em 1987 fez novo vestibular, agora para Artes, obtendo em 1990 o bacharelado no Instituto de Artes da UFRGS (IA) com ênfase em pintura, com trabalho de conclusão orientado por Renato Heuser,2215 artista e professor que trouxe para o sul a influência da abstração informal berlinense, que na época estava em alta.2216 Seu trabalho de pintura logo foi apreciado fora da academia, sendo convidado para várias exposições, algumas de significativa repercussão, como o Projeto João Fahrion (1991), mantido pelo Instituto Estadual de Artes Visuais (IEAVI) e dedicado a artistas emergentes;2217 projeto que deixou uma marca por dinamizar o circuito local e abrir 2218 2219 espaço para novos talentos, o III Salão Latino-americano de Artes Plásticas (1992), realizado em Santa Maria, onde recebeu Menção Honrosa, e uma panorâmica da arte estadual organizada pelo IEAVI em parceria com o Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS), Arte de Três Polos (1992), que identificou a produção relevante nos três maiores centros de criação do estado fora da capital, Santa Maria, Pelotas e Caxias do Sul. A mostra fez exposições em cada cidade em espaços institucionais de prestígio (as galerias de arte das universidades de Santa Maria e Caxias do Sul e o Museu Leopoldo Gotuzzo de Pelotas) e encerrou com uma mostra geral no MACRS em Porto Alegre. Seu trabalho teve a curadoria de Julieta Rigotto Eberle.2220 2221

2215

Rosa, Renato & Presser, Décio. Dicionário de Artes Plásticas no Rio Grande Do Sul. EdiUFRGS, 2000, 2ª edição revista e ampliada 2216 Machado, Ana Méri Zavadil. Reatando os Nós: Arte & Fato Galeria, Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul/MACRS e Torreão: espaços de legitimação em Porto Alegre (1985-1997). Dissertação de Mestrado. UFSM, 2011, p. 25 2217 IEAVI / MARGS. Projeto João Fahrion 1990-1991, p. 38. Catálogo do projeto. 2218 Paim, Cláudia Teixeira. Espaços de Arte, Espaços da Arte: perguntas e respostas de iniciativas coletivas de artistas em Porto Alegre, anos 90. Dissertação de Mestrado. UFRGS, 2004, p. 323 2219 Machado, op. cit., p. 23 2220 “Arte de Três Pólos: Caxias do Sul – Pelotas – Santa Maria”. In: IEAVI/MACRS. Catálogo Geral 1992, pp. 13-14 2221 Eberle, Julieta Rigotto. “Polo Um: Caxias do Sul”. In: IEAVI/MACRS. Arte de Três Polos, 1992. Catálogo da exposição.

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Em 1992 passou a fazer parte da equipe de restauro do Salão Nobre do Solar dos Câmara em Porto Alegre, a mais antiga edificação habitacional da cidade ainda em uso, patrimônio tombado pelo IPHAE. A equipe foi dirigida pela restauradora Denise Lampert.2222 Após seis meses de trabalho, teve de deixá-lo para assumir um cargo no funcionalismo público, sendo aprovado em concurso da Secretaria Estadual da Cultura na função de Técnico em Assuntos Culturais. A partir de então suas atividades se dividiriam entre as funções técnicas oficiais e a carreira individual nas artes. Destinado ao Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS), passou a auxiliar no gerenciamento das exposições, e das museólogas Ruth Bernardes e Flávia Bento recebeu, ao longo de vários anos, treinamento específico em Museologia, Conservação de Bens Culturais e metodologias de pesquisa histórica e sistematização documental, além de fazer estudos intensivos em História da Arte e Patrimônio Histórico. Foi fundamental nesta fase sua associação com a banda de rock alternativo Aristóteles de Ananias Jr. como violinista, figurinista, cenógrafo, cantor e co-roteirista de videoclips e filmes em vídeo, que perdurou até 1996. A banda teve várias formações mas se estabilizou com Diego Silveira na bateria, Pedro Porto no baixo, Luciano Zanatta no clarinete e Ricardo ao violino, sob a liderança de Marcelo Birck na guitarra e vocais, que se responsabilizava também pela grande maioria das composições. O grupo lhe deu novos referenciais estéticos, emprestava grande importância à visualidade em cenários e figurinos especiais e apresentações performáticas. A partir de então adotaria em seu trabalho solo uma estética iconoclasta, revisando e discutindo a tradição artística erudita do ocidente em associação com referências da arte popular, da cultura de massa e da música, realizando exposições individuais performáticas e instalações com mídias diversificadas, além de fazer várias individuais e participar de coletivas no estado e fora dele, com uma obra que foi apontada como inovadora e inquietante.2223 2224 2225 Em 1994 fez sua primeira individual em Porto Alegre, na galeria de arte do IEAVI na Casa de Cultura Mario Quintana, intitulada Pinturas Grandes e Pinturas Pequenas.2226 Destacam-se neste período as exposições coletivas Jovem Pintura Figurativa no Rio Grande do Sul (MACRS, 1994), com curadoria de Paulo Gomes; A América que nós Fizemos (1996), a primeira mostra organizada pelo Núcleo de Artes Visuais de Caxias do Sul (NAVI) em parceria com a Festa da Uva, montada nos pavilhões de exposição por ocasião da sua XXI edição; Antarctica Artes com a Folha (Ibirapuera, São Paulo, 1996), com cinco curadores de renome nacional, e que teve impacto na época pelo pioneirismo do mapeamento que fez da produção brasileira da Geração 90;2227 2228 2229 NAVI 8 Anos (1996), que marcou a inauguração da nova sede da Câmara Municipal de Caxias e o aniversário do NAVI; Remetente (Espaço Cultural Ulbra, Porto Alegre, 1998), organizada por um coletivo autônomo, que teve repercussão por sua proposta original;2230 2231 2232 2233 e Projeto João Fahrion: Dez Anos (MACRS, 1999), com curadoria de Ana 2222

Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul [Ruas, Tabajara; Nardi Filho, Hélio & Achutti, Luiz Eduardo]. Solar dos Cãmara. Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, 1993 2223 Paviani, Jayme. “Inquietude do artista, serenidade da arte”. Pioneiro, 01/06/1996 2224 Gomes, Paulo. “Ricardo Frantz”. In: MACRS [Gomes, Paulo (curador)]. Nova Pintura Figurativa. Porto Alegre, 1994, p. 3 2225 Peixoto, Nelson Brissac. “Ricardo Frantz”. In: Governo do Estado de São Paulo / Companhia Antarctica Paulista / Folha de São Paulo. Antarctica Artes com a Folha [Mammi, Lorenzo et al. (curadores)]. Cosac Naify, 1998 2226 Rosa & Presser, op. cit. 2227 Peixoto, op. cit. 2228 Rosa & Presser, op. cit. 2229 Sotomayor, Yana Tomayo. Utopia e Construção: melancolia e sobrevivência na arte contemporânea brasileira. Dissertação de Mestrado. Universidade de Brasília, 2009, p. 123 2230 Paim, op. cit. 2231 Rosa & Presser, op. cit. 2232 Machado, op. cit., pp. 34-36 2233 Paim, op. cit., pp. 108-128

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Albani de Carvalho, que resgatou o importante legado do projeto na abertura de espaço para os jovens artistas.2234 2235 Segue a crítica Inquietude do artista, serenidade da arte, publicada no Pioneiro em 1º de junho de 1996, em que o conhecido intelectual e escritor caxiense Jayme Paviani, professor e pesquisador da UCS, falou de seu trabalho, que viu na exposição individual O que quer dizer?, realizada na Casa de Cultura local, na primeira e iconoclasta fase de sua carreira: "A exposição do artista plástico Ricardo Frantz, na Galeria da Casa de Cultura, provoca o público. Causa estranheza. Não são apenas as obras, mas também o modo de expôlas que chama a atenção. Alguns espectadores se sentem agredidos. Nada de novo. A segunda metade do século XIX e o século XX são marcados pelo conflito entre a arte e o gosto do público. Independente da definição de critérios para julgar o valor artístico de uma obra, o gosto estético só pode ser formado na base do princípio da sociabilidade e da intersubjetividade. As relações do indivíduo com os valores do grupo social determinam, em grande parte, padrões estéticos considerados válidos, apenas válidos, não necessariamente verdadeiros. Ricardo Frantz busca uma linguagem individual, tarefa que exige dedicação. A perfeição expressiva não supõe apenas o abandono de práticas e conceitos dominantes. Requer também uma nova linguagem, espontânea ou construída, mas sempre adequada à função de expressar. Como acontece com os poetas, escrever versos sem métrica exige maior domínio do ritmo. Ser espontâneo, primitivo ou assumir o 'traço' popular, para o homem culto é uma impossibilidade que só o artista procura superar. Ricardo Frantz aceita decididamente correr esse risco. Tenta dizer a realidade como se fosse pela primeira vez, como fazem os artistas criadores. Tal afoiteza provoca conseqüências nos resultados da própria obra e nas reações do público. Para os que lidam com arte, entre tantas obras expostas, é natural que algumas se destaquem pelas soluções formais. Parece que o próprio artista tem uma certa estranheza diante da obra, pois o título da exposição, em forma de pergunta 'O que quer dizer?', traduz esse sentimento. Tal atitude não é defeito, mas virtude. Ao perguntar 'o que quer dizer', referindo-se aos seus trabalhos, passa ao público as suas dúvidas. Não pretende definir sua arte. Quer saber se ela diz e, principalmente, o que quer dizer. Porém, o querer dizer depende, antes de tudo, da própria obra, ponte entre o artista e o espectador. A obra está aí. Posta a público. Diz por si. Impossível traduzir exatamente a 'fala' pictórica em palavras”. Em 2002 montou Memorabilia no Centro de Cultura Dr. Henrique Ordovás, em Caxias, uma individual que fez um balanço de sua carreira até então e assinalou um momento de mudança de interesses e prioridades. Com o aumento de suas responsabilidades no MARGS, já ocupando cargos de coordenação e fazendo intensivos estudos técnicos, a carreira artística pessoal entrou em um ritmo menos intenso. Mesmo assim, continuou a produzir e a expor, passando a trabalhar exclusivamente com fotografia e explorando suas relações com a pintura e outras mídias. Destaca-se nesta fase sua individual Paisagens (Galeria Municipal de Arte, Caxias do Sul, 2006), com obras em grandes formatos, e sua participação na Bienal B de 2007, em Porto Alegre, um evento de grandes proporções curado por Gaby Benedict paralelo à Bienal do Mercosul. O evento se dividiu por muitos espaços da capital, e o módulo fotográfico de que participou foi apresentado na Fotogaleria Virgílio Calegari da Casa de Cultura Mario Quintana.2236 2237 2234

IEAVI [Carvalho, Ana Albani de (curadora)]. Projeto João Fahrion: 10 Anos, 1999. Catálogo da exposição. “Mostra”. Correio do Povo, 14/09/1999 2236 Spalding, Marcelo. “Papo debate as artes plásticas na terra da Bienal do Mercosul (e da B)”. Artistas Gaúchos, 2009 2237 “Bienal B Porto Alegre”. Undo, 04/07/2007 2235

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693 Exposição Paisagens, 2006, Galeria Municipal de Arte, Caxias do Sul

Publicou para uso livre e gratuito no banco de mídias Wikimedia Commons, vinculado ao projeto Wikipedia e disponivel para todo o público, mais de mil fotografias,2238 usadas em centenas de artigos em várias línguas da Wikipedia e centenas de artigos e publicações acadêmicas impressos e online, sites institucionais, blogs, jornais, revistas e outros meios. Algumas foram aproveitadas pelos editores da Encyclopedia Britannica online para a ilustração de seus verbetes, entre eles “Mount Parnassus”,2239 “Blessed Innocent XI2240” e “Antinoüs”,2241 e outras apareceram em capas de livros, como os diálogos Simpósio e Parmênides, de Platão (ambos pela Akasha Classics, 2009), e Three Ladies of Siena: The Wartime Journals of the Chigi-Zondadari Family 19431944, de Elizabeth Cartwright-Hignett (Iford Publications, 2012). Fez extensa documentação fotográfica dos prédios históricos de Porto Alegre, disponibilizada para uso livre no Wikimedia Commons. Uma de suas fotos ilustrou uma tiragem especial de selos dos Correios do Brasil, comemorando o centenário do prédio histórico do Memorial do Rio Grande do Sul, antiga sede dos Correios e Telégrafos do estado. O selo tem circulação nacional. Duas de suas fotos (Hércules Capitolino e Cristo della Minerva) foram incluídas na galeria Nus Masculinos Famosos apresentada pelo site de notícias BOL/UOL.2242 Permaneceria concentrado na fotografia até 2011, quando demitiu-se do serviço público, inconformado com as arbitrariedades técnicas e quebras da ética profissional que via sendo cometidas pelas autoridades e sofrendo assédio moral dentro do MARGS, e retornou à pintura com grande entusiasmo, realizando em pouco tempo uma série de obras em grandes dimensões em um estilo fotorrealista, aproveitando fotos suas ou de outros, que tiveram ótima receptividade, recebendo reconhecimento informal de pares destacados da cena gaúcha e nacional como Renato Heuser, Marion Velasco, Nelson Wilbert, Marilice Conora, Leandro Selister, e Hô Monteiro, entre vários outros. Foi então convidado, em 2012, por Chico Machado, seu antigo parceiro de banda e ora curador e professor da Ufpel, para apresentar uma individual na galeria de arte da Fundação Ecarta, em Porto Alegre, Eternos-efêmeros, que recebeu considerável cobertura2243 2244 2245 2246 2247 2248 2249 e lhe valeu a indicação para o prestigiado Prêmio Açorianos da Prefeitura de Porto Alegre na categoria Destaque em Pintura. 2250 No entanto, não venceu. 2238

Wikimedia Commons. Category:Photographs by Ricardo André Frantz "Mount Parnassus". In: Encyclopædia Britannica Online, 04/20/2010 2240 "Blessed Inniocent XI”. In: Encyclopædia Britannica Online, 21/03/2012 2241 "Antinoüs". In: Encyclopædia Britannica Online, 12/12/2010 2242 “Nus masculinos famosos”. BOL Fotos, 27/11/2015 2243 Lerina, Roger. “Telas de Ricardo André Frantz serão expostas na Fundação Ecarta”. Zero Hora, 12/08/2012 2244 Frantz, Ricardo André & Machado, Chico (curador). Eternos-efêmeros. Fundação Ecarta, 2012. Catálogo da exposição. 2245 “Sugestão da Redação: Eternos-efêmeros”. Jornal do Comércio, 11/08/2011 2246 ‘Programação Ecarta – agosto”. Jornal Extra Classe, 2012; (273):27 2247 “Abertura de exposições e bate-papo”. Instituto de Pesquisa em Memória Social, 15/09/2012 2248 “Galerias com novas mostras”. Correio do Povo, 11/08/2012 2249 Fialkov, Dóris. “Eternos-efêmeros de Ricardo André Frantz”. Banco Cultural, 2012 2250 “Prêmio Açorianos de Artes Plásticas será entregue nesta terça”. Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 2012 2239

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Acima, Iniciação, acrílica sobre tela, 300 x 150 cm, 2012. A partir de uma foto de Angelique800326 publicada no Wikimedia Commons com uma licença self|cc-by-sa-3.0|GFDL Abaixo, A revolução cotidiana (Marcha das Vadias, Porto Alegre, 2013), acrílica sobre tela, 300x145cm, 2013. A partir de foto do autor.

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Acima, A fronteira final, 2011, acrílica sobre tela, 300 x 150 cm. A partir de uma foto da NASA publicada no Wikimedia Commons com uma 696 licença PD-USGov-NASA Abaixo, Terra (interior), 2013, acrílica sobre tela, 150 x 200 cm. A partir de foto do autor

Ainda em 2011 foi convidado pelo pesquisador e curador Clóvis Martins Costa para integrar uma coletiva fotográfica destinada a marcar a inauguração do Espaço Cultural da Feevale, em Novo Hamburgo.2251 Duas obras de pintura da série recente participaram de uma mostra comemorativa dos três primeiros anos da gestão 2011-2014 do MACRS, organizada por Marilice Corona em 2013, com o titulo Pintura: modos de usar,2252 2253 que recebeu indicação para o Prêmio Açorianos de 2014 na categoria de Melhor Coletiva.2254 Em artigo na revista virtual Filosofia do Design, o professor e crítico Gustavot Diaz incluiu Ricardo no grupo de artistas que estão renovando o panorama da pintura brasileira como pioneiros do novo realismo no país. Ele disse: “A figuração realista tem se desenvolvido de modo surpreendente em Porto Alegre, destacando-se na produção nacional, mesmo se comparada a São Paulo – ainda bastião de resistência da tradição pictórica e escultórica. [...] Esse artista, que conhecemos recentemente, já possui um amplo portfólio, transitando entre diferentes categorias da arte e produzindo desde 1988. Tem se dedicado mais à pintura, para a qual seu trabalho parece ser levado, tendendo a uma representação cada vez mais densa, e hiper-realista da forma”.2255 Em 2014 realizou uma individual na Galeria Municipal de Arte de Caxias do Sul, Terra, onde reuniu dez trabalhos recentes em grandes dimensões, considerada pelo autor como uma das principais em sua carreira.2256 2257 2258 O texto que apresentou na Galeria é ilustrativo das suas principais motivações recentes no fazer artístico: Terra Nosso chão, nosso sustento, e o palco da vida em perpétua transformação. A Terra é um relicário único de vida no universo conhecido. Por isso é preciosa, insubstituível. Mas essa vida é também frágil, e não estamos fazendo muito para preservá-la. Nossas florestas desaparecem em ritmo acelerado, os rios e o ar estão sendo poluídos, estamos modificando o clima radicalmente, o solo está sendo degradado e esterilizado, os recursos naturais estão se esgotando, e a humanidade ainda vive como se a Terra fosse inesgotável e como se não houvesse amanhã. Até mesmo as lutas sociais conquistarão resultados fracos, efêmeros e ilusórios se a questão ambiental e a sustentabilidade não forem incluídas centralmente nos debates, pois o ambiente está na própria base da civilização, e ela depende, em tudo, dos recursos naturais para florescer. Aliás, como sempre dependeu. Mas se antigamente a natureza podia ser explorada sem maiores preocupações, pois eram relativamente poucas as pessoas a viver no mundo, gerando impactos limitados e reversíveis, a explosão demográfica contemporânea torna o antigo modelo um caminho certo para a catástrofe global.

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“Por onde Andamos: James Zortéa no Espaço Cultural Feevale”. Subterrânea, 07/07/ 2012 “MACRS encerra programação 2013 com um balanço das suas ações e as exposições”. Secretaria de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul, 02/12/2013 2253 “MAC/RS encerra 2013 com duas novas exposições”. Correio do Povo, 11/12/2013 2254 “Prêmio Açorianos de Artes Plásticas anuncia artistas e exposições indicados”. Zero Hora, 24/03/2014 2255 Diaz. Gustavot. “O desenho da arte em Porto Alegre: Inicia-se o Hiper-realismo Contemporâneo no Brasil (III)”. Filosofia do Design, 28/09/2015 2256 Guaresi, Lucas. “Entrevista com Ricardo Frantz”. Programa Armazém, UCS TV, 07/03/2014 2257 Sartori, Tríssia. “Panorama da Vida”. Pioneiro, 08/03/2014 2258 Garziera, Thiago. “Terra”. Pioneiro, 08/03/2014 2252

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Hoje, segundo informam os cientistas, cerca de 60% dos recursos naturais estão esgotados ou em vias de rápido esgotamento, e mesmo assim desperdiçamos cerca de 30% de tudo o que tiramos da natureza. O que será do mundo em meados do século, quando teremos dois bilhões de pessoas a mais para dar casa, comida, água, educação e todo o resto necessário para que sua vida seja desejável de viver? O que será de todos se o clima estiver alterado a ponto de comprometer a produção de alimentos, aumentando ao mesmo tempo a ocorrência de desastres naturais, se dar sustento e abrigo para todos já é tão difícil agora, quando mais de 800 milhões de pessoas passam fome crônica e vivem em condições sub-humanas? Se nada for feito, e rápido, para revertermos esse quadro, calcula-se que em 2100 o clima estará tão alterado que 70% de todas as espécies vivas atualmente serão extintas. Isso significará, sem a menor dúvida, o colapso total dos ecossistemas e dos sistemas produtivos humanos, e será o fim da civilização como hoje a conhecemos. Os elementos do mundo natural há milênios têm sido transformados em arte, em símbolo e monumento. E não por outra razão do que pelos seus significados de bondade, como promessas de felicidade e testemunhos de sua importância para o homem. Mas essa bondade só pode se manifestar em plenitude se a rede de interdependências da vida é preservada, pois nesta Terra em que vivemos, tudo está intimamente interligado. Não podemos tê-la se destruímos nosso planeta. Mas as mudanças necessárias e inadiáveis encontram impedimentos em todas as frentes, seja por desconhecimento, seja por preconceitos e hábitos arraigados, por egoísmo, ou por interesses econômicos e políticos imediatistas. Apesar de sua importância e influência, em última análise não são os governos e instituições os responsáveis pelo nosso futuro – somos nós: são as escolhas, grandes e pequenas, que fazemos diariamente. Mas criamos para nós mesmos a possibilidade real da perda permanente das bondades que amamos e das quais dependemos para viver. Essas pinturas são para ajudar a lembrar o que está em jogo.

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Fotos em capas de livros

Voto de Congratulações da Câmara Municipal de Caxias do Sul. Detalhe do Ofício SG-2209/2006, de 12 de dezembro de 2006.

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Mantém forte ligação com Caxias, que visita regularmente, onde já realizou seis exposições individuais 2259 e diversas coletivas, muitas promovidas pelo NAVI, o Núcleo de Artes Visuais de Caxias, do qual é membro e cujo fundamental trabalho para as artes de toda a região será descrito no Volume II. Nos anos de 1991 e 1992 foi um dos destaques culturais e sociais nos balanços do prestigiado colunista João Pulita, do jornal Pioneiro;2260 2261 em 1996, por uma de suas individuais, recebeu um Voto de Congratulações da Câmara Municipal,2262 e no mesmo ano, integrando uma coletiva organizada pelo NAVI na Festa Nacional da Uva, recebeu com seus colegas artistas um diploma da Presidência da Festa pela sua contribuição ao sucesso do evento,2263 que nas últimas edições tem atraído um milhão de visitantes. Tem mais de 60 exposições em seu currículo,2264 quase todas em espaços institucionais de prestígio, e tem obras em coleções particulares em Porto Alegre, Caxias do Sul e Rio de Janeiro, no Acervo Municipal de Arte da Prefeitura de Caxias do Sul e no acervo da Galeria de Arte da Unicamp. Tem verbete no Dicionário de Artes Plásticas do Rio Grande do Sul, de Renato Rosa e Décio Presser.2265 Sua produção anterior ao ano de 2002 é muito mal documentada. Muitas obras deste período foram perdidas ou destruídas. Outras estão em paradeiro ignorado, distribuídas entre amigos e conhecidos que o artista perdeu de vista. Sua atuação no MARGS foi produtiva, chegando a ocupar a função de coordenador de setor em cinco gestões sucessivas, primeiro do Núcleo de Exposições, quando eram diretores Romanita Disconzi e Paulo César Brasil do Amaral, e depois do Núcleo de Acervo, na gestão de Fábio Coutinho, na segunda de Amaral e na de Cézar Prestes, colaborando ativamente numa fase em que o museu se reerguia de profunda crise, renovava seus conceitos e critérios e por fim conquistou notoriedade nacional pelos serviços qualificados que passou a oferecer.2266 2267 2268 2269 2270

Como coordenador das Exposições gerenciava a organização de praticamente todas as mostras da casa e os intercâmbios institucionais. Na chefia do Núcleo de Acervo elaborou e executou, com sua equipe, a segunda etapa do Projeto Informatização do Banco de Dados, dando continuidade a um projeto fundamental para uma atualização das atividades do Acervo, iniciado por Acácia Hagen e dedicado a sistematizar e digitalizar a base documental em papel dispersa desde a fundação do museu e criar um banco de imagens de alta qualidade de toda a coleção, até então extremamente pobre.2271 Realizou a curadoria de inúmeras exposições com a coleção do MARGS, destacando-se a mostra Acervo do MARGS – Evolução Histórica (2007), que fez um pioneiro mapeamento da evolução do Acervo desde suas origens, ocupando todo o primeiro piso do museu,2272 e a mostra de longa duração Acervo Permanente (2000-2009), com uma seleção das peças 2259

“Terra é a nova exposição da Galeria Municipal em Caxias, que abre nesta quinta”. Pioneiro, 06/03/2014 Pulita, João. “As caras que pintaram 1992”. Pioneiro, 06/01/1993 2261 Pulita, João. “Retrospectiva Homem 91”. Pioneiro, 15/01/1992 2262 Câmara Municipal de Caxias do Sul. OF-SG-2209/2006, 12/12/2006 2263 XXI Festa Nacional da Uva e XV Feira Agro-Industrial. Diploma: Ricardo Frantz, 1996 2264 Ricardo André Frantz. Curriculum Vitae. Academia.edu., 2015 2265 Rosa & Presser, op. cit. 2266 MARGS. “Histórico: Anos 90”. 2267 Amaral, Paulo C. Brasil do. “Novos tempos, sede nova”. In: MARGS. MARGS 50 Anos: Memória do Museu: Lembranças e envolvimento profissional: Anos 90, 2004 2268 MARGS. MARGS. Tomo Editorial, 2000 2269 “MARGS abre vaga para estágio no Núcleo de Exposições”. Revista Museu, 05/03/2004 2270 Memória Têxtil. Exposições - Estrutura Têxtil de carater alternativo: Comissão organizadora. 2271 Frantz, Ricardo A. L. Antigualhas do Acervo: a evolução física e documental do acervo do Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli: memórias e políticas (1951-2011). Academia.edu, 2014 2272 MARGS. Acervo do MARGS – Evolução Histórica. Catálogo de exposição, 2007 2260

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principais da coleção de arte gaúcha, organizada de maneira a reconstituir o percurso histórico das artes locais, atendendo a antigo desejo da população, sobretudo pesquisadores, escolares e professores da rede pública, iniciativa louvada pelo conhecido crítico e professor Armindo Trevisan pela sua utilidade educativa.2273 2274 Também foi o principal responsável pela curadoria e produção das imagens da grande seleção de obras que o museu apresentou ao público virtualmente em seu website entre 2000 e 2011, e que ainda hoje permanece disponível (parcialmente). Participou da comissão editorial e curatorial de um grande catálogo sobre o acervo, integrante da série Museus Brasileiros, patrocinada pelo Banco Safra, entre outras publicações. Estruturou e participou da comissão técnica e curatorial do Projeto Aquisição – Os Precursores, que adquiriu um lote de quase cem novas obras para cobrir as lacunas mais urgentes da coleção de pioneiros da arte gaúcha, 2275 no primeiro e até agora único projeto que teve tal objetivo, selecionando pessoalmente, junto com o diretor do MARGS, Fábio Coutinho, as obras disponíveis no mercado a partir da lista de artistas prioritários estabelecida pelas pesquisadoras e professoras da UFRGS Ana Albani de Carvalho e Marilene Pieta. Entre outras raridades, o projeto obteve um registro único de Pedro Weingärtner do seu tempo de estudante na Academia Julian de Paris, e que é um dos pouquíssimos testemunhos em pintura a sobreviver da famosa escola que atraía discípulos de todo o mundo. Em nome do MARGS deu assessoria técnica a várias instituições, com destaque para a que deu ao Acervo Municipal de Arte da Prefeitura Municipal de Caxias do Sul (AMARP), estabelecendo Duas obras adquiridas pelo Projeto Aquisição – parâmetros técnicos para a criação de sua primeira Reserva Os Precursores. Acima, A Banhista, de Antonio Caringi, e abaixo, A Ponte do Riacho, de Técnica e a reorganização de seu banco de dados, além de dar Maristany de Trias. treinamento básico em conceitos e procedimentos de conservação preventiva à equipe de lá. Por este trabalho Frantz foi elogiado em discurso do Secretário da Cultura local em evento no Museu Municipal em parceria com a Associação Moúsai, e novamente sua contribuição foi lembrada na inauguração da nova RT. 2276 2277 2278

Participou de juris de salões e de comissões de seleção de novas doações, deu preparo a monitores de exposição e estagiários, deu palestras sobre a coleção, patrimônio e conservação de acervos ao público em geral e em visitas programadas, além de auxiliar inúmeros pesquisadores em seu trabalho.

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Coutinho, Fábio Borgatti. “Projeto Curadorias de Acervo”. In: MARGS [Pieta, Marilene Burtet (curadora)]. Curadorias de Acervo: Anos 60/70, 2000. Catálogo de exposição. 2274 Trevisan, Armindo. “A atualidade de um Museu”. In: MARGS. MARGS. Tomo Editorial, 2000 2275 MARGS. Projeto Aquisição de Acervo para o MARGS – Os Precursores, 2000 2276 “Reestruturação do AMARP”. Secretaria da Cultura, Prefeitura de Caxias do Sul 2277 “Caxias do Sul inaugura nova sede do AMARP”. Olá! Serra Gaúcha, 27/11/2010 2278 “AMARP completa 10 anos nesta quarta-feira”. Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Caxias do Sul, 07/05/2014

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O show Mim Notauro, Você Jane, na Casa de Cultura Mario Quintana em Porto Alegre, um dos mais marcantes da banda. Da esquerda para a direita. Alexandre Bick na bateria, Marcelo Birck na guitarra, Luciano Zanatta no saxofone e Ricardo no violino. Chico Machado, presente no show, não aparece nesta foto.

Foi integrante por vários anos da banda Aristóteles de Ananias Jr., de rock alternativo, que ganhou reconhecimento estadual e (tardiamente) nacional pela sua proposta arrojada, irreverente e original, e até hoje é considerada uma das mais interessantes bandas cult do estado, sendo incluída em várias listas das bandas mais notáveis do rock sulino.2279 2280 2281 2282 2283 2284 2285 2286 2287 A banda passou por várias formações, mas se estabilizou com Marcelo Birck na guitarra e vocal, líder da banda e responsável pela grande maioria das composições, Luciano Zanatta no sax, Pedro Porto no baixo, Diego Silveira na bateria e Ricardo no violino. Suas apresentações se caracterizavam por um estilo performático, com cenários e figurinos inusitados criados pela banda, empregando materiais descartáveis e remetendo ao imaginário psicodélico, sempre com forte tendência ao non-sense e a referências extra-musicais. A sonoridade da banda pode ser definida como tendo uma base derivada do rock da década de 1960, sobre a qual são adicionados elementos de outras práticas musicais, como contraponto, atonalismo, ruidismo, incluindo alguns de outras matrizes pop e eventualmente regionalismos, além de empregar o acaso, descontinuidades, desconstrução, politexturas e improviso.2288 2289 2290

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Faria, Arthur de. Um Século de Música no Rio Grande do Sul. CEEE, 2001 Egs, Eduardo. "Três lado para cada história". Overmundo, 17/04/2006 2281 Mendes, Marcelo. "Grandes histórias do rock 2002/2003: cap. 3". Overmundo, 01/06/2006 2282 Avila, Alisson; Bastos, Cristiano & Müller, Eduardo. Gauleses Irredutíveis: causos e atitudes do rock gaúcho. Sagra-Luzzatto, 2012, 2ª edição revisada 2283 Rosa, Fernando & Sillas Jr., Flávio. "A presença do 'rock gaúcho' na cena independente nacional". Revista Senhor F, s/d. 2284 "Rock gaúcho: coletânea tripla resgata raridades". Whiplash, 24/02/11 2285 Thomaz, Gabriel. "Um resgate histórico". Programa de Rock, 01/07/2010 2286 Soares, Glerm. "Top Ten - Glerm". Mondo Bacana, 15/04/2008; (13) 2287 "Aristóteles de Ananias Jr". Caverna do Jurássico, 1993. Repostagem 03/06/2013 2288 Mendes, op. cit. 2289 Faria, op. cit. 2290 Egs, op. cit. 2280

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Luciano Zanatta e Ricardo Frantz em show da Aristóteles. Foto de Luis Geraldo Melo.

Como relatou Marcelo Mendes em matéria escrita para o site Overmundo, esta combinação incomum de influências causou sensação, mas também desencadeou forte rejeição entre os acostumados com o rock tradicional: "O ápice dessa 'queimação de filme' foi o lançamento do disco da Aristóteles que, segundo ele (Marcelo Birck), teria sido um fim de carreira, tamanho o impacto: 'As pessoas ouviam o disco ou viam o show e tomavam aquilo como ofensa pessoal'.”2291 A Aristóteles gravou uma fita demo e um CD, produziu vários videoclips e dois filmes trash em vídeo, fez shows em muitos bares, teatros e casas de espetáculo do Rio Grande do Sul, e se apresentou ao lado de outros conjuntos destacados na cena sulina, como Os Replicantes, Graforréia Xilarmônica, Repolho e Júpiter Maçã. Seu trabalho foi uma referência para outras bandas, como a Repolho, a Chumbo Grosso e os Relógios de Frederico, servindo, como disse Bruno Eduardo, do Rock Press, como um exemplo de arte livre e sem paradigmas que ajudou a renovar a cena do rock.2292 Os pesquisadores Humberto Keske e Lidiani Lehnen, citando várias bandas gaúchas que surgiram na época, como Tequila Baby, Júpiter Maçã, a Aristóteles e outras, consideram que foi "inegável a influência das bandas do momento de explosão do rock gaúcho para o que se produziu [no Brasil] nos anos 90",2293 e nas palavras de Eduardo Egs, escrevendo em 2006 para o Overmundo, "Usando colagens de trechos de músicas, sobreposição de vozes e muito, mas muito atonalismo, o Aristóteles causou impacto na cena porto-alegrense. O trabalho da banda foi reunido em um CD lançado em 1996 pelo Grenal Records, selo do próprio Birck. Hoje, passados dez anos, ainda impressiona ouvir as experiências sonoras desse registro”.2294

2291

Mendes, op. cit. Eduardo, Bruno. "Graforréia Xilarmônica: entrevista com Marcelo Birck". Rock Press, 08/03/2013 2293 Keske, Humberto Ivan Grazzi; Lehnen, Lidiani. "Na Trilha Sonora dos pampas: a batida pesada do rock 'n' roll a la gaúcho". In: Caderno Imagem - revista eletrônica, 2012; 11 (03) 2294 Egs, op. cit. 2292

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705 Na foto de cima, Ricardo Frantz, Alexandre “Ograndi” Birck, Marcelo Birck, Chico Machado e Luciano Zanatta.

Marcelo Birck, Luciano Zanatta e Ricardo em show da Aristóteles no Programa Radar da TVE.

Arthur de Faria, músico, compositor e pesquisador gaúcho, em seu livro Um Século de Música no Rio Grande do Sul, disse que a banda "produziu uma fita demo excepcional e um CD quase inaudível de tão desconstruído", e definiu a proposta como "a experiência musical mais radical feita em música popular nestas terras".2295 O trabalho também foi elogiado por Glerm Soares, pesquisador e músico experimental (ex-Boi Mamão e outras), ao elaborar sua lista Top Ten para o Mondo Bacana, incluiu o disco da Aristóteles, e disse: "Marcelo Birck é poderoso. Fico de cara quando não levam o cara a sério por preconceito ao seu lado escrachado. O cara inventou uma estética totalmente própria, misturando jovem guarda com atonalismo e tosqueira. As letras são um caso à parte, fuzzy-logic total, como diria Timothy Leary".2296

Como compositor autodidata, Ricardo escreveu mais de 350 peças em vários formatos. Considerando-se um miniaturista, em sua vasta maioria suas obras são pequenos trios e quartetos para instrumentos diversos, usando referenciais antigos e modernos, mas deixou também duas obras de grandes proporções para coro, solistas e orquestra: um oratório sobre a vida de São Francisco (Fioretti di San Francesco) e uma missa completa (Missa Albanus).2297

2295

Faria, op. cit. Soares, op. cit. 2297 SoundClick. Lovizol*Mvsik. 2296

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Com o username Tetraktys, desde 12 de junho de 2007 é editor voluntário da enciclopédia virtual Wikipédia em português, que tem vasta visitação em todos os países lusófonos, sendo o conjunto do projeto internacional e multilíngue Wikipedia, segundo o indexador Alexa, o sexto portal da internet mais acessado em todo o mundo. Para esta enciclopédia criou ou reescreveu completamente centenas de artigos sobre temas ecológicos, históricos e culturais, mais de 80 deles de grande extensão e eleitos em votação interna como Artigo Destacado, aparecendo por três dias em sua “capa” (a página principal), como por exemplo Academismo no rasil, Aleijadinho, Ambientalismo, Apolo, Aquecimento global, Atena, Barroco no Brasil, Declínio contempor neo da biodiversidade mundial, Desmatamento, Escultura do Classicismo grego, Escultura do Renascimento italiano, Escultura gótica, Fídias, Francisco de Assis, Georg Friedrich Händel, Hildegarda de Bingen, História de Brasília, História de Caxias do Sul, Impactos do aquecimento global no Brasil, João Fahrion, ohann Sebastian ach, osé Lutzenberger, José Maurício Nunes Garcia, Kitsch, Luís de Camões, Michelangelo, Missões jesuíticas na América, Pedro Américo, Pedro Weingärtner, Pintura do Romantismo brasileiro, Policleto, Povos indígenas do Brasil, Questão religiosa, Terras indígenas e Wolfgang Amadeus Mozart. 2298 O indexador Wikipedia Article Traffic Statistics revelou que apenas o conjunto dos artigos que destacou até o mês de março de 2013 foi consultado somente naquele mês por 722.436 pessoas. Extrapolando esses dados para todo um ano, o número ultrapassa 8,5 milhões de consultas. Embora oficialmente os artigos da Wikipédia sejam produto de um coletivo anônimo, não sendo assinados, a análise dos seus históricos no momento do destacamento evidencia a sua autoria integral, mas às vezes com a contribuição de outros em pequenos trechos. Depois do destacamento, diversos receberam colaborações novas por outros editores, já que neste projeto a edição permanece aberta ad infinitum, mas seu trabalho individual ainda é parte largamente preponderante no conjunto. O autor considera este trabalho na Wikipédia a sua principal contribuição à sociedade. Escreveu outros artigos substanciais que nunca propôs para destacamento, como Barroco, Arquitetura colonial italiana no Rio Grande do Sul, Pintura europeia (da Antiguidade à Idade Média), Pintura no Rio Grande do Sul, Museu de Arte do Rio Grande do Sul e Arquitetura do Brasil, e deu contribuição majoritária para outros artigos importantes, como Desmatamento no Brasil. Alguns dos artigos em que deu contribuição total ou principal foram sínteses pioneiras na internet, muitos ainda são a melhor fonte em português acessível ao grande público, copiados inúmeras vezes por outros websites, e outros foram traduzidos por outras pessoas para outras línguas do projeto Wikipedia, sendo às vezes também destacados nessas línguas. Em tese de Doutorado que estudou o tratamento dado na Wikipédia em português aos assuntos científicos, focada no tema do aquecimento global e correlatos, como o ambientalismo e o declínio contemporâneo da biodiversidade, Bernardo Esteves Gonçalves da Costa dedicou longos trechos para enfatizar a importância das suas contribuições. Analisando a evolução histórica do artigo Aquecimento global na Wiki lusófona, ele disse: “Tetraktys criou uma estrutura inteiramente nova, inaugurando seções, reformulando e reordenando as já existentes. [...] A nova estrutura tem ar mais ordenado e enciclopédico e oferece uma visão abrangente da questão. Não há seção ou parágrafo do texto em que ele não tenha feito intervenções substanciais. [...] As intervenções de Tetraktys trouxeram novos aliados para o artigo e reforçaram a voz de muitos 2298

Wikipédia. Tetraktys – Página de usuário: Principais contribuições.

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daqueles que já haviam sido alistados. Pela primeira vez, ele contou a história da criação do IPCC e esclareceu de onde vinha sua autoridade. É ele quem trouxe para o artigo o Quinto Relatório de Avaliação e explicou a origem da segurança de suas conclusões. O efeito estufa se tornou mais nítido, e a elevação do nível dos mares ganhou corpo – o trecho dedicado ao item tinha dois parágrafos, e passou a ocupar duas páginas. Tetraktys dificultou a vida dos céticos ao acrescentar novas alegações que refutavam seus argumentos – foi ele quem, antecipando objeções, apresentou uma espécie de guia para discutir com aqueles que não acreditam no aquecimento global antrópico (adaptado do blog Skeptical Science). Foi também ele quem incorporou ao artigo as dezenas de figuras que trouxeram para o texto uma profusão de móveis imutáveis que fazem falar o dióxido de carbono e os demais gases-estufa, as colunas de gelo e anéis de árvores, os satélites e as estações de medição terrestres, os modelos climáticos e seus algoritmos. Agora o aquecimento global antrópico é reforçado também por 18 fotos, sete mapas, seis gráficos, três fotos de satélite e uma animação – e pela profusão de atores mudos a quem essas figuras dão voz. O artigo Aquecimento global foi atulhado de referências, figuras, colunas, gráficos e outros reforços, num movimento muito parecido com o que se opera na literatura científica, que se desdobra em muitas camadas defensivas para resistir às objeções. Conforme descreveu Latour (1987, p. 49), ‘desacreditar significará não só lutar corajosamente contra uma grande massa de referências, como também desemaranhar infindáveis laços que amarram instrumentos, figuras e textos uns aos outros’. Da mesma forma, contestar o consenso da ciência na Wikipédia lusófona se tornou tarefa hercúlea após as intervenções de Tetraktys. [...] Vistas em conjunto, as intervenções do sexto e último ciclo de edições aqui considerado, feitas por Tetraktys em sua maioria, tornaram o artigo mais sólido, consistente e alinhado com a visão consensual da ciência. [...] “Tetraktys responde por 348 das 400 edições feitas entre 01/01/13 e 20/09/14, ou 87% do total – padrão muito parecido com o observado nos artigos destacados. Portanto, na amostra relativamente pequena de artigos que investigamos, a qualidade do artigo pareceu depender do envolvimento de um usuário dedicado. A Wikipédia lusófona mostrou-se demasiadamente Tetraktys-dependente para contar com artigos conectados e densos sobre o aquecimento global. O que seria desses verbetes se esse usuário não existisse? O que acontecerá com eles quando Tetraktys deixar de ter interesse e disponibilidade para editá-los? São questões que não temos como responder senão com especulações”.2299 Ele analisou também outros artigos que o autor criou ou reformulou majoritariamente: “O artigo Impactos do aquecimento global no Brasil foi criado em 13/09/13, período em que Tetraktys estava no meio da intensa reformulação que promovia no artigo Aquecimento global – foi muito provavelmente com as informações levantadas na pesquisa para editar o artigo principal que ele decidiu contribuir com outros artigos sobre o tema. Até agosto de 2014, esse verbete havia sido editado 280 vezes, 92,5% das quais pelo próprio Tetraktys. A versão de 18/06/14 mostrava um artigo conectado a uma rede tão densa de aliados quanto a que embasava Aquecimento global: eram nada menos que 26 figuras e 240 referências. Assim como fez no verbete principal, Tetraktys não deu margem à controvérsia no artigo Impactos do aquecimento global

2299

Costa, Bernardo Esteves Gonçalves da. As controvérsias da ciência na Wikipédia em português: o caso do aquecimento global. Tese de Doutorado. UFRJ, 2014

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no Brasil. Ali a mudança do clima foi apresentada desde o início como um fato científico cujos efeitos já se fazem sentir no Brasil. [...] “Esse artigo se distingue dos demais por discutir o aquecimento global a partir da perspectiva brasileira e do conhecimento produzido localmente. Há toda uma grande seção – ‘Ciência nacional’ – dedicada ao trabalho de pesquisadores brasileiros que investigam várias dimensões do problema. Ali é descrito todo o aparato institucional criado em torno da ciência do clima nacional, com vários nós da rede alistados para dar mais nitidez às projeções dos pesquisadores para o futuro do clima no país. Estão citados no artigo o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas, a Rede Clima, o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) e o primeiro modelo climático brasileiro, entre outros pilares dessa extensa malha institucional na qual se inserem vários cientistas nominalmente citados no artigo. [...] Há seções inteiras baseadas nos resultados de trabalhos de pesquisadores brasileiros, como o primeiro relatório do PBMC e estudos que projetaram os impactos do aquecimento global sobre a produção agrícola brasileira e os custos da mudança do clima para a economia nacional. [...] Impactos do aquecimento global no Brasil veio, portanto, juntar sua voz e a das referências por ele mobilizadas para reforçar a narrativa da mudança climática antrópica na Wikipédia lusófona, finalmente apresentada ali a partir de uma perspectiva brasileira ausente ou latente na maior parte em Aquecimento global e no resto da amostra”.2300 “A tensão entre a gravidade do diagnóstico de ameaça ao planeta traçado pela ciência e a dificuldade dos pesquisadores de convencer a sociedade a agir em resposta a ela esteve no centro de Ambientalismo, outro artigo destacado por Tetraktys. Ele não criou o artigo, mas foi o grande responsável pelo texto que se lia em agosto de 2014. Quando começou a editá-lo, em abril de 2012, o verbete já existia havia quase seis anos, mas permanecia um mero esboço – resumia-se a cinco parágrafos e 2,7 KB, com apenas uma foto e sem uma única referência sequer. Depois das intervenções de Tetraktys – 225 em cerca de 20 meses –, o movimento ambientalista ganhou história, nuances e substância. [...] Ao final das intervenções de Tetraktys, tínhamos um artigo robusto de 111 KB, com 31 figuras e 193 referências, que apresentava o ambientalismo de forma bem mais nítida. [...] Com sua intervenção, o artigo Ambientalismo virou um novo espaço que afirmava os efeitos da ação humana sobre o globo e conclamava as sociedades à ação. Se ali havia espaço para menção às contestações ao consenso, era apenas para contrapô-las à força dos argumentos que o sustentavam. [...] “No artigo Declínio contemporâneo da biodiversidade mundial, por fim, a extinção de espécies em ritmo acelerado que se verifica desde o final do século XIX foi enquadrada no âmbito dos efeitos danosos da ação humana sobre o meio ambiente, com a mudança do clima encabeçando a lista de causas às quais o fenômeno era atribuído. Com a delimitação do declínio da biodiversidade, o destino de inúmeras espécies animais e vegetais passava a estar atrelado ao futuro do clima do planeta – e, por conseguinte, à composição da atmosfera, às negociações diplomáticas, aos modelos computacionais e à infinidade de atores emaranhados na rede do aquecimento global antrópico. O artigo criado por Tetraktys reforçou essa cadeia:

2300

Costa, op. cit.

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Quando o clima muda, especialmente na velocidade em que isso está ocorrendo, muitas espécies não conseguem se adaptar a tempo para enfrentar a mudança, entram em declínio e se extinguem, uma ameaça que se torna mais aguda quando essas espécies são raras, vulneráveis ou vivem em ambientes isolados [...] (WIKIPÉDIA-PT, “Declínio contemporâneo da biodiversidade mundial”, 25/06/14) “Mais uma vez, a rede de aliados mobilizados no artigo criado por Tetraktys saltava aos olhos: eram 19 figuras e 152 referências sustentando a ameaça antrópica que pairava sobre as demais espécies vivas do planeta. Quando submeteu aos colegas a proposta de tornar o artigo destacado, Tetraktys apresentou-o como ‘mais uma fatia do indigesto bolo ambiental contemporâneo’, e seu trabalho novamente recebeu comentários elogiosos dos colegas. [...] “O padrão de dependência das contribuições individuais é significativamente diferente daquele constatado na Wikipédia em inglês, na qual os artigos destacados se sobressaem pelo alto número de editores envolvidos em sua construção (WILKINSON; HUBERMAN, 2007). Se na Wikipédia em inglês muitos cozinheiros melhoram o guisado, na amostra de artigos que investigamos os grandes guisados foram todos obras de um chef solitário”.2301 Bernardo Esteves voltou a enfocar o trabalho de Ricardo em artigo escrito em parceria com o pesquisador Henrique Cukiermann e apresentado no I Congresso Científico Brasileiro da Wikipédia, o primeiro evento acadêmico do país a estudar com exclusividade o papel da Wikipédia na difusão do conhecimento científico. Eles resumiram as conclusões da tese de doutorado de Esteves e acrescentaram dados sobre a evolução dos artigos Aquecimento global e correlatos desde a última análise, e disseram: “Tetraktys reestruturou em parte o artigo, reordenando, expandindo e criando seções. Aumentou o número de figuras – que passou de 35 para 51 – atualizou referências e o conteúdo de forma a refletir os acontecimentos recentes sobre o tema, com destaque para a aprovação do Acordo de Paris em dezembro de 2015. Uma contribuição significativa foi a atualização da seção sobre adaptação e mitigação, onde persistiam informações defasadas, agora eliminadas. ]...] O número de referências saltou de 369 para 481 no período considerado. Com tal rede de fontes referendando o conteúdo do artigo, ficou ainda mais custoso contestá-lo. [...] Notamos também que a atualização dos artigos sobre aquecimento global na Wikipédia em português continua dependente das intervenções de um único usuário, Tetraktys, o principal responsável pelas melhorias que observamos nesse estudo”.2302 Outra menção ao seu trabalho foi feita por Esteves em artigo da Revista Piauí de novembro de 2016, que vai reproduzido a seguir.

2301

Costa, op. cit. Esteves, Bernardo & Cukiermann, Henrique L. “Revisitando artigos sobre aquecvimento global na Wikipédia em português”. In: I Congresso Científico Brasileiro da Wikipédia. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, 1314/10/2016 2302

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O projeto tem encontrado recepção controversa pelo seu sistema de edição aberta a todos, mas crescentemente vem ganhando reconhecimento de instâncias acadêmicas e oficiais pelos seus pontos positivos. Desde que Ricardo faz parte do projeto, a Wikipédia, em conjunto com sua comunidade de editores, foram recipientes de três grandes distinções internacionais. Em agosto de 2008 receberam o Prêmio Quadriga, 2303 concedido pela organização berlinense Werkstatt Deutschland, que representa o Dia da Unificação Alemã. Diz sua filosofia: “O Quadriga é dedicado a todos cuja coragem derruba muros e a todos cujo engajamento cria pontes. O Quadriga honra [anualmente] quatro pessoas e projetos cujos pensamentos e ações são baseados em valores. Valores que conduzam a visão, coragem e responsabilidade. O Quadriga honra modelos. Modelos para a Alemanha e modelos da Alemanha. Combinando uma orientação para os valores e a distinção de ideias inovadoras e benéficas para o futuro, o Quadriga destaca sua autenticidade e relevância pública”.2304

O Prêmio Quadriga, com o nome da Wikipédia gravado na base.

A Comissão Organizadora assim justificou a premiação: “Reconhecemos a Wikipédia este ano por sua ‘missão de iluminar’. A Wikipédia torna real o antigo sonho da humanidade: reunir todo o conhecimento do mundo em um só lugar. Colaboração, participação e contribuição voluntária estão nas bases da eficiência da Wikipédia. A visão do fundador Jimmy Wales: ‘Cada mulher e cada homem se torna um autor, em qualquer lugar, a qualquer hora, simplesmente clicando no botão ‘editar’. Não há barreiras e o acesso livre é o segredo desta rede que agora tem 262 línguas e mais de 10 milhões de artigos’.”2305 Em 2015, quando comemorou seu 14º aniversário, o projeto e seus editores foram agraciados com mais duas destacadas premiações. Em janeiro, o Prêmio Erasmo da Fundação Erasmiana dos Países Baixos, dedicado a pessoas e instituições que deram excepcional contribuição à cultura, à sociedade e às ciências sociais. A Comissão de Premiação assinalou os motivos da outorga: “A Wikipédia recebe o Prêmio porque tem promovido a disseminação do conhecimento através de uma enciclopédia abrangente e universalmente acessível. Para conseguir isso, os fundadores da Wikipédia conceberam uma plataforma nova e democrática. O Prêmio reconhece especificamente a Wikipédia como uma comunidade – um projeto compartilhado que envolve dezenas de milhares de voluntários em todo o mundo, que ajudam a dar forma a esta iniciativa. [...] Por distribuir conhecimento em lugares onde ele antes era inacessível, a Wikipédia desempenha também um papel importante em países onde a neutralidade e a informação livre não são garantidos. Com seu alcance mundial e seu impacto social, a Wikipédia faz justiça à ideia de um mundo unido mas diversificado. É uma obra de referência digital acessível em várias línguas e em desenvolvimento permanente. Através do seu caráter aberto, a Wikipédia salienta que as fontes do conhecimento 2303

Die Quadriga. Awardee overview 2003 - 2009 Die Quadriga. We Honour Values. 2305 Walsh, Jay. “Wikipedia to receive German national honor: the Quadriga Award”. Wikimedia Blog, 21/08/2008 2304

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A insígnia do Prêmio Erasmo. Foto da Fundação Erasmiana.

não são neutras e devem sempre ser analisadas criticamente. Com sua atenção central ao texto, às fontes e à expansão do conhecimento, a Wikipédia reflete as ideias de Erasmo, o cidadão do mundo que batiza o Prêmio”.2306 Em junho o projeto recebeu o Prêmio Princesa de Astúrias de Cooperação Internacional, concedido pelo Governo da Espanha.2307 O Prêmio é concedido a “pessoa, instituição, grupo de pessoas ou de instituições, cujo trabalho com outro ou outros em matérias como saúde pública, universalidade da educação, proteção ao meio ambiente e desenvolvimento econômico, entre outras, constitua uma contribuição relevante em nível internacional”.2308 A Comissão de Jurados declarou: “O Juri valorizou o importante exemplo de cooperação internacional, democrática, aberta e participativa, onde colaboram desinteressadamente milhares de pessoas de todas as nacionalidades, que conseguiu colocar ao alcance do mundo o conhecimento universal em uma linha similar à do espírito enciclopedista do século XVIII”.

O Prêmio Princesa de Astúrias de Cooperação Internacional. Foto Televisa.

Jimmy Wales assim disse na ocasião: “A cooperação é precisamente a essência da Wikipédia. É uma imensa honra que o Prêmio Princesa de Astúrias a tenha reconhecido. Espero que isso inspire mais pessoas a se envolver na missão de compartilhar com o mundo a soma de todo o conhecimento”. Os artigos que destacou, junto com todos os outros artigos destacados da Wikipédia em português e de todas as outras línguas do projeto, serão incluídos em uma cápsula do tempo que será depositada na Lua através do lançamento de um veículo espacial construído pelo grupo Part Time Cientists para o projeto Google Lunar XPRIZE.2309 Os Part Time Cientists são financiados pela empresa Audi e o projeto Lunar XPRIZE será a primeira iniciativa privada de tentar chegar à Lua e realizar experimentos. Karsten Becker, membro do grupo de cientistas, justificou a decisão com algum humor:

2306

Praemium Erasmianum Foundation. Erasmus Prize 2015 for Wikipedia. Fundación Princesa de Asturias. Wikipedia: Premio Princesa de Asturias de Cooperación Internacional 2015 2308 Fundación Princesa de Asturias. Premios Princesa de Asturias: Regulamento 2015 2309 Coldewey, Devin. “To the Moon! Lunar XPRIZE team looks to send Wikipedia into space aboard homemade rover”. The Crunch, 21/04/2016 2307

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“Acredito que a Wikipédia coletou a parte mais importante do conhecimento humano de uma forma muito bem estruturada. Isso funciona como um documento da era contemporânea. Levar uma cópia do conhecimento humano conosco significa eternizar um momento. Se formos olhar para a Wikipédia daqui a 10, 50 ou 100 anos ela parecerá totalmente diferente. Acreditamos que é uma boa ideia armazenar um back-up descentralizado que ninguém possa modificar facilmente. E é claro que o deixaremos lá para que os alienígenas que vierem tenham algo interessante para ler”.2310

O modelo do rover lunar que levará o material da Wikipédia para a Lua. Foto Part Time Cientists.

Entre suas outras atividades, Ricardo traduziu do inglês para a Sociedade Teosófica do Canadá e para a Igreja Católica Liberal do Brasil, para divulgação online, dezenas de títulos sobre temas teosóficos, incluindo obras célebres de Charles Leadbeater, Annie Besant, Helena Blavastky e outros líderes dos primeiros tempos do movimento, alguns dos quais disponibilizados em sua página em Wikidot.2311 Publicou ensaios sobre Museologia, Arte e História em revistas e independentemente, com destaque para Antigualhas do Acervo: a evolução física e documental do acervo do Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli: memórias e políticas (1951-2011), e A Antiga Igreja Matriz da Madre de Deus de Porto Alegre: síntese histórica e social – questões estéticas e autorais – legado,2312 ambos estudos pioneiros em seu campo. Seu ensaio Para que serve o Renascimento? foi matéria de capa da revista Leituras da História, nº 57, 2012, conhecida publicação que tem circulação nacional. Agora falando de mim em primeira pessoa, apesar de eu ter grande estima pela tradição, e este estudo o prova, pois vejo nela alguns valores valiosos que hoje em dia estão se perdendo, alinhando-me neste sentido ao legado dos meus ancestrais, minha vida tomou rumos bem diversos do que a tradição esperaria. Transcrevo abaixo um trecho do meu ensaio autobiográfico,2313 porque ilustra o conflito entre esses valores e os que a modernidade tem proposto, a qual sem dúvida oferece aspectos positivos, e também porque toca em um aspecto mais íntimo que, não obstante, deu um tom diferenciado a toda a minha vida e determinou muito de minha expressão pública: “Nasci em uma família católica e de considerável tradição e prestígio social na zona de colonização italiana. Não éramos ricos na época em que nasci, mas a família já havia sido no início do século XX, com muitos membros atuantes na política, no alto empresariado, na cultura, na assistência social e nos esportes, e com muitos ancestrais na nobreza da Itália. Porém, depois o dinheiro se foi por várias razões, mas o prestígio ficou. [...]

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“Designing a Wikipedia Moon-based time capsule via committee”. Wikipediocracy, 21/04/2016 Textos teosóficos. Página em Wikidot 2312 Ricardo André Frantz. Academia.edu 2313 Frantz, Ricardo A. L. Eu? ... que bobagem... Na terceira pessoa: ensaio autobiográfico ao modo de verbete. Academia.edu, 2014 2311

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“Meus pais, uma professora e um bancário, trabalharam duro e recuperaram parte do antigo lustro aristocrático deste ramo empobrecido da família e circulam nas altas rodas, bem como se destacam por atividades benemerentes e culturais. Os tios fizeram carreiras semelhantes. Cresci vendo a família nas crônicas sociais. Muitos da família fizeram coisas relevantes na comunidade, dando grande valor ao trabalho e a valores tradicionais, gente de bem. E família numerosa. Tenho oito tios e muitos primos. Todos tipicamente italianos, mesmo os alemães, totalmente assimilados: calorosos, dramáticos, passionais, divertidos, barulhentos e tão irredutíveis quanto Asterix e Obelix. Todos maravilhosos e muito unidos, e tive uma infância de finanças meio curtas na família mas na maior parte dos aspectos estupenda. Porém, do lado do meu pai vinha uma herança alemã de altas exigências morais, com avô exegeta da Bíblia, místico e Integralista. Não que as do lado italiano fossem baixas, eram ultrareligiosos, mas eram mais flexíveis. De todos os lados, racismo e preconceitos típicos de toda aquela sociedade, cuja herança católica, estratificada e colonial ainda era forte. Na colônia de europeus tradicionalistas, ser negro, judeu, desempregado, bêbado, desquitado, veado, etc, ou mesmo ser apenas brasileiro, luso ou – horror – índio, nos anos 60 ainda era uma desgraça catastrófica, e famílias ‘nobres’ ficavam longe dessa população. Caxias foi nazi-fascista entre a I e a II Guerra, e toda a segunda geração de colonos italianos adorava Mussolini, que chegou a escrever pessoalmente um texto para uma publicação comemorativa da Festa da Uva, tipo ‘unindo espíritos iguais mas distantes no espaço’. Já viu... “Mas o fato fundamental é que sou gay. No contexto onde nasci isso exige algo semelhante a abrir as águas do Mar Vermelho para poder passar, mas tímido e inseguro como eu era, não dei escândalo e sobrevivi com muita dissimulação, vivendo uma segunda vida oculta e isolada. Um entorno amorosíssimo, mas ao mesmo tempo tudo muito quadrado, muita tradição, muito ‘o que vão dizer’, muito pecado, muita culpa, etc. Isso determinou toda uma constelação de conflito, um conflito que permanecia latente, jamais expresso, mas que mesmo assim causava grandes efeitos. Minha avó dizia que eu tinha mãos de padre e vivia contando histórias de santos. Quando pequeno eu só desenhava fadas, bichinhos, castelos e princesas, e brincava com bonecas. E sexo, claro, era assunto tabu. Não era um problema deles, no meio onde eu vivia era igual em todas as famílias. Meus pais me ensinaram como se fazem e como nascem as crianças, mas não se discutia sexualidade, e desde pequeno eu sabia que eu tinha uma bomba nas mãos. “Estudei num colégio super tradicional de irmãos lassalistas a partir da 5ª série. Depois da primeira aula de educação sexual, dada no gabinete do diretor a portas fechadas, quando ele mandou eu me tocar, ‘cientificamente’, segundo disse, para eu constatar que os dois testículos dos homens têm tamanhos diferentes, eu entrei em pânico e ergui um muralhão (outro) em meu redor. Não sei se ele estava querendo se aproveitar, agora até acho que não, quereria decerto me educar de verdade. Mas sem qualquer aviso, foi outro choque. E eu já era grandinho... “Eu não queria me desligar da família, que eu adoro, o pior de tudo era a sensação de estar mentindo o tempo inteiro, ter de inventar coisas, e saber que quando a bomba explodisse ia causar um grande estrago, como de fato causou quando explodiu, mas tive de me esconder até encontrar a turma de loucos do Instituto de Artes da UFRGS em Porto Alegre, onde me formei pintor, da banda Aristóteles e das tribos urbanas cosmopolitas que conheci através deles.

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À esquerda, eu sendo crismado pelo bispo dom Paulo Moretto, apadrinhado pelo meu tio Mauro Frantz, e à direita, performance em formato de show de calouros que comandei na abertura de minha exposição individual Pinturas Grandes e Pinturas Pequenas na Casa de Cultura Mario Quintana em Porto Alegre, 1994, acompanhado de músicos da banda Aristóteles de Ananais Jr. e convidados especiais.

“Eu não tenho a consciência de ter ‘fugido’ ao ir estudar em Porto Alegre, por anos eu voltei para Caxias todo fim de semana, mas talvez o destino providencial entendesse que se eu ficasse para sempre em Caxias eu definharia até morrer. Meus amigos da arte gostaram de mim com todos os meus karmas e nóias, me rasgaram a roupa, me viraram do avesso e eu gostei. “Foi uma catarse e uma redescoberta de mim. Daí fiquei mais forte. Virei músico de rock de vanguarda e compositor. Carreguei bandeira em protestos de rua e nas marchas gay. Fumei maconha, bebi todas e tive visões místicas, onde falei pessoalmente com anjos e deuses da Grécia Antiga, parte do meu populoso time de arquétipos pessoais. Me embrenhei em astrologia e psicologia, nessa lama toda do inconsciente. Li a Doutrina Secreta da Blavatsky e a maior parte da produção teosófica inicial, mais muitos filósofos da Grécia, budismo e hinduísmo. Me converti temporariamente a todos esses credos. “Adoro ciência e astronomia. Virei fã de Star Trek The Next Generation, a utopia da civilização. Ainda tento ser católico, mas já xinguei Jesus de tudo e ultimamente estamos de mal. Já fui PT de passeata, passei pro PV, mas hoje não tenho partido. Fortunatti? Lula não sabia? ‘Comissão de Ética’ no Congresso? Código Florestal? Copa? Belo Monte & etc? Aquecimento global? Dilma de novo? Socorro! Deus só pode estar de férias. Desencantei. Agora faço cyberativismo político e ecológico. “Era para eu ser biólogo, segundo o projeto original. Fui estudar Biologia porque na infância vivia no quintal da minha avó mais entre as plantas e bichos do que entre as pessoas, que eram como amigos pessoais, já que eu sempre fui pouco popular no colégio, o perfeito nerd que só andava com nerds (e nenhum gay!), que para botar abaixo sua reputação e sua auto-estima irrecuperavelmente uma vez teve a infelicidade de se cagar nas calças em público no colégio e ter de pegar ônibus cagado para chegar em casa. Passei inúmeros outros vexames públicos e bullying por minha timidez e meu aspecto de garça magra, pernalta e desengonçada que não pegava nenhuma menina. [...] Mas minhas notas eram boas. Eu adquiri uma ampla cultura geral na adolescência, era um leitor insaciável, e a Enciclopédia Barsa era meu livro de cabeceira. [...] Fui para a Medicina simplesmente porque não conseguia passar numa 716

cadeira obrigatória de Cálculo da Biologia [para a Matemática sempre fui um estúpido, nem sei como passei no vestibular], mas lá mergulhei na dor das pessoas e na vida dos pobres, e isso foi um crescimento extraordinário, e foi onde conheci o primeiro amor, um perfeito príncipe perfeitamente inacessível. Frustrado, rendeu anos de depressão, mas foi um impacto divino. “Daí caí nas Artes, incapaz de segurar o tranco na Medicina, vendo o príncipe todo o dia e não podendo nem dar umas beijocas rsrs. Mas de fato isso foi só o empurrão final, pois eu já havia percebido que a Medicina não era a minha verdadeira vocação. Depois, me apaixonei mais duzentas vezes e, idealista, sempre pelo impossível, passei pelo Inferno cristão e pelo Hades mítico. Nem análise ajudou, decerto é malformação cerebral congênita. Mas os deuses às vezes me favoreciam. Passei num concurso público para a Cultura que fiquei sabendo de última hora, sem ter estudado uma linha, sem saber bulhufas de toda uma seção da prova e sem ser possuidor de título nenhum, e passei em 14º lugar por minha boa formação geral. Pelo menos o nerd ali mandou ver. Atuei no MARGS, que para mim foi uma fantástica experiência, penetrando fundo em Patrimônio Histórico, Museologia, Educação e História da Arte, e tendo uma chance de servir a comunidade deixando um bom trabalho técnico, sendo elogiado pelos diretores e por outros profissionais gabaritados. Sou ativista do patrimônio. E para completar acabei virando enciclopedista e ensaísta, também sem procurar. De repente, eu estava ali, no meio de um de meus tufões costumeiros, muitas vezes levado para outras partes de sopetão pela força de gigantes, e sempre fazendo várias coisas ao mesmo tempo. Se eu tinha alguns recursos e podia dar algo de volta pelo que eu ia aprendendo, plim, as obras apareciam, e apareceram em várias áreas. Reclamar contra essa riqueza de possibilidades, deixar de explorar as chances que apareceram? Só se eu fosse louco e mal-agradecido. Mas é fato que o fato de eu ter crescido me escondendo me tornou um diplomata e um camaleão por excelência. Precisei fazer dessa necessidade, virtude. Acho que até consegui surfar bem em todos esses maremotos em que me meti, eu que sou um cara da paz e da domesticidade, e acabei dando algumas contribuições que penso terem sido valiosas à sociedade, o que me dá muita satisfação. Eu tenho uma produção vasta em artes visuais, com centenas de pinturas e milhares de fotografias, fiz dezenas de exposições sempre em espaços institucionais de prestígio, como funcionário público participei do reerguimento do maior museu de arte do estado e contribuí para sua projeção nacional, e só os artigos que escrevi para a Wikipédia que foram destacados têm oito milhões de leitores por ano! Isso não é pouca coisa. Mas não teria feito nada sem muita ajuda, estímulo e inspiração em vários níveis, especialmente da família, que apesar dos nossos inevitáveis conflitos, me dá muita força em tudo. “Mas na verdade eu detesto a rotina e a monotonia. Se eu morasse no hemisfério norte, com aquelas florestas só de pinheiros, ou num deserto, eu adoeceria de tédio. Passei grande parte da infância fuçando no quintal de um chalezinho bucólico onde viviam os pais de minha mãe, um terreno rico em bichos e plantas diversificadas, onde sempre havia novidades. [...] Sou muito viajante. Percorri muitos territórios diferentes, conheci pessoas de todos os tipos, passei por muitos tipos de paisagens, respondendo a estímulos multifacetados de dentro e de fora, do passado, do presente e do futuro também. Tudo quase ao mesmo tempo. E quase o tempo todo. Nunca vou deixar de ser um filho-família com passado ‘nobre’, que adora os acadêmicos, pois isso é parte do que sou, e até gosto demais deste meu lado, assim como dos outros, pois ele tem altos pontos positivos, mas também sou uma pessoa que vive hoje, que adora a diferença e a procura, que se fosse governo iria instituir o nudismo em larga escala, prefere a informalidade e a franqueza em todas as situações, vive de pé no chão, às 717

vezes passa uma semana sem banho e ainda fala com as lesmas, formigas, plantas e passarinhos do seu jardim, que já virou seu trabalho de pernas para o ar buscando novos sentidos e já se meteu até com o ‘lixo humano’ da sociedade, aprendendo muito e fazendo amigos. Eu não poderia deixar senão um rastro de mil formas e feições”. Toda essa vivência, heterodoxa segundo os padrões tradicionais, sempre em mutação, vivendo eternamente entre imprevistos e produzindo choques sobre choques com o conhecido e o esperado, gerou um grande drama familiar, ainda não plenamente assimilado, pois é difícil para as gerações anteriores compreenderem um modelo de vida tão diverso do seu, que abala algumas de suas convicções mais arraigadas e que lhes parece em muitos aspectos um grande erro, pois se a tradição para eles “deu tão certo”, também “deveria” dar para mim. No entanto, a tradição deu certo também para mim em vários sentidos. Foi dos antigos que aprendi a dar valor ao trabalho, à honestidade, ao respeito pelos outros, e aprendi que se deve construir a vida de maneira a ser útil à sociedade e não se aproveitar dela em benefício próprio. Porém, a tradição não pode se tornar tirania, especialmente quando se baseia em dogmas religiosos, no desconhecimento ou na irracionalidade. Nesses casos ela deve ser sim questionada e, se preciso, destruída, pois ela também não pode impedir a expansão do conhecimento e as mudanças que essa expansão necessariamente desencadeia. No meu caso específico, faz parte da tradição condenar os gays, e tentar “corrigí-los” por todos os meios e a todo custo, se preciso pela força, pela intimidação e pelas punições, pois isso era considerado uma afronta às leis da natureza e, ainda mais grave, uma afronta às leis de Deus. Porém, o conhecimento atual já mostrou que o homossexualismo é meramente um outro aspecto da natureza humana, antes pouco conhecido, mas compartilhado com incontáveis outras espécies de animais, como a ciência moderna já documentou, e não pode ser considerado uma afronta às leis de Deus, pois Deus não é propriedade da Igreja Católica nem pode ser enfaixado dentro dos seus dogmas particulares, havendo muitos outros credos que aceitam o homossexualismo e respeitam essas diferenças. Não queria me estender tanto a falar sobre mim, tendo tantos parentes ilustres e merecedores de muito maior espaço. Deixo este testemunho – tão longo somente porque a situação precisava ser bem contextualizada – solidarizando com muitos outros que, embora de outras maneiras, não se encaixaram nas expectativas impostas pela sociedade, e também solidarizando com outros, de minha própria família ou não, que foram gays sem o declarar. A maior pesquisa sobre sexualidade humana realizada até agora, o famoso Relatório Kinsey, descobriu que mais da metade dos homens pesquisados já tiveram ao menos um orgasmo com o mesmo sexo,2314 uma proporção bem maior desejaria ter pulado a cerca mas não pulou (Freud dizia que todo ser humano é potencialmente bissexual), o homossexualismo deixou de ser considerado como doença pela comunidade médica e psiquiátrica, como antes era, tampouco é considerado crime pela legislação vigente, estudos indicam que os homofóbicos – triste tendência que cresce vertiginosamente hoje em dia – sentem atração homossexual que transformam em ódio projetado, 2315 e assim é muito difícil que qualquer família não tenha o seu “fora da regra”. Mas nada como a ciência para colocar as coisas em sua devida perspectiva e mostrar que as tradições e as regras, por fortes que sejam, podem não passar de crendices e podem estar simplesmente enganadas...

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Ministério da Saúde. Manual do Multiplicador - Homossexual, 1996 Adams, Henry E. et al. “Is Homophobia Associated With Homosexual Arousal?” In: Journal of Abnormal Psychology, 1996; 105 (3):440-445 2315

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Eu tampouco pretendo fazer desta narrativa um libelo, mas já que me coube ser o primeiro da minha família a sair do armário, no contexto de uma crônica familiar não poderia passar em brancas nuvens este aspecto, que definiu de modo decisivo a visão de mundo que tenho e de uma maneira ou outra influenciou tudo o que fiz em sociedade, incluindo, vale enfatizar, toda a minha produção artística e intelectual. Além de mostrar que uma sexualidade alternativa não conflita com um modo de vida digno e socialmente útil, esperançosamente dissolvendo as dúvidas que ainda possam restar entre os mais tradicionais sobre a naturalidade, a legitimidade e sobretudo sobre a inofensividade deste modo de ser, meu caso serve também como boa conclusão para este volume, dialogando com as premissas apresentadas na Introdução e ilustradas ao longo do texto, e delimitando um período de transformações sociais e culturais em larga escala e de quebra de paradigmas antes tomados como eternos e inabaláveis, transformações que, assim como afetaram o mundo, afetaram Caxias profundamente, abrindo-lhe novos caminhos e mudandolhe definifivamente a face como ela foi idealizada pelos fundadores.

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Festa de 80 anos de Marisa Pasqualina Frantz Panceri, sentada ao centro, de preto, filha de Ida Sartori Paternoster e Antônio Augusto Frantz, casada com Henrique Panceri e mãe de Adriana, minha madrinha, Thaís e Vitor Hugo. Ao lado de Marisa estão as primas Graziela Pieruccini (de roxo), sentada com Marisa na mesma poltrona está Beatriz Paternoster Cecchetto e ao seu lado, de vermelho, Rita Palmira Pieruccini (mais conhecida como Isay). À extrema esquerda está Lia, irmã de Henrique Panceri, casada com Dino dal Pont, e a seu lado meus pais. Atrás está a geração mais nova: Laura Panceri Melo, Eduardo Augusto du Pasquier Nunes, sua filha Diana Panceri Nunes, atrás dela, Martino dal Pont, ao seu lado Marcelo Henrique Frantz e Tomaz Panceri Melo. Apoiada na poltrona está Thaís Panceri Nunes, bem atrás Vera Panceri, Luís Geraldo Melo, Valéria dal Pont Wasum, Ronaldo Wasum, Vitor Hugo Panceri, Adriana Panceri Melo, Jean Carlo Horta Barbosa Frantz e sua esposa Lucinda Maria Spies. Ajoelhado no chão, eu.

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Links para os outros volumes

Volume II: o lado Materno Volume III: o passado na Europa

Este livro foi concebido como uma unidade e só foi dividido em volumes por questão de espaço. Aos que se interessarem somente pelo lado paterno, recomendo a leitura pelo menos da conclusão do Volume II, que dá um fecho ao trabalho. O Volume III, embora se concentre na pesquisa sobre a nobreza das famílias, traz muitos dados históricos sobre elas, algumas com grande riqueza informativa. Ali também é apresentada uma árvore genealógica com todos os ancestrais europeus conhecidos. A maioria das linhagens foi recuperada pelo menos até o século XVIII, um grande número chega aos séculos XV e XIV, e algumas vão mesmo bem mais para trás.  Meus websites: Artes visuais: http://ricardoandrefrantz.webnode.com.br/ Música: http://www.soundclick.com/bands/default.cfm?bandID=544908  Se quiser conhecer mais sobre minha carreira, veja: Na terceira pessoa: ensaio autobiográfico. Academia.edu., 2014 Curriculum Vitae  Este trabalho tem sido periodicamente corrigido e atualizado e não tem prazo para acabar. Se você tem comentários, quer corrigir eventuais erros deste estudo, ou encontrou sua família entre os meus parentes e quer acrescentar uma colaboração, envie um e-mail para [email protected]

© Ricardo André Longhi Frantz 2015 Atualização de dezembro de 2017 Todos os direitos reservados. 721

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